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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI

APOSTILA
GESTÃO E ELABORAÇÃO DE
PROJETOS SOCIAIS

ESPÍRITO SANTO

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INTRODUÇÃO

A educação de uma pessoa começa nos seus primeiros instantes de


vida. Desde o momento em que nasce o ser humano começa a receber
orientação e treinamento, aprende a reagir perante situações criadas pela
natureza, pela sociedade e vai adquirindo hábitos que farão parte de seu
modo de ser. E quando começa a observar o meio em que está inserido e a
ter a possibilidade de tomar decisões,
inicia seu processo de integração na
vida social. E daí por diante cada fato
e cada situação exercerão influência
sobre a definição de sua
personalidade. A pessoa adulta será o
resultado da educação recebida desde
os primeiros instantes de vida.
Como se verifica, a educação
de uma pessoa começa na família ou
no meio social em que a criança
nasceu e passa a viver. Essa é
chamada educação informal ou não
formal, que é dada fora do ambiente escolar, tanto à criança quanto ao
adolescente e ao adulto. Ao lado dessa, existe, ou pelo menos deve existir, a
educação formal, que é dada na escola. Não pode dizer que seja mais
importante do que a outra, pois na realidade ambas podem ter influência
decisiva na vida de qualquer pessoa.
Educação, hoje, é tarefa de todos e condição para o desenvolvimento
pessoal e do país. Assegurar às crianças e jovens o sucesso na escola e na
vida requer a participação dos que acreditam nisso e se dispõem a enfrentar
essa batalha. Cabe ao voluntário, empresário – unido à família e à

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comunidade escolar e local – dar a sua contribuição para que, através de
ações complementares à escola.

EIXOS DA EDUCAÇÃO SOCIAL

RODRÍGUEZ FERNÁNDEZ (1999) analisa uma série de elementos


que considera os eixos da educação social:
a. O âmbito socioeducativo é o espaço disciplinar onde se realiza a
práxis da educação social. Na perspectiva desta ação prima a dimensão
social do sujeito, já que este não o é senão no contexto da sua presença na
comunidade. Por seu lado, a ação socioeducativa é entendida como ajuda
social, e esta se formula desde o apoio e a mediação social. Aqui é onde
entra a educação social que, do mesmo modo que outras disciplinas sociais,
exerce a mediação para prevenir as situações de escassez e garantir a
promoção dos indivíduos.
b. A educação social pretende corrigir a concepção clássica de
institucionalização. Esta afirmação não significa que a educação social se
encontre à margem de estruturas, já que o indivíduo o é e se mostra em todos
os espaços. Nesta concepção, o que se faz é afirmar a ideia de que a
educação social não se esgota no não formal, muito pelo contrário, deve
abarcar todos os espaços e todos os momentos, já que o homem se
aperfeiçoa em qualquer âmbito – formal ou não formal – e ao longo de toda a
sua vida.
Por outro lado, desenvolver a autonomia dos sujeitos quando se
encontram em contextos institucionalizados de internamento (centros
penitenciários, centros de menores) implica um indubitável “handicap” para a
sua consecução, da mesma maneira que se limitam as possibilidades de
interação. Na realidade, a educação social promove estratégias didáticas de

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caráter instrumentalista cujo meio é a autonomia pessoal, independentemente
do contexto no qual se encontra o indivíduo.
c) A educação social é uma prática social que medeia a socialização dos
indivíduos. Para articular a sua prática educativa, a educação social
obtém fundamentos científicos na pedagogia social. Esta, portanto,
articula a intervenção sobre o seu objeto através da educação social, o
que lhe confere uma natureza epistemológica de tecnologia
socioeducativa e, por seu lado, encontra as balizas científicas na
pedagogia social. Assim, a função socializadora é em si mesma, o
objeto de intervenção da educação social. QUINTANA (1998) atribui à
educação social o desenvolvimento da ação educativa que atua sobre
a sociedade. A forma de materializar um dos objetos que são
específicos da pedagogia social é cuidar da correta socialização do
indivíduo.
d) a educação social propõe ações alheias ao subsidiário e ao
assistencial. A dimensão educativa da educação social é a que traz qualidade
de vida e bem-estar social ao indivíduo (PARCERISA, 1999). A sua didática
deve promover no indivíduo a sensibilização e tomada de consciência das
suas necessidades não sentidas para que estas possam ser percebidas e
procuradas (necessidades exprimidas). A educação social deve intervir
naquelas circunstâncias que geram situações de necessidade nas pessoas,
sendo esta precisamente a função preventiva, a qual, logicamente, deve
antepor-se à cronificação dos problemas.
Para finalizar, queremos fazer nossas as palavras de PETRUS (1994):
Para muitos autores a educação social é hoje sinônimo de socialização
correta, seja ela socialização primária, secundária ou terciária, ou seja, a
educação seria o processo de transformação do indivíduo biológico em
indivíduo social, seria a aquisição das capacidades para participar e integrar-
se no grupo no qual lhe corresponde viver.
Contudo, a educação social, para além de solucionar determinados
problemas de convivência, tem uma função não menos importante, que é a
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de ser um instrumento igualitário e de melhoria da vida social e pessoal.
Estamos convencidos de que só uma estratégia criativa e inovadora de
proteção e educação social poderá evitar o risco de conviver com situações
injustas e conducentes a atitudes violentas, já que a violência social, em
múltiplas ocasiões, é a expressão da insatisfação sentida por um setor da
população que se vê privado da possibilidade de fazer parte dessa sociedade
do bem-estar a que tem direito.

Diferentes perspectivas da educação social

PETRUS (1998) percorre as diferentes perspectivas sobre a educação


social que foram elaboradas a partir da cultura do bem-estar, sendo esta
entendida dos seguintes modos:
– Como adaptação: entendida assim, a educação social consistiria na
aquisição, por parte do indivíduo, das características intelectuais, sociais e
culturais necessárias à sua adaptação e que lhe permitem viver num
ambiente social concreto. Deve considerar-se que esta adaptação social se
dá ao longo de toda a vida e não apenas em determinados momentos ou
fases. A educação social adaptativa é um processo de contínuas adaptações
do homem ao meio ambiente. A educação social seria, pois, a expressão do
desenvolvimento adaptativo do educando, como ser vivo, às necessidades
sociais em permanente mutação.

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– Como socialização: a educação social é entendida, por alguns, como
o processo que torna possível a integração social dos indivíduos, assimilando
as normas, valores e atitudes que lhes permitem uma convivência
normalizada. Nesta perspectiva, este tipo de educação consistiria numa
aprendizagem social que permitiria ao homem e à mulher a entrada no grupo
social.
Cabe aqui falar de três tipos de socialização: a socialização primária é
a que se produz, fundamentalmente, no núcleo familiar e refere-se à
aprendizagem afetiva dos
comportamentos do grupo; a socialização
secundária é o resultado das interações
que se produzem em nível do
ecossistema, com grupos mais gerais e
menos afetivos (escola).
Com este tipo de socialização
consegue-se interiorizar o sistema de
valores que as instituições se encarregam
de transmitir; por último, falamos de
socialização terciária para nos referirmos
a ressocialização, reeducação social, etc.,
ou seja, o processo mediante o qual se
pretende que um indivíduo se reintegre na
sociedade depois de ter revelado condutas antissociais, associais ou
dissociais.
– Como aquisição de competências sociais: a educação social
entendida deste modo é uma ação educativa que procura que os indivíduos
pertencentes a uma determinada sociedade se formem e adquiram as
habilidades e competências sociais, consideradas necessárias para alcançar
a integração social. Educar para a participação social implica,
fundamentalmente, melhorar as relações em todos os âmbitos relacionais da
pessoa, é preparar o homem para atuar com habilidade social no campo das
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relações laborais, é gerar mudanças de atitude, face à cultura e às outras
culturas, é, finalmente, assumir os princípios básicos de uma justa
convivência social.
– Como didática do social: nesta perspectiva a educação social é uma
intervenção sócio comunitária em função de problemas e de determinadas
orientações institucionais. Vista desta maneira, é algo parecido a uma ciência
da intervenção face aos problemas sociais. É uma didática do social.

