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HISTÓRIA DO

CRISTIANISMO
MEDIEVAL
PROFESSOR CLÁUDIO
CORREIA DOS REIS
PINDAMONHANGABA - 2021

SUMÁRIO

Introdução Geral.................................................................................. 03

1. A Alta Idade Média .............................................................................. 06


1.1. Principais Movimentos ............................................................ 07
1.2. Principais Personagens ........................................................... 10

2. A Baixa Idade Média ............................................................................... 18


2.1. Tomás de Aquino ..................................................................... 19
2.2. Guilherme de Ockam ............................................................... 25
2.3. Movimentos Reformistas ......................................................... 27

3. A degradação da Igreja e os Pré-reformadores .................................... 35


3.1. John Wyclif ............................................................................... 37
3.2. John Huss ................................................................................. 38
3.3. Eventos Importantes ................................................................ 40

4. As Cruzadas ............................................................................................. 45
4.1. O “Exílio Babilônico” ............................................................... 48

Considerações Finais .............................................................. 51


Referências Bibliográficas ...................................................... 52
HISTÓRIA DO CRISTIANISMO MEDIEVAL

INTRODUÇÃO GERAL

“Foi um tempo de escuridão, mas não uma noite


sem estrelas...” (Hermisten da Costa)

A Idade Medieval, também chamada de “Idade Média” ou “Era das Trevas”,


abrange dos séculos VI a XV da era cristã, foi caracteristicamente um período
bastante conturbado para a Igreja Ocidental.

Em face do decreto de Constantino (272 a 337 d.C.), imperador romano


convertido, iniciando o processo que viria a tornar o cristianismo a religião oficial
do Império Romano, a adesão à fé cristã não se deu mais por conversão
espiritual, mas simplesmente por uma conformação ao status quo prevalecente,
ou seja, ser cristão deixou de ser uma experiência de conversão pessoal ao
senhorio de Cristo e passou a ser, para a maioria das pessoas, apenas uma
formalidade ou, até mesmo, uma conveniência social e política.

Dois séculos passaram-se e as consequências disso já dificultavam bastante


o exercício da verdadeira fé cristã. Nichols (2004, p. 83), comenta assim os
problemas e importância da compreensão do contexto que envolveu o início
desse período:

Devemos ter sempre em mente que a igreja durante esse


período que estamos considerando tinha, no seu interior, muitas
pessoas não convertidas a Cristo; eram “cristãos-pagãos”.
Vejamos, resumidamente, as causas dessa situação alarmante.
Uma delas era a atitude dos imperadores romanos que tinha
tornado o Cristianismo a religião da moda, cujo patrono era o
governo imperial e à qual aderiram grandes multidões. Outra
causa era o decreto do imperador Teodósio, que obrigava seus
súditos a professarem o Cristianismo de forma ortodoxa. Desse
modo surgiu a política imperial do uso do poder para reprimir a
idolatria e forçar o povo a filiar-se à Igreja. Mais uma vez os
métodos missionários medievais resultaram na entrada para a
Igreja de multidões de germanos e outros povos que nunca
tinham experimentado a conversão cristã. O mal só se agravou
quando governos e conquistadores obrigaram seus povos a
“aceitar” o Cristianismo. Prevalecia, assim, na Igreja, grande
massa de pagãos, imbuídos das ideias pagãs a respeito da
religião e da moral, pessoas que de cristãs só tinham o nome.

É por causa disso que o período que agora estudamos também foi
chamado de “Era de Chumbo”, um período pesado e escuro, decorrendo assim
muitos estudiosos preferirem chamá-lo, não sem causa, de “Era das Trevas”.

Além, e tão importante quanto a situação espiritual, é fundamental termos


a compreensão do contexto social desse período chamado de “Medieval”. De
fato, o adjetivo “trevas” usado por muitos estudiosos que tratam destes séculos
se justifica, pelo menos em alguma medida. Não é possível entender a Igreja e
suas características em um período histórico ignorando seu contexto mais
amplo. Pensar a Igreja sem pensar a história, é falar de um corpo sem alma; ler
e estudar a história da Igreja sem estudar a sociedade à sua volta, é ler um
romance.

A estabilidade, estrutura e poder do Império Romano se diluíra quase que


totalmente, favorecendo que povos vizinhos se sentissem atraídos para invadir
as regiões da Itália e França. Durante quase quatro séculos, até Carlos Magno
(742-814 d.C.), que estudaremos a seguir, muitas guerras, confusão, invasões e
todo o tipo de barbarismo aconteciam por quase toda a Europa Ocidental. Tribos
germânicas, escandinavas e normandas assaltavam desde o sul da Alemanha e
toda a costa do Mediterrâneo.

Do Oriente, inspirados pela nova religião, o Islamismo, adotando a guerra


como “método de evangelização”, e com a sede de conquistas territoriais dos
povos árabes, guerreiros tradicionais, a morte, fome, doenças, medo e imigração
forçada são as marcas da sociedade europeia para qual a Igreja cristã precisava
dar respostas e consolo. Curiosamente, o desafio imposto pelo Islamismo, trouxe
uma oportunidade para a Igreja da Europa Ocidental se fortalecer e ocupar
grande importância de destaque e liderança também na vida social, política e
econômica.

Por tratar-se de um período que abrange mais de dez séculos de história,


com muitos nomes, eventos e movimentos importantes, dividiremos o estudo da
Idade Medieval em duas partes principais: a Baixa e a Alta Idade Média.
CAPÍTULO I - A ALTA IDADE MÉDIA

“Com todas as suas faltas, a Igreja Medieval


ainda conseguiu alguns avanços no campo da
moral e realizou benefícios inestimáveis.
Introduziu na lei certos princípios cristãos,
amenizou a sorte dos escravos, elevou o papel
das mulheres, defendeu a família. Suas
instituições de caridade ajudaram a muitos
necessitados e muito desse trabalho foi
realizado com espírito cristão. Por séculos essa
igreja ministrou quase toda a educação que
havia na Europa. Muitos homens cultos e
grandes pensadores da Idade Média pertenciam
ao seu clero. A ela também devemos a maior
parte das obras mais preciosas da arte
medieval. A despeito dos erros e da corrupção,
a igreja medieval foi, no seu tempo, um
instrumento providencial para a preservação
expansão do cristianismo e da civilização cristã.
Quando terminou a sua era, estava
grandemente arruinada, mas apareceram outros
instrumentos para melhorar a obra que ela vinha
fazendo...” (Robert Hasting Nichols).

O período tratado como Alta Idade Média abrange dos séculos V a X. Do


ponto de vista social e político é importante ressaltar que a queda do Império
Romano (476 d.C.), trouxe uma profunda crise para a organização de toda a
sociedade europeia da época, visto que a queda do poder central representado
pelos imperadores, fragmentou várias áreas da vida social, especialmente a
ordem, a política, a economia e o comércio, ou seja, a sociedade europeia vivia
à beira do caos social, conforme já pontuamos acima.

É neste contexto que a Igreja Católica Romana, única organização


transcultural e transnacional e com um bom sistema hierárquico, e o Feudalismo,
proprietários de grandes extensões de terra que deram trabalho e
proteção/segurança aos agricultores, ganham importância, concedendo a
milhões de pessoas na Europa Ocidental um mínimo de proteção e conforto, que
eram traduzidos e personificados nas pessoas do clero e do senhor feudal. O
clero mantinha a ordem “espiritual” e os senhores feudais mantinham a ordem
“material”.

