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Batatais
Claretiano
2015
© Ação Educacional Claretiana, 2010 – Batatais (SP)
Versão: jun./2015
374 T213e
ISBN: 978-85-8377-390-0
CDD 374
Preparação Revisão
Aline de Fátima Guedes Cecília Beatriz Alves Teixeira
Camila Maria Nardi Matos Eduardo Henrique Marinheiro
Felipe Aleixo
Carolina de Andrade Baviera Filipi Andrade de Deus Silveira
Cátia Aparecida Ribeiro Juliana Biggi
Dandara Louise Vieira Matavelli Paulo Roberto F. M. Sposati Ortiz
Elaine Aparecida de Lima Moraes Rafael Antonio Morotti
Josiane Marchiori Martins Rodrigo Ferreira Daverni
Sônia Galindo Melo
Lidiane Maria Magalini Talita Cristina Bartolomeu
Luciana A. Mani Adami Vanessa Vergani Machado
Luciana dos Santos Sançana de Melo
Patrícia Alves Veronez Montera Projeto gráfico, diagramação e capa
Raquel Baptista Meneses Frata Eduardo de Oliveira Azevedo
Joice Cristina Micai
Rosemeire Cristina Astolphi Buzzelli
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Simone Rodrigues de Oliveira Luis Antônio Guimarães Toloi
Raphael Fantacini de Oliveira
Bibliotecária Tamires Botta Murakami de Souza
Ana Carolina Guimarães – CRB7: 64/11 Wagner Segato dos Santos
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer
forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na
web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do
autor e da Ação Educacional Claretiana.
CRC
Conteúdo––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Educação de Jovens e Adultos: breve histórico da Educação de Jovens e Adultos
no Brasil. Caracterização do alunado diante de determinantes pedagógicas e so-
ciais. Os procedimentos didáticos na ação docente para a Educação de Jovens e
Adultos. A andragogia e a aprendizagem do adulto. Educação de Jovens e Adul-
tos: reflexões sobre o mercado de trabalho. As divisões, as divergências, a dis-
tância existente entre "saber" e "fazer", refletindo sobre elas. Possibilidades de
avanços, de melhores condições de trabalho e de vida, por meio da Educação de
Jovens e Adultos. Reflexões sobre a Educação Básica e as suas contribuições
para o aluno da Educação de Jovens e Adultos. Os educandos da Educação de
Jovens e Adultos e a escola. Formação dos profissionais da Educação de Jovens
e Adultos. O papel dos profissionais da Educação de Jovens e Adultos, bem
como a organização da sala de aula, considerando situações de aprendizagem e
rotina de trabalho e o processo de avaliação dos alunos.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
1. INTRODUÇÃO
Desejamos, com este estudo, possibilitar a você o contato
com as principais ideias sobre a Educação de Jovens e Adultos
(EJA), procurando auxiliá-lo em sua futura prática docente.
10 © Educação de Jovens e Adultos
Abordagem Geral
Profª Ms. Ana Maria Tassinari
Glossário de Conceitos
Com o Glossário de Conceitos, você poderá realizar uma
consulta rápida e precisa das definições conceituais trabalhadas
nesta obra. Certamente, essas definições muito contribuirão para
a compreensão e para o domínio dos termos técnico-científicos
utilizados na área de conhecimento dos temas tratados em Educa-
ção de Jovens e Adultos (EJA).
Veja, a seguir, a definição de tais conceitos:
1) Andragogia: educação e aprendizagem de adultos, os
quais já possuem conhecimentos e experiências, não sen-
do mais permitido que eles sejam tratados como crianças.
2) Cidadania: capacidade de o indivíduo reconhecer e sa-
ber exigir seus direitos, bem como cumprir os seus de-
veres e as suas obrigações.
3) Educação de Jovens e Adultos: modalidade de ensino
destinada às pessoas que não tiveram acesso ou conti-
nuidade de estudos nos Ensinos Fundamental e Médio
na idade adequada.
4) Educador: pessoa que tem a função de educar, com ob-
jetivo de desenvolver o educando como ser, pessoa.
5) Prática educativa: ação voltada para o ato educativo,
exigindo planejamento, interação, avaliação, reflexão
crítica e (re)planejamento dessas ações.
OBJETIVO COMPETÊNCIAS,
HABILIDADE E ATITUDES
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem
ser de múltipla escolha ou abertas com respostas objetivas ou dis-
sertativas. Vale ressaltar que se entendem as respostas objetivas
como as que se referem aos conteúdos matemáticos ou àqueles
que exigem uma resposta determinada, inalterada.
Responder a essas questões, discuti-las, comentá-las e rela-
cioná-las com a prática do ensino de Educação de Jovens e Adultos
pode ser uma forma de você avaliar o seu conhecimento. Assim,
mediante a resolução de questões pertinentes ao assunto tratado,
você estará se preparando para a avaliação final, que será disser-
tativa. Além disso, essa é uma maneira privilegiada de você testar
seus conhecimentos e de adquirir uma formação sólida para sua
prática profissional.
Você encontrará, ainda, no final de cada unidade, um gabarito
para conferir suas respostas (de múltipla escolha e abertas objetivas).
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus
estudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as biblio-
grafias complementares.
Dicas (motivacionais)
O estudo desta obra convida você a olhar, de forma mais apu-
rada, a Educação como processo de emancipação do ser humano. É
importante que você se atente às explicações teóricas, práticas e cien-
tíficas que estão presentes nos meios de comunicação, bem como
partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, ao compartilhar
com outras pessoas aquilo que você observa, pode descobrir algo
desconhecido, aprendendo a ver o que não havia sido visto antes.
Observar é, portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno dos Curso de Graduação na modalidade
EAD e futuro profissional da educação, necessita de uma formação
conceitual sólida e consistente. Para isso, você contará com a ajuda
do tutor a distância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação
com seus colegas. Sugerimos, pois, que organize bem seu tempo e
realize as atividades nas datas estipuladas.
É importante, ainda, que você anote suas reflexões em seu
caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas poderão
ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de suas produ-
ções científicas.
1. OBJETIVOS
• Compreender e caracterizar o processo de construção e
consolidação da Educação de Jovens e Adultos no Brasil.
