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PITÁGORAS

PÓS-GRADUAÇÃO

Metodologia da Pesquisa

RODRIGUES, Eli Vágner Francisco. Resenha da disciplina Metodologia da Pesquisa.


Pós-Graduação. Faculdade Pitágoras. Belo Horizonte. 2013.
SEÇÃO 1

O CONHECIMENTO CIENTÍFICO E O SENSO COMUM

O conhecimento pode ser definido como uma representação intelectual significativa da


realidade. Dependendo da forma pela qual se chegou a essa representação, sua
classificação pode ser bem diversa: mítico, ordinário, artístico, filosófico, religioso ou
científico. Sendo o conhecimento científico e o senso comum (ou ordinário) os mais
presentes no cotidiano do homem.

1 O conhecimento do senso comum

É a forma de conhecimento mais utilizada pelo homem para interpretar a si mesmo, o


mundo à sua volta e o universo como um todo. Também denominado como conhecimento
ordinário, comum ou empírico, esse conhecimento surge como consequência da
necessidade de se resolver problemas da vida prática, aqueles que surgem a partir do
contato direto com os fatos e fenômenos do dia-a-dia. A percepção sensorial é o seu
principal instrumento de análise.
Vejamos, por exemplo, o homem pré-histórico: como aprendeu a se esconder da
chuva em cavernas, a elaborar instrumentos mais eficazes para a pesca e a caça, a cultivar
plantas para sua sobrevivência, a fazer fogo, a navegar, a fazer remédios caseiros, etc.? Este
aprendizado que lhe permitiu passar à criação de instrumentos mais eficazes como a rede de
pesca, a roda, as armadilhas, o tecido, os utensílios domésticos e as leis que
regulamentavam a convivência dos indivíduos em grupos sociais, foi gerado a partir da
necessidade utilitária de se produzir soluções para os problemas cotidianos – não é algo
planejado ou programado, se desenvolve à medida em que a vida vai acontecendo.
O conhecimento do senso comum é espontâneo, instintivo, não-metódico e
vivencial, caracterizando-se principalmente por um caráter utilitarista, subjetivo e com baixo
poder de crítica, pois trata-se de um conhecimento que não passa por um aprofundamento
crítico e racionalista e não apresenta fundamento teórico que demonstre ou justifique seu uso
ou confiabilidade. Somente a recorrência na resolução dos problemas cotidianos é que o
transforma em uma crença, uma convicção passada de uma geração para a outra. O uso das

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ervas medicinais (erva cidreira, macela, camomila, funcho, etc.) é um bom exemplo de
conhecimento empírico, pois a maioria das pessoas que faz uso delas não sabe quais são as
propriedades químicas que garantem os efeitos proporcionados ao doente. Outro exemplo é
o açúcar cristal: sabe-se de seu alto poder bactericida e cicatrizante, mas a maioria das
pessoas também não estudou suas propriedades químicas.
Outra característica do conhecimento do senso comum é a subjetividade: esse tipo
de saber é predeterminado por crenças, interesses, classe social, convicções pessoais e
expectativas presentes nos sujeitos que o elaboram, de forma que a busca sistemática por
provas e evidências que o teste criticamente não é de interesse de seus detentores. Os
conceitos e os termos empregados para expressar ou descrever este conhecimento
geralmente são vagos, porque geralmente estão ligados a experiências individuais e
situações particulares. A vagueza na linguagem com o qual é descrito colabora com
impossibilidade de controle e avaliação experimental – suporte essencial do conhecimento
científico.
Há outro problema em relação ao conhecimento ordinário, que é a generalização de
sua aplicação por uma inconsciência dos seus limites de validade. Por vezes, as condições
determinantes de um fato são diferentes, mas os mesmos conhecimentos e técnicas são
aplicados na solução dos problemas. Veja, por exemplo, o caso de agricultores leigos que,
sem conhecimento técnico, utilizam o sistema de poda, enxerto, adubação e relação do
plantio com as fases da lua e, se às vezes algum dos fatores dessas condições muda, a
eficiência desse saber é ameaçada. Este ponto caracteriza também o senso comum como
um conhecimento fragmentado.

2 O conhecimento científico

O conhecimento científico surge da necessidade de o homem não assumir uma


posição meramente passiva diante dos fenômenos. Assim, para que possa desvelar o
mundo, compreendê-lo, explicá-lo e dominá-lo, é necessário ao ser humano propor uma
observação mais sistemática, metódica e crítica diante dos fatos.
O que impulsiona o homem à ciência é a necessidade de compreender a cadeia de
relações que se esconde por trás das aparências sensíveis dos objetos, fatos ou fenômenos,
captadas pela percepção sensorial e analisadas de forma superficial, subjetiva do senso
comum. Dessa forma, para se descobrir os princípios explicativos que servem de base
para a compreensão da organização, classificação e ordenação da natureza em que se está

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inserido, é necessária uma observação do objeto de interesse pautada por princípios
científicos que orientem o pesquisador. Esses princípios devem ser expressos na forma de
enunciados que expliquem as condições que determinam a ocorrência dos fatos e dos
fenômenos relacionados a um problema. Reside aí, por exemplo, a importância de uma
linguagem clara e objetiva na elaboração de projetos de pesquisa científica, bem como dos
relatórios resultantes destes.
Por ser resultante do desejo de fornecer explicações sistemáticas que possam ser
testadas e criticadas por meio de provas empíricas e da discussão acadêmica, o
conhecimento científico é produto da necessidade de um conhecimento “seguro”, que vá
além do imediatismo e da “crendice” do senso comum, das religiões e das mitologias. A
investigação científica é a construção e a busca de um saber que acontece no momento em
que se reconhece a ineficácia dos conhecimentos já existentes, é uma modificação, uma
ampliação, uma substituição do conhecimento já existente por outro que possa responder à
pergunta em questão.
O conhecimento científico, na sua pretensão de encontrar respostas seguras para
dúvidas existentes, propõe-se atingir a dois ideais: da racionalidade e da objetividade, de
maneira que a investigação científica tem seu início quando

a) identifica-se uma pergunta que ainda não tenha resposta;


b) verifica-se que o conhecimento existente sobre ela é insuficiente para
respondê-la;
c) percebe-se que é necessário construir uma resposta para essa dúvida; e
d) que esta resposta ofereça provas de segurança e confiabilidade que
justifiquem a crença de que ela é uma boa resposta.

O ideal de racionalidade está em atingir uma sistematização coerente e lógica do


conhecimento presente em todas as suas leis e teorias. As contradições entre as explicações
que porventura componham o corpo de um conhecimento devem ser eliminadas. A ciência,
ao sistematizar um conhecimento, procura unir as diferentes teorias ao estabelecer
relações entre os enunciados, de forma que possa haver uma visão sobre o assunto que
seja global e sem inconsistências.
Um mecanismo de eliminação de incoerências nos enunciados científicos, nas teorias
e leis da ciência são os padrões de verdade sintática. Os enunciados devem estar livres
de ambiguidades e contradições lógicas. No plano sintático não se verifica sobre a
falsidade ou veracidade de um conteúdo empírico de um enunciado, apenas sobre o seu grau

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de logicidade interna ou externa e até que ponto suas afirmações concordam ou discordam
entre si e do paradigma dominante. Por exemplo, veja as divergências entre os modelos
cosmológicos de Ptolomeu, Galileu e Einstein: o primeiro modelo geocêntrico tem a Terra
como centro fixo, o universo é finito e fechado; já no segundo modelo, heliocêntrico, a Terra
gira em torno do seu próprio eixo, o universo é finito e não fechado; enquanto para Einstein, o
centro é desconhecido, o universo é aberto, sem limites e em expansão.
Já o ideal de objetividade tem em vista que as teorias científicas sejam
construções conceituais que representem com fidelidade o mundo real, que contenham
imagens que sejam “verdadeiras”, evidentes, impessoais, passíveis de experimentações e
aceitas pela comunidade científica como provadas em sua veracidade. Esse mecanismo
avalia a verdade semântica. As teorias devem poder testadas por meio de provas factuais
e seus resultados devem poder ser submetidos à avaliação crítica intersubjetiva da
comunidade científica.
A ciência exige o confronto da teoria com os dados empíricos, exige a verdade
semântica como um dos mecanismos utilizados para justificar a aceitabilidade de uma teoria.
Porém, para que se garanta que uma pesquisa científica não seja influenciada pela ideologia,
pela visão de mundo, pelos elementos culturais, pela época, como também pela formação de
mundo do cientista que a realiza, é necessário que haja uma intersubjetividade, uma
possibilidade de a comunidade científica ajuizar sobre a investigação, seus resultados e
métodos utilizados. É a intersubjetividade que proporciona a verdade pragmática. Os
enunciados científicos devem poder ser submetidos a testes, em qualquer época e lugar por
qualquer sujeito.
Ao contrário do senso comum, portanto, o conhecimento científico não aceita a
opinião ou o sentimento de convicção como fundamento para justificar a aceitação de uma
afirmação. A investigação científica é estimulada a criar fundamentos mais sólidos para seus
conhecimentos e a testar permanentemente suas hipóteses de uma forma mais rígida e
severa.
Já em termos de linguagem, no conhecimento científico – contrariamente ao do senso
comum – há o uso de construtos, que são formulações que apresentam os conceitos de
maneira unívoca, consensual e universal, para que se reduza ao máximo a ambiguidade e a
vagueza destes. O uso dos construtos permite um maior poder de testes dos enunciados e,
por consequência, um aumento na discriminação de quais são as observações empíricas
adequadas para a validação de uma observação ou experimento. Percebe-se a partir desta
característica que o conhecimento científico tem um poder de crítica maior do que o do senso
comum, mas isto não lhe confere maior estabilidade ou dogmatismo, muito pelo contrário, as

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teorias científicas estão cada vez mais vulneráveis à localização de erros, assumindo seu
caráter hipotético e suscetíveis à reformulação.
Mas para que um conhecimento seja aceito como científico, ele deve satisfazer a
critérios que justifiquem a sua aceitação. Quais são esses critérios?
Em primeiro lugar, deve haver um método, um procedimento com passos e rotinas
específicas, que indique como algo deve ser feito para ser considerado ciência. Em segundo
lugar, deve se atentar que os critérios de cientificidade estão atrelados à cultura e à história
das diferentes épocas. Fatores históricos determinam a produção científica, tanto pela
questão da disponibilidade técnica de instrumentos que é constantemente aperfeiçoada,
quanto porque não há uma racionalidade científica abstrata, autônoma, que independa dos
fatores culturais de cada época. Reconhece-se aqui, o caráter permanentemente hipotético
do conhecimento científico: já que as explicações serão sempre provisórias, tem-se que
admitir que este tipo de conhecimento também esteja suscetível a falhas. Dessa forma, pode-
se dizer que o conhecimento científico é uma retomada constante das teorias e problemas do
passado e do presente por meio de uma crítica severa e sistemática de seus próprios
postulados e métodos.