1.1 - Principais Movimentos da Alta Idade Média

A. Monasticismo

O Monasticismo foi um movimento medieval que enfatizava a “vida


solitária” e abdicação total da vida comum, “no mundo”, com a finalidade de uma
dedicação especial à vida religiosa, “fora do mundo”. “Monastérios” são os
lugares que oportunizam às pessoas as condições mínimas para a vida solitária,
e geralmente são chamados de “monges” aqueles que aderem a vida monástica
dentro dos monastérios. A palavra “monástico” vem do grego “monachos”, que
significa, literalmente, “solidão”.

Em face da profunda decadência espiritual da igreja nos anos


subsequentes à oficialização do cristianismo como fé estatal do Império
Romano, crentes das regiões da Síria e do Egito buscaram uma “separação
radical do mundo” através do desenvolvimento de um estilo de “vida isolada
santa”, entendendo que as tentações da vida, que na cidade seriam mais
intensas em face da distração, poderiam ser vencidas, então, através do
isolamento.

Os cristãos que buscavam uma vida de solidão e isolamento nesses


lugares porque queriam afastar-se das distrações e também das
ofertas pecaminosas que o mundo oferecia. Todavia, embora
buscassem uma vida solitária, os monastérios acabaram se tornando
uma vida em comunidade... (Suana,2019 p. 57).

Muitos desses lugares eram isolados geograficamente, até mesmo em


cavernas e montanhas distantes, procurando guardar afastamento de cidades
ou vilas, ou, então, eram cercados de altos muros, a fim de conceder a ideia de
separação e isolamento. Também, internamente, havia uma rígida disciplina
ascética, de vida bastante simples, inclusive com voto de silêncio entre seus
membros.

Figura 1 – Mosteiro de São Jorge1

O Monasticismo, não sem problemas, tornou-se, então, um lugar de


refúgio para as práticas das disciplinas espirituais cristãs, bem como logo
transformaram-se em lugares de referência acerca da fé cristã verdadeira.
Também, em face da dedicação aos estudos e tempo de meditação foram, os
monastérios, um ambiente que educou e formou muitos teólogos de importância
reconhecida para a cristandade. Foram, na verdade, refúgios para a produção
teológica, transcrição e preservação de livros, consolidando-se como ambientes
que propiciaram o fortalecimento espiritual para várias gerações.

1
Extraído de: https://revistaterrasanta.com.br/2019/09/03/uma-flor-no-deserto-o-mosteiro-de-sao-
jorge/ > Acesso em 09.06.2021
É digno de nota, apenas preliminarmente, que foi no contexto e espaço
de vários mosteiros, com suas bibliotecas e bons mestres, onde a ideia de
Universidade, como lugar de formação de alto nível, floresceu na sociedade
europeia, conforme observou Suana (2019, p. 57):

Em alguns aspectos, o movimento monástico foi bastante positivo, pois


permitiu o desenvolvimento da agricultura através da limpeza das
florestas, drenagem dos rios e o cultivo de sementes em viveiros...
também possibilitou a manutenção da cultura com a criação de
escolas... (Suana, 2019, p.57).

B. Escolasticismo

Assim que os monastérios começaram a ganhar espaço como centros de


produção de teologia e filosofia, com muitas pessoas devotadas aos estudos, ao
pensamento crítico através da meditação e a produção literária, e, ao mesmo
tempo, o movimento monástico já não era mais tão exclusiva e
caracteristicamente um lugar de isolamento e piedade, os mosteiros passaram
a ser visto como “escolas”, e o termo “escolástico” é usado agora para referir-se
“àqueles que pertencem à escola”.

Com a grande necessidade de sustentar sua posição de poder, a Igreja


se viu diante do desafio de formar melhor seus sacerdotes, que se tornaram
quase como que soldados da religião e da cultura, bem como os mantenedores
do status quo, trazendo uma verdadeira transformação educacional, tecnológica,
filosófica e científica para o período. É esse aspecto, sem dúvida, que faz com
que tenhamos dificuldades em tratar esse momento histórico apenas como
“idade das trevas”, e sim uma longa “noite estrelada”.

Desde então, os escolásticos não apenas produziam teólogos para a


igreja, mas também recebiam alguns nobres em busca de escola, passando a
formar a alta classe da sociedade europeia em vários ramos do conhecimento,
desde filosofia, principalmente, mas também em política, gramática, literatura,
grego, latim, matemática, artes, lógica, retórica etc.
Foi nesse ambiente que a Europa Ocidental viu renascer, pelo menos
embrionariamente, a ciência, o estudo sistemático, a tolerância ao debate e a
sustentação racional da fé, sementes que floresceram naqueles que foram
educados nesse contexto, os maiores nomes da Teologia e da Filosofia
Ocidental e os precursores do Renascentismo e da Modernidade.

Figura 2 - Escolástica2

1.2 - Principais Personagens da Alta Idade Média

A. Gregório, o Grande (540 a 604 d.C.)

“O verdadeiro pastor das almas é puro em seu


pensamento. Sabe aproximar-se de todos, com
verdadeira qualidade. Eleva-se acima de todos
pela contemplação de Deus” (Gregório, o
Grande).

2
Extraído de: https://www.todamateria.com.br/filosofia-escolastica/ Acesso em: 09.06.2021
Gregório, também conhecido como “Gregório I”, “Gregório, o Grande”
ou “Gregório Magno”, foi um dos mais importantes bispos romanos de toda a
história, sendo considerado, por muitos estudiosos, de fato, o primeiro “Papa”
romano.

Figura 3 – Papa Gregório, o Grande3

Tendo nascido em um lar de nobres, pessoas realmente muito influentes


e ricas da Itália da época, foi um tipo de “prefeito” da cidade de Roma,
desenvolvendo um ótimo governo e demonstrando competência como
administrador. Suas habilidades políticas eram bastante reconhecidas, todavia,
segundo a tradição, sua conversão o levou a renunciar seus bens, vendendo sua
herança e distribuindo os recursos entre os pobres e fundando mosteiros,
atitudes que lhe renderam prestígio popular e espiritual ainda maiores, visto que
em seu contexto social na cidade de Roma, esteve cercado de decadência,
pestes, superstição e barbarismo. Não sem causa era chamado pela igreja em
Roma de “servo dos servos”. Por causa disso, levou o bispado dessa cidade a

3
Extraído de: https://www.mensagenscomamor.com/dia-de-sao-gregorio-magno> Acesso em
10.06.2021.
uma liderança mais evidente na região da Europa, assumindo assim certa
prominência nas igrejas do Ocidente, o que deu origem ao modelo de papado
que vigora até os dias atuais.

Nichols (2004, p. 75), destaca assim esse aspecto:

Valendo-se de seus dons extraordinários, Gregório tirou o máximo


partido de sua posição de bispo de Roma, constituindo-se patriarca do
Ocidente. Defendeu e impôs constantemente sua autoridade...
Consegui que os mais fortes bispos metropolitanos reconhecessem a
superioridade de Roma. Fez com que o culto [missa] seguisse o
manual romano.

