Eliana Aguiar. 3ª edição. Rio de Janeiro: Record, 2013, 438 p.
Uma jornada histórica de
Umberto Eco em busca da beleza ELAINE CRISTINA SENKO*
A obra História da Beleza do filólogo,
longo das épocas, por conta das ações crítico literário, semiólogo Umberto dos filósofos, escritores e artistas, e dos Eco (1932 -) contou com o auxílio do homens em geral na sociedade. pesquisador Girolamo de Michele e foi um sucesso editorial. A obra possui No capítulo I intitulado “O ideal além da introdução dezessete capítulos estético na Grécia Antiga”, Eco 110 em que é demonstrado o percurso da seguindo um estilo gombrichiano nos ideia de Beleza na história através dos apresenta as primeiras impressões de debates artísticos, literários e sociais. um ideal de Beleza no Ocidente. Ele traz perspectivas de compreensão da Pois bem, a presente resenha inicia-se arte unindo História da Arte e com a observação da Introdução que Literatura. Assim os objetos artísticos está aliada aos quadros temporais emulam um ideal de Beleza que comparativos sobre os modelos de contrastam com as fontes literárias, beleza. Aqui há o debate sobre o que é como a Ilíada de Homero. Na considerado Belo que ao longo do Antiguidade Clássica também tempo os homens associaram ao que é destacam-se os modelos de Helena, Bom. Por exemplo, uma “bela ação” é Afrodite, Vênus como os símbolos de algo considerado universalmente como Beleza. A percepção da arte helenística “algo bom”. E os vícios humanos são do Belo, pois a filosofia do diametralmente opostos ao Belo. geometrismo atinge o sentido do Segundo Umberto Eco este livro equilíbrio e das emoções vívidas. Ainda apresenta “ideias de Beleza através dos no ambiente da Idade Clássica, no séculos” (ECO, 2013, p. 10) e “não capítulo II, “Apolíneo e Dionisíaco”, as partiremos de uma ideia preconcebida figuras masculinas aparecem para de Beleza: passaremos em revista as complementar as “Helenas, Afrodites, coisas que os seres humanos Vênus”. Nesse ínterim aparecem duas consideram (no curso dos milênios) perspectivas, o herói-exemplo Apolo belas” (ECO, 2013, p.10). As diversas versus a imagem sedutora de Dionísio. ideias de Beleza se transformam ao Mas ambas coexistem também por meio além disso, o Feio foi conjugado aos da imagem da sedução (ECO, 2013, p. comportamentos sobrenaturais e por 32). No seguimento, o capítulo III “A uma curiosidade instintiva do homem. Beleza como proporção e harmonia”, define que a ideia de equilíbrio é O capítulo VI “Da pastorinha à mulher diretamente relacionada com a angelical” retrata a transposição do existência do Belo. O Belo se apresenta amor sacro a ideia de um amor profano. na proporção dos corpos, na ideia de O erótico na arte se desenvolveu aliado cosmos ordenado e do uso do escopo. à literatura dos trovadores. Existem teorias que esses trovadores A Idade Média artística está presente no “inspiravam-se na heresia catarista, capítulo IV “A luz e a cor na Idade donde a atitude de desprezo em relação Média”. Eco nesse instante da obra faz a à carne; outra ainda os queria defesa do medievo vívido contra a ideia influenciados pela poesia mística árabe” generalizante, antiquada e errônea de (ECO, 2013, p.163). Já no capítulo “idade das trevas”. Para isso o autor seguinte temos perspectivas diferentes destaca a presença no medievo da das trovadorescas sobre o Belo. técnica do uso da luz e das cores como Vejamos o capítulo VII “A Beleza estratégias para atingir o Belo. O mágica entre os séculos XV e XVI” que pensamento estético da claritas faz toda apresenta os fatores convergentes que a diferença entre o românico da conceberam a Beleza renascentista em Antiguidade Tardia e a presença do uma dupla interpretação: como imitação gótico medieval nas catedrais sob a (mímesis aristotélica) e/ou como liderança do abade Suger (séc. XII). As contemplação da perfeição sobrenatural. ornamentações, as cores da poesia e da O artista neste período era ao mesmo 111 mística revelam a subjetividade tempo criador da novidade e imitador da expressa da