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Planejamento de vida e de carreira

Ana Paula Cortat Zambrotti Gomes

Introdução
No mundo do trabalho podemos observar a evolução da carreira profissional no contexto da
globalização, da tecnologia e das novas relações sócio-político-econômicas. Nesta aula vamos estu-
dar diferentes conceitos de carreira e suas implicações na vida pessoal dos envolvidos.

Objetivos de aprendizagem
Ao final desta aula, você será capaz de:

•• relacionar as diferenças entre a carreira tradicional e a carreira sem fronteiras;


•• compreender a importância do planejamento para a vida e a carreira;
•• identificar os principais dilemas entre vida pessoal e profissional.

1 O que é carreira?
Você saberia definir carreira? O termo que tem origem na palavra latim carraria significa
estrada e ganhou novo significado, a partir do fim do século XIX, no contexto do trabalho, compre-
endendo a duração de uma profissão. Coelho (2006) destaca que o termo tem quatro dimensões.
Observe a seguir:

•• progressão: ascensão do indivíduo na hierarquia profissional;


•• profissão: ocupações que apresentam movimentos progressivos e conferem status ao
indivíduo;
•• sequência de ocupações assumidas por um indivíduo: histórico de posições ocupa-
das durante a vida;
•• sequência de experiências relacionadas ao trabalho: atividades e trabalhos realizados
ao longo da vida.

De acordo com Dutra (2013), a carreira não é uma sequência linear de experiências, ao con-
trário, é algo dinâmico e sujeito a mudanças originadas nos indivíduos, nas organizações ou no
mundo do trabalho. A carreira deve ser considerada, na visão do autor, a partir das relações esta-
belecidas entre o indivíduo e a organização, o que inclui interesses e expectativas de ambos.
FIQUE ATENTO!
No mundo do trabalho, o termo carreira está evoluindo a partir de discussões apoia-
das em quatro dimensões: progressão, profissão, sequência de ocupações assumi-
das por um indivíduo e sequência de experiências relacionadas ao trabalho.

2 Carreira tradicional X carreira sem fronteiras


Durante o século XX uma carreira de sucesso estava associada ao ingresso em uma boa
empresa. As empresas ofereciam evolução, estabilidade, treinamento e benefícios e esperavam
dos indivíduos cumprimento das tarefas e observância das normas. Era, muitas vezes, um casa-
mento que só chegava ao fim com a aposentadoria.
Podemos observar, no modelo de carreira tradicional, uma relação de trabalho paternalista
(COELHO, 2006). Em troca de lealdade a organização oferece segurança. Desta forma, ao longo da
vida o indivíduo passa por uma ou duas empresas. Seu sucesso é medido pelas promoções, tra-
duzidas em postos que vai ocupando na organização, pela remuneração e status. Neste modelo,
a responsabilidade pela gestão da carreira é da organização, que estabelece planos de cargos
aos colaboradores. Como diz Coelho (2006, p. 94), “esse padrão alimentou por muitos anos a
esperança dos recém-graduados que ingressavam no mercado de trabalho e entregavam suas
carreiras e, por que não dizer, suas próprias vidas às organizações”.

Figura 1 – Carreira tradicional

Fonte: Peshkova/ Shutterstock.com


EXEMPLO
Um caso típico de carreira tradicional pode ser observado no segmento bancário,
com muitos indivíduos ingressando como office boys e alcançando outras posições
na hierarquia. Há casos, inclusive, de indivíduos que chegaram à presidência, como
em um dos maiores bancos do Brasil.

