Você está na página 1de 18

A EDUCAÇÃO COMO PROCESSO SOCIAL

(Extraido do material didático produzido pelo Professor Edvan Wilson Ferreira Pinto -2010 )

Nesta unidade estaremos enfocando a educação enquanto fenómeno social, em que por meio
desta o homem pode transmitir para as gerações seguintes o património cultural.
Além de estudarmos o caráter paradoxal do processo educativo na escola, posto que, este tanto
pode promover o controle como a mudança social.

Objetivos de aprendizagem
a) Compreender a educação enquanto fenômeno social.

b) Relacionar a educação dentro e fora da escola enquanto processos de aprendizagem


necessários aos sujeitos sociais.

c) Analisar a educação em sua dimensão paradoxal, ou seja, enquanto responsável pelo controle
social realizado pela escola e pela mudança das estruturas dominadoras pela mesma instituição.

1
1 – Educação dentro e fora da Escola.

Inicialmente gostaríamos de chamar sua atenção para o seguinte aspecto da nossa metodologia.
Antes de abordarmos esta nova unidade, trataremos primeiramente da pergunta que
consideramos fundamental: O que é educação?

Somente depois desta resposta ou pelo menos de uma tentativa, poderemos alçar novos voos.
Assim, buscaremos estabelecer um caminho para esta resposta, ou seja, um caminho.

Ninguém escapa da educação. Em casa, na rua, na igreja ou na escola, de um modo ou de


muitos todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender, para ensinar, para
aprender-e-ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias misturamos
a vida com educação (BRANDÃO, [s/d], p.7).

Considerando a afirmação de que “ninguém escapa a educação”, significa dizer que o acto de
existir em-si mesmo constitui-se em um acto de aprendizagem, de apreensão de informação,
de decodificação, ou seja, toda situação educativa é condição essencialmente humana,
aprender, conhecer, repassar informações, construir e reformar as informações socialmente
produzidas é exclusivamente produto humano.

A educação é o elemento central da vida social, o qual responde justamente pela organização
de nossas experiências acumuladas enquanto indivíduos ou colectividade, pelo
desenvolvimento da personalidade, e também o que possibilita ao homem a sua sobrevivência,
visto que os homens nascem inacabados e necessitam dos conhecimentos anteriormente
produzidos.
Ao organizarem a vida colectiva através da acção conjunta, os homens criam hábitos,
comportamentos, maneiras de agir, valores, modos de compreensão da realidade. Tudo isso,
será útil para a manutenção da vida ao transmitir todos estas informações via linguagem.

O homem por ser capaz de operar na dimensão simbólica construiu condição singular para
transmitir seus conhecimentos, a linguagem, e através dela ele pode deixar seu legado para as
gerações seguintes, permitindo com que estes conhecimentos não fossem perdidos, assim esse
processo de transmissão de saberes chamamos de educação, como afirma o Durkheim (1978)
a educação é a acção dos adultos sobre as crianças. Mas o homem para que pudesse realizar
este processo de socialização, ou seja, de transmissão, e acção dos adultos sobre as crianças,
ele criou dois tipos de processos um chamado de formal e o outro informal.

A educação então compreenderá todo o universo de valores, saberes, práticas os quais poderão
ser repassados de modo formal e/ou informal, por meio de instituições criadas pelos homens e
que são essenciais para a manutenção de um grupo e que também se impõe sobre os indivíduos
(Durkheim,1978) pois são estes conhecimentos acumulados de uma geração para a outra que
garantem a unidade e identidade de povos e/ou grupos, nas mais diversas organizações sociais.
Portanto, em toda concepção de educação encontraremos uma filosofia de vida, de homem e
de sociedade.

2
A educação como podemos ressaltar constitui-se em objecto da sociologia uma vez que, cabe
a ela a função de socializar o homem, ou seja, interiorização dos elementos socioculturais
necessários para a formação de sua personalidade e base para a convivência. Ao assimilar os
conhecimentos, os valores e padrões sociais, desenvolvidos pelo grupo o homem torna-se apto
para a vida colectiva, pois enquanto adulto, por exemplo, ele necessita aprender uma profissão
para participar da vida económica.

Como estamos apresentando a educação enquanto processo social envolve, portanto, toda a
vida dos homens. Constitui-se em um fenómeno profundamente complexo, que deve ser
analisado em sua multiplicidade e diversidade, em sua capacidade de conservação ou
transformação da sociedade, como iremos mais tarde tratar. A educação como um aspecto da
sociedade global não pode ser deixado de lado, ou seja, o que queremos destacar é justamente
a necessidade de entendermos a educação em sua dimensão mais ampla não somente o que
ocorre dentro da escola mais fora também, e as relações destes conhecimentos para a vida de
cada indivíduo.

O processo educacional visto sobre a óptica da ambivalência ajuda-nos a compreender a


necessidade de investigação sobre os processos de transmissão de informações e
conhecimentos aos indivíduos uma vez que sem analisarmos criticamente como a educação
pode ajudar nas mudanças sociais e/ou mesmo na conservação não poderemos propor modelos
que superem as estruturas opressoras as quais construídas socialmente são muitas vezes
apresentadas como “estáticas” e frutos de um desenvolvimento natural em que os sujeitos
sociais não podem fazer nada a não ser adequar-se da melhor maneira possível.

