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PRÁTICAS TÉCNICO-PROFISSIONAL III

Tema: Níveis do conhecimento: popular, filosófico, religioso e científico


O conhecimento popular
Todo o ser humano, no transcurso da sua vivência, adquire conhecimentos e
acumula experiências daquilo que ouviu ou viu, interioriza as tradições da sua
colectividade. Ora, essas vivências, experiências e tradições são acumuladas de forma
casual, assistemática, ametódica, fragmentária e inconsciente, mas atingem a realidade
nas suas aparências, sem analisá-la, sem criticá-la, sem demonstrá-la e sem penetrar nos
seus fundamentos: esse modo de conhecimento é denominado conhecimento popular.
O conhecimento popular também é designado por conhecimento empírico, ou
conhecimento do senso comum ou conhecimento vulgar, sendo o modo espontâneo e
pré-crítico de conhecer a realidade e procurando atingir os factos sem indagar as suas
causas.
No entanto, é significativo salientar que o conhecimento popular é muito importante
pois é o modo como quotidianamente nos relacionamos com a realidade,
designadamente a casa onde moramos, as pessoas com que convimos, o rio onde
pescamos, a escola onde estudamos, etc.
Para Ander-Egg (apud Marconi & Lakatos (2009: 17) o conhecimento popular
caracteriza-se preponderantemente por ser:
➢ Superficial – conforme com as aparências, não vai mais além da informação
fornecida pelos órgãos sensoriais, exprimindo-se com expressões como “é
verdade porque vi”; “porque todo o mundo o afirma”; “porque meu pai o disse”.
➢ Sensitivo – refere às vivências, estados de ânimo e de emoções quotidianas.
➢ Subjectivo – porquanto é o próprio sujeito que organiza suas experiências e
conhecimentos, adquiridos na vida diária.
➢ Assistemático – pois as experiências do sujeito não visam a sistematização de
ideias, nem na forma de aquisição e muito menos na forma de transmissão a
outrem.
➢ Acrítico – ainda que verdadeiro ou falso, a pretensão desse conhecimento não é
a manifestação de uma atitude crítica.
A estas características, Trujillo ( apud Marconi & Lakatos, 2009: 18) acrescenta um
outro conjunto de características inerentes ao conhecimento popular, a saber:

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➢ Reflexivo – no entanto, o autor constata que a reflexividade como
característica do conhecimento popular, é limitada à familiaridade do objecto
cógnito, e, portanto, não pode ser reduzida à formulação geral de toda a
realidade.
➢ Verificável – o conhecimento popular está circunscrito ao âmbito da vida
diária e concerne ao que se pode verificar no dia-a-dia.
➢ Falível e inexacto – conforma-se com a aparência que nem sempre
permitem a formulação de hipóteses sobre a existência de fenómenos
situados mais lá da percepção subjectiva.
➢ Valorativo – pois assenta numa selecção operada com fundamento nos
estados de ânimo e nas emoções.

O conhecimento filosófico

Regra geral, o conhecimento filosófico é uma forma particular de aceder à realidade,


sendo a própria filosofia um conjunto de ideias, de relações conceptuais, de exigências
lógicas não redutíveis a realidades materiais e, por isso mesmo, não passíveis de
observação sensorial, exigida pelas ciências experimentais.
Nesse sentido, o conhecimento filosófico usa o método racional (ou lógico-racional)
no qual predomina o processo dedutivo, que é a priori¸ isto é, independente da
experiência, e nem exige confirmação experimental, e sim coerência lógica.
Enquanto a ciência procura descobrir os nexos de causalidade ou de coexistência
entre os componentes do fenómeno “Y” relativamente ao fenómeno “X”, o
conhecimento filosófico questiona a racionalidade das conclusões da própria ciência e
procura o sentido ou a interpretação mais lata que responda às inquietações do espírito
humano, como também busca as leis mais universais que englobem e harmonizem as
conclusões da ciência. Em tal sentido, a função do conhecimento filosófico é indagar,
traçar rumos e assumir posições que inspiram os modos de pensar durante uma época
historicamente determinada.

O conhecimento religioso

Também tido por conhecimento teológico, apoia-se em doutrinas sagradas,


reveladas pelo sobrenatural. Tais doutrinas são consideradas infalíveis e, por isso,

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indiscutíveis (exactas). É um conhecimento sistemático, na medida em que aborda sobre
a origem do mundo, o seu significado e finalidade. O conhecimento religioso, enquanto
obra do divino, tem evidências não verificáveis, estando dogmaticamente subjacente à
fé dos crentes. Neste sentido, a adesão das pessoas a este tipo de conhecimento é um
mero acto de fé, pois a visão sistemática do mundo é interiorizada como decorrente da
criação divina, cujas evidências não são postas em dúvida nem verificadas.

Algumas características marcantes do conhecimento religioso

➢ Supõe a existência de uma autoridade divina na qual se fundamenta e só a ela


atende.
➢ É um conhecimento dogmático, isto é, não demonstrável mas baseado numa fé
que apela à autoridade divina que o revelou.
➢ O objecto deste conhecimento é a palavra revelada através dos livros sagrados.