Sua liderança, considerada pelos historiadores, em geral, como sábia e


piedosa, juntamente com sua capacidade política, lhe propiciaram deixar duas
marcas importantes na igreja do Ocidente:

a) a herança agostiniana, pois tendo Agostinho como principal


referência, universalizou os documentos do bispo de Hipona e usou a teologia
do “Mestre Agostinho”, como costuma a dizer, para direcionar a igreja romana
nos caminhos da ortodoxia;

b) a unificação da liturgia, orientando e padronizando os ritos da Missa


e introduzindo a música na liturgia, de onde decorre aquilo que chamamos até
os dias de hoje como “canto gregoriano”.

B. Carlos Magno (742-814 d.C.)

O século oitavo testemunhou um marcante


reavivamento da fé e da melhoria na moral da
Igreja no Ocidente sob os carolíngios,
soberanos dos francos, e a conversão de muitos
na Germânia.” (Kenneth Scott Latourrete)
Carlos Magno, filho de Pepino, o “Grande”, foi um dos mais importantes
nomes da história da Igreja e da Europa Ocidental. Após algumas vitórias sobre
os mouros, povos islâmicos do Norte da África, que invadiram o sul da Europa,
Carlos Magno faz renascer das cinzas o ideal de unificação do antigo Império
Romano. Aproveitando a estrutura da Igreja Romana e com notável habilidade
para a política e para a guerra, foi coroado pelo Papa, com simbolismo proposital,
“Imperador de Roma” em 25 de Dezembro de 800.

O governo de Carlos Magno, também é conhecido como “A Reforma


Carolíngia”, valorizou a união cultural e política da Itália, França e Inglaterra com
o apoio estrutural e a benção fundamental da Igreja. Esse período também pode
ser chamado por alguns historiadores de “Renascentismo Medieval”, pois nele
houve um grande avanço da cultura, das artes e, principalmente, da educação,
nesse momento, o embrião do Escolasticismo e, posteriormente, como veremos,
das Universidades Modernas.

Evidentemente a criação desse ambiente de paz social e crescimento


cultural teve a participação intensa do clero, com a ampliação do sistema
educacional para toda a nobreza e o intercâmbio dos grandes mestres circulando
por todas as principais escolas. É importante ressaltar que, até Carlos Magno,
apenas uma pequena parte da elite e do clero tinha acesso à educação de
qualidade, situação apenas transformada pela dedicação do Imperador em
liderar e patrocinar esse esforço.
Figura 4 – Carlos Magno (742 – 814 d.C.)4

4
Extraído de <históriamedieval.com.br> Acesso em 27.05.2021.
C. Anselmo de Cantuária (1033 a 1109 d.C.)

Figura 5 – Anselmo de Cantuária5

Anselmo de Cantuária, também conhecido como “Anselmo de


Canterbury”, filho e uma família de nobres da França, estudou num mosteiro
beneditino, tornando-se monge aos vinte e sete anos.

Muito dedicado ao estudo da Filosofia e da Teologia, escreveu obras que


tiveram grande importância para a Igreja Romana. Entre elas, destacam-se:
“Monólogo”, a primeira obra a formular o argumento ontológico da existência de
Deus, ou seja, Deus existe porque uma criação inteligente pressupõe um Criador

5
Extraído de: www.montejunto.net . Acesso em: 09.06.2021
inteligente; “Livre Arbítrio e Predestinação”, uma obra profunda que procura
conciliar a liberdade do ser humano e a soberania de Deus; e “Proslogion”, um
apelo para harmonização entre fé e razão na criação.

É, portanto, um teólogo de excelência da idade média, considerado


uma das principais referências da teologia romana e da filosofia
cristã. Também é considerado por muitos historiadores como um
dos principais precursores do movimento escolástico.

D. Pedro Abelardo (1079 a 1142 d.C.)

Teólogo e filósofo de destaque, Pedro Abelardo marca o fim daquilo que


denominamos de Alta Idade Média. Foi considerado o maior pensador do
Ocidente do século XII; também é conhecido como “Abelardo, o Rebelde” por
demonstrar um temperamento agressivo e gosto pelo debate, influencia muito
evidente de sua formação filosófica socrática e platônica.

Nascido na França, num período de florescimento do escolasticismo, teve


condições de desenvolver seu pensamento num clima de relativa liberdade,
valorizando em suas pregações, obras e aulas a “dialética grega”, ou seja, o
debate deveria sempre dialogar com dois pontos de vista diferentes, opostos,
ponto e contraponto, tese e antítese, a fim de que a verdade possa aparecer da
discussão, da qual vêm a verdadeira luz.

Era considerado “o Príncipe dos Debates”, sempre partindo da tese


fundamental de que: “Tudo” deveria estar sujeito ao debate, e “Nada”, exceto a
Escritura, é infalível!

Suas obras mais famosas foram:

a) “Teologia Cristã”, cinco volumes de teologia sistemática, com sua


marca característica de procurar harmonizar a lógica e a fé; aqui defende que
crer e compreender são igualmente necessários, embora a fé deva sempre ter a
primazia; e

b) “História de Meus Infortúnios”, de estilo parecido com as


“Confissões” de Agostinho, na qual narra seu romance com Heloísa de
Argenteuil, com quem teve um filho. Por causa desse romance foi preso e
castrado, ao passo que Heloísa optou pela vida em um convento.

Figura 6 – Pedro Abelardo6

Pedro Abelardo honrou a fé, tendo sido uma síntese excelente de piedade
e sabedoria habitando num mesmo coração.

6
Extraído de: www.institutosantoatanasio.org. Acesso em 09.06.2021.
CAPÍTULO 2 - A Baixa Idade Média

Apesar dos pesares, no seu tempo, a Igreja


Ocidental foi, de certo modo, um instrumento
indispensável no reino de Deus. Examinaremos
agora algumas das grandes falhas da igreja
papal que, piorando ainda mais durante este
período, provou que já tida chegado ao fim a sua
utilidade, como se apresentava nessa época.
(Robert Hastings Nichols).

O período aqui denominado como Baixa Idade Média teve início no século
XI e alcança até o fim do século XV. Considerado um período de crise no tocante
à política do papado romano, um tempo de muitas disputas pelo poder de Roma,
por outro lado, foi bastante profícuo no tocante ao desenvolvimento da “História
da Teologia”.

Figura 7 – Capela da Universidade de Paris7

7
Extraído de: www.paixaoporparis.blogspot.com Acesso em 09.06.2021
Um dos fatores sociais mais importantes e impactantes desse período foi
o crescimento, a solidificação e o prestígio alcançado pelas universidades,
consideração indispensável para a compreensão do contexto da época.

Um dos desenvolvimentos mais significantes para a história do


pensamento cristão no século 13 foi o nascimento e crescimento das
universidades. A princípio, estas instituições eram chamadas “estudos
gerais”, o que significava que elas incluíam estudantes e professores
de toda a Europa... O nome “universidade”, que originalmente se
referia à associação entre alunos e professores, lentamente mudou seu
significado, até tornar-se o título da própria instituição... A maioria das
universidades modernas data do século XII e é uma combinação de
mosteiros, grandes catedrais e o crescimento das cidades...
(Gonzáles, 2004, p. 217-218).

1.3 – Tomás de Aquino (1225 a 1274 d.C.)

“Os professores [pastores] devem ser elevados


em suas vidas, de modo que iluminem aos fiéis
com sua pregação, ilustrem aos estudantes com
seus ensinamentos e defendam a fé contra o
erro...” (Tomás de Aquino).