A pergunta: O que é educação? Foi respondida e continuará sendo de acordo com a época, suas
demandas, seus conflitos, suas necessidades, ou seja, cada teórico tenta alcançar por meio de
suas idealizações a construção de um modelo de sociedade e de homem que possam atender as
expectativas de certos grupos existentes em disputa na sociedade, os quais por meios de sua
cosmovisão buscam justificar as relações sociais existentes.

Portanto considerando que a educação, é um processo vital ao homem em sociedade, podemos


admitir o seu fim, segundo Kant colocou: “o fim da educação é desenvolver, em cada indivíduo,
toda a perfeição de que ele seja capaz”. Assim, cabe a educação fornecer os elementos que
ajudam o homem na sua emancipação, pois tornar-se capaz de compreender sua condição de
sujeito da história deve ser a necessidade de todo projeto emancipador.

A partir deste momento investigaremos a educação com o fim de compreendermos a função


desta nas sociedades atuais e como por meios de seus teóricos podemos ainda ver a educação
enquanto processo social capaz de possibilitar ao homem as mudanças necessárias na
sociedade.

3
Preste atenção no que estamos propondo inicialmente você precisava compreender como a
sociologia se formou para que compreendendo seu objetivo de estudar os fenômenos sociais
encontrássemos bases científicas para a explicação destes fenômenos. Com a sociologia da
educação teremos agora nosso foco centrado na escola, pois esta é a instituição responsável
pela formação do homem e transmissão dos conhecimentos socialmente construídos e
repassados para os demais sujeitos.

1.1. Educação dentro da Escola


A escola pode ser admitida enquanto um fenômeno recente, ou seja, ela nem sempre existiu
(não existiam nas sociedades ágrafas). Posto que, o homem de acordo com suas necessidades
criou em épocas distintas, instituições específicas ou não para a realização deste fim, o qual é
a condição para a vida do homem em sociedade.

Nas sociedades sem escrita a educação era realizada pela convivência entre as crianças com os
adultos, era na relação diária, no contato direto com os adultos que este processo efetivava-se,
podemos colocar que eram nas actividades realizadas em grupo, isto é, no trabalho e nas
cerimônias coletivas momento em que adultos e crianças estavam presentes ocorria então o
processo de aprendizagem, uma vez que, estes garantiam a identificação com o grupo, diz
Lakatos(1999, p.223): “Retornando às sociedades ágrafas, verificamos que essas apresentam
apenas a educação informal, um misto, de transmissão dos valores e habilidades requeridas
para a vida em uma sociedade pequena e homogênea”.

Contudo o processo de separação entre a escola e a vida ocorreu na Idade Média quando a
actividade de ensinar tornou-se especializada e desenvolvida em espaços apropriados. Havia
um duplo processo, pois os filhos dos nobres recebiam nos castelos, uma educação voltada para
a arte da cavalaria e a importância da honra.

Diferentemente desta educação era a que atendia os filhos dos camponeses, pois desenvolvida
nas casas paroquiais, eles aprendiam princípios religiosos e morais, algumas noções de
matemática e regras gramaticais da língua latina.

Com a Revolução Industrial, ocorrida na segunda metade do séc. XVIII, a burguesia


intensificou seu domínio, modificando de acordo com as suas necessidades os modelos sociais,
econômicos, políticos, característicos da Idade Média por novos modelos. Dentre as mudanças
estava aquela referente ao conteúdo do que era ensinado, ou seja, houve uma desvalorização
da filosofia e do saber literário, para a inclusão de disciplinas de caráter mais científico, posto
a necessidade oriunda do desenvolvimento industrial, logo a produção de um conhecimento
voltado para a invenção de máquinas cada vez mais complexas e capazes de aumentar a
produção.

Com este novo processo surgiu à classe operária, e consequentemente, a necessidade de


trabalhadores mais qualificados, assim como a ideia de modernização exigia cidadãos mais
educados. A burguesia ávida por mais poderes, logo buscou uma nova forma de justificar o
acesso a administração pública, este seria por meio da educação. Contudo, esta mesma

4
burguesia considerou que a classe de novos trabalhadores, somente precisava de alguma
instrução.

Foi oriundo dessa observação que nasceu junto com a escola voltada para atender os filhos da
burguesia, uma escola que atendesse os filhos da classe operária. A primeira escola preparava
até chegar à universidade, preparando os futuros dirigentes; a segunda limitava-se ao ensino
primário, e centrava-se no ensino apenas de ler e escrever. No início do século foram as escolas
profissionalizantes as responsáveis por manterem esta visão de educação dualista para atender
os trabalhadores e seus filhos.

É necessário ressaltar que os trabalhadores lutaram por seu direito à educação pública, gratuita
e obrigatória, ou seja, uma escola que atendesse verdadeiramente uma formação para além da
preparação direcionada ao trabalho. Isso significava o fim da visão dualista da educação, por
uma nova formação unitária em que o processo atendesse a formação do cidadão.

A escola torna-se então o lócus catalizador de todos os conhecimentos socialmente produzidos


e práticas, responsável pela formação dos sujeitos a partir de saberes, os quais são
reconhecidamente válidos pelos grupos que interagem e disputam entre si na sociedade, com o
fim de legitimar suas concepções de mundo, visão de homem, de educação e também de
sociedade.

Cabe a escola com suas ações sistemáticas e programadas a transmissão de todo o patrimônio
cultural de uma determinada sociedade, o qual será elaborado considerando as especificidades
das diversas áreas e por consequência a inclusão em algumas das componentes curriculares da
escola, através do uso de instrumentos metodológicos específicos.