• Refletir e demonstrar criticamente que a intenção política
permeia a Educação de Jovens e Adultos.
• Conhecer e identificar as leis que garantem a oferta de
Educação de Jovens e Adultos no país.
2. CONTEÚDOS
• Educação e cidadania.
• Reflexão crítica sobre a oferta de Educação para Jovens e
Adultos
30 © Educação de Jovens e Adultos
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Para iniciar nossos estudos sobre a Educação de Jovens e
Adultos, julgamos ser necessário traçar um breve histórico sobre
essa etapa educacional e, com isso, entender como ela foi se cons-
tituindo e consolidando no Brasil.
Em princípio, a Educação de Jovens e Adultos pode parecer
algo distante, mas, se você parar para pensar, lembrará de várias
pessoas que estão fora da idade regular, ideal para a Educação Bá-
sica, voltaram a frequentar a escola e recebem uma educação vol-
tada para sua alfabetização e para a formação democrática-cidadã.
No Brasil, ainda hoje, muitas pessoas compõem as porcen-
tagens estatísticas referentes ao analfabetismo, seja ele funcional
ou total, configurando um quadro de "exclusão" escolar. Essas pes-
soas nunca tiveram a oportunidade de frequentar uma escola por
vários motivos. Entre eles, podemos citar:
© U1 – Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil 31
5. EDUCAÇÃO E CIDADANIA
A respeito da educação, Fuck (1994, p. 14-15) diz:
Que a educação seja o processo através do qual o indivíduo
toma a história em suas próprias mãos, a fim de mudar o rumo
da mesma. Como? Acreditando no educando, na sua capacidade
de aprender, descobrir, criar soluções desafiar, enfrentar, propor,
escolher e assumir as consequências de sua escolha. Mas isso não
será possível se continuarmos bitolando os alfabetizandos com de-
senhos pré-formulados para colorir, com textos criados por outros
para copiarem, com caminhos pontilhados para seguir, com histó-
rias que alienam, com métodos que não levam em conta a lógica
de quem aprende.
Cidadão–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Tá vendo aquele edifício moço?
Ajudei a levantar
Foi um tempo de aflição
Eram quatro condução
Duas pra ir, duas pra voltar
Hoje depois dele pronto
olho pra cima e fico tonto
Mas me chega um cidadão
e me diz desconfiado, tu tá aí admirado
ou tá querendo roubar?
Meu domingo tá perdido
vou pra casa entristecido
Dá vontade de beber
E pra aumentar o meu tédio
eu nem posso olhar pro prédio
que eu ajudei a fazer
© U1 – Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil 33
Década de 1930
A história da Educação Básica para jovens e adultos em nos-
so país começou a se delinear desde a década de 1930, assinalada
como uma necessidade urgente para atender às transformações
que estavam ocorrendo na sociedade, em particular no setor in-
dustrial.
Primeiro, pela grande quantidade de indústrias que se ins-
talavam no país; segundo, pelo êxodo rural, uma vez que as pes-
soas saíam do campo e vinham para as cidades buscar melhores
condições de sobrevivência, um lugar no mercado de trabalho, a
ilusão de que encontrariam, certamente, um emprego digno com
um salário condizente.
Nesse período, o Brasil foi marcado por um golpe de Estado
liderado por Getúlio Vargas, chefe civil, que deu início à Revolução
de 1930. Foi o fim da política do “café com leite” –que se carac-
terizava pelo revezamento de poder entre o Estado de São Paulo,
que detinha grande poder econômico, sendo o maior produtor de
café do país, e o de Minas Gerais, detentor do maior polo eleitoral
nacional e grande produtor de leite – eis o início de uma nova era
urbana, industrial e capitalista.
Dessa forma, todos os segmentos da sociedade sofreram in-
fluência do novo sistema político, inclusive o educacional. O país
tinha de crescer; por isso, novas demandas eram colocadas, uma
vez que a necessidade da mão de obra para a indústria exigia um
novo perfil de trabalhadores. A força do trabalho exigia a habili-
tação do indivíduo para usar recursos de tal forma a atingir o fim
proposto, ou seja, o da maior produtividade.
Diante desse contexto, o sistema de educação começou a
se caracterizar como um sistema público de educação elementar,
mas também para lutar por ela, a fim de que todos no mundo pu-
dessem viver em paz, democraticamente.
O governo brasileiro não relutou em aceitar as colocações
feitas pela ONU, pois essa oferta de educação tinha como inte-
resse formar uma população que dominasse o código linguístico
para assumir a condição de eleitores. Portanto, a intenção era que
essa mão de obra estivesse mais bem qualificada para atender às
demandas da crescente industrialização.
Entre a população que detinha o poder e o conhecimento,
surgiram várias críticas sobre a população de analfabetos do país,
uma vez que eles eram considerados como os grandes responsá-
veis pelas crises econômicas culturais e sociais vividas. Eles eram
vistos como pessoas que estavam à margem da sociedade, nor-
malmente reconhecidas como incapazes, tanto do ponto de vista
psicológico como social, geralmente comparadas a crianças, im-
próprias e ineficazes no ato de constituir uma família.
No ano de 1947, foi desenvolvida uma campanha nacional
de educação de massa, conhecida como Campanha de Educação
de Adultos, que pretendia alfabetizá-los, levá-los a concluir o curso
primário e, por fim, oferecer-lhes uma capacitação profissional e
instruções para a vida em comunidade.
De acordo com Vera Maria Masagão Ribeiro (2007):
Nos primeiros anos, sob a direção do professor Lourenço Filho, a
campanha conseguiu resultados significativos, articulando e am-
pliando os serviços já existentes e estendendo-os às diversas re-
giões do país. Num curto período de tempo, foram criadas várias
escolas supletivas, mobilizando esforços das diversas esferas admi-
nistrativas, de profissionais e voluntários.
Década de 1980
A década de 1980 iniciou-se no Brasil com uma grave crise
econômica e social que repercutia em toda a América Latina. Ha-
via uma grande recessão no sistema produtivo, elevados índices
de desemprego, altas taxas de inflação e grande endividamento
externo.
Com isso, as perdas de poder aquisitivo da sociedade eram
notáveis, o que nos leva a crer que o crescimento conseguido pela
sociedade industrial teve um custo social exacerbado. A população
empobreceu consideravelmente em virtude da grande concentra-
ção de renda nas mãos de poucos.
