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ESTUDO DIRIGIDO 1º Bimestre:

1. Por que é que o modelo global de racionalidade científica foi considerado


totalitário?
Sendo um modelo global, a nova racionalidade científica é também um modelo totalitário, na
medida em que nega o carácter racional a todas as formas de conhecimento que se não
pautarem pelos seus princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas. É esta
a sua característica fundamental e a que melhor simboliza a ruptura do novo paradigma
científico com os que o precedem. Esta preocupação em testemunhar uma ruptura fundante
que possibilita uma e só uma forma de conhecimento verdadeiro está bem patente na
atitude mental dos protagonistas, no seu espanto perante as próprias descobertas e a
extrema e ao mesmo tempo serena arrogância com que se medem com os seus
contemporâneos.

2. Como é vista a natureza e os fenômenos no paradigma dominante?


No paradigma dominante/moderno a natureza é vista como passiva, eterna e reversível.
Relaciona-se em forma de leis a serem desvendadas, bem como seus mistérios. A natureza
deve ser dominada e controlada pelos seres humanos.

3. Explique a afirmação de Boaventura “As leis da ciência moderna são um tipo de


causa formal que privilegia o como funciona das coisas em detrimento de qual
agente ou qual fim das coisas. É por essa via que o conhecimento científico
rompe com o senso comum” (p. 30).
A afirmação de Boaventura de Souza Santos significa que as leis da ciência moderna
enfatizam principalmente o funcionamento das coisas, sem considerar quem ou o que as
faz funcionar, nem para qual finalidade. O conhecimento científico se preocupa
principalmente com o "como" das coisas, e não com o "por que" ou "para que" elas existem.
Isso é uma ruptura com o senso comum, que geralmente se preocupa mais com o propósito
e o significado das coisas. Boaventura de Sousa Santos está se referindo ao fato de que a
ciência moderna, ao buscar explicar o funcionamento das coisas, muitas vezes se preocupa
apenas com a causa formal, ou seja, como as coisas funcionam, em detrimento de quem ou
o que é responsável pelo seu funcionamento e qual o seu propósito final. Isso significa que
a ciência moderna não se preocupa com questões como valores, ética e moral, que são
importantes para o senso comum. Assim, a ciência rompe com o senso comum porque
busca explicar as coisas de forma mais objetiva e racional, sem levar em conta as questões
subjetivas e emocionais que influenciam a percepção comum do mundo..

4. O que é o determinismo mecanicista de Descartes? Como ele influenciou as


ciências sociais e humanistas e o entendimento sobre saúde mental?
TRECHO DO LIVRO: O determinismo mecanicista é o horizonte certo de uma forma de
conhecimento que se pretende utilitário e funcional, reconhecido menos pela capacidade de
compreender profundamente o real do que pela capacidade de o dominar e transformar. No
plano social, é esse também o horizonte cognitivo mais adequado aos interesses da
burguesia ascendente que via na sociedade em que começava a dominar o estádio final da
evolução da humanidade (o estado positivo Comte; a sociedade industrial de Spencer; a
solidariedade orgânica de Durkheim). Daí que o prestígio de Newton e das leis simples a
que reduzia toda a complexidade da ordem cósmica tenham convertido a ciência moderna
no modelo de racionalidade hegemónica que a pouco e pouco transbordou do estudo da
natureza para o estudo da sociedade. Tal como foi possível descobrir as leis da natureza,
seria igualmente possível descobrir as leis da sociedade.

O determinismo mecanicista de Descartes é uma concepção filosófica que defende que


todos os fenômenos naturais, incluindo os comportamentos humanos, são determinados por
leis mecânicas, como se o mundo fosse uma grande máquina. Essa visão influenciou a
ciência moderna, que passou a buscar explicação para os fenômenos naturais com base
em leis matemáticas e físicas.

Na área das ciências sociais e humanas, essa visão determinista influenciou a ideia de que
a sociedade era regida por leis objetivas e universais, que poderiam ser descobertas
através de métodos científicos. Isso levou a uma tentativa de aplicar modelos de explicação
da natureza para entender a sociedade, ignorando a complexidade dos fenômenos sociais e
culturais.

