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Autora: Marii Silva

Capa: Nayla Borges Nogueira


Revisão: Luciene Luca
Todos os direitos reservados.
"Yin Yang é um princípio da filosofia
chinesa, onde Yin e Yang são duas
energias opostas. Yin significa
escuridão sendo representado pelo lado
pintado de preto, o mau. E Yang é a
claridade, o bem. Segundo os chineses,
o mundo é composto para forças opostas
e achar o equilíbrio entre elas é
essencial. Poucos conseguem essa
dádiva, mas quando acontece, é “para
todo o sempre”.
PRÓLOGO
Treze anos antes...
— Cara, esse foi o um dos nossos
melhores assaltos! Cinquenta milhões
limpinhos em notas de cem dólares, é
um novo recorde!!! — Disse Li Xing, o
chinês cabeça da equipe. O que lhe
faltava no tamanho recompensava no
cérebro, com pouco mais de um metro e
meio de altura. Trajava uma espécie de
colã preto de mangas compridas
extremamente grudado ao corpo, peça
produzida por ele mesmo com um tecido
à prova de balas, entre outras
infinidades de funções. O pobre coitado
mal estava conseguindo carregar nas
costas a mochila cheia de maços de
dinheiro. Haviam acabado de roubar o
cofre de um cassino famoso em Las
Vegas e estavam traçando a rota de fuga
por debaixo da cidade através de
bueiros.
— É isso aí China, somos uma equipe
infalível! Entramos e saímos com o que
queríamos sem sermos vistos. — Disse
Julius Pérez, tão forte que seria capaz de
derrubar um elefante com um soco. Esse
era o mais descolado, usava calça jeans
clara com rasgos pela extensão vertical,
camiseta branca e óculos escuros da
Prada com a armação toda revestida a
ouro com pequenas pedras de diamantes
nas laterais das lentes. Nasceu no
México, porém teve que fugir do país
ainda adolescente após roubar o carro
de um mafioso mandachuva da cidade.
Ou fugia, ou morria! O mexicano
chamava a atenção por onde passava,
além de uma beleza bruta, ele era como
uma torre do alto dos seus dois metro e
quinze de puro músculo, mas o coração
era mole feito manteiga, sua paixão eram
as crianças e os animais.
— Dá para calarem a boca? Não estou
com paciência para os assuntos banais
de vocês dois. — Vociferou Estevão
Salvatore totalmente exasperado, crítico
e cheio de ironia, afinal, era mestre
nisso. Tinha uma aparência gótica com
seus cabelos longos e negros como a
noite e a pele branca feito a neve, olhos
azuis penetrantes como se pudesse ler a
alma de quem o olhasse por muito
tempo. Bem-nascido e com sobrenome
nobre, tinha a elegância e sofisticação
impregnada em seu sangue azul. Mesmo
com seu estilo bem evidente nas vestes,
era visível que vinha de boa linhagem.
Porém não dava para ver ao certo o que
trajava no momento, pois tinha o corpo
totalmente coberto por uma capa preta
com o capuz sobre a cabeça criando
propositalmente uma sombra escura por
todo o rosto, escondendo-o totalmente
do mundo.
— Quer saber, Estevão? — O referido
olhou com uma expressão indescritível
para Julius. — Vai transar com alguém
cara, nem que seja com a tiazinha que
mora na esquina, mas transa cara! Esse
seu mau humor todo é falta de sexo! —
Disse a montanha de músculos tirando
sarro do amigo.
— Isso não tem nada a ver grandão,
porque o Blade vive pegando mulher
diferente todo dia e o mau humor dele só
piora! — Comentou Li revirando os
olhos puxadinhos pensando que mesmo
o conhecendo há vários anos, nunca o
vira sorrindo em nenhuma ocasião, essa
era a natureza dele, coisa que vinha do
sangue ruim dos Maldonado e que corria
em suas veias.
— Falando no Blade, será que já
conseguiu despistar a Polícia? Já era
para ter ligado, ele brinca muito com a
sorte correndo pelas ruas de Las Vegas
sobre aquela moto, uma hora dessas vai
acabar sendo preso ou morto por algum
policial como os pais dele foram. — No
mundo do crime a morte do casal
Maldonado ficou literalmente marcada
criando assim um duelo sem fim entre
policiais e bandidos.
— Relaxa irmão, o Blade é esperto feito
um gato. — Disse o mexicano.
— Mas um dia as sete vidas de um gato
acabam! Ninguém vive para sempre! —
Estevão sempre tinha algo irônico para
falar.
Assim que saíram do bueiro ouviram um
barulho estranho ao passar em um beco
escuro que daria na estrada principal
onde tinha uma minivan, inclusive já
com Blade dentro esperando por eles
para ganharem o mundo. Por instinto, em
um milésimo de segundo, já se
encontravam em posição de ataque,
montando um triângulo mágico, com
Julius na lateral esquerda de punhos
fechados pronto para socar quem
aparecesse à sua frente, Estevão no lado
direito tirando da cintura e destravando,
ao mesmo tempo, duas pistolas dos anos
oitenta, era um bandido de classe. As
armas, além de tradicionais, faziam um
bom estrago nas mãos de quem sabia
usá-las e Salvatore com certeza era esse
alguém. Li, como era o menor dos três,
manteve- se no meio em posição de luta,
além de um gênio, era mestre em artes
marciais. Estavam certos de que o dono
do cassino havia descoberto o roubo e
mandado o seu exército de capangas
atrás deles, entretanto, ao invés disso,
apareceu por trás de uma caixa enorme
ao lado de um monte de lixo, um
garotinho de aproximadamente oito anos
todo sujo, os cabelos arrepiados,
provavelmente não via tesoura há meses.
Seus pezinhos dentro de um sapato tão
furado que tinham partes mais
descobertas do que cobertas,
extremamente magro, mal dava para ver
os belos olhos azuis de tão enterrados
no rosto que estavam, na mão segurava
com força uma mantilha azul, mostrando
o quanto ela lhe era importante. Sua mãe
a fizera antes de morrer e deixá-lo nas
mãos do padrasto alcoólatra, que o
abandonara na primeira esquina no
mesmo dia da morte de sua esposa. O
homem não fazia questão de assumir
qualquer responsabilidade sobre ele. A
imagem era de cortar o coração de
qualquer um, até mesmo de um grupo de
ladrões em fuga.
— Que coisa feia é essa? — Perguntou
Estevão horrorizado olhando para ele
com cara de nojo, como se nunca tivesse
visto uma criança na vida antes. Na
verdade, evitava-as ao máximo, tinha
pavor quando escutava a voz de uma.
— Uma criança, branquelo, de que país
você veio, cara? — Bufou Julius
nervoso com a pergunta idiota do amigo.
— Do mundo das fadas e unicórnios que
não foi. — Olhou de forma
sombriamente assustadora para ele. —
Pode ter certeza. — Concluiu cheio de
mistério. Aquele inglês carregava
muitos segredos do seu passado.
— Parem com isso vocês dois, o garoto
viu a gente! Sabem o que temos que
fazer, não sabem? — Exclamou Li sem
coragem de olhar para o menino, ser um
criminoso tinha suas vantagens, porém,
em alguns momentos, era a pior coisa do
mundo.
— Queima de arquivo! — Respondeu
Estevão naturalmente, sabendo que isso
significava matar o garoto e não se
importava nem um pouco como fato, era
destituído de qualquer tipo de
sentimento, seja ele bom ou ruim.
— Deus! Ele é apenas uma criança! Não
podemos deixá-lo simplesmente ir e
pronto??? Até porque não mato
inocentes e grávidas! — Choramingou
Julius olhando de forma piedosa para o
pequeno ser à sua frente.
— Então faça o trabalho sujo você,
Estevão, já não tem sentimentos por
ninguém mesmo! — Proferiu Li, tirando
o corpo fora.
— Não vou conseguir atirar com essa
coisa asquerosa olhando para mim dessa
forma. Esses olhos brilhantes e
inocentes me assustam! — O inglês logo
deu um jeito de sair fora também. —
Faça as honras da casa você, Xing! —
Completou batendo no ombro do chinês.
E assim ficaram por um bom tempo, um
jogando para o outro a "queima de
arquivo". Já haviam matado por
diversas vezes antes, mas uma criança
era demais para eles.
— Maldição! Onde está o Maldonado
quando precisamos dele? — Rosnou
Estêvão contrariado com aquele dilema
sem fim.
— Em toda parte! — Ecoou a voz
grossa vinda da parte mais escura do
beco, Blade era como um gato, da
mesma forma que sumia aparecia,
simplesmente do nada. Estava
extremamente sexy dentro uma calça
jeans desbotada, tão apertada que
ressaltava os seus músculos glúteos,
uma camisa branca de algodão com uma
jaqueta preta, estilo motoqueiro, de
couro puro, no tamanho exato dele.
Roupas completamente ordinárias em
um homem extraordinário. Qualquer
coisa ficaria bem nele, nu então, era
simplesmente perfeito.
— Temos um problema, Blade! — O
chinês apontou para a criança.
— Resolvam isso! — Ordenou Blade
com a voz mais grossa do que o
habitual, estava irritado. — Agora! —
Completou perigosamente. Vivia de mal
humor, o gênio forte era a marca
registrada dele. Os comparsas não
responderam nada, apenas baixaram o
olhar fitando o chão. Era evidente que
não teriam coragem de fazer o que fora
estipulado por Maldonado, coisa que
era muito difícil de acontecer.
— Ok! Eu resolvo!!! — Respondeu
naturalmente. E o faria sem um pingo de
remorsos, já havia feito coisas muito
piores antes, mas eliminar "aquele tipo
de arquivo" era novidade até para o
último dos Maldonado. Sem demora se
apossou da Mauser M-96, mais
conhecida como "Broomhadle", a
famosa cabo de vassoura ou pistola
alemã. Uma das mais distintas armas de
fogo produzidas no mundo, artigo de
luxo de poucos, sendo um item cobiçado
por atiradores e colecionadores. O
apelido, é claro, surgiu em função do
cabo de madeira estreito. Para
recarregá-las, são inseridas através de
um mecanismo de mola na frente do
gatilho e comportadas as dez balas,
sendo as tais a potente munição 7.63mm,
as mesmas usadas em um rifle russo. A
arma que estava escondida no cós da
parte traseira da calça jeans foi
apontada bem para o meio do rosto
indefeso da criança.
O pequeno tinha os olhinhos cor de
safira sob o cano de metal ainda quente
devido a troca de tiros de Blade na fuga
da Polícia, encostando quase na ponta
do seu nariz. A criança parecia
genuinamente cansada, com olheiras
acentuadas e muito pálida. O excesso de
magreza era de dar dó, tremia feito um
coelhinho assustado.
— Adeus, pequeno demônio! —
Arqueou a sobrancelha esquerda
perversamente, apertando o gatilho sem
pensar duas vezes. — Inferno! —
Praguejou quando viu a arma travar pela
primeira vez em viários anos de uso.
— Já chega, Maldonado! Deixe-o ir, é
apenas um garotinho, ele não vai contar
para ninguém que nos viu. — Implorou
Julius com sensibilidade nos olhos
dando dois passos na direção dele, mas
foi impedido pelo olhar gélido que
Maldonado lhe lançou. Parou no mesmo
instante virando de costas para não ver a
cena, sabia que seria inútil tentar fazê-lo
desistir de continuar com aquela ideia
atroz de matar a criança. Conhecia bem
o amigo para saber o quanto era cruel e
volúvel, sentia prazer em praticar o mal,
fazia jus ao sobrenome nobre que
herdara da perversa família de bandidos
mais famosa e respeitada no mundo do
crime. Ao voltar os olhos para o
menino, reparou que ele não cobriu o
rosto ou tentou fugir do disparo, fora que
não se mexeu, como se estivesse
esperando que atirasse logo.
— Não tem medo da morte, garoto? —
Perguntou com a voz grave, muitos só a
ouvindo já teria corrido.
— Pessoas na minha condição não veem
a morte como algo ruim, mas como
livramento, pelo menos vou para junto
da minha mãe, ela sempre cuidou de
mim! — Choramingou o pequeno.
Bastou Blade ouvir a palavra mãe para
sentir um certo desconforto, perdeu a
sua de uma forma trágica ainda quando
era muito pequeno. Mesmo assim, à
noite, em meio a sonhos tinha flashes da
lembrança do rosto dela sorrindo para
ele, então sabia exatamente a dor da
qual o menino estava se referindo.
Vendo que o mesmo tremia
compulsivamente e mal conseguia se
manter de pé, perguntou-se o que
poderia estar acontecendo com ele.
— O que você tem, pequeno demônio?
— Perguntou genuinamente desconfiado.
Era normal um bandido desconfiar de
tudo e de todos até mesmo de uma
criança indefesa que é moradora de rua.
— Fome, Senhor, faz duas semanas que
não como nada. — Levou a mão sobre a
barriguinha que não parava de roncar,
parecia uma sinfonia de Beethoven.
— Feche os olhos, pequeno! — E assim
a criança o fez. Blade destravou a arma
e novamente a apontou para cabeça dele,
pensou que aquilo não seria apenas uma
queima de arquivo, mas sim um
livramento. — Acabarei com a sua dor!
— Concluiu. — Nesse momento Li e
Estevão viraram de costas também, o
chinês limpou em silêncio uma lágrima
que caía pelo rosto de traços orientais,
Julius a essa altura já soluçava de tanto
chorar, Salvatore só não chorou porque
não sabia como fazer isso, muito menos
sorrir.
— Se for mesmo fazer isso, faça logo,
Blade! — Exclamou Estêvão
sombriamente.
— Que inferno! Isso só pode ser
brincadeira! — Praguejou Maldonado
após a arma travar pela segunda vez.
— Não, Blade! Isso é intervenção
divina! — Julius, mesmo vivendo uma
vida errada, acreditava fielmente em
Deus e sempre que podia comparecia à
missa da tarde, confessando-se
mensalmente e pedindo perdão a Deus
pelos seus atos inadequados.
— Saberemos agora se tem o dedo de
"Deus" nisso! — Debochou Blade. Era
completamente ateu, não acreditava em
nenhuma entidade divina ou qualquer
coisa do tipo. Misteriosamente levou a
mão ao bolso e tirou uma moeda de
prata de dentro da calça e sobre um
pequeno fecho de luz ela brilhou de uma
forma tão intensa que refletiu dentro das
esferas de safiras do menino, de fato
tinha olhos lindos e marcantes. — Sua
vida dependerá disso, garoto! —
Entregou a moeda a ele. — Vai jogá-la
para o alto, se der coroa você morre!
Mas... se der cara, além de viver,
ganhará uma família! Não somos o ideal
para uma criança, porém prometo que
iremos te proteger com a nossa vida se
preciso for! Levaremos você conosco
onde quer que seja! E se quiser seguir
nossos passos, ótimo, entretanto se não
quiser, te apoiaremos no que escolher.
Afinal é isso que irmãos fazem: cuidam
uns dos outros! — Concluiu.
Inocentemente a criança olhou para
moeda por um instante, sem sequer
imaginar o quanto havia em jogo,
independente de qual lado ela caísse.
Então arremessou-a para cima. A moeda
começou a cair em câmera lenta fazendo
movimentos circulares no ar e
aterrissando na palma da mão de Blade
relatando qual seria o seu destino. Nesse
momento não se ouvia nem o barulho da
respiração dos cinco dentro do beco,
mas o silêncio logo foi interrompido
pelo barulho estrondoso da arma de
Blade ecoando por toda parte.
— Bem-vindo à família, Mascote! —
Exclamou Blade com a voz grave, após
dar um tiro para o alto em comemoração
à chegada do novo membro da família
Salvatore Perez Xing Maldonado.
CAPÍTULO 1
Dias atuais...
— Inferno! — Exclamou Blade possesso
de raiva, após o seu celular tocar pela
milésima vez, alternando entre ligações
de Julius, Li e até mesmo de Estêvão
que não era muito de ficar ligando para
ninguém. Devido a esse milagre,
Maldonado resolveu atender para saber
o que acontecera de tão grave para
estarem lhe atormentando de tal forma
irritante e desesperadora. Todos tinham
total conhecimento que o mesmo odiava
ser incomodado com besteiras, isso o
deixaria mais mal-humorado do que de
costume. Estava no topo de um prédio,
deitado sobre o piso grosso de cimento
batido da cobertura do antigo motel
"Cinco Estrelas", com buracos em toda
sua extensão, mostrando que se tratava
de uma obra que fora gasta pelo tempo e
principalmente pelas chuvas de
novembro. Usando os cotovelos como
apoio para manter a parte da frente do
corpo elevada, típica pose de um
atirador de elite profissional e trajado
com vestes pretas, calça de tecido mole
com dois bolsos grandes, um de cada
lado, blusa justa de mangas compridas
emoldurando seu físico militar, simples,
mas com etiquetas de marca, a gola
arredondada em volta do pescoço e
capuz que estava posto na cabeça
encobrindo os traços expressivos do seu
belo rosto. Sua beleza, porém, não
chegava nem perto do poder do seu
charme avassalador. O mistério da cor
enigmática dos seus olhos expressivos
tinha o poder de hipnotizar, ainda mais
quando se tratava do sexo oposto, era
infalível. Para completar, nas mãos,
luvas de um tecido próprio para não
deixar digitais, criadas por Li, o chinês
pensava em tudo. Estava pagando um
favor que devia a Otávio Collin, um
conhecido que trabalhava como matador
de aluguel, que não era homem de
muitos amigos, mas que sabia ser grato
quando alguém lhe fazia um favor. E o
que Collin havia feito era um dos
grandes ajudando-o obter uma
informação de grande valia para
Maldonado, algo que nenhum dinheiro
existente na face terrestre poderia
comprar. Segundo Otavio, seu filho
nasceria naquele dia, então pediu para
que quebrasse esse galho para ele
estivesse presente no parto. No mundo
do crime quando se deve alguma coisa
para alguém há que se pagar, de um jeito
ou de outro. Para ajudá-lo nesse acerto
de contas trouxe consigo o seu rifle
Snipes, algo do qual tinha total orgulho
de possuir. Os projéteis disparados por
ele percorrem distâncias tão grandes que
os atiradores precisam levar em
consideração o movimento da terra e a
direção do vento antes de puxar o
gatilho. Falando em Snipes, o soldado
britânico Craig Harrison entrou para o
Livro dos Recordes por disparar o tiro
mais longo já registrado: 2.475 metros
com a mesma arma e a bala levou
apenas seis segundos para atingir o seu
alvo. Blade quebrou esse recorde há
muito tempo, mas não era de ficar se
gabando dos seus feitos como a maioria
das pessoas fazem, sabia que era
perfeito no que fazia! Isso já era o
suficiente para ele. Os disparos feitos
pelo rifle são supersônicos, o que
significa que os alvos são atingidos
antes de o barulho do tiro chegar aos
seus ouvidos. As balas com a ponta mais
fininha e aerodinâmica, são conhecidas
como "spitzers". Seu nome é derivado
do termo alemão spitzgeschoss — cuja
tradução significa "bala pontiaguda."
— Fale! — Exclamou Blade nervoso,
odiava ser interrompido quando estava
"trabalhando". Na verdade, odiava ser
interrompido em qualquer ocasião,
sentia-se bem sozinho. Ainda mais
naquele tipo de trabalho que exigia toda
sua concentração, uma respiração em
falso e tudo poderia dar errado. Não
admitia errar em nada, tinha a
necessidade de ser perfeito em tudo o
que fazia.
— O que você quer, Estevão? —
Perguntou grosseiramente enquanto
ajeitava a lente do rifle, não sabia
conversar com ninguém de outra forma.
— Sério que você não vem, Blade? —
Rosnou Estêvão ríspido, dificilmente
ficava nervoso. Mas naquele momento o
inglês encontrava-se tão fora de si que
dava para ouvir perfeitamente, do outro
lado da linha, o som das batidas do seu
pé esquerdo no chão, compulsivamente,
como um tique nervoso. Isso deixou
Maldonado em sinal de alerta, nunca
vira Salvatore alterado antes.
— Não! — Respondeu seco, curto e
grosso. Não era um homem de muitas
palavras. Desligou na cara de Estevão.
Em menos de dois segundos o celular
começou a tocar novamente. Agora era
Julius entrando em cena.
— Você sabe que o garoto vai ficar
muito triste se não aparecer, não sabe?
— Respirou fundo tentando não perder a
paciência, coisa que Blade, a essa
altura, já tinha perdido há muito tempo.
— Não é qualquer dia que temos a
oportunidade de ir à formatura do nosso
irmão caçula, não se importa mesmo em
magoá-lo dessa forma? — Bobbi é um
bom garoto, escolheu um caminho
diferente do nosso, é justo e bondoso!
Não é para qualquer um se formar com
louvor em uma das melhores faculdades
do mundo por mérito próprio, muitos
dariam a vida para entrar em Harvard,
mas poucos conseguem, ainda mais com
bolsa integral. Será um ótimo advogado!
— Concluiu o mexicano orgulhoso.
— E eu com isso? — Respondeu
malcriado, seu olhar parecia um iceberg
igual ao que afundou o Titanic de tão
gélido.
— Não finja que não se importa com o
menino, porque está na cara que sim!
Não tem como não gostar de um rapaz
tão doce como o Bobbi, nem mesmo um
homem cruel e sem coração como você.
—Lançou tais palavras cruéis sem dó,
sabia que não faria nem cócegas em
Blade, não era homem de se magoar com
nada. Mas no fundo elas haviam causado
um certo efeito nele, afinal cumpriu a
promessa que fizera ao menino que
acharam na rua há treze anos tonando-se
a família do mesmo. Sem ideias de
nomes para o pequenino, Maldonado
resolveu lhe chamar de Bobbi, nome que
gostaria de dar ao seu cachorro, caso um
dia resolvesse ter um, coisa quase
impossível de acontecer, uma vez que
odiava animais. Como não puderam
registrá-lo na época, deram-lhe Bobbi
por apelido. Depois, formalmente, aos
olhos da Lei, o menino passou a se
chamar Robert Salvatore Perez Xing M.
Receber o sobrenome dos quatro ficou
estranho, mas justo. O caçula da família
não quis seguir os passos dos irmãos,
era doce, gentil e extremamente honesto.
Totalmente diferente deles, mas os
amava mais que tudo no mundo.
Infelizmente não podia usar o sobrenome
do Blade completo, para não levantar
suspeitas sobre a ligação dele com o
último Maldonado.
— Não me importo! — Blade respondeu
irritado como se aquilo fosse óbvio,
desligando na cara dele também. Xingou
uma dúzia de palavrões quando o
celular tocou pela terceira vez, tinha a
boca suja, principalmente quando estava
nervoso. Pensou que agora
provavelmente seria o Li para dar-lhe
mais um sermão sobre não querer ir a
um lugar que não combinava com ele em
absolutamente nada, odiava lugares com
muitas pessoas e som alto. Blade era o
tipo de pessoa que se recusava a fazer o
que não queria, ainda mais quando
ficavam insistindo que o fizesse. Mas
para sua surpresa não era o chinês como
pensou, Li não tinha paciência de
discutir com ninguém. Se tratava de
Bobbi, a única pessoa com a qual não
costumava ser tão grosso ou se irritar
facilmente, pelo menos não com tanta
frequência. Era atencioso com ele,
dentro do seu limite.
— Diga. — Sua voz estava suave,
totalmente diferente de quando atendeu
às ligações de Estevão e Julius. Relaxou
o corpo respirando fundo, a expressão
do seu rosto mudara da noite para o dia
em questão de segundos. Ajeitou os
ombros, agora sentando e usando a
parede de tijolos alaranjados como
apoio para as costas largas.
— Desculpe por te incomodar, meu
irmão, mas precisava ouvir a sua voz!
— Bobbi era educado por natureza e
respeitava muito os irmãos. A emoção
em sua voz era evidente, estava
chorando. — Eu não sou mais um
garotinho Blade, já tenho vinte e dois
anos. — Sorriu, revirando os olhos
carregado de lágrimas pensando como
era engraçado o fato de seus irmãos o
tratarem como se ainda tivesse oitos
anos.
— Vinte e um anos, onze meses e duas
semanas. — Olhou no relógio quadrado
de ouro puro e cravejado de diamantes
em seu pulso. —Dezoito horas, vinte
três minutos e dez segundos. Não são
vinte e dois anos Bobbi. — Respondeu
sério, porém suave. O jovem riu em
como Blade sempre o corrigia até
mesmo nos mínimos detalhes, mas isso
só fez parecer que o irmão estava
querendo atrasar ao máximo o tempo,
não queria ver que estava crescendo e
abrindo as asas para o mundo, nunca
quis. Maldonado tinha ciência que era
um homem com muitos inimigos, sabia
que um dia Bobbi iria querer ter sua
própria vida, mas mesmo assim tinha
dificuldades para aceitar tal ideia. Não
teria como protegê-lo quando estivesse
longe dos seus olhos e isso lhe
preocupava bastante.
— Enfim, irmão, quero que saiba que
gostaria muito que estivesse ao meu lado
nesse momento tão importante, mas
jamais te obrigaria a estar em um lugar
onde não se sente bem. Respeito o seu
espaço e vou dar sempre o meu melhor
para algum dia ter orgulho de mim. —
"Já tenho!" — Pensou Maldonado,
mas guardou apenas para ele. Não
conseguia expor seus sentimentos nunca.
Enquanto conversava com Bobbi
mantinha os olhos ocupados na calçada
da rua à esquerda, em frente ao hotel de
luxo Calun. Era possível ter uma visão
ampla e privilegiada de um dos
estabelecimentos mais exuberantes e
caros da cidade. Principalmente da
porta de vidro elétrica da entrada que se
abria como o Mar Vermelho ao sentir a
proximidade de alguém se movendo
próximo a ela. De lá sairia o seu alvo a
qualquer momento. Era um político
corrupto envolvido com tráfico de
drogas e prostituição, vários
assassinatos de pessoas inocentes, a
maioria delas de baixa renda de quem
usava os nomes nos documentos para
aplicar golpes no governo.
— Podemos terminar essa conversa
depois, garoto? — Estreitou o assunto,
os olhos estranhamente exóticos que
mudavam de cor conforme o estado do
seu humor, uma mistura de rubi com
esmeralda, às vezes acinzentados, outras
indecifráveis. Estavam fixos na sua
presa, que acabara de sair do hotel,
através da lente de longa distância
embutida no rifle. Parecia um caçador
acuando um animal prestes ao abate. —
Estou um pouco ocupado no momento.
— Completou para aliviar um pouco a
acidez que usara com Bobbi querendo
finalizar aquela ligação logo. Realmente
não podia falar naquele momento. Pelo
silêncio como reposta da parte dele do
outro lado da linha sabia que estava
magoado, era sensível demais. Sentiu-se
um pouco culpado, muito pouco mesmo.
Não tinha remorso de nada, mas em se
tratando do irmão caçula, a coisa
mudava de figura.
— Tudo bem Blade, sei que é muito
ocupado! — Esperou que o irmão pelo
menos lhe parabenizasse pela formatura,
mas não o fizera. Ficou em silêncio
ansiando que aquela ligação acabasse
logo, percebendo isso disse — Eu te
amo, Blade! — Completou se segurando
para não chorar novamente, fazendo-o
assim que terminou a ligação. Seu maior
sonho era que Maldonado demonstrasse,
ao menos uma vez, que também o amava,
nem que fosse apenas um pouquinho.
Mas o que o jovem não sabia era que às
vezes os que mais amam são aqueles que
menos demonstram. O amor é um
sentimento discreto, cauteloso, porém
duradouro. Já a paixão é escandalosa,
alvoraçada em tudo o que faz, anda de
mãos dadas com a loucura. Na mesma
intensidade que vem, vai em questão de
minutos fazendo um estrago por onde
passa, muitas das vezes usando provas
de amor descabidas e um monte de
palavras bonitas jogadas ao vento, afinal
quem muito se declara, pouco sente.
Julius e Li nunca tiveram problemas em
demostrar e dizer o quanto gostavam de
Bobbi. Já Estevão não falava e tentava
dizer que não, mas gostava do jovem
também talvez até mais que os outros.
Do jeito estranho dele, mas amava.
Porém, Blade, além de não dizer,
também não demostrava nada. Era um
homem vazio, não vivia, apenas
sobrevivia.
— Até, pequeno demônio! — Foi a
última coisa que disse a ele, desligando
o celular e enfiando-o bem no fundo do
bolso da calça preta para ninguém o
incomodar mais. Rolou o corpo em um
ângulo de trezentos e sessenta graus
voltando a ficar na mesma posição que
estava antes de ser incomodado, da qual,
em sua opinião, nunca deveria ter saído.
Olhou para a lente encaixada com
perfeição na arma direcionando o laser
bem em cima do coração da vítima,
prendeu a respiração antes de apertar o
gatilho. O silêncio era essencial naquele
momento. Acertou o alvo com uma
agilidade precisa, ou nem tanto talvez.
Blade ficara pasmo ao ver a vítima
levantando-se do chão são e salvo,
falando alguma coisa em um microfone
escondido debaixo da manga da blusa
enquanto apontava para o prédio onde
Maldonado estava.
— Uma emboscada! — Rosnou o
Homem sem Lei totalmente possesso.
Largou tudo e saiu correndo o mais
rápido que pode. A rua foi tomada por
uma sinfonia de sirenes dos milhares de
viaturas espalhadas por ela e pelo som
ensurdecedor das hélices dos
helicópteros voando em volta do prédio,
o sonho de todo policial era pegar o
último Maldonado. Isso garantiria uma
considerável recompensa milionária e
uma boa promoção no trabalho, acima
de tudo isto, muito respeito dentro da
Polícia assim como o Major Carter que
participou da prisão dos pais de Blade,
mas estranhamente não aceitou nenhum
centavo da recompensa ou outros tipos
de benefícios, nunca deu entrevistas ou
falou sobre o ocorrido com ninguém e
isso já fazia mais de vinte e seis anos,
pouco antes mesmo da sua filha mais
velha nascer. O problema era que Blade
era esperto feito um gato, para piorar
fazia parte da melhor equipe de ladrões
da atualidade. Roubavam e todos não
faziam a menor ideia de como entravam
e saíam com o que queriam sem ninguém
notar, eram invisíveis para as câmeras.
Tanto que não sabiam como eram os
rostos deles, só tinham conhecimento
dos roubos que estavam envolvidos
porque sempre deixam uma
lembrancinha no local do crime para
dizer que passaram por ali. Maldonado
corria tão rápido quanto a bala que
atirou minutos antes contra o seu alvo.
Na época do exército, sempre era o
primeiro a chegar na corrida de oito
quilômetros diárias. Tomou a
embalagem da arma e pulou de um
prédio para o outro, caindo de pé com a
postura elegantemente sexy, como um
gato negro se aventurando sozinho à
noite sem nenhum medo do perigo.
Parou por cinco segundos para pensar
no que fazer para se safar dessa,
principalmente em como se vingaria do
culpado depois. Como em câmera lenta
analisou tudo à sua volta
cautelosamente. Pensou em descer pelas
escadas de incêndio, mas logo concluiu
que assim como o elevador ou qualquer
caminho que levasse ao terraço estaria
lotado de policiais. Depois de gastar
apenas três dos cinco segundos para
decidir o que iria fazer, pegou um
pedaço de um cabo de aço caído no
chão, provavelmente resto de alguma
obra para usar como base para deslizar
sobre a extensão de um poste que tinha
ao lado do prédio, não seria fácil chegar
ao chão inteiro, mas era a única chance
que tinha de sair dali vivo. Respirou
fundo por pelo menos duas vezes,
envolvendo o cabo de aço em volta da
grande pilastra arredondada de cimento.
Não precisou tomar coragem para
descer, já a tinha de sobra. Desceu aos
trancos e barrancos, grunhiu ao sentir a
sola da sua bota de couro italiano sendo
esfolada, era sua preferida, leve e
confortável. Pousou ao chão sem nenhum
arranhão, olhando para os quatros lados
ao mesmo tempo para conferir se havia
alguém lhe observando. Por sorte se
encontrava em um ponto contrário onde
os policias que o procuravam estavam,
mas quando pensou ter conseguido
escapar deu de cara com um policial que
na mente dele só poderia ter vindo do
inferno para irritá-lo ainda mais, com
uma arma apontada em sua direção. Era
um homem alto, de ombros largos, porte
físico de atleta, cheio de músculos
explodindo debaixo da camisa preta
com as siglas do FBI. Parecia ser muito
bom no que fazia, mas estava com um
pouco de medo de estar frente a frente
com um legítimo Maldonado.
— Se você se mexer eu atiro, tire o
capuz do rosto e levante as mãos. —
Ameaçou com a arma em sua mão,
tremendo feito o chocalho de uma cobra,
chegava até ser engraçado de se olhar.
Mas era corajoso, dava para ver isso no
fundo dos seus olhos azuis profundos. Se
fosse preciso atiraria mesmo e parecia
ser bom de mira.
— Atire! — Exclamou Maldonado com
a voz sombriamente grave, caminhado
em direção a ele calmamente feito uma
raposa, não estava com colete a prova
de balas. Era homem com H maiúsculo,
sem medo de nada, muito menos da
morte. Na verdade, ansiava por ela,
queria morrer acabando com a raça ruim
da sua família.
— Se der mais um passo atiro, não estou
brincando! Fique onde está. — Avisou o
policial pela última vez, decidido a
qualquer coisa. —
— Não é homem o suficiente para isso!
— Disse provocando-o, tinha prazer em
testar o psicológico das pessoas. Entre
outras "peculiaridades".
— Eu avisei! — Assim que Blade deu
mais um passo, o policial preparou para
soltar o gatilho e acabar com o legado
da família Maldonado, matando o último
deles. E então, ela apareceu...
— O reforço chegou, Joseph! — Jesse
Carter chegou confiante, a atrapalhada
investigadora do FBI, parceira do
policial que ainda mantinha a arma
apontada na direção de Blade. O
bandido olhou para o lado para ver
quem era a dona daquela voz suave e
doce, que estranhamente lhe transmitia
paz. Arqueou a sobrancelha fitando
aquele ser estranho à sua frente, nunca
vira criatura mais esquisita na vida! —
Pensou Blade. — Jesse mal sabia como
segurar uma arma, Maldonado
observador como era concluiu isso
imediatamente ao reparar como as mãos
da moça eram pequenas e delicadas,
tinha uma certa obsessão por essa parte
do corpo das mulheres. Os dedos eram
finos e longos. Era baixa e muito magra,
tão frágil que parecia se quebrar apenas
com um leve toque. Tinha o rosto
exótico, olhos grandes e negros como a
noite que predominava por toda parte
em volta deles. A pele em um tom
perfeito de chocolate e os lábios
grandes e grossos. Usava calça jeans
gasta, não por ser a moda, mas porque
fora usada por diversas vezes. Jesse
odiava gastar dinheiro
desnecessariamente, nasceu em uma
família de classe média então teve que
aprender desde cedo a não esbanjar.
Filha de um militar rígido, largou o
sonho de ser fotógrafa para seguir a
carreira do pai que fazia questão de
deixar bem claro que queria ter tido um
filho homem para seguir os passos dele
na Polícia e que aquele tipo de profissão
não era para mulheres. Ao invés disso
teve duas meninas, a filha mais nova,
Mainara, era perfeita em tudo o que
fazia, havia puxado a personalidade e a
beleza da mãe Maria Joaquim, decidida
e forte. Inteligente como era, escolheu
fazer robótica, era um gênio em concluir
qualquer coisa envolvendo tecnologia,
diferente da irmã mais velha que seguia
os seus objetivos sem pensar no que o
pai queria impor para a vida dela, aos
vinte e um anos já era muito bem-
sucedida. Fazia pós-graduação e pagava
os estudos com uma bolsa generosa que
ganhava de uma empresa onde
trabalhava como estagiária até concluir
o curso, passando em primeiro lugar na
prova que fizera, na verdade passava em
todas as que fazia seja lá para qual área
fosse. Já Jesse, fez mais de dez provas
para entrar na Polícia, sendo que a
última passou por um triz. Na verdade, o
professor ficou com pena e deu o meio
ponto que ela precisava, não aguentava
mais vê-la sair dali com aquela
expressão de fracasso no rosto. O que
foi o maior erro de sua vida, a moça não
levava jeito para nada, muito menos uma
policial. Era distraída demais, parecia
viver com a cabeça na lua, desajeitada e
um verdadeiro ímã para confusões.
Blade também reparou que a calça dela
era larga e esquisita, parecia masculina,
a blusa então nem se fala! Era três vezes
maior do que o tamanho ideal para ela, o
cabelo preso em um coque muito mal
feito no topo da cabeça com muitos fios
soltos parecendo não ver pente há
semanas, e, de fato, não via mesmo. Pelo
volume do coque eram na altura do
ombro talvez e rebeldes com certeza,
cachos medianos bem crespos, mas bem
definidos quando bem penteados, é
claro, ou seja, quase nunca ficava assim.
O rosto fino sem nenhum vestígio de
maquiagem, quase nunca usava. Nos pés,
tênis de solados baixos da marca mais
barata do mercado, que dava a
impressão dela ser menor ainda. Era a
mulher mais desleixada que Blade vira
na vida, ainda mais para um homem
como ele, que escolhia a dedo as
mulheres que encostavam as mãos nele.
Era exigente em tudo e nessa parte era o
dobro.
— Mãos para o alto! — Ela disse firme
apontando a arma para Blade, o que
deixava desejar na habilidade
compensava na coragem. Não tremia e
não se intimidou de estar frente a frente
com um bandido tão perigoso.
— Pelo amor de Deus, Jesse! A sua
arma está de cabeça para baixo! —
Disse seu parceiro revirando os olhos
sem um pingo de paciência com ela, era
um desastre ambulante. Ela,
envergonhada, foi tentar corrigir o erro e
acabou sem querer apertando o gatilho e
acertando na arma do parceiro que
também estava apontada para
Maldonado, o tiro acertou de raspão a
mão do parceiro. Se fosse planejado não
teria dado tão certo, realmente era boa
em estragar tudo. Ao correr para tentar
socorrê-lo que estava rolando no chão
de dor, tropeçou no próprio pé caindo
com tudo em cima do pobre homem
quebrando o seu dedo em três lugares,
justamente o que antes levara um
arranhão feito pela bala que passou de
raspão, agora talvez tivesse que ser
amputado.
— O bandido, Jesse, ele não pode
fugir!!! — Joseph exclamou entre os
gemidos de dor. Quando a moça
levantou a cabeça, Blade já tinha se
dissipado no ar deixando apenas um
pequeno bilhete em seu lugar. Com
muito cuidado deitou a cabeça do
parceiro, que antes estava em seu colo,
no chão e caminhou cautelosamente até o
pedaço de papel preso debaixo da arma
dele que tinha sido arremessada longe
por causa do tiro certeiro dela. — Por
que não usou a arma para nos matar? —
Foi o que ela se perguntou, mas nem
Blade tinha essa resposta.
"Salvou a minha vida, tenho uma
dívida com você. Pagarei na primeira
oportunidade que aparecer."
B.M.
Dizia o bilhete que ela não fazia a ideia
de onde havia tirado tempo para
escrever, deixando a jovem policial
intrigada. Mas o que mais preocupava
Jesse era que envergonhara o pai mais
uma vez diante do departamento todo e
dessa vez havia exagerado na dose.
Enquanto isso, Blade já estava longe,
teria que correr para não chegar
atrasado. Naquela noite, depois de
passar em um lugar importante, iria
acertar as contas com um certo
conhecido que armou para cima dele.
Enquanto isso, Bobbi se encontrava
sentado atrás do altar decorado com
enormes cortinas verde escuro que
combinavam com a sua beca, com o
coração esperançoso que o irmão ainda
apareceria.
— Eu acho que ele não vem, Max. —
Bobbi exclamou triste para o melhor
amigo. Conheceram-se no primeiro dia
da faculdade e não se desgrudaram mais.
E o irônico era que ele era filho de um
grande e consagrado juiz, homem
conhecido pela conduta justa diante da
Lei. Ele foi escolhido pela turma para
ser o orador e fazer a entrega dos
diplomas. Max olhou decepcionado para
o melhor amigo ao ver o olhar triste
estampado em seu rosto, como se
estivesse faltando alguma coisa para
aquele momento ficar perfeito.
— Eu sei que você queria que todos
seus irmãos estivessem presentes,
Bobbi, mas deveria ficar feliz por pelo
menos três deles estarem com você
nesse momento tão especial! —Puxou a
ponta da cortina dando a visão de três
indivíduos sentados na terceira fileira à
esquerda. Um completamente diferente
do outro, de um lado estava Li Xing, um
chinês que vivia com um sorriso
simpático no rosto, mas que escondia
muitas coisas por trás dele. No meio
estava o mexicano Julius Peres, um
homem com mais de dois metros de
altura cheio de músculos, dava até medo
de olhar para ele, porém, tinha o
coração mole e uma mente aberta, estava
chorando sem parar, enxugando o nariz
no paletó preto do homem que estava
sentado na ponta à direita. Esse era
Estêvão Salvatore, um inglês de
sobrenome nobre e o mais calado dos
três, tinha uma aparência sombria, na
verdade gótica. Sua pele era
extremamente branca, os olhos azuis
penetrantes, o cabelo longo tão negro
como a noite, era um ser sem nenhum
tipo de sentimento, nem bom nem ruim,
apenas era vazio por dentro vivendo em
uma dimensão obscura que ele mesmo
criou ainda quando pequeno, quando não
fora aceito pelas outras crianças da
escola por ser diferente.
—Você tem razão, Max. — Bobbi sorriu
olhando para os irmãos de criação, fora
adotado pelos quatro amigos ainda
muito pequeno e os amava mais do que a
própria vida, mesmo sabendo a
infinidade de defeitos que tinham, e não
eram poucos. — Porém queria todos
aqui comigo, mas conheço Blade, jamais
viria a um evento desses. Ele não é
muito sociável, também meu irmão não
curte muito andar sobre a luz do dia, é
apaixonado pela noite. — Concluiu
triste. Sua família além de estranha era
repleta de segredos.
— E agora é com muito orgulho que
chamo o meu filho Maxmilian
Thompson, para pegar o seu diploma. —
Proclamou o Juiz orador da turma todo
orgulhoso. Chorou ao abraçar o filho,
assim como toda a família dele
observando aquela cena linda.
Principalmente Bobbi, ao lembrar da
sua conversa com o irmão no telefone.
Estava extremamente feliz com a
presença dos três irmãos, mas sem
Blade sua felicidade não estava
completa.
— Você é meu maior orgulho, Max! Eu
te amo, filho! — Declarou o Juiz ainda
abraçado com ele. — Bobbi imaginou
Blade dizendo-lhe a mesma coisa, mas
tinha certeza que isso jamais
aconteceria.
— Não mais do que eu, pai! —
Exclamou seu amigo chorando ao juiz.
— Agora chamo o Jovem Roberto
Salvatore Xing Perez M. — John achou
estrando um nome tão grande sendo que
o último era abreviado com apenas uma
letra. Bobbi quando foi adotado recebeu
o sobrenome de todos os irmãos. O
jovem veio timidamente, os olhos
discretamente correram pela plateia
sobre os irmãos e principalmente em
uma garota chamada Lia, apesar de ser
apenas uma adolescente de dezesseis
anos a beleza da moça chamava sua
atenção além do normal, o problema era
que ela era a irmã caçula do seu melhor
amigo Max e filha do Juiz. O evento
literalmente parou quando todos se
assustaram com o ronco assustador de
uma moto que mais parecia uma máquina
de tão potente, era o último modelo
alemão da BMW que nem havia sido
lançado ainda, tinha a potência de
trezentos e cinquenta cavalos e ao ser
estacionada, antes de dar uma última
roncada ensurdecedora, dela desceu um
homem alto e forte que tirou o capacete
abrindo visão para um rosto tão perfeito
que parecia uma pintura de obra de arte,
com sobrancelhas grossas e definidas. A
boca com o lábio superior em um
formato perfeito de coração, um rosto
com traços fortes e marcantes, seus
olhos eram hipnotizantes, com o fato do
tom acinzentado deixar total dúvida se
eram verdes ou azuis, um verdadeiro
milagre da natureza. O cabelo cortado
bem curto "estilo presidiário", a barba
aparada bem baixo, um verdadeiro
charme. Com a jaqueta na mão veio
caminhando sedutoramente pisando
firme com as botas de cano cumprido
sobre o tapete vermelho, usava calça
Jeans surrada bem justa emoldurando as
pernas grossas bem definidas. Camisa
branca de malha de mangas curtas
colada ao peito largo musculoso,
deixando à mostra os dois braços
tomados por tatuagens até a extensão do
pulso. Só Deus sabe como havia
chegado ali tão rápido e de banho
tomado, dava para sentir a quilômetros o
aroma da colônia francesa exclusiva da
Armani. No pescoço um cordão com a
numeração que era chamado no exército.
Não teve quem não olhasse para aquela
figura. Era o tipo que se destacava,
mesmo em meio a uma na multidão,
principalmente pela cara de mal que o
indivíduo tinha. Parou bem na frente
onde estava ocorrendo a entrega dos
diplomas, encarou o Juiz de frente, era
um homem sem medo. Bobbi mal havia
recebido o diploma das mãos do famoso
Juiz Thompson, que estava de boca
aberta olhando para a entrada triunfal do
irmão.
— Quem é esse? — Perguntou o Juiz
Thompson com o seu sexto sentindo
aguçado, conhecia bem um bandido
quando via um.
— Esse é o meu irmão. — Respondeu
Bobbi com um sorriso enorme e
lágrimas escorrendo pelo rosto, tinha
perdido as esperanças que ele viesse. —
Blade! — Completou correspondendo
satisfeito ao aceno de cabeça feito pelo
irmão. Naquela família estranha e
misteriosa além segredos também havia
muita união e principalmente lealdade.
Jogou o diploma no chão e saiu
correndo para abraçar Blade. Nunca
esteve tão feliz em toda sua vida!
Abraçou o irmão com tanta força que
parecia que iria quebrá-lo ao meio a
qualquer momento, mas Blade da mesma
forma que estava ficou. Parado feito um
pedaço de pau, não se mexeu um
milímetro se quer. Não estava
acostumado com aquele tipo de
demonstração de carinho, ainda mais
com duzentos pares de olhares sobre
eles. Bobbi não se importou, já estava
habituado com o jeito dele. Sempre que
o abraçava era a mesma coisa, mas não
desistia de tentar, tinha esperanças que
um dia o seu abraço fosse retribuído.
— Sabia que viria! — Declarou o
jovem emocionado, só não chorou
porque sabia que Blade não gostava.
— Parabéns, Mascote! — Exclamou
com a voz suave. Bobbi era a única
possível parte boa que existia em
Maldonado, ao menos, por enquanto.
CAPÍTULO 2
— Se aprontar mais uma dessa você está
fora da Polícia! — A voz severa do
Major Carter ecoou pelos quatro cantos
da sala de reuniões do Departamento de
Investigação Criminalística de Los
Angeles. Fazendo com que todos olhares
curiosos das outras pessoas presentes no
recinto se voltassem para o rosto
delicado da jovem investigadora do
FBI, Jesse Carter, que imediatamente
tomou um tom vermelho aveludado
escuro. A moça envergonhada fingiu
ajeitar os enormes óculos de grau
tentando não demostrar o nervosismo,
encolhendo-se mais do que já estava,
como se fosse possível se esconder
debaixo do estofado azul da cadeira
onde estava sentada no fundo da sala.
Em seguida, discretamente direcionou os
olhos para o Major que estava como um
dragão, pronto para soltar fogo pelas
ventas a qualquer momento. Um senhor
negro e alto com o corpo forte e másculo
de pouco mais de cinquenta anos, mas
com a aparência de trinta e nove, no
máximo. Muitos deles dedicado a
carreira impecável dentro da Polícia,
tinha um currículo de dar invejar a
qualquer um. Fora o fato de ter
participado da emboscada que
ocasionou a morte do casal Maldonado,
os bandidos mais procurados de todos
os tempos.
— Desculpe, pa.. Quero dizer, Major.
— Encolheu os ombros, corrigindo-se
antes de levar mais uma advertência por
desacato a autoridade pelo próprio pai.
Afinal, no ambiente de trabalho não era
a filha de ninguém, ali o seu genitor era
o superior dela e de todos os outros,
igualmente. E não iria pegar leve só
porque tinham o mesmo sangue, ao
contrário, usaria Jesse como exemplo
para os demais.
— Você não tem noção da gravidade do
que fez, Senhorita Carter? —Mais
constatou do que perguntou. Com a voz
amargamente séria, que fez a moça
estremecer de medo. E estremeceu ainda
mais ao notar os passos firmes do Major
vindo em sua direção, pois sua vasta
experiência de vinte e seis anos ao lado
pai era suficiente para saber o quanto
estava furioso com ela, uma respiração
em falso e o mesmo seria capaz de tirar
o cinto das calças e dar-lhe uma boa
lição frente aos companheiros de
trabalho. Cresceu oprimida, apanhando
até nos dias atuais, caso fizesse alguma
coisa que não era do agrado dele.
— Eu só queria ajudar, Senhor! —
Respondeu em um tom tão baixo que mal
deu para escutar, mantinha a cabeça
baixa com um olhar fixo para o par de
tênis surrados.
— Por de Deus, Jesse! Pelo menos olhe
para mim quando estiver falando com
você, soldado! — Bateu a mão com
força na pequena tábua da cadeira que
era usada para apoiar objetos, forma
desnecessariamente rude. — Além de
deixar o criminoso fugir, você ainda
quase matou o seu parceiro. — Falando
desse jeito, ele fez parecer pior do que
era, pelo menos foi o que Jesse pensou.
— Quem nunca errou um tiro? —
Lançou os olhos sobre ele inocente. —
Ou tropeçou caindo em cima de alguém
quebrando o dedo da pessoa em três
lugares, que atire a primeira pedra! —
Isso foi a gota d'água para o Major
Carter perder a paciência de vez,
fuzilando-a com o olhar duro. Hugo
Rodrigues, o "Mentalista" da Divisão
Criminal mestre em desvendar as
expressões das pessoas e decifrar a
mente dos criminosos, não aguentou as
palavras da moça em sua defesa própria
e soltou uma gargalhada gostosa.
Achava Jesse uma graça, principalmente
a inocência e a fragilidade dela.
—Tem algum palhaço aqui, Senhor
Rodrigues? — O jovem de roupa social,
estatura baixa, óculos fundo de garrafa e
uma mente brilhante não se intimidou
com a voz amarga do chefe do
departamento. Era quase um vidente ao
desvendar pistas, completamente
perfeito no que fazia. E o Major sabia
disso, poderia até se zangar com ele,
mas demiti-lo nunca.
— Não, Senhor! — Respondeu com
vontade de rir, mostrando a língua assim
que o chefe virou as costas e fazendo
Jesse sorrir, não importava fazer papel
de palhaço se o prêmio depois fosse um
sorriso daqueles como recompensa.
— Achando graça de quê, Senhorita
Cárter? De quase ter amputado o dedo
de um dos meus melhores homens? —
De repente a moça se viu obrigada a
piscar várias vezes para conter as
lágrimas. O Major sentiu um certo
incômodo ao notar a expressão de culpa
presente na jovem. Sabia melhor do que
ninguém como a filha era sensível. Não
queria ser tão duro, apenas não gostava
nem um pouco da primogênita insistir na
ideia de ser uma policial e se a jovem
chegou até ali, não foi com a ajuda dele.
Ainda mais que a moça realmente não
levava jeito para isso, ela era
naturalmente adorável. Tinha a
capacidade de captar o que não era
visível aos olhos, apenas com o
coração. Pensava que se tivesse tido um
filho homem as coisas seriam bem
diferentes e culpava a esposa Maria
Joaquim por isso, como se fosse
possível ela escolher o sexo do bebê
que iria nascer. Para o azar do Senhor
Carter o seu segundo herdeiro veio outra
menina, a caçula Mainara Carter, que na
opinião dele, não era tão ruim assim
porque herdara o cérebro da família,
boa em tudo o que fazia. Já Jesse, não
lhe dava nada além de desgosto, raiva e,
principalmente, vergonha.
— Não seja tão duro com ela, Senhor! A
garota apenas nasceu para ser uma civil
e não um oficial como nós. — Comentou
ironicamente a policial Amanda Moura.
— E também não tem idade o suficiente
para ter discernimento ao tomar
decisões em meio as desventuras do
cotidiano, é muito jovial para trabalhar
em um departamento sério como este. —
Era só dizer que a Jesse era inexperiente
para trabalhar no departamento, mas
Amanda adorava falar bonito para
impressionar os outros, não era apenas
sua inteligência que chamava a atenção,
sua beleza também. Era visivelmente a
mulher mais linda e sexy do
departamento. Era alta e magra, o corpo
farto em curvas. Os seios eram enormes
e redondos que explodiam nos dois
primeiros botões do uniforme, que fazia
questão de deixar abertos. O cabelo
loiro ondulado em cachos largos na
altura do meio das costas. Os olhos
eram cor de esmeralda, um esverdeado
raro encontrado apenas nas águas do
mar revoltos da Ilha Maui, no Havaí.
Grandes, lindos e sensuais. A boca em
um risco fino perfeito, que acobertava
duas fileiras de dentes impecavelmente
alinhados. Mas o que lhe sobrava de
beleza, deixava a desejar no caráter.
Oferecida e interesseira, usava as
pessoas para conseguir o que queria.
— Minha idade não define a minha
maturidade, muito menos minhas notas
ou discursos bem montados com
palavras bonitas. Se for para abrir a
boca e magoar alguém, prefiro ficar
calada. — Jesse respondeu sem jeito,
não era de o seu feitio ser grossa com
ninguém, mas já estava farta de engolir
desaforo das pessoas. Então deixou os
vinte segundos de coragem falarem mais
alto, enfim desabafou. Sabia que nunca
chegaria ao nível de inteligência da
Amanda Moura ou da beleza. Até
porque a própria fazia questão de jogar
isso na cara dela sempre que podia,
maldosamente. A Senhorita Moura era
uma mulher astuta e ardilosa, o tipo
perigoso que usava o conhecimento para
manipular as pessoas e conseguia.
Principalmente o Major Carter, que
babava em tudo o que a Amanda falava
usando palavras bonitas que muitas das
vezes Jesse tinha que olhar no
dicionário ou pesquisar na Internet para
saber do que ela estava falando. O que
ela não sabia era que de nada vale ter o
dom da palavra se não soubermos fazer
bom uso dela, é como ver os grãos de
um castelo de areia ao desmoronar com
o vento. Se existia uma coisa que Jesse
aprendeu na vida, foi que quando a
máscara não cai, Deus a arranca. A
inexperiente investigadora do FBI tinha
noção dos defeitos que tinha, muitos na
verdade, porém, nunca pisou em
ninguém para subir na vida, isso para
ela não seria vantagem, e sim doença.
— É o que os fracassados e perdedores
sempre dizem! — Respondeu ela rindo
ironicamente, mas de um jeito que só
Jesse ouviria, afinal tinha que manter
firme e forte o papel de boa samaritana
aos demais presentes. No começo
quando a conhecera, na época do curso
para entrar na Polícia, Amanda até
parecia ser uma garota doce e gentil.
Mas depois que começou a enxergar o
seu jeito manipulador e se tornar o que é
hoje, percebeu que talvez a mesma
sempre fosse assim. Ninguém muda com
o tempo, apenas mostra quem é de
verdade. Jesse sempre gostou de ser
uma pessoa sozinha, assim não magoava
ninguém e principalmente não era
magoada. Às vezes as maiores
decepções vêm das pessoas que mais
amamos, justamente em quem mais
confiamos.
— Chega de explicações descabidas,
Senhorita Carter, você está fora do caso
dos "Homens sem Medo"! – Exclamou o
Major de forma severa. Era assim que a
equipe de ladrões do Blade era
chamada, ansiavam em pôr as mãos
neles, principalmente no último
Maldonado que era conhecido na cidade
como demônio, era o bicho papão das
histórias que os pais contavam para os
filhos antes de dormir.
— Se você se meter em uma vírgula
sequer, nunca mais vai trabalhar na
Polícia pelo resto de sua existência. A
Senhorita Amanda Moura vai ocupar o
seu lugar nessa investigação, onde
deveria estar desde o começo. —
Terminou rude, quebrando o coração da
filha em mil pedaços e sabia muito bem
disso. Se olhasse para baixo poderia ver
os milhares de pedacinhos dele
espalhados pelo piso escuro bem
encerado, pois no departamento havia
uma faxineira que além de muito
simpática, era extremamente caprichosa,
uma das poucas que tratava Jesse como
gente naquele lugar, para o resto ela era
quase era invisível.
— Agora que não faz mais parte dessa
investigação, pode se retirar, não tem
mais nada o que fazer nessa reunião. —
O Major virou as costas para ela
fazendo-a sentir insignificante, mais do
que o normal. Jesse não se atreveu a
respondê-lo, dizendo que o próprio lhe
ensinara quando pequena que era feio
virar as costas para uma pessoa quando
estivesse falando com ela, porque, na
verdade, não adiantaria. Ele não a
permitiria explicar que só queria ajudar
o parceiro, que o acontecido fora apenas
um acidente e que poderia acontecer
com qualquer pessoa. — Pensou ela,
mas o pior estava por vir quando tivesse
que enfrentar o pai sozinha em casa. Em
vez disso, recolheu cada pedacinho do
seu coração estraçalhado e saiu
lentamente da sala debaixo dos olhares e
cochichos dos companheiros de
trabalho. Ao sair da delegacia
totalmente devastada, assim que tocou
os pés na calçada percebeu que o mundo
era um lugar injusto, ainda mais para
pessoas sensíveis como ela. Por um
instante pensou que talvez a irmã caçula
Mainara tivera razão quando dizia que
errou feio em largar o sonho de ser
fotógrafa, para seguir os passos do pai
na Polícia. Com os ombros encolhidos
dentro do casaco comprido de lã cinza
que colocou por cima do uniforme dois
números maiores que o tamanho
adequado para ela, o qual pegara errado
quando começou a trabalhar e até hoje
não tinha conseguido trocar, tendo que
viver a base de cintos e pregas feitas
com carinho pela atenciosa mãe. Na
verdade, esse fato não importava, Jesse
se sentia confortável dentro de roupas
largas, não fazia questão nenhuma de
sair mostrando o corpo por aí, mas não
julgava quem o fazia. Para ela o respeito
era a base de tudo, o dela terminava
quando começava o do outro. Não
gostava de saltos e nem era muito fã de
maquiagem, fato que lhe rendeu no
Colegial apelidos como "Maria João",
"Macho/Fêmea", 'Sapatão", entre outros.
Devido a disso sempre ia ao baile de
primavera sozinha, nenhum rapaz nunca
a convidara nem para tomar soverte na
soverteria da esquina. Fazia parte do
grupo das "invisíveis" denominado
pelas populares da escola, por incrível
que pareça era amiga de uma das
meninas mais famosas da escola, a
Nayla, que se dava bem com todo
mundo. Desde os nerds até as líderes de
torcida, era extrovertida e amável com
todos. Impecavelmente linda, com um
rosto simetricamente perfeito. Estudou
moda e hoje era uma estilista conhecida
e mesmo depois do Colegial ainda
continuaram grandes amigas.
A cada passo que dava, refletia sobre
as pessoas que passavam por ela na rua
conversando animadas, outras nem tanto.
Algumas estavam assim como ela
voltando de um dia péssimo de trabalho,
outras passaram a semana procurando
emprego. Sentiu um vento gelado tocar a
ponta do seu nariz, imediatamente Jesse
escondeu as mãos no bolso, sentia um
frio absurdo nessa pequena e delicada
parte do seu corpo. E Los Angeles era
uma cidade com o clima confortável, a
jovem que era friorenta além do normal.
Não tinha resistência para coisas frias,
principalmente as palavras. Sorriu ao
sentir o conforto que era manter as mãos
dentro daquele pequeno espaço quente,
ao mexer os dedos encontrou no fundo
um pequeno pedaço de papel. Ao tirar
para ver do que se tratava, arregalou os
olhos assustada arrepiando-se de cima a
baixo. Era o bilhete deixado pelo
bandido, havia uma pista no outro do
bilhete.
"Tenho uma dívida com você, pago na
primeira oportunidade que tiver."
Viu um pequeno flash de luz no fim do
túnel ao ver que no verso do papel tinha
um endereço anotado, provavelmente o
bandido não verificou os dois lados do
papel antes de escrever o recado.
— E se eu fosse lá e o prendesse? —
Pensou inocentemente, como se fosse a
coisa mais fácil do mundo. O Endereço
era de um bar da periferia, lugar famoso
pela alta periculosidade, onde só os
“piores dos piores” criminosos
frequentavam. Ela hesitou, mas agindo
pelo impulso ao invés de caminhar os
cinco quarteirões até sua casa, para
economizar o dinheiro do ônibus.
Ganhava um salário bom, mas tinhas
algumas responsabilidades que tinha que
cumprir severamente com ele no
momento. Chamou um táxi que ao deixá-
la em frente ao tal bar saiu cantando
pneu, mas não antes de perguntar se a
moça queria mesmo ficar sozinha ali.
Segurou as bordas do casaco apertando-
o contra o corpo como escudo para o
medo, olhou para um lado e para o outro
se deparando com uma escuridão
assustadora. Não costumava sair muito a
noite, ainda mais sozinha. O pai era o
tipo à moda antiga, não deixava nenhuma
das filhas longe das suas vistas por
muito tempo, principalmente Jesse que
não tinha um pingo de juízo e estar ali
era prova disso.
— Como vou achar um homem que
nunca vi na vida? — A ficha começou a
cair, mas não tinha vindo até ali para
desistir agora. Em um rompante de
coragem, atravessou a rua ficando em pé
defronte ao tal bar. Era um
estabelecimento enorme com a fachada
toda revestida de luzes piscando como
uma árvore de Natal, coisa comum nos
prédios de La Vegas. Quando entrou,
ficou horrorizada ao se deparar com
uma mulher seminua dançando no Pole
Dance bem no centro do
estabelecimento, subia na ponta do
bastão de ferro e descia de cabeça para
baixo com as pernas abertas. Do lado
esquerdo tinha um pequeno cassino
montado com mesas cheias de
jogadores, provavelmente gastando o
que possivelmente não teriam condições
de pagar depois. A investigadora sentiu
as bochechas queimarem ao ver um
casal no canto praticamente transando na
frente de todo mundo, totalmente à
vontade. E não estavam no escuro, o
lado de dentro do bar era tão iluminado
quanto o de fora, com luzes de todas os
tamanhos e cores. Com muita
dificuldade praticamente se arrastou em
meio as pessoas que estavam dançando,
se é que poderia chamar aquilo de
dança. Ao som de uma música alta, com
uma letra tão vulgar como as mulheres
presentes, era evidente que todos
clientes daquele lugar fossem marginais.
