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MATERIAL DA PRIMEIRA PROVA

METODOLOGIA DE PESQUISA PARA A GESTÃO AMBIENTAL

1. CIÊNCIA E METODOLOGIA
1.1. Epistemologia da Ciência
Epistemologia ou teoria do conhecimento (do grego “episteme” – ciência, conhecimento; “logos” –
discurso), é um ramo da filosofia que trata dos problemas filosóficos relacionados à crença e ao
conhecimento (Houaiss).
Pode-se definir epistemologia como um ramo da ciência, uma disciplina da filosofia, cujo
propósito é fazer uma reflexão geral em torno da natureza, etapas e limites do conhecimento humano. A
epistemologia estuda os postulados, conclusões e métodos dos diferentes ramos do saber científico, ou
das teorias e práticas em geral, verificadas em sua validade cognitiva (aquisição de conhecimento), ou
descritas em suas trajetórias evolutivas, seus paradigmas estruturais ou suas relações com a sociedade
e a história; teoria da ciência. Discute, ainda, a evidência (entendida não como mero sentimento que
temos da verdade do pensamento, mas sim no sentido forense de prova), isto é, os critérios de
reconhecimento da verdade.
Cabe à epistemologia a responsabilidade de discutir problemas e buscar respostas para questões
como: “o que é conhecimento?”, “o que podemos conhecer?”, “qual é a origem do conhecimento?”,
“como justificamos nossas crenças?”. Essas questões devem abranger um conjunto de noções
relacionadas entre si, como “conhecer”, “perceber”, “prova”, “crença”, “certeza”, “justificação” e
“confirmação”, entre outras. A epistemologia se dedica à investigação da natureza, fontes e validade do
conhecimento.

1.2. Ciência
Do latim – scientia, saber que se adquire pela leitura e pela meditação, conjunto organizado de
conhecimentos, adquiridos pela observação e análise e um método próprio; ciente, conhecimento, saber,
informação (Dicionário Melhoramentos, 1996).
Etimologicamente, ciência é sinônimo de conhecimento atento e aprofundado de alguma coisa.
Esta definição se refere a um tipo de conhecimento que se propõe a revelar a verdade, através do
levantamento e análises de suas causas, podendo, por isso, ser explicado. Pode-se concluir que a
ciência é um “corpo de conhecimentos”, que trabalha com técnicas especializadas de verificação,
interpretação e inferência da realidade. Assim, ciência é tida como cada um dos inúmeros ramos
particulares e específicos do conhecimento, caracterizados por sua natureza lógica, experimentável e
sistemática, baseada em provas, princípios, argumentações ou demonstrações que garantam ou
legitimem a sua validade.
Ciência entendida como conhecimento pressupõe reflexão ou experiência sistemática, adquirida
via observação, identificação, pesquisa e explicação de determinadas categorias de fenômenos e fatos, e
formulados metódica e racionalmente. Fazer ciência significa buscar o controle prático da natureza, na
qual se produzem, sedimentam e se consolidam, incessantemente, novos meios de dominar a natureza.
A ciência de propõe a atingir conhecimento sistemático e seguro, de forma que seus resultados possam
ser tomados como conclusões certas, sob condições mais ou menos amplas e uniformes, quando
ocorrem os vários tipos de acontecimentos. Assim, a ciência objetiva “preservar os fenômenos” e “tornar
inteligível o mundo”.
A investigação científica objetiva contribuir para a evolução do conhecimento humano em todas
as áreas e setores da sociedade. Uma pesquisa é considerada científica se sua realização for objeto de
investigação planejada, desenvolvida, e redigida conforme normas metodológicas aceitas pela ciência.
Os trabalhos acadêmicos de graduação e pós-graduação, para serem considerados científicos, devem
produzir ciência, ou dela derivar, e acompanhar seu modelo de tratamento. Algumas características da
ciência permite diferenciá-la de qualquer outro corpo de conhecimentos, tornando-a essencial para o
progresso e para a qualidade de vida, quais sejam:

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a) A ciência permite distinguir essência de aparência
O espírito científico parte do princípio de que nada se revela na aparência; tudo, para ser
explicado, deve ser investigado, criticado, analisado. Essa capacidade de permitir a distinção entre
essência e aparência significa que a ciência fornece, através da metodologia, um conjunto de
procedimentos racionais, rígidos e lógicos, que permitem penetrar na essência dos fenômenos
perceptíveis pela inteligência humana, chegando à sua verdade, portanto.
O uso de um método científico para praticar ciência a diferencia das outras formas de
conhecimento humano. E uma das suas particularidades é não aceitar nada como verdadeiro, se não for
comprovado, e, mesmo que comprovado, não será para sempre uma verdade, pois, na medida em que
tudo pode ser explicado, conclui-se que tudo pode ser melhorado, revisto, reinterpretado.

b) A ciência tem compromisso com a verdade


Ciência não é poesia nem especulação. Tendo como objetivo o conhecimento científico, a ciência
exige respostas que expliquem lógica e racionalmente suas questões: por quê? para quê? como? Para
que uma investigação seja considerada científica, as hipóteses levantadas e suas conseqüências
lógicas, assim como outras explicações do mundo e das coisas, devem ser submetidas a rigorosos
testes de equivalência, com as coisas observáveis, ou seja, com a realidade, e com outras hipóteses
sugeridas.
Exemplificando: um agricultor que tem o conhecimento recebido ao longo do tempo pela tradição,
quanto à época de plantio, ao tipo de cultura, à quantidade de água necessária, à época da colheita e
como armazenar o produto, terá grandes chances de obter bons resultados. Para ele, nunca houve
curiosidade de saber o porquê da época do plantio, da quantidade de água, da época da colheita, de
determinado modo de armazenamento. A ciência é que dirige o conhecimento para respostas a esses
porquês. Dominando, cientificamente, esses “porquês”, o agricultor multiplicará suas condições de obter
melhores resultados.

c) A ciência contribui para a desmitologização e dessacralização do mundo


Ciência é o processo de desmitologização e dessacralização do mundo, em favor da
racionalidade natural, supondo-se uma ordem das coisas dada e mantida. Mitos e sagrados são forças
que influenciam e direcionam a ação e o comportamento do homem, de tal forma que ele não tem
coragem de questionar suas verdades, não se atreve a buscar explicações para os fenômenos. O
homem dominado por mitos e sagrados tem conhecimento do mundo insuficiente para lhe permitir
analisar e criticar o poder das coisas e dos fenômenos. À medida que ele aprende a lógica e a razão das
coisas, mitos e sagrados perdem seu poder de influência e controle sobre sua vida.
Mitos podem ser pessoas ou situações, cuja imagem ou conceito norteiam e interferem na vida
das pessoas. O número 13 é sinal do azar; ou, um artista ou atleta que tenha se destacado no seu ramo
de atividade passa a ser modelo de vida a ser seguido pelas pessoas. Já o conceito de “sagrado” está
ligado a entidades e crenças de fundo religioso, que tenham poderes e dons divinos. A ciência, na
medida em que incentiva o raciocínio, a crítica, a investigação lógica e racional dos fatos, suas
propriedades e explicações, pode desmistificar mitos e dessacralizar sagrados.

d) A ciência tem compromisso com a teoria, a análise e a política


O compromisso da ciência com a teoria está no fato de que ela se caracteriza por ser um conjunto
de princípios, ou conjunto de tentativas de explicação de um número limitado de fenômenos. Cuida de
reunir bagagem de conceitos e princípios, racionalmente comprovados para serem utilizados em
pesquisas.
Quanto ao seu compromisso com a análise, a ciência se ocupa da explicação, da análise e da
aplicação dos princípios teóricos encontrados. Procura interpretar fatos, fazer precisões, buscar
comprovações. E, com a política, ela tem o compromisso ético de orientar como as coisas devem ou não
ser feitas, balizando seus resultados para o bem da humanidade. Ela se responsabiliza pela transição
entre o que é para o como deve ser. Esta é uma postura ligada ao comprometimento social, à ética.

