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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CORPO E CORPORALIDADE: UM DEBATE SOBRE O CONCEITO E A VIVÊNCIA
DOS ALUNOS SOBRE ESTÉTICA CORPORAL

Professora PDE: Débora Cíntia Cazonato de Lima1


Orientador: Prof. Dr. Thiago Pelegrini2

RESUMO

Esse artigo versa sobre a necessidade, manifesta nas aulas de Educação Física, de
compreender as questões relacionadas ao corpo. Buscamos perceber que o ser
humano não só tem um corpo como ele é o próprio corpo, que pensa o mundo, o
outro e a si próprio. A compreensão de corporalidade por nossos alunos é um
aspecto que deve ser mais abordado para que eles possam compreender que
corporalidade, nada mais é que compreender o fenômeno humano que está
intimamente ligado a sua existência, sua história e cultura mediadas pelo seu corpo.
Nesta perspectiva, buscamos desenvolver nos alunos o autoconhecimento que os
levarão a pensar sobre o corpo na atual sociedade. Por isso, busca-se atingir uma
aprendizagem significativa através das atividades da Unidade didática que foram
aplicadas para os alunos do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual
Geremia Lunardelli na cidade de Lunardelli (PR). Como resultado, verificou-se o
desenvolvimento na perspectiva positiva da imagem corporal, do conhecimento de si
próprio e do outro, da sua importância enquanto sujeito único que faz parte da
construção de uma sociedade e de aceitação de si mesmo como um ser humano
que sente, pensa e age as atividades desenvolvidas contribuíram muito para
aquisição desses conceitos e para que os alunos pudessem compreender sua
importância enquanto ser único e que não só vive na sociedade, mas faz parte de
toda sua construção.

Palavras-chave: corporalidade; corpo; imagem corporal; estética corporal.

1. INTRODUÇÃO

Sabe-se da importância dada ao corpo humano desde a antiguidade e de


como ele foi e é objeto de estudo da Ciência e de outras áreas técnicas voltadas
para o seu desenvolvimento. É por meio do corpo que extraímos as mais diversas
sensações e movimentos, que estabelecemos nossa relação com o mundo. Esse

1
Professora de Educação Física da Rede Pública do Estado do Paraná.
² Professor Adjunto do Departamento de Estudos do Movimento Humano (DEMH) da Universidade
Estadual de Londrina (UEL).
complexo movimento denominamos corporalidade. Trata-se de compreender o
corpo intrinsecamente relacionado ao fenômeno humano, a sua existência, sua
história e cultura. Deste modo, percebemos que o ser humano não só tem um corpo
como ele é o próprio corpo, que pensa o mundo, o outro e a si próprio.

A forma de o homem lidar com sua corporalidade, os regulamentos e


o controle do comportamento corporal não são universais e
constantes, mas sim, uma construção social resultante de um
processo histórico. O homem vive em um determinado contexto
social com o qual interage de forma dinâmica, pois, ao mesmo tempo
que atua na realidade, modificando-a, esta atua sobre ele,
influenciando e, até mesmo podemos dizer, direcionando sua forma
de pensar, sentir e agir (GONÇALVES-1994, p.13).

