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1 CONHECIMENTO DO CORPO

 A necessidade de um olhar atento, crítico e reflexivo para o corpo


e o movimento na escola se coloca há muito tempo dentro do
contexto educacional.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) traz, como um de


seus campos de experiência, “corpo, gestos e movimentos”,
fazendo com que o corpo da criança ganhe centralidade,
constituindo-se em universo privilegiado de aprendizagem,
permitindo-nos, assim, refletir sobre o contexto escolar e os
espaços destinados para o corpo e o movimento,
construindo uma reflexão crítica acerca do lugar que
ocupam na estrutura da escola nos dias de hoje

Segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), 

[...] as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural


dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Desse
modo, é possível assegurar aos alunos a (re)construção de um conjunto de
conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus
movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver
autonomia para apropriação e utilização da cultura corporal de movimento
em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de forma
confiante e autoral na sociedade. 

(BRASIL, 2017, p. 215)


Corpo é aquilo que nos constitui materialmente. Não existe
o eu  e o corpo. O corpo sou eu! O corpo é o que nos dá
presença e é através dele que nos relacionamos com todas
as coisas que existem. Em nossa cultura – prioritariamente
cognitiva e mental – nos separamos do corpo e, muitas
vezes, ele passa a ser um “estranho”. Ou, quando muito, um
“suporte para a cabeça”.

Enxergar o corpo como uma construção cultural e validar


seu potencial expressivo fará com que nós, professores,
tenhamos maior unidade com nossos corpos e, por
consequência, criemos condições para que as crianças
também a tenham.

Com base no senso comum, corpo é a parte material do ser,


é a parte palpável da nossa existência; em última instância, é
o que garante que nós estejamos vivos.

Podemos pensar, então, no corpo como um conjunto – ou


um sistema – em que as partes estão interligadas para que
todas as ações corporais sejam realizadas. Assim, quando
pensamos no corpo em movimento, por exemplo,
precisamos entender que todas as suas camadas estão
implicadas nessa ação:

 A estrutura (óssea).
 O preenchimento (muscular, gorduroso).
 O invólucro (pele).
 Para além da dimensão física, o corpo é também uma
construção cultural – e sofre os efeitos de suas
representações nas mais diversas sociedades.

 O corpo traz toda nossa memória – nele nada é esquecido. Ele


carrega as marcas de nossa família, de nossa religião, de nosso
sistema político, enfim, de toda nossa ideologia. A sociedade codifica
o corpo e as codificações do corpo codificam a sociedade. Cada
cultura e cada época investem de modo diferente sobre os corpos,
construindo normas e condutas que estão ligadas ao imaginário
social que as tornam possíveis. 

 De acordo com a educadora Luiza Gaia (2016), “o corpo


é o primeiro brinquedo da criança” (HUNGRIA, 2016,
[s.p.]). O desenvolvimento da criança, desde a primeira
infância, é estritamente ligado ao de seu corpo e,
consequentemente, de sua corporalidade, seus limites
e potencialidades. 
Através do corpo a criança explora o universo que
a circunda, se relaciona com os outros, com os
espaços, e se desenvolve, numa relação mútua de
conhecimento de si própria e dos ambientes em que
se situa.

Sabemos que a atividade primeira da criança é o brincar,


e seu corpo é, assim, seu primeiro brinquedo, visto que
constitui seu instrumento de exploração do mundo. Os
movimentos da criança e seu livre brincar são, assim,
essenciais ao pleno desenvolvimento da criança desde a
mais tenra idade.

No contexto educacional é responsabilidade de escolas e


educadores valorizar a espontaneidade deste livre brincar
com o próprio corpo, afastando-se de concepções que ligam
essa relação à indisciplina e falta de controle.

A Base Nacional Comum Curricular aponta a necessidade


de tratar as práticas corporais de modo a aproximar as
crianças de um universo cultural complexo, incentivando a
experimentação de diversas formas de expressão na escola:

“Nas aulas, as práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno


cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório.
Desse modo, é possível assegurar aos alunos a (re)construção de um
conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a
respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos
outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura
corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua
participação de forma confiante e autoral na sociedade. É fundamental
frisar que a Educação Física oferece uma série de possibilidades para
enriquecer a experiência das crianças, jovens e adultos na Educação Básica,
permitindo o acesso a um vasto universo cultural. Esse universo
compreende saberes corporais, experiências estéticas, emotivas, lúdicas e
agonistas, que se inscrevem, mas não se restringem, à racionalidade típica
dos saberes científicos que, comumente, orienta as práticas pedagógicas na
escola. Experimentar e analisar as diferentes formas de expressão que não
se alicerçam apenas nessa racionalidade é uma das potencialidades desse
componente na Educação Básica. Para além da vivência, a experiência
efetiva das práticas corporais oportuniza aos alunos participar, de forma
autônoma, em contextos de lazer e saúde.”