O conhecimento científico

O conhecimento científico é por excelência aquele que procura atingir os fenómenos


em suas causas, nas suas constituições íntimas, caracterizando-se pela capacidade de
analisar, de explicar, de justificar, de aplicar leis e de predizer eventos futuros.
O conhecimento científico é fruto da tendência humana para procurar
explicações válidas, para questionar e exigir respostas e justificações positivas e
convincentes.
Assim, o conhecimento científico pode ser entendido como o conjunto de ideias
racionais, cartas ou prováveis, obtidas metodicamente sistematizadas e verificáveis, que
fazem referência a objectos da mesma natureza.
Marconi & Lakatos (2009: 22) argúem uma série de propriedades inerentes ao
conhecimento científico, designadamente:
➢ É um conhecimento racional – porque tem exigências de métodos e está
constituído por vários elementos básicos como o sistema conceptual, hipóteses,
definições, entre outros elementos.
➢ É um conhecimento certo ou provável – pois a ciência não é dotada de uma
certeza indiscutível de todo o conhecimento que a compõe. Ao lado dos
conhecimentos certos há uma grande quantidade de conhecimentos prováveis.

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➢ É um conhecimento metódico – não se adquire fortuitamente, mas por meio de
procedimentos técnicos (o seu principal método é a experimentação).
➢ É um conhecimento sistematizador – ou seja, não se trata de conhecimentos
dispersos e desconexos, mas de um saber ordenado logicamente e constituído
num sistema de ideias a que se chama teoria.
➢ É um conhecimento verificável – o conhecimento só é científico se verificado
e validado pela experimentação e quando pertencente a objectos que guardam
entre si certos caracteres de homogeneidade.

Em síntese, Trujillo ( apud Marconi & Lakatos, 2009: 18) fornece-nos um quadro
comparativo dos diferentes níveis do conhecimento tal como podemos ver a
continuação.
Conhecimento Conhecimento Conhecimento Conhecimento
popular filosófico religioso científico
Valorativo Valorativo Valorativo Real/ factual
Reflexivo Racional Inspiracional Contingente
Assistemático Sistemático Sistemático Sistemático
Verificável Não verificável Não verificável Verificável
Falível Infalível Infalível/dogmático Falível
Inexacto Exacto Exacto Quase exacto

Tema: Os métodos científicos

Método é uma palavra que provém do termo grego methodos (“caminho” ou “via”)
e que se refere ao meio utilizado para chegar a um fim. Por sua vez, o método científico
é o conjunto de passos seguidos por uma ciência para alcançar conhecimentos válidos
podendo ser verificados por instrumentos fiáveis.
O método científico é, por assim dizer, o conjunto de passos que permitem que o
investigador descarte a sua própria subjectividade e se apoie num conjunto de
procedimentos que lhe permitam levar a cabo uma investigação com sucesso, pois os
métodos conferem segurança ao investigador e constituem um factor de economia de
tempo. Nesta epígrafe, serão tratados vários métodos tal como abaixo seguem:

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O método bibliográfico

O método bibliográfico é aquele pelo qual o investigador utiliza livros, artigos de


periódico (jornais e revistas), dicionários, enciclopédias, e mais recentemente da
Internet como meios de consulta para permitir a efectivação de uma pesquisa.
Segundo Vilelas (2009), este método permite ao investigador fazer a cobertura mais
ampla de fenómenos do que aquela que seria possível fazendo uma pesquisa directa no
terreno, pois o facto de o investigador trabalhar com materiais já elaborados, ajuda-o a
obter uma amplitude de informações que aprofundam as experiências e os
conhecimentos sobre o objecto de estudo.
O método bibliográfico revela-se mais importante ainda quando a investigação que
se pretende fazer requer dados de outros estudos, o que seria impraticável conseguir de
outro modo. Este método é também indispensável quando elaboramos estudos
comparativos, estudos históricos, pois não há maneira de nos inteirarmos dos factos
passados senão apelando a uma proporção de fontes já escritas.
No entanto, o método bibliográfico nem sempre é fiável, sobretudo quando as fontes
a que recorremos são de procedência duvidosa (certas publicações na Internet, livros de
autoria e edição incógnitas, periódicos de proveniência sensacionalista, etc.). Por isso,
para minorar a margem de incertezas é conveniente certificar-se das condições em que
tais fontes foram obtidas, estudando em profundidade cada informação para descobrir
incongruências, utilizando simultaneamente várias fontes, e, em geral, como diria
Descartes (1989), não incluindo nada nos juízos senão o que se apresentar tão clara e
distintamente ao espírito, que não se tenha ocasião alguma de se pôr em dúvida.
Com efeito, para seguir minorando as incertezas face à fiabilidade das fontes
bibliográficas convém ter em mente alguns requisitos básicos, designadamente:
• Explorar todo o conjunto de fontes bibliográficas disponíveis e que nos podem
ser úteis na análise e no aprofundamento do nosso objecto de estudo.
• Resumir informações através de uma ficha de leitura ou outros procedimentos
semelhantes. Estas fichas devem ser ordenadas de acordo com o seu conteúdo,
para o qual é premente contar com um índice provisório.
• Comparar as informações contidas nas fichas, para verificar aspectos de
concordância ou discordância entre elas, tratando de avaliar a fiabilidade de cada
informação e procedendo-se à análise e à síntese parciais dos resultados.

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• Retirar as conclusões correspondentes, tendo o sumo cuidado de esclarecer ou
responder às perguntas inicias.

Convém frisar que os passos aqui enumerados constituem meras guias de orientação
que não devem limitar a nossa actividade investigativa, que por natureza deve ser uma
acção criativa e antidogmática.
Em suma, o método bibliográfico é de suprema importância para a actividade
investigativa, porque é por meio deste que fundamentamos a (s) teoria (s) que
suporta(m) a nossa investigação.

