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ÉTICA PROFISSIONAL NA SOCIEDADE

CONTEMPORÂNEA

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ÉTICA PROFISSIONAL NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA

DÚVIDAS E ORIENTAÇÕES
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 3
2 ÉTICA COMO FUNDAMENTO SOCIAL.................................................. 10
3 ÉTICA PROFISSIONAL E SUAS TENDÊNCIAS SOCIAIS ..................... 17
3.1 Ética profissional: quando se inicia esta reflexão? ............................ 19
3.2 Ética profissional: como é esta reflexão? ............................................ 20
3.3 Ética profissional e relações sociais .................................................... 21
3.4 Ética profissional e atividade voluntária .............................................. 22
3.5 Ética profissional: pontos para sua reflexão ....................................... 22
3.6 Sigilo de Informações ............................................................................ 24
4 ÉTICA PROFISSIONAL NO CAMPO ARISTOTÉLICO........................... 25
4.1 Ética na sociedade brasileira ................................................................ 27
4.2 O meio profissional e empresarial ........................................................ 29
5 ÉTICA DO DISCURSO EM JÜRGEN HABERMAS: A IMPORTÂNCIA DA
LINGUAGEM PARA UM AGIR COMUNICATIVO .................................. 31
5.1 Significado do discurso para Habermas .............................................. 32
5.2 Ética do discurso e a importância do agir comunicativo ................... 33
5.3 Os valores morais na modernidade ...................................................... 39
5.4 Relação entre os valores vigentes na sociedade e os valores que regem
os grupos particulares .......................................................................... 42
5.5 Características da ética profissional hoje ............................................ 44
ENCERRAMENTO ................................................................................... 49
REFERÊNCIAS ........................................................................................ 50
1 INTRODUÇÃO

A ética tem sido um dos temas mais trabalhados nos últimos tempos, pois
a corrupção, o descaso social e os constantes escândalos políticos e sociais
expostos na mídia diariamente suscitam que a sociedade exija o resgate de
valores morais em todas as suas instâncias, sejam elas políticas, científicas ou
econômicas. Desse conflito de interesses pelo bem comum ergue-se a ética, tão
discutida pelos filósofos de toda a história mundial. Ética é uma palavra com
duas origens possíveis. A primeira advém do grego éthos, literalmente "com e
curto", que pode ser traduzida por "costume"; a segunda também se escreve
éthos, porém se traduz por "com e longo", que significa "propriedade do caráter".
A primeira serviu de base para a tradução latina moral, enquanto que a segunda
é a que, de alguma forma, orienta a utilização atual que damos à palavra ética.
O vocábulo foi assimilado à língua portuguesa por intermédio do latim.
O primeiro registro de seu uso é do século XV. Conceitua-se ética como
sendo o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta humana, do ponto
de vista do bem e do mal. É um conjunto de normas e princípios que norteiam a
boa conduta do ser humano. A ética é a parte da filosofia que aborda o
comportamento humano, seus anseios, desejos e vontades. É a ciência da
conduta humana perante o ser e seus semelhantes e de uma forma específica
de comportamento humano, envolvendo estudos de aprovação ou desaprovação
da ação dos homens. É a consideração de valor como equivalente de uma
medição do que é real e voluntarioso no campo das ações virtuosas. Ela ilumina
a consciência humana, sustenta e dirige as ações do homem, norteando a
conduta individual e social. Como um produto histórico-cultural, define em cada
cultura e sociedade o que é virtude, o que é bom ou mal, certo ou errado,
permitido ou proibido.
Segundo Heller (1999, p. 29), "ética é a ciência normativa dos
comportamentos humanos". Já Maximiano a define como:

[...] a disciplina ou campo do conhecimento que trata da definição e


avaliação de pessoas e organizações, é a disciplina que dispõe sobre
o comportamento adequado e os meios de implementá-lo, levando-se

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em consideração os entendimentos presentes na sociedade ou em
agrupamentos sociais particulares. (MAXIMIANO, 1974, p. 28)

Adolfo Sánchez Vázquez afirma que:

[...] valor não é propriedade dos objetos em si, mas propriedade


adquirida graças à sua relação com o homem como ser social. Mas,
por sua vez, os objetos podem ter valor somente quando dotados
realmente de certas propriedades objetivas. (VÁZQUEZ, 2005, p. 41)

Ética é basicamente uma questão de estudo dos valores, porque diz


respeito aos valores em que o humano do ser, em linguagem fenomenológica,
se sobrepõe ao ser humano. Como interpretar os valores éticos? Maximiano
(1974, p. 299) diz que "a interpretação de valores éticos pode ser absoluta ou
relativa". A primeira "baseia-se na premissa de que as normas de conduta são
válidas em todas as situações", e a segunda "de que as normas dependem da
situação". No que tange à ética relativa, os orientais entendem que os indivíduos
devem dedicar-se inteiramente à empresa, que constitui uma família à qual
pertence a vida dos trabalhadores. Já para os ocidentais, o entendimento é de
que há diferença entre a vida pessoal e a vida profissional. Assim, por exemplo,
encerrado o horário normal do trabalho em uma empresa, o restante do tempo é
do trabalhador e não do patrão. Quanto à ética absoluta, parte-se do princípio de
que determinadas condutas são intrinsecamente erradas ou certas, qualquer que
seja a situação e, dessa maneira, devem ser apresentadas e difundidas como
tal.
Maximiano ainda ressalta que "um problema sério da ética absoluta é que
a noção de certo e errado depende de opiniões" (ibid., p. 299). Cita como
exemplo, os bancos suíços, que construíram uma reputação de confiabilidade
com base na preservação do sigilo sobre suas contas secretas. Sob a
perspectiva absoluta, para o banco, o correto é proteger a identidade e o
patrimônio do cliente. Durante muito tempo, os bancos suíços foram admirados
por essa ética, até ficar evidente que os clientes nem sempre eram respeitáveis.
Traficantes de drogas, ditadores e nazistas haviam escondido nas famosas
contas secretas muito dinheiro ganho de maneira ilícita. Os bancos continuaram

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insistindo em sua política, enquanto aumentavam as pressões internacionais,
especialmente, dos países interessados em rastrear a lavagem de dinheiro das
drogas ou recuperar o que lhes havia sido roubado. Para as autoridades desses
países, a ética absoluta dizia que o sigilo era intrinsecamente errado, uma vez
que protegia dinheiro obtido de forma desonesta. Finalmente, as autoridades
suíças concordaram em revelar a origem dos depósitos e iniciar negociações
visando à devolução do dinheiro para os seus donos (ORIVES, 2008). É possível
perceber que os valores predominantes na sociedade brasileira, refletidos nas
práticas de seus governantes e políticos, são fatores determinantes para a
qualidade dos serviços públicos. Ilusões e esperanças têm se desmoronado e é
possível distinguir três fatores responsáveis por esta questão.
Antes de tudo, destaque-se que cada um carrega consigo mesmo uma
hierarquia abstrata de valores que orienta suas escolhas. Pode colocar no ápice
da cadeia hierárquica a solidariedade, a comunhão, o interesse público ou, em
vez disso, a rivalidade ostensiva, o individualismo exacerbado e o interesse
pessoal. Em segundo lugar, possui uma visão, mais ou menos esquemática, das
forças em competição, avaliando as que se sintonizam com seus valores,
opondo-se e rejeitando aquelas que se afastam de si. Esses dois fatores são
condicionados por um terceiro: o fluxo de informações que se registram no
cérebro humano. A globalização da informação pode conduzir à desinformação
à medida que a agilidade e a rapidez desse fluxo, além de sua quantidade em
prejuízo da qualidade, levem administradores públicos a filiar-se a forças
destruidoras de seus valores, impedindo sua realização.
A ética pode ser interpretada como um termo genérico que designa aquilo
que é frequentemente descrito como a "ciência da moralidade". Seu significado,
derivado do grego, quer dizer "Morada da Alma", isto é, suscetível de
qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente a determinada
sociedade, seja de modo absoluto.
Em Filosofia, o comportamento ético é aquele que é considerado bom.
Sobre a bondade, os antigos diziam que o que é bom para a leoa, não pode ser
bom à gazela. E o que é bom à gazela, fatalmente não será bom para a leoa.
Este é um dilema ético típico. Portanto, no campo filosófico, a ética, ao lado da

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metafísica e da lógica, não pode ser descrita de forma simplista. O objetivo de
uma teoria da ética é determinar o que é bom tanto para o indivíduo como para
a sociedade como um todo. Os filósofos antigos adotaram diversas posições na
definição do que é bom: como lidar com as prioridades em conflito dos indivíduos
versus o todo, e a universalidade dos princípios éticos versus a "ética de
situação". Nesta, o que está certo depende das circunstâncias e não de uma lei
geral qualquer. E ainda se a bondade é determinada pelos resultados da ação
ou pelos meios pelos quais os resultados são alcançados.
O homem vive em sociedade, convive com outros homens e, portanto,
cabe lhe pensar e responder à seguinte pergunta:

Como devo agir perante os outros?". Trata-se de uma pergunta fácil de


ser formulada, mas difícil de ser respondida. Ora, esta é a questão
central da a Moral e da Ética. Enfim, a ética é o julgamento do caráter
moral de uma determinada pessoa (WIKIPEDIA, 2008).

No nosso dia-a-dia, não fazemos distinção entre ética e moral, usamos as


duas palavras como sinônimas, mas os estudiosos da questão fazem uma
distinção entre as duas palavras. Assim, a moral é definida como o conjunto de
normas, princípios, preceitos, costumes, valores que norteiam o comportamento
do indivíduo no seu grupo social. A moral é normativa. Já a ética é definida como
a teoria, o conhecimento ou a ciência do comportamento moral, que busca
explicar, compreender, justificar e criticar a moral ou as morais de uma
sociedade. A ética é filosófica e científica. Não se pode falar de ética sem falar
de moral, pois ambas estão interligadas na vida do ser humano. A palavra moral
origina-se do latim morus, significando os usos e os costumes. Moral é o conjunto
das normas para o agir específico ou concreto. Estabelece regras que são
assumidas pela pessoa, como uma forma de garantir o seu bem viver.
Segundo Vázquez (2005), se por moral entendemos um conjunto de
normas e regras destinadas a regular as relações dos indivíduos numa
comunidade social, o seu significado, função e validade não podem deixar de
variar historicamente, nas diferentes sociedades. A moral é um fato histórico e,
por conseguinte, a ética, como ciência da moral, não pode concebê-la como

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dada de uma vez para sempre, mas tem de considerá-la como um aspecto da
realidade humana mutável com o tempo. Mas a moral é histórica precisamente
porque é o modo de um ser - o homem - se comportar, uma vez que é histórico
por natureza, ou seja, é um ser cuja característica é a de estar-se fazendo ou se
autoproduzindo constantemente, tanto no plano de sua existência material,
prática, como no de sua vida espiritual (ibid.).
A moral independe das fronteiras geográficas, que garante uma
identidade entre pessoas que não se conhecem, mas utilizam o mesmo
referencial moral comum. "Nenhum homem é uma ilha." Esta famosa frase do
filósofo inglês Thomas Morus ajuda-nos a compreender que a vida humana é
convívio. Para o ser humano, viver é conviver. É justamente na convivência, na
vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto
um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as
indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situação?
Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o
que fazer? Constantemente no nosso cotidiano nos defrontamos com problemas
morais.
São problemas práticos e concretos da nossa vida em sociedade, ou seja,
problemas que dizem respeito às nossas decisões, escolhas, ações e
comportamentos - os quais exigem uma avaliação, um julgamento, um juízo de
valor entre o que é socialmente considerado pela moral vigente bom ou mal,
justo ou injusto, certo ou errado.
A sociedade brasileira é historicamente marcada pela injustiça
socioeconômica, pelo preconceito racial e sexual, pela exploração da mão-de-
obra infantil, pelo "jeitinho brasileiro", pela "Lei de Gerson", etc. Tal realidade,
nos coloca diante de problemas éticos bastante sérios. Contudo, já estamos por
demais acostumados com nossas misérias de toda ordem. Na vida pública,
exemplos não faltam na nossa história recente: anões do orçamento,
impeachment de presidente por corrupção, compra de parlamentares para a
reeleição e para apoio ao governo, compra de ambulâncias superfaturadas,
"caixa dois" de campanhas eleitorais, máfia do crime organizado, desvio de
dinheiro público, entre outros.