Reconhecido como o maior nome da Teologia na Idade Média, Tomás de


Aquino foi um monge dominicano nascido na Itália, tendo como berço uma
família nobre da região de Aquino, atual Nápoles. Recebeu no século XVI o título
de “Doutor Universal”, uma honraria da Igreja Católica Romana para seus
grandes mestres e teólogos de referência no tocante a ortodoxia e resolução de
conflitos da igreja contra heresias. Para receber esse título e grau de importância
são requisitadas três qualidades: importância da doutrina, alto grau de santidade
e clamor, ou seja, o reconhecimento notório da Igreja... Aquino está para a Idade
Média assim como Agostinho está para a Patrística, ou seja, conhecer esses
períodos depende de conhecer bem esses teólogos.

Figura 8 – Tomás de Aquino8

Do ponto de vista da formação filosófica, cabe ressaltar que Aquino é


também um personagem singular da História da Teologia. Até o século XII a

8
Extraído de: www.ptaleteia.org. Acesso em 20.03.2021
principal influência filosófica na teologia era o neoplatonismo presente nas obras
de Agostinho. Platão era o ponto de referência mais destacado nas discussões
sobre Metafísica, ou seja, o platonismo era o principal pilar filosófico da teologia
medieval para as questões de transcendência e sentido da vida.

Agora, então, com o “Doutor Universal”, o aristotelismo passa a ser a


principal referência. O que isto significa para a teologia? Bem, com Aquino, a
verdade ganha espaço na razão, na ciência e na lógica, não baseando-se
apenas em questões metafísicas, mas também ontológicas. Nesse sentido,
nosso principal mestre da era das trevas acendeu o maior de todos os faróis para
o nascimento da Modernidade: razão e fé, ciência e teologia não são divergentes
ou antagônicos, mas sim complementares.

É claro que a fé teria primazia, todavia a verdadeira ciência jamais iria


contradizer aquilo que a verdadeira fé propõe (Gonzáles, 2015, p. 250):

Assim, a Filosofia é uma ciência autônoma, que pode alcançar os


limites extremos da razão humana. Entretanto, esta ciência não é
infalível, pois a mente humana é fraca e pode facilmente errar. Além
disso, como isso requer dons intelectuais excepcionais, nem todos
podem alcançar suas conclusões mais altas. A Teologia, por outro
lado, estuda verdades que foram reveladas e que não podem ser
duvidadas. Algumas destas verdades – os artigos de fé em sentido
estrito – estão além do alcance da razão, embora elas não a
contradigam. Essas jamais podem ser alcançadas pela Filosofia.
Existem outras verdades que a Teologia conhece por meio da
revelação e que a Filosofia pode alcançar por meio da razão, mas que
Deus, de qualquer modo, revelou para fazê-las disponíveis a nós com
absoluta certeza, pois elas não são necessárias para a salvação.

A verdade deixou de ser patrimônio “exclusivo” da Teologia. Concedendo


“status” de verdade e “liberdade” à ciência, ainda que de modo sutil, e
considerando-a também como meio de revelação de verdades gerais, agora o
conhecimento humano e o espírito científico estão prontos para libertarem-se
dos freios da Idade Média e da Igreja Romana.
Destacar as principais obras de um pensador como Aquino é um trabalho
bastante ingrato, pois sua obra é vasta, rica e com muitos pontos importantes de
sua produção literária a serem destacados. Ainda assim, é preciso fazê-lo,
portanto, destacaremos:

a) “Suma contra os Gentios”, considerada a maior obra de apologética


da Baixa Idade Média, apresenta argumentos contra pagãos e judeus,
mostrando a superioridade da fé cristã;

b) “Suma Teológica”, sua obra de teologia sistemática mais importante,


na qual apresenta sua famosa tese “das cinco vias”, sua fundamentação da
teoria que sustenta que a razão pode concluir a existência de Deus.
Resumidamente, são elas:

a) primeira – todas as coisas da natureza estão em movimento, ora, tudo


que se move foi movido por alguma coisa, tem alguma causa; se a terra gira em
torno do Sol, a chuva cai e os rios correm, tudo está em movimento e tem uma
dinâmica original. Assim tudo o que existe e se move foi precedido por algo que
a criou de moveu: Deus;

b) segunda – a causa do movimento é Deus, visto que a coisa movida


deve ser menor que aquela que a moveu, quem poderia mover o universo? Se
o Universo é tão imenso e está em movimento até hoje, algo maior do que ele
mesmo o movimentou: Deus;

c) terceira – tudo o que existe tem uma finalidade, um fim para o qual
existe; não é possível admitir acaso na natureza, visto que tudo o que existe tem
um propósito: Deus;

d) quarta – os valores de caráter, amor, bondade, tolerância, paciência


são valores para além da matéria, portanto, existe algo além da matéria; valores
imateriais revelam uma pessoa imaterial: Deus;

e) quinto – inteligência, pois a ordem inteligente da criação jamais poderia


existir ao acaso; o acaso gera o caos e a perda de energia, portanto, Deus é a
inteligência que produz ordem; na física, a lei da entropia sustenta que todos os
sistemas da natureza caminham para o caos e a desordem, além de perderem
energia; há uma força inicial inteligente e geradora de energia: Deus.

É importante ressaltar, apenas de passagem, que, embora aristotélico em


seus pensamentos, Tomás de Aquino foi muito além da filosofia clássica,
conforme Allen e Springsted (2010, p.170):

Nos seus cinco caminhos, Aquino caracterizou Deus de maneira que


vai além do Motor Imóvel de Aristóteles. Deus não é só a primeira
causa da moção como ato puro (o primeiro caminho), mas Ele é
também a primeira causa eficiente (o segundo caminho) e a causa
exemplar e formal de todas as perfeições (o quarto caminho). Além
disso, para Aquino, Deus é radicalmente diferente do primeiro motor
de Aristóteles em seu terceiro caminho. Deus é existência absoluta;
Deus é esse “per se”. Portanto, Deus não é um termo em contraste
com os outros seres... Deus é autossuficiente, é separado de todo o
mundo. Deus é absolutamente capaz de ser sem um mundo.

Com Tomás de Aquino a verdade passou a ser uma fronteira para além
dos limites restritos da Teologia, como fora por toda a Idade Média, alcançando
também a Filosofia. Aquino é leitura obrigatória para os sacerdotes romanos e
deveria também ser mais bem conhecido pelo protestantismo e estudantes de
filosofia.
Figura 9 – Suma Teológica9

9
Extraído de www.plaleteia.org Acesso em 25.06.2021
2.2 - Guilherme do Ockham (1285 a 1347 d.C.)

Figura 10 – Guilherme de Ockham10

Guilherme de Ockham foi um dos mais brilhantes teólogos em diálogo


com a filosofia que a baixa idade média produziu. Da ordem dos franciscanos,
nasceu em 1288 na cidade de Ockham, na região de Londres; dedicou sua vida
à meditação e aos livros, falecendo em um convento de Munique no ano de 1347.
A simplicidade de Ockham em relacionar a teologia com a vida prática
levou-o a ser um crítico ferrenho do sistema papal. Quando teve contato com os
textos de Pedro Lombardo (1100 a 1160 d.C.), carregada de citações dos
Evangelhos e dos principais textos de Santo Agostinho (354 a 430 d.C.),
desenvolveu um apurado senso crítico em relação à igreja de sua época.
Como franciscano defendia que a igreja deveria voltar a fazer votos de
pobreza a aceitar a vida simples, todavia foi rejeitado pela igreja. Se nada
possuía de propriedade, a igreja e todos o clero também não deveriam possuir.
Todavia, o aspecto mais contundente das teorias de Ockham versavam sobre a

10
Extraído de www.aventurasnahistoria.com.br Acesso em 09.06.2021
autoridade do papa, especialmente relacionada a sua infalibilidade, tese
amplamente influenciadora nos teólogos da Reforma, pois se o papa não é a
autoridade final, quem deveria ser? As Escrituras Sagradas, é claro.
Osean (2013, p. 94), comenta assim essa questão em Ockham:

De acordo com ele, a base da teologia são as Escrituras. Embora


acreditasse que teologia e filosofia fossem diferentes, não hesitava em
usar também uma forte argumentação filosófica em seus argumentos
teológicos. Ele cria que a única autoridade é a Escritura, aceitando que
as palavras da Bíblia foram inspiradas por Deus.