Esta compreensão tem sido perpassada por uma série de coerções sociais
focadas na obtenção de um corpo perfeito, forte, robusto, belo e saudável
colocando em segundo plano o corpo que se comunica por meio dos seus
movimentos, que sente dor, prazer, alegrias, tristezas e outras infinidades de
sensações. Esses constrangimentos não permitem sua plena aceitação e fruição.
Desta forma, é hora de repensarmos sobre o corpo, sobre como ele percebe
o outro e a si mesmo e sobre seu papel na sociedade a qual está inserido. Partindo
da perspectiva das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para a disciplina de
Educação Física defendemos que o corpo deve ser entendido em sua totalidade -
ou seja, “o ser humano é o seu corpo, que sente, pensa e age”- (DCE’S, 2008, p.
54).
O presente trabalho tem um enfoque que parte do conhecimento de si mesmo
a partir da realidade vivida, buscando desenvolver nos alunos o autoconhecimento
através de atividades propostas que os levarão a pensar sobre o corpo na atual
sociedade, tentando modificar a visão de que o corpo é um objeto cheio de moldes
a serem seguidos para manter o padrão de beleza estética ideal que a sociedade
impõe que o transforma em objeto de desejo, porque é bonito, definido, “malhado”,
forte, perfeito! Segundo Pelegrini “esse conjunto de fatores acabou por criar no
imaginário social uma associação entre corpo Ideal e sucesso” (2004, p.5)”.
Para alcançar as intenções anunciadas esse trabalho foi dividido para a
exposição de acordo com o seu processo de construção. Assim, após a elaboração
de um projeto de fundamentação foi dado início na construção de atividades para
serem trabalhadas com os alunos do Ensino Médio.
Posteriormente, ocorreu a confecção da Unidade Didática que são as
atividades escolhidas para aplicação do projeto. Foram escolhidas 15 atividades ao
todo que mesclou teoria e prática na sua realização e sua implementação junto aos
alunos do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Geremia Lunardelli do
município de Lunardelli, Paraná. Por fim, após a descrição dessas etapas realizou
uma reflexão sobre todas as atividades aplicadas e principalmente sobre a visão do
corpo na contemporaneidade que é objeto de estudo deste trabalho.

2. A IMPORTÂNCIA DA CORPORALIDADE NO CONTEXTO EDUCACIONAL

As questões que orbitam em torno da corporalidade carregam consigo


diversos paradigmas que ao longo da história foram desmistificados, mas é possível
identificar na contemporaneidade algumas permanências. A dualidade corpo e alma,
as crenças que fazem do corpo objeto de sacrifícios para a redenção de pecados, a
compreensão do corpo como máquina, a manutenção de padrões rígidos de beleza
pré-estabelecidos pela mídia e até mesmo moldados pela tecnologia.Estas
recomendações vêm gerando nos indivíduos uma ansiedade exagerada levando-o
cada vez mais a gostar menos de seu próprio corpo, ou seja, de si mesmo. Na
sociedade contemporânea a discriminação é um fator de peso, levando o indivíduo
ou a uma isenção total de si mesmo, tornando-o introvertido e excluído, ou a uma
exposição desmedida fazendo uso de meios que podem tornar seu corpo cada vez
mais forte, esteticamente belo e moldado. Sendo assim Silva relata que:

Os cuidados com o corpo vão se tornando uma exigência na


modernidade e implicam a convergência de uma série de elementos:
as tecnologias para tanto vão se desenvolvendo de maneira
acelerada; o mercado dos produtos e serviços voltados para o corpo
vai se expandindo; a higiene que fundamentava esses cuidados vai
sendo substituída pelos prazeres do “corpo”; a implicação lógica do
processo de secularização com a identificação da personalidade dos
indivíduos com sua aparência. Por todas essas circunstâncias, o
cuidado com o corpo transforma-se numa ditadura do corpo, um
corpo que corresponde à expectativa desse tempo, um corpo que
seja trabalhado arduamente e do qual, os vestígios de naturalidade
sejam eliminados (2001, p. 86).

Estes fatores podem acarretar problemas de ordem psicológica levando o


indivíduo a comportamentos que podem ser prejudiciais à sua saúde. Dentre esses
comportamentos estão os de desordem psicológica como a baixa autoestima, a não
aceitação de si mesmo, a vergonha ou a exposição exagerada do corpo, o medo da
aparência, a discriminação e até mesmo uma postura cifótica pelo fato de não se
aceitar.
A relação do indivíduo com seu corpo ocorre sob a égide do domínio
de si. O homem contemporâneo é convidado a construir o corpo,
conservar a forma, moldar sua aparência, ocultar o envelhecimento
ou a fragilidade, mas manter sua “saúde potencial” (LE BRETON,
2003, p. 30).