A escola utilizará seus métodos de acordo com a concepção de educação subjacente a sua teoria
pedagógica, ou seja, tradicional ou progressista, crítica ou pós-crítica, cada visão apresentará
suas metodologias para apreensão dos conhecimentos e das relações sociais válidas reforçando
ou superando as mesmas. Tais metodologias no processo de aprendizagem possibilitarão em
alguns casos, ou não, a construção e desconstrução por parte do educando do seu conhecimento
sobre a realidade.

A escola será então responsável pela organização do conhecimento, e além disso, ela também
funcionará sobre normas, estas são fundamentais para garantir êxito em sua actividade principal
que é a formação do homem tornando-o apto para a vida comum. Assim, para cumprir este fim
a escola constrói todo o seu sistema funcionamento, o que possibilitará maior domínio sobre
as suas ações. O controle em suas actividades implicará condições de aprimorar o trabalho
desenvolvido. A escola cumprirá sua dupla missão ao preparar este indivíduo tanto para a vida
científica, pois com os saberes ali trabalhados ele será capaz de adentrar a vida económica
quanto continuar seus estudos e desenvolver cada vez mais sua cidadania.

Refletir sobre o processo de educação realizada pelas instituições escolares torna-se essencial,
uma vez que, primeiramente cabe a esta instituição a função de transmissão do saber

5
formalizado como já mencionamos; assim a escola inserida em uma determinada organização
social como todas as demais instituições, funcionará em acordo com as normas vigentes em
cada sociedade, e desempenhará papel central na reprodução ou superação de certos
comportamentos, pois nunca podemos perder de vista a dialeticidade da escola, de sua
capacidade de transformar os sujeitos sociais.

Portanto, também existe a necessidade de um tratamento e um olhar crítico sobre esta


instituição. Isso pode ser justificado, justamente pelo facto, que estamos destacando, ou seja,
desta ser responsável pela transmissão dos saberes, práticas, valores socialmente construídos.
E o que é pior, podem ser tratados enquanto imutáveis, e sem a intencionalidade existente neles,
pois os grupos hegemónicos querem através desta forma de apresentação legitimar sua visão
de mundo e perpetuar o status quo existente. Isso implica dizer que, para aqueles que estão em
uma boa situação social não há a necessidade de mudança, logo a escola deve apenas reproduzir
os saberes que ajudaram na manutenção do domínio e da exclusão social.

Esta instituição não pode ser vista nem pelos seus membros (professores, gestão e alunos) como
pela sociedade em geral enquanto neutra, pois toda acção desenvolvida neste espaço pode ser
no sentido de reforçar certas relações existentes ou buscar superá-las, assim a questão é ter
sempre em vista que a função da escola deve ser a melhoria de vida de todos, possibilitar uma
formação que garanta o máximo possível o exercício da cidadania.

Assim, ainda que o conhecimento trabalhado pela escola supere a fragmentação do


conhecimento do cotidiano não podemos deixar de mencionar que, este conhecimento dentro
da escola tem que possuir relação significativa com a vida dos seus alunos, pois tal distância
pode promover a alienação deste aluno quanto sua própria condição social, afirma Kruppa
(1994, p. 31):

... o saber escolar, embora possa e deva ter relação com a vida dos que frequentam a escola,
muitas vezes se apresenta como distante dela. Se o conhecimento da escola se distancia das
necessidades de vida dos alunos, impedindo que eles o assimilem, o resultado escolar será
mercado necessariamente pela exclusão daqueles que deveriam dominar esse conhecimento,
reproduzindo de forma conservadora a vida desigual dessa sociedade, onde poder traz saber.

O que a autora quer dizer a você é que se a escola não trabalhar com um saber científico e
significativo para este aluno ela corre o risco de apresentar algo tão distante de sua realidade
onde o aluno não consegue organizar suas acções de tal maneira a superar a dominação
existente na sociedade.

Concluímos destacando a importância da escola enquanto espaço formal de aprendizagem, de


luta e organização social que deve sempre ser pensado em seu duplo movimento que é de
construção e desconstrução, manutenção e superação, de reprodução e produção, de afirmação
e negação. Logo toda a acção da escola deve ser vista com o fim de permitir ao homem um
espaço contínuo de aprendizagem para a devida melhoria de sua vida.

6
Sugestões de Filmes

Coach Carter – Treino para a vida. Direção de Thomas Carter. EUA, 2005. O filme mostra a
realidade de uma escola em uma área pobre, em que o antigo aluno é chamado para ser
professor do time de basquete, e ao estabelecer uma rígida disciplina nos alunos e estes
tornarem-se vitoriosos descobre que os mesmos estão obtendo péssimos resultados na sala e
sua luta será para reverter este quadro. O filme traz uma reflexão sobre o papel da educação e
da escola para os indivíduos.

Actividades Complementares
1) Considerando o texto explique o processo de educação existente anteriormente ao
nascimento da escola.

2) Em que período da história ocorreu a separação da escola com a vida e quais as


características dos dois modelos de educação existentes nesta época.

3) Explique como com a revolução industrial e a ascensão da burguesia contribuíram na


resignificação da função social da escola.

4) Destacando que a escola tem a função de transmissão dos saberes socialmente produzidos,
qual é o perigo para esta instituição e para a sociedade quando esta é tratada enquanto neutra?