Figura 11 – Acesso à Bíblia11

11
Extraído de: www.aventurasnahistoria.com.br Acesso em 09.06.2021
2.3 – Movimentos Reformistas: reações à degradação

A clara percepção da decadência da Igreja Ocidental era fortemente


sentida e combatida por um grupo não pequeno de pessoas, mas com resultados
bastante limitados. Tanto na revelação escrita, bem como na história,
aprendemos que Deus “não dorme”, pois mesmo num ambiente adverso, com
degradação moral e espiritual acentuada no período medieval, a fidelidade pode
ser encontrada.

É isto que veremos neste tópico, abordando alguns movimentos


reformistas dentro do seio romanista. Parece que a história da igreja, com seus
autos e baixos, comprova que sempre existirão os “sete mil que não dobraram
seus joelhos à Baal”.

2.3.1 – Os Cátaros

Figura 12 – Inquisição contra os Cátaros12

Movimento do início do século XII sobre o qual existem até hoje muitas
dúvidas sobre a ortodoxia de suas doutrinas e, portanto, tratado pelo romanismo

12
Extraído de: www.maniadehistory.com Acesso em 30.05.2021.
oficial como um movimento herético, os Cátaros fizeram parte de um grande
movimento do sul da França que objetivava resgatar a espiritualidade da igreja.

Cátaro é a palavra grega “puro”, que foi usada para caracterizar a busca
dos seus integrantes pela vida de pureza e santificação. Críticos severos da
imoralidade da igreja oficial, tinhas três características principais:

a) Busca da vida pura – seus escritos são marcados pelo desejo de ter
entre seus seguidores “bons cristãos” ou “bons homens” em
contraponto ao mau comportamento moral e religioso prevalente;

b) Anticlericalismo – não aceitavam a degradação do clero e combatiam


o sacerdócio exercido apenas para rituais e liturgias, dando ênfase ao
movimento leigo;

c) Independência da autoridade de Roma – já influenciados por um


certo nacionalismo anti-romanista, viam na figura papal uma
representação de luxo e decadência incompatíveis com a simplicidade
de Cristo.

d) Antiformalismo – o formalismo dos padres era sustentado por ideias


supersticiosas e pensamentos mágicos, portanto deveria ser rejeitado.

Nichols (1979, p. 130), resume assim e extensão e o desfecho da história


desse movimento reformista:

Os Cataristas se espalharam pela Itália, França, Espanha, Países


Baixos e Alemanha. Foram mais fortes no sul da França, onde foram
chamados de Albigenses (da cidade de Albi). Em toda a parte, os
Cataristas foram caçados pela Inquisição, que fora organizada
principalmente por causa deles [para combatê-los] ... Contra os
albigenses foi desencadeada, sob as ordens de Inocêncio III [1160-
1198] uma terrível guerra que durou cerca de vinte anos, assolando a
França e dizimando a população naquela parte considerada seu jardim.
As ordens dos franciscanos e dos dominicanos foram organizadas
após o aparecimento dos Cataristas, como prova de que dentro da
própria Igreja era reconhecida a sua negligência, especialmente no que
se refere à pregação e à instrução religiosa...
2.3.2 – Os Valdenses

Figura 13 – Pedro Valdo13

Movimento reformista do final do século XII, é o mais caracteristicamente


“protestante” dos movimentos de renovação católica na idade média, perdurando
até os dias atuais, apesar da forte, cruel e persistente perseguição promovida
pela Inquisição entre os séculos XIII e XIV.
Pedro Valdo (1140 a 1217 d.C.), um importante comerciante da cidade de
Lyon, na França, teve uma forte experiência pessoal com Deus movido pela
leitura do capítulo dez do Evangelho de Mateus. Começou a distribuir seus bens
entre os pobres e pregar a necessidade de uma vida simples, ascética,

13
Extraído de <www.resistenciaapologetica.com> Acesso em 09.06.2021
asseverando que a pobreza era o único caminho para a santificação, tornando-
se um pregador itinerante, alcançando rapidamente vários adeptos na França,
Itália, Espanha e Alemanha.
Nichols (1979, p. 132) observa:
Juntou-se a ele [Pedro Valdo] um grande número de seguidores que o
ajudavam no trabalho da igreja, não obstante manifestarem, de início,
seu protesto contra o descaso dessa igreja. As autoridades religiosas
logo os excomungaram. Expulsos e considerados inimigos começaram
a se organizar como igreja à parte. Ao fim da idade média já os
encontramos completamente organizados e espalhados por toda a
Europa Ocidental. Apesar de constantemente caçados pela Inquisição,
eram intensamente ativos no ensino do Evangelho e na distribuição de
partes manuscritas da Bíblia na língua do povo.

É claro que, tanto a mensagem de “pobreza apostólica”, como diziam, e o


rápido crescimento de um movimento liderado por leigos logo chamou a atenção
e a fúria de Roma. A “Guerra Santa” promovida pela Inquisição tem no capítulo
dos Valdenses a mais violenta e mais duradoura de todo o Ocidente. Declarados
heréticos em 1215, várias ordens papais determinavam seu total extermínio.
Figura 14 – Martin Le France (1415) Mulheres Valdenses retratadas como bruxas14

14
Extraído de www.history.com Acesso em 09.06.2021
A perseverança e destemor dos irmãos Valdenses deixava em fúria os
papas, que durante mais de trezentos perseguiram cruelmente os membros do
movimento, que em grande escala faziam migrações para outras regiões da
Europa onde pudessem viver em um ambiente de mais liberdade religiosa,
sempre sendo tratados como indesejáveis e vivendo em liberdade vigiada nos
principados onde chegavam, condição alcançada na Alemanha somente após a
Reforma Luterana (1517) e na França somente após a Revolução Francesa
(1789).
Observe com atenção as ilustrações a seguir e verifique como foram
retratadas as perseguições inquisitórias contra os Valdenses:

Figura 15 – Decapitação dos Valdenses15

15
Extraído de www.historiablog.com Acesso em 30.05.2021
Figura 16 – Condenação das Bruxas Valdenses16

Figura 17 – Empalamento de Valdenses17

16
Extraído de: www.historiablog.com Acesso em 30.05.2021.
17
Extraído de: www.historiablog.com Acesso em 30;05.2021.
Figura 18: Infanticídio de Crianças Valdenses18

É importante ressaltar que as imagens acima foram retiradas de uma obra


de Samuel Morland, um inglês protestante do século XVII que, obviamente,
ressaltou o ponto de vista protestante dos eventos. Todavia, é sabido pela
história, através de várias fontes distintas e confiáveis, tratando dos métodos e
crueldade das forças de Inquisição.

