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O ENSINO METODOLÓGICO PARA O ENSINO NA

SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA
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O ENSINO METODOLÓGICO PARA O


ENSINO NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA

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SUMÁRIO

O ensino Metodológico para o ensino na Sociedade Contemporânea ....................................... 4


O HOMEM, A EDUCAÇÃO E A ESCOLA ........................................................................................ 4
A PEDAGOGIA E A DIDÁTICA COMO CAMPOS DE CONHECIMENTO CIENTÍFICO E
PEDAGÓGICO ..................................................................................................................................... 9
CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA NO BRASIL.............................................. 10
Pedagogia tradicional ........................................................................................................................ 11
Pedagogia Renovada ........................................................................................................................ 13
Pedagogia tecnicista .......................................................................................................................... 15
Pedagogia Crítica ............................................................................................................................... 17
A Modernidade e a Pós-Modernidade ............................................................................................ 19
Escola como construção da modernidade ..................................................................................... 22
Professor: Desafios da prática pedagógica na atualidade. ......................................................... 27
REFERÊNCIAS .................................................................................................................................. 43
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O ensino Metodológico para o ensino na Sociedade Contemporânea

Prezados alunos, vamos refletir juntos sobre os conteúdos que compõem


esta disciplina: a Educação, a Pedagogia e a Didática. A educação é um fenômeno
social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e
funcionamento de todas as sociedades. Cada sociedade precisa cuidar da
formação de seus cidadãos, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades
físicas, emocionais e espirituais, prepará-las para a participação ativa e
transformadora nas várias instâncias da vida social.

O HOMEM, A EDUCAÇÃO E A ESCOLA

A educação corresponde a toda modalidade de influências e inter-relações


que convergem para a formação de traços de personalidade social e de caráter,
implicando uma concepção de mundo, ideais, valores, modos de agir, que se
traduzem em convicções ideológicas, morais, políticas, religiosas, princípios de
ação frente a situações reais e desafios da vida prática. Implica, portanto, “uma
busca realizada por um sujeito que é o homem” (FREIRE, 1988, p.70). Assim, a
educação em cada sociedade assume um conjunto de características peculiares,
os seres humanos se educam para que suas vidas tenham significados e sentidos
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próprios. Vejamos nós, homens e mulheres ocidentais, da América Latina,


brasileiros, baianos do sul ou do norte do Estado, temos modos de vida diferentes
do cidadão do sertão da Bahia, dos indígenas, dos quilombolas, de outras regiões
do país, dos orientais e de tantas outras sociedades e outros seres humanos, isto
porque a intencionalidade de educar é especifica de cada grupo social.
Durante séculos, a ação intencional de educar da humanidade vem sendo
modificada, adaptando o ser humano a novas realidades. Ficamos de 6 a 8 mil
anos plantando com a intenção de colher. Nesse período, a prática educativa
consistia na aquisição de instrumentos para o plantio e para a colheita. Na Idade
Média, a ação intencional de educar da humanidade esteve envolvida com a
formação do ser humano apoiada pela fé, toda produção era para enriquecimento
da Igreja e dos grandes feudos (GRISPUN, 2000).
Na Idade Moderna, início do século XIX, o advento da Revolução Industrial
ocasionou a mudança da ação intencional da humanidade com uma recodificação
da realidade, empurrando o ser humano para a modernização, consubstanciando a
transição da sociedade feudal para a sociedade capitalista burguesa. Nasceu uma
nova classe social, a burguesia, e uma nova sociedade, a capitalista. Essa nova
organização econômica e social influenciou diretamente na organização social de
hoje: pertencemos a uma sociedade ocidental, capitalista, dividida socialmente em
classes sociais: a burguesia e o trabalhador.
No início da Idade Moderna, “a burguesia que se instalava no poder
necessitava instrumentalizar-se culturalmente, formar seus quadros, formar o
cidadão, preparar as elites para o avanço tecnológico, forjar escalões e difundir sua
visão de mundo às camadas populares” (GHIRALDELLI JR, 1991, p.23). Era
preciso para tal, uma instituição oficial e eficiente – a Escola, e uma pedagogia
eficaz – a Pedagogia Tradicional. Assim, cria-se a Escola, instituição moderna,
organizadora de grandes redes de ensino que crescem em consonância com a
disseminação da Pedagogia Tradicional, cuja intencionalidade educativa vai ser
explicada no item 1.3 desta unidade. As grandes redes de ensino organizam e
estruturam a escola para o trabalho. “Era uma pedagogia elitista, mas, uma vez,
aplicada a amplas massas, contraditoriamente dava resultados positivos”
(GHIRALDELLI JR, 1991, p.15). E, de fato, a extensão da escola pública, nos
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países de capitalismo avançado, praticamente extinguiu o analfabetismo, elevando


o nível cultural das camadas populares, fenômeno que não ocorre no Brasil.

A teoria crítica na educação, que você vai estudar nesta disciplina e ao


longo do curso, desvela que esse modelo de educação para o trabalho alienou o
cidadão e não o preparou para o exercício crítico da sua cidadania, e que, no
Brasil, a escola com sua pedagogia europeia criou o fracasso escolar que se
reflete, até os dias atuais, nos alarmantes índices de analfabetismo. Para a
educação contemporânea crítica, a escola se consolida como a instituição capaz de
criar condições que garantam o aprendizado de conteúdos necessários para a vida
em sociedade, oferecendo instrumentos de compreensão da realidade, bem como
favorecendo a participação dos educandos em relações sociais diversificadas. O
trabalho específico da escola é proporcionar um conjunto de práticas planejadas
com o propósito de contribuir para que os alunos assimilem determinados
elementos culturais, considerados essenciais para o desenvolvimento do grupo e
do indivíduo.
A educação escolar é o instrumento que deve garantir a sociedade
democrática, ocidental, moderna, sustentada pelas relações de produção
capitalista; e, também, a socialização dos conhecimentos científicos e tecnológicos,
acumulados pela humanidade. A apropriação dos saberes organizados pelas
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diversas ciências constitui o indispensável para a formação e para o exercício da


cidadania.
À educação cabe fornecer, de algum modo, os mapas de um mundo
complexo e constantemente agitado e, ao mesmo tempo, a bússola que permita
navegar através dele. Segundo Morin (1999), a educação deve organizar-se em
torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda vida, serão, de
algum modo, para cada indivíduo, os pilares do conhecimento:
• Aprender a conhecer - adquirir os instrumentos da compreensão;
• Aprender a fazer - para poder agir sobre o meio envolvente;
• Aprender a viver juntos - a fim de participar e cooperar com os outros
em todas as atividades humanas;
• Aprender a ser - via essencial que integra as três precedentes.
Uma nova concepção ampliada de educação deve fazer com que todos
possam descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo - revelar o tesouro
escondido em cada um de nós. Isto supõe que se ultrapasse a visão puramente
instrumental da educação, considerada como a via obrigatória para obter certos
resultados (saber fazer, aquisição de capacidades diversas, fins de ordens
econômicas), e se passe a considerá-la em toda sua plenitude: realização da
pessoa que, na sua totalidade, aprende a ser (DELORS, 1996).
Enfim, a escola, na sociedade contemporânea, deve considerar que: As
novas tecnologias mudam o conceito de tempo, espaço e ensino;
• Cabe à educação o desenvolvimento integral da pessoa humana;
• O homem deve estar apto a viver em uma sociedade tecnológica e
globalizada;
• Não muda apenas o modo de aprender na escola, mas aquilo que se
necessita saber;
• Muda o eixo dos conteúdos para as competências e habilidades.
À escola cabe criar condições que garantam o aprendizado de conteúdos
necessários para a vida em sociedade, oferecendo instrumentos de compreensão
da realidade, bem como favorecendo a participação dos educandos nas instâncias
sociais de sua comunidade. O trabalho específico da escola é proporcionar um
conjunto de práticas planejadas com o propósito de contribuir para que os alunos
assimilem determinados elementos culturais, considerados essenciais para seu
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desenvolvimento e para a sociedade, que, dificilmente seriam adquiridos sem uma


orientação especifica.
Para Libâneo (1991, p.35), “A escolarização básica constitui instrumento
indispensável à construção da sociedade democrática, por que tem como função a
socialização daquela parcela do saber sistematizado que constitui o indispensável à
formação e ao exercício da cidadania”. As escolas brasileiras podem e devem
fortalecer-se como agências privilegiadas de formação para a cidadania.
Veja o que diz o professor Antônio Nóvoa (na unidade 1, p. 6-7, da disciplina
Educação a Distância, as autoras já trazem para discussão os desafios da escola
no mundo contemporâneo):
São muitos os desafios da Escola no mundo contemporâneo. Assinalo
apenas dois [...] Em primeiro lugar, a necessidade de construir outro ‘modelo de
Escola’. Continuamos fechados num modelo de Escola inventado no final do século
XIX e que já não serve para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo:
escolas voltadas para dentro dos quatro muros, currículos rígidos, professores
fechados no interior das salas de aula, horários escolares desajustados,
organização tradicional das turmas e dos ciclos de ensino etc. Defendo, por isso,
que é necessário repensar os modos de organização do trabalho escolar, desde a
estrutura física das escolas até a lógica curricular das disciplinas e dos programas,
desde as formas de agrupamento e de acompanhamento dos alunos até as
modalidades de recrutamento e de contratação dos professores. Temos de
reinventar a Escola se quisermos que ela cumpra um papel relevante nas
sociedades do século XXI. Em segundo lugar, a importância de nunca renunciar ao
conhecimento e à cultura. Quando se fala de ‘educação permanente’ (e, pior ainda,
de ‘educação e formação ao longo da vida’), há, por vezes, uma tendência para
valorizar certas competências técnicas ou instrumentais em detrimento do
conhecimento, da ciência e da cultura. Fala-se do ‘aprender a aprender’, das
capacidades de atualização e de procura autônoma do saber, das competências
informáticas e outras. Tudo isto é verdade e deve ser tido em conta. Mas estas
aprendizagens não se fazem no ‘vazio’. Por isso, não nos devemos vergar às
modas instrumentais e temos de manter uma grande atenção aos conhecimentos e
às disciplinas que formam os nossos alunos.
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A PEDAGOGIA E A DIDÁTICA COMO CAMPOS DE CONHECIMENTO