3 Pesquisa teórica e pesquisa empírica

Toda pesquisa parte de um problema: uma determinada situação ou condição e


consequências indesejáveis que queremos solucionar. Quanto maiores as consequências da
condição, mais importante é o problema.

3.1 Pesquisa teórica

Trata-se da pesquisa que é "dedicada a reconstruir teoria, conceitos, ideias,


ideologias, polêmicas, tendo em vista, em termos imediatos, aprimorar fundamentos teóricos"
(DEMO, 2000, p. 20). Esse tipo de pesquisa é orientada no sentido de reconstruir teorias,
quadros de referência, condições explicativas da realidade, polêmicas e discussões
pertinentes. A pesquisa teórica não implica imediata intervenção na realidade, mas nem por
isso deixa de ser importante, pois seu papel é decisivo na criação de condições para a

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intervenção. "O conhecimento teórico adequado acarreta rigor conceitual, análise acurada,
desempenho lógico, argumentação diversificada, capacidade explicativa" (DEMO, 1994).
A pesquisa teórica tem por objeto a análise de uma norma, teoria ou conceito, isolado
do contexto social em que se manifesta. Portanto, a solução do problema não é buscada no
mundo fático, mas é concebida na mente do pesquisador a partir da análise das teorias.
Na pesquisa “pura”, básica ou formal, a solução de um problema de pesquisa não tem
nenhuma aplicação aparente em um problema prático, mas apenas satisfaz o interesse
erudito de uma comunidade de pesquisadores.
Por exemplo, para os astrônomos, não saber quantas estrelas há no céu é parte de
um problema de pesquisa pura, de grande significado para eles. Sem conhecer tal número,
não poderão calcular a massa total do universo. Se pudessem calcular essa massa,
poderiam descobrir se o universo continuará a expandir-se até se dissolver, transformando-se
em nada, ou se encolherá, explodindo na criação de um novo universo.
Exemplo de problema de pesquisa pura:

• Tópico: estou estudando a densidade da luz e outras radiações eletromagnéticas em um


pequeno setor do universo;
• Indagação: porque quero descobrir quantas estrelas há no céu;
• Exposição de motivos: a fim de entender se o universo se expandirá para sempre ou se
contrairá, causando um novo Big Bang.

Este é um problema de pesquisa, porque a pergunta implica que não sabemos algo. É
um problema de pesquisa pura porque seu fundamento lógico implica não algo que faremos,
mas algo que não sabemos, mas devemos saber.

3.2 Pesquisa empírica

É a pesquisa dedicada ao tratamento da “face empírica e fatual da realidade; produz e


analisa dados, procedendo sempre pela via do controle empírico e fatual” (DEMO, 2000, p.
21). A valorização desse tipo de pesquisa é pela “possibilidade que oferece de maior
concretude às argumentações, por mais tênue que possa ser a base fatual. O significado dos
dados empíricos depende do referencial teórico, mas estes dados agregam impacto
pertinente, sobretudo no sentido de facilitarem a aproximação prática” (DEMO, 1994, p. 37).

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A pesquisa empírica tem como objeto uma realidade determinada, enquanto a
pesquisa teórica tem como objeto teorias e conceitos. Portanto, a pesquisa empírica
distingue-se da pesquisa teórica pelo seu objeto. No que concerne aos meios utilizados por
uma e por outra, esses são, no geral, os mesmos; ambas operam, no tratamento do seu
objeto, com teorias, com conceitos e com informações sobre a realidade.
A observação direta (espontânea ou dirigida), a coleta e análise de documentos, a
aplicação de questionários (abertos ou fechados) e as entrevistas (espontâneas ou dirigidas)
são alguns dos principais procedimentos da pesquisa empírica.
Nem sempre, porém, é possível obter os dados de forma direta, por meio dos
procedimentos acima. Assim, na pesquisa empírica, poderá o pesquisador valer-se de dados
obtidos indiretamente que podem ser encontrados em livros, em artigos de periódicos e em
todo e qualquer material bibliográfico impresso ou informático.
Ainda que o ideal – até por uma questão de confiabilidade dos dados – seja obter os
dados diretamente, vale lembrar que o pesquisador empírico não necessita obrigatoriamente
realizar trabalhos de campo, pois muitos dos dados da realidade social, política e econômica
de seu problema podem perfeitamente ser encontrados em material bibliográfico das mais
diversas fontes.
O que caracteriza a pesquisa empírica não é a coleta dos dados, mas sim a postura
do pesquisador em relação ao objeto da pesquisa: enquanto na pesquisa teórica a solução
do problema encontra-se na teoria, na norma, no conceito, na pesquisa empírica deverá o
pesquisador buscá-la na realidade social.

Exemplo 1: O cobre é condutor de eletricidade; o ferro, o zinco e a prata também.


Logo, todo o metal é condutor de eletricidade. As ciências aplicadas partem da observação
da realidade e utilizam pesquisa experimental, descritiva (qualitativa ou quantitativa) e a
exploratória.

Exemplo 2:
• Tópico: estou estudando a diferença entre as leituras do telescópio Hubble, em órbita
acima da atmosfera, e leituras das mesmas estrelas pelos melhores telescópios da
superfície terrestre
• Indagação: porque quero descobrir quanto a atmosfera distorce as medidas da luz e de
outras radiações eletromagnéticas
• Exposição de motivos: a fim de medir com maior precisão a densidade da luz e de
outras radiações eletromagnéticas num pequeno setor do universo.

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Tanto a pesquisa pura quanto a aplicada podem ser teóricas ou experimentais. A
pura se propõe unicamente a enriquecer o conhecimento humano, geralmente de interesse
do pesquisador (por motivos cognoscitivos). Para a ciência aplicada, a ciência pura ou básica
é um meio e não um fim. Ciência aplicada é “o conjunto das aplicações da ciência básica”
(Bunge, 1980, p.28), sendo, portanto, indissociáveis.

4 Os quatro tipos de conhecimento

O progresso cientifico, de forma geral, é um produto da atividade humana, para a qual


o homem, compreendendo o que o cerca, passa a desenvolvê-lo para novas descobertas. E,
por relacionar-se com o mundo de diferentes formas de vida, o homem utiliza-se de diversas
formas de conhecimentos, por intermédio dos quais ele evolui e faz evoluir seu habitat.
Dentre estes tipos de conhecimentos encontram-se o filosófico, o teológico, o empírico
e o científico.

4.1 O conhecimento popular, senso comum ou empírico

É um conhecimento que se adquire independentemente de estudos, de pesquisas, de


reflexões ou de aplicações de métodos. Geralmente é adquirido na vida quotidiana e, muitas
vezes, ao acaso; está fundamentado apenas em experiências vivenciadas ou transmitidas de
pessoas para pessoas; faz parte das antigas tradições.
Esse conhecimento também pode derivar de experiências casuais, por meio de erros
e acertos, sem a fundamentação dos postulados metodológicos; ou seja, é um
conhecimento essencialmente de ordem prática.
O primeiro nível de contato do intelecto com o mundo sensível se faz pelo
conhecimento empírico, que se contenta com as imagens superficiais das coisas, com a
visão ingênua do contexto exterior. Para Köche,

esse conhecimento, por suas características, não estabelece relações


significativas de suas interpretações, proporcionando uma imagem
fragmentaria da realidade. A forma pela qual se produz, somente proporciona
condições de estabelecer relações entre as informações conseguidas de uma

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forma vaga e superficial. (KÖCHE, 1997)

As declarações do conhecimento empírico referem-se à vivência imediata sobre os


objetos ou fatos observados, e possui grandes limitações. Por ser um conhecimento do "dia-
a-dia" é preso a convicções pessoais, pode ser incoerente e até impreciso. Outras vezes,
produz crenças arbitrárias com inúmeras interpretações para a complexidade de fatos.
Geralmente, é fruto de uma inclinação de interesses voltados para os assuntos práticos e
aplicáveis somente às áreas de experiência quotidiana. Por exemplo, pelo conhecimento
empírico, os indivíduos sabem o que são folhas de uma planta ornamental, porém não
conhecem sua classificação (ou seja, uma folha, quando completa, apresenta as seguintes
partes: bainha, pecíolo e limbo), pois isto é assunto que compete à área da Botânica. É um
conhecimento limitado, que não proporciona visão unitária global da interpretação das
“coisas” ou fatos.
O conhecimento de senso comum é considerado prático; sua ação se processa
segundo conhecimentos adquiridos em ações anteriores, que não revelam relação científica,
metódica ou teórica. Quando obtido por informações, estas estão ligadas a uma ação
humana. Seus acontecimentos procedem da vivência e parecem contidos previamente dentro
dos limites do mundo empírico. Exemplificando: as pessoas que sabem escrever conhecem o
objeto lápis, porém poucas são as que notaram que ele é composto de grafite, um condutor
de energia.
Reparem que o conhecimento empírico é a estrutura para se chegar ao conhecimento
científico que, embora de nível inferior, não deve ser menosprezado. Ele é a base
fundamental do conhecer, e já existia muito antes de o ser humano imaginar a possibilidade
da existência da ciência.
O conhecimento popular é valorativo por excelência, pois se fundamenta numa
seleção operada com base em estados de ânimo e emoções: como o conhecimento implica
uma dualidade de realidades, isto é, de um lado o sujeito cognoscente (que conhece algo) e,
de outro, o objeto conhecido, e este é possuído, de certa forma, pelo cognoscente, os valores
do sujeito impregnam o objeto conhecido. É também reflexivo, mas, estando limitado pela
familiaridade com o objeto, não pode ser reduzido a uma formulação geral. A característica
de assistemático baseia-se na "organização" particular das experiências próprias do sujeito
cognoscente, e não em uma sistematização das ideias, na procura de uma formulação geral
que explique os fenômenos observados, aspecto que dificulta a transmissão, de pessoa a
pessoa, desse modo de conhecer. É verificável, visto que está limitado ao âmbito da vida
diária e diz respeito àquilo que se pode perceber no dia-a-dia. Finalmente é falível e inexato,

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pois se conforma com a aparência e com o que se ouviu dizer a respeito do objeto. Em outras
palavras, não permite a formulação de hipóteses sobre a existência de fenômenos situados
além das percepções objetivas.
Um exemplo disso é que, desde a Antiguidade até os nossos dias, um camponês,
mesmo iletrado e/ou desprovido de outros conhecimentos, sabe o momento certo da
semeadura, a época da colheita, a necessidade da utilização de adubos, as providências a
serem tomadas para a defesa das plantações de ervas daninhas e pragas e o tipo de solo
adequado para as diferentes culturas. Tem também conhecimento de que o cultivo do mesmo
tipo, todos os anos, no mesmo local, exaure o solo. No período feudal, o sistema de cultivo
era em faixas: duas cultivadas e uma terceira "em repouso", alternando-as de ano para ano,
nunca cultivando a mesma planta, dois anos seguidos, numa única faixa. O início da
revolução agrícola não se prende ao aparecimento, no século XVII, de melhores arados,
enxadas e outros tipos de maquinaria, mas à introdução, na segunda metade do século XVI,
da cultura do nabo e do trevo, pois seu plantio evitava o desperdício de deixar a terra em
repouso: seu cultivo "revitalizava" o solo, permitindo o uso constante.
Trata-se de conhecimento vulgar ou popular, geralmente típico do camponês,
transmitido de geração para geração por meio da educação informal e baseado em intuição e
experiência pessoal; portanto, empírico e desprovido de conhecimento sobre a composição
do solo, das causas do desenvolvimento das plantas, da natureza das pragas, do ciclo
reprodutivo dos insetos etc.

