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Ideologia

Ao contrário do que se pensa, o real não é feito de coisas, de objetos físico apenas.
Cada indivíduo atribui significados diferentes as coisas, interpretando as mesmas de formas
distintas. Criando portanto um campo signifiacativo, o qual contém tanto o aspecto físico
quanto o material da significação da coisa.

Pelo fato dos humanos serem seres socias, suas relações com a natureza são mediadas por
nossas relações sociais. São seres culturais, portanto estão sujeitos a campos de significação
variados no tempo e no espaço, os quais variam dependendo da sociedade, classe social, da
divisão social do trabalho e de infinitos outros fatores.

Em contraposição, a ideologia do estado puro considera a realidade como um puro dado


imediato. O empirista considera a realidade como um dado dos sentidos; o idealista, da
consciência. Contudo, o real é um processo, o qual depende fundamentalmente da forma
como os indivíduos se relacionam com a natureza.
Portanto, é das relações sociais que se deve partir para compreender as causas dos
pensamentos dos seres humanos. Deve-se encarar tais relações como processos históricos.
Vale ressaltar que a história não deve ser vista como uma sequência de fatos, mas o modo
como o homem cria e molda sua própria exitência, em determinado contexto no qual se
encontra inserido. Sob essa perspectiva, o real é a história.

A ideologia é um ocultamento da realidade social. Através dela, as condições sociais de


exploração e de dominação são legitimadas pelos indivíduos dominantes, os quais as fazem
parecer justas.
Contudo, uma ideologia não possui um poder absoluto, no momento em qua a classe
oprimida compreende sua própria realidade pode organizar-se para transformar a sociedade,
através de revoluções ou reformas.

O termo “ideologia” surge na França, após a Revolução Francesa, na obra de Destutt de


Tracy “Eléments d’Ideologie”, onde ele elabora uma teoria a qual aborda os temas vontade;
razão; percepção e memória. Os ideólogos franceses eram um grupo de pensadores
antiteológicos, antimetafísico e antimonárquico. Ademais, eram materialistas em relação as
idéias e ações humanas e só aceitavam conhecimentos científicos que fossem baseados na
observação dos fatos e na experimentação.
Esses pensadores buscavam construir ciência morais, as quais não compactuariam com a
teoria do poder divino, sendo dotadas de tanta certeza quanto as ciências naturais. A moral
seria o campo de ações originadas de necessidades, interesses e desejos, os quais podem ser
cientificamente conhecidos e controlados pelo homem.
Por serem liberais, apoiaram Napoleão no golpe de 18 de Brumário. Julgavam-no como um
liberal continuador dos ideais da Revolução Francesa. Porém, logo se decepcionaram,
enxergando nele o restaurador da monarquia.

Devido à declaração feita por Napoleão, a qual atribuía à ideologia sentido completamente
oposto ao modo como os próprios ideólogos franceses a viam, agora o termo possiu dois
significados: um que ainda enxerga a ideologia como a atividade filosófico-científica
responsável por estudar a formação das ideias a partir da observação das relações entre o
corpo humano e o meio ambiente, tendo como ponto de partida as sensações; e outro que a
compreende como o conjunto de ideias de uma determinada época, tanto como “opinião
geral” quanto como elaboração teórica dos pensadores da época.

O positivismo de Auguste Comte considera a transformação do espírito humano um


progresso ou uma evolução. Durante essa transformação, a humanidade passa por três fases
sucessivas: a fetichista ou teológica, na qual os indivíduos explicam a realidade por meio da
ação divina; a metafísica, na qual os indivíduos explicam a realidade através de pricípios
gerais e abstratos; e a positiva ou científica, na qual observam efetivamente a realidade,
analisam os fatos, descobrem as leis gerais e necessárias dos fenômenos naturais e humanos e
elaboram uma ciência da sociedade, denominada de sociologia.

Cada fase do espírito humano leva-o a elaborar um conjunto de ideias para explicar a
totalidade tanto dos fenômenos naturais quanto dos fenômenos humanos, constituindo assim
a ideologia de cada fase.
Desta forma, a ideologia é o mesmo que teoria. A ideologia como teoria é produzida pelos
sábios, os quais recolherm as opiniões correntes, as organizam e sistematizam, e na fase
científica as corrigem, a fim de eliminar qualquer elemento religioso ou metafísico que possa
estar presente na mesma.