Achar o que ela estava procurando seria
como querer achar uma agulha no
palheiro. Totalmente perdida, Jesse
sentou no balcão do bar desesperada
pensando em como foi tola vindo ali
sozinha, então ela, que sempre foi muito
corajosa, viu toda sua coragem se
dissipar ao vento quando um homem
barbudo e careca, trajando roupa de
motoqueiro com direito a colete e tudo,
muito alto e porte físico grande e
tatuagens muito malfeitas por todo o
corpo olhou para Jesse de forma
maliciosa, parecendo estar totalmente
embriagado. Pensou em sair correndo e
gritando socorro quando o mesmo veio
em sua direção, só que ela era mais forte
do que isso, permaneceu firme no
mesmo lugar.
— Quer dançar comigo, gatinha? Sabia
que tu és uma moreninha muito gostosa?
—Carter quase ficou bêbada apenas
com o "bafo" de álcool que saiu da boca
daquele sujeito, que por conta do som
alto levou o rosto bem próximo ao dela
para que o escutasse.
— Já estou de saída, desculpe-me! —
Respondeu educadamente,
completamente apavorada com a forma
que o homem a encarava. Principalmente
agora que prostrado diante dela parecia
muito maior e esquisito também. O fato
de Jesse ter pouco mais de um metro e
meio de altura não ajudava muito, foi um
dos grandes problemas que enfrentou
para se tornar uma policial.
Discretamente pegou o celular no bolso
e ligou para a amiga Nayla pedindo
socorro, pensou em ligar para a mãe,
mas a amava demais para dar mais uma
preocupação a ela, tentava evitar ao
máximo. Porém, parecia ser um ímã para
confusões. No primeiro toque sentiu seu
braço ser brutalmente puxado pelo
homem que não aceitou bem a resposta
negativa ao seu convite. Começou a
arrastá-la à força para pista fazendo com
que o celular caísse no chão. Na
tentativa de se soltar da mão dele à cata
do celular, o casaco acabou se rasgando,
deixando à mostra para quem quisesse
ver o uniforme do FBI.
— Tira na área! — Um homem gritou
fazendo aparecerem de todos os lados
em volta de Jesse, que facilmente a
pegaram e a levaram arrastando até os
fundos do bar onde ficava a sala do
dono, um homem asqueroso e careca,
barrigudo e vestindo uma camisa de
mangas cumpridas com estampas florais
de muito mal gosto. Com a boca
cravejada de dentes de ouro, rindo para
ela de uma forma assustadora.
—Você é muito corajosa vindo aqui
sozinha, mocinha! — Girou a cadeira
para ficar de frente para ela. — Quem te
mandou aqui? —Perguntou rude, quase
gritando. Ela ainda estava sendo
segurada pelo braço por dois
seguranças, abaixou o olhar apavorada.
Orando aos céus para que mandasse um
milagre ou que sua morte não fosse tão
dolorosa.
— A ratinha assustada não vai falar? —
Perguntou irônico e sem a reposta da
moça decretou o seu destino. Um dos
seguranças deu um tapa no rosto dela
fazendo o sangue escorrer no canto da
boca, mas Jesse continuou em silêncio.
— Sei que ela não faz o tipo de vocês
homens, mas podem brincar com ela à
vontade antes de eliminá-la. —Ordenou
tranquilamente, voltando a atenção para
pilha de maços de dinheiro sobre a
mesa, contando nota por nota com um
charuto italiano na boca.
— Agora vamos nos divertir um pouco
com você, ratinha, se for boazinha não
vamos te machucar muito! — Exclamou
um dos cinco bandidos vindo para cima
de Jesse já abrindo o cinto, ficavam a
jogando-a de um lado para o outro
rasgando sua roupa. Parecia de fato uma
ratinha assustada sendo brinquedo de
quatro gatos malvados, tomada pelo
desespero começou a chorar e se
debater. Foi assim até cansar e cair no
chão toda descabelada e suada, tinha
entregado os pontos.
— Boa menina! — Disse um deles
arriando as calças. Assim que levou a
mão na pobre moça cujo rosto estava
tomado por lágrimas e grande parte do
corpo à mostra pelos rasgos na roupa
que restou em seu pequeno e frágil
corpo, deu um passo para trás assustada
com o que acabara de ver.
— Tire as mãos dela! — Blade estava
parado na porta já com duas pistolas
douradas Full M9 destravadas, o que
assustou o homem não foram as armas,
mas aqueles olhos nem azuis ou verdes,
acinzentados talvez, os quais brilhavam
no escuro como duas pedras valiosas,
uma raposa sorrateira pronta para atacar
quem ousasse tocar nela novamente.
Enquanto isso, o restante da equipe
“Dos homens sem Medo” nem fazia
ideia do que estava acontecendo com o
parceiro, estavam em um bar
conversando animadamente, Julius bebia
um uísque escocês duplo com duas
pedras de gelo dançando dentro,
grudada uma na outra como um casal
apaixonado. Li opinou com uma água
com gás e gim, já o inglês Estevão
Salvatore estava em total estado de
transe degustando sua taça de vinho da
melhor e mais antiga safra Italiana, com
a garrafa no valor de centro e oitenta mil
dólares, uma mixaria para ele. Seus
pensamentos estavam longe, em alguns
bons anos atrás.
Era uma linda tarde amarelada de sol
de novembro, o outono na Inglaterra
nunca esteve tão esplêndido como
naquele ano. O chão das ruas coberto
por um manto de folhas alaranjadas,
um clima confortavelmente agradável,
nem quente ou gelado, na medida certa.
Um dia perfeito para apreciar a beleza
da natureza, que estava visível por
todos os lados. Menos para ele... que
vivia em uma dimensão sombria,
sempre fora assim desde criança. Para
ser belo, em sua opinião, a natureza
teria que ter, no mínimo, noventa e
cinco por cento de preto, aquele verde
todo lhe causava náuseas. Tinha um
gosto peculiar para as coisas, isso era
notável apenas em olhar para o jovem
de dezesseis anos. Estava sentado no
fundo da sala de aula, não gostava de
se misturar com os colegas. A verdade
era que as pessoas não faziam questão
de sua presença assustadora por perto,
todos tinham medo dele. O chamavam
de “Edward, Mãos de Tesoura” por
conta de sempre usar preto, em
especial um casaco longo com capuz. A
pele era branca feito a neve, com olhos
azuis penetrantes, leitores de almas. O
cabelo negro como a noite, sempre
mantido à altura do meio das costas
com fios extremamente lisos em um
corte reto partido ao meio, era um
jovem com aparência marcante, de rara
personalidade.
— Cumprimentem a nova aluna, Nayla
Borges! — Disse o Senhor Albertino
Hamilton, professor de Filosofia, era
um senhor rabugento no auge dos seus
quarenta e pouco anos. Alto, magro e
careca. Trajava o habitual suéter verde
escuro, com gravata borboleta, tudo de
muito mal gosto. Chamando a atenção
do jovem que olhava do outro lado da
extensa janela de vidro, um pássaro
negro, um corvo gungunava algo como
se tivesse conversando com ele.
Estêvão o fitava atentamente como se o
entendesse. E o entendia mesmo, eram
companheiros de longa data. Iniciou
uma análise minuciosa na nova colega
de classe, começando pelas sapatilhas
rosa bebê cheias de brilhos e
lantejoulas brilhantes no mesmo tom.
Do lado havia um laço muito bem feito
com uma fita branca, que deixa ainda
mais delicados os pequenos pés da
moça. Observou a calça jeans rasgada,
mesmo que discretamente reparou como
suas pernas eram bem torneadas. Uma
camiseta branca despojada com a
estampa floral, uma jaqueta também
jeans por cima e uma blusa xadrez de
vermelho com Preto amarrada na
cintura. No pescoço uma gargantilha
com um pingente com a letra N
balançando conforme se mexia. Nas
costas uma mochila de couro marrom.
A moça era estilosa! Mas o que mais
chamou a atenção de Estêvão foi o
sorriso farto presente no rosto dela,
era meigo e gentil. Sem perceber o
jovem admirava seus olhos grandes
acastanhados e a beleza dos seus
cachos rebeldes enfeitados com
pequenas flores brancas. Era frágil,
mas visivelmente confiante.
— Olá Nayla, seja bem-vinda a nossa
escola! Sou Bryan, pode se sentar ao
meu lado, se quiser. — Disse a grande
estrela do time de futebol da escola,
que no momento usava a jaqueta de
capitão pois era o mais veloz e esperto.
Tinha uma beleza chamativa, alto e
forte. Tinha o cabelo cor de ouro que
dava contraste com a pele branca bem
bronzeada devido às férias que passou
no Havaí, vinha de família
endinheirada. Era um Jovem
desprovido de caráter, ainda mais
porque era o mais popular ali, todas as
meninas morriam de amores por ele.
— Obrigada pela gentileza, Bryan, mas
já escolhi outro lugar para me sentar!
— Estêvão olhou surpreso, ela sorriu-
lhe simpaticamente lançando um olhar
para a cadeira vazia ao lado dele.
Jamais se sentaria ao lado do capitão
do time de futebol, Nayla tinha uma
capacidade incrível de ver a essência
das pessoas, afinal era muito exigente
com a beleza, tinha que vir de dentro
para fora. — Se me der licença,
professor, não quero mais atrapalhar
sua aula. — O professor sorriu para a
nova aluna, pensando em como era
uma jovem adorável. — Salvatore
arregalou os olhos assustado ao
perceber como o coração começou a
bater acelerado conforme a novata se
aproximava dele, para falar a verdade,
até então, nem sabia que tinha um. Era
avesso a sentimentos, bons ou ruins.
— Prazer, sou Nayla! — Ela se
apresentou simpaticamente levantado a
mão para Estêvão, que simplesmente
virou o rosto na mesma posição que
estava antes olhando para vista do
jardim, passava grande parte do tempo
assim. Lamentou pelo corvo não estar
mais lá, era o único amigo que tinha
naquele lugar.
— Trabalho em duplas! —Disse o
professor Albertino. — Para que não
haja escolha de parceiros vamos fazer
um sorteio e não quero nenhuma
reclamação! — Alertou aos alunos,
adotou o sorteio porque achava uma
injustiça que faziam com Salvatore o
excluindo de tudo. Bryan estava com os
dedos cruzados desejando veemente
que que a novata fosse sorteada para
fazer dupla com ele, tinha ficado um
tanto interessado na jovem. — Estêvão
Salvatore e Nayla Borges. —Anunciou
o professor após enfiar a mão em uma
cesta improvisada de gesso tirando
dois pequenos pedaços de papel muito
bem dobrados, foram a primeira dupla
a ser sorteada. Foi a partir desse dia
que começaram algo que iria muito
mais além da amizade, algo muito mais
perigoso. O que assustara bastante o
jovem pois tudo era muito novo para
ele. Mas sentia que ela era diferente e
realmente era. Tinha uma capacidade
incrível de ver o interior das pessoas,
observar o que de bom havia lá dentro.
Por isso, em pouco tempo, se tornou
popular pois tratava a todos de forma
igualitária. Sempre simpática e
principalmente educada e isso
chamava a atenção de todos,
principalmente de Bryan que não
estava gostando nem um pouco da
aproximação da mesma com Salvatore.
Perdê-la para “Edward, Mãos de
Tesoura” era inaceitável para o
enorme ego dele.
— Eu acho que gosto de você Estêvão!
— A jovem se declarou totalmente
envergonhada, fazendo a pele escura
tomar um tom envermelhado. Ele sentiu
alguma coisa, que não soube decifrar.
Não esboçou nenhuma reação, segurou
a sua mão mantendo o olhar fixo para
o horizonte. Durante os meses que
passaram juntos, o conhecia bastante
para saber que queria dizer com aquele
pequeno gesto que também gostava
dela. Estavam sempre juntos, mas foi a
primeira vez que deixou que a moça o
tocasse, tinha problemas com contato
físico. Estavam sentados em um banco
de madeira em frente o lago do Green
Park, a grama estava verdinha com
flores crescendo para todo lado, a
Primavera no auge da sua formosura.
“Nay”— assim ele a chamava. —
Estava num vestido azul florido,
debaixo de um casaco vermelho. O
cabelo solto, Estêvão gostava assim,
não que tivesse lhe dito, mas a moça
percebeu isso quando ele a olhava.
— Gostaria de ir ao Baile da
Primavera comigo? — As palavras
escorregaram da boca de Salvatore sem
que o próprio percebesse.
— Seria um prazer Estê! — Respondeu
sorridente chamado pelo apelido que
inventou, que ele odiava. Nay se
surpreendeu quando um vento gélido
soprou, Salvatore colocou o capuz e a
puxou para os seus braços para que
não sentisse frio. Se assustou ao
perceber como tinha a pele fria, mais
que o próprio vento! No dia do tal
baile, Nayla estava radiante dentro de
um vestido salmão, era tomara que
caia, longo e seguia fielmente as
curvas do seu corpo até a base da
cintura, depois ia abrindo dando um
efeito lindo à peça. Para dar um
charme a mais calçou luvas pouco
acima dos cotovelos. Fez um coque
alto, com alguns cachos soltos e uma
maquiagem bem suave completava seu
look. Entrou de mãos dadas com
Estêvão, que estava impecavelmente
elegante dentro de um terno preto
muito bem alinhado. Depois de muitos
anos, era a primeira vez que saía sem a
capa. Depois de ter conhecido Nayla,
não precisava mais se esconder do
mundo.
— Quer dançar? — Ela perguntou com
um sorriso tão grande que não teve
como dizer não, foi apenas para
agradá-la, pois seu sexto sentido dizia
para não ir. Por incrível que pareça
sabia dançar muito bem, a rodopiava
como uma princesa por todo salão.
Vinha de família nobre, os Salvatore
tinham sangue azul. Tinham uma
fortuna incalculável, donos de um
Castelo e do Condado todo em volta
dele.
— Eu nunca gostei tanto de alguém
como gosto de você, Estêvão, estar ao
seu lado só me faz bem! — Tinha a
cabeça deitada sobre o seu peito,
escutando-lhe o coração batendo
rapidamente.
— Estar com você me faz bem, Nayla,
me faz sentir humano! — Dessa vez não
ficou calado, o que sentia era forte
demais para guardar apenas para ele.
— Pegou na mão da moça e a rodopiou
no ar, era uma cena tão linda de se ver
que se fosse o tipo que sorria teria
soltado um sorriso dos grandes. Mas
não era, nunca sorria, na verdade.
Pararam de dançar e ficaram se
encarando por um bom tempo, foram
aproximando os lábios sem parar de se
olharem. Estavam ofegantes esmo sem
se tocarem, ambas partes ansiavam
para que aquilo acontecesse. Nenhum
dos dois havia beijado antes, estavam
esperando a pessoa certa. Na verdade
Estêvão pensava que não existia
ninguém para ele, que nasceu para
viver sozinho.
— Nayla, poderia vir aqui um
minutinho? — Chloe, a irmã de Bryan
apareceu do nada impedindo o beijo
deles, parecia ser até de propósito.
— Desculpe Chloe, agora não posso!
Estou ocupada! — Olhou para o seu
par de forma maliciosa, porém,
inocente.
— Por favor, realmente é muito
importante! — Implorou e para acabar
com aquilo logo, resolveu ir. Depositou
um beijo no rosto do jovem, adorava a
temperatura naturalmente fria do
corpo dele. — Me espere aqui, volto
logo! — Deu uma piscadela e saiu.
Assim que sumiu da vista dele, as luzes
se apagaram e a música
misteriosamente parou.
— “Edward, Mãos de Tesoura”. —
Gritavam em um coral, entre risos e
gargalhadas. Quando as luzes se
acenderam estavam todos com bexigas
cheia de tinta de várias cores, que
começaram a arremessar sobre ele. O
primeiro foi Bryan, acertando
maldosamente bem no rosto do jovem.
Foram tantas que que nem conseguiu
se manter de pé, o mais assustador era
o som das gargalhadas. Estavam se
divertido às custas dele, mas porque se
nunca fiz mal a ninguém? Perguntou-se
ainda caído. O que Estêvão precisava
aprender é que não precisava fazer
nada contra ninguém para ser odiados,
bastava ser diferente. Olhou para todos
os rostos presentes tentando achar
Nayla, mas não a encontrou. Ela o
havia abandonado, ou pior, estava em
meio àquilo tudo. As luzes piscaram
por duas vezes, na terceira ele havia
simplesmente desaparecido. Nunca
mais ninguém ouviu falar nele, muito
menos Nay.
— Não! — Gritou Estêvão depois de
acordar de mais um pesadelo.
Ultimamente vinha tendo o mesmo
repetidas vezes. Sumiu no mundo para
ver se esquecia o ocorrido, mas não
importava onde ia, sempre trazia
consigo a lembrança desse dia
horrível. Entrou para vida do crime
depois disso, era mais fácil viver se
escondendo assim. A noite era chuvosa,
estava suado e com a respiração
ofegante. Ouviu batidas na no vidro
da janela, levantou e foi andando até
ela.
— Olá, garoto! — Disse ao corvo, que
assim como as lembranças, o seguia
aonde quer que fosse.
CAPÍTULO 3
Jesse lançou os olhos como uma flecha
em direção aos de Blade, intrigada.
Nunca tinha visto olhos tão expressivos
em toda sua vida. A cor era indecifrável,
o que os faziam mais atraentes ainda. As
botas de couro puro, servindo como
esconderijo para a calça jeans
desbotada, moldando as pernas bem
definidas em anos de academia, ela
supôs. Camisa branca de mangas curtas
colada ao corpo, deixando evidente os
músculos de dar inveja a qualquer um.
Embora Carter detestasse barba por
fazer, em Blade parecia ressaltar uma
beleza avassaladora. Era perfeito, ainda
mais tão poderoso com duas pistolas de
ouro puro em mãos, que lhe dava um
poder descomunal. Mas também era o
homem mais sério e distante que vira na
vida. Podia ser belo, mas tudo o mais
nele dizia "não me toque". Era perfeito,
porém, "intocável". Ainda mais para
alguém tão insignificante como ela, ele
não a deixaria chegar nem perto.
— Soltem as armas e se afastem dela,
que talvez não machuque muito vocês!
— Ameaçou com a voz perversa
fazendo os homens tremerem de medo.
— Boa noite para você também,
Maldonado!
— Jesse arregalou os olhos apavorada
ao ouvir o dono do bar falar o
sobrenome dele, estava diante do último
dos Maldonado! Sim, ela estava! O
mafioso tinha a atenção para o montante
de notas de cem dólares sobre a mesa do
seu escritório. Conhecia Blade há muito
muito tempo, era cliente frequente, vinha
ali para extravasar a raiva de uma forma
bastante diferente das pessoas normais.
Tinha vindo ao bar para isso, mas teve
seus planos arruinados ao ver a policial
atrapalhada que salvara a sua vida
sendo arrastada para o fundo do
estabelecimento por dois seguranças.
Em outra ocasião nem se importaria, só
que quando se deve algo, o pagamento
deve acontecer.
— Você sabia que essa putinha é uma
tira? — O dono do bar perguntou
debochando.
— Eu sei! — Respondeu Blade com a
voz grave, sensualmente grossa.
Arqueou uma sobrancelha, desviando o
olhar para a investigadora incomodado
com aqueles olhos grandes e escuros
lacrimejando sobre ele. A moça corou,
mas só um pouco. Porém, o suficiente
para que o mesmo notasse. Jesse
respirou fundo várias vezes para segurar
o mar que estava se formando em seus
olhos, fechou-os com força acreditando
fielmente que quando os abrisse não
estaria mais naquela situação
apavorante. Seu pai a proibiu de chorar,
disse que era coisa de gente franca.
— Sabe e mesmo assim está
defendendo-a? Os ossos do seu pai
devem estar se revirando no túmulo de
tanto desgosto, essa raça ruim mata
nossa gente sem pensar duas vezes,
você, melhor do que ninguém deveria
saber disso, Blade.
A investigadora mais uma se arrepiou
toda vez ao ouvir o apelido de
Maldonado, afinal Blade não era seu
nome legítimo. No mundo do crime os
filhos usavam um apelido escolhido
pelo pai e o sobrenome da mãe. Seu pai
escolheu esse apelido do personagem
principal do seu livro favorito "Blade, o
Caçador de Vampiros" e seu sobrenome
herdou da mãe, Claulin Maldonado.
Caso ocorresse alguma emergência
poderia recomeçar a vida em outro lugar
usando o nome verdadeiro juntamente
com o sobrenome do pai. Ninguém sabia
a verdadeira identidade de ninguém,
isso era um verdadeiro mistério entre
eles.
— Solte-a e eu pouparei a vida de
vocês! — Deu uma última chance a eles,
olhando para Jesse discretamente
através do canto dos olhos para ter a
certeza que estava realmente bem, sentiu
o sangue ferver quando notou o quanto a
jovem estava envergonhada tentando
inutilmente cobrir as partes do corpo à
mostra através dos rasgos feitos pelos
os seguranças. Trincou os dentes tomado
pelo ódio imaginando o que poderia ter
acontecido caso não tivesse vindo ali,
começou a sentir raiva principalmente
dela por ser tão tola a ponto de vir
naquele lugar perigoso sozinha. Teria
sido melhor dar um tiro na própria
cabeça, morreria com menos sofrimento.
— Você se acha não é mesmo, Blade?
Caso não tenha percebido estamos em
cinco, se respirar errado, te enchemos
de tiros. Se quiser, pode ficar daí
olhando a gente se divertir com a ratinha
assustada, não sei porque, mas agora
estou com mais tesão nela ainda. —
Puxou Jesse pelos cabelos, envolvendo
as mãos em sua cintura, virando-a de
costas para ele contraindo sua ereção na
bunda dela. Assustada com aquilo ela
começou a chorar desesperadamente, de
uma forma tão dolorosa que fez
Maldonado perder a razão.
— Vou contar até cinco, se não a soltar
estarão todos mortos num piscar de
olhos! — Apontou a arma para a cabeça
de dois deles, um era o que segurava
Carter de forma totalmente
desrespeitosa. — Um... — Começou a
contar e ninguém se mexeu... — Dois...
— Os homens começaram a ficar
apavorados, sabiam bem a fama que
Blade tinha em relação a sua agilidade
com as armas... — Três!
— Ela nem é tão bonita assim, cara,
entrega a moça para o Maldonado! —
Exclamou o homem de aproximadamente
quarenta e cinco anos, o mais velho de
todos. Estava sem camisa, segurando as
calças morto de medo. Sabia muito bem
que lhe restava apenas dois segundos de
vida caso não entregasse o que Blade
queria, iria matá-los em um piscar de
olhos.
— Não! Ela só sai daqui depois que for
minha, vou usá-la de todas as formas
possíveis! — Gargalhou de forma
macabra, a partir desse momento
independente do que acontecesse
Maldonado o mataria de qualquer jeito.
— Cinco! — Blade ansioso para dar um
tiro no meio da testa dele, pulou o
número quatro.
— Não! Por favor! — Gritou Jesse
abrindo os braços o impedindo de atirar.
O homem fora da lei a fuzilou com olhar
duro. Além de achá-la uma tola, agora
pensava que era louca também. — Não
quero que mate ninguém por minha
causa, não conseguiria viver com isso.
—Exclamou a investigadora devastada,
independentemente das circunstâncias,
jamais aceitaria que alguém morresse
para salvar a vida dela.
— Ótimo! — Blade deu de ombros, e
guardou as armas na cintura. Virou as
costas e foi embora sem nenhum pingo
de remorso, agora ela não era mais
problema dele.
— Para! Eu não quero! — Blade
paralisou na porta assim que ouviu os
gritos da investigadora, não tinha mais
comando sobre o próprio corpo. Sua
mente queria ir, mas suas pernas não se
mexiam. Sacou as armas novamente, não
se ouviu nada mais naquela sala além de
tiros e mais tiros. Jesse nem ouviu,
havia desmaiado quando um dos homens
rasgou o resto da sua blusa de forma
grotesca deixando-a apenas de sutiã.
Quando acordou, algumas horas depois,
estava deitada sobre uma cama enorme,
coberta por uma jaqueta preta de couro
masculina com um cheiro maravilhoso
do perfume Giorgio Armani, um dos
mais caros do mundo. Só conhecia o
mesmo porque a amiga Nayla ganhou um
do próprio Giorgio quando desenhou
uma coleção para a marca, ficou louca
quando sentiu o cheiro não gostava de
perfumes femininos, os achava doces
demais e muito enjoativos. Infernizou a
amiga até presenteá-la com ele, usava
pouquinho para economizar, afinal,
nunca na vida teria outra oportunidade
de ter uma raridade daquelas. Em um
quarto estranho, mas muito chique por
sinal, os poucos móveis que tinha dava
para notar que eram caros. Perfeito! Não
a decoração, completamente neutra e
vazia. As paredes estranhamente
pintadas de preto, porém,
estrategicamente realçava a constelação
inteira pintada no teto. Talvez fosse essa
a intenção, dar mais veracidade à
pintura. Quem deitava de barriga para
cima, poderia dormir admirando aquela
imagem perfeita das estrelas cobrindo o
céu como um manto. Mas o que era lindo
mesmo, era a enorme vista da iluminada
cidade de Los Angeles. Porém, bem
longe, muito abaixo do local onde
estavam. Como não havia cortinas, a
pessoa que dormia naquele quarto
deveria gostar de deitar e ficar olhando
para aquela imagem por horas até pegar
no sono. A casa ficava no topo de
alguma montanha ou algo parecido,
longe de tudo. O mais interessante, duas
janelas enormes ao invés de uma na
sala, o que seria o normal. Ela se
perguntou confusa como chegara ali, não
lembrara como veio parar naquele lugar.
A primeira coisa que fez foi abrir o
botão da calça e verificar se tinham
tirado dela algo que estava guardando
para entregar na hora certa, para a
pessoa certa. Suspirou aliviada ao
perceber que sua pureza continuava
intacta, não havia nenhum sinal de
violação. Perdeu todo o ar quando viu à
esquerda um homem sentado em uma
mesinha de canto, de costas para ela
exibindo os músculos bem definidos
principalmente dos braços fechados por
tatuagens que Jesse conhecia muito bem.
O visual de suas costas era tão bom
quanto a frente, constatou admirando a
bela visão. Blade estava totalmente
concentrado limpando o cano da sua
pistola, com muito cuidado passava um
pequeno pedaço de flanela de algodão
na peça, dando leves assopros dentro do
cano para varrer qualquer tipo de
pólvora que tivesse.
— Está com fome? — Jesse arregalou
os olhos surpresa, como sabia que ela
havia acordado se não tinha olhado para
trás e continuava entretido no que estava
fazendo.
— Não, obrigada! — Respondeu com a
voz trêmula, abaixando o olhar
envergonhada. Puxou a jaqueta mais
para cima para tapar o corpo, enfim
tomando ciência que estava seminua em
uma casa estranha, presa no quarto de
homem armado até os dentes. Fora que a
essa altura o pai dela estaria louco à sua
procura e quando a encontrasse estaria
perdida nas mãos do Major. Sua maior
preocupação era com a mãe, Maria
Joaquim era a paixão de sua vida.
Mulher de fibra, que sempre a defendeu
com unhas e dentes. Nunca a julgou
pelas suas escolhas, a apoiava mesmo
quando suas atitudes não eram do seu
agrado. Indo muitas vezes contra a
vontade do marido, viviam brigando por
causa dela.
— Não se preocupe, Jesse! — A
investigadora nunca achou o seu nome
tão bonito como naquele momento,
aquela voz grossa, incrivelmente
atraente, deu uma versão única a ele.
Erótico seria a definição exata.
— Sua irmã ligou umas dez vezes,
mandei uma mensagem dizendo que iria
passar a noite na casa de uma amiga. —
Explicou calmo, visivelmente sem
paciência com aquela situação.
Nunca ninguém que não tivesse o
sobrenome Maldonado havia pisado
naquela casa antes, não fazia a mínima
ideia do porquê a trouxe para o seu
esconderijo. E isso o irritava
profundamente, de uma forma absurda.
Sem dizer nada, levantou e caminhou até
a porta esbanjando testosterona por toda
parte. Era homem com H maiúsculo, sua
virilidade emanava pelo ar, a coisa mais
excitante que Jesse vira em toda sua
vida.
— Pode se limpar se quiser. —
Exclamou antes de atravessar a rústica
porta de madeira, a policial entendeu o
recado ao ver uma toalha e uma camisa
grande branca, provavelmente dele
sobre o pequeno móvel ao lado da cama,
tinha pensado em tudo. Esperou um
tempo para ter certeza que ele tinha
realmente partido, pegou o que
precisava para o banho e saiu a passos
cautelosos a procura do banheiro, que
era na verdade uma suíte. Parou para
observar atentamente se perguntado o
porquê de um banheiro tão grande? Fora
o monte de prateleiras de cosméticos
para higiene pessoal de todos os tipos e
marcas, uma pilha de toalhas brancas
muito bem dobradas e cheirosas, sobre a
pia uma loção pós barda com um cheiro
amadeirado viciante. Além disso uma
banheira espaçosa bem no meio, grande
o suficiente para duas pessoas. Para ela
os bandidos nem tomavam banho, mas
aquele homem chegava a ser exagerado
no quesito limpeza. Carter estava
conhecendo um lado dos criminosos que
não espera, eram limpos e organizados,
pelo menos aquele que conheceu era.
Antes de abrir o box de vidro
transparente, trancou a porta com a
imagem dele nu debaixo daquele
chuveiro enorme com a água caindo
sobre aquele corpo escultural todo
tatuado pairando sobre a sua mente, não
conseguia evitar. Balançou a cabeça
para afastar os pensamentos
pecaminosos, tomou um banho frio e
rápido, mas suficiente para lavar os
cabelos que estavam mais rebeldes que
o normal. Estava se sentindo suja,
chorou com os olhos fechados debaixo
da ducha lembrando do homem nojento
tocando o seu corpo. Quando terminou
voltou às pressas para o quarto, mesmo
a camisa dele sendo incrivelmente
confortável e cheirosa não cobria nem a
metade da bunda dela, por isso se enfiou
debaixo do lençol. Trinta minutos depois
Blade voltou com uma bandeja nas
mãos, sobre ela havia um prato com filé
de peixe grelhado, no ponto certo. Do
lado dois bloquinhos de arroz enfeitado
com duas folhas de hortelã e por último,
brócolis. Uma quantidade
exageradamente grande, analisou ela.
Um copo grande de suco natural de
laranja. Colocou no colo da moça que
tremia sem parar. A distância entre os
dois era pequena demais, se erguesse a
mão poderia tocá-lo.
— Obrigada pela gentileza, mas não
estou com fome mesmo! — Jesse quase
não comia nada, tinha problemas graves
com ansiedade, o que resultava na perda
do apetite.
— Vai comer! Nem que para isso eu
tenha que alimentar você! —Sentou na
beirada na cama, lhe lançando um olhar
frio, sabia ser mal quando queria.
Deixando bem claro que não estava para
brincadeira. Maldonado não gostava de
ser contrariado nunca.
— Não pode me obrigar a fazer o que
não quero! — O encarou corajosa, mas
desviou o olhar logo. E corou, mesmo
com a pele escura, foi mais que o
suficiente para demonstrar que estava
envergonhada. Nunca tinha visto olhos
tão lindos, eram indecifráveis e
exóticos. — É o que você pensa! —
Respondeu ameaçadoramente, o que fez
Jesse se encolher assustada, achando
melhor não bater de frente com ele. Em
total silêncio levou a pequena mão até a
bandeja na intenção de trazê-la para
mais perto de si, mas ele a impediu.
— Abra a boca! — Ordenou. Irritada
virou o rosto para o lado, não era
nenhum bebê para receber comida na
boca. "Eu posso muito bem me
alimentar sozinha, não precisa me
tratar como inválida" , o respondeu
mentalmente nervosa.
— Eu sei que pode! — Respondeu mais
uma vez como se pudesse ler os
pensamentos dela, enquanto partia o
peixe em pequenas tiras com um punhal
pontiagudo que tirou ela não fazia ideia
de onde, em vez de usar um garfo pegou
um pedaço na ponta dedos e
sensualmente levou até a boca carnuda.
O peito dela fazia movimentos cada vez
mais acelerados de sobe e desce. Estava
visivelmente nervosa. Ele era lindo
demais e a atraía de uma forma
avassaladora.
— Mas vou alimentar você hoje! —
Aproximou o pedaço de peixe aos
lábios da moça, que automaticamente
abriu a boca para receber o alimento.
O homem fora da lei sentiu uma corrente
elétrica passar por todo seu corpo ao
sentir o calor da respiração dela ao
tocar o seu dedo, ainda mais quando
tocou a parte inferior dos lábios
molhados de Jesse. Eram quentes e
macios, uma combinação perfeita,
quando a jovem chupou a ponta dele sem
querer de forma sexy, teve certeza, o
gemido que soltou involuntariamente era
evidência disso. Imediatamente tirou os
dedos da sua boca, de um jeito quase
bruto. Blade olhou para ela sentindo
uma coisa que não era do seu feitio
sentir, culpa. A moça havia se encolhido
toda, tentando se esconder ao máximo
que podia debaixo do lençol. Piscando
várias vezes com os cílios longos para
não marejar os olhos, fazendo um
beicinho lindo com vontade chorar. Foi
então que reparou como a jovem era
frágil, tão delicada como uma flor. Tinha
o corpo tão pequeno e magro que dava a
impressão que poderia quebrar caso
fosse apertado com muita força, tentou
não olhar para os seios dela soltos
debaixo da sua camisa molhada por
conta da água que escorria do cabelo
longo, mas enxuto e cheiroso. Mas foi
em vão, os seus olhos pareciam ter vida
própria. Eram pequenos e firmes,
totalmente diferentes do jeito que
gostava. Porém, assim mesmo não
conseguia tirar os olhos deles.
— Não vou machucar você, Pequena! —
Encarou-a intensamente, agora seus
olhos estavam cor de jacinto. Um azul
rústico, hipnotizante. Era a primeira vez
que ficavam daquela cor, a coisa mais
linda do mundo. — Não precisa se
esconder de mim, sou mau só com que
eu quero. — Continuou a encará-la de
uma forma envolvente, nenhuma mulher
resistiria àquilo. — E você não é uma
delas. — Deu uma pequena pausa, as
duas esferas azuis como o céu se
dilataram. — Pelo menos por enquanto!
— Completou sombriamente.
— Não tenho medo de você! — Falou
tão baixo que Blade quase não ouviu,
sua voz era suave e extremamente doce.
— Pois deveria ter! — Soou totalmente
como uma ameaça. — Na história da
Chapeuzinho Vermelho eu sou o Lobo
Mau e você sabe o que ele faz com ela,
não sabe? — Jesse não sabia se era para
respondê-lo ou se era uma pergunta
retórica. Tinha o raciocínio lento,
demorava para entender as coisas,
principalmente as pessoas.
— Ele a devora?! — Resolveu
responder, ainda por cima errado. Mas
era tarde demais para corrigir, como
sempre tinha falado demais.
— Lentamente!!! — Respondeu
malicioso. Levou o polegar a própria
boca para limpar o resto do pedaço de
peixe que ficou nele, sem tirar os olhos
dela. O clima no ar ficou tenso, o
silêncio predominou naquele quarto.
Para aliviar um pouco o ar pesado,
Jesse resolveu tentar algum tipo de
diálogo, por mais estranho que fosse.
— Você matou aqueles homens maus? —
Perguntou igual uma criança assustada.
Ele podia ver a culpa se formando em
gotas dentro dos belos olhos escuros e
isso o incomodou bastante.
— Não! Mas prometo que não vão
conseguir ficar de pé por um bom tempo,
ter filhos um dia muito menos! — Jesse
olhou para ele pasma, a calma que o
mesmo relatava tais palavras era a
mesma de um monge meditando. — Você
disse para não matar, mutilar é bem
diferente! — Explicou, naturalmente,
enquanto pegava outro pedaço de peixe,
levando à boca dela novamente, mas de
um jeito que não tivesse muito contato
físico, já tinha se arriscado demais da
primeira vez.
— Obrigada! — Agradeceu sorrindo
timidamente. — É bom saber que
ninguém precisou morrer para que eu
vivesse, isso me deixa imensamente
feliz. — Abriu um sorriso maior ainda,
um daqueles que iluminava tudo em
volta. Todo mundo fica bonito com uma
luz em volta, no caso de Jesse era
diferente, vinha de dentro. Foi então que
Blade percebeu o poder que um sorriso
tinha, ainda mais quando saía
naturalmente, sem planejar. Sorrisos
bonitos conquistam, mas os tímidos
conquistam mais. Na opinião do bandido
o de Jesse tinha as duas características,
era simplesmente radiante.
CAPÍTULO 4
— Porque está me olhando assim? —
Perguntou Jesse confusa pela forma
intensa com que Blade olhara para ela,
chegava a ser assustador. Ajeitou o
travesseiro nas costas, abraçando as
pernas como se quisesse se proteger.
— Não iria gostar de saber. —
Respondeu misterioso, totalmente
nebuloso. Fitou o cordeirinho assustado
diante de si, tinha um rosto angelical.
Observou os cílios longos que
espanavam feito um leque indiano
dando-lhe uma aparência de boneca, de
fato parecia uma, cobrindo os olhos
grandes e expressivos que miravam para
todos os lados, menos na direção dele.
Não conseguia olhar nos olhos de
ninguém, era extremamente tímida.
Carter não tinha mais onde se esconder,
estava toda encolhida como um gato
molhado em um dia sem sol. Ficou
magoada com a resposta de Blade,
deduziu que se não gostaria de saber
com certeza não se tratava de coisa boa.
Mas não era bem assim como ela
pensava, não mesmo.
— Não se preocupe, você não é o
primeiro a olhar para mim estupefato
pensando que sou estranha ou burra, já
estou acostumada com as pessoas me
julgando de forma tão exasperada e
crítica apenas por conta da minha
aparência. — Respirou fundo distraída
passando a ponta dos dedos sobre o
lençol de seda pura, nunca tinha tocado
algo tão luxuoso e macio. Cada gesto de
Jesse era vigiado pelos atraentes olhos
de Maldonado que naquele momento
estavam azul cor de jacinto, só ficavam
dessa cor quando estava perto dela, um
tom novo para a coleção de tons que
fazia suas duas esferas serem
indecifráveis.
— Não deveria! — Tinha a voz grave,
porém, com um tom alterado. Tinha a
respiração irregular, ela o deixava
nervoso. Estava sentado no lado direito
da cama, em um ângulo de noventa
graus, a uma distância
consideravelmente segura para que não
tivesse nenhum contato físico com a
moça novamente, isso seria perigoso
demais... para ela. —Pessoas burras não
costumam dizer estupefato! — Ele mexia
compulsivamente no punhal que estava
em suas mãos, girando-o na palma da
mão como uma espiral, o mesmo que
usou para cortar o peixe. Do nada
arremessou o objeto sobre um alvo
fixado na parede, sendo que as
divisórias eram da maior para o menor
seguindo a ordem das cores laranja,
amarelo, azul e vermelho onde acertou
em cheio bem no meio. Sua intenção era
chamar a atenção da investigadora,
odiava não ter contato visual com uma
pessoa quando estivesse falando com
ela, em especial aquela desconhecida
deitada em sua cama, onde nenhuma
outra mulher havia encostado antes,
tinha um lugar próprio para satisfazer
seus desejos carnais, onde o pecado e a
luxúria reinavam. Mas Jesse recusava a
encará-lo, nem em sonho faria isso.
Tinha dificuldade de olhar nos olhos das
pessoas, principalmente nos dele.
— Só porque sei algumas palavras
difíceis não quer dizer que eu seja
inteligente, Senhor! — Na verdade não
sabia muitas. Havia lido aquelas em uma
matéria no jornal e achou interessante,
então esperou um momento propício
para usá-la, por isso saiu de forma tão
natural. Queria que seu pai estivesse
presente para ver que também sabia ser
inteligente, às vezes. Mas logo descartou
essa ideia, o Major não iria gostar de
saber que a primogênita estava na casa
do criminoso mais famoso da
atualidade, deitada seminua em sua
cama, ainda por cima totalmente atraída
por ele. Como não estar? Pensou ela,
não que nunca vira outro homem
irresistível antes, porém, a beleza de
Blade chegava a ser surreal. E não era
só física, atrás daquele monte de
músculos havia um coração batendo.
Mesmo que em um ritmo lento e
descompassado, mas tinha. Era
inteligente, pela postura ereta, culto
também. Mas o que aconteceria se
descobrisse qual era o seu sobrenome?
E o peso que carregava de ser a filha do
policial envolvido na emboscada do
casal Maldonado, pais de Blade? Tinha
medo só de pensar na reação dele, com
certeza a mataria na mesma hora.
Cresceu ouvindo como o genitor era um
herói, mas o próprio não tocava no
assunto, como se não tivesse orgulho de
ter participado daquilo, e não tinha
mesmo.
— Porque se autoflagela dessa forma?
— Perguntou incisivo, não era homem
de meias palavras, foi direto ao ponto,
ela se sentindo ofendida ou não. — Se
não vir coisas boas em você, ninguém
mais verá. — O bandido pigarreou para
diminuir a repentina tensão entre os
dois, que chegava a ser palpável. Jesse
desviou o olhar, encabulada com a
constatação dele.
— Não me autoflagelo, Senhor, apenas
não me iludo! — Apertou mais os
braços em volta das pernas, aquele
assunto a fazia sentir-se acuada.
— Está fazendo novamente! —
Resmungou irritado.
— Fazendo o quê? — Perguntou
confusa, mais que o normal.
— Agindo como uma adolescente idiota!
— Foi desnecessariamente grosso. —
Posso sentir o cheiro da sua inocência
de longe. — Ela preferiu não pensar no
que Blade queria dizer com aquilo, mas
no fundo sabia muito bem.
— Eu não sou nenhuma santa, Senhor
Maldonado, não mesmo! — Poderia não
ser, porém, chegava bem perto. — Já
roubei uma vez! —Confessou deixando-
o pasmo, se ela não tinha jeito para
policial, muito menos ladra.
— E o que você roubou? — Cruzou os
braços ressaltando os músculos, Jesse
reparou que no braço esquerdo, acima
do cotovelo, havia uma tatuagem do
rosto de uma mulher muito bonita rindo
espontaneamente, se perguntou quem
seria ela? Com certeza alguém muito
especial para merecer estar gravada no
corpo intocável dele. Blade franziu o
cenho interessado, realmente estava
curioso para saber o que um anjo
roubaria.
— Eu fui visitar o túmulo da minha avó.
— Blade pensou que era pior do que
imaginava, nem ele nunca havia roubado
gente morta antes. —Percebi que os
túmulos das famílias ricas tinham mais
flores do que as das pobres, dividi as
que tinha levado para minha avó com
eles, mas eram muito túmulos então... —
Deu uma pausa, como se fosse contar
que matou um padre ou coisa pior. Pelo
canto dos olhos reparou como ele
parecia relaxado naquele momento,
havia inclinado o corpo sobre cama se
acomodando melhor para ouvi-la, seus
ombros pareciam mais largos naquela
posição, um corpo que ficaria bem
dentro de qualquer roupa. — Pedi
permissão para o morto se poderia
pegar algumas flores para o colega do
lado, expliquei direitinho que assim ele
não iria se sentir abandonando. Então
peguei algumas, pensei que não se
importaria por ter muitas, mas deixei as
mais bonitas. — Disse como se o
defunto se importasse com isso. Agora
além de tola, vai me achar louca por
conversar com mortos. Ela se torturou
mentalmente, odiava quando as pessoas
olhavam para ela como se fosse a
pessoa mais estranha do mundo.
— Você não roubou, já que pediu antes!
— Constatou óbvio, na tentativa de
diminuir um pouco a culpa eminente nos
olhos dela.
— Não foi o que a família deles pensou
depois, Senhor, nem o meu pai quando
me levou à casa de cada um deles para
pedir desculpas, na época tinha apenas
dez anos. — Encolheu-se ao lembrar,
ele percebeu que fazia isso quando
estava com medo. — Além de apanhar,
fiquei de castigo por duas semanas. —
Completou com a voz arrastada.
— Blade! — A voz grave ecoou no
lugar, a coisa mais sensual do mundo,
pelo menos era para Carter. — Esse é
meu nome, não "Senhor"! — Soou mais
como uma advertência do que como uma
constatação. O fora da lei havia ficado
incomodado com a formalidade com que
a moça se referia a ele, era visível a
diferença de idade entre os dois, mas
nem tanto assim para ela falar com ele
como se fosse um idoso.
— Como eu estava dizendo, Blade, —
Ele chegou a engolir em seco ao ouvir o
seu nome naquela voz doce, não
cansaria de ouvir, nunca. —
Conhecimento é completamente
diferente de sabedoria, afinal este
qualquer um pode adquirir através de
bons cursos e especializações em várias
áreas, agora o complicado é ter
discernimento para saber como usá-lo
sabiamente e de forma útil para si e
principalmente para os outros. —
Explicou-lhe, tirando delicadamente um
cacho teimoso que insistia em cair sobre
o rosto frágil, um gesto tão simples, só
que tentador para um certo caçador que
tinha os olhos furiosos feito os de um
gavião captando cada movimento da
presa. Ela era atraente e frágil, uma
combinação perigosa para Maldonado.
Aquela cena era realmente como colocar
a Chapeuzinho frente ao Lobo Mau, onde
o seu único pensamento era devorá-la da
forma mais feroz e prazerosa possível.
— Cuidado para não confundir modéstia
com autopiedade. — Jesse olhou para
ele reparando as costas largas, única
parte do corpo onde não havia tatuagens,
queria perguntar o porquê, mas não o
fez. Continuou a observar o corpo
atraente do bandido, que no momento
tinha os olhos vagando por outra parte
do quarto pensando no porquê ainda
estar tendo aquela conversa estranha
com uma policial, raça inimiga da sua
família, a situação só não era pior
porque Maldonado não vira o
sobrenome da moça no uniforme, essa
parte, graças ao bondoso Deus, havia
sido rasgada. Então não tinha
conhecimento que era, justamente, a
filha de um dos policiais envolvidos na
morte dos seus pais. Podia se considerar
uma garota de sorte.
— Vitimismo não combina com
ninguém. — Completou com aquela voz
grossa infernal que fazia a investigadora
sentir como se borboletas tivessem
voando no seu estômago, as mãos
suarem e a respiração ficar
descompassada. Ficaram se encarando
por um tempo, um silêncio de palavras
não ditas torturantes pairava no ar. Até o
telefone de Blade tocar, salvando-a
daquela situação bizarra. Ele levantou
sensualmente dando um vislumbre das
suas belas costas, dava para ver
perfeitamente a ponta da cueca box
Calvin Klein aparecendo no cós da
calça da mesma marca, sempre fazia
questão do melhor. Não tinha estômago
para mediocridade e não economizava
quando assunto era agradar a si mesmo.
Caminhou com o celular iPhone 7, na
cor prata, finíssimo e com o desenho de
uma maçã mordida, atrás ao ouvido até a
grande janela de vidro, olhava a vista
enquanto prestava atenção na pessoa do
outro lado da linha.
— Você não sabe quem encontramos por
acaso em uma boate Blade. Só estamos
te esperando para dar uma boa lição
nesse X9 do Otávio Colins. Ele vai ter
que contar quem o pagou para armar
aquela emboscada para você, estamos
levando-o para aquela antiga fábrica de
cosméticos afastada da cidade. — Era
Julius, haviam conseguido pegar o
homem que armou para a Polícia pegar
Maldonado, agora o pobre coitado
estava perdido nas mãos deles, mexeu
com um, arranjou problema com todos.
— Estou indo! — Respondeu apenas em
um tom assustador, desligando na cara
dele como de costume. Os olhos
estavam acinzentados, refletindo sobre
coisas ruins que rondavam sua mente.
— Vai sair? — Perguntou Jesse
mordendo o lábio inferior, estava com
medo de ficar sozinha.
— Não é da sua conta! — Foi rude,
odiava quando invadiam o seu espaço!
— Desculpe-me! — Pediu com a voz
chorosa.
— Mas que inferno! Poderia parar de
ficar pedindo desculpas o tempo todo?
Isso me irrita profundamente. — Sua voz
estava menos alterada, mas o suficiente
para magoá-la.
— Eu vou parar, me descul... — Parou
antes de terminar a frase, ele pigarreou
alguns palavrões em protesto, o jeito
inocente dela chegava a ser irritante.
— Não se preocupe, voltarei logo! —
Tranquilizou-a. — Levarei você para
casa assim que o dia clarear. —
Concluiu.
— Vai sair com seus amigos? — Fez a
pergunta sem pensar se arrependendo
logo após, estava na cara que queria
saber se era com uma mulher.
— Pessoas sem caráter não têm amigos,
têm cúmplices! — Articulou enquanto
pegava as duas pistolas que estava
limpando sobre a pequena mesa de canto
e as colocou na cintura. — Não mexa em
nada, ou melhor, não saía da cama até eu
chegar! — Não pediu, mandou!
Ela apenas assentiu com a cabeça, não
tinha outra alternativa. E assim Blade
desapareceu pela porta. Depois de virar
de um lado para o outro na cama durante
quarenta e cinco minutos, Jesse pensou
que não teria problema nenhum se fosse
à cozinha beber um copo de água, não
gastaria nem cinco minutos para fazer o
trajeto de ida e volta sem tocar em nada
que fosse quebrável, principalmente
caro. Sem dificuldades tirou o enorme
cobertor de cima de seu corpo, fechou
os olhos para inalar o cheiro bom do
perfume do bandido que saiu de debaixo
dele, o aroma tomou conta das suas
narinas deixando-a totalmente em transe.
Além de lindo, charmoso e misterioso,
era limpo e cheiroso também, muito na
verdade. Puxou a camisa que estava
usando na tentativa inútil de não mostrar
o que não devia, não tinha certeza que
estava de fato sozinha na casa. Colocou
primeiro o pé direito no chão para dar
sorte, não sabia o que a esperava dali
em diante. Arrepiou-se toda quando os
dois pequenos pés tocaram o chão frio,
fez uma careta para não falar um
palavrão, era correta demais para
pronunciar coisas profanas. Deu um
passo atrás do outro lentamente até
chegar às duas portas ao lado da grande
janela de vidro, curiosa como era não
resistiu e teve que verificar onde a porta
da esquerda levaria. Então destrancou-a
sentindo o vento gélido da noite tocar o
seu rosto, uma sensação maravilhosa de
liberdade. Não demorou muito para
chegar a um terraço, com o que restava
do belo jardim que predominou naquele
lugar um dia. Jesse viu vasos de barro
por toda parte, alguns quebrados nas
bordas devido ao efeito do tempo e a
falta de cuidado.
— De que adianta alguém ter um terraço
desse tamanho, se não faz bom uso dele?
— Jesse se perguntou em voz alta,
indignada. Sua casa não dispunha de
tanto espaço como aquela, mas o pouco
que tinha no quintal a mãe Maria
Joaquin, caprichosa como era, fazia um
ótimo uso de cada sentimento, além do
pelo gramado verdinho que a mesma
cultivou com o maior zelo do mundo.
Havia pequenos canteiros exibindo
flores de todas as espécies e cores, que
perfumavam o ar. Jesse fechou os olhos
para lembrar-se do cheiro, achava
inspirador o aroma da natureza. Depois
caminhou com muito cuidado entre os
destroços pelo chão, realmente estava
uma bagunça, chegando à beira do
terraço deu uma pequena varredura em
volta da casa, não se via nenhuma luz
vizinha, era puro breu. De longe, bem
distante mesmo, viu as luzes de Los
Angeles tão pequenas como um enorme
exército de vagalumes brilhando.
Respirou fundo pensando em como
deveria ser bom poder morar em um
lugar como aquele, longe de tudo,
principalmente das pessoas. Não era
muito sociável, preferia viver na
solidão. Havia sido ferida demais na
vida, muito mesmo. Muitas dessas
feridas vieram de casa, não era fácil ter
o Major como pai, principalmente como
seu chefe, era cruel na hora de aplicar
os castigos, as marcas pelo corpo da
moça eram prova disso. Mas as piores
marcas eram as deixadas na alma,
quando, por covardia chegava a dizer a
ela, inúmeras vezes, que deveria ter
morrido ao nascer, para não ter dado
tanto desgosto a ele. Não soube ao certo
quanto tempo ficou admirando a vista, o
que era para gastar apenas cinco minutos
para procurar a cozinha e beber um copo
d'agua, já havia se passado horas
perdida em meio aos seus pensamentos.
Enquanto isso, do outro lado da cidade,
Maldonado chegou envenenado de raiva
à antiga fábrica de cosméticos, que
fechou porque havia pegado fogo
matando todos os funcionários
queimados vivos, que ficava bem longe
e encoberta por arbustos e trepadeiras.
Provavelmente a propriedade estava há
muito tempo abandonada e à noite era
um lugar assustador. Diziam até ser mal-
assombrado, realmente era assustador.
Menos para o grupo dos Homens sem
Medo, três dos integrantes estavam à sua
espera com o traidor de pé ao lado deles
com as mãos amarradas para trás. O
chinês o segurava firme, enquanto
Estêvão tinha uma de suas pistolas
antigas apontada para ele, já Julius
estava pendurado no celular dando uma
bronca em Bobbi por ter se esquecido
de tomar uma das vinte vitaminas, cada
uma responsável para ajudar o
desenvolvimento de uma parte diferente
do corpo, que obrigava o pobre rapaz
tomar desde que fora um garoto. Sendo
que agora o jovem agora estava
estagiando como advogado residente em
Washington, junto ao seu melhor amigo
Maxmilian, filho de John Thompson,
Juiz Chefe do Fórum. Blade não gostou
do fato de o irmão caçula ter se mudado
para outra cidade e gostaria ainda menos
quando soubesse que o mesmo estava
apaixonado pela irmã caçula de Max, de
apenas dezesseis anos. Pior que tudo
seria quando o Juiz descobrisse que a
filha, que ainda tratava como bebê,
também estava apaixonada pelo rapaz,
seis anos mais velho que ela.
— Por favor, não me mate, tenho dois
filhos pequenos para criar! — Implorou
Otávio Collins assim que viu Blade
vindo em sua direção, como se isso
adiantasse alguma coisa. Era um traidor,
independente do motivo. Alguém o tinha
pago para entregar a cabeça de
Maldonado aos tiras e o Homem fora da
Lei não sairia dali sem saber quem,
mesmo que tivesse que quebrar cada
osso do seu corpo para descobrir isso.
— Cada um com seus problemas! —
Exclamou Maldonado nada educado,
passando por ele sem nenhuma gentileza,
agarrando-o pelo pescoço e o arrastando
para dentro da fábrica. Não tinha
paciência, nem tempo para torturar as
pessoas, se não precisasse tirar essa
informação dele, teria lhe dado um tiro
bem no meio da testa assim que chegou.

— De nada, Blade! — Julius bufou


irônico, pois passou por eles como se
nem estivessem ali. Podia ter dito
apenas "Boa Noite!" — Pensou ele
magoado, tinha o coração mole feito
manteiga fora da geladeira no verão.
— Até parece que não conhece o
Maldonado! — Li respirou fundo
frustrado, depois de tantos anos juntos
se acostumou com o jeito distante dele.
— Vamos! Não tenho a noite toda! —
Rosnou Estevão sem paciência como
sempre, indo na mesma direção de
Blade seguido pelos outros dois. Estava
de mau humor devido ao pesadelo da
noite passada, não sabendo ele que o
sonho se tratava de um aviso de que as
lembranças do passado que tanto tentava
fugir, estavam mais perto do que
imaginava, há poucas milhas dali...
— Você tem duas escolhas! — Anunciou
Blade de um jeito assustador, prendendo
as mãos do Otávio sobre a cabeça em
um cano de ferro, utilizando uma corda
que ninguém fazia ideia de onde tirou, já
que não havia chegado com ela. — Mas
no final das duas terminará morto!!! —
O pobre homem de estatura mediana,
com gotas de suor descendo feito um rio
pelo rosto quadrado de traços rústicos,
não tinha um corpo repleto de músculos,
mas o suficiente para chamar a atenção
das mulheres quando passava na rua.
Era moreno do cabelo escuro, muito mal
cortado, costeletas e um bigode grosso
enrolado nas pontas, tipo anos sessenta,
as roupas antiquadas também lembravam
tal época. Principalmente porque elas
tinham cores gritantes, camisa vermelha
com um paletó cor de fogo por cima,
calça jeans boca larga e um sapato com
a ponta fina com pequeno salto atrás,
tudo muito estranho. Parecia ter sido
abduzido de umas daquelas baladas de
sábado à noite, só faltou o John Travolta
aparecer a qualquer momento.
— Já que vou morrer mesmo, não falarei
nada! Pode me torturar como quiser, seu
filho da puta, sangue ruim dos infernos!
— Se não tivesse urinado na calça, até
acreditariam naquela coragem toda.
Estavam em lugar sujo e frio, pelos
armários quebrados e o que restou de
uma mesa no centro, provavelmente se
tratava de um antigo escritório. As
paredes cheias de mofo e fungos, Julius
não parava de espirrar, era alérgico.
— É o que veremos! — Vociferou Blade
perverso.
CAPÍTULO 5
— Mortos não falam, Blade! Se
continuar nesse ritmo o cara vai acabar
morrendo. — Bufou Julius horrorizado,
não gostava de participar desses rituais
de tortura, estava com o estômago
embrulhado tentado andar na ponta dos
pés como uma bailarina para não
encostar nos dentes que Maldonado
havia arrancado, um por um e nas poças
de sangue espalhadas pelo chão.
— Deixe-o fazer o trabalho dele em paz,
se não aguenta, pede para sair! —
Esbravejou Estevão irritado, não
dispunha de paciência suficiente no
momento para as frescuras de Julius. Li
por sua vez, permanecia calado, sentado
sobre uma caixa velha com uma micro
câmera de última geração com imagem
3D de alta resolução, gravando tudo
com os olhinhos brilhando, adorava ver
o comparsa em ação. Havia socado tanto
o rosto de Otávio que o mesmo estava
irreconhecível, nem dava para ver os
olhos cor de mel debaixo de tanto
inchaço.
— Eu quero nomes! — Ordenou Blade
chegando o rosto próximo ao dele, o
coitado não tinha mais forças para se
manter de pé, estava pendurado,
balançando feito um sino. O objeto de
ferro revestindo os dedos de Maldonado
pingava sangue, o soco inglês estava até
meio torto de tanto trabalhar naquela
madrugada.
— Vai se ferrar, maldito! — Respondeu
com muita dificuldade, bem até demais
para quem tinha acabado de perder
todos os dentes.
— Resposta errada! — Maldonado
acertou a postura, inclinando o braço
direito para trás depositando toda força
nele e com apenas um golpe quebrou a
perna do homem ao meio deixando-lhe
com uma fratura exposta, o grito
agonizante foi assustador ecoando por
toda parte. Não achando suficientemente
o que fez, repetiu o processo com a
outra perna e ainda completou com um
soco bem dado do estômago de Otávio
fazendo o sangue jorrar feito as
Cataratas do Niágara em época de
chuvas.
— Está bem, eu falo! — Otávio por fim
se rendeu.
— Estou ouvindo! — Disse calmo,
cruzando os braços sobre o peito
másculo.
— Foram os tiras! — Blade arregalou
os olhos surpreso, não assustado.
Pensou que fosse algum inimigo do
mundo do crime, tinha muitos. — Você
está ferrado, cara, todos os bandidos
estão atrás de você, é uma pilha de ouro
ambulante. Um chefão da Polícia está
oferecendo uma recompensa milionária
por sua cabeça, cedo ou tarde
conseguirão te pegar e quero ver essa
cena de camarote, bebendo whisky com
gelo. — Soltou uma risada
maquiavélica.
— Só se for do quinto dos infernos! —
Blade deu um tiro certeiro bem no meio
da testa dele, espalhando seus miolos
por todo o lugar.
— Puxa! Agora que a coisa estava
ficando boa! — Argumentou Li, triste
com o fim do “Show de Horrores”.
— Larga de ser masoquista, China! —
Julius deu um tapa bem dado na nuca
dele.
—Vou mandar a conta da lavanderia
para você, Blade, essa é a terceira vez
que suja o meu casaco com os miolos de
alguém. — Estêvão imprecou alguns
palavrões tirando a peça. Antes de irem
embora teriam que dar um sumiço no
corpo.
Quando enfim Jesse se deu conta do
tempo que ficou no terraço, fez o
caminho de volta para o quarto às
pressas, só que mais uma vez deixou a
curiosidade falar mais alto e saiu
pensando em dar uma pequena olhada na
casa. Com cuidado abriu a porta para
certificar se o dono havia chegado,
percebendo que não, saiu em um
pequeno tour pelo extenso corredor com
o piso de madeira da lei escura que
conforme pisava nele soltava um
rangido, foi construído estrategicamente
pelo pai de Blade para anunciar algum
intruso indesejado quando estivessem
dormindo, o Senhor Maldonado se
tornava uma raposa astuta quando o
assunto era proteger sua família. Assim
que chegou ao topo da escada levou as
mãos sobre os lábios perplexa ao ver
como a casa era luxuosa, móveis de
modelos antigos, rústicos. A sala de
estar era espaçosa ostentando janelas
grandes de vidro, não havia cortinas,
afinal, não tinha vizinhos para "xeretar"
a sua vida. Dando apenas vista para as
imensas montanhas em volta, com uma
pequena mata ao seu redor. Assim como
no quarto, as paredes eram pitadas em
um tom de azul escuro, estranho,
horrível! Pensou ela. No centro um sofá
vermelho sangue revestido de material
macio de dois lugares, acompanhado por
duas poltronas na mesma cor em frente à
lareira, dentro havia uma pilha de toras
muito bem montadas. No chão um tapete
peludo bege, provavelmente para se
deitar sobre ele aproveitando o calor do
fogo. Jesse mais uma vez pensou em
como seria bom morar em um lugar
assim, tranquilo, confortável e
principalmente aquecido, já que sentia
frio à-toa. Imaginou também como seria
gostoso ver as gotas de água descendo
pelas grandes janelas de vidro em um
dia chuvoso. Mas o que mais lhe chamou
a atenção foi o quadro que tinha preso à
parede sobre um móvel no canto
esquerdo, ao lado de um minibar com
várias garrafas de uísque importado de
países como França e Alemanha, entre
outras bebidas. Parou em frente à
cômoda observando cuidadosamente a
imagem da mulher na tela, era a mesma
que estava tatuada no braço de Blade.
