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© Unesco, 1978
© para a tradução portuguesa. Livros Horizonte, Lda., 1978
Livros Horizonte
R u a das Chagas, 17, l.°-Dto. — Lisboa — Portugal
Impresso em Portugal
revista trimestral de educação Unesco
Posições / Controvérsias
Por que não é a investigação pedagógica mais útil?
Henry M. Levin 163
Tendências e casos
A educação recorrente nos países da Europa Ocidental
Dennis B. P. Kallen 233
O projecto húngaro para a escola do futuro Rozsa Ret 242
A planificação da educação
antigamente e agora
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George Psacharopoulos
A Idade da Pedra
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A planificação da educação antigamente e agora
A Idade Média
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George Psaeharopoulos
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A planificação da educação antigamente e agora
A grande ilusão
1. Para uma série dte modelos deste tîpo, ver Modèles mathématiques pour
la planification de l'enseignement, O C D E , 1969, e Modèles économé
ques de l'enseignement, O C D E , 1965, assim coroo a obra de C. A . M O S E R
e P. REDFERN, «Education and manpower: some current research»,
Models for decision, proceedings of a conference on computable mod
in decision making, English Universities Press, 1965.
2. TINBERGEN e H . C. Bos, Vn modèle de planification des besoms d'ensei-
gnement en fonction du développement économique, O C D E , 1965<
3. Ver R . STONE, Comptabilité démographique et construction de modèle
O C D E , 197.1.
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George Psacharopoulos
O Renascimento
A situação actual
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A planificação d a educação antigamente e agora
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George Psacharöpoulos
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Malcolm S. Adiseshiah
Reforma da educação
e cooperação internacional
nos anos oitenta
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Malcolm S. Adiseshiah
AJDCANOE DA REFORMA
A o realizar planos para o III Decénio do Desenvolvimento,
é necessário que este não seja concebido como crescimento
unidimensional do rendimento, do produto bruto ou do produto
líquido, ou qualquer outra coisa, m a s como u m processo plu^
ridimensional no qual entram e m jogo u m meio natural, relações
sociais, u m a educação, u m consumo e u m bem-estar que res-
ponde às necessidades e, e m primeiro lugar, às necessidades
essenciais da maioria dos miseráveis (ou seja, hoje e m dia,
1200 milhos de homens, mulheres e crianças). Esta tomada
de consciência deve acompanhar-se de u m a reestruturação e
de u m a renovação da educação1. Exclui-se que esta se apoie,
como nos anos sessenta e setenta, unicamente no sistema
escolar e universitário. Basta considerar a dimensão do desen-
volvimento, tal como a acabamos de definir, para ver a que
ponto o que a escola e a Universidade, m e s m o reformadas,
podem fazer de melhor, está longe de problemas como a con-
servação da biosfera, a produção, a distribuição e a utilização
dos bens de grande consumo e da realização do bem-estar
pessoal e social que assenta na participação e nas decisões
individuais. E m vez de assentar exclusivamente, do início até
ao fim, na escola e na Universidade (calculou-se que, para
escolarizar, até ao ano 2000, os 60 milhões de crianças dos
6 aos 14 anos, a índia deveria construir todos os dez minutos
u m a escola com 250 lugares2, a educação será concebida C o m o
u m a função permanente de todo o meio social. Ela não terá
por domínio e por finalidade apenas o sucesso e o enriqueci-
mento pessoais, m a s também, ou até mais, o progresso da
sociedade no seu conjunto; o que significa que, e m princípio,
a educação seria u m a obrigação permanente de toda a socie-
dade e m relação a cada u m dos seus membros, encarando
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Reforma da educação e cooperação internacional
noa anos oitenta
FINALIDADE DA REFORMA
N o s anos oitenta, u m dos principais objectivos d a reforma
da educação consistirá e m lhe conferir u m a estrutura tal que
se possam começar a corrigir as desigualdades que, no plano
nacional e internacional, caracterizaram os sistemas de edu-
cação dos anos sessenta e setenta, o que vai de encontro
ao desejo da Organização das Nações Unidas que pretende
eliminar, até meados do século xxi, a desigualdade de desenvol-
vimento — mais u m a vez, tanto no plano nacional c o m o inter-
nacional — e contribuirá para a aeção a realizar 1. O impor-
tante estudo, dirigido por Léontief, representa u m avanço real
na análise e reflexão sobre o desenvolvimento; propõe diversos
argumentos adaptados aos objectivos enunciados na Declaração
referente à instauração de u m a nova ordem económica inter-
nacional, segundo os quais a diferença de rendimentos entre
países industrializados e países e m desenvolvimento, que era
de 12 para 1 e m 1970, será apenas de 7 para 1 n o ano 2000 2 .
O modelo mais frequentemente apontado e no qual se baseia
esta conclusão compreende 45 sectores de actividade económica,
8 tipos de poluentes consideráveis e 5 tipos de actividades de
redução da poluição e, de acordo c o m o mandato de que pre-
cede, o estudo procura os meios de remediar a desigualdade
dos rendimentos no plano internacional. O resultado é obtido,
segundo este estudo, por inversão dos dados de desigualdade
no interior de cada país. Assim, no sector «alimentação e agri-
cultura» do modelo, são integradas a execução de «reformas
agrárias e outras transformações sociais e institucionais» e a
aplicação da enorme mão-de-obra subutilizada, condição a preen-
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Malcolm S . Adiseshiah
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Reforma da educação e cooperação internacional
nos anos oitenta
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Malcolm S. Adiseshiah
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Reforma da educação e cooperação internacional
nos anos oitenta
Cooperação internacional
para a reforma da educação
DISSOCIAÇÃO
A cooperação internacional deverá, à partida, prosseguir o pro-
cesso de dissociação nos contactos, análises e acções comuns
interpaíses iniciada nas conferências regionais para a educação
nos anos sessenta conducente à constituição de unidades e de
subunidades mais homogéneas. A este respeito, o modelo da
Organização das Nações Unidas poderia servir de inspiração.
N a base do rendimento, este modelo subdivide a economia
mundial e m quinze regiões e a economia de cada região é ven-
tilada e m quarenta e cinco sectores de actividade. Regiões e
sectores são, e m seguida, reunidos por u m mecanismo complexo
de ligações n u m modelo de análise global. D o ponto de vista
da reforma da educação, as cinco regiões tradicionalmente con-
sideradas pela U N E S C O merecem ser subdivididas, desta vez
e m função do nível de reestruturação, de renovação e de ino-
vação atingido pela educação e m cada país. Se aplicássemos
este critério à região da Ãsia, por exemplo, seria tentado a
subdividir esta região e m cinco subregiões e a promover, no
interior de cada u m a delas, os contactos, a elaboração de planos
e programas e a execução de projectos comuns.
ENQUADRAMENTO
Quer tenha por objectivo o aumento da produtividade interna
ou a renovação e a reestruturação exigidas pela teoria da
educação permanente, ou ainda a redução das desigualdades
no plano internacional e no plano nacional, ou pretenda trans-
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Malcolm S . Adiseshiah
A COOPERAÇÃO
ENTOE OS PAISElS DO TERCEIRO M U N D O
U m dos elos que falta no desenvolvimento internacional e no
movimento mundial a favor da educação é a ausência quase
total de cooperação entre os países do Terceiro M u n d o . Até
agora, esta cooperação reduziu-se a belas frases e a resolu-
ções s e m consequências. Ora, quando se trata de reforma da
educação (contrariamente ao que se passa e m matéria de
corentes de capitais, ou de contactos comerciais), a comunidade
e a identidade de problemas e de soluções — sobretudo neste
domínio fundamental dos programas destinados a corrigir as
desigualdades e as injustiças da sociedade e da educação no
plano nacional — militam a favor de u m a cooperação c o m o
Terceiro M u n d o e no seu interior. Tratando-se de u m domínio
politicamente explosivo, socialmente delicado, impossível de
relegar para último plano do ponto de vista moral e económico,
só a cooperação com o Terceiro M u n d o e no seu interior é pra-
ticável e pode ser frutuosa. O s agrupamentos dissociados e os
painéis efectuados proporcionam u m a base normal e natural à
cooperação dos grupos e subgrupos de países do Terceiro M u n d o
na reforma da educação.
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Reforma da educação e cooperação internacional
nos anos oitenta
DEMOCRATIZAÇÃO D A EDUCAÇÃO
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Malcolm S . Adiseshiah
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Reforma da educação e cooperação internacional
nos anos oitenta
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Malcolm S. Adiseshiah
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Reforma d a educação e cooperação internacional
nos anos oitenta
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Malcolm S. Adiseshiah
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Posições / Controvérsias
Henry ¡M. ¡Levin Afirmar que dificuldades consideráveis invadem os nossos sis-
((Estadas Unidos
da América).
temas educativos é certamente u m eufemismo. O s problemas
Especialista em causados pela expansão prodigiosa do ensino nos anos sessenta
economia de persistem no Terceiro M u n d o e conjugam-se com os d a desi-
educação e dos gualdade perante a educação e com a pletora dos diplomados
recursos humanos.
Professor nos
nas sociedades industriais. Tem-se reflectido sobre a educação,
departamentos seus métodos de financiamento, sua estrutura e organização,
de educação e sobre os programas escolares e a formação dos professores
de economia da e, nestes últimos anos, foi posta e m causa a opinião segundo
Universidade Stanford.
Autor de numerosas
a qual a escola pode ser utilizada para promover a transfor-
publicações na sua mação social e a igualdade.
especialidade, Perante estes problemas particularmente difíceis, muitas
escreveu recentemente,nações lançaram programas ambiciosos de investigação e de
em coperação com
Martin Carnoy, avaliação pedagógica, a fim de contribuir para a definição de
The lioilts of u m a política da educação. Basearam os programas e m quesn
educational reform. toes de ordem prática — ordenamento dos planos de estudo,
reforma do ensino, formação dos professores, utilização de
técnicas pedagógicas — e e m questões de ordem mais .geral :
como se processa a aquisição de conhecimentos no adolescente,
quais os efeitos da educação sobre o rendimento e o nível pro-
fissional, quais são os factores determinantes do nível de ins-
trução, etc. Criaram-se instituições nacionais para coordenar
e financiar a investigação e a avaliação pedagógica, na espe-
rança de que investigações sistemáticas e b e m conduzidas
esclarecem as necessidades e os problemas educativos sobre
os quais era necessário reflectir.