A valorização e incentivo à relação criança-corpo


possibilita o seu pleno desenvolvimento, a consciência de
todas as suas possibilidades e o reconhecimento de seus
limites. Sobre o corpo, a Base Nacional Comum Curricular
aponta:

Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou


intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo,
exploram o mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem
relações, expressam-se, brincam e produzem conhecimentos sobre si,
sobre o outro, sobre o universo social e cultural, tornando-se,
progressivamente, conscientes dessa corporeidade.

Segundo o documento, o trabalho com o corpo na


educação infantil deve pautar-se no desenvolvimento das
diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro e as
brincadeiras de faz de conta, uma vez que, por meio destas,
as crianças se comunicam e se expressam no
entrelaçamento entre corpo, emoção e linguagem.

Para pensarmos no trabalho com o corpo com as crianças


maiores, do Ensino Fundamental, nos basearemos no
documento Direitos de Aprendizagem dos Ciclos
Interdisciplinar e Autoral, da rede municipal de São Paulo, o
qual atesta que:

Processos de ensino e aprendizagem que realmente compreendem e


trabalham com a diversidade corporal – atravessados pelo corpo próprio e
sensível – dizem respeito não somente à possibilidade e direito de todos
dançarem diferentes repertórios de dança, mas, sobretudo, de
compreender que cada corpo, próprio, singular – híbrido, multifacetado e
mutável – gera danças também singulares, “diferentes”, próprias – autorais.
Propor aos estudantes que conheçam, percebam, compreendam e
escolham aquilo que seus corpos dançam, isto sim, é trabalhar com as
diferenças corporais e, consequentemente, com a inclusão. 

Em consonância com as concepções teóricas


apresentadas anteriormente, esses referenciais apontam
para a necessidade de se criar um espaço para que as
crianças compreendam a singularidade dos corpos e seu
potencial expressivo, em uma perspectiva que passa longe
da ideia de um corpo que deve ser moldado para se
enquadrar em um ideal.

Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o


partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas
para a emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a
instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as
crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com
seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos,
gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados
modos de ocupação e uso do espaço com o corpo. BRASIL, 2017, p. 41)

Conhecer nosso corpo, estabelecer relações saudáveis


com ele, reconhecer seu potencial e suas limitações são
prerrogativas para o estabelecimento de nossa consciência
corporal e do modo como nos colocamos no mundo.
Aprendemos nesta seção a importância dessas
prerrogativas e ampliamos o conhecimento para nossa
função educativa que, ao propiciar à criança a exploração do
seu meio através de seu corpo, permite-lhe um
desenvolvimento pleno e saudável, com a consciência de
seus limites e suas potencialidades.

1.1 ASPECTOS DO MOVIMENTO

Veremos que o movimento está intimamente ligado às


expressões dos nossos desejos, dos nossos sentimentos e a forma
como este se relaciona à aprendizagem.
O movimento é uma linguagem, uma forma de expressão. Ele
também pode ganhar ares artísticos ao propiciar construções mais
refinadas esteticamente. Além disso, movimentar-se gera prazer
para o sujeito.

O indivíduo age no mundo através de seu corpo, mais


especificamente através do movimento. Nesse sentido, “o
movimento corporal que possibilita às pessoas se comunicarem,
trabalharem, aprenderem, sentirem o mundo e serem sentidos”
(STRAZZACAPPA, 2001, p. 69). Se é verdade que nós somos o nosso
corpo, ou seja, que não há separação entre sujeito e corpo – como
refletimos na seção anterior –, então o movimento passa a ser
condição para o nosso “estar no mundo” e para as relações que
estabelecemos com tudo o que existe. Seguindo por esse
raciocínio, necessariamente concluímos que a vida pede
movimento e que, por consequência, a ausência de movimento é
ausência de vitalidade.