Nesta perspectiva, perguntamos: Qual a concepção que os alunos têm sobre


o corpo? Eles conhecem seu próprio corpo? Sabem qual é o papel do corpo na
sociedade?
Partindo destas questões iniciais buscamos fazer uma intervenção
significativa para orientar os alunos e ampliar seu olhar e conhecimento a respeito
do corpo sob um ponto de vista histórico, social e cultural. Georges Vigarrelo (apud
SILVA, 1999, p. 24) afirma que:

O corpo é o primeiro lugar onde a mão do adulto marca a criança, ele


é o primeiro espaço onde se expõe os limites sociais e psicológicos
que foram dados à sua conduta, ele é o emblema onde a cultura vem
inscrever seus signos como também seus brasões.

Segundo este autor as crianças e os jovens continuam sendo moldados pela


sociedade que os cercam e pela sua cultura demonstrando na maioria das vezes
não conhecer seu corpo e o pior o que fazer dele. Refletindo sobre este problema
surgiu a necessidade de desenvolver um programa de atividades que enfrente esta
questão do corpo.
O tema abordado também está inserido nas discussões suscitadas nas
Diretrizes Curriculares da Educação – Educação Física do Estado do Paraná
(DCE’S/EF) formuladas em 2008. Nesse documento foram sugeridos Elementos
Articuladores para ampliar as possibilidades de intervenções pedagógicas de
acordo com as necessidades escolares. Sendo a “Cultura Corporal e corpo” um
desses elementos articuladores que compõe a disciplina de Educação Física, nos
sentimos estimulados em contribuir de maneira significativa através da nossa
prática pedagógica para a compreensão do ser humano como um todo, para a
aquisição de conhecimentos e sobretudo analisar a concepção e o conhecimento
que os alunos possuem em relação a corporalidade na sociedade contemporânea,
seus aspectos culturais, históricos e sociais. Podemos também incentivar a
reflexão sobre diferentes maneiras de descobrir o corpo, suas formas de se
expressar e se portar perante a sociedade.
Todas as preocupações e inquietações em relação ao corpo precisam ser
trabalhadas nas aulas de Educação Física para romper com o paradigma de que o
corpo está separado da mente e da alma. Romper com essa dualidade é uma tarefa
desafiadora para o professor e para o aluno. Sobre esse desafio Silva nos relata
que:
Os cuidados com o corpo vão se tornando uma exigência na
modernidade e implicam a convergência de uma série de elementos:
as tecnologias para tanto vão se desenvolvendo de maneira
acelerada; o mercado dos produtos e serviços voltados para o corpo
vai se expandindo; a higiene que fundamentava esses cuidados vai
sendo substituída pelos prazeres do “corpo”; a implicação lógica do
processo de secularização com a identificação da personalidade dos
indivíduos com sua aparência. Por todas essas circunstâncias, o
cuidado com o corpo transforma-se numa ditadura do corpo, um
corpo que corresponde à expectativa desse tempo, um corpo que
seja trabalhado arduamente e do qual, os vestígios de naturalidade
sejam eliminados (SILVA, 2001, p. 86).

Segundo a autora podemos perceber como que os cuidados com o corpo vêm
tomando uma proporção desmedida. Isso revela que esses cuidados exagerados,
podem levar o indivíduo a perder a sua identidade corporal por conta de uma
cobrança social e cultural. Podem ser perigosos e causar ao indivíduo alguns
transtornos psíquicos como a Bulimia, a Anorexia, a Vigorexia, o Transtorno
Disfórmico Corporal (TDC), entre outros transtornos que levam o indivíduo a ter uma
insatisfação com a própria imagem e a não ser saudável.
Para Le Breton esses distúrbios são motivados pela:
Preocupação de modificar o olhar sobre si e o olhar dos outros a fim
de sentir-se existir plenamente. Ao mudar o corpo, o indivíduo
pretende mudar sua vida, modificar seu sentimento de identidade
(2003, p. 30).