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Os princípios éticos são normas que nos obrigam a agir em função do
valor do bem visado pela nossa ação, ou do objetivo final que dá sentido à vida
humana; e não de um interesse puramente subjetivo, que não compartilhamos
com comunidade. Esse valor objetivo deve ser considerado em todas as suas
dimensões: no indivíduo, no grupo ou classe social, no povo, ou na própria
humanidade. O alcance dos princípios éticos é ilimitado: na História, eles tendem
a alcançar uma vigência universal. A qualidade própria dos princípios éticos nada
mais é, na verdade, que uma decorrência lógica do fato de se fundarem na
dignidade da pessoa humana, vista como componente essencial para a vida
social. A classificação desses princípios obedece à sua ordem de abrangência.
O respeito à dignidade da pessoa humana deve abrangê-la em todas as
suas dimensões: em cada indivíduo, com a sua característica irredutível de
qualidade; em cada grupo social; no interior dos povos politicamente
organizados; em cada povo ou nação independente, nas relações internacionais;
na reunião de todos os povos do mundo numa unidade política suprema em
construção. É igualmente em todas as dimensões da pessoa humana que atuam
os princípios fundamentais da verdade, da justiça e do amor, desdobrando-se
especificamente, nos princípios de liberdade, igualdade, segurança e
solidariedade. A norma técnica se alicerça na dignidade da pessoa humana
como componente principal para a convivência em sociedade, diferenciando-se
de regra técnica, que diz respeito aos meios aptos a se conseguir determinado
resultado que, obviamente desejado pelo agente, pode ser bom ou mau para
outros indivíduos ou para a coletividade em geral. A regra técnica, considerada
em si mesma, é eticamente neutra.
Kant bem salientou que:

[...] as prescrições que deve seguir o médico para curar totalmente o


paciente, e as que deve seguir um assassino para envenenar
letalmente sua vítima têm o mesmo valor, na medida em que umas e
outras lhes são úteis para realizarem, de maneira cabal, os desígnios.
(KANT, 2003)

A técnica guia-se, pois, exclusivamente, pelo valor da utilidade ou


eficiência dos meios na produção de um resultado, ao passo que a ética acentua

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o fim último visado pelo agente e o seu valor, relativamente a outras pessoas
que com ele se relacionam, ou em relação à coletividade. Na perspectiva técnica,
o agente deve atuar de certa maneira para poder obter o efeito por ele desejado,
não necessariamente valioso à coletividade. No ambiente ético, o agente deve
agir em vista de determinadas finalidades consideradas obrigatórias para todos,
e o seu modo de agir há de adaptar-se ao valor ético dos fins visados.
Na presente apostila, iremos abordar a ética, como fundamento social, as
suas variações e possibilidades de uso no contexto da sociedade
contemporânea. Iremos também trabalhar, especificamente, o conceito de Ética
profissional, bem como a sua importância para as relações sociais consolidadas
no contexto em que o sujeito está inserido.

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2 ÉTICA COMO FUNDAMENTO SOCIAL

Deve-se, pois, antes de tudo, estar de acordo sobre o gênero de vida que
todos os homens – para servir-me desta expressão – devem preferir, e depois
resolver se esse gênero de vida é o mesmo para os indivíduos em particular e
para sociedade em geral. (ARISTÓTELES, 2009, p. 229-230, grifo nosso).
Diremos, em princípio, os fundamentos culturais da sociedade são sua
essência elementar. Identificar essa essência faz com que consigamos observar
sedimentos de valores ou virtudes de outras épocas preservados na atualidade.
Ainda que não aprovemos esses valores ou virtudes como harmonias em relação
aquilo considerado por nós como moral ou ético, o comportamento ou a conduta
recorrente do povo pode revelar essa contradição. Daí a necessidade de se ter
em mente (ou se buscar) os motivos, a condição de mobilidade histórica como
registro dos fatos que mantiveram inalterado determinado comportamento em
detrimento da evolução material concreta e condicionada como elemento que dá
importância à preservação de certos fundamentos sociais, dentre eles, a ética.

Admitamos que as relações econômicas, consideradas como leis


imutáveis, princípios eternos, categorias ideais, sejam anteriores aos
homens ativos e atuantes; admitamos ainda que essas leis, esses
princípios, essas categorias tivessem, desde o princípio dos tempos,
dormitado “na razão impessoal da humanidade”. (MARX, 2006c, p.
103).

Assim como Marx:

Já vimos que, com todas essas eternidades imutáveis e imóveis deixa


de haver história, há quando muito história na ideia, ou seja, a história
que se reflete no movimento dialético da razão pura. (MARX, 2006, p.
103)

E podemos também, com Marx, dizer que, referindo-nos não somente ao


sr. Proudhon, mas ao conjunto hegemônico de senhores que domina as relações
de valores para além da esfera econômica, que, ao dizerem que:

[...] no movimento dialético, as ideias não se ‘diferenciam’” anulam “[...]


quer a sombra do movimento quer o movimento das sombras, por meio

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dos quais se poderia ainda criar um simulacro de história, quando
muito. (MARX, 2006c, p. 103)

Em vez disso, eles atribuem “[...] à história a sua própria impotência’,


atribuem ‘culpas a tudo […]” (MARX, 2006c, p. 103). Não bastasse essa tentativa
recorrente e histórica de se apartarem dos males dos quais podemos até afirmar
que são seus legítimos mentores, feitores e carrascos ao mesmo tempo,
complementam suas concepções na certeza de que a percepção concreta de
suas ideias perpassa pela história de maneira incólume, afinal, como Marx e
Engels mencionam:

Sem dúvida – se dirá – as ideias religiosas, morais, filosóficas,


políticas, jurídicas etc., modificaram-se no curso do
desenvolvimento histórico, mas [por mais paradoxal e inteligível
que isso represente], a religião, a moral, a filosofia, a política e o
direito mantiveram-se sempre através dessas transformações.
(MARX; ENGELS, 1988, p. 94.)

São institutos ou princípios simbólicos, mantidos e reproduzidos em sua


forma, cuja tradição ideológica burguesa tem conseguido sustentar como pilares
estruturantes da sociedade e como sustentáculo necessário ao processo
evolutivo civilizacional. Acrescentam Marx e Engels (1998, p. 94) (nesse
sentido), “[...] além disso, há verdades eternas, como a liberdade, a justiça, etc.,
que são comuns a todos os regimes sociais.”
Considerando, inclusive, por se tratar de uma forma de postulado que vige
quase em estado de perenidade por toda a civilização e é disseminado como
válido à diversidade das classes sociais, pode-se arguir se o bem e a justiça
professados são valores estabelecidos e distribuídos desigualmente entre os
desiguais (beneficiários) para promover algum tipo de equilíbrio não captado
pela racionalidade universal terrena ainda em estágio de evolução material.
Assim, é fundamental levarmos em conta que distinguir quem são os
beneficiários dessa evolução material faz toda a diferença. Por se tratar de
processo evolutivo condicionado, temos que ter em mente a existência da
realidade contraditória. Alguns ditam a condição e outros a cumprem ou seguem
sem a percepção de seu estado. A universalidade do bem ou valor cuja

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imanência é a representação da singularidade ligada a subjetividade humana
não pode ser indutiva para a coletividade sem que seja antes algo que opere na
realidade de valores como possibilidade comum, em que pesem as contradições
adstritas da sociedade capitalista. Contradições essas, cada dia mais
acentuadas e ascendentes.
O homem tem sua humanidade integrada quando o ente social incorpora
em si virtudes cujas características podem ser presenciadas em sua
individualidade. O significado dessa percepção faz que o homem se estabeleça
e seja notado a partir de si e daí se transforme juntamente de suas próprias
produções e transformações que o caracterizam como ser racional e
materializador da história. É no trabalho e com ele que essa condição vigora
como precursora e instrumento (ao mesmo tempo) de mudanças da natureza.

O aumento geral da produtividade do trabalho (em consequência do


desenvolvimento da criação de gado, da agricultura e dos serviços
manuais), bem como o aparecimento de novas forças de trabalho (pela
transformação dos prisioneiros de guerra em escravos), elevou a
produção material até o ponto de se dispor de uma quantidade de
produtos excedentes, isto é, de produtos que se podiam estocar porque
não eram exigidos para satisfazer necessidades imediatas. Criaram-
se, assim, as condições para que surgisse a desigualdade de bens
entre os chefes de família que cultivavam as terras da comunidade e
cujos frutos eram repartidos até então com igualdade, de acordo com
as necessidades de cada família. (SÁNCHEZ VÁZQUEZ, 1993, p. 30).

É nos atributos e nas virtudes humanas que é possível encontrar um


diferencial em que as relações podem ser admitidas como sociais e, também,
válidas como objetos históricos observáveis. Situação vigente desde o momento
em que a ação e comportamento são integrados no tempo e no espaço (ou
ambiente), onde o trabalho se realiza sob condições comparáveis em todas as
épocas, sobretudo, quando a realização humana passa a transformar a
natureza, introduz necessidades e subjaz o homem à condição de explorado e
explorador, induzindo à lógica de uma estranhada forma (principalmente para a
época) de consumo e da propriedade privada como valor ascendente na história
da humanidade.

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Com a desigualdade de bens tornou-se possível a apropriação privada
dos bens ou produtos do trabalho alheio, bem como o antagonismo
entre pobres e ricos. Do ponto de vista econômico, o respeito pela vida
dos prisioneiros de guerra, que eram poupados do extermínio para
serem convertidos em escravos, transformou-se numa necessidade
social. Com a decomposição do regime comunal e o aparecimento da
propriedade privada, foi-se acentuando a divisão de homens livres e
escravos. A propriedade – dos proprietários de escravos, em particular
– livrava da necessidade de trabalhar. O trabalho físico acabou por se
transformar numa ocupação indigna de homens livres. Os escravos
viviam em condições espantosas e arcavam com o trabalho físico,
particularmente o mais duro. […] Os escravos não eram pessoas, mas
coisas, e, como tais, seus donos podiam comprá-los, vendê-los,
apostá-los nos jogos de cartas ou inclusive matá-los. (SÁNCHEZ
VÁZQUEZ, 1993, p. 30).

Podemos até dizer, acerca da presença do valor moral ou ético, sob a


lógica do consumo e da propriedade privada, já em sua origem, que se trata dos
primeiros fundamentos sociais para as contradições que serão reveladas ao
longo do percurso histórico. O homem traz em si a mobilidade adaptativa em que
sua percepção moral ou ética em diversos momentos da história se contradiz e
se relativiza – “relativismo ético” – em certos sentidos sem, entretanto, ceder em
alguns valores que o acompanham pela história. Foi o que pudemos observar
em nossa pesquisa e nas referências teóricas cotejadas desde a antiguidade até
a atualidade. A caracterização do gênero humano como espécie racional distinta
das demais espécies perde sua distinção se são impostas ao homem reações e
relações de subsistência admitidas, mais diretamente, como definidoras das
outras espécies.
Considerar como real essa hipótese, ou melhor, o comportamento do
homem como impulso reacional, peculiar aos instintos irracionais (apenas),
como definidor de sua conduta, desconstitui a condição humana. Pode-se dizer
que há, propositadamente, uma espécie de involução teleológica do
conhecimento das espécies vivas, sobretudo dos animais (racionais e
irracionais), admitindo-se uma forma de condicionamento social (gregarismo) ao
gênero humano nivelando suas ações a reações desconstituídas da razão. A
desconstituição de sua relação racional com a natureza, como se suas
produções e transformações históricas não detivesse um processo evolutivo que
a diferencia das outras espécies, especialmente, se referirmo-nos aos animais

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irracionais. Como se as condições evolutivas do gênero humano se repetissem,
fossem estacionárias, primitivas, admitindo-se (ainda) que suas necessidades se
limitassem à nutrição e às sensações condizentes ao alívio da dor e ao estímulo
do prazer.

