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Curso de Graduação em Psicologia

Disciplina: Processos Psicológicos, Biológicos e Cognição


Professor: Kevin D. S. Leyser
Noções Introdutórias e Noção de Processo

Introdução

As primeiras abordagens a propósito de todo campo do conhecimento ou saber científico, implica no


desafio de propor uma “simplificação necessária”, que considere o que foi historicamente construído e
que não fragmente o conhecimento ou comprometa seus fundamentos, nem sua complexidade ou a
articulação dos conceitos que serão gradativamente apresentados.

Outro desafio para construção das bases que nos interessam para este estudo é o de estabelecer
as articulações e investigar outros campos dos saberes, além daqueles mais consagrados como
científicos.

É de bom-tom, hoje, contestar a oposição das ciências às letras, na medida em que


relações cada vez mais numerosas, quer de modelo quer de método, ligam essas duas
regiões e apagam frequentemente sua fronteira; e é possível que essa oposição apareça
um dia como um mito histórico. (BARTHES, 1978, p. 20).

Gostaria também de alinhar ao comentário de Barthes, pensador francês, a reflexão empreendida


por um intelectual brasileiro, Renato Janine Ribeiro quando apresenta seu projeto de um novo curso na
USP – Humanidades.

É isso o que pretendemos: que das artes, da literatura e da filosofia seja possível retirar
pontos de abordagem que enriqueçam o trabalho nas ciências humanas. (RIBEIRO, 2001,
p. 18).

Outra recomendação importante de registrar sobre a ciência e sobre o papel dos cientistas é
encontrada nas pesquisas empreendidas por Bauman (1999). Sua pesquisa sobre a modernidade e
sobre as condições de possibilidade para o Holocausto demonstrou como as instituições científicas
acabaram por desempenhar um papel neste condenável episódio da humanidade.

Não há razão para duvidar das boas intenções dos cientistas. Há ainda menos motivos
para acusá-los de premeditação dolosa. O que a lição do Holocausto nos ensinou, porém,
foi duvidar da sabedoria pretensiosa dos cientistas ao dizerem o que é bom ou mau, da
capacidade da ciência como autoridade moral, enfim da capacidade dos cientistas de
identificar questões morais e de fazer um julgamento moral dos efeitos de suas ações.
(BAUMAN, 1999, p. 54).

É na perspectiva destes desafios que nos encontramos para desenvolver a disciplina (unidade
curricular) “Processos Psicológicos, Biológicos e Cognição”, mas é certo que encontraremos outros
desafios, igualmente estimulantes.

Ao estudarmos os Processos Psicológicos Básicos (suas bases biológicas, sociais e culturais)


objetivamos apresentar um panorama sintético de um campo muito amplo de lógicas, sentidos, razões e
configurações. Conceitos fundamentais como consciente e inconsciente, causa e efeito, percepção,
memória, sensação, figura e fundo, sociedade e cultura, e outros, serão abordados em seus princípios.
Eles ganharão especificidade com o tempo, conforme pudermos aproximá-los dos contextos teóricos de
onde decorrem e na medida do aprofundamento empreendido de modo articulado e transdisciplinar por
todas as disciplinas.

O homem sempre buscou o entendimento sobre suas determinações e tal desejo aliado a sua
capacidade de observação o levou a perceber ou criar relações entre certos fatos, fenômenos ou
acontecimentos. No entanto, o senso comum está repleto de constatações ou criações desta natureza,
embora, nem sempre validada pela ciência. Não queremos afirmar que o imaginário não tenha
reconhecimento como saber legítimo, mas que não se enquadra nos protocolos fornecidos pelo rigor
científico.
Tendo concluído estas observações iniciais e recomendações, daremos continuidade ao nosso
estudo, considerando sobre a noção de processo.