CIENTÍFICO E PEDAGÓGICO

A Pedagogia, entendida como um campo de conhecimento, que constitui o


que chamamos de saberes da área da educação, abriga as aprendizagens ligadas
ao ensinar e ao aprender sistematizados e potencializados em ato educativo. A
Pedagogia é um campo de conhecimento que investiga a natureza das finalidades
da educação numa determinada sociedade, bem como os meios para a formação
de seus indivíduos, tendo em vista prepará-los para a tarefa da vida social.
Abordar o campo da Pedagogia é tarefa complexa, uma vez que diferentes
significados lhe são atribuídos. A nomenclatura Pedagogia é utilizada por
professores, alunos e pela literatura quando se referem à ciência, ao curso, à
técnica e a diversas formas de ensinar. Distinguir esses diversos significados é
importante para compreendermos o campo da Pedagogia, seus fundamentos, sua
especificidade, sua função social e acadêmica.
A Pedagogia utiliza subsídios de outras ciências como a Psicologia,
Psicanálise, Sociologia, Antropologia, Filosofia, Economia etc. para tratar dos
processos de ensinar e aprender em espaços formais e não formais. Constitui-se
em uma ciência por construir e elaborar conhecimentos relacionados à educação
intencional, sistematizada, institucional, envolvendo o educador e o educando em
relações de aprendizagem.
Muitos modelos de ensino que propagam a ideia de uma Pedagogia
inovadora estão referindo-se a um método ou técnica de ensino. Nesta linha de
pensamento, Libâneo afirma que, acima de qualquer discussão, a Pedagogia é um
campo científico, “um campo de conhecimento sobre a problemática educativa na
sua totalidade e historicidade e ao mesmo tempo uma diretriz orientadora da ação
educativa” (2002, p.30).
Segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia
(2006), em seu Artigo 2º, a graduação em Pedagogia é um curso de formação
inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do
Ensino Fundamental, nos cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em
cursos de Educação Profissional, na área de serviços e apoio escolar, bem como
em outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos.
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Podemos afirmar que a Pedagogia é uma reflexão teórica sobre práticas


educativas que aborda o fenômeno educativo como integrante da realidade social,
tendo por objetos de estudo o ensinar e o aprender. Esses processos educativos
compreendem o ensinar e o aprender situados dentro de processo histórico,
cultural, econômico e social.
A Didática é a principal área de estudo da Pedagogia. Ela investiga os
fundamentos, condições e modos de instrução e de ensino, sendo a responsável
em converter objetivos sociopolíticos e pedagógicos em objetivos de ensino
(LIBÂNEO, 1991), e selecionar conteúdos e métodos em função desses objetivos,
tendo em vista as capacidades cognitivas, emocionais e sociais dos alunos. A
Didática está diretamente ligada à teoria da Organização Escolar e, de modo muito
especial, vincula-se à Teoria do Conhecimento e às Teorias da Aprendizagem.
Estes vínculos existem porque cabe a Didática o estudo sobre a teoria geral do
ensino, com base em seus vínculos com a
Pedagogia, que é a ciência da e para a educação. Ela generaliza os
processos e procedimentos obtidos na investigação das disciplinas específicas
(Matemática, Geografia, Ciências, Língua Portuguesa etc.), das ciências que dão
embasamento ao ensino e à aprendizagem (Sociologia, Psicologia, Filosofia,
Antropologia etc.) e das situações concretas da prática docente. Assim, o campo da
Didática abrange:
• O conteúdo que enfatiza a forma de se organizar o ensino;
• Os cursos de formação de professor;
• A disciplina que trata dos meios, do processo e das técnicas de
ensino.
O objeto de estudo da Didática são os processos de ensino e de
aprendizagem. Centrada em uma intenção de ensinar, envolve múltiplos aspectos:
Homem; Conhecimento; Escola; Método de Ensino; Professor; Aluno; Ensino;
Aprendizagem; Avaliação da Aprendizagem.
A seguir estudaremos as várias intenções de ensinar da Didática e suas
dimensões pedagógicas.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA DIDÁTICA NO BRASIL


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O sentido etimológico da palavra Didática deriva da expressão grega


techné didaktiké, que se traduz por arte ou técnica de ensinar. Com base neste
significado, João Amós Comenius (1592-1670), escreveu a primeira obra clássica
sobre Didática, a Didáctica Magna, no século XVII. Nesta obra, Comenius
sistematiza pela primeira vez os conteúdos da Didática, elabora uma proposta de
reforma da escola e do ensino e lança as bases para uma Pedagogia que prioriza a
“arte de ensinar”.
A proa e a popa da nossa Didática será investigar e descobrir o método
segundo o qual os professores ensinem menos e
os estudantes aprendam mais, nas escolas haja
menos barulho, menos enfado, menos trabalho
inútil, e, ao contrário, haja mais reconhecimento,
mais atrativo e mais sólido progresso
(COMENIUS, 1976, p.44).
A partir de Comenius, a Didática se
confirma como um conteúdo que enfatiza a forma
de se organizar o ensino. Constitui – se, nos
cursos de formação de professor, como a
disciplina que trata dos meios, dos processos e
das técnicas de ensino.

Pedagogia tradicional

Do século XVII até o final do século XIX, a Didática ficou conhecida como a
Didática Tradicional. Além de Comenius, seus maiores representantes são: Jean
Jacques Rousseau (1712-1778), Henrique Pestalozzi (1746-1827) e Johan
Friedrich Herbart (17661841). As ideias desses pedagogos constituem as bases do
pensamento pedagógico de toda Europa e influenciaram os outros continentes.
Suas teorias da educação originaram a Pedagogia Tradicional. O primado da
Pedagogia tradicional é a transmissão do saber. Acredita-se que o saber
acumulado pela humanidade deve ser rigorosamente adquirido para o
desenvolvimento intelectual e moral das pessoas.
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Elementos que compõem a didática na pedagogia tradicional

Vejamos como a Pedagogia Tradicional se estruturou a partir dos elementos


da didática:
• Homem – compreendido a partir dos ideais de igualdade e liberdade
pautados na política liberal.
• Conhecimento – a ciência é a única fonte de conhecimento verdadeiro.
O conhecimento enciclopédico é transmitido de uma geração para outra.
• Escola – a instituição responsável em preparar os indivíduos para o
desempenho dos papéis sociais. Deverá educar para as normas vigentes da
sociedade através do desenvolvimento das aptidões individuais, garantindo o
preparo intelectual e moral dos alunos.
• Método de ensino – instrução organizada na exposição verbal do
professor, provocando o acúmulo de conteúdos:
- 1º) apresentação da matéria nova de forma clara e completa;
- 2º) associação entre os conteúdos antigos e os novos;
- 3º) sistematização e generalização dos conteúdos; - 4º) aplicação de
exercícios e testes.
• Professor – é o arquiteto da mente, o dono do saber, a autoridade
maior responsável pelo ensino, centro do processo educativo.
• Aluno – receptor dos conteúdos transmitidos e do método aplicado.
• Ensino – propedêutico, sustentado nas cátedras, organizado
basicamente pela oratória do professor e pela aula expositiva, entendido como a
“arte de ensinar” e toda ênfase está na teoria.
• Aprendizagem – memorização de conteúdos, acúmulo de saberes
transmitidos pelo professor e repetidos nos livros.
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• Avaliação da aprendizagem – individual, oral ou escrita.


Para esta educação só é possível aprender mediante uma rigorosa
disciplina. Podemos afirmar que a Pedagogia Tradicional dominou a educação
brasileira até 1930, entretanto, ao discutirmos o ensino nas escolas brasileiras,
identificamos que essa tendência ainda persiste em algumas escolas da educação
básica e nas universidades; principalmente, no que se refere aos conteúdos
isolados da realidade social: ao ensino sem participação e reflexão crítica dos
alunos e às relações de poder hierarquizadas no interior da escola e das salas de
aula.

Pedagogia Renovada

A partir da segunda metade do século XX, a Didática entendida como


experimental questiona os meios e as técnicas que se aplicam ao ensino, e passa a
se preocupar com a seguinte questão: que método é mais adequado para a
aprendizagem de um conteúdo específico ou de determinada habilidade? Essa
pergunta é respondida pelos teóricos considerando duas teorias da Psicologia: a
Psicologia Humanista, representada por Carl Rogers, e a Psicologia
Comportamental, representada por Burrhus Frederic Skinner.
A Pedagogia, organizada a partir da Psicologia Humanista, é conhecida, no
Brasil, como A Pedagogia Renovada ou Movimento dos Pioneiros da Escola Nova
(1932), cujo principal representante é John Dewey (1859–1952) nos Estados
Unidos, que irá influenciar significativamente as ideias de Anísio Teixeira (1900 -
1971) e de Lauro de Oliveira Lima (1921-...), entre outros educadores no Brasil. A
Didática, sustentada na teoria rogeriana, defende a ideia de que a aprendizagem
verdadeira é aquela que nasce dos aspectos sociais, emocionais e cognitivos do
aluno. A proposta defendida pela Psicologia Humanista de Carl Rogers (1902 -
1987), não considera o ensino um processo de transmissão, pelo professor aos
alunos, de conteúdos prontos, nem mesmo um processo de direção da
aprendizagem. Quase sempre essa proposta prefere não falar em ensino, mas em
facilitação da aprendizagem, centra o professor na função de estimular o aprendiz a
aprender. A escola deve ajustar o cidadão ao seu meio social, aproximando-se da
vida dos alunos.
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Elementos que compõem a didática na pedagogia renovada

A Pedagogia Renovada ou Progressivista contrapõe a Pedagogia


Tradicional, verifique nos elementos da Didática essa contraposição:
• Homem – compreendido a partir da sua existência, indivíduo único no
mundo, vive e interage em um mundo dinâmico.
• Conhecimento – produto da existência e da experiência que deverá ser
compreendido e socializado.
• Escola – instituição organizadora e articuladora entre as estruturas
cognitivas do indivíduo e as estruturas do meio ambiente.
• Método de ensino – aprender experimentando, aprender a aprender.
• Professor – facilitador da aprendizagem e do desenvolvimento
humano.
• Aluno – o aprendiz é o centro do processo educativo.
• Ensino - orientação individual para o aprender fazendo, através de
experimentação, pesquisas, dinâmicas de grupo e oficinas.
• Aprendizagem – atividade de descoberta, autoaprendizagem.
• Avaliação da aprendizagem – autoavaliação.
O ideário escolanovista pretendeu a superação da escola tradicional e
propôs mudanças no desenvolvimento integral do aluno, sustentado pelas ideias de
solidariedade e dignidade humana. O processo da educação escolar é responsável
pelo desenvolvimento integral do indivíduo: seus conteúdos de ensino devem ser
vinculados às experiências cotidianas da criança, e o método de ensino deve ser
fundamentalmente ativo, provocando desafios cognitivos, situações problemas e
estímulos à reflexão. A relação entre professor e aluno fundamenta–se na
confiança e na disciplina interna do aluno. Esta tendência teve grande repercussão
no Brasil, principalmente na Educação infantil, da década de trinta até nossos dias.
Vamos refletir sobre as sábias palavras do professor SAVIANI: [...] o
professor agiria como estimulador da aprendizagem cuja iniciativa principal caberia
aos próprios alunos. Tal aprendizagem seria decorrência espontânea do ambiente
estimulante e da relação viva que se estabeleceria entre os alunos e entre estes e o
professor, para tanto, cada professor teria que trabalhar com pequenos grupos de
alunos, sem o que a relação interpessoal, essência da atividade educativa, ficaria
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dificultada; e num ambiente estimulante, portanto, dotado de materiais didáticos


ricos, biblioteca de classe, etc. (SAVIANI, 1995, p.20).