Nesse período, o Mobral não conseguiu baixar os níveis do
analfabetismo adulto, e as crianças de 7 a 14 anos avolumavam-se
fora das escolas por não serem absorvidas pelo sistema regular de
ensino.
Claretiano - Centro Universitário
44 © Educação de Jovens e Adultos
8. TEXTOS COMPLEMENTARES
Para complementar seus conhecimentos acerca do assunto
estudado nesta unidade, apresentaremos, a seguir, cinco fragmen-
tos do livro: Cidadania, o direito de ser feliz, iguais e desiguais, até
quando?. Esses fragmentos, cuja compreensão é clara, são rele-
vantes para a apropriação do conceito de cidadania.
O Texto 1 faz uma crítica ao discurso demagógico sobre o cri-
tério de cidadania que acentua a igualdade de todos e minimiza o
exercício pleno da cidadania, aproveitando-se do desconhecimen-
to do povo sobre os seus direitos.
Texto 1
Texto 2
Como já disse no capítulo anterior, a cidadania não se instala apenas pelo enun-
ciado da lei, não é uma condição líquida e certa. E isso se verifica devido a mo-
delos preexistentes na sociedade, modelos estes que habitam, por assim dizer,
o próprio inconsciente coletivo, o imaginário, influenciando o pensamento, os juí-
zos de valores, os comportamentos e tudo o que daí resulta. São esses modelos
preestabelecidos que dificultam o exercício da cidadania. Dentre esses modelos
destaco alguns, tomando como base um texto denominado “O que é preciso
para ser cidadão”, de autoria do Pe. Juvenal Arduini, a fim de que seja possível
entender aquilo que denomino de dificuldades da cidadania.
No Brasil desde os seus primórdios, por força da concentração do poder econô-
mico, a começar pelo período escravagista, estabeleceu-se uma divisão social
onde a maioria do povo é considerada e se acredita inferior. A partir daí, da pri-
mazia selvagem do capital sobre o trabalho, é que foram delimitados os direitos
e deveres de cada um.
Se antes eram os senhores de escravos que dominavam, hoje temos usineiros, la-
tifundiários, empresários nacionais e multinacionais a gerirem o destino da maioria
do povo brasileiro. São os “cidadãos de primeira classe”, proprietários, inclusive,
de meios de comunicação e do acesso ao conhecimento, que gozam dos seus
extremados direitos ignorando suas obrigações e os direitos dos demais. São eles
que acumulam também, além de propriedades e dinheiro, sempre mais poder po-
lítico, num sistema de subordinação e submissão do povo, considerados como
“cidadãos de categoria inferior”; é o modelo sempre em vigor da “casa-grande e
da senzala”: a opressão dos senhores e a condição de oprimidos dos escravos.
Derivado do modelo acima, chamado por muitos de “oligárquico”, temos “o pater-
nalismo”, onde a maioria do povo, dentro da sua visão de inferioridade e abando-
no, de forma filial e submissa, buscando satisfazer as suas carências e necessi-
dades de toda ordem, recorre aos políticos detentores do poder, e estes, por sua
vez, posando de pais do povo, distorcem a realidade e propagam a falsa idéia de
que são generosos e bons, ao invés de exploradores e responsáveis pela miséria
existente. Esse modelo, na verdade, reforça a submissão do povo à exploração
das classes dominantes, pois, na medida em que tais políticos dão migalhas
para aplacar momentaneamente a miséria reinante, contribuem também, de for-
ma significativa, para perpetuar a injustiça social e econômica. O paternalismo
camufla o papel do explorador, transformando-o num benemérito, atribuindo a
Texto 3
Conclusão: A experiência mostra que passados quase quatro anos, a maior parte
das obras prioritárias eleitas pelas comunidades não são realizadas, e as “priori-
dades” de fato acabam sendo ditadas por outros interesses, mormente político-
-eleitorais e econômicos.
O que se deduz desse fato é que é puro engano dizer que as condições da demo-
cracia se medem apenas pelo direito de expressão, de falar. Ao contrário, a boa
democracia é aquela que garante ao cidadão o direito de ser ouvido, é aquela
que proporciona condições objetivas para a realização da cidadania (GEAQUIN-
TO, 2001, p. 20 - 21).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A temática do Texto 4 enaltece a educação como base para
o exercício da cidadania:
Texto 4
Falar de educação, ao contrário do que possa parecer, não é tarefa fácil, já que
no campo conceitual existem divergências e diferenciações, principalmente no
que se refere aos termos educação e instrução. Além disso, outras questões se
impõem como, por exemplo, qual o seu objeto? Ela é adquirida na escola ou na
sociedade? A quem ela serve como instrumento de dominação, ideológico etc.?
Não é meu objetivo entrar na discussão dessas diferenças e nuanças, uma vez
que o tema aqui em exposição é o da cidadania e sua relação com alguns ele-
mentos que podem interferir ou não no seu exercício, ou seja, a educação aqui
será tratada de forma abrangente, “como o povo entende”, como costuma dizer
um amigo meu.
Diz a Constituição brasileira: “A educação, direito de todos e dever do Estado
e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da
cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Se tomássemos como base o dito
constitucional, sem levar em consideração a realidade, com certeza diríamos que
a educação no Brasil serve à causa da cidadania. Ocorre que entre o enunciado
e a prática existe um vácuo a ser preenchido, não só pelo Estado, mas também
pela família e pela própria sociedade. E o irônico, ou interessante nisso tudo,
é que o exercício da cidadania que o texto constitucional propõe é justamente
aquilo que deve ser acionado para garantir que a educação cumpra o seu papel.
Disso tudo, depreende-se que a educação para a cidadania não depende única
e exclusivamente da “educação oficial”, da instrução escolar, como preferirem,
uma vez que esta tem educado para a submissão, para uma “cidadania menor”
reforçando as desigualdades.
© U1 – Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil 57
Texto 5
9. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Este é um momento de reflexão sobre o estudo da unidade pro-
posta e, também, um momento de reconhecer se os conhecimentos
pretendidos foram alcançados ou se ainda necessitam ser retomados.
