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3.

Educação e cultura

A educação tem, a princípio, como finalidade, promover mudanças desejáveis e


relativamente permanentes nos indivíduos, e que estas venham a favorecer o
desenvolvimento integral do homem e da sociedade. Portanto, é importante ressaltar que
a educação atinja a vida das pessoas e do conjunto em todos os âmbitos, visando à
expansão dos horizontes pessoais, o desenvolvimento humano, além da observação das
dimensões econômicas e o fortalecimento de uma visão mais participativa, crítica e
reflexiva dos grupos nas decisões dos assuntos que lhes dizem respeito.
A educação é um acontecimento pessoal. É pela educação que a cultura e a
humanidade são transmitidas, conservadas e transformadas. Educação tem tudo a ver
com devir humano. A escola se faz em um espaço de participação, de
compartilhamento, de disputa e de negociação de sentidos que implicam em
transformações na vida pessoal de cada um dos que a freqüentam e na vida social de
todos. A escola é um espaço em que produzimos, transmitimos e criamos cultura.
(...)
Vivemos uma época em que a consciência de que o mundo passa por
transformações profundas é cada dia mais forte. Esta realidade provoca em muitas
pessoas e grupos, sentimentos, sensações e desejos contraditórios, ao mesmo tempo de
insegurança e medo, potenciadores de apatia e conformismo como também de novidade
e esperança, mobilizadores das melhores energias e criatividade para a construção de
um mundo diferente, mais humano e solidário.
Globalização, multiculturalismo, pós-modernidade, questões de gênero e de
raça, novas formas de comunicação, informatização, manifestações culturais dos
adolescentes e jovens, expressões de diferentes classes sociais, movimentos culturais e
religiosos, diversas formas de violência e exclusão social configuram novos e
diferenciados cenários sociais, políticos e culturais.
A escola não pode ignorar esta realidade. O impacto destes processos no
cotidiano escolar é cada vez maior. A problemática atual das nossas escolas de primeiro
e segundo graus, particularmente as das grandes cidades, onde se multiplicam uma série
de tensões e conflitos, não pode ser reduzida aos aspectos relativos à estruturação
interna da cultura escolar e esta necessita ser repensada para incorporar na sua própria
estruturação estas questões e novas realidades sociais e culturais.
No interior da cultura, recebemos, aprendemos, reproduzimos, transmitimos,
transformamos e criamos o mundo e a humanidade por meio das práticas socioculturais.
Podemos dizer que nos educamos e somos educados nessas práticas. Passamos a
participar de um mundo humano.
Assim, a educação acontece em todos os lugares em que as pessoas estão se
relacionando umas com as outras: na família, no trabalho, no templo, no quintal, no
mato, etc. Em qualquer ambiente desses, alguém educa alguém com ou sem intenção de
educar.
(...)
Desde que nascemos vamos aprendendo a viver numa cultura que as gerações
anteriores criaram. Essa transmissão cultural é a presença do humano no humano: a
educação num sentido bem amplo, pela qual homens e mulheres se fazem humanos e
educadores na vida.
Acontece que no movimento de transformação da cultura (criação de novos
significados, de novos modos de trabalhar e de novas regras de convivência) a vida
social transforma-se, a ponto de as pessoas precisarem se apropriar de saberes
específicos para poderem participar das práticas sociais. Isso implica numa divisão do
saber e do trabalho e na necessidade de novos saberes que possam dar conta de
controlar a própria vida social.
Muito embora essa divisão signifique bem uma situação de desigualdade social,
ela está presente na cultura e a escola tem a ver com ela. A escola foi criada como
instituição educativa, isto é, para transmitir às novas gerações aqueles elementos
culturais (saberes específicos) necessários para a participação na vida social, conforme a
divisão do trabalho, do poder e do saber. “Na escola, vivemos nosso mundo, o mundo
dos outros e compartilhamos, pensamos, imaginamos, planejamos, projetamos, criamos
outros mundos juntos”. (BESSA, 2005). Uns aprendem e fazem certas coisas, outros
aprendem e fazem outras coisas.
A necessidade de ensinar e de aprender saberes específicos para poder participar
da vida social fez que a escola fosse inventada como lugar em que se cuida e se ensina
às crianças coisas que não se aprende em casa nem na rua (saberes científicos e
técnicos) e lugar em que se aprende (muitas vezes sem saber) de maneira diferente as
coisas que se aprende em casa e na rua também (o “jeitão” humano de viver).
“Com isso, podemos pensar que homens e mulheres se tornam humanos
quando podem experimentar em suas vidas a possibilidade de falar e de
escutar os outros, de expressar-se e perceber os outros, de sentir-se e de
sentir os outros integralmente: como seres simbólicos, produtivos, sensíveis,
morais e políticos. Podemos pensar, também, que o homens e mulheres vêm
a ser o que são pela educação de que participam com outros homens e

mulheres”. (BESSA, 2005, p. 77)