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1.3. O comportamento científico
O homem é o único animal capaz de refletir, criticar suas ações e modificar o seu comportamento.
O exercício dessa capacidade lhe permite distinguir, escolher e desenvolver ações adequadas aos seus
objetivos e problemas, e assim modificar o mundo. A essa postura racional, planejada e intencional
chamamos de comportamento científico. O comportamento científico é disciplinado; requer atitude,
postura crítica em relação a um objeto, situação, fato e às suas forças de manifestação. Requer,
também, o uso de técnicas adequadas para enfrentar e solucionar problemas. Ele é imparcial, não torce
os fatos, respeita a verdade. Cultiva a honestidade, evita o plagio, não assume como seu o que é produto
de outros, e tem coragem suficiente para enfrentar obstáculos, dificuldades e desânimos que um
problema possa oferecer.
Também, não nasce com as pessoas, não é atitude nata; precisa ser desenvolvido, conquistado,
com muito esforço, postura, disciplina. É atitude aprendida por uma mente crítica, objetiva e racional. A
consciência crítica leva a pessoa a aperfeiçoar seu julgamento e a desenvolver o discernimento,
tornando-o capaz de distinguir o essencial do superficial, o principal do secundário. Não é, também,
prerrogativa ou necessidade apenas do pesquisador, do cientista. No mundo atual, caracterizado por
mudanças sociais, culturais e ambientais radicais, evolução sem precedentes da ciência, da tecnologia e
das comunicações, ele se faz necessário em qualquer situação/atividade para solucionar problemas e
obter progressos; cabe e deve ser incentivado, portanto, em todas as áreas e situações do cotidiano,
como escola, vida profissional e pessoal. Criticar é julgar, não prejulgar, distinguir, questionar, analisar
para melhor poder avaliar os elementos componentes da questão. O crítico não julga, a priori; só aceita o
que é passível de prova. A objetividade necessária ao espírito científico rompe com posições subjetivas,
pessoais e amparadas em explicações vulgares e empíricas. Para tanto, é necessário libertar-se de uma
visão subjetiva do mundo, ou influenciada pelo meio social, organizacional ou religioso. O espírito
científico não admite respostas como: “eu acho”, “eu creio ser assim”, “dizem que”, “a religião manda
que”.
Para desenvolver essa capacidade de enxergar e solucionar os problemas do mundo, é
fundamental o compromisso com a humildade para aceitar que o conhecimento nunca está pronto,
acabado, e que tudo pode ser mudado, refeito. Abrir-se para receber e gerar novos conhecimentos,
abandonar antigos paradigmas, saber-se limitado e disposto a aceitar erros e enganos, buscar e refazer
novos caminhos. Em resumo, o comportamento científico ou racional é:
- aprendido: não se nasce com ele; aprende-se, treina-se.
- generalista: vale para qualquer profissão; requer postura, atitude racional, lógica.
- intencional: vigilante, requer intenção, persistência e vigília constante sobre atitudes, posturas,
criticidade, discernimento.
- disciplinado: metódico, exige uso adequado de métodos e técnicas à situação.
- humilde: sabe-se incompleto, prega que todo saber pode ser mudado, revisto, melhorado; não há
conhecimento pronto, acabado.
- exigente: cobra a coerência, lógica, a verdade, e que ela possa ser aplicada a outras situações.
- questionador: não julga precipitadamente; conclui a partir de análise crítica, investigação, comparação,
lógica dos fatos.
- imparcial: não torce fatos ou dados, não impõe valores próprios, evita posições subjetivas (no uso da
linguagem).

2. CONHECIMENTO

2.1. Maiêutica

Em grego, “arte de dar à luz”. Sócrates, filho de uma parteira, declara ter a qualidade de ajudar a
“dar à luz” (“alumiar”) os espíritos – isto é, de contribuir para que cada qual encontre a verdade através
das suas próprias forças, sem que ela lhe seja ensinada ou transmitida.

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O vocábulo maiêutica, em medicina, é sinônimo de obstetrícia, ramo da medicina que estuda os
fenômenos da reprodução feminina. Na filosofia, entende-se a maiêutica como o processo dialético e
pedagógico, criado por Sócrates, para levar as pessoas a atingir o verdadeiro conhecimento a respeito
do objeto de interesse. A maiêutica socrática (maiêutica = parto, em grego), portanto, se caracteriza por
ser um processo dialético (contraposição e contradição de ideias), constituído de argumentação e contra-
argumentação, no qual se bombardeia o interlocutor de perguntas, a fim de levá-lo à autorreflexão, e
portanto, ao verdadeiro conhecimento sobre as coisas e a realidade.
Para Sócrates, só ocorre o verdadeiro conhecimento, que é pessoal, individual, produto de
reflexão e análise, se o indivíduo voltar-se para si próprio e reconhecer suas limitações, assumir suas
dúvidas. “Conhece-te a ti mesmo” era seu lema. Daí, a técnica de pressionar o interlocutor, fazendo-o
argumentar e contra-argumentando-o, levando-o a contradições, dúvidas, de forma a fazê-lo refletir.
Sócrates via como sua tarefa ajudar as pessoas a atingir a compreensão correta sobre o objeto de
discussão, uma vez que o verdadeiro entendimento deve vir do interior. Ele não pode ser transmitido por
outra pessoa. E só o entendimento que vem de dentro pode levar ao verdadeiro conhecimento.

2.2. Conhecimento
A expressão “era do conhecimento” tem sido utilizada para caracterizar o modo de viver da
sociedade pós-industrial, após a metade do século XX. Seria o caso de se concluir que o conhecimento é
um produto da era industrial, surgido, apenas, nas últimas cinco, seis décadas? Poder-se-ia, portanto,
concluir que a Era Industrial, a Clássica, e mesma a Idade Média, não teriam produzido conhecimento?
Obviamente que não. Ainda na Antiguidade Clássica, a teoria da maiêutica do conhecimento de Sócrates
já defendia que os conceitos e as visões do mundo do ser humano são produzidos pelo próprio homem.
Esta teoria tem como premissa que toda ação humana deve ser consciente, refletir um saber, uma
consciência elaborada através de uma análise rigorosa de seus elementos (HESSEN, 2000). Sem a
reflexão, a ideia que temos sobre as coisas é apenas uma opinião, e não um saber.
A origem da palavra conhecimento é connaissance (palavra francesa que significa naissance =
nascer, com). O homem, ao contrário do animal, não está no mundo apenas vivendo-o; ele vive e
modifica o mundo à sua volta. Tenta conhecê-lo (faz ciência) e age sobre ele para transformá-lo (com o
uso da técnica, do instrumento). Assim, pode-se verificar que a supremacia do homem sobre o animal
está na sua capacidade de conhecer, possuir razão, relacionar-se entre si e com outros seres, superar a
animalidade com a racionalidade; ser capaz de interpretar a realidade e criar outras, tornando-se um ser
pensante; se conhece e se elabora. O conhecimento é uma forma de estar no mundo.
O conhecimento pressupõe um sentido mais profundo que o de informação. É a informação mais
valiosa, pois alguém deu a ela um contexto, interpretação. É uma abstração interior, pessoal, de alguma
coisa ou objeto que foi experimentado, vivenciado por alguém. São sínteses, cruzamentos, inferências,
tratamentos e interpretações, simulações, aplicações de informações que permitem a criação de
entidades novas, ou uma nova visão das já existentes, acumuladas ou modificadas, ramificações,
extensões das já conhecidas. Integra-se ao conhecimento pessoal anterior. Assim, pode-se afirmar que
conhecer é o processo de compreender e internalizar as informações recebidas do ambiente,
possivelmente combinando-as de forma a gerar mais conhecimento.

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2.3 Tipos de conhecimento
São várias as formas de se classificar o conhecimento. Inicialmente, pode-se classificá-lo quanto
às suas formas de existência ou natureza, em: pessoal, particular (tácito), ou compartilhado (explícito)
com grupos de interesse.

2.3.1. Conhecimento tácito


Davenport e Prusak (1998) afirmam que conhecimento é uma mistura fluida de experiência
condensada, valores e informação contextual, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e
incorporação de mais experiência e informações. Ele tem origem e é aplicado na mente dos
conhecedores.
O homem conhece quando é capaz de reunir experiências, percepções sensoriais próprias e
lembranças, idéias formando novos conceitos. Nesse processo, ele está conferindo sentido à realidade
que o cerca, criando teorias, métodos, sentimentos, valores e habilidades que utilizará em sua vida.
Conhecimento tácito, portanto, pode ser definido como sendo a forma pessoal, individual com que cada
pessoa interpreta a realidade que a cerca. Como é formado dentro de um contexto social e individual,
conclui-se que o conhecimento tácito representa uma realidade extremamente provocada, mas
internamente determinada. Esse tipo de conhecimento é gerado pela pessoa em seu processo do viver –
do ser. Exemplos de conhecimento tácito são as habilidades, como nadar, andar de bicicleta etc., que
são incorporadas ao ser. São conhecimento difíceis de serem externalizados, mas passíveis de serem
expressados, ensinados, através da troca de informações sobre ele. Pode-se concluir que as
habilidades, competências, artes que envolvem prática – física e mental –, adquiridas pelo treinamento,
pertencem ao campo do conhecimento tácito.