O conhecimento teórico tem como objetivo prever cientificamente os acontecimentos para


fornecer à prática um conjunto de regras e de normas, as quais tornariam possível a
dominação, manipulação e controle, da ação sobre a realidade natural e social.

As principais consequências da concepção positivista (científica) como conjunto de


conhecimentos teóricos são:
 A definição da teoria de modo a reduz à simples organização sistemática e hierárquica
de ideias. Para o positivista, indagar sobre a origem é mera especulação metafísica e
teológica de fases atrasadas da humanidade, pois para o sábio positivista importa
somente a análise dos fatos dados à sua observação;
 Instauração de relação autoritária de mando e de obediência entre a teoria e a prática;
 Concepção da prática como simples instrumento ou mera técnica que aplica
automaticamente regras, normas e princípios originados na teoria.

Tal concepção acerca da prática leva à suposição de uma harmonia entra teoria e ação. Desta
forma, quando as ações humanas contradisserem as ideias, serão vistas como desordem,
perigo para a sociedade. Como diz Comte, só há ordem onde a prática estiver subordinada à
teoria.

Durkheim tem o objetivo de cirar a sociologia como uma ciência, como conhecimento
racional. Para isso, afirma ser necessário tratar o fato social como uma “coisa”, do mesmo
modo que um cientista da natureza trata os fenômenos naturais. Para a sociologia ser
científica deve-se tomar os fatos sociais como desprovidos de interioridade, ou seja, de
significações e interpretações subjetivas, permitindo ao que encare uma realidade na qual está
inserido como se não fizesse parte da mesma.

Na concepcão do sociólogo cientista, o ideólogo é um resquício de ideias pré-científicas. Para


Durkheim, um sociólogo não-científico assume uma postura ideológica, por três motivos:

 Por revelar que o pensador não tomou distância em relação a sociedade estudada;
 Porque a ciência vai das ideias aos fatos e não o oposto, como deveria ser;
 Pela falta de conceitos precisos o cientista usa palavras vazias e substitui os
verdadeiros fatos que deveria observar por elas.

O fato social, convertido em coisa científica, é um dado previamente isolado, classificado e


relacionado com outros através da semelhança ou constância das características externas. Tal
objeto imóvel, dado, é conhecido após classificado, comparado e submetido às leis da
frequência e da constância.

Divisão Social do Trabalho

Ao separar os indivíduos em proprietário e não-proprietários, a divisão social do trabalho dá


aos primeiros poder sobre os segundos. Assim, permite que estes sejam explorados
economicamente e dominados politicamente. O Estado e a ideologia são os instrumentos que
a classe que exploradora utiliza para manter seus privilégios e assim, conseguir dominar a
outra classe politicamente.

A classe dominante monta um aparelho de coerção e repressão social através do Estado.


Assim, consegue exercer controle sobre toda a sociedade. O grande instrumento do Estado é
o Direito, por meio do qual aparece como “Estado de Direito”. O papel desempenhado pelo
Direito é o de fazer com que a violência do Estado seja visto como uma legalidade e não
como uma violência, para assim ser aceita. Segundo Marilena Chauí, “(2010) a lei é direito
para o dominante e dever para o dominado”. Se Estado e Direito fosse percebidos como
realmente são, não seriam respeitados, ocasionando a revolta dos dominados.

A ideologia desempenha o papel de impedir tal revolta, fazendo com que o “legal” assuma
uma caráter de legitimidade para os indivíduos, ou seja, como algo justo e bom. A realidade
do Estado é substituída pela idéia de Estado. Assim, a dominação é substituída pela ideia de
interesse geral da sociedade.
A ideologia não se dá por meio de um combinado literal entre os dominantes, mas resulta da
prática social. A forma como a classe dominante representa a si mesma irá tornar-se a forma
como todos os membros dessa sociedade irão pensar. Ou seja, a ideologia é o processo pelo
qual as ideias da classe dominante se tonam ideias dominantes.