A escola, mesmo sendo uma instituição criada especificamente para ensinar


aquele mínimo de cultura necessária à convivência das diferenças é, como qualquer
outra instituição social, um espaço em que produzimos, transmitimos e criamos cultura.
Logo, é também um espaço educativo em sentido amplo: tem a extraordinária tarefa
social de criar intencionalmente as condições educativas para que possamos receber,
desconstruir e reconstruir o mundo humano já construído.
A escola, em sua tarefa social, educa tanto para a obediência aos costumes
(padrões de comportamento) da comunidade e da sociedade como pode educar
para um posicionamento crítico e autônomo em relação a esses padrões.
Para tanto, é preciso integrar a cultura à questão educacional, porque a educação
é resultado das práticas culturais dos grupos sociais. O próprio processo de ensinar e
aprender revela essas práticas. Sabemos que todos os seres humanos têm cultura, e que
a cultura não é inata nas pessoas, mas é adquirida na convivência em grupo. E o lugar
ideal para a aquisição, desenvolvimento e conscientização da importância da cultura,
ainda é a escola. Nela alunos e professores trocam experiências, vivências e
singularidades. Convivem diariamente com as diferenças e praticam a “inclusão
cultural”.
A reflexão sobre educação não se esgota jamais. O processo educativo, seja o
formal transmitido pela escola, seja o obtido através da experiência de vida não é
temporário e se presta a insistentes debates e intenso estudo.
A pedagogia, como bem nos aponta o verbete do dicionário, trabalha com uma
série de técnicas, fundamentações teóricas, experiência, conhecimento elaborado, com
ideais educativos que passam a ser ideais de vida; portanto, a pedagogia pode-se dizer,
mobiliza o indivíduo por inteiro. O papel da escola, no mundo da educação, é o de
questionar criticamente os modos de pensar, de sentir, de atuar e os resultados dessa
atuação das gerações humanas. Em síntese, o papel da escola perante as demandas
contemporâneas seria o de recriar a cultura na escola e a cultura que nos rodeia

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/18388/1/O-PAPEL-DA-EDUCACAO-NA-
CULTURA/pagina1.html#ixzz0xvs7fSi1

PAPEL DA EDUCAÇÃO NA HUMANIZAÇÃO

Paulo Freire

Não se pode encarar a educação a não ser como um que fazer humano. Que fazer,
portanto, que ocorre no tempo e no espaço, entre os homens uns com os outros.
Disso resulta que a consideração acerca da educação como um fenômeno humano nos
envia a uma análise, ainda que sumária, do homem.

O que é o homem, qual a sua posição no mundo - são perguntas que temos de
fazer no momento mesmo em que nos preocupamos com educação. Se essa
preocupação, em si, implica nas referidas indagações (preocupações também, no fundo),
a resposta que a ela dermos encaminhará a educação para uma finalidade humanista ou
não.

Não pode existir uma teoria pedagógica, que implica em fins e meios da ação
educativa, que esteja isenta de um conceito de homem e de mundo. Não há, nesse
sentido, uma educação neutra. Se, para uns, o homem é um ser da adaptação ao mundo
(tomando-se o mundo não apenas em sentido natural, mas estrutural, histórico-cultural),
sua ação educativa, seus métodos, seus objetivos, adequar-se-ão a essa concepção. Se,
para outros, o homem é um ser de transformação do mundo, seu que fazer educativo
segue um outro caminho. Se o encaramos como uma "coisa", nossa ação educativa se
processa em termos mecanicistas, do que resulta uma cada vez maior domesticação do
homem. Se o encaramos como pessoa, nosso que fazer será cada vez mais libertador.

Por tudo isso, nestas exposições, para que resulte clara a posição educativa que
defendemos, abordamos - ainda que rapidamente - esse ponto básico: o homem como
um ser no mundo com o mundo.

O próprio homem, sua "posição fundamental", como diz Marcel, é a de um ser


em situação - "situado e fechado". Um ser articulado no tempo e no espaço, que sua
consciência intencionada capta e transcende.

REVISTA DA FAEEBA – FACULDADE DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DA


BAHIA
ANO 6 NÚMERO 7, JANEIRO a JUNHO DE 1997, -Edição de Homenagem a Paulo
Freire .
Salvador-BA ISSN 0104-7043 – UNEB – p. 9-32

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