Mas ali a imagem estava completa,
estava sentada em meio a um jardim
lindo, pelas paredes no fundo pode
constatar que se tratava do terraço.
Sorriu percebendo que o lugar já foi um
dia do jeito que ela imaginou, e como
deveria ser sempre! Cheio de cores e
alegria, principalmente de vida. A
mulher era linda, especialmente o
sorriso. Sobre a cômoda também haviam
alguns objetos de enfeites, grande parte
femininos, o que a jovem achou bastante
estranho. Em especial uma caixinha de
música antiga, de ouro branco, com uma
bailarina em cima na ponta do pé
direito, era linda e delicada. O cabelo
preso em um coque severo no topo da
cabeça, uma colã cor de rosa com uma
saia arrebitada rodada de véu, tão
perfeita que parecia de verdade. Por
impulso levou a mão para apertar um
pequeno botão que ficava bem no meio,
fazendo a bailarina rodopiar de forma
tão leve que parecia flutuar. Sorria feito
uma criança vendo aquilo, a música era
serena e tranquilizante, quando deu por
si já a estava segurando nas mãos.
— Tire essas mãos sujas disso, agora!
— Blade havia chegado, estava
possesso por vê-la tocando em suas
coisas. Mesmo de costas para ele os
olhos dela marejaram, virou para
encará-lo, se arrependendo logo após. O
que vira era terrível, a roupa dele que
antes era branca, agora estava vermelha
coberta pelo sangue de Otávio. Ficou
com tanto medo que não teve forças para
manter o objeto em mãos, saltando-o no
chão fazendo quebrar em vários
pedaços. Para o seu azar a cabeça da
bailarina tinha rolado próximo aos pés
dele.
— Olha o que você fez, sua inútil! —
Explodiu Blade irado. Levando as duas
mãos na cabeça desnorteado vendo os
pedaços de uma das poucas lembranças
que tinha da mãe espalhada pelo chão,
era como se o próprio coração tivesse
quebrado dentro do peito, a dor era a
mesma.
— Desculpe-me! — Mais implorou do
que pediu, mesmo apavorada com
reação exagerada dele, sabia que o
objeto era importante. E se sentiu muito
culpada. — Eu posso colar, vai ficar
novinho em folha! — Concluiu
esperançosa, sem olhar para ele
novamente.
— Não ouse tocar nisso novamente ou
não respondo por mim! — Ela parou a
mão no ar, horrorizada com a aspereza
presente no tom elevado daquela voz
bruta, sua intenção era inclinar-se aos
pés dele para pegar a cabeça da
bailarina, criou coragem para olhar para
ele novamente como se estivesse
pedindo permissão para fazer aquilo, o
que viu quase a levou as lagrimas. Os
olhos do homem sem lei haviam se
transformado, feito um furacão no auge
da sua fúria, em um tom acinzentado
mais escuro.
— Então me diga onde comprar uma
igual, não sei onde vende algo tão
sofisticado. — Disse inocentemente,
estava mesmo tentando encontrar um
modo de concertar a besteira que havia
feito. — Mesmo que seja preciso dividir
em duzentas prestações, eu posso
comprar, será que aceitam tíquete de
compras também? Tenho alguns que
ganhei de aniversário da minha
madrinha e guardei para alguma
emergência. — E aquela era uma das
grandes, o objeto era mesmo de muita
importância para Blade. Ele respirou
fundo, sua mão chegou a coçar de tanta
vontade de pegar a sua pistola calibre
trinta e oito prateada e cometer mais um
homicídio doloso naquele dia, aquele
jeito meigo dela o irritava
profundamente.
— Nem se você vendesse a sua alma
para o diabo teria dinheiro para comprar
algo assim, então fecha essa boca antes
que eu a cale para sempre! — Soltou as
palavras sem piedade, com frieza e
hostilidade. Ela de repente se viu
obrigada a piscar com os cílios longos
para conter as lágrimas que desciam
pelo rosto frágil de traços finos. Por um
segundo Blade parou para pensar no que
tinha falado, mas não sentiu nem um
pingo de remorso. Finalmente caiu em
si, trazê-la ali foi um erro! E iria
corrigi-lo o mais rápido possível nem
que fosse dentro de um saco preto, o que
não estava muito longe disso. Ela fazia
parte do lado inimigo, era um deles.
— Desculpe, só estava querendo
concertar o que fiz, nunca vou me
perdoar por isso. — Ela abaixou a
cabeça novamente e começou a retorcer
as mãos.
— Nem eu. — O tom de Maldonado se
tornava cada vez mais frio e cruel. —
Estava mostrando sua verdadeira face,
concluiu Jesse. Não sabendo ela que não
estava vendo nem a metade do aquele
homem era, mas um dia iria conhecer da
pior forma possível.
— Eu realmente sinto muito, me
desculpe! — Jesse se sentiria culpada
por aquilo pelo resto da vida e o homem
sem lei sabia disso.
— Já disse para parar de se desculpar,
porra! Isso lhe faz parecer mais idiota
do que é. — Jesse controlou a vontade
de responder algo cruel ou grosseiro.
Era educada demais para isso, mesmo se
a pessoa merecesse, esse não era o
feitio dela. Simplesmente fechou os
olhos com o coração sangrando, não era
a primeira vez que alguém lhe feria, e
era certo que não seria a última também.
— Quero você longe de mim! De
preferência um oceano inteiro, se
possível! Nunca me arrependi tanto de
ter conhecido alguém na minha vida, na
verdade te conhecer não fez diferença
nenhuma, para mim você não passa de
um problema ambulante. — A
investigadora pensou que nunca ninguém
a magoaria mais que o pai, mas estava
enganada. O golpe foi tão grande que
teve que se apoiar na parede para não
cair no chão, já que se dependesse de
ele segurá-la iria se espatifar no chão,
porque nem se mexeu do lugar. Ela
pousou as mãos sobre o coração para
amenizar um pouco a dor que estava
sentindo. Blade deu dois passos em
direção à jovem, tirando do cós da calça
as duas armas praticamente jogando-as
sobre a cômoda, o barulho foi tão alto
que Carter estremeceu o corpo de medo.
Podia sentir o cheiro do sangue, que
com certeza não era dele, na blusa do
bandido, de longe.
— Quer saber? Quem é você para falar
assim comigo, nem me conhece direito!
— Quando Jesse viu já tinha falado.
— E nem quero! — Blade respondeu de
forma rude, caminhou até o tapete
macio, tirou os sapatos antes de pisar
sobre ele da mesma forma que a mãe
ensinara quando tinha cinco anos e
sentou no sofá vermelho de forma
esbanjada levando um cigarro italiano à
boca o acendendo com um fósforo que
logo após jogou na lareira que pegou
fogo como se fosse uma poça de
gasolina. Ele parecia àqueles vilões dos
anos oitenta cheios de estilo e classe,
era o homem mais lindo que a filha do
Major conhecera, isso não podia negar.
Mas beleza sem conteúdo não
significava nada para a jovem, para ela
o essencial não era visível aos olhos.
— De quem é esse sangue na sua blusa?
— Perguntou tão baixo que quase não
deu para ouvir, ele encheu o peito
soltando o ar devagar tentando se
acalmar. Ela o irritava demais, não
estava podendo nem a ouvir.
— Você não para de falar nunca? —
Veio até ela feito um touro bravo, os
olhos estavam em um azul misturado
com vermelho. Era assim que ela o
deixava, fora de si. Fingiu não sentir o
perfume erótico e atraente da
investigadora. A jovem assustada se
encolheu o máximo que pode, assim tão
perto parecia ser bem maior do que
pensava. Não conseguiu conter o choro,
estava com medo que a machucasse. —
Sabe qual o seu problema? Cria as suas
próprias tempestades, depois chora
quando chove. — Inclinou mais o corpo
sobre o dela, mesmo com os olhos
queimando de raiva, o rosto em um tom
vermelho não deixou de notar a
ingenuidade da moça tentando
inutilmente puxar a ponta da blusa para
baixo tentando tampar um pouco as
coxas. "Com se eu quisesse ver alguma
coisa" pensou ele com desdém, mas na
verdade queria.
— É durante as tempestades que o
verdadeiro marinheiro aprende a
velejar, chorar não me faz fraca, apenas
demonstra que tenho sentimentos. —
Encarou-o com as mãos na cintura,
tirando coragem nem sabia de onde.
— Gosta de brincar com o perigo não é
mesmo? — Deu um leve sorriso irônico,
puxando o lábio para o lado. Jesse
chegou a estremecer diante de tanto
charme, remexeu-se sentindo um certo
desconforto entre meio as pernas. — Eu
tenho um temperamento um pouco
"instável", não consigo controlar a
minha raiva quando estou nervoso. Se eu
fosse você não pagava para ver, não
quero ter que sumir com "mais" um
corpo hoje. — Carter arregalou os olhos
ao ouvir tal revelação. Sim! Ele havia
matado alguém!
— Pensei que poderia ter algo bom em
você, mesmo sendo um Maldonado. —
Blade sentiu uma certa pontada no peito
ouvindo isso, talvez fosse pela
indiferença presente na voz dela. —
Mas vejo que me enganei, não passa de
um assassino cruel sem coração que
assim como as armas, sabe muito bem
como usar as palavras para ferir as
pessoas. — Desviou o olhar tentando
aliviar a raiva que ardia dentro dela e
ficou observando o fogo da lareira com
chamas queimando em dois tons e
dançando feito um casal de tango.
— Esqueceu de falar calculista. —
Ironizou vaidoso, acertou a postura
enfiando as mãos no bolso da calça
jeans. — Sou tudo de ruim que possa
imaginar e mais um pouco, é bom que
saiba disso antes de elevar o tom para
mim novamente. — Se a intenção dela
foi reprimi-la, havia conseguido com
sucesso.
— Quando você comemora a morte de
alguém, o primeiro que morreu foi você
mesmo! — Balançou a cabeça triste, a
ideia das circunstâncias em que aquele
sangue foi para na camisa dele lhe
causava náuseas, havia mais partes
vermelhas do que brancas.
— Basta! — Rosnou como um cão
raivoso pronto para o ataque e ela seria
a vítima. — Vá para o quarto! E se eu
ouvir um grunhido sequer essa história
não terá um final "feliz". Assim que o
dia clarear vou me livrar de você e ter o
prazer de fingir que não existe! —
Exclamou de forma ameaçadora antes de
sumir em um corredor escuro à direita.
Jesse catou cada pedaço da caixinha de
música que ele havia jogado no lixo e
embrulhou em um jornal velho que
achou sobre uma pilha de revistas e
jornais ao lado do sofá, rezando que ele
só sentisse falta quando estivesse bem
longe. Voltou para o quarto a passos
miúdos, deitou na cama com cuidado
para não fazer barulho, a coitada mal
respirava. Chorou engolido, não queria
dormir, estava com medo.
— E se eu acordar morta, meu Deus? —
Pensou alto como se isso fosse possível.
Mortos não dormem, tão pouco
acordam. Jurou não dormir, mas quando
viu já estava acordando com o dia
clareando.
— Acordei viva, graças a Deus! —
Respirou fundo aliviada depois se
conferir se o pescoço estava inteiro, ou
sem algum membro do corpo fora do
lugar. Sentiu cheiro de pão fresco,
fazendo seu estômago apertar em
protesto ao aroma. Olhou para o lado e
viu uma bandeja sobre o criado mudo
perto do seu celular de modelo antigo
com o fone branco enrolado em volta e a
tela quebrada, enquanto estivesse
funcionando não iria comprar outro. A
bandeja estava bem organizada com
alguns pães redondinhos com pequenos
pedaços de goiabada por cima, seu doce
preferido, uma xícara de café
fresquinho, com direito a fumaça saindo
por cima, ovos mexidos com algumas
ervas no meio que deduziu ser algum
tipo de veneno letal, bacon, leite em uma
pequena jarra, por fim uma maçã e um
cacho de uvas roxas. Aquela era a visão
de um pequeno banquete, pelo menos
para quem estava acostumada a tomar
apenas dois dedos do café amargo na
delegacia como desjejum. Pensou em
não comer, afinal não sabia se de fato
estava envenenado ou não. Mas pensou
melhor quando viu um bilhete encostado
na jarra de leite que dizia em letras
maiúsculas, escritas com caneta azul
escuro de ponta grossa: " COMA! "
Então a moça ficou na dúvida: era
melhor morrer envenenada com a
barriga cheia ou ser assassinada, depois,
friamente e com o estômago vazio. A
primeira opção lhe pareceu menos ruim.
Então se alimentou sozinha, de tudo um
pouco. Só os pãezinhos de goiabada que
devorou todos, estavam quentinhos
como se tivessem acabado de sair do
forno. Será que ele sabia cozinhar?! Já
que não viu vestígios de outra pessoa na
casa além dele, deveria ter levantado
cedo para fazer tudo aquilo, ou nem
dormido. E como havia entrado no
quarto com a bandeja sem acordá-la?
Tinha um sono leve, mas Blade tinha os
passos mais leves ainda, como de um
gato velho e astuto. Sentiu o rosto
queimar imaginando que ele a vira
dormindo, sabe-se lá Deus por quanto
tempo. Levantou às pressas e correu
para o banheiro se olhar no espelho,
quase levou um susto. Os cabelos
estavam emaranhados e volumosos
como uma felina depois de uma briga,
olhos inchados devido ao choro,
olheiras em torno deles. Agora, além de
tola e desastrada ele tinha visto que de
manhã conseguia ser mais feia do que o
normal, mas essa não foi bem a opinião
dele quando a olhou dormindo feito um
anjo perdido no inferno de Blade
Maldonado. Aproveitou que estava no
banheiro e tomou um banho rápido,
procurou suas roupas que estavam no
cesto de roupas sujas. A blusa do
uniforme tinha mais buracos do que
pano, já a calça tinha um ou dois rasgos
na perna que poderia passar muito bem
por “está na moda". Então a vestiu,
infelizmente não teve alternativa a não
ser usar a camisa dele novamente, era
isso ou sair nua da cintura para cima já
que não encontrou o sutiã que estava
usando na noite anterior. Corou ao não
se lembrar de tê-lo tirado,
provavelmente fora ele quem o tirara
enquanto estava desmaiada, nem deveria
ter reparado em nada, afinal tinha os
seios pequenos e nada atraentes e mais
uma vez errou sobre a opinião dele.
Calçou o tênis velho imaginando a cara
de nojo que Blade teria feito ao tirá-los
de seus pés, agradeceu por não se
lembrar desse momento sórdido.
Decidiu sair em silêncio, fugir sem que
Maldonado a visse. Seria o melhor a se
fazer. Lembrou que viu no terraço uma
escada improvisada que dava de frente
com a garagem, era uma rota de fuga.
Antes de sair arrumou a cama, deixou
um recado de agradecimento nas costas
do bilhete que ele havia deixado sobre a
bandeja.
Já do lado de fora, depois de caminhar
uns cinquenta metros deu uma última
olhada para a casa, o exterior era tão
rustico como o interior. Fora toda
construída em uma armação de madeira
com grandes janelas de vidro em todos
os cômodos e que iam do chão ao teto,
até mesmo na cozinha. Pelas placas no
telhado a luz era solar, o mais
assustador era que ficava à beira de um
penhasco. Apertou sobre o peito o
embrulho de jornal com o que restou da
caixinha de música como se fosse o seu
escudo, iria concertá-lo e devolver para
ele algum dia. Ligou o celular para
conferir as mensagens, tinha mais de
vinte, a maioria delas ameaças do pai
por ter passado a noite fora de casa sem
avisá-lo antes, mas se o tivesse feito, ele
não teria permitido, algumas da irmã,
outra da mãe dizendo que a amava e que
confiava nela mesmo sabendo que não
passou a noite na casa de uma amiga,
Maria Joaquim era meio sensitiva.
Respondeu apenas a da amiga Nayla que
estava desesperada porque o Major
tinha ligado para ela perguntando pela
filha, já que a mesma estava na casa
dela e não atendia as ligações dele,
então mentiu dizendo que a amiga estava
dormindo. Ela tranquilizou-a dizendo
que estava bem, para não se preocupar
que depois lhe contaria tudo
pessoalmente, menos a parte de ter
passado a noite na casa de um bandido,
é claro. Procurou no playlist uma música
relaxante para ouvir, a caminhada até a
cidade seria grande. Conforme ia
caminhando, sentia as gotículas de suor
escorrerem pelo rosto, o sol queimava
mais sobre o alto das montanhas. Mesmo
com o som alto adentrando seus ouvidos
tremeu ao ouvir o ronco de um motor
diminuindo a velocidade para
acompanhá-la, Jesse chegou a engasgar.
Tratava-se de um Bel Air Impala preto
1967. Deus, ele tinha um carro igual ao
dos irmãos Winchester, da sua série
favorita Supernatural, achava o ator que
fazia o papel de Sam uma graça. Mas o
Dean era uma tentação de tão charmoso,
só que perto de Blade não fazia nem
cócegas, constatou obviamente.
— Entre!
Ela hesitou. A expressão dele era de
poucos amigos, isso a fez paralisar sem
saber que atitude tomar, correr ou entrar
no inferno e se sentar ao lado do diabo.
— Não vou mandar novamente! —
Exclamou irritado. Sem alternativas,
andou lentamente em sua direção.
— Não acredito que estou dentro de um
Impala legitimo! — Exclamou em êxtase
assim que sentou no banco com o
estofado todo forrado de couro, se
ajeitou sentindo que era tão confortável
quanto imaginou, então começou a
tagarelar sem parar. — Construído pela
divisão Chevrolet da General Motors,
introduzido em 1958. Modelo original,
quatro portas, esportivo com mais
curvas que seu processor. Acabamento
especial. — Os olhos dele a observaram
passar as pontas dos dedos finos sobre o
porta luvas de forma delicada, atraente.
—Cromados especiais de preço
incalculável, esse obviamente custou
uma pequena fortuna. O que faz dele tão
exclusivo e o motor V-8, de 384
polegadas cúbicas, uma verdadeira
máquina! Parabéns! Ele está bem
conservado! Banco com o couro intacto,
rádio funcionando. —Estava ligado
baixinho tocando uma música da banda
de rock Metallica, uma das mais
famosas dos anos oitenta. — Direção
hidráulica, freios assistidos, calotas
especiais, apoio para o câmbio e
amortecedor de impacto. — Conclui
reparando detalhadamente cada parte do
veículo, Blade estava chocado! Ela
realmente entendia do assunto, afinal
fora ele que reformou o carro e era
exatamente do jeito que ela havia
descrito.
— Sabia que não era tão burra quanto
parece!
Tirou os olhos da estrada pousando-os
nela por um instante com total desdém,
se ele não estive tão lindo com aqueles
óculos escuros com a armação preta e
dourado da Armani, teria ficado nervosa
com o comentário grosseiro dele, mas a
visão daqueles lábios finos
avermelhados em formato de coração
lhe tirou o raciocínio, era a coisa mais
chamativa do seu rosto, depois dos
olhos indecifráveis, é claro. Naquele
momento trajava camisa preta de
marinheiro, justa ao corpo e com mangas
curtas, calça jeans gasta e botas de cano
médio.
— Só porque não entendo de
maquiagem, não quer dizer que não
possa entender de carros também,
Senhor! — Chamou-lhe dessa forma só
porque sabia que não gostava.
— Moda também não é o seu forte! —
Pousou os olhos sobre a calça do
uniforme quase duas vezes maior que
ela. Carter baixou os olhos magoados,
não era a primeira vez que ouvia aquilo,
mas vindo dele doeu mil vezes mais.
— O que é isso? — Perguntou com a
sobrancelha arqueada desconfiado,
apontando para o embrulho do jornal em
cima do colo dela, a pobre moça chegou
a tremer de medo sem saber o que dizer.
— Eu trouxe algumas uvas para comer
no caminho. —Improvisou com um
sorriso amarelo no rosto. Encolheu-se
contra a janela do carona, odiava falar
mentiras. Virou o rosto para fora
mordendo o lábio inferior envergonhada
para ver as montanhas que cada vez
ficavam mais distantes, sabia que ele a
observava pelo canto dos olhos. No
meio do caminho o celular dele tocou a
surpreendendo. Encostando o carro na
beirada do asfalto para atender quando
viu o nome na tela de quem se tratava.
Até mesmo o seu pai que era um homem
extremamente correto e cauteloso,
atendia ligações enquanto dirigia em
meio ao trânsito louco de Los Angeles e
ali não tinha carro nenhum passando.
— O que ouve, Mascote? — Disse com
a voz grave, estranhamente serena.
— Como assim voltou? — Tinha o
semblante preocupado, como se o que
ouvira não tivesse lhe agradado nem um
pouco. — Não minta para mim! Vai
dizer o que ouve de um jeito ou de outro.
Mas não agora. — Lançou um olhar frio
sobre ela, assustador. — Estou ocupado,
resolvendo um problema. Eu não estou
nervoso com você garoto, só quero
saber o que ouve para vir embora de
uma hora para outra. —Agora tinha a
voz mais calma, virou o rosto para o
lado. — Mais tarde eu e seus irmãos
vamos ter uma conversa séria com você
garoto, em casa e dependendo do que
disser, cabeças vão rolar. — Desligou
colocando o carro em movimento
novamente.
— Não vai perguntar onde eu moro? —
Perguntou cortando o silêncio entre os
dois.
— Quando achar realmente necessário
pergunto, quanto menos ouvir a sua voz
melhor! — Aumentou a velocidade
como se quisesse se livrar dela logo.
Como ele disse não passava de um
problema para todos a sua volta.
— Onde conseguiu esse carro?
Realmente gostaria de saber. — Tinha
um coração puro, não conseguia guardar
mágoa de ninguém por muito tempo.
— Era de meu avô, depois foi de meu
pai e agora é meu. — Respondeu curto e
grosso, sabia que quanto mais rápido
respondesse maior a chance de ela calar
a boca.
— Que legal! Depois vai ser do seu
filho e do filho dele. — Comentou
sorrindo inocente.
— O sangue dos Maldonado morre
comigo, odeio crianças e animais. —
Jesse olhou para ele horrorizada.
— Mas acabou de falar com o seu irmão
ao telefone. — Exclamou confusa.
— É adotado, não herdou o meu sangue
ruim. — Ela percebeu que Blade ficava
com o semblante sereno ao falar do
irmão, os músculos relaxados e a
respiração calma.
— Nossa! Que triste, meu maior sonho é
ser mãe um dia. — Só de pensar na
ideia a fez sorrir, aquele sorriso que
iluminava tudo em volta.
— Coitada da criança! — Ela fechou o
sorriso no mesmo momento.
— Sempre quis ter um bichinho de
estimação, mas meu pai nunca deixou.
Me sinto sozinha às vezes, seria bom ter
alguém além da minha mãe para
conversar que não me olhasse como se
eu fosse uma idiota. — Pensou alto e
com tristeza, o suficiente para o Homem
Fora da Lei perceber que não era o
único ali que teve uma infância difícil.
— Acho difícil, os animais são
sensitivos! — Jesse olhou para ele
incrédula, o que tinha de bonito era o
dobro em grosseria e insensibilidade. —
Onde você mora? — Perguntou ele,
tentando tirar a atenção dela daquele
assunto, percebeu que havia pegado um
pouco pesado. Ela explicou
detalhadamente, até demais para o nível
de paciência dele.
— Obrigada por tudo, principalmente
por salvar a minha vida naquele bar! —
O Impala estava estacionado há alguns
metros de uma casa branca bastante
bonita, não luxuosa, mas confrontável e
acolhedora. Havia um pequeno jardim
na frente com um carvalho florido no
meio, flores de todos os tipos e cores
protegidas por uma cerca de estacas de
madeira em volta de toda a casa, uma
cerca muito bem-feita.
— Apenas estava pagando uma dívida,
uma vida pela outra! — Respondeu com
descaso, tentando aliviar um pouco a
tensão presente ar dentro daquele
veículo dos anos sessenta.
— Entendi. — Respondeu triste,
deixando bem claro que a salvou por
obrigação, não porque queria. Então ela
se virou para o motorista.
— Muito obrigada, Senhor Maldonado.
— Ele não respondeu nada. De cabeça
baixa Jesse saiu do carro fechando a
porta atrás de si, sentindo-se mais
insignificante do que o normal. Deu dois
passos, mas resolveu parar e olhar para
o homem mais belo que vira na vida e
de coração mais frio também.
— Tchau, Blade, até algum dia desses.
— Disse ela triste pelo fato de saber
que nunca mais iria vê-lo.
— Adeus! — Disse rude sem olhar para
ela, com sua postura superior olhando
para frente segurando o volante com
força. Ele exalava superioridade, teria
medo de tocar nele mesmo se ele
deixasse. Diante do desprezo dele
apenas virou as costas caminhando em
direção ao portão sem olhar para trás,
infelizmente, porque se tivesse olhado
teria visto que ele ainda permanecia
parado no mesmo lugar sem desgrudar
os olhos de cada passo dela, nem mesmo
depois vigiá-la demorar dez minutos
para achar a chave certa e abrir a porta
dando de cara com o pai que a puxou
pelo braço de forma agressiva para
dentro, isso fez o sangue de Maldonado
ferver. Sua vontade era ir até lá e tirá-la
das mãos dele a força, mas se conteve.
Não era mais problema dele, iria fingir
que tudo não passou de um pesadelo e
seguiria em frente.
CAPÍTULO 6
Maria Joaquim deixou todas as sacolas
caírem no chão ao chegar em casa e se
deparar com a imagem da filha toda
encolhida em posição fetal chorando,
havia ido a feira fazer a compra para
semana, fazendo com que alguns dos
legumes que havia escolhido com tanto
carinho saíssem rolando sem rumo feito
um pneu velho guardado no fundo da
garagem que as filhas brincavam
rolando-o morro abaixo quando eram
crianças, apesar de fazerem isso até
hoje, as duas irmãs sempre se davam
muito bem. Até terem sua rota
interrompida por uma pequena e frágil
parede humana sobre o piso branco frio
próximo à mesa de vidro de seis lugares
da sala de estar com uma passadeira de
tricô verde claro feito pela própria
Senhora Carter, enfeitada com um vaso
cheio de margaridas plantadas colidas
pela mesma de manhã. Era uma cena de
cortar o coração, pelo menos o dela
estava em pedaços dentro do peito ao
vê-la naquele estado. Jesse estava toda
marcada pelo cinto do pai, o Major nem
ouvira as explicações da filha, ou
melhor, nem deu a ela a oportunidade de
se explicar.
— Não chore meu amor, a mamãe está
aqui agora! — Jesse olhou para a mãe
confusa, como se não tivesse
reconhecendo a sua voz, ainda estava
meio desorientada pela recepção
“calorosa ”do pai. Maria abraçou a
filha com carinho, seus movimentos
eram bem pensados para evitar tocar nas
escoriações espalhadas pelo corpo da
moça, não queria lhe causar mais dor do
que já estava sentindo. Não precisou
perguntar o que havia acontecido,
conhecia bem o marido que tinha.
Aquela cena a fez lembrar-se de quando
Jesse era pequena, sempre fora muito
sensível, vivia caindo e se machucando.
Mas nunca desistia, chorava um pouco,
mas depois voltava a brincar como se
nada tivesse acontecido. Lembrou-se em
especial de uma vez em que a jovem
encontrou um passarinho com a asa
quebrada no quintal, cuidou do bicho
por semanas até se curar, e chorou o
dobro do tempo quando teve que
devolvê-lo a natureza. Apegava-se fácil
por isso se magoava tanto quando o
assunto era lidar com as pessoas.
— Ele disse que da próxima vez que eu
passar a noite fora sem avisar, não piso
nessa casa nunca mais. — Ela olhou
para mãe envergonhada, e depois afagou
o próprio braço machucado. Sentindo o
calor aconchegante do abraço cheio de
amor, o pranto da Maria Joaquim
molhava o cabelo emaranhado da filha
que afagava como se fosse um filhote. A
dor da Jesse também era a sua.
— Não chore por minha causa, mãe. —
Limpou o rosto dela com carinho, deu
um sorriso triste tentando mostrar que
estava bem, mas não estava. — Já estou
acostumada com o jeito do meu pai, mas
nunca em ver a senhora chorando por
minha causa, desculpe por te fazer
sofrer. — Isso fez o coração da mãe
doer ainda mais, Jesse tinha a mania de
se desculpar mesmo quando não tinha
culpa de nada.
— Isso não pode continuar meu amor,
seu pai não pode ficar tratando você
assim dessa forma. — Jesse sentiu os
braços da mãe ficarem tensos em volta
do se corpo, estava nervosa.
— Eu te amo mamãe, obrigada por
existir! — E amava mesmo, muito. Ela
nunca julgou o jeito atrapalhado dela,
tampouco suas escolhas, sempre a
apoiava, mesmo quando não concordava
com que estava fazendo.
— Eu também te amo, meu amor! — Sua
voz era chorosa, cheia de dor. Fez
carinho em uma parte do braço da filha
onde estava roxo e bem inchado,
beijando seu rosto logo após. — Essa
foi a primeira e a última vez que ele faz
isso querida, vou pegar você e a sua
irmã e vamos embora dessa casa ainda
hoje. — Exclamou decidida, poderia até
aceitar as grosseiras do marido, mas
aceitar vê-lo agredindo suas filhas,
jamais. Ela era o tipo de mãe que todas
deveriam ser, boa, amável,
compreensiva, carinhosa e gentil. Só que
infelizmente nem todas são assim,
algumas até tentam ser, outras por mais
que tentem nunca serão.
— Não se preocupe mãe, vou ficar bem.
— Devolveu o beijo no mesmo lugar
que havia recebido, limpando seus olhos
e lhe oferecendo um sorriso
esperançoso. — Nem está doendo tanto,
pelo menos não mais que o meu coração.
— Abaixou o olhar triste, pois sabia que
por mais que se esforçasse para ser
melhor, para o seu pai não iria fazer a
menor diferença. Para o Major não seria
nada, porque o que vinha dela parecia
não ter valor para ele, para ninguém à
sua volta na verdade. — Não pode
deixar o meu pai, mãe, a Senhora é o
lado bom que existe nele! — Maria
Joaquim se emocionou ao ouvir tais
palavras da filha, sabia exatamente o
que ela estava querendo dizer com
aquilo. Levantou puxando a barra do
vestido azul claro florido, era uma
mulher simples, mas elegante.
— Vem filha, vamos limpar isso antes
que infeccione. — Ofereceu a mão para
ela, que com um pouco de dificuldade
conseguiu ficar de pé, deixando mais
visíveis as marcas em carne viva nos
braços e até no pescoço, as outras pelo
corpo eram mais leves porque os golpes
haviam sido amortecidos pela calça
larga do uniforme e a camisa cem por
cento algodão de Maldonado que estava
usando. A pobre moça agradeceu aos
Deuses pela peça ser de um material
mais grosso, se não o estrago poderia
teria sido bem maior. Depois de tomar
um bom banho morno com a ajuda da
mãe que secou suas feridas com cuidado
e passou pomada em cada uma delas,
comeu toda a sopa que a mesma fez para
ela, depois dormiu tranquilamente. Por
apenas dez minutos, Mainara foi
correndo para o quarto da irmã mais
velha feito um furacão assim que chegou
do trabalho.
— O que ele fez com você dessa vez,
mana? A mãe não me contou direito, mas
assim que vi o seu perfil sem foto sabia
que tinha acontecido algo, então larguei
tudo para vir cuidar de você. — Mai
conhecia a irmã como ninguém,
principalmente suas manias. Uma delas
era tirar a foto do perfil de todas redes
sócias quando estava magoada com
alguma coisa, se sentia escondida assim,
protegida do mundo.
— Relaxa, irmã, não foi nada demais.
— Quase não dava para ver o rosto dela
em meio daquele monte de cobertas com
a estampa do Kiki Butovisk, era o tema
de decoração do seu quarto, as
princesas da Disney nunca encheram os
olhos dela. Diferente de Jesse, Mainara
era corpuda, farta em volume e curvas.
Seios grandes e um rosto bonito,
redondo, bem destacado pelo corte de
cabelo curtíssimo muito bem cuidado.
Era elegante e muito educada, falava
várias línguas. A parede da sala era
repleta de diplomas e troféus que ganhou
em concursos de teste de inteligência,
não perdia um. No momento estava
trajando um terninho cinza claro,
conjunto de três peças composto por
uma blusa branca de seda debaixo do
casaco de manga três quartos e uma saia
lápis, justa com um aberto do lado
mostrando a coxa grosa bem torneada. A
maquiagem era perfeita, parecia ter sido
feita por algum maquiador famoso. O
batom vinho seco realçando os lábios
carnudos a deixava mais linda do que já
era, mas o que fazia toda diferença na
Mai era o coração grande e a
personalidade marcante, tinha puxado a
beleza mãe.
— Irmã que tal viajamos para Toronto
nas férias? Visitar a Tia Ana, não a
vimos mais desde que se mudou para lá.
Dizem que os canadenses são os homens
mais quente do mundo e bem-dotados
também. — Comentou alegremente
enquanto tirava os sapatos vermelhos de
salto alto finíssimo dos pés jogando a
maleta de couro em qualquer canto do
quarto. Trabalhava como administradora
estagiária em uma empresa
multimilionária de petróleo e gás, era
ótima com números. Levantou de leve as
cobertas da irmã e se enfiou debaixo,
pousando a cabeça da irmã sobre o peito
e fazendo carinho no rosto dela. Carter
achou melhor não contar a ela sobre o
que o pai havia feito, como estava de
pijama de mangas compridas e meias
altas não dava para ver as feridas e iria
pedir que mãe fizesse o mesmo. Mainara
iria arrumar briga com o pai. Diferente
dela não abaixava a cabeça para
grosserias dele.
— Se os americanos não me querem,
muito menos os canadenses hão de
querer, Mainara. — Jesse respirou fundo
desanimada fazendo a irmã mais nova
gargalhar do drama todo dela. Achava-a
linda, só precisava usar roupas do
tamanho ideal e pentear o cabelo, pelo
menos de vez enquanto.
— Hey sisters, cheguei! — Nayla
adentrou o quarto sem bater, era de casa.
Sorrindo e tagarelando sem parar. Tinha
vindo ver como a amiga estava.
— Chegou a maluquinha. — Brincou
Mainara. Chamava Nay assim devido ao
seu jeito alegre de ser. A simpatia em
pessoa, linda e talentosa, grande
promessa do mundo da moda como
estilista. Conhecida pela sua ousadia ao
criar suas peças, tinha traços perfeitos e
uma delicadeza invejável nos seus
desenhos. Única no que fazia, por isso
tanto sucesso.
— Você está passando mal, amiga? — A
estilista perguntou preocupada, era alta
e magra, mas com um corpo definido. O
cabelo com cachos naturalmente
rebeldes, pouco abaixo dos ombros, os
olhos cor de mel, lábios pequenos e
finos, andava sempre muito bem vestida
e maquiada, dentro de seu próprio
estilo, tinha opinião forte demais para
vestir algo que não fosse do seu agrado
apenas porque estava na “moda”.
— Minha preta está bem, Nay, apenas
um pouco cansadinha. Não é amor da
irmã? — Mainara apertou as bochechas
da investigadora como se fosse de um
bebê, quem visse as duas conversando
iria pensar que ela era a filha mais velha
e não Jesse.
— Eu estou bem, Nayla, não precisa se
preocupar amiga. — Tentou sorrir para
ela, mas seria melhor se não tivesse
tentando, saiu amarelo e falso. Não tem
como fingir uma alegria que não existe,
pelo menos Jesse não conseguia, era
verdadeira demais para isso.
— Ótimo! Porque vim convidar vocês
para o desfile da minha nova coleção
inspirada nos modelos clássicos de
época, será patrocinado pela empresa
das joias Fox. — Exclamou eufórica.
— Oh! My God! — Mainara gritou com
as duas mãos na boca, toda animada. —
Essa é a marca mais cara do mercado,
deixa a Prada no chinelo. Eu vou e a
Jesse vai também, assunto encerrado! —
Olhou para a irmã severa, sabia que iria
inventar alguma desculpa para não ir e
ela não permitiria isso.
— Eu não vou e ponto final, Mai! Você
está cansada de saber que não gosto de
festas, não me sinto bem em lugares com
muita gente, principalmente porque não
enxergo um palmo de distância na frente
do meu nariz em lugares com muito
flashes de luz. — Jesse sofria de uma
patologia nos olhos, eram muito
sensíveis a luz, por isso grande parte do
dia era obrigada a usar óculos de grau.
— Já estou até imaginando como vai
ficar linda fantasiada de fada encantada,
tem que ver a máscara linda que
comprei para você! — A estilista pulava
pelo piso azulejado de xadrez como se
fosse uma criança de três anos ganhando
o primeiro brinquedo, os cachinhos, tipo
molas, chegavam a flutuar no ar. Jesse
olhava para ela pasma, não tinha ouvido
nenhuma palavra do que havia falado.
— Que parte do que eu falei “que não
vou” você não entendeu, criatura? —
Nayla parou de pular no mesmo
momento, a fuzilando com o olhar.
— Como assim não vai, senhorita
Cárter? — Levou as mãos a cintura
franzindo o cenho nervosa. — Eu salvei
a sua pele com o... Você sabe quem... E
sabe o quanto odeio falar mentiras. —
Bufou frustrada desabando sobre a cama
da amiga, Carter agradeceu pela cama
ser de casal. Fazendo um biquinho com
os lábios finos para soprar um cacho
que caiu sobre os olhos. Depois levou
as duas mãos debaixo da nuca como
apoio para a cabeça, ainda cruzou as
pernas para ficar mais confortável. —
Sei que não gosta desse tipo de evento,
amiga. — Na verdade odiava,
principalmente por conta do som
desnecessariamente alto, como se todos
convidados fossem surdos. — Mas
realmente é um dia muito importante
para mim, não será a mesma coisa se
você não estiver lá, não terá graça. —
Dramatizou, a estilista era mestre nisso.
— Está bem, eu vou! — Respondeu a
investigadora entre os dentes, realmente
não querendo ir. Tinha programado um
final de semana perfeito, colocaria em
dia os capítulos das suas séries
favoritas, acabaria de ler o livro "A
cabana", de William P. Yoig, comeria
pipoca e se empanturraria de
refrigerante, era viciada por guaraná.
Muito sorvete de baunilha e jujubas para
completar. Chegou a respirar fundo
vendo seus planos perfeitos irem por
água abaixo! Quem queria ir em uma
festa chata? Regada a champanhe caro e
estrelas de Hollywood, vendo um
desfile de roupas magníficas que não
tinha corpo para usar, enfeitadas por
joias que nunca teria condições de
comprar. — Mas iriei vestida com o que
eu quero, não o que você quer, estamos
entendidas? — Rodopiou o corpo na
cama ficando de frente para amiga
olhando
para ela por cima dos óculos fundo de
garrafa, conhecia a amiga que tinha,
sabia que não desistiria tão fácil.
— Desde que não use esse maldito tênis
velho com jeans, está ótimo, gata! Mas a
máscara será obrigada a usar, afinal esse
é o tema do desfile. — Carter respirou
fundo desanimada, sabia que nada o que
falasse a faria mudar de ideia.
— Não vejo nada de errado com o meu
tênis e a calça jeans, me matar em cima
de um salto quinze só para bancar a
executiva do ano é que não vou, gata. —
Revirou os olhos balançando a cabeça,
odiava salto alto. Tudo o que Jesse mais
queria era poder viver em um mundo
onde o volume do seu cabelo parecesse
não assustar, onde pudesse usufruir do
direito de poder usar o seu tênis velho
com o jeans surrado em qualquer lugar.
Queria que as mulheres entendessem que
podem sim, ir pelo menos a padaria sem
se sentirem obrigadas a se maquiar,
passar o dia todo comendo doce sem se
culpar, a não ficarem se matando na
academia só para impressionar aqueles
que de fato as olham, mas não
conseguem "enxergar". Loira, um metro
e setenta, magra, olhos azuis e uma
beleza avassaladora. Será que a
aparência tem que ser mesmo um padrão
e não uma escolha? Não é justo dizer
que uma pessoa não tem fé em Deus só
porque tem tatuagens, o que vai valer no
juízo final não é a aparência, mas sim a
essência. Afinal a base de tudo é o
respeito, pois na Bíblia diz: Amar o
próximo como a si mesmo. Mas nem
todos pensam desse jeito, no mundo está
sobrando opinião e faltando respeito...
Enquanto isso, no outro lado da cidade,
Bobbi abria a porta de casa para
receber os quatros irmãos que estavam
bufando de raiva. Era uma mansão em
um condomínio de luxo com segurança
até nos dentes. Em frente à praia e que
fora comprada há treze anos atrás para o
menino morar. Também contrataram uma
senhora de confiança, a baba Neudes, a
mulher mais doce e gentil do mundo que
todos respeitavam muito. Criou o
menino como se fosse seu filho, mas um
dos irmãos a cada dia dormia lá com ele
para que não se sentisse abandonado
pela família. Eles estavam como uma
manada de touro bravo à solta, de
braços cruzados e caras de mau. Blade
fechou a mão em punho com força,
irado, assim que colocou os olhos
acinzentados no rosto todo machucado
do irmão caçula, alguém havia
machucado o seu Mascote, independente
do motivo iria pagar por isso.
— Eu quero o número do CPF e a
identidade desse maldito! — Bramiu
Maldonado possesso, dando um soco na
parede. — Agora! — Completou aos
gritos. Bobbi tremeu de medo, afinal ele
não era de mostrar sua verdadeira face
perto dele, era sempre mais suave. Pelo
menos tentava, mas naquele momento
não deu para segurar a raiva que estava
sentindo. Fez uma rápida varredura no
local para ver se estava tudo em ordem,
odiava bagunça. Achava que as coisas
foram feitas para estarem no seus devido
lugares, graças aos “Anjos da Guarda”
dos irmãos caçulas, estava. Se não as
coisas seriam bem piores para Bobbi,
no mínimo, um mês de castigo. A
mobília da casa era clássica, a sala
parecia uma Biblioteca Internacional de
Letras, com estantes de madeira grossa
que iam do chão ao teto divididas em
prateleiras ostentando livros de grandes
autores renascentistas e filósofos como
Platão e Aristóteles. Tudo organizado
em ordem alfabética e por cores.
Cortinas marrom escuro fechavam a
vista que dava para o mar, um sofá
escuro dando contraste com o tapete
bege à frente do móvel de três lugares.
Bem no meio do cômodo, uma pequena
mesa, sobre ela um jogo de xadrez em
cima com uma partida parada pela
metade que vinha jogando com Blade há
mais de cinco anos, nenhum dos dois
conseguia ganhar, pelo menos foi o que
Maldonado deixava transparecer. Tudo
estava muito limpo e organizado como
de costume, do jeito que deveria ser.
Principalmente o jovem, notavelmente
bem vestido com calça social, camisa
branca e gravata borboleta. Usava um
suéter azul de linho sobre a camisa, nós
pés sapatos com bicos finos muito bem
engraxados. Para completar óculos de
grau redondos, pequenos, mas
proporcionais ao tamanho do rosto dele,
escondendo uma parte dos olhos azuis
cor de mar.
— Você não vai matá-lo, Blade! Ele é
meu amigo, o único que tenho. —
Desabou Bobbi, estava com uma
expressão de cansaço no rosto, parecia
ter o dobro de idade. A tristeza nos faz
parecer mais velhos, se não cuidarmos e
darmos a devida atenção ao assunto,
pode levar uma pessoa a um mar de
escuridão sem fim chamado depressão.
— Além do mais, mereci o soco, vocês
nem sabem o que houve e já querem
matar o cara. — Saiu mais áspero do
que queria, era um rapaz amável, mas no
momento não estava mesmo com
paciência para aquela conversa.
— Amigo? Ele já matou alguém por
você ou te ajudou a esconder algum
corpo? — Li perguntou nervoso como se
fosse normal o que havia dito, no mundo
do crime era, porém Bobbi não fazia
parte desse mundo. — Tanta gente de má
índole para você se envolver garoto,
mas não! Foi logo fazer amizade com o
almofadinha do filho do Juiz, não quero
mais você perto desse tal de Maxmilian
Thompson ouviu bem? — Resmungou
alguns palavrões em chinês, se
remexendo no braço do sofá de lona
preta com tachas prateadas. Não
falavam nomes feios na frente dele, pelo
menos não de forma compreensível.
— Eu entendi o que você disse, Li, é
feio dizer isso, sabia? — Brincou com o
irmão revirando os olhos cor de safira.
Sentando no banco alto do balcão de
mármore escura do minibar, no qual não
tinha autorização para tocar em nada
nem com menos de dez por cento de
álcool, ou seja, em nada mesmo.
— Entendeu como? — Perguntou pasmo.
— O Senhor prometeu me levar para
conhecer os meus avós, lembra? — O
mesmo confirmou com a cabeça
emocionado, falar em seus familiares
lhe deixava emotivo, há muitos anos não
os via. — Então, entrei em um curso de
chinês faz alguns anos, era para ser
surpresa, queria que sentisse orgulhoso
de mim na frente dos seus pais. —
Concluiu sorrindo com um pouco de
dificuldade devido ao rosto todo
inchado, sempre foi muito amável, era
impossível ficar bravo com ele por
muito tempo.
— 我已经有一点. — (Eu já tenho) —
Respondeu em chinês.
— Espanhol ninguém aprende, né? —
Choramingou Julius enciumado.
— Quem disse que no, muchacho? — A
montanha de músculos abriu um sorriso
largo, mostrando os dentes
incrivelmente brancos. —Aprendi ainda
no ensino médio, foi o primeiro curso
que escolhi por causa do Senhor. —
Exclamou orgulhoso.
— Basta! — Maldonado bateu o punho
fechado sobre a estante vermelho de
raiva, chamado a atenção de todos. —
Pare de bancar o esperto para o lado
dos seus irmãos mudando de assunto,
vai dizer agora quem fez isso com você.
— Ordenou e pela sua expressão não
estava para brincadeira, não mesmo.
— Esquece isso, Blade, que porra! —
Tampou a boca assim que falou. — Que
bonitinho, o primeiro palavrão dele. —
Julius exclamou cheio de orgulho.
— Impressão minha ou você me
respondeu, moleque? — Blade cuspiu as
palavras, olhando para ele
ameaçadoramente, dando dois passos
firmes em sua direção.
— Não, Senhor. — Respondeu o jovem
murcho abaixando a cabeça. —
Desculpe-me, só quero que tire essa
ideia louca de machucar o Max, ele é
uma ótima pessoa. — Completou ainda
de cabeça baixa.
— E eu com isso? — Disse com
descaso.
— Não se deve machucar pessoas boas.
— Apregoou como um escoteiro mirim,
só faltou a bandeira dos Estados Unidos.
— Não sou obrigado a nada! —
Respondeu com total desdém. Passou a
mão no cabelo de forma naturalmente
charmosa, encostando o corpo na parede
usando um dos pés como apoio.
— Maldição, Bobbi! — Explodiu
Estêvão parado de costas para a larga
janela de madeira com a postura
elegante, logo após o som ensurdecedor
de um raio tomou conta do lugar fazendo
as mesmas se abrirem brutalmente
balançando o cabelo cumprido e a capa
preta dele conforme a vontade do vento,
começando assim a chover do nada, o
céu estava azul quando chegaram. Da
janela apareceu o corvo voando
majestosamente com as asas dotadas de
penas cumpridas e negras que
espanavam com glamour pausando sobre
o ombro de Salvatore, não gostava de
ver o dono nervoso, isso quase não
acontecia. O jovem se assustou com a
reação dele, arregalando os olhos
surpreso. Afinal o mesmo nunca havia
gritando com ele antes, nem mesmo
quando escondeu suas duas pistolas em
um monte de areia do quintal quando
tinha trezes anos e olha que as mesmas
eram de sua coleção favorita relíquia
dos anos cinquenta. — Como quer que
não façamos nada com esse cara que
machucou você? Sinto muito garoto, mas
ninguém toca no meu irmãozinho caçula
mesmo que ele mereça.
— Às vezes eu me pergunto se ele treina
esse bicho para fazer essas entradas
triunfais ou se o Corvo tem parte com o
acinzentado. Sozinho essa coisa não
está, cara! — Li coçou a cabeça
confuso, nunca entendeu a forte ligação
de Estêvão com o pássaro, que virou
para olhar para ele com os olhos
vermelhos mexendo de leve o bico como
se tivesse entendido o que havia dito,
talvez o outro raio que iluminou a sala
fosse uma resposta afirmativa.
— Ninguém vai machucar ninguém aqui!
— Julius resolveu pôr fim a sua opinião,
até então só tinha ouvido as dos demais.
— Sente-se aqui no meu lado, filho,
conte exatamente o que ouve entre você
e o seu amigo. — E assim ele o fez.
— Eu disse a ele que estava
apaixonado. — Corou ao dizer, mas só
um pouco. Porém os suficientes para
todos perceberem que o assunto o
incomodava bastante.
— É pior do que eu pensava. — Blade
quase caiu da parede que estava
encostado.
— Na minha família nunca teve um
“caso” desse antes. — Li estava
horrorizado, já Estêvão não disse nada,
mas estava mais pálido que o normal
com os olhos azuis arregalados.
— Saiba que tem o meu apoio filho. Não
tenho preconceito com nada! Vou
continuar te amando independente da sua
orientação sexual. —Disse com o olhar
confortante.
— Mas do que vocês estão falando? —
O caçula da família quase engasgou com
a própria saliva. — Eu disse a ele que
estava apaixonado pela irmã dele. —
Explicou o óbvio.
— Pelo menos ele gosta de vaginas. —
Blade suspirou aliviado.
— Por Deus, Maldonado, para de dizer
esse tipo de coisa na frente do menino!
— Estêvão zangou com ele.
— Não seja idiota, Estêvão, aposto que
ele já deve ter visto mais vaginas do que
você na vida.
— Me recuso a responder isso. — Virou
as costas para ele irritado.
— Ótimo! Calem a boca e deixem o
menino acabar de contar. — Voltou os
olhos para Bobbi, que estava entretido
escutando a discussão dos dois sobre
“vaginas”.
— O problema é que a Lia só tem
dezesseis anos, apenas uma criança.
Sempre tentei fugir desse sentimento que
tenho por ela, ainda mais pelo irmão e o
pai ciumento que tem. Mas quando ela
apareceu na minha sala dizendo que
estava apaixonada por mim e me roubou
um beijo, não tive forças para impedi-la,
o problema foi que Max apareceu no
exato momento e já veio para cima de
mim com tudo. — Encostou as costas no
sofá desanimado, como se quisesse
passar o peso da culpa para o móvel.
— Então quem deveria ter levado esse
soco era a tarada beijoqueira. —
Resmungou Blade, não conhecia a moça,
mas o pouco que ouvira sobre ela já foi
mais que o suficiente para não gostar
dela. — Não você, que foi pego de
surpresa por essa malévola dos infernos.
Se está assim aos dezesseis anos, só
Deus na causa quando chegar aos trinta.
— Sua voz era mais suave agora, porém
sem paciência. Caminhou para mais
perto dele, transferindo o peso de um pé
para o outro enfiando as mãos nos
bolsos da jaqueta preta.
— Não é bem assim, Blade. —
Exclamou envergonhado, o rosto em um
tom avermelhado. — Sou seis anos mais
velho do que ela, bem maior e mais forte
também, poderia ter evitado o beijo
facilmente se quisesse. — Contorcia as
mãos nervoso. — Mas não o fiz, agora
perdi o meu melhor amigo por isso. —
Abaixou o olhar triste.
— Isso é o que dá deixar a vontade da
cabeça de baixo falar mais alto. —
Estêvão olhou para ele estupefato. Blade
era antiquado até em uma conversa com
um jovem de vinte e dois anos. — Se
pelo menos tivesse enfiado o pênis na
vagina da menina tudo bem, mas levar
um soco por conta de um beijo roubado,
é demais! — Disse naturalmente.
— Sangue de Jesus tem poder! —
Estêvão proclamou horrorizado.
— Com coisa que você nunca enfiou o
seu pênis em uma vagina antes, Estêvão.
— Disse grosso, Salvatore ficou mais
pálido do que o normal, a sorte foi que
não era de corar facilmente, porque se
não teria ficado como uma brasa. —
Então não me venha com moralismo
barato, já passou da hora de termos uma
conversa com esse menino sobre sexo.
— Dessa vez foi Bobbi quem ficou
corado.
— Explicar o que Blade? Eu já tive essa
conversa com ele há muito tempo, assim
que entrou na adolescência na verdade.
— Julius o mais sensato de todos. Disse
isso calmamente, afagando os cabelos
castanhos do jovem.
— Então chega de falar de pênis e
vaginas por hoje. — Estêvão encerrou o
assunto, por fim Li estava se
contorcendo no sofá de tanto rir da
conversa estranha deles sobre relações
sexuais. — Vá para o seu quarto, Bobbi,
já passou da hora de você dormir, filho,
daqui a pouco vai dar vinte e duas
horas. Hoje é o meu dia de passar a
noite em casa com você, espero que não
tenhamos mais problemas com nenhum
dos Thompson envolvendo o seu nome
no meio. — Foi taxativo como sempre.
— Ou melhor, esqueça que eles existem!
— Blade foi direto. Sem ter o que
contestar despediu-se de todos com um
braço. Maldonado, como sempre, ficou
parado como uma estaca de pau quando
chegou a vez dele. E foi para o seu
quarto chorando em silêncio. Jamais
desobedeceria uma ordem dos irmãos,
mas se manter longe da filha do Juiz
seria algo quase impossível.
— Tenho um trabalho para daqui duas
semanas. Vamos roubar uma linha de
diamantes valiosos. — Comunicou
Estêvão assim que ficaram sozinhos,
esses assuntos não eram falados na
frente de Bobbi.
— E quanto vamos lucrar com isso? —
Indagou Julius curioso, a parte de
planejar onde iriam roubar era do Li.
— Em média uns vinte milhões, se
encontrarmos bons compradores para as
peças, não quero minha parte podem
dividir entre vocês. — Confessou
Estêvão o que fez com que eles se
entreolhassem desconfiados.
— E onde seria esse roubo? —
Perguntou Blade com a sobrancelha
arqueada.
— Será em um local onde poderemos
entrar facilmente disfarçados, terão
muitas pessoas presentes. — Respondeu
misterioso.
— Isso facilita bastante o meu trabalho,
vai ser moleza colocar vocês infiltrados
em meio aos convidados. — O chinês
tinha a mão direita no queixo com os
pensamentos longes, já estava com a
operação toda pronta em sua mente.
— Não saio de casa se não for para ter
um lucro menor que cinquenta milhões,
não vale a pena se arriscar no meio
desse monte de pessoas por essa
merreca. Porque quer tanto roubar uma
coisa que não quer? — Blade foi curto e
grosso.
— Por que não é pelo dinheiro. —
Salvatore tinha o olhar mais distante que
o normal, como se estivesse lembrando
de algo. — É pessoal. — Exclamou
jogando sobre a pequena mesa de centro
a capa de uma revista com a foto de uma
bela jovem anunciada como matéria
principal.
“ Daqui a duas semanas acontecerá o
grande desfile da nova coleção da
Estilista Nayla Borges, durante um
Baile de Máscaras, com o patrocínio
milionário das Empresas Fox que
emprestou joias de ouro puro e
diamantes para dar mais brilho ao
evento. ”
CAPÍTULO 7
"O Baile à Fantasia."
Jesse estava sentada em sua cama
abraçando as próprias pernas, com o
rosto enterrado nas coxas para esconder
o choro. Balançando o corpo
compulsivamente para a frente e para
trás como se estivesse em uma cadeira
de balanço, não queria ouvir os gritos
que vinham da sala ecoando por toda
parte, provavelmente até nos vizinhos.
Para variar o pijama que usava era bem
maior que o seu tamanho, de vez em
quando era obrigada a sair do seu transe
para levar a mão ao ombro para resgatar
a ponta da blusa que escorria sobre a
pele negra aveludada feito uma cobra
cascavel. Enquanto cantarolava a
música de ninar que a mãe cantava para
ela antes de dormir quando pequena,
isso até hoje ajudava a se acalmar, mas
na voz chorosa dela talvez não tivesse o
mesmo efeito como na da mãe. Não
gostava quando os pais brigavam,
principalmente se o motivo fosse ela.
“Brilha, Brilha, Estrelinha, quero ver
você brilhar
Lá no alto, lá no céu, num desenho de
cordel
Brilha, Brilha, Estrelinha, baila linda
bailarina
Brilha, Brilha, Estrelinha quero ver
você brilhar
Lá no alto, lá no céu, num desenho de
cordel
Brilha, Brilha, Estrelinha, baila linda
bailarina …"
— Se tocar na minha filha novamente,
Fill, eu vou te denunciar para a Polícia
por agressão! — Jesse parou de cantar
no mesmo momento e arregalou os olhos
assustada com a ameaça da mãe ao
Major, sabia que sua genitora jamais
deixaria passar em branco o que havia
feito com ela. — E, que você fique
ciente que estou pegando as minhas
filhas e indo embora dessa casa, amanhã
mesmo, se Deus quiser! Quando chegar
do trabalho vai encontrar essa casa
vazia, mas não se preocupe, terá a sua
arrogância para lhe fazer companhia. —
Carter nunca tinha visto a mãe tão
nervosa como naquela noite, era a
mulher mais amorosa do mundo, mas nas
suas filhas ninguém tocava, nem mesmo
o pai.
— Não! — Maria Joaquim se assustou
ao ver a filha quase sem ar encostada no
corrimão da escada tentando recuperar o
fôlego, o apoiador era revestido de
madeira que chegava a brilhar de tão
limpo, assim como tudo naquela casa.
Jesse havia levantado em um pulo e indo
correndo até a sala, passando pelo
corredor feito um tiro. O pai a encarou
com a expressão pesada, mas sem
nenhum pingo de culpa de ver as marcas
no braço da filha, totalmente em
evidência devido as mangas cumpridas
do pijama dobradas acima do cotovelo.
— Volte para o seu quarto filha e arrume
as suas coisas porque vamos embora
amanhã mesmo. — Jesse se assustou
com o grito da mãe, mas não a obedeceu
pela primeira vez na vida, o que fez a
mesma a olhar admirada com a sua
atitude. Ela foi descendo os degraus
fitando os próprios pés descalços,
parando prontamente diante dos dois.
— Nós não mãe, eu vou! — O Major
olhou para a primogênita pasmo,
desabando sobre o sofá marrom escuro
visivelmente em choque com o que
ouvira. Maria José de negra ficou
pálida, branca igual papel.
— Não diga bobagens, menina, você não
vai a lugar nenhum sem mim e a sua
irmã. — Tentou se aproximar dela para
envolvê-la em seus braços como sempre
fazia para proteger sua princesinha do
mundo, mas Jesse nunca foi uma
princesa, não levava jeito para isso, nem
queria. Tinha deixando de ser uma
menininha sonhadora há muito tempo,
talvez até antes do que deveria. Porém,
Carter não aceitou o abraço, deu um
passo para trás evitando o contato
físico, seria mais fácil assim.
— E você vai morar onde? Na rua com
certeza. — Além do excesso de ironia
presente na voz do Major, havia mais
uma coisa, preocupação.
— Não se preocupe, pai, vou me virar
sozinha. — Os olhos dela se inundaram,
como um mar negro trasbordando. —
Tenho feito isso a minha vida toda, a
única coisa que vai mudar é o meu
endereço. — Ele lhe lançou um olhar
frio, mas por dentro suas palavras o
afetaram mais do que estava
demonstrando.
— Isso não é justo comigo, filha, eu e a
sua irmã sempre estivemos ao seu lado
em tudo. — Jesse virou o rosto para o
lado, não aguentava ver a mãe chorando,
ainda mais por causa dela.
— Estiveram ao meu lado sim, mas
nunca me enxergaram de verdade. —
Olhou o próprio reflexo através de um
dos vários troféus da irmã caçula sobre
uma prateleira pendurada na parede
próxima ao corredor que levava a
cozinha, pensando sobre o que tinha
acabado de deixar escapar dos seus
lábios. Viu um rosto com o semblante
triste, cheio de marcas da vida, muito
pesadas para a idade dela. Que nem o
tempo poderia apagar, raiva passa
rápido, mas a decepção pode levar uma
eternidade inteira. Praticamente todos
que conhecera tinha lhe magoado de
alguma forma, fosse de um jeito ou de
outro. O mal da investigadora era medir
as atitudes das pessoas através da sua,
era ingênua demais. Sabia que iria
magoar a mãe dizendo aquilo, porém,
era necessário. — Não sou tão indefesa
quanto parece, posso me cuidar sozinha.
A Senhora e a minha irmã são as
pessoas que mais amo no mundo! Só que
está na hora de olharem para mim de
verdade e me deixarem partir. —
Caminhou até ela e a abraçou o mais
forte que pode.
— Não faz isso comigo, filha, não me
obrigue a ficar longe de você. — A voz
de uma mãe chorosa tomou conta da
sala, estava desesperada. Nunca ficou
longe das filhas por mais de um dia, era
como se estivesse faltando um pedaço
dela.
— A Senhora acredita realmente em
mim, mãe? Que sou capaz de me virar
sozinha, cuidar da minha própria vida?
— Enxugou o rosto da mãe, olhando
para ela com carinho.
— Você é incrível, meu amor, tem u
brilho próprio! A vida nunca vai
conseguir te derrubar, porque não tem
como destruir quem nunca desiste. —
Afagou o cabelo rebelde da jovem, a
conhecia bem, sabia que não poderia
fazer nada além de apoiá-la mais uma
vez. — Sempre acreditei em você meu
amor, no seu potencial principalmente.
Só está um pouco perdida no momento,
mas quando se encontrar de verdade
ninguém te segurará. — Essa foi à forma
da Maria Joaquim dizer que confiava na
decisão da filha e que mesmo com o
coração sangrando iria deixá-la partir.