Com o corpo (por meio dos sentidos, gestos, movimentos impulsivos ou


intencionais, coordenados ou espontâneos), as crianças, desde cedo, exploram o
mundo, o espaço e os objetos do seu entorno, estabelecem relações, expressam- -se,
brincam e produzem conhecimentos sobre si, sobre o outro, sobre o universo social e
cultural, tornando-se, progressivamente, conscientes dessa corporeidade. Por meio
das diferentes linguagens, como a música, a dança, o teatro, as brincadeiras de faz de
conta, elas se comunicam e se expressam no entrelaçamento entre corpo, emoção e
linguagem. As crianças conhecem e reconhecem as sensações e funções de seu corpo
e, com seus gestos e movimentos, identificam suas potencialidades e seus limites,
desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência sobre o que é seguro e o que pode
ser um risco à sua integridade física. (BRASIL, 2017, p. 41)

Precisamos entender, portanto, que o movimento:

 É passível de desenvolvimento.
 É expressão de emoções, necessidades e desejos.
 Estabelece relações essenciais com sentimentos e
aprendizagem.
 É uma linguagem.
1.1.1 MOVIMENTO E DESENVOLVIMENTO

Quando falamos em desenvolvimento, entendemos algo


que é construído paulatinamente através de um processo
composto de estágios para que o sujeito adquira competências
mais complexas ou mais maduras. Várias capacidades humanas
são conquistadas a partir de um processo de desenvolvimento: a
linguagem, o pensamento lógico, a cognição, a moral. Isso quer
dizer que tais capacidades não são conquistadas de uma hora para
outra, mas são frutos de um processo desenvolvido em várias
etapas. Assim também sucede com o movimento humano, isto é, o
sujeito não adquire suas capacidades motoras de uma só vez; é
algo que deve ser desenvolvido ao longo do tempo.

Ora, partindo do pressuposto de que o desenvolvimento e a


aprendizagem humanos são resultado da interação do sujeito com
o meio (tendo como base a concepção sociointeracionista),
podemos concluir que o ambiente e as pessoas desempenham um
papel de suma importância no desenvolvimento motor da criança.
Portanto, mais do que conhecer as fases desse desenvolvimento, é
preciso entender que há um processo e que, sendo assim, há
sempre o que aprender ou aprimorar. Isso faz com que criemos
uma relação ativa com o movimento das crianças, tendo como
norte o favorecimento de seu desenvolvimento motor. Nesse
contexto, reconhecer que o movimento se desenvolve a partir das
experiências do sujeito com o meio faz com que admitamos a
importância dele desde quando é bebê.

1.1.2 MOVIMENTO COMO LINGUAGEM

Para além de seu caráter instrumental, veremos neste tópico


que o movimento é muito mais do que simples deslocamento do
corpo no espaço. O movimento constitui-se em
uma linguagem que permite à criança expressar-se e comunicar-
se por meio de seu corpo.
De acordo com a BNCC: As atividades humanas realizam-se nas práticas
sociais, mediadas por diferentes linguagens: verbal (oral ou visual-motora,
como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e, contemporaneamente,
digital. Por meio dessas práticas, as pessoas interagem consigo mesmas e
com os outros, constituindo-se como sujeitos sociais. Nessas interações,
estão imbricados conhecimentos, atitudes e valores culturais, morais e
éticos.

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), dessa forma,


aponta, dentro da área de Linguagens, a Educação Física como um
de seus componentes curriculares. Nesse ponto cabe-nos destacar
que o trabalho com o corpo, o movimento, com a corporalidade e a
motricidade na escola não se constitui exclusividade deste
componente curricular. Entendendo o corpo como manifestação
de desejos, de necessidades, de sentimentos e compreendendo-o
como forma de explorar o mundo e de colocar-se nele, cabe à
escola e aos educadores o trabalho com o desenvolvimento de
suas potencialidades em sua totalidade, para isso devem ter nas
mãos diversas práticas pedagógicas. Assim, embora no Ensino
Fundamental as diversas linguagens ganhem status próprios de
objetos de conhecimento, não podemos perder de vista o trabalho
articulado entre elas, tal qual ocorre na educação infantil.

