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A ocupação do espaço psicológico

2023

Na história da psicologia, a ordenação no tempo das inovações teóricas e das


descobertas empíricas só é razoável dentro dos contornos bem definidos de um corpo
teórico ou na investigação de uma problemática particular.

A psicologia reproduz no plano teórico a ambiguidade do seu objeto:

o sujeito dominador e dominado;

o indivíduo liberto e reprimido.

Um sujeito de direitos, mas acima de tudo, um sujeito de vontades, um sujeito de


desejo.

E quem é esse sujeito?

Está dado o campo psicológico.

Como esse campo foi ocupado?

Matrizes Cientificistas

MATRIZES CIENTIFICISTAS

MATRIZ NOMOTÉTICA
E QUANTIFICADORA
MATRIZ ATOMICISTA
E MECANICISTA
MATRIZ FUNCIONALISTA
E ORGANICISTA

MATRIZES CIENTIFICISTAS

SUB-MATRIZES
AMBIENTALISTA
NATIVISTA

Matriz nomotética e
quantificadora

Esta é uma matriz que está na base de toda tentativa de fazer da psicologia uma
ciência natural.
A matriz orienta o pesquisador a buscar a ordem natural dos fenômenos, construir
leis gerais com caráter preditivo.

As operações legítimas são a construção de hipóteses formais, a dedução exata das


consequências destas hipóteses, na forma de previsões condicionais (cálculo), e o
teste (mensuração)

A pratica científica empenha-se em tornar inteligível para o homem um domínio da


sua experiência.

No caso das ciências naturais a procura da inteligibilidade repousa na crença de


uma ordem natural, isto é, uma ordem independente de cada um dos sujeitos que a
experimentam.

Esta crença não é gratuita e é um equivoco achar que possa ser apenas por
conveniência.

A crença na ordem natural origina-se e justifica-se pela história da espécie homo


sapiens.

Somos uma espécie que se caracteriza pela produção da própria existência – pelo
trabalho.

A eficiência de nossas práticas produtivas – do rudimentar extrativismo à


sofisticação de uma fábrica robotizada – depende da apreensão teórica de
regularidade entre eventos independentes do homem e de regularidades entre ações e
consequências.

O trabalho por um lado exige e por outro, testa a nossa capacidade de formar ideias
que reproduzem as regularidades naturais, e essas ideias é que orientarão a
fabricação dos instrumentos e a codificação das técnicas produtivas (receita de
bolo)

O trabalho implica na explicitação das predições, ou seja, o resultado desejado é


anteposto de forma a conferir finalidade e direção consciente à prática.

O trabalho depende de uma certa capacidade de representação do ausente – o produto


existe de início apenas como ideia estimulando nossa capacidade de simbolização.

Por sua vez a capacidade de simbolização proporciona as condições de autorreflexão.


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Assim, a crença na ordem assumida pelas ciências naturais é a continuação da crença


na ordem assumida e legitimada pelo trabalho. (predição e resultado)

A partir de Copérnico, Kepler, Galileu e Descartes a matemática recebe a função de


expressar as “leis da natureza”

O mundo da experiência cotidiana saturado de significados, valores afetivos e


estéticos, de intenções, necessidades e desejos, o mundo colorido, pitoresco e
qualitativo é substituído, para fins de pesquisa e teorização, por um universo
geométrico e mecânico, matematizado e homogeneizado.

Assim, o movimento dos astros, o percurso de um projétil e a queda de uma maça


obedecem e devem ser explicados pela mesma lei. (Isaac Newton - XVIII)
*A Ordem Natural dos Fenômenos Psicológicos e Comportamentais

Embora Kant, tenha negado a possibilidade de submeter os fenômenos psicológicos aos


procedimentos matemáticos e criar-se uma psicologia empírica, afirmando que para
tanto era preciso duas dimensões: temporal e espacial, e os fenômenos psicológicos
só teriam a dimensão temporal, Christian Wolff implementa o projeto de uma
Psicometria mensurando graus de prazer e desprazer, perfeição e imperfeição,
certeza e incerteza no século XVIII.

A matematização da Psicologia no século XIX realizou-se nas propostas de Hagen,


Krüger e Körber a partir da obra de E. H. Weber (1795 – 1878).

Fechner (1801 – 1887) expandiu o trabalho experimental de Weber criando uma nova
ciência – a psicofísica e Wundt (1832 – 1920) levou esse trabalho adiante medindo o
tempo de reação, mas não mais preocupado em medir a velocidade de condução do
nervo, mas a velocidade dos processos de discriminação, escolha, etc.

Raízes Socioculturais da Quantificação Psicológica

A quantificação em Psicologia – elaboração de leis gerais, formalizadas na


linguagem matemática e que descrevam as regularidades dos fenômenos psíquicos e
comportamentais propiciando previsões exatas – soava como contra-senso, quimera.

O pensamento nomotético e quantificador enfrentou toda sorte de obstáculos


culturais, ideológicos e religiosos para alcançar o sujeito individual.

Este pensamento foi precedido de um longo processo de transformações sociais que em


certa medida modelaram uma “natureza humana”, ou seja, criaram uma imagem do homem
que o tornava um objeto acessível aos procedimentos das ciências naturais.

O desenvolvimento e universalização da economia mercantil na Idade Moderna produziu


efeitos profundos sobre a práticas sociais.

Mesmo os processos de dominação eram explícitos e diretos: dominador, dominava, o


dominado resistia ou expressava reverência e lealdade.

O edifício ideológico que sustentava e legitimava essas práticas não admitia a


menor fissura. A relação dominador-dominado era pessoal, direta e imediata.
(trabalho escravo x trabalho nobre)

Mas o surgimento da Psicologia como Ciência Natural não está associado apenas à
expansão da economia mercantil e ao aprofundamento de seus reflexos na vida social.

Está associado também às crises desta economia que exigirão novas técnicas de
controle social, uma intervenção mais ativa do Estado e legitimações para estas
formas renovadas de exercício de poder.

Neste sentido, coube, em parte, a Psicologia o fornecimento de técnicas e de


ideologias legitimadoras de práticas de controle aceitável.

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