4.2 Conhecimento científico

O conhecimento científico pressupõe uma aprendizagem superior. Ele se


caracteriza pela presença do acolhimento metódico e sistemático dos fatos da realidade
sensível. Por meio da classificação, da comparação, da aplicação dos métodos, da
análise e da síntese, o pesquisador extrai do contexto social, ou do universo, princípios e
leis que estruturam um conhecimento rigorosamente válido e universal.
O conhecimento científico preocupa-se com a abordagem sistemática dos fenômenos
(objetos), tendo em vista seus termos relacionais que implicam noções básicas de causa e
efeito. Ele difere do conhecimento empírico pela maneira de conhecer e pelos instrumentos
metodológicos que utiliza. O conhecimento científico, englobando as sequenciais de suas
etapas, configura um método.

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De maneira geral, ele se prende aos fatos, isto é, tem uma referência empírica;
embora parta deles, ele os transcende. Ele se vale da testagem empírica, a fim de formular
respostas aos problemas colocados e para apoiar suas próprias afirmações. Geralmente,
exige constante confrontação com a realidade e procura dar forma de problema mesmo do
que já está aceito. Suas formulações são gerais, embora o objeto particular ou o fato singular
interesse à medida que este pertence a uma classe ou a uma lei.
Contudo, sempre se pressupõe que todo fato ou objeto é classificável e para estudo.
Os eventos históricos apontam para inúmeras descobertas científicas. Como ilustração,
podemos mencionar, na área das ciências médicas, o médico e cientista brasileiro Vital
Brasil, que desenvolveu um antídoto para a picada de cobras venenosas. O soro antiofídico
que conseguiu preparar tornou-se conhecido e aplicado em todo o mundo.
O conhecimento científico procura alcançar a verdade dos fatos (objetos) e depende
da escala de valores e das crenças dos cientistas; ele resulta de pesquisas metódicas e
sistemáticas da realidade.
Segundo Galliano,

como o objeto da ciência é o universo material, físico, naturalmente


perceptível pelos órgãos dos sentidos ou mediante ajuda de instrumentos de
investigação, o conhecimento científico é verificável na prática, por
demonstração ou experimentação. Além disso, tendo o firme propósito de
desvendar os segredos da realidade, ele os explica e demonstra com clareza
e precisão, descobre suas relações de predomínio, igualdade ou
subordinação com outros fatos ou fenômenos. De tudo isso conclui leis
gerais, universalmente válidas para todos os casos da mesma espécie.
(GALLIANO, 1986)

O conhecimento científico se apresenta em função da necessidade de o ser humano


estar constantemente procurando aperfeiçoar-se e não assumir uma postura simplesmente
passiva, observando os fatos ou objetos, sem poder de ação ou controle dos mesmos.
Compete ao ser humano, fazendo uso de seu intelecto, desenvolver formas sistemáticas,
metódicas, analíticas e críticas da missão de inventar e comprovar novas descobertas
científicas.
Para Popper,

o conhecimento que deve descrever e explicar-nos o mundo, sempre forma


parte do mundo existente; por esse motivo, podem sempre surgir novas

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entidades com quem ele terá de haver-se [...], não temos conhecimento que
vá além da experiência, mas, em momento algum, estamos autorizados a
considerar complexa a experiência. Dessa maneira, o conhecimento, mesmo
em seu grau mais alto, nada mais nos proporciona que um segmento do
mundo existente. Toda realidade, verificamos, é em si mesma parte de uma
realidade mais ampla. (POPPER, 1972)

A literatura metodológica mostra que o conhecimento científico é adquirido pelo


método científico e, sem interrupção, pode ser submetido a testes para aperfeiçoar-se,
reformular-se ou até mesmo avantajar-se mediante o mesmo método. Para melhor o
entendimento, segue um exemplo dos avanços científicos na área da informática:

• A evolução dos microcomputadores, cuja primeira geração iniciou por volta de


1951 a 1957, com válvulas eletrônicas.
• Os conhecimentos foram aperfeiçoados e, de 1957 a 1964, apareceu no
mercado o microcomputador com transistores.
• A terceira geração ocorreu por volta de 1964 a 1970, com circuitos integrados.
• Os conhecimentos foram melhorados e, de 1970 até os dias atuais, temos no
mercado os computadores de última geração, que são os microcomputadores.

O conhecimento não parou aí. Temos notícias de que, no Japão, com o andamento
dos conhecimentos científicos, já estão desenvolvendo os microcomputadores da quinta
geração; posteriormente outros surgirão.
As mudanças tecnológicas marcantes que ocorreram de geração para geração foram:
diminuição de tamanho, aumento da capacidade de processamento, redução de custo,
aumento da velocidade de processamento etc. Reparem que, no conhecimento científico,
ocorre uma retomada constante de novas descobertas ou ampliações, do passado para o
presente, através dos procedimentos metodológicos.
O conhecimento científico é real (factual) porque lida com ocorrências ou fatos, isto é,
com toda "forma de existência que se manifesta de algum modo" (TRUJILLO, 1986, p. 14).
Constitui um conhecimento contingente, pois suas proposições ou hipóteses têm sua
veracidade ou falsidade conhecida por meio da experiência e não apenas pela razão, como
ocorre no conhecimento filosófico. É sistemático, já que se trata de um saber ordenado
logicamente, formando um sistema de ideias (teoria) e não conhecimentos dispersos e
desconexos. Possui a característica da verificabilidade, a tal ponto que as afirmações

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(hipóteses) que não podem ser comprovadas não pertencem ao âmbito da ciência. Constitui-
se em conhecimento falível, em virtude de não ser definitivo, absoluto ou final e, por este
motivo, é aproximadamente exato: novas proposições e o desenvolvimento de técnicas
podem reformular o acervo de teoria existente.
Apesar da separação "metodológica" entre os tipos de conhecimento popular,
filosófico, religioso e científico, no processo de apreensão da realidade do objeto, o sujeito
cognoscente pode penetrar nas diversas áreas: ao estudar o homem, por exemplo, pode-se
tirar uma série de conclusões sobre sua atuação na sociedade, baseada no senso comum ou
na experiência cotidiana; pode-se analisá-lo como um ser biológico, verificando, por meio de
investigação experimental, as relações existentes entre determinados órgãos e suas funções;
pode-se questioná-lo quanto à sua origem e destino, assim como quanto à sua liberdade;
finalmente, pode-se observá-lo como ser criado pela divindade, à sua imagem e semelhança,
e meditar sobre o que dele dizem os textos sagrados.
Por sua vez, essas formas de conhecimento podem coexistir na mesma pessoa: um
cientista, voltado, por exemplo, ao estudo da Física, pode ser crente praticante de
determinada religião, estar filiado a um sistema filosófico e, em muitos aspectos de sua vida
cotidiana, agir segundo conhecimentos provenientes do senso comum.

Exemplo:
Hoje, a agricultura utiliza-se de sementes selecionadas, de adubos químicos, de
defensivos contra as pragas e hoje há o controle biológico dos insetos daninhos e pragas
(cultivo orgânico).
O conhecimento científico é transmitido por intermédio de treinamento apropriado,
sendo um conhecimento obtido de modo racional, conduzido por meio de procedimentos
científicos. Visa explicar "por que" e "como" os fenômenos ocorrem, na tentativa de
evidenciar os fatos que estão correlacionados, numa visão mais globalizante do que a
relacionada com um simples fato – urna cultura específica, de trigo, por exemplo.

4.2.1 Correlação entre Conhecimento Popular e Conhecimento Científico

O conhecimento vulgar ou popular, às vezes denominado senso comum, não se


distingue do conhecimento científico nem pela veracidade nem pela natureza do objeto
conhecido. O que os diferencia é a forma, o modo ou o método e os instrumentos do
"conhecer". Saber que determinada planta necessita de uma quantidade X de água e que,

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se não a receber de forma "natural", deve ser irrigada, pode ser um conhecimento verdadeiro
e comprovável, mas nem por isso é científico. Para que isso ocorra, é necessário ir mais
além: conhecer a natureza dos vegetais, sua composição, seu ciclo de desenvolvimento e as
particularidades que distinguem uma espécie de outra. Dessa forma, patenteiam-se dois
aspectos:

a) A ciência não é o único caminho de acesso ao conhecimento e à verdade.


b) Um mesmo objeto ou fenômeno – uma planta, um mineral, uma comunidade ou as
relações entre chefes e subordinados – pode ser matéria de observação tanto para
o cientista quanta para o homem comum; o que leva um ao conhecimento científico
e outro ao vulgar ou popular é a forma de observação.

Para Bunge (1986, p. 20), a descontinuidade radical existente entre a Ciência e o


conhecimento popular, em numerosos aspectos (principalmente no que se refere ao método),
não nos deve fazer ignorar certa continuidade em outros aspectos, principalmente quando
limitamos o conceito de conhecimento vulgar ao "bom-senso". Se excluirmos o conhecimento
mítico (raios e trovões como manifestações de desagrado da divindade pelos
comportamentos individuais ou sociais), verificamos que tanto o "bom-senso" quanto a
Ciência almejam ser racionais e objetivos: "são críticos e aspiram à coerência
(racionalidade) e procuram adaptar-se aos fatos em vez de permitir-se especulações sem
controle (objetividade)". Entretanto, o ideal de racionalidade, compreendido como uma
sistematização coerente de enunciados fundamentados e passíveis de verificação, é obtido
muito mais por intermédio de teorias, que constituem o núcleo da Ciência, do que pelo
conhecimento comum, entendido como acumulação de partes ou "peças" de informação
frouxamente vinculadas. Por sua vez, o ideal de objetividade, isto é, a construção de imagens
da realidade, verdadeiras e impessoais, não pode ser alcançado se não ultrapassar os
estreitos limites da vida cotidiana, assim como da experiência particular; é necessário
abandonar o ponto de vista antropocêntrico, para formular hipóteses sobre a existência de
objetos e fenômenos além da própria percepção de nossos sentidos, submetê-los à
verificação planejada e interpretada com o auxílio das teorias. Por esse motivo é que o senso
comum, ou o "bom-senso", não pode conseguir mais do que uma objetividade limitada, assim
como é limitada sua racionalidade, pois está estreitamente vinculado à percepção e à ação.