2.3.2. Conhecimento explícito


Embora gerado no indivíduo, de forma pessoal, o conhecimento pode ser construído, também, de
forma social, grupal. As pessoas mudam ou adaptam os conceitos através de suas experiências e
utilizam a linguagem para expressá-los, compartilhá-los, comunicá-los. Assim, a expressão acervo
social do conhecimento, conhecimento explícito ou conhecimento compartilhado significa que a
experiência do indivíduo, tanto histórica como biográfica, pode ser objetivada, conservada e acumulada,
através do veículo da informação.
Tal processo de acumulação é transmitido de uma geração para outra e utilizado pelo indivíduo
na vida cotidiana e na convivência com seus pares. O conhecimento explícito é, pois, o conhecimento do
indivíduo, que foi exposto, explicitado, entendido, compartilhado com pessoas do mesmo grupo social,
através do processo de transmissão da informação. Exemplos: conhecimento organizacional, científico,
cultural, profissional etc. A experiência, adquirida através da troca de informações, da reflexão, os
julgamentos de valor e as relações do indivíduo com a sua rede social pertencem ao campo do
conhecimento explícito, compartilhado.
Segundo Vieira Pinto (1979), o homem, no processo de “hominização do ser humano” (tornar-se
homem, um ser vivente, partícipe e cultuo num grupo social), é ao mesmo tempo criador e criatura, na
medida em que atua tanto como agente ativo na criação da realidade, como um receptor dos resultados
e produtos desse mesmo processo (agente e objeto). Ele cria o conhecimento (idéias e instrumentos
para melhorar a sua qualidade de vida) e o recebe de volta, em forma de produtos, serviços e novos
conhecimentos, cada qual ao seu modo.

2.3.3. Conhecimento dogmático


O conhecimento dogmático é construído pela pessoa que opta por procurar informações sobre
esse objeto junto a pessoas que conhece e credita confiança, fé. O que afirmarem essas pessoas sobre
o objeto será assumido como verdade absoluta, inconteste. Além de pessoas de confiança, poder-se-á
consultar fontes sagradas, livros religiosos, dos quais irá retirar falas e orientações sobre o objeto. Esse
veículo traz a palavra divina, o qual foi dito desse objeto por Deus. No dogma, a fonte da informação
(pessoa ou livro que contém a palavra de Deus) contém a verdade, é inquestionável. Trata-se do
dogmatismo, ou conhecimento teológico, doutrinário, religioso. O conhecimento dogmático é, pois, o

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conjunto de verdades que as pessoas interiorizam, assimilam, não com o auxílio da inteligência, mas
mediante a aceitação da revelação divina. Para Hessen (2000), “no conhecimento dogmático a
possibilidade e a realidade do contato entre sujeito e objeto são pura e simplesmente pressupostas”. A
aquisição desse conhecimento pressupõe uma decisão de aceitar a verdade, não porque dela se teve
uma explicação, ou comprovação, mas porque partiu de alguém a quem se devota inabalável fé e
crença. Pressupõe doutrina, imposição e aceitação, e se explica o interesse da religião e não na prática
da comprovação científica.

2.3.4. Conhecimento empírico ou do senso comum


Construir o conhecimento empírico significa vivenciar, experimentar e aprender com a
experiência. O objeto de interesse é considerado em seu aspecto externo e aparente, manipulado,
experimentado em termos de suas características, funções; enfim, significa testá-lo sem maiores
propósitos, “brincar” com ele até encontrar respostas. Assim, pode-se afirmar dele várias coisas que o
bom senso dita ou a experiência ensina (peso, temperatura, forma, função). Esta forma de conhecer é
chamada de empirismo, ou conhecimento baseado no senso comum. O conhecimento empírico
pressupõe como verdade aquilo que se experimenta, com que se convive. Ametódico e assistemático,
está ligado à realidade, fatos concretos, experiências do cotidiano, tradição oral. É obtido por acaso,
envolve interação humana e social, e é transmitido por tradição, após ensaios e tentativas com erros e
acertos, numa convivência coletiva, de geração a outra.

2.3.5. Conhecimento filosófico


Conhecer filosoficamente um objeto é questionar sua origem, realidade e destinação. Idealiza-se
o objeto, tentando criar uma imagem ideal dele, como ele deveria ser, a partir do levantamento racional
de suas características, formas e funções. Cria-se dele um modelo mental, no qual o objeto tomaria a
forma ideal ou apropriada às suas condições e especificidades, estabelecidas pelo ideal de ser. Na
filosofia, a verdade é idealizada e o conhecimento é preposto, a visão do mundo é extraída a partir da
concepção lógica da natureza das coisas, não dos fatos.
Este tipo de conhecimento procura o sentido, a justificação, as possibilidades de interpretação a
respeito do objeto de interesse. Procura compreender a realidade em seu contexto universal; sua
preocupação é a autorreflexão do espírito sobre a razão do seu comportamento, aspirando a uma
inteligência geral, ideal, a uma visão racional de mundo. É a tentativa do espírito de atingir visão de
mundo, mediante a autorreflexão sobre suas funções de valor.

2.3.6. Conhecimento científico


Investigativo, o conhecimento científico procura explicação e base na ciência, nos fatos
explicados, comprovados e, somente assim, aceitos como verdades. Ele ultrapassa o interesse e o
cuidado do empírico porque procura conhecer, além do fenômeno, as suas causas e leis, razões e
porquês. Adquri-lo pressupõe cuidados, pois há que se conhecer o objeto de interesse de forma mais
sistemática, racional, estudando-o, analisando-o, com propósito mais objetivo, investigando
experimentalmente as relações existentes entre suas características e funções. Implica em buscar
referências teóricas sobre o assunto, dicionários, definições, funções, origens. Depois, procede-se a uma
análise crítica de suas formas, características, funções, procurando relacioná-lo com outros, fazendo
comparações e testes para comprovar as análises e os dados colhidos. Trata-se de forma de conhecer
racional, aproximando-se, o mais possível, de verdadeiras características do objeto. Nesta forma de
conhecer, vai-se além da experiência adquirida na convivência.
A verdade é lógica, e o conhecimento alcançado é racional e pode ser comprovado. E mais, as
conclusões obtidas a partir da análise crítica do objeto permitirão fazer previsões para outros objetos
semelhantes. Ou seja, quando o conhecimento se dá de forma racional, ele pode ser ampliado, admitido
e projetado para casos e situações semelhantes. O conhecimento científico ultrapassa o interesse e o
cuidado do empírico, na medida em que procura conhecer, além do fenômeno, as suas causas e leis;
suas razões e porquês. Possuindo comportamento criticamente inquisidor, pergunta a todo tempo sobre
os fundamentos, e reclama da razão humana uma prestação de contas, uma explicação das coisas e do
mundo que faça sentido.

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O conhecimento científico pede e estabelece previamente um roteiro, um caminho para ser
construído; é um método que permite aceitar respostas, porque foram comprovadas. Em síntese, são as
principais características do conhecimento científico:
- Racionalidade: constituído por conceitos, juízos e raciocínios e não por sensações, imagens, valores,
modelos de conduta etc.; contém ideias que se organizam em sistemas: conjunto ordenado de
proposições (teorias) e não ideias simplesmente aglomeradas ao acaso ou de forma cronológica.
- Objetividade: procura concordar com o seu objeto; busca a verdade pela observação, investigação e
experimentação.
- Verificabilidade: aceito como válido quando passa pela prova da experiência; é a comprovação que
torna válido, pois, enquanto não são comprovadas, as hipóteses deduzidas através de um sistema de
idéias formuladas pela inferência indutiva não podem ser consideradas científicas.
- Planificável, metódico: planejado; o cientista não age ao acaso, ele sabe o que procura e como deve
proceder para alcançá-lo. Frente ao imprevisto, ele o coloca sob controle, obedece a um método
preestabelecido.
- Sistematizável: constituído por um sistema de idéias, comprovadas e logicamente correlacionadas; os
fatos são captados e apreendidos de modo sistemático, visando a um objetivo definido.
- Acumulabilidade: seu desenvolvimento é uma conseqüência de um contínuo selecionar de
conhecimentos significativos, novos conhecimentos podem substituir os antigos, quando estes se
revelam disfuncionais ou ultrapassados.
- Falibilidade: não é definitivo, absoluto, acabado; o mundo como algo a ser descoberto, modificado,
criado; o progresso da ciência induz a novas indagações, sugere novas hipóteses, que precisam ser
testadas.
- Explicabilidade e predicidade: explica os fatos em termos de leis, baseando-se na investigação, assim
como no acúmulo de experiências. A ciência atua no plano previsível; tem a função de explicar o
passado e prognosticar o futuro; assim, pode controlar e modificar o curso de ocorrências futuras, ou
ainda prever ocorrências.
Todas as formas de conhecer representam diferentes formas de ver a apreender o mundo. Todas
são válidas, importantes e adequadas, dependendo da situação e do sujeito do processo. A capacidade
de conhecer do homem fornece-lhe competência, inclusive, para decidir e optar pela forma de conhecer
com a qual mais se identifica, ou que lhe for mais conveniente.