No campo da saúde mental, essa visão determinista influenciou o tratamento das doenças
mentais como problemas meramente biológicos, desconsiderando os aspectos sociais,
culturais e psicológicos envolvidos. A abordagem da atenção psicossocial, por sua vez,
busca compreender os transtornos mentais em sua complexidade, considerando fatores
como a história de vida do paciente, sua cultura, sua rede social e seus traumas, entre
outros aspectos.

5. Quais são os obstáculos pelos quais não se pode tratar as Ciências Sociais da
mesma forma que as Ciências Naturais?
TRECHO DO LIVRO: Alguns dos obstáculos à cientificidade das ciências sociais, os quais,
segundo o paradigma ainda dominante, seriam responsáveis pelo atraso das ciências
sociais em relação às ciências naturais. Sucede contudo que, também como referi, o
avanço do conhecimento das ciências naturais e a reflexão epistemológica que ele tem
suscitado têm vindo a mostrar que os obstáculos ao conhecimento científico da sociedade e
da cultura são de facto condições do conhecimento em geral, tanto científico-social como
científico-natural. Ou seja, o que antes era a causa do maior atraso das ciências sociais é
hoje o resultado do maior avanço das ciências naturais. Daí também que a concepção de
Thomas Kuhn sobre o carácter pré-paradigmático (isto é, menos desenvolvido) das ciências
sociais, que eu, aliás, subscrevi e reformulei noutros escritos, tenha de ser abandonada ou
profundamente revista. A superação da dicotomia ciências naturais/ciências sociais tende
assim a revalorizar os estudos humanísticos. Mas esta revalorização não ocorrerá sem que
as humanidades sejam, elas também, profundamente transformadas.

Os obstáculos que impedem que as Ciências Sociais sejam tratadas da mesma forma que
as Ciências Naturais são diversos. Alguns desses obstáculos incluem a complexidade dos
fenômenos sociais, que envolvem fatores subjetivos, culturais, históricos e políticos; a
dificuldade de controlar e manipular as variáveis em experimentos sociais; a interação entre
pesquisadores e pesquisados; e a influência da posição social do pesquisador na produção
do conhecimento.
Além disso, é importante notar que a tentativa de tratar as Ciências Sociais da mesma
forma que as Ciências Naturais pode levar a uma simplificação excessiva e a uma falta de
sensibilidade em relação à complexidade e diversidade dos fenômenos sociais. Isso pode
resultar em uma abordagem reducionista e pouco útil para entender os problemas sociais e
promover mudanças positivas.

Por outro lado, o paradigma emergente sugere que a superação da dicotomia entre
Ciências Naturais e Ciências Sociais pode levar a uma revalorização dos estudos
humanísticos e a uma maior compreensão da complexidade dos fenômenos sociais. Isso
pode permitir uma abordagem mais integrada e holística, que leve em consideração não
apenas as variáveis objetivas, mas também as subjetivas e culturais.

6. Explique a afirmação “A distinção sujeito/objeto sofre transformação radical”


(SOUZA SANTOS, 2008, p. 62), considerando que no paradigma pós-moderno
“todo conhecimento é autoconhecimento” (p. 80).
TRECHO DO LIVRO: Parafraseando Clausewitz, podemos afirmar hoje que o objecto é a
continuação do sujeito por outros meios. Por isso, todo o conhecimento científico é
autoconhecimento. A ciência não descobre, cria, e o acto criativo protagonizado por cada
cientista e pela comunidade científica no seu conjunto tem de se conhecer intimamente
antes que conheça o que com ele se conhece do real. Os pressupostos metafísicos, os
sistemas de crenças, os juízos de valor não estão antes nem depois da explicação científica
da natureza ou da sociedade. São parte integrante dessa mesma explicação. A ciência
moderna não é a única explicação possível da realidade e não há sequer qualquer razão
científica para a consjderar melhor que as explicações alternativas da metafísica, da
astrologia, da religião, da arte ou da poesia. A razão por que privilegiamos hoje uma forma
de conhecimento assente na previsão e no controlo dos fenómenos nada tem de científico.
É um juízo de valor. A explicação científica dos fenómenos é a autojustificação da ciência
enquanto fenómeno central da nossa contemporaneidade. A ciência é, assim,
autobiográfica.