O método etnográfico

Este método centra-se no estudo dos significados da vida quotidiana, para a


compreensão do social, valoriza o senso comum e as experiências dos sujeitos. Para
Braga (apud Vilelas, 2009: 148), este método consiste numa postura metodológica que
se opõe aos métodos tradicionais de manipulação dos problemas de ordem social, pois
ele surge da própria interacção com a realidade e constitui uma nova forma de
compreendê-la, sabendo que ela nunca se consegue apreender na totalidade.
O método considera que no processo de investigação deve levar-se em consideração
não só o que é visto e experimentado, mas também o não explicitado, nomeadamente os
sentimentos, os significados que os sujeitos atribuem ao mundo, as opiniões, os valores
e os sentidos da vida. A linguagem surge, por isso, como um meio crucial a ser
considerado, pois é através dela que se enunciam os conteúdos das experiências que os
sentidos e os significados que os sujeitos dão à sua quotidianidade.
A realidade social, quando estudada sob a perspectiva das ciências exactas, é
distorcida e não leva em consideração as culturas dos indivíduos particulares na
construção de significados. Em contrapartida, a etnografia estuda os significados da
vida diária, procurando desvendar esses significados através da interacção com a
realidade numa óptica cultural.
De acordo com Leach (apud Vilelas, 2009: 149), os grupos humanos são
essencialmente heterogéneos e, portanto, marcados pelos respectivos atributos culturais,
nomeadamente usos linguísticos, estilos de indumentária, modos de alimentação, estilos
de habitação, etc. Leach fundamenta que a realidade social não é um esquema
coerentemente lógico, mas, antes, uma mistura em ebulição de vários princípios em

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conflito, sendo, por isso, para a apreensão da realidade, indispensável o trabalho de
campo.
Para Vilelas (2009: 150), o trabalho de campo consiste num contacto com a
população que se pretende estudar, escudando as suas conversas, visitando as suas
casas, interrogando-a acerca das suas vivências e tradições para obter, mediante o
conhecimento directo dos modos de vida, uma visão do conjunto da sua cultura ou
analisar algo especial da mesma. O autor supracitado sintetiza as características do
método etnográfico do seguinte modo:
• Contribui para a significação do universo investigado;
• Exige uma constante reflexão e reestruturação do processo de questionamento
do investigador;
• Permite apreender o conjunto de significantes em torno dos quais os eventos,
factos, acções e contextos são produzidos, percebidos, interpretados e
representados;
• É guiado predominantemente pelo senso questionador do investigador.

Até há bem pouco tempo o método etnográfico era utilizado quase exclusivamente
em pesquisas antropológicas e sociológicas. No entanto, a partir dos primórdios da
década de 1970 os estudiosos da área da educação começaram também a fazer uso deste
método. Wolcott ( apud Lüdke & André, 1986) alerta para a necessidade de que o uso
deste método em pesquisas educacionais sirva para pensar o ensino e a aprendizagem
dentro de um contexto cultural mais amplo. De igual modo, as pesquisas sobre a escola
não se devem restringir ao que se passa no interior da própria escola, mas relacionar o
que é aprendido dentro e fora dela (Lüdke & André, 1986).
A perspectiva etnográfica, ao ser uma estratégia de investigação utilizada pelas
várias ciências sociais, torna-se especialmente útil para as pesquisas educacionais,
permitindo identificar e denunciar os riscos subjacentes à diversidade cultural com que
os sistemas de ensino se debatem, facto que em não poucas vezes se presta para o
insucesso escolar dos alunos, especialmente quando os respectivos professores não
conseguem lidar com as diferenças culturais que marcam os alunos.

O método experimental

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O método experimental consiste na determinação de um objecto de estudo, na
selecção de variáveis susceptíveis de influenciá-lo, na definição das formas de controlo
e de observação dos efeitos que as variáveis podem produzir no objecto. Este método
representa um exímio exemplo na investigação científica em determinadas áreas do
conhecimento. Todavia, ele não é viável no estudo de objectos sociais (ex: violência
doméstica, divórcio, suicídio, violação sexual, etc.), porque este método exige previsão
de relações e controlo de variáveis a estudar.
Quando os objectos a estudar são entidades físicas (ex: líquidos, metais, gases,
distâncias, massas, volumes, etc.), não se identificam grandes inviabilidades no quanto
às possibilidades do uso da experimentação. Porém, quando se trata de experimentar
com objectos sociais, como pessoas e instituições as limitações do método experimental
são muito evidentes, pois considerações éticas e humanas impedem que se façam
experimentações eficientes nas ciências sociais. Aliás, se quisermos conhecer as
consequências psicológicas da violação sexual na mulher deveríamos encontrar outras
formas de comprovação, pois não podemos aplicar a experimentação por razões éticas,
deontológicas e humanas.
Em suma, a experimentação consiste em submeter o objecto de estudo à influência
de certas variáveis, em condições controladas (sobretudo num laboratório) e conhecidas
pelo investigador, para observar os resultados que cada variável produz no objecto.
Quanto às vantagens do método experimental, podemos salientar o maior controlo
no desenvolvimento da investigação; menor possibilidade de enviesamento/distorção
dos resultados; maior possibilidade de repetição e de comparação dos resultados com
outras experiências; e, por conseguinte, uma possibilidade de generalização desses
resultados a outras realidades.
No que respeita às desvantagens, cumpre-nos observar que este método apresenta
uma grande limitação do ponto de vista ético, sobretudo quando se pretende aplicar ao
estudo dos seres humanos e das suas instituições.