Por meio das questões autoavaliativas, pretendemos que
você se torne mais responsável pela sua evolução educacional,
mais reflexivo, autônomo, motivado e eficiente.
© U1 – Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil 59
4) Apesar de a educação hoje ser para todos, a quem ela continua beneficiando?
5) A educação, sem dúvida, tem um sentido social, ético e político, que, por
meio da vivência de experiências diferentes, do indivíduo e da sociedade, faz
nascer, inventa, cria, a cada instante, uma nova sociedade, um novo homem,
uma nova vida. Nesse sentido, como deve ser proposta a EJA?
7) Já vimos, nesta unidade, que, em dezembro de 1996, foi aprovada a nova Lei
de Diretrizes e Bases n. 9.394/96, que defende a oferta da EJA inscrevendo:
Da Educação de Jovens e Adultos
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que
não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino funda-
mental e médio na idade própria.
§ 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e
aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular,
oportunidades educacionais apropriadas, consideradas as caracte-
rísticas do alunado, seus interesses, condições de vida e de traba-
lho, mediante cursos e exames.
§ 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a perma-
nência do trabalhador na escola, mediante ações integradas e com-
plementares entre si.
10. CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, nossa proposta foi fazer que você não so-
mente conhecesse a constituição histórica da Educação de Jovens
e Adultos em nosso país, mas também refletisse sobre ela.
A história da Educação de Jovens e Adultos no Brasil ainda
necessita reclamar a consolidação de reformulações pedagógicas.
O público que procura essa modalidade de ensino ainda é com-
posto, em sua maioria, por pessoas que já tiveram experiências
fracassadas na escola.
Portanto, ressaltamos que o grande desafio pedagógico a
que a EJA se propõe, no sentido de seriedade e criatividade, é o
de garantir a esses alunos, homens e mulheres, jovens e adultos,
acesso à cultura letrada, possibilitando-lhes participação ativa no
mundo do trabalho, da política e da cultura.
Não tivemos a intenção de esgotar esse assunto, uma vez
que demandaria uma extensa e profunda pesquisa sobre ele, pois,
como pudemos observar, foram várias as etapas necessárias para
que essa modalidade de educação se apresentasse como é hoje.
© U1 – Breve Histórico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil 61
11. E-REFERÊNCIAS
Sites pesquisados
BRASIL. Parecer CNE/CEB 11/2000. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/secad/
arquivos/pdf/eja/legislacao/parecer_11_2000.pdf>. Acesso em: 8 fev. 2007.
______. LDB n. 9.394/96 de 20 de dezembro de 1996. Disponível em: <http://www.pge.
sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/dh/volume%20i/cullei9394.htm>. Acesso
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______. Resolução CNE/CEB nº 1, de 5 de julho de 2000. Disponível em: <http://portal.
mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CEB012000.pdf>. Acesso em: 2 set. 2010).
BELLO, J. L. P. Movimento Brasileiro de Alfabetização – Mobral. História da
Educação no Brasil. Período do Regime Militar. Pedagogia em Foco, Vitória, 1993.
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FEITOSA, S. C. S. Método Paulo Freire: princípios e práticas de uma concepção popular
de educação (dissertação de mestrado). Disponível em: <http://www.paulofreire.org/
Biblioteca/metodo.htm>. Acesso em: 15 mar. 2007.
GEAQUINTO, W.S. Cidadania, o direito de ser feliz: iguais e desiguais, até quando?
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ea000245.pdf >.
Acesso em: 15 ago. 2010.
RAMALHO, Z. Cidadão. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/ze-ramalho/
cidadao.html>. Acesso em: 2 set. 2010.
RIBEIRO, V. M. M. (Coord.). Educação de jovens e adultos: proposta curricular para o 1º
segmento do ensino fundamental. Disponível em: <http://www.acaoeducativa.org.br/
downloads/parte1.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2007.
SOARES, L. Brasil alfabetizado em foco. PGM 1 – Alfabetização de Jovens e Adultos: um
pouco da História. Disponível em: <http://www.tvebrasil.com.br/salto/boletins2003/
baf/tetxt1.htm>. Acesso em: 1 abr. 2007.
UNESCO. Declaração mundial sobre educação para todos: satisfação das necessidades
básicas de aprendizagem Jomtien, 1990. 1998. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.
org/images/0008/000862/086291por.pdf>. Acesso em: 17 set. 2010
VIEIRA, D. G. Método Paulo Freire, ou Método Laubach? Disponível
em: <http://www.midiasemmascara.org/artigo.php?sid=1627>. Acesso em: 14 mar.
2007.
1. OBJETIVOS
• Caracterizar a Educação de Jovens e Adultos e compreen-
der suas especificidades.
• Repensar e identificar o papel do educador atuante das
classes de Educação de Jovens e Adultos sobre a prática
pedagógica, especialmente como formador de cidadãos
conscientes de seu papel na sociedade.
• Reconhecer a importância dos aspectos socioafetivos en-
tre professores e alunos da Educação de Jovens e Adultos
na mediação da construção de conhecimentos.
64 © Educação de Jovens e Adultos
2. CONTEÚDOS
• Educação de Jovens e Adultos.
• Educador de Jovens e Adultos.
• Aspectos socioafetivos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 1, fizemos um breve histórico da Educação de
Jovens e Adultos no Brasil e conhecemos as leis que garantem a
oferta dessa educação, além de refletir criticamente sobre a in-
tenção política que a permeia. Para dar continuidade aos nossos
estudos, vamos repensar o papel dos educadores que atuam nes-
sas classes.
Iniciamos o século 21 com esperanças e possibilidades de
um mundo melhor, e a todo momento surgem novas realizações
nas quais os avanços tecnológicos, científicos e culturais aconte-
cem em um pequeno espaço de tempo e em um imenso espaço
geográfico, causando, assim, fortes impactos na sociedade.
© U2 – Caracterização do Alunado da Educação de Jovens e Adultos em Face das Determinantes
Pedagógicas e Sociais 65
tudo que escuta, fazer as contas do que gasta e muitas coisas mais. Ajudada
pelos filhos saiu à procura da escola mais perto de sua casa. E está muito feliz,
dizendo que estudar “é melhor do que podia imaginar (BRASIL, 2006, p. 3-4).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Ao retornar a seus estudos após um período afastada da
escola, a visão de mundo dessa pessoa é bastante diferenciada.