A afirmação "a distinção sujeito/objeto sofre transformação radical" significa que a relação
entre o sujeito (quem conhece) e o objeto (aquilo que é conhecido) é reconfigurada no
paradigma pós-moderno. No contexto desse paradigma, todo conhecimento é
autoconhecimento, o que significa que a construção do conhecimento é um processo que
envolve a participação ativa do sujeito. Isso significa que o sujeito não é uma entidade
isolada e objetiva que simplesmente "descobre" a verdade do mundo lá fora. Pelo contrário,
o sujeito é um agente criativo que desempenha um papel ativo na produção do
conhecimento.

De acordo com a citação de Boaventura de Sousa Santos, a ciência não descobre o


conhecimento, mas cria-o. Cada cientista e a comunidade científica em geral têm que
conhecer intimamente suas próprias pressuposições metafísicas, sistemas de crenças e
juízos de valor antes de poderem conhecer o que é real. Esses elementos subjetivos são
integrados na própria explicação científica da natureza ou da sociedade. Além disso, a
ciência não é a única forma de explicação possível da realidade, nem é necessariamente
melhor do que outras formas, como a metafísica, a astrologia, a religião, a arte ou a poesia.
Portanto, a distinção sujeito/objeto é transformada radicalmente no paradigma
pós-moderno, já que o conhecimento é construído em uma relação dialética entre o sujeito
e o objeto, e não como uma atividade objetiva e distanciada. A produção do conhecimento é
um processo que envolve a subjetividade do sujeito e suas próprias construções sociais,
culturais e históricas.

7. Explique a afirmação “Todo conhecimento é local e total” (SOUZA SANTOS,


2008, p. 73)
TRECHO DO LIVRO: No paradigma emergente o conhecimento é total, tem como horizonte
a totalidade universal de que fala Wigner ou a totalidade indivisa de que fala Bohm. Mas
sendo total, é também local.Constitui-se em redor de temas que em dado momento são
adoptados por grupos sociais concretos como projectos de vida locais, sejam eles
reconstituir a história de um lugar, manter um espaço verde, construir um computador
adequado às necessidades locais, fazer baixar a taxa de mortalidade infantil, inventar um
novo instrumento musical, erradicar uma doença, etc., etc. A fragmentação pós-moderna
não é disciplinar e sim temática. Os temas são galerias por onde os conhecimentos
progridem ao encontro uns dos outros. Ao contrário do que sucede no paradigma actual, o
conhecimento avança à medida que o seu objecto se amplia, ampliação que, como a da
árvore, procede pela diferenciação e pelo alastramento das raízes em busca de novas e
mais variadas interfaces.
Mas sendo local, o conhecimento pós-moderno é também total porque reconstitui os
projectos cognitivos locais, salientando-lhes a sua exemplaridade, e por essa via
transforma-os em pensamento total ilustrado. A ciência do paradigma emergente, sendo,
como deixei dito acima, assumidamente analógica, é também assumidamente tradutora, ou
seja, incentiva os conceitos e as teorias desenvolvidos localmente a emigrarem para outros
lugares cognitivos, de modo a poderem ser utilizados fora do seu contexto de origem. Este
procedimento, que é reprimido por uma forma de conhecimento que concebe através da
operacionalização e generaliza através da quantidade e da uniformização, será normal
numa forma de conhecimento que concebe através da imaginação e generaliza através da
qualidade e da exemplaridade.

A afirmação "Todo conhecimento é local e total" significa que o conhecimento é construído


em torno de temas específicos que são adotados por grupos sociais concretos como
projetos de vida locais. Isso significa que o conhecimento é localizado, pois é construído em
um contexto específico e com base nas necessidades e experiências locais, mas ao mesmo
tempo, é total, pois tem como horizonte a totalidade universal.

No paradigma emergente, o conhecimento é entendido como totalidade universal, ou seja, é


abrangente e compreende todas as coisas e fenômenos em sua totalidade. No entanto,
para ser total, o conhecimento também deve ser localizado, ou seja, estar enraizado em
contextos específicos. O conhecimento pós-moderno avança por meio da ampliação do
objeto de estudo e da diferenciação das interfaces.