Considerações sobre a noção de “Processo” e o Conhecimento em Psicologia

Primeiramente realizemos uma aproximação do tema, verificando no dicionário o significado da


palavra processo, acrescentamos também um extrato de sentido retirado do Dicionário de Filosofia:

[...] sucessão de estados ou de mudanças; maneira pela qual se realiza uma operação,
segundo determinadas normas; método, técnica; seqüência de estados de um sistema
que se transforma; evolução. (Aurélio Digital, 2003).

En la época contemporánea el concepto de "proceso" ha sido empleado más bien como


concepto contrapuesto al de "substancia".[...] Por una parte, el proceso necesita
diferenciarse de la evolución, que es el paso de un estado a otro según una ley de
desarrollo o desenvolvimiento; por otra, ha de distinguirse del progreso, que puede
considerarse como un proceso o una evolución en los cuales van incorporados valores[…]
proceso puede significar entonces el modo mismo como está constituida cualquier
realidad. (MORA, 2000).

Neste momento temos ao menos um eixo para nos orientar. Podemos seguir pelos fundamentos
fornecidos pela filosofia para seguir até os processos psicológicos naquilo que são suas bases. Tendo
isso em mente optamos por abordar os seguintes conteúdos:

• Psicologia Cognitiva
• Histórico das Neurociências
• Sensação e Percepção
• Sistemas Sensoriais
• Organização do Sistema Nervoso e Neuroanatomia
• Impulso Nervoso e Potencial de Ação
• Atenção e Consciência
• Atenção, Vigília e Sono
• Sinapses e Neurotransmissão
• Memória
• Sistemas de Memória
• Inteligência
• Psicologia da Emoção
• Sistema Límbico e Emoção
• Introdução à Neuropsicologia
• Neuropsicologia das Funções Executivas e da Atenção
• Motivação
• Neuropsicologia da Linguagem

Ao abordar os processos psicológicos básicos podemos utilizar indistintamente os termos:


processo, desenvolvimento, progresso, evolução?

Vale observar que além da diversidade de teorias e amplitude de suas “lógicas” específicas, os
elementos contidos num mesmo processo podem também adquirir conotações diferentes dependendo
do desenvolvimento em que se encontra uma dada teoria num certo momento. Exemplo disto é o caso
da “tópica do psiquismo” para a psicanálise. O desenvolvimento das idéias relativas ao lugar e dinâmica
do inconsciente é apresentado por Freud em dois momentos históricos diferentes da teoria e são
nomeadas por 1ª e 2ª tópica. A 1ª tópica apresenta o Consciente, o Pré-consciente e Inconsciente como
correspondendo aos lugares psíquicos, a 2ª e mais conhecida, apresenta o Id o Ego e o Superego.

Por que o processo teve alteração? A mudança implica que o modelo anterior foi completamente
abandonado? Os processos nas ciências humanas se constituem da mesma forma que nas demais
ciências?
Com o objetivo de explorar melhor o conceito de processo, analisemos a resenha feita pelo Prof.
Robson S. de Carvalho, de trechos do livro de BERLO (1972). Sua abordagem vem dos estudos em
comunicação, mas revela-se de interesse incontestável para nosso estudo.
O conceito de processo é fundamental para a compreensão da realidade física e da realidade
social e daí para a compreensão dos processos cognitivos/biológicos/psicológicos. Procure um
sentido para a palavra "processo".
Para isso:

a) leia atentamente o texto, sublinhando as descrições que o autor faz de processo.


b) a partir das expressões sublinhadas, tente elaborar uma definição de processo.
c) Caso julgar necessário, melhore sua definição, recorrendo a outras fontes de informação.

REFERÊNCIAS:

BARTHES, Roland. Leçon. Paris: Éditions du Seuil, 1978.


BAUMAN, Z. Modernidade e ambivalência. Rio de janeiro: Jorge Zahar, 1999.

BERLO, D. K. O processo da comunicação. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1972.

MORA, F. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Edições Loyola, 2000.

RIBEIRO, R. J. Humanidades: um novo curso na USP. São Paulo: EDUSP, 2001.

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