— Nesse "um pouco perdida" já se
passaram vinte e seis anos, mulher, sua
filha é um desastre ambulante! —
Rosnou o Major, parecia um pitbull
raivoso. — Sabia que a queda que a
investigadora levou das mãos do médico
bêbado que fez o parto dela, tinha
deixado sequelas na menina, só não
imaginou que seriam tantas. — Essa
menina é caso de tratamento psicológico
ou um tempo em alguma clínica de
repouso talvez resolva o caso. — Jesse
poderia pensar que ele disse aquilo em
um momento de raiva, mas ele estava
mais calmo que o normal.
— Obrigada por me entender mamãe, eu
te amo! — Depositou um beijo em sua
testa, fingindo não ouvir os comentários
grosseiros do pai. Escutando o soluço
do choro da mesma aumentar cada vez
mais, repleto de dor. — Vou arrumar as
minhas coisas. — Disse logo de uma
vez, não fazia sentindo ficar alongando
aquele momento.
— Ainda por cima é dramática, sempre
se fazendo de vítima. — Mesmo no
corredor pode ouvir o pai, mas não se
importou nem um pouco, estava perto de
ficar longe daquilo tudo.
— Você não faz ideia da filha
maravilhosa que tem não é mesmo, Fill?
Talvez quando chegar a ver seja tarde
demais, nunca deu uma chance a ela. —
Maria Joaquim apontou o dedo na cara
do marido, a outra mão estava na
cintura, estava muito nervosa com ele e
o mesmo nem se abalou com as palavras
da esposa, era um homem de coração
duro.
— Você quis dizer “tinha”, se ela sair
por essa porta não poderá voltar mais.
— O Senhor Carter lançou as palavras
de forma cruel, totalmente frio. — Jesse
não respondeu ao pai como ele merecia,
apenas abaixou a cabeça e continuou
andando a passos lentos para o quarto
arrumar as poucas coisas que tinha.
Pegou uma pequena mala debaixo da
cama que comprou para viajar, seu
sonho era conhecer um país diferente,
mas esse dia nunca chegou por falta de
condição financeira. Agradeceu aos
Deuses por ter guardado uma pequena
quantia no banco para alguma
emergência, nunca fora de gastar
dinheiro com futilidades. Conseguiu
colocar todas as roupas dela, alguns
objetos pessoais e ainda sobrou um
pouco de espaço. Trocou o pijama por
um conjunto de moletom velho que a
mãe pensou ter sido jogado no lixo há
muito tempo, não conseguia se desfazer
de uma coisa quando gostava muito dela.
— Pelo menos espera o dia clarear,
filha, onde vai conseguir abrigo há uma
hora dessas? — Maria tentou de todas
as formas impedi-la de fazer aquela
loucura, já o pai que estava sentado no
sofá vendo o telejornal em uma TV
antiga, a mesma da época que casaram,
continuou entretido vendo a previsão do
tempo com as pernas cruzadas.
— Relaxa mãe, eu me viro. — Beijou as
costas da mão dela, era sempre assim
que se despedia da genitora antes de sair
de manhã. Caminhou humilhantemente
até a porta, olhou para mãe pela última
vez antes de sair e foi embora. A jovem
mal havia chegado ao portal e já estava
em desespero, morria de medo de
escuro. O rosto estava molhado, era um
choro em silêncio, dolorido. Estava
sozinha no mundo, jogada à própria
sorte. Mas depois que deu o primeiro
passo do lado de fora, a sensação era
outra, de liberdade. A cada centímetro
que se afastava da Rua quinze, do Bairro
Cleveland, onde cresceu brincando na
mesma calçada onde agora se
encontrava segurando a mala sobre o
peito como um escudo, a brisa cheia de
expectativas tocava seu rosto, uma nova
fase da sua vida estava começando. Sem
os cuidados exagerados da mãe e a
repressão do pai, agora no lugar do
lamento havia um sorriso esperançoso.
— Estou livre! — Soltou a mala abrindo
os braços como a Rose do filme Titanic,
só faltou o Leonardo de Caprio no papel
de Jack para a cena ficar perfeita. Saiu
cantando e pulando no meio da rua,
como repertório escolheu a música do
desenho da Frozen.
“Livre estou, livre estou...
Não podem mais segurar...
Livre estou, eu saí pra não voltar.
Não me importa o que vão falar,
tempestade vem...
O frio não vai mesmo me incomodar...
De longe tudo muda, parece ser bem
menor.
Os medos que me controlavam
Não vejo mais ao meu redor,
É hora de experimentar
Os meus limites vou testar.
A liberdade veio enfim pra mim...
Livre estou, livre estou
Com o céu e o vento andar
Livre estou, livre estou.
Não vão mais me ver chorar,
Aqui estou eu e vou ficar...”
— Cala boca, sua maluca! — Gritou um
homem impaciente buzinando sem parar
na intenção de fazê-la sair do meio da
rua, passando em uma poça de água
molhando-a toda de lama. Graça aos
Anjos da Guarda dos sem teto, mesmo
humilhada e toda suja de barro
conseguiu uma vaga em um lugar seguro
para passar a primeira noite fora de casa
sozinha, ser independente não estava
sendo tão difícil como esperava.
— Não acredito que estou passando
minha primeira noite fora de casa! —
Exclamou eufórica, já acomodada.
Como se tivesse viajado para o outro
lado do mundo, não em uma pousada a
três quarteirões de sua casa.
— Estou me sentindo tão rebelde, quase
uma fora da Lei. — Sorriu orgulhosa,
estava enfim crescendo. Poderia até
parecer algo bobo, mas para ele
significava muito. Bocejou cansada
esfregando os olhos, virou para o lado
na pequena cama de solteiro com um
pedaço do estrado quebrado. Era um
lugar simples, mas limpo, confortável e
seguro. O único que o seu dinheiro dava
para pagar, tinha que economizar para o
apartamento que iria alugar no dia
seguinte. Ligou para mãe dizendo para
não se preocupar e parar de mandar
mensagens a cada cinco minutos, pois
estava bem. Na verdade, não estava,
mas tinha fé que ficaria mais para frente.
Até que então chegou o dia do grande
baile, que Nayla fez o favor de lembrá-
la durante a semana, por mais de mil
vezes.
— Não acredito até agora que deixou de
ir ao baile com aquela fantasia linda de
fada encantada que desenhei
especialmente para você, só para ir com
essa coisa sombria. — Nayla apontou o
delicado dedo indicador para a fantasia
de Jesse, ostentando um pequeno anel na
ponta com uma pedrinha de diamante
cristalino como água vinda direto da
fonte, limpa e brilhante. Presente dado
pelo diretor da empresa de joias que iria
patrocinar o desfile, Bredon Fox, filho
do Dono, o qual após conhecer a moça
em uma reunião sobre o evento, não
parou de insistir até que aceitasse sair
com ele. Desde então vinham saindo
juntos, mas apenas como amigos, pelo
menos era isso que a moça pensava. Já
havia se passado duas semanas que
Carter tinha saído de casa, passou
alguns dias na pensão até conseguir
alugar um apartamento minúsculo. O
problema era que o prédio ficava em um
bairro perigoso, próximo ao bar onde
quase foi violentada. Era o único que o
seu dinheiro podia pagar, não podia
gastar o pouco de dinheiro que tinha
guardado com luxos, era fato que quase
não tinha água direito e faltava energia
às vezes, mas era o canto dela. Ninguém
podia incomodá-la mais, era seu
esconderijo. Nos primeiros dias foi
meio difícil, ainda mais porque não
tinha móveis, estava dormindo em um
colchão duro no chão. O pior era o
escuro, morria de medo de ficar sozinha
a noite, então passou noites chorando até
ser obrigada a se acostumar. No trabalho
o pai nem olhava para ela, fingia que
não existia e dava os piores casos para
ela investigar e o mais longe possível
para não ter que olhá-la. A irmã sempre
que podia ia visitá-la, era muito
ocupada, mas quando ia era uma
verdadeira festa. Já a mãe aparecia
todos os dias carregando quase a casa
toda dentro da bolsa para levar para ela,
até dinheiro trouxe, mas Jesse não
aceitava nunca, não estava brincando
quando disse que iria se virar sozinha.
—Você sabe que não gosto da cor rosa,
Nay, cores fortes me dão vertigens. —
Jesse ergueu os olhos e os cravou nos na
amiga, com um ar brincalhão dentro
neles. Estava sentada de frente para a
mesma diante do pequeno espelho oval
pendurado em cima de uma penteadeira
improvisada no que chamava de quarto,
que foi dividido ao meio para
improvisar uma cozinha, onde sobre a
mesma havia um pente quase novo, não
era muito usado. Nenhum tipo de
maquiagem, nem mesmo um batom de
enfeite. Apenas algumas miniaturas dos
personagens do filme Guerra nas
Estrelas, era fã de carteirinha da série.
Um monte de livros, Cds e no canto mais
à esquerda, o perfume masculino que
gostava de usar, apesar de que andava
evitando usá-lo naqueles dias, porque a
fazia lembrar de alguém que usava o
mesmo. Ainda sobre o móvel estava o
distintivo jogado de qualquer forma em
um canto, por um instante seus olhos
pousaram sobre um objeto em especial
que estava em destaque bem no meio.
— Quanto mais puder me esconder do
mundo melhor, sair por aí feito um arco-
íris ambulante não vai ajudar muito. —
Ainda tinha a atenção voltada para a
caixinha de música, mas os pensamentos
estavam no antigo dono dela. Jesse
havia colado pedaço por pedaço, gastou
dois dias, apenas para isso, mas valeu a
pena. Nem parecia que tinha quebrado,
estava tão linda e glamorosa como era
antes. Quando se é uma pessoa de pouca
renda, é necessário aprender o poder
que uma agulha e uma boa cola são
capazes de fazer.
— Cores é sinal de alegria, Jesse, de
vida. Deviria ter algumas peças mais
coloridas no seu guarda-roupas, pelo
menos um lenço ou um salto rosa
choque. — A investigadora baixou o
olhar, não sabia o significado da palavra
"alegria", nunca soube.
— Não tem como demostrar o que não
se sente, talvez por isso nunca gostei de
cores berrantes ou atenção
desnecessária em minhas vestes. —
Coçou a ponta do nariz de leve, o pincel
fazia cócegas, mas com muito cuidado
para não estragar a pintura. — Não
posso reclamar quando as pessoas me
chamarem de palhaça, se me visto como
uma. Além do mais quando quiser
chamar atenção coloco uma melancia na
cabeça, é mais rápido e prático. — Deu
uma rápida olhada no espelho, mas
Nayla virou o seu rosto antes que
pudesse ver alguma coisa. Só iria ver o
resultado depois de pronto, o problema
era que a investigadora tinha muitos
problemas com ansiedade.
— Então está me chamando de palhaça,
Jesse? Sabe muito bem que amo misturar
cores vibrantes, para mim quanto mais
chamativas forem, melhor. — Nay
amava criar peças coloridas e alegres.
Tinha o coração puro e a alma bela.
— Eu até acho bonito em você, Nayla,
porque qualquer coisa que veste fica
incrível. — Olhou para amiga
radiantemente linda dentro de uma
fantasia de anjo, pensando que nela com
certeza não teria o mesmo efeito
impactante. Era um vestido branco
quatro dedos acima do joelho, de
mangas curtas e todo trabalhado em
renda com pedrinhas brilhantes, de
alcinhas e um belo decote mostrando
uma pequena parte do belo busto. Era
bem justo até a cintura, mas bem solto na
saia que era bastante franzida, dando-lhe
uma aparência de boneca de pano.
Ainda mais que o cabelo estava em um
penteado preso meio bagunçado
propositalmente, com alguns cachos à
solta enfeitado com miúdas flores
brancas, do mesmo jeito que usava na
adolescência. Nas costas carregava duas
pequenas asas feita de penas artificiais,
era defensora dos animais, mas tão
perfeita como um anjo de verdade. Para
completar, nos pés sapatos de salto alto
de cristal, que com certeza nem o da
cinderela era tão bonito.
— Onde conseguiu essa caixinha de
música tão delicada? — A Estilista
notou a forma intensa que a amiga olhara
para o objeto à sua frente, Jesse era
assim, quando não entrega os
pensamentos sem querer com as
palavras os olhos revelam tudo. Era
muito transparente, até mais do que
deveria.
— Achei no lixo. — Mentiu. Seria
complicado demais explicar a ela sobre
aquela noite estranha, se não fosse pela
caixinha de música podia jurar que
havia sido um sonho, Blade era bonito
demais para ser de verdade.
— Quem jogaria algo tão sofisticado no
lixo? — Questionou Nay desconfiada,
enquanto espanava o pincel cheio de
tinta sobre a região do pescoço dela,
estava acabando de fazer a pintura que
completava a fantasia, Jesse preferiu
não ir de máscara para não dificultar
ainda mais sua visão no evento, já que
mesmo se levasse os óculos não iria
enxergar muito, teriam muito foco de
luzes no lugar. Também ajudaria a
esconder melhor as marcas do cinto do
pai que mesmo depois de duas semanas
faziam-se presentes no pescoço, as das
pernas que eram mais leves já havia
sumido, as do braço as luvas acima dos
cotovelos cobririam. Como não sabia se
maquiar pediu ajuda para amiga, mas
para isso teve que contar de onde
vieram todos aqueles hematomas. As
duas choraram juntas, além na mãe era a
única que sabia. Sempre que podia
dormia lá para fazer companhia a ela,
até pensou em oferecer ajuda para pagar
o aluguel, mas Jesse não aceitaria.
— Você está incrível, confesso que não
gostava dessa fantasia. Mas te olhando
assim depois de pronta, não te vejo indo
com outra — Nayla avaliou a amiga de
cima a baixo, virando-a de frente para o
espelho para que visse o resultado,
Carter nunca se achou bonita, porém,
naquele momento pensou estar pelo
menos razoável.
— Querida! — Disse uma voz fina e
irritante que Jesse conhecia muito bem,
ela ecoou por toda parte do pequeno
apartamento de três cômodos, incluindo
o minúsculo banheiro cheio de mofo,
assim como o resto da casa. — Cheguei!
— Completou o garoto de treze anos se
materializando na porta do quarto, muito
bem vestido dentro de um terno amarelo
forte com ombreiras largas e gravata
azul escuro. Abrindo os braços num
gesto amplo, exibindo um sorriso
escandaloso no rosto mostrando o brilho
dos dentes revestido de ferro, usava
aparelho. Fora os óculos fundo de
garrafa, o rosto farto de espinhas e
cravos, era o início da puberdade
chegando com tudo.
— Menos Kevin... Deixe a Jesse em paz
pelo menos essa noite. — Nay se zangou
com o irmão caçula, o pré-adolescente
tinha uma paixonite aguda por Carter, na
verdade o garoto pensava que já eram
casados.
— Não venha atrapalhar a nossa
relação, Nayla, inveja mata, sabia,
querida? Nosso amor está escrito nas
estrelas! — Deu uma piscadela para o
lado de Jesse, acompanhado de um beijo
que arremessou no ar na direção dela.
— Nossa! Como o meu bombonzinho
está lindo hoje! Só de pensar que tudo
isso me pertence, fico até emocionado!
— Apontou o dedinho de cima a baixo
pelo corpo da jovem fazendo biquinho
sexy, pelo menos ele pensava que era.
— Essa festa promete! — Jesse respirou
fundo desanimada, não queria mesmo ir.
— Oh! Se promete amorzinho, já estou
até imaginando nós dois no escurinho!
— Kevin segurou o braço dela como se
fosse um amante apaixonado, usava até
uma aliança no dedo para mostrar que
era um homem comprometido.
— Desculpa por isso, Jesse, meus pais
irão chegar um pouco atrasados no
desfile devido ao trabalho deles. Então
pediram para levar essa mala sem alça
com a gente, mas assim que eles
chegarem no evento me livro dele. —
Nayla revirou os olhos frustrada, tirando
uma pequena máscara prateada da bolsa
e a colocando delicadamente, ficando
mais linda do que já estava.
— Você está é louca se está achando que
vou deixar a minha mulher solta nessa
festa com um monte de gaviões a solta
por aí, minha filha! Onde minha Marrom
Bombom for, eu vou junto! — Em um
pulo agarrou na cintura de Carter, como
um chiclete na sola do sapato.
— Pode deixar Nay, seu irmão me faz
rir. — Fez um carinho na cabeça dele,
amava crianças. — Pelo menos um
homem nessa festa me acha bonita, isso
para mim já é mais que suficiente. Agora
vamos senão chegaremos atrasados,
quanto mais cedo formos, poderei ir
embora mais rápido. — Pensou que
talvez, com muita sorte, o desfile
acabaria rápido, então daria tempo de
pelo menos ver o filme que havia
alugado ou colocar em dia a leitura do
livro novo que tinha comprado. Mesmo
com tudo organizado é melhor você
chegar antes dos convidados, deve ficar
na porta para recepcioná-los. — Pegou
a chave do apartamento caminhando em
direção a porta, a estilista ficou
observando-a caminhar, realmente a
fantasia que tinha escolhido estava uma
graça nela, delicada seria a palavra
correta. Disfarçadamente passou os
olhos pela nova casa de Carter, sentiu
vontade de chorar em compaixão com a
forma caótica que estava vivendo, mas
não o fez. Pela primeira vez estava
vendo a amiga feliz de verdade, livre
para ser ela mesma. Os três saíram rindo
em direção ao Mozart, salão mais
badalado de festas da cidade, onde
somente eram realizados eventos de
grande porte.
— Não vai levar bolsa? — Perguntou
Nayla ao ver a amiga levando as chaves
do apartamento e o celular na mão, nada
além disso.
— Não. — Respondeu apenas.
— Pelo amor de Deus, Jesse! Uma
mulher deve no mínimo carregar uma
bolsa com um quite simples de
maquiagem e duas cores de batom
diferentes.
— Para começar eu nem tenho bolsa. —
Nay revirou os olhos, pegou o celular e
a chave e enfiou dentro da bolsa dela.
Do jeito que Jesse era, perderia os
objetos antes de chegar no Mozer, era
desatenta. —Quando for embora lembra
de pegar comigo, senão vai ficar presa
do lado de fora. — Gargalhou
imaginando a cena.
— Não se preocupe, paixão, minha
cama está a sua disposição. — Kevin
levantou o cenho cheio de segundas
intenções. — Vamos nos embriagar com
leite achocolatado sem medo de ser
feliz, a noite vai ser curta para nós dois
Marrom Bombom. — Mexia as
sobrancelhas cabeludas e unidas feito
uma taturana, como se aquela fosse uma
proposta irrecusável, fazendo as duas
rirem. Enquanto uns iam animados para
a festa, outros estavam com tudo
arquitetado para acabar com ela.
— Tem certeza que está tudo pronto para
invadirmos o lugar? O desfile já está
quase acabando – Perguntou um inglês
para lá de ansioso, parecendo um
garotinho esperando a sobremesa depois
de comer todos os legumes, sentado
esperando a resposta da mãe. Estavam
dentro de um furgão disfarçado de
entregadores do bufê, parado
estrategicamente em frente ao Mozer.
— Se perguntar isso mais uma vez não
sei o que sou capaz de fazer, Estevão!
Minha paciência com você já passou do
limite, vá ver se o Julius ou Blade
precisam de ajuda com alguma coisa e
me deixe fazer meu trabalho em paz. —
Li estava nervoso, odiava quando
alguém se intrometia em suas coisas.
Principalmente colocando sua
inteligência à prova, realmente era
impecável no que fazia e não tinha
nenhuma modéstia em deixar isso bem
claro. Girou a cadeira dando as costas
para Estevão e ficando de frente para a
parede do veículo estampada de
monitores com imagens HD das câmeras
de cada canto do salão de festas,
estavam todos prontos para entrar assim
que a última modelo desfilasse, quando
as joias estivessem voltando ao cofre. E
começou a digitar furiosamente em seu
laptop modelo moderno de última
geração, que só seria lançado em dez
anos ou mais.
— Vamos passar o plano mais uma vez
antes de entrar, um erro e todo mundo
está ferrado. — Exclamou Julius,
espetacular dentro do traje Don Juan,
com a postura toda torta, o furgão era
pequeno demais para um homem do
porte dele. Assim como os outros estava
devidamente camuflado debaixo de uma
capa preta tampando a fantasia, que
escondia uma camisa branca de mangas
longas estilo medieval, aberta
mostrando o belo e farto peito
musculoso à mostra. Calça escura de
tecido mole, bem folgada. No rosto uma
máscara preta realçando os lindos olhos
cor de mel. — Vamos esperar o desfile
terminar e entrar pela porta dos fundos,
Estevão vai até o cofre principal roubar
a peça mais cara do evento, um colar de
diamantes negros no valor estimado de
dez milhões. Eu e o Blade ficamos com
o outro cofre para roubar o restante das
joias, depois vamos nos livrar das capas
pretas e nos misturarmos fantasiados no
meio dos convidados, saindo o mais
breve possível pela porta da frente para
evitar suspeitas antes que o roubo seja
descoberto, todo mundo entendeu? —
Perguntou autoritário, como uma mãe
que acabara de explicar algo muito
importante para o filho.
— Sim! Mas é bom lembrarem que esse
roubo é diferente dos outros que estamos
acostumados, terão muito civis no local,
nossa identidade secreta está em jogo
por causa de uma transa mal resolvida
do Estevão. Eu serei os olhos de vocês
aqui fora, vou monitorar tudo pelas
câmeras, então vê se não tiram a porra
do microfone do ouvido. — O chinês
quase gritou, estava preocupado, o risco
que estavam correndo era muito grande.
Mas tudo não passava de drama, seria
capaz de dar a vida para salvar qualquer
um dos parceiros, principalmente pelo
Bobbi. Eram leais uns com os outros,
uma família inusitada, mas unida.
— Já terminou o chilique? E vê se
param de ficar falando palavras de
baixo calão, não quero que o Bobbi
fique com um vocabulário sujo como o
de vocês. — Estevão exclamou
ajeitando a máscara com toda sua
elegância, não precisou de muito para
criar a fantasia de príncipe das trevas
que estava trajando, sua aparência
habitual já era bastante sombria. A única
diferença da sua capa para as do demais
era o revestimento na parte de dentro na
cor vermelho sangue, totalmente fechada
cobrindo o que tinha por baixo. Como
um vampiro escondendo-se do Sol, no
quesito beleza e mistério não perdia em
nada para o Conde Drácula. Lindo e
cheio de desejos de vingança por uma
coisa que não aconteceu bem do jeito
que ele pensava. O cabelo negro liso
partido ao meio, pouco abaixo das
costas, era sua marca registrada. Era um
homem de presença notável.
— Aqui não tem nenhum novato, Li,
vamos entrar e pegar o que queremos.
Se precisar matamos todo mundo e
pronto, pra mim tanto faz. — Exclamou
Blade autoritário, com o ar superior de
sempre. Estava extraordinário, dentro de
um terno Dolce Gabbana todo preto,
muito elegante. Perfeitamente alinhado
aos seus músculos, pelo tecido fino
deveria ter custado uma fortuna. Mas
valeu a pena investir porque estava
divino como se tivesse sido feito
especialmente para ele. Uma camisa
com punho francês e gravata de seda
pura completavam seus trajes. Usava
sapato social pontudos e brilhantes, o
cabelo agora um pouco cumprido estava
muito bem arrumado com gel todo
puxado para trás. O que mais chamava a
atenção era a máscara branca
encobrindo apenas um lado belo do
rosto, charmosamente deixando a beleza
do outro exposta. Em evidência ficaram
os lábios finos avermelhados, levemente
umedecidos, destacando ainda mais os
olhos acinzentados com algumas
manchas azuis. "Com certeza a melhor
versão do Fantasma da ópera, mais
lindo e misterioso do que qualquer
outro."
— Quando quero uma coisa, ela é
minha, independente das consequências.
— Completou perverso, custava querer
algo, mas quando queria, nada o impedia
de tê-la.
— Falou, fodão! — Xing debochou de
Blade, fazendo Julius chorar de rir sem
se importar com a cara feia que ele
estava fazendo sentado elegantemente
em um banco fixado no lado esquerdo da
parede do furgão, próximo de Salvatore.
Estava com a postura ereta, as pernas
cruzadas como um conde de sangue azul.
— O que é "Fodão"? Nunca ouvi essa
palavra antes. — Estêvão perguntou
confuso, gírias populares não existiam
em um vocabulário culto como o dele,
na verdade nem sabia que esse tipo de
dialeto existia. Li respirou fundo para
não perder o resto de paciência que
tinha com ele, achava o parceiro meio
estranho às vezes.
— Eu só tenho amigos loucos, todos
noiados. — Julius ainda estava rindo.
— Não sou amigo de ninguém. — A voz
de Blade matou o riso do mexicano,
sabia ser grosso quando queria.
— Se não fosse não estaria aqui. — A
montanha de músculos também sabia ser
certeiro nas palavras, o impacto em
Blade foi profundo. Mas não deixou
transparecer, não era o tipo de
demonstrar suas emoções.
— Porque não mata ela logo, Estêvão?
Eu no seu lugar já teria feito há muito
tempo, mas não antes de arrancar todos
os membros dela fora, no mínimo. —
Mudou de assunto, era sempre assim que
fazia quando se sentia acuado.
—Também acho! Dá logo um tiro na
cara dessa vadia sem coração e vai ser
feliz, cara, se ela o impede de seguir em
frente, deve cortar o mal pela raiz. —
Essa foi a forma mais gentil que Li
encontrou de dizer ao amigo que o
passado deve ficar no lugar dele, morto
e enterrado. Não adianta querer voar se
suas asas estão presas a coisas que não
te acrescentam em nada. Estêvão olhou
para o chão tristemente, fitando as mãos
finas com as unhas muito bem pintadas
de preto.
— Mas também não vamos te obrigar a
nada, se quer resolver as coisas assim, o
problema é seu! — A voz de Blade
parecia calma, porém, sem paciência
como sempre. Fazia duas malditas
semanas que não conseguia dormir, o
cheiro da policial estava em toda parte
no seu esconderijo, principalmente no
quarto. Naquele dia, quando chegou
cansado em casa totalmente frustrado
por conta da conversa com Bobbi, tirou
a camisa e as botas desabando sobre a
cama. Deitou de barriga para cima
fitando o teto, pensando em um certo
anjo perdido que passou pelo seu
caminho repleto de pecados. Mil coisas
povoaram sua mente, contra sua vontade,
mas estavam lá. Ele não a suportava,
isso era um fato, era inocente e frágil
demais. Mas ao mesmo tempo corajosa
e destemida, o coração puro e a alma
bondosa. Olhava para ele como se não
fosse um monstro, nem tinha medo dele.
Isso o irritava bastante. Achava-a
estranha, atrapalhada e burra,
simplesmente queria a jovem bem longe
dele. Blade não tinha paciência para
mediocridade.
" Ela era detestável, mas porque, quando
fechava os olhos, via a imagem dela
sorrindo timidamente? Isso não fazia
sentido."
Maldonado gostava de mulheres bonitas,
cheias de atitudes, bem vestidas e de
saltos, sem escrúpulos na cama. Gostava
de sexo selvagem e bruto. Mulheres que
esbanjavam charme por onde passavam,
com corpos fartos em curvas e de beleza
avassaladora. Jesse era totalmente o
contrário disso. Visivelmente insegura,
malvestida. Usava o cabelo como se
acabasse de acordar, para completar
suas roupas pareciam pijamas de tão
largas, feias e pobres. E aquele jeito
inocente era o que mais irritava Blade,
tinha vontade de gritar com ela toda vez
que abria a boca com aquela voz doce
dos infernos. Os lábios carnudos
mexendo delicadamente, era como a
visão do pecado para ele, que cometeria
com prazer. Virou para o lado puxando
lençol branco de seda para tapar o
corpo gigante, a cama era enorme. Era
uma pena desperdiçar tanto espaço com
apenas uma pessoa, mas o homem Sem
Lei já havia se acostumado com a
solidão, estava apenas esperando a
morte para se libertar daquela vida
promíscua de pecados e orgias regadas
a sangue, uísque e sexo. Já havia se
conformado que o inferno era o seu
destino desde que nasceu, não existia
lugar no céu para os Maldonado. Por
isso jamais teria filhos, essa raça ruim
morreria com ele. Quando estava quase
dormindo abriu os olhos vendo a
pequena bandeja do café da manhã que
havia levantado cedo para preparar para
ela, como não sabia o que gostava fez ao
gosto dele. Observador como era, notou
que o cacho de uva estava intacto, então
o que ela levou enrolado no jornal
velho? Perguntou-se não imaginando o
que poderia ser. Um pequeno pedaço de
papel dobrado encostado na jarra de
leite chamou sua atenção, esticou o
braço forte repleto de tatuagens e o
pegou. Ajeitou alguns travesseiros nas
costas para se sentar, lendo atentamente
cada palavra escrita pelo anjo.
"Muito obrigada pelo café da manhã,
estava tudo delicioso. A gente não
encontra ninguém nessa vida por
acaso, cada pessoa é um teste, uma
lição, ou um presente. Pode até tentar
se esconder, mas eu te vejo muito além
do que deixa transparecer. Lembre-se
de mim, se possível; esqueça, se
necessário."
J.C.
Ele tinha ciência que era preciso
esquecê-la, mas sabia que era
impossível.
Estevão estremeceu só de imaginar o
fato de ver Nayla morrendo, queria vê-
la sofrendo em vida, aquilo seria só o
começo de sua vingança. — Nem todo
mundo resolve as coisas matando os
outros, Blade. — Jogou o cabelo para
trás, o comprimento estava começando a
lhe incomodar, não costumava usá-lo tão
grande. — Algumas pessoas são mais
sensatas, deve-se tirar tudo o que elas
têm primeiro, para matá-las depois. —
Concluiu naturalmente.
— Então vamos invadir essa porra logo,
hoje é o meu dia de passar a noite com o
Bobbi. — Levantou ajeitando o terno
preto, um jeito simples, mas sexy. —
Não quero deixar o Mascote esperando,
combinei de jogar xadrez até dar a hora
dele dormir. — Pegou duas pistolas em
uma maleta prateada e as colocou na
cintura, uma de cada lado. Assim que o
desfile terminou, um sucesso total, a
passarela foi desmontada e as cadeiras
retiradas deixando o salão livre para o
baile, as luzes se apagaram ficando
apenas os flashes de luzes coloridas
tomarem conta da pista de dança onde os
convidados se encontravam bailando
animadamente. Aproveitaram o som alto
para entrarem sorrateiramente pelos
fundos, Li ficou no furgão orientando-os
por onde passar para não serem
descobertos. Assim que chegaram ao
corredor principal, Estêvão se
encaminhou ao lugar onde o colar mais
valioso estava protegido por um cofre
de aço, já ansioso por isso. Para Blade e
Julius foi moleza fazer a parte deles, em
menos de trinta minutos já haviam
pegado o que queriam, o lugar era fraco
em segurança. Em pouco tempo já
estavam se livrando das capas e se
misturando ao povo no salão,
divertindo- se ao som da música
animada que estava tocando, o desfile
havia sido mesmo um sucesso. Julius fez
sinal para Maldonado assim que viu
alguns seguranças cochichando,
provavelmente haviam descoberto o
roubo.
— Saiam daí, agora! O roubo foi
descoberto pela estilista, estão fechando
as portas do local. Não estou
conseguindo falar com Estevão desde
que entrou no cofre principal, acho que
já saiu de lá. — Li praticamente berrou
pelo microfone, fazendo Maldonado
olhar para o parceiro e fazer sinal para a
saída. Mas apenas o mexicano passou
por ela, Blade havia congelado no lugar.
Não conseguia mexer um músculo, como
se uma força o estivesse segurando
pelas pernas. Sabia que tinha que ir, mas
simplesmente não conseguia.
Imediatamente, um par de olhos intensos
acinzentados escuros atravessaram o
salão como um raio, tomando
imediatamente um tom novo, um azul
jacinto se fez presente, idêntico à cor de
um dos diamantes que havia roubado, o
que mais tinha gostado. Sua pele parecia
pegar fogo, algo muito forte e totalmente
novo. Foi pego de surpresa, não
esperava por aquilo, pensou que nunca
mais iria encontrar o anjo perdido
novamente. Ainda mais fantasiada
daquele jeito tão obscuro. Não entendia
como ela conseguia fazer algo que era
para parecer sombrio e assustador,
transparecer tanta inocência. "Um anjo
se escondendo atrás de uma fantasia de
cisne negro e tênis, perdido em um
inferno como aquele, cheio de
pecados..."
Já dentro do cofre, o brilho do colar de
pérolas refletia nos olhos azuis
penetrantes de Salvatore, o mesmo
estava pé diante de um tripé sustentando
uma caixa de vidro aberta. Totalmente
hipnotizado olhando para o objeto de
luxo em suas mãos que havia acabado de
tirar do cofre, era lindo e formoso.
Estava se sentindo vingado, mas só um
pouco, ainda faltava muito para dizer
que estava realmente satisfeito. Mas por
hora era o suficiente, teria muito tempo
para destruí-la por completo. Com muito
jeito pegou a tampa de vidro e
recolocou no lugar, teria menos de cinco
minutos para sair dali antes que
descobrissem o roubo.
— Estevão, é você?
O inglês ficou literalmente sem ar ao
ouvir o som daquela voz doce
novamente, continuava do mesmo jeito
que lembrara, amável e gentil. Sem
forças para se mexer continuou parado
feito uma estaca, totalmente sem ação.
Não teria coragem de virar e encará-la,
tão pouco responder sua pergunta. Não
sabia como o tinha reconhecido, já que
estava com o capuz e o rosto coberto
pela máscara. O que ele não sabia era
que o amor é capaz de lembrar de cada
detalhe, gesto ou palavra. Ela não o
esquecera em momento algum, o levara
consigo onde quer que fosse, nunca teve
espaço para nenhum outro, sabia que
cedo ou tarde, iria reencontrá-lo, porém
jamais imaginou que poderia ser naquela
situação. Ele se encolhia cada vez mais,
pensou que talvez a jovem desistisse de
falar com ele e fugisse para pedir ajuda.
Afinal, em algum momento a "ficha"
dela teria que cair, estava sozinha dentro
de um cofre com um bandido armado e
perigoso, essa era a esperança dele.
— Por favor, Estevão, fale comigo, eu
esperei por este momento a minha vida
toda.
A essa altura a jovem já tinha os olhos
lacrimejantes, a voz chorosa era prova
disso. Estava passando pelo corredor
por acaso quando viu a porta do cofre
entreaberta, entrou para ver o que estava
acontecendo. — Não se esconda! Odeio
quando faz isso, olhe para mim quando
estiver falando com você. — Tentou
puxar o braço dele, mas foi impedida
antes que o fizesse, ele se virou com os
olhos brilhando de raiva.
— Não toque em mim! — Explodiu
Estevão, em um grito assustador que
saiu de forma rude de seus lábios.
Quando enfim criou coragem para virar
e olhá-la, arrependeu-se. O que viu fez o
seu coração parar, os olhos dela
estavam brilhantes e molhados, fixos no
colar que estava em suas mãos.
— Esperou tanto por esse momento...
Com certeza para rir de mim como os
seus amigos fizeram, tenho que admitir
que foi uma grande atriz. Deve ter sido
muito difícil para a garota mais popular
da escola, a famosa, Nayla Borges,
fingir gostar do “Edward Mãos de
Tesoura”, de todos eles você se mostrou
a pior. — Cuspiu as palavras cheias de
rancor, os músculos do rosto estavam
tensos e os dentes trincados de raiva.
Parecia querer voar no pescoço dela a
qualquer momento, enquanto o que ela
mais queria era voar para os braços
dele.
Seu semblante se entristeceu ao lembrar
daquela época, chegou a ficar
depressiva tendo que fazer tratamento
psicólogo. Então desistiu, não porque
não tinha mais forças para lutar, mas sim
por não aguentar sofrer mais com o seu
silêncio. — Limpou as gotas que
deslizavam em seu rosto como um dia
chuvoso, as mãos tremiam sem parar.
— Quando reencontrei o Bryan por
acaso em um evento de moda, ele
acabou comentando que assim que fui
embora você arrumou uma namorada
linda e ficava falando mal de mim para
todos, inclusive para ela. — Agora sua
voz tinha outro sentimento, ciúmes.
— Chega de mentiras! Não acredito em
uma palavra que sai da sua boca, você
não vale nada! Assuma logo que se uniu
com seus coleguinhas para abusar de
mim como sempre todos fizeram, achei
que gostava de mim do jeito que eu era e
ainda sou. — Virou de costas para ela,
estava envergonhado. — Pensei que
fosse diferente, um anjo que Deus
mandara para trazer luz ao meu mundo
sombrio. — Ela observou as costas
largas que antes tinham a postura ereta,
murchar como uma flor.
— Eu sempre te achei lindo, único para
mim. — Sua voz era doce, mas ao
mesmo tempo ardente. Uma mistura de
ternura e paixão, Nayla era uma mulher
segura de si, porém, Estevão lhe fazia
sentir-se como uma criança perdida no
escuro. Se antes o achava lindo quando
adolescente, agora como homem, pensou
estar vendo a perfeição em pessoa. Ele
era alto, forte e de postura viril, a coisa
mais linda do mundo aos olhos dela
— Chamou minha atenção desde o
primeiro instante que te vi, ali sabia que
seria meu! Cedo ou tarde! — Ele
estremeceu ao ouvir tais palavras, sentiu
a intensidade das mesmas tocarem seu
corpo. — Pode até se esconder do
mundo, mas não de mim. — Concluiu
segura, sempre fora muito boa com as
palavras.
— Afaste-se de mim, satanás! —
Praticamente gritou, com os olhos azuis
em chamas, o braço esticado com a mão
aberta para evitar que ela se
aproximasse dele. — Não vai mais me
tentar com suas mentiras, e vá para o
inferno onde é o seu lugar. — Nayla
levou um choque, aquele não era o seu
Estevão, o primeiro e único amor que
teve na vida.
— Você iria roubar isso? — Apontou
inocentemente para o colar, que
brilhava, mas não chegava nem perto do
brilho dos olhos de Estevão hipnotizado
com a visão dela tão linda à sua frente.
— Não iria, já roubei! — Disse
friamente enfiando o colar dentro do
bolso, ato acompanhado belos olhos cor
de mel da moça. Pensou em como aquele
olhar meigo o atormentara durante anos,
por um momento se arrependeu do
plano, existem coisas que quanto mais
mexemos, piores ficam, melhor as
deixar adormecidas. Agora todo ódio
havia ido embora, estava vulnerável
diante do inimigo. Era sempre assim, o
lado humano que havia nele só se
manifestava diante dela.
— Olhe para mim, Estê, sou eu, a sua
Nay, lembra? — O chamou pelo apelido
que ela mesma inventou na época do
colégio, só o chamava dessa forma
carinhosa, ameaçando mais uma vez
tentar tocá-lo.
— Não ouse! — Com uma habilidade de
mestre tirou as duas pistolas Kid e Jack,
nome que deu a elas quando comprou e
apontou as duas no rosto dela, pelo
semblante assustador não estava
brincando. Com o susto Nay tropeçou
quebrando o salto de um dos sapatos de
cristal, para se equilibrar melhor tirou
os dois e jogou em qualquer canto do
cofre. O inglês ainda com as armas
apontadas para ela, a observou abaixar
de forma sensual para tirá-los.
Inevitavelmente corou ao ver a bunda
dela redondinha arrebitada mostrando as
belas coxas, o tempo havia sido
generoso com ela.
— Algum problema aí Senhorita
Borges? Ouvimos vozes alteradas. —
Gritou dois seguranças que passavam
pelo corredor, estavam preocupados
com a estilista.
— Está tudo bem, podem continuar o
trabalho de vocês. — Disse sem olhar
nos olhos de Salvatore, jamais o trairia,
uma pena ele não saber disso.
— Porque fez isso? Essa era a sua
chance de fugir.
Abaixou as armas, a encarando de uma
forma inexplicável. Agora reparando na
fantasia percebeu como era curta, até
demais na opinião dele. Mexeu
incomodado com o volume começando a
se formar no meio de suas pernas, estava
ficando excitado apenas em olhar para
ela. — “ Deus como ela era linda, pura
e angelical."
— Por você! — Respondeu apenas
mordendo os lábios, estava nervosa com
os olhos intensos dele sobre ela.
— Remorso a essa altura do
campeonato, senhorita Borges? Nada do
que fizer vai apagar o que ajudou a
fazerem comigo, você mentiu para mim.
— Lançou as palavras cheias de ironias
e ressentimento.
— Então foi isso que você se tornou? —
Houve uma certa melancolia em sua voz,
decepção talvez. — Um bandido frio e
sem coração, que por acaso veio roubar
logo durante a festa do meu desfile, eu
estava tão feliz depois de anos, mas
você estragou tudo. — Desviou os olhos
dele, a dor era grande demais, quase
insuportável.
— Quem disse que foi por acaso? —
Exclamou em tom de sarcasmo, andando
de um lado para o outro olhando
impaciente para o relógio de ouro, Nay
notou que a relíquia antiga prendia um
dos botões, a corrente conduzida até um
pequeno bolso. Sim ele usava relógio de
bolso, era um verdadeiro Lorde nos
mínimos detalhes. Ela também observou
que a capa voava a cada passo de
Salvatore, de forma elegante e ao
mesmo tempo sexy. A estilista não
conhecia esse lado de Estevão, mas
mesmo assim estava feliz por vê-lo,
esperou por muito tempo por isso.
— Porque, Estevão? Só quero saber o
porquê de tanto rancor, tramar contra
alguém que sempre te am... — Ela não
conseguiu terminar a frase, o choro
tomou conta de tudo. Encostou-se na
parede de aço e escondeu o rosto com as
duas mãos, parecendo uma criança
assustada. Meio que por impulso
Estêvão deu um passo para ir até ela,
mas não o fez. Quando a estilista, enfim,
conseguiu cessar o choro e abrir os
olhos seu Príncipe das Trevas não
estava mais lá, porém, nunca deveria ter
saído. A única coisa que estava faltando
era um pé dos seus sapatos de cristal,
vasculhou por toda parte, mas não o
encontrou em lugar nenhum. A essa
altura o objeto já estava longe, indo para
o lado sul da cidade.
CAPÍTULO 8
"Então ela não ficava tímida só na
minha frente..."
Ele observava Jesse feito um falcão, não
via mais nada naquele lugar além dela.
O local estava lotado, cheio de belas
mulheres muito bem vestidas, mas a
delicadeza da jovem se sobressaía
perante a todas. Mozart era um local
amplo e sofisticado, localizado no
bairro mais conceituado e bem
frequentado de Los Angeles. Enfeitado
com cortinas grandes espalhadas pelas
paredes e jarros de flores por toda
parte, onde os milionários e
principalmente as estrelas de
Hollywood usavam para realizarem suas
festas de gala. Contudo era um lugar que
não combinava com Carter, ostentação
não fazia parte do estilo dela. Se não
fosse pela amiga jamais iria a um
ambiente como aquele, não passaria nem
perto.
— Blade, o que ainda está fazendo aí?
Saia desse lugar agora! — Li gritava
desesperado. Maldonado simplesmente
tirou o microfone do ouvido e o colocou
no bolso. Voltou os olhos para ela
novamente, tendo a certeza que aquele
não era o lugar dela. Jesse estava toda
encolhida, sozinha, escondida num canto
mais escuro do evento, onde ninguém
poderia achá-la, pelo menos era o que
ela pensava. Encostada em uma parede
cor de ouro vivo próxima ao bar,
entretida feito uma criança pela primeira
vez em um circo vendo o espetáculo
principal da noite, totalmente encantada
observando um homem vestido de calça
escura e camisa roxo escuro, uma
gravata borboleta e avental atrás de um
balcão de vidro equilibrando três
garrafas de bebidas no ar, dançando no
ritmo da música que estava tocando, era
o barman do evento. O mais incrível era
que de dentro delas saiam labaredas de
fogo nas cores amarelo e laranja,
puxadas nas pontas para um azul escuro
acobreado. O homem virou um pouco do
líquido de cada uma dentro do copo de
cristal, entregando sorrindo
educadamente para um homem muito
bem vestido dentro de um terno cinza
italiano, que apertou sua mão
parabenizando-o pelo pequeno show. O
sorriso dele ficou ainda maior quando
virou para o lado e viu um anjo
fantasiado de cisne negro para lá de
animado batendo palmas, deu uma
piscadela charmosa para o lado dela.
Ato que não foi muito bem visto aos
olhos de Maldonado, fechou os punhos
com força, os olhos em duas poças
vermelhas como sangue fresco! — “Ela
se alegrava com coisas tão banais."
Jesse parecia uma boneca, pequena e
delicada. Ela trajava um vestido negro
como a noite, um corpete sem alças
ajustado por tiras atrás e uma saia com
várias camadas de véus feitas pétalas de
uma rosa, curta e arrebitada. Até demais
na opinião do Homem sem Lei, foi a
primeira coisa que lhe veio à mente.
Desceu os olhos para as pernas, arqueou
a sobrancelha surpreso com o que viu,
ela tinha belas pernas. Grossas e bem
torneadas, atraentes até. Para completar,
luvas até a curva dos braços, tênis All
Star pretos e ainda um colar de pedras
negras falsas. O cabelo preso em um
coque alto com alguns cachos soltos.
Blade teve que assumir que ela escondia
muita coisa debaixo daquelas roupas
largas, um corpo pequeno e magro, mas
com contornos delicados. A pintura do
rosto até a extensão do pescoço era
clara, sobre os olhos duas asas pretas
abertas, como um pássaro preparando o
voo. Em câmera lenta, conforme os
casais passavam dançando fervorosos,
ele a via sorrindo timidamente
observado tudo de longe, no canto dela.
Quando Jesse chegou ao baile, respirou
fundo com a cabeça erguida. Mas
quando olhou a sua volta e viu todas as
fantasias ricas em cores e detalhes,
saltos altos e esbanjamento de elegância
e sofisticação, sentiu-se totalmente
deslocada e estranha. Será que ninguém
usava mais o pretinho básico? Eram
tantas cores juntas que a moça estava
ficando tonta, teve que se afastar em um
canto mais discreto, viu o desfile todo
de lá. Porém estavam todas iguais só
mudavam as cores dos vestidos e os
penteados. Jesse era a única a se
destacar, tanto na ousadia como na
delicadeza. Logo ela que tentava a todo
custo se esconder do mundo,
principalmente da maldade das pessoas.
Ela corou ao ver o barman cochichando
alguma coisa no ouvido de um dos
garçons olhando na direção dela, era um
homem atraente, negro, não tão alto, mas
o charme compensava a falta de altura.
O cabelo encaracolado e os olhos
verdes como esmeraldas, um sorriso de
tirar o fôlego.
— Com licença, senhoria, o barman lhe
mandou essa taça de champanhe francês
para alegrar a sua noite. — Um garçom
vestido totalmente de preto, entregou-lhe
a bebida com uma expressão maliciosa
no rosto. Ela aceitou de bom grado,
olhou de longe e o viu acenando com
aquele sorriso galanteador no rosto. Em
um rompante de coragem, caminhou até
o bar para agradecer pessoalmente.
Ficou admirada com o minibar, havia
prateleiras de vibro ostentando garrafas
de bebidas de todo o tipo, uma mais
cara que a outra. Todas muito bem
organizadas e limpas, fora a coleção de
copos de cristal dentro de um armário
também de vidro.
— Muito obrigada, você é muito gentil!
— Olhou para ele sem jeito, de perto o
sorriso dele era ainda mais bonito. Ela
tentou fazer charme sentando-se em um
banquinho redondo de ferro próximo ao
balcão, quase caiu no chão, ele era
giratório. Sem querer derrubou uma
pilha de guardanapos brancos, como
andorinhas voando.
— Desculpe-me! — Falou
envergonhada.
— Não precisa se desculpar Anjo, meu
nome é Michelangelo, mas pode me
chamar de Miche. — Inclinou-se sobre o
balcão para beijar o rosto da
investigadora, era brasileiro, simpático
como todos os latinos. Ela arregalou os
olhos assustada com o ato repentino
dele, foi o contato mais próximo que
teve de um homem.
— O meu é Jesse, prazer em conhecê-lo!
— Mexia em alguns enfeites sobre o
balcão, miniaturas de garrafas de
bebidas antigas.
— O prazer é todo meu, Anjo! De perto
consegue ser mais linda ainda. — Carter
desviou os olhos para a multidão em
frente ao palco do DJ. Pulando e
gritando mais alto que a própria música,
havia uma mulher vestida de dançarina
de tango dentro de um vestido vermelho
rodado pouco acima dos joelhos, com
um decote enorme, sapato alto, muito
bem maquiada, o cabelo escuro e longo,
solto como um manto sobre as costas e
enfeitado com uma flor. Estava
rodopiando pelo salão, dançava bem,
era sensual, o vestido rodava veemente
pelo ar. Houve um momento que Carter
podia jurar ter visto um homem com a
metade do rosto coberto por uma
máscara branca olhando na direção
deles com uma expressão de ódio. Mas
o tecido vermelho da saia passou na
frente da sua visão e em um segundo o
homem de terno preto não estava mais
lá.
— Eu só posso estar ficando louca. —
Balançou a cabeça frustrada, pensou
estar tendo alucinações.
— Disse alguma coisa, linda? — O
brasileiro a fitava atentamente.
— Não, só pensei alto. — Abaixou o
olhar, estava tendo uma sensação
estranha como se estivesse sendo
observada.
— Só um instante Anjo, preciso atender
um cliente, mas já volto para você. —
Disse Michelangelo de forma muito
sedutora ao pé do ouvido da moça, mais
perto que o necessário. Fato que a ficou
intimidou e a deixou levemente corada,
mesmo estando com o rosto pintado.
— O que o Senhor gostaria de beber?
— Quero um Dalmore 62, Whisky Royal
Salute com duas pedras de gelo, Tequila
Ley com gin e uma água com gás para a
moça. — Jesse paralisou ao ouvir
aquela voz grave novamente, grossa e
incrivelmente sexy. Não teve coragem
de levantar a cabeça para olhar para ele,
pensou que talvez tivesse sido apenas
uma alucinação.
— Tudo bem, meu Anjo? Parece que viu
um fantasma. — Michelangelo tocou
com carinho a mão da moça sobre o
balcão frio de vidro, com a mesma
delicadeza que o pintor de quem herdara
o nome pintou a tela na qual deu o nome
de "Anjo", assim como o apelido que
havia dado a ela. Os olhos de Blade
saltaram sobre eles ardendo como duas
brasas em fogo.
— O nome dela não é "Anjo". — A voz
grossa tomou conta do ambiente
novamente, visivelmente alterada. — É
ela não é sua e nunca será. — Agora o
tom foi mais severo.
— Eu estou bem, Michelangelo, não se
preocupe. — Ofereceu a ele um sorriso
confortante para mostrar que estava
realmente bem, mas não estava, não
mesmo.
— Pode ser bastante perigoso aceitar
bebida de estranhos investigadora, não
sabia disso? — Exclamou Maldonado
assim que o rapaz saiu de perto deles
para preparar o seu pedido, ela criou
coragem não sabia de onde para encará-
lo, tinha o corpo um pouco inclinado
sobre o balcão meio de lado com o
olhar ameaçador, como um leão
vigiando a presa. — No seu caso para
ambas as partes, principalmente para
ele. — Completou frio, como a geleira
do Alasca. Carter esperou passar o
calafrio que percorreu todo seu corpo,
devido ao tom assustador que a voz dele
lhe causou. Para assim talvez tentar
assimilar alguma coisa inteligente para
respondê-lo, mas com aqueles olhos
azuis como o mar lhe encarando-a seria
bastante difícil.
— Eu passei a noite na casa de um e
ainda estou viva, não estou? —
Respondeu uma pergunta com outra
desviando o olhar, em um tom irônico
demais para uma pessoa doce como ela,
o problema era que Maldonado
realmente tinha o poder de tira-la do
sério. Pelo canto dos olhos, reparou
como ele acertou a postura ficando
elegantemente de pé bem diante dela.
Jesse notou que Blade parecia bem
maior e mais forte do que lembrara,
lindo, atraente e muitas outras coisas
mais que tinha até vergonha de falar.
Pensou em perguntar o que estava
fazendo em um desfile de moda
feminina, como havia passado as últimas
semanas ou se tinha pensado nela como
ela havia pensado nele a cada minuto.
Só que era tímida demais para isso,
também da forma que estava tremendo,
as palavras não sairiam entendíveis.
Levou a taça de champanhe efervescente
à boca na esperança do álcool dissipar
um pouco a tensão que pairou entre os
dois, mas seu ato foi vedado antes de ser
concretizado.
— Não acha que está um pouco cedo
para beber? — Tomou a taça da mão
dela rudemente, colocando-a sobre a
bandeja de um garçom que estava
passando.
— Mas eu estou com sede. — Fez cara
feia, empertigando-se nos seus um metro
e sessenta e cinco de altura.
— Não se preocupe, a água com gás que
pedi é para você. — Ela negou com a
cabeça, a vontade dela era socar a cara
dele por ser tão pretensioso. — Se
sóbria já é um desastre, não quero nem
imaginar quando estiver embriagada. —
Enquanto falava seus olhos rodavam o
salão, havia seguranças por toda parte.
— Pensei que tinha dito que é perigoso
aceitar coisas de estranhos. —Jesse
ficou séria e franziu o cenho.
— Não sou mais um estranho, afinal
passou a noite na minha casa. —Inclinou
o corpo para ficar da altura dela, o que
foi meio difícil para um homem de um
metro e noventa e cinco de altura. — Ou
melhor, na minha cama! — Completou
baixinho no pé do ouvido dela, se
cerificando que foi o suficiente para um
certo barman metido a conquistador
barato escutar. Blade sempre tinha tudo
planejado. Ela queria xingá-lo por ter
sido tão cretino, só que estava
desorientada demais com tanta beleza
diante dela. Observou seus contornos
perfeitos debaixo daquela maldita
máscara sexy, o rosto era quadrado,
milimetricamente perfeito. O cabelo
castanho claro, seus olhos que naquele
momento estavam azuis como céu no
verão, nariz reto e um furinho charmoso
no queixo. A barba por fazer, de dois ou
três dias no máximo, as marcas de leve
das covinhas que ansiavam por um
sorriso para se manifestarem de verdade
pois nunca tiveram essa oportunidade.
Os lábios curvilíneos e finos, ficou
encantada ese perguntou qual seria o
gosto do beijo dele? Preferiu não pensar
na resposta, nunca teria a oportunidade
de obtê-la.
— Aqui está sua bebida, Senhor! —
Michelangelo não tinha mais o sorriso
simpático no rosto, nem olhou mais para
Jesse enquanto entregava o pedido de
Maldonado.
— A agua é para a moça. — Lançou os
olhos sobre ela, que estava olhando para
os pés envergonhada.
— Preciso dela sóbria essa noite. — E
o cretino agiu novamente com aquela
voz atraente, ironizando coisas que os
dois sabiam muito bem que jamais iriam
acontecer, infelizmente, pensou ela.
— Não quero! — Deu dois passos para
trás criando uma distância entre os dois,
cada gesto seguido discretamente pelos
olhos dele.
— Não perguntei se queria. — Foi rude.
— Então vou pagar por ela. —
Arrebitou o nariz, Maldonado odiava
quando ela o enfrentava daquela forma.
— Não teria dinheiro para isso.
Ela piscou várias vezes tentando
esconder as lagrimas e abaixou a cabeça
visivelmente envergonhada, mordendo o
lábio inferior. Ele a havia chamado de
pobre a ponto de não ter dinheiro nem
para pagar uma simples água com gás,
na verdade não tinha, mas ele não sabia
disso.
— Tudo bem, princesa, fica como
cortesia da casa! — Ela levantou o rosto
sorrindo para Michelangelo com os
olhos cheio de lágrimas, o que fez
Miche ficar ainda mais encantado por
ela.
— Creio que você também não tenha
dinheiro para pagar por isso, deve
custar no mínimo dois meses do seu
salário miserável. — Disse
naturalmente, deslizando o dedo na
borda do copo olhando o líquido de cor
de canela dançar de um lado para o
outro dentro dele. Jesse olhou para ele
literalmente chocada! Como podia fazer
alguém se sentir mal daquela forma, isso
não se faz com ninguém. E o que tinha
dentro daquela água com gás, ouro?
— Na verdade sim, minúsculas
partículas de ouro branco. — Explicou
calmo, como se tivesse escutado os
pensamentos dela. A investigadora
pensou que se a água era tão cara assim,
não queria nem imaginar o resto que ele
havia pedido e ficou boquiaberta ao vê-
lo tirar um maço de notas de cem
dólares do bolso, devia ter no mínimo
mais de dez mil. Entregou para o Bar
Man de um jeito que não encostasse
nele, já o odiava e nem sabia o porquê.
— É fácil gastar dinheiro quando não se
trabalhou duro para consegui-lo. —
Jesse jogou o copo de qualquer jeito
sobre a mesa, o afrontando mais uma
vez, porém aquela passou de todos os
limites de paciência de Maldonado.
Havia suado para conseguir aquele
dinheiro, levou um mês inteiro
planejamento esse roubo. — "Ela estava
pensando o quê? Que roubar um banco é
fácil, é mais complicado e complexo do
que parece."
— Se você jogar uma nota de cem
dólares em uma poça de lama, ela
continuará tendo o mesmo valor.
Passou a mão pelo cabelo de forma
sexy, tanto que duas mulheres lindas que
iam passando em direção ao banheiro,
uma fantasiada de Cleópatra e a outra de
Feiticeira literalmente babaram em cima
dele. Ele tinha um poder assustador
sobre o sexo oposto, não precisava fazer
nada para que elas caíssem aos seus pés.
Ele nem as notou, sua atenção estava
voltada para uma certa baixinha
abusada.
— Para pessoas como você com certeza
terá. O bom de ser pobre é que não
precisamos de muito para sermos feliz,
só uma coxinha com um suco de laranja
bem gelado, já me satisfaz. — Lançou
um olhar irônico para ele, totalmente
desafiador.
— Duvido que exista alguma coisa que
todo o "seu dinheiro" possa comprar,
você tem tudo, mas ao mesmo tempo não
tem nada!
Ele franziu o cenho fuzilando-a com o
olhar. O pior é que sabia que ela estava
coberta de razão, quanto mais dinheiro
roubava, mais vazio por dentro sentia.
Porém, a adrenalina o fazia sentir vivo,
poderoso.
— A pessoa sabe que me irrito com
qualquer coisa e mesmo assim fica me
provocando. — Resmungou baixinho,
xingando alguns palavrões.
— Disse alguma coisa? — Perguntou
debochada com um sorrisinho vitorioso
no rosto, adorava provocá-lo.
— Com certeza nada que seja de sua
conta. — Respondeu grosso, fazendo o
sorriso dela morrer.
— Não precisa falar assim com ela,
cara! — Michelangelo cavalheiro como
era defendeu a moça, seu pai lhe
ensinara desde de cedo que se deve
tratar as mulheres com respeito.
— E você, cale a boca anão, porque não
vai ver como a Branca de Neve está? —
Encarou-o de semblante fechado fazendo
piada com a altura do rapaz, os punhos
cerrados mostrando que estava pronto
para qualquer coisa. Sempre fora um
homem muito discreto, mas naquele
momento não estava ligando para mais
nada, estava disposto a tudo para acabar
com aquele sentimento estranho que
estava surgindo ao ver a forma que o
barman olhava para ela, era algo que
não dava para segurar, completamente
novo, incontrolável. — Antes que eu
mesmo a cale!
O rapaz chegou a engolir em seco
encarando-o, parecia Davi frente a
Golias, mas mesmo com medo era
homem demais para correr, mesmo que
essa fosse a sua vontade.
— Tudo bem Miche, eu estou bem! —
Jesse segurou no braço dele com
carinho, Blade sentiu queimar nele
quando as pontas dos dedos o tocaram
de forma tão delicada e gentil,
oferecendo-lhe um sorriso doce.
— Não vale a pena, às vezes a melhor
solução é silenciar quando o outro
espera que você grite. — Era a primeira
vez que Maldonado se sentira inferior,
ela falava sem olhar para ele, como se
fosse invisível. — O grito assusta, mas
o silêncio destrói qualquer um!
— Como eu disse a água é uma cortesia
minha, princesa, não se preocupe porque
para os funcionários tem um bom
desconto. Como não bebo é a primeira
coisa que vão descontar do meu salário.
— A investigadora abriu um sorriso
largo, daqueles que iluminam tudo a sua
volta.
— Mas, o champanhe que mandou me
entregar, deve custar uma fortuna! —
Estava se sentindo culpada, não queria
que gastasse tanto dinheiro com ela.
— Não se preocupe, Anjo, o champanhe
está sendo bancado pelos organizadores
do evento, só as bebidas mais caras são
pagas. — Ela sorriu aliviada.
— Lembra a minha resposta sobre o
convite para sair Miche? Mudei de
ideia, eu aceito. — Ele não sabia do ela
estava falando, mesmo assim gostou da
ideia de sair ela. Jesse bebeu um pouco
da água, não sabia jogar, pela expressão
irada no rosto de Blade era a prova que
estava indo muito bem. — "Miche? Que
porra de intimidade é essa com um cara
que acabou de conhecer, e que história é
essa de sair com ele?"
— Mas eu pensei que vocês dois
fossem... — O barman coçou a cabeça
sem jeito. — Íntimos.
— Não estou tão necessitado assim. —
Pensou alto, grosso além da conta.
Jesse cuspiu a água longe, pasma com o
comentário dele, que agora degustava
como se fosse o vinho mais caro do
mundo, o que deixou Blade bastante
irritado. Já que nem havia tocado nela
antes do futuro cadáver dizer que era
cortesia dele, tudo só para se mostrar
para ela.
— Não entendi o que quis dizer com
isso, ela é linda! — Carter abriu um
sorriso largo com o elogio.
— Só se for para você, ela não faz o
meu tipo! — Olhou para ela de cima a
baixo com total desdém, fazendo cara de
nojo quando parou no par de tênis,
graças a Deus, novos. Para ele mulheres
deveriam usar saltos o tempo todo.
Carter desviou o olhar envergonhada se
sentindo mais feia do que de costume.
— Mas faz o meu! — O brasileiro lhe
entregou um pequeno pedaço de papel
com o número dele, segurando a sua
mão mais tempo do que era necessário.
— E eu fico muito feliz em saber disso!
— Ouve uma sutil troca de olhares entre
eles, a moça deixou escapar um leve
sorriso tímido. A beleza atrai, mas a
simpatia conquista.
" O que ela está fazendo? Flertando com
ele na minha frente?"