O método comparativo

Este método considera que o estudo de semelhanças e diferenças entre diversos tipos
de grupos, sociedades ou instituições contribui para uma melhor compreensão do
comportamento humano. Por meio deste método realizam-se comparações para aferir o
nível de similitude e/ou de divergência entre os objectos comparados. Para Marconi &

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Lakatos (1992), o método comparativo é usado tanto para comparações de grupos no
presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de
igual ou diferente estágio de desenvolvimento.
Aliás, não se pode compreender bem um fenómeno ou facto senão por comparação
com outros fenómenos ou factos. Os sistemas culturais são tão variados que exigem
para a sua compreensão uma análise comparativa que forneça elementos precisos para o
estudo da sua variação no tempo e no espaço. A comparação fornece, por exemplo, uma
análise mais pormenorizada dos níveis de escolarização ou traços culturais comparados,
podendo-se compreender as diferenças e as semelhanças entre eles; ajudando a verificar
a evolução de um aspecto da cultura em relação ao outro; assim como, permitindo
conhecer os significados que cada sociedade atribui aos seus valores e às suas próprias
práticas quotidianas.
Tal como observam Marconi & Lakatos (1992: 82), o método comparativo pode ser
empregue em estudos de longo alcance (ex: desenvolvimento da sociedade capitalista) e
sectores concretos (diferentes formas de governação) e quantitativos (ex: taxas de
escolarização de países desenvolvidos e subdesenvolvidos) pode ser utilizado em
diferentes fases de investigação.

O método hermenêutico

A hermenêutica trata da teoria da interpretação, que se pode referir tanto à arte da


interpretação como à prática e treino de interpretação. Versa sobre as técnicas de
interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas da filosofia, literatura, religião
e direito. A hermenêutica contemporânea engloba não somente textos escritos, mas
também tudo que há no processo interpretativo. Isso inclui formas verbais e não-verbais
da linguagem, assim como aspectos que afectam a comunicação, como as proposições,
os provérbios, as máximas e os significados.
A hermenêutica, como método científico, trata dos problemas que surgem quando se
está a lidar com acções humanas dotadas de significado e com produtos dessas acções,
principalmente textos. A hermenêutica oferece um instrumental para tratar de maneira
eficiente problemas de interpretação das acções humanas, textos e outros materiais
significativos.

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Tema: O conceito de projecto de investigação

Regra geral, todas as nossas actividades ou acções pessoais ou colectivas,


profissionais ou familiares passam por um processo de reflexão planeado e
decidido antes da sua execução, isto é, planeamos todas as nossas vidas.
Também, o projecto de investigação passa por um processo de planeamento de
todo o trabalho através da definição e sistematização de um conjunto de aspectos
que envolvem a escolha do tema, a problematização, os objectivos, as hipóteses, os
métodos, os meios para a execução do projecto.
Portanto, o projecto de investigação implica uma estrutura de itens que
explicitam os diferentes passos que serão desenvolvidos ao longo do processo de
investigação. De referir que a eleição dos itens em causa não obedece a um
critério rígido e fixo, mas vai variar em função dos objectivos da
investigação, do tipo de investigação, da disponibilidade de recursos e
mesmo da inclinação do investigador.
Em suma, o o projecto de investigação inclui todas as etapas do estudo, a partir
da escolha do tema à análise de dados e redacção final.
Desde logo, o projecto de investigação
• é um conjunto de disposições, uma escolha de meios racionais e ordenados,
com a finalidade de produzir um resultado investigativo.
• envolve acções que ajudam a definir a problemática a analisar e a
argumentação a seguir, bem como a previsão das tarafas a efectuar para a
sua sustentação.
• apresenta por escrito a descrição de um conjunto de acções inter-
relacionadas e coordenadas dentro de objectivos claros, limite de tempo e
de orçamento, que constituem uma obra a realizar.
• é uma sucessão de etapas rumo ao objectivo de respoder às preocupações
investigativas do pesquisador.

Para tal, é preciso prever desde o começo todos os meios e métodos que
conduzam aos resultados pretendidos.
Por que precisamos de conceber o projecto de investigação?

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O projecto de investigação implica a compreensão do processo, confere maior
eficiência à investigação para se alcançarem as metas estabelecidas. Assim, o
investigador encontra no projecto de investigação um suporte que o leva a ter mais
confiança, menos dúvidas, podendo de acordo com o tempo e os recursos
disponíveis efectivar mais facilmente a investigação.
Importa frisar que o projecto não é totalmente rígido, mas pode ser modificado
várias vezes em função das circunstâncias que se forem a registar.

Imperativos éticos na execução do projecto


Toda a investigação é uma intromissão na intimidade das condições de vida,
opiniões e actividades das pessoas. Por isso, há limites a decidir e que dever ter a
sua base na ética, valores e programações definidas para a investigação.
Ora, se a ética estuda princípios, normas, valores morais, e comportamentos,
que consideram a vida do Homem, também, na investigação social esses principios
devem prevalecer. Assim, o problema da ética coloca o investigador prante o
dilema acerca do que é correcto ou incorrecto no modo como realiza a
investigação. Esta preocupação torna-se mais evidente na investigação social onde
os resultados da própria investigação podem ter repercussões adversas na vida
das pessoas envolvidas.
O investigador não deve pensar apenas na sua realização, mas igualmente
precisa de se focar na comunidade-alvo. Os sujeitos da investigação são seres
humanos por isso devem ser tratados com respeito, dignidade e gratidão pela sua
participação.
Por tudo isso, espera-se que o investigador mantenha o anonimato e a
confidencialidade das pessoas que forneceram informações usadas no trabalho;
informe os participantes do direito de participar e/ou não participar na
investigação ou ainda de abandonar a investigação em qualquer momento. O
investigador também deve informar aos participamntes sobre os objectivos da
investigação, sobre o uso que a informação recolhida terá e ainda sobre os riscos
que os participantes correm ao fornecer tais informações, e, em última instância, o

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investigador deve requerer junto dos participantes o seu consentimento
informado1.