Como protagonistas principais de suas histórias e experiências vi-
vidas, homens e mulheres chegam à escola com valores e crenças
constituídos.
A EJA recebe alunos e alunas:
com traços de vida, origens, idades, vivências profissionais, históri-
cos escolares, ritmos de aprendizagem e estruturas de pensamento
completamente variados. A cada realidade corresponde um tipo de
aluno e não poderia ser de outra forma, são pessoas que vivem no
mundo adulto do trabalho, com responsabilidades sociais e familia-
res, com valores éticos e morais formados a partir da experiência,
do ambiente e da realidade cultural em que estão inseridos (BRA-
SIL, 2006, p. 4).
6. CONHECIMENTOS JÁ ADQUIRIDOS
Os alunos que procuram tardiamente a escola já adquiriram
vários conhecimentos ao longo de sua trajetória de vida. Entre es-
ses conhecimentos, destacamos o "saber sensível" e o "saber co-
tidiano".
Caracterizado pela Filosofia como um saber pré-reflexivo,
o saber sensível refere-se ao saber do corpo, fundamentado na
percepção das coisas e do outro. É um saber que todos nós pos-
suímos, sustentado pelos cinco sentidos, embora na vida moderna
seja pouco valorizado. Tanto para crianças como para jovens e/ou
adultos, esse saber sensível viabiliza ao aluno abrir-se a um conhe-
cimento mais formal e reflexivo.
Os alunos jovens e adultos, pela sua experiência de vida, são plenos
deste saber sensível. A grande maioria deles é especialmente re-
ceptiva às situações de aprendizagem: manifestam encantamento
com os procedimentos, com os saberes novos e com as vivências
proporcionadas pela escola. Essa atitude de maravilhamento com
o conhecimento é extremamente positiva e precisa ser cultivada e
© U2 – Caracterização do Alunado da Educação de Jovens e Adultos em Face das Determinantes
Pedagógicas e Sociais 71
9. ASPECTOS SOCIOAFETIVOS
Para Almeida (1999), a afetividade faz-se também presen-
te quando o professor conhece, escuta e conversa com seus alu-
nos. Esses são os componentes mais presentes nas práticas desses
professores e, provavelmente, a motivação maior que seus alunos
têm para não desistir de estudar.
Compartilhando com o pensamento de Snyders (1993), de
que, para o aluno, o conhecimento é trazido pela afetividade,
Cunha (1994, p. 70) afirma que:
[...] as atitudes e valores dos professores que estabelecem relações
afetivas com os alunos repetem-se e intrincam-se na forma como
tratam o conteúdo e nas habilidades de ensino que desenvolvem.
É por meio da afetividade que têm com seus alunos que es-
ses professores vêm conseguindo avanços na aprendizagem. Cada
aluno traz sua história de cansaço, de tristezas e de decepções. São
histórias vividas na aspereza, na pobreza, nos direitos negados, no
salário que mal dá para sobreviver e, especialmente, na educação
subtraída. Isso se reflete no emocional do professor, que se preo-
cupa em saber por que seus alunos faltaram, em como foi o fim de
semana etc.
Essa relação cria vínculos de amizade e a certeza de que os
alunos podem contar com uma palavra amiga, com um gesto de
© U2 – Caracterização do Alunado da Educação de Jovens e Adultos em Face das Determinantes
Pedagógicas e Sociais 79
Texto 1
“... saber o que está escrito num livro, numa placa, num bilhete”, 62 anos, mulher.
“...poder escrever e ler uma carta. O que está escrito na nota fiscal que eu levo
da loja”, 27 anos, homem.
“... passar no teste para um emprego melhor”, 27 anos, homem.
A escola aparece como um direito roubado nos tempos do esconde-esconde e
hoje resgatado com o passo lento do reumatismo, com as noites sem namoro e
com a ausência na mesa do jantar. Os homens voltaram mais cedo e as mulhe-
res primeiro formaram seus filhos. Nas falas, aparece a própria sociedade na sua
crueza e a esperança apesar e ainda um aleijão não saber ler e escrever, como
uma dor, uma deformidade” (BRASIL, 2010).
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O Texto 2 propõe a diversidade de origens do alunado da EJA.
Texto 2
e levava ao forno de barro, que havia no fundo do quintal. Para assar. Eu me lem-
bro que ela tirava aquela assadeira do forno e regava o bolo com leite de coco. O
bolo ficava com uma casquinha dourada! Comíamos as fatias de bolo com café.”
“Se minha mãe ou meu pai convidassem alguém importante para almoçar na mi-
nha casa, era preciso matar um peru para satisfazer os convidados. Além do peru
era preciso fazer um frango ou uma galinha caipira para fazer galinha cabidela,
que é o nome do prato feito lá em Pernambuco.”
“A galinha, a gente pegava na hora, viva, e cortava o pescoço dela e aparava o
sangue em uma vasilha e reservava. Enquanto isso, preparava a galinha com
vários tipos de tempero. De preferência, coentro, sal, cebola e vinagre. Depois
batia o sangue da galinha num liqüidificador e colocava por cima da galinha já na
panela e misturava até o caldo ficar escuro. Feito isso, era só tampar a panela
e esperar a galinha cozinhar. Depois, servir com feijão, arroz e salada. De pre-
ferência com tomatinhos pequenos, como os que a gente plantava e colhia na
hora que ia comer.”
“Acho que a professora conseguiu o que queria, deixei para trás montes de
exemplos, ninguém resiste à lembrança de um lambari sequinho passado na
farinha ou fubá e frito na hora” (BRASIL, 2010).
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O Texto 3 aborda o fracasso escolar e como o papel do(a)
professor(a) de EJA é determinante para evitar que esse fracasso
ocorra novamente.
Texto 3
A baixa auto-estima
Uma característica freqüente do(a) aluno(a) é sua baixa autoestima, muitas vezes
reforçada pelas situações de fracasso escolar. A sua eventual passagem pela es-
cola, muitas vezes, foi marcada pela exclusão e/ou pelo insucesso escolar. Com
um desempenho pedagógico anterior comprometido, esse aluno volta à sala de
Com toda essa experiência, o meu comportamento, hoje vejo, só piorava. Pois
eu fingia não estar nem aí, demonstrando isso com palavras e atitudes. Achava
que daquela forma as pessoas não mais ririam de mim.”