— Tire as mãos da minha Marrom
Bombom. — Kevin chegou chegando
exibindo um copo de coquetel de
morango em uma das mãos, como se
fosse a bebida mais forte dali. Agora
estava sem o casaco, se achando, dentro
de uma camisa branca com bolinhas
laranjas com as mangas dobradas até os
antebraços.
— Sua o quê? — O barman perguntou
com vontade de rir, o menino era
naturalmente engraçado.
— Nada, Miche, e você, Kevin, porque
não vai dançar um pouco? Daqui a
pouco seus pais vão te chamar para ir
embora, então tem que aproveitar,
gatinho! — O homem sem Lei ficou
reparando a forma que ela abaixou para
ficar do tamanho do garoto para ajeitar a
sua gravata chamativa, sorria para ele
de forma amável, quando terminou bateu
o dedo indicador na ponta do nariz dele
depositando um beijo no rosto dele.
— Ótima ideia, Bombom! — Pegou na
mão dela e saiu arrastando-a para o
meio da pista de dança, Jesse tentou se
soltar, infelizmente não teve sucesso.
Quando viu já estava sendo empurrada
de um lado para outro pelas pessoas, a
música que estava tocando era animada.
Kevin rodopiava feito um pião,
rebolando, sumindo no meio da
multidão. Já Carter cruzou os braços,
não sabia dançar.
— Feche os olhos e deixe se levar pela
música, gatinha, pode se soltar um
pouco. — Olhou para ela por cima dos
óculos fundos de garrafa, de uma forma
muito séria.
— Mas só um pouquinho, Bombom, não
abuse da minha boa vontade. — Ela
soltou uma gargalhada alta, do tipo de
virar a cabeça para trás. Quando caçou
adolescente, ele já tinha sumido
novamente, era uma figura. Ela decidiu
fazer o que ele disse, imaginou como se
estivesse sozinha em casa com o fone no
ouvido. Como que no automático
levantou os braços acima da cabeça e
deixou-se levar ao som das batidas,
agora era um ritmo mais suave, que
nunca tinha ouvido antes. Remexia os
quadris de um lado para o outro, de
forma delicada. De forma tímida
deslizou as mãos pela lateral do corpo,
visivelmente sem jeito. O que deixou o
ato ainda mais erótico, Blade observava
cada movimento dela encostado a uma
pilastra de forma despojada. Os olhos
como duas pérolas iluminadas pelo
uísque, brilhantes e intensos.
"Ela era tão tímida, um diamante
bruto, só esperando para ser
lapidado."
Maldonado sabia que não deveria estar
ali, se expor daquela forma era loucura.
As duas esferas cor de jacinto estavam
ao mesmo tempo na dança inocente da
moça, mas sensual e na centena de
seguranças circulando, cochichando uns
com outros, olhando para os lados
desconfiados, sabiam que o ladrão
estava entre os convidados. Estava
confuso e surpreso com as próprias
atitudes, aquele não era ele, estava se
comportando como um homem das
cavernas marcando território em um
terreno que não era dele, nem queria que
fosse. Virou o uísque em um só gole,
decidido a ir embora e esquecer aquela
noite estranha, principalmente de um tal
de "Michelangelo" que tinha aparecido
dos quintos dos infernos e assim como
ele estava a admirar Jesse dançando.
"É melhor sair antes que eu cometa um
homicídio triplamente qualificado em
público, esse idiota está pedindo para
morrer."
Deu uma última olhada nela antes de
virar as costas para ir embora, ela
continuava com os olhos fechados
mexendo o corpo no ritmo da música.
Por um momento Blade quase não foi,
mas deixou a razão falar mais alto e
seguiu o seu caminho. Não deu nem dois
passos quando ouvira risadas altas,
quando viu do que se tratava o corpo
todo ficou rígido, a expressão mais séria
que o habitual. Jesse estava caída no
chão de qualquer jeito, ela havia
inexplicavelmente tropeçado no próprio
pé e caído bruscamente, na verdade
perdeu o equilíbrio ao vê-lo indo
embora. Devido à força no impacto o
coque havia se desfeito, deixando uma
bagunça de cachos sobre o seu rosto.
Ele não se importou, não se importava
com nada nem com ninguém.
Michelangelo olhava para aquela cena
com o coração doendo, imediatamente
pulou o balcão e foi em socorro da
moça.
— Dance comigo! — Ordenou
Maldonado. O barman foi rápido, mas
não o suficiente.
Jesse levantou o olhar chocada, ele
havia estendido a mão para ajudá-la a se
levantar. Ainda meio atordoada,
delicadamente segurou sua mão,
sentindo a força e a rigidez da dele que
a ergueu com a maior facilidade, se
libertando do contato imediatamente.
Carter percebeu quando ele a limpou a
mão no paletó, com uma expressão de
nojo como se tivesse tocado em um cão
sarnento.
— Eu não sei dançar! — Respondeu
sem jeito fitando os pés, mordendo o
lábio inferior.
— Não foi o que me pareceu quando
estava agora pouco mexendo o corpo
feito uma cobra cascavel balançando o
chocalho, muito menos para os olhares
masculinos que estavam sobre esse
pedaço de pano que chama de vestido.
Passou a mão no cabelo incomodado ao
lembrar, Jesse não entendeu a aspereza
na voz dele.
— Porque quer dançar comigo, se não
suporta que eu o toque? Isso não faz
sentido. — Perguntou confusa.
— Também gostaria de saber a resposta.
— Respondeu rude, até um pouco
nervoso talvez.
— Obrigada pelo convite, mas acho
melhor não. — Ameaçou sair.
— Não foi um convite e acho bom para
sua segurança e a dos demais presente
não me contrariar. Posso ser muito
destrutivo às vezes, não vai querer pagar
para ver.
Discretamente abriu o paletó
propositalmente para que ela visse as
duas armas em sua cintura, a jovem
sentiu um calafrio passar pela sua
espinha.
— Está bem, eu aceito. —
Instintivamente a investigadora levou a
mão ao ombro dele, sentiu
imediatamente os seus músculos ficarem
tensos, talvez tivesse se arrependido do
convite. Para sua surpresa sentiu a ponta
dos dedos de Blade deslizar em volta da
sua cintura puxando-a para perto dele,
mas deixando uma distância
consideravelmente segura entre os dois.
— Assim está melhor! — Colocou o
cabelo dela atrás do ombro, arrumando
aquela bagunça de cachos, gentil até
demais na opinião dela.
— Obrigada! — Agradeceu tímida, sem
tirar os olhos dos botões do paletó dele.
Aos poucos começaram a dançar, ele era
bom nisso, muito mesmo.
— Agradeça não caindo ou quebrando
nada, já percebi que é boa nisso. — Os
movimentos dele eram leves, parecia um
profissional dançando.
— Acho melhor paramos por aqui então,
é mais seguro. — Ela parou de dançar
no mesmo momento, evitando olhar para
ele.
— Apenas fique calada e relaxe. —
Tranquilizou-a pegando a mão dela e
voltando a dançar novamente, tentando
manter o máximo possível de distância,
é claro. Não queria um ser tão
insignificante como tocando-o, poucas
tinham essa regalia. Em as que tinham
eram escolhidas a dedo por ele.
— O que está fazendo aqui, Senhor?
Aqui não parece ser um lugar que
costuma frequentar. — Perguntou
inocente, sem nenhum tipo de maldade.
Seus olhos passaram em volta deles
notando que todas as mulheres tinham os
olhos sobre Maldonado, fossem elas
comprometidas ou não, ele atraia a
atenção de todas.
— Já disse que meu nome é Blade. —
Olhou severo para ela, como um
professor reprendendo sua aluna.
— Você não nada sobre mim, muito
menos os lugares que frequento.
Visivelmente não entende nada ligado a
moda, e também está aqui. — Se não o
conhecesse, teria ficado profundamente
magoada com a grosseria dele.
— Gosto das minhas roupas, são
confortáveis. Além do mais, pago com o
meu dinheiro e ninguém tem nada com
isso. — Não foi uma má resposta,
apenas disse o que estava pensando.
— Cuidado com esse pé assassino, se
continuar assim, vou terminar essa dança
aleijado. — Foi irônico, abusando
também.
— Desculpe-me! — Manteve os olhos
no chão com medo de pisar nos pés dele
novamente.
— Olhe para mim, não precisa se
preocupar investigadora, eu não mordo.
— Olhou para ela com malícia, cheio de
segundas intenções. — A não que você
queira isto, é claro! — Ele estremeceu,
tentando mudar de assunto
imediatamente.
— Seu nome é tão diferente, acho que só
vi uma vez em um filme de vampiros na
minha adolescência, se não me engano.
— Suspirou fundo, tentando ter um
diálogo normal com ele.
— Esse não é meu nome verdadeiro,
apenas um apelido que o meu pai me
deu, no mundo do crime assim que
nascemos ganhamos um apelido do pai
que usamos juntos com o sobrenome
dele, caso precise mudar de identidade
algum dia tenho um nome verdadeiro e o
segundo nome da minha mãe, totalmente
desconhecido para recomeçar. —
Explicou, educado demais para a
surpresa dela.
— Seu pai foi muito criativo. — Sorriu
docemente.
— O que está rolando entre você e o
zangado? — Mandou logo de cara.
— Nada! — Ela estava visivelmente
constrangida com o assunto. — Por
enquanto! — Mas não escondeu suas
intenções.
— Esqueça, nunca vai poder competir
com a Branca de Neve. — Tentou fazer
piada, mas era sério demais para dizer
alguma coisa engraçada.
— Nunca gostei das princesas das
Disney. — Deu de ombros. Blade não
disse mais nada, involuntariamente
estava prestando a atenção na letra da
música que começou a tocar, era lenta,
mas intensa ao mesmo tempo.
When a Man loves a woman...
(Quando um Homem ama uma Mulher)
Quando um homem ama uma mulher
Não consegue pensar em mais nada!
Ele trocaria o mundo
Pelas coisas boas que encontrou nela.
Se ela for ruim, ele não percebe.
Ela não erra nunca, mesmo sendo
atrapalhada.
Ele vira as costas para os seus
melhores amigos,
Por ela, sim ele faria isso...
Quando um homem ama uma mulher
Gasta seu último centavo
Tentando se agarrar ao que ele precisa,
Ele abriria mão de todos os seus
confortos
E dormiria lá fora na chuva
Se ela dissesse que essa é a forma
Que deveria ser...
Então esse homem ama uma mulher
Eu lhe dei tudo que eu tinha
Tentando me agarrar ao seu precioso
amor
Baby, por favor não me trate mal
Quando um homem ama uma mulher
No fundo de sua alma
Ela pode lhe trazer muito sofrimento,
Se ela faz ele de bobo
Ele é o último a saber
Olhos apaixonados nunca conseguem
ver...
Quando um homem ama uma mulher
Ele nunca pode fazer mal ela
Ele nunca iria gostar de outra garota
Sim, quando um homem ama uma
mulher
E você sabe exatamente do que eu
estou falando,
Porque ama essa mulher em seus
braços...
— Se eu conhecesse quem escreveu essa
porra de música, dava um tiro nele! —
Rosnou. Mas Jesse nem ouviu. Estava
quase cochilando com a cabeça
encostada no peito dele, sentido o cheiro
do perfume que vinha evitando a dias,
ouvindo o coração daquele bandido
bater forte e acelerado como de um
beija flor. Ele nem viu quando a jovem
se aproximou dele daquela forma íntima,
mas por estranho que fosse tê-la tão
perto, não a afastou. Ao contrário, sua
mão desceu mais abaixo na cintura dela
a trazendo mais para perto de si.
— É com uma dor enorme que quero
anunciar o roubo das joias da empresa
Fox, que foram emprestadas para o
desfile da estilista Nayla Borges.
Segundo o chefe de segurança o ladrão
está aqui no meio dos convidados com
as peças furtadas, então esse evento
acaba aqui. Ninguém sai sem ser
revistado, o local está todo cercado pela
Polícia.
— Anunciou o chefe de segurança
causando uma onda de estresse entre os
convidados, acabando com a festa.
Blade sentiu Carter paralisar em seus
braços, deu dois passos para trás
horrorizada. Ele sabia o que ela estava
pensando e não sentiu remorso, não
mesmo. Misteriosamente as luzes
piscaram e do jeito que apareceu sumiu
em um piscar de olhos. A investigadora
procurou a amiga por toda parte, mas
não a achou. Nayla havia desaparecido
também, levando o seu celular e as
chaves. Como o pessoal da Polícia
presente a conhecia não foi revistada,
saiu sem nenhum problema.
— Pelo menos não precisei ser
apalpada por ninguém e nem ter a minha
bolsa toda revirada. — Suspirou
aliviada, andando a procura de ponto de
ônibus já que tinha perdido a carona da
amiga. — Espere aí, eu não tenho bolsa.
— Arregalou os olhos assustada com um
volume pendurado no ombro, era
pequena e de couro marrom, idêntica à
de uma mulher que estava dançando
perto deles.
— Cretino! — Praticamente gritou ao
abri-la e ver as joias dentro dela, não
fazia ideia de como ele fez aquilo.
Blade sabia que não a revistariam por
ser uma policial, então a usou para sair
com as peças sem gerar nenhuma
suspeita. Ele havia a usado para se
safar, por isso tinha a chamado para
dançar. Tinha tudo planejado, por isso
chegou perto dela. Passaria pela
segurança sem nenhum problema,
poderiam virá-lo as avessas e não
achariam nada. E agora o que faria com
aquelas joias? Como explicaria para a
melhor amiga que estavam com ela?
Sentiu-se usada, o pior ser do mundo.
— Esse dia não pode ficar pior. —
Resmungou enquanto andava pensado no
que havia acontecido naquela noite,
queria acreditar que ele não tinha nada a
ver com isso, mas a resposta era óbvia.
Jesse sentiu um vento gélido tocar a
ponta do seu nariz quando ultrapassou o
terceiro quarteirão, acompanhada de um
pingo de chuva. Atrás daquele vieram
vários outros, agora o momento
nostalgia estava completo. Além de
humilhada, sem celular e chave, estava
encharcada. Sabia que era idiota, só não
imaginava que chegava a tanto. Era
incrível como todos se aproximavam
dela na intenção de usá-la. Agora não
lhe restava nem dignidade, de certo
modo, querendo ou não, era cúmplice
dele. Ouviu um ronco de um motor
bastante familiar andando devagar ao
lado dela, não ousou virar o rosto para
confirmar o que suspeitava.
— Você pode adoecer debaixo dessa
chuva. — Sua voz parecia mais suave,
sabia que ela deveria estar muito brava
com ele. Carter fingiu que não ouviu,
continuou andando de cabeça erguida
olhando para frente.
— Não me faça sair e pegá-la à força
investigadora, esse terno custou mais do
que você ganha em um ano. — Ela não
aguentou parou repleta de raiva.
— É só em grana que você pensa não é
mesmo, seu cretino? Se é isso que quer
pegue e vá embora, nunca mais quero te
ver. —Arremessou a bolsa pela a janela
do carona acertando na cara dele, era
boa de mira, e saiu correndo rua afora
debaixo da chuva. Podia ouvir os passos
dele cada vez mais rápidos atrás dela.
Jesse tentou olhar para trás, não vendo
uma pilha de lixo à sua frente, acabou se
esparramando bem em cima dela.
— Da próxima vez que me mandar para
o inferno, é você que vai parar lá! —
Ele a levantou de qualquer jeito toda
suja e molhada arrastando-a para um
beco próximo a imprensando na parede,
balançando Carter pelos braços com
força. Estava tão nervoso que nem notou
como ela estava chorando assustada, só
parou de gritar quando viu que a tinta do
rosto dela havia saído deixando
evidente a marca da crueldade que o pai
havia feito com ela. Blade literalmente
paralisou, os olhos saiam faíscas. Nunca
tinha ficado não nervoso antes, o sangue
estava fervendo em suas veias, parecia o
demônio em pessoa.
— Quem fez isso com você? — Gritou
de forma uma assustadora, arrancando
as duas luvas dela. Levou as mãos na
cabeça transtornado, estava fora de si.
— Ninguém, isso não é da sua conta. —
Exclamou com a voz trêmula, estava
com medo da explosão dele.
— Fale logo, porra! — Socou a parede
ao lado do rosto dela, abrindo um
buraco na mesma. Ela permaneceu
calada, desviando o olhar.
— Seja quem for vou achá-lo nem que
seja no inferno e o matarei da pior forma
possível. — Disse perversamente com
os olhos acinzentados escuros, pelo seu
tom não estava brincando, e não estava
mesmo.
CAPÍTULO 9
Mesmo sendo uma noite gélida por conta
da chuva, Jesse podia sentir o calor da
respiração ofegante dele tocar o seu
rosto, uma mistura de uísque com gim.
Blade a puxou para um canto mais
discreto e escuro do beco, próximos a
um monte de coisas velhas e poças de
água, o tênis novo dela estava
encharcado, onde mesmo se gritasse o
mais alto que pudesse ninguém a
ouviria. Apertava o braço dela com
força, mas com cuidado para não a
machucar, apoiando a outra mão na
parede ao lado do ombro dela, Jesse
estava presa. O cheiro de Carter era
diferente das mulheres com quem
costumava sair, leve e suave. Não doce
demais e enjoativo ou chamativo. Ela
não tinha nada que chamaria a atenção
de ninguém, principalmente a dele. Por
isso o intrigava tanto, o deixava confuso
e irritado. Não deveria se importar tanto
com o que acontecia com ela, mas se
importava, muito.
— Quando eu faço uma pergunta, espero
uma resposta rápida, investigadora. —
A voz dele soou perversa, mortalmente
sexy. Jesse, por sua vez, estava
irredutível. Ela virou o rosto para o
lado, desviando os olhos dos dele, duas
safiras iluminadas pelo ódio. Blade
observou como as gotas de água caiam
sobre o rosto delicado da moça,
traçando um caminho lento e doloroso.
Deslizando pelo pescoço, brincando um
pouco sobre o colo, depois escondendo
dentro do decote generoso do espartilho
da fantasia de Cisne Negro, no qual, ele
notou que assim tão de perto os seios
dela pareciam ser bem maiores do que
pareciam. Podia sentir o cheiro de
medo, o coração batia rápido como de
um ratinho assustado. — "Como alguém
tinha coragem de machucar um anjo
como ela? Tão frágil e delicada como
uma flor."
— Presta bem a atenção porque só vou
perguntar mais uma vez, quero o nome
desse maldito agora! Entendeu bem o
que eu disse Jesse? — Carter limitou-se
apenas a olhar para ele, a forma
autoritária como se dirigia a ela estava
começando a irritá-la. Que direito tinha
sobre a vida dela? Falava como se fosse
seu dono ou se tivesse o direito de tratá-
la de tal forma. Estava cansada disso,
das pessoas a tratarem feito um fantoche,
um ser indefeso, que não podia se
defender sozinha. Não aguentava mais se
sentir humilha, usada pelos outros.
— Porque não atira logo em mim e
segue o seu caminho? Já não tenho mais
utilidade para você, então pare de fingir
que se importa comigo porque nós dois
sabemos que não. — Sua voz saiu mais
para um sussurro, tão baixo que ele
quase não ouviu. Ela deveria ter tido a
coragem de olhar dentro dos olhos dele,
mas não teve, infelizmente. Teria visto
que talvez ele se importasse sim, mais
até do que deveria.
Blade observou a sua postura
naturalmente submissa diante dele, a
falta de coragem de encará-lo, os lábios
trêmulos, os olhos piscando várias vezes
para conter o choro, arregalados como
se tivessem visto um mostro. E estava na
frente de um! Jesse estava assustada e
com medo dele. Ele a soltou
imediatamente, dando dois passos para
trás, recuando.
— Nunca machucaria você! — A voz
dele saiu baixa, como se tivesse
pensado em voz alta. — Nunca! —
Completou com uma certeza que
assustou os dois, principalmente ele.
— Mas, você me machucou muito hoje!
— Olhou para ele com os olhos
mareados, os lábios se projetando um
pouco para fora, trêmulos. — Não é
necessário deixar marcas para ferir
alguém, certas atitudes doem mais do
que um tiro. A única diferença entre
você e o meu pai, é que as marcas que
ele deixou em mim são visíveis, as suas
não.
Ela intencionalmente levou a mão sobre
o coração, abaixou a cabeça deixando
caírem livres as lágrimas que estava
segurando há muito tempo. O homem
sem Lei não pode ver, sua visão foi
vedada pelo manto de cabelos molhados
que cobriu o rosto dela. E naquele
momento um sentimento que não
conhecia tomou conta dele, sentiu
compaixão ou até culpa talvez.
Maldonado ameaçou se aproximar dela,
porém, desistiu ao ver como a jovem
envolveu os braços em volta do próprio
corpo se encolhendo toda, se encostando
cada vez mais na parede como se
pudesse atravessá-la e sair correndo
para bem longe dele. — " Tão indefesa!
Poderia ser destruída com um sopro!"
— Sou bom em machucar as pessoas,
investigadora. —Enfiou as mãos dentro
do bolso da calça de tecido preto,
sempre fazia isso quando estava
nervoso. Ela o deixava assim, sem ação.
— Mas em você eu jamais tocaria um
dedo sequer.
Ela levantou a cabeça para encará-lo, o
mesmo não soube distinguir se era a
chuva ou lágrimas que rolavam pelo
rosto da moça feito um rio. As palavras
de Blade pareciam sinceras, só não
entendeu a expressão pesada presente no
rosto dele ao proferi-las.
— E vou garantir que ninguém mais
toque em você! — Encurtou ainda mais
a distância entre os dois, dessa vez ela
não recuou. — Nem mesmo o seu pai.
— Completou firme.
— Mas você vive me ameaçando. — A
voz dela era chorosa.
— Quando quero realmente matar
alguém, não aviso a pessoa antes. —
Aproximou sua boca bem perto da dela.
— Ajo silenciosamente. — Ela
estremeceu.
—Você vai matar o meu pai? —
Perguntou com medo de ouvir a
resposta.
— Matar, não... — Ele deixou o resto da
frase solta no ar, como um balão de gás
sem rumo.
— Obrigada! — Ela sorriu tímida
fitando as próprias mãos fazendo toda a
raiva dele desparecer.
"Como ela faz isso? Só com um
sorriso..."
— Porém, não vai mais morar com ele.
— Foi taxativo, sem aberturas para
argumentos.
— Não moro mais já faz duas semanas,
agora sou só eu contra o mundo. —
Exclamou orgulhosa.
"Morando sozinha? Isso não pode ser,
alguém tem que cuidar dela."
— Não está mais sozinha. — Ele olhou
no fundo dos olhos dela, de um jeito
muito intenso. Carter tinha mais medo
dele assim em calmaria do que quando
tempestuoso.
— Eu preciso ir. — Saiu praticamente
correndo, sentiu o braço ser puxado
bruscamente.
— Você tem duas alternativas, pode ir
andando bem devagar sem tentar
nenhuma gracinha e entrar no meu carro
de boca fechada e permanecer todo
caminho assim. Ou ser do meu jeito, mas
vou logo adiantando que não vai gostar
nem um pouco. — Ela preferiu não
arriscar e ficou com a primeira
alternativa, era mais segura.
— Onde você está morando agora? —
Blade perguntou assim que colocou o
carro em movimento. Se soubesse o
quanto iria se irritar com a pergunta, não
a teria feito.
— Em Compton, virando à esquerda ao
sul do centro. Na terceira quadra, prédio
de tijolos vermelhos. — Explicou
olhando a vista pela janela, estava
nervosa demais para olhar para ele.
— Porque uma mulher se mudaria para a
mesma rua onde quase foi estuprada? Se
quiser que isso aconteça porque não sai
na por aí pelada, caso não saiba esse é o
bairro mais perigoso da cidade. — Era
incrível como ele não conseguia
conversar com ela de outra forma a não
ser gritando. Jesse tinha o poder de tirá-
lo do sério.
— Porque esse foi o único lugar que o
meu dinheiro dava para pagar. — A
resposta dela o acertou em cheio,
provavelmente um apartamento naquela
área seria uns oitocentos dólares ao
mês, valor seis vezes menor do que
pagou em uma jaqueta que comprou na
semana passada.
''Será que ela estava se alimentando
direito? Ou pior, talvez nem tivesse o
que comer em casa."
Blade por um instante tirou os olhos da
estrada para olhar para ela, se assustou
em com o que viu. Carter havia
visivelmente perdido peso naquele curto
espaço de tempo, dava para ver
perfeitamente os contornos dos ossos
debaixo da pele, tão frágeis que
pareciam quebrar com a mesma
facilidade de uma taça de cristal.
Reparou também em como ela mexia o
anel com uma pedrinha preta no dedo
anelar de um lado para o outro de um
jeito muito delicado, sexy.
— Pare com isso. — Ordenou.
— Com o quê? — Perguntou confusa.
— Ficar mexendo na porra desse anel
de forma tão indecente. — Nem ele
entendeu o porquê havia dito aquilo, só
queria que ela parasse, imediatamente.
Jesse pensou em respondê-lo
grosseiramente, mas preferiu apenas
ignorar e voltar a olhar a paisagem.
Blade então reparou que havia mais
marcas do cinto do pai nas costas, tão
fortes como no pescoço.
— Maldito! — Resmungou baixinho.
Não deixaria aquilo passar impune, não
mesmo.
— Onde estamos indo? — Jesse
perguntou confusa, aquele caminho não
era o do seu bairro.
— Vamos passar em um lugar antes, tem
que tirar essa roupa molhada antes que
pegue um resfriado. — Ele estava sendo
cuidadoso, pensou ela com um leve
sorriso no rosto.
Só então Jesse percebeu o quanto estava
tremendo de frio, mesmo com o ar
quente do Impala ligado no último grau.
Não demorou muito para entrarem em
um condomínio de luxo, um dos mais
caros de Los Angeles. A casa era a
última da rua, a maior e mais luxuosa.
Não dava para ver direito por estar à
noite e o vidro do carro embaçado por
causa da chuva. Um portão enorme se
abriu dando a visão de uma centena de
carros de todos os modelos, desde
Ferrari a clássicos dos anos oitenta. Era
evidente que tinha uma coleção,
enquanto ela não tinha condição nem
para comprar uma bicicleta velha.
Usaram um elevador interno que deu
direto no que ela deduziu ser o quarto
dele, que era enorme. Sem dizer nada
Blade sumiu em uma porta à esquerda,
voltou minutos depois apenas de calça
jeans folgada exibindo os músculos
cheios de tatuagens e com um conjunto
de moletom cinza em mãos.
— Vista isso e permaneça aqui até que
eu volte. — Olhou para ela
ameaçadoramente, com o cenho
levemente franzido, estava impaciente.
— Tente não quebrar nada, não serei tão
bonzinho como da última vez. — Foi
direto, o olhar severo deixou bem claro
que não estava blefando. Jogou as
chaves do carro sobre o criado mudo e
saiu apressado por outra porta que dava
acesso ao corredor a qual Jesse fechou
imediatamente se livrando das roupas
molhadas o mais rápido que pode,
tremendo os lábios já cianóticos em um
tom azulado vivo. A Blusa de Blade
ficara enorme na moça, quase um
vestido. Com muito cuidado sentou-se
em uma poltrona de couro ao lado de
uma mesinha redonda, onde sobre a
mesma havia uma coleção de livros de
filósofos famosos como Aristóteles,
Platão, Sócrates e René Descartes.
"Porque um bandido gostaria de ler
algo como aquilo? Ele não parecia ser
um homem que lia filosofia ou mesmo
poesia."
Também havia um abajur e alguns
objetos pessoais dele, poucos.
Permaneceu imóvel como se estivesse
com medo de sentar-se na cama e
quebrá-la. Sem mexer o corpo, girou os
olhos discretamente observando cada
detalhe do lugar. Assim como o quarto
dele no esconderijo, aquele não
ostentava muitos moveis, mas o que
tinha eram requintados e de bom gosto.
Uma cama espaçosa no centro, Carter se
perguntou se ele deveria trazer muitas
mulheres ali. Deduziu logo que sim, um
homem lindo como aquele não parecia
ser o tipo que passava suas noites
sozinho. As paredes pintadas em um tom
cinza escuro fosco, horrível, pensou ela,
com prateleiras de vidro repletas de
miniaturas de carros, inclusive uma
idêntica ao Impala 67. Não duvidaria
nada se ele possuísse uma miniatura de
cada um que viu na garagem. Ao lado da
porta que acreditava levar ao banheiro,
havia a do closet. Deduziu que não teria
mal algum em dar uma olhadinha de
longe, sem tocar em nada. Entrou com
muito cuidado, pisando na ponta dos pés
como uma bailarina. Havia uma
imensidão de cabides pendurados
separando as peças por cores e estilo,
duas fileiras só de camisas pretas e
brancas. Parecia até um tabuleiro de
xadrez, era evidente a falta de tons
fortes, gostou muito disso, sempre
preferiu mais tons neutros a rosa choque.
Jaquetas de couro e prateleiras de
madeira com várias calças jeans
dobradas. As peças variavam em marcas
como Kevin Clay, Dolce Gabbana,
Armani e outras tantas que gente da
classe dela não tinha conhecimento que
existiam. Não resistiu e acabou pegando
uma das jaquetas para sentir o cheiro
dele, ficou tão atordoada que foi dando
passos para trás à procura de algo para
encostar até que a firmeza das suas
pernas voltasse. — "Não bastava ser
lindo, tinha que ser cheiroso também."
Quando alcançou a parede com as
costas, teve a impressão que ela havia
se movido do lugar, virou assustada e
viu uma pequena abertura nela. Era uma
passagem secreta para um quarto cheio
de armamento, um verdadeiro arsenal.
Cabines contendo as armas mais
potentes do mundo, entre metralhadoras
automáticas, pistolas de vários modelos,
fuzis M16, Carabinas M4A1, Rifles de
longo alcance Warfare ou AW.
Escopetas de combate. Jesse chegou a
babar em uma Desert Eagle deixada em
destaquem em um tripé. Sempre sonhou
em ter uma daquela, era silenciosa e
rápida. Porém, o que lhe deixou em
choque mesmo foram os quadros de
homens com estilos totalmente
diferentes, mas com os mesmos traços
físicos. Eram fotos de várias épocas,
grande parte em preto e branco, as
roupas também deixava claro a
diferença de tempo de uma para outra.
Com certeza uma árvore genealógica
dos Maldonado, destacando os
patriarcas da família. O detalhe mais
importante era que todos eles seguravam
uma mesma arma, era uma relíquia
passada de pai para filho. — " Meu
Deus! Então o The Collt existe mesmo."
— A prova legitimidade dela, era o
pentagrama no cabo representando a
proteção contra o mal. A arma e as treze
balas feitas especialmente para ela,
conta a lenda que foram feitas por
Samuel Collt, um armeiro, inventor e
industrial de Hartford. Ele fundou a
Collt's Patent Fire-Arms. Dizem que
quando o Cometa Halley passou em mil
oitocentos e trinta e cinco, ela era muito
citada por John Winchester, pai de Dean
e Sam na série Supernatural, temporada
baseada na lenda real. Afirmava que
qualquer ser que fosse atingido por uma
dessas, morreria, incluindo criaturas que
são imunes a balas pois eram feitas de
ferro sagrado ou prata e gravadas com
os números de um a treze. Além de
servir para matar qualquer criatura,
também é uma das chaves para abrir um
dos portões que separam nossa Terra do
mundo Inferior, prevenindo a entrada
destes seres em nossa realidade. Dizem
que existem outras armas capazes de
ferir seres sobrenaturais, mas de todas, a
Collt é de longe a mais eficiente. Nela
está gravada a seguinte frase: "Non
timebo mala" o que significa "Nenhum
mal temerei" que é referenciado ao
Salmo 23:4. Nunca ninguém provou de
fato que a arma existia, Samuel nunca
assumiu tê-la criado, mas também nunca
disse que não. Segundo historiadores a
peça foi feita em segredo com a ajuda
do pai que era um homem com vasto
conhecimento bíblico, por isso quis
criar a única arma capaz de conseguir
ferir qualquer ser, mortal ou não. No
último quadro ela viu um homem com
cara de mal, com os mesmos olhos azuis
intensos de Blade. A moldura era mais
moderna que as demais, a foto em cores
vivas. Trajando um elegante terno
branco de gravata borboleta preta, com
uma bela rosa vermelha no bolso, tinha
cabelos castanhos claro, lisos e sedosos.
Segurava a Collt com força, como se
fosse a coisa mais valiosa do mundo.
Jesse já vira aquela arma antes, um dia
quando tinha dez anos passou em frente
ao escritório do pai, pensou ser apenas
uma cópia barata. Agora teve a certeza
que era a legítima, mas como ela havia
saído da família Maldonado e ido parar
na mão do Major?
Não teve muito tempo para raciocinar,
foi obrigada a sair às pressas ao ouvir
vozes alteradas vindas de outro cômodo
da casa. Seguiu até onde elas vinham,
não deveria, mas o fez assim mesmo.
Estava preocupada com Maldonado,
teve medo de alguém estar fazendo mal a
ele. Encostou-se ao lado da porta do
escritório que estava aberta.
— O que é tão importante que não pode
esperar até amanhã, Estevão? — Logo
reconheceu a voz zangada de Blade,
parecia estar sempre de mau humor. —
Tenho um problema para resolver, quero
me livrar logo dele! — Jesse se sentiu
mal, era assim que ele a via, um
"problema", só queria se livrar dela o
mais rápido, como uma pedra no sapato.
— Eu descobri uma coisa muito
importante em um bar no lado sul da
cidade e é sobre você Maldonado! — A
investigadora se assustou com o excesso
de preocupação presente naquela voz
grave, era a de Salvatore, ela pode notar
uma certa sobriedade natural nela e um
sotaque inglês forte.
— Primeiro gostaria de pedir a palavra
para dizer algo muito importante para
você, Estevão, é o Blade. — Esse tinha
um leve sotaque oriental, ela percebeu
logo que se tratava de um chinês muito
educado.
— Vão se foder! Seus dois filhos da
puta do caralho. — Xing explodiu irado.
— Gente, que violência é essa? —
Salvatore perguntou horrorizado com o
pequeno desabafo do parceiro.
— O que inglês? O Li tem todo direito
de estar puto com vocês, ele ficou
desesperado com o sumiço dos dois. Eu
estou até agora tentando saber o que
você foi fazer do lado sul da cidade?
Aquele lugar é perigoso até para homens
como nós, não me diga que você votou a
se.... — Julius não teve nem coragem de
terminar a frase, lembrar dessa época da
vida de Estevão era doloroso para
todos. — Também queria saber como
Blade conseguiu sair daquele lugar
cheio de policiais em volta cercando o
local. — A montanha de músculos
parecia uma criança emburrada,
principalmente pela cara fechada
fazendo bico.
— Primeiro, onde o Estevão foi não é
da nossa conta, muito menos a forma
como eu consegui sair de lá é da de
vocês, então parem de chiliques e
deixem-no falar o que descobriu. —
Jesse percebeu que Blade não era
autoritário apenas com ela, era a
natureza dele.
— Eu saí da festa sem rumo, não estava
bem... Precisava de algo forte, então fui
ao Bar Bacardi. Estava sentado no
balcão bebendo, estava usando a minha
capa com o capuz na cabeça, haviam
dois homens sentados ao meu lado que
começaram um assunto pesado. — Fez
uma pequena pausa, não sabia como
dizer aquilo. — Era sobre a morte dos
seus pais Blade, tem gente nossa, do
mundo do crime que vendeu a cabeça
deles para a Polícia, receberam uma
fortuna para levá-los para aquela
emboscada, era uma armadilha. Agora é
a sua que estão querendo e ofereceram o
dobro do que pagaram por eles. Pelo o
que eu entendi esses caras no bar eram
tiras disfarçados, tem gente dos dois
lados querendo ganhar essa grana. Não
podemos confiar em ninguém e ter muito
cuidado até pegarmos esses filhos da
puta e quando isso acontecer, que Deus
tenha piedade deles. — Por fim, Jesse
nem respirava mais, estava desesperada
com que ouvira, pelo jeito queriam
matá-lo a todo custo. E, como assim
gente da Policia armou para pegar os
pais dele? Foi tudo uma fraude, uma
covardia para matá-los. O pior era que o
pai dela estava envolvido, a
investigadora só não sabia até que
ponto, mas iria descobrir,
principalmente porque o Collt estava
com ele.
— E de quanto seria essa quantia? —
Perguntou Li interessado, com a
sobrancelha grossa arqueada.
— Cala a boca, chinês. — Julius deu um
tapa na nuca dele.
— Credo, a gente nem pode mais fazer
piada com a desgraça dos outros. —
Xing esfregou o local dolorido.
— Pelo sangue de Jesus, agora não é
hora de fazer piadas. — Estevão
esfregou o rosto impaciente, estava
realmente preocupado.
—Você disse que venderam a cabeça
dos meus pais? — Havia uma mistura de
raiva com dor na voz de Maldonado.
— Pelo o que eu entendi, sim, Blade, e
teve gente grande da Policia envolvida
nisso. — Salvatore olhou triste para o
parceiro, sabia o quanto doía tocar
naquele assunto. Estava com o coração
partido devido ao reencontro com
Nayla, mas deixou os problemas de lado
no momento por causa de algo maior, a
vida de um amigo.
— Pois eu vou descobrir todos
envolvidos nisso e esquartejar um por
um, não vai sobrar nenhum para contar
história. — Carter teve que respirar bem
fundo para ver se passava o calafrio que
o tom sombrio dele lhe causou, havia
muita maldade em suas palavras, como
uma cobra destilando o veneno. — Mas,
isso é problema meu, não quero
envolvê-los nisso.
— Mexeu com um, mexeu com todos. —
O mexicano bateu no ombro dele,
mostrando que estavam juntos nessa.
— Eu só sei que quero ver tiro, porrada
e bomba. — Gritou o chinês, pra lá de
animado.
— Disse tudo, China! Vamos com tudo
para cima deles! — Julius bateu na mão
de Xing que parecia a de uma criança
comparada a dele.
— Li, você acha que consegue entrar no
arquivo da Polícia e ter acesso ao caso
dos meus pais? — Indagou Blade. A
investigadora gelou, o nome do Major
estava lá. Estava tão desesperada que
gotas de suor desciam pelo rosto dela,
não sabia o que fazer.
— Infelizmente não, posso encontrar
qualquer coisa que esteja em qualquer
computador. Mas esse caso já foi
arquivado há muito tempo, deve estar
guardado dentro de uma caixa na
delegacia que foram detidos.
Precisaríamos da ajuda de alguém lá de
dentro para ter acesso a isso, o
problema é conseguir alguém de
confiança para isso. — O chinês
exclamou desanimado.
— Eu posso ajudar. — Jesse se
materializou na porta em um rompante
de coragem, quase matando Blade do
coração e de raiva.
— Quem é essa com cara louca? —
Estevão perguntou a reparando de cima
a baixo aquele ser indefeso parado no
vão da porta, com coragem demais para
quem tinha apenas um metro e meio de
altura, no máximo. Não deixou de notar
que ela vestia as roupas de Blade, o que
ele estranhou bastante, já que ela nem de
longe fazia o tipo dele.
— Sou Je... — Tentou dizer alguma, mas
estava nervosa demais para isso. Tentou
ir até ele, mas tropeçou do tapete de
camurça, porém não caiu dessa vez. Foi
bem pior, apoiou-se em uma estante, na
qual derrubou uma estátua no valor de
um milhão de dólares.
— Alguém tem cola aí? — Jesse
perguntou sem graça, com um sorriso
amarelo no rosto.
— Será que você nunca faz o que eu
mando porra? — Gritou Blade,
impaciente. Ela desviou o olhar, olhando
para qualquer parte menos para ele.
O mexicano levantou do sofá roxo
escuro, fazendo o mesmo ranger como
agradecimento de poder descansar um
pouco daquele monte de peso, para
poder observá-la melhor, estava
intrigado. Curioso com aquele ser
pequeno e frágil com os olhos
arregalados parada no vão da porta,
parecia uma boneca assustada. Ela
pensou em sair correndo, era o homem
mais alto que vira na vida. Julius cruzou
braços, os músculos quase explodiram
de tão grandes fitando-a desconfiado,
pensando o que uma florzinha como
aquela estava fazendo na toca dos
monstros.
— Eu acho que deixaram a porta do
manicômio aberta. — Li soltou uma
gargalhada alta, realmente o cabelo dela
havia secado e estava livre pelo ar,
totalmente à vontade. Ainda tinha um
pouco de tinta no rosto e a roupa enorme
que ela estava usando não a favoreceu
em nada.
— Fazendo lanchinho depois do
trabalho, Blade? E nós preocupados
com você preso naquele lugar. — Jesse
corou com a forma maliciosa com que o
Julius fez o comentário, mas gostou da
voz dele, era amável.
— Não sou homem de fazer "lanchinho".
Se não for para fazer a refeição
completa, prefiro nem tocar no prato. —
Foi desnecessariamente grosso.
Maldonado era um misto curioso de
ironia com sarcasmo. Ela nunca sabia
quando ele era cuidadoso, sendo grosso
ou debochando dela. Naquele momento
nenhuma das hipóteses cabia na
situação.
— Até porque já fiz minha refeição
hoje, não é qualquer feijão com arroz
que mata a minha fome. — Jesse não
entendeu o comentário dele, mas
inexplicavelmente corou assim mesmo.
— O papo está ótimo, mas até agora
ninguém disse quem é a Sansão. —
Estevão não podia evitar, o cabelo dela
era chamativo demais, parecia ter vida
própria.
— Sou Jesse, prazer! — Blade suspirou
fundo nervoso, os três haviam sorrido ao
ouvir aquela voz doce, estavam
encantados, até mesmo Estevão. Não foi
bem um sorriso, apenas um relaxar dos
lábios, o que era muito vindo dele.
Caminhou até ele que estava usando um
pijama esquisito sentado em uma mesa
de Xadrez, com uma partida parada no
meio. Ele franziu o cenho intrigado, ela
não se assustou com a aparecia sombria
dele, continuava sorrindo para ele como
se fosse uma pessoa normal.
— Estevão Salvatore, ao seu dispor,
Senhorita! — Exclamou educadamente,
como ele não ofereceu a mão, jamais
deixaria ninguém tocar nele. Carter o
abraçou de forma fervorosa, ela era
assim, carinhosa. Até mesmo com quem
não queria, mas precisava.
— Pode me soltar agora? — Ele a
afastou com cara de nojo, mas havia
gostado do abraço. Estava precisando
de um, aquele veio na hora certa.
—Desculpe-me! — Disse
envergonhada, totalmente tímida.
— Ela é tão fofa, podemos ficar com
ela? — Julius disse encantado com
aquele ser de atitudes espontâneas.
— Não vai querer mais quando souber
quem ela é de verdade. —Resmungou
Blade, apoiando o corpo grande na mesa
do escritório, derrubando alguns objetos
que estavam sobre ela. — Porque não
diz a eles em que você trabalha? Eles
vão amar saber... — Ele a desafiou.
— Sou Investigadora do FBI de Los
Angeles. — Revelou corajosa, não daria
a vitória para ele assim tão fácil, era
uma lutadora.
O encantamento deles por ela acabou no
mesmo momento que ouviram a palavra
investigadora, ela fazia parte do lado
inimigo. Como que por instinto, em uma
fração de segundos estavam em posição
de ataque e ela era o alvo. Estevão com
Nick e Clyde apontadas para a cabeça
dela, Li com uma espada afiadíssima
que tirou de um compartimento nas
costas rente ao coração dela, Julius tinha
os dois punhos fechados pronto para
atacar.
— Ninguém vai tocar nela. — Blade
rosnou. — Para isso terão que passar
por cima de mim, se alguém quiser
tentar pode vir. — Ele se posicionou
diante dela, encarando os três homens
armados sem nem fechar os punhos.
Estava relaxado, totalmente tranquilo.
— Pera aí, você disse que pode ajudar a
gente? — Li abaixou a espada, agora
que a ficha dele havia caído.
— Sim, eu posso. — Gritou ainda
escondida atrás de Maldonado, o
tamanho dele tirava-lhe toda a visão.
— Não, você não pode! — Maldonado
virou-se de frente para ela a encarando
com cara de poucos amigos.
— Eu posso sim! — O enfrentou
colocando as mãos na cintura, os
cabelos alvoraçados voando como um
pássaro de fogo. Essa era a grande
oportunidade de trabalhar em um grande
caso, descobrir um esquema corrupto da
Polícia e poderia lhe garantir uma boa
promoção, e ainda esclarecer até onde o
pai dela estava envolvido nisso tudo.
— Ah! Você pode? Não sabe nem
segurar uma arma Jesse, é uma
verdadeira incompetente que quase
matou o próprio parceiro, um desastre
ambulante. Não te quero envolvida nisso
e isso não está em discussão. —Pegou
no braço dela com força com cara de
mau, provavelmente iriam ficar as
marcas depois.
— Na verdade ela é perfeita! Quem
desconfiaria dela com essa cara de
sonsa? — Estevão veio com mais uns
dos seus comentários sinceros.
— Pensando por esse lado. — O Chinês
-se no chão com a mão no queixo na
mesma posição da estátua o “O
Pensador". — Ninguém desconfia de
pessoas fracassadas, ela pode entrar e
sair de qualquer lugar da delegacia sem
levantar suspeitas, não é tipo de pessoa
que chama muito a atenção, sabe? O tipo
invisível. — Não queria ofender, apenas
sendo lógico.
— Sei exatamente o que está falando, é
como se eu nem existisse lá. — Abaixou
a cabeça triste, colocando uma mecha de
cabelo atrás da orelha.
— Sério que vocês vão dar crédito a
essa maluca? Acabaram de conhecê-la e
praticamente já a colocaram na equipe,
que parte do não confiar em ninguém
vocês não entenderam, pelo que eu sei
não trabalhamos com tiras. — Blade
evitou olhar para ela, não sabia o que
seria capaz de fazer caso abrisse a boca
mais uma vez.
— O fato de eu ser uma policial não
evitou me levar para sua cama, não é
mesmo? Então pare de hipocrisia
exigindo uma postura deles que você
mesmo não teve. — Ela havia se
vigando do comentário que ele fez no
baile perto de Michelangelo e ele sabia
disso. Foi para cima dela, estava
possesso. Foi preciso Julius imobilizá-
lo para não voar no pescoço dela. Jesse
o irritava demais, lhe tirava do sério.
— Jamais vou aceitar trabalhar com uma
inútil feito você, prefiro morrer a me
sujeitar a isso. — Cuspiu as palavras
sem dó lhe magoando profundamente.
— Não entendeu, Blade, tem muito mais
coisa em jogo do que imagina. Eles vão
fazer de tudo para chegar até você, isso
significa que vão atacar aonde mais dói.
— Estevão olhou para ele com a
expressão pesada, não era preciso ser
muito esperto para saber o que ele
estava querendo dizer.
— Bobbi. — Blade fechou os olhos com
força, pensando que não iria se perdoar
nunca se algo acontecesse com ele.
— Ela é a nossa única chance de
protegê-lo, temos que agir antes deles.
— Maldonado olhou para aquele ser
angelical à sua frente, Carter não sabia
no que estava se metendo, era um
caminho sem volta. Não queria metê-la
no meio daquilo, mas no momento
realmente não tinha outra escolha.
— Tudo bem, ela está dentro. —
Concordou a contragosto.
— Irmãos, são vocês? — Bobbi
apareceu na porta e não estava usando
pijama. Foi a primeira coisa que os
quatro repararam assim que colocaram
os olhos nele. O cabelo com pingos de
chuva e o sapato sujo de lama.
— Espero que tenha uma ótima
explicação por ter saído a uma hora
dessas sem permissão e seja qual for
está de castigo, garoto. — Jesse olhou
para Blade pasma, ele falava com o
irmão como se fosse uma criança.
Parecia ser um jovem muito amável, a
forma respeitosa que olhava para eles
era admirável.
— Primeiro, boa noite, moça! — Sorriu
educadamente para Jesse, Bobbi
realmente era uma graça. — Não é todo
dia que vemos uma mulher nessa casa,
hoje tem duas. — Comentou sem querer.
— Duas? — Perguntou Julius confuso,
nunca fora bom em matemática, mas até
ele tinha certeza que aquela conta estava
errada.
— Boa noite! — Apareceu uma bela
jovem tímida de cabelo encaracolado,
pele negra e olhos claros. Logo a
reconheceram das capas de revistas, era
Lia Thompson, filha do Juiz mais
famoso do país.
— De onde saiu esse filhote de capeta?
— Blade rosnou, olhou para a moça
negra escondida atrás do irmão caçula,
os olhos cor de mel esverdeados
brilhavam de medo.
— Minha namorada, Blade! Decidi
lutar por ela. Se ela foi corajosa de fugir
para vir atrás de mim, eu também devo
lutar pelo nosso amor. — Bobbi olhava
para a jovem apaixonado, realmente
gostava dela.
— Sua o quê? Você parou de fazer xixi
na cama um dia desses, garoto. Então
pare de brincar de ser homenzinho. —
Ele teve a graça de ruborizar. Andava de
um lado para o outro irado, a vontade
dele era pegar a menina e jogá-la pela
janela.
— Não podia deixá-la sozinha a essa
hora da noite na rua, poderia ser
sequestrada de verdade ou até morta. —
Exagerou um pouco, era preciso para
tentar amolecer o coração duro do
irmão.
— E daí? Só lamento por ela. —
Respondeu olhando para a moça com
desdém, não gostava dela e não fazia
nenhuma questão de esconder.
—Tudo bem, Lia, ele rosna, mas não
morde! — Blade o fuzilou com o olhar.
A filha do Juiz abraçou o namorado
assustada, deixando-o mais nervoso
ainda.
— E, você tire as garras dele, sua peste!
— Jesse não deixou de rir. Era evidente
que Blade estava com ciúmes do irmão,
não queria aceitar que ele cresceu.
— O que eu disse sobre achar coisas na
rua e trazê-las para casa Bobbi? Pegue
isso e deixe onde encontrou. — Estevão
olhou para a menina com total desaso,
não tinha nenhuma importância para ele.
— Até que o moleque tem bom gosto,
cara, muito linda a sua namorada. —
Xing afagou orgulhoso afagando o
cabelo do Bobbi.
— Que bonitinho os dois juntos, ela
fugiu só para vê-lo. Isso é romântico
demais, cara, o amor é lindo. — Julius
estava de debulhando em prantos.
— Bonitinho Julius? Ligue a TV. —
Ordenou Maldonado nervoso.
O mexicano pegou o controle sobre a
mesa e fez o que ele mandou, dando vida
a um monitor de cem polegadas
pendurado na parede. Onde uma mesma
noticia tomava conta de todos os canais,
não se falava em outra coisa.
"O consagrado Juiz John Thompson
acabou de anunciar o sequestro de sua
filha, Lia Thompson. Ele e o filho, o
Advogado Maxmilian, estão viajando
para Los Angeles atrás de mais pistas.
Segundo testemunhas a jovem foi vista
vagando sozinha pelas ruas da cidade
mais iluminada do mundo. O pai deu
uma declaração à imprensa dizendo
que veio para buscar a filha e que os
envolvidos no desaparecimento dela
irão pagar muito caro por isso."
CAPÍTULO 10
Bobbi sentiu queimar sobre seu rosto
pálido quatro pares de olhos raivosos,
cada um em seu tom diferente. Mas, o
semblante amargamente sério, era o
mesmo. Era evidente o desgosto que
provocara nos irmãos com tal atitude,
então, compreendeu que não devia ter
trazido a namorada para casa, isso
colocou a identidade criminosa da sua
família em risco. O Jovem ouviu alguém
resmungar irritado. Olhou, assustado,
para o homem de ombros largos diante
dele. Blade estava totalmente imóvel e
de cara feia, com o semblante fechado
demostrando o quanto estava nervoso
com ele.
— Estou muito decepcionado, pensei
que pudesse confiar em você, mas diante
de suas atitudes infantis vejo que não. —
As palavras de Maldonado acertaram o
irmão caçula feito um raio, o destruindo
por completo. Abaixou a cabeça
ajeitando os óculos redondos na
intenção que a dor diminuísse um pouco,
era quase insuportável. Jesse olhou para
ele com o coração partido, não era justo
punir o jovem por estar apenas querendo
proteger a namorada trazendo-a para um
lugar onde se sentia seguro.
— É irônico você repreender o jovem
por agir feito uma criança, se tratam ele
como se fosse uma. — Quando Jesse viu
já tinha falado, se surpreendeu por não
ter se arrependido de ter dito. Blade
lançou os olhos na direção dela como
uma flecha, os olhos em uma cor
vermelho escuro de tanta raiva. Ela era
a única pessoa no mundo que tinha a
capacidade de tirar ele do sério de tal
forma, enfrentá-lo, as outras que
tentaram se encontravam debaixo de sete
palmos de terra. Fato observado pelos
outros presentes no local, os mesmos
estavam boquiabertos com a coragem da
moça, que não arredou um centímetro do
lugar quando ele partiu para cima dela
com os punhos fechados de forma
totalmente assustadora.
— Mais uma palavra, é será a última
coisa que vai dizer na vida. —Ameaçou
ele, perverso. Parado bem na frente
dela. Foi preciso se inclinar bastante
para ficar na altura de Carter, mesmo
assim não conseguiu, era impossível
para alguém da estatura física de Blade.
— Você é meio contraditório, sabia?
Primeiro promete que nunca mais vai
deixar ninguém me machucar, mas
ameaça me matar no mesmo dia que faz
a promessa.
Pôs as mãos na cintura, nervosa. Devido
a este movimento repentino, os cabelos
rebeldes da moça caíram de forma
alvoraçada sobre seu rosto delicado, ele
pensou nunca ter visto nada mais
profano na vida. Jesse mexia tanto com
ele, que qualquer gesto inocente dela
pareia ser algo propriamente indecente.
— É impressão minha ou está rolando
uma DR aqui? — Li tentou abafar uma
risada, transformando-a numa tosse nada
convincente, estava achando o máximo
aquele casal inusitado se enfrentando.
Tinha alguém enfrentar Maldonado de
tal forma.
— Vai me ensinar agora como devo
criar o meu irmão, investigadora, sendo
que não cuida nem de si mesmo? —
Blade mudou de assunto, fingindo não
ter ouvido o que ela havia dito, seria
embaraçoso demais ter que esclarecer
na frente dos parceiros que tinha a
necessidade de proteger aquele ser
irritante diante dele sem ter nenhuma
explicação coerente para isso.
— Criar? Você só pode estar de
brincadeira, Blade, por Deus! Ele já é
um homem feito. — O impacto do nome
dele na voz de Carter foi visível em sua
expressão facial, os olhos ficaram em
um azul escuro cor de jacinto e os
músculos do rosto mais relaxados.
Julius deu um sorriso de lado quando
observou o amigo enfiar as mãos nos
bolsos meio sem jeito, "A moça mexe
com ele" pensou a montanha de
músculos intrigado.
—Não sou homem de brincadeira, então
sugiro que volte para a porra daquele
quarto e não se intrometa no que não é
da sua conta. — Ordenou apontando o
dedo para a saída e mais uma vez ela
não obedeceu.
— Se é homem de verdade, diante dessa
situação deveria agir como um. Não
ficar como uma mãe ciumenta que pegou
o filho chegando em casa com a
primeira namorada, então, pare de
frescura e tome uma postura. — Jesse
não costumava ser grossa com ninguém,
era boa demais para isso. Porém, tudo
que ouviu até agora havia sido demais
para o nível de autocontrole dela. Foi
preciso Li levar a mão no queixo de
Estevão para fechar a boca do mesmo
que estava aberta em formato de "O",
pasmo com o que ouvira, ela havia
acabado de assinar sua pena de morte.
— Preparem o protetor solar, porque a
porta do inferno foi aberta! —O chinês
soltou uma gargalhada gostosa, estava
segurando a barriga que estava doendo
de tanto rir. Tinha um sorriso lindo,
dentes brancos e bem alinhados.
— Só porque a sua família não se
preocupa com você, não quer dizer que
as dos outros são iguais. — Foi cruel
demais, normal para alguém sem
coração como ele. O golpe foi certeiro,
os olhos dela marejarem era a prova
disso. Mas não recuou como ele
esperava, continuou com a cabeça
erguida olhando-o fixamente.
— Eu poderia dizer muitas coisas, mas
não vou... A verdade é que as pessoas
machucam as outras pelo simples fato de
estarem machucadas. — Disse com a
voz trêmula, quase chorando. As
palavras dela tiveram um impacto
imenso sobre ele, que desviou o olhar
dela imediatamente. Jesse o havia
colocado no lugar dele sem precisar ser
má, apenas com a verdade.
— Chega dessa conversa, temos um
problema maior do que as diferença dos
dois no momento. — Julius se
posicionou no meio dos dois, com a mão
no meio do peito de Maldonado o
empurrando para trás.
— Também posso ajudar vocês com
esse problema, vou levar a garota para
minha casa e amanhã bem cedo e a
levarei para a delegacia onde trabalho.
Entrarei com contado com o pai dele e
direi ao Juiz que a encontrei andando
pela rua sozinha, porque não conseguiu
achar a casa do namorado. — Julius
sorriu com a bondade da moça,
oferecendo ajuda mesmo com o coração
ferido há minutos atrás.
— Obrigado Investigadora, você está
sendo muito gentil fazendo isso por nós,
agradeço em nome do nosso irmão
caçula, Bobbi. — Pérez sorriu para ela
de forma tão gentil que Carter retribuiu
sem perceber. — Sou Julius Perez, ao
seu dispor, Senhorita. Aquele com cara
branquela ali é o Estevão. — O inglês
acenou para ela, fez uma reverência
digna de um Lorde. — O chinês abusado
é o Li, o cérebro da nossa equipe. —
Xing deu uma piscadela para ela, cheio
de graça demais na opinião de Blade,
que agora acompanhava tudo em
silêncio em um canto mais afastado da
sala.
— Ela não está fazendo isso por nós seu
idiota, só está querendo levar crédito no
trabalho dela como "Policial do Ano"
por ter achado a filha do famoso Juiz sei
lá das quantas. — Resmungou Blade, em
total descaso com a boa vontade da
moça. Agora havia sentado apoiando os
pés cruzados sobre a mesa do escritório,
girando uma caneta preta de ouro entre
os dedos com a expressão azeda de
sempre, olhando para o casalzinho
apaixonado abraçado encostado na porta
que se encontrava fechada.
— Não, estou fazendo isso porque estou
preocupada com você, Blade. — Jesse
disse sincera o desarmando por
completo, fazendo Maldonado quase
cair da cadeira. Não esperava por essa,
não estava acostumado com as pessoas
se preocuparem com ele.
— Sério que você é mesmo uma tira,
Jesse? Nunca imaginei ver uma policial
aqui em casa, ainda mais usando as
roupas do Blade. —Comentou Bobbi,
enquanto afagava os cabelos da
namorada que estava escondida dentro
dos seus braços.
— Sim, eu sou. Prazer em conhecê-lo,
Bobbi! — Ela sorriu docemente para
ele.
— Pois é, filho, o seu irmão brigando
com você por ter trazido a sua namorada
em casa, sendo que trouxe a dele, não
podemos esquecer o detalhe que ela é
uma investigadora do FBI. — Estevão
não deixou de dividir com todos a sua
observação diante dos fatos, o que aos
ouvidos de Blade soou como uma piada
de mau gosto. O inglês nem se importou
com o olhar severo que o mesmo lançara
sobre ele, cruzou as pernas longas
levando à boca uma xícara cheia de
conteúdo fumegante, chá de gengibre
com hortelã, combinação tradicional
típica da família Salvatore e preferida
do pai Edward.
— Nem se fosse a última mulher do
mundo, preferiria virar um monge! —
Ressaltou com uma grossura sem
tamanho.
— Basta! — Gritou Julius com uma voz
assustadoramente elevada, era um amor
de pessoa, mas Blade estava exagerando
no quesito grosseria. Não entendia para
que tanta implicância com a moça, ela
só estava querendo ajudar, era evidente
que se preocupava com ele. — Vamos
fazer como a Jesse disse, vou levar as
duas até a casa dela. Bobbi se despeça
da sua namorada e você menina nem
uma palavra sobre o que viu e ouviu
aqui, entendeu? — Lia assentiu com a
cabeça se despedindo de Bobbi com um
beijo inocente e apaixonado.
— Que nojo! — Proferiu Estevão
enojado, nunca tinha beijado ninguém na
vida.
— Eu a trouxe, então é minha
responsabilidade levá-la para casa! —
Blade disse olhando sério para Julius
que havia acabado de pegar a chave do
seu Lamborghini na gaveta da estante, a
mesma onde se encontravam os
estilhaços do que restou da estátua de
um milhão de dólares que Carter tinha
catado do chão, morta de vergonha e
colocado sobre ela.
— Cuidado Blade, coração machucado
quando recebe carinho, se apaixona. —
O mexicano sussurrou de forma que só
ele escutasse, guardando a chave do
carro no mesmo lugar que estava. —
Julius bateu no ombro do parceiro.
— Eu não tenho coração! — Respondeu
frio, não como uma brisa, mas como um
iceberg inteiro.
Na metade do caminho até a residência
da investigadora, Lia adormeceu feito
uma criança no banco de trás do Impala.
— Não sei por que tanto trabalho, por
mim desovava essa coisa na primeira
curva. — Blade proferiu mais azedo do
que de costume, observando a moça
dormindo feito um anjo com os cabelos
todo bagunçado sobre o rosto.
— Por mim ótimo, tem uma perfeita para
isso logo ali na frente. —Jesse disse
naturalmente, fazendo com que Blade
quase tirasse o carro da estrada. Podia
esperar qualquer resposta dela, menos
aquela. Pensou em um discurso
moralista ou um comentário repreensivo
e irritante. — Mas vai ser você que vai
ter que encarar o Bobbi quando chegar
em casa e dizer a ele que nunca mais vai
poder ver a garota que ama, porque você
abandonou-a em uma esquina qualquer.
Blade queria gritar com ela, chegou a
apertar o volante com força para
extravasar a raiva. Jesse sabia que
nunca faria nada para magoar o irmão
caçula e foi esperta o suficiente para
usar isso contra ele na hora certa. —
"Ela acha que não sei o que estava
fazendo? Se achava que podia jogar
comigo estava muito enganada, muito
mesmo."
— Qual rua é a sua? — Maldonado
perguntou amargo, haviam passado o
resto do caminho em silêncio.
— Na segunda à direita, logo adiante,
em um prédio de tijolos vermelhos. —
Respondeu ela, apontando.