Os vários métodos específicos pelos quais os animais levam a efeito o


processo de procura do alimento, da nutrição, a série de instintos que
constituem o acasalamento, a criação e educação da prole, a
elaboração dos vários dispositivos de locomoção, o funcionamento dos
primitivos mecanismos defensivos e ofensivos, tudo isto constituem
instintos. Em cada caso podemos correlacionar o instinto com um
aparelho anatômico, com um mecanismo fisiológico e uma finalidade
específica no vasto processo biológico da existência individual e racial.
No conjunto da espécie cada indivíduo comportar-se-á de maneira
idêntica, desde que se achem presentes as condições de seu
organismo e as circunstâncias externas para desencadearem o
instinto. (MALINOWSKI, 2000, p. 159).

O caráter inato presumido por Malinowski passa a ser movido e


sustentado pela exterioridade, mas não como algo a que instintivamente ou por
impulso reagimos contra ou perseguimos como vital à subsistência, pois se
tornou obstáculo ou ameaça à dor ou ao prazer e compromete a existência. Não
é isso. A plasticidade dos instintos se dá sob a ótica citada em função de que já
não são mais o prazer ou a dor de quem instila seus impulsos em sua própria
defesa que prevalece. O que prevalece, de fato, é sustentação do prazer e todas
as ações dirigidas para impossibilitar a dor de quem (ou do que) externamente
impõe, como propriedade sua, a integridade (corpo e alma) do outro como
instrumento para defender-se de um mal ou para produzir um bem ou um serviço
do qual é ó único beneficiário. Trata-se da condição na qual as virtudes se tornam
comprometidas pela dor e pelo prazer. Os instintos, nessa hora, sustentam essa
condição, afinal, a dor e prazer movem os sentidos perceptivos dos excessos e
da carência, dos quais Aristóteles sublinha como designativos para o vício e para
a virtude.

As virtudes têm a ver com ações e paixões e toda paixão e toda ação
são acompanhadas por prazer e dor, isso constitui uma demonstração
adicional de que a virtude diz respeito ao prazer e à dor. Os seres
humanos se corrompem através de prazeres e dores, a saber, quer
perseguindo e evitando os prazeres e dores equívocos, quer os

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perseguindo e evitando no momento equívoco, ou da maneira
equívoca, ou em um dos outros meios equívocos entre os quais erros
de conduta podem ser logicamente classificados […]. A suposição de
que a virtude moral é a qualidade segundo a qual se age da melhor
forma em relação aos prazeres e dores e que o vício é o oposto.
(ARISTOTELES, 2002, p. 68-69)

Kant (2003, p. 77), em sentido semelhante, ao referir-se às “[...]


faculdades de apetição superior e inferior”, insere elementos importantes para
definir a condição com a qual a subsistência pode ser condicionante às questões
de valor (moral ou ético) e da felicidade a partir das necessidades (carências).
Os sentimentos de prazer e de desprazer são reflexo (reação instintiva) e
constructo (reação condicionada) ao mesmo tempo para que em determinadas
situação se consiga verificar o quanto as virtudes ou os vícios implicam ou
comprometem a percepção moral e o comportamento ético em um determinado
ambiente ou na sociedade na busca pela felicidade.
O que se pensava e se pensa sobre os valores ou virtudes pode ser um
bom exemplo dessa expressão aristotélica ao longo da história, no entanto, tal
reflexão precisa de outro espaço teórico ou investigativo, para o qual esta tese
não está direcionada e tampouco dá conta de abarcar. Ato subjetivo que
incorpora a tendência do comportamento no qual a singularidade é influenciada
diretamente por elementos particulares da cultura e da história, mas que ganham
peso e participação circunstancial, de acordo com o momento ou a condição em
que se situa na constituição de sociedade a partir do trabalho. Sánchez Vázquez
(1993, p. 27) nos diz que “A moral só pode surgir – e efetivamente surge –
quando o homem supera a sua natureza puramente natural, instintiva, e possui
já uma natureza social […]”; uma superação que se dá, de fato, na produção e
na transformação da própria natureza com o uso da força humana de trabalho
como ação provedora das necessidades que não são mais adstritas à coleta e à
caça, mas que representam um processo transformador da humanidade
conferindo à espécie humana, as possibilidades da manifestação das suas
virtudes e nelas se intensificam sua racionalidade.
Os meios de produção, a precarização e o ambiente de trabalho – assunto
tratado mais detidamente adiante, onde estão presentes e em exercício, se

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levarmos em conta (pelo menos), às condições de subsistência, concordaremos
que a forma como certos trabalhadores são tratados, suas condições
degradadas de trabalho e de saúde, a invisibilidade social em que vivem, são
condizentes quando muito (direta e objetivamente) à (sub)existência nos polos
de exclusão ou 85 de indigência marginal consentida e mantida sob a
subserviência social do Estado regido pela lógica do poder capitalista. No
entanto, visando estabelecer uma primeira abordagem à ética como fundamento
social, é importante lançarmos um olhar naquilo que Aristóteles (2009, p. 253-
254) considera como as “três coisas fazem os homens bons e virtuosos: a
natureza, os costumes e a razão”.

Primeiramente, é preciso que a natureza faça nascer homem e não


outra espécie qualquer de animal. É preciso também que ela dê certas
qualidades de alma e de corpo. Muitas destas qualidades não têm
utilidade alguma; porque os costumes fazem com que elas mudem e
se modifiquem. Os costumes desenvolvem, por vezes, as qualidades
naturais, dando-lhes uma tendência para o bem ou para o mal. Os
outros animais seguem principalmente o instinto da natureza; alguns
mesmos, em pequeno número, obedecem ao império dos costumes. O
homem segue a natureza e os costumes. Segue também a razão. Só
ele é dotado da razão. É preciso que haja acordo e harmonia entre
essas três coisas. Porque a razão leva os homens a fazerem muitas
coisas contrárias ao hábito e à natureza, quando eles se convencem
de que é melhor fazer de outra forma. (ARISTÓTELES, 2009, p. 253-
254)

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3 ÉTICA PROFISSIONAL E SUAS TENDÊNCIAS SOCIAIS

No presente capítulo pretendemos abordar o conceito da ética


profissional, buscando trazer suas principais características e reflexões para que
o discente possa, teoricamente, compreender o seu papel social nos contextos
em que estão inseridos.
As lideranças sociais têm um poder e uma responsabilidade decisivos em
relação à ética. Nenhuma nação, povo ou grupo social pode realizar seu projeto
histórico sem lideranças. A liderança social é o elemento de ligação entre os
interesses do grupo social e as oportunidades históricas disponíveis para realizá-
los. A responsabilidade ética da liderança, portanto, se pudesse ser medida, teria
o tamanho e o peso dos direitos reunidos de todos aqueles que ela representa e
lidera.
A liderança social tem uma dupla responsabilidade ética: institucional e
pessoal.

a) Institucional: porque devem cumprir fiel e estritamente os


deveres que lhe são atribuídos.
b) Pessoal: porque devem ser cada uma delas, um exemplo
de cidadania: justas e eticamente íntegras.

De forma sintética, João Baptista Herkenhoff (2001) exterioriza sua


concepção de ética: o mundo ético é o mundo do “deve ser” (mundo dos juízos
de valor), em contraposição ao mundo do “ser” (mundo dos juízos de realidade).
Todavia, “a moral é a parte subjetiva da ética”.

O homem nem sempre pode o que quer, nem quer sempre o que pode.
Ademais, sua vontade e seu poder não concordam com seu saber.
Quase sempre as circunstâncias externas determinam a sua sorte.
(D’HONDT, 1966, p. 105).

O estudo e o conhecimento da Deontologia (do grego deontos = dever e


logos = tratado) se voltam para a ciência dos deveres, no âmbito de cada
profissão. É o estudo dos direitos, emissão de juízos de valores, compreendendo

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a ética como condição essencial para o exercício de qualquer profissão. A ética
é indispensável ao profissional, porque na ação humana “o fazer” e “o agir” estão
interligados. O fazer diz respeito à competência, à eficiência que todo profissional
deve possuir para exercer bem a sua profissão. O agir se refere à conduta do
profissional, ao conjunto de atitudes que deve assumir no desempenho de sua
profissão. Tanto a moral como o direito baseiam-se em regras que visam
estabelecer certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém, se
diferenciam. A moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa, como
uma forma de garantir o seu bem-viver. Independe das fronteiras geográficas e
garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem, mas utilizam
este mesmo referencial moral comum.
O direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada
pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, que valem apenas
para a área geográfica onde uma determinada população ou seus delegados
vivem. A ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo
ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos seus objetivos é a busca de
justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente
de ambos – Moral e Direito – pois não estabelece regras. É extremamente
importante saber diferenciar a Ética da Moral e do Direito. Estas áreas de
conhecimento se distinguem, porém, têm grandes vínculos e até mesmo
sobreposições. Tanto a Moral como o Direito baseiam-se em regras que visam
estabelecer uma certa previsibilidade para as ações humanas. Ambas, porém,
se diferenciam. A Moral estabelece regras que são assumidas pela pessoa,
como uma forma de garantir o seu bem-viver. A Moral independe das fronteiras
geográficas e garante uma identidade entre pessoas que sequer se conhecem,
mas utilizam este mesmo referencial moral comum.
O Direito busca estabelecer o regramento de uma sociedade delimitada
pelas fronteiras do Estado. As leis têm uma base territorial, elas valem apenas
para aquela área geográfica onde uma determinada população ou seus
delegados vivem. Alguns autores afirmam que o Direito é um subconjunto da
Moral. Esta perspectiva pode gerar a conclusão de que toda a lei é moralmente
aceitável. Inúmeras situações demonstram a existência de conflitos entre a Moral

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e o Direito. A desobediência civil ocorre quando argumentos morais impedem
que uma pessoa acate uma determinada lei. Este é um exemplo de que a Moral
e o Direito, apesar de referirem-se a uma mesma sociedade, podem ter
perspectivas discordantes.
A Ética é o estudo geral do que é bom ou mau, correto ou incorreto, justo
ou injusto, adequado ou inadequado. Um dos objetivos da Ética é à busca de
justificativas para as regras propostas pela Moral e pelo Direito. Ela é diferente
de ambos, pois não estabelece regras. Esta reflexão sobre a ação humana é que
caracteriza a Ética.

3.1 Ética profissional: quando se inicia esta reflexão?