Em 2015, o Papa Francisco visitou uma Igreja Valdense na cidade de


Turim. Esse evento foi considerado histórico, pois além de ter sido a primeira
visita oficial de uma autoridade Romana a uma Igreja Valdense, o pontífice pediu
perdão por tudo o que os romanistas fizeram contra os irmãos Valdenses:

É por inciativa de Deus, que nina se resigna diante do pecado do


homem, que se abrem novos caminhos para viver a nossa fraternidade,
e disso não podemos nos isentar. Da parte da Igreja Católica, peço-
lhes perdão. Peço-lhes perdão pelas atitudes e pelos comportamentos
não cristãos, até mesmo não humanos, que na história tivemos contra
vocês. Em nome do Senhor Jesus Cristo, perdoem-nos. (Papa

18
Extraído de www.historiablog.com Acesso em 30.05.2021.
Francisco, extraído da Revista Online do Instituto Humanistas Unisinos
em 30/05/21)

A reação ao paganismo dentro da Igreja Ocidental não foi combatida


apenas em debates. Muitos dos nossos irmãos pagaram caro para ficar ao lado
da verdade.
CAPÍTULO 3 - A DEGRADAÇÃO DA IGREJA E OS PRÉ-REFORMADORES:
“O COPO ESTAVA CHEIO”.

Os anos finais da Idade Média, em face os eventos acima mencionados,


indicam que o poder de novas ideias e alguma liberdade de pensamento, logo
levariam a um esgotamento do modelo ligado ao auge do poder papal e a
necessidade de novas bases de relacionamento entre a igreja e a sociedade.
Vozes que clamavam por uma reforma institucional da Igreja Católica Romana
começaram a ser ouvidas com mais frequência no período final da Alta Idade
Média.

Não bastasse isso, o clero dos séculos XIV a XV, em geral, tinha conduta
moral duvidosa, pouca preparação intelectual e teológica, bem como eram vistos
pelos fiéis mais como políticos do que como pastores, mais interessados no
dinheiro do que no espírito. Com esta combinação, o copo estava ficando cheio
e logo iria transbordar...

É possível dizer que a degradação e decadência final da Igreja Ocidental,


ou Igreja Católica Romana, se assim o leitor preferir, culminou no século XV por
alguns elementos que já não podiam mais ser ignorados:

a) Imoralidade: embriaguez, glutonaria e impureza sexual eram comuns


entre os sacerdotes e permissivamente não condenadas na população
geral;

b) Adulteração da fé: o quanto o catolicismo medieval ainda poderia ser


chamado de cristão é uma questão que não compete ao nosso
trabalho. Ainda assim é possível admitir que heresias, misticismo e
sincretismo geraram um esvaziamento da espiritualidade genuína e
sua real capacidade de saciar a alma dos pecadores. O evangelho
havia sido trocado por práticas religiosas que outorgavam uma
salvação mágica, sem a necessidade de santificação. Orações aos
espíritos e aos “santos”, medo dos espíritos, a exaltação da Virgem
substituindo a imagem misericordiosa do Filho para a “Mãe”, a coleção
de relíquias, as indulgências para pagamento de pecados e o
ritualismo da missa corrompiam a autoridade cristã do romanismo;

c) A corrupção do clero: a autoridade e poder espiritual dos sacerdotes


tornou-se ocasião para mais um motivo de sua decadência; o povo
percebia tais coisas e se afastava dos seus líderes espirituais;

d) Descaso com os fiéis: os deveres sacerdotais tornaram-se mais


ritualísticos e clericais, causando um distanciamento abismal entre o
clero e os leigos; os padres dirigiam a missa em latim, uma língua
desconhecida para a população em geral. Em poucos os padres que
pastoreavam o povo...

Não se pense que esse cortejo de miséria dentro da igreja passou sem
condenação... Desde o século XII surgiram vários movimentos de
oposição contra a atitude e estado geral da igreja. Muitos se
levantaram contra o mal existente em sua igreja e desejavam uma
reforma no culto e na comunhão... (Nichols, p. 130, 1979)

É neste cenário que surgem os principais pré-reformadores, nosso


próximo tópico, bastante empolgante e inspirador para uma autocritica da igreja
moderna.

Algumas pessoas se levantaram como porta-voz da verdade, com


coragem e ousadia, e principalmente com disposição para enfrentar
um sistema eclesiástico milenar que tinha adquirido direito sobre vida
e morte das pessoas... (Suana, 2019, p. 92).
3.1 - John Wycliff (1328 a 1384 d.C.)

Figura 19 – John Wycliff traduzindo a Escritura19

Filho de uma família de nobres, proprietários de uma grande extensão de


terra na região de Yorkshire, o iminente professor da Universidade de Oxford,
Inglaterra, era profundo conhecedor de teologia, filosofia e leis canônicas.
Obteve o grau de Doutor em Teologia no ano de 1372 d.C. Sua maior
contribuição foi editar a primeira edição da Bíblia em inglês, pois defendia que a
Bíblia deveria ser um bem acessível para todos os cristãos, e não apenas aos
sacerdotes e teólogos.

19
Extraído de: www.ebiografia.com Acesso em 30.05.2021.
Já testemunhando a decadência moral do clero, Wycliff via nascer em sua
geração um forte apelo às reformas espirituais da igreja, que exigia do governo
temporal e dos fiéis uma alta conduta ética e espiritual, mas que tinha
exatamente nesses pontos uma conduta bastante superficial.

Além disso, foi um forte crítico do papado, especialmente em dois


aspectos cruciais:

a) a vida de luxo do papa não correspondia à vocação cristã de


simplicidade; para Wycliff, a falta de simplicidade dos papas não correspondia
ao padrão dos apóstolos de Cristo, portanto, pregava a favor de um “papado
bíblico”;

b) o poder centralizador de Roma era distante e ineficiente, ou seja,


para o pré-reformista inglês, “governos” locais deveriam cuidar das questões
locais; neste aspecto, ele foi visto como um “nacionalista”.

Foi condenado como insubordinado e herege pelo Papa Gregório (1329 a


1378 d.C.) no ano de 1377 d.C.

Observemos que, ao traduzir a Bíblia para o vernáculo, bem como insistir


num padrão bíblico apostólico para a conduta de vida simples para os papas,
Wycliff lança poderosas sementes para aquilo que viria a ser a Reforma
Protestante.

3.2 – John Huss (1369 a 1415 d.C.)

“Eles pensavam poder abafar e vencer a


verdade, ignorando que a própria essência da
verdade é que, quanto mais quiser reprimi-la,
mais ela cresce...” (John Huss)

Nascido na região da Boêmia, atual República Theca, viveu e estudou em


Praga, importante centro cultural da Europa Ocidental. No tempo de seus
estudos, entrou em contato com os escritos de John Wycliff e logo assumiu as
ideias do britânico.
O clima de independência de Roma já rondava a igreja de Praga. Os altos
impostos e indulgências faziam com que o poder central do papa fosse
constantemente questionado. Huss catalisava esse descontentamento em seus
sermões na Capela de Belém, próxima a universidade de Praga.