Pedagogia tecnicista

No Brasil, entre 1950 e 1970, ocorre o desenvolvimento industrial e


tecnológico da economia. Em 1964, sofremos o golpe militar e passamos vinte anos
sob a égide da ditadura militar, cenário propício para o desenvolvimento do
tecnicismo educacional, inspirado nas teorias behavioristas. O behaviorismo é o
conjunto de teorias psicológicas que centra seus estudos no comportamento, cujas
unidades de análises são respostas e estímulos. O indivíduo, motivado por
estímulos planejados com rigor, responderá satisfatoriamente aos comandos
propostos. Esta abordagem atende às exigências da sociedade capitalista,
industrial e tecnológica, pois, para a sua sobrevivência, a massa de trabalhadores
precisa de objetivos rigorosamente planejados, executados e controlados.
O behaviorismo, representado por Burrhus Frederic Skinner (1904-1990),
propõe a Tecnologia do Ensino como área da educação que representa a ciência
do aprender e a arte de ensinar. O conhecimento organizado na Didática, a partir
da teoria Skinneriana, cria a Didática Tecnicista, cuja preocupação maior é a
aplicação de técnicas eficazes no ensino. Acredita essa abordagem que o resultado
satisfatório do ensino, a aprendizagem dos conteúdos somente ocorrem quando a
técnica de ensino for bem aplicada.

Elementos que compõem a didática na pedagogia tecnicista

Para a Pedagogia Tecnicista o ensino é


organizado pelos procedimentos e técnicas
necessários ao arranjo e controle do ambiente da
aprendizagem a fim de que seja assegurada a
transmissão e a recepção das informações. Conheça
os significados que são dados aos elementos da
Didática na Pedagogia Tecnicista:
• Homem - produto do meio social.
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• Conhecimento - resultado da experiência planejada, baseada nos


princípios científicos.
• Escola – responsável por qualificar mão de obra para o mercado de
trabalho.
• A Escola brasileira passa por grandes mudanças curriculares é
implementada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - 5692/71 que
introduz os cursos técnicos e as disciplinas técnicas no ensino.
• Método de ensino – processo de condicionamento através do estímulo
– resposta.
• Professor – especialista de uma determinada área é um técnico
capacitado para reproduzir com os alunos as dinâmicas aprendidas.
• Aluno – tem o papel de receber, fixar e repetir as técnicas e seus
conteúdos.
• Ensino – diretivo e instrução programada.
• Aprendizagem – fixação do programa aplicado, dos conteúdos
decorados e da repetição da técnica.
• Avaliação da aprendizagem - verificação dos resultados dos objetivos
propostos.
Essa abordagem encontra-se concretizada em uma série de práticas
pedagógicas, que vão dos audiovisuais, máquinas de ensinar, computadores no
ensino, técnicas de formulações de objetivos e de planejamentos, validação de
instrumentos de medidas de aprendizagens de alunos, até o ensino programado e
os módulos de ensino. Os conteúdos de ensino são organizados dentro de uma
sequência lógica e são baseados em informações e princípios científicos,
apresentados pelos manuais e módulos de autoinstrução. O centro desta tendência
não é o professor nem o aluno, é a técnica de ensino. É com essa abordagem que
o ensino crítico e reflexivo é relegado na educação brasileira.
Essa tendência define fortemente a educação brasileira a partir da década
de 30, e vai se consolidar em 70 com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – 5692/71. Com a LDB, toda escola brasileira, particular e pública,
organiza seu currículo para preparar indivíduos competentes para o mercado de
trabalho. Vamos relembrar no percurso da nossa escolaridade aprendizagens
pautadas na abordagem tecnicista:
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• Quem já não decorou um questionário (pergunta-resposta) de mais ou


menos 20 questões para a prova, cujas perguntas eram do tipo: Dê o conceito,
Cite, Enumere, Caracterize, Relacione, V ou F, Marque com X, etc.?
• A escola ensinou tanto através da fixação e da repetição que ainda
hoje uma das perguntas frequentes dos alunos é: Professor(a) o(a) senhor(a) vai
passar o questionário para a prova? Ou ainda: Professor(a) essa atividade é pra
nota?
• Você sabia que muitos programas de computadores são produzidos
com base na instrução do programa behaviorista? Os comandos são organizados
para que haja a repetição da sequência e não ocorram erros, mas, caso aconteça o
erro, é preciso voltar para os comandos iniciais e começar de novo.

Pedagogia Crítica

A partir da segunda metade da década de 70, acentua-se uma visão crítica


da Didática em relação à Didática instrumental tradicional e tecnicista. A
preocupação da Didática na formação do professor estava marcada por uma visão
centrada nos métodos de ensino, aplicação de técnicas, na organização das tarefas
a serem aplicadas etc.
Tal como outras áreas do conhecimento, a Didática também reflete o
contexto brasileiro em que ela é produzida. Depois de 1980, começam as críticas e
protestos civis ao regime de dominação autocrática sob o controle burocrático
militar instalado no Brasil em 1964. É, nesse contexto, que a Didática denuncia que
seus objetivos e conteúdos dissimulam e reforçam esse contexto social e político
de ditadura através da abordagem tecnicista de educação que ela representa.
A Didática que surge dessa discussão traz como princípio norteador a
abordagem crítica na educação; expressa conteúdos que se articulam com a
prática social dos alunos e professores, enquanto pressupostos e finalidades da
educação; propõe o tratamento não dicotomizado entre a teoria e a prática; articula
a didática teórica com a didática da prática; e considera o ensino nas suas múltiplas
dimensões: social, afetivo, cognitivo, motor, político etc. (MARTINS, 1997).
A nova didática traz quatro núcleos básicos de discussão para a formação
do professor nos cursos de licenciatura (CANDAU, 1995), a saber:
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1. A dimensão histórica, estudo da Didática, sua natureza, objeto e


conteúdos entendidos no processo de construção histórica;
2. A dimensão antropológica, estudo do trabalho docente e sua
organização na sociedade;
3. A dimensão ideológica, estudo do ensino tendo em vista as relações
entre fins pedagógicos e fins sociais;
4. A dimensão epistemológica, estudo do conteúdo e da forma, através
das relações entre método de ensino, método de aprender e método da
organização da matéria.
Cada um desses núcleos de discussão é abordado considerando os
elementos que compõem o ensino: objetivo, conteúdo, planejamento, relação
professor e aluno, material escolar, avaliação da aprendizagem.
Essa Didática crítica, contextualizada e socialmente comprometida com a
formação do professor têm seus representantes no Brasil em Paulo Freire (1921-
1997) com a Pedagogia Libertadora, e Demerval Saviani e com a Pedagogia
Crítico - social dos conteúdos, sustentada teoricamente pelo materialismo histórico.

A Didática na Pedagogia Crítica

A Pedagogia Crítica se baseia no ensino dialógico. Para Freire (2001), é


através do diálogo que se dá a verdadeira comunicação, onde os interlocutores são
ativos e iguais. A comunicação é uma relação social igualitária, dialogal, que produz
conhecimento. Verifique a partir dos elementos da didática como acontece o ensino
para esta tendência:
• Homem – cidadão e agente de transformação social.
• Conhecimento – socialmente referenciado, reflexivo e crítico.
• Escola - construtora de conhecimento crítico que busca a
transformação social.
• Método de ensino – dialético, parte da experiência do aluno e do
professor, confrontando-a com o saber sistematizado, pautado na dialogicidade, o
diálogo como produtor de conhecimento e de emancipação do cidadão.
• Professor – mediador, orientador e agente de mudança social.
• Aluno - aprendiz participativo e crítico.
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• Ensino – organização de experiências destacando os conhecimentos


da ciência para explicá-las criticamente.
• Aprendizagem – desenvolvimento de estruturas cognitivas e sociais
para a emancipação do aluno e do professor.
• Avaliação da aprendizagem - avaliar para mudar; autoavaliação.