No entanto, é necessário esclarecer que este nos parece um


posicionamento num paradigma radicalmente tecnológico, que é contrário aos
princípios da educação social, e isto porque, nesta perspectiva, só se procura
a solução dos problemas sem que se coloquem os princípios éticos em que
se baseiam umas soluções ou outras, bem como os possíveis problemas
delas derivados.
– Como ação profissional qualificada: a educação social é concebida
também como a ação qualificada dos profissionais, os quais, mediante a
utilização dos recursos necessários e oportunos, procuram dar solução a
determinados problemas e necessidades de pessoas ou grupos que se
encontram em situação de risco ou necessidade social.
– Como ação próxima da inadaptação social: há quem utilize a
expressão educação social para referir, de forma exclusiva, a intervenção
educativa que se realiza diante de problemas de inadaptação e
marginalização social. A educação social, não só deve dar resposta aos
problemas da inadaptação, mas também, entre outras coisas, deve
desenvolver e promover a qualidade de vida dos cidadãos, aplicar estratégias
para prevenir os desequilíbrios sociais, etc. Torna-se assim claro que a
função da educação social não se esgota no âmbito da inadaptação social.
– Como formação política do cidadão: desde o início que a educação
social foi influenciada pelos poderes públicos com fins políticos, quer dizer,
entendida como formação social e política do cidadão. No entanto, na
atualidade, esta perspectiva não goza de muitos adeptos. A influência das
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políticas sociais dos Estados providência são as que dão forma e identidade
às parcelas mais importantes da educação social.
– Como prevenção e controlo social: a educação social, entendida
como prevenção e controlo social, supõe um conjunto de procedimentos por
meio dos quais se procura que os membros de uma sociedade cumpram as
normas consideradas necessárias para conseguir a ordem social. No Estado-
providência todo o processo educativo transporta consigo controlo social,
moral e cultural. O controlo é também uma prevenção dos desvios e, por isso,
a educação social implica uma função preventiva do desvio social.
A relação entre política social e educação social é clara, porém, a
primeira não deve exercer um controlo severo, determinismo ou intrusismo
nos princípios pedagógicos desta. A educação social alcançará o seu
verdadeiro espaço quando conseguir melhorar a convivência entre os
cidadãos. Se o trabalho socioeducativo é uma atividade que surge da própria
necessidade da vida em convivência, a relação entre educação, prevenção e
controlo parece evidente.
– Como trabalho social educativo: muitos profissionais da educação
social entendem que o seu trabalho tem todas as características de um
trabalho social, mas há que deixar claro que o trabalho destes profissionais
deve ser sempre realizado a partir de uma perspectiva educativa, não se
centrando exclusivamente, como até a não demasiados anos, nas atividades
de caráter assistencial. Esse compromisso educativo é precisamente o que
dará uma nova dimensão às suas intervenções, de tal modo que se gerará
um compromisso para a mudança no sentido de uma sociedade mais justa.
A educação social é uma atividade pedagógica inserida no âmbito do
trabalho social; por seu turno, este e os serviços sociais podem encontrar nas
teorias, modelos e métodos pedagógicos uma fundamentação e consistência
que seria injustificável recusar por problemas principalmente corporativos. A
intervenção social configura-se a partir de uma perspectiva interdisciplinar e,
em consequência, a educação social pode ser concebida a partir de duas
perspectivas complementares: em primeiro lugar, será função da educação
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social a correta socialização do indivíduo e, em segundo lugar, a intervenção
para aliviar as necessidades geradas pela convivência, tarefa esta que, pelo
seu caráter global, deve ser partilhada com outros profissionais como os
trabalhadores sociais, psicólogos, sociólogos, etc.
– Como paidocenosis: poucos autores duvidam hoje que a educação é
o resultado de um conjunto variado de estímulos e circunstâncias.
Atualmente, é comumente aceito a ideia de que a educação não se limita de
forma exclusiva ao
âmbito escolar.
O educador faz
parte de um sistema
mais amplo – espaço
escolar e extraescolar,
no qual se informa o
indivíduo. Nesta
perspectiva, pode
justificar-se a ideia de
entender a educação
social como
paidocenosis, ou seja,
como uma ação
educadora da
sociedade.
Este tipo de educação converteu-se num instrumento da inclusão
social, mas não deve limitar-se a isso, deve ser um recurso para melhorar a
própria sociedade numa constante revisão dos princípios nos quais esta se
apoia e a própria educação social, propugnando que uma e outra se
fundamentem em princípios éticos e de eficácia.
– Como educação extraescolar: alguns autores defendem uma posição
excludente relativamente à educação social e utilizam os termos de educação
não formal para situá-la, isto é, recorrem ao conceito de extra escolaridade.
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Portanto, nesta perspectiva, a educação social abarcaria toda a
intervenção educativa estruturada que se encontra à margem do sistema
educativo regulamentado. Também é frequente a afirmação de que não deve
ter a responsabilidade da atividade escolar.

PEDAGOGIA SOCIAL: IMPASSES, DESAFIOS E


PERSPECTIVAS EM CONSTRUÇÃO

Há 30 anos, as questões proeminentes que preocupavam os cientistas


sociais, educadores, eram temas ligados ao desenvolvimento econômico, a
modernização, a participação política, a democracia ou a mobilidade social
ligadas direta ou indiretamente à educação. Hoje a pobreza e a exclusão
social, são temas dominantes, que requerem imediatamente atenção e
definição de foco, no âmago da totalidade socioeconômica das que geram
pobreza, desigualdade social e injustiças para a maioria da população
excluída da sociedade.
Sem dúvida, nunca estes temários estiveram ausentes da discussão e
do debate social, no entanto, hoje se colocam em primeiro plano, no que se
referem às perspectivas paradigmáticas e conceituais, ligadas diretamente a
políticas públicas concretas e emergentes, além de necessárias e urgentes.
O quadro ou o cenário da realidade é profundamente complexo, em
relação aos acontecimentos históricos, aos valores, interesses econômicos
contraditórios, as causas e efeitos geradores da exclusão social que
requerem e exigem uma reconstrução histórica profunda com identificação
refeita e redimensionada de concepções reconstruídas e reconceitualizadas
do ponto de vista holístico, heurístico e interdisciplinar.
Neste amplo cenário sócio-econômico-cultural, reaparece a educação,

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cuja má qualidade, a falta de formação de seus agentes, a pouca
infraestrutura onde ocorre, dentre outros inúmeros fatores, também é
responsável pela pobreza, pela desigualdade e exclusão social, não só no
Brasil, mas em todas as regiões latino-americanas.
Reafirmadas em estudos e pesquisas que comprovam esta relação,
seja por falta de recursos, instrumentos e ou mecanismos para a melhora de
qualidade da educação e o pleno êxito do aprendiz no que se refere ao seu
espírito crítico, criativo e participativo, a partir de uma aprendizagem
competente e consequente, ampla e inquietante, questionadora e discernida.
Há um movimento em marcha, na sociedade global, onde as
manifestações da sociedade civil se propõem, a novas crenças e capacidades
de organizar-se, mobilizar-se e conquistar, por si própria, aquilo que os
setores públicos não conseguem proporcionar, frente à pobreza e a exclusão.
No artigo 7° da Constituição Brasileira de 1988, há uma listagem de 34
itens que consagram a noção de que, além dos direitos políticos, os cidadãos
brasileiros também têm obrigatoriamente direitos sociais, que vão desde o
direito ao emprego e a educação até o direito ao atendimento, pelo setor
público, de suas necessidades de saúde, lazer, seguro social, dentre outros.
Parece óbvio, a execução destes direitos, mas ainda estamos muito
longe de começar a concretizar esta jornada. Na sociedade brasileira,
portanto os processos de exclusão passam por acesso a emprego, renda e
benefícios dos desenvolvimentos econômicos, restritos a determinados
segmentes da sociedade.
A economia brasileira se situa entre as mais desenvolvidas da região,
mas socialmente geram níveis de exclusão e desigualdade entre os países
piores do mundo, muitas pesquisas apontam de os pobres vivem com até
US$ 1 por dia por mês. A pobreza é urbana localizada nas periferias das
grandes cidades e constituída por pessoas em grande parte oriundas do
campo, ou de regiões pauperizadas do Brasil, como é o nordeste.
Há uma análise geral feita por especialistas de que não só a
desigualdade da renda no país é determinante, mas incluem a diferença de
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educação. Com a escassez da educação, relacionada à pobreza, há
necessidade de reverter e alterar substantivamente esta situação: com
aumentos significativos de custos, programas focalizados nas necessidades,

com políticas redistributivas.

O conceito de exclusão, portanto se liga aos diagnósticos da pobreza e


da desigualdade, por não propiciarem efetivação da cidadania, apesar da
legislação social e do esforço das políticas públicas, assim não pertencem à
comunidade política e social, uma vez que não tem acesso ao consumo dos
bens e serviços de cidadania.
Portanto a concepção de exclusão social é inseparável do conceito de
cidadania e se refere aos direitos que as pessoas têm de participar da
sociedade e usufruir dos benefícios e bens produzidos por ela. Sejam os
direitos civis, políticos e sociais definidos como:
Civis: aqueles que protegem o cidadão contra o arbítrio do Estado,
facultando direito de ir e vir, se expressar com liberdade;
Políticos: são aqueles direitos que facultam o papel do cidadão na
organização política de sua comunidade, votar, ser votado, etc.;
Sociais: são os direitos que se vinculam à vida digna e a convivência
social, educação, saúde, trabalho dentre outros.
Reafirmam-se outras formas de inclusão social cidadã, quando se
concebem e se preenchem ausências de mecanismos de participação e
controle como conselhos paritários – Estado e Sociedade Civil – orçamentos
participativos e a implementação de organizações não governamentais e
movimentos sociais que promovem as políticas públicas.
As contribuições positivas da educação para a sociedade destacam-se
duas: a reorganização da cidadania, pela criação de uma ordem mais justa,
fraterna e o desenvolvimento das habilidades, competências para a vida, que
permitam menos exclusão e as desigualdades sociais e econômicas, levando-
se em conta a diversidade e o multiculturalismo.
Ainda ressalta-se, a priorização de valores cívicos, culturais, sociais e

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morais, com ênfase no meio ambiente e na ética, além da pluralidade cultural
balizadas pelo conhecimento científico, técnico e humanista na formação dos
aprendizes. A educação é uma atividade para vida, que ocorre na família, na
rua, na igreja, no trabalho, na escola e em todos os espaços sociais.

Pedagogia Social: uma obra em construção

"A mão estendida é o início do abraço, esta é a nossa intenção, o


ponto de partida, o marco inaugural do longo processo de busca da
justiça, da liberdade, da igualdade... nossa utopia. Vamos ampliar os
limites de nossas fronteiras na composição do novo. Vamos ousar...
invadir o interior das pessoas... causar uma reviravolta... revelando e
revisando desejos, prazeres, paixões. Junte-se a nós”.(Pe. Antonio
Vieira -1994 )

Nesse sentido é que nascem as palavras e as ações diante da


comunidade de educadores que nos cercam, em todos os lugares onde
ocupamos qualquer território: escola, família, rua, igreja, comunidade. São
momentos perenes onde o diálogo rompe o silêncio dando espaço para a
conversa, circulando o ato de aprender e de ensinar simultaneamente. Foi a
pedagogia freireana, que possibilitou esta reflexão e ação junto aos mais
pobres e excluídos da sociedade.
Foi esta relação social educativa que permitiu aos pobres tornarem-se
sujeitos políticos, pois para Paulo Freire, toda educação é um ato político. Os
excluídos contribuíram com sua pedagogia própria, suas crenças, valores e
principalmente histórias de migração, de subsistência e sobrevivência em
territórios áridos, propiciou que produzissem, não discursos abstratos e sem
consistência empírica concreta, mas um discurso vivo, plástico, estético e
poético baseado na vida.

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Discursos plenos e transbordantes de metáforas, onde não escrevem
ou moldam conceitos, mas denunciam fatos acontecimentos existenciais,
carregados de emoção, profundidade e dignidade ética. Leem o mundo,
através dos sentidos, quando apreciam um quadro, quando veem uma
multidão se manifestando, quando dizem poesias de cordel, criadas no íntimo
do coração dilacerado ou retratam um folguedo infantil; ou ouvem o anúncio
de um ensino que badala ou os acordes da viola; tudo isto se refere à cultura
popular. Frei Beto, na contra capa da
Pedagogia da Autonomia afirma:

"O que existem são culturas paralelas, distintas


e socialmente complementares. (...) o pobre
sabe, mas nem sempre sabe que sabe. E
quando aprende é capaz de expressões como
esta que ouvi da boca de um senhor
alfabetizado aos 60 anos:” agora sei quanta
coisa não sei““.

