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1.1.2.

Níveis de conhecimento

O que é conhecer?
É uma relação que se estabelece entre sujeito que conhece e o
objecto conhecido. No processo de conhecimento o sujeito
cognoscente se apropria, de certo modo, do objecto conhecido.
Pelo conhecimento o homem penetra as diversas áreas da
realidade para dela tomar posse. Ora, a própria realidade apresenta
níveis e estruturas diferentes em sua própria constituição. Assim, a
partir de um ente, facto ou fenómeno isolado, pode-se subir até situá-
lo dentro de contexto mais complexo, ver seu significado e função,
sua natureza aparente e profunda, sua origem, sua finalidade, sua
subordinação a outros entes, enfim, sua estrutura fundamental com
todas as implicações dai resultantes.
Esta complexidade do real, o objecto de conhecimento, ditará
necessariamente, formas diferentes de apropriação por parte do
sujeito cognoscente. Estas formas darão os diversos níveis de
conhecimento segundo o grau de penetração do conhecimento e
consequente posse mais ou menos eficaz da realidade, levando ainda
em conta a área ou estrutura considerada.
Com relação ao homem, por exemplo, pode-se considera-lo em
seu aspecto externo e operante e dizer uma serie de coisas que o
bom senso dita ou que a experiencia quotidiana ensinou; pode-se,
também, estudá-lo com espírito mais serio, investigando
experimentalmente as relações existentes entre certos órgãos e suas
funções; pode-se, ainda, questiona-lo quanto a sua origem sua
liberdade e destino e, finalmente, investigar o que dele foi dito por
Deus através dos profetas e de seu enviado Jesus Cristo.
Têm-se assim, quanto as espécies de consideração sobre a
mesma realidade, o homem; consequentemente, o pesquisado está
se movendo dentro de quatro níveis diferentes de conhecimento. O
mesmo pode ser feito com outros objectos de investigação.
Tem-se, então, conforme o caso:
- Conhecimento empírico
- Conhecimento científico
- Conhecimento filosófico
- Conhecimento teológico

Conhecimento
Sujeito
Objecto
- Empírico
- Cientifico
- Filosófico
- Teológico

- Conhecimento Empírico) de senso comum)


Conhecimento empírico, também chamado vulgar, é o
conhecimento do povo, obtido ao acaso, após inúmeras tentativas. É
ametódico e assistemático.
O homem comum sem formação, tem conhecimento do mundo
material exterior, onde se acha inserido, e de um certo número de
homens, seus semelhantes, com os quais convive. Vê-os no momento
presente, lembra-se deles, prevê o que poderão fazer e ser no futuro.
Tem consciência de si mesmo, de suas ideias, tendências e
sentimentos. Cada qual se aproveita da experiencia alheia. Pela
linguagem os conhecimentos se transmitem de uma pessoa à outra,
de uma geração à outra.
Pelo conhecimento empírico, o homem simples conhece o facto
e sua ordem aparente, tem explicações concernentes à razão de ser
das coisas e dos homens e tudo isso obtido das experiencias feitas ao
acaso, sem método, e de investigações pessoais feitas ao sabor das
circunstâncias da vida ou então servido do saber dos outros e das
tradições da colectividade ou, ainda, tirado da doutrina de uma
religião positiva.

- Conhecimento científico
O conhecimento científico vai além do empírico, procurando
conhecer, alem do fenómeno, suas causas e leis. Antigamente, o
conhecimento cientifico era caracterizado com:
1) Certo, porque sabe explicar os motivos de sua certeza, o que
não acontece com o empírico.
2) Geral, no sentido de conhecer no real o que há de mais
universal e valido para todos os casos da mesma espécie. A
ciência, partido do indivíduo concreto, procura o que nele há
de comum com os demais da mesma espécie.
3) Metódico e sistemático. O cientista não ignora que os seres e
factos estão ligados entre si por certas relações. O seu
objectivo é encontrar e reproduzir este encadeamento
(ligação, conexão).
Alcança-o por meio do conhecimento ordenado das leis e
princípios.
A estas características acrescenta-se outras propriedades da
ciência, como a objectividade, o desinteresse e o espírito crítico.
A ciência, assim entendida, é o resultado da demonstração e da
experimentação, só aceitado o que foi provado.
Hoje a concepção de ciência é outra.
A ciência não é considerada como algo pronto, acabado ou
definitivo. Não é a posses de verdade imutáveis.
Actualmente, a ciência é entendida como uma busca constante
de explicação e solução, de revisão e reavaliação de seu resultado e
tem a consciência clara de sua falibilidade e dos seus limites.
Nesta busca sempre mais rigorosa, pretende aproximar-se cada
vez mais da verdade através de métodos que proporcionam um
controlo, uma sistematização, uma revisão e uma segurança maior do
que possuem outras formas de saber não-científias.
Por se algo dinâmico, a ciência busca renovar-se e reavaliar-se
continuamente.
A ciência é um processo de construção.