As representações que o(a) aluno(a) faz da escola e de seu desempenho na cul-
tura escolar são construídas não somente dentro da própria escola, mas também
no âmbito da família e das relações sociais, através de expectativas próprias e
de expectativas de outros, pais, colegas, amigos, professores que nele são de-
positadas. Muitas vezes, os alunos com dificuldades são preconceituosamente
tachados pelos professores, pais e colegas de “burros”, “preguiçosos”, “deficien-
tes”, “lentos”. Estas palavras são corrosivas e imprimem cicatrizes profundas,
causando efeitos devastadores na autoestima do sujeito.
Sabemos que o sucesso escolar produz auto-estima e um grande efeito de se-
gurança no(a) aluno(a), enquanto o fracasso causa grandes estragos na relação
consigo mesmo. O comportamento de indiferença, que Luciane diz ter adotado
quando criança, muitas vezes, perdura no aluno por mais tempo, até a sua volta
à escola, derivando também em atitudes de indisciplina e agressividade. Desse
modo, as situações de fracasso escolar produzem marcas que afetam profunda-
mente a identidade e ferem a auto-imagem do(a) aluno(a) jovem e adulto.
Nas salas de aula de EJA, estas marcas se evidenciam, de um lado, por atitu-
des de extrema timidez e, por outro, por atitudes de irreverência e transgressão.
Esses alunos e alunas demonstram vergonha em perguntar ou em responder
perguntas, nervosismo exacerbado nas situações de avaliação, ou então se
mostram agitados e indisciplinados. Muitos não conseguem nem olhar nos olhos
do professor e da professora.
O papel do(a) professor(a) de EJA é determinante para evitar situações de novo
fracasso escolar. Um caminho seguro para diminuir esses sentimentos de inse-
gurança é valorizar os saberes que os alunos e alunas trazem para a sala de
aula. O reconhecimento da existência de uma sabedoria no sujeito, proveniente
de sua experiência de vida, de sua bagagem cultural, de suas habilidades pro-
fissionais, certamente, contribui para que ele resgate uma auto-imagem positiva,
ampliando sua auto-estima e fortalecendo sua autoconfiança.
O bom acolhimento e a valorização do aluno, pelo(a) professor(a) de jovens e
adultos, possibilitam a abertura de um canal de aprendizagem com maiores ga-
rantias de êxito, porque parte dos conhecimentos prévios dos educandos para
promover conhecimentos novos, porque fomenta o encontro dos saberes da vida
vivida com os saberes escolares (BRASIL, 2010).
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O Texto 4 revela como o tema trabalho tem lugar especial na EJA,
pois os alunos, em sua maioria, são trabalhadores e, muitas vezes, a
experiência do trabalho foi iniciada precocemente em suas vidas.
Texto 4
A marca do trabalho–––––––––––––––––––––––––––––––––––
As alunas e alunos da EJA, em sua maioria, são trabalhadores e, muitas vezes,
a experiência com o trabalho começou em suas vidas muito cedo. Nas cida-
des, seus pais saíam para trabalhar e muitos deles já eram responsáveis, ainda
crianças, pelo cuidado da casa e dos irmãos mais novos. Outras vezes, acom-
panhavam seus pais ao trabalho, realizando pequenas tarefas para auxiliá-los.
É comum, ainda, que, nos centros urbanos, estes alunos tenham realizado um
sem-número de atividades cuja renda completava os ganhos da família: guardar
carros, distribuir panfletos, auxiliar em serviços na construção civil, fazer entre-
gas, arrematar costuras, cuidar de crianças etc.
Nas regiões rurais, a participação no mundo do trabalho começa ainda mais
cedo: cuidar da terra, das plantações ou da criação de animais; auxiliar nos ser-
viços caseiros. Muitas vezes, acompanhando os pais e irmãos mais velhos, é
comum encontrar um grande número de crianças e jovens já mergulhados no
trabalho. Nessas regiões, os horários, os períodos de colheita, de chuva e de
seca marcam a vida cotidiana das pessoas e isto, aliado às grandes distâncias,
configura condição bastante precária para a escolarização.
Se cada região de nosso país tem suas particularidades em relação às demais,
todas as salas de EJA se unificam em torno deste fato: a grande maioria dos
alunos são trabalhadores que chegam para as aulas após um dia intenso de tra-
balho. É claro que estas mesmas salas apresentam um número significativo de
desempregados e de trabalhadores temporários ou informais.
Mas, sempre que pensamos em EJA, temos que considerar que nossa atividade
conta com mulheres e homens trabalhadores. Vale notar, ainda, que em todas as
regiões do país, o trabalho é apontado pelos alunos de EJA tanto como motivo
para terem deixado a escola, como razão para voltarem a ela.
Sem dúvida alguma, o tema trabalho tem um lugar especial na EJA e deve impor-
tar ao trabalho dos professores, das professoras e da escola.
Entretanto, é preciso lembrar que o trabalho experimentado pelas alunas e alu-
nos não passa nem de longe pelo trabalho como atividade fundamental pela qual
o ser humano se humaniza e se aperfeiçoa. O trabalho que conhecem é na maior
parte das vezes repetitivo, cansativo e pouco engrandecedor.
Apesar de tudo, vale pensar, por exemplo, na quantidade de saberes que cada
um destes alunos-trabalhadores possui em função das atividades que realizam
ou realizaram. Saberes, certamente, não-escolares, mas saberes. Saberes a
partir dos quais novos conhecimentos poderão ser construídos.
Uma tarefa fundamental para o(a) professor(a) é conhecer que saberes e habili-
dades os alunos e alunas desenvolveram em função do seu trabalho.
[...]O mundo do trabalho se caracteriza hoje pela diversidade de atividades e
vínculos. Nossos alunos, das classes de EJA, são muitas vezes pessoas que ad-
ministram sua sobrevivência econômica: fazem “bicos”, são autônomos, circulam
por diferentes profissões como auxiliares ou ajudantes de pintura, construção,
serviços domésticos, venda ambulante etc. Possuir um certificado escolar ou
profissionalizante não implica em garantia de trabalho, haja vista a quantidade
de profissionais que formados numa área atuam em outra.