A pedagogia freireana há quatro


décadas propiciou transformações
incríveis, não só em educadores, mas
também em educandos, que saíram de
sua ingenuidade para esfera crítica, da
passividade para a militância em
movimentos sociais, sindicais e populares, da descrença para a esperança de
que as coisas possam mudar e da resignação para a utopia, convencidos de
que são sujeitos históricos capazes de ocupar a vida política do brasileiro,
indignados com a pobreza, com a exclusão e a desigualdade social.
Estas representações sociais são tomadas como denúncias das
condições de pobreza que ocorre na sociedade, marcada por desigualdades
de oportunidades nos diversos segmentos sociais excluídos. Entendemos por
representação social, como a forma intercalada e assimilada de todas as
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coisas que entramos em contato, seja com o corpo – relações concretas
vividas – seja com o pensamento – relações imaginárias – as quais
aprendemos a significar ou valorizar.
A pedagogia social caracteriza-se, pois, como um projeto radical de
transformação política e social, uma vez que:
a) Propõe inicialmente criar uma teoria renovada de relação homem,
sociedade e cultura, com uma ação pedagógica que pretende fundar, a partir
do exercício em todos os níveis e modalidades da pratica social, uma
educação libertadora;
b) Realiza-se no domínio específico da prática social com classes sociais
populares, a partir de um trabalho político educacional de libertação popular,
com o intuito de ser conscientizador com sujeitos, grupos e movimentos das
camadas excluídas;
c) Concretiza-se como ação educativa com agentes e sujeitos
comprometidos, onde se estabelece através da relação dialógica, um
sistemático processo de intercâmbio de conhecimento e saberes, onde a
troca de experiências é primordial;
d) Orienta-se pela pedagogia libertadora protagoniza baseada
fundamentalmente na memória histórica na identidade coletiva, na dinâmica
cultural, na possibilidade entre a capacidade lógica de compreender os liames
capitalistas e a valorização da participação comunitária e, autoestima,
autovalorização, autoconfiança e autodeterminação de sujeitos que tentam
construir uma nova ordem social, econômica e cultural.
Para efetivar uma pedagogia social competente e consequente
historicamente, é imprescindível: de um lado, buscar conhecer a sabedoria
popular expressa em seus códigos, dramaturgia, religiosidade, produtos
culturais e senso comum, base fundamental que deve servir de plataforma
para ele (indivíduo, grupo, classe popular) e os intelectuais orgânicos possam
chegar à hegemonia da sociedade civil no processo concomitante de sua
libertação social, econômica e política; de outro, entender que o povo não se
apresenta como uma entidade única, como conceitua Gramsci (1984):
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"O próprio povo não é uma coletividade homogênea, mas apresenta
numerosas estratificações culturais, variadamente combinadas;
estratificações que em sua pureza, nem sempre podem ser identificadas
em determinadas coletividades populares históricas, sendo certo, porém,
que o grau maior ou menor de isolamento histórico de tais coletividades
fornece a possibilidade de uma certa identificação”.

Além disso, os agentes da pedagogia social, que efetuaram a


animação popular, precisam buscar e caracterizar os componentes
ideológicos das classes populares, expressar organizar, com estímulos
diferenciados, as ideologias dominadas em suas múltiplas formas de
manifestação, empregando estratégias (técnicas e métodos) criativas de
comunicação com o povo e utilizando meios e instrumentos ajustados à
melhor divulgação dessas ideologias para o conjunto da sociedade civil,
ganhando amplitude paulatinamente e conquistando aliados.
É nesse sentido que os intelectuais ligados a essa área produzem
conhecimentos reconstituindo o real, buscando explicação e previsão,
aplicando conceitos e categorias de interpretação de dados por suas teorias e
modelos, trabalhando para estruturá-los e hierarquizá-los em conformidade
com as variações históricas, ou redefinindo os já existentes, ou criando
novos, sempre como consequência da interação teórico-prática.
Como Luiz Wanderley ( 2003) coloca:

"Uma condição relativa ao trabalho dos intelectuais com o povo


reporta-se a determinadas qualidades pessoais e coletivas que esses
intelectuais devem ter nas atitudes e comportamentos da sua prática
efetiva junto ao trabalho de libertação das classes populares. Ou
seja, é necessária sua identificação pela consciência e pela prática
com as classes populares, o que implica a obtenção de novas
adesões para a hegemonia das classes a que se quer vincular
organicamente. Para ganhar a confiança e o respeito mútuo do povo,
principalmente para vencer a desconfiança das palavras inúteis e das

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falsas promessas a que os trabalhadores em geral se acostumaram,
exige-se dos intelectuais um esforço permanente de sobrepujar
modos de agir e de pensar adquiridos historicamente em nosso país,
configurados no que se tem cognominado de uma ‘filosofia tutelar’ –
exemplificada, entre outras, pelas características de autoritarismo, de
paternalismo, de clientelismo, de individualismo e de elitismo -, que
impede a solidariedade fundamental para a comunhão de interesses
e tem servido para atrasar a história irreparavelmente”.

Há que se preocupar também com outro aspecto profundamente


importante na prática de pedagogia social, que diz respeito ao uso de
manipulação e massificação ante os grupos trabalhados e às alianças e
compromissos típicos do jogo político, que dessa experiência emanam,
ligados à luta e à disputa pelo poder.

DISTINÇÕES ENTRE EDUCAÇÃO NÃO FORMAL,


FORMAL E INFORMAL

A educação não formal designa um processo com várias dimensões


tais como: a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos enquanto
cidadãos; a capacitação dos indivíduos para o trabalho, por meio da
aprendizagem de habilidades e/ou desenvolvimento de potencialidades; a
aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os indivíduos a se
organizarem com objetivos comunitários, voltadas para a solução de
problemas coletivos cotidianos; a aprendizagem de conteúdos que
possibilitem aos indivíduos fazerem uma leitura do mundo do ponto de vista
de compreensão do que se passa ao seu redor; a educação desenvolvida na
mídia e pela mídia, em especial a eletrônica etc.
Em suma, consideramos a educação não formal como um dos núcleos

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básicos de uma Pedagogia Social. Quando tratamos da educação não formal,
a comparação com a educação formal é quase que automática. O termo não
formal também é usado por alguns investigadores como sinônimo de informal.
Consideramos que é necessário distinguir e demarcar as diferenças entre
estes conceitos.
A princípio podemos demarcar seus campos de desenvolvimento: a
educação formal é aquela desenvolvida nas escolas, com conteúdos
previamente demarcados; a informal como aquela que os indivíduos
aprendem durante seu processo de socialização - na família, bairro, clube,
amigos etc., carregada de valores e culturas próprias, de pertencimento e
sentimentos herdados: e a educação não formal é aquela que se aprende "no
mundo da vida", via os processos de compartilhamento de experiências,
principalmente em espaços e ações coletivos cotidianas.
Vamos tentar demarcar melhor essas diferenças por meio uma série
de questões, que são aparentemente extremamente simples, mas nem por
isso simplificadoras da realidade, a saber:
 Quem é o educador em cada campo de educação que estamos
tratando? 
 Em cada campo, quem educa ou é
o agente do processo de
construção do saber? Na
educação formal sabemos que são
os professores. Na não formal, o
grande educador é o outro, aquele
com quem interagimos ou nos
integramos. Na educação informal,
os agentes educadores são os
pais, a família em geral, os
amigos, os vizinhos, colegas de
escola, a igreja paroquial, os

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meios de comunicação de massa etc. 
Onde se educa? Qual é o espaço físico territorial onde transcorrem os
atos e os processos educativos? Na educação formal estes espaços
são os do território das escolas, são instituições regulamentadas por
lei, certificadoras, organizadas segundo diretrizes nacionais. Na
educação não formal, os espaços educativos localizam-se em
territórios que acompanham as trajetórias de vida dos grupos e
indivíduos, fora das escolas, em locais informais, locais onde há
processos interativos intencionais (a questão da intencionalidade é um
elemento importante de diferenciação). Já a educação informal tem
seus espaços educativos demarcados por referências de
nacionalidade, localidade, idade, sexo, religião, etnia etc. A casa onde
se mora, a rua, o bairro, o condomínio, o clube que se frequenta, a
igreja ou o local de culto a que se vincula sua crença religiosa, o local
onde se nasceu etc.
 Como se educa? Em que situação, em qual contexto? A educação
formal pressupõe ambientes normatizados, com regras e padrões
comportamentais definidos previamente. A não formal ocorre em
ambientes e situações interativos construídos coletivamente, segundo
diretrizes de dados grupos, usualmente a participação dos indivíduos é
optativa, mas ela também poderá ocorrer por forças de certas
circunstancias da vivência histórica de cada um. Há na educação não
formal uma intencionalidade na ação, no ato de participar, de aprender
e de transmitir ou trocar saberes. Por isso, a educação não formal
situa-se no campo da Pedagogia Social- aquela que trabalha com
coletivos e se preocupa com os processos de construção de
aprendizagens e saberes coletivos. A informal opera em ambientes
espontâneos, onde as relações sociais se desenvolvem segundo
gostos, preferências, ou pertencimentos herdados. 
 Qual a finalidade ou objetivos de cada um dos campos de educação
assinaladas? 
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Na educação formal, entre outros objetivos destacam-se os relativos ao
ensino e aprendizagem de conteúdos historicamente sistematizados,
normalizados por leis, dentre os quais se destacam o de formar o indivíduo
como um cidadão ativo, desenvolver habilidades e competências várias,
desenvolver a criatividade, percepção, motricidade etc.