Segundo Suana (2019, p. 94):

Foram feitas pinturas onde aparecia o Papa a cavalo e Cristo com pés
descalços. Jesus lavando os pés dos discípulos e o Papa tendo os pés
beijados. As palavras de Wycliff tiveram longo alcance e muita
aceitação entre as pessoas. Em consequência, ele foi excomungado e
isso gerou grande agitação popular...

Foi preso e levado a depor no Concílio de Constança, no qual foi


condenado à morte na fogueira acusado de herege. Todavia, Huss já havia se
tornado um herói nacional e as ideias de Wycliff que abraçara e divulgara com
fervor em seus sermões, tornaram-se ainda mais conhecidas.

Figura 20 – Martírio de Huss20

20
Extraído de: www.protestantismo.org Acesso em 23.03.2021
Foi na esteira desses acontecimentos que a busca por uma renovação
espiritual e desejo de reformar a igreja que a Reforma Protestante conseguiu
florescer. Segundo a tradição da Igreja Theca, Huss teria dito ao seu carrasco:
“Hoje vocês assam um ganso, porém, daqui a cem anos, vocês verão
nascer um cisne”, um trocadilho com seu sobrenome, que significa literalmente
“ganso”. Cento e dois anos depois, em 1517, Martinho Lutero fixaria suas
noventa e cinco teses na porta da igreja de Wittemberg!

3.3 – Eventos Importantes e o Grande Cisma: “A Igreja do Oriente”

Figura 21 – Iconografia Ortodoxa Oriental21

Um dos eventos históricos mais importantes relacionados a igreja cristã


da Idade Média foi a separação entre a Igreja Romana, Ocidental, e a Igreja de
Constantinopla, a Oriental. Esse foi um processo longo e cheio detalhes que não
são do escopo do presente trabalho, mas que durou desde o século IX com o

21
Extraído de: www.wordpress.com Acesso em 09.06.2021
rompimento oficial em 1054, ocasionando aquilo que hoje conhecemos como a
“Igreja Ortodoxa Grega”.

Figura 22 – A Cruz Ortodoxa22

As questões sociopolíticas precisam ser compreendidas. O bispado de


Roma teve ascendência e domínio sempre questionado pelo bispado de
Constantinopla, hoje a atual cidade de Istambul.

Resumidamente, Nichols (1979, p. 68), trata assim dessa questão:

Uma delas foi a diferença racial. No ocidente, a raça predominante era


a latina, que se tornara fortalecida pela fusão dos povos germanos. No
oriente, por sua vez, dominavam os gregos, que receberam grande
infusão dos povos orientais. Esta foi a diferença que se tornou a causa
de incompreensões e antipatia, fortalecendo os outros aspectos da
divisão.

22
Extraído de: www.datamarcos.blogspot.com Acesso em 09.06.2021
É claro que aspectos litúrgicos e teológicos fizeram parte de todo o
contexto de divisão. Segundo proposto por Suana (2019), destacamos
resumidamente os que julgamos mais relevantes:

a) As datas para celebração do Natal e da Páscoa: para os Ortodoxos


orientais o Natal é celebrado no dia 7 de Janeiro e as celebrações da
Páscoa duram 47 dias, enquanto os romanistas celebram 40 dias;

b) Celibato: os orientais adotam o casamento de seus sacerdotes; o


celibato dos padres é apenas opcional, enquanto para os romanistas
é uma ordem, um sacramento;

c) Imagens: os orientais proíbem estátuas e qualquer tipo de imagem


que não seja apenas “ícones”, ou “quadros” e “desenhos”; qualquer
tipo de imagem de barro, gesso, madeira etc., é considerada idolatria;

d) Permissão do uso de barba: proibida para os sacerdotes romanos,


entre os gregos era autorizada para todos o clero;

e) Inexistência do purgatório: para os ortodoxos é herética a existência


de um lugar intermediário entre a terra e o céu; para os romanistas
existe um lugar intermediário de purificação para algumas pessoas,
antes de sua entrada definitiva na eternidade.

Como já mencionamos, o rompimento oficial se deu em 1054. Desde


então as igrejas ligadas cultural e espiritualmente ligadas aos gregos e aos
russos, viveram separadas, cada uma, obviamente, asseverando ser a
verdadeira “Igreja Católica”. Nessa divisão, a igreja oriental ficou com os gregos,
a península balcânica (russa), Ásia Menor, Síria, Palestina e Egito. A Europa
ocidental, portanto, permaneceu fiel ao bispo de Roma, dando assim maior
contorno àquilo que hoje conhecemos como o papado romanista.
Figura 23 – Catedral de São Basílico23

Figura 24 – Papa Francisco e Patriarca Bartolomeu24

23
Extraído de: www.moscou.net Acesso em 09.06.2021.
24
Extraído de:www.historiablog.com Acesso em 30.05.2021.
As igrejas do Ocidente teriam muito a aprender com as igrejas do Oriente,
não apenas teologicamente, mas também isso traria um enriquecimento cultural
e filosófico bastante útil para nosso crescimento, bem como observarmos como
a mão de Deus agiu através dos tempos.
CAPÍTULO 4 - As Cruzadas

“Encare a face de seus inimigos sem medo, seja


honrado para que Deus possa amá-lo, fale só a
verdade mesmo que isso te leve a morte e
proteja os indefesos; a Terra Santa não pode
continuar na mão dos ímpios...”

O Movimento das Cruzadas é um dos capítulos mais controversos e


conhecidos da Idade Média, explorado, quase sempre, de maneira superficial e
romântica, tanto pelos seus críticos, mas especialmente nas produções
cinematográficas... A violência, a morte e a beligerância envolvem toda a história
em torno do contexto geral desses movimentos, importantes para a Igreja
Romana e para a Europa Ocidental.

Figura 25 – A Glória da Idade Média25

25
Extraído de: www.blogspot.com Acesso em 30.05.2021.
Todavia, é preciso considerar o avanço dos mulçumanos sobre a Europa,
fator político reativo para a defesa de seus territórios, bem como a grande ênfase
da Igreja Católica Romana na recuperação do domínio cristão sobre a Terra
Santa e, ainda, por fim, mas de importância, a necessidade emocional e
espiritual de uma multidão de homens pobres que procuravam a indulgência do
perdão de seus pecados e a oportunidade de glória e riqueza prometidas aos
“fiéis soldados da Santa Madre Igreja”. Multidões empobrecidas, espiritualmente
mal orientadas e sob a pressão do medo tornam-se facilmente uma massa de
manipulação para a formação de um “exército” que realmente acreditava numa
“guerra santa”.

Podemos definir “As Cruzadas” como expedições militares de guerra com


um caráter misto de religião, política, militar e econômico que se formaram na
Europa Ocidental entre os séculos XI e XIII da era cristã. Levar os elementos
aqui citados ajudam a explicar o espírito decadente associado à Idade Média.
Ainda assim, não podemos deixar de olhar esse fenômeno com ênfase na sua
dimensão religiosa e espiritual, pois, sobretudo, as cruzadas tiveram como motor
motivacional um caráter predominantemente religioso, no qual a cristandade do
período realmente acreditava na “justiça” e “espiritualidade” de suas guerras.