sociedade medieval. Assim, natureza. A representação da realidade numa ótica de influencia huizinguiana, era uma forma de simulacro, como Eco apresenta essa sociedade medieval verificamos que a Beleza estava diante que possui “gosto pela cor que também de uma “janela aberta, no interior do se manifesta fora da arte, na vida e nos qual o espaço perspectivo multiplica os hábitos cotidianos, nas roupas, nos planos” (ECO, 2013, p. 183). adornos, nas armas” (ECO, 2013, p.118). O símbolo das cores estava É apresentado ao leitor no capítulo VIII fortemente presente ao lado das “Damas e heróis” novas formas de reler transformações da filosofia estética as antigas “Vênus” sob a ótica dos debatida por sábios, clérigos e também séculos XV e XVI com a padronização pelos mestres das universidades. das Damas. Um dos exemplos disso foi Concomitantemente a esse Belo o “Retrato de Cecilia Gallerani, de “outono do medievo” ocorria o Leonardo da Vinci, 1485-90, Cracóvia, desenvolvimento estético do que era Czartorysky Museum” (ECO, 2013, p. considerado Feio. Isso nos é 192). Nesse propósito artístico a dama e apresentado no capítulo V “A Beleza o pintor sabem esconder e demonstrar o dos monstros”. O debate sobre a que é Belo, ou seja, desejam satisfazer “feiura” fazia parte da reflexão artística uma espécie de jogo de ciaro oscuro do renascimento do norte (ECO, 2013, social. No próximo capítulo, IX “Da p.130). Neste ínterim aparecem as ações graça à Beleza inquieta” ainda trata-se miméticas dos seres lendários e dos dos aspectos renascentistas do Belo, “maravilhosos” na produção artística; mas dentro das escolas do Classicismo, Maneirismo, Barroco e do Rococó. Essa continua no capítulo XVII “A Beleza da inquieta surpresa da arte tem em um dos Mídia” em que Eco critica a Beleza seus maiores representantes no século padronizada, este que é o ponto XVI, Hans Holbein. No capítulo essencial da mass media através da seguinte, X “A razão e a Beleza”, ocorre televisão, cinema (exemplo do ícone de a explanação a respeito do século XVIII Marilyn Monroe) e internet. Mas Eco em que a persistência da Beleza barroca sinaliza que para além da fugacidade aliou-se com o resgate da melancolia desses padrões existe o atual inesperado enquanto a razão neoclássica era o sincretismo do Belo (ECO, 2013, p. símbolo de uma burguesia em ascensão 428). Por fim, diante dessa jornada em (ECO, 2013, p. 239). No capítulo XI “O busca da Beleza por Eco, a obra Sublime”, a Beleza ligada ao sublime é “História da Beleza” é recomendada associada a uma definição de Kant de como leitura enriquecedora para a que ela é o “prazer sem interesse, erudição de pesquisadores e também finalidade sem escopo, universalidade interessados pela história cultural de sem conceito e regularidade sem lei” todas as épocas. (ECO, 2013, p. 294). Essa percepção sublime e melancólica gestou a Beleza Romântica e esse é o tema do capítulo XII “A Beleza Romântica”. Diferentemente da arte “romanesca” o romantismo artístico e literário expõe o sentimento e o realismo da paixão (ECO, 2013, p. 307). 112 Os capítulos XIII “A religião da Beleza” e o capítulo XIV “O novo objeto” tratam da rigidez no século XIX dos costumes vitorianos e como esse ideal de Beleza se espalhou pela Europa; ao mesmo tempo existiram as produções como a orientalista tendo um de seus expoentes, Eugène Delacroix; da estética do vidro e da energia elétrica; do Art Nouveau; do Art Déco e do Organicismo. Isso tudo resultou no capítulo da sequência, XV “A Beleza das Máquinas” que retrata a beleza das máquinas ao longo dos tempos e principalmente pós Revolução Industrial (ECO, 2013, p.377).
Eco chega à mais recente
contemporaneidade debatendo no capítulo XVI “Das formas abstratas ao profundo da matéria” os novos suportes * ELAINE CRISTINA SENKO é da Beleza numa era das respostas a uma Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação industrialização plena, destacando obras em História pela Universidade Federal do de Lichtenstein e Warhol. Essa análise Paraná (UFPR).