A educação informal socializa os indivíduos, desenvolvem hábitos,


atitudes, comportamentos, modos de pensar e de se expressar no uso da
linguagem, segundo valores e crenças de grupos que se frequenta ou que
pertence por herança, desde o nascimento Trata-se do processo de
socialização dos indivíduos.
A educação não formal capacita os indivíduos a se tornarem cidadãos
do mundo, no mundo. Sua finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o
mundo que circunda os indivíduos e suas relações sociais. Seus objetivos
não são dados a priori, eles se constroem no processo interativo, gerando um
processo educativo.
Um modo de educar surge como resultado do processo voltado para
os interesses e as necessidades que dele participa. A construção de relações
sociais baseadas em princípios de igualdade e justiça social, quando
presentes num dado grupo social, fortalece o exercício da cidadania.
A transmissão de informação e formação política e sócio- cultural é
uma meta na educação não formal. Ela preparar os cidadãos, educa o ser
humano para a civilidade, em oposição à barbárie, ao egoísmo, individualismo
etc. Quais são os principais atributos de cada uma das modalidades
educativas que estamos diferenciando?
A educação formal requer tempo, local específico, pessoal
especializado. Organização de vários tipos (inclusive a curricular),
sistematização sequencial das atividades, disciplinamento, regulamentos e
leis, órgãos superiores etc. Ela tem caráter metódico e, usualmente, divide-se
por idade/ classe de conhecimento.
A educação informal não é organizada, os conhecimentos não são
20
sistematizados e são repassados a partir das práticas e experiência
anteriores, usualmente é o passado orientando o presente. Ela atua no
campo das emoções e sentimentos. É um processo permanente e não
organizado.
A educação não formal tem outros atributos: ela não é organizada por
séries/ idade/conteúdos; atua sobre aspectos subjetivos do grupo; trabalha e
forma a cultura política de um grupo. Desenvolve laços de pertencimento.
Ajuda na construção da identidade coletiva do grupo (este é um dos grandes
destaques da educação não formal na atualidade).
Ela pode colaborar para o desenvolvimento da autoestima e do
empowerment do grupo, criando o que alguns analistas denominam, o capital
social de um grupo. Fundamenta-se no critério da solidariedade e
identificação de interesses comuns e é parte do processo de construção da
cidadania coletiva e pública do grupo.
Quais são os resultados esperados em cada campo assinalado?
Na educação formal espera-se, além da aprendizagem efetiva (que,
infelizmente nem sempre ocorre), há a certificação e titulação que capacitam
os indivíduos a seguir para graus mais avançados. Na educação informal os
resultados não são
esperados, eles
simplesmente acontecem a
partir do desenvolvimento
do senso comum nos
indivíduos, senso este que
orienta suas formas de
pensar e agir
espontaneamente.
A educação não
formal poderá desenvolver,
como resultados, uma

21
série de processos tais como:
 Consciência e organização de como agir em grupos coletivos; 
 A construção e reconstrução de concepção (s) de mundo e sobre o
mundo,; 
 A contribuição para um sentimento de identidade com uma dada
comunidade; 
 Forma o indivíduo para a vida e suas adversidades (e não apenas
capacita-o para entrar no mercado de trabalho); 
 Quando presente em programas com crianças ou jovens adolescentes
a educação não formal resgata o sentimento de valorização de si
próprio (o que a mídia e os manuais de autoajuda denominam,
simplificadamente, como a autoestima); ou seja dá condições aos
indivíduos para desenvolverem sentimentos de autovalorização, de
rejeição dos preconceitos que lhes são dirigidos, o desejo de lutarem
para de ser reconhecidos como iguais (enquanto seres humanos),
dentro de suas diferenças (raciais, étnicas, religiosas, culturais etc.); 
 Os indivíduos adquirem conhecimento de sua própria prática, os
indivíduos aprendem a ler e interpretar o mundo que os cerca. 

Educação informal ou Educação Não formal?

Você sabe qual é a diferença entre educação não formal e educação


informal?
Segundo PARK e FERNANDES, 2005, (...) entende-se que educação
informal é toda gama de aprendizagens que realizamos (tanto no papel de
ensinantes como de aprendizes), e que acontece sem que haja um
planejamento específico e, muitas vezes, sem que nos demos conta (Trilla,
2003).

22
Acontece ao longo da vida, constitui um processo permanente e
contínuo e não previamente organizado (Afonso, 2002).
Keis, Lang, Mietus e Tiapula (apud Brembeck, 1974) ainda fazem uma
sutil diferenciação entre educação informal e incidental. Para eles, este termo
diz respeito “a algumas experiências educacionalmente não intencionais, mas
não menos poderosas”.
Os resultados são tão comuns e são produzidos tão completamente
sem consciência ou intenção que são comumente pensados como sendo
‘naturais’ ou ‘inerentes’. “O fato é que são aprendidos”, “as mesmas
experiências ou similares podem ser conscientemente examinadas e
deliberadamente incrementadas através de conversa, explanação,
interpretação, instrução, disciplina e exemplo de pessoas mais velhas, de
pares e de outros, tudo dentro do contexto de vivência individual e social do
dia-a-dia.
Alguns incrementos podem pretender ser educativo, mas as próprias
experiências não são planejadas conscientemente para isso. Alguns
incrementos de experiências da vida real constituem a educação informal”.
Fazem parte deste rol de aprendizagens e conhecimentos a percepção
gestual, moral, comportamentos, provenientes de meios familiares, de
amizade, de trabalho, de socialização, midiática, nos espaços públicos em
que repertórios são expressos e captados de formas assistemáticas. Tais
experiências e vivências acontecem, inclusive, nos espaços
institucionalizados, e a apreensão se dá de forma individualizada, podendo,
posteriormente, ser socializada.

Educação formal e educação não-formal

Define-se educação não formal como “toda atividade educacional


organizada, sistemática, executada fora do quadro do sistema formal para
23
oferecer tipos selecionados de ensino a determinados subgrupos da
população” (La Belle, 1982:2).

Uma definição que mostra a ambiguidade dessa modalidade de educação, já


que ela se define em oposição (negação) a outro tipo de educação: a
educação formal. Usualmente define-se a educação não formal por uma
ausência, em comparação com a escola, tomando a educação formal como
único paradigma, como se a educação formal escolar também não pudesse
aceitar a informalidade, o “extraescolar”.
Gostaria de definir a educação não formal por aquilo que ela é pela sua
especificidade e não por sua oposição à educação formal. Gostaria também
de demonstrar que o conceito de educação sustentado pela Convenção dos
Direitos da Infância ultrapassa os limites do ensino escolar formal e engloba
as experiências de vida, e os processos de aprendizagem não formais, que
desenvolvem a autonomia da criança.
Como diz Paulo Freire “Se estivesse claro para nós que foi
aprendendo que aprendemos ser possível ensinar, teríamos entendido com
facilidade a importância das experiências informais nas ruas, nas praças, no
trabalho, nas salas de aula das escolas, nos pátios dos recreios, em que
variados gestos de alunos, de pessoal administrativo, de pessoal docente se
cruzam cheios de significação” (Freire,

1997:50).
A educação formal tem objetivos claros e específicos e é
representada principalmente pelas escolas e universidades. Ela depende de
uma diretriz educacional centralizada como o currículo, com estruturas
hierárquicas e burocráticas, determinadas em nível nacional, com órgãos
fiscalizadores dos ministérios da educação.
A educação não formal é mais difusa, menos hierárquica e menos
burocrática. Os programas de educação não formal não precisam
necessariamente seguir um sistema sequencial e hierárquico de “progressão”.
24
Podem ter duração variável, e podem, ou não, conceder certificados de
aprendizagem.
Toda educação é, de certa forma, educação formal, no sentido de ser
intencional, mas o cenário pode ser diferente: o espaço da escola é marcado
pela formalidade, pela regularidade, pela sequencialidade. O espaço da
cidade (apenas para definir um cenário da educação não formal) é marcado
pela descontinuidade, pela eventualidade, pela informalidade. A educação
não formal é também uma atividade educacional organizada e sistemática,
mas levada a efeito fora do sistema formal. Daí também alguns a chamarem
impropriamente de “educação informal”.
São múltiplos os espaços da educação não formal.
Além das próprias escolas (onde pode ser oferecida educação não -
formal) temos as Organizações Não governamentais (também definidas em
oposição ao governamental), as igrejas, os sindicatos, os partidos, a mídia, as
associações de bairros, etc. Na educação não formal, a categoria espaço é
tão importante como a categoria tempo.
O tempo da aprendizagem na educação não formal é flexível,
respeitando as diferenças e as capacidades de cada um, de cada uma. Uma
das características da educação não formal é sua flexibilidade tanto em
relação ao tempo quanto em relação à criação e recriação dos seus múltiplos
espaços.
Trata-se de um conceito amplo, muito associado ao conceito de
cultura. Daí ela estar ligada fortemente a aprendizagem política dos direitos
dos indivíduos enquanto cidadãos e à participação em atividades grupais,
sejam esses adultos ou crianças.
Segundo GOHN (1999:98-99), a educação não formal designa um
processo de formação para a cidadania, de capacitação para o trabalho, de
organização comunitária e de aprendizagem dos conteúdos escolares em
ambientes diferenciados. Por isso ela também é muitas vezes associada à
educação popular e à educação comunitária.

25
A educação não formal estendeu-se de forma impressionante nas
últimas décadas em todo o mundo como “educação ao longo de toda a vida”
(conceito difundido pela UNESCO), englobando toda sorte de aprendizagens
para a vida, para a arte de bem viver e conviver.
“A difusão dos cursos de autoconhecimento, das filosofias e técnicas
orientais de relaxamento, meditação, alongamentos etc. deixaram de ser
vistas como esotéricas ou
fugas da realidade.
Tornaram-se estratégias de
resistência, caminhos de
sabedoria. É também um
grande campo de educação
não formal” (GOHN,
1999:99).
Não se trata, portanto,
aqui, de opor a educação
formal à educação não
formal. Trata-se de conhecer
melhor suas potencialidades
e harmonizá-las em benefício
de todos e, particularmente,
das crianças.
Gostaria, a seguir, de
me referir a um exemplo concreto de um espaço cada vez mais utilizado para
na educação tanto formal quanto não formal. Trata-se do ciberespaço da
formação propiciado pelo avanço das novas tecnologias.

26
A EDUCAÇÃO NÃO FORMAL: CAMPOS E
PROBLEMAS

A educação não formal designa um processo com quatro campos ou


dimensões, que correspondem a suas áreas de abrangência.
-O primeiro envolve a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos
enquanto cidadãos isto é, o processo que gera a conscientização dos
indivíduos para a compreensão de seus interesses e do meio social e da
natureza que o cerca, por meio da participação em atividades grupais.
-O segundo se refere à capacitação dos indivíduos para o trabalho, por
meio, seja, da aprendizagem de habilidades ou desenvolvimento de
potencialidades.
-O terceiro, a aprendizagem e exercício de práticas que capacitam os
indivíduos a se organizarem com objetivos comunitários, voltados para a
solução de problemas coletivos cotidianos.
-O quarto, mas não menos importante, é a aprendizagem dos
conteúdos da escolarização formal, escolar, em formas e espaços
diferenciados. Aqui o ato de ensinar se realiza de forma mais espontânea, e
as forças sociais organizadas de uma comunidade têm o poder de interferir
na delimitação do conteúdo didático ministrado bem como estabelecer as
finalidades a que se destinam àquelas práticas.
-O quinto é a educação desenvolvida na mídia e pela mídia, em
especial a eletrônica, que alguns educadores ainda não têm dado muita
atenção a esta modalidade.
Finalmente, deve-se registrar ainda o campo da educação para a vida
ou para a arte de bem viver. Em tempos de globalização, devemos traduzir
isto em: como viver ou conviver com o stress.