5) A escola enquanto instituição social possui a função de socializar aos indivíduos, ou seja,
prepará-los para a vida social. Como os conhecimentos formalizados possibilitam isso ao
sujeito social?

6) O que significa afirmarmos que a escola é um lugar de catalização de conhecimentos? E


como a escola ajuda a sociedade assumindo este papel?

7
1.2.A Educação fora da Escola
O homem de acordo com suas necessidades desenvolveu instituições, ou seja, formas próprias
de organizações sociais, as quais foram e as que ainda existem são responsáveis pelo processo
de transmissão do património cultural existente, isso significa que, em cada momento da
história, ele criou formas distintas para realizar o seu processo de inserção na vida social.

Antes do nascimento na Idade Média da escola formal as informações eram transmitidas de


modo informal por meio da convivência com os grupos. Podemos também afirmar que o facto
das escolas terem surgido, a aprendizagem não ficou restrita somente a este espaço, ou que ele
seja único para esta função. Todos os sujeitos aprendem continuamente e nos mais diversos
espaços e condições, pois somos seres, que a todo momento, estamos obtendo novas
informações, nossa natureza caracteriza-se justamente por este aspecto, ou seja, estamos a todo
momento obtendo novos conhecimentos.

A aprendizagem fornecida nestes espaços e em condições adversas a da escola, precisa ser


valorizada também por todos os sujeitos, e em muitos casos até pela escola, pois sabemos que
o que é teorizado como Currículo Oculto, cabe justamente neste processo, ou seja, é o que vem
do meio social para o espaço escolar. A escola deve estar preparada para trabalhar estes
conhecimentos com seus alunos para que o mesmo consiga identificar através da mediação dos
educadores a riqueza dos mesmos, os quais existem fora da sala de aula, mas constitui-se
também em um património para as sociedades, ainda que muitas vezes cheios de imprecisões
e preconceitos.

O que queremos inicialmente pontuar é o facto destes conhecimentos formais e informais


possuírem aspectos epistemológicos distintos. Dito de uma outra forma na escola haverá um
saber sistematizado e organizado para atender da forma mais adequada os indivíduos, já o
conhecimento fruto do dia-a-dia, não possui tal rigor, uma vez que, ele está directamente
relacionado as experiências imediatas, não problematizadas devidamente pelos sujeitos sociais,
além deste detalhe encontramos também diferenças na transmissão, posto que na escola serão
desenvolvidas metodologias próprias para este fim, o que não ocorrerá com o saber que existe
no cotidiano, o qual tanto na sua estruturação como em sua transmissão serão assistemáticos.
Isso implica dizer que a educação pode ser tratada em sua dimensão intencional, neste caso nos
referimos à escola, ou não-intencional como mencionamos acima no dia-a-dia. Quando
iniciamos o processo de convivência social apenas assimilamos as informações, isto quer dizer
que, somente incorporamos as maneiras de pensar, sentir ou agir do grupo em que convivemos,
obtemos de modo não refletido estes conhecimentos pois serão necessários para a vida
colectiva.

Fora da escola então cabe este processo não-intencional, ou diretivo da aprendizagem, pois
tudo pode ser para uma criança, adolescente e até muitos adultos, um momento de obtenção de
novos saberes e práticas.

8
Podemos dizer que o indivíduo se educa através de todas as experiências sociais das quais
aceitas pelo grupo ajudam na participação da vida colectiva, formam laços importantes para a
estruturação da personalidade, e a participação deste na colectividade.

Identificamos muito bem essa inserção dos sujeitos na vida colectiva, com o nascimento de
uma criança. Ao nascer um bebê se defronta com muitos desafios, os quais não estão ligados a
dimensão social, mas referem-se a sua própria existência.

Com o passar do tempo esta criança começará a deixar os comportamentos não sociais pelos
comportamentos sociais fornecidos pelos adultos presentes em seu dia-a-dia. Serão os outros
que fornecerão os padrões para as crianças, os quais serão necessários para sua relação com o
mundo exterior, estes padrões que foram construídos socialmente, serão a base para o início da
socialização e formação destas crianças.

A relação com este novo mundo será mediado com as informações fornecidas pelos adultos e
se estenderá por toda a sua vida, a tal ponto que implicará em alterações no próprio organismo,
ou seja, caberá aos costumes herdados nos ensinar o horário para as refeições, dormir, e demais
funções biológicas, ou seja, estes padrões sociais afectam até a nossa dimensão biológica.

Passamos a partir destas informações a observar que toda a aprendizagem é necessária, seja
dentro ou fora da escola sempre teremos condições de obtermos saberes que serão essenciais
para a nossa existência individual ou colectiva.

Esse universo de saberes não sistematizados e não universalizados pela ciência são importantes
porque ajudam na formação de nossa identidade social, promovem o reconhecimento entre si
e são essenciais para o desenvolvimento de todos os indivíduos na sociedade. Não podemos
cair no equívoco de considerarmos apenas o saber académico e formalizado, mas necessitamos
reconhecer toda a gama de experiências acumuladas por todas as gerações.

Entretanto, algumas vezes, é preciso que as informações provenientes desta esfera, a qual está
fora da escola possam ser devidamente trabalhados no espaço escolar como forma de reavaliar
algumas concepções congeladas e reprodutoras de ideologias marcadas pelo preconceito e pela
discriminação.