Como deixa clara a Ideologia Alemã, na medida em que a classe dominante exerce sua
dominação como classe, determinando assim todo o âmbito de uma época histórica, é
evidente que dominem também como pensadores, como produtores de ideias, fazendo com
que as mesmas sejam as ideias dominantes da época.

Mesmo que a sociedade seja dividida em classes, a dominação de uma delas sobre a outra só
legitima as ideias da classe dominante. Para que isso ocorra, é necessário retirar a importância
da divisão de classes, dando mais importância as características humanas comuns a todos.
Para que essas características sejam aceitas é preciso que sejam vistas como ideias comuns a
todos. Portanto, a classe dominante não só produz como dissemina suas ideias proprias
através da mídia, da educação e religião. Como tais ideias nao representam a realidade real,
mas uma aparência social, inverte-se a relação, faendo com que a realidade concreta seja tida
como a realização dessas ideias.

Tais procedimentos consistem na criação da unuversais abstratos, ou seja, a transformação


das ideias da classe dominante em ideias universais de todos e para todos os membros da
sociedade. Contudo, por não representar nada real e concreto, é uma universalidade abstrata.
Portanto, as ideias da ideologia são universais abstratos.

Os ideólogos são os membros da sociedade dominante que constituem a camada dos


intelctuais. Têm a função de transformar as ilusões da classe dominante em representações
coletivas ou universais. Desta maneira, a classe dominante é dividida em pensadores e não-
pensadores.

Dentro da classe dominante, esta divisão pode gerar conflitos. Contudo, ele não exprime a
existência de duas classe sociais contraditórias, apenas uma oposição dentro na mesma classe.
Basta uma ameaça real a dominação da classe dominante para que os conflitos sejam
esquecidos. Muitas vezes os intelectuais podem pensar estarem do lado dos trabalhadores,
mas, sem perceberem, servem aos interesses da classe dominante. Isso ocorre pois os
inteletuais interiorizaram as ideias dominantes de tal modo que não percebem que estão
servindo a interesses da classe a qual pertencem; e os trabalhadores aceitam tal ideologia
devido a divisão social do trabalho, a qual os interiorizar as ideias dominantes, fazendo com
que acreditem que não sabem pensar e, por isso, devem confiar em quem sabe. Ambos são
vítimas do poder das ideias dominantes.

Para Gramsci, se num determinado momento os trabahadores adotarem a bandeira


nacionalista na luta contra a classe dominante, deve-se primeiramente redefinir toda a ideia
de nação, desfazendo-se da concepcão burguesa, criando uma concepção idêntica a de
popular.

Ao analisar a História fazendo a separação das ideias da classe dominante e a propria classe
dominante e as analisar independentemente, pode-se dizer que as ideias desta classe
dominaram na época em que ela estava no poder, que, por exemplo, na época da dominação
aristocrática dominaram os conceitos de honra e de fidelidade. Isto é o que a classe
dominante imagina.

Para Marx e Engels cada nova classe em ascensão que começa a se desenvolver em um modo
de produção que será destuído quando tal classe chegar ao poder, precisa dar às suas ideias a
maior universalidade possível. Assim, faz com que apareçam como ideias justas e verdadeiras
para o maior número de membros da sociedade. A classe ascendente precisa aparecer como
representante de toda a sociedade e do interesse de todos, contra os intereses da classe
dominante.

Uma vez alcançada a vitória, os interesses da nova classe dominante passam a ser
particulares, mas precisam ser mantidos com a aparência de universais para legitimar seu
domínio. As ideias universais da ideologia são a conservação de uma universalidade que ja
foi real (quando a classe em ascenção representava os interesses de todos não- dominantes)
mas que agora é uma universalidade ilusória, pois se tornaram interesses particulares quando
tal classe chega ao poder.
Toda nova classe dominante, que outrora apontava para a possibilidade de um maior número
de indivíduos exercerem a dominação e, por isso, quando toma o poder, usa de
procedimentos mais radicais do que os já existentes, para afastar os dominados do exercício
de tal poder. Por isso, só aumenta a distância entre os dominantes e o dominado.

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