Sendo assim, o movimento infantil deve ser entendido não só


no que se refere ao desenvolvimento motor instrumental, mas
também na ampliação de suas possibilidades expressivas.

1.1.3 MOVIMENTO COMO EXPRESSÃO DE EMOÇÕES, NECESSIDADES E


DESEJOS

A linguagem corporal consiste em importante forma de


manifestarmos nossos sentimentos, emoções, necessidades,
pensamentos e desejos. As interações sociais estabelecidas entre o
indivíduo e seu meio determinam o modo como o movimento se
processa e, através desses movimentos, expressamos nossas
necessidades, nossos interesses e emoções, entre outros. Isto
posto, entendemos a necessidade do desenvolvimento de um
trabalho com o movimento de modo a propiciar à criança um
desenvolvimento dos aspectos da motricidade e a ampliação de
sua cultura corporal com vistas ao favorecimento de suas
manifestações corporais entendidas como expressões de suas
necessidades, emoções e desejos.

1.1.4 RELAÇÕES ENTRE MOVIMENTO, SENTIMENTOS E APRENDIZAGEM

As práticas pedagógicas, sobretudo na educação infantil,


carregam consigo variadas concepções da utilização e finalidade do
trabalho com e a partir do movimento. O movimento, nesse
contexto, mantém uma relação intrínseca com os sentimentos e o
desenvolvimento da aprendizagem, visto que seu incentivo tende a
facilitar o pensamento e a atenção, possibilitando, assim, a
aprendizagem a partir do controle e do conhecimento de seus
corpos.

 Para Freire (2005, p. 11): Corpo e mente devem ser entendidos


como componentes que integram um único organismo. Ambos devem ter
assento na escola, não um (a mente) para aprender e o outro (o corpo) para
transportar. É necessário, a cada início de ano, que o corpo da criança
também seja matriculado na escola, e não seja, considerado por algumas
pessoas como um ‘estorvo’, que quanto mais quieto estiver, menos
atrapalhará a aprendizagem.

Assim, o desenvolvimento do trabalho pedagógico precisa,


necessariamente, respeitar e compreender a expressividade e a
motricidade própria da infância, buscando interpretar e facilitar
seu desenvolvimento, a partir do qual a criança aprende não
apenas sobre seu próprio corpo e limites, mas também sobre o
mundo e a cultura em que se está inserida.

Segundo Miranda (2008), aprender a mover-se, envolve


atividades como tentar, praticar, pensar, tomar decisões, avaliar,
ousar e persistir. Para o autor, a aprendizagem através do
movimento implica usar movimentos como meio, para se chegar a
um fim. Esse fim não precisa ser necessariamente o
aperfeiçoamento das habilidades da criança em se mover
efetivamente, mas pode ser um meio pelo qual a criança aprende
mais sobre si mesma, sobre seu ambiente e sobre o mundo que a
cerca.

Na Educação Infantil, o corpo das crianças ganha centralidade, pois ele é o


partícipe privilegiado das práticas pedagógicas de cuidado físico, orientadas para a
emancipação e a liberdade, e não para a submissão. Assim, a instituição escolar
precisa promover oportunidades ricas para que as crianças possam, sempre animadas
pelo espírito lúdico e na interação com seus pares, explorar e vivenciar um amplo
repertório de movimentos, gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para
descobrir variados modos de ocupação e uso do espaço com o corpo (tais como
sentar com apoio, rastejar, engatinhar, escorregar, caminhar apoiando-se em berços,
mesas e cordas, saltar, escalar, equilibrar-se, correr, dar cambalhotas, alongar-se
etc.).  (BRASIL, 2017, p. 41)

1.1.5 AS DIMENSÕES DO MOVIMENTO

Primordialmente, mexemo-nos por prazer. Qualquer um que


já tenha experienciado alguma atividade física sabe bem que isso é
verdade. Mas, como já mencionamos, o movimento é também uma
linguagem, ou seja, movimentamo-nos para nos expressar. Essa
expressão, às vezes, ganha contornos artísticos, o que gera outro
tipo de prazer: o de apreciar uma obra construída esteticamente.

Strazzacappa conclui que “toda dança, não importa qual a


estética que lhe é inerente, surge da profundeza do ser humano,
ou, como Robinson nomeou, surge da ‘magia’ e adquire diversas
funções a partir de três motivações principais: a expressão, o
espetáculo e a recreação (ou jogo)” (STRAZZACAPPA, 2001, p. 72).