Pode ser interessante pensar sobre as habilidades que a escola pode ajudar a
desenvolver e que contribuam para uma atuação mais eficiente nesse universo
diversificado e competitivo que é o do trabalho. Não queremos dizer com isto que
a escola deva tomar para si a responsabilidade da preparação do trabalhador,
nem deixar a responsabilidade da conquista de um “emprego melhor” nas mãos
do(a) aluno(a). Como já sabemos, esta é uma responsabilidade social mais am-
pla e mais próxima das políticas governamentais e empresariais.
© U2 – Caracterização do Alunado da Educação de Jovens e Adultos em Face das Determinantes
Pedagógicas e Sociais 87
4) Qual seria a motivação principal que leva os alunos jovens e adultos a querer
retornar à escola?
12. CONSIDERAÇÕES
Ao longo desta unidade, pudemos perceber que a cada dia está
mais visível a dificuldade de os jovens e adultos ingressarem e/ou per-
manecerem no campo de trabalho e, especialmente, acompanharem
as bases tecnológicas no mundo globalizado em que vivemos.
Por isso, cada vez mais, é importante incentivar jovens e
adultos a voltar a estudar. Na escola, eles vão perceber e encon-
trar um ambiente prazeroso, que viabilizará a (re)construção de
conhecimentos.
Trata-se de um processo cauteloso, considerando que, além da
necessidade de estimulação, há a necessidade de oferecer aos alunos
participantes da EJA atividades que os levem à aquisição do saber.
Podemos perceber tristemente que, em pleno século 21, a
alfabetização ainda não é uma apropriação de todo cidadão, o que
exclui grande massa da população brasileira de ter acesso ao mun-
do da leitura e da escrita.
13. E-REFERÊNCIA
BRASIL. Trabalhando com a educação de jovens e adultos: alunas e alunos da EJA.
Disponível em: <http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me4549.pdf>.
Acesso em: 20 maio 2010.
CARLOS, R. É preciso saber viver. Disponível em: <http://www.vagalume.com.br/roberto-
carlos/e-preciso-saber-viver.html >. Acesso em: 25 ago. 2010.
RIBEIRO, V. M. M. Educação de jovens e adultos: proposta curricular para o 1º segmento
de Ensino Fundamental. São Paulo: Ação Educativa; Brasília: MEC, 1997. Disponível em:
<http://www.acaoeducativa.org.br/downloads/parte1.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2007.
TRIGUEIRO, F. 40% dos jovens com 16 anos não concluíram o ensino fundamental.
Disponível em: <http://www.educacionista.org.br/jornal/index.php?option=com_conten
t&task=view&id=4721&Itemid=28>. Acesso em: 17 set. 2010.
1. OBJETIVOS
• Apontar alguns procedimentos didáticos necessários à
Educação de Jovens e Adultos (EJA).
• Conhecer e caracterizar o Método Paulo Freire de Alfabe-
tização e Educação de Jovens e Adultos.
• Demonstrar o uso da cartilha na EJA.
2. CONTEÚDOS
• Um recorte sobre o Método Paulo Freire de Alfabetização
e Educação de Jovens e Adultos (EJA).
92 © Educação de Jovens e Adultos
Paulo Freire
Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 1921, em Reci-
fe, numa família de classe média. Com o agravamen-
to da crise econômica mundial iniciada em 1929 e a
morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou
a enfrentar dificuldades econômicas. Formou-se em
Direito, mas não seguiu carreira, encaminhando a vida
profissional para o magistério. Suas ideias pedagógi-
cas se formaram da observação da cultura dos alunos
– em particular, o uso da linguagem – e do papel elitis-
ta da escola. Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um
programa que alfabetizou 300 pessoas em um mês.
No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Brasília, onde coordenava o
Plano Nacional de Alfabetização do presidente João Goulart. Freire passou 70
dias na prisão antes de se exilar. Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais
conhecido, Pedagogia do oprimido. Também deu aulas nos Estados Unidos e na
Suíça e organizou planos de alfabetização em países africanos. Com a anistia,
em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se à vida universitária. Filiou-se ao Partido
dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretário municipal de Educação de
São Paulo. Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Foi nomeado doutor
honoris causa de 28 universidades em vários países e teve obras traduzidas
em mais de 20 idiomas. Morreu em 1997, de enfarte (imagem disponível em:
<http://revistaescola.abril.com.br/img/historia/022-paulo-freire.jpg>. Acesso em:
15 jul. 2010. Texto disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/apren-
dizagem/paulo-freire-300776.shtm>. Acesso em: 15 jul. 2010).
© U3 – Procedimentos Didáticos na Ação Docente para a Educação de Jovens e Adultos 93
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na Unidade 2, compreendemos a necessidade de repensar
o papel do educador na Educação de Jovens e Adultos, a fim de
formar cidadãos mais conscientes de seu papel na sociedade. Para
isso, o aluno tem de ser motivado a aprender, pois o adulto não é
obrigado a estudar. Vimos, ainda, que a relação socioafetiva entre
professores e alunos é importante na mediação da construção de
conhecimentos.
Nesta unidade, nosso objetivo é pontuar alguns procedi-
mentos didáticos, algumas metodologias e estratégias de ensino
utilizadas na maioria dos programas de educação oferecidos para
jovens e adultos no país.
Para iniciar, vamos definir o que é didática e procedimentos
didáticos.
A palavra “didática” é de origem grega, pode ser entendi-
da como a arte ou técnica de ensinar, caracterizando-se como um
processo de instruir de maneira sistemática e morosa ao longo dos
tempos. Podemos dizer que são as estratégias de ensino e apren-
dizagem, maneiras de transformar teorias em prática.
Método Laubach
A metodologia de Frank Charles Laubach apresenta os se-
guintes princípios:
1. todos são capazes de aprender, basta-lhes oportunidade e incen-
tivo;
2. a educação de jovens e adultos é construída a partir de conheci-
mentos já existentes e cabe ao alfabetizador ajudá-los a construir
novos conhecimentos com base nestes;
dos professores, tais como o de que ensinar exige rigorosidade metódica, exige
pesquisa, exige respeito aos saberes do educando, exige criticidade, exige risco,
exige reflexão crítica sobre a prática, exige pensar certo, exige liberdade e auto-
ridade, exige humildade e amorosidade pelo outro.