A fim de alimentar esta chama de interesse pela investi-
gação e pela avaliação pedagógica, quase todas as sociedades,
tanto nos países industriais como nos países e m desenvolvi-
mento, instituíram programas com o fim de formar especia-
listas e m investigação pedagógica. Procuraram novos métodos
de investigação, de tal m o d o que o estudo tradicional de peda-
gogia deu origem a contribuições cada vez mais importantes
de disciplinas como a Psicologia, a Sociologia, a Antropologia,
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Henry M . Levin
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Por que não é a investigação pedagógica mais útil?
Política da educação
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Henry M . Levin
A investigação pedagógica
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Por que não é a investigação pedagógica mais útil?
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Henry M . Levin
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Por que não é a investigação pedagógica mais útil?
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Henry M . Levin
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Por que não é a investigação pedagógica mais útil?
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Henry M . Levin
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Elementos para u m dossier
Abordagem
do não formal
Asher Deleon
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A educação dos adultos c o m o correctivo do insucesso
da educação formal
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Asher Deleon
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A educação dos adultos como correctivo do insucesso
da educação formal
alguns candidatos seleccionados por apa- n h u m país que não ofereça exemplos
relhos políticos b e m defendidos, e m que notáveis de indivíduos desfavorecidos que
a dignidade do trabalho não existe e e m «subiram na escala social» graças à edu-
que a oposição entre o trabalho manual cação de adultos. N o s países e m que ti-
e o trabalho intelectual se acentua — e m veram lugar transformações revolucio-
todos estes países, e são numerosos, é nárias, eu e m que movimentos nacionais
ilusorio esperar que a educação intro- permitiram obter a independência, a edu-
duza qualquer alteração fundamental ou cação de adultos permitiu a emergência
u m a transformação dos valores de base. de camadas da população até então opri-
A s escolas e as Universidades encon- midas e preparou novas forças sociais
tram-se profundamente integradas no para desempenhar u m papel mais im-
sistema e, por conseguinte, não podemos portante. Estes factos, e muitos outros
esperar que desempenhem u m papel de semelhantes, não podem ser ignorados.
transformação ou de revolução na de- N o entanto, o seu impacto sobre a
mocratização da educação. Poderemos sociedade e sobre os indivíduos não foi
esperar que a educação de adultos de- apreciável. Se o objectivo destes pro-
sempenhe este papel? gramas consistia e m dispensar certos
Existem muitos exemplos de progra- conhecimentos e competências técnicas,
m a s de educação de adultos cujos bene- talvez tenham sido, de certo m o d o , b e m
ficiarios são sobretudo as classes des- sucedidos, m a s , se pretendiam m u d a r as
favorecidas da população. E m geral, as atitudes psicológicas e sociológicas, os
associações e os movimentos de educa- resultados são parcos; se o objectivo con-
ção de adultos possuem menos o espírito siste e m adquirir privilégios outrora re-
«classe média» do que a educação formal cusados à maioria, podemos comprovar
no seu conjunto. Muitos programas de alguns progressos, m a s se o que se pre-
alfabetização, sejam quais forem os seus tende é a libertação dos indivíduos e a
resultados tangíveis, constituem prova- sua tomada de consciência, ainda há
velmente dos melhores exemplos de u m a muito a fazer; se a educação dos adul-
orientação «popular» ou «plebeia» das tos procura permitir que os indivíduos
organizações de educação de adultos. se adaptem à sociedade e às novas tec-
Existem igualmente outros programas nologias, muitos programas se podem
— alguns c o m u m certo sucesso quanti- gabar de ter atingido u m resultado tan-
tativo — nos bairros de lata, nas regiões gível, m a s se pretendem modificar ver-
afastadas, entre as tribos nómadas, para dadeiramente o estatuto daqueles que
os agricultores sem terras, e m comuni- são forçados a viver à m a r g e m da so-
dades rurais recentes, para as mulheres ciedade, o resultado é magro; se o papel
grávidas pobres, entre ias castas mais dos programas de alfabetização dos adul-
baixas, para os «esquecidos» nas regiões tos consiste e m iniciar milhões de pessoas
desérticas ou nos altiplanos, nas minas nas primeiras letras, são visíveis alguns
de carvão, entre os que são política ou resultados, m a s se o seu objectivo c o m -
culturalmente oprimidos, para os coolies preende a preparação dos analfabetos
ou corredores de rickshaw. A s unidades para u m papel e u m a responsabilidade
da educação de adultos ligadas às uni- diferentes na sociedade e no trabalho, ou,
versidades atraíram, através dos cursos como disse Paulo Freire, ensinar-lhes a
por correspondência ou dos programas «1er» (isto é, compreender) a verdadeira
de divulgação, muitos estudantes vindos realidade e a «escrevê-la», o que signi-
de categorias da população que, habi- fica orientá4a sobre o controle dos in-
tualmente, não têm acesso à educação divíduos e transformá-la, os resultados
superior. N ã o existe praticamente ne- estão ainda muito longe do fim.
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Asher Deleon
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A educação dos adultos c o m o correctivo do insucesso
da educação formal
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Asher Deleon
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A educação dos adultos como correctivo do insucesso
da educação formal
l&l
Asher Deleon
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A educação dos adultos como correctivo do insucesso
da educação formal
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Marvin Grandstaff
Qual o papel da educação não formal na lização directa, são mais frequentemente
planificação do desenvolvimento? É pro- longos do que curtos, beneficiam de
vavelmente importante e sê-lo-á cada vez apoios variados, tanto públicos como pri-
mais. O s limites do ensino de tipo clás- vados, e pretendem responder às exigên-
sico emergem com u m a clareza sempre cias das comunidades locais. M a s , so-
crescente. C o m o se afirma na conclusão bretudo, a educação não formal tem por
de Apprendre à être, a escola «será cada vocação ajudar aqueles que têm menos
vez menos capaz de assumir isolada- oportunidades de aceder a u m a escolari-
mente as funções educativas d a socie- dade normal (os pobres, os isolados, os
dade. A indústria, a administração, as camponeses, os analfabetos, os desem-
comunicações, os transportes podem e pregados totais ou parciais), de se de-
devem participar. A s colectividades lo- senvolverem nos locais e m que os re-
cais, liem como a comunidade nacional, cursos são limitados e de se revelarem
representam instituições eminentemente eficazes e m termos de tempo e dinheiro.
educativas». Contudo, só nos últimos anos a noção
A composição não formal da educa- de educação não formal como ins-
ção é, n a maior parte das sociedades, trumento para prosseguimento de ob-
bastante forte — por vezes m e s m o muito jectivos educativos reconhecidos — e m
forte — e susceptível, além disso, de se particular os que se referem ao desenvol-
desenvolver ainda mais. Pensa-se que vimento nacional — surgiu e se tornou
cerca de metade do esforço educativo centro de interesse e de estudo. H á muito
realizado actualmente nos países e m de- pouco tempo ainda, tanto nos países
senvolvimento se deve ao sector não for- desenvolvidos como e m desenvolvimento,
mal. Considerados no seu conjunto, os «educação» era sinónimo de «escolari-
programas deste sector apresentam ca- dade». Depois, nos anos sessenta, vimos
racterísticas indispensáveis para o de- surgir toda u m a série de análises de
senvolvimento. Procuram, por exemplo,
satisfazer necessidades imediatas, ba-
seiam-se, geralmente, na acção e na uti- * O estudo, de que o artigo que se segue é
extraído, foi conduzido sob os auspícios do
Programa de Estudos Sobre a Educação Não
Marvin Grandstaff (Estados Unidos da Amé- Formal da Michigan State University e com
o auxílio financeiro do Serviço Para o Desen
rica). Professor do Institute for International
Studies on Education, Coliege of Education, volvimento Internacional dos Estados Unidos
Michigan State University. da América (USAID).
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A educação não formal como conceito
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Marvin Grandstaff
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A educação não formal como conceito
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Marvin Grandstaff
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A educação não formal como conceito
para associar o conceito de educação não formal. Talvez, por exemplo, se des-
formal a situações e m que o ensino dis- cubra e m que medida existe u m a corre-
pensado implica u m modelo de aprendi- lação entre as variáveis que se classifi-
zagem distinto daquele que caracteriza cam, respectivamente, na «família» do
a população local e o conceito de educa- m o d o de tutela e na das abordagens
ção não formal a situações e m que os pedagógicas. (Trata-se, pensamos, de
modelos da aprendizagem são conformes. u m a tarefa importante para o desenvol-
Ë o que sucede, e m particular, quando vimento futuro da teoria.) Até lá, porém,
o contexto é o de u m contacto educativo o melhor método parece ser o que con-
entre programas escolares e populações siste e m articular cuidadosamente os cri-
semi-analfabetas ou analfabetas. (Esta térios que aplicaremos, n u m dado caso,
distinção tem pouco valor quando a po- para distinguir a educação formal da
pulação beneficiária é alfabetizada. Se a educação não formal e as utilizações b e m
aplicássemos, por exemplo, às escolas delimitadas que contamos fazer com os
americanas habituais, destinadas a u m a resultados obtidos. A clareza e a coerên-
população cujo m o d o de aprendizagem cia da maneira de tratar o conceito são
é praticamente idêntico ao que implica mais importantes do que o facto de pre-
o ensino dispensado, chegaríamos ao tender proclamar ideologicamente justa
curioso resultado de que o ensino a m e - determinada definição entre as numero-
ricano poderia ser citado como exemplo sas opções plausíveis.
de educação não formal.) Esta distinção A conceptualização da educação não
exige u m contexto muito especial, m a s formal deve necessariamente englobar
pode ser, e m muitos casos, válida e u m número importante de possibilida-
fértil. des, das quais algumas podem ser difi-
cilmente relacionáveis com as duas «fa-
E m resumo, é evidente que não existe mílias» de definição que analisámos.
u m a maneira única e «correcta» de defi- N ã o menos importante é a necessidade
nir o conceito de educação não formal. de abordar o exame do conceito c o m
A sua definição depende do contexto e u m objecto b e m determinado. Trata-se
a escolha dos factores segundo os quais de saber não o que «é» a educação não
se distinguirá o formal do não formal formal, m a s o oue pretende, para oue
será função do objectivo procurado. é feita, o que está no cerne da definição
É provável que a investigação exija u m a contextual. Para estudar este m o d o de
selecção de critérios de certo m o d o dife- educação como conceito, devemos, e m
rente da requerida pela prática e que, primeiro lufar, possuir u m a noção da
tratando-se, por exemplo, de administra- tarefa a realizar, tal como o fabricante
ção, de financiamento ou de elaboração de utensílios necessita de saber, antes
de programas, se possam considerar ex- de se lançar ao trabalho, para que ser-
tremamente úteis critérios relativamente virá o instrumento aue vai talhar. A in-
pouco interessantes para u m professor. trodução do conceito de educação não
Importa, pois, que os critérios escolhidos formal mostra-nos (aue esta linha de re-
se adaptem à tarefa proposta e não que flexão e m matéria educativa é válida —
se opte por determinada categoria de permite considerar diversas opções. P o -
critérios. demos fabricar nós próprios os instru-
É possível que, com o tempo, se adquira mentos de que necessitamos e m vez de
u m a ideia mais clara da interpretação nos limitarmos a fazer o que podemos
mais fecunda do conceito de educação com aquilo que encontramos.