15
4.3 O conhecimento filosófico

A filosofia teve seu início na Jônia (Ásia Menor), com Tales de Mileto, e na Magna
Grécia (Sul da Itália), no século VI a.C.
Após o sucesso de Atenas na luta contra os persas, desviou-se e expandiu a
sabedoria na Grécia, e tiveram grande destaque nesses conhecimentos Sócrates (por volta
de 469-399 a.C.), Platão (cerca de 427-347 a.C.) e Aristóteles (aproximadamente, 384-322
a.C.). Por conseguinte, o pensamento filosófico foi difundindo-se por todo o mundo civilizado,
com uma tradição que prevalece até os dias atuais.
O grande mérito da filosofia é justamente desenvolver no ser humano a possibilidade
de reflexão ou a capacidade de raciocínio. Ela não e uma ciência propriamente dita, mas a
busca do saber. A filosofia, ou seja, a reflexão crítica, deve ser uma atitude de todas as
pessoas que se propõem a fazer qualquer estudo, pois exercita e educa o intelecto; caso o
homem não se esforce para isso, seu raciocínio tende a atrofiar-se. Em filosofia, podemos
falar principalmente em duas posturas que conduzem à reflexão. A primeira tem como ponto
de partida os objetos reais e é denominada de realismo; a segunda tem como ponto de
partida as ideias, e é designada idealismo. Ambas as posturas são criticadas pelos
estudiosos.
Segundo Jolivet, (1953) “o problema do alcance do conhecimento é um problema
distinto do precedente, porque o fato certo de que somos capazes de chegar ao verdadeiro
deixa subsistir a questão de saber que verdades ou que coisas somos efetivamente
suscetíveis de conhecer”. Podemos, aqui, distinguir duas opiniões que contêm, cada uma,
muitas variedades: uma afirma que só podemos conhecer ideias (idealismo) e outra admite
conhecermos as coisas reais (realismo).
O idealismo proposto por Descartes consiste em dizer que o homem não conhece
diretamente e imediatamente, a não ser seu próprio pensamento. O idealismo faz as
seguintes colocações:

a) o imanente do conhecer – o princípio de imanência do conhecer é considerado


pelo idealismo como evidente. A demonstração que ele se propõe dar consiste em dizer que
a razão para conhecer não pode sair de si para vagar nas coisas, não tem mais do que a
aparência de demonstração. O princípio de imanência é um puro postulado.

b) A crítica das noções de substância e de matéria – a ideia de substância é


inconsciente. “A matéria não é nem isto nem aquilo, nem nada de determinado”, segundo

16
Berkelea, citado em Curso de filosofia, de Jolivet. Ela é, então, absolutamente impensável e
não corresponde a nada real. Conclui-se que todo real se reduz a fenômenos, que nada mais
são do que as ideias. Ser, nesta concepção, é perceber ou ser percebido.

O realismo é a doutrina que professa a realidade do mundo exterior. O realismo faz os


seguintes enunciados:

a) O objeto da inteligência, afirmando a realidade objetiva do ser, é ordenar o


conhecimento do ser; para o realismo o objeto da inteligência é realmente a universalidade
do ser. É daí que nasce em nós o desejo de saber sempre mais, de tudo penetrar e abarcar
pelo próprio espírito.

b) Os limites efetivos da razão humana, observando por outra parte, é que nossa
inteligência é condicionada em seu exercício por órgãos corporais; o realismo não
conseguiria esquecer os limites efetivos de nosso conhecimento, limitado por um máximo e
por um mínimo.

A reflexão fundamenta-se, sobretudo, na crítica analítica e sistemática em nome de


todas as "coisas", objetos reais e sobre as questões ideais que envolvem o pensamento e a
ação humana.
Entende-se que o conhecimento filosófico extrai tanto das ciências já existentes, como
das demais preocupações da inteligência do homem, suas metas gerais. A evolução das
ciências de modo geral não poderia progredir de forma rápida se não fosse com o auxílio do
conhecimento da filosofia dos séculos XV e XVI. Com base nas reflexões, por exemplo, dos
estudos de Galileu, que relacionou as leis do movimento, surgiu a mecânica clássica; as
invenções de Newton adquiriram, nas ciências físicas, autoridade só comparável à de
Aristóteles com a Lógica e tantos outros estudiosos tradicionais.
O conhecimento filosófico conduz a uma reflexão crítica sobre os fenômenos e
possibilita informações coerentes. Seu objetivo é o desenvolvimento funcional da mente,
procurando educar o raciocínio. O estudioso, ao obter as informações das operações mentais
e de todas as formas de processá-lo, chega habitualmente a um raciocínio lógico e a um
espírito científico. É a razão que nos dá o conhecimento; a intuição nos oferece o fato de que
a razão coordena, analisa e sintetiza numa visão clara e ordenada. Assim, percebe-se que o
homem atrai pelo intelecto, a razão deduz e induz e ainda demonstra, atraindo também
relações entre os fatos (objetos) de estudos.

17
Segundo Wittgenstein (1995), “o filósofo pensante não percebe que seus conceitos
não poderão jamais ser optativos dentro de limites precisos, pois é o cientista, e não ele, que
pode traçar limites precisos; o cientista pode responder às questões que se coloca”. Daí
dizer-se que não se deve ficar num eterno filosofar. Refletindo sobre a maneira pela qual
conhece o objeto de estudo, a inteligência apreende o objeto concreto; e, ao apreendê-lo,
alia-se com o objeto que percebe.
Reparem que o conhecimento filosófico não está isolado no topo da atividade
intelectual. Ele oferece às ciências de todas as áreas do saber seus princípios, enquanto o
conhecimento científico oferece à filosofia novos dados, capazes de transformar os princípios
gerais, reformulá-los, e torná-los passíveis de novas descobertas.
Existe profunda interdependência entre o conhecimento filosófico e os demais
conhecimentos, como o científico, o teológico e o empírico. O conhecimento filosófico
unicamente guia para a reflexão e conduz à elaboração de princípios e valores universais
válidos para a ciência. Não está isolado dos demais tipos de conhecimentos; ele é um
elemento dinâmico e operante no processo geral do conhecimento humano.
O conhecimento filosófico é valorativo, pois seu ponto de partida consiste em
hipóteses, que não poderão ser submetidas à observação: "as hipóteses filosóficas baseiam-
se na experiência, portanto, este conhecimento emerge da experiência e não da
experimentação" (TRUJILLO, 1982 p. 12); por este motivo, o conhecimento filosófico é não
verificável, já que os enunciados das hipóteses filosóficas, ao contrário do que ocorre no
campo da ciência, não podem ser confirmados nem refutados. É racional, em virtude de
consistir num conjunto de enunciados logicamente correlacionados. Tem a característica de
sistemático, pois suas hipóteses e enunciados visam a uma representação coerente da
realidade estudada, numa tentativa de apreendê-Ia em sua totalidade. Por último, é infalível
e exato, já que, quer na busca da realidade capaz de abranger todas as outras, quer na
definição do instrumento capaz de apreender a realidade, seus postulados, assim como suas
hipóteses, não são submetidos ao decisivo teste da observação (experimentação).
Portanto, o conhecimento filosófico é caracterizado pelo esforço da razão pura para
questionar os problemas humanos e poder discernir entre o certo e o errado, unicamente
recorrendo às luzes da própria razão humana. Assim, se o conhecimento científico abrange
fatos concretos, positivos, e fenômenos perceptíveis pelos sentidos, por meio do emprego de
instrumentos, técnicas e recursos de observação, o objeto de análise da filosofia são ideias,
relações conceptuais, exigências lógicas que não são redutíveis a realidades materiais e, por
essa razão, não são passíveis de observação sensorial direta ou indireta (por instrumentos),
como a que é exigida pela ciência experimental. O método por excelência da ciência é o

18
experimental: ela caminha apoiada nos fatos reais e concretos, afirmando somente aquilo
que é autorizado pela experimentação. Ao contrário, a filosofia emprega “o método racional,
no qual prevalece o processo dedutivo, que antecede a experiência, e não exige confirmação
experimental, mas somente coerência lógica” (Ruiz, 1980, p. 110). O procedimento científico
leva a circunscrever, delimitar, fragmentar e analisar o que se constitui o objeto da pesquisa,
atingindo segmentos da realidade, ao passo que a filosofia encontra-se sempre a procura do
que é mais geral, interessando-se pela formulação de uma concepção unificada e unificante
do universo. Para tanto, procura responder às grandes indagações do espírito humano e até
busca as leis mais universais que englobem e harmonizem as conclusões da ciência.

4.4 O conhecimento religioso

O conhecimento teológico é um produto do intelecto do ser humano que recai sobre a


fé; provam das revelações do mistério oculto ou do sobrenatural, que são interpretadas como
mensagem ou manifestação divina. Esse conhecimento está intimamente relacionado à fé e à
crença divina, ou ainda a um Deus, seja este Jesus Cristo, Maomé, Buda, um Ser Invisível ou
uma Autoridade Suprema, com quem o ser humano se relaciona por meio de sua fé religiosa.
Não importa qual seja sua crença e tampouco qual seu Deus; importa, porém, sua fé.
De modo geral, apresenta respostas para as questões que o ser humano não pode
responder, como os demais conhecimentos (filosófico, empírico ou científico), pois envolve
aceitação, ou não. É consequência da fé que o aceitante deposita na existência de uma
divindade.
Para melhor entendimento, o conhecimento teológico está ligado à fé, assim como a
Botânica está ligada à vida das plantas. Sem a vida das plantas não poderia haver Botânica;
ou, sem os astros, seria impossível a existência da Astronomia. Da mesma forma, é
impossível a existência desse conhecimento sem a existência da fé.
Segundo Ruiz (1980), “a fé religiosa é um fato que nem a teologia ou a ciência do fato
religioso podem explicar ou justificar cabalmente. A fé religiosa é de ordem místico-intuitiva e
não de ordem racional-analítica”.
Os levantamentos bibliográficos sobre este assunto são unânimes em dizer que a fé é
a vida do homem em suas relações sobre-humanas, ou seja, a vida do homem em relação ao
poder de Deus, que o criou. Os ontologistas vão mais além, dizendo que não é necessário
demonstrar a existência de Deus, porque, segundo eles, a existência de Deus é
imediatamente evidente, e não se demonstra a evidência. Ela vale por si só.