Essa abordagem difere do paradigma atual, no qual o conhecimento é fragmentado e


disciplinar, concentrando-se em áreas de estudo específicas. No paradigma emergente, o
conhecimento é construído em torno de temas específicos que permitem que diferentes
áreas do conhecimento se encontrem e se desenvolvam juntas.
Além disso, o conhecimento pós-moderno é assumidamente analógico e tradutor, o que
significa que incentiva a migração de conceitos e teorias desenvolvidos localmente para
outros lugares cognitivos, para que possam ser utilizados fora de seu contexto de origem.
Esse procedimento é normal na forma de conhecimento que concebe através da
imaginação e generaliza através da qualidade e da exemplaridade. Em resumo, o
conhecimento é local e total porque é construído em torno de temas específicos e
enraizados em contextos locais, mas tem como horizonte a totalidade universal.

8. O paradigma pós-moderno propõe o rompimento da barreira tão rígida entre


conhecimento científico (principalmente o positivista) e outros conhecimentos. De
que forma isso se relaciona com a crítica que Paulo Amarante faz à psiquiatria
clássica? Qual é a proposta epistemológica do autor para o cuidado em saúde
mental?
TRECHO DO LIVRO: A ciência pós-moderna, ao sensocomunizar-se, não despreza o
conhecimento que produz tecnologia, mas entende que, tal como o conhecimento se deve
traduzir em autoconhecimento, o desenvolvimento tecnológico deve traduzir-se em
sabedoria de vida. É esta que assinala os marcos da prudência à nossa aventura científica.
A prudência é a insegurança assumida e controlada. Tal como Descartes, no limiar da
ciência moderna, exerceu a dúvida em vez de a sofrer, nós, no limiar da ciência
pós-moderna, devemos exercer a insegurança em vez de a sofrer.
O rompimento da barreira entre conhecimento científico e outros conhecimentos proposto
pelo paradigma pós-moderno se relaciona com a crítica de Paulo Amarante à psiquiatria
clássica, que é baseada em um modelo biomédico e desconsidera a subjetividade dos
sujeitos em sofrimento mental. A proposta epistemológica do autor para o cuidado em
saúde mental é baseada em uma abordagem interdisciplinar e participativa, em que a
atenção psicossocial busca integrar diferentes saberes e práticas em uma rede de cuidados
que valoriza a autonomia e a participação ativa dos usuários.

O paradigma pós-moderno propõe uma crítica ao conhecimento científico tradicional, que


muitas vezes é visto como neutro e objetivo, e defende a valorização de outros
conhecimentos, como o saber popular e as experiências pessoais. Nesse sentido, Paulo
Amarante faz uma crítica à psiquiatria clássica, que é baseada em um modelo biomédico
que desconsidera a subjetividade dos sujeitos em sofrimento mental, tratando-os apenas
como portadores de sintomas que devem ser eliminados por meio de medicamentos ou
terapias. A proposta epistemológica de Amarante para o cuidado em saúde mental é
baseada em uma abordagem interdisciplinar e participativa, que valoriza a escuta atenta às
experiências dos usuários e a integração de diferentes saberes e práticas em uma rede de
cuidados que busca promover a autonomia e a participação ativa dos usuários. Assim, a
crítica de Amarante à psiquiatria clássica se relaciona com o rompimento da barreira entre
conhecimento científico e outros conhecimentos proposto pelo paradigma pós-moderno,
uma vez que ele propõe a valorização de diferentes saberes e experiências no cuidado em
saúde mental.

9. Quais são as características do modelo psiquiátrico/biomédico e por que esse


modelo sequestra subjetividades?
O modelo psiquiátrico/biomédico é caracterizado por uma abordagem reducionista e
objetivista, que se concentra na identificação e tratamento de sintomas por meio de
intervenções farmacológicas e psicoterapêuticas. Esse modelo sequestra subjetividades
porque desconsidera as experiências e subjetividades dos sujeitos em sofrimento mental,
tratando-os como objetos passivos a serem controlados e curados.
O modelo psiquiátrico/biomédico é uma abordagem tradicional na área da saúde mental,
que se concentra na doença e nos sintomas, ignorando a subjetividade e a experiência do
paciente. Suas principais características incluem a utilização de técnicas diagnósticas
padronizadas, como o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), e a
prescrição de medicamentos para tratar os sintomas.

Esse modelo sequestra subjetividades porque acredita que a doença mental é causada por
disfunções biológicas ou químicas no cérebro e que o tratamento deve ser baseado na
administração de medicamentos psicotrópicos. Essa abordagem ignora fatores sociais,
culturais e ambientais que podem influenciar a saúde mental de uma pessoa, além de
desconsiderar a capacidade do paciente de compreender e interpretar sua própria
experiência.

