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Na área das ciências sociais e humanas, essa visão determinista influenciou a ideia de que
a sociedade era regida por leis objetivas e universais, que poderiam ser descobertas
através de métodos científicos. Isso levou a uma tentativa de aplicar modelos de explicação
da natureza para entender a sociedade, ignorando a complexidade dos fenômenos sociais e
culturais.
No campo da saúde mental, essa visão determinista influenciou o tratamento das doenças
mentais como problemas meramente biológicos, desconsiderando os aspectos sociais,
culturais e psicológicos envolvidos. A abordagem da atenção psicossocial, por sua vez,
busca compreender os transtornos mentais em sua complexidade, considerando fatores
como a história de vida do paciente, sua cultura, sua rede social e seus traumas, entre
outros aspectos.
5. Quais são os obstáculos pelos quais não se pode tratar as Ciências Sociais da
mesma forma que as Ciências Naturais?
TRECHO DO LIVRO: Alguns dos obstáculos à cientificidade das ciências sociais, os quais,
segundo o paradigma ainda dominante, seriam responsáveis pelo atraso das ciências
sociais em relação às ciências naturais. Sucede contudo que, também como referi, o
avanço do conhecimento das ciências naturais e a reflexão epistemológica que ele tem
suscitado têm vindo a mostrar que os obstáculos ao conhecimento científico da sociedade e
da cultura são de facto condições do conhecimento em geral, tanto científico-social como
científico-natural. Ou seja, o que antes era a causa do maior atraso das ciências sociais é
hoje o resultado do maior avanço das ciências naturais. Daí também que a concepção de
Thomas Kuhn sobre o carácter pré-paradigmático (isto é, menos desenvolvido) das ciências
sociais, que eu, aliás, subscrevi e reformulei noutros escritos, tenha de ser abandonada ou
profundamente revista. A superação da dicotomia ciências naturais/ciências sociais tende
assim a revalorizar os estudos humanísticos. Mas esta revalorização não ocorrerá sem que
as humanidades sejam, elas também, profundamente transformadas.
Os obstáculos que impedem que as Ciências Sociais sejam tratadas da mesma forma que
as Ciências Naturais são diversos. Alguns desses obstáculos incluem a complexidade dos
fenômenos sociais, que envolvem fatores subjetivos, culturais, históricos e políticos; a
dificuldade de controlar e manipular as variáveis em experimentos sociais; a interação entre
pesquisadores e pesquisados; e a influência da posição social do pesquisador na produção
do conhecimento.
Além disso, é importante notar que a tentativa de tratar as Ciências Sociais da mesma
forma que as Ciências Naturais pode levar a uma simplificação excessiva e a uma falta de
sensibilidade em relação à complexidade e diversidade dos fenômenos sociais. Isso pode
resultar em uma abordagem reducionista e pouco útil para entender os problemas sociais e
promover mudanças positivas.
Por outro lado, o paradigma emergente sugere que a superação da dicotomia entre
Ciências Naturais e Ciências Sociais pode levar a uma revalorização dos estudos
humanísticos e a uma maior compreensão da complexidade dos fenômenos sociais. Isso
pode permitir uma abordagem mais integrada e holística, que leve em consideração não
apenas as variáveis objetivas, mas também as subjetivas e culturais.
A afirmação "a distinção sujeito/objeto sofre transformação radical" significa que a relação
entre o sujeito (quem conhece) e o objeto (aquilo que é conhecido) é reconfigurada no
paradigma pós-moderno. No contexto desse paradigma, todo conhecimento é
autoconhecimento, o que significa que a construção do conhecimento é um processo que
envolve a participação ativa do sujeito. Isso significa que o sujeito não é uma entidade
isolada e objetiva que simplesmente "descobre" a verdade do mundo lá fora. Pelo contrário,
o sujeito é um agente criativo que desempenha um papel ativo na produção do
conhecimento.
Esse modelo sequestra subjetividades porque acredita que a doença mental é causada por
disfunções biológicas ou químicas no cérebro e que o tratamento deve ser baseado na
administração de medicamentos psicotrópicos. Essa abordagem ignora fatores sociais,
culturais e ambientais que podem influenciar a saúde mental de uma pessoa, além de
desconsiderar a capacidade do paciente de compreender e interpretar sua própria
experiência.
A atenção psicossocial à saúde mental pode ser entendida como um processo social
complexo que envolve múltiplas dimensões. De acordo com os textos sugeridos, a atenção
psicossocial não se limita apenas aos aspectos clínicos e biomédicos, mas abrange a
dimensão social, cultural, política e econômica do sofrimento psíquico.
Outra dimensão importante é a dimensão econômica, que envolve a questão do acesso aos
serviços de saúde mental e a garantia de condições de vida dignas para as pessoas em
sofrimento. Além disso, a atenção psicossocial também aborda a dimensão subjetiva, que
considera a experiência do sofrimento psíquico pelos sujeitos e a importância da escuta e
do acolhimento no processo terapêutico.
A atenção psicossocial é um processo dinâmico e complexo que exige a participação de
diferentes atores sociais, como usuários, familiares, profissionais de saúde e gestores
públicos. A atenção psicossocial também envolve a articulação de diferentes políticas
públicas, como saúde, assistência social, educação, trabalho e cultura.
Em resumo, a atenção psicossocial à saúde mental pode ser entendida como um processo
social complexo que envolve múltiplas dimensões e requer a participação ativa de
diferentes atores sociais e a articulação de diferentes políticas públicas. Essa abordagem
ampliada e integrada da saúde mental tem como objetivo garantir a cidadania das pessoas
em sofrimento, promovendo sua inclusão social e sua autonomia.
11. Explique cada dimensão do processo social complexo e como elas são
importantes para construir a cidadania das pessoas em sofrimento.
As dimensões do processo social complexo incluem a produção de conhecimento, a
organização do cuidado, a formação de recursos humanos, a mobilização social e a
construção de políticas públicas. Essas dimensões são importantes para construir a
cidadania das pessoas em sofrimento porque buscam promover a participação ativa dos
usuários, a valorização da diversidade cultural e a inclusão social.
O processo social complexo é composto por várias dimensões, que são interdependentes e
interatuam entre si, influenciando a construção da cidadania das pessoas em sofrimento. A
seguir, explicarei cada uma dessas dimensões com base nos textos indicados.
Dimensão ética: essa dimensão se refere aos valores e princípios que orientam a ação das
pessoas e da sociedade. Segundo Paulo Amarante, a atenção psicossocial deve ser
pautada por valores como a solidariedade, a autonomia, a equidade e a justiça social. Isso
implica na superação do preconceito e da discriminação em relação às pessoas em
sofrimento, na valorização da diversidade e da pluralidade de formas de vida, e na
promoção de práticas de cuidado que respeitem a autonomia e os direitos das pessoas.