Envolvidos numa situação de pobreza, a Europa tinha um aspecto cultural


excessivamente carregado com a ideia de pecado e a fé sempre era considerada
como a “senhora absoluta sobre a razão”. Os líderes militares dos cruzados eram
inspirados pela igreja a atos heroicos e incentivados a buscar a glória através da
guerra. As massas, em geral, estavam irremediavelmente aprisionadas aos
grilhões de pensamentos de culpa, castigo, pecado e medo do inferno, o que
poderia ser superado com a indulgência e o perdão da igreja à todos os
envolvidos na santa missão de recuperar para os fiéis a “Terra de Nosso Senhor
Jesus Cristo”.

Podemos resumir assim os propósitos das Cruzadas:

a) Reconquistar a Terra Santa: uma questão de honra para Roma;


b) Reativar as peregrinações à Jerusalém: as peregrinações faziam
parte do próprio exercício espiritual;

c) Reativar o comércio com os povos mediterrâneas: prejudicada pelo


avanço do islamismo;

d) Ampliar o domínio territorial da nobreza europeia:

e) Aliviar a explosão demográfica e o aumento da pobreza.

Várias expedições de cruzados aconteceram entre aos anos de 1096 e


1270. Muitas tiveram um papel apenas marginal e secundário. Sendo assim,
destacaremos apenas as mais importantes:

a) Primeira Cruzada (1096 a 1099 d.C.). Conhecida também como


“Cruzada dos Barões” por ter sido organizada e financiada pelos
nobres; chegou a reconquistar Jerusalém por alguns anos;

b) Terceira Cruzada (1189 a 1192 d.C.). Chamada de “Cruzada dos


Reis” por ter sido organizada e financiada pelos reis da Inglaterra,
França, Itália e Alemanha;

c) Quarta Cruzada (1202 a 1204 d.C). Teve a participação de boa parte


da elite comercial da Itália e levou a “guerra santa” até Constantinopla,
atual Istambul, Turquia.

No que concerne à espiritualidade, fica claro que as cruzadas foram uma

mancha para a igreja do ocidente, bem como um retumbante fracasso em seus


objetivos religiosos. A igreja cristã sempre poderá aprender sobre seus erros a
partir de uma autocrítica sincera.

Ainda assim, fica claro como a história do ocidente é marcada pela igreja
cristã, visto que o movimento das cruzadas teve como efeito colateral uma
importante influência no comércio, reabrindo o intercâmbio comercial com a
África, Mediterrâneo e Ásia, pois acordos de paz também deram ocasião a
acordos comerciais, trazendo também para a Europa o conhecimento de novos
produtos agrícolas e técnicas de guerra e da indústria árabe, como a fabricação
de tapetes e o domínio do conhecimento na produção de vidro. Europa, África e
Oriente Médio retomam o intercâmbio comercial e cultural.

4.1 – O Exílio Babilônico do Romanismo

Um dos eventos mais importantes da Baixa Idade Média e nem sempre


valorizado devidamente pelos historiadores é o “Cativeiro Babilônico do Papa”.
Como veremos, “O Papado de Avignon” ou o “Exílio Babilônico Católico”, é
fundamental para entendermos o enfraquecimento do romanismo na Europa
Ocidental e os eventos que precederam a ambiente propício para a Reforma
Protestante.

Durante os anos de 1309 a 1377 da era cristã a residência oficial do papa


deixou de ter o endereço de Roma e passou para a França. O reinado de Felipe
IV (1285 a 1314 d.C.), confrontou abertamente o Papa Bonifácio VIII (1235 a
1303 d.C.) no tocante a cobrança de impostos sobre a cobrança de impostos
sobre as propriedades da Igreja.

Aproveitando-se de um espírito nacionalista e um poder militar bastante


significativo, Felipe IV impôs sua vontade sequestrando o Papa Clemente V
(1264 a 1314 d.C.) e o exilou na cidade de Avignon, dando assim uma longa
sucessão de papas franceses que não ousavam combater Felipe IV e seus
sucessores.

Nichols (1979, p. 133), comenta assim esses eventos:

O papado agora estava sob o poder do rei da França. Isto foi declarado
oficialmente em 1309, pois o papa estabeleceu seu trono em Avinhão
no Reno, em território francês. Aqui, no seu “Cativeiro Babilônico”, o
papado permaneceu por sessenta e oito anos. Durante esse período o
papado perdeu o prestígio no pensamento e na consciência da Europa.
O simples fato de mudar-se de Roma constituiu uma queda irreparável
de autoridade. O governo francês rebaixou o papado aos olhos de
todos os povos. Grande perda de influência moral resultou da notória
imoralidade da corte papal em que alguns papas foram os primeiros a
dar os piores exemplos. Perda maior ainda resultou a avareza
insaciável e da ambição desmedida desses papas do Avinhão. A
Europa gemeu debaixo das contínuas extorsões e explorações de toda
a sorte.

Figura 26 – Palácio dos Papas26

É claro que a mudança geográfica significou uma ferida na autoridade do


papa, visto que raramente havia conflito entre os soberanos reis da Europa
Ocidental e o Bispo de Roma. Sendo assim, de certa maneira, Roma curva-se à
França. Os desdobramentos são graves e assim relatados por Suana (2019, p.
86-87):

Apesar do descontentamento que essa submissão provocava na


população, a maior insatisfação estava em mandar dinheiro para a

26
Extraído de: www.civitatis.com Acesso em 09.06.2021.
França. Tal situação resultou na queda da renda da Igreja, a qual
lançou mão de vários estratagemas para aumentar a arrecadação... A
eleição de dois papas de início a um período tempestuoso na História
da Igreja... A Igreja, além dos problemas causados pelo clero e pela
divisão na liderança de dois papas, teve de enfrentar as mudanças que
estavam ocorrendo pelo mundo. A primeira delas foi a Renascença,
que alterou a cultura em muitos dos seus segmentos, e a segunda foi
o surgimento e fortalecimento das nações-estados, as quais inspiraram
um sentimento de nacionalismo...

À luz de tudo que pudemos ver na Idade Média, vale a pena relembrar as
palavras de Nichols (1979, p.121):

Olhando superficialmente, o protestante é tentado a deixar de ver


algum bem na Igreja da Idade Média, ou a subestimar os benefícios
que ela prestou. Esta igreja era uma parte, a maior parte da igreja
cristã. Embora de uma mistura de muitos erros, ela guardou a fé cristã
por vários séculos. Os reformadores expurgaram a maior parte desses
erros e apresentaram à Europa a fé cristã muito mais pura, muito mais
próxima da verdade do Novo Testamento. Mas a fé estava ali para ser
desembaraçada dos erros, pois ela tinha sido comunicada, de geração
em geração pela igreja medieval. Essa igreja, como vimos, produziu
alguns homens e mulheres que, por suas vidas, muito se
assemelharam ao caráter de Cristo. Uma árvore totalmente infrutífera
não produziria esses frutos...

A história dos conflitos do passado, sempre pode nos ajudar a resolver os


conflitos do presente! Romper, muitas vezes, só enfraquece os dois lados...
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Concluo este período com a afirmação do Reverendo Hermisten Costa:


“foi um tempo de escuridão, mas não uma noite sem estrelas...”.

Com altos e baixos, vitórias e derrotas, alegrias e tristezas, a história do


povo de Deus que aqui olhamos de forma acadêmica na disciplina “História do
Cristianismo Medieval”, é um incentivo à fidelidade exclusiva ao Senhor Jesus
Cristo que a igreja contemporânea precisa reafirmar. A história é rica; a história
é sabia. Aprendamos com ela!

Professor Cláudio Reis – Maio de 2021


Referências Bibliográficas

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