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3. O TEXTO CIENTÍFICO – A LINGUAGEM DA CIÊNCIA

3.1. O Gênero Científico

A característica principal do gênero científico é abordar assuntos, problemas, indagações,


dúvidas, de forma científica, quer dizer, buscando a sua explicação lógica, racional, a comprovação,
tomando-se como referencial uma teoria existente. O texto científico trabalha com o princípio da busca
da verdade, e particulariza-se pelo alto grau de abstração necessário do pensamento. Pretensiosamente
neutro, os raciocínios são logicamente concatenados, utilizando vocabulário preciso, construído sob o
rigor da subordinação e da ausência de emoção. Podemos, portanto, citar algumas qualidades
essenciais para que esse propósito seja alcançado. A seguir estão relacionadas as principais
características de um texto científico:
- Clareza e objetividade: evitam duplicidade de interpretações; conduzem a um objetivo determinado.
- Concisão: frases despojadas de adjetivação e advérbios.
- Precisão: ir direto ao assunto, usar a denotação ao invés da conotação.
- Correção: preocupação com o uso correto da língua, obediência às normas gramaticais.
- Conteúdo: preocupação em manter-se dentro do assunto proposto, unidade de pensamento.
- Uso de gírias e “clichês”: evitar o uso de linguagem muito popular, informal, gírias, estrangeirismos,
frases da moda, muletas de linguagem.
- parágrafos: curtos, facilmente lidos e interpretados.
- forma escrita: obediência às normas da ABNT (tamanho de papel, letra, espaçamento etc.).
As frases devem ser curtas, sem adjetivação desnecessária e esforço de neutralidade expresso
pelo uso da terceira pessoa e pelo uso comedido de subordinação. Estas características não se
contrapõem com a preocupação com a forma, a organização e a estética do texto, que envolvem a
obediência aos critérios formais de criação de margens, paragrafação, espaçamento interlinear entre
parágrafos, numeração de páginas, divisão em tópicos e capítulos, entre outros estabelecidos pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
O texto científico, para garantir as qualidades citadas, deve se apoiar no uso correto e adequado
das normas lingüísticas, para obter a necessária precisão, rigor, neutralidade. Utiliza vocabulário
específico para designar instrumentos empregados em determinado ofício ou ciência, ou para apresentar
conceitos científicos, transações comerciais, financeiras ou econômicas. As palavras utilizadas, ora
podem ser idênticas às da linguagem comum, mas utilizadas em sentido preciso, ora podem ser
estritamente técnicas, porém, sempre utilizando a linguagem culta. O texto científico exige alguns
cuidados especiais, assim resumidos:
- Impessoalidade: redação na 3ª pessoa, evitando-se referências pessoais (meu trabalho, meu objetivo);
e sim, este trabalho, o presente trabalho etc. O uso da 1ª pessoa do plural (nós) também é
desaconselhável.
- Objetividade: evitar pontos de vista pessoais, opiniões, impressões subjetivas, não fundadas ou
comprovadas (“penso que”, “parece-nos que”, “parece ser” etc.). Esta postura, além de violar a
objetividade necessária a um trabalho científico, demonstra a falta de fundamentação teórica do
pesquisador.
- Modéstia: os resultados de uma pesquisa, quando verdadeiros e consistentes, impõem-se por si só.
Assim, a linguagem científica deve deixar os fatos falarem por si, e não rechear o texto com formas
impositivas, enfáticas de convencimento. Não deve haver, por parte do pesquisador, insinuações de
erros de outros trabalhos, ou afirmações de certas absolutas (certamente, lamentavelmente, sem dúvida
alguma etc.).
- Humildade: o conhecimento científico se caracteriza por ser passível de ser questionável; portanto,
inacabado; além de admitir, sempre, uma revisão, uma inovação, melhoria. Assim, deve-se evitar tratar
os resultados como verdades absolutas, perenes. Sugere-se, portanto, o uso de formas, como: sugere-
se..., os resultados levam a crer..., pode-se inferir... etc.
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- Autoria: é ilegal, incorreto e indelicado fazer afirmações de idéias, falas, conceitos, cuja autoria pertence
a outrem sem citá-lo. Assim como o conhecimento é gerado sobre outro conhecimento já produzido por
alguém, deve-se, sempre, outorgar a autoria do conhecimento que se está utilizando para formar um
novo ao seu autor. Ou seja, toda e qualquer afirmação, conceito, fala, teoria, que não for de autoria do
autor do trabalho deve ser feita citando-se o seu autor, seja literalmente, seja parafrasicamente.
Kotz citado por Fachin (2006) resume os princípios para se escrever com clareza e eficácia um
texto científico: (a) conservar as frases curtas; (b) preferir o simples ao complexo, as palavras familiares;
(c) evitar palavras desnecessárias; (d) por ação nos verbos; (e) escrever como se fala; (f) usar termos
que o público possa compreender; (g) variar formatos; (h) escrever para expressar, e não para
impressionar.
O Quadro 2 compara o gênero científico com o literário e o técnico empresarial, com o objetivo de
ressaltar o caráter de comunicação e apreciação para fins de aprovação do primeiro.

4. METODOLOGIA E PESQUISA

Não se deve aceitar jamais como verdadeira alguma coisa de que não se conheça a evidência
como tal, isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção, incluindo apenas, nos juízos, aquilo
que se mostrar de modo não claro e distinto ao espírito que não subsista dúvida alguma (René
Descartes, em Discurso sobre o método).

4.1. Metodologia científica


Enquanto a ciência se propõe a captar e entender a realidade, a metodologia se preocupa em
estabelecer formas de como se chegar a isto, através da pesquisa científica. Mesmo que talento, bons
professores, bons livros e boas fontes de consulta sejam condições necessárias para atingir um objetivo,
se não houver uma atitude, um método, disciplina, dificilmente se alcançará êxito. Pode-se entender
metodologia como um caminho que se traça para se atingir um objetivo qualquer. É, portanto, a forma, o
modo para resolver problemas e buscar respostas para as necessidades e dúvidas. A metodologia
científica é um caminho que procura a verdade num processo de pesquisa, ou aquisição de

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conhecimento; um caminho que utiliza procedimentos científicos, critérios normalizados e aceitos pela
ciência.
Assim, pode-se definir metodologia científica como:
- tratado dos métodos; conjunto de métodos e técnicas utilizados numa investigação, numa ação.
- caminho a ser percorrido para atingir o objetivo; uma resposta que satisfaça à lógica, à verdade.
- maneira de conduzir uma pesquisa; uma preocupação instrumental; trata das formas de se fazer
ciência; cuida dos procedimentos, das ferramentas, dos caminhos.
- conhecimento geral e as habilidades que são necessários ao pesquisador para se orientar no processo
de investigação, tomar decisões oportunas, selecionar conceitos, hipóteses, técnicas e dados
adequados.
Na expressão Metodologia, há inúmeras formas de conhecimento. Pode-se dizer que ela trata do
conhecimento científico, métodos científicos, técnicas de pesquisa, projetos de pesquisa, estrutura e
elaboração de relatórios científicos, estrutura e elaboração de monografias, estatística aplicada à
pesquisa, teorias e modelos científicos, problemas, temas, hipóteses e variáveis, trabalhos de
comunicação científica, tipologia do conhecimento, classificação das ciências, aspectos gráficos dos
trabalhos científicos, planejamento da pesquisa e dos trabalhos científicos, normas técnicas para os
trabalhos e para a redação científica. Isto requer dizer que uma comunicação científica, para ser válida,
pressupõe o conhecimento e o domínio da metodologia científica.

4.2. Pesquisa
Pesquisa (busca com investigação, com diligência) informar-se a respeito de; empregar meios
para se chegar ao conhecimento da verdade; busca, indagação, investigação.
A pesquisa é a atividade básica da ciência; a descoberta científica da realidade. É anterior à
atividade de transmissão do conhecimento; é a própria geração do conhecimento; é a atividade científica
pela qual descobrimos a realidade. Partindo-se do princípio de que a realidade não se apresenta com
clareza na superfície, não é o que aparenta à primeira vista, conclui-se que as formas humanas de
explicar a realidade nunca esgotam a verdade, porque esta é mais exuberante que aquelas. A partir daí,
imaginamos que sempre existe o que descobrir na realidade, equivalendo a isto a aceitar que a pesquisa
é um processo interminável, intrinsecamente processual. Pesquisa é, pois, um fenômeno de busca de
conhecimento constituído de aproximações sucessivas e nunca esgotado; ou seja, não é uma situação
definitiva diante da qual já não haveria mais o que descobrir.
A pesquisa científica é, essencialmente, um procedimentos intelectual, racional, fruto de
curiosidade e indagação. Trata-se de uma atitude de busca de respostas, de novas verdades, novas
explicações sobre fatos, objetos, sobre a realidade, enfim. A necessidade dessa busca surge a partir de
uma questão não respondida, de um problema que nos induz a procurar resposta, de uma curiosidade de
conhecer a fundo algo que nos fascina ou motiva. E para que essas respostas sejam válidas, o
pesquisador deve utilizar-se de métodos e técnicas adequados à questão e procurar aprofundar seus
conhecimentos para saber manipular esses métodos e técnicas e interpretar os resultados encontrados.
Para ser científica, a pesquisa precisa se ancorar em rígidos critérios de coerência, consistência
de análise, originalidade e objetividade. Por isso, a importância do uso de uma metodologia
cuidadosamente escolhida e aplicada para se praticar a pesquisa científica. Na construção dessa
metodologia, dever-se-á considerar como pontos básicos: o planejamento, a divisão da pesquisa em
etapas, as atividades específicas de cada etapa, os recursos que serão utilizados, um cronograma de
controle e os objetivos da pesquisa. A pesquisa científica se propõe a explorar o mundo físico, ou seja,
estudar a complexidade das coisas para melhor entendê-las nos seus princípios e funcionamento;
descrever o mundo físico, ou seja, estudar, analisar, registrar, interpretar e descrever os fatos do mundo
físico sem a interferência do pesquisador; e, finalmente, explicar o mundo físico, registrar fatos, analisá-
los, interpretá-los e identificar suas causas.