A Modernidade e a Pós-Modernidade

Na segunda metade do século XIX, a Europa foi sacudida pelo surgimento


das indústrias e a explosão das tecnologias, e com isso grande contingente
humanos foram lançados em um ambiente onde nada se assemelhava ao
transtorno da existência coletiva até então existente, isto é, à repetição, à
preservação dos costumes, às relações personalizadas, à preponderância dos
laços morais. Essa industrialização e consequente urbanização abalaram as
estruturas sociais, varrendo rotinas e referências estabelecidas, pois provocaram
profundas alterações nas formas de trabalho, na tecnologia, na produtividade, nas
aglomerações humanas, nos meios de comunicação etc. (Fridmann, 1999).
Todas essas mudanças foram denominadas de progresso pelas mentes
mais autoconfiantes, pois não se refletia sobre seus efeitos danosos, mas sim como
esse conceito refletia melhor o entusiasmo por essas realizações. Mais tarde surge
a “palavra modernidade (que) foi adotada como designação abrangente e menos
apologética que progresso para as mudanças econômicas, sociais, políticas,
culturais e subjetivas que criaram esse cenário de façanhas imensas e
inseguranças assustadoras” (Fridmann, 1999, p. 03).
Na sociedade moderna, segundo críticos da modernidade, os valores
perdem seu caráter relacional, deixando lugar para a teleologia meiofim, para a
quantidade, para o aumento do individualismo e da funcionalidade das relações
sociais. Nesse cenário, os valores pessoais reduzem-se a valores monetários e o
estilo de vida torna-se um contraposto de elementos estanques e fragmentários.
(Tedesco, 2004, p. 61)
A passagem para a modernidade não é a da subjetividade para a
objetividade, da ação centrada sobre si para a ação impessoal, técnica ou
burocrática. Ela conduz, da adaptação ao mundo para a construção de mundos
20

novos, da razão que descobre as ideias eternos para a ação que, racionalizando o
mundo, liberta o sujeito e o recompõe. (Touraine, 1994, p. 243)
Na Modernidade o homem se conscientiza de suas capacidades racionais
para o desvendamento dos segredos da natureza, buscando empregá-las para
solucionar seus problemas, e com isso substitui uma cultura teocêntrica e
metafísica por uma cultura antropocêntrica e secular (Goergen, 2001). Em suma, as
principais características do projeto moderno são “a ilimitada confiança na razão,
capaz de dominar os princípios naturais em proveito dos homens e a crença numa
trajetória humana que, pelo mesmo uso da razão, garantiria à sociedade um futuro
melhor” (Goergen, 2001, p.12-13).
A ideia de modernidade, na sua forma mais ambiciosa, foi a afirmação de
que o homem é o que ele faz, e que, portanto, deve existir uma correspondência
cada vez mais estreita entre produção, tornada mais eficaz pela ciência, a
tecnologia ou a administração, a organização da sociedade, regulada pela lei e a
vida pessoal, animada pelo interesse, mas também pela vontade de se liberar de
todas as opressões. (...) É a razão que anima a ciência e suas aplicações; é ela
também que comanda a adaptação da vida social às necessidades individuais ou
coletivas; é ela, finalmente, que substitui a arbitrariedade e a violência pelo Estado
de direito e pelo mercado. A humanidade, agindo segundo suas leis, avança
simultaneamente em direção à abundância, à liberdade e à felicidade” (Touraine,
1994, p. 9)
A partir disso, o homem depende da sua capacidade racional de desvendar
os segredos da natureza, descobrir suas regularidades e colocar estes
conhecimentos a serviço do homem pela tecnologia. A razão torna-se a nova força
do homem pela qual ele pode intervir no mundo natural e social, promovendo a
emancipação do homem através da ciência e da tecnologia. Conforme Goergen
(2001)
...se antes era a fé, agora é a razão que garante a salvação. O processo de
secularização representou também o estreitamento do conceito de salvação. O que
se passa a chamar emancipação refere-se apenas ao secular, ao material, ao
aspecto histórico-físico do homem. Da mesma forma, o novo instrumento de
salvação – a razão – sofre um reducionismo na medida em que ela, mais e mais, é
restritiva à sua dimensão científica, matemática (Goergen, 2001, p.17).
21

Essa intervenção no mundo natural e social através do uso indiscriminado da


razão não levou o homem à felicidade, a um bem maior para toda a comunidade,
mas sim a grandes catástrofes e “forças que se avoluman, ganham contorno,
expandem-se e indicam caminhos anteriormente não previstos pelas grandes
teorias da modernidade, que associavam razão, progresso, emancipação e
felicidade” (Fridmann, 1999, p. 18).
Apesar dos inquestionáveis avanços dos grupos humanos neste período, as
ambiciosas promessas dos grandes relatos e a fé inquebrantável no poder da razão
(definida habitualmente como única e com maiúscula) se chocam inevitavelmente
com a frustrante linguagem de fatos e acontecimentos dolorosos e decepcionantes
para a humanidade. (...) a modernidade, tão orgulhosa e segura do poder da razão
e da esperança de felicidade, vê frustrados seus projetos diante de acontecimentos
históricos tão desprovidos de razão, como as duas guerras mundiais; Hiroshima;
Nagasaki; o extermínio provocado pelos nazista; as invasões russas de Berlim,
Praga, Budapeste, Polônia; as guerras do Vietnã e do Golfo pérsico; a crise dos
Bálcãs: Croácia e Sérvia; o desastre de Chernobyl; a fome a greve; a imigração; o
racismo e a xenofobia; a desigualdade norte sul; as políticas totalitárias; a
destruição de alimentos para manter os preços; a corrida armamentista; as armas
nucleares, etc. (Pérez Gómez, 2001, p. 23-24)
Zygmunt Bauman traz a Modernidade como um sólido, contrapondo com a
época atual que seria fluída, líquida, pois “os líquidos, diferentemente dos sólidos,
não mantém sua forma com facilidade” (Bauman, 2001, p. 8). Podemos basear sua
teoria no Manifesto comunista, na sua famosa frase sobre o “derretimento dos
sólidos”, que considerava a sociedade moderna estagnada demais para o seu
gosto e resistente demais para mudar e moldar-se a suas ambições, considerando
desta forma, necessário derreter os sólidos, isto é, por definição, “dissolvendo o
que quer que persistisse no tempo e fosse infenso à sua passagem ou imune a seu
fluxo” (Ibid, p. 9).
A presente fase, a modernidade líquida, “ideia que Bauman utiliza para
expressar sua concepção de modernidade, que, para ele, adquiriu uma perspectiva
transbordante, esvaída, em oposição ao conceito de sólido enquanto duradouro,
dada a fluidez do mundo contemporâneo” (Soczek, 2004, p. 2), está marcada pela
desconstrução da ideia de comunidade. A separação entre os produtores e as
22

fontes de sobrevivência, os negócios e o lar que resultaram na busca do livre lucro,


mas também no rompimento dos laços morais e emocionais, a exigência de um
controle forte, às insuficiências das tentativas de manipulação e adequação dos
trabalhadores a isso, emergiu a ideia de desregulamentação, como um processo
entre mercado e trabalhadores.
Como os custos da regulação dos trabalhadores é alto (necessidade de
instrumentos de controle e capatazes), o sentimento de incerteza torna-se o
mecanismo mais simples de dominação de classe trabalhadora. A incerteza quanto
ao futuro do emprego, sua precariedade, faz com que a empregabilidade não seja
assegurada nem pelo cargo que se exerce nem pela qualificação do trabalhador,
nem por qualquer outro motivo. Em uma sociedade de risco, o medo vem de dentro
das pessoas e não é mais necessário um panóptico externo. (Soczek, 2004, p.3)
Podemos constatar as vertiginosas mudanças sócio-político-econômico-
culturais que sacodem o nosso tempo, que transformaram a sociedade, pois
abalaram os alicerces dos paradigmas da modernidade. Concepções se destacam
e podem ser tomadas como referência, e dizem respeito às caracterizações da
sociedade da imagem e da sociedade do conhecimento.
(...) considera-se que vivemos em uma cultura dominada por imagens, onde
a mídia tem um papel fundamental na produção de narrativas que criam um
universo de ilusão. (...) A sociedade do conhecimento é vista pela disseminação do
conhecimento a todos os planos da vida social e a filtragem de informação
relevante nas rotinas do cotidiano. A aspiração de que através da razão os homens
controlariam seu destino e alcançariam a felicidade derivou para um mundo fora de
controle, processo de amplas consequências sobre a economia, a política, a cultura
e a subjetividade.(Fridmann, 199, p.4 -5)

Escola como construção da modernidade

A necessidade de compreender a função da escola neste século XXI nos


remete à busca dos significados e dos sentidos que o sistema educativo tem – ou
deveria ter – diante da formação das novas gerações. Esta compreensão se torna
fundamental quando percebemos que a escola se mantém de maneira tenaz,
impondo certos modos de conduta, de pensamento e de relações próprias,
23

independente das mudanças que ocorrem na sociedade; o que a torna


desinteressante para a grande demanda de estudantes que são obrigados a
frequentá-la diariamente.
Com o entendimento da escola como uma construção da Modernidade, que
impõem um único modelo da Cultura, privilegiando uma forma particular de
civilização, com um indivíduo emancipado, porém conformado com as imposições
do Estado Percebemos que as instituições educativas realizam um trabalho o qual
visa o controle, tornar dócil a consciência, isto é, almejam um indivíduo
normalizado. Na Modernidade a escola tinha uma função claramente determinada:
tornar os sujeitos livres e emancipados, “uma escola que instrui e que forma, que
ensina conhecimentos, mas também comportamentos” (Cambi, 1999, p.205).

A Escola Contemporânea funciona da mesma forma, transmitindo


informações, que são prontas e moldadas, o que não incentiva a criação e a
reflexão sobre a realidade. Esta forma de ensinar não torna os sujeitos com ela
envolvidos capazes de armazenar os objetos em seu contexto, sua complexidade,
seu conjunto. Parte dos alunos que sai da escola todo ano não consegue
estabelecer uma relação entre o que viveu e aprendeu na escola, com a realidade
fora dela.
É fácil reconhecer como a escola, filha privilegiada do Iluminismo moderno,
exerceu e continua exercendo um poderoso influxo etnocêntrico. A escola está
reforçando de maneira persistente a tendência etnocêntrica dos processos de
socialização, tanto na delimitação dos conteúdos e valores do currículo que
refletem a história da ciência e da cultura da própria comunidade como na maneira
24