Nesta perspectiva, a preocupação com os conceitos sobre o corpo e as


discussões sobre estética corporal leva-nos a suscitar uma reflexão aprofundada
sobre o assunto e a aplicação de atividades que revelam a ideia e os conceitos de
cada aluno sobre si mesmo e sobre o outro.

2.1 Cultura Corporal e Corpo

A Cultura Corporal é o objeto de estudo e intervenção eleito pela proposta


pedagógica inserida nas Diretrizes Curriculares Estaduais para a disciplina de
Educação Física. Sua fundamentação foi originada das críticas ao ideário de aptidão
física e esportiva que continua sendo hegemônico na escola e muitas vezes
desqualifica sua compreensão como disciplina curricular responsável por uma
intervenção pedagógica.
Neste caso, tratamos da Cultura corporal e corpo que é um elemento
articulador contido nessa proposta curricular. Partimos de uma perspectiva histórica
e social que tem como objeto de estudo o corpo e suas relações. Segundo as
DCES/EF (2008, p. 54), “Cultura Corporal e Corpo” também é um elemento
articulador dos conteúdos estruturantes da Educação Física por isso é um tema que
veicula a importância de realizar trabalhos com os alunos sobre este seja em
qualquer conteúdo a ser aplicado nas aulas. O corpo é entendido em sua totalidade,
ou seja, o ser humano é o seu corpo que sente, pensa e age.
É nesta expectativa que a unidade didática construída para a intervenção
pedagógica com os adolescentes alunos do terceiro ano do Ensino Médio visou um
trabalho direcionado às questões corporais construídas historicamente que foram
aplicadas e discutidas de maneira que os alunos entendam que seu corpo é si
próprio, que seu corpo faz parte de toda uma história, uma cultura, uma sociedade e
que é através desse corpo que somos constituídos enquanto seres humanos.
3. METODOLOGIA

A metodologia aplicada baseia-se em uma unidade didática que envolve uma


série de atividades aplicadas aos alunos do terceiro ano do Ensino Médio do Colégio
Estadual Geremia Lunardelli da cidade de Lunardelli onde estes participaram no
período da manhã entre os meses de fevereiro a junho de 20014 de todas as
atividades propostas.
Para que a implementação pedagógica fosse bem sucedida utilizou-se
metodologias diferenciadas que envolvem um conjunto de experiências e vivências
teóricas e práticas a partir de estratégias articuladas com a utilização de exposição
teórica, recursos audiovisuais, textos, documentários, vídeos, debates, questionários
e produções escritas tanto individuais como em grupos sobre o tema: Corpo e
Coporalidade: um debate sobre o conceito e a vivência dos alunos sobre estética
corporal.
Ao final de cada atividade, realizou-se uma avaliação, buscando a melhoria
do processo ensino-aprendizagem, utilizando a auto-avaliação e a avaliação dos
pares envolvidos no processo tanto individualmente, como em grupos.
As reflexões com o Grupo de Estudo em Rede (GTR), do Estado do Paraná,
foram fundamentais para o aprofundamento das questões relativas ao estudo
proposto, contribuindo para a implementação da proposta na escola e na elaboração
deste artigo. Espera-se que o trabalho desenvolvido contribua para que os alunos e
toda comunidade escolar envolvida repensem sobre não somente a realidade da
escola, mas a realidade de cada um e estabeleçam uma relação entre as aulas de
Educação Física que eles têm com as aulas que eles podem ter, adquirindo assim
um novo olhar sobre a importâncias das aulas de Educação Física.

4. IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO

A implementação do projeto se deu através da unidade didática que são uma


série de atividades planejadas e que foram aplicadas no terceiro ano do Ensino
Médio com alunos adolescentes entre 15 e 18 anos em uma sala com 17 alunos do
Colégio Estadual Geremia Lunardelli na cidade de Lunardelli Paraná.
Este projeto intitulado com o tema Corpo e Corporalidade: um debate sobre o
conceito e a vivência dos alunos sobre estética corporal nos permite observar a
importância de se discutir e aplicar atividades com os alunos que falem sobre as
questões do corpo e da corporalidade. Defendemos que essa é uma rica discussão
para o professor de Educação Física, que permite ampliar seus conhecimentos, sua
metodologia e sua forma de aplicar as atividades com um diferencial que chame a
atenção dos alunos e os faça se interessar e interagir cada vez mais nas aulas.
A implementação do projeto teve como objetivo específico desenvolver um
trabalho dentro da Cultura corporal e Corpo que efetivasse de fato o
autoconhecimento, a importância da imagem corporal, ou seja, como você se vê e a
analogia feita entre duas atividades que iremos destacar que é a leitura dirigida do
poema “Morte e Vida Severino” e a “análise da letra da música Garota de Ipanema”
que marcam bem essa passagem corporal, social e cultural.
No primeiro momento o projeto de intervenção pedagógica foi apresentado
para toda equipe pedagógica da escola, professores e diretores que puderam
discutir sobre o tema. Em seguida foi apresentado aos pais dos alunos e aos alunos
onde o professor destacou a importância de se aplicar o projeto na escolae seus
objetivos para com aquelas atividades.
Dentre as atividades que foram aplicadas com os alunos destacam-se duas
das quais considero que foram as mais importantes e as que mais chamaram sua
atenção:
A primeira que foi a análise da letra da música Garota de Ipanema de Tom
Jobim e Vinícius de Moraes na qual foi dado a cada aluno o texto da letra da música
para que juntos fosse analisada em seu contexto. Após a leitura do texto ouviram a
música e assistiram a um vídeo com Tom e Vinícius tocando e cantando. Todos
cantaram e gostaram da música e fizeram uma dramatização dentro da sala de aula.
A segunda atividade “Morte e Vida Severino” foi amparada por um texto de
João Cabral de Melo Neto que destaca a vida de Severino e um vídeo animado
contando sua história e trajetória no Nordeste brasileiro. Após ser assistido e
analisado, seu conteúdo foi discutido na sala de aula. Foi tematizado a saída do
Nordeste, como que era a vida daquele povo diferente da vida da garota de
Ipanema, a beleza do corpo da garota com a rigidez e as intempéries sofridas pelo
corpo do Severino, a garota que era cheia de graça, de beleza, que tinha uma vida
boa para a vida de Severino trabalhador, mãos calejadas, cheio de fome e sede e
que sai do Nordeste em busca de uma vida melhor. Essas foram as questões
discutidas ao longo dessas atividades e no final foi dado a eles uma atividade de
caça palavras sobre a analogia feita.

Figura 1 - Caça Palavras sobre a analogia entre a Garota de Ipanema e o Severino

A D U N G O T C O M I S

S E N H A B A T I S T U

E S O F R I M E N T O B

V A U C O R P O F Y B N

E S C A T V M O R T E U

R O N D A C E G I L U T

I N T O D O U R A D O R

N H U L E B A B O I G I

O L A D I N V A F E P Ç

P A S O P A I N S S I A

G R A Ç A Y D O B R A O

A J U I N D A T U R Y P

D I A B E L E Z A J O S

W O I A M A R E L O P O

G O I L A M C E F A V O

Fonte: elaborada pela própria autora

Dentre essas duas atividades em destaque as outras atividades elaboradas


para a implementação foram muito importantes para o aprendizado dos alunos. As
atividades foram:

Primeira atividade: apresentação do projeto de intervenção para professores,


pais e equipe pedagógica no intuito de esclarecer como que ia se dar o projeto.
Segunda atividade: apresentação do projeto aos alunos do terceiro ano do
ensino médio. Foi explicado a eles o que era esse projeto e como ele iria acontecer.