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Tim Simkins
A planificação
da educação extra-escolar:
estratégias e obrigações*
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A planificação da educação extra-escolar:
estratégias e obrigações
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Tim Simkins
cada vez mais temíveis na concessão de dos anos setenta deveriam inscrever na
meios financeiros. primeira linha dos seus objectivos estra-
Nesta situação, é provável que só se- tégicos a generalização da educação ele-
jam concedidos recursos suplementares mentar, sob formas diversificadas, e m
de montante apropriado à educação função das possibilidades e das necessi-
extra-escolar quando se operar u m a m u - dades.» 2
tação significativa nas prioridades do A educação de base pode ser inter-
sector da educação, de tal m o d o que a pretada de diversos modos que apresen-
importância da educação extra-escolar tam, entre si, pontos comuns, É evidente
surja claramente e s e m ambiguidades. que, e m muitas sociedades, a primeira
Vejamos agora as condições e m que esta fase do ensino do primeiro grau constitui
mutação de prioridades poderia ter lugar. o elemento essencial, m e s m o quando ou-
Talvez o incitamento mais forte viesse tros assumem igualmente u m a grande
de u m a nítida tomada de consciência por importância. Phillips descreve assim a
existir, entre a procura de meios de en- situação: «Por educação do "primeiro
sino suplementares e a oferta de recur- grau" ou de "base", entenderemos simul-
sos, u m desequilíbrio tão grande que a taneamente o ensino primário na escola,
elaboração de u m a nova estratégia da especialmente a parte elementar do ciclo
educação represente a única solução pos- primário quando este é longo, e a acção
sível. A substituição dos esforços desen- de recuperação pela educação extra-esco-
volvidos para responder c o m u m ensino lar desenvolvida junto dos jovens que
escolar de custo médio à massa das exi- não completaram a escolaridade necessá-
gências da sociedade e m matéria de edu- ria. A ideia consiste e m satisfazer as
cação por esta opção está, neste m o - necessidades mínimas essenciais e m m a -
mento, a ser amplamente debatida sob téria de aquisição de conhecimentos para
a designação de «educação de base». que o indivíduo possa desempenhar u m
Ocupa u m a grande importância nas refle- papel na sociedade e no seu meio físico.» 3
xões do Banco Mundial sobre o desenvol- A s estratégias da educação de base
vimento da educação e também é estu- variarão entre as sociedades, de acordo
dada pela U N E S C O . C o m o declara o com as suas necessidades e recursos.
Banco Mundial: «Os sistemas de educa- Assim, nas sociedades e m desenvolvi-
ção e de formação deverão ser concebidos mento, e m que o rendimento por habi-
para permitir que as massas que não tante é relativamente elevado e a taxa
foram abrangidas pelo crescimento do de escolarização primária já importante,
sector moderno participem no processo seria possível realizar a educação de
de desenvolvimento de trabalhadores mais base para todas as crianças (mas não
produtivos — capazes de desempenhar para os jovens e adultos sem instrução)
eficazmente o seu papel de cidadãos, de n u m futuro previsível, generalizando o
m e m b r o s da sua família, de dirigentes e ensino primário. Esta opção, porém, não
de m e m b r o s de grupos que participam na
acção cooperativa comunitária, e muitos
outros, o que significa, e m última aná- li Education sector working paper, pp. 14 e 115,
lise, que todas as secções da população Banco Mundial, 1974, reproduzido em INTER-
NATIONAL BANK F O E RECONSTRUCTION AND
devem receber u m a educação e u m a for- D E V E L O P M E N T , The assault on world poverty:
mação sempre que os recursos o permi- problems or rural development, education and
tam e na medida e m que a marcha do health, John Hopkins University Press, 1975.
desenvolvimento o exija.» 1 2. Apprendre à être, p. 218, Paris, Unesco/
/Payara, 1972.
Por outro lado, formulou-se a seguinte 3. H . M . PHILLIPS, Basic education: a world
recomendação: «As políticas educativas challenge, p. 6, Wiley, 1975.
192
A planificação da educação extra-escolar:
estrategias e obrigações
se oferece a muitos países pobres. Para «educação de base» serão, muitas vezes,
eles, a educação de base para todos exige de u m a duração muito mais curta do que
que se estabeleça « u m sistema comple- o ciclo primário do ensino tradicional.
mentar e não rival do ensino escolar des- U m a estratégia de educação de base
tinado a dispensar u m a educação funcio- deve possuir como terceira característica
nal, maleável e económica àqueles que a oferta de u m leque de possibilidades
o sistema escolar não pode ainda atingir que garanta a todos os elementos da
ou que já foram postos à margem» 1 . população o acesso à educação. Assim,
Seja qual for a estratégia adoptada, embora seja possível não existir «nenhum
apresentará sempre u m certo número de meio de escapar à obrigação de melhorar,
características indispensáveis. E m pri- de renovar e de desenvolver o sistema
meiro lugar, deverá assegurar u m nível escolar» s , a tarefa essencial consiste e m
mínimo de educação a u m a massa de fornecer possibilidades apropriadas de
indivíduos. Isto é, deverá abranger todas educação extra-escolar a todos aqueles
as crianças e m idade escolar e, além que o ensino de tipo clássico não pode
disso, atingir os jovens e os adultos que atingir ou aos quais não se adapta. O s
não puderam beneficiar de u m ensino meios utilizados devem ser maleáveis
adequado no passado. Por conseguinte, para satisfazer as necessidades de grupos
m e s m o nas sociedades e m que representa particulares e devem possuir u m a eficá-
u m objectivo possível de atingir, o ensino cia satisfatória e m relação ao seu custo,
primário universal deve ser completado a fim de economizar os recursos.
por outro tipos de programas educativos. D o exame destas características salien-
E m segundo lugar, a educação de base ta-se que programas extra-escolares b e m
para as crianças, os jovens ou os adultos escolhidos serão capazes de constituir u m
é concebida c o m o u m fim para a maior elemento vital de toda a estratégia de
parte das pessoas. Deve ser organizada educação de base. Nestas condições, o
de m o d o a responder às «necessidades problema essencial da planificação resu-
mínimas essenciais e m matéria de aqui- me-se a definir os limites para além dos
sição de conhecimentos» dos grupos par- quais o ensino de tipo escolar não pode
ticulares que pretendemos atingir. Estas ser materialmente prolongado e a deter-
necessidades serão definidas não na pers- minar e elaborar programas extra-esco-
pectiva do prosseguimento dos estudos lares apropriados para os grupos que não
dentro do sistema educativo, m a s e m podem ser atingidos de maneira satisfa-
função dos conhecimentos, competências tória pela educação escolar. N o entanto,
e atitudes necessários a u m a participação podemos ir mais longe. Se a educação
total e eficaz do indivíduo na vida da de base deve ser generalizada, é pouco
sociedade. A s necessidades mínimas va- provável que o problema das prioridades
riarão consoante as sociedades e, a b e m possa ser iludido na maior parte das so-
dizer, no seio de cada u m a delas (por ciedades. M e s m o quando o ciclo de edu-
exemplo, entre zonas urbanas e rurais, cação de base é mais curto do que o ciclo
ou entre zonas rurais de carácter dife- primário tradicional e quando escolhemos
rente) ; as diferenças referir-se-ão à os métodos de educação exteriores ao sis-
orientação da educação proporcionada e
à duração do processo educativo neces- 1. B A N Q U E M O N D I A L E , «Education sector work-
sário à satisfação adequada das necessi- ing paper», op. cit., p. 29.
dades 2 . A natureza da economia da maior 2. Poderão eneontrar-se indicações sobre u m a
parte das sociedades « m desenvolvimento «bagagein minima» possível para os jovens
das sociedades e m desenvolvimento e m P . H .
e a falta de recursos de que sofrem le- C O O M B S e outros, op. cit., pp. 14 e 15.
vam-nos a crer que os programas de 3. H . M . PHILLIPS, op. cit., p. 12.
193
Tim Simkins
tema escolar tradicional mais eficazes e m democrático já existente, o que talvez re-
relação ao seu custo, é provavelmente presente a medida mais popular devido
necessário redobrar os recursos atribuí- à falta de informação sobre a extensão
dos ao ensino escolar de nível pós-elemen- da diminuição dos efectivos e das repro-
tar. A s incidências políticas desta estra- vações, ou enfrentar a realidade no plano
tégia podem ser consideráveis. C o m o é educativo e social, o que equivale a con-
evidente, trata-se de redistribuir os re- jugar o máximo de alfabetização massiva
cursos para benefício dos indivíduos, e de educação de base c o m o desenvolvi-
crianças e adultos que foram privados de mento maximal das possibilidades.» x
instrução, e e m detrimento da educação Podemos, no entanto, perguntar se
pós-primária (ou até m e s m o da educa- u m a estratégia que oferece diferentes
ção primária completa) dos que já rece- tipos de educação a diferentes grupos
beram u m a educação de base. C o m o co- de indivíduos pode conciliar os dois as-
rolário desta redistribuição, vemos que, pectos concorrentes do objectivo que con-
pelo menos a curto prazo, as possibili- siste e m proporcionar u m mínimo de
dades de progresso no interior do sistema educação de base a todos, conseguindo
escolar tradicional são reduzidas, daí re- simultaneamente que a possibilidade de
sultando u m a concorrência mais forte no abordar níveis superiores de ensino con-
conjunto. tinue igualmente aberta a todos.