— Admira-me que não seja em um
prédio cor de rosa, com desenhos de
pôneis e fadas voadoras. — Debochou
ele.
— Eu odeio rosa, tenho pânico de
pôneis e fobia de fadas. — Ela rodou o
pequeno anel de forma delicada em
volta do dedo, um movimento inocente,
os olhos dele se escureceram vendo
aquilo. A respiração ficou pesada,
vestígios de suor brotando pelo rosto.
— Pensava que todas as meninas
gostassem de rosa. — Comentou Balde
sem condições de olhar para ela no
momento.
— Minha mãe me ensinou que eu não
sou "todas as meninas". — Respondeu
como uma garotinha no primeiro dia de
aula, a timidez era a mesma.
—Sábias palavras as da sua mãe.
Jesse pensou ter visto um leve sorriso
presente no rosto dele, mas isso era
quase impossível! Blade não sorria
nunca.
— Chegamos. — Disse apenas,
estacionando o carro em frente ao
prédio de tijolos vermelhos. Colocou a
cabeça para fora da janela do veículo
que tinha o vidro quase todo aberto,
para averiguar se de fato não tinha
nenhuma pintura de algum personagem
de conto de fadas. Ela realmente não é
"todas as meninas", era única em todos
os sentidos. Constatou Blade, ao vê-la
dando a volta do carro, abrindo a porta
do carona e tentando inutilmente pegar
no colo uma adolescente mais alta do
que ela apenas porque estava com pena
de acordar a garota, a cena chegava a
ser engraçada. Pegava uma mão da
menina, caia outra, não conseguia nem
mexer Lia do lugar. Depois de minutos
vendo aquela cena ridícula de braços
cruzados parado sobre a calçada,
Maldonado resolveu agir, tinha coisas
mais importantes para fazer naquela
noite.
— Afaste-se! — Ordenou ele, esticando
o braço para o banco de trás a fim de
pegar a filha do Juiz, sua expressão era
como se estivesse pegando um saco de
lixo no colo.
— Obrigada! — Murmurou ela surpresa
com a atitude dele.
Ele não respondeu, apenas a seguiu pela
calçada até os degraus da entrada. O
portão estava apenas encostado, todo
enferrujado e sem fechadura. Blade
continuou seguindo-a pelo corredor,
reparando cada detalhe do lugar com as
paredes todas sujas de barro. O caminho
deles foi interrompido por um casal que
passou se agarrando de forma indecente
por eles, provavelmente também eram
moradores do prédio, concluiu, mas
descartou logo essa ideia quando ouviu
a mulher ruiva trajando um vestido
vermelho curtíssimo mostrando a metade
das nádegas, um sapato fino preto e uma
maquiagem horrível fumando um
cigarro, dizendo, que dessa vez o sexo
oral foi por conta da casa, mas da
próxima iria cobrar vinte dólares a
mais. Jesse quase morreu de vergonha, o
rosto em um tom vermelho escuro.
Estava acostumada a ver prostitutas
saindo do apartamento do vizinho
Bredon, algumas até simpáticas que a
cumprimentavam, às vezes. Outras saíam
correndo escondendo o rosto como se
tivessem sido agredidas, até tentou
ajudar uma, outro dia, mas recebeu um
"vai se foder, piranha" como
agradecimento. Já ele era um homem
abominável, que ficava olhando para ela
de um jeito muito estranho.
— Desculpe por isso! — Pediu
envergonhada, ainda vermelha.
Agradecendo a Deus por tê-la feito
negra, porque se tivesse a pele clara
estaria da cor de um tomate.
Só diante da porta que foi lembrar que
as chaves e o celular haviam ficado na
bolsa da Nayla, para sua sorte lembrou
que no dia que se mudou para ali o
porteiro mencionou tal chave extra que
ficava debaixo do tapete. Inclinou o
corpo para pegar, Blade olhou cada
movimento sem piscar.
— É muito perigoso guardar uma cópia
da chave debaixo do tapete sabia? Tem
muito bandido a solto por aí. — Jesse
virou para olhar para ele, pensando que
estava abrindo a porta para um, o mais
perigoso de todos.
— Eu não roubo os pobres Jesse, não
precisa se preocupar. —Respondeu o
evidente como se mais uma vez tivesse
escutado os pensamentos dela.
Abriu a porta lentamente, que soltou um
rangido demostrando os vários anos de
uso. O homem sem Lei se viu
horrorizado diante de tanta pobreza,
percebendo que o lado de dentro
conseguia ser ainda pior que o lado de
fora. Não tinha repartições, muito menos
móveis. Ao correr os olhos pelo espaço
pequeno e modesto concluiu que nunca
tinha esteve em um lugar tão horrível
antes.
— Onde posso colocá-la? — Perguntou
ele torcendo o nariz, o cheiro de mofo
das manchas d'água nas paredes mal
pintadas de azul púrpura estava lhe
incomodando bastante.
— Ali, por favor! — Maldonado
carregou Lia até um colchão de casal
que estava encostado próximo a parede
e forrado com um lençol branquíssimo,
o local ao menos era limpo, isso ele
tinha que admitir. Deitou a moça com
muito cuidado sobre ele, até demais
para quem dizia não gostar dela.
— Ainda está se mudando? —
Perguntou assim que se pôs de pé
novamente com a postura superior de
sempre.
— Não, já trouxe tudo que tenho. —
Respondeu orgulhosa, para quem nunca
teve nada seu de verdade, aquele lugar
era o paraíso, não tinha luxo, mas
sobrava paz.
—Tudo o quê? — Disse ele com certa
rispidez.
Olhando para o minúsculo apartamento,
o lugar era menor do que o seu banheiro
e contava apenas com uma cômoda
velha no canto com alguns objetos sobre
ela, uma pequena estante com livros, um
único colchão velho do chão onde a
filha de Thompson se encontrava
dormindo. Havia um pequeno banheiro e
nenhum vestígio de uma cozinha. Apenas
alguns pacotes de bolachas e duas
garrafas térmicas, uma com café e outra
com leite. Uma cesta com algumas
frutas, a maioria começando a
apodrecer. Grande parte do vidro da
única janela que tinha estava quebrado
podia sentir o vento frio vindo de fora
tocando o seu rosto, provavelmente
quando chovia enchia o local de água.
"Como ela conseguiu sobreviver nesse
lugar por duas semanas?"
— Gostaria de saber onde você
pretende dormir, já que cedeu aquele
ninho de cachorro que chama de cama
para o filhote de capeta. —Elevou a
voz, se esforçando ao máximo para não
encostar em nada para não se
contaminar.
— Eu me viro. — Ela baixou a cabeça.
— Só se for de um lado para o outro
nesse chão frio, pelo amor de Deus
Jesse! Esse lugar é um lixo, um mendigo
vive melhor e mais seguro do que você
debaixo de uma ponte. — Proferiu aos
berros, Lia se remexeu no colchão, mas
não acordou.
— É um lixo, mas é meu. Não fiz nada
ilícito para conseguir, não importa onde
eu pretendo dormir hoje e sim que a
minha consciência estará limpa quando
acordar de manhã e isso dinheiro
nenhum compra. — Disse firme, só não
conseguiu segurar o choro.
— Duvido que vai continuar pensando
assim depois que ficar doente com esse
frio ou violentada pelo seu vizinho
tarado. — Ele também percebeu a forma
estranha com que Bredon olhara para
ela.
Saiu nervoso sem se despedir, batendo a
porta com força, que quase caiu com o
impacto. Jesse pegou seu pijama do Kiki
Butovisk na cômoda e uma toalha,
caminhou até o banheiro para tomar o
seu banho, mas não antes de cobrir Lia
com o único cobertor que tinha na casa.
Chorou um pouco debaixo do chuveiro,
estava costumada a ser humilhada pelas
outras pessoas, não sabia o porquê
quando a pessoa em questão era o Blade
doía muito mais. Na hora de dormir
agradeceu aos Anjos da Guarda dos Sem
Cama por ter um saco de dormir velho
da época que era uma escoteira Mirim,
usavam quando o grupo ia acampar na
floresta, sempre amou natureza. Logo
pegou no sono. Acordou no meio da
madrugada assustada com a chuva forte
que caía lá fora e que escorria pelo
buraco da janela. Correu apressada para
colocar um pedaço de lona que tinha
preparado para isso. Assustou-se ao se
deparar com um homem parado do outro
lado da rua, no escuro com as mãos no
bolso, olhando na direção do
apartamento dela sem se importar com o
temporal que estava caindo sobre ele.
Devido à escuridão e estar sem os
óculos de distância, não conseguiu
identificar quem era. Acabou o que tinha
que fazer e deitou novamente, mas com o
pensamento no homem para na chuva.
"Ele não devia estar ali, poderia
amanhecer com um resfriado forte ou
até uma pneumonia." — Pensou ela
antes de pegar no sono novamente, como
sempre sentindo compaixão pelo
próximo. Esse era o dom de Jesse,
florescer, ser flor, principalmente em
deserto de gente seca, vazia e sem amor.
CAPÍTULO 11
— Isso são horas de chegar ao trabalho,
Senhorita Carter? — Essa foi a forma
carinhosa que o Major recebeu a filha na
delegacia de manhã, ácido como
sempre. Lia havia parado no bebedouro
ao lado de fora da sala no corredor para
tomar água, arregalou os olhos assustada
com o grito elevado do pai de Jesse.
Gostava muito dela, não queria que
ninguém a magoasse. Ele sempre usara
um tom exagerado para conversar com a
moça, como se estivesse sempre
zangado com ela. Carter abriu a boca
para respondê-lo, mas foi impedida por
ele, nunca dava a oportunidade para
ninguém explicar nada, porque sua
opinião sobre os fatos era sempre a
correta.
— Nós aqui trabalhando em dobro para
encontrar a filha do Juiz Thompson que
está perdida aqui em Los Angeles, o
próprio Presidente me ligou para
entregar esse caso especialmente em
minhas mãos. —Acertou a gola da farda
acertando mais a postura, se
engradecendo, essa era a verdade. —
Enquanto toda nossa equipe está
trabalhando nas ruas, a irresponsável
chega uma hora dessas, com certeza
deve ter passado a noite na farra, agora
que mora sozinha deve viver uma vida
regada a orgias. — Completou com uma
expressão de repulsa, deveria estar
imaginando a cena na cabeça.
— Não estou mais perdida, que horas
meu pai vem me buscar?
O Senhor Carter quase caiu para trás
quando viu a moça entrar, não conseguiu
acreditar no que viu. Chegou a estufar o
peito pensando em como o famoso juiz
iria ficar agradecido por ele ter achado
a sua filha, a maior sala do andar ficou
pequena para tanta luxúria. Como era o
mandachuva, tinha regalias especiais.
Como uma mesa enorme de vidro com
um porta-retratos com a foto contendo
apenas ele, a esposa e a filha Mainara,
acompanhada de uma cadeira de couro
preta giratória. Na parede alguns
quadros clássicos, um frigobar no canto
contendo água mineral e suco natural
feito pela esposa. O chão era limpíssimo
e nos móveis não se via um vestígio de
poeira. Jesse quando entrava lá ficara
parada com um robô, se precavia ao
máximo para não tocar em nada e
quebrar para depois ter que ficar
ouvindo o pai dela repetindo em seu
ouvido o quanto é uma inútil e que
preferia ter apenas a Mai como filha, e
como era uma vergonha para o
departamento do FBI e tal...
— Como você chegou até aqui,
princesa? Sua família está louca atrás de
você, Lia, meus homens estão todos nas
ruas à sua procura. — Jesse ficou pasma
como o seu tom mudara de uma hora
para outra, estava totalmente amável.
Com um sorriso largo no rosto, coisa
muito difícil de se ver.
— Ela estava perdida. — A
investigadora começou a explicar, mas
foi cortada antes de terminar a frase.
— Não perguntei para você, Jesse,
agora saia e me deixe pegar o
depoimento da moça. — Disse rude
empurrando-a para fora, mas o caminho
estava interditado por uma montanha de
músculos parado bem no vão da porta
vestido com um terno caro de cor cinza,
cabelo penteado para trás e uma postura
imponente. O Major teve que elevar a
cabeça para olhar para o Juiz
Thompson, que olhava para filha com os
olhos marejados, com uma expressão
totalmente preocupada no rosto.
— Filha! — Disse o Juiz, passando às
pressas por eles indo ao encontro dela
com os braços abertos, a acolhendo em
um abraço protetor. Agora quem tinha os
olhos marejados era Jesse, aquela cena
carinhosa literalmente paternal dos dois.
Não se lembrara de nunca ter ganhado
um abraço do pai, porque nunca existiu.
O mesmo soltou o braço dela
imediatamente e foi bajular Thompson,
queria ter a honra de falar com uma
verdadeira lenda do mundo Jurídico.
— Desculpe papai, não queria te fazer
chorar. — Limpou a face dele.
— Lia, por onde você andou? Meu pai
quase enfartou quando foi te buscar na
escola e a diretora disse que não tinha
ido à aula ontem, minha mãe está aos
prantos em casa desde que sumiu e o
pobre do Liam chorando junto com ela.
E eu pensei que tinha perdido a minha
bonequinha, quase morri de medo. —
Um rapaz loiro chegou trajando roupas
sociais, porém joviais, calça de tecido
preta e camisa azul claro com as mangas
dobradas até os cotovelos. Era o filho
mais velho do Juiz Maxmilian
Thompson, não estava chorando como
pai, mas estava quase.
— Desculpe Max, eu só queria ver o
Bobbi. — Maxmilian avermelhou toda a
face de raiva só de ouvir o nome do ex-
melhor amigo, jamais iria perdoá-lo por
se aproveitar da sua irmãzinha.
— Se depender de mim, nunca mais vai
ver esse papa anjo, nunca foi meu
amigo. — Resmungou o irmão de Lia.
— Chega vocês dois! Vamos ter essa
conversa em casa juntos com a mãe de
vocês. — Ordenou Thompson, com uma
voz grossa e severa. Vendo que estava
sobrando Carter resolveu sair da sala,
provavelmente ninguém notaria a
presença dela.
— Pai, quero que conheça uma pessoa
muito importante! — Disse Lia, e
novamente o Major Carter encheu o
peito de ar tomando uma postura
sublime, superior.
—Aquela policial boazinha me achou e
me levou para casa dela para que
passasse a noite em segurança, ofereceu
a cama dela para mim, dormindo
praticamente no chão. Dividiu a pouca
comida que tinha comigo e ainda me
trouxe até aqui sã e salva. — Caminhou
até Jesse puxando-a pela mão para perto
deles, que corou envergonhada diante de
tantos olhares sobre ela, estava
costumada em ser o foco da atenção
apenas em situações negativas. Abaixou
o olhar para os pés, um par de tênis
velhos pretos com um buraco na ponta
do dedo maior. Trajava calça jeans,
camiseta branca com mangas três
quartos e um colete a prova de balas
com um emblema do FBI nas costas. O
cabelo preso para o alto em um nó falso,
com cachos prestes a se soltar a
qualquer momento.
— Obrigado por ter cuidado do meu
bem mais precioso, terei uma dívida
eterna com você. Quando precisar da
minha ajuda, independentemente do que
seja, é só me chamar que virei
imediatamente, não hesite em pedir,
filha! — John segurava a mão dela
emocionado, não podia nem imaginar o
que poderia ter acontecido com a filha
se tivesse passado a noite em uma
cidade movimentada como aquela.
— Não precisa agradecer, Senhor, eu fiz
o que qualquer um faria. — A modéstia
de Carter o surpreendeu, outro no lugar
dela se aproveitaria da situação pedindo
algum favor a ele como ser promovido
para um cargo mais importante.
— Só quem tem um coração bondoso
como o seu faria, teria muito a orgulho
se a minha filha for como você quando
estiver na sua idade. Aposto que é uma
ótima policial, está visível nos seus
olhos a sua perseverança. — Comentou
sincero, com um sorriso enorme no
rosto, Jesse constatou que o mesmo era
tão bonito como na televisão.
— Obrigada, Senhor, mas não sou boa
em nada. Muito menos no meu trabalho,
tento dar sempre o meu melhor, mas
sempre estrago tudo. —O olhar dela era
triste, ainda mais com a forma com que
o pai olhara para ela severamente.
— É melhor uma policial sem jeito para
coisa, mas esforçada em tudo o que faz,
do que uma que acertaria o alvo a mil
metros de distância e não tivesse amor a
sua profissão e trabalhasse apenas por
conta do salário ou para se mostrar para
os outros. Seu pai dever ter muito
orgulho de você, se eu fosse ele teria. —
John Thompson era bom com as
palavras, sabia como acertar os alvos
com precisão. Ela limitou-se apenas a
sorrir para ele, não com a sinceridade
que queria.
Foi convidada a almoçar com eles, no
que aceitou de bom grado. Conversaram
como se a conhecessem há anos, ela era
assim mesmo, encantadora. Jesse foi
deixada na porta do trabalho por volta
das três da tarde. Na hora de se
despedir, Lia deixou com ela uma carta
para que entregasse nas mãos do Bobbi,
explicou que tentou ligar para ele para
dizer que estava bem, só que todas as
ligações caíram na caixa postal. Mal
pisou no departamento e o telefone
começou a tocar, e ficou toda feliz que
apareceu uma ocorrência de homicídio
para ela e o novo parceiro o
“Mentalista” do departamento, Hugo
Rodrigues. Podia ler os pensamentos
das pessoas através de suas expressões
faciais, parecia até algo paranormal.
Depois de um dia cansativo de trabalho,
porém produtivo, saiu da delegacia
satisfeita por ter feito um bom trabalho,
sem quebrar nada ou atirar em ninguém
que não deveria. Antes de bater o cartão
de ponto, tentou ligar do telefone fixo da
recepção para a amiga Nayla, estava
preocupada com o sumiço da mesma que
não a atendeu, deixando chamar até cair.
Ainda estava em choque com o encontro
com Estevão, havia passado a noite
inteira chorando. Colocou o telefone no
gancho frustrada, acertou o que tinha que
fazer e foi embora, já na rua, chegando
no ponto de ônibus mais próximo viu um
rapaz se aproximando dela.
— Desculpe te incomodar, Jesse, mas
precisava saber notícias de Lia. Meus
irmãos me colocaram de castigo por
tempo indeterminado, não posso sair de
casa sozinho nem usar meu celular por
uma semana, Blade o escondeu. —
Explicou com as bochechas rosadas de
vergonha, mas não iria mentir para ela.
— Se não tem permissão para sair
sozinho, o que está fazendo aqui? Algum
irmão seu te trouxe? — O coração dela
pulou no peito só de pensar que fosse o
Blade.
— Não. — Desviou o olhar, tinha
desobedecido uma ordem dos irmãos
mais uma vez. — Eu fugi. — Completou
como se tivesse cometido um crime
terrível, dava para ver a culpa em seus
olhos azuis brilhando debaixo das lentes
de grau.
— Sabe que os seus irmãos vão ficar
bravos com você por causa disso, não
sabe? Vão fazer uma tempestade em um
copo d’água. — Revirou os olhos.
— Eu sei, mas faço qualquer coisa pela
Lia. — A vontade de Jesse era apertar
as bochechas dele de tão fofo, amoroso.
— Ela mandou de entregar uma coisa.
— Assim que ela levou as mãos no
bolso para pegar a carta, uma moto
cantando pneus parou diante deles. Era
um homem com o rosto coberto por uma
touca, tirou uma arma da cintura e a
apontou para Bobbi. Naquele momento
ela percebeu que o motivo de o
proibirem de sair de casa não era a Lia.
Jesse se desesperou ao ver um ponto
vermelho bem encima do coração do
jovem, era um laser. Ela não pensou
duas vezes em entrar na frente dele
quando o meliante disparou dois tiros e
fugiu em disparada, desaparecendo da
mesma forma que chegou, do nada.
— Jesse você está sangrando... Não
dorme... Fica comigo...
Foi a única coisa que Carter escutou
antes de cair em uma escuridão
profunda, sentindo uma dor aguda no
lado esquerdo do ombro. Desesperados!
Essa era a palavra certa para os quatros
irmãos que chegaram praticamente
voando no hospital, passando por cima
de qualquer coisa que passasse na frente
deles. Bobbi havia entregado a uma das
enfermeiras o número de Julius para que
a recepcionista ligasse para ele
contando o que havia acontecido, ele
nem deixou a moça terminar de explicar
depois que ouviu as palavras Bobbi e
tiro na mesma frase. O Jovem não queria
soltar a mão da Jesse, a segurou desde
que um entraram na ambulância, que por
sorte estava passando voltando de
tentarem atender a um chamado falso de
socorro, trote de um garoto de treze
anos. O jovem só não conseguiu avisar a
família da policial, não tinha o contato
deles. Graças aos Anjos da Guarda da
Policiais Desajeitadas o tiro acertou no
ombro, ficaria boa logo.
— Leve-me até o meu irmão! —
Ordenou Blade à recepcionista sentada
atrás de um balcão branco onde ela
atendia as pessoas, com a voz mais
rouca que o habitual, indícios de um
futuro resfriado a qual digitava
ferozmente em seu computador
mascando chicletes de uma forma
irritante. O tom dele para com ela era
como se fosse o seu chefe e lhe pagava
uma fortuna como salário para descobrir
mentalmente o nome do seu irmão, já
que ele não falou.
— O horário de visitas já passou, volte
amanhã. — Disse com uma voz fina.
Blade chegou a levar a mão na direção
do pescoço dela para esganá-la até
arrancar dela o que queria saber, quando
a pobre mulher de cabelos negros como
a noite, virou para olhar para ele e
quase desmaiou com que vira. Ele
estava com os olhos arregalados de tanta
raiva, em um tom de fogo no auge das
labaredas. Rosnando baixinho feito um
lobo raivoso, os punhos fechados com
tanta força que o sangue havia sumido de
suas cavidades.
— Por favor moça, desculpe o meu
amigo. Ele está nervoso devido o fato
do nosso irmão caçula ter levado um tiro
e queremos saber como ele está. —
Julius tomou a palavra, sua simpatia
comoveu a mulher, ainda mais pelo tom
choroso com que saiu.
— Qual no nome do seu irmão querido?
— Perguntou a recepcionista com uma
preocupação que não costumava ter com
os outros pacientes, muito menos com
um que nem sabia de quem se tratava.
Era uma mulher madura, usando uma
maquiagem um pouco exagerada para a
idade dela. Parecia a adolescente no
colegial, o cabelo preso em um rabo de
cavalo preso para o alto, e quase um
quilo de sombra rosa choque nos olhos.
— Robert Perez Salvatore Xing
Maldonado. — Respondeu Li em uma
fração de segundo, com o rosto sério e
os olhos vermelhos te tanto chorar a
caminho do hospital.
— Fala logo, sua bruxa, não sou
obrigado a passar o resto do dia olhando
para essa sua maquiagem horrorosa. —
Estevão não deixaria de comentar sobre
a maquiagem alegre dela, não chorou em
nenhum momento, mas roeu o esmalte
preto dos dez dedos das mãos pálidas
como a neve.
— O que há de errado com a minha
maquiagem? — Girou um pouco a
cadeira para encarar o inglês, ficou
ofendida, não tinha passado a tarde toda
se maquiando para ouvir aquele tipo de
coisa.
— O que não está errado com ela,
querida! — Blade olhou para mulher
com cara de nojo, para ele pior do que
uma mulher sem maquiagem era uma que
não sabia se maquiar.
— Deixem a pobre moça em paz! —
Bobbi surgiu de um dos corredores
andando calmamente, a recepção era
ampla, com quatro fileiras de cadeiras
de espera. Uma mesa de canto com
variadas revistas sobre a mesma, uma
TV pendurada na parede e um chão
branco tão limpo que chegava a brilhar.
— Mascote! — Exclamou Blade com a
voz grossa, repleta de alivio por vê-lo
bem.
—Você está mesmo bem filho? Está
doendo muito? Quem fez isso com
você? Comeu alguma coisa hoje?
Trouxemos roupas para tomar banho e
ficar cheirosinho. — Os quatro irmãos
falavam ao mesmo tempo, enquanto
faziam a minuciosa busca pelo corpo do
menino em busca de mais ferimentos.
Um levantava a blusa daqui outro
examinava as costas desnudas e assim
foi pelo resto do corpo do Bobbi até
terem certeza que estava realmente bem.
— Eu estou bem, irmãos, não precisam
se preocupar tanto. — Exclamou Bobbi,
com um sorriso terno no rosto.
— Que família esquisita! — Proferiu um
casal que estava sentado na segundo
fileira à esquerda olhando para eles com
estranheza, as pessoas estão tão
acostumadas a se preocuparem consigo
mesmas que quando veem uma cena
como aquela, estranham.
— Não é estranha, é unida! — A
recepcionista limpou uma lágrima, veio
de uma família desestruturada onde o
pai agredia a mãe na frente dela.
— Mas, ligaram para nós dizendo que
tinha você tinha levado um tiro,
Mascote? — Disse Blade, com uma
expressão confusa no rosto.
— Do nada apareceu um homem
encapuzado em cima de uma moto e
apontou a arma para mim, mas a Jesse
entrou na frente para que o tiro não me
acertasse. Foi baleada no meu lugar, se
ela morresse não ia me perdoar nunca.
— Começou a chorar.
— Calma filho, ela vai ficar bem! —
Julius o envolveu com um abraço, e ele
chorou com o rosto escondido no peito
dele como quando era criança.
— Não chora, irmãozinho, eu trouxe um
presente para você. — Estevão tirou do
bolso do longo casaco preto um pirulito
de quase meio quilo em formato redondo
de várias cores, preso num espeto de
pau. Entregou a ele e ficou afagando os
cabelos do Bobbi ainda escondido
dentro dos braços de Julius.
— E eu trouxe balas de caramelo. — Li
abriu um sorriso farto na esperança de
animá-lo um pouco.
— Parem de dar porcarias para o
menino, não quero que fique diabético.
— Zangou o mexicano, enquanto dava
legumes para Bobbi, os outros o
enchiam de doces as escondidas.
— Cadê o Maldonado? — Perguntou
Bobbi com a voz chorosa, estava
soluçando.
— Não precisa ser muito inteligente
para saber, filho. Vamos para casa e
deixar os dois sozinhos, Blade não vai
sair daqui até ter certeza que ela está
bem. — Disse Julius com o semblante
iluminado, ele já havia percebido uma
coisa que o próprio Maldonado não
fazia ideia que estava acontecendo com
ele.
A porta do quarto de Jesse estava
entreaberta, Blade não sabia explicar
como chegou ali tão rápido e como tinha
a certeza que ela estava naquele, sendo
que ao longo corredor deveria ter uns
vinte quartos, ou mais. Foi entrando
devagar, estava com medo do que ia ver.
E sentiu o coração palpitar rápido e a
respiração ficar ofegante e pesada,
Carter estava dormindo em uma cama
com o colchão macio coberta por um
lençol branco, no ombro um curativo
enorme e o braço esquerdo imobilizado.
O cabelo solto em uma bagunça de
cachos rebeldes espalhados por todo
travesseiro, alguns mais atrevidos sobre
o rosto que conseguia ser ainda mais
delicado naquele momento. Os olhos
fechados com os cílios grandes, que
parados pareciam ser bem maiores do
que aparentavam, os lábios grossos
curvados em um formato perfeito de
coração, a respiração leve como uma
pluma. — "Ela parece um anjo até
quando está dormindo, ingênua e
delicada."
Maldonado se aproximou com cuidado
da cadeira que estava perto da cama
dela, mas, não o suficiente para ele.
Queria poder vigiá-la o mais próximo
possível, não tiraria os olhos dela em
momento algum. Quem tentou matou
matar o Bobbi para feri-lo poderia
querer voltar para terminar o trabalho,
ainda mais agora que ele sabe que só
alguém muito próximo a eles entraria em
frente a uma bala para salvar um deles,
agora era alvo também. Tanto que a
queria longe disso, infelizmente quem
estava querendo matá-lo para ganhar a
recompensa iria tentar usar Carter para
chegar até ele, viva ou morta.
— Blade! — Jesse chamou baixinho por
ele como se soubesse que estava ali.
Remexeu-se um pouco na cama virando
para o lado, apoiando-se com o ombro
bom, ficando agora de frente para ele.
Se não estivesse dormindo, teria uma
bela visão do homem que não tinha mais
espaço nele de tanta preocupação com
ela.
— Estou aqui, pequena. —Sua voz era
suave, quase nunca usava aquele tom
com ninguém. —Para você, por você. —
Completou quase em um sussurro.
— Estou com medo, não me deixe! —
Ela disse com a voz balbuciante e o
semblante pesado, talvez estivesse tendo
um pesadelo.
— Não vou a lugar nenhum sem você.
— Meio sem jeito não resistiu e acabou
pegando a mão dela, dessa vez não
sentiu repulsa em tocá-la, ao contrário,
sentiu algo que lhe esquentou o coração.
Não como se tivesse aquecido por um
cobertor, mas por um vulcão em
erupção.
''Como odiar alguém que salvou a minha
vida e da pessoa mais importante do
mundo para mim? É engraçado saber
que o meu Anjo da Guarda tem pouco
mais de um metro e meio de altura."
Ele ficou segurando a mão dela por mais
de duas horas, que comparando com a
dele parecia de um adulto segurando a
se uma criança. Era delicada, fina e
quente. Jesse mexeu-se um pouco
fazendo com que alguns cachos teimosos
cobrissem o rosto dela, com a mão livre
os removeu com cuidado, um por um.
Mais uma vez não resistiu e tocou a
maçã do rosto dela com carinho o que a
fez dar um leve sorriso tímido ao sentir
o calor do toque de Blade.
— A mamãe veio assim que soube, filha.
— Maldonado tirou a mão do rosto dela
assim que ouviu a voz da mãe
desesperada para ver como ela estava,
mas não se virou para olhá-la. Por acaso
uma amiga da família Carter que estava
visitando o sobrinho internado no
mesmo hospital, ao sair viu os
paramédicos chegarem às pressas com a
investigadora sangrando muito em uma
maca, perguntou a um deles o que houve
e ele explicou que havia sido só um tiro
de raspão e que ela ficaria bem logo.
Então a amiga entrou em contato
avisando-a do ocorrido e esta ao saber,
voou para o hospital.
Assim que chegou, viu que ela estava
segura agora, enquanto dormia
segurando a mão de um homem que
parecia se preocupar muito com ela.
Maria se aproximou sem tirar os olhos
das mãos deles com os dedos
entrelaçados um no outro. Tentou puxar
em sua mente alguma lembrança de tê-lo
visto antes com a filha só que não
encontrou nenhuma. Observou pelo
canto dos olhos como ele havia
acomodado sua altura considerável de
forma casual naquela cadeira pequena,
que certamente não havia sido feita para
alguém com a estatura física dele, os
músculos quase explodindo debaixo de
uma jaqueta preta de couro estilosa, mas
ao mesmo tempo elegante. A postura
confiante e superior. Não o conhecia,
mas já gostava dele pela forma com que
ele olhava para Jesse. Às vezes quando
a palavra deixa a desejar, um pequeno
gesto diz tudo, até mesmo um bem
simples como o segurar a mão de
alguém. Ela também observou a
diferença gritante entre os dois, como se
um completasse o outro. Sem dizer se
posicionou ao lado da cama, fez um leve
carinho no rosto da primogênita.
— Ela parece um anjo dormindo. —
Comentou Maria um brilho molhado nos
olhos.
— Sim. — Disse Blade. Não era um
homem de muitas palavras, ainda mais
quando se tratava de alguém que não
conhecia.
— Boa noite, filho! Sou Maria José
Cart... — Assim que a mãe ia falar o
sobrenome Jesse acordou no susto e
evitou uma catástrofe.
— Mamãe? Ai... Aiiii... — Tentou
levantar, só que o ombro machucado
reclamou pelo movimento brusco.
— Não pode ficar se mexendo muito,
meu amor, vai demorar um pouquinho
para sarar completamente, bebê. —
Blade olhou para a mulher bondosa a
sua frente, a voz doce dela fez com que
se lembrasse de sua mãe.
— Quem avisou a Senhora sobre o que
ouve? — Carter estava meia tonta,
sonolenta.
— Isso não importa querida, vim o mais
rápido possível achando que estava
sozinha, fiquei feliz de chegar aqui e ver
o seu amigo aqui cuidando de você. —
Foi então que Jesse percebeu que tinha
mais alguém no quarto e que esse
alguém estava segurando a sua mão, com
carinho. E naquele momento se sentiu
especial, importante para ele, mesmo
que fosse só um pouco por gratidão.
— Obrigada por ficar aqui cuidando de
mim, não precisava fazer isso. — Ela
olhou para ele e respirou fundo,
surpreendida pela mão dele ainda estar
segurando a sua, os grandes olhos azuis
de Blade encarando-a com uma
expressão inebriada de admiração.
— Eu que agradeço pelo que fez por
Bobbi, serei sempre grato por ter
salvado a vida do meu irmão. Esse tiro
era para ele, se não tivesse entrado na
frente, poderíamos estar velando o
corpo dele. — Ele soltou a mão dela,
Jesse quase gritou por perder aquele
contato.
— Só fiz o meu trabalho! — Desviou o
olhar, a forma intensa com que olhara
para ela lhe deixava nervosa.
—Não! Fez o meu, cuidar dele é minha
responsabilidade, não sua. —Grunhiu
mais elevado do que queria.
— Não vai me apresentar o seu amigo,
filha? — Maria Joaquim resolveu mudar
de assunto, notou que o clima estava
ficando quente.
— Mãe esse é Bla...
— Ninguém em especial. — Cortou ele.
— Se me derem licença, preciso ver
como o Bobbi está depois do que ouve,
foi um prazer conhecer a Senhora Maria
Joaquim. Mais uma vez obrigado
investigadora é mais corajosa do que
pensa. — Jesse ficou envergonhada, mas
só um pouco. Dizendo isso ele foi
embora, dando uma bela visão a elas
das suas belas costas.
— Filha, acredita que o seu pai hoje à
tarde, logo depois que chegou do
trabalho, veio mais cedo hoje, tomou
banho e assim que ia para o clube de
golfe com os amigos, sofreu uma
tentativa de assalto? Um homem
encapuzado tirou o cinto das calças e
deu vários golpes nele. O mais
engraçado é que nos mesmos lugares
onde ele bateu aquela vez em você,
Jesse. E o criminoso nem levou o
dinheiro. Fill acha que deve ser um
membro de alguma gangue se vingando
por ter prendido o chefe deles. As
feridas estão em carne viva, não
consegue nem andar, sua irmã teve que
ficar em casa para cuidar dele. Seja
quem for pegou pesado com ele.
Sinceramente? Eu achei bem feito para
ele aprender, perdidas foram as que não
acertaram. — Maria soltou uma
gargalhada gostosa enquanto tentava
prender a montoeira de cabelos da filha,
com um elástico azul que achou no fundo
da sua bolsa.
— Não acredito que ele fez isso! —
Jesse pensou alto, literalmente pasma!
Não querendo acreditar que havia sido
Blade que tinha feito aquilo com o pai
dela, mas no fundo sabia que sim.
Maria passou a noite com a filha,
cuidando dela com o maior amor do
mundo como sempre fazia. Assim que
Jesse acordou já não sentia mais dores,
tomou banho sozinha precisando da
ajuda da mãe apenas para vestir a roupa
do hospital, um vestido bege aberto de
cima a baixo atrás. Sua mãe havia
trazido algumas roupas dela que ainda
tinha em casa, porém, só poderia usá-las
quando fosse sair do hospital. Depois de
muita insistência da investigadora,
Maria Joaquim foi em casa tomar um
banho e comer alguma coisa, dar uma
olhada no Major para depois voltar com
a Mainara que estava louca para ver
pessoalmente como a irmã estava. Nesse
intervalo teve quatro visitas muito
divertidas que a fizeram rir muito,
Julius, Estevão, Li e Bobbi. Levaram
flores, balões de gás coloridos e um
caixa de chocolates francês. Ela amou
cada minuto, só sentiu falta de Blade.
Queria que ele tivesse vindo, que
segurasse a sua mão novamente, porém
acreditava que isso jamais aconteceria.
Assim que foram embora, para sua
surpresa o médico passou e disse que já
estava de alta e poderia ir para casa.
Com muita dificuldade conseguiu vestir
sozinha as roupas que a mãe trouxe,
pediu para a recepcionista, que naquela
manhã optou por uma maquiagem menos
agressiva, às vezes um chá de realidade
é um santo remédio, avisar sua mãe que
fora para casa. Logo que Carter chegou
na rua onde morava, notou uma certa
diferença no seu prédio, somente o
andar do apartamento dela havia sido
reformado, estava pintado de um
marrom escuro, num tom muito bonito.
Onde antes tinha apenas uma janela,
agora havia um monte de vidros com
grades de cima a baixo com persianas
penduradas do lado de dentro.
— Ao menos o lado de fora não é mais
tão ruim. — Sorriu satisfeita. Ao sentir
que estava sendo observada resolveu
apertar os passos e entrar logo no
prédio. Quando passava pelo corredor
notou que as paredes estavam pintadas
de branco e sobre a porta do vizinho
tarado destacava-se uma placa de
"Aluga-se". Sentiu-se aliviada por isso,
tinha medo dele. A surpresa foi quando
chegou à sua porta que agora era de aço
puro. Olhou debaixo do tapete e a chave
do mesmo material estava lá com um
bilhete que dizia:
"Não guarde mais suas chaves aqui,
pode ser perigoso."
— Meu Deus!!! — Jesse soltou um grito.
O apartamento também tinha sido
reformado, ou melhor, parecia ter sido
construído de novo. As paredes muito
bem pintadas de azul claro, todo
mobilhado com o que havia de melhor
no mercado. Paredes foram construídas
para fazer a divisão dos cômodos e
agora ela tinha um quarto com suíte, e
que suíte! Com direito a um chuveiro
grande e uma banheira, com os objetos
dela de higiene pessoal arrumados no
mesmo lugar que estava no antigo
armário sobre a pia velha. Uma cama de
casal enorme com um colchão grosso,
quem comprou pensou no bem-estar dele
também quando a escolheu.... Na sala
dois sofás roxo escuro de tamanhos
diferentes, um tapete marfim na frente
deles, e uma televisão de plasma de
oitenta polegadas na parede. A melhor
parte foi quando entrou na cozinha, era
toda de inox, o sonho de qualquer
pessoa. Pequena e confortável, como
tudo no apartamento. O armário era
branco e preenchia toda a extensão da
parede, uma pia ampla com um micro-
ondas sobre ela, uma geladeira grande
abarrotada de coisas que dava para
alimentar umas dez pessoas por uma
semana, os armários também estavam
lotados de mantimentos. Um fogão de
quatro bocas, em vez de uma mesa, um
balcão de granito escuro com dois
bancos altos, um de cada lado dele.
Traduzindo, era tudo do bom e do
melhor. Sem entender tudo aquilo,
procurou o dono do prédio que morava
no último andar. O mesmo dissera que o
apartamento dela havia sido vendido e
que não estava autorizado para dizer
para quem. Mandou reformar tudo em
um dia, e mobiliou tudo. Pediu para
avisar para o morador não se preocupar,
porque nada seria incluso no aluguel, e
que poderia morar ali sem pagar nada
com a condição apenas de cuidar bem
do apartamento. Mas Jesse deixou bem
claro que jamais aceitaria isso! Quem
era para ele? Queria entrar em contato
com o novo proprietário e pedir um
número de uma conta para qual ela
pudesse depositar o dinheiro, era
honesta demais para viver às custas dos
outros, para ela ser pobre não era
defeito, mas aproveitar-se da bondade
dos outros, sim. Depois, voltou para
casa pasma, não sabia o que pensar,
tinha apenas um suspeito, mas logo
descartou a possibilidade. Blade jamais
faria isso por ela, era absurdo demais
uma bondade tão grande vir de alguém
frio como ele. Preferiu acreditar que
ainda haviam outras pessoas boas no
mundo e que iria descobrir quem fez
isso por ela e agradeceria pessoalmente.
Fazendo um tour mais detalhado pela
nova casa, que parecia de boneca
ostentando até um aquecedor elétrico, as
noites de frio haviam acabado, percebeu
que todos seus objetos pessoais estavam
intactos, porém, estava faltando apenas
uma coisa.
— Onde será que foi parar a caixinha de
música? Agora não poderei mais
entregar nas mãos do verdadeiro dono.
— Pensou Jesse triste, não sabendo ela
que já estava nas mãos dele há muito
tempo.
CAPÍTULO 12
Maldonado rolava de um lado para o
outra na cama sem conseguir dormir,
tinha uma maldita coisa, ou melhor, uma
pessoa que não saía da sua cabeça de
forma nenhuma. Naquela noite e nas
próximas por vir, os quatro “irmãos”
decidiram vigiar Bobbi em tempo
integral. Queriam que o jovem se
sentisse seguro na companhia deles
tendo total certeza que não deixariam
que ninguém lhe fizesse mal em hipótese
nenhuma. Deram uma boa bronca no
irmão caçula e aumentaram o castigo por
tempo indeterminado, só tinha permissão
para sair de casa acompanhado de um
deles e não voltaria a usar o celular tão
cedo para aprender a não os
desobedecer novamente. Apesar de que
Li ter ido ao quarto dele às escondidas e
ter lhe dado um novo aparelho de última
geração. Já que não podia sair teria pelo
menos algo com que se distrair. O jovem
ouvira os sermões dos irmãos calado, de
cabeça baixa, olhando para o chão.
Mesmo achando um pouco "exagerada"
a preocupação deles para com ele sabia
que era para o seu próprio bem e mesmo
que de maneira incomum era visível
sequer imaginava o que era, porém,
tinha certeza que era mais grave do que
deixavam transparecer. Na verdade,
para os criminosos perigosos que eram,
eles haviam feito um bom trabalho na
criação do jovem, que era dotado de
extrema educação, advogado recém-
formado, passando na prova do OAB em
primeiro lugar, acima do gênio
Maxmilian Thompson, que se contentou
com a segunda posição e ainda mais
porque o primeiro era do seu melhor
amigo. Mesmo assim, por mais que
crescesse sempre seria o “Mascote”
deles, o qual dariam a vida para
proteger, mantê-lo seguro era sempre
prioridade mesmo que o inimigo fosse
apenas uma gripe de duas semanas ou
mais, ou uma noite fria. Bobbi nem
tivera tempo de sentir a falta de uma
mãe, porque eles enchiam qualquer
lacuna no quesito família, eram
protetores além da conta.
De manhã Blade ficou olhando pela
janela os habitantes daquela casa irem
ao hospital visitar a investigadora,
quando o chamaram sua primeira
resposta foi não logo de cara. O dia
passou se arrastando, quando chegaram
ninguém se deu ao trabalho de falar-lhe
uma só palavra sobre a tal visita, ao
invés disso, foram dar atenção ao jogo
de xadrez no escritório. Apenas Estevão
saiu dizendo que tinha um assunto
importante para resolver.
— Vai sair, Blade? — Perguntou Julius
com um sorrisinho no rosto, havia ido à
cozinha beber água quando viu
Maldonado todo arrumado segurando a
chave do carro, não do Impala, resolveu
dar uma noite de folga para ele já que
tinha muitos que nunca estreara ainda.
— Vou, não esperem por mim. —
Passou pelo mexicano feito um tiro.
— Mande um beijo para Jesse. — Blade
parou no vão da porta assim que ouviu o
nome que vinha evitando pensar o dia
todo, sem sucesso. Pela forma que suas
costas incharam estava nervoso.
— E quem disse que eu estou indo vê-
la? Com tantas outras coisas importantes
e mais divertidas para fazer em Los
Angeles? — Girou a cabeça para trás,
irritado com o rumo daquela conversa.
— O que não temos coragem de dizer, a
nossa cara revela. — Deu uma piscadela
para o lado dele, levou o copo de água à
boca e saiu andando em direção ao
escritório onde podia-se ouvir risadas
de Li e Bobbi animados com a antiga
partida de xadrez. Blade saiu dirigindo a
“trezentos quilômetros por hora”
sentindo o vento bater em seu rosto, nem
ele sabia para onde estava indo. Passou
em vários cassinos, foi cantado por
várias mulheres lindas, as quais não o
agradaram. Bebeu um pouco, olhando
tudo ao seu redor que antes o segurava
até altas horas da noite, mas agora
simplesmente tão tinha nenhuma graça.
Pagou o que tinha consumido no bar e
foi embora desanimado, com um vazio
no peito. Quando Maldonado deu por si
já tinha conduzido sua BMW preta até o
bairro mais perigoso da cidade, em
frente ao prédio da pessoa mais inocente
que conhecera na vida.
A mãe e a irmã de Jesse tiraram o dia
para ficarem bajulando a moça. Elas
ficaram impressionadas com a reforma
que o novo dono do apartamento fez,
acharam estranho, mas não falaram nada
já que seria para o conforto da
moradora. Fizerem biscoitos caseiros
para a estreia do fogão novo, os
preferidos da investigadora e passaram
o resto do dia rindo e conversando
sobre banalidades do dia a dia. Foram
embora já de tardinha. Logo em seguida
alguém bateu na porta, Carter que estava
vestida com uma camisola que mais
parecia um blusão, levantou-se
preguiçosamente para abrir a porta. Uma
Nayla chorosa praticamente pulou no
pescoço dela aos prantos, totalmente
descabelada, a roupa toda desalinhada e
sem nenhum vestígio de maquiagem no
rosto. Quando Jesse olhou para o pé da
amiga e viu um par de chinelos velhos e
não o costumeiro salto agulha assassino,
percebeu que o assunto era realmente
grave.
— Fiquei tão preocupada quando soube
que você levou um tiro, amiga, vim o
mais rápido que pude. — Disse Nayla,
com uma voz condoída e de cortar o
coração.
— Não se preocupe, Nay, eu estou bem.
O tiro foi só de raspão, em breve estarei
pronta para outra. — Brincou.
— Não brinque com isso, Jesse. —
Zangou a amiga.
— Mas essa tristeza não e só
preocupação comigo que eu sei. —
Puxou-a para dentro e fechou a porta
atrás dela, colocando-a sentada no sofá
roxo escuro da sala.
— Jesse, o que houve com o seu
apartamento? Está lindo! — Girou os
olhos castanhos em um ângulo de
trezentos e sessenta graus por toda a
sala, dando jeito de mudar de assunto
logo, mas no fundo estava realmente
surpresa com a mudança repentina do
lugar.
— Nem eu sei amiga, quando voltei do
hospital já estava assim. O dono do
prédio disse que alguém comprou e
mandou reformar, agora pare de mudar
de assunto e me conte o que aconteceu
para te deixar assim. — Foi direto ao
ponto.
— Ele voltou, Jesse... — E a choradeira
começou novamente, deitou a cabeça no
colo da amiga e entregou-se a um pranto
sem fim.
— Ele quem, Nayla? — Afagou os
cabelos da estilista com carinho.
— Aquele menino que te contei uma vez,
que conheci no Ensino Médio quando
morava na Inglaterra até o chefe do meu
pai transferi-lo para Los Angeles, o
único que fez o meu coração bater mais
forte até hoje. — Tirou uma caixa de
lenços de papel da bolsa rosa de veludo
com uma placa dourada escrito em letras
maiúsculas PADRA. Limpou os olhos e
assoou o nariz usando dois de uma vez
só os entregando na mão da Jesse, que
pegou nas pontas dos dedos e jogou-os
no chão próximo ao sofá para jogar fora
mais tarde. Limpou a mão no seu pijama
e a voltou para o mesmo lugar onde
estava fazendo acariciando os cabelos
da amiga.
— Então deveria estar feliz com isso,
não triste dessa forma. — A estilista
ergueu o rosto para olhar para Jesse,
com os olhos inundados.
— Ele não é mais como na época do
colégio, talvez nunca tenha sido da
forma que eu imaginava que fosse. —
Sentou-se ao lado de Jesse, acertando as
costas de forma que pudesse apoiar a
cabeça no ombro dela.
— Ninguém é como a gente pensa, Nay,
devemos amar as pessoas mesmo
quando descobrirmos quem elas são
realmente. — Às vezes Nayla não
conseguia entender como Jesse
conseguia ser uma pessoa tão boa,
sempre via um lado bom nas pessoas,
mesmo quando o tal nem existia.
— É mais complicado do que parece
Jesse, ele está envolvido no roub... —
Pensou melhor e parou de falar,
acreditando não ser sensato
compartilhar com uma policial que o
grande amor da vida dela havia voltado
apenas para se vingar, por um motivo
que não fazia a mínima ideia. Estava
envolvido no roubo das joias do desfile,
que graças ao bondoso Deus, tinham
seguro, mas ainda assim, o acontecido
destruiu a imagem dela diante a
imprensa. Nem falavam das peças
criadas com tanto carinho e dedicação,
apenas do roubo e ainda insinuavam que
ela tinha envolvimento com os
criminosos. Como explicar para uma
investigadora do FBI e a sua melhor
amiga, que estava completamente
apaixonada por um bandido e que daria
a vida para poder colocar os olhos nele
mais uma vez, nem que fosse por um
instante.
— Envolvido em quê, Senhorita Nayla
Borges? — Jesse perguntou no seu
melhor tom de Investigadora do FBI,
estava começando a desconfiar que
houvesse mais coisas atrás daquela
história do que Nay estava contando.
— Nada Jesse! Preciso ir, tchau! — Em
uma fração de segundos enfiou a mão
dentro da bolça tirando o celular e a
chave antiga do apartamento da
investigadora. — Fico feliz que esteja
bem, eu te amo Best Friend! — Forjou
um sorriso sincero e saiu praticamente
correndo fechando a porta em um estalo
fino, não dando nenhuma chance de
Carter perguntar mais nada. Ela ficou
sentada no sofá olhando para aquele
pedaço de aço bem fixo na parede
imaginando o porquê alguém construiria
uma fortaleza como aquela para outra
pessoa que nem conhecia morar? Pela
grossura das paredes e as grades de
ferro chumbados nas janelas, nem o
Incrível Hulk no seu maior momento de
fúria conseguiria entrar ali. Levou um
susto com o barulho da campainha
tocando novamente, nem lembrara que
agora tinha uma, antigamente mal tinha
porta. Levantou-se para abrir certa de
que era Nay que havia esquecido alguma
coisa ou havia tomado coragem para
contar o que estava escondendo dela
sobre essa tal cara que tinha voltado
depois de muitos anos. Porém, não era.
— Oi! — Disse Blade, com a voz
visivelmente rouca e uma expressão
cansada instalada no rosto, resultado das
últimas noites em claro.
— Olá! —Ela respondeu sem poder
evitar um sorriso bobo, ainda mais
bonito como ele estava dentro da sua
camisa polo Ralph Lauren tom escuro
abraçando seu peito largo e farto, bem-
dotado de músculos, jeans claro gasto
moldando as pernas longas e grossas, as
habituais botas de couro pretas. As mãos
estavam escondidas dentro do bolso, e
Deus! Ele havia cortado o cabelo bem
curto estilo presidiário, ficou a coisa
mais sensual do mundo, um verdadeiro
crime. A barba por fazer de dois ou três
dias, a boca com os lábios levemente
umedecidos e um perfume hipnotizador.
No pescoço ela notou um cordão do
exército americano com a numeração
1989BMN, o que deixou a jovem
bastante chocada, jamais imaginara que
ele fora um soldado um dia.
— Vai me deixar à noite todo parado na
porta? — Perguntou bruto com o tom um
pouco elevado, não sabia tratá-la de
outra forma, não que quisesse. Os olhos
dele desceram certeiro para a camisola
dela, não estava usando sutiã e os seios
estavam balançando livremente,
totalmente à vontade.
— Desculpe, entre e fique à vontade. —
Assim Maldonado o fez, passou por ela
como se o apartamento fosse seu, nem
um pouco surpreso com o grande
número de diferenças que tinha após a
última vez que esteve ali. Sentou-se no
sofá de forma espalhafatosa e cruzou as
pernas, elegante demais para um
bandido perigoso. Jesse fechou a porta
sentindo os olhos dele queimarem cada
parte do seu corpo, se desesperou ao
lembrar que tinha aquela roupa de
dormir desde a adolescência e que
mesmo não tendo crescido muito, ela
deixava pelo menos a metade de sua
bunda à mostra, isso a fez corar.
— Eu estou. — Disse apenas, assim que
ela se virou visivelmente envergonhada
com a presença dele, que fixamente lhe
encarava com os olhos como que duas
safiras brilhantes com a luz do luar que
entrava pela fresta da janela.
— Vou me trocar e já volto, você está
gripado? — Ela perguntou preocupada,
desviando o olhar apontando para a
camisola, tinha as duas mãos na barra da
mesma puxando-a para baixo na tentava
inútil de cobrir alguma coisa, sem
nenhuma condição psicológica de
manter contato visual com ele pois a
intensidade que vinha daquelas duas
lagoas azuis era forte demais,
assustadora, por assim dizer.
— Não precisa, está ótima assim! —
Olhou mais tempo que o necessário para
as pernas dela de fora.
— Mas eu não estou me sentindo bem
em estar de forma tão "íntima" em sua
frente. — Ela corou, puxando ainda mais
a barra do vestidinho tentando cobrir
alguma coisa, sem sucesso algum.
— Creio que não tenha estado de forma
tão "íntima" na frente de outro homem,
não é mesmo? — Perguntou na cara
dura, direto e reto. A avaliando-a de
cima a baixo com o semblante
enigmático, sem se importar com uma
Jesse chocada diante da pergunta
indiscreta dele.
— Minha vida íntima não lhe diz
respeito. — Jesse balançou de leve a
cabeça e praguejou baixinho, roxa de
raiva, perguntando-se por que ele tinha
que ser tão bonito? Tão fodidamente
sexy e atraente naquele jeans infernal e
mexer tanto com ela daquela forma.
Blade parecia a personificação do sexo,
que fazia a calcinha dela molhar apenas
com um olhar. Queria poder odiá-lo por
ser tão cretino ela, mas simplesmente
não conseguia.
— Você cora como uma colegial, fala
como uma e usa tênis em um baile de
gala. Aposto que é o tipo que está
"esperando a pessoa certa". Está escrito
na sua cara que ainda é virgem, então
pare de fingir que tem uma vida "íntima"
porque nós dois sabemos que não tem.
— Disse Blade sem paciência, frio e
sarcástico.
— Acho que essa pessoa já apareceu.
— Blade parou de respirar, literalmente.
— Já que hoje Michelangelo me ligou
me convidando para sair, lembra aquele
barman do baile que fui usando tênis?
Daqui a duas semanas vai ter uma
exposição de fotografias que nós vamos
juntos, assim como eu, é apaixonado por
fotos e livros de romances, gosta de mim
do jeito que sou e é gentil comigo
sempre. Temos mais coisas em comum
do que pensei e talvez ele seja sim a
pessoa "certa que esperei até hoje", que
vai me mostrar que valeu a pena ter me
guardado durante todo esse tempo, não
como uns e outros que me fazem sentir-
me uma idiota pelo mesmo motivo. — A
princípio, Maldonado pareceu furioso, a
pele ficando vermelha e a boca inflando,
um sapo inchando quando se sente
acuado. Então ele soltou uma gargalhada
alta, inclinou a cabeça para trás
encostando mais as costas no sofá,
fechou os olhos e levou as mãos na
barriga que deveria estar doendo de
tanto rir.
— Você esperou a sua vida toda pelo
anão da Branca de Neve investigadora?
— Ele riu mais ainda, uma gargalhada
gostosa que tomou conta de todo lugar.
— Saia de minha casa, agora! — Ela
gritou apontando para porta, e saiu
pisando duro para o quarto tomar o seu
banho e cair na cama na esperança de
dormir para esquecer-se daquele dia
horrível. Se não fosse tão educada o
teria xingado de nomes, queria ofendê-lo
do mesmo jeito baixo que ele fazia com
ela.
— Não vai me oferecer nada para beber
ou comer? — Debochou ele, segurando
o riso e tapando a boca com a mão.
— Claro, desculpe você está com fome?
— Perguntou irônica, por mais raiva que
estivesse de uma pessoa jamais a
deixaria passando fome.
— Sim. — Blade deu uma pausa como
se precisasse tomar fôlego, logo a voz
grave tomou conta do lugar novamente.
— Mas o que quero comer no momento
suponho que não esteja disponível no
seu cardápio. — Ele bateu a palma da
mão uma na outra e começou a rir
novamente, dessa vez inclinando o
corpo para frente ainda segurando a
barriga com as mãos, lágrimas de ódio
correram no canto dos olhos.
—Blade Maldonado! — A forma séria
com que ela lhe chamou pelo nome
completo o fez parar de rir
imediatamente e olhar para a mesma.
Ficou surpreso com o encantamento que
Jesse olhara para ele naquele momento.
— Você está sorrindo! — Ela se
aproximou-se dele com cuidado. Não
queria assustá-lo. — Deveria fazer isso
mais vezes, o seu sorriso é lindo! —
Afirmou ela, segurando o seu rosto entre
as mãos olhando no fundo dos seus
olhos. Podia ver o medo ali presente,
visivelmente confuso com aquela
situação. Ele então percebeu que não
lembrara a última vez que sorriu, talvez
nunca o tivesse feito.
— Eu... eu... — As palavras faltaram
para Maldonado, como uma criança
aprendendo a falar.
— O que tanto te assusta, Blade? Pensei
que não tivesse medo de nada, é sempre
tão seguro e direto em relação a tudo.
— Você me assusta, Jesse, fico
apavorado toda vez que estou perto de
você e eu odeio isso. — Confessou por
fim, livrando-se do toque dela. E assim
Blade fugiu confuso sem se despedir,
pensando no fato de que, o que ninguém
tinha feito por ele em toda a sua vida, o
seu Anjo fizera em pouco menos de um
mês.
Nayla saiu do apartamento da amiga
mais pra baixo do que quando chegou,
odiava mentir para ela. Destravou a
porta do seu Oversign envelopamento
rosa claro, carro presente da Mary Kay
Cosméticos, vivia sendo presenteada
por marcas famosas, entrou, jogou a
bolsa no banco de couro branco do
carona, essa era a cor predominante na
parte interna do veículo e começou a
dizer pra si mesma:
— Eu vou parar de chorar... eu vou
parar de chorar... eu vou parar de
chorar...
Ela repetiu esse mantra por diversas
vezes antes de colocar o carro em
movimento, mantendo o vidro escuro
fechado, tinha um certo receio de andar
com eles abertos naquele bairro. Depois
de trinta minutos dirigindo, ela nem
notou que tinha feito uma curva errada
seguindo para o lado sul da cidade, onde
tudo de pior acontecia. Estava falando
uma dúzia de palavrões com o chefe de
um jornal que havia publicado uma
matéria distorcendo completamente tudo
o que tinha dito em uma entrevista que
fizera para eles sobre o roubo das joias,
insinuando a todo o momento que ela
tinha envolvimento com o ocorrido.
Depois de uma conversa nada amigável,
conseguiu que fizessem uma segunda
publicação se retratando pela
indelicadeza em relação ao seu trabalho.
Consequentemente, entrou na rua sem
fim à esquerda em vez da direita onde a
levaria ao centro de Los Angeles, que
naquela hora da noite estaria bastante
movimentada devido ao grande fluxo de
pessoas retornando para a casa depois
de um dia cansativo de trabalho. Quando
percebeu onde estava já era tarde, a rua
era escura cheia de pessoas estranhas
em volta de uma fogueira bem no meio
dela, vendendo e usando drogas,
enrolados em cobertores velhos e sujos,
que ficaram bastante alarmados ao notar
a presença de um carro cor de rosa
invadindo a "área" deles. Uma pessoa
normal daria meia volta e fugiria dali o
quanto antes e era o que ela pensou em
fazer naquele momento, mas, viu de
longe um homem bastante familiar
entrando em um beco escuro olhando
para os lados como se estivesse com
medo de que o vissem.
— O que Estevão está fazendo em um
lugar como este? — Foi o que Nayla se
perguntou.
Sem pensar duas vezes saiu do carro e o
seguiu a passos rápidos tendo que
enfrentar os olhos gulosos daqueles
homens sujos sorrindo maliciosamente
para ela com três ou quatro dentes
faltando, uma chuva de assobios e
palavras baixas se referindo ao corpo
dela que tomou conta da rua. Agradeceu
a Deus por estar trajando um moletom
velho que usava para dormir em dias
mais frios. Nay passou entre becos e
vielas sem nenhum pingo de medo. O
amor é capaz de encher de coragem até
os corações mais covardes, não que esse
fosse o caso dela. O inglês era grande e
tinha as pernas longas e ágeis, a coitada
estava suando para não o perder de
vista. Mesmo com somente alguns
flashes de luz no local, podia vê-lo e
ouvir o som da capa de Estevão voando
atrás das suas costas conforme ele dava
passadas rápidas. E ela achava aquilo a
coisa mais erótica do mundo. Foi então
que ele parou de andar e se aproximou
de um homem branco de estatura
mediana usando roupas da Nike, um
conjunto de tecido barato vermelho bem
largo, de muito mal gosto na opinião
dela. Uma touca preta na cabeça e um
cordão dourado com a letra S enorme
pendurado no pescoço, os dentes
revestidos de ouro.
— E aí, Mano, trouxe a grana? — O
indivíduo perguntou, com um péssimo
vocabulário recheado de gírias, era
evidente que estava esperando por ele.
Nayla observava tudo escondida atrás
de uma parede, de onde podia ouvir
claramente e vê-los de relance de sem
ser vista. A jovem era esperta.
— Sim, agora me dê a minha
encomenda. — Ela estremeceu ao ouvir
a voz de Estevão, era grossa e firme.
— Calma chefia, tem mercadoria aqui
que dá para cheirar tranquilo por um
mês. Tu gosta de coisa pesada eim,
Mano? Conheço gente que bateria as
botas com muito menos, se estiver vivo
quando acabar e só me procurar que
arranjo muito mais de onde veio essa.
— Completou o malandro satisfeito com
a venda, entregando a ele um saquinho
cheio de pedras brancas e algumas
cartelas de comprimidos azuis e
brancos.
— Então além de roubar, você também é
usuário de drogas agora? — Estevão
literalmente paralisou quando viu a voz
de Nayla, havia muita decepção dentro
dos olhos dela. Não sabia o que alguém
como ela estava fazendo em um lugar
como aquele, ainda mais com aqueles
chinelos velhos horríveis nos pés, sim,
ele reparou nisso.
— Isso não é da sua conta! Vá embora
daqui, não quero te ver mais, a sua
falsidade me enoja. —Vomitou as
palavras sem dó, porém, envergonhado
demais para olhar para ela.