Esta reflexão sobre as ações realizadas no exercício de uma profissão


deve iniciar bem antes da prática profissional. A fase da escolha profissional,
ainda durante a adolescência muitas vezes, já deve ser permeada por esta
reflexão. A escolha por uma profissão é optativa, mas ao escolhê-la, o conjunto
de deveres profissionais passa a ser obrigatório. Geralmente, quando você é
jovem, escolhe sua carreira sem conhecer o conjunto de deveres que está preste
a assumir tornando-se parte daquela categoria que escolheu.
Toda a fase de formação profissional, o aprendizado das competências e
habilidades referentes à prática específica numa determinada área, deve incluir
a reflexão, desde antes do início dos estágios práticos. Ao completar a formação
em nível superior, a pessoa faz um juramento, que significa sua adesão e
comprometimento com a categoria profissional onde formalmente ingressa. Isto
caracteriza o aspecto moral da chamada Ética Profissional, esta adesão
voluntária a um conjunto de regras estabelecidas como sendo as mais
adequadas para o seu exercício.
Mas pode ser que você precise começar a trabalhar antes de estudar ou
paralelamente aos estudos, e inicia uma atividade profissional sem completar os
estudos ou em área que nunca estudou, aprendendo na prática. Isto não exime
você da responsabilidade assumida ao iniciar esta atividade. O fato de uma
pessoa trabalhar numa área que não escolheu livremente, o fato de “pegar o que

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apareceu como emprego”, por precisar trabalhar, o fato de exercer atividade
remunerada onde não pretende seguir carreira, não isenta da responsabilidade
de pertencer, mesmo que temporariamente, a uma classe, e há deveres a
cumprir. Um jovem que, por exemplo, exerce a atividade de auxiliar de
almoxarifado durante o dia e, à noite, faz curso de programador de
computadores, certamente estará pensando sobre seu futuro em outra profissão,
mas deve sempre refletir sobre sua prática atual.

3.2 Ética profissional: como é esta reflexão?

Algumas perguntas podem guiar a reflexão, até ela tornar-se um hábito


incorporado ao dia-a-dia. Tomando-se o exemplo anterior, esta pessoa pode se
perguntar sobre os deveres assumidos ao aceitar o trabalho como auxiliar de
almoxarifado, como está cumprindo suas responsabilidades, o que esperam dela
na atividade, o que ela deve fazer, e como deve fazer, mesmo quando não há
outra pessoa olhando ou conferindo.
Pode perguntar a si mesmo: Estou sendo bom profissional? Estou agindo
adequadamente? Realizo corretamente minha atividade?
É fundamental ter sempre em mente que há uma série de atitudes que
não estão descritas nos códigos de todas as profissões, mas que são comuns a
todas as atividades que uma pessoa pode exercer.
Atitudes de generosidade e cooperação no trabalho em equipe, mesmo
quando a atividade é exercida solitariamente em uma sala, ela faz parte de um
conjunto maior de atividades que dependem do bom desempenho desta. Uma
postura proativa, ou seja, não ficar restrito apenas às tarefas que foram dadas a
você, mas contribuir para o engrandecimento do trabalho, mesmo que ele seja
temporário. Se sua tarefa é varrer ruas, você pode se contentar em varrer ruas
e juntar o lixo, mas você pode também tirar o lixo que você vê que está prestes
a cair na rua, podendo futuramente entupir uma saída de escoamento e
causando uma acumulação de água quando chover. Você pode atender num
balcão de informações respondendo estritamente o que lhe foi perguntado, de
forma fria, e estará cumprindo seu dever, mas se você se mostrar mais

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disponível, talvez sorrir, ser agradável, a maioria das pessoas que você atende
também serão assim com você, e seu dia será muito melhor.
Muitas oportunidades de trabalho surgem onde menos se espera, desde
que você esteja aberto e receptivo, e que você se preocupe em ser um pouco
melhor a cada dia, seja qual for sua atividade profissional. E, se não surgir, outro
trabalho, certamente sua vida será mais feliz, gostando do que você faz e sem
perder, nunca, a dimensão de que é preciso sempre continuar melhorando,
aprendendo, experimentando novas soluções, criando novas formas de exercer
as atividades, aberto a mudanças, nem que seja mudar, às vezes, pequenos
detalhes, mas que podem fazer uma grande diferença na sua realização
profissional e pessoal. Isto tudo pode acontecer com a reflexão incorporada a
seu viver. E isto, é parte do que se chama empregabilidade: a capacidade que
você pode ter de ser um profissional que qualquer patrão desejaria ter entre seus
empregados, um colaborador. Isto é, ser um profissional eticamente bom.

3.3 Ética profissional e relações sociais

O varredor de rua que se preocupa em limpar o canal de escoamento de


água da chuva, o auxiliar de almoxarifado que verifica se não há umidade no
local destinado para colocar caixas de alimentos, o médico cirurgião que confere
as suturas nos tecidos internos antes de completar a cirurgia, a atendente do
asilo que se preocupa com a limpeza de uma senhora idosa após ir ao banheiro,
o contador que impede uma fraude ou desfalque, ou que não maquia o balanço
de uma empresa, o engenheiro que utiliza o material mais indicado para a
construção de uma ponte. Todos estão agindo de forma eticamente em suas
profissões, ao fazerem o que é correto, mesmo quando não estão sendo
observados, preocupando-se assim, não só com os deveres profissionais, mas
também, com as pessoas.
As leis de cada profissão são elaboradas com o objetivo de proteger os
profissionais, a categoria como um todo e as pessoas que dependem daquele
profissional, mas há muitos aspectos não previstos especificamente, e que

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fazem parte do comprometimento do profissional em ser eticamente correto,
aquele que, independente de receber elogios, faz a coisa certa.

3.4 Ética profissional e atividade voluntária

Outro conceito interessante de examinar é o de Profissional, como aquele


que é regularmente remunerado pelo trabalho que executa ou atividade que
exerce, em oposição a Amador. Nesta conceituação, se diria que aquele que
exerce atividade voluntária não seria profissional, e esta é, uma conceituação
polêmica.
Em realidade, voluntário é aquele que se dispõe, por opção, a exercer a
prática Profissional não-remunerada, seja com fins assistenciais, ou prestação
de serviços em beneficência, por um período determinado ou não. Aqui, é
fundamental observar que só é eticamente adequado, o profissional que age, na
atividade voluntária, com todo o comprometimento que teria no mesmo exercício
profissional se este fosse remunerado.
Seja esta atividade voluntária na mesma profissão da atividade
remunerada ou em outra área. Por exemplo, um engenheiro que faz a atividade
voluntária de dar aulas de matemática. Ele deve agir, ao dar estas aulas, como
se esta fosse sua atividade mais importante. É isto que aquelas crianças cheias
de dúvidas em matemática esperam dele. Se a atividade é voluntária, foi sua
opção realizá-la. Então, é eticamente adequado que você a realize da mesma
forma como faz tudo que é importante em sua vida.

3.5 Ética profissional: pontos para sua reflexão

É imprescindível estar sempre bem informado, acompanhando não


apenas as mudanças nos conhecimentos técnicos da sua área profissional, mas
também, nos aspectos legais e normativos. Vá e busque o conhecimento. Muitos
processos ético-disciplinares nos conselhos profissionais acontecem por
desconhecimento, negligência.

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Competência técnica, aprimoramento constante, respeito às pessoas,
confidencialidade, privacidade, tolerância, flexibilidade, fidelidade, envolvimento,
afetividade, correção de conduta, boas maneiras, relações genuínas com as
pessoas, responsabilidade, corresponder à confiança que é depositada em você.
Comportamento eticamente adequado e sucesso continuado são indissociáveis.

Quem é o melhor colaborador?

a) Não é o mais “inteligente” e “brilhante” – é o mais “comprometido”;


b) É o que atende aos pedidos imediatamente – tanto dos chefes quanto
dos clientes e colegas de trabalho;
c) É o sempre pronto a colaborar com seus colegas de trabalho – mesmo
quando a tarefa não é sua;
d) É o que participa, dá opiniões, “briga pela empresa” – mesmo correndo
o risco de não ser bem compreendido;
e) É o que termina as coisas que começa;
f) É aquele presta atenção aos detalhes nas coisas que faz – procura
fazer tudo bem feito em seus detalhes;
g) É o que demonstra estar feliz – abaixo os “entediados” no trabalho;
h) É o que estar constantemente procurando saber mais sobre a
empresa – para poder servir melhor, clientes e colegas;
i) É aquele que repassa as informações relevantes a seus subordinados
e chefes – não “guarda” informações relevantes para si como forma
de demonstrar “poder”;
j) É aquele que “não fica olhando o tempo todo para o relógio” – para
saber a hora de ir embora;
k) É o ético – no sentido mais amplo da palavra – não mente, respeita os
clientes e os colegas – sejam superiores ou subordinados;
l) É o “comprometido com a marca e com os produtos da empresa”;
m) É aquele que “respeita” o ambiente de trabalho desde como se veste,
até como se comporta, até o que fala;
n) É o mais “polido” e “educado” – além de competente.

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3.6 Sigilo de Informações

Uma empresa independente de ser pequena, média ou uma grande


corporação tem sua forma própria trabalhar, metas, dados estatísticos, etc.
As informações que tomamos conhecimento com nosso trabalho, devem
ser restritas a empresa, pois não é ético divulgar assuntos de interesse da
empresa a pessoas externas. Pode ocorrer de um colaborador tomar
conhecimento de um assunto que não lhe diz respeito, pois ficou sabendo “por
acaso” e sair falando a todos inclusive dentro da própria empresa a outros
colegas, depois se o fato de forma diferente ou não ocorre, todos ficarão sabendo
da notícia e por onde ela começou.
Exemplos de comportamento inadequados:

a) Um colaborador do departamento de pessoal ouviu seu gerente falar


com o diretor que teriam um aumento de 10%, pronto a notícia se
espalhou e aumento só era para os cargos de chefia. As
consequências, não poderiam ser piores, uma insatisfação enorme.
b) Na fila do banco dois “boys” conversando, um deles divulga uma
estratégia de marketing da venda de sabonete SPERT e o outra escuta
calmo e tranquilo, quando chega de volta a empresa em que trabalha
procura seu chefe e divulga o fato, pois se tratam de empresas
concorrentes, cujo principal produto é o tal do sabonete.

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4 ÉTICA PROFISSIONAL NO CAMPO ARISTOTÉLICO

O discurso exposto pelo realismo aristotélico, considerava o universo


como ordenado por leis constantes e imutáveis. Essa ordem rege não só
fenômenos naturais, mas também, os de ordem política, moral ou estética.
Alegando existir uma ciência "primeira", a metafísica, que estuda o ser e procura
enunciar que essa ordem torna inteligíveis todos os fenômenos.
Neste cenário, a teoria ética filosófica objetiva estabelecer o bem tanto ao
indivíduo quanto à sociedade num todo. Então, o comportamento ético é o que
se considera prudente. Porém, uma questão central que a moral e a ética tratam,
e que é muito difícil de responder, é "como devo agir para com os outros?". A
visão sob a ética na filosofia grega clássica se faz mais empírica, claramente
exposta nas obras de Aristóteles.
A ética, segundo Aristóteles (2009), serve como condução do ser humano
à felicidade, no sentido mais amplo da palavra. E é em toda interação, na
dinâmica do convívio social, que se possibilita transparecer os valores éticos e
morais humanos, assim como o desenvolvimento destes.
Aristóteles acreditava que o exagero é motivador para a criação de
conflitos com outros indivíduos ou com a sociedade, e enquanto tal pode afetar
o nosso caráter, com isso os excessos prejudicam a imagem do homem social.
E é na observação e reflexão de tais fatos que irá surgir, originar-se a doutrina
do justo meio, onde a virtude intermedia pontos extremos, os vícios ou defeitos
de caráter. O comedimento, a moderação, o afastamento do excedente vêm para
amparar a conduta virtuosa.
Em a Ética a Nicômaco, principal obra de Aristóteles sobre ética, o
pensador esclarece que a finalidade suprema que governa e justifica a maneira
do ser humano conduzir seus atos e sua vida é a felicidade, que não está
correlatada com os prazeres, nem implícita nas honrarias recebidas pelo ente
agraciado, mas numa vida repleta de posturas e comportamentos virtuosos. E o
homem dotado de prudência e habituado ao exercício de tal, encontra no justo
meio entre os extremos de seus atos e decisões a virtude.

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Então, seguindo a concepção do realismo aristotélico de que uma ordem
subjacente rege as coisas, a virtude aparece como a medida determinada por
esta ordem e pelos fins que a sobre determinam visando o desenvolvimento
pleno do ser humano.