19
Santo Tomás de Aquino faz uma observação de que não é evidente para todos,
mesmo entre os que admitem a existência de Deus, que Deus seja o Ser absolutamente
perfeito, e tal que não se possa conceber maior. Muitos filósofos pagãos disseram que o
mundo era Deus; certos povos consideravam como Deus o sol ou a lua. Isto significa que
cada indivíduo, desde os primórdios até os dias atuais, pode ter Deus de diversas formas, o
que não invalida o conhecimento teológico.
O ser humano é essencialmente radicado em uma fé; a prova que mais manifesta que
o homem é esta pessoa por natureza dotada de fé está em não haver jamais alguém
encontrado uma tribo, por mais selvagem que seja, totalmente destituída de qualquer culto ou
ideia religiosa.
A fé na pessoa manifesta-se nos poderes de a mesma pensar, sentir e querer. Ela tem
sua morada na parte invisível e espiritual do homem, compreendendo todos os poderes do
homem, pois envolve uma operação unida e coesa de todas as faculdades da pessoa.
Consiste mais em ser do que em fazer.
O ser humano dificilmente deixará de ter um conhecimento teológico, pois as
experiências da própria vida estão ligadas com revelações divinas e com a própria fé.
O conhecimento religioso, isto é, teológico, apóia-se em doutrinas que contêm
proposições sagradas (valorativas), por terem sido reveladas pelo sobrenatural
(inspiracional) e, por esse motivo, tais verdades são consideradas infalíveis e indiscutíveis
(exatas); e um conhecimento sistemático do mundo (origem, significado, finalidade e
destino) como obra de um criador divino; suas evidências não são verificadas: está sempre
implícita uma atitude de fé perante um conhecimento revelado. Assim, o conhecimento
religioso ou teológico parte do princípio de que as "verdades" tratadas são infalíveis e
indiscutíveis, por consistirem em "revelação" da divindade (sobrenatural). A adesão das
pessoas passa a ser um ato de fé, pois a visão sistemática do mundo é interpretada como
decorrente do ato de um criador divino, cujas evidências não são postas em dúvida, nem
sequer verificáveis. A postura dos teólogos e cientistas diante da teoria da evolução das
espécies, particularmente do Homem, demonstra as abordagens diversas: de um lado, as
posições dos teólogos fundamentam-se nos ensinamentos de textos sagrados; de outro, os
cientistas buscam, em suas pesquisas, fatos concretos capazes de comprovar (ou refutar)
suas hipóteses. Na realidade, vai-se mais longe. Se o fundamento do conhecimento científico
consiste na evidência dos fatos observados e experimentalmente controlados, e o do
conhecimento filosófico e de seus enunciados, na evidência lógica, fazendo com que em
ambos os modos de conhecer deve a evidência resultar da pesquisa dos fatos ou da análise
dos conteúdos dos enunciados, no caso do conhecimento teológico o fiel não se detém nelas

20
a procura de evidência, pois a toma da causa primeira, ou seja, da revelação divina.

4.5 Sistematização das características dos quatro tipos de conhecimento:

Conhecimento Conhecimento Conhecimento Conhecimento


Popular Científico Filosófico Religioso
(Teológico)
• Valorativo • Real (factual) • Valorativo • Valorativo
• Reflexivo • Contingente • Racional • Inspiracional
Assistemáti • Sistemático • Sistemático • Sistemático
co • Verificável • Não • Não
• Verificável • Falível verificável verificável
• Falível • Aproximadamente • Infalível • Infalível
• Inexato exato • Exato • Exato

21
SEÇÃO 2

5 Métodos Científicos

Os métodos científicos (passos que devem ser seguidos regularmente para que algo
seja considerado como ciência) também mudam conforme a ciência evolui. A seguir teremos
algumas formas de se trabalhar o raciocínio lógico.
O Método científico atual é a teoria de investigação e constitui-se essencialmente das
seguintes etapas:

a) Descoberta do problema;
b) Colocação precisa do problema;
c) Procura de conhecimentos ou instrumentos relevantes ao problema;
d) Tentativa de solução do problema usando meios apropriados;
e) Invenção de novas ideias (hipóteses, teorias, modelos, técnicas) ou produção de
novos dados empíricos necessários;
f) Obtenção de uma solução;
g) Investigação das consequências da solução obtida;
h) Prova da solução;
i) Correção das hipóteses, teorias, procedimentos e dados empregados na obtenção
da solução incorreta.

A indução e a dedução são, antes de tudo, formas de raciocínio ou de argumentação


e, como tais, formas de reflexão e não de simples pensamento.

5.1 Método Indutivo

A indução é um processo mental por intermédio do qual, partindo de dados


particulares, suficientemente constatados, infere-se uma verdade geral ou universal, não
contida nas partes examinadas. O objetivo dos argumentos é levar a conclusões cujo
conteúdo é muito mais amplo do que o das premissas nas quais se basearam.

22
Meio de indução: raciocínio
Caminho de indução: Do exemplo ao geral, dos indivíduos aos espécies, dos fatos às leis.

Fases principais:

a) Observação dos fenômenos;


b) Descoberta da relação entre eles;
c) Generalização da relação.

Possíveis equívocos:

a) Confundir o essencial e o acidental;


b) Aproximações entre fenômenos e fatos diferentes, com semelhança acidental;
c) Ignorar o aspecto quantitativo da ciência, baseado em tratamento objetivo,
matemático e estatístico.

“Leis” do determinismo da natureza:

a) Nas mesmas circunstâncias, as mesmas causas produzem os mesmos efeitos;


b) O que é verdade de muitas partes suficientemente enumeradas de um sujeito, é
verdade para todo esse sujeito universal.

Formas de indução:

a) Completa ou formal (Aristóteles): Não induz de alguns casos, mas de TODOS,


sendo que cada um dos elementos inferiores comprovados pela experiência. É
uma indução estéril porque não leva a novos conhecimentos. Assim, não contribui
para o progresso da ciência.
b) Incompleta ou científica (Galileu, Francis Bacon): A indução parte de alguns
casos adequadamente observados (sob diferentes circunstâncias, vários pontos,

23
etc.), de forma que se fundamenta na lei ou na causa que rege o fenômeno ou fato,
constatada em um número significativo de casos, mas não em todos.

Por que, em alguns casos, um exemplo apenas é suficiente para uma indução perfeita
e, em outros, milhares de exemplos coincidentes, sem exceção conhecida, contribuem
muito pouco para se estabelecer uma proposição universal?

Resposta: Quando um objeto de investigação é homogêneo em certos aspectos importantes,


torna-se desnecessário repetir um grande número de vezes o experimento que confirma a
generalização.

Regras da indução incompleta:

a) Número de casos particulares deve ser suficiente para conclusões legítimas


(quanto maior a amostra e quanto mais representativa a amostra, maior a força
indutiva do argumento) – amostra insuficiente.
b) Para afirmar com certeza, é necessário analisar a possibilidade de variações
provocadas por circunstâncias acidentais – amostra tendenciosa.

Tipos de inferência indutiva:

1) Da amostra para a população

• Generalização indutiva: amostra para a hipótese universal.


Exemplo:
Todos os gêmeos univitelinos observados possuíam padrão genético idêntico.
Logo, todos os gêmeos univitelinos têm padrão genético idêntico.

• Generalizações universais: da descrição da informação obtida por intermédio


dos elementos observados à conclusão.
Exemplo:
Todo sangue humano da amostra observada é composto de plasma.

24
Logo, todo sangue humano é composto de plasma.

• Generalizações estatísticas: as generalizações afirmam que apenas certa


parte dos elementos do conjunto possui tal ou qual propriedade.
Exemplo:
85% das pessoas cujo sangue foi analisado eram do tipo O.
Logo, 85% das pessoas são portadoras do tipo O.

2) Da população para amostra

• Estatística direta: parte da população para uma de suas amostras, tomadas


ao acaso.
Exemplo:
90% dos alunos da graduação no período noturno trabalham.
Logo, 90% dos alunos que irão se matricular à noite na graduação trabalham.

• Singular: parte da população para o caso específico, tomado ao acaso.


Exemplo:
A grande maioria dos alunos egressos da progressão continuada tem dificuldades de
leitura e escrita.
José (escolhido aleatoriamente) é egresso da progressão continuada, logo (...).

3) De amostra para amostra

• Preditiva-padrão: indo dos elementos observados para uma amostra


aleatória.
Exemplo:
Todas as barras metálicas até hoje observadas dilataram-se sob a ação do calor.
Logo, essas barras metálicas, escolhidas ao acaso, dilatar-se-ão (sob a ação do
calor).

• Preditiva-estatística: igual à anterior, mas indicando a proporção estatística.


Exemplo:

25
Cerca de 80% dos melhores restaurantes do país se concentram na região sudeste.
Logo, destes restaurantes escolhidos aleatoriamente, se forem bons, cerca de 80%
estarão localizados na região sudeste.

• Preditiva singular: igual às antecedentes, porém referindo-se a um caso


particular, tomando ao acaso.
Exemplo:
Quase todos os estudantes de cinema apreciam os curta-metragens.
Logo, João, estudante de cinema, escolhido aleatoriamente, gosta de curta-
metragens.

4) De consequências verificáveis de uma hipótese para a própria hipótese

Sendo impossível verificar diretamente se a terra é redonda, parte-se das


consequências verificáveis desta teoria: a grandes altitudes, as fotos devem mostrar essa
curvatura; a circunavegação mantida numa rota unidirecional, torna possível, etc.

5) Por analogia

Quando os objetos de uma espécie são bastante semelhantes, em determinados


aspectos, a objetos de outra espécie, sabendo-se que os primeiros têm determinadas
características e não sabendo se os segundos as têm, por analogia, conclui-se que estes
últimos também apresentarão as mesmas características dos primeiros, já que são parecidos
também em relação a outros aspectos.
Exemplo:
João entra e sai da classe porque está desinteressado.
Mário entra e sai da classe porque está desinteressado.
João acha a matéria chata.
Logo, Mário acha a matéria chata.

Quando a questão é mero comportamento em sala de aula, não chega a ser um


problema. Mas este tipo de método pode é a base da testagem de produtos farmacológicos

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em ratos e da sua posterior extensão à raça humana. Já que o homem e o rato são
fisiologicamente semelhantes, o que pode trazer efeitos indesejáveis ao homem.

5.2 Método Dedutivo

Características comparativas dos métodos dedutivo/indutivo

DEDUTIVO INDUTIVO
Se todas as premissas são verdadeiras, a Se todas as premissas são verdadeiras, a
conclusão deve ser verdadeira. conclusão é provavelmente (mas não
necessariamente) verdadeira.
Toda a informação ou conteúdo factual da A conclusão encerra informação que não
conclusão já estava (pelo menos, estava, nem implicitamente, nas premissas
implicitamente) nas premissas.

Finalidade dos argumentos:

• Dedutivo: explicar o conteúdo das premissas.


• Indutivo: ampliar o alcance dos conhecimentos.

As premissas do argumento dedutivo ou dão sustentação à conclusão de modo


completo ou não a sustentam de forma alguma.

Críticas ao método dedutivo:

• Fornecer premissas, das quais um acontecimento pode ser deduzido, talvez


não seja condição suficiente para que possamos entendê-lo. Precisamos
entender por que as premissas são verdadeiras;

• Muitas explicações não têm qualquer lei como premissa, às vezes, uma
descrição serve de explicação e as premissas se tornam desnecessárias.

27
Método Hipotético-Dedutivo (C. Popper)

Francis Bacon (escola britânica)→ empirismo ou indutismo → todo conhecimento


tem a observação como única fonte de percepção → fatos e observações

Descartes, Leibnitz e Spinoza (escola continental) → racionalismo → todo


conhecimento tem como fonte a intuição de ideias claras → razão, teorias e hipóteses

Componentes:

• Problema;
• Teoria-tentativa;
• Eliminação do erro;
• Novos problemas.

