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Teorias e Sistemas em Psicologia I

Resumo – Matrizes do pensamento psicológico


A psicologia de acordo com suas obrigações ou comprometimentos pode conduzir
uma dissonância com relação ao seu objeto de estudo, sendo colocado muitas vezes em
oposição: inconsciente, consciente, comportamento, mente, etc. Dessa forma, ao invés de
sistematizamos uma evolução linear no pensamento psicológico, percebemos diversos
antagonismos que foram produzidos ao mesmo tempo ou em oposição, mas sempre sendo
irredutíveis umas às outras. Portanto, deve-se considerar o contexto, além dos diferentes
pensamentos científicos presentes na época que fundamentaram a ciência psicológica e
que proporcionaram seu caráter independente. Tais pensamentos, segregam duas matrizes
de pensamento que se subdividem em outras diversas oposições internas.

Matrizes cientificistas
Nas matrizes cientificistas, o objeto tem uma especificidade que faz com que a
singularidade do próprio objeto da psicologia, se perda em favor da objetividade
cientifica. Isso ocorre porque procura-se usar métodos das ciências naturais sendo uma
forma de imitação mais ou menos bem-sucedida. Dessa forma, para firma-se como
ciência independente, a psicologia passa da simples imitação para consolidar-se como
uma disciplina biológica.

1. Matriz nomotética e quantificadora


A matriz nomotética e quantificadora, estabelece seus objetivos e práticas como
realmente científicos, sendo a principal tentativa de fazer a psicologia uma ciência
natural. Busca-se a ordem natural dos fenômenos psicológicos e comportamentais e na
forma de classificação e leis gerais, como maneira de regular e antecipar a ocorrência dos
fatos. Defende-se a existência de uma ordem independente da experiencia do sujeito, ou
seja, a regularidade dos eventos e das ações e consequências.
Originou-se com base na questão evolutiva da seleção natural, as adaptações do
sujeito através de respostas padronizadas, sua capacidade de simbolização (diferenciação
dos animais), manuseio de instrumentos (trabalho), assim como sua ampliação com a
transmissão social do conhecimento. Dessa forma, a capacidade de autorreflexão fez com
que surgisse a necessidade do método cientifico para a produção e validação do
conhecimento. Formulação de hipóteses, procedimentos experimentais de testes para a
afirmação ou negação das hipóteses.
Portanto, para a formulação do conhecimento cientifico de forma objetiva,
necessitou-se a criação de uma ordem natural que se procura regularidades existentes na
própria espécie. Essa ideia, procura sistemas classificatórios e leis gerais para descrever
da forma mais eficiente possível os fenômenos, ou seja, tem valor de hipótese. Na pratica
cientifica, propõem-se a mera organização dos dados, ou seja, não se considera nenhuma
dimensão ontológica, afim de mecanismos de descrição, calculo e previsão. O limite
teórico encontra-se na ordem das aparências.
A partir dos teóricos Copérnico, Galileu, Kepler e Descartes, a matemática
assumiu um papel muito importante como a forma de expressar as leis naturais, redução
ao aspecto puramente racional. Fundamentando as teorias em deduções de poucas leis.
Além disso, o afastamento com o cotidiano para a construção de um objeto cientifico.
Essa ordem natural, foi expandindo chegando as ciências humanas afim de assegurarem
seu domínio empírico e racional pela exatidão, mensuração e analise experimental.
No século XVII e XVIII, tratam-se das possibilidades da medição dos fenômenos
mentais, sendo expresso pelo filosofo Kant a impossibilidade de uma psicologia empírica,
enquanto Christian Wolff comentava em sua obra a possibilidade da psicometria (medir
o prazer e o desprazer). Essas entre outras ideias, passaram a gerar um projeto de
psicologia matemática baseada na Física Clássica que se tornou possível posteriormente.
No século XVIII, os problemas filosóficos passaram a ser estudados pela
fisiologia com a preocupação de relacionar o corpo à matemática favorecendo o
surgimento da psicologia experimental. Os fisiólogos Weber e Fechner (Psicofísica),
foram os primeiros percussores até mesmo antes de Wundt (equação pessoal – desvio
entre a ocorrência de um evento no tempo e o registro desse evento = o quanto que a
consciência percebe e reage) a aplicar métodos das ciências naturais para o estudo da
sensação e percepção realizando medidas precisas com relação entre as diferenças na
intensidade (objetivo) do estimulo e a sensação (subjetivo), no qual, criaram leis e
formulas de quantificação do fenômeno. Assim como, Helmoltz com o experimento do
tempo de reação para medir a velocidade do impulso nervoso e Ebbinghaus com o estudo
experimental e quantificado da memória associativa.
Enquanto no século XIX, Thorndike com o estudo da aprendizagem associativa
com animais. Tal experimentação se dava através da apresentação de situações
problemáticas aos animais e a medição da velocidade em que eles conseguiam resolver o
problema. E Pavlov, com o estudo experimental do condicionamento através da
associação de estímulos (E---R, tais ideias fundamentaram posteriormente o
Behaviorismo). E no final do século XIX, o surgimento da psicometria, ou seja, o estudo
das diferenças individuais através de escala numéricas, sendo aplicado em diferentes
áreas sociais e tiveram como percussores Cattel e Binet (teste de QI).
Portanto, essa matriz trouxe uma serie de implicações na psicologia e nas questões
socias. Fez com que se ocorresse uma naturalização e formalização do cotidiano e o social
às leis, principalmente, no aspecto econômico como a lei da oferta e da procura. Além
disso, o determinismo do comportamento e dos fenômenos mentais, o trabalho é reduzido
ao dinheiro, etc. Assim como, a pratica mais interventiva do Estado por meio das
legitimações técnicas e ideológicas da ciência. Dessa forma, a psicologia cientificista
contribuiu para a legitimação de praticas sociais e dos interesses correspondentes.