Existe, porém, outra incidência notá- Perante este dilema, duas reacções
vel. N a s sociedades e m que o ensino pri- são possíveis.
mário para todos não é, devido ao seu U m a consiste e m ignorá-lo delibera-
custo, u m objectivo susceptível de ser damente considerando que a única solu-
atingido n u m futuro próximo, só será ção é u m sistema educativo tradicional,
possível generalizar a educação de base dominado pelo ensino escolar, o que con-
proporcionando processos de educação tinuará, por falta de meios financeiros,
diferentes, principalmente extra-escola- a privar u m grande número de pessoas
res, àqueles que não podem aceder às de toda a instrução. U m mínimo de edu-
escolas primárias habituais. C o m o conse- cação de base, dir-nos-ão, m e s m o quando
quência, m e s m o que a educação de base não proporciona ao indivíduo a possibili-
generalizada seja obtida por este pro- dade de prosseguir os estudos deve ser
cesso, é provável que obtenhamos u m preferida à ausência total de educação
duplo sistema de educação. A s crianças que, por definição, exclui até m e s m o a
que tiverem acesso às escolas primárias possibilidade do aumento do nível de
ordinárias poderão, e m seguida, ingres- vida elementar e, c o m maioria de razão,
sar e m estabelecimentos pós-primários, de elevação na escala social. Este argu-
enquanto esta possibilidade se encontra mento, porém, não atende às realidades
provavelmente vedada às que não te- políticas da orgnização do ensino. C o m
n h a m recebido u m a educação extra- efeito, é extremamente improvável que
-escolar. Talvez estas crianças tenham u m sistema educativo que incorpore sis-
beneficiado de u m a educação muito mais tematicamente a desigualdade de opor-
adaptada às necessidades do desenvolvi- tunidades nas suas estruturas possa
mento, m a s a possibilidade de completar apresentar-se c o m o politicamente aceitá-
a sua instrução talvez lhes tenha sido vel à massa da população.
recusada devido essencialmente ao grupo Outra solução para este problema
social ou à região geográfica e m que consiste e m criar estruturas educativas
nasceram. Segundo Phillips, o problema que procuram manter abertas as portas
consiste e m : «Escolher entre desenvolver
o tipo de ciclo (primário) aparentemente 1. H . M . PHILLIPS, op. cit., p. 176.
194
A planificação da educação extra-escolar:
estratégias e obrigações
195
T i m Simkins
196
A planificação da educação extra-escolar:
estrategias e obrigações
197
T i m Simkins
ticas existentes procurarão que a massa memente defendidos. O s cursos por cor-
dos recursos atribuídos à educação con- respondência e diversas categorias de
tinue a ser consagrada ao sistema escolar cursos nocturnos ou a tempo parcial que
e os meios de substituição eventualmente utilizam as instalações escolares e a par-
à disposição terão cada vez mais dificul- ticipação dos professores apresentam a
dade e m sobreviver, ou e m se manter vantagem de completar e não de concor-
fiéis aos objectivos e ideais iniciais. O s rer c o m o sistema escolar, e a menor
programas extra-escolares previstos para preço (custo marginal, e m particular).
os jovens encontrar-se-ão n u m a posição É a «procura excedentária» massiva de
de concorrência extremamente desvanta- ensino escolar e m todo o Terceiro M u n d o
josa e m relação à educação de tipo esco- que provocou a emergência das institui-
lar. C o m efeito, o b o m senso tradicional ções de ensino por correspondência e m
decreta que o privilégio da educação numerosos países e que suscita, para a
escolar como meio de ascensão social Universidade aberta, o interesse que se
deve ser largamente reservado aos jovens liga a u m modelo possível. Estas insti-
e que, como consequência, são as aspi- tuições exercem u m a função educativa
rações dos jovens e não as dos adultos e contribuem para a realização de u m a
que estão ligadas a u m a educação esco- espécie de «educação popular». N o en-
lar. Este argumento aplica-se aos diver- tanto, só com sérias reservas poderemos
sos programas de educação não formal qualificá-las de verdadeiramente «extra-
que podem substituir o sistema escolar, -escolares» e elas têm pouco e m c o m u m
ou completá-lo com o fim de reorientar com o objectivo de u m desenvolvimento
para empregos produtivos, de preferên- rural generalizado. Além disso, a quali-
cia para u m trabalho independente e m dade do ensino oferecido por estes pro-
meio rural, os alunos que abandonaram gramas fica a dever muito, e m geral, ao
prematuramente a escola. Muitos estudos ensino de tipo escolar.
de casos salientam que se exercem fortes O segundo contexto e m que existem
pressões para que estes programas con- possibilidades reais de recurso à educa-
duzam à concessão de «pergaminhos» e ção extra-escolar como solução de subs-
outras honras ligadas à educação escolar tuição é aquele e m que os objectivos são
(ver os centros politécnicos de aldeia do qualitativamente diferentes dos do ensino
Quénia e as brigadas do Botswana) e se escolar. Deve ser possível continuar a
as autoridades não cedem a esta tenta- criar diversos tipos de meios de educação
ção, estes meios de educação perdem ra- extra-escolar e m domínios e m que, como
pidamente o seu prestígio e m relação às é evidente, não existe concorrência com
escolas tradicionais (ver os centros de a educação escolar, o que traduz u m
educação rural do Alto Volta), i esforço largamente concentrado nos adul-
Neste género de situações, a educação tos, e m particular nos das regiões rurais,
extra-escolar terá provavelmente as m e - cujas perspectivas de exercer u m e m -
lhores possibilidades de ser aplicada com prego na cidade são habitualmente redu-
sucesso, e m dois contextos. E m primeiro zidas. Este domínio é obviamente aquele
lugar, quando a penúria dos recursos e m que a educação extra-escolar sempre
obriga os governos a grandes dificulda- foi mais desenvolvida, graças aos servi-
des na resposta à procura sempre cres- ços de divulgação agrícola ou outras
cente de educação escolar, os programas iniciativas análogas do Estado e existem
extra-escolares concebidos para permitir ainda, sem dúvida alguma, possibilidades
a obtenção por outros meios de títulos de expansão. C o m o indicam Colclough e
oficialmente reconhecidos são susceptí- Hallak: « . . . A g o r a parece evidente que
veis de agradar ao público e de ser fir- muitos programas de ensino, organizados
198
A planificação da educação extra-escolar:
estrategias e obrigações
para além do sistema escolar oficial, te- abandonar a hipótese de que não se
n h a m influenciado o comportamento das podem produzir alterações no esquema
pessoas. Resulta dos esforços feitos pelos dos incentivos ou n o papel dominante
serviços de divulgação agrícolas e m vá- desempenhado pela educação de tipo es-
rios países diferentes que a produtivi- colar na estratificação social. É necessá-
dade agrícola pode ser aumentada utili- rio considerar as situações e m que se
zando métodos de vulgarização, desde procura seriamente modificar o statu
que as disponibilidades e m outros re- quo no que se refere aos objectivos do
cursos não constituam u m obstáculo insu- desenvolvimento, ao esquema das incita-
perável. Recentemente, foram igualmente ções sociais e ao papel da educação no
feitos progressos apreciáveis no domínio processo de desenvolvimento.
da formação de gerentes e pequenos pro- Raros foram os países que tentaram
prietários, utilizando, para este efeito, aplicar, e não apenas propor, reformas
métodos de vulgarização que tiveram tão radicais, m a s é evidente que dois
efeitos nitidamente positivos sobre a pro- elementos principais são comuns às es-
dutividade. D o m e s m o m o d o , as campa- tratégias deste tipo. E m primeiro lugar,
nhas a favor da educação dos adultos reconhece-se que só podem ser atingidos
utilizando meios de c o m u n i c a ç ã o de novos objectivos e aplicadas novas prio-
massa, campanhas durante as quais as ridades se forem estabelecidos novos es-
relações com os estudantes foram bas- quemas de estímulos sociais que apoiem
tante reduzidas, revelaram-se, e m certos e reforcem os movimentos a favor destes
casos, capazes de influenciar sensivel- objectivos, o que exige u m a acção explí-
mente o comportamento e a tomada de cita tendente, por exemplo, a modificar
consciência dos rurais. A u m nível dife- as disparidades entre zonas urbanas e
rente, do ponto de vista da organização, rurais e a romper a ligação íntima que
é importante notar a formação estrutu- existe entre os títulos escolares e as re-
rada dispensada "no trabalho" por u m compensas socioeconómicas. E m segundo
conjunto de métodos não formais e infor- lugar, os aspectos afectivos da educação
mais que prepara para as profissões são reconhecidos de m o d o muito mais
exercidas nas zonas rurais e peri-urbanas explícito. A educação é considerada não
e que exige u m a tecnologia caracterizada só como susceptível de contribuir para
por u m fraco grau de capitalização. D e o desenvolvimento sob o aspecto mate-
facto, é possível que tenha sido, no pas- rial, permitindo que os indivíduos façam,
sado, este o principal m o d o de influência as coisas mais eficazmente, m a s tambélm
do ensino não institucional sobre o b e m - como tendo repercussões sobre o que
-estar e a produtividade dos rurais nos são os indivíduos — sobre as suas ati-
países e m desenvolvimento.» * tudes, motivações e concepção do m u n d o .