Surgimento do problema:

Solução proposta, conjectura (nova teoria) e dedução de consequências na forma de


proposições passíveis de teste ⇒ Testes de falseamento, tentativas de refutação pela
observação e experimentação.

Importante: um único caso negativo concreto será suficiente para falsear a hipótese.

28
SEÇÃO 3

6 Iniciação à pesquisa científica

O que é pesquisa?

A pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas teóricos ou práticos


com o emprego de processos científicos, requerida quando não se dispõe de informação
suficiente para responder a um problema, ou então quando a informação disponível se
encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao
problema.
Ela sempre parte de uma dúvida ou problema e, com o uso do método científico,
busca elaborar hipóteses, ou seja, uma possível resposta ou solução à sua questão. Os
três elementos são imprescindíveis, uma vez que uma solução poderá ocorrer somente
quando algum problema levantado tenha sido trabalhado com instrumentos científicos e
procedimentos adequados.
A pesquisa, porém, não é a única forma de obtenção de conhecimentos e
descobertas. Outros meios de acesso ao saber que dispensam o uso de processos
científicos, embora válidos, não podem ser enquadrados como tarefas de pesquisa. Um
desses meios, muito recomendável, é a consulta bibliográfica, que se caracteriza por sanar
pequenas dúvidas, recorrendo a documentos.
Essa busca de esclarecimentos não é pesquisa, pois envolve problemas e soluções
menos significativos e dispensa o emprego de processos rigorosos. Além disso, o registro
dos dados levantados não é exigido e, quando isso ocorre, se reduz a mera cópia. O relatório
dos resultados, de outra parte, é indispensável na pesquisa, são eles que darão origem às
dissertações e teses.

Conceito de pesquisa original

Entende-se por trabalho científico original aquela pesquisa, de caráter inédito, que
vise ampliar a fronteira do conhecimento, que busque estabelecer novas relações de
causalidade para fatos e fenômenos conhecidos ou que apresente novas conquistas para o
respectivo campo de conhecimento.

29
Trata-se, portanto, de uma pesquisa sobre um determinado assunto, levada a efeito,
em parte ou em conjunto, pela primeira vez. São trabalhos desta natureza que,
preferencialmente, concorrem para o progresso das ciências com novas descobertas.
A memória científica ou trabalho científico original deve ser redigido de tal maneira
que, a partir das indicações no texto, um pesquisador qualificado possa:

1. Reproduzir as experiências e obter os resultados descritos no trabalho com igual


ou menor número de erros;
2. Repetir as observações e formar opinião sobre as conclusões do autor;
3. Verificar a exatidão das análises, induções e deduções, nas quais estão baseadas
as descobertas do autor, usando como fonte as informações dadas no trabalho.

Por que se faz pesquisa?

A pesquisa, conforme a qualificação do investigador terá objetivos e resultados


diferentes. O estudante universitário que se inicia na pesquisa e o pesquisador profissional já
amadurecido e integrado em uma equipe de investigação terão objetivos distintos, de acordo
com a habilitação de cada um.
Como já vimos anteriormente, a pesquisa é feita por razões de ordem intelectual
(teórica) ou de ordem prática e social (empírica). As primeiras decorrem do desejo de
conhecer pela própria satisfação de conhecer. As últimas decorrem do desejo de conhecer
com vistas a fazer algo de maneira mais eficiente ou eficaz.
Os trabalhos de graduação e pós-graduação, para serem considerados pesquisas
científicas, devem produzir ciência, ou derivarem dela, ou acompanhar seu modelo de
tratamento. Neste estágio a pesquisa científica é denominada iniciação científica, passo
necessário para se alcançar o estágio da pesquisa científica. Apesar de mais modestos em
sua finalidade e aprofundamento, os trabalhos de iniciação científica ajudam na formação do
pesquisador ao ensinarem a ele passos básicos e rotineiros como a pesquisa bibliográfica, as
normas de citação e de referência, etc.

A unidade de trabalho é a problemática

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A pesquisa se alicerça sobre os interesses das pessoas e tem como unidade de
trabalho a problemática e não somente, como muitas vezes se acredita, o tema ou o assunto.
Fazer pesquisa acadêmica é responder a perguntas cujas respostas não se tenha de
antemão. Só que fazer perguntas não é tão fácil quanto parece, pois se deve desenvolver as
perguntas e associar conjuntos de perguntas de modo a formar problemáticas.
Desenvolver as problemáticas significa saber o quê se quer saber e perceber que isso
não se dá de imediato, já que o objeto científico é construído conforme o trabalho de
pesquisa se desenvolve. Por isso, algumas fases e estruturas são básicas para o trabalho da
pesquisa: a projeção da pesquisa e a elaboração de um cronograma de trabalho.
Além disso, durante a elaboração da pesquisa, é necessário que não se perca o foco
do estudo, que geralmente está ligado a tal problemática que mencionamos acima. O
problema é que as práticas escolares, em nossa escola tradicional, se caracterizam por
serem fragmentárias, por não terem centro.
O estabelecimento de relações entre o conhecimento adquirido e a problemática é
fundamental, pois é aí que a pesquisa se torna fundamental. Uma vez estabelecido um
percurso a ser realizado, suas necessidades internas dão sentido e lugar às novas
informações ou conhecimentos adquiridos. Isso significa dizer que a pesquisa produz um
centro provisório. Cada pesquisa em realização ou realizada estabelece um centro, centro
diferente do de outra pesquisa, porém um centro. Naquele momento em que a pesquisa está
acontecendo existe um ponto focal para o qual o conhecimento faz sentido. Quando
passamos de uma pesquisa a outra mudamos o centro, esse centro se desloca para outro
lugar.
Ao contrário de uma forma curricular baseada em grade de disciplinas, que mapeia
regiões de conhecimento sem centro, a pesquisa fornece sempre, provisoriamente, centros
de organização do conhecimento. Por isso é necessário muito cuidado com o desvio de
temática ou problema.

O princípio educativo da pesquisa é universal e universalizável.

A pesquisa como meio de aquisição de conhecimento e atuação no mundo não tem


limitações técnicas: não tem limitações de idade dos participantes ou de grau de
conhecimento prévio, mas é um processo universal e, portanto, universalizável enquanto
prática educativa. O sistema de trabalho baseado na pesquisa não pressupõe pré-requisitos,
não trabalha com a perspectiva de que há sequências únicas para se chegar ao
conhecimento.

31
Pesquisa é intercâmbio

Para que a pesquisa funcione como princípio educativo, precisamos de uma


antropologia própria, quer dizer, de uma visão particular do homem. Qual visão? A visão de
que os alunos pesquisadores estão em busca de alguma coisa, em busca de conhecimento,
do prazer e da potência que o conhecimento proporciona, em busca das chaves de
compreensão do mundo que o conhecimento proporciona, em busca de poder agir, em busca
de reconhecimento pessoal, emotivo, afetivo, eles estão ali em busca de sua própria
humanização.
A participação continuada nos processos de pesquisa altera muito profundamente as
relações entre professores e alunos e a visão que cada um deles tem do outro. Em primeiro
lugar, tira a absoluta centralidade da figura do professor. O processo é descentralizado: não é
o professor (o único) que transmite conhecimento, mas a responsabilidade pela produção do
conhecimento é de todos. Se aluno recebe responsabilidades, o que é absolutamente
necessário para o funcionamento da pesquisa, ele também recebe a possibilidade de tomar
decisões. O que se constrói no processo de pesquisa é um coletivo de trabalho, professor e
alunos são um coletivo construindo uma pesquisa. Além disso, eles não estão sozinhos, mas
vão procurar seus parceiros, vão procurar pessoas, instituições, apoios que podem
enriquecer, que podem desdobrar, que podem aprofundar as questões que eles têm
levantado.

Qual o conteúdo da pesquisa?

A pesquisa não se fixa em conteúdos pré-determinados, porque se a base para o


trabalho é o interesse dos alunos e esse interesse deve ser perseguido para que o processo
realmente mobilize os estudantes, liberando assim as forças necessárias para o processo de
aprendizado, então o objeto da pesquisa vai variar de grupo para grupo.
Na pesquisa não há possibilidade de se repetir, já que estão envolvidas pessoas
diferentes, com interesses diferentes e que, por serem responsáveis pela construção do seu
conhecimento, tomam decisões diferentes sobre como proceder em cada um dos momentos
da construção desse conhecimento. A pesquisa realizada por um grupo não pode ser
repetida por outro grupo sem, irremediavelmente, deixar de ser pesquisa. Cada processo,
nesse sentido, é único.

32
Pesquisa e disciplinaridade

A pesquisa não é disciplinar, mas transcende as fronteiras do que seriam as


chamadas “disciplinas” - matemática, português, biologia, geografia. Essas áreas são formas
cristalizadas da nossa tradição escolar (e da nossa tradição ocidental), mas não aprendemos
ou atuamos com nosso conhecimento separando rigidamente os limites simples que as
disciplinas procuram nos impor. Quando localizamos um conjunto de problemáticas e
perseguimos honestamente a solução das questões envolvidas, o conhecimento gerado ou
aprendido vai aparecendo em ordens diversas, em percursos e combinações próprias, sem
as amarras das fronteiras das disciplinas tradicionais. Ou seja, a maioria das pesquisas,
principalmente as de áreas tecnológicas se dão de maneira interdisciplinar. Vejamos o
exemplo de uma pesquisa realizada na USP.

Resumo 1

Arquitetura híbrida para robôs móveis baseada em funções de navegação com


interação humana.

Autor: Grassi Júnior, Valdir

Palavras-chave
• Arquitetura para robôs móveis
• Cadeira de rodas robótica
• Funções de navegação
• Interação humana
• Planejamento de movimento
• Robôs móveis

Resumo Original

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Existem aplicações na área da robótica móvel em que, além da navegação autônoma
do robô, é necessário que um usuário humano interaja no controle de navegação do robô.
Neste caso, considerado como controle semi-autônomo, o usuário humano têm a
possibilidade de alterar localmente a trajetória autônoma previamente planejada para o robô.
Entretanto, o sistema de controle inteligente do robô, por meio de um módulo independente
do usuário, continuamente evita colisões, mesmo que para isso os comandos do usuário
precisem ser modificados. Esta abordagem cria um ambiente seguro para navegação que
pode ser usado em cadeiras de rodas robotizadas e veículos robóticos tripulados onde a
segurança do ser humano deve ser garantida. Um sistema de controle que possua estas
características deve ser baseado numa arquitetura para robôs móveis adequada. Esta
arquitetura deve integrar a entrada de comandos de um ser humano com a camada de
controle autônomo do sistema que evita colisões com obstáculos estáticos e dinâmicos, e
que conduz o robô em direção ao seu objetivo de navegação. Neste trabalho é proposta uma
arquitetura de controle híbrida (deliberativa/ reativa) para um robô móvel com interação
humana. Esta arquitetura, desenvolvida principalmente para tarefas de navegação, permite
que o robô seja operado em diferentes níveis de autonomia, possibilitando que um usuário
humano compartilhe o controle do robô de forma segura enquanto o sistema de controle evita
colisões. Nesta arquitetura, o plano de movimento do robô é representado por uma função de
navegação. É proposto um método para combinar um comportamento deliberativo que
executa o plano de movimento, com comportamentos reativos definidos no contexto de
navegação, e com entradas contínuas de controle provenientes do usuário. O sistema de
controle inteligente definido por meio da arquitetura foi implementado em uma cadeira de
rodas robotizada. São apresentados alguns dos resultados obtidos por meio de experimentos
realizados com o sistema de controle implementado operando em diferentes modos de
autonomia.