de interpretá-los como resultados acabados, assim como na forma unilateral e


teórica de transmiti-los e no modo repetitivo e mecânico de exigir aprendizagem.
(Pérez Gómez, 2001, p. 35)
Esta forma de pensamento não cabe mais na sociedade contemporânea,
imposta esta pela globalização da economia de livre mercado, pela extensão das
democracias formais como sistema de governo, pela hegemonia dos meios de
comunicação de massa, ao alcance e agilidade das informações a todos os cantos
do planeta, marcada por um pensamento que enfatiza a descontinuidade, a
carência de fundamento, a pluralidade e a diversidade e a incerteza na cultura, nas
ciências, na filosofia e nas artes, que anteriormente estavam fortemente marcadas
pelas características da Modernidade, onde a fé cega na razão buscou um único
modelo da Verdade, do Bem e da Beleza, legitimando as formas de uma vida
individual e coletiva derivadas deste pensamento. Hannah Arendt ressalta
A educação que por natureza supõe a autoridade e a tradição, deve exercer
hoje num mundo que não está mais estruturado pela autoridade nem contido pela
tradição. A intenção educativa encontra-se assim como que paralisada, esvaziada
antecipadamente de toda pertinência e de toda legitimidade. (Arendt apud Forquin,
1993, p.20)
A posição Pós-Moderna pretende desconstruir a crença em uma totalidade
unitária de mundo, em conceitos universais e totalizantes, com valores eternos e
imutáveis, isto é, pensar o mundo sem recorrer à meta-relatos ou a metanarrativas.
A cultura e o pensamento Pós-modernos encorajam a intuição, a emoção e a
diversidade, e a Pós-Modernidade se caracteriza pela busca pelo prazer
momentâneo. De que forma uma escola com pensamento e atitudes Modernas
pode se estabelecer dentro de uma sociedade Pós-Moderna? O que, de fato, as
pessoas procuram no Ensino Escolar? Para uma escola que foi criada dentro das
perspectivas da Modernidade, o fim das narrativas emancipatórias significaria o fim
da escola?
Neste contexto, percebemos que as instituições escolares não podem
transmitir nem trabalhar dentro de um único modelo de pensar.
(...) o objetivo de toda prática educativa – facilitar a reconstrução do
conhecimento experiencial do aluno – não pode se entender nem se desenvolver
sem o respeito à diversidade, às diferenças individuais que determinem o sentido, o
25

ritmo e a qualidade de cada um dos processos de aprendizagem e


desenvolvimento. (Pérez Gómez, 2001, p.67)

Na contemporaneidade, as dificuldades que existem para definir as relações


entre educação e cultura se devem a razões inerentes à situação da cultura em
relação à Modernidade, pois “a educação é cada vez menos capaz, hoje em dia, de
encontrar um fundamento e uma legitimação de ordem cultural, porque a cultura
“perdeu o seu norte” e se encontra privada das amarras da tradição e da bússola
do princípio da autoridade” (Forquin, 1993, p.18).
Com tudo isso temos que os fundamentos da escola e da cultura são
fundamentos modernos, mas com todas as mudanças ocorridas na sociedade,
eclodiram os conceitos de cultura – do monoculturalismo para o multiculturalismo –
e o da escola permaneceu estagnado, o que fez com que o conceito de escola e os
seus paradigmas entrassem em crise.
Segundo Brunner,o nacional-popular preserva o velho desejo de dar à
cultura um fundamento unificador, seja de classe, raça, história ou ideologia.
Quando a cultura começa a se desterritorializar, quando ela se torna mais
complexa e variada, ela assume todas as heterogeneidades da sociedade, é
industrializada e massificada, perde seu centro e é preenchida com “vida” e
expressões transitórias, é estruturada na base de uma pluralidade do moderno;
quando tudo isso acontece, o desejo unificador torna-se reducionista e
perigosamente totalitário, ou simplesmente retórico. (Brunner, 1990, p.21 apud
Yúdice, 2004, p.131)
Antigamente as relações entre a escola e as culturas eram no máximo duas:
ou a escola como reprodutora de uma cultura dominante ou a escola forçando uma
luta contra a cultura hegemônica. Hoje a escola deveria ser vista como o espaço de
cruzamento de culturas, produzindo, criando novas práticas culturais para além das
26

normas e das imposições, isto é, uma escola que reproduz, mas que também
produz; onde “as diferentes culturas que se entrecruzam no espaço escolar
impregnam o sentido dos intercâmbios e o valor das transações em meio às quais
se desenvolve a construção de significados de cada indivíduo” (Pérez Gómez,
2001, p.16).
Isto leva a repensar a escola em função das relações entre oferta e
demanda, pois o poder cultural não está mais localizado em uma escola; ele infiltra-
se em qualquer espaço através dos meios de comunicação de massa, o que muda
a posição da escola. Antigamente a família exercia o papel de controle sobre esse
poder cultural – o qual somente se aprendia na escola – reajustando a criança ao
seu meio, sua família. Certeau escreve que hoje a escola pode exercer um lugar de
controle onde se aprende a utilizar as informações recebidas fora da escola.
No passado, a escola era o canal da centralização. Hoje, a informação
unitária vem pelo canal múltiplo da televisão, da publicidade, do comércio, dos
cartazes etc. E a escola pode formar um núcleo crítico onde os professores e os
alunos elaboram uma prática própria dessa informação vinda de outros lugares.
(Certeau, 1995, p.138)
Essa grande facilidade de se obter informações, de teoricamente aprender
sem esforço nenhum é, em grande parte, responsável pela perda de interesse dos
jovens pela escola. É muito mais rápido obter uma informação pela Internet, do que
ter que pesquisar nos livros da biblioteca; é muito mais divertido assistir televisão,
com todo o seu movimento e suas cores, do que ficar sentado em uma sala de aula
olhando para o professor falar. Mas o que grande parte não percebe é que ao
buscar informações através dos meios de comunicação de massa estas já vêm
prontas, isto é, nelas já está embutida a opinião de alguém, o que o dispensa de
formular a sua, como coloca Fferres
O universo do telespectador é dinâmico, enquanto que o do leitor é estático.
A televisão privilegia a gratificação sensorial, visual e auditiva, enquanto que o livro
privilegia a reflexão. A linguagem verbal é uma abstração da experiência, enquanto
que a imagem é uma representação concreta da experiência. Se o livro privilegia o
conhecer, a imagem privilegia o reconhecer. (Ferrés, 1994 apud Pérez Gómez,
2001, p.115)
27

Neste sentido, ao buscar desenvolvimento da autonomia dos seus alunos, a


escola faria com que os mesmos aprendessem a encarar de forma crítica as
informações que recebem, independente do meio. Dar sentido e significado ao que
se ensina e não tentar estabelece uma relação de utilidade, pois “estudos
relevantes são aqueles que apresentam um interesse, um significado, que estão
ligados, relacionados com aqueles que os fazem” (Certeau, 1995, p.105). Tornar
atrativo ao mundo do educando os conteúdos trabalhados, de forma que busque a
compreensão e o entendimento do mesmo, pois, segundo Forquin,
A educação escolar não se limita a fazer uma seleção entre os saberes e os
materiais culturais disponíveis num dado momento, ela deve também, para torná-
los efetivamente transmissíveis, efetivamente assimiláveis às jovens gerações,
entregar-se a um imenso trabalho de reorganização, de reestruturação, ou de
transposição didática. (Forquin, 1993, p.16)
Se o que nos interessa é o que o aluno realmente aprenda dentro da escola
e não que ele decore conteúdos para as provas e depois esquecer, não podemos
perder de vista, conforme diz Pérez Gómez (2001), que tudo na sala de aula se
comunica, tudo fala, cada parcela, cada objeto, cada atividade está emitindo
mensagens que o estudante capta e integra em suas ações cotidianas, isto é, está
aprendendo com toda a cultura escolar.
Desta forma, qualquer forma de mudança nos conceitos e objetivos da
escola requer, conforme escreve Hall, uma passagem para o regime dos
significados e pela produção de novas subjetividades, no interior de um novo
conjunto de disciplinas organizacionais, isto é, por meio de uma mudança cultural
escolar. Com isso, temos a necessidade de os professores viverem uma cultura
crítica, o que contribuirá para criar um clima de vivência e recriação cultural na
escola, desenvolvendo de forma autônoma e crítica a futura comunidade social.

Professor: Desafios da prática pedagógica na atualidade.

É fundamental analisar o processo de formação hoje dos profissionais, ou


seja, é preciso mudar o paradigma de formação e ainda refletir sobre a distância
entre a formação profissional acadêmica e o campo de trabalho (ação pedagógica),
isto significa que os professores devem assegurar-lhes uma cultura científica com
28

base em ciências humanas e sociais no que se refere à educação, a capacidade de


realizar pesquisas e análises de situações educativas de ensino, e o exercício da
docência em contextos institucionais escolares e não escolares.
Um dos grandes desafios a ser enfrentado na formação de professores é
acabar com a ideia de um modelo único de ensino. Portanto, pode-se afirmar que
nada está pronto, que este é um momento no processo de redefinição da profissão
e da compreensão da prática. E para esta redefinição, é necessário estar atento as
mudanças que estão sendo exigidas do profissional da educação, estar aberto aos
conhecimentos que se produz nesta área e que é fundamental para o
fortalecimento da profissão e para a própria sobrevivência do educador, existe a
necessidade de inovar e criar novas estratégias de aprendizagem sempre. O
educador deve se colocar na posição de eterno aprendiz que busca uma formação
profissional contínua.
Para Carvalho e Perez (2001, p.111): Um dos resultados significativos
provenientes das pesquisas em formação de professores é o que indica um dos
obstáculos para o professor adotar uma atividade docente inovadora e criativa,
além da já discutida falha no mínimo de conteúdo, são suas ideias, sobre ensino e
aprendizagem, “as ideias do senso comum”.
No âmbito da educação falar sobre formação do educador implica
inicialmente em definir o que se entende por formação. A definição de formação
será “estar se formando” que significa a busca constante de novos conhecimentos
que não se consegue concluir tendo em vista que tudo se transforma e as
experiências são únicas.
A educação está num processo constante de mudanças, mudanças essas
que tentam acompanhar o ritmo do novo milênio. Nesse sentido o educador vem
exercendo um papel insubstituível no processo de transformação social, pois a
formação de sua identidade ultrapassa o profissional, constituindo
fundamentalmente a sua atenção profissional na prática social.
Com o advento das tecnologias de informação e comunicação o educando,
todos os dias têm acesso a novidades, notícias em tempo real, seja da TV ou da
Internet, assim a escola precisa estar atenta e acompanhar estes novos
acontecimentos, com a finalidade de contextualizar a realidade da escola com a
29

