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1.1.

As Primeiras práticas educativas e o desenvolvimento do fenómeno educativo

As primeiras práticas educativas pertenceram às comunidades primitivas. Este facto vem


confirmar a tese segundo a qual a Educação é tão velha como a própria humanidade. O
fenómeno educativo é um facto inerente às comunidades humanas que sempre tiveram a
preocupação de formar física, moral e intelectualmente cada membro da comunidade para
enfrentar as dificuldades da vida.
A luta pela sobrevivência e pelo domínio da natureza levou os primeiros homens a preocupar-se
com a preparação das novas gerações.
Por exemplo, na comunidade primitiva, embora não tivesse registado um desenvolvimento
assinalável, as actividades até então praticadas para garantir a sobrevivência da humanidade,
nomeadamente a caça e a recolecção, tinham que ser ensinadas. Essas actividades e a forma de
organização da vida constituíam o património sociocultural da época.
A educação era, assim, uma forma de iniciação das gerações mais novas na cultura de cada grupo
ou pequena comunidade. Educava-se para dar resposta às exigências imediatas impostas pela
natureza.

Quem ensinava ou educava?


Nas primeiras comunidades esse processo foi praticamente natural e espontâneo. Todos os
membros da velha geração educavam a todos os membros da jovem geração. Fomentava-se uma
responsabilidade colectiva sobre o desenvolvimento, comportamento e conduta dos mais novos.

Que rumos tomou a prática educativa depois da Comunidade


Primitiva?
O fenómeno educativo tem acompanhado o desenvolvimento da humanidade em diferentes
formações socioeconómicas. O surgimento das actividades, tais como, pastorícia, agricultura,
fabrico de instrumentos de Educação e Sociedade 19 trabalho (machados, enxadas, catanas),
ampliou o conteúdo de aprendizagem da jovem geração. Essas transformações trouxeram
repercussões no fenómeno educativo: mudaram não só as formas de educar, mas também os
objectivos, os conteúdos. Por exemplo, alguns membros da sociedade dedicavam-se ao fabrico
de instrumentos de trabalho (os artesãos), e tinham seus aprendizes, outros membros dedicavam-
se à prática da agricultura e tinham, por seu turno, aprendizes que se iniciavam nessa actividade.
Com as transformações acabadas de exemplificar, iniciava-se um processo complexo,
planificado, sistemático do processo educativo.

1.2. O Conceito, significado e âmbito de Educação


Iniciar uma reflexão sobre o conceito de Educação representa um desafio. Isso é frequente hoje
em quase todos os domínios de conhecimento.
A pedagogia progrediu como ciência. A categoria Educação, assim como as outras categorias da
pedagogia, tais como instrução, ensino e formação da personalidade também conheceram um
desenvolvimento assinalável
(v: Unidade 3).
Neste momento não entraremos na análise de todas as categorias da pedagogia. Reservamos este
espaço para discutir apenas uma, a educação.
No esforço de sintetizar o significado de Educação, podemos tomar como base três termos chave,
nomeadamente como actividade, processo, resultado.

• Como actividade, a Educação consiste no exercício de influência da velha geração sobre a