Admitir essas três dimensões faz com que ampliemos o trabalho


corporal na escola para muito além de exercícios técnicos ou
repetitivos. 
1.2 QUAIS SÃO AS SEIS PRÁTICAS CORPORAIS DEFINIDAS PELAS

BNCC?

As práticas corporais são brincadeiras e jogos, esportes,


ginásticas, danças, lutas e práticas corporais de aventuras.

Historicamente, a escola voltou-se a uma compreensão de que,


para fornecer uma boa qualidade de ensino, era preciso que
alunos estivessem em silêncio e imóveis a fim de apreender
conteúdos fornecidos e expostos pelo professor. 

Essa concepção tradicional de ensino já foi há bastante tempo


questionada. Sabemos hoje que o aluno é ativo na construção de
aprendizagens e que ter contato com um conteúdo não é,
necessariamente, o suficiente para que ele seja aprendido.

Mesmo que a concepção construtivista da aprendizagem já tenha


sido divulgada há quase um século (CUNHA, 1996), em relação ao
corpo e movimento parece que ainda prevalece uma concepção
tradicionalist

Não há comprovação de que determinada postura


corporal favoreça a concentração e a atenção; ela
dependerá das preferências do sujeito, bem como da
atividade proposta. 

1.2.1 FORMAÇÃO DE PROFESSORES

É preciso levar em conta que “o corpo do professor funciona


como modelo para o aluno” (STRAZZACAPPA, 2001, p. 75) e que,
necessariamente, “seus corpos também educam” (STRAZZACAPPA,
2001, p. 78). O fato de o corpo e o movimento terem sido
historicamente negligenciados pela educação, ou melhor, em razão
de não ter se enxergado relação entre movimento corporal e
práticas escolares, essa dimensão não fez parte da formação dos
professores. É comum, inclusive, que questões relacionadas ao
corpo sejam consideradas tabus  na escola.

Precisamos ter clareza, então, de que, quando falamos de


conhecimento corporal, devemos necessariamente pensar em
experiências corporais. Ou seja, para aprender movimento é
necessário se movimentar!

Assim, precisamos compreender e abarcar o movimento na


escola de duas formas: questionando a exigência de posturas
imóveis nas práticas escolares e trazendo-o como importante
componente curricular para o desenvolvimento e aprendizagem
dos alunos. Neste contexto, a ideia que deve prevalecer, enfim, é a
de que o corpo está presente a todo momento e não deve ser
negligenciado; ao contrário, o movimento corporal deve ser um
aspecto importante dos programas escolares.

1.2.2 O QUE A BNCC ABORDA SOBRE O CORPO E MOVIMENTO NA


EDUCAÇÃO INFANTIL

A Base Nacional Comum Curricular, na etapa referente à


educação infantil, dispõe de cinco campos de experiências, os
quais definem os objetivos de aprendizagem e desenvolvimento.
De acordo com o documento, “Os campos de experiências
constituem um arranjo curricular que acolhe as situações e as
experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus
saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que fazem parte do
patrimônio cultural” (BRASIL, 2017, p. 40). São eles:

1. O eu, o outro e o nós.


2. Corpo, gestos e movimentos.
3. Traços, sons, cores e formas.
4. Escuta, fala, pensamento e imaginação.
5. Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.
Como podemos ver, corpo e movimento na educação infantil
são aspectos de tamanha centralidade que constituem um
campo de experiência próprio

O campo de experiência “corpo, gestos e movimentos”


contempla os aspectos ligados à exploração de mundo, de
espaços e de objetos, realizada pelas crianças através de seus
corpos. Indica que elas brincam, estabelecem relações e
produzem conhecimentos sobre si e sobre os outros a partir de
sua corporeidade, o que as leva à consciência de seu próprio
corpo, dos limites e das potencialidades dele.