O principal problema suscitado por Nesta situação, a tarefa do planificador
qualquer tentativa séria destinada a alar- e do responsável pela política da edu-
gar o alcance destes programas extra- cação está longe de se limitar a conceber
-escolares consiste, como é evidente, e m e aplicar programas extra-escolares efi-
encontrar os recursos necessários. A s cazes, embora t a m b é m seja importante;
pesadas exigências do sistema escolar é igualmente necessário que tentem «des-
absorvem automaticamente créditos de formalizar» a própria escola para redu-
ensino que poderiam ser melhor utili-
zados noutras circunstâncias. Para que
1. O . C O L C L O U G H e J. H A L L A K , « A problemática
estes programas obtenham u m a parte
ida educação rural: equidade, eficácia e e m -
razoável dos recursos nacionais consa- prego», Perspectives, vol. VI, n.° 4, 1976,
grados à educação, é necessário portanto, pp. 562 e 553-
199
T i m Simkins
zir a sua capacidade de isolar os seus como reformas radicais do sistema esco-
clientes da vida e do trabalho e m meio lar c o m o objectivo de o reorientar e m
rural. O s governos que tentaram conce- função das necessidades da maioria e a
ber estratégias da educação deste tipo impedir que os jovens sejam desligados
consideraram a situação, e m grande do seu meio. O alcance e a diversidade
parte, de u m ponto de vista radical ou dos programas extra-escolares aplicados
revolucionário. Examinaremos, e m se- na República Unida da Tanzânia, e des-
guida, dois casos. tinados particularmente aos adultos, são
Depois do acesso à independência, a notáveis 2 ; a maior parte foram conce-
República Unida da Tanzânia demons- bidos de m o d o a responder a objectivos
trou, acerca do desenvolvimento, u m a ¡claros, tanto no plano afectivo como
concepção mais «radical reformista» do cognitivo. A reforma da escola, que deve-
que revolucionária. N a sua reflexão sobre ria retirar-lhe muitas das suas caracte-
o papel da educação no desenvolvimento, rísticas «formais» indesejáveis, enfren-
o presidente Nyerere dedicou-se explici- tou, c o n t u d o , resistências. O próprio
tamente aos problemas de transformação Nyerere definiu os problemas do se-
de atitude e de formação dos valores. guinte m o d o :
C o m efeito, a sua Education for self- «... Devemos, porém, reconhecer, pen-
-reUance continua a ser u m a das expo- so, que não fizemos tudo o que seria
sições mais concisas dos problemas que necessário. F o m o s demasiado tímidos
se colocam quando pretendemos que a — mostrámo-nos pouco libertos — para
educação contribua para os objectivos transformar radicalmente, como seria
de desenvolvimento que são cada vez mais necessário, o sistema que tínhamos her-
firmemente preconizados no plano inter- dado. ..
nacional: « O sistema educativo da Repú- «... O primeiro problema que ainda
blica Unida da Tanzânia», escreveu N y e - não resolvemos foi o de termos sufi-
rere, «deve salientar o esforço colectivo ciente confiança e m nós m e s m o s para
e não o avanço individual ; deve valorizar recusar as coisas consideradas como as
o conceito de igualdade e o sentido do melhores do M u n d o —seja qual for o
serviço a associar a qualquer aptidão sentido desta expressão— e escolher,
especial, quer se trate do domínio da pelo contrário, as que mais se adaptam
marcenaria, da criação de gado ou de à nossa situação...
trabalhos científicos. E m particular, a «O segundo problema é o de parecer-
nossa educação deve combater a tenta- mos incapazes ou pouco desejosos de
ção de arrogância intelectual, pois esta integrar realmente a educação na vida,
atitude leva aquele que recebeu u m a boa assim como na produção.
instrução a desprezar os que não pos- «Além disso, e é este o nosso terceiro
suem disposições para o estudo ou apti- fracasso, não conseguimos destruir a con-
dões especiais, sendo apenas seres h u m a - vicção de que os resultados escolares de
nos.» 1 u m a criança — ou de u m adulto — a tor-
Estas linhas contêm u m a crítica implí- n a m particularmente digna de elogios e
cita ao ensino tradicional, a qual será lhe dão direito a u m a situação social
expressa muito mais formalmente e m privilegiada...
outros escritos do presidente da Repú-
blica Unida da Tanzânia. A política pro-
posta, e que foi seguida por este país, 1. J. K . N Y E R E R E , Ujamaa: essays on socialism,
compreende a elaboração de programas p. 52, Oxford University Press, 1968.
2. E . H A L L , «Adult education and the develop-
extra-escolares eficazes destinados a sa- ment of socialism in Tanzania», ¡East Afri-
tifazer necessidades específicas, assim can Literature Bureau, 197o.
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A planificação d a educação extra-escolar:
estratégias e obrigações
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Informação, orientação
e consulta
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tre estes conselhos e consultas terapêu- vidual sem professor. M a s , para que
ticas. Por muito importantes que sejam, estas técnicas sejam largamente utili-
estas últimas não se incluem no âmbito zadas, não bastam que existam aqui ou
do presente artigo. além. É necessário que o aluno possa
ter facilmente acesso ao material de en-
Situação actual sino de que carece, quer se trate de li-
vros, de bandas magnéticas, de documen-
E m b o r a os serviços de informação e de tos, de ilustrações, etc.
consulta estejam muitas vezes ligados Consequentemente, é indispensável a
na prática, é não só possível como tam- elaboração dos mecanismos que permi-
b é m desejável distingui-los. A maior tam responder ao desejo de educação,
parte das informações sobre as possi- formulado ou não, explorando melhor as
bilidades de educação organizadas e m a - possibilidades existentes e criando outras.
n a m dos organismos que as proporcio- A informação — ou a publicidade —
n a m e estes têm tendência, por vezes, apresenta-se sob numerosas formas : car-
para confundir informação e propaganda. tazes, brochuras policopiadas ou impres-
N u m a pequena sociedade homogénea sas, anúncios mais ou menos sistemati-
— a aldeia tradicional, por exemplo — camente difundidos na grande imprensa
as possibilidades de participação n u m e revistas destinadas a determinados gru-
processo de educação talvez sejam raras, pos, textos de carácter descritivo e/ou
m a s , pelo menos, toda a gente as conhece. persuasivo inseridos na imprensa ou fa-
N u m a sociedade mais complexa — como zendo parte das emissões de rádio ou de
a grande cidade — as possibilidades são televisão. O s organismos à altura de
muito mais numerosas, m a s é muito difí- utilizar estas técnicas, como fazem as
cil para u m indivíduo obter informações empresas comerciais e m relação aos pro-
sobre as actividades existentes, e, a for- dutos, são relativamente pouco numero-
tiori, sobre as que são susceptíveis de sas e, embora certa publicidade revele
corresponder às suas necessidades, inte- boa qualidade técnica, grande parte dela
resses, formação, etc. poderia certamente ser melhorada.
Se até m e s m o os que efectuaram es- Se é verdade que os contactos pessoais
tudos prolongados experimentam dificul- desempenham u m papel importante na
dades e m encontrar o que desejam, quer publicidade e no recrutamento, t a m b é m
dizer dos menos instruídos, dos que aca- é certo que, e m geral, parecem mais
b a m de completar os estudos ou dos que, completar do que substituir os outros
de qualquer m o d o , se encontram e m con- processos.
dições de inferioridade ? N a verdade, são A s experiências suecas F O V U X , que
muitas vezes os que mais necessitam de implicam o emprego de muitois funcio-
educação que sentem maiores dificulda- nários que se incluem entre os indivíduos
des de acesso. com mais elevado nível de estudos, obti-
A necessidade de divulgar amplamente veram resultados notáveis, m a s trata-se
a informação relativa às possibilidades já de u m caso e m que a consulta c o m -
de educação e aos serviços de orientação pleta o processo de informação.
é desde já evidente, m a s tornar-se-á, sem Apoiada e m personalidades reconheci-
dúvida alguma, cada vez mais imperiosa, das pela opinião pública, a informação
atendendo às crescentes necessidades e torna-se duas vezes mais eficaz. Lalage
possibilidades de educação. B o w n cita o caso, na Nigéria, de u m a
O s meios de informação modernos per- campanha de educação sanitária que,
mitiram a aplicação de novas técnicas, orientada pelos meios de informação de
que muito facilitam a aprendizagem indi- massa, obteve resultados decepcionantes,
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Dwight W . Alien e Stephen Anzalone
aos seus gostos e necessidades. A alfabe- ainda rever as nossas sacrossantas con-
tização apresenta-se, pois, muitas vezes, cepções.
não c o m o u m a porta de acesso ao saber, É fácil ironizar c o m a atitude que con-
do qual dependem o bem-estar e o de- sidera a alfabetização u m dos pré-requi-
senvolvimento, m a s c o m o u m a porta de sitos da educação de base no seio das
ferro que bloqueia, s e m que o tenhamos sociedades de tradição oral dos países
desejado, o acesso ao saber. N a s regiões e m desenvolvimento. Antes da invenção
afastadas das cidades e fora das escolas, da impreensa, não considerávamos i m -
a alfabetização continua a ser, a despeito portante saber 1er e escrever. O ensino
das melhores intenções e dos mais ar- era u m processo totalmente oral. Basta
dentes esforços, de certo m o d o quimé- recordar os sábios que, n a Idade Média,
rica, por ainda não se ter tornado uni- defendiam, nos seus debates, que a ver-
versalmente funcional. dadeira instrução deveria ser dispensada
N ã o é difícil compreender a tendência por u m professor e que os livros eram
para considerar a alfabetização u m a pa- totalmente inaptos para responder às
naceia destinada a responder às necessi- ncessidades da educação. Muito antes
dades de educação de base dos países desta época, os Gregos d a Antiguidade
e m desenvolvimento. A partir d o m o - emitiam reservas e m relação à utilidade
mento e m que o Ocidente penetrou, por da expressão escrita n o processo de ins-
ocasião dos seus empreendimentos evan- trução. Sócrates, n u m diálogo c o m Fedra,
gélicos e coloniais, e m muitos dos países fala-nos de u m mito no qual o inventor
que hoje se encontram e m desenvolvi- da escrita, o deus egípcio Tot, é fria-
mento, a extensão da alfabetização tor- mente acolhido pelo rei T a m u z que con-
nou-se, do ponto de vista humanitário e sidera que, c o m a escrita: «...é a seme-
prático, u m a necessidade real. A alfa- lhança (com a sabedoria) que ensinas
betização revelou-se essencial para a aos teus alunos e não a realidade: n a
compreensão das Escrituras e, mais verdade, quando os teus alunos trans-
tarde, para a realização das tarefas su- bordarem de conhecimentos, e não de
balternas exigidas pela administração ensino, parecerão aptos a julgar mil
colonial. O s missionários e os governos coisas, embora, na maior parte das vezes,
coloniais distribuíram pelas populações se encontrem desprovidos de qualquer
locais muitos textos de leitura para asse- julgamento; além disso, tornar-se-ão in-
gurar a conservação de u m nível de suportáveis porque fingirão ser h o m e n s
alfabetização adaptado aos seus objec- instruídos, e m vez de serem verdadeira-
tivos e aos imperativos do crescimento. mente h o m e n s instruídos! *» Muita coisa
M a s tudo se modificou muito, visto m u d o u entretanto.
que, actualmente, as novas nações pro- N o m u n d o actual as aplicações de al-
curam, depois de ter conquistado a inde- fabetização são numerosas e evidentes.
pendência, alargar os objectivos, o con- Talvez tenha sido esta a razão que con-
teúdo e a clientela d a educação. N u m a duziu inevitavelmente à ideia de que a
sociedade de tradição oral e m que os alfabetização pode e deve ser a chave de
textos de leitura são muitas vezes raros
tudo. N ã o surpreende que os nossos
e não apresentam nada de c o m u m c o m
esforços de desenvolvimento reflictam a
a vida das pessoas, a aptidão para 1er
e escrever já não assume a m e s m a im- aparente omnipotência da alfabetização.
portância. Contudo, apesar das provas, N a s estratégias de desenvolvimento li-
cada vez mais numerosas, da fraca efi- li P L A T O N , Phèdre, p. 88 (Platon, oeuvres com-
cácia d a alfabetização c o m o meio de plètes), traduzido por Léon Robin, Paris,
acesso à instrução, não conseguimos Société d'édition «Les belles lettres», 1938.