Título em Inglês: Mobile robot architecture based on navigation function with human
interaction

Vamos tentar ver as disciplinas envolvidas neste estudo.

1. O que ele está estudando? Qual o problema que o autor está propondo?

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2. Quais os estágios que ele propõe para o trabalho?

Resumo 2

(C). (C-TGP) Contrapisos de Argamassa de Cimento Portland e Polímeros


como Camada Promotora da Estanqueidade de Pisos de Edifícios.

GODOY, Eduardo Henrique Pinheiro de.

Palavras - chave:
Argamassa, polímeros, contrapisos

Linha(s) de pesquisa:

(C-TGP) Inovação Tecnológica Visa ao desenvolvimento e à implantação de


novas tecnologias construtivas no processo de produção de edifícios, com enfoque para
a produção de estruturas, vedações verticais e horizontais e revestimentos.

Resumo tese/dissertação:

Novas tecnologias construtivas para promover a estanqueidade dos pisos do


pavimento tipo de edifícios estão disponíveis no mercado. A execução do contrapiso com
uma argamassa de cimento Portland e areia na qual são adicionados polímeros durante
a mistura é uma dessas tecnologias e vem sendo amplamente utilizada pelas empresas
de construção de edifícios. A argamassa é aplicada sobre o substrato, normalmente uma
laje estrutural, em áreas molháveis como banheiros e sacadas, tanto com as funções do
contrapiso tradicional quanto de camada promotora da estanqueidade. N entanto, o meio
técnico, no Brasil, ainda não domina a tecnologia de produção de contrapiso com essa
argamassa. Em consequência deste fato, o método de execução é empírico, ora
originando um aumento dos custos o de desperdício, ora apresentando um deficiente
desempenho. Frente a essa realidade, esta pesquisa avalia o desempenho das
argamassas modificadas com polímeros e dos contrapisos que as utilizam, realizando-se
estudos com diferentes relações cimento/agregado, com diferentes teores e tipos de

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polímeros e com diferentes técnicas de preparação da base, sendo que os polímeros
utilizados são o acrílico, o estireno - butadieno (SBR) e o poli(acetato de vinila) (PVAc).

Vamos tentar ver as disciplinas envolvidas neste estudo.

1. O que ele está estudando? Qual o problema que o autor está propondo?

2. Quais os estágios que ele propõe para o trabalho?

A pesquisa na graduação

Ao final da graduação muitos cursos exigem uma monografia, que neste caso é a
revisão bibliográfica, ou revisão da literatura específica do curso. É mais um trabalho de
assimilação de conteúdos, de confecção de fichamentos e, sobretudo, de reflexão. É,
propriamente, uma pesquisa bibliográfica, o que não exclui capacidade investigativa de
conclusões ou afirmações dos autores consultados.
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) é outro nome que se dá às monografias
apresentadas ao final dos cursos de graduação. Também recebe o nome de Trabalho de
Graduação Interdisciplinar (TGI) e Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização
e/ou Aperfeiçoamento (cursos de lato sensu).
A Norma NBR 14724:2002 assim define esse tipo de trabalho acadêmico:

Documento que representa o resultado de estudo, devendo expressar


conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente emanado
da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa e outros
ministrados. Deve ser feito sob a coordenação de um orientador.

Inicia-se um trabalho de pesquisa monográfica após a elaboração de um projeto de


pesquisa e este serve para definir e delinear o que será realizado na monografia.
A exigência de um trabalho de pesquisa como a monografia, no final de um curso
universitário, deveria ser obrigatória em todos os cursos e Universidades, pois fazer uma
monografia pode ser útil em muitos sentidos. Aprender a pôr ordem nas próprias ideias e
ordenar dados.

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A monografia, geralmente, é o primeiro trabalho de pesquisa realizado pelo aluno e
por esta razão não é obrigatório que o tema seja original, mas é necessário que o estudante
saiba trabalhar de maneira aprofundada a bibliografia e os recursos metodológicos existentes
com rigor científico.
Em muitas vezes, a monografia de final de curso apresentada pelos alunos, acaba se
transformando em um projeto para ingressar no mestrado ou em um caminho para despertar
a vontade de seguir uma carreira acadêmica como pesquisador ou professor universitário.
Em todos estes casos, é importante que se realize um bom trabalho de pesquisa, pois ele
poderá servir como referência a outros pesquisadores.
Originalmente, a intenção deste trabalho é dar suporte técnico e metodológico para
aqueles que estão vivendo esta fase de produção de uma monografia.

A pesquisa na pós-graduação

Os cursos de pós-graduação lato sensu destinam-se à especialização e qualificação


técnico-profissional, bem como a atualização ou aprofundamento de temas científicos e
acadêmicos. As atividades de pós-graduação lato sensu diferem da pós-graduação stricto
senso pelo fato que esta última centra sua ação na pesquisa e na produção acadêmica.
Enquanto o título obtido para os cursos de lato sensu é o de especialista, o programa de
pós-graduação stricto sensu oferece a titulação de mestre e doutor.
Na monografia para a obtenção do grau de mestre (ou dissertação de mestrado),
além da revisão da literatura, é preciso dominar o conhecimento do método de pesquisa e
informar a metodologia utilizada na pesquisa. É um trabalho de confecção de fichamentos e
reflexão; embora não haja preocupação em apresentar novidades quanto às descobertas, o
pesquisador expõe novas formas de ver uma realidade já conhecida. A apresentação de um
ponto de vista pessoal é de rigor. O trabalho deve revelar capacidade metodológica e de
sistematização das informações, bem como domínio das técnicas de pesquisa.

O conceito de monografia para outros autores

O termo monografia designa um tipo especial de trabalho científico cuja abordagem se


reduz a um único assunto, a um único problema, com um tratamento especificado. O trabalho

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monográfico caracteriza-se mais pela unicidade e delimitação do tema e pela profundidade
do tratamento que por sua eventual extensão, generalidade ou valor didático. (SEVERINO,
1993, p.100)

Trata-se, [...] de um estudo sobre um tema específico ou particular, com suficiente


valor representativo e que obedece a rigorosa metodologia. Investiga determinado assunto
não só em profundidade, mas em todos os seus ângulos e aspectos, dependendo dos fins a
que se destina. (LAKATOS, 1992, p. 151)

Podemos dizer que se trata de um trabalho mais elaborado que deve apresentar e
acumular observações; organizá-las; procurar as relações e regularidades que pode haver
entre elas; indagar sobre os seus porquês; utilizar de forma inteligente as leituras e
experiências para comprovação; comunicar aos demais seus resultados.
Finalmente, na monografia para a obtenção do grau de doutor (ou tese), são
elementos fundamentais: a revisão da literatura, a metodologia utilizada, o rigor da
argumentação e apresentação de provas, a profundidade das ideias, o avanço dos
estudos na área.
Assim, sistematicamente, temos esses 3 tipos básicos de trabalho científico:

A. Monografia: nome genérico para os trabalhos científicos. Alguns autores


costumam fazer uma distinção segundo o nível de pesquisa, a profundidade e a finalidade do
estudo, a metodologia utilizada e a originalidade do tema e das conclusões. É a descrição de
um estudo sobre um tema específico, que obedece a rigorosa metodologia e apresenta
suficiente valor representativo. Suas características são:

a) trabalho escrito, sistemático e completo;


b) tema específico de uma ciência ou parte dela;
c) estudo pormenorizado e exaustivo, abordando vários aspectos e ângulos do caso;
d) tratamento extenso em profundidade (recorte);
e) metodologia específica;
f) contribuição importante, original (até certo ponto) e pessoal para a ciência;

A monografia, em geral, apresenta a seguinte estrutura:

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• Introdução. Consiste da apresentação do trabalho: o tema investigado (o
problema, o objeto de estudo), sua importância, a metodologia, os objetivos, as
contribuições esperadas e rápida referência aos trabalhos anteriores. Deve ter
uma formulação clara e objetiva.

• Desenvolvimento. Exposição da fundamentação lógica do trabalho,


relacionando o objeto de estudo com a bibliografia pesquisada. Nesta parte, os
dados coletados são analisados. Para uma melhor organização e
apresentação, pode ser dividido em: a) explicação (apresentação do que é,
suprimindo as ambiguidades); b) discussão (exame e argumentação); e c)
demonstração( das proposições para se atingir os objetivos);

• Conclusão. Resumo completo das fases anteriores do trabalho, chamando


atenção para a argumentação e união das ideias.

Tipos de Monografia:

Segundo Salomon (1996), podem ser classificadas em:

• Lato: Trabalho científico de ‘primeira mão’, que resulte de investigação


científica: dissertações, certos relatórios científicos ou técnicos, etc.
• Estrito: Quando se identifica com a tese.

B. Dissertação

Algumas definições:

• Segundo Salomon (1996): “estudo teórico, de natureza reflexiva, que consiste


na ordenação de ideias sobre um determinado tema”, “trabalho feito nos
moldes da tese, com a peculiaridade de ser ainda uma tese inicial ou em
miniatura”;
• Segundo Rehfeldt (1980): “aplicação de uma teoria já existente, para analisar
determinado problema”;

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Tipos:

• Expositiva: reúne e relaciona material de diferentes fontes. Habilidade de


levantamento e organização de dados;
• Argumentativa: interpretação e posicionamento do pesquisador;

C. Tese

A tese é uma proposição sobre determinado aspecto de qualquer ciência, devendo ser
apresentada e defendida publicamente. Apresenta o mais alto nível de pesquisa e requer não
só exposição e explicação do material coletado, mas, e principalmente, análise e
interpretação dos dados.
O objetivo básico da tese é a argumentação, e o imediato é colaborar na solução
de problemas. Possui a mesma estrutura da monografia ou da dissertação: introdução,
desenvolvimento e conclusão. A diferença da tese em relação as outras está na
profundidade, originalidade, extensão e objetividade.
Partes da tese:

a) Preliminares
1. Folha de rosto
2. Página de aprovação
3. Agradecimentos
4. Lista de tabelas
5. Sumário

b) Corpo da tese
1. Introdução (proposição)
2. Desenvolvimento (demonstração), geralmente dividido em capítulos
2.1 O problema
2.2 Revisão da Bibliografia
2.3 Procedimentos Metodológicos
2.4 Apresentação e Análise de Dados
3. Conclusões e Recomendações

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c) Parte referencial
1. Apêndices e Anexos
2. Referências Bibliográficas

7 Publicações científicas - outros gêneros textuais

A. Artigo científico

Trata de problemas científicos, embora de extensão relativamente pequena.