O movimento é uma linguagem capaz de expressar emoções,


necessidades e desejos. Na educação infantil, através do corpo e
do movimento, as crianças podem se comunicar e se expressar
por meio de linguagens tais quais a dança, o teatro, as
brincadeiras de faz de conta e a música. Essas vivências, de
acordo com a BNCC, permitem às crianças o conhecimento e
reconhecimento das “sensações e funções de seu corpo e, com
seus gestos e movimentos, identificam suas potencialidades e
seus limites, desenvolvendo, ao mesmo tempo, a consciência
sobre o que é seguro e o que pode ser um risco à sua
integridade física”

A Base Nacional Comum Curricular indica que as


aprendizagens essenciais compreendem, na educação infantil,
tanto comportamentos, habilidades e conhecimentos quanto
vivências que promovem aprendizagem e desenvolvimento nos
diversos campos de experiências, sendo as interações e a
brincadeira eixos estruturantes. Assim, apresenta os objetivos
de aprendizagem e desenvolvimento sequencialmente
organizados em três grupos por faixa etária, que correspondem,
aproximadamente, às possibilidades de aprendizagem e às
características do desenvolvimento das crianças, reconhecendo
as especificidades dos diferentes grupos etários que constituem
a educação infantil.
1.2.3 O QUE A BNCC ABORDA SOBRE O CORPO E MOVIMENTO NAS
SÉRIES INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

Referente às séries iniciais do ensino fundamental, a Base


Nacional Comum Curricular traz, dentro da área de Linguagens o
componente curricular Educação Física, o qual concentra os
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento referentes ao corpo
e movimento para essa etapa da educação básica.

Diferentemente da forma como é trabalhada na educação


infantil, na qual as linguagens eram articuladas, no ensino
fundamental, elas passam a ter status próprios de objetos de
conhecimento escolar. No entanto, é de fundamental importância
que as práticas pedagógicas possibilitem a apropriação, por parte
dos alunos, das especificidades de cada linguagem, de modo que
compreendam, ainda, o todo na qual elas estão inseridas.

A Educação Física é o componente curricular que tematiza as práticas corporais


em suas diversas formas de codificação e significação social, entendidas como
manifestações das possibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos
grupos sociais no decorrer da história. Nessa concepção, o movimento humano está
sempre inserido no âmbito da cultura e não se limita a um deslocamento espaço-
temporal de um segmento corporal ou de um corpo todo. Nas aulas, as práticas
corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado,
pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível assegurar aos
alunos a (re)construção de um conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua
consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos
outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura corporal de
movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de forma
confiante e autoral na sociedade.

A BNCC aponta que existem três elementos comuns às práticas


corporais, sendo eles:

1. O movimento corporal como elemento essencial.


2. A organização interna – de maior ou menor grau – pautada
por uma lógica específica.
3. O produto cultural vinculado com o lazer e entretenimento
e/ou com o corpo e a saúde.

Cada uma dessas práticas corporais tematizadas compõe uma das


seis unidades temáticas abordadas ao longo do ensino
fundamental para o objeto da Educação Física.
No ensino fundamental, essa organização em unidades temáticas
tem por base a compreensão de que o caráter lúdico está presente
em todas as práticas corporais, ainda que essa não seja a
finalidade da Educação Física na escola. De acordo com a BNCC:

Ao brincar, dançar, jogar, praticar esportes, ginásticas ou atividades de


aventura, para além da ludicidade, os estudantes se apropriam das lógicas
intrínsecas (regras, códigos, rituais, sistemáticas de funcionamento,
organização, táticas etc.) a essas manifestações, assim como trocam entre si
e com a sociedade as representações e os significados que lhes são
atribuídos. 

Dessa forma, a delimitação das habilidades referentes ao corpo e


movimento dentro da BNCC privilegia as seguintes oito dimensões
de conhecimento:

1. Experimentação.
2. Uso e apropriação. 
3. Fruição.
4. Reflexão sobre a ação.
5. Construção de valores.
6. Análise.
7. Compreensão.
8. Protagonismo comunitário. 
9. Conheça as competências específicas de Educação Física para
o ensino fundamental trazidas pela BNCC:
10.1.  Compreender a origem da cultura corporal de movimento e seus
vínculos com a organização da vida coletiva e individual.
2.  Planejar e empregar estratégias para resolver desafios e aumentar
as possibilidades de aprendizagem das práticas corporais, além de se
envolver no processo de ampliação do acervo cultural nesse campo.
3.  Refletir, criticamente, sobre as relações entre a realização das
práticas corporais e os processos de saúde/doença, inclusive no
contexto das atividades laborais.
4.  Identificar a multiplicidade de padrões de desempenho, saúde,
beleza e estética corporal, analisando, criticamente, os modelos
disseminados na mídia e discutir posturas consumistas e
preconceituosas.
5.  Identificar as formas de produção dos preconceitos, compreender
seus efeitos e combater posicionamentos discriminatórios em
relação às práticas corporais e aos seus participantes.