2. Matriz atomicista e mecanicista


Esta matriz é conhecida por procurar relações deterministas, seguindo uma noção
de casualidade unidirecional. Além disso, procura-se analisar os fenômenos de forma a
identificar os elementos mínimos que o constituem. Ademais, subjacente a analise
encontra-se a concepção atomística de que “o real são os elementos que, em combinações
diferentes, mecanicamente causam os fenômenos complexos, de natureza derivada”.
Originou-se a partir dos problemas de movimento dos seres inanimados, no qual,
todo movimento é interpretado como um efeito de uma ação que age sobre o corpo. A
ideia de Aristóteles de que há uma causa final gerando e dirigindo os movimentos, ou
seja, um “impetus” (associação entre corpo e motor). Na física de Isaac Newton, tem-se
a lei da inercia, no qual, todo corpo tende a permanecer em repouse a não ser que uma
força atue sobre ele. Dessa forma, o movimento é automático, no qual, é gerado por causas
eficientes: “o passado determina o presente e este o futuro”.
Dessa forma, gera-se a atomização do real, as diferenças dos fenômenos passam
de qualitativas para quantitativas. Visão do mundo como um relógio (síntese newtoniana):
movimento automático, processo mecânico, determinismo e quantificação. O
mecanicismo e atomismo chegam também na fisiologia e na anatomia como forma de
explicar a dinâmica do corpo humano utilizando analogias relacionada as maquinas.
Na psicologia, essa matriz teve muita influência, principalmente, para que ela se
torna-se ciência. Com o movimento associacionista que a ajudou a se afastar da filosofia
que teve origem no XVIII com Hume (lei da associação de ideias). O atomicismo inspirou
a decomposição da vida psíquica, nos projetos como o de Titchener (discípulo de Wundt),
no qual, com sua posição elementarista buscava estudar a experiencia imediata através da
identificação dos seus elementos mínimos. Além disso, a decomposição do fluxo
comportamento e o mecanicismo na explicação dos processos psicológicos encontram
lugar no século XIX, na reflexologia de Pavlov, ou seja, o reflexo como uma unidade
elementar de todo comportamento voluntario e involuntário. Assim, gerasse o
condicionamento por associação de estímulos, a capacidade de um estimulo eliciar uma
resposta anteriormente eliciada por outro, processo automático e mecânico (E----R). O
behaviorismo americano de Watson tem bases da reflexologia fazendo com que ele entre
nessa matriz, embora tenha pressupostos funcionalistas.
Portanto, essa matriz de pensamento produziu uma serie de implicações sobre as
praticas sociais como a criação de condições para que os sujeitos funcionassem como as
maquinas. Um exemplo é a ênfase na racionalização do trabalho dada por Taylor e Ford,
no qual, a produção é decomposta aos seus elementos mínimos, além de o trabalhador
realizar movimentos automáticos e repetitivos. A intencionalidade é anulada, o
movimento é substituído pela noção de conduta, resultando numa experiencia cotidiana
mecanizada. Além da desvalorização da consciência como fator causal.