Entretanto, você deve observar que, as novas concepções de carreira são oriundas de trans-
formações no mundo do trabalho, até então pautadas na lógica de uma sociedade industrial. A
expansão dos mercados, os avanços tecnológicos, a crescente exigência de consumidores, entre
outros fatores, têm marcado a era pós-industrial. Neste contexto, organizações estão se reinven-
tando, reduzindo seus níveis hierárquicos e reestruturando processos, investindo na aquisição de
novas competências, revendo suas relações de trabalho, entre outras estratégias em prol da flexi-
bilidade, inovação e redução de custos. Seguindo esta lógica, as tradicionais carreiras estão dando
lugar às carreiras sem fronteiras (COELHO, 2006).
O modelo de carreira sem fronteiras se baseia em uma sequência de experiências que ultra-
passam os limites de uma empresa, bem como aqueles concernentes a função e ao nível do cargo.
Observe que este modelo se apoia em uma nova relação: em troca de desempenho a organização
oferece empregabilidade. A permanência do indivíduo na organização tende a ser mais curta, em
função de necessidades pontuais da empresa, projetos, alcance de resultados e, também, da ini-
ciativa do indivíduo, que se desprende da relação paternalista e se lança a outras oportunidades.
A medida do sucesso traz à tona a ideia de desafios, bem como a importância psicológica do
significado do trabalho. A responsabilidade pela gestão da carreira neste modelo passa a ser do
indivíduo, embora muito se discuta a respeito de uma responsabilidade compartilhada. As pala-
vras de ordem passam a ser autoconhecimento, adaptação, aprendizado constante, entre outras.
Essa nova configuração pressupõe, como diz Coelho (2006, p. 106), “uma alta identidade com o
trabalho, autonomia do trabalhador e mobilidade profissional”.

Figura 2 – Carreira sem fronteiras

Fonte: ESB Professional/ Shutterstock.com


EXEMPLO
Na área de gestão é comum encontrarmos profissionais que prestam consultorias
para mais de uma organização, trabalhando por projetos, por exemplo, e sem víncu-
lo empregatício. Na área de saúde muitos médicos trabalham em mais de um local,
assim como ocorre com os professores. O conceito de carreiras sem fronteiras
também se aplica ao trabalho em uma organização em períodos mais curtos, se
comparado ao passado.

SAIBA MAIS!
A pesquisa realizada por Veloso e Dutra (2011), com ex-funcionários de uma
instituição bancária privatizada em 2000, discute o papel da carreira sem fronteiras
durante uma transição profissional. Está disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/
rac/v15n5/a04v15n5.pdf>.

A seguir vamos estudar sobre a importância do planejamento na hora de assumir um papel


de protagonista na carreira.

3 Importância do planejamento para a vida e a carreira


Não é raro encontrarmos pessoas que vivem ao som do refrão da música “Deixa a vida me
levar” de Zeca Pagodinho (2002). Esse modo de viver revela que o planejamento ainda é negligen-
ciado quando se fala em carreira.
Por isso, grave bem: o planejamento está ligado a escolhas e é o primeiro passo para fazer
as coisas acontecerem. Como sugere Covey (2016, p. 118), “a melhor forma de prever seu futuro é
criando-o”. Sendo assim, o planejamento corresponde à organização antes do agir, e contribui para
o indivíduo encare a realidade e, assuma a responsabilidade pela busca de seus sonhos.
É preciso entender que o planejamento começa por algo desejado pelo indivíduo, como o
casamento, um curso de pós-graduação ou ainda montar um negócio próprio e mudar de emprego.
Este sonho é o responsável por nortear a definição de objetivos e os passos necessários para
alcançar as metas.
Além disso, um bom plano de ação deve abordar uma estimativa de tempo para a realização,
recursos necessários para a viabilização, possíveis colaboradores para a empreitada, entre outras
variáveis. O plano deve ser flexível, e também registrado, escrito ou por meio eletrônico, de modo
que funcione como um guia. Só assim permitirá visualizar o que sustenta as escolhas, reduzindo
riscos e incertezas, e deixando claro também as oportunidades.
Figura 3 – Planejamento para a vida e a carreira

e planej
d a
a

r
Hor

Fonte: Ivelin Radkov/Shutterstock.com

FIQUE ATENTO!
O planejamento para a vida e a carreira deve contemplar objetivos e metas, ações,
cronograma, recursos financeiros, rede de relacionamentos, entre outros elementos
considerados relevantes para aprimorar uma caminhada, mudar um rumo, realizar
um sonho ou algo que se deseja. Embora seja flexível, é um guia para o indivíduo.

Perceba que fazer escolhas, contudo, não é algo simples, e muitas vezes os indivíduos se
deparam com dilemas, sobretudo no que concerne à vida pessoal e profissional, como veremos a
seguir.

