Você está na página 1de 3

- Nome: Andrey A R Carvalho

- Sala: 3° B

- Matéria: Psicologia Social I

- Resumo 2

Se epistemologia, de acordo com o dicionário Aurélio, diz respeito ao estudo crítico dos
princípios, hipóteses e resultados das ciências já constituídas e visa determinar os fundamentos
lógicos, o valor e o alcance objetivo deles; que se trata, enfim, da teoria da ciência, ou seja, da
teoria das teorias, torna-se fácil reconhecer o valor de tal discussão num momento em que não
apenas a cronologia indica a proximidade da passagem de século e de milênio, como também
se colocam novas perspectivas para a própria discussão, ensaiada e auspiciada por novos
paradigmas ou modelos, eles próprios gerados e geradores dos novos tempos sociais e
humanos.
A crise por que passa a psicologia social não pode ser considerada como distante desses
significados e tampouco alheia à lógica do pensamento científico e do pensamento social.
Embora possamos saber de épocas em que a psicologia parece ter estado em paz com seus
objetos e métodos de estudo, na verdade ela, enquanto ciência, está sempre em causa. Tal
como as demais ciências sociais, sua característica é a de autocriticar-se, fazendo daí sobressair
o fato de que a realidade social e humana é viva, complexa, dinâmica, contraditória, em
contínuo devir. Os objetos de estudo da psicologia estão em constante transformação, da
mesma forma que os métodos para conhecê-los. Quando termina o século XX e já se anuncia o
XXI, pode-se dizer que o objeto de estudo da psicologia social torna-se mais complexo e ao
mesmo tempo menos conhecido, visto que o patrimônio teórico acumulado revela-se
insuficiente para dar conta de relações, processos e estruturas ainda pouco estudados, ou
propriamente desconhecidos. As metamorfoses do objeto de estudo da psicologia revelam que
não basta apenas acomodar ou reformular conceitos e interpretações. Trata-se de repensar os
fundamentos da própria reflexão psicológica.
Para Tomás Ibañez (1994), a crise da psicologia social, longe de constituir um fenômeno
localizado, conjuntural e específico, tem suas raízes em uma problemática muito mais geral que
atinge a própria concepção da racionalidade científica. Esta problemática tem se configurado
em torno de fenômenos que marcam os tempos da contemporaneidade, tais como: a
derrubada das bases neopositivistas do paradigma epistemológico vigente, em especial no que
concerne à sua formulação verificacionista, à sua concepção da natureza e do papel
desempenhado pela atividade teórica em relação aos dados empíricos; a configuração de uma
sociologia do conhecimento e de uma sociologia da ciência que não podiam senão apontar para
o caráter “construído”, “reflexivo” e “sóciohistórico” do conhecimento científico e de suas
práticas constitutivas. Estes são alguns dos elementos que têm propiciado intenso clima de
discussão filosófica e epistemológica, próprio de uma época de mutação dos grandes
paradigmas científicos. E precisamente esta discussão que nutre o novo pensamento sobre o
social e que têm alimentado a crítica que afeta a Psicologia Social e outras disciplinas.
Com relação à racionalidade científica moderna, estendida, no século XIX, das ciências naturais
para as sociais, pode-se dizer tratar-se de um modelo global e totalitário, “na medida que nega
o caráter racional a todas as formas de conhecimento que não se pautarem pelos princípios
epistemológicos e pelas regras metodológicas” (SANTOS, 1996, p. 11). Desta forma, o
empirismo lógico (ou positivismo) projetou-se na história do pensamento ocidental moderno
como uma continuação e renovação do projeto iluminista, tornando nítida sua pretensão de ser
a encarnação moderna da cultura sensata, viril e racional, de permanente combate aos
fantasmas, às ilusões, às tradições e autoridades ilegítimas que não se sustentam diante dos
tribunais da experiência e da razão (FIGUEIREDO, 1988). A confiança epistemológica infundida
pela Modernidade pode ser pensada ainda como resultado de uma concepção a respeito da
natureza como sendo uma espécie de mecanismo passivo, eterno e reversível, passível de se
deixar desmontar e depois relacionar sob a forma de leis. Passível, assim, de ser dominado e
controlado. A implementação de tal cultura científica implicava a procura de um conjunto de
regras de aplicação mecânica e universal, que permitisse, além da exclusão de falsos problemas
e de falsas soluções, a construção metódica de conceitos e leis. Tal conjunto de regras deveria
ter a sua operatividade independente de quem as aplicasse e da natureza específica dos
objetos; buscava a validade intersubjetiva universal, a objetividade dos enunciados científicos, a
homogeneidade dos procedimentos e a possibilidade de fundação do projeto de uma “Ciência
universal unificada”.
Em princípio, a psicologia considera como separados a realidade e o conhecimento desta,
fundando uma tradição representacional do conhecimento, que simultaneamente é
desimplicado das intenções e valores do sujeito cognoscente e dos efeitos do saber sobre a
realidade. Nessa perspectiva, a realidade é o que deve estar em correspondência com a teoria,
e o conhecimento privilegiado da realidade é o obtido através da objetividade científica. Ora, os
novos paradigmas permitem-nos colocar não a dúvida sobre a existência, ou não, da realidade,
mas de privilegiar a questão de que a realidade não exista com independência de nosso acesso
a ela. A realidade existe e está composta por objetos, mas não porque estes objetos sejam
intrinsecamente constitutivos da realidade, mas porque nossas próprias características os
“põem”, por assim dizer, na realidade.
Como dispositivo autoritário, a psicologia tende a naturalizar a realidade psicológica e social,
mascarando o papel que desempenham certas práticas humanas na construção dessa
realidade, sugerindo, por exemplo, a existência de certos padrões de normalidade psicológica
marcados pela própria natureza e aos quais devemos nos conformar e adequar. Desde sua
intenção de fazer incidir o seu corpo de conhecimentos sobre a realidade humana e social no
intuito de transformá-la e melhorá-la, a psicologia é, então, evidentemente exercida como
prática normativa e autoritária. Herdeira da concepção cartesiana de ciência e devotada filha
dos ideais da Modernidade, a psicologia alimenta a crença de que existe um acesso privilegiado
à realidade, que permite, graças à objetividade, conhecermos a realidade “tal como ela é”.
As tensões resultantes de tais considerações e os princípios norteadores qu elas evocam
tornam imperativo o reconhecimento do fato de que a realidade psicológica é uma construção
contingente, dependente de nossas práticas sóciohistóricas e que não nos define como
essência, em termos de algo que estaria inscrito em nossa natureza. Da mesma forma, deve
permitir revelar o discurso do psicólogo nunca desatado das convenções nele inculcadas,
constituindo-se, portanto, em uma das maneiras de interpretar a realidade dentre tantas
outras possíveis.

Você também pode gostar