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4.3. Pesquisa qualitativa
Por quê? Como? Por que a variação? Como lidar com...? Quais as implicações de...? Qual a
explicação para...? Qual a melhor solução para...?
A pesquisa qualitativa considera que há uma relação dinâmica, particular, contextual e temporal
entre o pesquisador e o objeto de estudo. Por isso, carece de uma interpretação dos fenômenos à luz do
contexto, do tempo, dos fatos. O ambiente da vida real é a fonte direta para obtenção dos dados, e a
capacidade do pesquisador de interpretar essa realidade, com isenção e lógica, baseando-se em teoria
existente, é fundamental para dar significado às respostas.
Esse tipo de pesquisa se fundamenta na discussão da ligação e correlação de dados
interpessoais, na coparticipação das situações dos informantes, analisados a partir da significação que
estes dão aos seus atos. Na pesquisa qualitativa, a verdade não se comprova numérica ou
estatisticamente, mas convence na forma da experimentação empírica, a partir da análise feita de forma
detalhada, abrangente, consistente e coerente, assim como na argumentação lógica das ideias, pois os
fatos em ciências sociais são significados sociais, e sua interpretação não pode ficar reduzida a
quantificações frias e descontextualizadas da realidade.
Deve-se considerar que há termos nas respostas dadas tão carregados de valores, que só um
participante do sistema social estudado, que vive e conhece a realidade daquele grupo, pode
compreendê-los e interpretá-los. Por esse motivo, é a pesquisa mais utilizada e necessária nas ciências
sociais. Na pesquisa qualitativa, o pesquisador participa, compreende e interpreta.

4.4. Pesquisa quantitativa


Quantas pessoas de uma determinada população compartilham uma característica ou um grupo
de características? É possível quantificar? Cruzar quantidades? Deve-se amostrar?
A pesquisa quantitativa parte do princípio de que tudo pode ser quantificável, ou seja, que
opiniões, problemas, informações, serão mais bem entendidas se traduzidas em forma de números.
Trata-se da atividade de pesquisa que usa a quantificação tanto nas modalidades de coleta de
informações, quanto no tratamento dessas, através de técnicas estatísticas, desde as mais simples,
como: percentual, média, desvio-padrão, às mais complexas, como coeficiente de correlação, análise de
regressão etc. Sua melhor aplicação é quando se pretende garantir a precisão dos resultados, evitando
distorções de análise de interpretação e possibilitando, em conseqüência, uma margem de segurança
quanto às inferências. Portanto, pesquisa quantitativa se realiza na busca de resultados precisos, exatos,
comprovados através de medidas de variáveis preestabelecidas, na qual se procura verificar e explicar
sua influência sobre outras variáveis, através da análise da freqüência de incidências e correlações
estatísticas. Os resultados são obtidos e comprovados pelo número de vezes em que o fenômeno ocorre
ou com a exatidão em que ocorre. A resposta que se busca na investigação deve ser obtida de forma
numérica, exata, inquestionável. Na pesquisa quantitativa, o pesquisador descreve, explica e prediz.

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4.5. Qualificar versus Quantificar
É importante salientar que as pesquisas quantitativa e qualitativa não são excludentes. Na
verdade, à exceção das situações em que o que se pretende com a pesquisa é chegar a um resultado
numérico, quantitativo, a pesquisa quantitativa atua como uma compiladora e organizadora de
informações para serem analisadas crítica e qualitativamente.
Ambos os tipos de pesquisa devem sinergicamente se complementar, sem associar processos e
questões metodológicas dos métodos quantitativos exclusivamente às ciências exatas, biológicas e
naturais, ou os métodos qualitativos ao pensamento interpretativo ou às ciências humanas e sociais. A
interpretação serve para analisar erros decorrentes de leitura errônea de medidas ou defeitos de
instrumentos, assim como a quantificação pode auxiliar na análise interpretativa de um fenômeno. É
preciso superar uma possível dicotomia existente entre pesquisa qualitativa e pesquisa quantitativa, pois
é possível, e quase sempre necessário, fazer uma análise qualitativa de dados quantitativos, assim como
utilizar dados obtidos por técnicas quantitativas para se proceder a uma análise qualitativa.
Exemplificando, situações que pedem técnicas quantitativas de análise, como: controle de
estoques, pesquisas de opinião pública, marketing, distribuição de material, custos, controle de
qualidade, censo, avaliação de desempenho, entre outras, podem ser combinadas com técnicas
qualitativas para elaboração de previsões, táticas organizacionais, modelos de otimização de trabalho,
estabelecimento de políticas sociais, empresariais etc.

4.6. Pesquisa Qualiquanti


Quantos pensam, se comportam da mesma forma? Qual o percentual de pessoas que aprovam
condicionalmente... ? Pode-se medir e ao mesmo tempo qualificar?
Considera-se como “qualiquanti” (importante instrumento de pesquisa social) a pesquisa que
quantifica e percentualiza opiniões, submetendo seus resultados a uma análise crítica qualitativa. Isso
permite levantar atitudes, pontos de vista, preferências que as pessoas têm a respeito de determinados
assuntos, fatos de um grupo definido de pessoas. Permite identificar falhas, erros, descrever
procedimentos, descobrir tendências, reconhecer interesses, identificar e explicar comportamentos.
Ela utiliza um instrumento de coleta de dados específico: o questionário com escalas, que não
faz perguntas, mas afirmações, proposições, juízos de valor, seguidos de uma escala ascendente de
opiniões a respeito daquela proposição, na qual o respondente irá se posicionar. As escalas são critérios
estabelecidos pelo pesquisador conforme seus objetivos para medir, quantificar atitudes, opiniões,
comportamentos, predisposições das pessoas em relação a uma pessoa, um objeto, uma situação
qualquer, permitindo a análise qualitativa dos dados obtidos quantitativamente. Ao responder ao
questionário, a pessoa estará denotando uma determinada atitude em relação ao que está sendo
proposto. E isso permitirá ao pesquisador associar a resposta a um comportamento.

5. MÉTODOS DE PESQUISA

5.1. O método e a técnica


Por método entende-se um procedimento, um dispositivo ordenado, um conjunto de
procedimentos sistemáticos, utilizado para se obter um resultado desejado, por exemplo, uma
observação, um dado, uma comparação, uma demonstração etc. Método é, portanto, o plano geral,
norteador do processo, o caminho, o modo escolhido para se chegar a uma resposta, a uma solução. A
técnica é o instrumento de aplicação do plano, os passos a serem seguidos, a forma especial de aplicar
o método. As técnicas são ferramentas importantes no diagnóstico do problema, para detalhamento dos
dados e informações a respeito do objeto de interesse da pesquisa (órgão ou pessoa). Se bem
elaboradas, exercem fundamental papel para a fidelidade, qualidade e completude do diagnóstico
situacional.
Assim, o conjunto de técnicas define o método a ser usado numa pesquisa. A relação que pode
ser estabelecida é que, enquanto o método é a estratégia maior, a filosofia de ação, a técnica
corresponde à tática, aos passos e instrumentos necessários para o desenvolvimento do método e,
portanto, para o sucesso da pesquisa. Importante entender que o método não é uma fórmula mágica

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que, se corretamente aplicada, garante os resultados desejados. Ele é apenas um conjunto de
procedimentos que direciona a investigação; portanto, uma ferramenta de trabalho, a soma da
competência do usuário com a boa escolha e aplicação do método. Os métodos têm graus de variação
de abrangência e importância para a pesquisa. Dependendo da situação, podem ser tratados como
técnicas de pesquisa ou métodos de menor grau.