— Eu não vou deixar que faça isso com
você! — Ela teve um ataque de fúria e
pegou o embrulho na mão dele e jogou
longe, dando vários murros em seu peito
para dissipar um pouco a raiva que
estava sentindo.
— Viu o que essa vadia fez, cara?
Espero que tenha um bom motivo para
eu não acabar com a vida dela. — O
traficante tirou uma arma da cintura e
apontou para a cabeça dela.
— Porque sou eu quem fará isso, aos
poucos para que sofra o tanto que me fez
sofrer. — Até o malandro se assustou
com a forma com que Salvatore proferiu
tais palavras, totalmente frio e hostil.
— Taí um bom motivo, cara, gostei do
seu estilo! Como diria Jack Matador
"vamos por partes", arranca uma orelha
hoje, um braço amanhã e assim vai. —
Soltou um gargalhada alta mostrando os
dentes de ouro, uma cena de dar medo
em qualquer um.
— Eu não me importo que acabe com a
minha vida, mas não vou deixar que se
mate dessa forma horrível consumindo
essas porcarias. Não desejaria uma vida
assim nem para o meu pior inimigo,
muito menos para o homem que amo,
sempre amei desde a época da escola.
— Levou as mãos ao rosto e começou a
chorar, como um dia tempestuoso.
— Me ama? Não me faça rir, Nayla, não
ama nada além dessa sua carreira cheia
de pessoas medíocres e sem coração
que humilha aqueles que não são como
vocês. — Ele estava tão nervoso que
andava de um lado para o outro, pisando
tão forte que o chão chegava a tremer,
completamente fora de si. — O que fez
comigo afetou completamente a minha
vida, essas coisas que encheu a boca
para chamar de porcarias foi o que me
salvou por todo esse tempo,
preenchendo o vazio que colocou dentro
de mim. Como pôde me fazer acreditar
que poderia gostava de mim do jeito que
eu era, apenas para fazer piada com os
meus sentimentos junto com seus
amigos? — Ele não conseguia lembrar-
se daquele dia sem tremer as mãos,
limpando-as incessantemente na roupa
como se elas estivessem sujas da tinta
das bexigas que jogaram nele naquele
dia.
— Você está se drogando desde a época
da escola? E entrou nessa vida por
minha causa, por uma coisa que pensa
que eu fiz? — Ela o encarou sem
acreditar no que acabara de ouvir, foi
preciso recostar-se na parede para se
recuperar do choque.
— Desde a noite do baile, só parei
quando o meu irmão caçula ainda era
pequeno e me viu tendo uma overdose
depois de passar a madrugada toda
enchendo a cara de heroína, após
acordar de um maldito sonho com você,
com flores brancas no cabelo sorrindo
para mim. Todas as noites era o mesmo
sonho amaldiçoado. — Nayla sorriu ao
saber que ele sonhara com ela, mesmo
que Estevão não visse isso como uma
coisa boa. — Meus amigos me fizeram
prometer que iria parar, não aguentavam
me ver nessa situação deplorável, mas
meu maior motivo foi porque toda vez
que ia usar lembrava dos olhinhos do
Bobbi cheio de lágrimas olhando para
mim no chão, ajoelhado ao meu lado,
pedindo por favor para eu não morrer
porque me amava. Fiquei limpo por dez
anos, só que depois do nosso encontro
não consegui mais me controlar. —
Nayla alegrou o coração ao descobrir a
existência de uma pessoa importante na
vida de Salvatore, um irmão caçula que
o incentivou a parar com o vício.
— Se a minha presença é o motivo para
voltar com isso, pode deixar que vou
para outra cidade ou até outro país se
for preciso. Sumo do mapa, mudo de
nome e até de rosto, sou capaz de
qualquer coisa por você. — Disse
sincera e Estevão percebeu isso.
— Dá uma chance para a mina, cara,
nenhuma mulher nunca disse uma parada
romântica dessa para mim, tem que
valorizar esse tipo, pow! —O traficante
se emocionou com as palavras da
estilista, Nay tirou dois lenços de papel
da bolsa que estava presa debaixo do
braço e deu a ele.
— Valeu moça, foi mal aí ter te chamado
de vadia. — Assoou o nariz, fazendo um
barulho alto.
—Vou desculpar se prometer não vender
essas porcarias para mais ninguém, a
cada dez segundos no mundo tem uma
mãe chorando em volta de um caixão a
perda de um filho para o mundo drogas,
e são pessoas como você as culpadas
disso. Hoje é a mãe de alguém, amanhã
pode ser a sua. — As palavras de Nayla
tocaram o rapaz, que se lembrou do
olhar triste de sua mãe quando fora
embora para a cidade grande em busca
de uma vida melhor e onde sem sucesso
virou traficante. — Não precisa chorar
está bem? Eu posso arranjar uma bolsa
de estudos para você em uma boa
faculdade e um trabalho de meio
período para se manter honestamente até
se formar, o que acha? — Ela limpava
as lágrimas dele com carinho, sorrindo
docemente para ele cheios de esperança.
O inglês ficou confuso com a atitude
dela, pessoas sem coração não eram
gentis com ninguém, muito menos com
quem não merece como um malandro
sem vergonha. Diante aquilo, limitou-se
apenas a olhar aquela cena inusitada de
uma patricinha se virando muito bem
sozinha em meio aos lobos.
— Você é a primeira pessoa que não
olha para mim com cara de nojo, me
ofereceu ajuda sem pedir nada em troca,
obrigado! — Sorriu notavelmente
emocionado, estava realmente encantado
com a bondade dela para com ele,
apenas um estranho. Nayla era assim,
tinha o poder de conquistar as pessoas
apenas com o poder das palavras,
enxergava beleza onde ninguém mais
via, por isso se apaixonou por Estêvão
logo de cara.
— Esse é o meu cartão, tome um bom
banho e vista algo decente. E, pelo amor
de Deus tire esses dentes de ouro
horríveis e jogue essa maldita droga no
lixo. Depois que fizer isso pode me ligar
quando quiser, estou disposta a te ajudar
de verdade. — O ex malandro do lado
sul da cidade, futuro universitário e
assalariado a abraçou animado com a
chance que ela lhe proporcionara de ser
uma pessoa digna.
— Não sou obrigado a ficar aqui vendo
isso! Não satisfeita em destruir o meu
coração, resolveu desvirtuar o dono da
boca de fumo. — Estevão saiu
emburrado e enciumado. Nayla partiu
atrás dele o acompanhando até seu carro
estacionado do outro lado da rua.
— Precisamos conversar, Estê, temos
que esclarecer o que houve naquele dia
do baile. — Pegou no braço dele
impedindo que abrisse a porta do seu
Jaguar preto, modelo clássico com
estofamento imitando couro de onça.
Fazendo com que as chaves dele
caíssem no chão, debaixo da roda.
— Não toque em mim! Acho que já
estragou a minha noite o suficiente por
hoje não acha? Porque não cumpre a sua
promessa e some do país, ou melhor, da
face da Terra? — Foi sarcástico, cruel
nas palavras. Abaixando para pegar as
chaves, quando levantou ela havia
desaparecido. Então, seguiu o seu
caminho para a sua verdadeira casa,
uma Cabana no campo, totalmente
afastada de tudo. No estado que se
encontrava não seria saudável ter que
enfrentar quatro parceiros desconfiados
e o olhar preocupado do irmão caçula.
O que não sabia Estevão era que Nayla
estava mais perto do que pensava,
escondida no porta malas do seu Jaguar,
era teimosa demais para deixar aquela
conversa para um outro dia.
CAPÍTULO 13
“Esperando por você...”
Agora Jesse Carter era vista no
departamento de investigação do FBI
como a queridinha do Juiz Thompson,
grande amigo do Presidente dos Estados
Unidos e peixe grande no mundo
Jurídico. O fato da jovem ter salvado a
vida da filha do mesmo e ter aparecido
em inúmeras capas de revistas e jornais,
a maioria de almoços que a jovem
participara em restaurantes de luxo, ao
lado do todo poderoso e dos filhos Lia e
Maxmilian Thompson, gerou uma certa
inveja nos companheiros de trabalho. Já
fazia quase duas semanas do ocorrido e
todos ainda falavam a mesma coisa,
sendo a notícia número um da rádio
corredor dos fofoqueiros de plantão. Se
a própria Jesse que deveria estar se
vangloriado do ato heroico já havia
esquecido do ocorrido, não fazia o
menor sentindo todos ficarem
martelando na mesma tecla. O ombro
dela tinha melhorado, estava firme e
forte de volta ao trabalho, só não tinha
se recuperado psicologicamente do
atentado. Por falar nisso, ninguém do
departamento, além do novo parceiro,
Hugo Rodrigues, teve a gentileza de ir
visitá-la no hospital ou demonstrar
algum vestígio de preocupação, a única
coisa que recebeu foi uma ligação
grosseira do pai ameaçando demiti-la
caso não voltasse ao trabalho em dois
dias. Diante de tais palavras “amorosas”
do seu genitor, na segunda a feira de
manhã acordou bem cedo para arrumar-
se com calma. Não colocou o uniforme
habitual e pela primeira vez ousou
exibir o distintivo preso no cinto para
que todos soubessem que era uma
policial e a respeitassem como tal.
Achou bom estar de voltar à ativa,
estava cansada de ficar em casa sem
nada para fazer além de pensar no
sorriso charmoso de um certo bandido
cruel chamado Blade Maldonado. Ficou
um pouco chateada por ninguém ter se
preocupado com o fato de que ela
poderia estar debaixo de sete palmos
naquele momento. O que mais doía era
saber que se tivesse sido com outro
Policial, o Major teria ido até o fim do
mundo para encontrar o culpado que
atirou nele, e no caso da própria filha,
alegou ter sido apenas uma tentativa de
assalto corriqueira. Depois da
investigadora organizar os objetos
pessoais sobre a pequena mesa de
madeira que ocupava cinquenta por
cento da sua minúscula sala
improvisada, que ela orgulhava em ter,
era o tipo que não almejava ter tudo,
orgulhava-se do pouco que tinha e
agradecia a Deus todo dia por isso, e
terminar de limpar tudo e colocar no seu
devido lugar, ajeitou o telefone no
gancho esperando alguma ligação
urgente para pegar a sua arma, que não
sabia usar e o colete à prova de balas
com o emblema do FBI maior do que
ela, para poder sair pela cidade e
combater o crime, se sentindo como a
Mulher Maravilha, pronta para enfrentar
qualquer parada. Sentou-se de forma
esbanjada na cadeira, inclinando o
corpo todo para trás colocando as mãos
na nuca totalmente relaxada até que uma
voz fina e irritante, que conhecia muito
bem, atrapalhar o seu momento de paz.
— Como vai a queridinha do Juiz? —
Ironizou Amanda, com um sorriso gélido
no rosto. Chegando no espaço de Jesse
sem cumprimentá-la ou dizer algo no
mínimo “humano”, exibindo um copo de
cappuccino da melhor cafeteria da
cidade. Era incrível como um simples
uniforme da Polícia parecia um look de
primeira mão da Chanel naquela mulher,
qualquer coisa ficaria bem nela. De fato,
era a mulher mais linda do
departamento, mas o que sobrava na
aparência, deixava a desejar na alma.
— Nunca estive tão bem, querida! E o
meu amigo Juiz Thompson te mandou um
beijo. Ah! Esqueci, ele nem sabe que
você existe! — Jesse não gostava de ser
abusada, só que naquele momento não
conseguiu segurar a língua, Amanda
merecia ouvir isso e muito mais para
deixar de ser tão arrogante.
— Olha como fala comigo patinho feio,
está se achando só porque “salvou” a
filha do Juiz. Essa história está muito
mal contada, minha queridinha, não vou
descansar até descobrir o que aconteceu
de verdade e desmascarar você na frente
de todo mundo, principalmente do
Major. — Apontou o dedo bem no meio
do rosto de Jesse, com uma prepotência
absurda.
— Cuidado, Amanda, inveja mata! —
Hugo Rodrigues chegou em socorro da
nova parceira. Além de inteligente era
direto nas palavras e tinha resposta para
qualquer pergunta sem precisar pensar
muito. Era um pouco metido às vezes
mas tinha um bom coração. Não aceitava
ordens de ninguém, nem mesmo do
Major Carter. Trabalhava da forma dele
e odiava usar uniforme, naquele
momento mesmo trajava calça jeans
clara, camisa preta com a foto do
Curinga sorrindo perversamente e um
casaco escuro social dando um ar mais
sério ao restante do look. Nos pés
sapatos caros, o cabelo estilo todo
bagunçado sobre os olhos castanhos
debaixo dos óculos de grau, no pescoço
o distintivo em uma espécie de cordão
própria para pendurar o objeto e nas
mãos um buquê de rosas vermelhas
enorme, lindo e perfumoso.
— Ninguém te chamou aqui, nerd, vá
procurar algum animal para decepar e
me deixe em paz. — Resmungou
Amanda cruzando os braços emburrada.
— É dissecar, Amanda, será que não
consegue pronunciar uma palavra
direito? Esqueci que só sabe bancar a
inteligente na frente do Chefe Carter. —
Hugo revirou os olhos sem paciência,
assim como Jesse, não a suportava e não
confiava nem o pouco nela, mesmo
sendo a preferida do Major.
— Cale a boca, Hugo, e me diga logo
quem me mandou esse buquê de flores?
Com certeza algum admirador meu,
homens atrás de mim é o que não faltam.
— Disse a metida, como se tivesse
certeza que as rosas eram para ela.
— Quantidade nunca foi sinal de
qualidade, Amanda, as flores são para
você Carter. —Amanda que já tinha os
braços abertos no ar para receber o
buquê, manteve-os na mesma posição,
paralisada totalmente, em choque com a
revelação de Hugo Rodrigues.
— Para mim? — Jesse literalmente caiu
da cadeira, derrubando sobre ela tudo
que estava sobre a mesa, inclusive o
copo de cappuccino da Amanda que a
mesma tinha colocado sobre ela para
pegar o arranjo de flores que pensava
ser dela.
— Sim Senhora, parceira. — Rodrigues
sorriu olhando para Carter caída no
chão com cabelo todo sujo de
cappuccino, por sorte a roupa não havia
sujado muito. Ela pegou as flores com a
maior delicadeza visivelmente
encantada, dava até gosto de ver. E,
tirou um pequeno cartão no meio das
rosas e levou o arranjo muito bem feito
próximo ao rosto para sentir o aroma
delas.
— É a primeira vez que recebo flores de
alguém. — Jesse revelou sorrindo,
independente de quem havia mandado
lhe deixou imensamente feliz.
— Não vai dizer quem mandou, Carter?
Pode ter alguma bomba aí dentro, podem
estarem tentando te matar outra vez. —
Amanda soltou o veneno, doida para
saber o que estava escrito no bilhete.
— Não é da sua conta, loira falsa, larga
de ser invejosa mulher! E nem adianta
dizer que não está com shadenfreude, na
língua de vocês a famosa e antiga inveja.
Sua pele está em um tom mais
avermelhado que o normal, olhos
estreitos, dentes cerrados e punhos
cerrados travando consigo mesmo uma
briga interna com o seu ego. —
Rodrigues a descreveu perfeitamente,
era um especialista em ler as pessoas.
Antes de Amanda dizer qualquer coisa
ele a pegou pelo braço e saiu puxando-a
para fora, despediu de Carter com uma
piscadela que a mesma respondeu da
mesma forma agradecida.
— Eu recebi flores! — Pensou alto
sorrindo sem parar, estava realmente
feliz com aquilo. Levantou com cuidado
tentando não escorregar nas poças de
líquido marrom no chão, sentou-se na
cadeira apoiando o buquê no colo e
abriu o bilhete lentamente com o
coração batendo rápido como de um
beija flor.
“Para lembrar você do nosso passeio,
princesa. Mal posso esperar para
passar um dia inteiro ao seu lado,
afinal, mesmo antes de acontecer tenho
certeza que será um dos dias mais
felizes da minha vida. Seu sorriso me
encanta, sinto-me completo depois que
te conheci. ”
Jesse sorriu mais ainda ao ler o bilhete
assinado no final por Michelangelo
Abreu. Nunca tinha se apaixonado por
ninguém antes, sempre fora uma garota
tranquila, não ligava para quantidade e
sim qualidade. Queria alguém que
fizesse seu coração bater mais forte
como aconteceu quando viu Blade sorrir
pela primeira vez, gostava do barman só
que não sentia frio na barriga ou
borboletas voarem em seu estômago
como acontecia com Maldonado. No
entanto, Miche era um bom rapaz e
gentil a todo momento com ela, por isso
daria uma chance a ele. A investigadora
foi tirada dos seus pensamentos ao ouvir
o barulho do telefone tocando, atendeu
ainda meio abobalhada segurando o
pequeno pedaço de papel.
— Departamento de Polícia do FBI,
Investigadora Jesse Carter falando. Em
que posso ajudar? — Disse em seu
melhor tom sério, do jeito que via o pai
fazer ao atender algum chamado.
— Reunião aqui em casa daqui a duas
horas, não se atrase. Da próxima vez
cuidado em falar o seu sobrenome,
porque pode ser o Blade ao invés de
mim. Até mais tarde investigadora, tenha
um bom dia. — Julius deu o aviso sendo
o mais delicado que pode ao dizer nas
entrelinhas para tomar cuidado para que
Maldonado não descobrisse de quem ela
era filha.
Jesse passou a manhã toda remoendo as
palavras do mexicano, aproveitou o
horário de almoço para ir na tal reunião,
para não chegar atrasada passou no
trabalho da irmã e pediu o carro
emprestado. Mainara emprestou com o
coração na mão, a investigadora era
habilitada, porém, não sabia dirigir
direito, um verdadeiro perigo no
volante. Aos trancos e barrancos chegou
sem nenhum arranhão e dez minutos
antes do previsto, o primeiro carro que
viu na garagem foi o Impala com as
rodas repletas de barro alaranjado
escuro, ela lembrou que a terra onde
ficava o esconderijo do Blade era da
mesma cor. Com certeza deveria ter
vindo de lá, não o vira desde da última
vez que esteve no apartamento dela.
Quando chegou ao escritório o primeiro
que viu foi Maldonado sentado em uma
poltrona de couro preta próximo a porta,
com a cara mais azeda do que nunca
fingindo não notar a presença dela.
Divino dentro de uma calça jeans e
camiseta branca de mangas finas coladas
ao corpo deixando totalmente à mostra
os braços musculosos repleto de
tatuagens, nos pés botas caramelo com
os cadarços desamarrados
propositalmente. A expressão cansada
em seu rosto a preocupou bastante, a
respiração estava pesada e uma
ronquidão estranha no peito, fora a cor
avermelhada da pele como se estivesse
com temperatura do corpo elevada.
— Olá Blade, como vai? — Disse
Carter, oferecendo a ele o seu melhor
sorriso.
— Estava muito bem até você chegar. —
Respondeu rude, mais grosso do que de
costume. Foi preciso levar o punho
fechado a boca para controlar o pequeno
acesso de tosse que teve, era visível que
estava doente.
— Eu só vim porque me convidaram,
desculpe se minha presença não lhe
agrada. — Desviou o olhar, não entendia
como alguém com um sorriso tão lindo
preferia escondê-lo atrás de tanta
grosseria em vez de usá-lo sempre que
possível para fazer o dia de alguém
feliz, o dela principalmente. Porém,
mesmo assim Carter não pode deixar de
se preocupar com a aparência gasta de
Blade, olhos fundos e a voz rouca quase
incompreensível. Desde a última vez
que o vira notou que estava começando
a gripar, em vez de melhorar estava
muito pior.
— Oi, baixinha, que bom te ver
novamente! — A simpatia de Julius
compensava qualquer falta de
sensibilidade de Maldonado ao receber
uma visita, era gentil além da conta,
principalmente quando ia com a cara da
pessoa. Pelo tom carinhoso e o olhar
dele que dizia para ela “não se
preocupe, guardarei o seu segredo”, ela
tranquilizou-se bastante.
— Como vai, grandão? — Ela passou
pela mão dele estendida no ar para
cumprimentá-la e o abraçou com um
sorriso enorme no rosto que fez o
coração do mexicano aquecer diante de
tanta ternura.
— E aí, maluqueira, beleza? — Li
achava a pequena uma graça, achava
hilário o jeito todo atrapalhado da moça.
— Beleza pura, mano, tudo na paz. —
Jesse brincou com o chinês batendo a
mão dela aberta na dela, ocasionando
em um estalo alto, porém não o
suficiente para justificar a cara feia que
Blade fez só por conta do cumprimento
animado dos dois.
— Será que poderiam parar com esse
papo furado e começarmos a falar sobre
o que realmente importa? Deixe essa
animação de circo de lado e vamos
direto ao ponto, se gostam tanto dela
poderiam ter a gentileza de avisar a ela
que pentear o cabelo de vez enquanto
não faz mal a ninguém.
Os olhos de Maldonado a percorreram
maldosamente, começando pelos
cabelos rebeldes soltos de forma
desconexa, totalmente livres dançando
conforme a vontade do vento,
desafiando com ousadia a lei da
gravidade, era castanho escuro cor de
canela. Passou pelo rosto sem nenhum
vestígio de maquiagem, a blusa cáqui de
mangas três quartos, calça jeans escuro
solta com duas ou três pregas malfeitas
na cintura. Agora sem as mãos e a
máquina de costura mágicas da mãe dela
para dar jeito em suas roupas, estava se
virando sozinha com um rolo de linha e
uma agulha. Quando pousou o olhar
sobre o par de tênis velhos sentiu o
estômago embrulhar, nunca tinha
conhecido uma mulher tão desleixada da
vida.
— Não seja grosseiro com a moça,
Blade, algumas pessoas podem se
magoar com a verdade. — Estevão
chegou apressado ajeitando o casaco na
tentativa de aliviar a aparência
amassada do mesmo, que se encontrava
todo desalinhado, logo ele que gostava
de andar todo engomadinho. Até tentou
concertar a indelicadeza do parceiro
para com a moça, mas só piorou as
coisas.
O inglês que costumava andar com uma
nuvem negra sobre a cabeça,
ultimamente vivia como se os seus dias
fossem todos ensolarados com pássaros
voando livremente em um céu
invejavelmente azul. Sempre calmo e
passivo, se soubesse como sorrir o faria
o tempo todo, tinha motivos de sobra
para isso agora.
— Não entendo porque toda vez que
tento conversar com você como uma
pessoa civilizada, faz questão de me
tratar com um cão sarnento, se quer que
eu finja que não existe e só falar que
pelos menos não farei mais papel de
idiota tentando puxar assunto com você,
Blade. — O silêncio predominou no
lugar, a coragem dela em enfrentá-lo
surpreendia a todos.
— Na verdade nada me faria mais feliz,
não suporto a sua voz. Tão pouco a dona
dela, suas roupas são horríveis e o seu
cabelo, prefiro não comentar. — Jesse
olhou para baixo avaliando suas vestes,
consequentemente não achou nada de
errado com sua roupa, não mesmo. O
cabelo achava lindo do jeito que era,
gostava de usá-lo ao natural.
— Não ligue para o comentário
grosseiro dele, pequenina. Hoje em dia
qualquer porcaria se torna moda, por
mais horrível que você esteja, tem
estilo, isso é o que importa. — Estêvão
tentou consolar a moça, do jeito dele.
— Para tudo produção! Isso no seu
pescoço é mesmo um chupão,
branquelo? — O Inglês quase teve uma
parada cardíaca de susto quando Li se
materializou ao lado dele, tentando a
todo custo ver a marca roxa escancarada
a meio palmo abaixo da orelha.
— Isso não é da sua conta, chinês
abusado! — Berrou Salvatore tirando a
mão de Li da gola do seu casaco.
— Estêvão está namorando... Estêvão
está namorando... — Li cantarolava
rodando e fazendo uma dancinha
irritante em volta do inglês que já estava
a ponto de atirar nele de tanta raiva.
— Maldição! Olha ele, Julius, faça-o
parar com isso! — O mexicano sem um
pingo de paciência pegou na blusa de Li
e o levantou como um boneco, o
carregou até a mesa e o colocou sentado
na cadeira como uma criança de cinco
anos de castigo.
— Fico triste em ter que interromper a
conversa amorosa dos dois, mas temos
que começar a planejar como a
investigadora vai roubar a pasta
contendo os dados do caso da morte dos
pais do Blade. — O mexicano tomou a
palavra, sensato como sempre.
Jesse pelo canto dos olhos viu como os
músculos de Maldonado ficaram tensos
ao ouvir falar sobre a morte dos pais,
esse assunto mexia com ele de uma
forma avassaladora. Depois de
repassarem o plano por diversas vezes,
o combinado foi que ficaria por conta
deles arrumarem alguma distração no
departamento para que ela tivesse tempo
suficiente de procurar o que precisavam
sem levantar nenhuma suspeita. Durante
todo o tempo, Maldonado ficava mais
calado do que opinando e isso era
bastante estranho. Houve um momento
que cochilou sentando, todo encolhido
com tom da pele ficando cada vez mais
vermelho, tossindo o tempo todo. Carter
que sentou do outro lado da sala não
tirava os olhos dele em nenhum
momento.
— Você está bem, Blade? — Julius
perguntou preocupado, o parceiro estava
tremendo sem parar.
— Estou. — Respondeu apenas,
cortando o assunto, curto e grosso.
Quase no final da reunião ele saiu à
francesa certo que ninguém o vira, como
um gato sorrateiro. Mas Jesse viu
quando o carro dele saiu cantando pneu
deixando um rastro alaranjado das
marcas do barro, fazendo uma linha torta
como se estivesse embriagado.
Imediatamente Jesse pegou o celular no
bolso e ligou para a única pessoa que
poderia lhe dar a resposta que
precisava, teria que ser discreta para
conseguir o que queria sem levantar
suspeitas.
— Fala parceira, onde você está que
não voltou do almoço a até agora, nega?
Seu pai está uma fera atrás de você. —
Rodrigues atendeu animado, falando
com a boca cheia de alguma coisa.
— Em qual parte montanhosa de Los
Angeles a terra é alaranjada escuro,
puxando para um vermelho vivo?
Lembro de você falando algo sobre isso
uma vez, poderia me explicar melhor
onde encontraria esse tipo de solo.
— O único lugar com tais
características é nas montanhas
localizadas em Nevada, no centro-leste
da Califórnia, passando pelo antigo
parque Nacional de Yosemite que há
muitos anos se encontra fechado e era
adorado pelos seus incríveis penhascos
de granito, bosques gigantes, belas
cachoeiras e boa diversidade de vida
animal, onde pode escolher entre mais
de duzentas trilhas para conhecer o vale,
mas apenas uma delas é capaz de levar à
montanha onde o solo ostenta esta cor
alaranjada. Mas o lugar foi comprado
por alguém misterioso, e interditada
pelo mesmo para que nenhum civil entre
e quem tentou escalar o lugar escondido
nunca voltou para contar história. —
Jesse arregalou os olhos assustada com
o relato dele.
— Obrigada Hugo, diga ao meu pai que
não voltarei mais para o trabalho hoje.
— Jesse desligou na cara dele e saiu
correndo o mais rápido que pode sem
despedir de ninguém.
Antes de seguir caminho passou em uma
farmácia para comprar tudo o que
acharia útil para o que estava
planejando, em pouco mais de uma hora
havia conseguido chegar ao tal Parque
Florestal que Rodrigues havia falado,
lembrara do lugar vagamente da última
vez que passou de carro quando Blade a
levou em casa quando passou a noite no
esconderijo dele. Depois de passar por
dentro da floresta em uma estrada
terrível de terra, conseguiu achar a trilha
que levava à tal montanha. Porém,
somente um veículo de porte pequeno
como o Impala conseguia passar, o jeito
era deixar o carro da irmã escondido
debaixo de alguns arbustos que fechava
a entrada do túnel de pedra onde
precisaria passar e subiu a pé quase
morrendo de medo daquele lugar escuro
cheio de morcegos voando, mas nada a
faria desistir de ver com os próprios
olhos se Maldonado havia chegado em
casa bem. Depois de horas exaustivas
caminhado, Carter viu no topo da
montanha uma luz acesa bem distante,
brilhando como uma estrela cadente.
Tirando forças não sabia de onde
aumentou os passos com os pés doendo,
todos assados dentro do tênis e as costas
implorando por pelo menos dez minutos
de descanso, só que ela não descansou,
por nem um segundo. Quando chegou
perto da casa, avistou o Impala
estacionado de qualquer forma próximo
a escadaria da entrada principal com a
porta aberta. Entrou em total desespero
ao chegar mais perto e perceber que a
porta estava entreaberta com um pé
caindo para o lado de fora,
enlouquecida praticamente voou pelos
degraus para socorrer Blade. A cena que
vira era de cortar o coração, ele estava
desacordado todo encolhido no chão,
molhado de suor e tremendo muito por
causa do frio devido ao vento gélido das
montanhas.
— Meu Deus! Você está hipotérmico! —
Constatou Jesse. Ao se jogar em cima
dele e colocar a mão em seu rosto que
tinha os lábios e as extremidades
cianóticos, em uma cor roxo escuro. A
pele gelada, o corpo apresentado sinais
espasmos prestes a convulsionar. A
investigadora olhou o território ao seu
redor analisando as possibilidades de
carregar um homem daquele tamanho
onde pudesse aquece-lo o mais breve
possível. Ela observou que a chave
ainda estava na porta, sinal que
provavelmente desmaiou devido a febre
alta, isso explicaria a roupa molhada de
suor. Consequentemente, o frio ajudou
abaixar a febre, porém se o corpo
enfrenta uma temperatura abaixo do
normal ele passa pelo processo
chamado de hipotermia, que piora se a
pessoa estiver molhada e fria ao mesmo
tempo, afinal uma pessoa perde calor
vinte e cinco vezes mais rapidamente
quando está na água. Sem pensar muito
ela o virou de barriga para cima, se
posicionando atrás dele de tal forma que
encaixasse os braços debaixo dos dele o
arrastando facilmente até em frente a
lareira sobre um tapete branco macio
que tinha em frente a ela. Notou que a
madeira dentro dela estava molhada com
um líquido preto grosso pegajoso, pegou
uma caixa de fósforo sobre o móvel e
com apenas um palito as labaredas de
fogo iluminaram toda a sala aquecendo-
a no mesmo momento. Correu até o
quarto dele para pegar um cobertor,
passou na cozinha para pegar um copo
de água e deu a ele os remédios que
havia comprado na farmácia. Tirou as
roupas úmidas de Blade, deixando-o
apenas de cueca box branca da Calvin
Klein, ficou vermelha ao notar o volume
consideravelmente grande dentro delas.
“Se dormindo é desse tamanho, imagina
acordado? ” — Pensou ela, foi preciso
balançar a cabeça para espantar os
pensamentos inapropriados para o
momento. Mesmo passado algum tempo
e o fogo da lareira dando o máximo que
podia para manter o lugar aquecido e ele
enrolado em um cobertor, ainda assim
Maldonado tremia de frio. Então, no
impulso Jesse tirou as próprias roupas
ficando apenas de peças íntimas e se
juntou ao corpo dele debaixo do
cobertor como se fossem um só o
abraçando com toda força que tinha,
incrivelmente de imediato o ato da
jovem começou a fazer efeito,
Maldonado remexeu-se de leve abrindo
os olhos com um pouco de dificuldade.
— Você veio cuidar de mim, Anjo? —
Disse ele com a voz arrastada, Jesse
precisou ser forte para segurar o mar
que se formou em seus olhos, o jeito
carinhoso com que Blade olhara para
ela ao proferir tais palavras a tocou
profundamente.
— Sim, eu vim para cuidar de você. —
Jesse tinha a voz trêmula, carregada de
compaixão em vê-lo tão vulnerável
daquela forma.
— Isso é um sonho? — Maldonado
estava desorientado, levou a mão ao
rosto dela para ter certeza que era real.
— Sim, o mais lindo que já tive. —
Jesse sorriu triste para ele, com a mão
dela em cima na de Blade sobre o
próprio rosto.
— Porque o meu Anjo está chorando?
— Perguntou Maldonado totalmente
confuso, tinha o olhar perdido.
Enxugando as lágrimas dela com uma
certa dificuldade, devido à falta de tato
com os membros superiores devido ao
seu estado.
— Porque estou feliz que tenha
aparecido em minha vida, me sinto
segura ao seu lado. — Carter tinha a voz
chorosa, estava começando a perceber
que aquele bandido era mais importante
para ela do que pensava.
— Que bom, porque passei a minha toda
esperando por você, meu Anjo.
Blade suspirou fundo enchendo o peito
de ar depois soltando aos poucos, os
olhos se fecharam lentamente abrindo
um sorriso tímido, inocente talvez. A
investigadora o achava incrivelmente
lindo quando sério, mas sorrindo era
algo estonteante.
— Eu não sou um Anjo, Blade, se está
esperando por alguém tão especial não
tem chances de ser eu. — Carter tinha os
pés no chão, não queria se iludir com
palavras fruto de um delírio.
— É sim, enviado para me salvar. —
Foi possesivo, além da conta. —Você é
um Anjo e eu sou a sua missão.
Ele corria a ponta indicador em cada
contorno do rosto meigo da jovem,
começando na testa bem no meio do o
osso frontal escorregando em um
caminho reto até a ponta do nariz.
Depois fez o contorno dos lábios
curvilíneos, notando como eram grossos
e convidativos.
— Queria tanto que fosse feliz e que
tivesse motivos para sorrir, sempre. —
Os soluços de Jesse tomaram conta do
lugar, as lágrimas caiam
descontroladamente.
— Você me faz feliz anjo, com vontade
de sorrir toda vez que te vejo. — A voz
dele era suave e agradável, quase um
sussurro.
— Não faça isso comigo, Blade. — A
cada palavra que ele falava, Jesse sentia
o coração encher cada vez mais de
paixão por Maldonado, algo proibido
que sabia não ser correto sentir por
alguém que a desprezava.
— Por favor, não chore. Odeio te ver
triste, principalmente por minha causa.
— Implorou ele, segurando a cintura
dela com força puxando-a mais próximo
de si. — Vou te contar um segredo,
quando eu era pequeno minha mãe me
contava histórias sobre Anjos da
Guarda. Eu sempre soube que o meu
estava em algum lugar lá fora bem longe
à minha procura, então a noite quando as
estrelas iluminavam o meu quarto eu
sentava sozinho na janela falando com a
Lua por horas, desejando que ela
levasse as minhas palavras até você, na
esperança de que estivesse do outro
lado falando comigo também. Às vezes
me achava apenas um louco solitário,
condenado a morrer sozinho. —Revelou
ele por fim, sincero.
— Se você é louco, eu também sou,
porque desde quando era criança toda
vez que olhava para a Lua tenho a
certeza que ouço a voz de alguém
falando comigo. — Jesse sorriu em meio
as lagrimas, ela ficou feliz em saber que
a loucura dele se parecia um pouco com
a dela, combinavam perfeitamente.
— E o que você ouvia? — Ele
questionou sonolento, estava quase
dormindo.
— Não se preocupe, Anjo. Eu vou
esperar por você... — Jesse respondeu
rápido, aquelas palavras estavam
impregnadas em sua mente,
principalmente no coração.
— Não importa quando tempo demore.
— Blade completou a frase,
depositando um beijo em sua testa, se
entregando ao sono profundo logo após.
Então Jesse chorou mais ainda. Ele
acertara perfeitamente cada palavra, a
ligação entre os dois vinha de muito
tempo, talvez de outras vidas. Com a
cabeça em seu peito ouvido as batidas
do seu coração, lento e tranquilo, não
tinha mais motivos para se preocupar,
afinal havia encontrado o seu Anjo da
Guarda. A investigadora chorou por
horas até adormecer nos braços dele, ela
até tentou não se apaixonar por um
bandido, só que o amava antes mesmo
de conhecê-lo. Blade fora seu primeiro
amor, o único que falava com ela
através da |Lua. Estava querendo uma
coisa que nunca poderia ter, tinha
ciência que quando ele acordasse bem
no outro dia sentiria repulsa se
lembrasse que havia a tocado. Mas,
seria esperta e sairia daquele lugar antes
que isso acontecesse levando consigo
todo e qualquer vestígio que passou por
ali. Isso se não fosse vencida pelo sono,
nunca havia se sentindo tão bem em um
lugar como dentro dos braços dele,
protegida e feliz.
Enquanto Jesse salvava a vida de Blade
mais uma vez, o sombrio Estevão
Salvatore dirigia o seu Jaguar a mais de
trezentos quilômetros por hora, estava
com pressa. Vez ou outra enfiava a
cabeça para fora da janela para sentir o
vento tocando o seu rosto, os cabelos
negros como aquela noite voavam como
um manto mágico, na verdade o
momento que estava vivendo parecia ser
mesmo de fato encantado, pela primeira
vez na vida sentindo-se vivo, humano.
Esse era o seu estado de espírito há
mais de duas semanas quando sua
cabana fora invadida por uma estilista
teimosa e corajosa, seria essa a palavra
certa. Naquele dia Nayla não sentiu
medo de estar toda encolhida dentro do
porta malas de um criminoso, apesar de
o espaço ser escasso e as armas que
dividiam o lugar com a moça não
ajudavam muito. Emocionou-se ao ouvir
a bela voz de Estevão ao som de Carl
Orff "Carmina Burana", grande cantor
lírico. Ele tinha uma voz de anjo,
poderia ter sido facilmente um cantor
famoso, com toda aquela elegância e
boa postura, poderia ter escolhido ser o
que quisesse que teria feito muito
sucesso. Aquela escuridão toda a volta
de Salvatore havia sido ele mesmo quem
criara, pensou ela com o semblante
triste. Depois de algumas horas andando
por onde ela não fazia ideia, enfim o
carro parou em algum lugar onde tinha o
cheiro de natureza, terra fresca. Esperou
dez minutos e assim que ouviu a porta da
frente no veículo abrir e em seguida uma
porta batendo, saiu do porta malas
apavorada por não conseguir enxergar
um palmo de distância do seu nariz. Seja
qual fosse aquele lugar era muito escuro.
Havia uma pequena luz de dentro da
cabana de madeira que ela deduziu ser
uma vela. Nayla sentiu vontade de
chorar só de imaginar que Estevão podia
morar em um lugar tão sombrio. Sem
fazer muito barulho abriu a porta, não
sabia nem onde pisar com medo de
esbarrar em alguma coisa alarmando o
bandido da sua presença. Porém, não
demorou muito tempo para descobrir
que não estava sozinho, pois o corvo fez
questão de avisá-lo crocitando o mais
alto que pode entrando voando pela
janela.
— O que está fazendo aqui? — Estevão
apareceu do nada em uma distância
consideravelmente segura, não o
suficiente para quase matar a jovem de
susto. Mesmo assim não deixou
transparecer o quanto achou a casa dele
apavorante, parecia aquelas casas mal-
assombradas de filmes de terror. Mas
não tinha chegado até ali para desistir
agora, não mesmo.
— Eu vou me aproximar de você
Estevão, não aguento mais te ver sem
poder te tocar. A única forma de me
impedir de fazer isso e me matando, até
porque se for para ter que viver sem
você, prefiro morrer. — A Estilista era
corajosa, com ela era tudo ou nada.
— Não me tente, demônio, não sabe do
que sou capaz! Mais um passo e eu atiro,
dou um sumiço em você de tal forma que
os seus pais não vão ter um fio de
cabelo seu para velar. Então, sugiro que
vá embora e me deixe em paz sozinho
escondido na minha escuridão. —
Salvatore tirou duas pistolas da cintura
de forma totalmente elegante, fazendo
com que a capa voasse por alguns
segundos devido ao movimento brusco,
apontando-as na direção da jovem, o seu
olhar estava mais sombrio que o normal.
— Eu lembrarei sempre do dia que te
conheci, era de manhã e você estava
sozinho encarando um céu cinza escuro.
Foi a primeira coisa que vi quando pisei
naquela escola, quando entrei na sala de
aula já tinha te visto mais cedo sentado
no jardim. Era outono, minha estação
favorita do ano, haviam folhas
alaranjadas caídas ao seu redor fazendo
um lindo contraste com toda escuridão
que emanava de você. Nunca tinha visto
nada mais lindo, meu pai não entendeu
na época porque eu que tinha odiado a
ideia de ir morar na Inglaterra, passei
um mês inteiro chorando depois quando
fui obrigada a me mudar de lá, foi mais
de um ano de depressão, terapias e
medicamentos para ansiedade que faço
uso da maioria até hoje. — Nayla deu
um passo firme em direção a Estevão,
sem se intimidar com Nick e Clyde
apontadas para ela.
— Não estou brincando! Não pense que
não seria capaz de atirar em você,
porque eu sou. — A ameaçou, com as
armas ainda apontada para ela.
— Naquele momento em que te vi tão
sozinho, eu quis abraça-lo, fazer sua
solidão ir embora, conhece-lo melhor.
Quis ser tudo, tudo para você. — Nayla
continuou andando, nada a faria parar.
— Porque está fazendo isso comigo? Já
não me feriu o bastante, o seu nível de
crueldades não tem limites? — Estevão
queria chorar um rio se fosse possível,
mas diferente de Blade, além de não
saber como sorrir, também não sabia
como expressar suas dores por lágrimas,
nele não habitavam sentimentos bons ou
ruins.
— Desencontros e promessas perdidas,
como ser forte diante de tanto tempo e
um coração partido? Depois da forma
horrível que tem me tratado, eu deveria
ir embora e esquecer que existe! Mas
vendo a forma como tem vivido sozinho
nesse lugar escuro e frio, todas as
minhas dúvidas de repente sumiram e a
única vontade que tenho é de te abraçar
o mais forte que posso, para que não se
sinta tão só e veja que a escuridão pode
ser bastante agradável dependo da
companhia. — Um passo mais perto, o
inglês não entendeu a expressão
maliciosa no rosto dela.
— Não! Eu não quero a sua companhia,
nem nada que venha de você. — Ele
gritou, totalmente transtornado. Dentro
dele havia uma bagunça de sentimentos
querendo sair de uma vez só, algo que
não podia controlar. Ela poderia ter
corrido, fugido daquele lugar assustador,
mas era mais forte que isso e continuou
caminhando lentamente até ele.
— Eu tenho morrido todos os dias
esperando por você amor, tenho te
amado por todo esse tempo e eu te
amarei pelo resto da minha vida. Agora
que te encontrei, não deixarei que nada o
leve embora. — Nayla estava de frente
para ele, com o cano de uma das
pistolas tocando a sua testa. — Eu tenho
morrido todos os dias esperando por
você querido, não tenha medo, nenhuma
mentira pode nos separar agora. Mas se
não sente o mesmo que estou sentindo
neste momento, me mate logo de uma
vez e acabe logo com o meu sofrimento.
— A estilista fechou os olhos ao ouvir
Estevão destravando a arma, preferia
morrer do que viver sendo desprezada
por ele.
— Por favor, vá embora! — Virou as
costas para ela guardando as armas do
mesmo lugar que tirou, estava chorando.
— Mas que droga, Estevão! Quando vai
entender que eu não vou a lugar nenhum,
não sem você. — Nayla abraçou as
costas largas dele, o corpo de Estevão
continuava frio, mas devia estar uns
quinze centímetros maior do que se
lembrara tendo que ficar na ponta dos
pés. Apertando os braços em volta de
sua cintura, se surpreendeu ao sentir as
pontas gélidas dos dedos do seu amado
alisar o seu braço com carinho.
— Mesmo que esteja sendo sincera,
agora é muito tarde para nós dois,
pequena. — Uma lágrima repleta de
emoção correu pelo rosto da moça,
Estevão havia lhe chamado pelo apelido
carinhoso como na época do colégio. O
que mais a tocou foi o tom suave de sua
voz, baixa e amorosa.
— Porque não, meu amor? Agora que te
achei não te largo mais, nem vem que
não tem. E não venha com uma ladainha
montada dizendo que não existe lugar
para mim no seu mundo e que tem muitos
inimigos e blá... blá... blá.... Porque
você não é Clark Kent e eu não levo
jeito para Lois Lene. — Era exatamente
isso que Estevão iria dizer para ela, mas
Nayla fora mais esperta do que ele.
— Maldição! Se digo que não podemos
ficar juntos é porque não podemos
mesmo, você é luz e eu a escuridão, não
entende? E o que mais tem na minha
vida é gente querendo se vingar de mim.
— Explodiu Estevão, virando de frente
para ela como o rosto molhado. Mesmo
se quisesse acreditar nela, não poderiam
ficar juntos. — Vamos dar um aperto de
mãos e cada um segue o seu caminho,
como se nunca tivéssemos nos
reencontrado. — Fez a proposta, que
depois de dita, não pareceu tão boa.
— Está bem! Vai ser como você quiser,
adeus Estevão Salvatore. —Disse séria,
olhando no fundo dos olhos dele e
estendendo a mão para que o tal
cumprimento final fosse concretizado.
— Adeus, Nayla Borges. — Disse o
inglês apertando a mão da jovem, que
segurou firme nela e o puxou para si.
Consequentemente, o bandido integrante
do grupo de ladrões mais famoso pela
ousadia e esperteza nos roubos, foi pego
totalmente de surpresa por uma única
mulher mais esperta do que ele. Então,
ela roubou dele uma coisa que ficou
devendo desde o dia do bale, um beijo
de amor. Sim! Ela o beijou. O
criminoso, no começo, não soube
decifrar qual fora a sensação que sentiu
quando a boca dela tocou a sua. Sentiu
uma onda de calor invadir o seu corpo
irradiando mais para o meio das pernas,
onde no mesmo lugar algo adormecido
há um bom tempo começou a criar vida.
Nay segurou o rosto dele com uma mão
de cada lado para ter certeza que não
iria fugir, enquanto os olhos da estilista
permaneciam fechados, os de Estevão
estavam arregalados, assustados até a
língua da moça pedir passagem, a qual o
mesmo deu sem demora fechando os
olhos lentamente para degustar melhor
aquela sensação nova. Inicialmente elas
se entrelaçaram timidamente, aos poucos
foram ficando mais ousadas e se
perderam avassaladoramente naquele
momento. Era um beijo molhado, quente
e possessivo. As mãos de Salvatore se
apoiaram na cintura da moça, puxando-a
mais para si encostando-a em uma
parede mais próxima colando os corpos
como se fossem um só. O clima
esquentou naquele lugar, respirações
ofegantes e gemidos oprimidos. Nayla
caprichou no beijo roubado, emaranhou
os dedos nos cabelos negros enquanto
mordia o lábio inferior do rapaz com
vontade, provocando-o. Era uma garota
que sabia bem o que queria, perdeu a
virgindade no momento certo e gostou
muito da experiência, ocorreu com um
cara legal que namorava há mais de dois
anos, porém, nunca iria se perdoar por
não ter acontecido com Estevão. Havia
cansado de esperar por ele, até que
desistiu depois do Brian dizer a ela que
ele havia arrumado outra depois que foi
embora de Londres e resolveu viver sua
vida da melhor forma que pudesse. Teve
outros namorados, era uma mulher
experiente. O bandido quase
enlouqueceu ao sentir o bico dos seios
de Nay duros esfregando em seu peito,
ainda mais quando as mãos da mesma
tentaram abrir o seu sinto. Afinal eram
dois adultos, o membro dele acariciava
o corpo da jovem como um convite para
algo mais íntimo.
— Nayla... — Gemeu o nome da amada,
quase em um sussurro de prazer. Por um
momento parecia que iria enfiar a moça
dentro da parede, de tanto que tentava se
juntar ao máximo que podia a ela.
— Diga, meu amor! — Respondeu ela,
com a voz embargada pelo desejo.
Estava terminando de abrir o cinto,
pronta para fazer o mesmo ritual com os
botões da calça.
— Eu nunca fiquei assim com uma
mulher antes, na verdade foi o meu
primeiro beijo. — Revelou Estevão
segurando as mãos dela totalmente
constrangido, Nayla literalmente
paralisou ao ouvir o relato do bandido.
Depois sorriu lindamente, daquele tipo
de iluminar o mundo todo.
— Fico feliz em ser a primeira. —
Depositou um leve beijo em seus lábios,
para que relaxasse um pouco. Até
porque temos que esclarecer muitas
coisas, uma noite vai ser pouco para
colocar tantos anos em dia. — Eles
passaram a noite deitados juntos em uma
rede na varanda sobre a luz da lua.
Estevão tirou o casaco para cobri-la em
seus braços. Cada um contou a sua
versão da história e viram assim que
tudo não passou de um mal-entendido.
Desde então, não se largavam mais,
passavam o tempo juntos conversando
sobre tudo e namorando.
CAPÍTULO 14

“Quem desdenha, quer comprar...”


Jesse acordou com o dia quase
clareando, estava exausta. Conseguiu
dormir apenas um pouco, passara grande
parte da noite ao lado de Blade
segurando sua mão, o estado dele havia
piorado muito beirando uns quarenta
graus de febre ou mais. Passava dez
minutos cochilando e trinta delirando, o
tempo todo a chamando de Anjo,
repetindo várias vezes o quanto estava
feliz por ela tê-lo encontrado. Não
deixava a investigadora sair de perto
dele para nada, tinha medo que ela não
voltasse. Carter se sentia mal por gostar
mais dele doente do que quando
saudável, ele estava sendo gentil e
amoroso com ela. Depois de passar
horas vendo-o tão vulnerável daquela
forma, tremendo de frio debaixo de um
edredom xadrez de vermelho com
marrom com um olhar tão perdido, teve
vontade de passar o resto da vida
cuidando dele, não cansaria disso nunca.
Com muito cuidado a jovem conseguiu
sair de dentro dos braços dele sem
acordá-lo, que agora dormia feito um
anjo. Ela sabia que deveria vestir suas
roupas no mínimo de tempo existente
que a ciência permitiria e sair correndo
daquele lugar enquanto o “vulcão” ainda
estava adormecido. Mas, não resistiu
quando olhou para aquela cena
maravilhosa, Deus! Ele era o homem
mais lindo do mundo, uma beleza
rebelde, avassaladora. Até a aparência
de Blade parecia um crime e esse jeito
dele de fora da lei só o deixava ainda
mais atraente, perigosamente sedutor.
No entanto o excesso de beleza não
compensava tanta grosseria para uma
pessoa só. Em vez de seguir a razão,
ouviu o coração e levou a mão sobre o
belo rosto do bandido em um sono
pesado. Agora estavam deitados de
frente um para o outro, ela fazia carinho
na maçã do lado esquerdo de sua face e
levada pelo momento fechou os olhos e
foi aproximando os lábios na intenção
de tocar os dele. Seria apenas um
selinho rápido e ninguém ficaria
sabendo, pensou ela.
— O que você está tentando fazer? Me
molestar? — Explodiu Blade em um
grito estrondoso, olhando para aquela
mulher seminua em seu tapete que não
fazia de onde veio, na intenção de beijá-
lo sem a sua permissão.
Jesse que ainda tinha os lábios em um
biquinho lindo parado no ar sem
nenhuma coragem de abrir os olhos para
olhar para ele, estava morta de medo.
Podia sentir o calor da respiração dele
queimando o seu rosto, estava bufando
feito um touro bravo. E ela teria que
enfrentá-lo sozinha! Afinal até os
pássaros que estavam se deliciando do
calor solar cantarolando pousados sobre
o vão da janela desaparecem com medo.
— Desculpe! Não queria te assustar. —
Se encolheu toda, tampando os seios
com as mãos envergonhada, nunca tinha
ficado em peças íntimas diante de um
homem. Quando teve coragem de olhar
para ele, seus olhos se transformaram
em duas labaredas de fogo, o vulcão
havia entrado em erupção.
— Espero que tenha uma ótima
explicação para invadir o meu
esconderijo, aliás como conseguiu
encontrar esse lugar sozinha? Se não
consegue achar um elástico para prender
esse cabelo “chamativo”. — Blade era
naturalmente grosso, mas, quando
nervoso não tinha medidas.
— Desculpa! — Pediu novamente
sentando sobre os próprios joelhos,
tentando prender o cabelo com uma mão,
enquanto a outra mantinha sobre os
seios.
Não sabia o que fazer, estava assustada
e confusa. Mesmo fora de si Maldonado
não pode deixar de reparar no corpo
seminu da moça, com um pouco de
dificuldade devido a dor no corpo
conseguiu sentar encostando as costas no
sofá para poder avaliar melhor, se
esticasse o braço poderia tocar o rosto
de Jesse. Essa ideia lhe passou pela
cabeça, mas a varreu de sua mente antes
que pudesse manifestar tal ato absurdo e
insano. Qualquer coisa a respeito Jesse
Carter mexia com seus nervos. Desde a
aparência não-convencional das suas
roupas totalmente fora dos padrões de
uma mulher normal, ao seu estilo caótico
de vida, não sabia se ela tinha mais cara
ou jeito de louca. Contudo, a moça
provocava sensações nunca sentidas por
ele antes e não eram só negativas.
— Já disse para parar com essa mania
idiota de se desculpar por tudo, parece
um disco arranhado. — Blade sentia
repulsa pela jovem, achava-a
desajeitada e esquisita.
— Eu realmente não entendo porque
sempre é tão grosso comigo, sempre que
tento te ajudar me trata como se eu fosse
seu pior inimigo, me fazendo sentir a
pessoa mais burra do mundo. — A
expressão nos olhos dela dizia tudo, ele
havia a ferido profundamente. Mas ele
não sentia remorso por isso, nem um
pouco.
— Mas você é burra! Sonsa, desastrada,
lerda e chorona. — Deu o cheque mate.
Jesse pode ouvir o seu coração partindo
em mil pedaços.
— Não entendo o que ganha ofendendo
as pessoas, isso é tão triste, sinto tanto
por você, queria que fosse diferente. —
Disse quase chorando, com lágrimas
brilhando no canto dos olhos.
— Então, você invade a minha casa e
tenta violar o meu corpo e ainda se acha
no direito de ficar ofendida? Eu que fui
quase estuprado aqui garota, deveria me
agradecer por não te denunciar por isso.
—Exclamou ofendido, como uma
donzela que fora assediada por um
homem asqueroso.
— Eu não invadi a sua casa, seu idiota,
quando cheguei a porta estava aberta
com você desmaiado bem no meio dela.
A propósito “de nada” por ter salvado a
sua vida, por ter passado a noite ao seu
lado com medo que morresse nos meus
braços queimando de febre. Até cantar
uma música de ninar eu cantei na
esperança de te acalmar um pouco pois
estava delirando. — Acrescentou a
investigadora estranhamente irônica
cruzando os braços nervosa com os
cabelos rebeldes sobre o rosto
tampando os olhos cor de mel. O
bandido constatou que a moça era
delicada demais para ser grosseira com
alguém, esse tipo de atitude não
combinava com ela. Porém, a ironia o
incomodou, Jesse o fazia parecer egoísta
e rude. E o era mesmo, ainda mais com a
jovem.
— Já passou pela sua cabeça que talvez
eu preferisse morrer do que ser tocado
por você? Não suporto a sua presença, é
a pessoa mais desprezível que eu
conheci em toda minha vida. Não existe
nada mais patético do que você seminua
na minha frente com as bochechas
rosadas como uma adolescente idiota,
não consigo sentir nada além de repulsa,
tenho nojo só de olhar para essa sua
cara de santa puritana. – Ele virou o
rosto para o lado, nervoso demais para
continuar olhando para ela.
No fundo, tinha esperança que aquela
sensação horrível dentro dele passasse,
mesmo assim, para Blade era mais fácil
fazer com que o odiasse do que assumir
que nenhuma outra mulher havia mexido
tanto com suas estruturas. Já estava
acostumado com a dor, mas aquele
sentimento novo o assustava por demais,
logo ele que era conhecido por não ter
medo de nada.
— Devia ter deixado você morrer, seu
cretino! Vá para o inferno e leve toda
essa arrogância junta. — Jesse avançou
em cima dele, rosnando como uma onça
brava apontando uma das garras bem no
meio da cara dele em sinal de ameaça.
O rosto estava com os traços finos
tensos, os olhos irados, os dentes
trincando cada vez mais de raiva
conforme a adrenalina dominava o seu
corpo. Agora assim, tão perto ele podia
aspirar o perfume natural da jovem. Era
agradável, sexy e fascinante. Assim
como os seios dela que estavam
praticamente esfregando no rosto de
Blade, tudo o que tinha a fazer era
estender a mão e tocá-los, vontade não
faltou. Teria matado a curiosidade de
saber se a pele de Jesse era mesmo tão
macia quanto imaginava, assim como os
cachos sedosos da mesma que estavam
encostando as pontas em seu ombro.
— E quem vai me mandar para o
inferno, investigadora, você? Vai no
mínimo precisar aprender a atirar,
porque ser boa mira também não é o seu
forte. — Inclinou o corpo para frente de
forma que o rosto ficasse a poucos
centímetros de Carter, encarando-a com
total deboche.
— Vai se ferrar! — Jesse levantou
irada, catando as peças de roupas
espalhadas pelo chão da sala que na
pressa de aquecer Blade jogou em
qualquer lugar. Era tão boa e amorosa,
que ele sentiu vontade de rir ouvindo
tais palavras profanas saindo da sua
boca, era como ouvir uma freira falando
um palavrão.
— Então a boa moça não é tão santa
assim, garotas virgens não deveriam
falar esse tipo de coisa sabia? — E
entrou em cena novamente, insuportável
e presunçoso. Jesse contou até dez,
enquanto tentava não fazer alguma
loucura com ele.
Blade recostou melhor o corpo no sofá
apoiando a cabeça sobre ele de forma
totalmente confortável para assistir
aquela cena de camarote, a
investigadora se atrapalhando toda com
o simples ato de vestir uma calça.
Observou como ela puxava
sensualmente a peça para cima
segurando com uma mão de cada lado,
nunca imaginara que a raiva poderia
deixar uma mulher mais atraente do que
a melhor lingerie da Victoria Secret,
tinha belas pernas e uma bunda pequena,
mas empinada e durinha. Os seios
medianos suspensos por um sutiã branco
de renda que fazia um contraste sedutor
com a pele escura de Carter, podia
afirmar que eles caberiam perfeitamente
dentro de suas mãos, melhor ainda
dentro de sua boca sugando um depois o
outro. A cintura era fina, curvilínea.
— Perdeu alguma coisa aqui? — Jesse
perguntou nervosa com a forma com que
olhara para ela, se sentia nojo então
porque não tirava os olhos de cima
dela? Fechou o botão da calça depressa,
dando um jeito de vestir a blusa mais
rápido ainda.
— Não entendo como uma investigadora
do FBI com uma renda de cento e vinte
mil dólares por ano, isso dá uns dez mil
por mês, faz com esse dinheiro todo que
não tem condições nem de comprar uma
roupa nova ou pagar um lugar descente
para morar? — Perguntou passivamente,
e levantou o queixo para ter um contato
visual mais direto com ela.
— Tenho outras prioridades e não me
importo nem um pouco sobre o que
pensa ao meu respeito. — O que não era
verdade, mas ela não iria se expor
naquele momento. E segura completou.
— Nem toda mulher gosta de luxo,
algumas se importam com coisas mais
importantes, ou um sonho especial. —
Jesse fechou os olhos e sorriu de forma
serena como se estivesse lembrando de
algum momento importante para ela, e
estava. Não via grande parte do salário
já há muito tempo e tinha muito orgulho
disso. Tudo começou no dia mais feliz
de sua vida quando recebera o primeiro
salário, nunca tinha visto tantas notas de
cem dólares juntas, após sair do caixa
enfiou o pequeno malote de dinheiro
preso com um elástico dentro de um
envelope amarelo e guardou no bolso do
casaco, pretendia comprar uma câmera
fotográfica moderna que vinha
namorando fazia tempo. Mas uma leve
brisa de vento passou trazendo consigo
um pedaço de jornal velho que parou
bem em seu rosto tapando-lhe totalmente
visão fazendo-a bater a cabeça em um
poste bem adiante, nele estava um
anúncio que dizia:
“A associação Angel Lar das Crianças
vivendo com HIV/Aids está precisando
urgentemente de doações para o
conserto do encanamento e o término
da reforma do banheiro das crianças. O
vestiário é utilizado por trinta meninos
e meninas atendidas, de zero a treze
anos. De acordo com a irmã diretora
do Lar, Irmã Florence, a reforma seria
necessária para resolver problemas de
vazamento e adequar as instalações do
vestiário para os pequenos, já que a
estrutura foi construída para crianças.
Se não conseguirmos ajuda vamos ter
que fechar, por favor não deixe que
isso aconteça! Estamos contando com
você. ”
Além de doar todo salario para as
reformas necessárias e renovar o
uniforme das crianças, Jesse se
comprometeu a doar cinquenta por cento
dele mensalmente enquanto estivesse
trabalhando na vida e o fazia
corretamente. Também fazia visitas
semanais para brincar com os pequenos
que amava como se fosse seus filhos e
tinham uma carência de cortar o
coração. Assim como ela precisavam
ser aceitas como eram e de muito amor e
carinho. Trinta por cento do salário
colocava severamente em uma conta
para realizar o sonho de dar a volta ao
mundo fotografando culturas e coisas
diferentes, havia virado uma policial
para agradar o pai, desde pequena era
apaixonada por fotos e sempre dizia que
queria ser uma fotógrafa famosa quando
crescesse. No entanto, as coisas não
aconteceram como o planejado. Os vinte
por centro restantes, usava para pagar as
contas, que agora morando sozinha
apareciam cada vez mais, ainda bem que
nunca ligou para luxo com sua
aparência.
— E que prioridades seriam essas? —
A voz de Blade soou curiosa,
interessada até.
— Não é da sua conta. — Ela pegou um
pé do tênis velho jogado sobre o tapete
e saiu a procura do outro, furiosa,
resmungando alguns palavrões sem olhar
para ele.
— Onde pensa que vai? — Maldonado
foi atrás dela só de cueca. A moça
estava de um lado para o outro na
procura incansável pelo tênis.
— Para bem longe de você. — Ela não
conseguiu encará-lo, como deveria ser a
boca de Blade quente de paixão, em vez
de fria e cheia de ironia? Então, o seu
olhar desviou-se para mais abaixo no
corpo dele e se deparou com um volume
consideravelmente grande começando a
acordar dentro da cueca branca da
Calvin Klein, parecia duas vezes maior
que na noite anterior e ainda não havia
despertado completamente.
— Boa viagem! — Maldonado
respondeu grosseiramente, entregando-
lhe o tênis que estava procurando
próximo ao pé dela.