Não poderia terminar este artigo sem chamar a atenção do leitor para um aspec-
to interessante no percurso de Freire enquanto educador nacional e internacional
que foi: o fato de ter mantido até os seus últimos dias de vida, uma coerência
profunda entre o que dizia e o que fazia, uma humildade que só os grandes-
-pequenos homens possuem, uma profunda amorosidade pela vida e por tudo
que é humano, uma capacidade intensa e arraigada de se indignar com injustiças
ou qualquer falta de respeito ao ser humano.
Na verdade, acredito que o Freire foi um grande precursor no que diz respeito
à sua convicção de que é através da cultura que se pode gerar transformações
no processo social de forma geral, e não só da educação. Ele já anunciava esta
idéia há décadas, e só agora estamos vendo a cultura surgir como instrumento
de transformação da sociedade (FREIRE-DOWBOR, 2010).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O método em si
Vamos conhecer, a seguir, o método proposto por Paulo Frei-
re, o qual é composto por quatro partes:
1) A primeira inicia-se com um levantamento sobre o uni-
verso vocabular dos alunos, pela coleta das palavras ge-
radoras. Por meio de conversas informais, o professor
estuda com atenção os vocábulos mais usados pelos
alunos e pela sua comunidade. A partir disso, selecio-
na as palavras que servirão de base para as lições – a
quantidade de palavras geradoras deve ficar entre 18 e
23 palavras. Depois de escolhidas, essas palavras devem
ser apresentadas à classe em cartazes com figuras para
que, em grupo, os alunos iniciem uma discussão para
significá-las segundo a realidade deles.
2) A segunda caracteriza o estudo de cada palavra identifi-
cada por meio da silabação, ou seja, da divisão silábica
Sobre as cartilhas
O uso de cartilhas fundamentou durante muitos anos os tra-
balhos de alfabetização e educação de jovens e adultos em todo o
país. Contudo, muitas discussões foram levantadas sobre o assun-
to. Diante dessa situação, Paulo Freire já defendia a necessidade
de uma alfabetização que partisse dos referenciais dos alunos, de
dentro para fora, somente mediada pelo educador.
Segundo Freire (1979, p. 72):
8. TEXTO COMPLEMENTAR
Para complementar seus estudos acerca do assunto aborda-
do nesta unidade, é importante que você se atente à leitura do
É entendida, também, como instância de coação exterior, não raras vezes bus-
cando, na consciência coletiva, a perspectiva legitimadora das relações sociais,
em detrimento da consciência individual. E é por essa razão que a autoridade
é um conceito que em muitos momentos históricos esteve ligado à dominação
e ao exercício do poder, óia nos mais diversos motivos de submissão, desde a
obediência a hábitos inconscientes até àqueles que se configuram como fins
racionais. É dessa forma que existe a autoridade que se estabelece baseada
no caráter racional e que se fundamenta na crença da legalidade de padrões e
regras normativas postas para os indivíduos. É a autoridade legal propriamente
dita. Há, ainda, a autoridade que tem origem na tradição, isto é, que se baseia
na crença cotidiana das tradições e na tese da legitimidade do status quo, tanto
em relação ao modelo social em que vivem os indivíduos quanto em relação ao
exercício da própria autoridade.
A questão coloca-se, também, para além da necessidade de legitimação da auto-
ridade, na justificação ou da sustentação da mesma, ou seja, autoridade é poder,
é probabilidade de alguém impor a própria vontade dentro de uma relação políti-
ca. Por isso é que, com freqüência, autoridade representa dominação, imposição
de normas, limites que se impõem etc., o que, historicamente, a partir da instau-
ração da racionalidade moderna, especialmente, levou intelectuais pensadores
a questionar a legitimidade da organização social desde “uma autoridade”, seja
qual for a sua origem.
Cremos ter discutido até aqui alguns detalhes acerca da autoridade política e
pedagógica: sua origem, sua legitimidade e sua interferência e realização de in-
tencionalidades educativas. Guzzoni (1995, p. 20) afirma que é possível, a partir
da reflexão sobre a autoridade na política, iluminar a discussão em torno do que
se passa na área pedagógica: como se constitui, quais os fatores que a legiti-
mam, aliás, questões essenciais ao tema proposto neste trabalho. Em relação à
presença da autoridade na educação, a autora, citando Laberthonnière, afirma:
“A autoridade é tida como fundamental na aprendizagem, podendo ser concebida
de modos diversos: 1) a autoridade que escraviza, que se dá numa relação de
coerção e violência e que tem como conseqüente correspondência uma obe-
diência passiva e servil”. Neste caso, para a autora, “não se pode falar legiti-
mamente em autoridade, e, sim, em autoritarismo; 2) a autoridade libertadora
que, ao inverso, direciona e orienta o jovem, as para um fim distinto do primeiro
caso, ou seja, busca conferir-lhe autonomia e não dependência ou submissão da
ação alvos da autoridade escravizante”. Confirmando sua opção Laberthonnière
afirma: “a obediência libertadora, bem como a autoridade liberal, são sempre
relacionais, pois o poder do educador é reconhecido pelo educando como legí-
timo, implicando confiança e aceitação”, pois “visa à autonomia de seus alunos”
(GUZZONI, 1995, p. 21).
Considerando a fala de Guzzoni, a autoridade do educador/da educadora é legí-
tima e necessária ao se constituir em compromisso com a construção da autono-
mia do educando/da educanda. Para a autora, o conhecimento é essencial para
que a autonomia se constitua, pois na medida em que os educandos apropriam-
-se do conhecimento e da cultura, vão adquirindo capacidades para expor critica-
mente o mundo já estabelecido e identificar possibilidades de organização social
diferentes da vigente (idem, p. 22). Em tal perspectiva, há, como afirma Freire,
um desafio à curiosidade epistemológica do educando, permitindo e desafiando
a pesquisa, a busca de informações e, mais ainda, a crítica séria e consistente
aos modelos culturais já produzidos. Atitude contrária do educador/a educadora
não traria outro resultado senão a reprodução da hierarquia social, ou seja, se o