realidade vivenciada pelos educandos, tornando a educação mais próxima e


condizente com o seu dia-a-dia.
Diante disso, a escola precisa rever suas ações e o seu papel no
aperfeiçoamento da sua prática educativa, sendo necessária uma análise sobre
seus conceitos didático-metodológicos, na busca de uma adequação pedagógica
ao atual momento, buscando assim, a sua função transformadora e idealizadora de
conhecimentos pautando o resultado de suas ações em saber concreto. Sabemos
que as dificuldades da escola são muitas desde a parte física, prédio e material
didático e material permanente, quanto profissionais preparados para as novas
metodologias.
Gadotti (2000, p. 6) afirma que: Neste começo de um novo milênio, a
educação apresenta-se numa dupla encruzilhada: de um lado, o desempenho do
sistema escolar não tem dado conta da universalização da educação básica de
qualidade; de outro, as novas matrizes teóricas não apresentam ainda a
consistência global necessária para indicar caminhos realmente seguros numa
época de profundas e rápidas transformações.
A formação dos educadores está baseada no cidadão com competência e
habilidade na capacidade de decidir, produzindo novos conhecimentos para a teoria
e prática de ensinar, não apenas na racionalidade técnica ou apenas como
executores de decisões alheias, pois, uma formação de qualidade é aquela que
contribui para o desenvolvimento das potencialidades e formação do indivíduo,
preparado para o mercado de trabalho.
Assim, o educador do séc. XXI deve ser um profissional da educação que
elabora com criatividade os conhecimentos teóricos e críticos sobre a realidade,
tendo o mesmo que centrar-se numa prática pedagógica de êxito, com uma
aprendizagem satisfatória e significativa, pois as constantes mudanças ocorridas na
sociedade exigem uma nova postura do professor, bem como um repensar crítico
sobre a educação. Portanto, torna-se necessário buscar novos caminhos, novos
projetos, emergentes das necessidades e interesses dos principais responsáveis
pela educação, é necessário transformar a realidade escolar, utilizando as novas
TICs como recursos para aprimorar e motivar a busca do conhecimento.
Com a expansão das novas tecnologias os educadores devem ser
encarados e considerados como parceiros, autores na transformação da qualidade
30

social da escola, sendo incumbido de compromisso e responsabilidade, sendo este


portador de competências e atitudes que o capacitem a ultrapassar os obstáculos,
principalmente os político-sócio-culturais, instigando a capacidade de pensar e
questionar do aluno, para a efetivação de seu objetivo primeiro que deve ser a
formação de cidadãos para o exercício pleno de sua cidadania e falar em cidadania
excluindo a tecnologia é um equívoco imenso, pois, as tecnologias estão em toda
parte, sem contar as mídias, que infelizmente ficam inutilizadas nos
estabelecimentos de ensino.
Kenski (2001, p.103) afirma que: O papel do professor em todas as épocas é
ser o arauto permanente das inovações existentes. Ensinar é fazer conhecido o
desconhecido. Agente das inovações por excelência o professor aproxima o
aprendiz das novidades, descobertas, informações e notícias orientadas para a
efetivação da aprendizagem.
Sabe-se que uma das funções da escola é garantir serviços educacionais de
qualidade, garantindo a permanência e o acesso dos alunos na escola contribuindo
para a formação de cidadãos críticos, conscientes, atuantes, com objetivos e ideais,
para os desafios do mundo moderno. Trata-se de uma tarefa complexa, que exige
da escola um envolvimento que ultrapasse temas, conteúdos e programas que só
toma corpo à medida que os educadores abraçam com garra os projetos a serem
desenvolvidos, para isso os educadores devem ter clareza do papel das
tecnologias como instrumento que ajudam a construir novos conhecimentos,
apresentando novas possibilidades e porque não dizer oportunizando a aquisição
de novas competências.
Cabe então aos educadores deste séc. XXI a tarefa de apontar caminhos
institucionais (coletivamente) para enfrentamento das novas demandas do mundo
contemporâneo, com competência do conhecimento, com profissionalismo ético e
consciência política, o Ministério da Educação desenvolve em parceria com os
Estados diferentes parcerias para a capacitação dos profissionais, é necessário
somente a busca e profissionais capacitados para auxiliar neste novo processo,
que é de incluir o profissional professor na era tecnológica.
Assim, estarão aptos a oferecer oportunidades educacionais aos seus alunos
para construir e reconstruir saberes à luz do pensamento reflexivo e crítico entre as
31

transformações sociais e a formação humana, usando para isso a compreensão e a


proposição do real.
O papel do educador é de mediação entre o aluno e o conhecimento a ser
trabalhado e construído, ou seja, deve conceber estratégias de ensino que visam
ensinar a aprender, bem como persistir no empenho de auxiliar os alunos a
pensarem de forma crítica é aprender novamente a aprender como ensinar, onde
através da troca de experiências se cria um espaço de formação mútua, e cada
educador desempenha simultaneamente, o papel de formador e de formando e o
aluno interioriza um conjunto de valores favoráveis à aquisição de cidadania.
Diante dessa situação, Masetto (2001, p.144) propõe que: ...seja explicitado
como pode ser entendida a mediação pedagógica em um ambiente de
aprendizagem. Por mediação pedagógica entendemos a atitude, o comportamento,
do professor que se coloca como facilitador, incentivador ou motivador da
aprendizagem, que se apresenta com a disposição de ser uma ponte entre o
aprendiz e sua aprendizagem não uma ponte estática, mas uma ponte 'rolante', que
ativamente colabora para que o aprendiz chegue aos seus objetivos.
Faz-se necessário ressaltar que o educador deve conhecer o significado da
docência, juntamente com as suas características pessoais e competências
profissionais, para que se tenha como resultado, diferentes posicionamentos em
sala de aula, tanto dos educadores como dos educandos.
Percebe-se, então, que o professor precisa desenvolver capacidades,
reconhecer as transformações tecnológicas de informação em sala de aula, atender
as diversidades culturais, respeitando as diferenças, investindo na atualização
cientifica, técnica e cultural, integrando no exercício da sua docência a dimensão
afetiva, bem como desenvolvendo comportamento ético a fim de orientar os alunos
em valores e atitudes. É necessário ser um bom planejador, pois, as novas
tecnologias são instrumentos para os educando e educadores no processo de
formação do cidadão. Para Moran (2007)
As tecnologias nos ajudam a encontrar o que está consolidado e a organizar
o que está confuso, caótico, disperso. Por isso é tão importante dominar
ferramentas de busca da informação e saber interpretar o que se escolhe, adaptá-lo
ao contexto pessoal e regional e situar cada informação dentro do universo de
referências pessoais.
32

Desta forma, o educador conseguirá manter-se em constante aprendizado


para que possa acompanhar o desenvolvimento da sociedade e melhor exercer sua
profissão, buscando meios para tornar o processo educacional mais significativo,
utilizando os recursos tecnológicos e fontes de informação para adquirir e construir
conhecimentos, favorecendo a progressão do aluno na aprendizagem,
compreendendo que o papel de educar consiste em selecionar os estímulos
adequados à promoção do desenvolvimento do educando, vendo-o sempre como
um todo, observando suas potencialidade e dificuldades.
Diante disso o trabalho educativo constitui uma atividade de cunho
intelectual, onde se articulam as dimensões do saber, do saber-fazer e da reflexão
em torno dos seus objetivos enquanto prática social, vale ressaltar que tais
habilidades não envolvem somente o domínio de técnicas e ferramentas práticas,
mas a compreensão de suas relações com o contexto social no qual se realiza e os
propósitos transformadores de que deve se revestir em relação aos sujeitos do
processo educativo e à realidade social na qual estão inseridos.
Moura (2001, p.155) Diz que: Fazer da sala de aula o lugar de aprendizagem
natural do sujeito é estabelecer como objetivo da escola criação de um ambiente
onde se partilha e constrói significados. A decorrência de se aceitar esta afirmação
como verdadeira é que aos que fazem a escola, cabe o planejamento de atividades
de ensino mediante as quais, professores e alunos possam ampliar, modificar e
construir significados.
Sendo assim a prática pedagógica do educador não fica situada apenas no
âmbito do conhecimento, envolve também dimensões éticas, na medida em que
lida com valores, interesses e concepções de homem e de mundo, assim, o papel
do professor é ser competente nessa ação planejada. O que significa que as suas
escolhas ao planejar suas atividades educativas não são gratuitas ou casuais.
Dessa forma em uma sociedade cujas relações se dão entre classes sociais
antagônicas, cujos interesses se conflitam, pautados numa relação de exploração e
subalternidade, a educação, como ressalta Libâneo, “só pode ser crítica, pois a
humanização plena implica a transformação dessas relações” (1990, p. 66).
Desta forma pode-se entender que a educação constitui uma prática social
que tem por objetivo a humanização plena em que a sua realização envolve o
compromisso ético do educador ao questionar as relações e a construção de novas
33

relações que promovam a emancipação de cada educando em todas as


dimensões, sociais, políticas e culturais.
A prática educativa, passa a ter como objetivo a produção de aprendizagens
que devem ser pertinentes ao momento atual, tendo em vista as necessidades do
mercado de trabalho advindos da globalização e das tecnologias de informação e
comunicação.
Em pleno séc. XXI, percebe-se que na construção do saber, a tecnologia
passa a dominar os espaços locais e temporais, impedindo muitas vezes a atuação
dialógica, as pessoas vão perdendo as relações interpessoais, a transmissão de
emoções, a vida prática, a relação com a família, o lazer tudo isso fica
comprometido. Com o uso inadequado da tecnologia acontece a individualização
do ser humano, tornando-o espectador e talvez um indivíduo sem estímulos para
superar barreiras, explicações dialética do dia-a-dia, sem afinidade com o social e
alienado em suas relações com o global.
Com a era tecnológica, corre-se o risco de exclusão do indivíduo no social,
fechando-o em seu mundo, sem articulação com os demais membros da
sociedade, porém, a tecnologia pode ajudar as pessoas a superar obstáculos em
casa, na escola e no trabalho. Apesar do grande potencial da tecnologia, a sua
utilização pelos educadores como estratégia pedagógico é ainda escassa. Para
kenski (2001, p.105)
As tecnologias digitais permitem aos professores trabalhar na fronteira do
conhecimento que pretende ensinar. Mais ainda, possibilitam que eles e seus
alunos possam ir além e inovar, gerar informações novas não apenas no conteúdo
mas também na forma como são viabilizadas nos espaços das redes. Para isso,
além do domínio competente para promover ensino de qualidade, é preciso ter um
razoável conhecimento das possibilidades e do uso do computador, das redes e
demais suportes mediáticos em variadas e diferenciadas atividades de
aprendizagem.
Diante das dificuldades ainda encontradas, é necessário que os educadores
tenham as tecnologias como ferramentas que irão dar suporte na busca de uma
nova reflexão para o processo educativo, através de criatividade e inovação, onde o
agente escolar possa vivenciar as transformações de forma benéfica, pois a
educação tem por intenção a humanização do homem, sendo necessário assim o
34