27
A educação não formal também tem conseguido um grande campo na
difusão dos cursos de autoconhecimento, das filosofias e técnicas orientais de
relaxamento, meditação, alongamentos etc. deixaram de ser vistas como
esotéricas ou fugas da realidade. Tornaram-se estratégias de resistência,
caminhos de sabedoria.
A Educação transmitida pelos pais na família, no convívio com amigos,
clubes, teatros, leitura de jornais, livros, revistas etc. são considerados como
temas da educação informal. O que diferencia a educação não formal da
informal é que na primeira existe intencionalidade de dados sujeitos, em criar
ou buscar determinadas qualidades e/ou objetivos.
A educação informal decorre de processos espontâneos ou naturais,
ainda que seja carregada de valores e representações, como é o caso da
educação familiar que ocorre nos espaços de possibilidades educativas no
decurso da vida dos indivíduos, como a família, tendo, portanto caráter
permanente. Mas o termo informal não abrange as possibilidades da
educação não formal que se destaca neste texto, ou seja, as ações e práticas
coletivas organizadas em movimentos, organizações e associações sociais.
Usualmente se define a educação não formal por uma ausência, em
comparação ao que há na escola (algo que seria não intencional, não
planejado, não estruturado), tomando como único paradigma à educação
formal. Conclui-se que os dois únicos elementos diferenciadores que têm sido
assinalados pelos pesquisadores são relativos à organização e à estrutura do
processo de aprendizado.
Os espaços onde se desenvolvem ou se exercitam as atividades da
educação não formal são múltiplos, a saber: no bairro-associação, nas
organizações que estruturam e coordenam os movimentos sociais, nas
igrejas, nos sindicatos e nos partidos políticos, nas Organizações Não
governamentais, nos espaços culturais, e nas próprias escolas, nos espaços
interativos dessas com a comunidade educativa etc. Entretanto, as categorias
de espaço e tempo também têm novos elementos na educação não formal
porque usualmente o tempo da aprendizagem não é fixado a priori, e sim são
28
respeitadas as diferenças existentes para a absorção e reelaboração dos
conteúdos, implícitos ou explícitos, no processo ensino-aprendizagem.
Na educação não formal a cidadania é o objetivo principal, e ela é
pensada em termos de coletivo. Organizam-se processos de acesso à escrita
e à leitura - por meio de métodos de alfabetização - para coletivos
específicos, a saber: grupos de trabalhadores, grupos de jovens, adultos etc.
Ou organizam-se processos de reciclagem ou formação, segundo
determinadas demandas sociais.
Algumas Características da Educação Não formal: Metas,
e Metodologias

A seguir listamos algumas características que a educação não formal


pode atingir em termos de metas. Consideramos estas metas como um
campo a ser desenvolvido pela Pedagogia Social:
 Aprendizado quanto a diferenças - aprende-se a conviver com demais.
Socializa-se o respeito mútuo; 
 Adaptação do grupo a diferentes culturas, e o indivíduo ao outro,
trabalha o "estranhamento"; 
 Construção da identidade coletiva de um grupo; 
 Balizamento de regras éticas relativas às condutas aceitáveis
socialmente. 
 O que falta na educação não formal: 
 Formação específica a educadores a partir da definição de s eu papel
e atividades a realizar; 
 Definição de funções e objetivos de educação não formal; 
 Sistematização das metodologias utilizadas no trabalho cotidiano; 
 Construção de instrumentos metodológicos de avaliação e análise do
trabalho realizado; 
 Construção de metodologias que possibilitem o acompanhamento do 

29

 trabalho realizado; 
 Construção de metodologias que possibilitem o acompanhamento do
trabalho de egressos que participaram de programas de educação não
formal; 
 Criação de metodologias e indicadores para estudo e análise de
trabalhos da educação não formal em campos não sistematizados.
Aprendizado gerado pela vontade do receptor; 
 Mapeamento das formas de educação não formal na
autoaprendizagem dos cidadãos (principalmente jovens no campo da
autoaprendizagem musical). 

Metodologias

A questão da metodologia merece um destaque porque é um dos


pontos mais fracos na educação não formal e a comparação com as outras
modalidades educativas que utilizamos no item anterior não nos ajuda muito.
De toda forma, na educação formal as metodologias são, usualmente,
planificada previamente segundo conteúdos prescritos nas leis.
As metodologias de desenvolvimento do processo
ensino/aprendizagem são compostas por um leque grande de modalidades,
temas e problemas e não vamos adentrar neste debate porque não é nossa
área de conhecimento. A educação informal tem como método básico à
vivência e a reprodução do conhecido, a reprodução da experiência segundo
os modos e as formas como foram apreendidas e codificadas.

30
Na educação não formal, as metodologias operadas no processo de
aprendizagem parte da cultura dos indivíduos e dos grupos. O método nasce
a partir de problematização da vida cotidiana; os conteúdos emergem a partir
dos temas que se colocam como necessidades, carências, desafios,
obstáculos ou ações empreendedoras a serem realizadas; os conteúdos não
são dados a priori. São construídos no processo. O método passa pela
sistematização dos modos de agir e de pensar o mundo que circunda as
pessoas. Penetra-se portanto no campo do simbólico, das orientações e
representações que conferem sentido e significado às ações humanas. Supõe
a existência da motivação das
pessoas que participam. Ela não se
subordina às estruturas
burocráticas. É dinâmica. Visa à
formação integral dos indivíduos.
Neste sentido tem um caráter
humanista. Ambiente não formal e
mensagens veiculadas "falam ou
fazem chamamentos" às pessoas e
coletivos, e as motivam. Mas como
há intencionalidades nos processos
e espaços da educação não formal,
há caminhos, percursos, metas, objetivos estratégicos que podem se alterar
constantemente.
Há metodologias, em suma, que precisam ser desenvolvidas,
codificadas, ainda que com alto grau de provisoriedade, pois o dinamismo, a
mudança, o movimento da realidade segundo o desenrolar dos
acontecimentos, são as marcas que singularizam a educação não formal.
Qualquer que seja o caminho metodológico construído ou reconstruído
é de suma importância atentar para o papel dos agentes mediadores no
processo: os educadores, os mediadores, assessores, facilitadores,
monitores, referências, apoios ou qualquer outra denominação que se dê para
31
os indivíduos que trabalham com grupos organizados ou não.
Eles são fundamentais na marcação de referenciais no ato de
aprendizagem, eles carregam visões de mundo, projetos societários,
ideologias, propostas, conhecimentos acumulados etc. Eles se confrontarão
com os outros participantes do processo educativo, estabelecerão diálogos,
conflitos, ações solidárias etc.
Eles se destacam no conjunto e por meio deles podemos conhecer o
projeto socioeducativo do grupo, a visão de mundo que estão construindo, os
valores defendidos e os que são rejeitados. Qual o projeto político-cultural do
grupo em suma.
Para finalizar a primeira parte deste texto destacamos que
diferenciamos a educação não formal de outras propostas educativas, que
também se apresentam como educação social, mas que tem um caráter
conservador. A maioria dessas propostas se voltam para os grupos sociais
dos excluídos objetivando, na maior parte das vezes apenas inseri-los no
mercado de trabalho, com práticas assistencialistas apoiadas por políticas
sociais compensatórias.
Entendemos a educação não formal como aquela voltada para o ser
humano como um todo, cidadão do mundo, homens e mulheres, numa
perspectiva da emancipação, numa pedagogia libertadora e não integradora a
uma dada ordem social desigual.
Em hipótese NENHUMA a educação não formal substitui ou compete
com a Educação Formal, com a educação escolar. Poderá ajudar na
complementação dessa última, via programações específicas, articulando a
escola e a comunidade educativa localizada no território de entorno da
escola.
A educação não formal tem alguns de seus objetivos próximos da
educação formal, como a formação de um cidadão pleno, mas ela tem
também a possibilidade de desenvolver alguns objetivos que lhes são
específicos, via a forma e os espaços onde se desenvolvem suas práticas, a
exemplo de um conselho ou a participação em uma luta social, contra as
32
discriminações, por exemplo, a favor das diferenças culturais etc.
Resumidamente podemos enumerar os objetivos da educação não
formal como sendo: uma educação para cidadania. Esta educação abrange
os seguintes eixos:
Educação para justiça social;
Educação para direitos (humanos, sociais, políticos, culturais etc.);
Educação para liberdade;
Educação para igualdade;
Educação para democracia;
Educação contra discriminação;
Educação pelo exercício da cultura, e para a manifestação das diferenças
culturais.

A Educação Não formal em Ação

Observa-se que inúmeras inovações no campo democrático advêm


das práticas geradas pela sociedade civil que alteram a relação estado-
sociedade ao longo do tempo e constroem novas formas políticas de agir,
especialmente na esfera pública não estatal. De fato, são inúmeras as novas
práticas sociais expressas em novos formatos institucionais da participação,
tais como os conselhos, os fóruns, as assembleias populares e as parcerias.
Em todas elas a educação não formal está presente, como processo de
aprendizagem de saberes aos e entre seus participantes.
Ao analisarmos as possibilidades de participação da comunidade
educativa em uma escola, articulando-a aos processos de aprendizagem não
formal que os métodos de gestão participativa desenvolvem, não podemos
deixar de tecer algumas considerações sobre as estruturas de participação
que já existem no interior das escolas, a exemplo dos distintos e
diferenciados colegiados e conselhos. Nos conselhos se entrecruzam
33
necessidades advindas da prática da educação formal/escolar, com a
educação não formal, principalmente no que se refere à participação dos pais
e outros membros da comunidade educativa nas suas reuniões.
Observa-se que o processo brasileiro de descentralização da
educação não descentralizou, de fato, o poder no interior das escolas.
Usualmente, esse poder continua nas mãos da diretora ou gestora, que o
monopoliza, faz a pauta das reuniões dos conselhos e colegiados escolares,
não a divulga com antecedência etc. A comunidade externa e os pais não
dispõem de tempo e, muitas vezes, nem avaliam a relevância de participar ou
de estarem presentes nas reuniões. Além disso, usualmente, esses pais não
estão preparados para entender as questões do cotidiano das reuniões, como
as orçamentárias.
Só exercem uma participação ativa nos colegiados aqueles pais com
experiência participativa anterior, extraescolar, revelando a importância da
participação dos cidadãos (ãs) em ações coletivas na sociedade civil. O
caráter educativo que essa
participação adquire,
quando ela ocorre em
movimentos sociais
comunitários, organizados
em função de causas
públicas, prepara os
indivíduos para atuarem
como representantes da
sociedade civil organizada.
E os colegiados escolares
são uma dessas
instâncias.
Muitos funcionários
das escolas são membros