Apresenta o resultado de estudos e pesquisas. Em geral é publicado em revistas, jornais ou
outro periódico especializado. Eles permitem que as experiências sejam repetidas.
Estruturalmente, são compostos de:

• título do trabalho, autor, credenciais do autor, local das atividades;


• sinopse (resumo em português e em uma língua estrangeira, de preferência,
em inglês);
• corpo do artigo (introdução, desenvolvimento e conclusão);
• parte referencial (referências bibliográficas, como notas de rodapé ou de final
de capítulo, bibliografia, que é a lista dos livros consultados ou relativos ao
assunto, apêndice, anexos, agradecimentos, data.).

Quanto ao conteúdo, os artigos científicos apresentam em geral abordagens atuais,


às vezes, temas novos. Devem versar sobre um estudo pessoal, uma descoberta. Seu
conteúdo pode ser muito variado, como, por exemplo, discorrer sobre um estudo pessoal,
oferecer soluções para posições controvertidas.
Sua redação leva em conta o público a que se destina. Deve ser clara, concisa e
objetiva. A linguagem será gramaticalmente correta, precisa, coerente, simples e,
preferentemente, em terceira pessoa. Deve-se evitar adjetivos inúteis, repetições,
explicações desnecessárias e o título deve corresponder ao conteúdo.
São motivos para a elaboração de um artigo científico: existência de aspectos de um
assunto que não foram estudados suficientemente ou o foram superficialmente, necessidade

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de esclarecer uma questão antiga, inexistência de um livro sobre o assunto, aparecimento de
um erro.

B. Comunicação científica

Define-se como a informação que se apresenta em congressos, simpósios, reuniões,


academias, sociedades científicas. Em tais encontros, são expostos os resultados obtidos em
pequenos estudos. Um texto é considerado científico quando propaga informações científicas
novas.
A comunicação científica em geral é limitada em sua extensão. As exposições em
congressos são breves, ocupando tempo de 10 a 20 minutos. O tema será, sem dúvida,
atual. E, antes da profundidade da análise, busca-se a fundamentação da exposição.
Em geral as comunicações não permitem a reprodução da experiência realizada e
levam em consideração os seguintes elementos: finalidade, informações, estrutura,
linguagem, abordagem.
A abordagem é a forma como o pesquisador interpreta uma situação, a forma como
trata os problemas abordados, a posição que toma diante de determinada situação.
Os tipos de comunicação mais comuns são: estudos breves sobre aspectos da
ciência; sugestões de solução de problemas; apreciação ou interpretação de obras; recensão
(resenha) de um texto.

Estrutura:

• folha de rosto (nome do congresso, local da reunião, data, patrocinador, título


do trabalho, nome do autor, credenciais);
• sinopse;
• introdução,
• desenvolvimento,
• conclusão;
• bibliografia.

O autor deverá estar apto a responder às questões que serão formuladas. As


apresentações das comunicações geralmente se revestem de certa formalidade, daí o
aparato gráfico, o uso da modalidade formal da linguagem, a rigidez gramatical e o estilo
impessoal.

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C. Ensaio

Exposição metódica dos estudos realizados e das conclusões originais a que se


chegou após apurado exame de um assunto.
Há ensaios informais e formais. O informal é marcado pela liberdade criadora e pela
emoção. O formal caracteriza-se pela seriedade dos objetivos e lógica do texto. É breve,
deixa de lado a polêmica e o tom enfático, faz uso da primeira pessoa. Além disso, o ensaio
é problematizador, antidogmático e nele devem sobressair o espírito crítico do autor e a
originalidade.

D. Informe científico

Relato escrito que divulga os resultados parciais ou totais de pesquisa. É o mais


breve dos trabalhos científicos, pois se restringe à descrição dos resultados alcançados pela
pesquisa.
Deve ser escrito de forma que possa ser compreendido e as experiências repetidas,
se for de interesse do investigador.

E. Paper

Síntese de pensamentos aplicados a um tema específico. Esta síntese deverá ser


original e reconhecer a fonte do material utilizado. Em português, a palavra corresponde a
ensaio, mas este nome não encontrou aceitação entre os pesquisadores. O termo, embora
controvertido, é um documento que se baseia em pesquisa bibliográfica e em descobertas
pessoais. Se o autor apenas compilou informações sem fazer avaliações ou interpretações
sobre elas, o produto de seu trabalho será um relatório.
O paper difere de um relatório, sobretudo porque se espera de quem o escreve uma
avaliação ou interpretação de fatos ou das informações que foram recolhidas. Num paper,
espera-se (lembre-se de que paper é um ensaio) o desenvolvimento de um ponto de vista
acerca de um tema, uma tomada de posição definida e a expressão dos pensamentos de
forma original. Deve reconhecer as fontes que foram utilizadas.
O paper não é (a) um resumo de um artigo ou livro, (b) ideias de outras pessoas,
repetidas não criticamente, (c) uma série de citações, não importa se habilmente postas

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juntas; (d) opinião pessoal não evidenciada, não demonstrada; (e) cópia do trabalho de outra
pessoa sem reconhecê-la, quer o trabalho seja ou não publicado, profissional ou amador: isto
é plágio.
Cinco passos para a realização de um paper:

• escolher um assunto, estabelecer limites precisos para ele,


• eleger uma perspectiva sob a qual você tratará o tema (sociológico,
psicológico, químico, físico, matemático, filosófico, histórico, geográfico),
• apresentar o problema que estará resolvendo e construir uma hipótese de
trabalho (antecipação de uma resposta para o problema).

Diga o objetivo de seu paper e desenvolva suas ideias apoiando-se em fontes dignas
de crédito. Após defender seu ponto de vista, demonstre-o apresentando provas e conclua.
Siga a estrutura da comunicação científica.
No meio acadêmico, paper vem sendo empregado com um sentido genérico; pode
referir-se não só a uma comunicação científica, mas também a texto de um simpósio, mesa-
redonda e mesmo a um artigo científico.

F. Seminário

É uma técnica de estudo que inclui pesquisa, organização, apresentação e debate.


O objetivo é desenvolver a capacidade de pesquisa, de análise sistemática dos fatos, além
do raciocínio. Para realizar um seminário é necessário ler com espírito crítico, não
confundindo o pensamento do autor com os fatos por ele trabalhados. O seminário pode ser
realizado individualmente ou em grupo. O importante é que se organize em etapas e funções
(quando é realizado em grupo).

Etapas

A) O coordenador (professor) propõe determinado estudo, indica bibliografia mínima,


organiza os grupos e define o comentador e o secretário;
B) O grupo define quem será o coordenador. A partir daí, consultam o material de
pesquisa, selecionam informações e organizam seguindo as fases:

• determinar qual será o eixo, o “fio condutor”do seminário;

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• dividir em tópicos;
• analisar do material coletado relacionando-o com o tema central e os tópicos;
• sintetizar as ideias contidas nos diferentes textos, reelaborando-as para a
exposição, que pode ter a seguinte estrutura: introdução, desenvolvimento,
conclusão (com contribuições do grupo) e bibliografia.

C) Feita a pesquisa, o relator apresenta os resultados e o comentador apresenta


questões;
D) A classe participa perguntando, reforçando ou refutando afirmações;
E) Finalmente, o coordenador faz a síntese e conclusões finais. Juntos, todos avaliam
se o assunto foi esgotado ou se novos temas surgiram;

Funções:

• Coordenador – geralmente o professor. Sugere o tema, orienta a pesquisa,


preside e coordena a apresentação do seminário;
• Organizador – nos seminários em grupo, coordena a divisão e execução do
trabalho;
• Relator (es) – expõe os resultados da pesquisa;
• Secretário – anota as conclusões parciais e finais do seminário após o
debate;
• Comentador – um aluno, ou outro grupo encarregado de estudar o tema para
criticar a exposição, antes de abrir para a discussão com a turma;
• Debatedores – todos os alunos da classe;

Pôster

OBJETIVO → ampliar o número de trabalhos expostos em um evento;

CARACTERÍSTICAS → contato do autor com o público


→ menos formalidade

LIMITAÇÃO → espaço

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Conteúdo → estrutura

• Introdução - objetivo
• Material e método
• Resultados obtidos
• conclusão

Informações gerais (para preparação)

• espaço disponível
• forma (tamanho de letra, título e nome do autor)
• tempo de apresentação

Planejamento

• textos (claro e sucinto)


• tabelas (evitar)
• figuras (iconicidade, equilíbrio estético)
• enumerar a sequência de tópicos que devem ser vistos (para orientar o leitor)
• usar título curto
• tamanho da letra deve propiciar leitura a 1m de distância

(recomendação: título – 12 a 15mm; nome do autor: 8 a 10mm; figuras e texto – 6 a 8mm)

Importante

• Preparar com antecedência;


• Montar antes do evento;
• Evitar textos com equações e referência bibliográficas;
• Numerar folhas no verso (para se organizar);
• Tamanho do painel: aproximadamente: 80x80 cm.

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B IB L IO G R A F IA

BUNGE, M. Epistemologia: curso de atualização. Tradução de Cláudio Navarra. São Paulo:


T. A. Queiroz: Editora da Universidade de São Paulo, 1980.

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A. Metodologia Científica. 5. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002.

DEMO, P. Metodologia do conhecimento científico. São Paulo: Atlas, 2000.

___. Pesquisa e construção do conhecimento – Metodologia científica no caminho de


Habermas. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1994.

GALLIANO, A. G. Método cientifico: teoria e prática. São Paulo: McGraw-Hill do Brasil,


1986.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1993.

JOLIVET, R. Curso filosofia. Rio de Janeiro: Agir, 1953.

KÖCHE, J. C. Fundamentos de metodologia científica: teoria da ciência e prática da


pesquisa. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.

LAKATOS, E. M,; MARCONI, M. A. Metodologia cientifica. São Paulo: Atlas, 1992.

MEDEIROS, J. B. Redação científica. São Paulo: Atlas, 1996.

OLIVEIRA, G. M. A pesquisa como princípio educativo: construção coletiva de um modelo de


trabalho. Disponível em: <http://www.ipol.org.br/ler.php?cod=233>. Acesso em: 22 fev. 2013.

POPPER, K. R. A Lógica da Investigação Científica. São Paulo: Cultrix, 1972.

REHFELDT, G. K. Monografia e tese: guia prático. Porto Alegre: Sulina, 1980.

RUIZ, J. A. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 1980.

SOLOMON, D. V. Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 1993.

TRUJILLO FERRARI, A. Metodologia da pesquisa cientifica. São Paulo: McGraw-Hill do


Brasil, 1982.

WITTGENTEIN, L. Tratado lógico-Filosófico. Lisboa: Fundação Calouste Gulberkian, 1995.

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