aprimoramento das novas tecnologias pelo profissional da educação para que este
tenha habilidade no manuseio dos recursos tecnológicos com criatividade.
Que o mundo está em transformação constante não é novidade, a história
está aí para testemunhar, a única grande surpresa é a aceleração do ritmo dessas
transformações. O mundo atual é marcado pela aceleração das transformações e
do conhecimento, pela expansão da tecnologia, dos meios de comunicação, pela
contestação dos valores estabelecidos pela explosão demográfica e
inevitavelmente, um mundo com novas exigências educativas e professores
adaptáveis as novas mudanças da sociedade.
Os sistemas educacionais sempre revelaram-se insatisfatórios para a
formação de educadores, em determinado momento as necessidades da sociedade
e os métodos prontos, em outras situações dar liberdade de produção e os
equívocos continuaram, é importante lembrar que o ser humano é resistente a
mudança, e no momento atual ela é necessária, não só aos profissionais da escola
como também as famílias, pois entes existiam um distanciamento e hoje as portas
da escola estão abertas, mostrando que mesmo existindo a resistência a mudança
estas acontecem, porém no seu tempo e nesta era tecnológica existe a
necessidade de mais agilidade e maior compreensão daquilo que se pretende
conquistar e ir em busca.
Sobre essa temática Dowbor (1998, p. 259), diz que:...será preciso trabalhar
em dois tempos: o tempo do passado e o tempo do futuro. Fazer tudo hoje para
superar as condições do atraso e, ao mesmo tempo, criar as condições para
aproveitar amanhã as possibilidades das novas tecnologias.
A evolução em busca de conhecimento por parte dos educadores tem
levando-os a busca constante de atualização, busca esta forçada pela necessidade
de acompanhar o progresso, no passado o educador sabia o que se esperava dele
e o sistema educacional não era tão exigente e procurava atender a essa
expectativa. Havia modelos a seguir, papéis bem delineados a desempenhar, hoje
foi modificado profundamente com as tecnologias de informação e comunicação.
As relações educacionais, por exemplo, sofreram tão grandes transformações que
os educadores sentem maior dificuldade em mediar o conhecimento com
determinados alunos.
35

O professor nesse contexto mantém uma postura norteadora do processo


ensino-aprendizagem, quando busca novas aprendizagens e se utiliza destas para
construir e colaborar com a construção de novos conhecimento tanto para si como
para seu educando, levando em consideração que sua prática pedagógica em sala
de aula tem papel fundamental no desenvolvimento intelectual de seu aluno,
podendo ele ser o foco de crescimento ou de introversão do mesmo quanto a sua
aplicação metodológica na condução da aprendizagem.
Sobre essa prática, Gadotti (2000, p. 9) afirma que: ...o educador é um
mediador do conhecimento, diante do aluno que é o sujeito da sua própria
formação. Ele precisa construir conhecimento a partir do que faz e, para isso,
também precisa ser curioso, buscar sentido para o que faz e apontar novos
sentidos para o que fazer dos seus alunos.
Assim, faz-se necessário à busca de uma nova reflexão no processo
educativo, onde o agente escolar passe a vivenciar essas transformações de forma
a beneficiar suas ações podendo buscar novas formas didáticas e metodológicas
de promoção do processo ensino-aprendizagem com seu aluno, sem com isso ser
colocado como mero expectador dos avanços estruturais de nossa sociedade, mas
um instrumento de enfoque motivador desse processo.
Quando os alunos participam da tomada de decisão a respeito de um tema
ou projeto, é possível que constituam relações entre os novos conteúdos e os
conhecimentos que já possuem, conseguindo aprendizagens mais significativas,
comparando, criticando, sugerindo ajustes, novas relações e propondo novas
ações. Para Aquino (2000, p. 95)
O lugar do educador é imediatamente relativo ao do educando, e vice-versa.
Vale lembrar que guardadas as especificidades das atribuições de agente e
clientela, ambos são parceiros de um mesmo jogo. E o nosso rival é a ignorância, a
pouca perplexidade e o conformismo diante do mundo.
O futuro é imprevisível, os educadores estão vivenciando momentos onde
muitos estão em busca de qualificação, uma revolução na educação, cuja
consequência definirá sua diferença entre os demais. O principal agente dessa
revolução é capacitação de forma comprometida não apenas para certificação.
Temos situações difíceis de serem compreendidas pois, muitos buscam por
qualificação para o trabalho e não conseguem, enquanto outros utilizam-se dos
36

recursos de capacitação para ocuparem os lugares de melhores classificações e as


vezes não colocam em prática aquilo que aprendera.
“Vê-se necessidade de despertar a consciência de que todo ser humano é
sempre agente transformador do mundo e que essa ação deve ser dirigida no
sentido de uma busca pela melhoria do ambiente e das pessoas” (ANTUNES,
2004, p. 47).
A formação continuada do profissional é processo constante, permitindo a
análise da teoria na prática, além de desenvolver o senso reflexivo sobre a sua
atuação.
Diante das transformações que vem ocorrendo no mundo, tecnologias,
globalização, transição de produtos e o do próprio educador há necessidade de
novas propostas pedagógicas e uma reforma educacional coesa, ou seja, com
objetivos, significado para todos, desenvolvendo coletivo na totalidade.
Mesmo com as diferentes propostas de capacitação oferecidas pelo
Ministério e secretarias, ainda é necessário a atenção como incluir os profissionais
da educação nesta era tecnológica, pois a resistência ainda é grande quando é
abordado o tema tecnologia e mídia.
É imprescindível que a escola acompanhe todas essas transformações sem
inovar-se, não é mais possível continuar com aulas maçantes, reprodutores, quadro
negro e giz. É o momento de repensar a educação em si, a partir daí criar
dispositivos que possibilitem um novo olhar, onde todas as áreas do conhecimento
em especial o educador possa trabalhar questões penitentes para uma construção
do conhecimento significativo, mais humano, mais digno, embasados no princípio
de igualdade, fraternidade, liberdade, respeito ao outro. Fazendo do aluno sujeito
do seu processo de construção do conhecimento.
Como alerta Freire (1975, p.66): Educadores e educandos se arquivam na
medida em que, nesta distorcida visão da educação, não há criatividade, não há
transformação, não há saber. Só existe saber na invenção, na reinvenção, na
busca inquieta, impaciente, permanente, que os homens fazem no mundo, com o
mundo e com os outros.
Com profissionais que atuam com inovação a escola também precisará se
atualizar, caso contrário haverá contradição, tendo em vista que a escola ainda não
possui o material necessários aos profissionais para prática do dia a dia. A atuação
37

de alunos e professores deve mudar nas escolas, e é necessário que se envolvam


nas transformações globais e locais das sociedades, pois se não o fizerem,
certamente ficarão à mercê unicamente do mercado, e esse obrigará que ocorra a
mudança que ele determinar. Aquino (2.000, p.119) afirma que: “Grande parte dos
nossos dilemas do dia a dia requeira um encaminhamento de natureza
essencialmente ética, e não metodológica, curricular ou burocrática”.
Para que haja um novo posicionamento é inadiável que o educador tenha
profissionalismo, que seja capaz de aprender, que tenha conhecimento de sua
disciplina, que seja autônomo, que desenvolva um trabalho pertinente à realidade
do educando, e hoje a realidade do educando está muito distante de muitos
profissionais que estão alheios as oportunidades que terão em aproximar-se de
seus alunos com a utilização das tecnologias de informação e comunicação. O
educador de hoje tem a oportunidade de fazer a parceria com os educandos na
construção de novos saberes através da utilização das TICS.
Ainda para Aquino (2000, p.119). Por incrível que possa parecer à primeira
vista, grande parte de nossos contratempos profissionais pode ser enfrentada com
algumas ideias simples, mas eficazes, mesmo porque muitos dos dissabores que o
cotidiano nos reserva parecem ter anuência, quando não nossa co-autoria. Portanto
rever posicionamentos endurecidos, como um sinal dos acontecimentos em sala de
aula.
O educador precisa ter conhecimento sim, porém a construção de novos
saberes é indispensável a qualquer indivíduo, pois, esta construção não tem fim,
estar aberto para construir esse saber no dia a dia com seus educandos é
fundamental nos dias de hoje, pois nossas crianças jovens e adolescentes, sabem
o que querem e gostam de direcionamentos não de ordens, afinal quem gosta de
ordem? Criar um clima onde os educandos possam expor suas opiniões,
desenvolver a autonomia, trocar conhecimentos e o que precisamos atualmente, se
no passado os educadores tratavam todos da mesma forma, sem reconhecer os
talentos individuais de cada um, ou estimular as capacidades, hoje essa prática
está inutilizada.
A esse respeito Alves (2001, pg. 30) nos diz que: ”Seria indispensável que o
professor acreditasse na potencialidade desse aluno, procura-se criar condições
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que favorecessem seu bom desempenho, valorizasse sua cultura e buscasse