Tema: A redacção e a linguagem científica

Um texto científico não é uma mera soma de orações, de frases ou de parágrafos,


mas antes o resultado de uma ralação harmoniosa do pensamento apresentado com um
encadeamento sintáctica e semanticamente coerente.
Neste sentido, é recomendável o uso de frases curtas que facilitem a compreensão
do texto e o uso de um vocabulário acessível, evitando no entanto o vício de linguagem,
designadamente:
Nunca use estes termos Use estes
… bonito que nem o fulano ….bonito como o fulano
Tensão política-militar Tensão político-militar
Estou mentalmente e fisicamente bem Estou mental e fisicamente bem
Fazem seis meses que… Faz seis meses que…
Ela está meia-cansada Ela está meio-cansada

Assim, um texto científico torna-se coerente quando usamos elementos gramaticais


(conjunções, preposições, advérbios, pronomes) de forma adequada. Se esses elementos
forem mal empregues, a linguagem tornar-se-á ambígua e o texto não se apresentará
como um todo coerente.
Com efeito, a coerência de um texto é mantida por meio de procedimentos
gramaticais que permitem usar os diversos conectores para interligar enunciados e
frases que compõem o texto em causa.
De seguida, apresentamos alguns conectores que, com frequência, se usam para
introduzir citações:

1
O consentimento informado é o princípio legal que em teoria garante a protecção dos informantes
de uma investigação. Segundo Vilelas (2009), este princípio comporta os seguintes elementos: “uma
declaração do tipo de estudo que envolve a pesquisa; uma explicação dos propósitos da pesquisa,
delineando a duração esperada da participação do sujeito na pesquisa; uma descrição dos procedimentos a
serem seguidos durante a pesquisa; uma descrição de quaisquer riscos ou constrangimentos
razoavelmente previsíveis; uma descrição dos benefícios razoavelmente previsíveis para os sujeitos e uma
declaração garantindo o anonimato e a confidencialidade e de que a participação é voluntaria” (p. 373). O
consentimento informado também incorpora o direito dos entrevistados ao abandono da entrevista em
qualquer momento caso, assim, o desejem (Kvale, 1996).

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Na opinião de… Tal como afirma (Sicrano de tal)
De acordo com… No dizer de….
Na óptica de… Em conformidade com…
Na visão de… Tal como descrito por….
Do ponto de vista de… Na perspectiva de…
Segundo (Fulano de tal) Sobre este ponto (Fulano) afirma que…

No entanto, outros conectores que podem ser utilizados nos textos de acordo com as
diferentes situações são:

Situações que Exemplos de conectores


expressam
Adição Também, e, não só…mas também, além disso, outrossim, ademais,
por outro lado, por seu turno, por sua vez, de facto, com efeito, etc.
Alternância Ou…ou, quer…quer, seja…seja, ora...,ora, etc.
Causa Porque, já que, visto que, em virtude de, pois, etc.
Condição Desde que, a não ser que, se, caso, a menos que, etc.
Comparação Como, assim como, tal como, do mesmo modo que, tanto…como,
tao…como, tanto…quanto, etc.
Conformidade Segundo, conforme, consoante, na óptica de, na perspectiva de, etc.
Conclusão ou Portanto, por conseguinte, tão…que, tanto…que, de modo que, de
consequência forma que, assim sendo, por outro lado, logo, consequentemente,
doravante, etc.
Explicação Pois que, porque, porquanto, por exemplo, ou seja, por exemplo, isto
é, nesta ordem de ideias, nesse contexto, neste sentido, etc.
Finalidade Para que, a fim de, para (+ infinitivo), etc.
Oposição Mas, porém, entretanto, todavia, no entanto, mesmo que, embora,
contudo, não obstante, ainda que, por mais que, apesar de, a despeito
de etc.
Proporção Quanto mais, à medida que, quanto menos, etc.
Tempo Quando, logo que, assim que, toda a vez que, sempre que, enquanto,
etc.
Semelhança Do mesmo modo que, igualmente, outrossim, de igual modo, etc.

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Outras Independentemente de, no caso em apreço, de qualquer forma, seja
situações como for, neste sentido em contrapartida, à partida, de antemão, em
princípio, etc.

Resumindo, podemos dizer que os princípios que norteiam a produção de um texto


científico são:
a) A objectividade
➢ Tratar os assuntos de maneira directa e simples.
➢ Apoiar-se em provas e não em opiniões não confirmadas.
➢ Evitar o uso da primeira pessoa do singular (ex. eu participei, eu fiz, perscrutei,
etc.), bem como as formas derivadas deste pronome (meu, minha, minhas, meus, me,
comigo, mim). Porém, pode-se usar formas verbais na primeira pessoa do plural
(ex. participámos, fizemos, perscrutámos, etc.). Embora o ideal seja usar formas
verbais impessoais (ex. participou-se, perscrutou-se, pretende-se, adoptou-se, fez-
se, levou-se, propôs-se, etc.).
➢ Evitar o uso de adjectivos que exprimem juízos de valor (certo, errado, bom, mau,
feio, belo, agradável, formoso, horrível, formidável, etc.).
➢ Usar os conectores linguísticos que melhor expressam a ideia pretendida.
b) A clareza
➢ Expressar ideias sem ambiguidades ou equívocos.
➢ Usar frases curtas e um vocabulário adequado.
➢ Acautelar a correcção gramatical
c) A precisão
➢ Usar termos que traduzem a exactidão daquilo que se pretende transmitir.
➢ Ler e reler o texto depois de o dactilografar e antes de o submeter para a sua
aprovação pela autoridade científica.
d) Coerência
➢ Manter a sequência lógica e ordenada na apresentação das ideias.
➢ Usar devidamente os conectores de acordo com a situação que expressam.
****
De igual modo, os demais os princípios que norteiam a produção de um texto
científico são:
e) Não usar gíria quando estiver a tratar de temáticas científicas.