Costuma-se dizer que nada há que acrescentar nem tirar nas coisas
bem-feitas, considerando-se que o excesso ou a falta destrói a
perfeição e a justa medida a conserva [...]. E a virtude que é mais
perfeita e melhor que toda a arte, do mesmo modo que a natureza,
tenderá para o meio. [...] Chamo meio da coisa o igualmente distante
dos extremos, que é um e idêntico para todos, meio a respeito de nós,
o que não é excesso nem falta. E este não é único nem idêntico para
todos. (ARISTÓTELES, 2009)

A virtude é uma disposição adquirida voluntariamente, consistindo, em


relação a nós, em uma medida, definida pela razão conforme a conduta
de um homem que age refletidamente. Ela consiste na medida justa
entre dois extremos, um pelo excesso, outro pela falta.
(ARISTÓTELES, 2009)

Portanto, a virtude está no meio termo das decisões de comportamento,


de como atuar para uma situação específica, e o vício se dá pela falta ou pelo
excesso. Procurando estabelecer uma aplicação de tal conceito, creio que não
seria um equívoco dizermos que, em um processo de negociação onde as partes
têm interesses diferentes, chegar à satisfação desejável destas (cliente e
empresa) é o que podemos chamar de virtude, enquanto que seus opostos são:
a exploração do poder aquisitivo do cliente aproveitando o seu desconhecimento
quanto ao custo-benefício do objeto da venda e o valor monetário de mercado
comum ao mesmo objeto (excessos na margem de lucratividade sobre o custo
do produto); e a concessão de descontos maiores que o lucro obtido na
negociação na tentativa de fidelizar este cliente desvalorizando o valor monetário
de mercado do objeto da venda e seu custo-benefício (ausência de lucratividade
sobre o custo do produto).

[...] a virtude está em nosso poder, do mesmo modo que o vício, pois
quando depende de nós o agir, também depende o não agir, e vice-
versa. de modo que quando temos o poder de agir quando isso é nobre,
também temos o de não agir quando é vil; e se está em nosso poder o
não agir quando isso é nobre, também está o agir quando isso é vil.
logo, depende de nós praticar atos nobres ou vis, e se é isso que se

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entende por ser bom ou mau, então depende de nós sermos virtuosos
ou viciosos. (ARISTÓTELES, 2009)

Em suma, para Aristóteles a ética é tratada como a ciência das condutas


humanas, objetivando enfim comprometer-se em possibilitar ao homem a
garantia da felicidade através de uma vida regida por virtudes morais e éticas.
Pois, a razão deve direcionar o cotidiano, e com isso dominar os vícios e criar
bons hábitos, e a mediana entre as atitudes, as condutas e as decisões, é o mais
importante para estabelecer o equilíbrio e proporcionar o bem, assim como o
desenvolvimento harmonioso do ser em seu meio.

4.1 Ética na sociedade brasileira

Trazendo a teoria ética aristotélica para a nossa realidade atual, parece-


nos à primeira vista que o cidadão brasileiro, em grande parte, esqueceu ou
optou por distanciar-se de certos "valores formadores".
Ressaltando que, o comportamento ético é o ato de agir, de decidir, de
fazer o bem de fato, por uma conduta virtuosa na comunidade em que estamos
inseridos, deste modo conduzimos uma vida mais harmoniosa em sociedade, na
busca da felicidade, da liberdade e da justiça. E na filosofia moderna, a conduta
virtuosa designa uma disposição moral para o bem individual e comum.
A sociedade brasileira, nas últimas décadas, vem sofrendo grandes
alterações, principalmente se considerarmos o comportamento dos cidadãos, as
crenças e os valores culturais. Modificações estas, que veem deixando perplexa
uma gama cada vez maior de seus cidadãos, no entanto, seria aceitável, ou
melhor, seria consciente esta perplexidade, uma vez que esta transformação se
não foi por ela motivada, não deixou de por ela ser aceita? Portanto, vive-se hoje
em nosso país em uma imensa e profunda crise moral e ética.
O que falar dos sucessivos escândalos na política, que alcançam da mais
baixa a mais alta esfera dos cargos públicos? Da utilização de verbas públicas
para interesses particulares e enriquecimentos ilícitos? O que dizer do cidadão
que se diz indignado com a corrupção dos políticos, no entanto, em suas ações

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particulares age dentro da mesma lógica, por exemplo, furar fila em bando? Ou
pagar propina para receber a carteira de motorista sem fazer o teste? Comprar
o voto de eleitores "inconscientes" ou "indecentes" por meio de programas
assistencialistas? Assim como, vender a sua cidadania e perder a sua dignidade
em prol de quantias irrisórias e ou a obtenção de uma subsistência pelo menor
esforço? Outro exemplo desta inversão: hoje, interpretar a criminalidade como
principal causa da exclusão social e da heterogeneidade na concentração de
renda é entender apenas parte da dimensão desta realidade, devido a estas não
serem causas e sim, consequências.
O problema da exclusão não é somente social, é, principalmente, moral.
Pois, vemos que, não é a vontade de seguir em conformidade com normas de
conduta ética ou leis estabelecidas para a sociedade que faz com que os
cidadãos brasileiros se comportem como espera o meio social, e sim, o medo de
sansões punitivas originárias de desvios de conduta.
Neste quadro, seguem "impregnados" na rotina dos brasileiros,
novamente sem generalismo, atos imorais e antiéticos, o que não concede
direitos de julgamento e crítica a transgressões corruptas em qualquer ordem
social, pois o "jeitinho brasileiro" também se configura inserido numa moral
oportunista, onde o individualismo ampara o interesse do triunfo conveniente em
detrimento do interesse do outro ou da coletividade. Passando o Brasil a carregar
consigo a imagem de uma sociedade corruptora e corruptível, descrente das
práticas virtuosas de seu povo e das suas instituições.
Contudo, existem os íntegros em que se pode confiar; àqueles que não
pensam egoisticamente, que se incomodam com o rompimento dos valores
éticos e morais na dinâmica das relações sociais. E, ainda, no íntimo ou
explicitamente, ninguém quer ser flagrado em desvios de conduta, transgredindo
a posturas esperadas pela coletividade a que está inserido, ou a valores culturais
preestabelecidos. É a partir desta moral da integridade que se emoldura o
homem virtuoso, honesto, leal, idôneo, amparado por uma postura ética
fundamentada nos princípios aristotélicos para a busca da convivência
harmônica do ser com seu meio em prol do bem individual e comum.

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4.2 O meio profissional e empresarial

Atualmente, a ética se faz essencial para a interação no meio social


comum, e assim, também se faz primordial na regulação e regulamentação das
relações profissionais e empresariais, numa contextualização que deixa de ser
mais empírica, filosoficamente como tratava Aristóteles, e passa a ser mais
descritiva na conduta ética regida por códigos normativos. A aplicação da ética
é sumariamente importante para a efetividade profissional e organizacional,
principalmente no Brasil, que traz em seu povo valores deturpados do que é
moral e virtuoso, e a descrença no que se afirma responsável socialmente.
No âmbito profissional, a ética é relevante por estar presente nas menores
atitudes e fica claro que em todas as profissões existe uma maneira certa,
prudente e justa, de decidir, de conduzir e fazer uma específica tarefa em uma
determinada atividade profissional. Assim, a ética auxilia no desenvolvimento do
bem-estar individual e coletivo por caminhos regidos pela virtude nos atos
funcionais e administrativos dentro de uma empresa, no segmento liberal ou no
segmento autônomo, em prol da harmonia social.
E para tal, existe o código de ética profissional, um instrumento regulador
que apresenta normas de conduta para o cumprimento de determinada
profissão. Sendo de interesse geral dos inseridos naquela classe, na tentativa
de levar o profissional ao cumprimento do exercício de uma virtude obrigatória,
com existência de órgãos fiscalizadores e controladores do respeito ao referido
código na execução das atividades pertinentes a profissão. Abaixo, o juramento
do administrador:

Prometo dignificar minha profissão, consciente de minhas


responsabilidades legais, observar o Código de Ética, objetivando o
aperfeiçoamento da Ciência da Administração, o desenvolvimento das
instituições e a grandeza do homem e da pátria. (CFA, s.d.)

No meio empresarial, as instituições públicas ou privadas passaram a


perceber como a ética é necessária para que o mercado tenha uma visão mais
positiva da sua missão para com o público alvo de seus negócios e a sociedade,
como exemplo, partindo a tratar com maior ênfase mecanismo que efetivamente

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maximize a responsabilidade social e ambiental das organizações, a fim de
afirmar uma imagem de comprometimento com o futuro da coletividade e do bem
comum para desenvolvimento e sustentabilidade tanto da instituição quanto de
sua relação com o meio inserido.
Enfim, a ética empresarial condiz com um valor da organização que
proporciona sua reputação e, consequentemente, seus bons resultados. A ética
empresarial é "[...] o comportamento da empresa - entidade lucrativa - quando
ela age de conformidade com os princípios morais e as regras do bem proceder
aceitas pela coletividade (regras éticas)". (MOREIRA, 1999)

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5 ÉTICA DO DISCURSO EM JÜRGEN HABERMAS: A IMPORTÂNCIA DA
LINGUAGEM PARA UM AGIR COMUNICATIVO

O discurso e o agir comunicativo na ética de Habermas é desenvolvido a


partir da sua obra intitulada “consciência moral e agir comunicativo”, onde o autor
desenvolve sua teoria a partir do discurso e do consenso desenvolvido pela
comunicação. O agir comunicativo nasce na tentativa de fundamentar a ética a
partir do discurso, levando em consideração a comunicação entre os sujeitos.
Assim, a ética pautada no agir comunicativo busca a legitimidade das normas
morais na intersubjetiva. De acordo com Lima:

[...] a ética do discurso emerge dentro da filosofia alemã a partir dos


anos 70 do século XX – com Apel e Habermas – como uma tentativa
de oferecer uma fundamentação para o agir moral, fundamentação
esta que busca transcender os limites das alternativas éticas de cunho
metafísico-subjetivista. (LIMA, 2015, p. 2013)

Este capítulo pretende demonstrar uma análise sobre a questão ética do


discurso dentro do pensamento de Habermas, e sobre o consenso desenvolvido
em uma comunidade (sociedade), que vise uma pragmática universal com o
discurso; quais os pressupostos que conduzem o discurso para que se tenha
validade universal normas morais, onde todos os interlocutores possuem direitos
de expressarem seus pensamentos sobre as leis e ética vigente na comunidade.
Na primeira parte será explicitado o significado do discurso no pensamento de
Habermas, levando em consideração a importância que o discurso desempenha
no agir comunicativo. O discurso desta forma torna-se a ação exercida pelos
falantes para que aconteça o consenso; o discurso bem elaborado cria as
possibilidades racionais para a existência do agir comunicativo. Na segunda
parte, é feita uma análise sobre o agir comunicativa e qual a importância que
essa ação exerce para a existência de uma ética que vise o consenso entre os
interlocutores. Na terceira parte, é desenvolvida uma verificação sobre a
importância da linguagem na ética discursiva de Habermas, tendo como principal
característica a dependência que a ética tem da linguagem.

31
5.1 Significado do discurso para Habermas

Antes de tudo é necessário entender o que Habermas quer dizer com o


sentido do “Discurso”. De acordo com Peres Filho (2012, p. 13), em sua
dissertação de mestrado, Habermas entende o “Discurso” “como sendo a ação
social, comunicativa e consensual, que se dá por meio da linguagem e é
orientada para o entendimento de participantes”. Diante disso, citando como
exemplo dois indivíduos que estejam em quaisquer momentos, com desejo de
se comunicarem, expõem, em qualquer tipo de ato de fala, presunções de
validades universais. Segundo Lubenow:

[...] todas as morais se movimentam em torno dos princípios relativos


à igualdade de tratamento, à solidariedade e ao bem-estar geral. Estas
são noções fundamentais que se reportam às condições de simetria e
às expectativas de reciprocidade da ação comunicativa. (LUBENOW,
2011, p. 63)

Habermas também em sua Ética do Discurso procura sair daquilo que se


prende somente à consciência.