Diferença entre o conhecimento empírico (de senso


comum) e científico.

Conhecimento Conhecimento científico


empírico
- Centrada na realidade - Se refere ao possível, não
imediata real
- Se baseia nos objectos - Carácter profissional: se
realmente aprovados. baseia em algum, tipo de
- Incompatibilidade para linguagem.
formular e comprovar _ Natureza hipotética
hipóteses dedutiva: formulação e
comprovação das
hipóteses.

- Conhecimento filosófico
O conhecimento filosófico distingue-se do científico pelo objecto
de investigação e pelo método. O objecto das ciências são os dados
próximos, imediatos, perceptíveis pelos sentidos ou instrumentos,
pois, sendo de ordem material e física, são por isso susceptíveis de
experimentação (método científico – experimental). O objecto da
filosofia é constituído de realidades mediatas, não perceptíveis pelos
sentidos e que, por serem de ordem supra-sensíveis, ultrapassam a
experiência (método racional).
A ordem natural do procedimento é, sem duvida partir dos
dados materiais e sensíveis (ciências) para se elevar aos dados de
ordem metempírica, não sensíveis, razão ultima da existência dos
entes em geral (filosofia) parte-se do concreto material para o
concreto supramaterial, do particular ao universal.
Filosofar é integrar. A integração parte da curiosidade. Esta é
inata. Ela é constantemente renovada, pois surge quando um
fenómeno nos revela alguma coisa de um objecto e ao mesmo tempo
nos sugere o oculto, o mistério. Este impulsiona o homem a buscar o
desvelamento do mistério. Vê-se, assim, que a integração somente
nasce do mistério, que é o oculto enquanto sugerido.
A tarefa fundamental da filosofia resume-se na reflexão. A
experiência fornece uma multidão de impressões e opiniões
adquirem-se conhecimentos científicos e técnicos nas mais variadas
áreas têm-se aspirações e preocupações as mais diversa. A filosofia
procura reflectir sobre este saber, interroga-se sobre ele
problematiza-o. Filosofar é interrogar principalmente pelos factos e
problemas que cercam o homem concreto, inserido em seu contexto
histórico. Este contexto muda através dos tempos, o que explica o
deslocamento de temas de reflexão filosófica. É claro que alguns
temas perpassam a história como o próprio homem; qual o sentido do
homem e da vida? Existe ou não o absoluto? Há liberdade?
Entretanto, o campo de reflexão se ampliou muito em nossos dias.
Hoje, os filósofos, alem das interrogações metafísicas tradicionais,
formulam novas questões: o homem será dominado pela técnica? A
máquina substituirá o homem? Também o h9omem será produzido
em série, em tubos de ensaio? As conquistas espaciais comprovam o
poder limitado? O progresso técnico é um benefício para
humanidade? Quando chegará a vez do combate contra a fome e a
miséria? O que é o valor, hoje?
A filosofia procura compreender a realidade em seu contexto
mais universal. Não há soluções definitivas para grande número de
questões. Entretanto, habilita o homem a fazer uso se suas faculdade
para ver melhor o sentido da vida concreta.