3. Matriz funcionalista e organicista


Esta matriz teve e tem uma grande influência na Psicologia. Fundamenta-se em
uma noção de casualidade funcional. Os fenômenos vitais são explicados em termos de
função, ou seja, de evolução e manutenção pela interação e suas consequências. Dessa
forma, a casualidade é circular, ou seja, “um efeito também é causa de sua causa e uma
causa é também efeito de seu efeito”. Assim, há uma totalidade que é composta por partes
funcionais que são interdependentes e se completam dentro de um contexto. O organismo,
através da sua adaptação confere significado aos fenômenos vitais. Os comportamentos
tem uma intencionalidade buscando a harmonia e a complementariedade, o equilíbrio.
Dessa forma, o conflito é caracterizado por uma noção patológica.
Originou-se em oposição ao mecanicismo e atomicismo, uma vez que essa matriz
só considerava os aspectos externos ao sujeito. Portanto, buscou-se algo que estivesse
dentro do sujeito, uma especificidade dos seres vivos como um todo. A biologia foi a
disciplina que trouxe essas noções como as de organismo, função e estrutura. O conceito
de adaptação permeou todo a ideia dos projetos funcionalistas. Ainda na Fisiologia, a
autorregulação para a manutenção da vida diante das modificações ambientais, conceito
de meio interno e homeostase, ou seja, o ser vivo participativo, adaptativo e plástico no
processo de equilibração em interação com o meio. Além disso, na biologia evolutiva de
Lamarck em quem os comportamentos mais bem desenvolvidos do organismo em
interação com o meio seriam repassados através da hereditariedade para outras espécies.
Enquanto Darwin, atribui um papel decisivo para a seleção natural, no qual, os
organismos mais adaptados ao meio sobreviveriam e deixariam sua herança filogenética
para as próximas gerações.
Psicologia Americana
Na psicologia, essa matriz, tem influencia sobre a visão dos processos
psicológicos que passam a ter uma visão adaptativa. Embora, em algumas teorias
encontra-se a referencia cruzada ente o funcionalismo e o mecanicismo, como pro
exemplo, o Behaviorismo de Watson, porém aparece em segundo plano. O movimento
iniciou-se com William James com a Psicologia Funcional no século XIX, no qual, o
comportamento exibe uma intencionalidade que é objetiva, por exemplo um fenômeno
mental como a consciência é uma operação seletiva e autorreguladora das táticas
comportamentais.
Thorndike com a psicologia comparada, no qual, buscava através do estudo do
comportamento animal indícios do desenvolvimento filogenético e a origem inteligência
humana. Inspirado na seleção natural, cria o modelo de aprendizagem por ensaio erro, no
qual, gera a lei do efeito que afirma que as consequências positivas do comportamento
influenciariam no aumento da frequência futura do mesmo (seleção do comportamento).
Além disso, usa-se conceitos mentalistas como consciência, porém ela é atribuída (no
sentido intencional), não é descoberta. No século XX, Watson com o ideal positivista,
institui o comportamento como objeto de estudo da psicologia. O comportamento é
explicado em termos de estímulos e respostas, sendo o enfoque funcionalista muito
compreensivo, mas não explicativo. Dessa forma, buscou na reflexologia sua legitimação.
Enquanto, Skinner com o Behaviorismo Radical, cria o conceito de operante que
é uma classe de respostas definidas pelas relações funcionais do comportamento com suas
consequências, motivação e condições ambientais presentes no contexto em que a
resposta ocorre. Dessa forma, excluem a natureza involuntário do comportamento, sendo
emitido pelo organismo, ou seja, é totalmente intencional. Ele considera que formas
adaptativas do organismo ao meio se estruturam durante sua vida, ou seja, através da
