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em Psicologia
Bases Epistemológicas
Revisão Textual:
Aline Gonçalves
Bases Epistemológicas
• Introdução;
• Epistemologia e Produção de Conhecimento;
• A Contribuição da Fenomenologia;
• A Contribuição do Marxismo;
• Desenvolvimento do Pensamento Social Crítico.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Introduzir e apresentar o debate sobre o surgimento do pensamento social crítico;
• Fundamentar o processo de produção de conhecimento e ciência como um fenômeno his-
tórico e social;
• Debater modelos e paradigmas de ciência e intervenção.
UNIDADE Bases Epistemológicas
Introdução
Nesta unidade, apresentarei você a uma importante discussão acerca da produção
do conhecimento, em termos de possíveis definições do que seria o conhecimento, de
como o constituímos e de como ele opera na formação de um conhecimento crítico
em Psicologia.
Para tal, utilizaremos uma explanação introdutória sobre o tema, para chegar ao
tema do conhecimento científico, e seguidamente uma diferenciação dos distintos mo-
dos de pensar dentro da própria ciência – introduzindo, ao fim, os caminhos que nos
conduziram à formação de um pensamento social histórico-crítico.
Figura 1
Fonte: Getty Images
Assista ao vídeo UFBA Philosophy Lectures – Teoria do Conhecimento, com o Prof. Dr. Marco
Ruffino (UNICAMP): http://youtu.be/9kxxRSRd5UA
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Importante destacar, a princípio, que a história da Epistemologia é eurocentrada –
perspectiva de produção de conhecimento e de ciência que se dá a partir da noção da
Europa como o centro do mundo e como polo do poder e da sabedoria. Tal constatação
faz-se fundamental para compreendermos as bases ideológicas de produção de ciência,
a qual exploraremos a seguir.
A grande marca que diferencia a ciência dessas outras formas de saber, nesses moldes,
é a técnica, o procedimento, a replicação; o chamado “método científico”. Chauí (2014)
evidencia a dimensão subjacente desse modelo científico, a perspectiva do progresso,
do desenvolvimento. Segundo a filósofa brasileira, a consolidação dessa perspectiva se
deu com o pensamento de Augusto Comte, filósofo e sociólogo francês, que atribuía o
progresso às ciências positivas – ou seja, ciências que permitiriam aos seres humanos
“saber para prever, prever para prover”, de modo que o desenvolvimento social se faria
por aumento do conhecimento científico e do controle científico da sociedade.
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Essa classificação inicial perdurou por muito tempo, até meados do século XVII, com
a separação de conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos. Já no século XIX, che-
gamos à classificação até hoje utilizada:
• Ciências matemáticas ou lógico-matemáticas;
• Ciências naturais;
• Ciências humanas ou sociais;
• Ciências aplicadas.
Aqui, nós nos deteremos à análise das bases epistemológicas das ciências humanas,
em que Chauí (2014) afirma que, embora seja evidente que toda e qualquer ciência é hu-
mana, porque resulta da atividade humana, ciências humanas têm o próprio ser humano
como objeto. Reconhecidamente como uma ciência recente, datada do século XIX, foi
levada a imitar métodos científicos das ciências matemáticas e naturais, tratando o ser
humano como natural, matematizável e experimental. Ou seja, as ciências humanas
iniciaram-se empregando conceitos, técnicas e métodos das ciências da natureza, pro-
duzindo sérios impactos sociais (como mencionados anteriormente).
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Mas que tipo de cientificidade é necessária para se investigar os seres humanos?
O sociólogo alemão Max Weber propôs que as ciências humanas trabalhassem seus
objetos como tipos de ideias e não como fatos empíricos, como tradicionalmente lidas a
partir das influências do positivismo. Além dele, identificam-se leituras antagônicas ao
positivismo no campo das ciências humanas, que são prioritariamente a fenomenologia
e o marxismo, as quais apresentaremos a seguir.
A Contribuição da Fenomenologia
No final do século XIX e início do século XX, emerge como problemática a pos-
sibilidade de produção de Filosofia como ciência rigorosa, com base na investigação
transcendental sobre as condições de possibilidades apriorísticas do fenômeno. Foi com
Edmund Husserl (1959-1938), matemático e filósofo alemão, que se estabeleceu a escola
da fenomenologia.
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A Contribuição do Marxismo
A leitura da história como elemento para interpretação dos fenômenos humanos
como expressão e produto das contradições sociais, de lutas e conflitos políticos deter-
minados pela contradição Capital-Trabalho. Essa é a tese central presente na obra de
Karl Marx e Friedrich Engels.
Desenvolvimento do
Pensamento Social Crítico
Para que uma ciência crítica?
Como vimos, a produção de conhecimento nem sempre está com os pés na realidade
social e histórica que vivemos. No Brasil, do ponto de vista sociológico, a partir dos anos
1950, iniciou-se um novo campo de investigação: a produção do pensamento social
como expressão das transformações sociais de nosso país.