Ética do Discurso procura o ponto de partida kantiano, meramente


interior e monológico procura superar a perspectiva monológica do
paradigma da consciência, que atribui unicamente ao indivíduo
singular à capacidade de examinar em seu foro interno as máximas da
ação (LUBENOW, 2011, p. 65).

O outro passo dado na Ética pensada por Habermas é tirar a razão como
sendo o centro do julgamento e colocando o diálogo como possibilidade de
entendimento para os debates. Isso para não se cair em uma filosofia da
consciência que incorre em solipsismo, quando uma consciência estaria
adequada para projetar normas. Para Habermas o sentido das tradições deve
ser antes de tudo, compartilhada em um diálogo consensual para que se chegue
a leis com validade universal.
É na argumentação que acontece a troca de ideias, no diálogo que surge
o consenso em meio a tantos pensamentos. Aqui conta basicamente a
intersubjetividade de entendimento que se desenvolve na rede comunicativa
política. E na busca pelo sentido da verdade na ética do discurso, o diálogo deve

32
estar isento de qualquer ato de dominação, pois o consenso deve ser racional
onde ambas as partes devem ser ouvidas. Vale ressaltar que a participação deve
ser ativa e não de meros participantes que se deixam conduzir por diálogos que
não condizem que a validade das normas éticas da comunidade. A
argumentação deve estar desprovida de qualquer barganha ou incentivo
negativo ligado à regalia. Dessa forma, a argumentação não está ligada com a
consciência subjetiva, mas com ideia coletiva, onde os participantes discutem
sobre o dever moral de maneira a facilitar a existência do consenso.

5.2 Ética do discurso e a importância do agir comunicativo

A Ética do discurso de Jürgen Habermas trata das questões filosóficas


morais e políticas, onde a ética tem espaço dentro do discurso comunitário frente
a um agir comunicativo que, para ele, se caracteriza como a oportunidade que
todos os falantes têm para se expressarem frente às normas e condutas morais.
Nessa ação, deve se ter como ideia fundamental, a interação mútua entre os
sujeitos, para que só assim, seja possível acontecer uma ética pautada no
discurso. Quanto a isso Habermas, esclarece o significado fundamental de
interação comunicativa:

[...] chamo comunicativa as interações nas quais as pessoas


envolvidas se põem de acordo para ordenar seus planos de ação, o
acordo alcançado em cada caso medindo-se pelo reconhecimento
intersubjetivo das pretensões de validez. (HABERMAS, 1989, p. 79)

Dessa maneira, a ideia fundamental do agir comunicativo é norteada pela


interação entre os interlocutores dando oportunidades para que a ação seja
exercida por todos sem que haja repreensão. A validez das normas possui
sentido aceitável somente a partir do consenso entre os interlocutores. E esse
consenso surge como a ação comunicativa de maneira racional exercida por
todos aqueles que fazem parte da comunidade.
Com isso, a validez nasce da discussão e ação elaborada pelos
participantes. Segundo o próprio Habermas (1989), essa discussão serve para
justificar os argumentos que forem discutidos dentro da comunidade, e fazer com

33
que tais argumentos tenham validade. O agir comunicativo por sua vez vai dar
possibilidades a existência da validade das normas dentro da comunidade e
possibilita uma ética ligada à linguagem. Assim, a ética discursiva de Habermas
se torna dependente da linguagem exercida pelos participantes, pois é diante da
linguagem coordenada que se compreende e se chega ao entendimento mútuo.
Habermas (1990, p. 72), coloca que “uma vez que o agir comunicativo
depende do uso da linguagem dirigida ao entendimento, ele deve preencher
condições mais rigorosas”. E a partir dessas condições os participantes discutem
suas ideias e fazem suas argumentações deliberando um planejamento de
ações e normas. Apesar de a linguagem ter participação na ética discursiva
habermasiana, não é qualquer discurso que se torna válido e nem muito menos
qualquer participação por parte dos falantes. Tal ação deve ser coordenada e
exercida racionalmente. Vale lembrar que a razão comunicativa aqui empregada,
não é mesma razão expressa por Kant, quando o mesmo coloca a ação moral
sobre a parte subjetiva. Em relação à maneira como deve ser apreendida à ação
exercida sobre as questões normativas, Habermas esclarece, e faz a distinção
entre o agir comunicativo e o agir estratégico:

No agir estratégico um atua sobre o outro para ensejar a continuação


desejada de uma internação, no agir comunicativo um é motivado
racionalmente pelo outro para uma ação de adesão, e isso em virtude
do efeito ilocucionário de comprometimento que um ato de fala suscita.
Que um falante possa motivar racionalmente um ouvinte à aceitação
de semelhança não se explica pela validade do que é dito, mas, sim
pela garantia assumida pelo falante, tendo um efeito de coordenação,
de que se esforçará, se necessário, para resgatar a pretensão erguida.
(HABERMAS, 1989, p. 79)

É sobre o agir comunicativo e não tão importante, o agir estratégico, que


Habermas trabalha sua teoria da ética do discurso. Somente numa ação exercida
racionalmente é possível encontrar adesões dentro da comunidade, pois é diante
da intersubjetividade que o ato do falante terá grande respaldo e poderá ser tido
como válido. A validez a que Habermas explica na citação é a de que só é
aceitável o discurso que apresente validade racional, não sendo apenas algo dito
de forma arbitrária ou que sofra influências externas. As forças que manterão as
normas com validade dentro da comunidade não estão é um plano teleológico,

34
mas na própria ação comunicativa que se desenrola em “força racional
motivadora de atos de entendimento” (HABERMAS, 1990, p. 72).
Diante disso, é na razão comunicativa que surge um acordo pautado no
consenso. Essas argumentações são desenvolvidas através do conhecimento
moderno de mundo, frente à existência de uma sociedade com seres coerentes,
mas com princípios segmentados pelo pluralismo desenvolvido dentro de cada
espaço, sendo dessa maneira não inevitável, mas às vezes acaba por ser
desejável, principalmente de acordo com modelos de vida específicos,
desenvolver um ponto de vista moral, onde os interlocutores possam definir as
ações de maneira cooperativa. De acordo com Lubenow:

Para Habermas, o ponto de vista moral é o que permite uma avaliação


imparcial das questões morais; ele nada mais é do que o lugar, a
perspectiva, que torna possível reconstruir as intuições, os valores, as
normas do mundo vital e julgar imparcialmente conflitos morais
concretos, principalmente os que nascem no contexto da validade e
obrigatoriedade de normas morais. (LUBENOW, 2011, p. 60)

Assim, a Ética do Discurso de Habermas surge diante do pluralismo e da


maneira de desenvolver validades universais em meio a tantas controvérsias e
formas de pensa diferentes. Para tanto, segundo Habermas (1996, p. 15) é
preciso “reconstruir a validade universal do discurso”, validade esta que está
inserida em qualquer ambiente, discurso e sociedade. De acordo com Hamel:

A partir de Habermas, a ética passa a implicar coletividade,


remodelando também a esfera pública, que deve ser pluralista, com
forte consequência para as relações sociais, consubstanciando, ainda,
uma realocação do direito moderno aliado a uma nova função, qual
seja, a de garantir as regras democráticas de participação popular.
(HAMEL, 2011, p. 165)

A ética exposta por Habermas está fundamentada na perspectiva em que,


a razão comunicativa deve ser a base principal que direciona os seres humanos
dentro de uma comunidade, de forma que mantenham um diálogo que se traduza
válidos universalmente, e que vise o bem comum e normas que estejam de
acordo com o entendimento mútuo. Habermas ao colocar a linguagem como

35
força para a existência de uma ética do discurso mostra como deve agir os
participantes e como o entendimento mútuo através da linguagem acontece.
Essa razão comunicativa proporciona assim, por se dizer,
responsabilidade comunicativa por parte de cada indivíduo em relação ao outro.
É diante das falas dos participantes que dá sentido à validade das normas e
reconhecimento intersubjetivo. É cooperação e não em uma razão meramente
subjetiva que se encontra a válida ou critério de verdade das normas. A busca
pela validade da ação moral em Habermas não está em um sujeito isolado, mas
no sujeito se relacionando com outro sujeito, existindo assim, a
intersubjetividade. A ética do discurso não é embasada em um só individuo, mas
na coletividade e na cooperação entre os indivíduos.
Com isso, passa a se ter uma ideia de ética coletiva e normas escolhidas
por todos sem uma força externa à comunidade e sem espaço para que um
participante se interponha sobre o outro. Daí, pode-se dizer que existe na teoria
ética habermasiana cooperação, solidariedade e uma vida que tem como
pretensão o bem.
Quanto a isso, comenta Zanella (2012, p. 134), Habermas traz “uma
proposta de uma ética do viver bem, da felicidade e da solidariedade entre os
indivíduos capazes de linguagem e ação”. Assim, essa ética foge dos moldes de
uma ética meramente instrumental e passa a ser uma ética que tem a linguagem
como pressuposto importante para a ação e comunicação para se chegar a uma
moral dentro do agir comunicativo.
O pensamento de Habermas sobre a argumentação comunitária parte do
pensamento de Apel, visando uma fundamentação universalizada que possibilite
leis morais escolhidas dentro de um âmbito democrático, onde todos os sujeitos
poderão dar suas opiniões. Habermas retoma o pensamento sobre a ética do
discurso de Karl-Otto Apel, onde o discurso dentro de uma comunidade é levado
a sério. Assim, a linguagem tornaria o discurso de cada sujeito na ação prática,
sendo que, o que foi escolhido por todos não seria infligido. Segundo Zanella
(2012, p. 134) “Habermas defende a ideia de que a atividade argumentativa é
uma ocupação eminentemente comunicativa”.

36
Desta forma, não mais seguindo uma ética direciona racionalmente como
a proposta por Kant, mas uma ética que trabalhe a razão comunicativa abrindo
espaço para a intersubjetividade dentro das relações dos seres que participam
de determinados grupos. Assim, de acordo com Machado (1988, p. 36) “o sentido
da comunidade da comunicação tem como pressuposto o reconhecimento de
todos os membros com iguais direitos de discussão”, em que todos têm espaço
para se expressarem de maneira livre. A pragmática é levada em consideração
para Habermas, pois possibilita a ação do homem dentro dessa comunidade
usando a linguagem. Vale ressaltar que a comunidade é real, sendo que, o
discurso é entendido por todos do grupo.
A teoria do discurso de Habermas é desenvolvida a partir do pensamento
kantiano, com critérios morais racionais. Mas que depois passa por uma nova
roupagem deixando de lado o indivíduo e dando possibilidades para que se
pense o comunitário. Para Hamel (2011), a Ética do discurso de Habermas é
uma reconfiguração do pensamento “deontológica” da Ética de Immanuel Kant,
quando o dever está atrelado à razão de forma que agir racionalmente implica
cumprir com obrigações éticas, sendo a razão o campo justiceiro para quem não
cumpra com a moral.
Ainda de acordo com Hamel ao comentar sobre Kant (2011, p. 165), “o
estudo da ética deveria ser precedido da análise da metafísica da natureza e dos
costumes, ressaltando a necessidade desta última para a construção de uma
filosofia moral pura”. Habermas escreve sua teoria frente a um mundo pós-
metafísico do pensamento. A principal via escolhida por Habermas é do
universalismo moral kantiano, como uma saída possível diante de tantos debates
políticos, religiosos em um mundo com várias culturas. Habermas pretende uma
ética universal inserida no meio social, sendo que, neste espaço é passível de
erros, levando em consideração a própria ação que é exercida na comunidade.
Mas esses erros são corrigíveis dentro do entendimento mútuo. E nessa relação
de entendimento mútuo é possível se compreender o sentido pragmático
universal.
A abertura que o agir comunicativo faz, é convertida em ação entre os
participantes, sendo que tal ação torna possível a existência de dois perfis. A