Todos os conhecimentos e experiências sociais podem contribuir num primeiro momento no


desenvolvimento deste sujeito social, em seu processo de adaptação ao mundo humano, mas
necessitamos sempre manter uma atitude crítica quanto a toda e qualquer informação obtida,
seja dentro ou fora da escola.

Devemos ter uma atitude sempre que possível, de quem está receptivo a novas informações,
mas jamais perdemos a possibilidade de alcançarmos novos saberes, pois isso é uma atitude
negativa e que prejudica o nosso processo de aprendizagem, assim como legitima apenas o
saber científico tornando desnecessário todo o saber popular com suas tradições desenvolvidas
e tão importantes ao homem.

9
Sugestões de Filmes

Ser e ter. Direção de Nicolas Phillibert, França, 2003. Um excelente documentário em que um
professor traz o mundo (valores, idéias etc) para o espaço da escola juntamente para mostrar a
importância do conhecimento vivenciado fora do espaço escolar mais tão importante quanto o
que existe dentro da escola.

Actividades Complementares
1) Como a escola deve tratar os conhecimentos obtidos pelo educando fora do espaço escolar?

2) Mesmo em virtude do seu caráter não-intencional e directivo como o processo de


aprendizagem fora da escola é importante para crianças e adolescentes?

3) A escola constitui-se em um espaço singular ao congregar o saber científico e o popular. De


que forma o processo educativo deve congregar estes dois tipos de conhecimento?

4) De que forma estes saberes não sistematizados podem ajudar os sujeitos sociais na formação
de sua identidade?

2 – Educação e Controle Social

A educação possui um caráter paradoxal, o que isso significa?

Devemos entender que a escola ao mesmo tempo em que ela contribui para o controle social,
ela também é responsável pelas mudanças na sociedade.

No que tange ao controle social aqueles que enfatizam a situação existente, apontam justamente
para a manutenção da ordem vigente. A questão é que, se não podemos conservar todas as
estruturas existentes, é necessário um controle sobre o processo de mudança para que não haja
comprometimento dos seus privilégios.

Assim o controle social pode ser feito por meio das instituições sociais, o que em nosso caso,
trata especificamente da instituição escolar, a qual é justamente como anteriormente já falamos.
A escola é responsável pela sistematização dos saberes, das práticas, dos valores socialmente
construídos e que serão transmitidos para os novos sujeitos sociais.

Esse carácter de transmitir pode também ser colocado enquanto a reprodução realizada pela
escola ao organizar em seus currículos o que será desenvolvido pelos alunos, e que é resultado
de uma escolha feita com base na ordem social vigente.

10
Todo o trabalho a ser desenvolvido passa justamente, por essa lógica, isso implica a formação
dos professores, quando apenas treinados para repassar o que aprenderam, não acrescentando
ou estimulando o aluno na compreensão de novos saberes, para além daqueles que foram
abordados em sala.

Ainda é possível afirmar que o controle estendesse para a estrutura dos prédios, a distribuição
das salas, a organização das cadeiras, o material didático, os métodos de ensino, e também
muitas vezes na exagerada ênfase na autoridade. Tudo isso, com a finalidade de comprometer
a liberdade, e a autonomia intelectual do educando, ou seja, a ausência da crítica e da
capacidade de iniciativa, da busca e do questionamento das formas, normas existentes que
revelam seu verdadeiro caráter de domínio e estimulam submissão.

Ao reproduzir certo tipo autoritarismo, o qual existe na sociedade, a escola reforça certas
relações de desigualdade em seu seio, e dentre estas temos a económica, onde os alunos das
escolas mais ricas são estimulados a buscar novos conhecimentos, como forma de alcançar
posições mais elevadas na sociedade.

Já as escolas voltadas para os filhos das classes mais baixas, temos muitas vezes o contrário,
ou seja, a falta do estímulo, do incentivo e o reforço das diferenças como forma de manter
nestes alunos um conceito negativo de si mesmo. Com isso temos uma das razões pelo alegado
fracasso escolar de muitos jovens, posto que a própria escola, em sua estrutura reproduz as
desigualdades externas, contribuindo para a justificativa e manutenção do status quo.

Não é somente a desigualdade econômica, que a escola reproduz justificando-a em suas


relações, ela também em muitos casos reproduz as relações sociais externas. A escola através
do seu sistema de avaliação também estimula a competição, e reforça um sistema de premiação
para os melhores e estigma àqueles que não conseguem obter um bom desempenho.

Com isso a situação é justamente a de desrespeito pelo educando e de suas limitações em sua
aprendizagem. A escola simplesmente, nega as diferenças no processo de aprendizagem
reforçando somente aquelas actividades que já estão adequadas aos interesses dos
dominadores. O educando então torna-se um mero objeto a ser manipulado, pois deve apenas
submeter-se ao sistema sem questionar sua forma e seus métodos de seleção dos melhores, ou
mais aptos.

As actividades meramente mecânicas constituem-se em a parte importante na reprodução da


ordem vigente de modo que somente os mais adaptados conseguem alcançar bons resultados.

A situação é não permitir que o aluno consiga pensar, pois a intenção é desenvolver hábitos
profundamente arraigados no educando, os quais são difíceis de serem modificados em virtude
do processo de escolarização.

Nos sistemas de avaliação não é difícil encontrarmos ainda professores que valorizem as
respostas do livro tal qual ele comentou na sala.

11
Isto implica que, quando muitas vezes o aluno ousa pensar, sua avaliação é profundamente
negativa, o professor é quem o desestimula a buscar outras alternativas de resolução do
problema.