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f) Dizer as coisas ao pé-da-letra, isto é, evitar o uso de adágios populares ou
provérbios, pois estes são passíveis de múltiplas interpretações.
g) Também bem não use figuras de estilo no texto científico (Ex: Camarão que
dorme a corrente o leva; Cão que ladra não morde).
h) Não usar o texto científico ou a pesquisa que estiver a fazer como meio de
disseminação das suas convicções políticas, religiosas ou ideológicas.
i) Não elaborar um discurso (supostamente científico) movido pelas suas
emoções pessoais (procure ser isento).
j) A isenção referida na alínea anterior inclui o uso de uma linguagem neutra e
não tendenciosa (ex. em vez de dizer “os bandidos armados fizeram-nos
uma emboscada, diga: os guerrilheiros da Renamo fizeram-nos uma
emboscada”; “em vez de dizer a guerra de destabilização cessou em 1992,
diga: a guerra civil cessou em 1992).
k) Não usar exemplos que relatem opiniões e juízos não documentados
cientificamente (Ex., temos ouvido falar de mulheres que queimam os seus
maridos com recurso a óleos e outros líquidos em estado de ebulição).
l) Evitar repetir várias vezes a mesma ideia.
m) Evitar analisar o assunto proposto sob um único ângulo (valha-se da
interdisciplinaridade).
n) Separe os factos das opiniões

Assim, observados os princípios arrolados, o investigador estará em condições de


comunicar com eficiência os resultados da sua investigação.

Como separar os factos das opiniões?

Um dos obstáculos à separação dos factos das opiniões é que tendemos a dar
pouca diferença entre estes dois conceitos e, com frequência, apresentamos as
nossas opiniões como se fossem factos.
Os factos são realidades existentes objectiva e independentemente da nossa
vontade ou convicção. Trata-se de realidades que são exteriores à consciência dos
seres humanos, ao passo que as opiniões são formas de interpretação, de

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organização e compreensão subjectiva dos factos e do mundo. Dito por outras
palavras, as opiniões têm a ver o modo como cada indivíduo compreende e
comunica o mundo à sua volta. As opiniões dão sentido ao comportamento dos
indivíduos. Aliás, como afirma Mason Haire, “o comportamento do Homem
depende não daquilo que realmente existe (os factos), mas daquilo que ele vê
(opiniões), não da forma como o mundo está efectivamente organizado, mas da
forma como ele o organiza (opiniões). Este é, a princípio, um ponto
enganadoramente simples (…)”, mas pode ser a principal causa da confusão que,
com frequência, fazemos entre factos e opiniões.
De seguida, apresenta-se um quadro-resumo das principais diferenças entre
factos e opiniões.

Factos Opiniões
Existem no mundo objectivo. A sua existência tem a ver com a compreensão
que temos do mundo.
As declarações sobre os factos fundamentam-se As declarações sobre as opiniões dependem de
no olhar sobre o mundo objectivamente juízos de valor e de crenças (baseiam-se nas
existente convicções dos sujeitos).
(exigem a produção de provas e evidências).
Os factos só podem gerar um limitado número As opiniões podem gerar um número ilimitado
de teorias e postulados, que constituem o de ideologias, que constituem doutrinas sobre
suporte das ciências, as diversas cosmovisões.

Tema: A técnica de leitura

A leitura é um factor decisivo de estudo, permite ampliar os conhecimentos, obter


informações específicas, abrir novos horizontes para a mente, sistematizar o
pensamento, enriquecer o vocabulário e melhorar o entendimento do conteúdo das obras
lidas.
É necessário ler sempre, pois a maioria dos conhecimentos é obtida através da
leitura, podendo ser útil no conhecimento, interpretação, na distinção entre elementos
principais e secundários de um texto. Em suma, a leitura proporciona ao leitor uma
melhor compreensão do mundo, capacita-o a criticar, comparar, seleccionar e separar as
informações de que precisa das que não.
Na busca do material adequado para a leitura, é recomendado verificar:

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a) Título do material- serve para se informar sobre o assunto de que o material
versa.
b) Data de publicação- é útil no fornecimento de elementos preciosos sobre a
actualização e aceitação do material (número de edição).
c) Contracapa ou folha de rosto- possibilita a visualização sobre os dados
referentes ao autor.
d) Índice – apresenta os tópicos discutidos no material, assim como as divisões a
que esses tópicos estão sujeitas.
e) Introdução, prefácio ou nota do autor- propicia indícios sobre os objectivos do
autor ou até sobre a metodologia usada.
f) Bibliografia- tano a que consta no corpo do texto como aquela em notas de
rodapé, o que permite ver as obras citadas, podendo também remeter a outras
obras.

Em suma, para que uma leitura seja proveitosa é necessário que haja por parte do
leitor intenção, atenção, espírito crítico, reflexão, análise e síntese. Uma leitura de
estudo deve ser efectuada com um propósito de que o conhecimento gerado possa ser
discutido e aplicado.
Assim, uma leitura proveitosa deve possibilitar-nos:
g) Encontrar frases ou palavras-chave
h) Captar a ideia geral sem entrar em minúcia
i) Obter uma visão ampla do conteúdo que interessa
j) Absorver o conteúdo e todos os seus significados, lendo e relendo se necessatio
k) Formular um ponto de vista sobre o texto lido (leitura crítica )

Análise de texto

Analisar um texto significa estudá-lo, decompô-lo ou interpretá-lo. Refere-se ao


processo de conhecimento de determinada realidade, que implica a decomposição das
partes de um texto para o estudar de forma plena, determinando as relações entre as suas
ideias, e compreendendo a maneira pela qual estão estruturadas e organizando as suas
próprias ideias de modo hierárquico.