seleção por suas consequências punitivas ou reforçadoras.
Psicologia Europeia
Continuando a perspectiva funcionalista organicista, entrasse uma nova noção, a
de instinto. A biologia evolutiva de Darwin comandou os estudos da interação adaptativa
das espécies, sendo denominado de “estudo do instinto”. Assim, o instinto e a estrutura
passam a ser estudados do ponto de vista comum da filogenética, ou seja, a ênfase no
caráter adaptativo do instinto. A etiologia comparada, no qual, busca estudar e comparar
diferentes espécies em diferentes contextos (dimensão genética). Dessa forma, o foco está
na finalidade (deixa de lado a conotação mentalista) do comportamento. O vitalismo é
superado e o mecanicismo é combatido junto com o atomicismo. Coordenação e
hierarquização, os elementos de um conjunto só podem ser compreendidos
simultaneamente.
Nesse aspecto, a psicanalise de Freud se aproxima dessa matriz, no sentido de que
os instintos são impulsos que se acumulam e que o organismo busca descarrega-los em
situações ambientais adequadas, ou seja, busca por comportamentos autorreguladores.
Porém na impossibilidade de exonerar essa energia, o impulso agressivo seria
descarregado em comportamentos aparentemente insignificantes. Pode ser comparado
com o modelo hidráulico.
Na psicologia genética de Piaget, encontra-se a preocupação em integrar os
fenômenos cognitivos ao contexto da adaptação do organismo ao meio. Parte da noção
de que o organismo possui uma estrutura que em interação com o meio sofre alterações,
sendo que está sempre em busca do equilíbrio por autorregulação. As ações de
assimilação e acomodação são importantes para a manutenção do equilíbrio. O conceito
de inteligência com um caráter adaptativo, no qual, é um processo, operação em que todas
as estruturas convergem, ou seja, é um sistema de operações interativas e equilibradas.
A Psicanalise Freudiana, como já destacado anteriormente, possui um caráter
funcionalista, embora, tenha uma origem diversificada de pensamentos. Em Freud, há um
determinismo absoluto, porém é funcional, uma vez que todo comportamento possui um
sentido e uma intenção na vida psíquica. O comportamento é decifrado e atribuído uma
intencionalidade inconsciente. O aspecto energético da conduta é o centro na teoria de
Freud, em que o instinto é a fonte de energia psíquica que busca a liberação e a redução
da tensão, ou seja, a função principal do mecanismo psíquico é livrar o sujeito das tensões.
Com relação ao desenvolvimento da personalidade é visto como um processo de
diferenciação, no qual, é uma história de sofrimento e adaptação. As três estruturas da
personalidade: id, ego e superego estão sempre em conflitos, no qual, o ego tem o papel
de equilibrar as demandas do id e do superego afim de adaptar o princípio do prazer com
o princípio da realidade. Porém, é importante destacar que Freud, apesar do
funcionalismo, tem uma ênfase muito maior no conflito. Dessa forma, nos EUA, a
psicanalise assumiu um papel muito funcional, no qual, o foco estava no caráter
adaptativo e autônomo do ego.
Finalmente, na Psicossociologia e no senso comum da vida social entra a noção
funcionalista, de que a sociedade é um organismo (Durkheim) e as instituições e os
indivíduos são órgãos que fazem parte de um sistema, no qual se estruturam e se
completam (Teoria dos papeis). Dessa forma, um dos órgãos adoeça todo o organismo
sofre, ou seja, a patologia do individuo é uma resposta adaptativa a sociedade doente.
Nesta visão, o papel do psicólogo encontrasse como um agente de adaptação e
reabilitação.
Portanto, a matriz funcionalista e organicista tem um dos seus focos na dimensão
genética, porém, subdivide-se em ambientalistas e nativistas.