Terceira atividade: Aplicação do questionário no intuito de saber até que


ponto eles tinham conhecimento do próprio corpo. O questionário tem oito perguntas
onde os alunos responderam a todas.

Quarta atividade: análise da imagem Vênus de Lespugue. A imagem de um


corpo de mulher que fora achada há milhares de anos e que demonstra um corpo
inacabado. Os alunos analisam a imagem e em seguida dá-se a discussão sobre ela
seguido da produção de texto.

Quinta atividade: Conceituando o corpo. Nesta atividade o professor dá aos


alunos um papel com um desenho onde eles colocam adjetivos a respeito do corpo.

Sexta atividade: comunicação não verbal – o corpo fala. Um filme mudo do


Charles Chaplin que demonstra ações somente com o corpo sem dizer nenhuma
palavra. Uma atividade muito importante porque os alunos perceberam que o corpo
fala. Logo após em grupos eles elaboraram uma mímica para experienciarem a
atividade.

Sétima atividade: Caixa de surpresa. Uma atividade muito interessante e que


desperta interesse em todos. Uma caixa simples de presente com um espelho
colado no fundo. Cada um que vê a surpresa se surpreende em ver a própria
imagem refletida. Em sequência eles falam se gostaram do que viram e porque.
Após a discussão os alunos fazem uma atividade para descobrirem a máxima de
Sócrates.

Oitava atividade: Música Garota de Ipanema. A atividade consiste em ouvir e


analisar a letra da música observando seus detalhes e discutindo sobre a letra. Após
cada aluno recebe uma folha de papel em branco para desenharem uma pessoa e
escreverem uma palavra ou frase que decifra esta pessoa.

Nona atividade: Morte e Vida Severina. Consiste em assistir a um vídeo


animado sobre o retirante Severino e na sequência analisá-lo e discuti-lo para
saberem como vive o povo do Nordeste e como se dá a construção corporal do povo
através das suas políticas sociais e cultura. Seguindo após as análises um
questionamento para fazer a analogia da vida do Severino e a vida da Garota de
Ipanema.

Décima atividade: Dramatização. A atividade elaborada em dois grupos que


fazem uma dramatização sobre a analogia da garota de Ipanema com o Severino.
Os alunos realizam uma dramatização em sala de aula onde cada um vai
representar um personagem para que possam experimentar e vivenciar de fato a
analogia.

Décima primeira atividade: Vídeo de Fisiculturismo. É apresentado um vídeo


aos alunos sobre o fisiculturismo onde mostra imagens de atletas fisiculturistas
homens e mulheres que fazem de tudo para deixarem seus corpos musculosos.
Logo após é feita uma discussão e mostrado mais imagens de homens e mulheres
extremamente grandes no intuito da ganhar um campeonato. Em seguida formam
trios para responderem um questionamento.

Décima segunda atividade: Conto um desejo e dois irmãos de Marina


Colassanti. Consiste em conhecer o conto, fazer uma análise textual e discutir o
texto.

Décima terceira atividade: analisando as imagens corporais. São imagens de


pessoas com anorexia, bulimia e outros transtornos alimentares que chocam mas
que é discutido dentro da sala. Logo após os alunos formam grupos de cinco
pessoas para analisarem, discutirem e apresentarem seu olhar sobre estas imagens
para toda a sala.

Décima quarta atividade: Filme vem dançar. Os alunos assistem a este filme
que conta a história de um professor de dança clássica que vai lecionar em uma
escola numa sala de detentos e juntos com o estilo clássico do professor e os estilos
de rua dos alunos de periferia formam umas duplas estilosas de dançar. Após
assistirem, fazer uma análise sobre o filme. Onde aconteceu, qual era o objetivo do
professor, que tipo de sociedade que aqueles alunos viviam como eram suas
relações, qual era a essência da corporalidade daqueles alunos e porque eles
rejeitavam outro tipo de ensinamento. Essas discussões foram realizadas com a sala
toda.
Décima quinta atividade: concurso de dança de salão. Os alunos se juntam
em pares para aprenderem a dançar e o ritmo escolhido foi o xote. Nem todos
participaram desta atividade, mas obtivemos 6 pares. Eles ensaiaram, viram vídeos
do xote, colocaram em prática e apresentaram em sala de aula mesmo entre eles.