Com isso temos que não existe um estimulo a inteligência, mas repetição, posto que, criar
hábitos é contrário ao espírito criativo e investigativo necessário a quem verdadeiramente quer
conhecer. O processo repetitivo inibe a pesquisa como modo sempre novo de alcançar o
conhecimento, permitindo aos alunos meios de construir a sua experiência e intervir na
realidade de forma consciente.

A falta de estímulo promove por meio deste sistema apenas a reprodução do domínio e o
controle e manutenção da ordem vigente.

Por outro lado não podemos colocar que somente o sistema avaliativo, é responsável pela
manutenção da ordem. A escola desenvolve também outras formas de garantir o controle social,
está em muitos casos em seu isolamento da comunidade, às vezes a escola fica fechada e ao
não interagir com o mundo real, ela acaba levando o aluno a alienar-se de tudo o que está fora
dela, ou seja, ele não consegui ver como agir sobre o mundo.

O currículo no geral elaborado não por objectivo tal interação, entre o conhecimento e a vida.
O que neste caso, o aluno não compreende a necessidade de apreensão das informações da sala.
A visão disciplinar acaba reforçando a fragmentação, o que dificulta ainda mais ao aluno ver
os conhecimentos da sala como parte de um todo. Isso estimula apenas o reforço da visão
fragmentada e isolada da realidade, ajudando apenas na garantia do domínio do modelo
existente.

A escola não usa apenas o isolamento da comunidade, enquanto alienação do mundo real, para
desestimular a mudança, ela também faz uso da repressão, neste caso é tolhida de seus
partícipes, toda a condição de espontaneidade necessária para um desenvolvimento
participativo e criativo na escola e na sociedade.

O autoritarismo que se apresenta na acção dos professores, gestores e demais membros da


escola, apenas estimulam a passividade dos alunos, e é o que mais interessa aos defensores do
sistema, uma vez que, a falta de iniciativa ajuda no condicionamento, logo colocar os alunos
aptos a servirem de forma adequada ao modelo em vigência.
Ainda é importante colocar que esta adaptação que mencionamos ao sistema, tem uma faceta
mais complexa para ser colocada. O que quero dizer é que, quando por alguma razão o aluno
não consegui alinhar-se ao sistema escolar, ele será submetido ao processo mais brutal do
controle que é a exclusão social.

O que significa isso?


A exclusão social podemos caracterizá-la enquanto a marginalização do sujeito, ou seja, é a
quase eliminação deste da vida social. A ele agora está imposta, uma dura condição de

12
alijamento social, um “destino” quase que inexorável. Ele foi selado no início da vida escolar,
posto sua insubmissão ao sistema, logo ficará fora, à margem de tudo, na periferia da sociedade.

Sugestões de Filmes

A Filha de Ryan. Direção de David Lean, Inglaterra, 1970. O filme mostra a convivência em
um pequena comunidade, e avalia o fenómeno da imposição directa do social sobre o indivíduo.
Esta produção ajuda a compreendermos como as instituições sociais funcionam impondo seus
valores aos indivíduos.

O Sorriso de Monalisa. Direção de Mike Newell, EUA, 2003. Um excelente filme que ajuda
nos a percebermos como a educação pode justamente garantir o controle social. O filme roda
em meados do século vinte em que uma escola tradicional para jovens mulheres serem
preparadas para a vida do lar. Mas com a chegada de uma nova professora teremos a luta por
mudanças e por outro lado a reação conservadora da direção.

Actividades Complementares

1) O que significa dizer que a escola possui um caráter paradoxal?

2) De que forma a escola torna-se um instrumento de manutenção ou de controle social a favor


da ordem vigente?

3) Relacionando a temática do controle social, como o currículo e o sistema avaliativo


contribuem para este processo?

4) A escola ao manter um isolamento quanto a comunidade impede seus alunos de


compreenderem a relação da educação com a responsabilidade social, o que torna este alienado
aos problemas da comunidade e coloca em risco a vida de quem está em situação de alijamento
social. Como os educadores podem reverter esta situação mesmo sabendo desta função
reprodutora da escola?

5) Com base nas afirmações do texto como a escola torna-se em parte responsável pelo
processo de exclusão social?

13
3 – Educação e Mudança social

Inicialmente gostaríamos de colocar que ressaltar a educação enquanto promotora de mudança


é essencial para que tenhamos justamente a compreensão adequada do próprio processo
histórico em que as diversas sociedades estão inseridas.

Acima de qualquer coisa não estamos preocupados com o tempo necessário para as mudanças
ocorrerem, se o processo é mais lento ou rápido, não ficamos detidos nesta discussão. O que
nos interessa é fundamentalmente o facto de que as mudanças são processadas, ainda que
situações residuais sejam vistas, a marcha da história com as suas mudanças são percebidas em
todas as sociedades, como afirma Freire(2004, p.76): “O mundo não é. Está sendo”.

E como fica a educação escolar?


A pergunta é feita em virtude da compreensão que devemos ter sobre o papel da educação neste
contexto de mudanças. A educação deve promover mudanças na escola tanto interna quanto
externa, pois quando os mecanismos de transformação não são utilizados a escola pode ficar
na contramão da história.

A História continuará seu processo independente da escola, caso esta não acompanhe as
mudanças necessárias ocorridas com o tempo. Em seu movimento dialético, a escola precisa
compreender os mecanismos de controle e mudança para que possa realizar sua função
atendendo principalmente as demandas sociais promotoras da melhoria da vida.