34
dos conselhos e dos colegiados escolares, mas, usualmente, exercitam um
pacto do silêncio, não participando de fato e servindo de "modelo passivo"
para outros setores da comunidade educativa que compõem um colegiado.
Por que eles se comportam assim? Porque, na maioria dos casos, estão
presentes para referendar demandas corporativas, ou para fortalecer
diretorias centralizadoras.
Como elo mais fraco do poder, eles participam para "compor", para dar
número necessários aos colegiados, contribuindo com esse comportamento
para não construir nada e nada mudar. Por que isso ocorre? Porque, embora
os colegiados sejam um espaço legítimo e de direito, e uma conquista para o
exercício da cidadania, até por serem previstos em lei, essa cidadania tem
que ser qualificada e construída na prática.
Os projetos políticos dos representantes dos diferentes segmentos e
grupos, seus valores, visões de mundo etc. interferem na dinâmica desses
processos participativos. Para terem como meta projetos emancipatórios, eles
devem ter como lastro de suas ações os princípios da igualdade e da
universalidade. Os colegiados devem construir ou desenvolver essa
sensibilidade por meio de um conjunto de valores que venham a ser refletidos
em suas práticas.
Sem isso, temos uma inclusão excludente: aumento do número de
alunos nas escolas e estruturas descentralizadas que não ampliam de fato a
intervenção da comunidade na escola. Temos setores que pretensamente
estão representando o interesse público, mas que na realidade defendem o
interesse de grupos e corporações, ou a manutenção do poder tradicional,
cujo papel é exercer o controle, a vigilância em razão de uma falsa
participação ordeira e voltada para a responsabilização da comunidade (pais,
mães e outros mais) nas ações em que o Estado se omite (vide SILVA, 2003).
Não se deve perder de vista que, por intermédio dos Conselhos, a
sociedade civil exercita o direito de participar da gestão de diferentes políticas
públicas, tendo a possibilidade de exercer maior fiscalização e controle sobre
o Estado, em suas políticas públicas. Os fóruns são frutos das redes tecidas
35
nos anos 70/80 que possibilitaram aos grupos organizados olhar para além da
dimensão do local; têm abrangência nacional e são fontes de referência e
comparação para os próprios participantes.
As assembleias e plenárias têm ganhado formatos variados que vão de
encontros regulares e periódicos entre especialistas, interessados e gestores
públicos, como no caso da saúde, a observatórios e grupos semi-
institucionalizados do orçamento participativo. As novas práticas constituem,
assim, um novo tecido social denso e diversificado, tencionam as velhas
formas de fazer política e criam novas possibilidades concretas para o futuro,
em termos de opções democráticas.
As novas práticas de interação escola/representantes da sociedade
civil organizada devem ser examinadas à luz dos processos da educação não
formais caracterizados na primeira parte deste texto. São aprendizagens que
estão gerando saberes. Processos difíceis, tensionados mas educativos para
todos, pelo que trazem de novo, pela resistência ou pela reiteração obstinada
do velho, que não quer ceder à pressão das novas forças.

Novos espaços de formação e informalidade da


educação

As novas tecnologias da informação criaram novos espaços do


conhecimento. Agora, além da escola, também a empresa, o espaço
domiciliar e o espaço social tornaram-se educativos. Cada dia mais pessoas
estudam em casa, podendo, de lá, acessar o ciberespaço da formação e da
aprendizagem à distância, buscar fora das escolas a informação disponível
nas redes de computadores interligados, serviços que respondem às suas
demandas pessoais de conhecimento.
Por outro lado, a sociedade civil (ONGs, associações, sindicatos,

36
igrejas...) está se fortalecendo, não apenas como espaço de trabalho, mas
também como espaço de difusão e de reconstrução de conhecimentos. Como
previa Herbert Marshall McLuhan (1969), na década de 60, o planeta tornou-
se a nossa sala de aula e o nosso endereço.
O ciberespaço rompeu com a ideia de tempo próprio para a
aprendizagem. O espaço da aprendizagem é aqui, em qualquer lugar; o
tempo de aprender é hoje e sempre. Hoje vale tudo para aprender. Isso vai
além da “reciclagem” e da atualização de conhecimentos e muito mais além
da “assimilação” de conhecimentos. A sociedade do conhecimento é uma
sociedade de múltiplas oportunidades de aprendizagem.
As consequências para a escola, para o professor e para a educação
em geral são enormes. É essencial saber comunicar-se, saber pesquisar, ter
raciocínio lógico, saber organizar o seu próprio trabalho, ter disciplina para o
trabalho, ser independente e autônomo, saber articular o conhecimento com a
prática, ser aprendiz autônomo e a distância.
Nesse contexto, o professor é muito mais um mediador do
conhecimento, diante do aluno que é o sujeito do sua própria formação. O
aluno precisa construir e reconstruir conhecimento a partir do que faz. Para
isso o professor também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e
apontar novos sentidos para o que fazer dos seus alunos. Ele deixará de ser
um lecionador para ser um organizador do conhecimento e da aprendizagem.
O professor se tornou um aprendiz permanente, um construtor de sentidos,
um cooperador, e, sobretudo, um organizador da aprendizagem. É aquele
que “cuida” da aprendizagem.
O “cuidado” (Boff, 1999) é uma categoria essencial na tarefa de
educador.

37
Não se trata do cuidado no sentido assistencial, mas do cuidado no sentido
da atenção e da responsabilidade ético-política do educador. De nada
adiantará ensinar, se os alunos não conseguirem organizar o seu trabalho,
serem sujeitos ativos da aprendizagem, auto disciplinados, motivados. E não
é suficiente oportunizar o acesso e a permanência na escola para todos: o
direito à educação implica o direito de aprender.
Hoje as teorias do conhecimento estão centradas na aprendizagem.
Mas só aprendemos quando nos envolvemos profundamente naquilo que
aprendemos, quando o que estamos aprendendo tem sentido para as
nossas vidas. Conhecer e aprender são processos “autopoiéticos” (Maturana
& Varela, 1995), auto-organizativos. Só conhecemos realmente o que
construímos autonomamente.
Frente à disseminação e
à generalização da informação,
é necessário que a escola e o
professor, a professora, façam
uma seleção crítica da
informação, pois há muito lixo e
propaganda enganosa sendo
veiculados. Não faltam, também na era da informação, encantadores da
palavra que desejam tirar algum proveito, seja econômico, seja religioso, seja
ideológico. Isso é válido tanto para a educação formal quanto para a
educação não formal.
Para que serve o conhecimento?
O conhecimento serve primeiramente para nos conhecer melhor, a
nós mesmos e todas as nossas circunstâncias. Serve para conhecer o
mundo. Serve para adquirirmos as habilidades e as competências do mundo
do trabalho; serve para tomar parte nas decisões da vida em geral, social,
política, econômica. Serve para compreender o passado e projetar o futuro.
Finalmente, serve para nos comunicar, para comunicar o que conhecemos,
para conhecer melhor o que já conhecemos e para continuar aprendendo.
38
Conhecer é importante porque a educação se funda no conhecimento
e este na atividade humana. Para inovar é preciso conhecer. A atividade
humana é intencional, não está separada de um projeto. Conhecer não é só
adaptar-se ao mundo. É condição de sobrevivência do ser humano e da
espécie. Antes de conhecer o sujeito se “interessa” (Habermas). É “curioso”, é
“esperançoso” (Freire).

Daí a importância do trabalho de “sedução” (Nietzsche -2005) do professor,


da professora, frente ao aluno, à aluna.
Seduzir no sentido de encantar pela beleza e não como técnica de
manipulação. Daí a necessidade da motivação, do encantamento. Motivação
que deve vir de dentro do próprio aluno e não da propaganda. É preciso
mostrar que

“aprender é gostoso, mas exige esforço”, como dizia Paulo Freire no primeiro
documento que encaminhou aos professores, na forma de carta, quando
assumiu a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, em janeiro de
1989.
Não podemos estabelecer fronteiras muitas rígidas hoje entre o formal
e o não formal. Na escola e na sociedade, interagem diversos modelos
culturais. O currículo consagra a intencionalidade necessária na relação
intercultural preexistente nas práticas sociais e interpessoais. Uma escola é
um conjunto de relações interpessoais, sociais e humanas onde se interage
com a natureza e o meio ambiente.
Os currículos monoculturais do passado, voltados para si mesmos,
etnocêntricos, desprezavam o “não formal” como “extraescolar”, ao passo que
os currículos interculturais de hoje reconhecem a informalidade como uma
característica fundamental da educação do futuro.
O currículo intercultural engloba todas as ações e relações da escola;
engloba o conhecimento científico, os saberes da humanidade, os saberes
das comunidades, a experiência imediata das pessoas, instituintes da escola;
39
inclui a formação permanente de todos os segmentos que compõem a escola,
a conscientização, o conhecimento humano e a sensibilidade humana,
considera a educação como um processo sempre dinâmico, interativo,
complexo e criativo.

PROJETOS SOCIAIS

Primeiramente vamos definir o que são projetos.

