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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO – FFP

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

HAYANNE FIGUEREDO FERNANDES

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO
UMA ANÁLISE CRÍTICA DAS POSSIBILIDADES E FRONTEIRAS DA EDUCAÇÃO

SÃO GONÇALO
2023
Introdução

À vista da profusão de materiais sobre educação transformadora, vi a


necessidade de uma reflexão sobre o assunto. Nesta reflexão usarei de uma
metodologia que consiste em apontar as falhas e as inconsistências do objeto
estudado - nesse caso, a concepção de educação como transformadora da
sociedade. Tal concepção é vista por muitos como um ideal a ser seguido nas
escolas e demais instituições de educação tanto formal quanto informal e não formal.

Tal como o ser humano é um ser social, ele necessita ser socializado para
viver em sua sociedade. Em meu ponto de vista, a educação no geral não passa de
uma roupagem para o humano, que, sendo concebido, vai “vestindo-se” ao longo de
sua vida. No sentido de que, não muda sua existência como ser, de uma perspectiva
biológica, mas muda seus hábitos de pensamento e hábitos práticos por isso mais
cultural. Sendo assim, não importa que tipo de educação ele tenha, pois, no final,
será sempre um ser humano o qual se não for socializado - não for educado - não
conseguirá viver em sociedade.

Educação como passagem de saberes

É a partir da premissa de que a educação - sendo ela formal, não formal ou


informal - é um processo de socialização, podemos afirmar que até certo ponto, a
educação é reprodutora do status quo que opera na sociedade vigente. Não há autor
que negue que, mesmo vendo possibilidade de transformação, a educação reproduz
saberes já consolidados.

A partir de uma perspectiva marxista, Meszários vai dizer que “junto ao ‘saber’
vem acoplado o ‘saber interpretar’ a sociedade do ponto de vista dos interesses da
classe dominante”, o que quer dizer que, no processo de formação, não são
passados apenas conhecimentos práticos e instrumentais, mas também são
passadas formas de pensar. O conhecimento humano não consiste apenas em
saberes consolidados e prontos para serem utilizados de forma retórica em
conversas no dia a dia ou em contextos acadêmicos, mas esse conhecimento é
também uma forma de ver o mundo.

Esse tipo de saber - o saber interpretar - é em grande parte passado de


forma informal e não formal respectivamente em influência nos primeiros anos de
vida, e vai se tornar base para toda uma vida de educação continuada em todos os
sentidos. É portanto um processo natural que nesta modalidade de educação sejam
passados conhecimentos já institucionalizados e portanto reprodutores da
sociedade.

É verdade que a educação, seja ela formal, não formal ou informal,


desempenha um papel crucial na socialização das pessoas e na transmissão de
conhecimentos e valores. Nesse sentido, é inevitável que a educação reproduza, até
certo ponto, os saberes já consolidados na sociedade. É importante ressaltar que
essa reprodução dos saberes e formas de pensar não ocorre apenas no âmbito
formal da educação, mas também de maneira informal e não formal. Nos primeiros
anos de vida, por exemplo, as influências familiares, culturais e sociais
desempenham um papel fundamental na formação das pessoas e na construção de
sua visão de mundo.

Formalidade, Informalidade e Não Formalidade

É nas instituições de ensino formais que ocorre grande parte da transmissão


de saberes práticos, em grande parte voltados para a formação de indivíduos em
uma perspectiva laboral. Em um sistema capitalista, é em organizações como a
escola e a universidade que ocorre a instrumentação para o trabalho. No entanto,
seria um equívoco afirmar que não ocorre nessas instituições o compartilhamento de
saberes interpretativos e saberes críticos.

Nas instituições de ensino formal, especialmente no nível universitário, há


espaço para a discussão e reflexão sobre diversos temas, o desenvolvimento de
pensamento crítico e a exposição a diferentes perspectivas. Professores e
pesquisadores muitas vezes estimulam o debate, a análise de problemas sociais e a
busca por soluções inovadoras. Além disso, existem disciplinas e áreas de estudo
que exploram questões sociais, políticas e filosóficas, fornecendo ferramentas para a
compreensão e interpretação do mundo.

A educação informal, representada pela instituição família, e a educação não


formal, representada por clubes e museus, têm a responsabilidade imprescindível de
educar para a transformação visto que tem grande potencial para tal. Pois é nesses
locais que ocorre o acolhimento e a possibilidade de discussão para a mudança.
Um tentativa de transformação

Ao longo do tempo, naturalmente, falhas são identificadas na forma como a


sociedade se organiza. Em uma tentativa de consertar essas falhas, mobilizações
sociais para a transformação focam seus esforços em um modelo de educação e em
uma pensamento pedagógico específico que de alguma forma mude a forma como
as pessoas pensam e agem.

Esse movimento de mudança falha quando tenta condicionar um mundo fora


de seu alcance, pois o futuro do mundo não estará mais em suas mãos quando este
tempo chegar. É o que diz Hannah Arendt em “A crise da Educação” quando aponta
a tentativa falha de criar uma utopia política nos Estados Unidos da América. Isso
não significa que o Estado não interfira nesta questão, pois ele pode agir
diretamente sobre as comunidades, além disso, professores e administradores de
instituições formais agregam também na vida pessoal e na formação de consciência
e saberes interpretativos.

Conclusão

Ao longo dos anos, o Estado tem cada vez mais tomando o lugar da família
como intuição que ensina e que pune, como aponta o historiador Yuval Noah Harari
em seu livro “Sapiens: Uma Breve História da Humanidade”. Antes, nos primórdios
da civilização humana, uma educação que era unicamente não formal e informal,
hoje é essencialmente diferente. Esse movimento foi natural na evolução humana e
acompanhou as mudanças na mentalidades e nos hábitos humanos. Como já dito, o
ser humano é humanizado - no sentido de tornar-se um humano como conhecemos
hoje - com a socialização, ou seja, com a educação. Por esse motivo, qualquer
mudança na estrutura da sociedade não afeta diretamente o indivíduo na sua
estrutura biológica visto que essa mudança costuma ser comportamental e cultural e
a atuação do Estado hoje como principal atuante na educação de crianças, jovens e
adultos não altera o homem como ser.

Mesmo assim, é importante levar em consideração a importância do ensino


informal como principal fonte de transformação visto que é nesses espaços que
ainda, mesmo com a mudança de hábitos humanos, os indivíduos são políticos e
adquirem saberes interpretativos. Sendo assim, na intenção de fazer uma análise
crítica dos temas propostos, concluo que a solução para uma educação
verdadeiramente transformadora está nas educações informal e não formal. Pois as
educações informal e não formal são potencialmente mais transformadoras que a
educação formal.

Referências Bibliográficas

- ARENDT, Hannah. The crisis in Education, pp. 493-513, 1957.

- LUCKESI, Cipriano. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.

- HARARI, Yuval Noah. Sapiens: Uma Breve História da Humanidade. Ponto


Alegre, RS: L&PM. 2017.

- DERMEVAL SAVIANI, Dermeval. Do senso comum à consciência filosófica,


2013.

- LIBÂNEO, J. C. Didática. São Paulo: Cortez, 1994.

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