Matrizes românticas e pós-românticas


Nas matrizes românticas e pós-românticas, se reconhece e enfatiza-se a
singularidade do objeto da psicologia, ou seja, a subjetividade do ser humano. Além disso,
luta pela independência da psicologia com relação as ciências naturais. Porém, não
possuem a mesma segurança comparando com o método cientificista que as outras
ciências usufruem. Dessa forma, buscam alternativas, principalmente, métodos que
legitimem suas práticas.

1. Matriz vitalista e naturista


Esta matriz, engloba tudo o que foi deixado de lado pelo cientificismo trazendo
para um plano denominado vitalismo naturista: o qualitativo, indeterminado, criativo, etc.
Se posiciona criticamente frente as ciências que limitam o ser humano ao racional, o
colocando em uma perspectiva vital, no qual, a vida mais elevada em que controle é
substituído pela intuição. Além de valorizar a espontaneidade, na liberação do impulso
vital, na experiencia concreta antes das abstrações e objetivações. Dessa forma, a
objetividade e enterrada em favor das especificidades do ser, nas diferenças e potencias
únicos de cada um. Ademais, o vitalismo presente nessa matriz é diferente da anterior,
uma vez que está ligado a autenticidade.
Na filosofia de Bergson, essas noções aparecem como formulações ecléticas e de
senso comum. Valorização da experiencia pessoal: “a existência de que estamos mais
seguros e que melhor conhecemos incontestavelmente é a nossa”. Além da critica a
perspectiva evolucionista, pois é imprevisível e indeterminada, assim como posiciona
contrario ao mecanicismo. Dessa forma, a natureza rompe a ordem, em um ato de
continua transformação. Ademias, o que importa é o conteúdo íntimo, ou seja, os
instintos. Afirmando veementemente “a ciência produto do intelecto não entende nada da
vida”, além de a previsão e o controle ser uma farsa. Dessa forma, há um forte interesse
estético, contemplativo e apaixonado, anulando as diferenças entre sujeito e objeto do
conhecimento e a diferença entre ser e conhecer. Assim, mesmo que não tenha uma
utilidade, mas constitui um interesse: o de promover a conformidade ente o individuo e a
força vital de que o faz parte e o constitui.
Essa visão de Bergson, é composta nas diversas correntes da psicologia
contemporânea. Essa perspectiva psicológica é bastante impregnada no senso comum e
no metafisico, ou seja, a liberação da energia e entrega ao fluxo vital para a auto
atualização e crescimento. Essa noção pode aparecer metaforicamente no Humanismo de
Rogers e Maslow ou fisicamente na Bioenergética de Reich, porém com o mesmo
objetivo na terapia que seria de libertar a energia e dar lhe campo para atualizar-se na
criação. Ocorre a desvalorização da logica de pensamento, adentrando em um campo pré-
simbólico, incomunicável e intrasferível.
Os teóricos vitalistas, possuem uma visão positiva do ser humano, uma vez que a
libertação da energia vital abre um campo maravilhoso de sua subjetividade que havia
sido escondido pela lógica. Para Rogers, a psicoterapia deveria promover a abertura do
sujeito para a auto atualização, ou seja, ser capaz de funcionar como observador dos
processos vitais sem exercer controle sobre eles. Essa ideia, se impregnou no senso
comum, banalizando a pratica psicologia. Dessa forma, deve-se estar atento o que elas
buscam legitimar. Além disso, essa praticas supõem uma realidade psíquica pré-simbólica
e anti-simbólica, ou seja, racional e intuitiva que se complementam. Porém, a concepção
de que o individuo é naturalmente bom e a sociedade não tão boa e impeditiva, legitimam
o projeto de “autocurtição”, ao mesmo tempo que desautorizam a crítica racional.
Resumindo, o vitalismo é reduzido a uma ideologia sem qualquer valor cognitivo,
no qual, renega a racionalidade e o impulso critico, se conformando com a intuição
delicada dos sentimentos e com a auto-atualização.
2. Matriz compreensiva: o estruturalismo
Essa matriz, busca a compreensão da experiencia sem se limitar aos métodos das