De acordo com o Dicionário Aurélio, um projeto é “uma ideia de


executar ou realizar algo no futuro. Um plano. Um empreendimento a ser
realizado dentro de determinado esquema.” Já a palavra “social” é definida
como “da sociedade ou relativo à sociedade, comunidade ou agremiação.”
Logo, um projeto social é uma ideia, um plano a ser executado para o
benefício da sociedade, comunidade, agremiação etc.
Apesar de o termo projeto implicar necessariamente ideias propostas
para uma ação futura, convencionou-se, entre os especialistas da área,
chamar de projeto tanto o esquema de planejamento como a própria
execução das ações planejadas.
Assim, se você consultar mais de uma publicação sobre o assunto,
encontrará diversas definições, na verdade semelhantes e de certa forma
complementares, nas quais os projetos sociais são tratados como “meios”,
“empreendimentos”, “atividades”.
Ficam, portanto, bem claros alguns pontos relativos a projetos:
 Têm a intenção de provocar mudanças; têm limites de tempo e
recursos; 

40
 Visam a melhorar as condições de vida dos beneficiários; são
ações planejadas e coerentes entre si. 
A escola continua tendo o papel central no processo educativo, mas
pode partilhar responsabilidade criando um espaço de corresponsabilidade
em ações que visem a aprofundar o que já está sendo ensinado. Mas por que
trabalhar com projetos?
Quando um grupo de voluntários decide aliar-se à escola para
estabelecer uma parceria, nada mais justo e conveniente do que partir dos
desafios existentes e, numa atuação solidária e cooperativa, colocar mãos à
obra. Aí entra o projeto que é o planejamento das ações a serem
desenvolvidas para fazer frente às
necessidades detectadas – num
levantamento prévio – pela
comunidade escolar e pelos
próprios voluntários.
O projeto tem, então, o
propósito de costurar ações e
participações, direcionando-as
para um objetivo comum que se
pretende alcançar. Somam-se forças e maximizam-se resultados sempre que
se tem um horizonte único, tarefas integradas e definição clara do papel a ser
desempenhado por cada uma das partes envolvidas. E, até que se
estabeleça uma relação de confiança e de cooperação entre escola e
voluntários é prudente ir se aproximando aos poucos.
Transparência e compromisso dos voluntários com a proposta são
fatores que reforçam a credibilidade e abrem portas. Por outro lado, uma
reunião, uma oficina, atividades recreativas, entre tantas outras
possibilidades, são ações pontuais que abrem espaço para se pensar e
realizar um projeto coletivo.
Por esse caminho é possível saber mais a respeito da realidade e das
necessidades das crianças e jovens brasileiros e definir metas e passos do
41
projeto. É por aí, também, que se consegue maior envolvimento e, com isso,
maior probabilidade de sucesso.

Por que projetos sociais?

Os projetos sociais nascem do desejo de mudar uma realidade. Os


projetos são pontes entre o desejo e a realidade. São ações estruturadas e
intencionais, de um grupo ou organização social, que partem da reflexão e do
diagnóstico sobre uma determinada problemática e buscam contribuir, em
alguma medida, para “um outro mundo possível”. Uma boa definição é
formulada por Domingos Armani: “Um projeto é uma ação social planejada,
estruturada em objetivos, resultados e atividades, baseados em uma
quantidade limitada de recursos (...) e de tempo” (Armani, 2000:18).
Os projetos sociais tornam-se, assim, espaços permanentes de
negociação entre nossas utopias pessoais e coletivas – o desejo de mudar as
coisas –, e as possibilidades concretas que temos para realizar estas
mudanças – a realidade.
A elaboração de um projeto implica em diagnosticar uma realidade
social, identificar contextos sócio-históricos, compreender relações
institucionais, grupais e comunitárias e, finalmente, planejar uma intervenção,
considerando os limites e as oportunidades para a transformação social.
Os projetos sociais não são realizações isoladas, ou seja, não mudam
o mundo sozinhos. Estão sempre interagindo, através de diferentes
modalidades de relação, com políticas e programas voltados para o
desenvolvimento social. Um projeto não é uma ilha.
Neste sentido, os projetos sociais podem tanto ser indutores de novas
políticas públicas, pelo seu caráter demonstrativo de boas práticas sociais,
42
quanto atuarem na gestão e execução de políticas já existentes.
Políticas públicas são aquelas ações continuadas no tempo,
financiadas principalmente com recursos públicos, voltadas para o
atendimento das necessidades coletivas. Resultam de diferentes formas de
articulação entre Estado e sociedade. A tomada de decisão quanto à direção
das ações de desenvolvimento, sua estruturação em programas e
procedimentos específicos, bem como a dotação de recursos, é sancionada
por intermédio de atores governamentais. Num modelo de gestão
participativa, é desejável que estas políticas resultem de uma boa articulação
da sociedade civil com o Estado, permitindo que a sociedade civil compartilhe
não apenas a execução, mas, sobretudo, os espaços de tomada de decisão,
atuando no planejamento, monitoramento e avaliação destas políticas.
O desafio das políticas públicas é assegurar uma relação de
participação e boa articulação entre os setores sociais envolvidos nas
instâncias de gestão compartilhada. Este é o caso dos conselhos gestores
que vêm se estabelecendo em várias áreas das políticas sociais tendo como
finalidade um modelo de gestão participativa. Um projeto social é uma
unidade menor do que uma política e a estratégia de desenvolvimento social
que esta implementa.
Os projetos contribuem para transformação de uma problemática
social, a partir de uma ação geralmente mais localizada no tempo e
focalizada em seus resultados. A política pública envolve um conjunto de
ações diversificadas e continuadas no tempo, voltadas para manter e regular
a oferta de um determinado bem ou serviço, envolvendo entre estas ações
projetos sociais específicos.
Finalmente, vale lembrar que há também muitos projetos sociais que
não estão diretamente ligados a uma política pública governamental. Operam
com recursos públicos e privados provenientes de agências de cooperação
internacional. Mas, ainda assim, nestes casos, os projetos estarão ocupando
um espaço de mediação e interlocução com as políticas públicas nacionais no
campo do desenvolvimento social. Ou seja, também são públicos.
43
Por que, atualmente, se fala tanto em projetos sociais?

Por que, cada vez mais, as formas de intervenção ou iniciativas de ação


social acontecem em forma de projetos?

Por que, de forma crescente, o mais variado tipo de instituições vêm


exigindo a apresentação de projetos?
Os projetos sociais são uma importante ferramenta de ação,
amplamente utilizada pelo Estado e pela Sociedade Civil. Para entender
porque os projetos sociais tornaram-se esta ferramenta tão difundida, é
necessário perceber as mudanças ocorridas nas últimas décadas, tanto nas
esferas estatais como na Sociedade Civil brasileira. Tais mudanças apontam
para formas alternativas de implementação das políticas sociais.
Em outras palavras, houve uma democratização em aspectos
fundamentais da intervenção do Estado na sociedade, tais como eleições
livres e diretas, descentralização, formação de mecanismos mais amplos de
comunicação e de controle social, implementação de instrumentos de
governança com maior visibilidade, além de novas formas de participação na
elaboração dos orçamentos e das políticas públicas.
Estamos falando de orçamentos participativos, conselhos de direitos,
elaboração de estatutos de cidadania, fóruns, entre outras formas de
democratização das atividades do Estado. Ao mesmo tempo em que a
Sociedade Civil, com sua heterogeneidade, vem se fortalecendo e
desenvolvendo novas formas de organizações (não governamentais, redes,
entre outras), ela se converte em protagonista da ação social.
Isto quer dizer que vem atuando de forma direta nas questões sociais e
também participando ativamente na elaboração de políticas públicas.
Atualmente, um amplo conjunto de organizações sociais consegue uma
melhor articulação entre si e com o Estado no desenvolvimento de agendas
de ação conjunta.

44
Elaboração de Projetos Sociais

“Projeto é um empreendimento planejado que consiste num conjunto


de atividades inter-relacionadas e coordenadas, com o fim de alcançar
objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de
tempo dados”. ( PROCHONW, Schaffer, 1999 apud ONU, 1984)
Um projeto surge em resposta a um problema concreto. Elaborar um
projeto é, antes de qualquer coisa, contribuir para a solução de problemas,
transformando IDÉIAS em AÇÕES. O documento chamado projeto é o
resultado obtido ao se “projetar” no papel tudo o que é necessário para o
desenvolvimento de um conjunto de atividades a serem executadas: quais
são os objetivos, que meios serão utilizados para atingi-los, quais recursos
serão necessários, onde serão obtidos e como serão avaliados os resultados.
A organização do projeto em um documento nos auxilia sistematizar o
trabalho em etapas a serem cumpridas, compartilhar a imagem do que se
quer alcançar, identificar as principais deficiências, a superar e apontar
possíveis falhas durante a execução das atividades previstas.
Alguns itens devem ser observados na formulação de projetos:
Estabelecimento correto do problema - deve ser significante em relação
aos fatores de sucesso no negócio; deve ter dimensão administrável; deve
ser mensurável.
Identificação das pessoas e instituições a quem afeta resolver o problema,
buscando criar vínculos com os mesmos desde o início do projeto;
Busca adequada de fontes de financiamento.

45
1. Roteiro básico para apresentação de projetos:

Os principais itens que compõem a apresentação de um projeto


relacionam-se de forma bastante orgânica, de modo que o desenvolvimento
de uma etapa necessariamente leva à outra.
Apresentação de um projeto deve conter os
seguintes itens: a) Título do projeto
Deve dar uma ideia clara e concisa do(s) objetivo(s) do
projeto. b) Caracterização do problema e justificativa
A elaboração de um projeto se dá introduzindo o que pretendemos
resolver, ou transformar. De suma importância, geralmente é um dos
elementos que contribui mais diretamente na aprovação do projeto pela(s)
entidade(s) financiadora(s).
Aqui deve ficar claro que o projeto é uma resposta a um determinado
problema percebido e identificado pela comunidade ou pela entidade
proponente.
Deve descrever com detalhes a região onde vai ser implantado o
projeto, o diagnóstico do problema que o projeto se propõe a solucionar, a
descrição dos antecedentes do problema, relatando os esforços já realizados
ou em curso para resolvê-lo.
A justificativa deve apresentar respostas a questão POR QUÊ?
Por que executar o projeto? Por que ele deve ser aprovado e implementado?
Algumas perguntas que podem ajudar a responder esta questão:
Qual a importância desse problema/questão para a comunidade?
Existem outros projetos semelhantes sendo desenvolvidos nessa região
ou nessa temática?
É Qual a possível relação e atividades semelhantes ou complementares
entre eles e o projeto proposto?
É Quais os benefícios econômicos, sociais e ambientais a serem alcançados
46
pela comunidade e os resultados para a região?
c) Objetivos
A especificação do objetivo responde as questões: PARA QUE? e
PARA QUEM?
A formulação do objetivo de um projeto pode considerar de alguma
maneira a reformulação futura, positiva das atuais condições negativas do
problema.
Os objetivos devem ser formulados sempre como a solução de um
problema e o aproveitamento de uma oportunidade. Estes objetivos são mais
genéricos e não podem ser assegurados somente pelo sucesso do projeto,
dependem de outras condicionantes.
Importante distinguir dois tipos de objetivos:
Objetivo Geral: Corresponde ao produto final que o projeto quer atingir.
Deve expressar o que se quer alcançar na região em longo prazo,
ultrapassando inclusive o tempo de duração do projeto. O projeto não
pode ser visto como fim em si mesmo, mas como um meio para alcançar
um fim maior.
Objetivos específicos: Corresponde às ações que se propõe a executar
dentro de um determinado período de tempo. Também podem ser
chamados de resultados esperados e devem se realizar até o final do
projeto.