4 Vida pessoal X vida profissional


Cortella e Mandelli (2015) consideram sem sentido a separação entre vida pessoal e profis-
sional, mas admitem que é um assunto permeado por dilemas. Carreira, trabalho e outros interes-
ses, como hobbies, fazem parte da vida. Para os autores, planejar a carreira passa, portanto, pelo
planejamento de vida e de elementos que dela fazem parte, como família, amizades e lazer.
A discussão sobre os dilemas relacionados à vida pessoal e profissional ainda é muito cen-
trada na família e no trabalho, com destaque, sobretudo, para a figura feminina. Adiar a decisão
de ter filhos para se dedicar à carreira e aceitar ou não um cargo que inclui viagens constantes e
menos tempo com a família são alguns exemplos de dilemas, apoiados na lógica de uma socie-
dade ainda patriarcal, que confere à mulher a tarefa de cuidar da família.
SAIBA MAIS!
Sobre as questões que envolvem a vida pessoal e a vida profissional, vale a leitura
da pesquisa realizada por Lindo et al (2007, com mulheres empreendedoras de dois
diferentes segmentos. Está disponível em: <http://www.anpad.org.br/periodicos/
arq_pdf/a_621.pdf>.

Atualmente, podemos perceber ainda outros dilemas, como abrir mão de uma remuneração
elevada em prol de mais qualidade de vida ou mesmo deixar uma carreira de sucesso (financeiro)
para se lançar no sonho de um negócio próprio.
Entenda que dilemas são escolhas difíceis e exigem reflexão. O ideal é a busca pelo caminho
do meio, pelo equilíbrio entre o pessoal e o profissional. Encontrar este equilíbrio, por sua vez,
demanda autoconhecimento. Nesse contexto, profissionais, como coaches e psicólogos, podem
contribuir, provocando reflexões e elucidando questões. Diálogos com os envolvidos e com pes-
soas próximas podem ser, também, de grande valia na busca pelo equilíbrio.

Figura 4 – Busca pelo equilíbrio

Fonte: Woaiss/Shutterstock.com

FIQUE ATENTO!
Dilemas fazem parte da vida, envolvem perdas e ganhos e exigem autoconheci-
mento. O ser humano se constrói a partir de relações sociais, profissionais, bem
como a partir de tudo que lhe desperta interesse. Sendo assim, reflexões são indis-
pensáveis para a busca do equilíbrio.
Fechamento
Nesta aula, você teve a oportunidade de:

•• conhecer os principais conceitos de carreira;


•• refletir sobre a importância do planejamento para a gestão de carreira;
•• pensar sobre as escolhas ligadas à carreira e à vida pessoal.

Referências
COELHO, Joyce Ajuz. Organizações e carreiras sem fronteiras. In: BALASSIANO, Moisés; COSTA,
Isabel de Sá Affonso da (Org.). Gestão de carreiras: dilemas e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2006.

CORTELLA, Mário Sérgio; MANDELLI, Pedro. Vida e carreira: um equilíbrio possível? Campinas:
Papirus 7 Mares, 2015.

COVEY, Stephen. Uma vida consciente do tempo. Rio de Janeiro: BestSeller, 2016.

DUTRA, Joel Souza. Administração de carreiras: uma proposta para repensar a gestão de pes-
soas. 14. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

LINDO, Maíra et al. Vida pessoal e vida profissional: os desafios de equilíbrio para mulheres empre-
endedoras do Rio de Janeiro. RAC-Eletrônica, v.1, n.1, p.1-15, jan./abr. 2007. Disponível em: <http://
www.anpad.org.br/periodicos/arq_pdf/a_621.pdf>.

VELOSO, Elza; DUTRA, Joel. Carreiras sem fronteiras na gestão pessoal da transição profissional:
um estudo com ex-funcionários de uma instituição privatizada. Revista de Administração Con-
temporânea, v.15, n.5, p.834-854, set./out. 2011. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rac/v15n5/
a04v15n5.pdf>.

ZECA PAGODINHO. Deixa a vida me levar. Rio de Janeiro: Universal Music, 2002. CD.

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