- Conhecimento Teológico
Duas são as atitudes que se podem tomar diante do mistério. A
primeira é tentar penetrar nele com o esforço pessoal da inteligência.
Mediante a reflexão e o auxílio de instrumentos procura-se obter o
procedimento que será científico ou filosófico. A segunda atitude
consistirá em aceitar explicações de alguém que já tenha desvendado
o mistério e implicará sempre uma atitude de fé diante de um
conhecimento revelado. Este conhecimento revelado ocorre quando
há algo oculto ou um mistério, alguém que manifesta e alguém
pretende conhecê-lo.
Entende-se que mistério tudo o que é oculto enquanto provoca
a curiosidade e leva a busca. O mistério é o oculto enquanto sugerido.
Pode estar ligado a dados da natureza, da vida futura, da existência
do absoluto, para mencionar apenas alguns exemplos.
Aquele que manifesta o oculto é o revelador. Poderá ser o
próprio homem ou Deus.
Aquele que recebe a manifestação terá fé humana, se o
revelador for algum homem, e terá fé teológica, se Deus for o
revelador.
A fé teológica sempre está ligada a uma pessoa que revela a
Deus. Para que isto aconteça, é necessário que tal pessoa que
conhecer a Deus e que vive o mistério divino o revele ao homem.
Afirmar, por exemplo, que tal pessoa é o Cristo, equivale a explicitar
um conhecimento teológico.
O conhecimento revelado – relativo a Deus – aceite pela fé
teológica constitui o conhecimento teológico. É aquele conjunto de
verdades a que os homens chegaram não com auxílio de sua
inteligência, mas mediante aceitação dos dados da revelação divina.
Vale-se de modo especial argumento de autoridade. São os
conhecimentos adquiridos nos livros sagrados e aceite racionalmente
pelos homens, depois de terem passados pela crítica histórica mais
exigente. O conteúdo da revelação, feita a critica dos factos ai
narrados e comprovados pelos sinais que acompanham, reveste-se
autenticidade e de verdade. Passam tais verdades a ser consideradas
como fidedignas e pior isso são aceites. Isto é feito com base na lei
suprema da inteligência: aceitar a verdade, venha donde vier,
contando que seja legitimamente adquirida.

O Trinómio: Verdade – Evidencia – Certeza

A verdade
Todos falam, discutem e querem estar com verdade. Nenhum
mortal, porem é dono da verdade. Isto porque o problema da verdade
radica na finitude do homem, de um lado, e na complexidade e
ocultamento do ser da realidade, de outro lado. O ser das coisas e
objectos que o homem pretende conhecer oculta-se e manifesta-se
sob múltiplas formas. Aquilo que e manifesta, que aparc3e em dado
momento, não certamente a totalidade do objecto da realidade
investigada. O homem pode apoderar-se e conhecer aquele aspecto
do objecto que se manifesta, que se impõe, que se desvela e isto
ainda de modo humano isto é, imperfeito, pois não entra em contacto
directo com o objecto, ma apenas com sua representação impressões
e causas.
Pode-se dizer que, em certas áreas o homem já entendeu
bastante daquilo que o ser é e manifesta: a conquista tecnológica, a
viagens especiais mostram quanto já foi aprendido, e isto graças
certamente aos instrumentos cientifico de que o homem se serviu
para perceber e ver o que os sentido jamais teriam visto. Mas esta é
apenas uma faceta da realidade dos seres. O que se conhece sobre o
homem, sobre a vida e a morte, sobre o futuro, sobre a
responsabilidade dos marginais, sobre o mil e um problemas que
afligem a cada um e a todos?
O que é pois a verdade? É o encontro do homem com o
desvelamento com desocultamento e com a manifestação do ser. O
ser das coisas se manifesta, torna-se translúcido, visível ao olhar, a
inteligência e a compreensão do homem. Pode-se dizer que há
verdade quando o homem percebe e diz o ser que se desvela, que se
manifesta. Há uma certa conformidade entre o que o homem julga e
diz e aquilo que do objecto se manifesta.
O objectos porem nunca se manifesta inteiramente
transparente. Por outro lado o homem não é capaz de perceber tudo
aquilo que se manifesta e nem lhe é possível estar de posse plena do
objecto do conhecimento; quando muito pode conhecer os objectos
por vez representações e imagens. Por isso o homem nunca conhece
toda verdade, a verdade absoluta e total.
Muitas vezes ocorrem ainda, que o homem levado por certas
aparências e sem auxílio de instrumentos adequados, emite juízo
precipitados que não corresponde aos objectos e a verdade: temos
então o erro.