5.2. Método científico – o método geral


O método geral ou científico não é uma forma específica de tratar um problema ou assunto; ao
contrário, trata de maneira geral de proceder, válida e necessária a todas as formas de pesquisa. Ele
pode ser assim entendido porque traduz uma postura objetiva e direcionada do pesquisador; está
relacionado diretamente com os princípios da ciência, ou seja, pressupõe que não haja verdades
perenes; ao contrário, a dúvida deve ser constante, metódica, questionadora, com o propósito de
esclarecer, racional e logicamente, as questões envolvidas na investigação.
 o método científico de fazer pesquisa procura descobrir a verdade dos fatos, que, uma vez
descobertos, devem guiar o uso do método. Isto quer dizer que ele não deve ser normativo, prescritivo,
mas orientador. Em síntese, é postura, atitude de objetividade do pesquisador, visando obter maior
racionalidade e coerência na obtenção dos seus objetivos.

5.3. Métodos específicos


Cada área do conhecimento com suas peculiaridades e problemas específicos vai exigir métodos,
caminhos específicos a serem seguidos. São adequações do método científico geral às varias faces e
interesses da ciência, os vários campos do conhecimento humano. A especificidade e a complexidade de
cada problema irão determinar o método (ou métodos) ideal a ser utilizado, aquele que melhor atenda às
exigências do objeto pesquisado, aos meios e processos necessários à pesquisa. Os métodos
específicos têm por objetivo proporcionar ao investigador os meios técnicos para garantir a objetividade e
a precisão no estudo dos fatos sociais. Eles fornecem a orientação necessária à realização da pesquisa
social, sobretudo no que se refere à obtenção, processamento, análise e validade dos dados pertinentes
à problemática que está sendo investigada.
Podem ser identificados vários métodos específicos nas ciências sociais. Nem sempre um
método é adotado rigorosa ou exclusivamente numa pesquisa. Em geral, dois ou mais métodos são
combinados. Isto porque os métodos específicos de que dispõem as ciências sociais nem sempre são
suficientes para orientar todos os procedimentos a serem desenvolvidos ao longo das investigações. A
seguir alguns exemplos de métodos científicos utilizados.

5.3.1. O Estudo de Caso


O uso do método do estudo de caso de administração no Brasil é relativamente recente, embora
não se tenha uma data específica do seu surgimento. A idéia básica do método nasceu na Universidade
de Harvard, onde começou a ser usado nas faculdades de medicina e direito inicialmente, com o objetivo
de aproximar os alunos da realidade prática destas áreas de estudo. Na faculdade de administração,
entre 1909 e 1919, executivos passaram a ser convidados a palestrar em aulas para apresentar
questões vivenciadas na realidade empresarial, ensinando os alunos a desenvolver análises,
recomendações e soluções para problemas organizacionais, antes trabalhados de forma teórica, apenas.
Essa experiência representou o início do desenvolvimento de estudos de casos nos Estados Unidos.
O método de estudo de caso consiste na investigação de casos isolados ou de pequenos grupos,
com o propósito básico de entender fatos, fenômenos sociais. Trata-se de uma técnica utilizada em
pesquisas de campo que se caracteriza por ser o estudo de uma unidade, ou seja, de um grupo social,
uma família, uma instituição, uma situação específica, uma empresa, um programa, um processo, uma
situação de crise, entre outros, com o objetivo de compreendê-los em seus próprios termos, ou seja, no
seu próprio contexto. Caracteriza-se por exigir estudo aprofundado, qualitativo e/ou quantitativo, no qual
se procura reunir o maior número de informações sobre o objeto de interesse, utilizando-se variadas
técnicas de coletas de dados, para apreender todas as variáveis da unidade analisada e concluir,
indutivamente, sobre as questões propostas.

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Tais preocupações são necessárias, pois, ao contrário das ciências naturais, os fenômenos das
ciências sociais não estão dissociados do seu contexto. Esta preocupação com a amplitude de
instrumento para coleta de dados é que diferencia o estudo de caso de outras técnicas de pesquisa de
campo qualitativa, como relatos de experiências vividas, descrição histórica de eventos, fatos, situações,
levantamentos de informações etc.
A vantagem do estudo de caso reside na possibilidade de penetração na realidade social, o que
não é conseguido no estudo puramente quantitativo. Sua limitação está no fato de que conclusões dele
extraídas não podem ser generalizadas, na medida em que o estudo de caso trata resultados
contextuais, contingenciais, específicos de uma unidade, um momento histórico, um fato. Sua
importância, entretanto, principalmente nas ciências sociais, reside no fato de que o seu estudo não
apenas gera uma competência teórica para análise crítica e qualitativa de uma situação, como também
cria uma referência de atuação, um modelo a ser seguido em situações futuras, nas quais os mesmos
elementos de análise se fizerem presentes. Como uma estratégia de pesquisa, o estudo de caso é usado
em muitos campos, como: ciência política, administração, psicologia, sociologia; organizações, pesquisa
de planejamento regional, como estudos de planos, bairros, ou agências públicas.

5.3.2. História de Vida e História Oral


História de vida e história oral são métodos que utilizam como fontes de informação pessoas, em
relatos escritos ou falados, cuja experiência de vida esteja diretamente relacionada com o objeto de
estudo. Na história de vida, são analisadas reações espontâneas, experiências particulares, visões
pessoais, que traduzam valores, padrões culturais, exemplos de épocas e auxiliem na análise do objeto
de interesse. Na história oral, procura-se obter impressões, depoimentos orais de pessoas que
testemunharam acontecimentos importantes para a compreensão de fatos sociais e determinantes para
a análise do tema em estudo.

5.3.3. Estatístico
Consiste da aplicação da teoria estatística da probabilidade. Assim, deve-se ter claro que seus
resultados indicam probabilidades, não certezas. Para tanto, devem ser adotados rigorosos critérios de
seleção de amostras para verificação, de forma a obter um grau razoável de precisão. Nele, a verdade
será comprovada através do número de vezes em que o fenômeno aparece e os instrumentos escolhidos
para a busca criam parâmetros e amostras para análise. Não é uma simples coleção de dados, mas uma
matemática aplicada à análise dos dados numéricos de observação, a partir de amostragens,
generalizações, probabilidades (ex.: pesquisa de opinião pública).

5.3.4. Experimental
Consiste em submeter o objeto de estudo à influência de certas variáveis, em condições
controladas e conhecidas, para observar os resultados que a variável produz no objeto. Ou seja, cria-se
uma situação laboratorial para testar o objeto e comprovar sua validade (ex.: física, química, biologia
etc.).

5.3.5. Observacional
Este método, embora considerado o mais primitivo, impreciso, ele é um dos mais utilizados nas
ciências sociais, e pode ser visto, também, como o mais moderno, pois possibilita o mais elevado grau
de precisão na captação dos dados. Consiste na observação, no uso dos sentidos para captar dados da
realidade que se quer investigar. Por ser confundido com a técnica de observação, o método
observacional consiste na opção do caminho a se seguir numa investigação, enquanto a técnica da
observação é uma forma de obtenção de dados, que pode ser, e o que é em geral, associada a
quaisquer métodos de pesquisa. Este método é muito eficaz para se acompanhar processos
comportamentais, clima organizacional etc.

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5.3.6. Survey para medir opinião e atitudes
O survey é o método que utiliza escalas de medidas, muito usado na pesquisa qualiquanti, cujo
propósito é medir e quantificar opiniões e atitudes. Semelhante ao processo utilizado em censos, o
survey contempla, porém, apenas uma amostra da população, enquanto o censo geralmente implica uma
enumeração da população toda. O significado da palavra survey nos remete às noções de levantamento,
sondagem, varredura; por isso, sua importância e adequação principalmente para medir atitudes,
motivos, opiniões de grupo de pessoas definido por amostra. Estas características fazem do survey o
instrumento adequado para uso em pesquisas de mercado (market research), pesquisas de opinião
pública, pesquisas políticas (intenção de voto), na qual se pretende medir, através de uma amostra
menor definida, a opinião de uma população também definida de pessoas. O survey reparte-se entre a
descrição e a explicação. Os analistas do survey medem variáveis e depois as associações entre elas.
Suas principais características:
- seus itens de averiguação são colocados na forma de proposição e não de perguntas, o que facilita a
aplicação cuidadosa do pensamento lógico.
- trata-se de pesquisa cujo propósito é entender a população maior da qual a amostra foi inicialmente
selecionada, através de proposições gerais sobre o comportamento humano.
- o processo, que visa replicar um achado entre subgrupos diferentes (por sexo, por idade tc.), fortalece a
certeza de que ele representa um fenômeno geral na sociedade.
- com a pesquisa, busca-se o máximo de compreensão com um número limitado de variáveis.
- conceituar e medir variáveis são características da prática científica. Variáveis não adequadamente
conceituadas e medidas impedem que as correlações façam sentido. Assim, observadores
independentes, discordando sobre como variáveis podem discordar da conclusão geral.
- sendo o ato de medir um dos problemas da pesquisa em survey, a própria presença de pesquisadores
pode afetar os entrevistados. Pedir uma opinião, por exemplo, pode servir para cristalizar uma opinião já
existente. Ou pode ocorrer de o respondente formar opinião na hora da pesquisa. Por isso, a importância
de o cientista social ter uma compreensão mais sofisticada da medição e da conceituação, e formular de
forma isenta e consciente as questões a serem medidas.

6. TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS

Técnicas são instrumentos utilizados para coletar dados e informações, visando à análise e à
explicação de aspectos teóricos estudados. São ferramentas essenciais para a fidelidade, qualidade e
completude da pesquisa. Sua elaboração e aplicação devem seguir critérios técnicos rigorosos, que não
comprometam a qualidade dos resultados. Dados e informações ruins, incompletos, distorcidos,
falsearão a realidade, e tornarão a análise pobre e sem utilidade para o propósito da pesquisa. As
técnicas mais comuns de coleta de dados são: a análise de documentos da empresa ou grupo social, a
observação pessoal, as várias modalidades de entrevista e o questionário. Cada uma dessas técnicas
tem uma finalidade, um público específico e agrega, cada um à sua forma, valor ao processo de análise.
A coleta de dados ocorre após a definição clara e precisa do tema, problema, objetivos, revisão da
bibliografia e da identificação das categorias de análise e da opção sobre o tipo de trabalhos que se vai
realizar (proposição de planos, avaliação de programas, estudo de caso etc.). Coletar dados é, em
síntese, observar a vida real; por isso, o levantamento de dados se classifica quanto à sua natureza em:
 Dados primários: dados coletados, em primeira mão, como pesquisa de campo, testemunho oral,
depoimentos, entrevistas, questionários, laboratórios, conferências gravas etc. Neste caso, deve-se
procurar manter absoluta fidelidade às mensagens, opiniões, fatos observados e colocações feitas.
 Dados secundários: coletados através de análise documental, ou seja, em documentos, relatórios,
livros, revistas, jornais, sites etc. Neste caso, deve-se, obrigatoriamente, manter a autoria das idéias e
falas, através da informação do autor, seja de forma literal ou parafrásica.
 Dados terciários: quando citados por outra pessoa; ao qual não se teve acesso para comprovação ou
confirmação (ex.: notas de sala de aula, citações de conferências, palestras, informação fornecida por

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entrevistados etc.). Neste caso, deve-se, sempre, informar a inexistência de condições para a aceitação
como verdade absoluta da informação recebida.

6.1. Observação Indireta


Trata-se de obtenção de dados, feita indiretamente; ou seja, não através das pessoas, mas de
documentos pessoais ou institucionais, material gráfico, quadros, tabelas, fotografias etc., produzidos por
pessoas e/ou instituições constantes da população definida na metodologia proposta para a pesquisa.
São, portanto, dados secundários. Os dados são feitos e analisados a partir de leitura e interpretação do
material disponibilizado.

6.1.1. Análise documental


A observação indireta se faz através da técnica da análise documental, que significa consulta a
documentos, registros pertencentes ou não ao objeto de pesquisa estudado, para fins de coletar
informações úteis para o entendimento e análise do problema. Faz parte do processo de conhecimento e
identificação do problema, sem o qual a busca da solução será inócua e sem eficácia. No caso de
documentos pertencentes ao objeto da pesquisa, devem ser pesquisados documentos que reflitam a
natureza, a filosofia, a política da empresa, tais como: regimentos, estatutos, planos de cargos e
carreiras, organogramas, contratos sociais. Documentos de rotina poderão ser utilizados em casos e fins
específicos. Outros documentos podem servir à análise documental: documentos oficiais, publicações
parlamentares, documentos jurídicos, fontes estatísticas, publicações administrativas, documentos
particulares, documentos iconográficos, fotografias, objetos, entre outros. A escolha do tipo de
documento a ser consultado será feita com o propósito de ampliar as informações sobre o objeto de
interesse e em função de sua importância para a análise e interpretação dos dados da pesquisa. Os
dados obtidos na observação indireta são chamados secundários.

6.2. Observação Direta Intensiva


A observação direta pode ser intensiva (quando envolve o contato direto com a fonte) ou
extensiva (quando esse contato não é essencial na obtenção das informações). Outra forma de se
trabalhar com a observação direta na obtenção de dados do campo é através de dados terciários, ou
seja, dados relatados por terceiros, cuja comprovação não pode ser obtida. A observação direta utiliza
dados primários, na medida em que se caracteriza pelo contato direto com as fontes (encontro pessoal,
ou análise de documentos produzidos por pessoas definidas, pelas suas características, como elementos
da amostra da pesquisa). As respostas são analisadas em função e considerando-se as características
definidas para a amostra.
As técnicas de observação direta são utilizadas na pesquisa de campo, que é a forma de verificar
como a teoria estudada e as variáveis propostas se comportam em situações concretas e no ambiente
real onde os fatos ocorrem. São dados contextualizados, extraídos da vida real, que valorizam a análise
em pesquisas em ciências sociais, cujo objeto de interesse seja o homem e seu comportamento, dentro
de um contexto social específico. A observação direta se faz através de entrevistas, questionários ou das
várias formas de observação.

6.2.1. Observação
Técnica de coleta de dados que utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da
realidade; consiste não apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se
deseja estudar; permite perceber aspectos que os indivíduos não têm consciência, mas manifestam
involuntariamente.

a) Observação assistemática
 observação não estruturada, espontânea, informal, ordinária, simples, livre, ocasional e acidental.

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 recolhe e registra fatos da realidade sem que o pesquisador utilize meios técnicos especiais ou precise
conduzir as perguntas.
 adequada para estudos exploratórios e não tem planejamento e controle previamente elaborados.

b) Observação sistemática
 observação estruturada, planejada, controlada; utiliza instrumentos para coleta.
 realiza-se com condições controladas, para responder a propósitos pré-estabelecidos.

c) Observação não-participante
 chamada passiva, o observador toma contato com a comunidade, grupo ou realidade estudada, mas
sem integrar-se a ela; permanece oculto ao grupo.
 presencia o fato, mas não participa dele; não se deixa envolver pelas situações; é o expectador.

d) Observação participante
 pesquisador participa com a comunidade ou grupo ou realidade estudada.
 incorpora-se ao grupo; confunde-se com ele.

e) Observação individual
 realizada por um pesquisador apenas; a personalidade dele se projeta sobre o observado, fazendo
inferências ou distorções, pela limitada possibilidade de controles.
 pode intensificar a objetividade das informações.

f) Observação em equipe
 realizada por uma equipe, que pode ver a realidade de vários ângulos.
 permite a oportunidade de confrontar seus dados posteriormente e verificar as predisposições.

g) Observação na vida real


 observações feitas no ambiente real, registrando-se os dados na medida em que forem ocorrendo,
espontaneamente, sem a devida preparação.

h) Observação em laboratório
 tenta descobrir a ação e a conduta, ocorre em condições dispostas e controladas.
 possuir caráter (até certo ponto) artificial.
 exige instrumentos adequados para observações mais refinadas do que as fornecidas pelo uso dos
sentidos.

6.2.2. Entrevista
Encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de
determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É considerada um
instrumento de excelência da investigação social, pois estabelece uma conversação face a face, de
maneira metódica, proporcionando ao entrevistado, verbalmente, a informação necessária. Por isso,
melhores resultados de uma entrevista serão obtidos se aplicada aos grupos tático e gerencial da
empresa (chefes, gerentes, coordenadores), e ao grupo estratégico (alta administração).
Excepcionalmente, é aplicada a grupos estratégicos, envolvidos com o problema em questão, ou com
algum tipo de liderança informal atuante na empresa.

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a) Objetivos: averiguação de fatos, determinação de clima, sentimentos, expectativas, sonhos,
descoberta de planos de ação, conduta atual ou do passado, motivos conscientes para opiniões.
b) Vantagens: pode ser utilizada em todos os segmentos da população: analfabetos ou alfabetizados,
fornece melhor amostragem, maior flexibilidade, permitindo esclarecimentos, perguntas, confirmações
etc., maior oportunidade de avaliar atitudes, condutas, registro de reações, gestos etc., oportunidade
para obtenção de dados relevantes que não se encontram em fontes documentais, possibilita obter
informações mais precisas, comprováveis de imediato, permite dados quantificados e submetidos a
tratamento estatístico.
c) Limitações: dificuldade de expressão ou comunicação de ambas as partes, incompreensão, pelo
informante, do significado das perguntas, levando a uma falsa interpretação, possibilidade de o
entrevistador influenciar, consciente ou não, o entrevistado etc., disposição do entrevistado em dar as
informações necessárias, pequeno grau de controle sobre uma situação de coleta de dados, ocupa muito
tempo e é difícil de ser realizada.

