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Prof: Gil Muzumbi

1ª AULA DE INTRODUÇÃO À INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

A IMPORTÂNCIA DA INVESTIGAÇÃO

A investigação é um elemento essencial para o desenvolvimento social,


económico e cultural dos países, das organizações e das pessoas. Graças às
capacidades inatas do ser humano de questionar a realidade que o circunda
e, posteriormente, à capacidade investigativa de carácter científico, o mundo
actual, as sociedades, as organizações e as pessoas distanciaram-se,
significativamente, do período dos primatas. E, de forma sequencial e conti-
nua, cada geração, década ou século diferencia-se em termos de
desenvolvimento devido às novas investigações.

A investigação é importante pelo facto de permitir ao homem


questionar a realidade, fazer descobertas para dar soluções aos
problemas que enfrenta, analisar o contexto, propor soluções,
duvidar, etc. A investigação é importante pelo facto de produzir
conhecimento que pode e/ou deve ser partilhado com o mundo Actualmente,
com as tecnologias de informação, cada vez mais avançadas, a investigação
científica tornou-se mais globalizada e "há uma preocupação profunda com os
rumos do conhecimento". A história da ciência tem demonstrado que os
pesquisadores são, em geral, pessoas arrojadas, que interagem com colegas
de todos os cantos do planeta.

A investigação e o conhecimento cientifico são de tal forma importantes


chegando ao ponto de, habitualmente, se dizer que "o conhecimento científico
não tem dono". Observe que, quando um determinado conceito, teoria, modelo
ou filosofia é partilhado, divulgado ou apresentado à comunidade cientifica,
ele fica automaticamente incorporado no acervo mundial. Para ilustrar,
citamos o exemplo de alguns precursores da ciência que se influenciaram ao
acederem aos modelos filosóficos de outros.

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CARACTERÍSTICAS DA INVESTIGAÇÃO NAS CIÊNCIAS SOCIAIS
E HUMANAS

Nas Ciências Sociais e Humanas, a investigação científica apresenta duas


características: a multiplicidade e a apresen dependência do com texto". A
multiplicidade verifica se pela existência de diferentes abordagens", múltiplos
modelos de investigação, vários paradigmas que enriquecem o processo de
investigação. Em certas pesquisas, a título de exemplo, os pesquisadores
poderão optar por modelos das ciências naturais e das ciências sociais; pelos
métodos indutivos e dedutivos; ou, ainda, pelas técnicas qualitativas e
quantitativas.

Apesar da importância e da riqueza que a multiplicidade confere ao


conhecimento científico, ela traz consigo diversas discussões e contradições
entre os pesquisadores.

A dependência do contexto elucida que, da mesma forma que o ser humano


em geral não pode nem deve dissociar-se do seu con- texto, qualquer
investigador "não pode dissociar-se do contexto sociocultural em que está
inserido, partilha muitas das questões teóricas e metodológicas com outros
investigadores, actuando na base de uma especificidade própria" (Ibidem).

DIFERENTES TIPOS DE CONHECIMENTO

Tradicionalmente, os peritos em matéria de investigação científica dividem o


conhecimento em cinco tipos: Conhecimento Vulgar, Conhecimento
Cientifico, Conhecimento Religiosa, Conhecimento Filosófico e o
Conhecimento Mistico ou Mágico.

Focaremos a nossa atenção, de início, nos dois primeiros tipos de


conhecimento e, posteriormente, no desenvolvimento de todo o livro consiste
sobretudo no conhecimento científico "o conhecimento vulgar é o que todas as
pessoas adquirem na vida quotidiana, ao acaso, baseado ape- nas na
experiência vivida ou transmitida por alguém".

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O conhecimento vulgar apresenta as seguintes caracteristicas: empirico,
baseado nos dados da experiência, transmitido de geração em
geração, subjectivo, não utiliza o método, é assistemático, faz parte
das tradições socioculturais de um povo.

"O conhecimento resulta de repetidas experiências casuais de tentativa e erro,


sem observação metódica ou verificação siste mática, e, por isso, carece de
carácter cientifico.". Na perspectiva do mesmo autor, "o conhecimento
cientifico resulta da investigação metódica e sistemática da realidade".

Galliano reforça esta acepção afirmando que "o conhecimento científico


transcende os factos e os fenómenos em si mesmo, analisa-os para descobrir
as suas causas e formular as leis gerais que o regem. Passa por uma aquisição
intencional, consciente e sistemática."

a) Conhecimento Vulgar, Empírico (popular ou senso comum)

O conhecimento empírico, também chamado vulgar, é o conhecimento do


povo, obtido ao acaso, após inúmeras tentativas. É ametódico e assistemático
(Cervo; Bervian, 1972:15).