Ao se concentrar apenas nos sintomas, o modelo psiquiátrico/biomédico também pode levar


à medicalização excessiva, levando à dependência de medicamentos e ignorando outras
formas de tratamento, como a psicoterapia e a abordagem da saúde mental comunitária.
Isso pode contribuir para a estigmatização e a marginalização dos pacientes que sofrem de
doenças mentais, além de reduzir a possibilidade de recuperação completa, visando apenas
um “tratamento” adaptativo.

10. Explique a atenção psicossocial à saúde mental como um processo social


complexo.
A atenção psicossocial à saúde mental é um processo social complexo que busca promover
a inclusão e a participação social dos sujeitos em sofrimento mental, por meio da
construção de redes de cuidados que envolvem diferentes setores da sociedade, incluindo
serviços de saúde, assistência social, educação, cultura, trabalho e lazer.

A atenção psicossocial à saúde mental pode ser entendida como um processo social
complexo que envolve múltiplas dimensões. De acordo com os textos sugeridos, a atenção
psicossocial não se limita apenas aos aspectos clínicos e biomédicos, mas abrange a
dimensão social, cultural, política e econômica do sofrimento psíquico.

Uma das dimensões importantes da atenção psicossocial é a dimensão política, que


envolve a garantia de direitos e a luta contra a discriminação e o preconceito em relação às
pessoas em sofrimento mental. A atenção psicossocial também tem uma dimensão cultural,
que considera as diferentes formas de expressão do sofrimento psíquico em diferentes
culturas e contextos sociais.

Outra dimensão importante é a dimensão econômica, que envolve a questão do acesso aos
serviços de saúde mental e a garantia de condições de vida dignas para as pessoas em
sofrimento. Além disso, a atenção psicossocial também aborda a dimensão subjetiva, que
considera a experiência do sofrimento psíquico pelos sujeitos e a importância da escuta e
do acolhimento no processo terapêutico.
A atenção psicossocial é um processo dinâmico e complexo que exige a participação de
diferentes atores sociais, como usuários, familiares, profissionais de saúde e gestores
públicos. A atenção psicossocial também envolve a articulação de diferentes políticas
públicas, como saúde, assistência social, educação, trabalho e cultura.

Em resumo, a atenção psicossocial à saúde mental pode ser entendida como um processo
social complexo que envolve múltiplas dimensões e requer a participação ativa de
diferentes atores sociais e a articulação de diferentes políticas públicas. Essa abordagem
ampliada e integrada da saúde mental tem como objetivo garantir a cidadania das pessoas
em sofrimento, promovendo sua inclusão social e sua autonomia.

11. Explique cada dimensão do processo social complexo e como elas são
importantes para construir a cidadania das pessoas em sofrimento.
As dimensões do processo social complexo incluem a produção de conhecimento, a
organização do cuidado, a formação de recursos humanos, a mobilização social e a
construção de políticas públicas. Essas dimensões são importantes para construir a
cidadania das pessoas em sofrimento porque buscam promover a participação ativa dos
usuários, a valorização da diversidade cultural e a inclusão social.

O processo social complexo é composto por várias dimensões, que são interdependentes e
interatuam entre si, influenciando a construção da cidadania das pessoas em sofrimento. A
seguir, explicarei cada uma dessas dimensões com base nos textos indicados.

Dimensão epistemológica: essa dimensão se refere ao modo como o conhecimento é


produzido e legitimado na sociedade. Segundo Boaventura de Sousa Santos, o paradigma
dominante, baseado na ciência positivista, é limitado e excludente, pois só considera como
verdadeiros os conhecimentos que podem ser comprovados empiricamente. Já o
paradigma emergente, que valoriza a diversidade epistemológica e reconhece a existência
de múltiplos saberes, pode ser mais inclusivo e adequado para lidar com as complexidades
do mundo atual. Essa dimensão é importante para a construção da cidadania das pessoas
em sofrimento porque reconhece a importância de diferentes formas de conhecimento na
promoção da saúde mental e no enfrentamento do estigma e da discriminação.