Metas
A metas, que muitas vezes são confundidas com os objetivos
específicos, são os resultados parciais a serem atingidos e neste caso podem
e devem ser bastante concretos expressando quantidades e qualidades dos
objetivos, ou QUANTO será feito. A definição de metas com elementos
quantitativos e qualitativos é conveniente para avaliar os avanços.
Ao escrevermos uma meta, devemos nos perguntar: o que queremos?
Para que o queremos? Quando o queremos?
Quando a meta se refere a um determinado setor da população ou a
47
um determinado tipo de organização, devemos descrevê-los adequadamente.
Por exemplo, devemos informar a quantidade de pessoas que queremos
atingir, o sexo, a idade e outras informações que esclareçam a quem estamos
nos referindo.
Cada objetivo específico deve ter uma ou mais metas. Quanto melhor
dimensionada estiver uma meta, mais fácil será definir os indicadores que
permitirão evidenciar seu alcance.
Nem todas as instituições financiadoras exigem a descrição de
objetivos específicos e metas separadamente. Algumas exigem uma forma ou
outra.
e) Metodologia
A metodologia deve descrever as formas e técnicas que serão
utilizadas para executar o projeto.
A especificação da metodologia do projeto é a que abrange número de
itens, pois respondem, a um só tempo, as questões COMO? COM QUE?
ONDE? QUANTO?
A Metodologia deve corresponder às seguintes questões:
a) Como o projeto vai atingir seus objetivos?
b) Como começarão as atividades?
c) Como serão coordenadas e gerenciadas as atividades?
d) Como e em que momentos haverá a participação e envolvimento direto
do grupo social?
Deve se descrever o tipo de atuação a ser desenvolvida: pesquisa,
diagnóstico, intervenção ou outras; que procedimentos (métodos, técnicas e
instrumentos, etc.) serão adotados e como será sua avaliação e divulgação.
É importante pesquisar metodologias que foram empregadas em
projetos semelhantes, verificando sua aplicabilidade e deficiências, e é
sempre oportuno mencionar as referências bibliográficas.
Um projeto pode ser considerado bem elaborado quando tem
metodologia bem definida e clara. É a metodologia que vai dar aos
avaliadores/pareceristas, a certeza de que os objetivos do projeto realmente
48
tem condições de serem alcançados. Portanto este item deve merecer
atenção especial por parte das instituições que elaborarem projetos.
Uma boa metodologia prevê três pontos fundamentais: a gestão
participativa, o acompanhamento técnico sistemático e continuado e o
desenvolvimento de ações de disseminação de informações e de
conhecimentos entre a população envolvida.
f) Cronograma
O cronograma responde a pergunta QUANDO?
Os projetos, como já foram comentados, são temporalmente bem
definidos quando possuem datas de início e término preestabelecidas. As
atividades que serão desenvolvidas devem se inserir neste lapso de tempo.
O cronograma é a disposição gráfica das épocas em que as atividades
vão se dar e permite uma rápida visualização da sequencia em que devem
acontecer.
g) Orçamento
Respondendo à questão COM QUANTO? O orçamento é um resumo
ou cronograma financeiro do projeto, no qual se indica como o que e quando
serão gastos os recursos e de que fontes virão os recursos. Facilmente pode-
se observar que existem diferentes tipos de despesas que podem ser
agrupadas de forma homogênea como, por exemplo: material de consumo;
custos administrativos, equipe permanente; serviços de terceiros; diárias e
hospedagem; veículos, máquinas e equipamentos; obras e instalações.
No orçamento as despesas devem ser descritas de forma agrupada,
no entanto, as organizações financiadoras exigem que se faça uma descrição
detalhada de todos os custos, que é chamada memória de cálculo.
h) Revisão Bibliográfica
Referências bibliográficas que possam conceituar o problema, ou servir
de base para a ação, podem e devem ser apresentadas. Certamente darão
ao financiador uma noção de quanto o autor está inteirado ao assunto, pelo
menos ao nível conceitual/teórico.

49
A EMPRESA E SEU PAPEL SOCIAL

Segundo Antoninho Marmo Trevisan, apesar de todas as dificuldades


que enfrenta no seu dia-a-dia, o empresariado nacional percebeu a sua
função de protagonista no contexto das mudanças sociais.
O Estado não tem condições de oferecer respostas tão ágeis e rápidas
aos problemas da população como as empresas, que em tempos de alta
competitividade, estão acostumadas a atuarem com mais eficiência no seu
dia-a-dia.
Assim, o setor privado tomou consciência de que precisa ter uma
participação maciça no ambiente social e comunitário porque é parte
integrante dele, e, portanto depende de seu correto funcionamento.
Os resultados obtidos por diversas empresas no âmbito social indicam
que o empresariado é também parte modificadora desse ambiente. As
empresas estão assumindo a sua responsabilidade social e promovendo uma
verdadeira revolução cívica. Segundo pesquisa do Instituto ADVB de
Responsabilidade Social, com 2.830 empresas que já se preocupam com sua
atuação social, são investidos cerca de R$ 98 mil por empresa em média por
ano em projetos que beneficiam aproximadamente 37 milhões de pessoas.
Além disso, 67% dos funcionários dessas empresas atuam de forma
voluntária em projetos sociais. Pode-se dizer também, que quem investe em
empresas que respeitam o meio ambiente e a comunidade, recebe um maior
retorno. Recente estudo feito pelo Finance Institute for Global Sustentability
(Figs), uma entidade que mapeia o desempenho de meia centena de fundos
de investimento éticos, indica que três quartos desse tipo de investimento
teve um retorno superior à média, em 2.000.

50
Esses fundos são chamados éticos porque favorecem empresas social
e ambientalmente corretas. Há dois anos o Figs encontrou apenas dois
fundos desse tipo. No final do ano passado já eram 60 fundos que
movimentavam US$ 15 bilhões de dólares.
Um fato que me chamou a atenção definitivamente para o avanço da
responsabilidade social entre os segmentos profissionais foi o último
congresso anual dos contabilistas. Pelo menos três mil profissionais da área
examinaram pela primeira vez o papel social do contador. Certamente, há
alguns anos, um tema desse tipo não atrairia mais que uma dezena de
contadores.
A sociedade civil vem assumindo uma clara posição ao enfrentar os
problemas sociais ao invés de deixá-los para o Estado. Assim, impõe-se às
empresas uma mudança no processo de condução desses assuntos, que
assumem uma posição mais estratégica na medida em que afetam a imagem
corporativa. Vale lembrar que os brasileiros estão cada vez mais predispostos
a punirem empresas que não sejam socialmente responsáveis.
A responsabilidade social das empresas aproxima as pessoas dos
problemas sociais e os tornam mais reais do que pareciam quando só o
Estado participava. Nesse
novo contexto, as
questões sociais ganham
um caráter prático porque
colocam as pessoas, e
não a instituição estatal,
em contato direto com a
problemática social dos
nossos tempos.

Responsabilidade

51
Social

As transformações socioeconômicas dos últimos 20 anos têm afetado


profundamente o comportamento de empresas até então acostumadas à pura
e exclusiva maximização do lucro. Se por um lado o setor privado tem cada
vez mais lugar de destaque na criação de riqueza; por outro lado, é bem
sabido que com grande poder, vem grande responsabilidade.
Em função da capacidade criativa já existente, e dos recursos
financeiros e humanos já disponíveis, empresas têm uma intrínseca
responsabilidade social. A ideia de responsabilidade social incorporada aos
negócios é, portanto, relativamente recente.
Com o surgimento de novas demandas e maior pressão por
transparência nos negócios, empresas se veem forçadas a adotar uma
postura mais responsável em suas ações.
Infelizmente, muitos ainda confundem o conceito com filantropia, mas
as razões por trás desse paradigma não interessam somente ao bem estar
social, mas também envolvem melhor performance nos negócios e,
consequentemente, maior lucratividade.
A busca da responsabilidade social corporativa tem, grosso modo, as
seguintes características:
 É plural. Empresas não devem satisfações apenas aos seus
acionistas. Muito pelo contrário. O mercado deve agora prestar contas
aos funcionários, à mídia, ao governo, ao setor não governamental e
ambiental e, por fim, às comunidades com que opera. Empresas só
têm a ganhar na inclusão de novos parceiros sociais em seus
processos decisórios. Um diálogo mais participativo não apenas
representa uma mudança de comportamento da empresa, mas
também significa maior legitimidade social. 
 É distributiva. A responsabilidade social nos negócios é um conceito
que se aplica a toda a cadeia produtiva. Não somente o produto final
52
deve ser avaliado por fatores ambientais ou sociais, mas o conceito é
de interesse comum e, portanto, deve ser difundido ao longo de todo e
qualquer processo produtivo. Assim como consumidores, empresas
também são responsáveis por seus fornecedores e devem fazer valer
seus códigos de ética aos produtos e serviços usados ao longo de
seus processos produtivos. 
 É sustentável. Responsabilidade social anda de mãos dadas com o
conceito de desenvolvimento sustentável. Uma atitude responsável em
relação ao ambiente e à sociedade, não só garante a não escassez de
recursos, mas também amplia o conceito a uma escala mais ampla. O
desenvolvimento sustentável não só se refere ao ambiente, mas por
via do fortalecimento de parcerias duráveis, promove a imagem da
empresa como um todo e por fim leva ao crescimento orientado. Uma
postura sustentável é por natureza preventiva e possibilita a prevenção
de riscos futuros, como impactos ambientais ou processos judiciais. 
 É transparente. A globalização traz consigo demandas por
transparência. Não mais nos bastam mais os livros contábeis.
Empresas são gradualmente obrigadas a divulgar sua performance
social e ambiental, os impactos de suas atividades e as medidas
tomadas para prevenção ou compensação de acidentes. 
Nesse sentido, empresas serão obrigadas a publicar relatórios anuais,
onde seu desempenho é aferida nas mais diferentes modalidades
possíveis. Muitas empresas já o fazem em caráter voluntário, mas
muitos preveem que relatórios socioambientais serão compulsórios
num futuro próximo. Muito do debate sobre a responsabilidade social
empresarial já foi desenvolvido mundo afora, mas o Brasil tem dado
passos largos no sentido da profissionalização do setor e da busca por
estratégias de inclusão social através do setor privado.

53
Bibliografia Básica

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