O homem comum, sem formação, tem conhecimentos do mundo material


exterior, onde se acha inserido, e de um certo número de homens, seus
semelhantes, com os quais convive. Vê-os no momento presente, lembra-se
deles, prevê o que poderão fazer e ser no futuro. Tem consciência de si mesmo,
de suas ideias, tendências e sentimentos. Cada qual se aproveita da
experiência alheia. Pela linguagem os conhecimentos se transmitem de uma
pessoa à outra, de uma geração à outra.

Segundo Lino Rampazo, “é o conhecimento do povo, que nasce da experiência


do dia-a-dia”. Segundo Babini (1957, p.21)“ é o saber que preenche nossa vida
diária e que se possui sem o haver procurado ou estudado, sem aplicação de
um método e sem haver reflectido sobre algo.

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Características

- É um conhecimento superficial (conforma-se com as aparências),

- É sensitivo ( relacionado as vivencias, estado de animo e emoções da vida


diária

- Assistemático (as ideias não são sistematizadas),

- Ametódico (não tem um método).

b) Conhecimento Filosófico

É valorativo, pois seu ponto de partida consiste em hipóteses, que não


poderão ser submetidas à observação. É um conhecimento caracterizado pelo
esforço da razão pura para questionar os problemas humanos, e poder
discernir entre o certo e o errado, unicamente recorrendo às luzes da própria
razão humana. Enquanto o conhecimento científico abrange factos concretos,
positivos, e fenômenos perceptíveis pelos sentidos através do emprego de
instrumentos, técnicas e recursos de observação, o objeto de analise da
filosofia são ideias, relações conceptuais, exigências logicas, que não são
passiveis de observação.

c) Conhecimento Teológico

Apoia-se em doutrinas sagradas por terem sido reveladas pelo sobrenatural,


através de inspiração, e por esse motivo tais verdades são consideradas
infalíveis e indiscutíveis. Está sempre implícita uma atitude de fé perante um
conhecimento revelado. Se o fundamento do conhecimento consiste na
evidencia dos factos observados e experimentalmente controlados, e o do
conhecimento filosófico consiste na evidencia logica, no caso do conhecimento
teológico, o fiel não se preocupa com a procura de evidencias, mas apenas da
revelação divina.

O conhecimento teológico, apoia-se em doutrinas que contêm proposições


sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural
(inspiracional). É um conhecimento sistemático do mundo (origem,
significado, finalidade e destino) como obra de um criador divino; suas

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evidências não são verificadas: está sempre implícita uma atitude de fé
perante o conhecimento revelado. (Lakatos; Marconi, 2008, pp.21-22).

CARACTERÍSTICAS DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO

O conhecimento cientifico caracteriza-se pelas seguintes dimensões:


objectividade, racionalidade, sistematização, generalização e fiabilidade.

Objectividade - Tem a ver com a coisa ou problema acerca do qual desejamos


saber algo. O conhecimento cientifico deve ser objectivo;

Racionalidade - A ciência utiliza a razão como arma essencial para chegar


aos resultados. Neste sentido, os investigadores trabalham com os conceitos,
com a lógica e a razão e não com as sensações, as imagens ou as impressões.
A ciência afasta-se da religião e de todos os sistemas onde aparecem
elementos não racionais;

Sistematização - A ciência é organizada na sua procura e nos seus


resultados. O investigador segue um procedimento pla neado, uma ordem e
um método e fundamenta os seus conhecimentos mediante a observação e a
comprovação,

Generalização - A investigação permite proporcionar que cada


conhecimento parcial sirva como ponte para alcançar uma maior
compreensão. Possibilita, consequentemente, que os resultados sejam
generalizados para outros grupos ou contextos.

Fiabilidade - A ciência reconhece a possibilidade de erros e dúvidas. "Nesta


tomada de consciência das suas limitações, reside a sua verdadeira
capacidade de autocorrigir e superar, desprendendo-se de todas as conclusões
anteriormente aceites, perante a comprovação da sua falsidade" (Popper,
1980, citado por King, 2005, p. 155).

Popper (citado por King, 2005, p. 155) explica que, "graças à falibilidade, os
nossos conhecimentos renovam-se constantemente e vão progredindo e
melhorando as explicações que damos dos fac- tos. Ao reconhecermos a

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falibilidade do conhecimento cientifico, abandona-se toda a pretensão de
querer chegar a verdades abso- lutas e finais."

CONCEITO DE ESTUDO

O termo estudar, por si só, e de forma simples, é definido como: aprender,


instruir, analisar, examinar, etc. Na investigação científica, espera-se do
investigador que, perante um tema de pesquisa, estude, analise, examine, tire
conclusões, traga novos conhecimentos e outros.