A escola conjuga acções contraditórias, isto é, a coexistência de processos de controle e


mudança vivenciados no mesmo espaço. Contudo, o que queremos neste momento é
intencionalmente apresentar o processo de mudança, é dar ênfase ao novo, colocar o espaço
escolar enquanto lugar de descoberta.

A descoberta constitui-se em um dos pontos fundamentais para a mudança. A escola deve ser
por excelência o lugar da descoberta, pois cada educando deve iniciar o processo de
investigação por novos saberes com conhecimentos prévios, desenvolvidos em sala pelo
educador, mas sempre estimulado na busca por novas maneiras de compreensão da realidade.

Na escola o educando ao iniciar sua vida na obtenção de conhecimentos formalizados, deve ser
orientado que este conhecimento registrado em livros tem que ser tratado, não como o fim do
processo educativo, mas apenas seu início.

Com a inserção nestes conhecimentos, os quais com o tempo foram formalizados, constituindo
o património cultural existente, todo estudante tem por obrigação conhecê-los, justamente para
que os mesmos uma vez sedimentados possam fundamentar as novas descobertas que poderão
ser realizadas.

14
Estes conhecimentos devem ser compreendidos apenas enquanto meio para as novas, e
permanentes descobertas, que deverão ser realizadas pelo educando, este saber não pode ser
tratado de modo algum como fim, mas apenas o princípio para a construção de novas
possibilidades de compreensão do mundo.

A pesquisa neste caso servirá enquanto princípio educativo essencial, uma vez que, todo sujeito
do conhecimento deve ser levado a pensar tudo o que lhe foi repassado e assim ao desenvolver
uma atitude crítica frente ao mundo no qual está inserido podemos dizer que teremos na escola
condições de afirmar sua função transformadora.

As mudanças sociais que devem ser promovidas na escola resultam da atitude tomada por seus
educadores no que tange aos saberes socialmente produzidos e como eles são trabalhados no
espaço escolar. A escola para que cumpra sua função de promotora de mudança precisa
compreender a si mesma e por consequência o espaço em ela está inserida, assim como as
forças sociais, as quais actuam no seu tempo e tomar a decisão por uma educação
emancipatória.

Com esta posição tomada ela também precisa está com permanente interação com a
comunidade em que ela está inserida, inserindo em seu universo todos os demais actores sociais
presentes no espaço público, formando um locus permanente de dialogo com todos os demais
sectores da sociedade civil organizada.

Com esta atitude de constante diálogo a escola deve então colocar em sua pauta de debates
todos os problemas que comprometem as relações sociais, e a própria sociedade. Preparar cada
educando para uma permanente reflexão acerca dos valores existentes na sociedade, a
superação de toda forma de pensamento dogmático, e preconceituoso deve ser o objectivo de
uma educação para a transformação da sociedade, isto por entendermos que somos sujeitos
também da história.

A escola deve contribuir de modo decisivo para a superação de valores e costumes que possam
promover a dominação, o controle e a submissão do homem. O espaço escolar de forma
diferente tem que primar pela libertação, pela solidariedade e pela cultura do livre pensar como
uma atitude que possibilita a coexistência da diferença.

Cabe principalmente à escola desenvolver como já pontuamos um pensar que supere o


dogmatismo e toda forma de radicalismo, o qual imobiliza a sociedade favorecendo estruturas
estagnadas de poder e domínio.

Diferentemente desta cultura a escola deve estimular no educando principalmente a tolerância


as formas distintas de vida, a cultura do outro com todas as suas especificidades e estimulando
a multiplicidade de pontos de vista.

O educador enquanto mediador tem uma responsabilidade central neste processo de


convivência, pois em primeiro lugar é o educador que prioritariamente deve compreender esta

15
dimensão da sociedade, ou seja, se ele manifestar atitudes intolerantes e preconceituosas seus
alunos possivelmente irão manifestar o mesmo comportamento.

A prioridade para quem compreende o verdadeiro papel do educador é justamente favorecer a


liberdade, a criatividade contribuindo assim para a formação de educandos livres e abertos,
tolerantes e solidários capazes de agir na sociedade em busca do bem comum.

Este modelo de escola que supera os preconceitos e dogmatismos, a rigidez e por consequência
o autoritarismo é justamente a escola que compreende o seu papel de instrumento de mudança
social, e promove uma formação a qual possibilita ao educando condição para sua verdadeira
autonomia garantindo a todos os actores sociais não somente os meios para conduzir a sua vida,
mas dirigir a todos aqueles que estão no poder.

Pensar esta relação entre a escola e a mudança social deve ser ponto de reflexão de todo
verdadeiro educador, pois cabe a todo aquele que possui compromisso com a sociedade investir
em uma educação que prime pela libertação do homem, levando-o ao comprometimento com
a mudança, Freire(2004, p. 78) afirma: “Mudar é difícil mas é possível...”.

É em seu compromisso com a mudança que escola deve aprimorar a formação de todos os
sujeitos do conhecimento, possibilitar com que cada educando seja sujeito de sua acção, capaz
de compreender o movimento em que a sociedade está inserida de tal forma que sempre
possamos acreditar em mudanças na sociedade.

Actividades Complementares
1) Como a escola que anteriormente foi apresentada enquanto instrumento de controle pode
promover mudanças sociais?