37
ética do discurso de Habermas dá espaço à maneira com que a linguagem
possibilita uma forma pragmática de ação. Para Peres Filho (2012, p. 11),
Habermas propõe uma pragmática formal, diferente da pragmática científica que
analisava os contextos da linguagem, onde essa pragmática visa principalmente
a reconstrução da validade universal do discurso, sendo que essa pragmática
tem seu apoio principal em Kant.
Assim, Habermas ao romper com a tradição, cria uma teoria baseada na
pragmática ética, onde o espaço principal de fundamentação é a linguagem. É
com a comunicação entre os interlocutores que a ética do discurso de Habermas
ganha força e contribui para o consenso na comunidade. Dessa maneira, a
linguagem é responsável por traduzir o pensamento de todos os participantes da
comunidade, fazendo com que o espaço social se torne mais compreensível e
comunicativo. Dessa maneira, a linguagem torna-se importante no pensamento
de Habermas e faz com que todos os seres do espaço comunicativo participem
de forma ativa e esclarecedora dos fatos morais existentes na comunidade.
Vive-se hoje, no Brasil, um momento de redescoberta da ética, de ânsia
por incorporar valores morais nas nossas práticas cotidianas, nas atividades
científicas, políticas, econômicas, etc. Isto decorre do lamento geral de que
estamos vivendo uma grave crise, a qual é identificada pelo senso comum pela
falta de decoro e de compostura e pelos intelectuais, como uma anomia, ou seja
pela ausência de condições que garantam a interiorização do respeito às leis e
às regras sociais por parte dos indivíduos. Para muitos estudiosos, esta é uma
crise decorrente da pós-modernidade, onde se privilegia a heterogeneidade, a
diferença, a fragmentação e a descontinuidade.
Para outros, ela não ultrapassou a modernidade, ao contrário, se instalou
no seu seio apesar de alicerçar-se em novas bases, onde a prática pedagógica
do adestramento e da manipulação estão sendo questionadas, a supremacia da
razão e a adesão cega às leis já não encontram eco e onde os homens exigem
ser tratados como organismos vivos, capazes de pensar, sofrer, se organizarem
e construírem valores. Neste quadro de "crise" os cidadãos se organizam e
clamam por respeitabilidade, por seriedade, justiça social e por valores morais.

38
Também os indivíduos, enquanto membros de categorias profissionais,
investem em criar regras de conduta que possam garantir a convivência com
seus pares, seus clientes, com as instituições a que fazem parte. etc. Resta
saberem que bases essas regras acham-se alicerçadas, a que elas realmente
se propõem, a que elas servem. É disto que trataremos neste capítulo. Para tal
iniciaremos traçando um panorama dos valores morais que vigoram nas
sociedades contemporâneas; em seguida, buscaremos compreender a relação
existente entre os valores gerais da sociedade e os valores particulares que
regem as condutas dos indivíduos enquanto membros de grupos de trabalho,
identificaremos os pilares em que se embasam os atuais códigos profissionais
da ética e por último, buscaremos distinguir até onde eles podem ser tomados
como deontológicos - éticos - e até onde servem apenas aos interesses
instituídos.

5.3 Os valores morais na modernidade

Dois fatos podem ser ilustrativos das transformações por que passaram
os homens nas sociedades modernas. O primeiro diz respeito à evolução da arte
de retratar e o segundo, à substituição do ato de biografar. No que se refere ao
primeiro, havia uma tendência, até o advento da modernidade, a se retratar
apenas os "universais concretos" - deuses, heróis e santos - com ela inaugurou-
se a prática de retratar o homem em detrimento do seu nome sua condição social
e outros atributos. Do mesmo modo aconteceu no campo da literatura. Antes não
havia espaço para que se falasse do indivíduo singular, do homem comum e sim
do itinerário de figuras ilustres, da trajetória de uma alma brilhante.
Com a Modernidade dá-se uma inversão. Abre-se um espaço para as
autobiografias e até mesmo as biografias retratam o particular, o homem comum
pois o que se pretende é valorizar o ser pensante, o homem enquanto um ser
racional. Ambas as situações indicam o valor que a subjetividade e a razão
humanas ganharam no período transformando-se no novo parâmetro de
interpretação e explicação do mundo. Há como um desencantamento da
realidade, antes, explicada e entendida através de princípios religiosos e

39
místicos, para uma realidade que pode e deve ser desvelada através de
princípios racionais. O primeiro exemplo dessa "virada" foi a experiência do
cogito cartesiano, o qual se impôs "[...] como a primeira experiência absoluta,
anterior à experiência do absoluto". O homem estabelece-se no mundo
destituído de qualquer relação com a realidade superior, posição própria da
ideologia burguesa que surge como uma forma de libertação do indivíduo. Entre
as alterações que essa nova ideologia favoreceu identificam-se aquelas do
campo do conhecimento, da esfera política, econômica e social.
No que diz respeito ao conhecimento, há a demarcação do espaço do
sujeito separando-o do espaço do objeto pois entendiam que essa dicotomia era
necessária para que pudesse haver neutralidade no conhecimento produzido.
Isto caracterizava-se como a possibilidade de se elaborar uni saber objetivo e
isento. A desconfiança no saber intelectual já havia sido demonstrada por
Descartes, ao indicar que todos os dados deveriam ser submetidos a um
processo de análise. Com isto Descartes acenava para a dificuldade chegar a
um conhecimento onde não houvesse a ingerência da subjetividade. Esta é mais
uma constatação do poder que o homem moderno conquistou, da sua
autonomia, da sua liberdade e do seu poder de decisão. No plano político, o
elemento mais significativo é o advento do Estado, como uma instância de
dominação através do exercício de um poder impessoal e aparentemente,
neutro. A substituição da ideologia liberal clássica pela ideologia burguesa fez
com que o quadro político e social sofresse alterações significativas -educação,
habitação, saúde -, proporcionando aos sujeitos uma consciência da estrutura
interna.
Esse desnudamento provocou um clima difícil na esfera social, como faz
ver o pensamento de alguns representantes da época. Hobbes não tinha dúvidas
ao afirmar que "o homem era o lobo do homem", e que a convivência entre eles
só seria possível mediante a imposição de valores rígidos capazes de frear o
excesso de individualismo reinante. Elaboração de novos valores éticos e uma
terceira que, em nome da liberdade humana, nega a necessidade de qualquer
código moral, deixando ao homem o direito e a condição de elaborar o seu
próprio caminho, sem nenhum parâmetro e sem qualquer responsabilidade.

40
Apesar das tendências explícitas serem essas, entendemos que, de fato,
a ética encontra-se acuada entre uma visão utilitarista, voltada para os interesses
econômicos e sociais do momento, e a possibilidade de criar, como fez Kant, um
mundo da liberdade onde os valores morais possam se dar e serem praticados,
separadamente do mundo empírico. Esse excesso de individualismo e de
desagregação constatados, é tido por muitos autores como decorrente do culto
à razão, à tecnologia, mas também da perda do referencial teórico pelos
indivíduos, entre eles, os de caráter religioso. Entendem que o individualismo é
filho do ateísmo e da falta de fé, elementos que funcionam como agregadores e
responsáveis pela coesão interna das sociedades. A perda da função social que
antes possuíam os universais e as formas metafísicas de explicação do mundo,
fizeram da modernidade um período de contínua tensão entre o eterno e o
efêmero. A tensão e a crise vividos pelo homem moderno conduziram-no à
instabilidade e à impaciência diante da vida, do trabalho, do crescimento e em
todas as demais instâncias. Vive-se uma verdadeira convulsão onde tudo tem
que acontecer no menor espaço de tempo possível. Deste modo, a técnica
tornou-se a única forma de construção, em virtude do que ela representa em
termos de objetividade e prontidão.
Neste processo de robotização, nem as normas e os valores morais saem
imunes, ao contrário, também elas são continuamente substituídas, saltando-se
de um polo ao outro e provocando uma grande instabilidade nos indivíduos que
não sabem o que devem seguir. Diante do conflito e do poder que o homem
moderno passou a possuir, a sua tendência é de acreditar que ele pode agir
como bem quiser e que não deve seguir nenhum tipo de princípio estabelecido.
Contudo, choca-se com as imposições colocadas pela sociedade, das quais não
pode fugir, pois é membro dela. Não tendo mais o ideal de felicidade perseguido
na antiguidade, nem o ideal cristão que vigorou na medieval idade, acaba tendo
que seguir as relações contratuais impostas pelo capitalismo. Diante do exposto,
acreditamos que a ética na modernidade tenta se estruturarem três direções:
uma de tradição teológica que teima em manter uma hierarquia de valores
absolutos, inspirados na orientação religiosa cristã; uma segunda que reconhece
a situação de crise em que a sociedade se acha mergulhada e que é preciso

41
alterar esse quadro a partir da ração de novos valores éticos e uma terceira que,
em nome da liberdade humana, nega a necessidade de qualquer código moral,
deixando ao homem o direito e a condição de elaborar o seu próprio caminho,
sem nenhum parâmetro e sem qualquer responsabilidade.

5.4 Relação entre os valores vigentes na sociedade e os valores que regem


os grupos particulares

Os valores morais são dialéticos, ou seja, eles seguem um movimento de


transformação a partir das alterações a que está sujeita a própria sociedade. Isto
porque, "cada formação econômica secreta a própria moral como ideologia de
justificação". O que nos leva a perceber a complexidade da problemática moral
ao lidar com regras de conduta elaboradas pela sociedade e impostas a
indivíduos dotados de consciência e de capacidade de decisão. Este confronto
gera dúvidas e contradições as quais precisam ser encaradas, pois não podemos
deixar de tomar consciência do nosso compromisso enquanto agentes da
história que somos. Entender a problemática moral requer entender a relação
existente entre os homens e o sistema: primeiramente porque os homens,
apesar de não se reduzirem ao sistema, fazem parte dele através das relações
sociais, profissionais e de parentesco em que se acham envolvidos; por outro
lado, o próprio sistema se utiliza dos indivíduos como se abrange tanto o aspecto
externo - das vinculações institucionais dos homens -, quanto no plano interno,
fazendo com que o produto dessas relações sociais passe a fazer parte da sua
própria lebenswelt. A incorporação dos valores da sociedade â consciência dos
indivíduos e à sua linguagem, acontece de forma diferenciada, pois depende do
nível de consciência de cada um, da sua inteligência e da sua simbolização
linguística. Essa diferenciação demonstra também, a seus fins a partir do que
lhe é significativo. Aristóteles já havia identificado duas formas de ação finalista
no homem. Uma relacionada a práxis, voltada para modificar situações e outra
que visava modificar o elemento material, dando-lhe uma nova feição.
O homem moral, além de ser formalista, e também um ser responsável.
As sociedades concedem à responsabilidade uma grande importância, cobrando

