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A Metodologia Científica

Marcio Tadeu Girotti

Introdução
Você sabia que conhecimento acadêmico-científico contém normas para seu desenvolvi-
mento? Pois bem. Tais conhecimentos são reunidos na metodologia científica e todo saber é
constituído por conhecimentos comprovados ou não. E nesse contexto, o saber formal, válido e
universal, é o conhecimento científico. O conhecimento científico não é simplesmente o conheci-
mento da ciência, mas sim aquele que se preocupa com o rigor metodológico e a validade de seus
resultados. Vamos entender como isso funciona? Acompanhe!

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• entender o que é a metodologia científica e suas aplicações;


•• compreender o que é conhecimento científico.

1 O que é metodologia científica


A metodologia científica diz respeito aos instrumentos que servem para a investigação cien-
tífica, que busca conhecer e obter conhecimento. O processo de conhecer está ligado ao método,
que orienta e define as fases da investigação: o fazer, o conhecer e o agir.
O método representa um caminho para se chegar a um fim, a observação sistemática da
realidade e o controle das informações que se pode obter ao lidar com fenômenos da experiência
sensível (KNECHTEL, 2014). A definição do método passa pelo tipo de pesquisa engendrada, pela
natureza do objeto a que se aplica, e ao objeto de análise e resultados esperados.
Veja que a ciência possui métodos próprios, mas o que se espera da metodologia é seu
emprego de forma adequada, visando a um resultado que se pretende atingir.

FIQUE ATENTO!
Método é o guia da pesquisa, o norte, o horizonte, o instrumento que serve ao pes-
quisador para atingir o fim pretendido, adequado para cada tipo de objetivo e objeto
a ser investigado.

Deve-se compreender que método é o instrumento e guia para a pesquisa, e a ciência é o


próprio conhecimento. Em outras palavras, a metodologia científica é o aparato que instrumenta-
liza o pesquisador na sua investigação em busca de novos saberes ou nas comprovações dos já
adquiridos (KNECHTEL, 2014).
Figura 1 – A metodologia científica

METODOLOGIA
CIENTÍFICA Observação

Questão

Hipótese

Experimento

Análise

Conclusão

Fonte: Becris/Shutterstock.com

Não há pesquisa científica sem método, logo, a metodologia da pesquisa é, portanto, “a busca
de formas, instrumentos e caminhos para a construção do conhecimento” (KNECHTEL, 2014, p. 27).

SAIBA MAIS!
Para cada pesquisa há um método, que orienta o pesquisador para atingir os
resultados a partir dos objetivos e hipóteses estabelecidos, cabendo a ele escolher
qual o mais adequado. Leia a obra de Odília Fachin, “Fundamentos de metodologia”,
em que a autora explica e exemplifica o método para cada tipo de pesquisa.

2 A ciência e os saberes
Diante do desenvolvimento da humanidade, fez-se necessária a compreensão dos fenôme-
nos do universo que influenciam a vida, os quais levaram o ser humano a buscar conhecimento,
para entender sua existência. Assim, o conhecimento adquirido foi sendo acumulado, revisado,
aprimorado, constituindo uma gama de saberes, repleto de conhecimentos racionais.
Desta forma, a ciência lida com fatos da realidade sensível, e busca compreendê-los por
meio de uma análise sistemática, a fim de comprovar o conhecimento de forma universal. Com
proposições que validem as hipóteses da ciência e o compartilhamento dos resultados obtidos
com a comunidade científica, é possível comprovar os saberes. Logo, podemos utilizar os saberes
de forma universal.

Figura 2 – A ciência e os saberes

Fonte: Kotoffei/Shutterstock.com

Os saberes da ciência evoluíram ao longo dos séculos, assim, podemos considerar a ciência
como um saber acumulado e especializado, que revisa anteriores, constrói outros, e projeta novos.
Desde a antiguidade, via-se a necessidade de classificar os saberes, especificando os conhecimen-
tos e dividindo a ciência em áreas determinadas, conforme seu objeto de estudo (FACHIN, 2006).

EXEMPLO
A classificação das ciências nos ajuda a entender melhor o seu objeto de estudo: em
linhas gerais, podemos dizer que a biologia estuda a vida, a psicologia estuda a mente,
a antropologia estuda o indivíduo nas culturas, e a sociologia estuda as relações indi-
víduo e sociedade.

Agora, seguindo uma classificação sistematizada, podemos compreender a divisão da ciên-


cia da seguinte forma (FACHIN, 2006):

•• em Aristóteles temos a divisão: teórica (física, matemática e metafísica); prática (ética,


economia e política); poéticas, tem por objeto as obras que o ser humano produz;
•• em Francis Bacon a ciência é: memorativa (história natural, civil e sagrada); imaginação
(poesia épica, dramática e alegórica); razão, ligada à filosofia (Deus, homem);
•• para Ampère elas são como cosmológicas (ou da natureza) ou noológicas (ou do
espírito);
•• já August Comte ciências nomeia como: matemática; astronomia; física; química;
fisiologia;
•• em Herbert Spencer temos: abstrata (lógica e matemática); abstrato-concretas (mecâ-
nica, física e química); concretas (astronomia, biologia e psicologia);
•• vemos em Wundt a ciência em: formais (como a matemática); concreta (como as ciên-
cias da natureza e do espírito).