jovem geração, por exemplo.
• Como processo, a Educação é realizada tendo em conta que se trata de uma actividade
duradoura: obedece a etapas ou fases sucessivas, envolve várias instituições sociais. Por
exemplo, a frequência de membros da família na creche, na escola, é prova disso.
• Como resultado, a Educação tem de garantir o bem-estar do homem no seu contexto: grupo ou
comunidade em que vive. A Educação como resultado reflecte-se na capacidade de integração do
homem no seu contexto. Isso significa que a pessoa atinge um nível de formação desejado, em
que, quando se procede a uma avaliação da personalidade, se aprecia um conjunto de qualidades
formadas (v: esferas da personalidade, Unidade 2). Sabe-se que, em cada etapa de
desenvolvimento, a pessoa revela determinados sinais de maturidade biológica, psicológica e
intelectual. Por outras palavras, considera-se:
(a) O conjunto e nível de conhecimentos que permitem a cada pessoa lidar com o mundo,
interpretá-lo e vivê-lo; (b) o conjunto de atitudes, crenças que permitem a pessoa relacionar-se
com a natureza, pessoas, grupos sociais; (c) o conjunto de qualidades, capacidades, habilidades
que facilitam o processo de integração.
Resumindo, a educação
• É um processo, actividade, prática, cuja essência é garantir que as crianças, adolescentes e
jovens se apropriem de saberes acumulados pela humanidade numa determinada fase de
desenvolvimento sociocultural, técnico, científico.
• Consiste no conjunto de acções de influências e de sugestões, organizadas e exercidas
progressiva e metodicamente pela velha geração sobre indivíduos imaturos e inexperientes, no
sentido de desenvolver as suas potencialidades, faculdades, qualidades individuais para o bem-
estar tanto individual como colectivo social.
Neste ensaio das definições pode-se especificamente compreender que na segunda se trata de
uma educação formal que acontece em instituições escolares. Deve-se sublinhar aqui o carácter
formal, por causa do nível de organização, da planificação dos métodos e dos aspectos da
personalidade a formar, por exemplo, as qualidades, as faculdades, etc. Portanto, as acções
exercidas têm um carácter direccional.
Nesse esforço de direccionamento da Educação, têm-se os seguintes exemplos de acções
fundamentais e as respectivas características:
• A primeira acção é garantir o aproveitamento das potencialidades individuais do sujeito que é
educado. Partindo da etimologia de educere (=educar) como tirar para fora, a acção exercida
tem de estimular o desenvolvimento das faculdades humanas (latentes).
Quer dizer, põe-se de lado a visão segundo a qual a criança é uma tábua rasa. Essa visão chama a
atenção para nunca considerar a educação como um processo passivo, ou seja, como
“modelação”.
• A segunda acção consiste em corrigir ou anular os factores prejudiciais.
Torna-se evidente o sentido de educação e educabilidade do ser humano, isto é, a educação reduz
o grau de reacções inatas sob influência de instintos, por exemplo, a agressividade.
A terceira acção é ajustar progressiva e dinamicamente o indivíduo à vida social da sua época e
do contexto sociocultural. Isto realça o facto de que cada um é um ser humano situado.
• A quarta acção deve ter em vista uma meta. Trata-se do sentido de orientação da acção
educativa tendo em conta os objectivos
Quando sistematizámos o conceito de educação, fizemos referência à transmissão de saberes
acumulados pela humanidade em determinada época do desenvolvimento sociocultural, técnico,
científico. Cada época tem as suas exigências que são tomadas em consideração para a formação
da personalidade. Várias épocas conhecidas, por exemplo, a época primitiva, a antiguidade, a
época medieval, a moderna e a contemporânea, cada uma impunham e impõe o modelo de
homem. Portanto, as características que a educação assumiu/assume foram/vão variando
conforme a época. Por outras palavras, os objectivos de educação foram/vão mudando de época
para época.
• O homem primitivo era educado para uma vida colectiva numa sociedade sem classes. Ainda,
uma sociedade com um nível de desenvolvimento bastante rudimentar.
• O homem da antiguidade, em função da classe social, recebia uma educação diferenciada. Uns
eram educados para preservar a condição de classe dominante, outros para a condição de classe
dominada. Aos primeiros era assegurada uma educação intelectual, enquanto aos outros é uma
educação virada para o trabalho manual.
O homem da época medieval recebia uma formação com um objectivo essencialmente religioso.
Significava perseguir objectivos que modelavam uma personalidade servil, com uma estrutura
espiritual forte. Para garantir a formação de pessoas com essa característica, a educação tinha que
ser caracteristicamente dogmática.
• O homem da época moderna era educado para uma sociedade em que se anunciava a
laicização, portanto, abriam-se caminhos para a emancipação da mentalidade, ou seja, do
pensamento livre.
• O homem da época contemporânea é educado para um mundo em que se propala a necessidade
de respeitar os direitos humanos, os valores entre os quais a convivência entre grupos, povos. A
educação tem o desafio de formar o homem capaz de viver em harmonia social.

1.3. Garantia da realização do fenómeno educativo


Uma das particularidades da sociedade humana que devemos mencionar é a sua estruturação.
Essa característica resulta na criação de instituições sociais como sinal de presença de uma forte
organização social.
Isso representa, ao mesmo tempo, a distribuição de funções e papéis sociais.
A distribuição de funções sociais não deve ser vista como acções, influências isoladas de cada
instituição social, mas como influências interdependentes, de modo a garantir a funcionalidade
do sistema social.
Apresentamos-lhe aqui algumas instituições sociais cujas funções concorrem para a efectivação
do fenómeno educativo. Já que vínhamos falando de influências, devemos destacar e distinguir
dois tipos de influências: são planificadas e intencionais como as que são exercidas pela escola,
outras são espontâneas como as que são exercidas pelo meio social.
Por que se distinguem as influências desta maneira?
Partimos do carácter planificado da educação, incluindo o seu carácter sistemático. Está implícita
a cientificidade do fenómeno educativo.
Sendo assim, devemos compreender o seguinte:
• A educação é realizada tomando em conta o desenvolvimento científico alcançado em outros
domínios de conhecimento, nomeadamente: psicologia, biologia, sociologia, antropologia,
filosofia, economia, didáctica. A síntese do saber que resulta dessas diferentes áreas é aplicada à
prática educativa;
A educação como processo é realizada e avaliada. Significa que em cada situação se avaliam os
factores que concorrem para a sua efectivação, propõem-se medidas correctivas, recomenda-se a
continuidade das experiências bem sucedidas. Estamos a falar da pertinência de realizar uma
apreciação crítica (ou seja análise profunda) desse processo.

Quais são, então, as instituições sociais que garantem a efectivação da educação?


Destacamos, entre outras a família, a vizinhança, a creche e o jardim-de-infância, a escola, a
empresa, as organizações sociais, os meios de comunicação. É neste conjunto de instituições que
se realizam as relações sociais ou humanas, relações que garantem a nossa formação, o nosso
desenvolvimento contínuo ao longo da vida.
Chamamos instituições porque se regem pelos regulamentos, princípios, leis, normas, que
servem de referência para desenvolvimento de determinadas condutas (maneiras de ser e agir)
dos seus membros.
Também garantem a reprodução e continuidade dessas normas. A função dessas instituições é
garantir a socialização dos homens. (Este tema de socialização será analisado na lição 2).

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