6.  Interpretar e recriar os valores, os sentidos e os significados atribuídos às


diferentes práticas corporais, bem como aos sujeitos que delas participam.
7.  Reconhecer as práticas corporais como elementos constitutivos da identidade
cultural dos povos e grupos.
8.  Usufruir das práticas corporais de forma autônoma para potencializar o
envolvimento em contextos de lazer, ampliar as redes de sociabilidade e a promoção
da saúde.
9.  Reconhecer o acesso às práticas corporais como direito do cidadão, propondo e
produzindo alternativas para sua realização no contexto comunitário.
10.  Experimentar, desfrutar, apreciar e criar diferentes brincadeiras, jogos, danças,
ginásticas, esportes, lutas e práticas corporais de aventura, valorizando o trabalho
coletivo e o protagonismo. 

1.3 A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR

O brincar e a brincadeira são consideradas as


principais atividades da infância.

Bem, o movimento possui diferentes funções ou motivações:


divertir, expressar e proporcionar apreciação estética. Logo, ele
possui as seguintes dimensões: prazerosa, expressiva e estética.

1.3.1 BRINCAR E BRINCADEIRA NA INFÂNCIA


O brincar consiste na principal atividade da criança pequena
(entre 0 e 6 anos de idade). Segundo a BNCC:

A interação durante o brincar caracteriza o cotidiano da infância, trazendo


consigo muitas aprendizagens e potenciais para o desenvolvimento integral
das crianças. Ao observar as interações e a brincadeira entre as crianças e
delas com os adultos, é possível identificar, por exemplo, a expressão dos
afetos, a mediação das frustrações, a resolução de conflitos e a regulação
das emoções. 

O brincar e a brincadeira não se constituem como atividades


aleatórias, mas como as principais atividades da infância, sobre as
quais é preciso refletir e que devem ter espaço central nas
instituições de Educação Infantil.

As brincadeiras são a expressão primeira do movimento em


sua dimensão prazerosa. A Base Nacional Comum Curricular, ao
delimitar os direitos de aprendizagem e desenvolvimento na
educação infantil, a esse respeito, contempla:

 Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes


espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e
adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções
culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua
criatividade, suas experiências emocionais, corporais,
sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais
 Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto
do planejamento da gestão da escola e das atividades
propostas pelo educador quanto da realização das atividades
da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos
materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes
linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se
posicionando (BRASIL, 2017).

De acordo com a BNCC, no campo de experiência corpo e


movimento:

[...] a instituição escolar precisa promover oportunidades ricas para que as


crianças possam, sempre animadas pelo espírito lúdico e na interação com
seus pares, explorar e vivenciar um amplo repertório de movimentos,
gestos, olhares, sons e mímicas com o corpo, para descobrir variados
modos de ocupação e uso do espaço com o corpo. 

A Base Nacional Comum Curricular, ao apresentar as


competências gerais da Educação Básica, aponta:

Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e


escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das
linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar
informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e
produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

Os objetivos de aprendizagem dispostos na Base Nacional


Comum Curricular, no que se refere ao corpo e movimento, mais
especificamente aos conteúdos desenvolvidos nesta seção,
indicam, no trabalho com as diferentes idades da Educação Infantil:

 Bebês (zero a um ano e seis meses): imitar gestos e


movimentos de outras crianças, adultos e animais (EI01CG03)
(BRASIL, 2017).
 Crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11
meses): explorar formas de deslocamento no espaço (pular,
saltar, dançar), combinando movimentos e seguindo
orientações (EI02CG03) (BRASIL, 2017).
 Crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses): criar
movimentos, gestos, olhares e mímicas em brincadeiras,
jogos e atividades artísticas como dança, teatro e música
(EI03CG03) (BRASIL, 2017).

A dimensão prazerosa do movimento contempla aspectos de


vital importância para as crianças, sobretudo aquelas da educação
infantil. Brincar, correr e pular são atividades indissociáveis da
infância e devem ser o norte do trabalho pedagógico na primeira
etapa da Educação Básica.

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