Dimensão ontológica: essa dimensão se refere às concepções sobre a natureza humana e


sobre a relação entre indivíduo e sociedade. Segundo Boaventura de Sousa Santos, o
paradigma dominante concebe o indivíduo como um ser racional e autônomo, separado do
mundo e das outras pessoas. Já o paradigma emergente reconhece a interdependência
entre os seres humanos e a importância das emoções, da subjetividade e das relações
sociais na formação da identidade. Essa dimensão é importante para a construção da
cidadania das pessoas em sofrimento porque valoriza a diversidade de experiências e
identidades, e reconhece a importância da solidariedade e da participação social para a
promoção da saúde mental.

Dimensão política: essa dimensão se refere às relações de poder que se estabelecem na


sociedade. Segundo Paulo Amarante, o campo da saúde mental e a atenção psicossocial
estão relacionados a um projeto político que busca a democratização da sociedade e a
transformação das relações de poder. Isso implica na ampliação dos direitos e da
participação social das pessoas em sofrimento, na superação do modelo hospitalocêntrico e
na valorização dos serviços comunitários e da rede de apoio social. Essa dimensão é
importante para a construção da cidadania das pessoas em sofrimento porque reconhece a
importância da participação social na construção de políticas públicas que promovam a
saúde mental e a inclusão social.

Dimensão ética: essa dimensão se refere aos valores e princípios que orientam a ação das
pessoas e da sociedade. Segundo Paulo Amarante, a atenção psicossocial deve ser
pautada por valores como a solidariedade, a autonomia, a equidade e a justiça social. Isso
implica na superação do preconceito e da discriminação em relação às pessoas em
sofrimento, na valorização da diversidade e da pluralidade de formas de vida, e na
promoção de práticas de cuidado que respeitem a autonomia e os direitos das pessoas.

12. Explique como se entende a crise no modelo psiquiátrico clássico e no modelo de


atenção psicossocial. Como se dá o cuidado na crise em cada modelo? Por que se
considera tão importante o trabalho em rede na atenção psicossocial?
A crise no modelo psiquiátrico clássico se deve ao fato de que esse modelo se concentra no
diagnóstico e no tratamento medicamentoso, muitas vezes sem levar em conta as causas
sociais e psicológicas dos transtornos mentais. Esse modelo é baseado em uma
perspectiva biologicista, que considera o problema mental como uma doença a ser tratada
através da medicação.
Já o modelo de atenção psicossocial surge como uma alternativa ao modelo psiquiátrico
clássico, buscando uma abordagem mais ampla e humanizada para o cuidado de pessoas
em crise. Nesse modelo, busca-se entender a crise como um momento de ruptura do sujeito
com o seu contexto social, e se valoriza a importância da escuta e do diálogo como formas
de intervenção.
No cuidado em crise no modelo psiquiátrico clássico, o paciente é hospitalizado e
submetido a um tratamento medicamentoso. Já no modelo de atenção psicossocial, o
cuidado é realizado em um contexto mais aberto, valorizando-se a participação ativa do
paciente e sua família no processo de tratamento.
O trabalho em rede é considerado importante na atenção psicossocial porque essa
abordagem envolve diferentes profissionais, instituições e setores da sociedade na busca
de uma resposta mais efetiva e humanizada para as crises em saúde mental. Assim,
busca-se uma intervenção mais integral e não somente centrada no profissional de saúde
mental.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1º BIMESTRE


OBRIGATÓRIAS: (atenção para as páginas)
1. SANTOS, Boaventura de Souza. O paradigma dominante. In: SANTOS, Boaventura de
Souza.
Um discurso sobre as ciências, 2008. pp. 20-40.
2. SANTOS, Boaventura de Souza. O paradigma emergente. In: SANTOS, Boaventura de
Souza.
Um discurso sobre as ciências, 2008. pp. 59-92.
3. AMARANTE, Paulo. Estratégias e dimensões do campo da saúde mental e Atenção
psicossocial. In: AMARANTE, Paulo. Atenção Psicossocial e Saúde Mental, 2007. pp.
61-79.
4. AMARANTE, Paulo. Caminhos e Tendências das Políticas de Saúde Mental e Atenção
Psicossocial no Brasil. In: AMARANTE, Paulo. Atenção Psicossocial e Saúde Mental, 2007.
pp. 81-86.

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