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tra assegurada nos países pobres, onde programas não escolares ou combinações
as crianças deverão, por vezes, juntar-se variadas das duas fórmulas) segundo
aos adultos para beneficiar com eles dos as necessidades das pessoas a que se
programas extra-escolares de alfabeti- destinam e as limitações impostas pelos
zação funcional. recursos disponíveis. A s despesas desem-
Este recente interesse pela educação penharão u m papel preponderante na
de base testemunha, pelo menos impli- escolha das pedagogias utilizadas nos
citamente, u m certo desejo de eliminar programas dos ensinos de base.»
os métodos que fracassaram no passado. O Banco acrescenta: « U m estudo re-
M a s , não basta. Devemos redefinir o cente, redigido pela Unicef, define estas
que entendemos por educação de base. necessidades (as necessidades de instru-
Sob este aspecto, a definição proposta ção mínima) como o limiar de instrução
pelo Banco Mundial constitui u m b o m a partir do qual u m indivíduo é capaz de
ponto de partida: participar nas actividades económicas,
«Dispensar u m a educação de base é sociais e políticas. Estas necessidades
tentar, não obstante as graves limitações de instrução essenciais incluem a alfa-
impostas pela modicidade dos recursos, betização e o cálculo funcionais, os
responder às necessidades de importan- conhecimentos e as qualificações ne-
tes grupos de população que não têm cessários para exercer u m a actividade
acesso à mínima possibilidade de instru- produtiva, o planeamento familiar e a
ção. Trata-se, de completar, e não de higiene, a assistência à infância, a ali-
suplantar, o sistema de ensino escolar e mentação, o saneamento e tudo o que
de fornecer aqueles que este ensino ainda é necessário saber para participar na
não abrangeu ou que deixou de lado, vida cívica. D e u m ponto de vista opera-
u m a instrução funcional, maleável e cional, podemos defini-las como o 'total
pouco dispendiosa. É possível que, e m de instrução mínima' acessível a todos,
muitos países, o instrumento principal semelhante ao 'limiar de probreza' no
desta instrução seja o nível primário, m a s que se refere ao rendimento mínimo fa-
difere da 'instrução primária universal' miliar 1.»
e m três pontos de vista importantes: O que podemos criticar essencialmente
'«i) O s objectivos e o conteúdo da edu- na definição do Banco é o facto de assen-
cação de base definem-se, de u m ponto tar na ideia de que a principal de todas
de vista funcional, como as 'necessidades as «necessidades de instrução mínima»
de instrução mínima' de grupos deter- é a alfabetização funcional. Es'ta ideia
minados e não como graus de ensino no integra-se, sem qualquer dúvida, na tra-
sentido e m que se entende, por exemplo, dição e o Banco não é, de resto, o único
o grau primário. a defendê-la. C o m efeito, u m a reunião
ii) A s 'populações alvo' abrangidas de peritos convocada, e m 1974, pela
pela educação de base não são necessaria- U N E S C O , chegou a conclusões semelhan-
mente as crianças e m idade escolar. São tes: « É evidente, lê^se no seu relatório,
grupos etários variados (crianças, jovens, que o ciclo de base deve fornecer a todas
adultos) e de características socioeconó- as pessoas u m certo número de instru-
micas diferentes (grupos rurais ou urba- mentos fundamentais do conhecimento;
nos, mulheres, participantes e m progra- é necessário aprender a 1er, a escre-
m a s de desenvolvimento particulares). ver...»2 É natural pensar que enquanto
iii) O s 'sistemas administrativos' que
permitem dispensar a educação de base 1. Éducation, politique sectorielle, p. 37, W a s -
assumirão diversas formas e m diversos hington, Banco Mutídial, 1975.
países (escolas primárias reestruturadas, 2. Perspectives, vol. v, n.° 1, 1975, p. 136.
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O ensino pela rádio, fase anterior à alfabetização
que é interrompido a u m nível bem deter- Pensamos que este meio quase univer-
minado. C o m o é evidente, certas preo- sal de difusão tem sido insuficientemente
cupações são solidamente fundamenta- utilizado para fins educativos. Parece ter
das. N ã o é tomando os seus desejos pela sido preterido pela eficácia superior atri-
realidade n e m multiplicando as exporta- buída a outros meios que, no entanto,
ções morais que a comunidade interna- apresentam o inconveniente, e m relação
cional poderá reduzir os riscos a correr à rádio, de não ir conhecer tão ampla
ou as incertezas existentes. Temos a difusão durante muito tempo ainda. C o m
impressão de que os problemas que se a miniaturização e a transistorização,
apresentam não poderão ser resolvidos que permitem despesas muito reduzidas
a contento de todos enquanto não se tive- e asseguram u m a fiabilidade suficiente,
rem estudado e experimentado as estra- e m todos os climas, a rádio tem-.se reve-
tégias susceptíveis de ser utilizadas na lado cada vez mais como u m instrumento
aplicação de u m programa de educação particularmente b e m adaptado a cultu-
de base. N ã o pretendemos resolver, aqui, ras baseadas na transmissão oral e nos
estes problemas; pretendemos apenas valores não escritos.» 1
propor — como já apontámos — que, nos Pensamos que, no passado, o desprezo
próximos debates respeitantes à educa- pelas possibilidades educativas da rádio
ção de base, seja posta e m causa a per- se ficou a dever ao facto da atracção
tinência da ligação até agora estabelecida superior da televisão se ter começado
entre a alfabetização e este tipo de edu- a exercer nos países desenvolvidos pouco
cação. depois de 1950, isto é, no preciso m o -
Pensamos que existem outras soluções mento e m que os aparelhos de rádio a
para o problema da educação de base pilhas e a transistores começavam a apa-
e prontificamo-nos a recomendar instan- recer e e m que a rádio se espalhava
temente que seja elaborado u m vasto pelos recantos mais longínquos dos paí-
programa de ensino pela rádio, como ses e m desenvolvimento. Actualmente, õ
número de aparelhos de rádio por habi-
principal meio de difusão da educação
tante é, tanto nos países desenvolvidos
de base.
como nos países e m desenvolvimento,
superior ao número de exemplares de
Utilização da rádio jornais diários por habitante. Wilbur
na educação da base S c h r a m m sublinhou os efeitos a esperar
da expansão da rádio : «Se existe u m b o m
A possibilidade técnica de utilizar a rá- instrumento de educação não formal, é
dio para a educação das massas não ofe- certamente a rádio. A razão é-nos for-
rece dúvidas. Pouco dispendiosa, simples necida por Paul Théroux no seu estudo
e fiável, a rádio encontraria u m a boa sobre a radiodifusão rural no Uganda.
aplicação. A Comissão Faure já tinha Este autor salienta que 87,8 por cento
assinalado, e m 1972, o que podemos es- das famílias sobre as quais se efectuou
perar do ensino pela rádio e é surpreen- o inquérito não possuíam electricidade,
dente que o emprego da rádio com objec- embora 86,3 por cento possuíssem u m
tivos de educação de base ainda não aparelho de rádio. Por outras palavras,
tenha sido objecto de nenhuma proposta a rádio é u m instrumento de longo al-
séria. N o relatório d a Comissão Faure cance que permite difundir facilmente
pode ler-se o seguinte: « A rádio, única mensagens e eliminar os obstáculos que
técnica de comunicação avançada que se se opõem mais frequentemente à instru-
incorporou realmente no Terceiro M u n d o ,
foi amplamente difundida e aculturada
sempre que as condições o permitiram. 1, Apprendre à être, op. cit., p. 139.
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Dwight W . Allen e Stephen Anzalone
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O ensino pela rádio, fase anterior à alfabetização
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elemento da educação permanente na U R S S
dispensado pela escola e, por outro lado, funções psíquicas dos adultos dos 18 aos
de acordo c o m a posição subjectiva do 40 anos. Salientaram-se as modificações
indivíduo, que é a resultante da expe- que se operam, segundo a idade, na
riência adquirida durante os estudos an- memória, na atenção, no pensamento, na
teriores, a formação da sua escala de função psicomotora, n a neurodinâmica e
valores e os seus projectos e aspirações. no intelecto no seu conjunto. Estas m o -
Neste contexto, os projectos de futuro, dificações foram examinadas era relação
que constituem o factor determinante do à aquisição dos conhecimentos.
comportamento do indivíduo e m matéria O estudo mostrou que as funções psí-
de educação, devem ser interpretados si- quicas dos adultos continuam a desen-
multaneamente como motivações e como volver nse depois da maturação biológica
objectivos. do organismo. Este desenvolvimento é
A conclusão mais geral do estudo diz- assegurado pela modificação das relações
-nos que é necessário elaborar meios de estruturais entre os componentes de cada
acção sociopedagógicos susceptíveis de função psíquica e das que unem as fun-
motivar o indivíduo durante as diferen- ções entre si, isto é, pelas modificações
tes etapas de u m programa de ensino. que intervêm nas relações interf uncionais
Atendendo a que, e m geral, o h o m e m age ou na estrutura global do intelecto h u -
essencialmente e m função das suas neces- mano.
sidades essenciais e n u m a situação que, O desenvolvimento das funções psíqui-
para ele, é significativa, é necessário cas e do intelecto no seu conjunto pode
proceder de m o d o que ele considere a ser considerado u m processo complexo
educação como o maior valor de ordem e contraditório e m que alternam m o m e n -
prática, espiritual e vital. tos de amplificação, de enfraquecimento
Estes princípios essenciais permitiram e de estabilização. O s enfraquecimentos
obter conclusões científicas e práticas a verificados e m certas funções na idade
diferentes níveis: adulta não resultam da sua involução,
1. O incitamento dos trabalhadores jo- correspondem aos «períodos de incuba-
vens e adultos para que prossigam ção» ou de reestruturação latente que
os estudos passa necessariamente por precedem a continuação do desenvolvi-
u m a sensibilização dos indivíduos. mento psíquico.