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Em suma, a análise vai permitir observar as componentes de um conjunto, perceber
as suas possíveis relações e eventualmente passar de uma ideia-chave para um conjunto
de ideias mais gerais e, por fim, passar para a crítica.

Tipos de análise de texto

l) Leitura rápida: assinalam-se as expressões e palavras mais importantes para se


ter uma visão global do texto.
m) Compreensão do texto: separam-se as ideias centrais das secundárias. Procede-
se à correlação entre elas e procura-se a compreensão do conteúdo do texto.
n) Interpretação e crítica: correlacionam-se as ideias do autor com outras sobre o
mesmo tema. Faz-se uma crítica fundamentada em argumentos válidos lógicos e
convincentes.
o) Problematização: debatem-se questões do texto, por meio da colocação de
opiniões pessoais no texto e outras fundamentadas em outras obras e autores,
podendo-se levantar novas questões pertinentes ao texto lido.

Importância da leitura

Não é suficiente ir às aulas e escutar os professores para garantir completo sucesso


académico. Mas, é ler bastante. Quem não lè não sabe resumir, tomar notas nem
estudar. Ler é muito importante para ampliar o seu próprio horizonte de compreensão do
mundo.
Importa referir que quase todas as disciplinas ministradas na universidade
desenvolvem programas de investigação bibliográfica para que os estudantes
desenvolvam temas e reconstrua o seu próprio conhecimento. por exemplo, para
elaborar projectos de investigação é preciso ir às fontes, aos autores e aos livros para ler
e ler bem.
Geralmente, durante as primeiras aulas de cada disciplina os professores apresentam
a bibliografia de leitura obrigatória e outra de leitura complementar. Portanto, os
professores ao assim procederem, reconhecem que o livro sugerido é muito precioso
para as aulas, porém, os estudantes não se podem limitar aos livros sugeridos pelos seus
professores, mas, é preciso que se nutram de outras fontes mais amplas, mas
especializadas e mais esclarecedoras sobre cada temática

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É possível fazer um curso universitário sem ler um único livro? É concebível redigir
uma monografia científica sem nunca ter aberto um artigo, uma enciclopédia ou um
livro?
Em fim, a leitura amplia e integra os nossos conhecimentos, abrindo cada vez mais
os horizontes do saber, enriquecendo o nosso vocabulário e gerando maior facilidade de
oralidade, disciplinado a mente e alargando a consciência sobre as formas e os ângulos
sob os quais um mesmo problema pode ser apresentado.
Portanto, quem lè constrói a sua própria ciência e ao terminar um curso superior
deve estar habilitado a desenvolver investigações em temas jamais abordados na
universidade, isto é, deve ser uma pequena fonte de conhecimento que vai nutrir outros
indivíduos. Em contrapartida, quem não lê enjaula-se no seu próprio ninho tenebroso e
obscuro e há-de limitar-se a reproduzir ideias produzidas por outros, sem as sujeitar à
crítica, à síntese nem à análise.
A leitura atrai-nos ao saber e à cultura. Por isso, temos de ler e ler bastante e com
perseverança. De facto, esta perseverança garantir-nos-á um salto qualitativo de agentes
passivos consumidores de conhecimentos produzidos por terceiros para agentes
produtores dos nossos próprios conhecimento.

Tema: Como fazer o resumo?

O resumo é um dos elementos basilares de um projecto, normalmente é redigido


com o espaçamento simples (1 cm) e não leva mais do que 600 caracteres, ocupando
apenas uma página. Também o resumo deve constar de várias palavras-chave, sendo
que a maioria dos autores considera que sejam entre três e cinco palavras-chave.
De referir que “o resumo é a contracção de um texto, mantendo a ordem de
sequência das suas ideias e o sistema de enunciação, reformulando o discurso e
salvaguardando uma rigorosa objectividade” (Soares, 2001: 11).
Quando se faz o resumo, a pretensão tem de ser atingir o equilíbrio entre o mínimo
de palavras e o máximo de informações relevantes presentes no texto-fonte. Tal
significa que podemos retirar do texto-fonte uma parte do seu material verbal, sem
prejudicarmos o essencial da informação que ele comunica. Todavia, o produto obtido
não é um texto idêntico, mas um outro texto contendo o essencial da informação do
texto-fonte.

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Segundo Soares (2001), a quantidade de palavras retiradas do texto-fonte para
compor o resumo deve ser qualitativamente compensada por uma reformulação que
permite salvaguardar o mais essencial da informação contida no texto-fonte. Esta autora
conclui assegurando-nos que o resumo consiste na reelaboração das estruturas
discursivas e frásicas a fim de comunicar a informação de um texto com um gasto
menor de palavras.
Em função das ideias supracitadas, podemos dizer que a técnica do resumo opera
mais ao nível da transformação do discurso do que ao nível da palavra, ou seja, resumir
não é só dizer por outras palavras, mas é sobretudo dizer com menos palavras.
Desta feita, um bom resumo deve salvaguardar o máximo de objectividade e rigor,
mediando apenas a informação contida no texto-fonte e sem qualquer permissão de
marcas do seu autor (por exemplo: evitar a expressão de sentimentos individuais; o uso
de formas pronominais como meu, meus, minha, minhas, me, comigo, mim), pois a
qualidade do autor de um resumo está na capacidade de desaparecer completamente,
como sujeito, do resumo. Isto é, de não deixar a sua marca no resumo.
Subjacente ao anteriormente dito está a ideia de que o resumo exige a competência
da escrita e o domínio do funcionamento da língua. Trata-se de um exercício que exige
o conhecimento do léxico, da sintaxe, dos conectores, da pontuação e dos processos de
sequenciação textual.
De seguida apresentamos alguns passos importantes cuja observância permite-nos
elaborar um resumo bem-sucedido.