ciências naturais. Embora, tentar utilizar métodos de análise que consigam trazer a mesma
segurança. Suas técnicas tentam neutralizar a subjetividade do pesquisador e a
consciência imediata do sujeito, permitindo o encontro dos dois no campo objetivo das
estruturas inconscientes. A intenção dos estruturalistas é descobrir ou reconstruir as
estruturas geradoras das mensagens. A estrutura, tem caráter transistória e
transindividual, ou seja, é universal com uma variedade infinita de formas. É justamente
esse caráter que permite a comunicação entre as mais diversas culturas.
Dessa forma, a noção de organismo diverge da funcionalista, no qual, o
organismo, totalidade ou forma exige uma interdependência, mas não a
complementariedade e não excluem o conflito. Assim, na tarefa compreensiva as
diferenças são ressaltadas, adquirindo uma importância metodológica, ou seja, desaparece
o privilégio do “normal” sobre o “anormal”. Ademais, a expressividade derruba a
funcionalidade. Para compreender essa expressividade, deve-se encontrar e interpretar a
estrutura que está por trás dela, através das noções de significado e sistema simbólico
junto com a noção de código. Esses códigos são universais, mediante a regras de
transformação, explicar a partir de um conjunto finito e unitário de regras uma diversidade
infinita de formas. Além disso, sem perder a individualidade da experiencia e nem a
cientificidade, superando a oposição entre compreender e explicar.
Na psicologia, encontra-se a Gestalt em oposição a psicologia elementarista,
associacionista e introspeccionista. A psicologia da forma, iniciou-se com o estudo da
percepção e rapidamente expandiu para outras áreas. Afirmam que os elementos só
existem no conjunto em que estão estruturados e não separadamente, ou seja, a ideia de
que há uma estrutura organizadora a todos os níveis e a todas as áreas da experiencia.
Sendo seu objeto de estudo a experiencia imediata, a partir da descrição e compreensão
dos fenômenos espontâneos que se ofereciam na experiencia do sujeito e de seus
observadores. Porém, por meio de leis gerais que determinam a organização da
experiencia espontânea, percebe-se formas dotadas de significado e o caráter
intrinsecamente subjetivo da experiência do sujeito. Além de manter a universalidade e a
viabilidade da tarefa cientifica.
A perspectiva estruturalista, começou na linguística com Saussure com a estrutura
de signos (significado e significante), trazido para a psicologia posteriormente. Dessa
forma, tal estrutura passa a ser aplicada na Antropologia para estudos acerca do sistema
parental por Lévi-Strauss. Ele descobriu que as estruturas são universais mudando apenas
o significante de cada estrutura familiar. Dessa forma, os elementos só tem significado
dentro do seu sistema (por exemplo os elementos pai e mãe só tem significado dentro do
sistema familiar ocidental). A antropologia engloba todas as manifestações da faculdade
simbólica, sendo que a estrutura encoberta deve ser descoberta objetivamente. Portanto,
cria-se uma nova imagem do homem, um ser simbólico e simbolizante que está sempre
estruturando um sistema de significados.
Embora, Freud tenha tentado colocar a psicanalise no campo das ciências naturais,
ela se encontra, principalmente, no ideário romântico devido a noção de conflito. Os
impulsos conflituosos são obrigados a se manifestar de forma simbólica e representativa
expondo a estrutura, mas mantendo os enfoques românticos e funcionalistas, as noções
de forma expressiva e forma adaptativa. Dessa forma, a psicanalise é apontado por Freud
como muito importante para a linguística uma vez que ela é uma ciência do sentido, mas
não imediato. Essa ideia, posteriormente, aparece na psicanalise com Lacan afirmando
que o inconsciente está na linguagem, sendo a função da psicanalise revelar essa estrutura
através de leis adequadas a dinâmica da vida psíquica.

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