promover seu diálogo com a cultura erudita”.
Existem diferentes formas de apresentar e tratar um conteúdo ou tema que
ajuda o aprendiz a coletar informações, relacioná-las, organizá-las, manipulá-las,
discuti-las e debatê-las com seus colegas, com o professor e com outras pessoas,
até chegar a produzir um conhecimento que seja significativo para ele,
conhecimento que se incorpore ao seu mundo intelectual e vivencial, e que o ajude
a compreender sua realidade humana e social, e mesmo a interferir nela, através
da utilização das tics.
Para Souza (2007) Usei da tecnologia quando recebi e fiz uma ligação para
um colega de trabalho. Quando auxiliei uma turma de alunos em pesquisas na
Internet. Quando instalei o e liguei o aparelho de DVD para que os alunos
assistissem à uma programação de Biologia. Posso dizer também, que utilizei da
tecnologia quando acessei este portal – Vivência pedagógica - para registrar mais
um post; já que tive de aplicar certos conhecimentos/técnicas/processos para tal. O
que também são conceitos de tecnologia.
A realização das diversas atividades do meu dia de ontem somente se
tornou possível, graças a um complexo sistema de comunicação, que são as
mídias. Tais como o áudio, o vídeo, a ilustração, a animação, textos e hipertextos.
É primordial que o educador acompanhe a evolução da turma, respeite as
diferenças de estilo, principalmente que seja critico reflexivo, tenha condições de
pensar e repensar a sua prática, buscando novos caminhos para solucionar
problemas, que tenha coerência entre discurso e prática.
Deste modo, possibilitará o seu desenvolvimento pessoal, dando
oportunidade ao aluno para ampliar o leque do conhecimento, ser um agente
transformador da realidade tendo coesão em sua interpretação de mundo,
aprendendo a pensar certo, saber fazer, ser competente na prática social. O
educador atual sabe que a aprendizagem ocorrerá de acordo com a relação que
estabelecer entre ele e o educando. Para Perrenoud, (2001, p.260)
Ensinar é fazer aprender e, sem a sua finalidade de aprendizagem, o ensino
não existe. Porém, este fazer aprender, se dá pela comunicação e pela aplicação; o
professor é o profissional da aprendizagem e da regulação interativa em sala de
aula.
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Nos últimos anos, as transformações sociais políticas e econômicas tem sido


tão acentuada que os pontos de contato com a realidade atual são muito delicados.
Estas transformações conduzem a um processo chamado de modernidade, termo
este que, inclusive, já é chamado por outros de pós modernidade e que vem
quando o que se denomina de “Paradoxo Global” isto é, a nova sociedade
chamada de pós modernidade de caracteriza por vir afetando a vida dos
educadores e o seu inter relacionamento com os educandos, gerando perplexidade,
dúvida e incerteza.
Nada mais é permanente, tudo muda, tudo passa, todas as informações
estão disponíveis e a comunicação se torna a palavra de ordem. Todo processo de
mudança é um novo conceito de tempo e espaço que se farão refletir na noção de
temporalidade, que já não mais um conceito estático, mas de um tempo fluido e
urgente e na noção de especialidade, pois já é possível participarmos de situações
em diversos espaços ao mesmo tempo devido ao constante movimento que nos é
imposto no mundo virtual. Para Perrenoud (2000, p.131),
É pouco provável que o sistema educacional imponha autoritariamente aos
professores em exercício o domínio dos novos instrumentos, ao passo que, em
outros setores, não se abrirá mão desse domínio. Talvez isso não seja necessário:
os professores que não quiserem envolver-se nisso disporão de informações
cientificas e de fontes documentais cada vez mais pobres, em relação àquelas, às
quais terão acesso seus colegas mais avançados.
Segundo o autor é necessário urgentemente, que os educadores se deem
conta de que a mudança é uma palavra de ordem neste novo século. Segundo a
literatura atual e disponível algumas características do profissional do novo século
começam a ser divulgados afirmando que:
No mundo da globalização e da internet, nenhum emprego será o mesmo.
Para encarar essa transformação o profissional deve se preparar: antes de tudo , é
preciso estar aberto para atuar em várias áreas e saber lidar, cada vez mais, com a
tecnologia e aperfeiçoar as relações humanas. (Revista Profissão Mestre).
Esta colocação nos faz refletir acerca do educador para o mundo moderno e
o questionamento passa a fazer parte de nossa realidade. O que significa e se é
possível ser educador hoje da maneira que tem sido há anos?
40

Quando pensamos na sociedade do séc. XXI, vemos que o que caracteriza


esta nova sociedade é o conhecimento, o que vai exigir que as pessoas sejam mais
capacitadas e preparadas para o exercício de uma profissão. Encontramos ainda,
que o foco desta sociedade será a subjetividade a ação social e a vida cotidiana o
que exagera novas crenças, epistemológicas e parâmetros.
A ênfase na subjetividade será, portanto, o novo paradigma deste século e
valorizará o homem na sua inteireza, na sua totalidade, o que se refletirá em novos
valores e ideias, entre eles, os valores humanos: Saber pensar, ser versátil, ouvir,
compreender, superar obstáculos, ser criativo, atualizar-se, desenvolver a
capacidade de autodesenvolvimento.
Diante destas reflexões, pode perceber que há uma mudança fundamental
no modo de conceber o educador e o educando, daqui para frente. O modelo que
marcou toda nossa formação teve como princípio uma ciência absoluta, verdadeira,
até dogmática que atualmente, diante de um novo paradigma que se impõe exige
mudanças de natureza epistemológica que interferirão diretamente no modo de
conceber o ensino e aprendizagem. Alves (2001, pg. 40) julga indispensável que:
...durante seu preparo, o futuro professor se capacite para, em sua prática
docente, compreender o universo cultural do aluno, a fim de que, juntos, a partir do
que conhecem, venham a se debruçar sobre os desafios que o mundo lhes
apresenta, procurando respondê-los, e nesse esforço, produzam novos saberes.
Durante toda nossa formação sempre consideramos o ensino como
transmissão de conhecimento, onde o educador tudo sabia e o educando era uma
verdadeira folha em branco a quem competia memorizar e repetir o conhecimento
transmitindo, hoje a ordem é para desenvolver o aprender a aprender. Ora este
novo procedimento exigirá um novo tipo de educador que não poderá mais ser
aquele educador tradicional firmado na autoridade do cargo, mas um educador com
uma nova visão do ato de ensinar, disposto a empreender novas atitudes, um
educador pesquisador disposto a aprender.
Para Chalita (2001, p.174): O professor que se busca construir é aquele que
consiga, de verdade, ser um educador, que conheça o universo do educando, que
tenha bom senso, que permita e proporcione o desenvolvimento e autonomia de
seus alunos. Que tenha entusiasmo, paixão; que vibre com as conquistas de cada
41

um de seu aluno, que não discrimine ninguém nem se mostre mais próximo de
alguns.
Diante de tudo que foi apresentado podemos afirmar que o futuro exigirá um
profissional que tenha várias competências, ou seja, no mundo da globalização e
da internet, nenhum profissional pode ser o mesmo que acreditava somente no seu
conhecimento.
Para encarar as transformações que já ocorreram, o profissional deve se
preparar, e antes de tudo é preciso estar aberto para atuar em várias áreas e saber
lidar, cada vez mais, com a tecnologia e aperfeiçoar as relações humanas. O
caminho é ter conhecimento para atuar em diferentes áreas do conhecimento com
qualidade, relacionar-se bem com a as pessoas, buscar especializar-se em vários
assuntos prezar a qualidade de vida.
Viver em um mundo de constante transformação onde o conhecimento torna-
se cada vez mais, fator diferenciador. Os futuros educadores, serão responsáveis
pela organização deste conhecimento junto aos aprendizes. É necessário que estes
educadores tenham clareza de que o processo ensino-aprendizagem encontra-se
em reformulação contínua diante das transformações sociais e do avanço
tecnológico e cientifico. Segundo Moura (2009):
Hoje podemos começar uma aula sobre crônica: solicitando ao aluno trazer
de casa um texto recortado de uma folha de jornal velho; facilmente ele o encontra;
pedir a cada um para fazer a leitura da produção encontrada; socializar os
conteúdos; estudar o vocabulário; fazer a interpretação; e desta mídia passar para
um vídeo sobre o texto jornalístico, ou uma palestra e no fim desta etapa. Iniciar a
nova etapa do trabalho no Laboratório de Informática da Escola usando a
tecnologia: para digitalizar os textos, buscar nas ferramentas de busca mais
significações e suporte e produzir um artigo coletivo pela turma, um uma página
gratuita na Internet sobre aquele assunto, ou até mesmo um livro. Fazer ao fim do
Processo uma Grande Apresentação na Escola para todos os alunos e
comunidade. Seria realmente um Show com Data Show.
Portanto, não pode existir comodismo, acreditar que o conhecimento que
possui é suficiente, mas é preciso buscar um aperfeiçoamento constante se quiser
permanecer no mercado de trabalho como profissionais competentes e dinâmicos.
A busca pela formação continuada deverá ser uma constante na formação do
42

educador e, para tal, é preciso estar aberto ás transformações e ao conhecimento


que está disponível. Atualmente é necessário que o professor seja um pesquisador,
por excelência, não apenas um transmissor de conhecimentos, pois este papel
pode ser substituído por qualquer equipamento. Porém, se considerarmos a prática
pedagógica como um processo de construção de relações e de formação de
identidades, pode-se dizer também que nenhuma profissão acontece sem a figura
do educador. É este educador que a sociedade moderna está exigindo, humano,
ético, responsável, competente e que trabalha a sua subjetividade para ter
condições de travar um relacionamento pautado nos valores éticos e políticos
apregoados pela nossa educação brasileira, educação esta que apresentou
significativas mudanças nas últimas décadas.
Conclui-se que nada está pronto, o educador está num processo de
redefinição da profissão e da compreensão da prática. Este deve procurar
desenvolver em seus alunos o raciocínio, a imaginação, a argumentação e o senso
de observação, trabalhando a interatividade, tendo criatividade para alcançar seus
objetivos, assumindo coletivamente a responsabilidade em relação ao aluno, não
devendo ficar parado no tempo, devem adquirir novas competências em relação a
sua formação. Cabe ressaltar que nem sempre o professor consegue buscar esse
conhecimento em condições dignas de trabalho, pois, o momento atual exige do
educador conhecimentos que vão além daqueles de sua área específica, levando-o
a avaliar e rever constantemente sua prática pedagógica, visando mudanças.
Assim pode-se acreditar na formação de alunos aptos a viver uma cidadania
plena. Porém, vale ressaltar, que tal processo é longo e contínuo devendo este, ser
o objetivo de cada professor, pois, formar cidadãos competentes e críticos requer
muito esforço, em todos os níveis de ensino, da educação infantil a pós-graduação.
É necessário estar atento as transformações e buscar sempre o aperfeiçoamento
na área de atuação, o crescimento profissional deve ser continuo tendo sempre a
clareza que professor é o facilitador. Que na atualidade está difícil a separação da
educação com tecnologias da informação e comunicação, pois, esta é recurso
fundamental para aquela.
43

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