Procedimentos a respeitar quando se faz um resumo


a) Conservar a ordem sequencial das ideias.
b) Salvaguardar o sistema de enunciação.
c) Reformular o discurso sem tomar posição:
➢ Retirar a maioria de pormenores, exemplos pouco significativos, citações,
breves narrativas, que servem para explicar ou ilustrar dados e opiniões
pessoais.
➢ Quando o texto-fonte apresenta informação quantificada, conservar apenas
os números mais significativos.
➢ Suprimir as repetições e tudo o que se enquadre no estilo pessoal do autor
do resumo.
➢ Manter apenas as conexões e os conectores que exprimem as linhas de
raciocínio mais importante.
d) Evitar fórmulas do tipo “o autor pensa que….”; “o autor pretende mostrar a
ideia de que…”

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e) Não copiar frases integrais do texto-fonte.
f) Respeitar o número de palavras exigido e não ir mais além de uma página.

Que elementos devem constar no resumo?


De um modo geral o resumo deve conter ou mencionar de forma muito sucinta os
seguintes elementos:
➢ Os objectivos do estudo que está a desenvolver, ou que se vai desenvolver;
➢ A metodologia que norteará o estudo;
➢ Uma breve caracterização da amostra que participa no estudo;
➢ As técnicas ou instrumentos de recolha de dados;
➢ Uma breve síntese dos resultados obtidos;
➢ Palavras-chave [normalmente aconselha-se que sejam em número de cinco,
mas até ao nível em que nos encontramos (1º ou 2º ano) admitem-se até três
palavras-chave].
Exemplo de resumo (de um projecto por executar)
Título do projecto: A violência contra a mulher: um olhar sobre as suas
manifestações na cidade de Maxixe

O presente estudo tem em vista as especificidades das práticas socioculturais que são permeáveis
aos comportamentos violentos que no âmbito das relações conjugais vitimizam as mulheres. Toma-se
como contexto empírico de realização do próprio estudo, a cidade de Maxixe, uma cidade com
caraterísticas socioculturais diversas e cujos habitantes, embora construindo lógicas discursivas
igualmente diversas sobre a violência contra as mulheres são, elas próprias, lógicas eficazes. O estudo
visa ainda caracterizar as várias representações sociais da violência contra as mulheres, bem como
certos usos culturais susceptíveis de alentar comportamentos violentos naquela cidade. Será
desenvolvida uma estratégia metodológica de cariz qualitativo que enfatiza a análise dos percursos e das
experiências de vida das próprias mulheres vítimas de violência conjugal. Paralelamente à esta
estratégia metodológica serão mobilizadas técnicas de recolha de dados como as entrevistas
semiestruturadas, as histórias de vida, a análise de fontes documentais, entre outras, sendo o próprio
estudo ancorado, de modo geral, na revisão da literatura, nas questões metodológicas e no trabalho
empírico, premissas sob as quais serão inferidas as conclusões.

Palavras-chave: violência contra a mulher, vida conjugal, poder, poligamia e lobolo.

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Exemplo de resumo (de um projecto já acabado)
Título do projecto: A violência contra a mulher: um olhar sobre as suas
manifestações na cidade de Maxixe

A violência contra as mulheres tem sido discutida intensamente desde o limiar de 1970. No entanto,
a persistência de estereótipos patriarcais e sexistas na sociedade e nas famílias tem permitido que os
seus perpetradores sejam tolerados, perdoados e ilibados. Trata-se de um fenómeno que para além de
subjugar, maltratar e privar as vítimas dos seus direitos, sujeita-as à auto-recriminação, à ocultação do
seu sofrimento e à aceitação da vitimização. O presente estudo tem em vista a análise da especificidade
das práticas sociais permeáveis a comportamentos violentos que, no âmbito das relações conjugais,
vitimizam as mulheres. Tomou-se como contexto empírico de realização do estudo a cidade de Maxixe.
Trata-se de uma cidade com características socioculturais próprias e com lógicas discursivas eficazes
sobre a violência contra as mulheres. O estudo visa ainda caracterizar as várias manifestações de
violência contra as mulheres. Do ponto de vista do trabalho empírico, foi estudada uma amostra
composta por homens agressores e mulheres vítimas daquela cidade, tendo-se desenvolvido uma
estratégia metodológica de cariz qualitativo, que realça a análise dos percursos e das experiências de
vida das mulheres vítimas de violência conjugal. Paralelamente a esta estratégia metodológica foram
mobilizadas as seguintes técnicas de recolha de dados: entrevistas semiestruturadas, histórias de vida e
análise de fontes documentais. Os resultados revelaram que as famílias de origem de alguns
entrevistados eram extremamente violentas, tendo a violência continuado na vida adulta dos
entrevistados. Revelaram ainda uma tendência de tolerância da violência contra as mulheres quer pelas
próprias vítimas, quer pelas instituições de apoio às vítimas.

Palavras-chave: violência contra a mulher, vida conjugal, poder, poligamia e lobolo.

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