A classificação moderna da ciência pode ser dividida em:

•• exatas: trabalha relações de grandeza (matemática);


•• naturais: trabalha com dados oferecidos pela natureza (biologia, física e química);
•• humanas: trata da vida e do comportamento do homem (sociologia, psicologia, histó-
ria, entre outras).

Essas classificações nos ajudam a perceber a grandeza da ciência, seus ramos e suas
especialidades.

FIQUE ATENTO!
A classificação das ciências não é única. A classificação acima é um recurso didá-
tico para melhor entender como a ciência está estruturada e evolui ao longo dos
séculos, acompanhando o desenvolvimento do saber humano.

3 O conhecimento científico
O conhecimento científico trabalha com a classificação e a ordenação dos fatos, compa-
rando, analisando e sintetizando o conhecimento, transformando-o em saber válido e universal,
fundamentado sob leis e princípios que regem o conhecimento acadêmico.
Tornar um conhecimento válido é, no caso das ciências exatas e naturais, comprová-lo, testá-lo
e aprová-lo pela comunidade científica; torná-lo universal é oferecê-lo a todos. No caso das ciências
humanas não há testagem e comprovação, mas há outras formas para a legitimação desse conhe-
cimento na comunidade acadêmica, os quais visam à validade e à universalidade também.
Dado que o ser humano precisa aprimorar-se constantemente, não sendo apenas um recep-
tor passivo, o conhecimento científico auxilia o desenvolvimento do saber humano, fornecendo
um aparato sistemático, metódico, analítico e crítico para a busca e descoberta de novos saberes
(FACHIN, 2006).
EXEMPLO

A busca por um novo remédio necessita de uma teoria que será testada na prática,
podendo ou não ser validada. Em linhas gerais, se falsa, troca-se a teoria e, verifica-se
novamente; se válida, a comunidade científica aprova a teoria e ela se torna universal.

4 As diversas abordagens do real


O ser humano é capaz de interpretar a realidade de diversas formas. Para pensar sobrea reali-
dade, podemos contar com as seguintes possibilidades: mito, religião, arte/cultura, senso comum,
ciência e filosofia.

SAIBA MAIS!
Leia o artigo “Mitos e verdades em ciência e religião: uma perspectiva histórica”,
de Ronald L. Numbers, publicado em 2009, e procure relacionar as afirmações
acerca do mito com as verdades da ciência e as contraprovas da religião, no eterno
embate entre o místico e o real. Disponível no link: <http://www.scielo.br/pdf/rpc/
v36n6/v36n6a07.pdf>.

Na antiguidade, o ser humano buscava justificar a vida terrena através do mito, do sobrena-
tural, e sua relação com os deuses. O mito dava sentido à vida em comunidade. Essa crença no
sobrenatural é transmitida de uma geração a outra, mantendo costumes e cultura de determinado
povo (ARANHA, 2006).
Figura 3 – Diversas formas de expressar a fé

Fonte: Rashad Ashurov/Shutterstock.com


FIQUE ATENTO!
Tanto no mito quanto na religião, o elemento base é a crença, acreditar nos deuses
ou em um único Deus e confiar na forma de sua intervenção no mundo, com o po-
der da criação e manutenção da vida.

A visão religiosa da realidade parte da desconstrução do mito e deixa de lado deuses momen-
tâneos para se fiar em um Deus, que, possuindo diversos nomes, é um ser único. É a Fé que faz
o indivíduo acreditar no desconhecido, com a esperança de permanecer no caminho seguro da
religião, na confiança do Deus criador.
Já a visão artística enxerga o mundo por sua expressão e emoção. Essa visão influencia o
outro a perceber o mundo com os olhos do artista.

Figura 4 – Arte como expressão da realidade

Fonte: Anton Evmeshkin/Shutterstock.com

O senso comum é um saber não comprovado, assistemático, que convence por aceitação do
conhecimento transmitido pelo outro. Sofre influência da cultura, por ser um saber que passa de
geração a geração. É empírico e deriva da experiência cotidiana, ingênuo e sem rigor. Observam-se
os fatos acreditando-se em uma verdade sem buscar as provas concretas para sua ocorrência.
A ciência se mostra como um saber rigoroso e sistemático, fragmentado e especializado. Já
a filosofia é um saber que vai até a última consequência, sendo um saber que busca a causa última
de todas as coisas e questionador de todos os outros.
Fechamento
Concluímos esta aula compreendendo que o conhecimento científico contém regras para
o seu desenvolvimento, verificando que a ciência contém diversas áreas, e várias formas de se
interpretar a realidade.

Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• entender o que é o conhecimento científico em sua aplicação às formas de enxergar o


mundo;
•• observar a evolução do saber científico por meio da classificação das ciências.

Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 3. ed. São Paulo: Moderna, 2006.

FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

KNECHTEL, Maria do Rosário. Metodologia da pesquisa em educação: uma abordagem teórico-


-prática dialogada. Curitiba: Intersaberes, 2014.

NUMBERS, Ronald L. Mitos e verdades em ciência e religião: uma perspectiva histórica. Revista
Psiquiatria Clínica, v. 36, n. 6, p. 246-251, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rpc/
v36n6/v36n6a07.pdf>. Acesso em: 12 abr. 2017.

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