Esta sensibilização para a vida social O estudo dos aspectos psicológicos e
constitui, portanto, o principal pro- sociológicos desempenhou u m papel im-
blema sociopedagógico. portante n a elaboração de u m a teoria
2. Para suscitar nos jovens trabalhado- pedagógica adaptada aos adultos e na re-
res u m a atitude activa perante a vida solução dos problemas didácticos susci-
e a educação, é absolutamente neces- tados pelas escolas c o m desdobramento
sário conjugar os esforços de diversas de horário e pelos cursos por corres-
instituições sociais: família, escola, pondência.
produção. D e acordo com estudos experimentais
3. Para criar esta atitude, é igualmente e c o m a síntese de numerosos dados
necessário introduzir métodos de re- acumulados pela pedagogia durante todo
gulação sociopedagógica nos diferen- o período durante o qual se desenvolve-
tes sectores de actividade dos jovens r a m as escolas c o m desdobramento de
e dos adultos, o que exige u m a difusão horários e a t e n d e n d o igualmente aos
maximal dos conhecimentos pedagó- dados recentemente obtidos nas discipli-
gicos entre a população. nas associadas à pedagogia dos adultos,
. O Instituto realizou outro estudo sobre foi possível salientar os princípios meto-
a evolução, de u m ano para o outro, das dológicos e sociopsicológicos da educa-
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A educação dos adultos,
«elemento da educação permanente na U R S S
dispensado nas diferentes fases do sis- ,os objectivos enunciados pelo X X V Con-
tema de aperfeiçoamento. gresso do Partido. Tendo e m conta o seu
O estudo do que desejam os profes- número e o papel eminente que desem-
sores c o m u m a certa antiguidade e as penham na acção educativa e cultural
dificuldades que experimentam mostra- exercida junto dos adultos, o Instituto
ram que eles pretendem aumentar e com- estuda a maneira como as universidades
pletar os seus conhecimentos científicos são organizadas, assim como o conteúdo,
e teóricos, enquanto os jovens sentem as formas e os métodos de ensino que
mais necessidade de u m a formação di- dispensam.
dáctica e metodológica geral. Antigamente, a pedagogia abordava
O s investigadores do instituto pude- muito raramente este género de proble-
ram, assim, estabelecer planos e progra- m a s . O próprio objecto do estudo sobre
m a s temáticos de aperfeiçoamento dos a universidade popular como estabeleci-
professores e dos directores de estabe- mento de ensino extra-escolar para adul-
lecimentos escolares, o que constitui u m a tos não estava claramente definido. I m -
inovação. portava, pois, por princípio, determinar
Depois de terem sido objecto de u m a as funções da universidade popular no
experiência preliminar, estes planos e sistema de educação do país. Estabele-
programas eneontranvse actualmente e m ceu-se que a universidade popular, que é
aplicação. u m a forma de estabelecimento de ensino
público, tem por principal função orga-
E S T U D O D O S M E I O S PRÓPRIOS nizar a educação permanente extra-esco-
P A R A E L E V A R O I N I V E L IDEOLÓGICO, lar e a auto-instrução dos adultos. Asse-
POLITICO E C U L T U R A L gura simultaneamente a difusão d o s
DOS T R A B A L H A D O R E S conhecimentos políticos e científicos en-
tre a população e organiza os tempos
A o contrário do que sucede com as qua- livres dos trabalhadores de forma a ele-
lificações profissionais, cujo aperfeiçoa- var o seu nível educativo e cultural.
mento é essencialmente assegurado por Todas as universidades populares acumu-
meios institucionis, a elevação do nível lam estas funções.
ideológico, político e cultural dos adultos
decorre da autodidaxia dirigida por cer- A s universidades populares apresen-
tas instituições ou pelo próprio indivíduo. tam todos os sinais exteriores de u m
N a U R S S , todos os indivíduos podem es- estabelecimento de ensino, m a s são cria-
colher a orientação e o conteúdo da sua das por iniciativa da opinião pública.
educação pós-escolar de acordo com os O conteúdo do ensino e a organização
seus gostos e necessidades espirituais. dos cursos não se encontram subordi-
O cidadão soviético dispõe de múltiplas nados a nenhuma norma e a admissão
possibilidades para se instruir pelos seus dos auditores é voluntária e não se
próprios meios: bibliotecas, clubes, palá- submete a nenhuma restrição. A univer-
cios e casas de cultura, Cet S cto das artes sidade popular é autogerida e a activi-
e do artesanato, casas de professores, de dade dos professores assume u m carác-
médicos e outros especialistas, salas de ter social.
leitura rurais, etc. Existem muitos cen- O estudo mostrou que, nestas condi-
tros de conferências, CcLSctS de educação ções, a rede de universidades populares,
ipolítica, universidades populares cujo nú- asim como o conteúdo e a organização
m e r o ultrapassa actualmente os 28 000 1 .
A s universidades populares mostram-
-se muito activas e m matéria de educa- 1; Narodnoe obrazovamáe, nauka i kiãtura v
SSSR (A Instrução Pública, a Ciência e a
ção e o seu desenvolvimento figura entre Cultura na U R S S ) , p. 303.
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Tendências e casos
Dennia B. P. Kalen (Holanda). Professor no * O artigo que se segue é uma versão ligei-
Departamento de Educação da Universidade de ramente alterada de uma comunicação efec-
Amsterdão. Actualmente, é membro do Insti- tuada pelo autor na conferência actual da
tuto de Educação da Fundação Europeia da British Association for Adult Education que
Cultura, em Paris. se realizou •em Brighton, &m 1974.
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Tendencias e casos
tes dois domínios. D o ponto de vista dos Por outras palavras, tudo o que eu pu-
métodos, das técnicas e da recolha de desse dizer sobre as eventuais implicações
dados, a economia da educação dispõe económicas da educação 'recorrente esta-
actualmente de todo u m arsenal de pla- ria sujeito a controvérsia u m a vez que
nificação e de elaboração de políticas eu seria obrigado a adoptar postula-
da educação. N ã o obstante os numerosos dos teóricos que muitos poderiam con-
contratempos sofridos, ela permite que testar.
os governos planifiquem c o m suficiente Segvmdo. O estado' das implicações eco-
precisão o desenvolvimento da educação, nómicas da educação recorrente deve evi-
embora o façam, na maior parte das tar os erros cometidos nos primeiros
vezes, na base da «iprocura social» e não tempos da economia da educação. Exige
das «necessidades e m mão-de-obra» da u m a óptica integrada e global do sistema,
educação — sendo a abordagem tradicio- asim como u m conhecimento profundo da
nal baseada na «taxa de rentabilidade» sua organização, do seu funcionamento,
muito mais raramente utilizada. do seu contexto social, económico e polí-
N o entanto, tornou-se manifesto que tico. Infelizmente, trata-se de condições
a elaboração das políticas e da planifi- muito mais difíceis de satisfazer no caso
cação da educação não pode ser efec- da educação recorrente —supondo que
tuada n u m a base estritamente econó- ela já funciona — do que no caso da
mica, i n d e p e n d e n t e m e n t e dos outros educação escolar tradicional. C o m efeito,
objectivos da educação, do processo de a educação recorrente caracteriza-se pre-
tomada de decisões políticas e do quadro cisamente pela sua forte integração na
institucional do ensino. Por outras pala- colectividade e na sociedade; ela deve
vras, a planificação da educação não pode constituir u m sistema largamente «des-
dividir-'se e m compartimentos estanques, colarizado», m a s talvez não exactamente
dos quais u m seria consagrado ao as- no sentido e nas proporções estabelecidas
pecto económico. Ela deve ser, desde o por Illich.
início, u m a 'empresa interdisciplinar e não Terceiro. Podemos avaliar as implica-
apenas durante a fase de integração dos ções financeiras e económicas de u m
resultados das diferentes análises. subsistema social, seja ele qual for, sem
O que iremos tratar e m seguida tor- fazer referência à política seguida. N a
nar-se-ia certamente mais claro se m e planificação da educação, a expressão
detivesse mais longamente no desenvol- «planificação da política» r e m e t e - n o s
vimento da teoria e da prática da eco- para este contexto. A «elaboração da
nomia da educação e das suas implicações política» implica que se façam opções,
na planificação e na elaboração das polí- que se estabeleçam prioridades. C o m o é
ticas da educação. Espero, porém, que óbvio, determinam-se estas prioridades
estas breves considerações sejam sufi- — idealmente — depois de ter analisado
cientes para situar as observações limi- as suas implicações e cria-se a possibili-
nares que gostaria de formular. dade de introduzir ajustamentos na base
Primeiro. Ainda não chegou o m o - dos ensinamentos obtidos a partir da
mento de estudar de m o d o aprofundado experiência prática. N o entanto, o pla-
as implicações económicas e financeiras nificador só poderá empenhar-se no
da educação recorrente não só porque trabalho quando o responsável pela ela-
ainda não chegámos a acordo sobre o que boração da política tiver terminado o
o novo conceito engloba, m a s t a m b é m seu.
porque os instrumentos teóricos e meto- N o caso da educação recorrente — e
dológicos necessários a essa análise ainda admito que se aplica igualmente à edu-
não estão suficientemente elaborados. cação permanente— ainda nenhum país
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O projecto húngaro
para a escola do futuro
Bozsa Bet
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Tendencias e caso®
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Revista de publicações
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raros estudos sobre este tema cujas fontes de m a s pratiioajmente todas... ajudam a clarificar,
informação são tanto europeias como america- a guiar a reflexão» (p. 260). Embora sejamos
nas. Tendo e m conta a grande diversidade do muitas vezes forçados, pelo menos na fase ac-
material estudado, felicitamos os autores pela tual, a adoptar u m a abordagem pragamática e
clareza da apresentação. Não podemos também ecléctica dos problemas que se colocam no
deixar de lhes agradecer o facto de fornecerem, domínio da educação, interessa reconhecer que
contrariamente ao que sucede com muitas pu- esta abordagem pode substituir a elaboração
blicações e m francês no domínio da educação, de modelos coerentes e bem definidos. Quando
u m a vasta bibliografia incluindo mais de 120 lemos, entre as recomendações finais dos auto-
referências. res, «todas as instâncias (encarregadas da defi-
N o entanto, devemos igualmente mencionar nição dos objectivos da educação) seriam sis-
as limitações desta obra. Embora o quadro a tematicamente iniciadas ena metodologia da
três níveis proposto nas primeiras páginas seja definição dos objectivos» (p. 271) (palavras
utilizado como meio de organizar o material sublinhadas por m i m ) , perguntamo-nos, perante
estudado, os autores não atribuíram u m a grande a 'multiplicidade dias propostas não articuladas
importância às articulações entre estes níveis. estudadas na obra, se esta (metodologia já existe.