Segundo Leme e Brasil Junior (2014), esse movimento revela, em alguma medida, a
agenda contemporânea sobre o processo de imaginar e conceituar a realidade brasileira
a partir de um horizonte histórico. Ou, em outros termos, refere-se à necessidade de
se pensar o Brasil, a questão do seu desenvolvimento cultural, social e político, como
objeto de conhecimento e estudo.
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Conhecer é um ato intencional, e a fundamentação do processo do conhecer sempre
está amparada numa concepção de sujeito (ontologia), num método e numa visão de
ética/política específica.
Isso requer uma metodologia dialógica, dinâmica e transformadora, que não é exógena
ao processo, mas, sim, expressão de uma forma implicada de construção de conheci-
mento. Com base nessa concepção metodológica, a autora propõe a reflexão sobre as
diferentes possibilidades de intervenção e de avaliação que respondam às características de
cada fenômeno e sobre os instrumentos metodológicos mais apropriados a cada realidade.
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Âmbito Perguntas Características
• Quem são as pessoas da comunidade?
• Quem são os agentes externos?
• Quais são os interesses de cada um?
• Como cada um dos agentes
(internos e externos) produzem
Ética • Reflexão sobre as relações. conhecimento?
• Qual o lugar de cada um?
• Para que as intervenções?
• O que se faz a partir da intervenção?
• Como se dá a relação entre
os agentes?
• Existem formas de exclusão
• Organização comunitária cen- na comunidade?
trada nos interesses, objetivos • Para quem é o conhecimento e a
e processos próprios; intervenção? Quem se beneficia
Política • Defesa de direitos; com essa ação?
• Tomada de decisão reflexiva: • Quais são os efeitos das intervenções?
Problematização, conscientiza- • Como se dá a defesa de direitos?
ção e desideologização. • Qual o compromisso dos agentes in-
ternos e externos com a comunidade?
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Convite à Filosofia
Partindo do princípio de que a vida cotidiana é toda feita de crenças silenciosas,
da aceitação de evidências que nunca questionamos porque nos parecem naturais
e óbvias, a autora analisa, nesse livro, a Filosofia e sua utilidade como forma de
indicação de um estado de espírito e respeito pelo saber. CHAUÍ, M. Convite à
Filosofia. São Paulo: Ática, 1999.
A Crise das Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental:
uma Introdução à Filosofia Fenomenológica
Husserl considera que a ciência faz parte integrante da origem e do destino da hu-
manidade europeia. Por esta razão, a crise das ciências europeias, muito mais do que
uma crise epistemológica, é uma crise espiritual e existencial da Europa. No entanto,
dadas a crescente europeização das outras humanidades e a cientifização e tendencial
modernização de todas as outras culturas, a crise europeia é, além disto, uma crise da
humanidade como um todo. Esta crise, de acordo com o autor, é uma decisão acerca
do sentido da história europeia e humana em dois níveis. Em primeiro lugar, saber
se é possível uma fundamentação última da razão e da ciência por ela produzida;
em segundo lugar, trata-se de saber se a humanidade, podendo encontrar um solo
comum onde se radicar, saberá conduzir-se “no esforço infinito de autonormatização
por meio desta verdade e genuinidade da humanidade”. HUSSERL, E. A Crise das
Ciências Europeias e a Fenomenologia Transcendental: Uma Introdução à Filo-
sofia Fenomenológica. São Paulo: Forense Universitária, 2012.
A Psicologia Sócio-histórica: uma Perspectiva Crítica em Psicologia
A Psicologia Sócio-Histórica tem suas raízes na obra de pensadores russos como
Vigotski, Luria e outros. Esta obra pretende ser introdutória na Psicologia Sócio-
-Histórica, trazendo os fundamentos teóricos da abordagem, assim como a discus-
são metodológica e o debate sobre a prática a partir dessa perspectiva. BOCK,
A. M. B. Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica em psicologia. São
Paulo: Cortez. 6ª Ed., 2017.
Vídeos
Métodos de la Psicología Comunitaria
A doutora Maritza Montero esteve na Universidad Pontificia Bolivariana conversando
sobre os métodos da Psicologia Comunitária construídos na América Latina.
https://youtu.be/1-A1f2dR4Ak
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Referências
ABIB, J. A. D. Epistemologia pluralizada e história da psicologia. Sci. Stud.,
São Paulo, v. 7, n. 2, p. 195-208, 2009. Disponível em: <http://doi.org/10.1590/S1678-
31662009000200002>. Acesso em: 30/01/2021.
PEREIRA, F. M.; PEREIRA NETO, A. O Psicólogo no Brasil: notas sobre seu processo
de profissionalização. Psicol. Estud., Maringá, v. 8, n. 2, p. 19-27, 2003. Disponível em:
<http://doi.org/10.1590/S1413-73722003000200003>. Acesso em: 30/01/2021.
SILVA, S. S. da. A relação entre ciência e senso comum: para uma compreensão do
patrimônio cultural de natureza material e imaterial. Ponto Urbe, v. 9, 2011. Disponível
em: <http://doi.org/10.4000/pontourbe.359>. Acesso em: 30/01/2021.
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