2) Explique a seguinte afirmação de Paulo Freire: “O Mundo não é. Está sendo”.

3) Como a escola deve agir para superar o dogmatismo e o preconceito?

16
4.A Função Social da Escola

Para tratarmos acerca da função social da escola primeiramente precisamos ressaltar que não
existe, uma única proposta teórica acerca da função da escola, mas diversos teóricos
estabeleceram suas definições, e isso é que abordaremos nesta secção com o fim de
esclarecermos para você ainda mais como a escola na óptica destes pensadores ela deveria
funcionar.

Inicialmente quero chamar atenção para o pensamento do sociólogo francês Pierre Bourdieu,
segundo ele a função social da escola é conservar a sociedade e reproduzir as classes sociais.
Para o filósofo italiano Antonio Gramsci a escola deve apresentar um caráter desinteressado, o
que isso significa, uma escola que não seja imediatista que possibilite ao aluno de facto estudar,
raciocinar e abstrair sem um fim imediato. Temos ainda a proposta de Demerval Saviani, o
qual defende a função da escola enquanto promotora do homem em que a apreensão do
conhecimento histórico é o ápice deste processo.

A primeira proposta apresentada é a de Bourdieu. Segundo ele o sistema educacional é um dos


mais eficazes para a conservação da sociedade, pois fornece as desigualdades sociais um
carácter de legitimidade. É a herança cultural um dos primeiros elementos de diferenciação da
criança na escola, ou seja, é justamente em casa o primeiro momento em que a criança recebe
o capital cultural, isso implica que, quanto maior a formação dos pais a criança receberá um
conjunto de informações maiores que lhe proporcionarão maior êxito na escola. Na visão de
Bourdieu a escola atribui esperanças aos indivíduos dimencionadas por sua posição social, o
que para ele a escola é o principal factor para legitimar as desigualdades.

António Gramsci criticou a escola dualista e propôs um modelo unitário em que fosse
priorizado a reorganização dos conteúdos para que os jovens das camadas mais pobres
pudessem ter melhores condições de colocação na sociedade. A proposta de Gramsci era
principalmente garantir por meio da escola unitário o nivelamento destes jovens.

Por último temos a proposta de Demerval Saviani segundo este teórico cabe a educação
principalmente a promoção do homem. Na perspectiva de Saviani promover o homem
significa, torná-lo mais capaz de compreender sua própria situação, ou seja, é conceder ao
homem uma formação tal que ele possa transformar o meio em que ele está inserido. Neste
caso a educação sistematizada assume objectivos claros em Saviani, pois implica em educar
para liberdade, para a transformação do homem, logo ele defende a expansão do sistema de
ensino a todos os indivíduos, mas chamando atenção para a qualidade da educação.

Como podemos destacar a função social da escola varia de autor para autor de acordo com os
respectivos ideais apresentados, contudo o que queremos destacar é justamente a mudança de
foco da educação o que nos revela sua dimensão histórica e portanto passível de mudança tanto
de seus conteúdos quanto dos seus objetivos.

17
Actividades Complementares

1) Estabeleça as diferenças entre as funções sociais da escola segundo os teóricos trabalhados?

2) Na perspectiva de Saviani o que significa formar o homem para a sua promoção?

3) Quais as características da escola de Gramsci?

Sugestão de Filmes
Escritores da Liberdade. Direção de Richard Lagravenese. EUA/Alemanha, 2007. O filme
baseado em factos reais. O filme retrata o conflito racial vivido por adolescentes em bairros
pobres de Los Angeles. Neste cenário uma professora dedicada acredita que seus métodos serão
aceitos pelos alunos, mas ao contrário será ignorada, pois estes não valorizam o saber ali
desenvolvido. Com uma mudança em sua metodologia a professora inicia um processo de
investigação acerca da vida dos alunos estabelecendo um novo processo de aprendizagem
baseado nas potencialidades destes. O filme nos ajuda a compreender a função social da escola
principalmente na proposta de Saviani em formar o homem para a liberdade.

REFERÊNCIAS
COSTA, Maria Cristina Castilho. Sociologia: introdução à ciência da sociedade. São Paulo:
Moderna, 1987.
DURKHEIM, Émile. Educação e Sociologia. Trad. Prof. Lourenço Filho. 11. ed. São Paulo:
Melhoramentos; Rio de Janeiro: Fundação Nacional de Material Escolar, 1978.
__________________ Regras do Método Sociológico. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin
Claret, 2005.
FREITAG, Bárbara. Escola, Estado e Sociedade. 6. ed. São Paulo: Editora Moraes, 1986.
KRUPPA, Sonia M. Portella. Sociologia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994.(Coleção
Magistério 2ª grau. Série formação do professor).

LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. 7. ed. rev. ampl.
São Paulo: 1999.
LÖWY, Michael. As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Münchhausen: marxismo e
positivismo na sociologia do conhecimento. Trad. Ruarez Guimarães. 7. ed. São Paulo Cortez,
2000.
MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. trad. Lívio Xavier. São Paulo: Nova Cultural,
1996.(Coleção os pensadores).
MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. A Ideologia Alemã. Supervisão: Silvio Donizete Chagas.
São Paulo: Editora Moraes, 1984.
____________________________Manifesto do Partido Comunista. Trad. Pietro Nassetti. São
Paulo: Martin Claret, 2003.
TOSI, Alberto R. Sociologia da Educação. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.(O que você
sabe sobre).

18

Você também pode gostar