Exceptuando algumas generalidades do tipo «as E m resumo, se o livro de Viviane e Gilbert
taxonomías parecem unir a filosofia e a tecno- de Landsheere não contribui praticamente com
logia da educação» (p. 195), as explicações são nada de original para a conceptualização do
raras, assim como os exemplos que ilustram processo de definição dos objectivos, faz o ponto
as operações a efectuar para transformar os da Situação de maneira coerente e exaustiva.
objectivos, obrigando-0'S a passar de u m nível N o s países francófonos, será certamente muito
de generalidade/especificidade para outro. utilizado com© texto de base no ensino univer-
Quando examinam os diferentes níveis de sitário da pedagogia e nos programas de for-
definição, os autores ultrapassam a compilação mação dos professores. Além disso, poderá ser
das propostas existentes e da avaliação dos útil como obra de consulta para os investiga-
seus pontos fortes e pontos fracos. A s suas dores e para os que trabalham na elaboração
conclusões reflectem igualmente u m a tendência e na avaliação do curriculum.
para o ecletismo pragmático: por exemplo, no
que respeita às diversas taxonomías que es- Linda K . A L L A L
tudaram, afirmam: «nenhuma parece perfeita Universidade de Genebra
E m Abril de 1976, 230 pessoas de 29 países reu- u m interesse efectivo para os professores ou
niram-se na Universidade aberta de Milton Key- para aqueles que trabalham com professores
nes, na Inglaterra, para discutir os probelmas ou investigadores, na realização de programas
suscitados pela avaliação dos programas edu- para os media, parece referir-se essencialmente
cativos transmitidos pela televisão e pela radio- à investigação sobre os media, considerada
difusão. Esta reunião tinha sido organizada por como profissão e modo de vida.
iniciativa da Universidade aberta que se e m - E m termos técnicos de comunicação, a sim-
penhou, tanto no plano financeiro como no ples transcrição dos debates de conferência
plano teórico, na via do telensino, embora já raramente fornece textos de fácil leitura. Falar
não constitua, muito longe disso, essa «uni- perante u m grupo ou u m auditório é estabelecer
versidade das ondas» cuja ideia tinha suscitado u m contacto directo e interacções com pessoas;
tanto entusiasmo no Reino Unido no início dos escrever e 1er dependem, pelo contrário, de u m
anos sessenta. Entre os participantes, conta- domínio diferente e exigem u m a linguagem de
vam-se 50 professores, técnicos de radiodifusão natureza diferente. O relatório interessante e
è investigadores da universidade aberta; as perfeitamente «legível» dos debates da confe-
outras 180 pessoas repartiam-se da seguinte rência que se realizou na Universidade aberta
maneira: 73 por cento de responsáveis pelas não apresenta este defeito. Muito judiciosa-
políticas ou de investigadores e 18 por cento mente, Tony Bates e o seu eminente comité de
de realizadores, enquanto os utentes só repre- direcção procuraram que as principais comuni-
sentavam 9 por cento. Os debates e as comu- cações fossem impressas e distribuídas previa-
nicações apresentadas basearam-se, pois, es- mente. A própria conferência dedicou-se essen-
sencialmente na investigação e avaliação no cialmente ao estudo directo dos temas tratados
domínio da educação e se esta obra apresenta nestes textos. O s três primeiros dias foram
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Notas e comunicações
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Notas e comunicações
zarti a investigação como os bêbados se servem as ligações radioeléctricas por satélite entre as
dos postes de iluminação, para se apoiarem». ilhas do Sul do Pacífico.
E Dieuzeide prossegue dizendo que todo o pro- Para todos os que se interessam pelo ótesen-
cesso educativo é profundamente irracional, o volvdoiento da educação à distância, esta obra
que parece implicar que nós ainda não o com- constituirá u m maravilhoso ponto de partida,
preendemos. pois todos desejarão que se estabeleçam dis-
O s livros deste género são caros, hoje era dia, tinções mais subtis entre os diferentes tipos de
m a s este volume deve certamente encontrar o estudantes, de matérias, de media e de difusão.
seu lugar e m toda a biblioteca destinada aos Implicitamente, porém, este livro marca o início
estudos sobre a educação. O s resumos das 75 de u m a série histórica. Apereebeimc-nos actual-
comunicações, as exposições liminares apresen- mente, de que, e m muitos locais, investigadores
tadas por personalidades eminentes, u m a biblio- independentes, percorreram os m e s m o s cami-
grafia internacional, assim como os nomes e os nhos e, como Wilbur S c h r a m m afirma na sua
países de origem dos 180 participantes trans- exposição liminar, «as suas actividades atin-
formam-no n u m a obra de consulta muito útil. giram agora o ponto e m que podem fundir-se
Ê u m a obra de leitura particularmente agra- para constituir verdadeiramente u m domínio de
dável e o panorama que contém dos programas estudo».
realizados pelos medias e dö ensino à distância
e m muitos países fornece, muitos apanhados,
embora incompletos, e suscita novas ideias. Michael C L A R K E (Reino Unido)
Existem, porém, omissões surpreendentes: nada Director do Oentro Audiovisual
sobre o trabalho da N H K , no Japão, nem sobre da Universidade de Londres
O livro de Gillette sobre a educação na Repú- e m particular a reforma dos programas e dos
blica Unida da Tanzânia, recentemente publi- métodos e a adopção de u m a língua nacional
cado, vem enriquecer muito seriamente o nosso (o kiswahili) como veiculo do ensino primário.
conhecimento sobre o que representa e educação Os programas de educação extra^escolar de-
extra-escolar no Terceiro M u n d o . correm de maás de dez instituições, o que não
Parte de u m exame profundo dos programas simplifica a tarefa. O autor parece pensar que
de educação de adultos e de educação extra- o seu agrupamento sob a égide de u m a institui-
-escolar da República Unida da Tanzânia, ba- ção única dotada da necessária maleabilidade
seado e m documentos provenientes dos serviços responderia melhor às necessldadies da Repú-
oficiais, de institutos como o Institute of Adult blica Unida da Tanzânia e de outros países do
Education e de organizações internacionais, so- Terceiro Mundo*
bre a investigação pedagógica efectuada na ¡Na parte intitulada «Os recursos: acelerado-
República Unida da Tanzânia e sobre as entre- res e travões», o autor dá-nos u m a ideia dos
vistas c o m profissionais tamzanian'os e estran- esforços desenvolvidos pela República Unida
geiros. da Tanzânia para transferir e modificar os
Gillette analisa a evolução dos programas de programas de educação extra-escolar. Assinala
educação escolar e extra-escolar, desde o pe- muito particularmente a utilização de u m pe-
rlado pré-colonial até aos nossos dias. Estuda queno material disponível de imediato. Embora
as transformações que se produziram desde a «divergência e convergência» coexistam, a R e -
época e m que perdominavam o ensino africano pública Unida da Tanzânia conseguiu submeter
tradicional e o ensino islâmico. Estabelece igual- a primeira à segunda, graças, por exemplo, aos
mente u m paralelo entre a educação escolar e «centros comunitários» (centros polivalentes ao
a educação extra-escolar, evocando as suas se- nível da aldeia).
melhanças e diferenças. O ensino colonial ba- A partir de 1973, os programas extra-escola-
seava-se e m objectivos individualistas; e m 1967, res atingiram u m quinto do orçamento da educa-
a declaração de Aruxha, intitulada «A educação ção. O financiamento da educação por intermé-
para a auto-suflciência» (Education for self- dio dos centros comunitários poderia constituir
reliance) marcou u m a viragem: os objectivos u m factor de estabilização das despesas globais
da educação passariam a estar adaptados a u m da colectividade. M a s , a produção económica
modelo socialista de desenvolvimento endógeno. efectiva das escolas nos centros comunitários
Outros factores contiUbuíram para revolucionar parece ser ainda fraca e m relação às despesas
a educação na República Unida da Tanzânia, de equipamento.
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Notas e comunicações
N o que diz respeito à evolução da influência O livro de Gillette contém alguns pontos fra-
estrangeira sobre a educação na República cos: não propõe modelo de avaliação dos pro-
Unida da Tanzânia e no Terceiro Mundo, a gramas extra-escolares (alfabetização) na R e -
tendência é previsível: a ajuda concedida aos pública Unida da Tanzânia, n e m estruturas que
programas extra-escolares — e m particular à permitam reagrupar estes programas sob a
alfabetização — prosseguirá, m a s a «utilidade égide de u m a instituição única. A interpretação
de u m a boa parte desta ajuda é constestável» ; fornecida pelo autor sobre «ensino africano
a ajuda faz parte do que a colonização roubou tradicional» (em especial no que se refere à
aos países e m desenvolvimento e as condições educação) não corresponde às normas socio-
de concessão são mais favoráveis a quem dá lógicas da África dos nossos dias.
do que ao beneficiário. Gillette escreveu u m a obra de base muito
Gilette faz oportunamente u m a advertência interessante sobre a educação escolar e extra-
que m e parece essencial: «Esta influência es- -escolar na República Unida da Tanzânia, que
trangeira negativa parece ter-se exercido si- poderá ser proveitosamente consultada por to-
multaneamente sobre o plano da alfabetização dos aqueles que trabalham neste domínio da
e sobre o do ensino técnico. M e s m o quando a educação.
política que preside aos programas está de
acordo c o m os objectivos da educação para a Yosiah D - M - B W A T W A
auto-suficiencia, a influência estrangeira pode Departamento de pedagogia
ser inoportuna, como no caso da formação de da Universidade de D a r es Salaam,
cooperantes» (p. 293). República Unida da Tanzânia
257
PERSPECTIVAS
Já publicada nas línguas francesa, inglesa, espanhola e árabe, Perspectivas estará a
partir de agora também ao alcance de todos os leitores de língua portuguesa. Ela irá constituir
decerto u m importante elo de comunicação entre os países de expressão lusíada e a corrente
universal votada aos problemas do desenvolvimento da educação.
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