A Evidência
Tais afirmações erradas decorrem muito mais de atitude
precipitada e da imaginação do homem, com relação a revelação do
ser que se oculta que se desvela fragmentariamente, do que da
própria realidade.
A verdade só resulta quando houver evidência. Evidência é
manifestação clara e transparência, é desocultamento e
desvelamento do ser. A respeito daquilo que se manifesta do ser
pode-se dizer uma verdade. Ma como nem tudo se desvela de um
ente, não se pode falar arbitrariamente sobre o que não se desvelou.
A evidencia, o desvelamento, a manifestação do ser é, pois o critério
da verdade.

A Certeza
Finalmente a certeza é o estudo do espírito que consiste na
adesão firme a uma verdade, sem temor de engano. Este estado de
espírito se fundamenta na evidência, no desvelamento do ser.
Relativamente ao trinómio poder-se-ia concluir dizendo:
havendo evidência, isto é, se o objecto se desvela ou se manifesta
com suficiente clareza, pode-se afirmar com certeza, isto é, sem
temor de engano, uma verdade.
Quando não haver evidencia ou suficiente manifestação do
objecto, o sujeito encontrar-se-á em outros estados de espíritos, o
que deve transparecer também na expressão ou na linguagem. São
os casos de ignorância da dúvida ou da opinião.
Ignorância é um estado puramente negativo, que consiste na
ausência do conhecimento relativo a qualquer objecto por falta total
de desvelamento. A ignorância pode ser:
1) Vencível: quando pode ser superada;
2) Invencível: quando não pode ser superada;
3) Culpável: quando há obrigação de faze-la desaparecer;
4) Desculpável: quando não há obrigação de faze-la
desaparecer.
A dúvida é um estado de equilíbrio entre afirmação e a
negação. A dúvida é espontânea quando o equilíbrio entre a
afirmação e negação resulta da falta de exame do pró e do contra.
A dúvida reflectida é o estado de equilíbrio que permanece após
o exame das razoes pró e contra.
A dúvida metódica consiste na suspensão fictícia ou real, mas
sempre provisória, a sentimento uma assenção tida até então por
conta para lhe controlar o valor.
A dúvida universal consiste em considerar toda assenção como
incerta. É dúvida dos cépticos. A opinião se caracteriza pelo estado de
espírito que afirma com temor de se enganar. Já se afirma mais de tal
maneira que as razões em contrário não dão uma certeza. O valor da
opinião depende da maior o u menor probabilidade das razoes que
fundamentam a afirmação. A opinião pode as vezes assumir as
características da probabilidade matemática. Esta pode ser expressa
sob a forma de uma fracção, cujo denominador exprime o número de
casos possíveis e cujo numerador expressa um número de casos
favoráveis. Por exemplo há vendo numa caixa 6 bolas pretas e 4
brancas a probabilidade de se extrai uma bola branca será
4
matematicamente 10 .

Só haverá certeza quando o numerador se igualar ao


denominador.
A preocupação do cientista é chegar a verdade que possam ser
afirmadas com certeza.

1.2. Definição, Classificação e Divisão da Ciência.

Definição
Como modo de conhecimento a ciência é uma representação
intelectualmente construída tendo como meta a explicação de
fenómenos de modo a torna-los inteligíveis implicando definir
racionalmente, a um nível variável de generalidade, problemas
susceptíveis de resolução através de uma actividade de pesquisa.
Cada disciplina só adquire estatuto de ciência, quando constrói
o seu objecto próprio situando-se a um nível de abstracção e
generalidade que lhe permite elucidar regularidades formular leis
construir modelos interpretativos.
Ciência é também procurar soluções para problemas. Ela
elabora e testa os meios necessários: conjuntos correntes de
conceitos e revelações entre conceitos as teorias, uma linguagem
conceptual adequada e tanto possível exclusiva, instrumentos
técnicos de recolha e tratamento de informação, método de pesquisa.
É um método para chegar a conhecimento seguro. Kerlinger
refere que no mesmo mundo científico podem ser encontradas duas
amplas visões de ciência: Estática e Dinâmica.

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