42
dos seus membros adultos que assumam as suas relações sociais. Tal
exigência, explica-se pelo papel que os valores morais exercem nas relações
sociais e de poder, enquanto formas de garantir a manutenção da sociedade,
através de um comportamento "adequado" dos seus membros. No caso das
sociedades modernas, de orientação capitalista, baseadas na exploração do
trabalho assalariado e no contraste entre classe operária e capital, a adequação
dos indivíduos aos princípios de obediência, assiduidade e aplicação, são
interpretados como sinônimos de uma vida correta e de uma postura moralmente
boa. Mas esta pode não ser a avaliação feita por outras sociedades. Por
exemplo, na sociedade medieval, essa dialética dos valores não existia.
Fundamentada na ideia de Deus e de um "juízo final", os valores possuíam um
caráter definitivo e maniqueísta. Essas ideias sobreviveram enquanto sobreviveu
aquela forma de sociedade e foram substituídas quando houve a substituição da
estrutura social e da forma de compreensão do mundo. Do mesmo modo que a
história é dialética e processual também a moral é um processo contínuo que
não cessa diante de nada nem de ninguém. A sua configuração vai se dando a
depender do "ethos" da sociedade, de forma que numa sociedade de classes
antagônicas as orientações morais correspondem aos seus ideais e interesses.
Entendidos desse modo, os valores morais perdem o seu ar de mistério e de
transcendência para serem vistos como produtos das práxis social. As ações
humanas também devem ser avaliadas a partir desse princípio, de forma "a
posteriori" e circunstancializada. Uma ação passa a ser boa se interpretada
como melhor do que outra a depender da sua concordância com os interesses
sociais. Dado o envolvimento dos valores com as variações histórico-sociais, a
escolha feita por um sujeito, mesmo pressupondo uma liberdade interna, não se
dá incondicionalmente, e sim a partir do seu envolvimento social, pois, como
dissemos, o indivíduo só se resolve nas relações sociais.
Assim, a liberdade interna que o ato moral pressupõe não significa
ausência de condicionamentos, mas "necessidade compreendida" como
entendia Hegel; ou como "consciência histórica da necessidade", conforme Marx
e Engels. Consciência para esses últimos não era uma forma de conciliação e
sim motivação para a ação em favor dos fins que o sujeito,

43
cincustancializadamente, projetou. A moralidade não exige uma liberdade
incondicional, pois, também ela faz parte da ideologia, ou seja, do conjunto de
representações, normas e regras de conduta necessárias ao homem e à
sociedade, a fim de garantir a coesão social e a adaptação dos indivíduos aos
seus papéis sociais. Os valores que orientam a conduta dos indivíduos enquanto
membros de uma determinada categoria profissional, também seguem esse
mesmo tipo de relação uma vez que não estão descolados do "ethos" da
sociedade.
As suas bases são as mesmas da ética geral, as condições materiais de
vida, as crenças religiosas, a moral oficial e o próprio conhecimento científico.
Assim, cada momento histórico com a sua forma de produção, suas relações
sociais, seus anseios e necessidades, erige o seu sistema de valores, o qual se
estende às relações sociais em geral e entre elas às relações mantidas pelos
membros de uma categoria profissional, entre esses e seus clientes, entre esses
e os seus auxiliares, enfim, todas as relações. A nossa prática social em geral e
a profissional, em específico são influenciados por fatores econômicos, políticos,
religiosos, entre outros; contudo, a maior influência que a estética profissional
recebe é da própria moral oficial, a qual, quase sempre de posse dos
mecanismos do poder - educação institucionalizada, meios de comunicação de
massa, etc. - consegue invadir os grupos e alargar o seu raio de ação. A incursão
desses valores gerais nos domínios da ética profissional faz-se de forma
"natural", através de uma ação política sutil. Assim, conhecer os princípios
normativos que orientam as condutas dos indivíduos enquanto membros de um
determinado "métier", requer não perder de vista a sua relação com as condições
em que foram produzidos, em síntese, com os valores vigorantes na sociedade.

5.5 Características da ética profissional hoje

O termo deontológico, usado como sinônimo de ética profissional, surgiu


para definir um tipo de conhecimento que pretendia orientar os indivíduos a irem
ao encontro do prazer, evitando o desprazer e a dor Jeremy Bentham, adjudicava
a ele a tarefa de ensinar aos homens administrarem suas emoções, usando-as

44
em benefício próprio. Assim, ele a definia como a ciência dos deveres.
Etimologicamente, o termo vem do grego "déon" que quer dizer o obrigatório, o
justo, o adequado – ou de "déontos", também do grego, que significa
necessidade. Percebemos que em ambas as definições, fica evidenciado o
caráter finalista da deontologia, ou seja, o pressuposto de que é preciso seguir
normas para se atingir fins. A evolução desse entendimento levou a identificá-
las, presentemente, como "o tratado dos deveres" a ser seguidos em
determinadas relações sociais, principalmente nas de caráter profissional. A
necessidade de se erigir normas que orientem as relações humanas remonta à
origem da vida comunitária. Desde que os homens passaram a viver em
comunidades perceberam que assim como os animais irracionais, eles possuíam
impulsos e paixões nem sempre utilizados em seu proveito ou em proveito dos
seus semelhantes.
A inteligência indicava-lhes que era preciso canalizar esses impulsos
individuais a fim de promover uma adaptação aos desejos sociais e criar
condições para unia vida societária. Essa necessidade estende-se a qualquer
agrupamento social, como aqueles de caráter profissional, tão comuns nas
sociedades modernas. A deontologia ou clica profissional, caracteriza se como
um conjunto de normas e princípios que tem por fim orientar as relações dos
profissionais com os seus pares, destes com os seus clientes, com a sua equipe
de trabalho, com as instituições a que servem entre outros. Como a sua margem
de aplicação é limitada ao círculo profissional, faz com que essas normas sejam
mais específicas e objetivas. A praticidade que envolve os códigos de ética
profissional não os exime de um compromisso com os interesses da categoria e
com o projeto global da sociedade, fazendo com que os mesmos oscilem a
depender das oscilações sociais e, deste modo, eles seguem orientações
teóricas também diferentes.
Se a sociedade é regida por unia orientação metafisica, os códigos de
ética profissional tendem a seguir princípios também metafísicos. Se por outro
lado ela admite que o homem é um microcosmos capaz de construir, transformar
e criar, eles tendem a valorizar esses aspectos, se a sociedade segue uma
orientação individualista e egoísta, os códigos colocarão em prática esses

45
valores. Decorrente dessa vinculação, verificamos que os códigos de ética
profissional em vigor nas sociedades modernas, como a nossa, tendem a seguir
três orientações básicas, todas elas a serviço da manutenção das desigualdades
sociais, do culto ao capital e da tranquilidade das consciências de quem as
coloca em prática.
A primeira delas, e a mais difundida, é identificada por alguns teóricos
como mero exercício tautológico no sentido de servir apenas para sacralizar a
prática exercida. As normas são orientadas por uma posição positivista onde o
que vale são os fatos. Assim, se no dia a dia o profissional usa o seu cliente
como meio de ganhar dinheiro e não como o fim último da sua ação, essa prática
será vista como legítima e assegurada oficialmente. Esse tipo de código visa tão
somente apaziguar a consciência dos profissionais e protegê-los fazendo com
que os mesmos se sintam honestos, humanos e justos mesmo quando só
prestem seus serviços a quem possa paga-los. Outra tendência bastante comum
é aquela que se diz disposta a enfrentar as práticas estabelecidas e colocar-se
diante delas com olhar crítico e questionador. Alicerçando em um discurso lógico
e referendado na literatura mais avançada, essa tendência pretende ser séria e
verdadeira, todavia, o que se constata é uma total falta de objetividade e de
clareza no texto da norma, a ponto de não viabilizar, na prática, a sua execução,
como exemplifica o Profº. Andery., em relação a um código de ética da área da
saúde,

[...] devemos ater-nos a maior cientificidade possível nas nossas


atividades profissionais; ao maior rigor técnico científico; devemos
esforçar-nos por escolher as práticas mais honestas, as mais eficazes
possíveis; as mais respeitosas para com o ser humano. Devemos
humanizarão máximo as relações profissional-cliente [...] ". (ANDERY,
1985)

O que podemos entender como maior rigor científico. Em que consiste


humanizar as relações profissionais? O que é possível exigir do profissional?
Responder essas questões é uma missão difícil, senão impossível.
Na impossibilidade de saber o que exigir, acaba-se exigindo o mínimo,
questionando pouco e não proporcionando as mudanças necessárias. Assim,

46
resta-nos saberem que essa tendência difere da anterior? Na nossa avaliação,
apenas no aspecto de escamotear a verdade. Pois, além de legitimar o
comportamento habitual ela se apresenta como diferente, como estando
comprometida com os princípios de justiça e honestidade e isto serve para
desarticular os possíveis focos de inconformismo, de crítica e de confronto que
poderiam proporcionar o salto. A terceira tendência não chega, ainda, a ter
grande repercussão e apresenta-se como uma ensaiar reticente e desconfiado.
A mesma consiste em uma tentativa real de avaliação dos códigos elaborados e
da prática cotidiana dos profissionais, tendo em vista verificar os seus méritos e
os seus defeitos a fim de sugerir as alterações necessárias.
Esse processo de análise parte do princípio que não existem verdades
absolutas, nem mesmo no campo da ciência, pois também ela é um fazer
humano comprometido ou, no mínimo, permeado pela subjetividade. Sua
preocupação não é fazer da norma um escudo para o profissional e sim um
instrumento paro o exercício correto da profissão e da descoberta da verdade.
Com esse fim, busca entender o exercício profissional nas suas relações
sociais e econômicas, desvelar o seu vínculo com o poder instituído, bem como
entender até que ponto essa prática está servindo para a manutenção das
relações sociais de manipulação. É fácil entender que essa terceira orientação
deveria ser aquela seguida por todas as éticas profissionais. Porém, longe de
ser, ainda é atacada pelo poder constituído, pelas lideranças conservadoras e
pelos seus pares. Isto porque, ela acena com a desarticulação da moral instituída
e com o advento de uma moral instituinte, elaborada a partir das relações sociais
de trabalho e das condições histórico-sociais e da consciência dos indivíduos.
Tal passagem só é possível quando se admite viver a contradição, quando se
permite viver a crise, pois só assim será possível realizar uma revisão nos
valores tradicionais e, se preciso, construir novos valores. Como a nossa prática
consiste em seguir fórmulas prontas e códigos morais cristalizados, podemos
dizer que a maioria dos tratados de deveres seguidos pelas categorias
profissionais são apenas normas de administração do mercado de trabalho e
não possuem um caráter verdadeiramente ético, deontológico.

47
Em síntese, se queremos ter uma sociedade mais justa, humana e menos
discriminatória, devemos ver os homens como seres vivos, capazes de pensar
e de criar valores e não como seres que devem ser modelados e manipulados.
Partindo deste princípio, os códigos de ética profissional devem assumir
um compromisso de vida e com a vida; enfrentando as práticas tradicionais e
inadequadas e colocando-se abertos ao novo, à revisão constante, pois só assim
eles se tornariam verdadeiras práticas deontológicas e deixariam de ser
subterfúgios para práticas desonestas e comportamentos moralmente
inadequados.

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ENCERRAMENTO

Parabéns por ter concluído os estudos desta matéria da sua


especialização!
A Editora Famart e seus parceiros (a) conteudistas, prepararam esta
apostila baseando-se em temas e discussões relativas à esta disciplina.
Reunimos conteúdos de autores e pesquisadores que são referência na
temática apresentada, concebendo um compilado desta abordagem de forma
didática visando melhor aproveitamento no seu processo de conhecimento e
aprendizagem. Na presente apostila, Ética Profissional na Sociedade
Contemporânea, os materiais utilizados foram: o artigo “Tendências da ética
profissional na modernidade”, da autora Elizete Silva Passos; a apostila “Ética e
cidadania no setor público” da autora Kátia Janine Rocha; o material de apoio
“Ética profissional é compromisso social” dos autores Rosana Soibelmann Glock
e José Roberto Goldim; e o artigo “Ética profissional: o desafio numa sociedade
aética”, publicado no portal Só Notícias. Todos estes materiais estão
devidamente referenciados ao final em conjunto com as demais referências de
todas as citações, viabilizando, desta forma, a identificação e eventual consulta
às fontes.
Busque materiais auxiliares de estudo para que possam agregar ainda
mais no seu conhecimento.
Dúvidas, elogios, questionamentos ou orientações quanto ao conteúdo
estudado, disponibilizamos para esta finalidade a opção de abertura de
requerimento através de sua área de estudo. Nossos tutores estarão disponíveis
para te atender!

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REFERÊNCIAS

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