 Tipos de Entrevistas

a) Padronizada ou estruturada
O entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido: as perguntas feitas são
predeterminadas (formulário), permitindo a comparação das respostas às mesmas perguntas e à
conclusão que as diferenças devem refletir nos respondentes e não nas perguntas; o pesquisador não é
livre para adaptar suas perguntas.

b) Despadronizada ou semiestruturada
O entrevistado tem liberdade para desenvolver cada situação em qualquer direção que considere
adequada; permite explorar mais amplamente uma questão. Apresenta três modalidades: entrevista
focalizada (com roteiro de tópicos, utilizada para estudos de situações de mudança de conduta);
entrevista clínica (organizada em uma série de perguntas específicas; utilizada para estudar motivos,
sentimentos, conduta das pessoas); entrevista não dirigida (liberdade incentivada do entrevistado).

6.2.3. Grupo Focal


Técnica de avaliação apropriada para pesquisas, atitudes, preferências, necessidades, clima,
sentimentos. Este técnica, conhecida como entrevista em profundidade, fornece informações qualitativas
e utiliza a entrevista com grupos de pessoas pertencentes ao ambiente de análise, como forma de coleta
de dados. Cria-se um grupo de discussão, formado com cerca de dez pessoas, que têm características
em comum, e conhecem o foco da discussão (o problema, a instituição, o objeto de interesse, enfim),
para, incentivados pelo moderador do grupo, discutirem sobre o objeto de interesse, trocando
experiências e interagindo sobre suas idéias, sentimentos, valores, dificuldades, soluções etc.
O objetivo é que o grupo faça análises qualitativas, levante motivos, razões, propostas de
soluções e visão diferenciadas para os problemas apontados. Os procedimentos para o grupo focal são:
- formação de três ou quatro grupos, constituídos de seis a doze pessoas.
- escolha dos participantes em consonância com os objetivos da pesquisa (o participante deve ter opinião
formada a respeito do assunto).
- membros participantes devem ter nível sociocultural semelhante e, preferencialmente, estranho uns aos
outros.
- envolvimento do moderador deve ser de acordo com o que se pretende na entrevista.
- elaboração de um roteiro de entrevista, com palavras-chaves (contendo as categorias de análise),
formação de sínteses.
- gravação ou anotação dos dados e informações obtidos, que deve ser apresentada ao grupo no início
de cada sessão, seguida da apresentação do moderador e dos participantes.

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- cuidado com o local de realização da entrevista; deve ser agradável, confortável, privado,
preferencialmente, com os participantes acomodados em uma mesa oval ou redonda, em forma de U,
ficando o moderador na cabeceira.

6.3. Observação Direta Extensiva


A observação direta extensiva para coleta de dados na pesquisa de campo compreende o
questionário, o formulário, e o questionário que utiliza escalas de medida, para medir opinião e atitudes e
técnicas mercadológicas.

6.3.1. Formulário e Questionário


O formulário é um instrumento de coleta de dados constituído de uma lista formal de questões
previamente elaboradas e ordenadas e voltadas para o propósito da pesquisa. Sua grande característica
reside no fato de ser preenchido pelo pesquisador, preferencialmente na presença do pesquisado. No
formulário, o pesquisador faz as perguntas, esclarece dúvidas, e registra, ele mesmo, as respostas, após
criticá-las e adequá-las aos objetivos da pesquisa. Neste instrumento, a coleta deve ser feita, de
preferência, individualmente, ou restrita a pequenos grupos para que a atuação do pesquisador possa
ser mais efetiva. Corre-se, com este instrumento, menor risco de ser mal interpretado ou preenchido por
outra pessoa, além de possibilitar maior consistência nas respostas. Exemplos de formulário é a coleta
de dados do censo anual.
O questionário é um formulário, previamente construído, constituído por uma série ordenada de
perguntas em campo fechados e abertos, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do
entrevistador. Por isso, deve-se atentar para o cuidado na elaboração das perguntas, para que não haja
duplicidade de interpretação. É importante que o pesquisador se conscientize de que em uma pesquisa
de dados remota nem sempre há o envolvimento e, consequentemente, necessita do cuidado para
garantir a verdade e completeza das respostas.
Na aplicação de um questionário, em que o pesquisador não se faz presente, deve ser enviada,
junto, uma nota explicativa da natureza da pesquisa, importância, necessidade da obtenção das
respostas, para despertar a colaboração e a devolução dentro do prazo solicitado. É considerado um
instrumento de valor significativo de coleta de dados, embora seu retorno alcance, em média 25% de
devolução, mais utilizado para coletar dados quantitativos, informativos. Eventualmente, colocam-se em
questionários questões abertas para medir clima, opiniões, expectativas. Mas não é este o seu propósito
primeiro.

a) Vantagens: economiza tempo, viagens e obtém grande número de dados, atinge maior número de
pessoas, economiza pessoal, tanto em adestramento quanto em trabalho de campo, obtém respostas
mais rápidas (anonimato), há mais segurança (anonimato), há menos risco de distorção, pela não
influência do entrevistador, há mais tempo para responder e pode-se escolher hora mais favorável, há
mais uniformidade na avaliação, respostas materialmente inacessíveis.

b) Limitações: percentagem pequena de retorno, perguntas vindas sem resposta, não se aplica a
analfabetos, falta do entrevistador na elucidação das perguntas, falta de compreensão do informante leva
a uma “aparente” uniformidade, devolução depois do prazo dificulta o calendário de ação,
desconhecimento das condições de preenchimento dificulta a verificação, nem sempre é o escolhido
quem responde ao questionário, o que invalida as questões, exige universo mais homogêneo.

6.3.2. Questionário com escalas de medidas


No questionário com uso de escalas de medidas, deve-se cuidar para colocar as opções em
escala progressiva, iniciando pelo menor/pior valor até o maior/melhor valor. Importante, também, é
ressaltar que num mesmo instrumento podem ser colocadas diferentes formas de respostas. A variação
entre o menor/maior valor será decidida em função do que se quer obter do entrevistado. Aconselha-se,
na formulação das questões, que sejam feitas em forma de perguntas e, depois, colocadas em forma de
afirmações para que o entrevistado possa se posicionar na escala. A Escala Likert é importante

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instrumento para pesquisa de campo em ciências sociais, na medida em que quantifica opiniões,
permitindo que os dados possam ser criticados e analisados tanto quantitativa como qualitativamente.
Para tanto, aconselha-se abrir pequeno espaço após cada questão proposta (cerca de duas linhas) para
o entrevistado manifestar, explicitar ou justificar sua resposta, caso seja de seu interesse. Isso poderá
contribuir para a discussão e análise das respostas obtidas.
O princípio do questionário que utiliza escalas de medidas se baseia na premissa de que a atitude
geral se remete às crenças sobre o objeto, à força que mantém essas crenças e aos valores ligados ao
objeto. Escalas de medidas são instrumentos de medição de opiniões, a partir de respostas gradativas e
estabelecidas pelo pesquisador. Elas se compõem de uma série de afirmações relacionadas com o
objeto pesquisado, isto é, representam várias assertivas sobre um assunto. Os respondentes não apenas
concordam ou não com as afirmações, mas informam seu grau de concordância ou discordância.
No caso da Escala Likert, é atribuído um número a cada resposta, que reflete a direção da atitude
do respondente em relação a cada afirmação. A somatória das pontuações obtidas para cada afirmação
é dada pela pontuação total da atitude de cada respondente. Algumas sugestões da Escala Likert:

a) Medição de ocorrência de um fenômeno, situação:


- nunca, raramente, às vezes, geralmente, sempre.
- não, às vezes, indeciso, frequentemente, sim.
- nunca, raramente, às vezes, muitas vezes, sempre.

b) Medição do grau de opinião – concordância/discordância:


- discordo, discordo parcialmente, indiferente, concordo parcialmente, concordo.
- desaprovo totalmente, desaprovo em certos aspectos, não tenho opinião, aprovo com restrições,
aprovo totalmente.

c) Apreciação, avaliação de um objeto, situação, fenômeno:


- péssimo, ruim, regular, bom, ótimo.

d) Medição do grau de satisfação:


- insatisfeito, parcialmente insatisfeito, indiferente, parcialmente satisfeito, satisfeito.

e) Medição do grau de importância:


- sem importância, pouco importante, indiferente, importante, muito importante.

Podem-se utilizar parâmetros definidos quando se pretende delimitar a resposta do pesquisado.


Ex.: Em sua opinião, os alunos precisam ser:
[ ] motivados [ ] punidos [ ] controlados [ ] OUTROS _____________________
Em parâmetros definidos, deve-se criar o campo OUTROS, caso a opinião do respondente não se
encaixar em nenhuma das afirmações propostas. Na resposta OUTROS, deve-se deixar uma linha para
o respondente completar. Ao responder o formulário, a pessoa denotará determinada atitude em relação
ao que está sendo proposto, levando o pesquisador a associar a resposta a um comportamento.
Abaixo de cada afirmação, deixa-se cerca de três linhas para o respondente manifestar opinião
mais detalhada, lembrando-o sempre disso. Preferencialmente, o formulário deve ser preenchido pelo
pesquisador, que lê as afirmações para o respondente e marca a resposta e registra eventuais opiniões.

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