De todas as atividades destaca-se duas que os alunos mais gostaram que


são as atividades oito e nove a análise da letra da música Garota de Ipanema e
Morte e vida Severina, a analogia que fizeram entre as duas vidas opostas a da
garota e a do Severino. Essas duas atividades das quinze que foram contempladas
foram as que mais os alunos se fixaram e ficaram encantados e todos discutiram as
questões relacionadas à corporalidade e ao corpo e a partir daí pode-se dizer que
houve aprendizado por parte de todos. Foi refletida sobre as questões sociais de
cada um, a questão cultural também foi discutida porque ela mora no Rio de Janeiro
e ele mora no Nordeste que são realidades completamente distintas. A partir daí os
alunos entenderam que cada um tem sua particularidade, tem sua cultura e vivem
em diferentes sociedades. Percebe-se após terem realizado todas as atividades que
os alunos compreenderam a importância de ser um corpo, de manifestarem seus
sentimentos através desse corpo e que apesar de ser difícil falar e discutir algumas
questões precisamos nos aceitar enquanto um ser humano que não só vive na
nossa comunidade, mas um ser humano que está repleto da plenitude de ser ele
mesmo.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após todos os estudos, as atividades aplicadas no decorrer da intervenção,


todas as discussões, todo o empenho por parte dos envolvidos nota-se certa
inquietude e curiosidade em relação ao corpo. Como já foi dito o corpo é o próprio
ser, não existe essa divisão corpo e alma, ou corpo e mente. Somos seres únicos,
uma unidade complexa e que não estamos aqui para sermos mais um, para
preenchermos um espaço e também não estamos aqui para sermos o que a
sociedade ou a mídia nos impõe.
Dentre as atividades trabalhadas pode-se dizer que os alunos entenderam a
importância de ser corpo e a importância do corpo do outro. Em toda sua
participação ficou claro que apesar da timidez e muitas vezes quererem se esconder
de si mesmos eles gostaram de tudo que fizeram e compreenderam a importância
do corpo, da corporalidade, de dividir com outros suas angústias, alegrias e
perspectivas.
Compreenderam também rompendo com alguns paradigmas que são seres que
vivem em uma sociedade que cobra deles um modelo rígido de beleza, um corpo
sarado e perfeito, uma forma de se vestir e se portar que muitas vezes não lhe é
própria e que se eles cederem a tudo isso sua autoestima ficará baixa e poderá
causar transtornos para sua vida talvez irreversíveis. É neste momento que se torna
importante a mediação do professor seja nas aulas normais do dia a dia, seja em
uma aula diferente, seja na quadra ou sala de aula. Isso faz a diferença na vida do
alunado e do professor.
Por isso esta noção de totalidade humana, de complexidade no sentido de uma
nova visão do homem na qual os movimentos são feitos com intencionalidade e que
trazem sentido e significado ao indivíduo é o que podemos chamar de práxis voltada
para o homem e é através dela que se rompem paradigmas para uma Educação
Física com um pensamento complexo e não um pensamento simples tradicional e
dicotômico.
Pensamento este que está voltado para a construção de conhecimentos, a
vivenciar as diversas formas de se movimentar e de interagir um com o outro, que
não só vê o corpo como um objeto no mundo, mas um corpo que sente, pensa e age
e que através da corporalidade pode expressar seus sentimentos, seus movimentos,
sua intenção e seu fazer.
É nesta perspectiva que a escola deve contribuir para uma educação de
qualidade mudando sua forma de intervir pedagogicamente, rompendo barreiras e
utilizando da interdisciplinaridade para uma prática pedagógica de qualidade.
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