Na investigação em Ciências Sociais e Humanas, os tipos de estudos são


definidos ou seleccionados pelo investigador considerando a sua forma de
abordagem. Ou ainda, para um determinado tema, qual será a melhor forma
de abordá-lo.

TIPOS DE ESTUDO QUANTO AO MODO DE ABORDAGEM

Quanto ao modo de abordagem, o estudo pode ser quantitativo, qualitativo ou


misto.

Para exemplificar, as instituições do ensino superior, no decorrer da


orientação dos trabalhos de fim de curso, em Ciências Sociais e Humanas,
estabelecem os argumentos que a investigador (estudante) deve apresentar
para explicar o modo como a investigação irá decorrer, e que habitualmente
se estruturam.

Quanto à área da ciência, a pesquisa será empírica, relativamente ao objecto


de estudo será uma pesquisa de campo, a sua natureza é uma investigação
científica original, o objectivo geral tem uma perspectiva descritiva, a
abordagem metodológica será quantitativa e os procedimentos técnicos serão
a aplicação de um inquérito

Estudos quantitativos

O estudo com abordagem quantitativa possibilita a quantificação dos dados e


permite fazer generalizações dos resultados. Requer o uso de técnicas
estatísticas, tais como estatística descritiva ou estatística inferencial, com a
utilização de frequências, percentagem, médias, moda, mediana, desvio

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padrão e outras. Na utilização de métodos estatísticos, a pesquisa
quantitativa tem, pois, como objectivo trazer à luz dados, indicadores e
tendências observáveis, gerando medidas fiáveis, generalizáveis e sem viés
(Deslandes & Asis, 2002, pp. 195-219).

Neste tipo de estudo admite-se "que tudo pode ser quantificável, isto é,
traduzir em numeros as opiniões e as informações para, em seguida, poderem
ser classificadas e analisadas" Apesar deste carácter numérico, este tipo de
abordagem remete o investigador para uma interpretação não numérica dos
dados observados, com o objectivo de explicar os aspectos subjectivos e as
relações entre estes dados.

Para Popper (1980, "este tipo de estudo baseia-se em dados primários, obtidos
directamente da realidade observada".

Na perspectiva de Myers (2000), as principais características da investigação


com abordagem quantitativa são: 1) Recolhe os dados para comprovar teorias,
hipóteses e modelos preconcebi dos, 2) Caracteriza-se pela presença de
medidas numéricas e análises estatisticas para testar constructos cientificos
e hipoteses; 3) É um método sistemática e lida com informações objectivas, 4)
Está associado a estudos positivistas e confirmatórios.

Apesar destas características, os investigadores poderão encontrar vantagens


e desvantagens na utilização desta abordagem. As principais vantagens da
abordagem quantitativa são: ser rica em quantidade de dados; admitir
estudar múltiplos fenómenos permitir estudar a longas distâncias. As
desvantagens desta abor dagem são: não exploração com profundidade dos
fenómenos generalização dos resultados, revelar pouco interesse no signifi
cado das coisas.

Comummente, a técnica de recolha de dados nos estudos com


abordagem quantitativa é o questionário, composto por questões
fechadas previamente estabelecidas e codificadas, o que torna a recolha e o
processamento dos dados muito simplificado e rápido.

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Estudos qualitativos

Os estudos qualitativos permitem compreender os fenómenos em


profundidade e tentam descobrir os seus significados, de que são exemplo os
estudos de caso. Esta abordagem centra-se no paradigma interpretativo e
sociocrítico e pode basear-se em dados primários ou secundários.

Jean-Pierre Deslauriers (1997, p 294) explica que "a expressão métodos


qualitativos não tem um sentido preciso, em ciências sociais designa uma
variedade de técnicas interpretativas que têm por fim descrever, descodificar,
traduzir, certos fenómenos sociais que se produzem mais ou menos
naturalmente".

Os estudos qualitativos caracterizam-se por:

A fonte directa de dados é o ambiente natural; O investigador é o sujeito


principal; Interessa-se mais pelo processo do que simplesmente pelo
resultado; A análise dos dados é feita de forma indutiva; Atribui grande
importância ao significado das coisas, Os resultados não devem ser
generalizados.

Apesar de apresentar as caracteristicas acima, os estudos qualitativos têm


vantagens e desvantagens:

As desvantagens: são subjectivos, são pobres em quantidade de informações


e os seus resultados não podem ser generalizados para um grupo maior.

As vantagens: aprofundam e exploram um tema concreto, são ricos em


informações de qualidade, interessam-se pelo significa- do das coisas.

Tal como os estudos quantitativos, os estudos qualitativos também têm


técnicas específicas de recolha de dados: observação, entrevista, análise
documental e análise bibliográfica.

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