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Na mesma linha de pensamento, encontramos os pensadores que constituíram o
Círculo de Viena. Para estes pensadores só são válidos os conhecimentos suscetíveis de
serem submetidos à verificação experimental. Deste modo, consideram a utilização do
método indutivo, que parte da observação de casos particulares para a construção
de leis universais, o caminho para se atingir aquele objetivo, a redução do mundo a
um conjunto de leis. A previsão de que essa lei se aplique a casos do mesmo tipo no
futuro.
Ora, o ponto de partida da investigação científica é a observação. Esta é
neutra ou pura, visto que o cientista deve “observar as coisas como são”, sem se deixar
influenciar por crenças, preconceitos, teorias em que acredita, valores, etc.
O indutivista vê a ciência como um corpo de conhecimentos solidamente assente
na observação. Todas as teorias científicas resultam de generalizações feitas a partir da
experiência e à medida que a ciência avança essas generalizações vão sendo cada
vez mais numerosas e abrangentes.
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Karl Popper vai contrapor as suas ideias a estas conceções tradicionais. Segundo
este autor, o cientista parte de um conjunto de conjeturas que irá infirmar e não
confirmar. Estamos perante o denominado falsificacionismo.
As teorias científicas devem formular-se de forma tão clara que fiquem
expostas à refutação da experiência, à falsificabilidade. Assim sendo, o critério de
demarcação entre a ciência e a não ciência é a falsificabilidade (critério de
cientificidade). Uma teoria genuinamente científica é aquela que pode ser testada pela
experiência e que será refutada se os testes não lhe forem favoráveis. Por exemplo, a
astrologia não é uma ciência, mas uma pseudociência.
Nesta sequência, o falsificacionismo impõe limites à indução e à
superioridade da teoria em detrimento da observação. Os segredos da natureza não
podem ser revelados senão com a ajuda de teorias engenhosas e penetrantes.
Para Popper, entre várias teorias em competição, a nossa preferência vai para
aquelas cuja falsidade ainda não está estabelecida. Popper chega a outra conclusão:
todas as leis e teorias científicas são, na sua essência, hipotéticas e conjeturais.
Exemplo: nunca houve uma teoria tão bem estabelecida ou confirmada quanto a de
Newton. No entanto, a teoria de Einstein veio mostrar que a teoria newtoniana não passa
de uma hipótese ou conjetura. Dizer que uma teoria é, no momento, tão bem
estabelecida quanto possível, é reconhecer que ela resiste a todos os testes possíveis
de falsificação.
Popper considera as teorias científicas como livres criações do nosso espírito,
como o resultado de uma tentativa feita para compreendermos intuitivamente as
leis da natureza. O nosso objetivo não é demonstrar ou verificar as nossas teorias; mas
testá-las, isto é, tentando infirmá-las ou falsificá-las. Pensa que é bom que uma
teoria seja falsificável num grau elevado, pois significa que são ricas em conteúdo
empírico, que contêm informação vasta e rigorosa sobre o mundo. Ou seja, quanto
maiores são os riscos que uma teoria corre de ser refutada pela observação, mais
informativa ela é.
Por conseguinte, valoriza o modelo metodológico hipotético-dedutivo (facto-
problema, formulação de hipóteses, dedução das consequências e confrontação
com os factos e formulação de leis ou teorias científicas) para a descoberta e o
progresso da ciência. Uma teoria que resistiu a todas as tentativas de refutação é uma
teoria corroborada, mas nunca pode ser confirmada em definitivo; é sempre uma
conjetura. Consultar Manual, pp.195-196.
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Assim, Popper critica o procedimento indutivo, pois por maior que seja o
número de observações particulares, não há justificação lógica para a sua
generalização a todos os casos. Há sempre a possibilidade de factos ainda não
observados virem a contradizer a conclusão.
Como diz Popper, mesmo que se tenham observado milhares de cisnes brancos,
nada nos autoriza a afirmar que “todos os cisnes são brancos” e bastará uma única
observação de um único cisne para refutar aquela proposição. As inferências indutivas
não conferem ao conhecimento nem necessidade lógica nem validade universal,
pelo que, para Popper, a ciência não é mais do que um conhecimento conjetural.
Popper insiste na impossibilidade da observação pura ou imparcialidade.
Quando um investigador observa o mundo, fá-lo de um modo seletivo, pois é
condicionado por um interesse, um problema, uma tarefa definida, por uma expectativa,
uma crença, etc.
Se as teorias são conjeturas, mesmo corroboradas, nunca podemos confiar nelas, visto
que pode no futuro ocorrer um novo dado na observação que as pode falsificar. Assim
sendo, uma vez que ainda não foram refutadas, não temos quaisquer razões para
acreditar nelas, logo, não poderíamos, por exemplo, andar de avião, nem submeter-nos a
certos exames médicos, etc.