A jovem tomou o que era seu da mão
dele e saiu a passos firmes pela porta
jurando nunca pisar naquele lugar. Ele
praticamente havia a expulsado de sua
casa da maneira mais rude possível, não
oferecendo nem um café ou uma água.
Estava cansada, com fome e
decepcionada. Estava tão atordoada que
esqueceu de colocar os tênis e pisava no
chão cheios de pedrinhas pontiagudas
ferindo os seus pés, em seu rosto
lágrimas corriam sem parar, nunca tinha
conhecido uma pessoa tão cruel como
Blade Maldonado. Fez o caminho de
volta pela trilha olhando para trás a todo
momento na esperança que ele viesse a
sua procura, arrependido ou com no
mínimo um convincente pedido de
desculpas no bolso, mas não veio.
Totalmente destruída, pegou o carro da
irmã e foi embora para casa, triste.
Passaram-se alguns dias e as solas dos
pés da moça ainda estavam feridas
devido a pequena “caminhada” até o
esconderijo do bandido que roubara o
seu coração para depois destruí-lo na
sua frente sem dó nem piedade. Por azar,
os últimos dias tinham sido bastante
tumultuados naquele departamento,
parecia que todo mundo havia tirado a
semana para cometer crimes, mal
acabava de atender um chamado e o
telefone já estava tocando novamente.
Graças a Deus era sexta a tarde, quase
na hora do final do expediente, tudo que
queria era ir para casa tomar um bom
banho em sua banheira e relaxar. No
outro dia seria o encontro com o
Michelangelo na Feira de Fotografias,
estava se preparando psicologicamente
para recepcionar a mãe, irmã e a amiga
Nayla que prometeram chegar bem cedo
para prepara-la para a primeira vez que
ela sairia com alguém, sim! Nunca
ninguém a convidara para sair, nem
mesmo em um baile do colégio.
— Antes de ir embora revise esses
relatórios para mim, limpe a minha sala
e organize a minha sala. — O Major
Carter jogou uma pilha de relatórios
sobre a mesa da investigadora, tirando a
mala apoiada debaixo do braço e foi
embora sem dizer obrigado ou tchau,
minha filha.
Depois de cumprir as ordens do pai,
faltava apenas cinco minutos para bater
o ponto quando ouviu gritos fervorosos
da recepção. Uma mulher vestida com
uma mini saia vermelha minúscula, um
top que chamava de blusa, um salto
altíssimo e uma maquiagem gritante
fazia um verdadeiro show aos berros
dizendo que havia sido roubada, que
depois de fazer um trabalho para o
“cliente” dela com direito a dança
erótica e mais outras coisas absurdas
que Jesse corou só de ouvir ele não quis
pagá-la. Apesar de vulgar, era uma
mulher linda, morena dos cabelos lisos
até abaixo da cintura e os olhos azuis da
cor do mar. A recepcionista até tentou
avisar que não era o lugar para aquele
tipo de denúncia, mas a mulher fingia
não ouvir. Todos pararam para ver a
cena, principalmente os homens,
literalmente babando no corpo perfeito
da tal mulher, a investigadora só não
chegou mais perto para assistir a
confusão porque sentiu o celular vibrar
dentro do bolso avisando a chegada de
uma mensagem nova que dizia.
“Tem cinco minutos para pegar o que
precisamos, a distração que enviamos
não vai durar muito tempo, tente não
estragar tudo dessa vez. Estarei na rua
dos fundos da delegacia esperando
para pegar a encomenda, cuidado para
não se perder no caminho. ”
Pela a aspereza presente nas palavras
não precisou ser muito inteligente para
saber quem tinha mandado, Blade
conseguia ser grosso até por mensagem.
Então, ela correu o mais rápido que
pode até a sala de arquivo morto e
aproveitou que não tinha ninguém de
vigia e localizou a prateleira apenas
com a letra M, agradeceu aos céus pelas
caixas estarem organizadas em ordem
alfabética. Não demorou muito para
achar uma preta escrita por fora em
maiúsculo “CASAL MALDONADO”,
como era baixinha teve que subir em
uma cadeira para pegar o que queria e
foi embora correndo para o local
combinado, quando passou pela porta
enfiou o envelope debaixo da blusa e ao
passar pelo corredor viu a mulher sendo
arrastada por dois policias para fora.
Antes de sair a “distração” arrumada
por eles piscou para ela discretamente.
Jesse foi até a saída do lado de trás do
prédio e atravessou a rua olhando para
todos os lados até um beco mais escuro,
onde Blade a esperava com a mesma
postura arrogante, mesmo sem poder ver
o rosto dele devido a escuridão podia
sentir os olhos dele queimando o seu
corpo, impaciente.
— Onde está? — Foi a primeira coisa
que disse a ela.
— Qual é a palavrinha mágica? — Jesse
mexia o envelope de um lado para o
outro com um leque, apenas para
provocá-lo
— Cale a boca e me dê isso logo, porra!
— Gritou com ela, arrancando o
envelope bruscamente de sua mão
segurando-o firme na sua com um certo
pesar no coração. — Apareça amanhã
para uma reunião, no mesmo horário. —
Deu o aviso, de forma totalmente
grosseira, sem nenhum "obrigado" ou
nada do tipo.
— Desculpe, mas não poderei ir.
Amanhã tenho um encontro, e passarei o
dia com Miche. — A hesitação de Blade
mostrou que acertara no ponto certo,
ótimo. Assim ele perceberia que ela não
estava jogada no lixo, afinal o que não
vale nada para um, pode ser o tudo de
um outro alguém. E assim Jesse foi
embora sem se despedir, rebolando e
jogando para o lado o cabelo
“chamativo” que ele tanto odiava, o jogo
estava começando a virar.

CAPÍTULO 15
“Não me deixe sozinho...”
O sábado amanheceu ensolarado com o
céu ostentando um azul profundo, as
nuvens pareciam ter feito um acordo de
se recolherem para que tudo desse certo
para Jesse. Os pássaros cantarolavam
alegremente em uma dança animada
saboreando a brisa leve, um clima
perfeitamente agradável para um
passeio, um primeiro encontro, melhor
dizendo. Carter acordou
preguiçosamente revirando de um lado
para o outro na cama sem tirar um
sorriso bobo do rosto, fora dormir alta
horas da noite conversando pelo celular
com o Michelangelo sobre o tão
esperado passeio, estavam ambos
ansiosos. Ele era sempre tão gentil e
agradável como ela, tinha o poder de
fazê-la sentir-se especial com uma
simples ligação.
— BOM DIA! — Três vozes gritaram
em uníssono. Com muita preguiça Jesse
levantou o olhar por debaixo do
cobertor do Kiki Butovisk e viu a mãe, a
irmã e a melhor amiga com as mãos
repletas de bolsas entre outros
assessórios, animadíssimas. Com um
sorriso de orelha a orelha, mais felizes
do que ela com aquilo tudo, não que
Jesse não estivesse.
— Bom dia meninas, a benção, mãe!
Para que isso tudo? Vamos viajar e não
estou sabendo? — Jesse sentou na cama
esfregando os olhos, com o cabelo todo
bagunçado, bocejando de sono.
— Para o seu primeiro encontro, mana,
tem que estar perfeita! —Mainara se
encontrava impecável dentro de um
vestido bege justo ao corpo, de mangas
cumpridas realçando suas curvas,
qualquer coisa ficava bem nela,
totalmente diferente da irmã.
— Deus te abençoe, meu amor! Fiz uma
coisa para que usasse neste dia tão
especial, guardo a sete chaves desde que
entrou para o Ensino Médio. Como já
passaram alguns aninhos, a Nayla deu
uma boa ajeitada nele e ficou perfeito,
querida. — A investigadora olhou para a
caixa azul com um laço em cima nas
mãos de sua mãe emocionada assim
como ela, com os olhos brilhando no
canto dos olhos. Maria Joaquim sempre
fora uma ótima mãe, apoiava a filha no
que fosse, quase explodiu de orgulho
quando Jesse contara para ela que
doaria metade do salário mensalmente
para ajudar um lar com crianças soro
positivo. Diferente de outras tantas
mães, acreditava nas filhas mesmo que
não tivessem nenhum motivo para isso,
quando Carter cismou em ser policial,
sabia que a ela não levava jeito nenhum
para isso. Só que as vezes devemos
deixar a pessoa cair sozinha para
aprender com as próprias atitudes,
porque somente assim aprenderá o que
precisa para ser de fato feliz quando
encontrar o caminho certo.
— Obrigada mamãe, eu te amo! —
Sorriu de forma doce para Maria
Joaquin, havia um elo de amor muito
forte entre as duas. Não imaginava o que
poderia ter dentro daquela caixa, mas
independentemente do que fosse já tinha
adorado, porque tinha sido a mãe que
tanto amava que fez apenas e
exclusivamente para ela. Jesse encheu o
peito de ar naquele momento, sentindo-
se importante.
— Desculpe atrapalhar o momento lindo
mãe e filha, mas faltam apenas duas
horas para o Miche chegar. Então, mãos
à obra, meninas! A partir de agora
começa o seu dia de princesa, Jesse
Carter, estamos ao seu dispor madame.
— Brincou Nayla, literalmente
agarrando o braço da amiga e
arrastando-a para o bainheiro e jogando-
a debaixo do chuveiro. Depois de um
banho bem tomado, Mainara ficou por
conta de arrumar o cabelo da irmã.
Escolheu por não tirar o volume que
Jesse tanto gostava, apenas fez uma
texturização nos cachos para obter uma
definição perfeita e tirar o frizz. Secou-
os com cuidado, depois foi abrindo os
cachos, um por um, com a ajuda de um
pente garfo de madeira. Para finalizar
pingou duas gotas de óleo de argam na
palma da mão e passou apenas na região
das pontas.
— Então, irmã, como ficou? — Jesse
perguntou curiosa sentada na cadeira da
penteadeira de costas para o espelho,
louca para ver o resultado, a sensação
leve que sentia sobre as costas era muito
agradável.
— Só vai ver depois que estiver pronta,
maninha, ainda falta o presente da
mamãe e a maquiagem da Nayla. Seja
boazinha e comporte-se, não confia em
nós? — Mainara levou as mãos a cintura
fitando a irmã como uma sobrancelha
arqueada, batendo o salto fino do
scarpim caramelo no chão, ocasionando
um som agudo de tique-taque irritante.
— Está bem, Mai, vou tentar controlar a
minha ansiedade. — Carter suspirou
frustrada revirando os olhos, fazendo
Mainara rir. Então, a irmã saiu do quarto
e foi ajudar a mãe na cozinha preparar
um café fresco, dando a vez para a
estilista que adentrou no quarto
carregando uma maleta de maquiagem
maior do que ela. Vestia um macacão
jeans com uma blusa de mangas curtas
com listras azuis e tênis modernos sem
meia. Os cabelos muito bem divididos
ao meio, com duas tranças, uma de cada
lado muito bem-feitas, sem nenhum fio
solto, sorrindo alegremente para Jesse
que retribuiu de bom grado.
— Posso saber o motivo de tanta
alegria, Nayla? Eu li em uma revista que
as joias roubadas do desfile foram todas
devolvidas, fiquei feliz por você, amiga.
— Fazia dias que Jesse queria perguntar
isso a ela, leu a matéria e realmente não
entendeu o porquê Blade e a equipe dele
roubaram os objetos para devolvê-los
depois. Isso não fazia sentido, mas teve
vergonha de perguntar sobre o assunto
para alguns deles, era mais fácil
perguntar discretamente para a amiga.
— O ladrão enviou as joias para a
empresa Fox, acompanhadas de um belo
pedido de desculpas dizendo o quanto
estava arrependido de ter feito aquilo.
— Nayla sorriu lembrando de como
havia feito Estevão prometer que faria
aquilo, depois de muito reclamar ele
acabou cedendo.
— Que linda a atitude dele, errar é
humano, mas se arrepender é divino, um
belo ato. — Exclamou Jesse, quase
espirrando devido ao pincel de pó que a
amiga dançava pelo rosto dela como
uma valsa romântica, lenta e ágil.
— Mas, o motivo da minha alegria tem
nome e sobrenome. Sabe aquele garoto
da época da escola que voltou? Então,
nós estamos namorando. — Revelou
Nayla eufórica, nunca esteve tão feliz.
Colocando sobre a penteadeira o batom
nude que tinha d acabado de passar em
Jesse, pegando uma máscara de cílios
para finalizar a maquiagem.
— Para tudo! Como assim namorado,
criatura? Um dia desses estava no meu
sofá chorando por causa desse homem,
se ele te magoar eu arranho a cara dele
toda. Aliás quando vou conhecê-lo?
Espero que em breve. — Jesse levou a
mão ao rosto para tirar um cacho
teimoso que insistia em cair sobre o seu
rosto, seu cabelo nunca esteve tão macio
e sedoso.
— Dona Maria pode vir com o presente,
a maquiagem está pronta! —Nayla tratou
logo de mudar de assunto, Estevão não
era muito sociável, namorar um homem
como ele era um campo minado. Nunca
sabia ao certo onde pisar para não fazer
ou dizer nada e assustá-lo, morria de
medo de fazer alguma coisa que o
fizesse desaparecer novamente.
— Alguém chamou por mim? — Maria
Joaquim entrou no quarto sorridente
como sempre, segurando a caixa com
firmeza. — Espero que goste, minha
filha, é simples, mas feito com muito
amor. —Estendeu o presente para que a
filha pegasse, Jesse desfez o laço com
carinho e abriu a caixa com cuidado
quase chorando quando pegou a peça
delicadamente e levantou para que
pudesse ver melhor. Na verdade, a
jovem não apreciava muito os vestidos,
mas a mãe acertara perfeitamente o
gosto dela, tanto na escolha do modelo,
como na cor. Um vestido branco
simples, porém elegante com gola em V
e na altura acima do joelho, meio caído
nos ombros descendo justo até na
cintura, onde havia um cinto feito com
perolas brilhosas, abrindo em uma saia
rodada no restante mais abaixo, sem
muito exagero. Simples igual a ela,
Jesse quase chorou em como a mãe
pensou em tudo o que ela gostava para
criar a peça. Ainda tinha um colar
também branco cheio de pedrinhas
transparentes imitando diamantes, um
pequeno buquê de flores naturais vinho e
um par de sapatilhas no mesmo tom das
flores.
— Que lindo, mamãe! Obrigada por me
amar mesmo não sendo a filha que a
Senhora merece e por viver te dando
desgosto. Ainda vai ter muito orgulho de
mim algum dia, eu prometo! — Abraçou
fortemente a mãe com todo amor que
sentia por ela.
— Eu já tenho, filha! Te amo do jeito
que é e pronto. Sem medidas ou
reservas, vai ser sempre o meu
bebezinho. Agora não chore senão vai
estragar a maquiagem. Coloque logo o
vestido e vamos ver como vai ficar, está
bem? — Maria Joaquim limpou
discretamente uma lágrima que caiu,
estava muito feliz pelas coisas estarem
dando certo para a filha.
— Então, gostaram? — Perguntou uma
Jesse insegura em frente ao espelho, não
estava acostumada com aquele estilo.
— Você está linda, irmã! Deveria usar
vestidos mais vezes, vai ser o centro das
atenções nessa feira. — Mainara
aprovou o resultado, a mãe estava sem
palavras olhando para a filha com as
duas mãos sobre a boca.
— Você está muito gostosa amiga, vai
deixar esse homem doido. — Brincou
Nayla, tampo um tapa na bunda de Jesse.
As quatros gritaram animadas assim que
a companhia tocou, Michelangelo havia
chegado acompanhado de um buquê de
flores. Com o cabelo muito bem cortado,
calça de tecido preta e uma camisa
social verde dobrada até os cotovelos.
Sapatos sociais pontudos e uma câmera
profissional pendurada no pescoço,
assim como a Jesse tinha a dela
semiprofissional caindo aos pedaços,
mas funcionando direitinho e
conservada, levando em consideração o
ano que foi lançada. Debaixo do braço
uma pequena bolsa salmão que Nayla a
obrigou levar para guardar os objetos,
ou alguma lembrança que quisesse trazer
do evento.
— Sempre te achei linda, Jesse, mas
hoje está mais que qualquer outra. —
Elogiou, Michelangelo, sem tirar os
olhos dela em nenhum segundo. Ela
ficou feliz que o rapaz tivesse gostado,
pois também aprovara o look, sentindo-
se bonita pela primeira vez na sua
infeliz vida.
— Obrigada Miche, você também está
muito bonito! Essa camisa realçou a cor
dos seus olhos, iluminando ainda mais o
seu sorriso. —O rapaz quase derreteu-se
diante de tanta graciosidade da moça,
era extremamente gentil com todos.
— Vocês se importariam se eu tirasse
uma foto de vocês? Os dois fazem um
casal tão bonito! Imagino como sairia
linda a mistura dos dois, eu não iria
reclamar se ganhasse um netinho logo.
— Maria Joaquim quase matou a filha
de vergonha, estava no seu primeiro
encontro e a mãe já pensado nos filhos
dos dois. Tal ideia até agradou a Jesse,
afinal seu maior sonho fora ser mãe um
dia e era evidente que Michelangelo
daria um ótimo pai.
— Essa é Maria Joaquin, minha mãe.
Aquelas são Mainara, minha irmã e
Nayla, minha melhor amiga. E, esse é o
Michelangelo, meninas. — Ele acenou
com a cabeça sorrindo educadamente
para elas.
— Prazer, filho, posso tirar a foto de
vocês agora? — Jesse estava se
sentindo na época da escola, mas estava
gostando de ver a mãe animada daquele
jeito.
— Claro que sim, Senhora Maria,
depois quero uma cópia. — O barman
sorriu lindamente mostrando os belos
dentes brancos perfeitamente alinhados,
por um momento a mãe de Jesse teve um
mal pressentimento, o rapaz era
encantador de fato, mas havia alguma
coisa naquele sorriso que a incomodou
um pouco.
Depois de pousarem para algumas fotos
da câmera do celular de Maria Joaquim,
o casal seguiu o caminho para o parque
onde seria a exposição de fotos.
Michelangelo ficou envergonhado no
estado caótico que o seu carro se
encontrava, mas durante o percurso
explicara para Jesse que mandava todo
dinheiro que ganhava para ajudar a
família que ainda estava toda no Brasil.
Quando contara isso, encantou ainda
mais o coração da jovem. Já no local do
evento, os dois estavam se divertindo
muito rindo de tudo, comendo comidas
exóticas nas barraquinhas da área de
alimentação e tirando fotos de tudo que
chamava-lhes a atenção. A melhor parte
foi quando passearam pela exposição
apreciando as centenas de fotos
espalhadas ao ar livre sobre um
gramado verdinho sustentadas por
tripés, uma em especial encantou a
investigadora profundamente, a de uma
tribo indígena de habitantes da Floresta
Amazônica no Brasil, país de onde
Michelangelo veio, isso a fez gostar
ainda mais do retrato.
— Lindo não é mesmo? — Perguntou
Michelangelo vendo a concentração de
Jesse avaliando a foto.
— Muito! Para mim a foto mais bonita
da exposição, coisas simples me
encantam. — Exclamou Jesse ainda a
admirar a obra.
— A mim também. — Revelou o barman
e não estava se referindo a foto. A
jovem notou isso, sentiu o rosto queimar
quando ele segurou sua mão
entrelaçando os dedos aos dela. Foi um
ato tão natural, inocente, que Jesse virou
sorrindo para encará-lo. Os raios do sol
poente refletiam nas duas esmeraldas do
rapaz, realmente tinha olhos lindos.
— Obrigada por me convidar para sair,
estou realmente amando. —Sorriu
tímida abaixando o olhar fazendo alguns
cachos caírem sobre o rosto,
delicadamente ele passou os cabelos
rebeldes de Jesse para trás de seus
ombros, queria uma ampla visão do seu
rosto delicado.
— Tudo para te fazer feliz. Isso é só o
começo, moça! —Jesse não conseguia
medir o quanto estava se sentindo
especial naquele dia, Miche era
naturalmente educado em tudo o que
dizia, diferente de uns e outros que
sentia prazer em fazer o próximo se
sentir mal da forma mais cruel do
mundo.
— Podemos sentar um pouco para
descansar? — Perguntou Jesse ainda
corada pelo comentário dele, apontando
para um banco de madeira de dois
lugares próximo ao lago.
Em volta muitas flores de várias cores e
formas dava mais vida ao lugar, era
romântico e acolhedor.
Consequentemente, ele a conduziu até o
lugar ainda segurando sua mão, que se
dependesse dele não soltaria nunca. Mas
Jesse se adiantou e soltou-se do rapaz e
foi tocar a água do lago, assim que ficou
de pé fechou os olhos para sentir a brisa
leve tocar o seu rosto. Quando abriu
bem devagar notou que estava sendo
fotografada pelo Michelangelo, morta de
vergonha tentou fugir da câmera, gostava
de fotos e não de ser fotografada.
Quanto mais ela se esquivava era
surpreendida por mais e mais flashes,
pareciam duas crianças brincando
animadas sem importarem com quem
estivesse olhando.
— Você é linda, Jesse Carter, não
entendo o motivo de tanta insegurança.
— Comentou Michelangelo sentado ao
lado dela, tão perto que sem perceber a
mão da investigadora estava apoiada na
perna do rapaz, assim com a cabeça em
seu ombro. Ele estava a conferir as fotos
que tirou de Jesse, haviam ficado
delicadas e principalmente espontâneas.
Ela ergueu o olhar para encará-lo e
gostou do que viu. Havia admiração e
sinceridade dentro dos olhos dele,
acompanhado de um sorriso encantador,
não metido ou superior. Então, por um
segundo ela pensou que talvez Miche
gostasse de verdade dela e não tivesse
se aproximado por pena ou qualquer
outro motivo triste.
— Eu não sou linda, Miche, sou
insegura e atrapalhada. Boa em estragar
tudo, se quiser ainda está em tempo de
fugir antes que te dê algum prejuízo. —
Brincou desviando o olhar para sua
velha câmera, com um pingo de verdade
no meio e medo que ele saísse o mais
rápido que pudesse. Em vez disso,
Michelangelo virou o rosto dela para
que pudesse olhar em seus olhos, queria
que entendesse bem o que iria falar.
— Eu não vou embora, Senhorita Jesse
Carter, só se você quiser. – Afirmou
com certeza, pelo menos o suficiente
para a jovem sentir-se segura diante de
tais palavras. — Não e fácil ser um
estrangeiro sozinho nesse país, digamos
que os brasileiros não são muito bem-
vindos aqui. — Miche mudou a
expressão de uma hora para outra, como
se tivesse lembrando de algum momento
difícil. Ela queria abraçá-lo e dizer que
tudo ficaria bem agora, porque não
estava mais sozinho, ou pelo menos
afagá-lo por um instante para que a
sensação ruim fosse embora logo. Mas
percebia que dependendo da sua atitude
só pioraria as coisas, não era boa com
as palavras também, então lhe ofereceu
o melhor sorriso para que ele
percebesse que não estava mais sozinho,
tinha ela para lhe fazer companhia, para
sempre se assim desejasse, acima de
qualquer coisa, eram grandes amigos.
Por um momento o silêncio predominou
entre os dois, respirações ofegantes e
olhares fixos um ao outro. Os olhos de
Michelangelo desviaram dos dela a
procura de sua boca e como um ímã os
rostos foram se aproximando e Jesse
Carter iria enfim dar o seu primeiro
beijo também naquele dia.
— Droga! — Resmungou a
investigadora devido ao celular dela que
começou a tocar insistentemente, um
verdadeiro empata primeiro beijo. Eram
várias mensagens seguidas uma atrás da
outra, realmente havia alguém querendo
falar com ela. Em todas estava escrita a
mesma coisa e isso a preocupou
bastante.
“Emergência, venha para esse
endereço que te mandei agora! Não
demore e não pare para falar com
ninguém, pode ser perigoso. “
Jesse levantou em pulo deixando Miche
assustado, ajeitou a bolsa no ombro e
colocou a câmera no pescoço
novamente.
— Apareceu uma emergência no
trabalho, preciso ir. — Beijou o rosto
dele e saiu correndo, tentou fazer uma
cena sensual como nos filmes de
Hollywood, mas poucos metros a diante
tropeçou em um galho e caiu de joelhos.
Levantou o mais rápido que pode e deu
um sorriso amarelo para Michelangelo
para demostrar que estava bem, ele
acenou sorrindo achando lindo o jeito
atrapalhado da jovem. Jesse assobiou
para um táxi que parou imediatamente,
em pouco mais de uma hora estava
diante do de uma pista de voo fora da
cidade.
— Tem certeza que o endereço é esse,
moça? — Perguntou o senhor de chapéu
com um bigode maior que o rosto dele,
com uma pena enorme de deixar Jesse
sozinha naquele lugar deserto, ela quase
desistiu e voltou para casa. Mas ela era
mais corajosa do que isso, não desistia
fácil.
— Não se preocupe, vou ficar bem. —
Entregou o dinheiro a ele sorrindo
forçada, estava apavorada. Soltou um
gritinho de susto quando o celular tocou
vibrando dentro da sua bolsa anunciando
a chegada de outra mensagem do mesmo
número que dizia: “Olhe para o céu. ”
Era finalzinho de tarde e o sol se
despedia com toda sua majestade se
escondendo atrás das montanhas
deixando um belo rastro alaranjando
conforme ia se pondo. As andorinhas
voando ao sul completavam a beleza
daquela cena, simplesmente esplêndida.
Mas o que chamou a atenção da moça
foi um ponto no céu que foi ficando cada
vez maior conforme se aproximava, era
um jatinho de última geração. A pista se
iluminou como uma árvore em uma
manhã de natal, luzes de todas as cores.
O coração de Jesse batia
aceleradamente, quase saindo pela boca,
ainda mais quando o jatinho estava
pousando a poucos metros do chão e
conseguiu ver quem era o piloto, que
mesmo escondido atrás dos charmosos
óculos de aviador e jaqueta de couro
preta ela o reconheceu imediatamente,
sim! Era Blade Maldonado, mais lindo
do que nunca, com sua presença superior
e charme incomparável. Poderia até ter
muitos parecidos com ele, mas igual
jamais! Era único, o original.
Incrivelmente o medo dela havia ido
embora sentia-se segura como nunca,
protegida. Não pode conter o sorriso
diante daquela imagem avassaladora,
mesmo ainda muito brava com ele, não
teve como não sorrir, não mesmo. Por
outro lado, Blade perdera totalmente o
foco do que estava fazendo quando
olhara para Jesse através da janela de
vidro com os cabelos esvoaçantes
conforme a vontade do vento, assim
como o vestido rodado que ela tentava
inutilmente segurar, ele presenciou uma
cena idêntica à da atriz Marilyn Monroe
no filme “Um dia como este” em mil
novecentos e cinquenta e quatro. Não a
estava vendo como um anjo naquele
momento, com certeza não mesmo.
Assim que pousou, ele tirou os óculos
para avaliar melhor a jovem, fez questão
de começar uma varredura minuciosa
pelas sapatilhas delicadas que parecia
ser de cristal envolvendo os minúsculos
pés. As pernas finas, porém, bem
torneadas e bonitas. Parte das belas
coxas aparecendo devido ao
comprimento desnecessariamente curto
da investigadora, ele também notou
como a peça abraçou perfeitamente as
curvas suaves de seu corpo, em especial
a cintura modestamente curvilínea e os
seios durinhos e empinados. Blade
elevou o olhar notando que ela quase
não usava maquiagem, mas o suficiente
para realçar a beleza natural de Jesse,
que era mais do que a moça pensava.
Duas pinceladas levemente rosadas nas
bochechas que avivava conforme
corava, graciosamente e seus cílios
pareciam ainda mais negros e longos do
que ele se lembrava. Os cabelos não
estavam voando naquele momento, mas
vários cachos caíam delicadamente em
volta do seu rosto. Maldonado nunca
odiou tanto aquele cabelo, se pudesse
obrigaria a prendê-lo e não soltar nunca
mais e a jogar aquele maldito vestido
longe, imediatamente! Não queria que
outro homem sentisse o que estava
sentindo naquele momento olhando para
ela, seria capaz de matar o indivíduo e
jogar o coração aos lobos. De repente
uma raiva tomou conta dele, algo
incontrolável. “ Ela se arrumou assim
para outro, queria ficar atraente para
ele. E conseguiu. ”
— Oi! — Jesse pigarreou baixinho,
rodopiando o anel no dedo
envergonhada.
— Pare com isso. — Ele ordenou
olhando para ela de uma forma
enigmática, mas a voz era estranhamente
suave e gentil até.
— Desculpe, mas o que está
acontecendo de tão urgente que não
poderia esperar até amanhã? Estava um
pouco ocupada quando recebi a
mensagem de vocês. — Jesse resmungou
irritada, estava começando a ventar um
pouco mais fresco.
— Eu vi. — Respondeu rabugento,
tirando a jaqueta de couro e colocando-a
com cuidado demais para um arrogante
cretino sem coração como ele, em volta
do ombro dela a pegando totalmente de
surpresa, tanto que nem prestou a
atenção nas palavras dele.
— Obrigada! — Ela agradeceu
observando-o com uma certa admiração
muda, porém deslumbrada. Deus se
alegra mais com um acerto de um pagão
do que mil de um dos seus servos mais
fiéis.
— O Li analisou os documentos da
emboscada que você pegou onde
mataram os meus pais. — Ele hesitou
por um minuto e respirou fundo antes de
continuar a falar. — Estamos
desconfiados que quem armou para eles
foi um antigo inimigo do meu pai, Carlo
Castelli, chefe da máfia americana,
lembro desse nome devido a uma
discussão entre eles em minha casa
quando era pequeno, eu estava atrás da
porta e ouvi meu pai e minha mãe
dizendo que esse homem nunca aceitou o
fato dela não o ter escolhido como
marido em vez do meu pai, tinha um
amor obsessivo por ela e vivia os
perseguindo. Prometeu de se vingar dos
dois por isso. Juntamos as peças e
chegamos à conclusão que se vingou os
entregando para a Polícia com uma
única condição, que não saíssem vivos,
mesmo depois que se rendessem, assim
que conseguiu o que queria se matou
com um tiro na cabeça deixando a atual
mulher e um filho pequeno como
herdeiro da fortuna e que hoje é o chefe
dos negócios da família. Achamos que é
ele que está querendo vingar a morte do
pai colocando a cabeça do último
Maldonado a prêmio e pelo visto não
vai parar até conseguir.
— Nossa que triste! Sinto muito. Pelos
seus pais e principalmente por você. —
Jesse levou a mão ao rosto dele, que não
se afastou do toque.
— Eu também. — Ele fechou os olhos
diante da sensação agradável do calor
da pequena mão tocando sua pele,
Carter sentiu a barba dele de alguns dias
sem fazer arranhá-la um pouco, mas não
se importou.
— Desculpe! Agi sem pensar, sei que
não suporta que eu o toque, tão pouco a
minha presença. — Recolheu a mão
imediatamente fitando os próprios pés
magoada, lembrando da forma horrível
que ele a tratou recentemente. “ O que
eu havia feito? Ela não iria me perdoar
nunca pela forma que a tratei, mas era
preciso para mantê-la protegida de
mim...”
— Jesse eu... — Tentou falar, mas ela o
impediu antes que começasse alguma
grosseria. Já havia a magoado demais,
fazer papel de trouxa tinha limite.
— Diga em que eu posso ser útil dessa
vez, afinal só me procura quando
precisa. — Jesse foi áspera o atingindo
com um tiro certeiro, ele estava
provando do próprio veneno chamado
desprezo.
— Vou precisar do seu distintivo para
chegar a localidade onde Xing acredita
ser o esconderijo dele, espero que tenha
o trazido. — Blade andava de um lado
para o outro impaciente, ansioso para
ouvir a reposta dela.
— Cuide bem dele e boa sorte! —
Enfiou a mão na pequena bolsa e
praticamente jogou o distintivo na cara
dele e ameaçou ir embora.
— Preciso que venha comigo, não me
deixe sozinho. Li precisa ficar para
analisar com calma os relatórios.
Estevão e Julius têm que manter Bobbi
seguro, nossa maior prioridade é mantê-
lo a salvo enquanto não colocamos as
mãos nesses caras. — Ele revelou
segurando no braço dela, com a voz
arrastada ao dizer tais palavras.
— Você é o incrível, Blade Maldonado,
que resolvi qualquer coisa com as suas
pistolas de ouro. Uma inútil, sonsa e
destratada como eu, só iria te atrapalhar.
— Tentou soltar-se dele, mas não
conseguiu fazer nem cócegas, era como
um grão de areia na mão de um gigante.
— Tem razão, investigadora! Tenho me
virado a minha vida toda sozinho, não
sei porque pensei que agora poderia ser
diferente, esse é o meu destino. Vou ligar
para o Julius e pedir que venha te
buscar, pode ficar tranquila que ainda
vai dar para terminar o que começou
com o seu namoradinho, ele precisa
mais de você do que eu. — Suas
palavras estavam repletas de
ressentimento e sem voltar a olhar para
ela caminhou até o jatinho entrando no
mesmo e pisando firme.
— Posso pelo menos saber para onde
vamos? — Jesse sentou ao lado dele
emburrada, cruzando os braços,
sentindo-se uma verdadeira idiota por
estar fazendo aquilo.
— Tijuana. Fronteira Estados Unidos
com o México. — Respondeu calmo,
olhando para ela pelo canto dos olhos
com uma expressão divertida no rosto.
— Ouvi falar que em Tijuana tudo pode
acontecer, conhecida por ser a cidade do
pecado. — Ela comentou sem querer.
— Eu sei. — Blade tinha um sorriso
calculado no rosto e isso a assustou
profundamente, pensou até em fugir, mas
já haviam decolado.
CAPÍTULO 16
Por Jesse Carter...
Blade pilotando aquele jatinho era a
coisa mais erótica do mundo, de fato a
personificação do sexo em carne e osso
bem diante dos meus olhos. Me
envergonhava muito dos pensamentos
profanos que tinha com ele, fora os
sonhos eróticos que vinha tendo quase
todas as noites desde que o conheci.
Quando olhava para mim era como se
uma onda de calor invadisse todo o meu
corpo irradiando para o meio das
minhas pernas, diferente de quando
estava com o Miche, que mesmo quase
tendo o meu primeiro beijo com ele,
hoje, não consegui sentir nada além do
que carinho e ternura. Se dissesse que
não gostava dele estaria mentindo, mas
não chegava nem perto do que sentia por
Blade. Naquele momento, observava
como ele estava segurando o manche
com força, fazendo os músculos dos
braços crescerem saltando para fora da
manga curta da camisa, aparentando ser
mais forte ainda, e quando o soltou por
um instante para passar a mão no cabelo
de forma naturalmente sexy, queria que
ele deixasse no piloto automático, mas
não, ele era o tipo de homem que
gostava de fazer as coisas bem-feitas e
com as próprias mãos.
— Está com fome? — Ele tirou os
óculos escuros de aviador e olhou para
mim, intensamente.
— Só um pouco e você? — Esfregava
uma perna na outra nervosa, o clima
estava meio tenso dentro daquela
cabine.
— Muita. — Ele olhou para o decote do
meu vestido, umedecendo os lábios com
a língua. Oh! Droga, como eu
conseguiria resistir a Blade Maldonado?
Que engraçado! Naquele momento ele
não parecia mais tão intocável. Talvez
por que até agora não tinha sido grosso
ou gritado comigo como da última vez e
seu semblante não estava azedo como de
costume.
— Coma esse chocolate, por enquanto.
Quando chegarmos levarei você para
comer algo quente e bem gostoso. —
Senhor! Eu sabia que ele estava falando
sobre comida, mas foi como se tivesse
referindo a algo completamente
diferente. Algo que tenha a ver com
sexo, bruto e selvagem. Peguei o
pequeno embrulho marrom da mão dele
morta de vergonha, como se ele pudesse
descobrir a qualquer momento o que eu
estava pensando.
— Obrigada! — Respondi sem jeito,
dando uma mordida generosa no
chocolate. Ele não se preocupou em
manter mais nenhum diálogo durante o
resto da viagem e eu agradeci muito a
Deus por isso. Não queria estragar tudo
ou arriscar ser maltratada novamente.
Pousamos em Tijuana por volta das
vinte e duas horas em uma pista
clandestina no meio do nada. Havia um
senhor muito simpático com uma
caminhonete velha nos esperando para
levar-nos até o hotel onde passaríamos a
noite, segundo Blade iríamos atrás do tal
filho do Carlo Castelli, filho do inimigo
do pai dele, apenas no outro dia.
Blade continuou calado durante o
caminho até o restaurante, era a poucos
metros de onde estávamos hospedados,
na verdade eu não soube decifrar se era
uma boate ou uma casa de "encontros".
Acho que era um pouco de tudo, havia
mulheres dançando uma música com o
ritmo quente quase nuas em um palco
improvisado com homens gritando
algumas coisas em espanhol e jogando
dinheiro para elas. Casais se agarrando
fervorosamente por todo o canto. Fiquei
meio sem jeito naquele lugar, vendo isso
Blade me conduziu até um local mais
discreto nos fundos do lugar, com
apenas uma mesa de dois lugares. A
decoração era rústica e incluía algumas
antiguidades, como estátuas de deuses
da mitologia grega e quadros com fotos
em preto e branco de mulheres dos anos
oitenta, nuas em poses sensuais. Nos
sentamos ali naquela modesta mesa de
madeira de frente para a grande janela
panorâmica, com vista para a loucura
que era Tijuana a noite. Como não fazia
ideia do que estava escrito no cardápio,
Blade fez os pedidos em espanhol e com
uma pronúncia perfeita. Não gostei da
forma que a garçonete olhava para ele
quando veio trazer os pratos, com um
uniforme pelo menos dois números
menores que o adequado para ela se
oferecendo descaradamente e o cretino
dando papo para a oferecida. Apesar de
tudo, tinha que admitir que a comida
estava uma delícia! Principalmente as
tortilhas, o pozole e as bebidas
mexicanas eram viciantes.
— Se eu fosse você ia com calma
investigadora, dizem que El Sotol tem o
efeito afrodisíaco a partir da segunda
doze, pelas as minhas contas essa é a
sexta. — Apontou para o copo vazio em
minhas mãos, tinha acabado de virar em
um gole só. Realmente estava sentindo
um calor fora do normal, mal conseguia
entender o que ele estava falando porque
estava hipnotizada demais olhando para
a boca sensual dele.
— Você tem uma boca bonita, atraente.
— Pensei alto, o estranho foi que não
tinha me arrependido nem um pouco de
ter dito. Era o álcool subindo na cabeça,
ele me olhou surpreso por uns instantes
antes de inclinar o corpo sobre a mesa
ficando bem próximo a mim.
— Você acha mesmo? — Perguntou com
a voz mais grossa que o normal, eu tinha
esquecido como Blade era bonito! E
naquele momento se ele se aproximasse
mais um pouco acho que perderia a
cabeça de vez e roubaria um beijo,
mesmo que levasse um tiro dele depois.
— O que está bebendo? — Mudei de
assunto, apontando para uma garrafa ao
lado do seu prato e sem pedir
autorização levei um gole a boca sem
tirar os olhos dos dele. Não sabia o que
estava acontecendo comigo, não
conseguia pensar antes de agir.
— Cuidado investigadora, isso não é
para garotas como você. —Tomou a
garrafa da minha mão e encostou as
costas na cadeira relaxando o corpo,
dando um gole na bebida sem perder o
contato visual.
— Garotas como eu? — Perguntei
nervosa.
— Virgens e ingênuas! — Deu outro
gole na bebida com um olhar desafiador,
metade da boca se puxando para cima
em um sorriso malicioso. O que tinha de
bonito, sobrava no quesito cretino.
— Você não me conhece, Blade. —
Arranquei a garrafa dele e bebi o resto
em um gole só, está certo que quase
morri engasgada sentindo a minha
garganta queimar, mas engoli tudo.
— Aposto deve estar com a garganta em
fogo, essa bebida foi feita para degustar
aos poucos, assim como certas coisas...
— Disse o cretino mais sexy do que
nunca, estava se divertindo às minhas
custas, as pessoas fazem isso comigo
desde que nasci.
— Como chama essa bebida? Vou
comprar mais dela quando chegar em
Los Angeles. — Menti descaradamente,
nunca mais queria ver outra garrafa
daquela na minha vida. Levei um
garfada do restante da minha comida que
estava mais da metade intacta no meu
prato, estava muito ansiosa ao lado dele.
— É a famosa Tequila, dizem que é
afrodisíaca também. — Fiquei surpresa
dele estar sendo tão ousado e sensual
comigo.
— Que música animada, acho que vou
dançar um pouco. — Levantei meio
tonta tropeçando nós próprios pés e fui
para o meio da pista dançar, nunca na
minha vida teria coragem de fazer aquilo
se estivesse sóbria. Mas faria qualquer
coisa para sumir de perto dele naquele
momento, tinha medo quando era
educado comigo daquela forma.
Era a música de um filme que eu gostava
muito "Lambada, a dança proibida",
fechei os olhos e deixei a batida e o
efeito do álcool me levarem. Mexendo o
quadril lentamente, como uma cobra
sorrateira. Estava me sentindo
totalmente livre e quente. O calor que
me consumia era tanto que tive que tive
que juntar o cabelo com o auxílio das
mãos ao topo da cabeça por uns
instantes, depois os soltei deixando uma
onda de cachos cair feito uma cascata
sobre o meu rosto. Ainda com os olhos
fechados comecei a imaginar como
queria ser tocada pelo Blade naquele
momento ao som daquela música
excitante, podia sentir os seus olhos
sobre mim e isso me instigava ainda
mais.
"Llorando se fue' quien algun dia solo
me hizo llorar
Llorando se fue' quien algun dia solo
me hizo llorar
Llorando estará al recordarse de un
amor
que algun dia no supo cuidar
Estara' llorando al recordarse de un
amor
que algun dia no supo cuidar
El recuerdo estara' con el donde quiera
que vaya
El recuerdo estara' por siempre alla'
donde quiera que vaya yo"
Danza, sol y mar, yo los guardare' en la
mirada
El amor hace perder y encontrar"....
Deslizei as mãos sobre os meus seios
por cima do vestido e os apertei, não
satisfeita as levei até a barra do vestido
e segurei com força como apoio para
continuar, sem me preocupar com mais
nada além de curtir o momento. Nisso
acho que uma parte das minhas coxas
ficou a mostra porque ouvi alguns
homens assobiando a minha volta, não
me importei com isso também, as pernas
eram minhas e eu mostrava para quem eu
quisesse.
— Não, mostra não! — Quando abri os
olhos o Blade estava parado em minha
frente, possesso! Segurando o meu braço
com força, dava para ver o brilho do
ódio em seus olhos que naquele
momento estava em um tom escuro
acinzentado com leve manchas azuis
perdidas naquela escuridão sem fim.
Como ele sabia o que eu estava
pensando? E porque ficou tão nervoso
só por causa de uma dança, isso não
fazia sentindo. Nem um pouco.
— Me solta! Você está me machucando,
vai embora daqui e me deixa dançar em
paz. — Gritei nervosa, tentando me
soltar inutilmente do aperto dele.
— Dançar? Esse ritmo deveria ser
proibido em cartório, todos os homens
deste lugar pararam para ver você e essa
sua apresentação de sexo explícito. —
Exclamou aos berros, quando olhei para
o lado, realmente, a maioria homens
tinha aberto uma roda no salão para me
verem dançar,
— Não exagera, Blade, só estava me
divertindo. — Minha vontade era
chorar, ele estava fazendo uma coisa
inocente parecer um crime. Mas fui forte
e segurei o choro tentando abaixar o
vestido, totalmente sem graça devido a
forma que os homens estavam olhando
para mim com uma expressão
assustadora.
— Agindo feito uma qualquer? Uma puta
barata de esquina. — Ele disse partindo
o meu coração, parecia que uma faca
tinha atravessado o meu peito de tanta
dor era quase insuportável. Tinha
largado tudo para vir com ele para
aquele lugar estranho cheio de gente
maluca, deixando para trás alguém que
gostava de mim de verdade. Para ser
ofendida daquela forma horrenda só por
causa de uma dança, não era justo
comigo.
— De vagabunda você entende não é
mesmo, Blade? Porque só esse tipo
mesmo para aturar a sua grosseria,
porque uma mulher decente jamais
aguentaria um cretino como você. — Sai
correndo meio tonta e chorando muito,
me sentindo a pior pessoa do mundo.
— Quem você pensa que é para falar
assim comigo garota? — Ele conseguiu
me alcançar já no meio do corredor do
hotel, agarrou meu pescoço e me
imprensou na parede me imobilizando
por completo quase me enforcando, com
certeza ficaria marcas depois.
— Pare de me chamar de garota, porra!
Tenho vinte e seis anos, policial
formada e cuido do meu próprio nariz.
Não sou mais uma menina, então pare de
me tratar como tal. — Gritei subitamente
irritada, ele me deixava fora de si.
— Mulher? Não me faça rir, Jesse, não
passa de uma garotinha mimada que vai
começar a chorar a qualquer momento
querendo o colo da mamãe. — Mesmo
nervosa a sensação do peito de Blade se
esfregando em mim era estonteante. Na
verdade, tudo nele era perfeito.
— Se você não tivesse atrapalhado o
meu encontro com o Miche talvez eu
teria me tornado uma mulher nos braços
dele essa noite, mas fui idiota o
suficiente para lagar um homem de
verdade para vir atrás de um moleque.
Porque para mim é isso o que é, Blade,
só tem tamanho e idade. — Quando vi já
tinha falado, só queria feri-lo como
havia me ferido antes.
— Não te obriguei a vir comigo, se
queria tanto estar nos braços dele, agora
porque veio? — Abaixou o tom dessa
vez, a voz quase em um sussurro. Virou
as costas para mim, não queria que eu
visse o seu rosto. Totalmente tonta e sem
condições de me manter de pé sozinha
deslizei as costas na parede até
encontrar o chão, o álcool resolveu
mostrar serviço logo naquele momento.
Não tinha mais noção de nada nem de
ninguém, só queria voltar para minha
casa e chorar até morrer.
— Por que eu sou uma idiota! Que
demorou a vida toda para gostar de
alguém e foi escolher logo um cretino,
arrogante e filho da puta sem coração.
Agora estou em outro país jogada no
chão, bêbada com o coração partido por
ele, em mil pedaços. — Tampei o rosto
com as mãos e comecei a chorar,
compulsivamente.
— Venha, vou te levar para o seu quarto.
— Me pegou no colo como se fosse um
bebê, o cuidado foi o mesmo. —
Escondi o meu rosto em seu peito
chorando baixinho sentindo cheiro
gostoso do seu perfume importado,
queria tanto odiá-lo, mas simplesmente
não conseguia. Me sentou na cama, com
um carinho que pensei que ele não tinha
com ninguém.
— Obrigada! — Agradeci com a voz
chorosa limpando o rosto, não conseguia
conter o choro.
— Quer tomar um banho frio? Vai se
sentir melhor. — Sentou próximo a mim,
até demais que o necessário.
— Não! Eu quero você, Blade! —Tentei
beijá-lo, não estava me importando com
mais nada. Nada me deixaria mais feliz
do que poder tocá-lo, sentir o calor do
seu corpo.
— Chega! Não acha que já se ofereceu o
suficiente por hoje? Não devia ter
bebido tanto, devia ter impedido você
de tomar toda aquela tequila. —
Segurava os meus braços impedido que
me aproximasse dele, como se estivesse
com nojo que o tocasse.
— Não me importo com o que pensa
sobre mim, atrapalhou o meu primeiro
beijo hoje e sua obrigação é reparar
isso. Não sei quando outro garoto vai
querer me beijar novamente, desde a
época da escola eles não olham para
mim, nunca fui a um baile, sabia?
Ninguém queria ser visto com a "Jesse,
a estranha", o primeiro encontro que tive
na vida foi com o Miche, acho que ele
gosta de mim de verdade. — Deitei na
cama sonolenta quase dormindo, mas
não antes de ouvir ele dizer antes de
sair.
— O meu também. — Blade confessou
com a voz suave, por um momento tive a
impressão que iria tocar o meu rosto,
mas não tinha mais forças para abrir os
olhos. — Com você, significa para mim
mais do que parece. — Completou antes
de sair praticamente correndo fechando
a porta atrás dele.
Acordei meio desnorteada com a minha
cabeça parecendo explodir a qualquer
momento, era o resultado infeliz de
tantas tequilas ingeridas na noite interior
em um momento de idiotice. Queria não
lembrar do que houve, mas infelizmente
lembrava de cada minuto. Como fui
boba! Me oferecer para o Blade daquela
forma, em que mundo um homem como
ele iria querer beijar uma garota
estranha feito eu? —Virei para o lado e
fiquei em posição fetal, toda encolhida
tentando engolir o choro. Tinha bebido
demais para provar ser quem não sou e
agora morreria de vergonha quando
encontrasse com ele, com certeza agora
tinha certeza que era de fato uma
qualquer. Depois chorei tudo o que
podia, pensando em como ridícula era a
minha vida, um verdadeiro fracasso.
Meu pai sempre teve razão, deveria ter
nascido morta que não faria falta para
ninguém. Tentei me levantar e acabei
caindo de cara no chão, ainda estava um
pouco tonta. Com muita dificuldade
fiquei de pé e fui tomar o meu banho.
Sem ter o que vestir me enrolei em uma
toalha ridiculamente rosa choque,
horrorosa. Estava penteando o cabelo
com os dedos quando ouvi batidas
insistentes na porta, tremi de medo
imaginando quem poderia ser tão cedo.
— Desculpe, te acordei? — Foi preciso
esfregar os meus olhos para acreditar
que o Blade estava realmente parado na
minha porta as cinco horas da manhã e
ainda por cima se desculpando por ter
me acordado. Esse tipo de gentileza não
combinava com ele, chegava a ser
assustador. Ele estava tão lindo! Usava a
mesma roupa da noite anterior, só que
sem a jaqueta preta de couro que tinha
me emprestado. Aquela maldita calça
jeans escuro moldando o belo corpo
bem composto por músculos bem
definidos, uma camisa branca justa de
mangas curtas exibindo os braços fortes,
uma parte muito sexy do peito estava a
mostra. Os cabelos bagunçados e uma
expressão levemente cansada, como se
não tivesse dormindo. Os olhos em um
azul profundo, duas safiras brilhando
como a luz da lua. Blade era o homem
mais bonito que tinha visto na vida, a
verdadeira imagem do pecado.
— Não precisa se desculpar, aconteceu
algum problema para vir aqui tão cedo?
E sobre ontem, me perdoe por ter
tentado beijar você. Estava sobre o
efeito do álcool, no momento esqueci
que não gosta que toquem em você,
ainda mais eu. —Abaixei o olhar
envergonhada, girando o anel no meu
dedo de um lado para o outro, fazia isso
quando ficava nervosa. Meu coração
estava partido, queria que a ressaca me
fizesse pelo menos esquecer a parte dele
fugindo quando tentei beija-lo.
— Não aconteceu nada, Jesse. — Disse
com aquela voz grossa dos infernos
atento aos movimentos que eu fazia com
o anel, que me fazia derreter com um
simples "oi". Enfiando as mãos no
bolso, por um minuto pensei que
estivesse envergonhado.
— Se não é para brigar comigo pelo que
fiz ontem, porque veio? —Perguntei
confusa o encarando-o fixamente.
Tentando não vacilar diante de tanta
beleza, Blade nunca esteve tão lindo
como naquele momento.
— Porque ontem fui embora deixando
para trás uma coisa que eu queria muito,
mas do jeito que estava bêbada pensei
que não seria justo com você acordar de
manhã sem lembrar do seu primeiro
beijo. O máximo que consegui esperar
foi até o dia clarear, espero que esteja
razoavelmente sóbria agora, porque
passei a noite totalmente embriagado, e
não tem nada a ver com álcool. — Disse
sério me avaliando de cima a baixo,
vindo em minha direção a passos firmes.
— Você me fez chorar a noite toda,
prometi para mim mesmo que seria a
última vez. — Estiquei o braço com a
mão aberta para impedir que se
aproximasse de mim.
— Eu prometi para mim mesmo que
nunca iria atrás de mulher nenhuma na
vida e olha onde estou. — Empurrou a
minha mão para o lado abrindo espaço
para sua passagem, estava mesmo
decidido. —Promessas vem e vão, não
deveria se apegar a essas coisas,
investigadora. — Em seu rosto havia
uma expressão divertida, não entendia o
porquê estava jogando comigo daquela
forma.
— Onde quer chegar com isso, Blade?
Não brinque comigo, você não me
suporta e tem nojo de mim. Me acha
sonsa, burra e odeia o meu cabelo. —
Que naquele momento estava quase
acabando de secar, estando mais alto do
que nunca como uma leoa no cio.
— Nunca ouviu dizer que quem
desdenha quer comprar? — Perguntou
levemente rude e passou os dedos entre
os meus cabelos segurando alguns
cachos.
— Nem você sabe porque está aqui,
Blade, vai embora e vamos esquecer o
que houve. — Estava com tanto medo do
que estava acontecendo, só queria fugir.
Já havia sido magoava por tanta gente na
vida, só queria me proteger do mundo de
agora em diante.
— Estou aqui por... — Ele respirou
fundo. — Estou aqui por causa disso. —
E assim Blade se aproximou mais de
mim me empurrado com cuidado até
achar a parede mais próxima, ele moveu
a mão direita para a parte de trás da
minha cabeça evitando que batesse com
força. Antes que eu pudesse protestar,
ele tomou o meu rosto entre suas mãos e
aproximou o dele até a ponta do seu
nariz tocar o meu. Um toque suave,
gentil, nada ameaçador. Isso me fez
sorrir como uma adolescente
apaixonada, nesse momento percebi que
Blade ficou um pouco perdido e fechou
os olhos encostando a testa na minha.
— Desde ontem, quando vi você com
aquele vestido branco curto. —Enfatizou
bastante a palavra "curto", dizendo-a
com uma certa raiva diria. — Estava
querendo fazer isso, mas tive que me
contentar apenas em imaginar. — Por um
momento pensei ter enlouquecido,
aquele não era o Blade, não mesmo. Só
podia ter fumado alguma droga
mexicana muito forte ou algo parecido.
— Blade! — O nome dela saiu da minha
boca plena de desejo, como se um
encantamento tivesse me dominado, não
conseguia pensar em mais nada. O meu
coração batia cada vez mais rápido
conforme os seus lábios se
aproximavam dos meus, naquele
momento teria o meu primeiro beijo e
seria com Blade Maldonado, o homem
por quem estava apaixonada e que
falava comigo através da Lua. Perdi
totalmente a capacidade de raciocinar e
me deixei levar pela emoção, pelo
momento. Então ele roçou os lábios nos
meus, eram quentes, úmidos e
surpreendente macios. Quando a língua
dele pediu passagem para dentro da
minha boca não sabia ao certo o que
fazer, experiente como era e bem mais
velho do que eu, pressionou o corpo
contra o meu em um gesto firme
apertando a minha cintura com força
para me passar confiança. No começo
nossas línguas se encontraram como
dois jovens se conhecendo timidamente,
tive que ficar nas pontas dos pés para
conseguir alcançá-lo. Para variar quase
desiquilibrei e cai, então envolveu os
braços em volta da minha cintura com
mais força ainda e elevou um pouco o
meu corpo para ficar da sua altura. Sem
querer mordi o seu lábio inferior, o que
resultou em um gemido alto e erótico da
parte dele. Me deixando totalmente
lisonjeada, por ser por minha causa.
Nunca me senti tão viva, desejada. A
minha mão estava apoiada em cima do
seu coração, que batia rápido e
descompassado como o de um beija-
flor. Em momento algum passou do
ponto comigo, poderia aproveitar que eu
estava apenas de toalha e forçar algo
mais, mas não o fez. Foi extremamente
educado e carinhoso, atencioso. Por um
momento pensei que não iria parar mais
e eu estava amando aquilo, poderia
beijá-lo pelo resto da minha vida.
Consequentemente, devido à falta de ar
fomos obrigados parar para respirar um
pouco, sem criar nenhum centímetro de
distância entre os nossos rostos.
— Eu sabia que iria me achar, Anjo... eu
sabia... — Alisou o meu rosto,
suspirado aliviado como se tivesse
encontrado uma coisa que estava
procurando há muito tempo.
CAPÍTULO 17
“Por favor me abrace...”
Havia se passado um certo tempo e eles
ainda mantinham os rostos colados um
ao outro. Blade que não suportava ser
tocado por ninguém, principalmente por
Jesse, simplesmente não conseguia tirar
as mãos dela, poderia abraçá-la pelo
resto da vida se fosse possível. Agira
conduzido pela emoção, era uma pessoa
fria que não sabia lidar com certos seus
sentimentos, nem sabia que os tinha na
verdade. Sentiu como se uma espada
atravessasse o seu peito quando a
investigadora gritou para quem quisesse
ouvir que preferia estar nos braços de
Michelangelo em vez de ter vindo com
ele, de fato a moça fora um pouco cruel
nas palavras, mas ele mereceu ouvir
cada uma delas e sabia disso. Blade
havia ofendido a integridade da moça de
forma planejada e cruel, só porque
estava com ciúmes em vê-la dançando
aquela música quente de forma tão
sensual e provocante. E ela estava tão
bonita naquele vestido branco, de fato a
mulher linda e exótica daquele lugar,
uma mistura de sexy com ingenuidade, o
desejo de qualquer homem, o dele. Não
conseguia fazer outra coisa além de
olhar para Jesse, e os outros homens
presentes também não e isso o irritou
profundamente. Deus! A forma como
tocava o próprio corpo mexendo feito
uma cascavel ameaçando o bote, ágil e
perigosa. Era a cena mais erótica que
vira em toda sua vida profana, repleta
de pecados, orgias e dinheiro sujo.
Maldonado era um demônio e não se
envergonhava nada disso e Jesse Carter
um anjo puro que aos vinte e seis anos
não havia dado nem o seu primeiro
beijo. Essa revelação surpreendeu o
bandido, ainda mais a parte que onde a
mesma citou que se não tivesse viajado
com ele teria perdido a virgindade dos
lábios e de tantas outras partes mais do
corpo, as quais preferiu nem imaginar.
Foi um martírio manter-se firme diante
das investidas de Jesse, tinha que fugir
dali o mais rápido que pudesse, para
bem longe dela. Em seu quarto passou a
noite andando de um lado para o outro
pensando em tudo, principalmente da
conversa que teve com Julius contra a
sua vontade quando estava arrumando
algumas peças de roupas dentro de uma
pequena bolsa para viajar para Tijuana
sozinho, esse era o seu plano inicial.
— Porque não leva a Jesse para te dar
uma força nisso, Blade? — Perguntou o
mexicano, entrando simplesmente no
quarto do comparsa sem ser chamado ou
bater na porta.
— Você ficou louco, Julius? Aquela
garota é um desastre ambulante, vai
matar nós dois antes de chegarmos na
metade do caminho. —Rosnou
Maldonado irritado, passou o dia todo
em um mau humor do cão e ninguém
sabia o porquê. Gritou com Bobbi por
mais de duas vezes sem nenhum motivo,
coisa muito rara de acontecer.
— Não é desse tipo de ajuda que estou
falando, Blade! E você sabe muito bem
disso. Se eu não tivesse sido banido do
México, eu iria no seu lugar e Estevão
não viveria um dia em solo espanhol
com aquela língua afiada dele. — Julius
revirou os olhos suspirando fundo,
lembrando como Estevão sempre
exagerava quando o assunto era
sinceridade. As pessoas exigem sempre
a verdade, mas são poucas que estão
preparadas para ouvi-la.
— Sempre me virei muito bem sozinho,
cuido de mim desde quando meus pais
morreram. Trazer aquele desastre atrás
de mim é séria idiotice, ela é uma louca.
Já reparou nas roupas dela? O cabelo
parece um bandido, vive sempre
armado. Simplesmente Blade falava
enquanto colocava em uma maleta
prateada duas pistolas, três granadas, um
silenciador, um punhal entre outros
acessórios que iria precisar na viagem.
— Nem todas as princesas usam
vestidos chiques, rosa e sapato de
cristal o tempo todo. Muitas estão por aí
usando o seu All Star velho e um jeans
solto, com seu fone no ouvido sendo
magoada por idiotas feito você, que não
sabe aproveitar quando Deus manda uma
coisa boa de verdade na porra dessa sua
vida profana de merda. — Julius foi
direto, sem um pingo de paciência com
ele.
Não era justo Blade julgar uma garota
maravilhosa como a Jesse por conta da
aparência. Fora que não aprovava certos
gostos do parceiro na vida íntima, ele
frequentava certo lugares que não
gostava nem de imaginar o que rolava lá
dentro. Era conhecido como purgatório
devido as orgias que rolavam e o sexo
selvagem e violento com mulheres
amarradas sendo espancadas durante a
relação sexual, e o pior era que elas
sentiam prazer com aquilo, assim como
quem dava os golpes.
— Eu não acredito em Deus, Julius, e se
existe um, porque Ele mandaria uma
coisa boa para um profanado de merda
como eu? Nasci para viver no pecado e
vou morrer nele. — A voz de Blade
soou mais triste do que irritada, era
difícil para ele admitir isso.
— Porque Deus é tão misericordioso
que se preocupa conosco mesmo quando
não merecemos, consegue ver bondade
nos lugares mais sombrios. Então manda
a luz, ou um Anjo da Guarda para
mostrar o caminho certo. — A palavra
anjo nocauteou Blade como um golpe
certeiro, era assim que ele via Jesse em
seus sonhos, com um ser celeste toda
vestida de branco emitindo luz em volta
de todo o corpo.
— Se essa luz a que está se referindo for
a Jesse, prefiro morrer na escuridão. —
Acabou de arrumar a maleta fechando-a
com ignorância, fazendo um barulho
ensurdecedor.
— Uma pena que pense assim, Blade,
sinto muito por isso. É melhor estar
preparado para uma oportunidade e não
ter nenhuma, do que ter uma
oportunidade, não estar preparado para
ela e perdê-la. Apesar de fingir que não
vê, Jesse é uma garota linda e especial e
não vai ficar sozinha por muito tempo
esperando que olhe para ela. Então vai
ser a luz na vida de outro alguém, afinal
a fila anda e o mundo não gira apenas
em torno de você. Boa viagem
Maldonado, se cuida! — Julius saiu
deixando um bandido cruel bem
pensativo, por mais que esforçasse para
ver algo em comum entre os dois não
conseguia, fora que se aproximar dela
seria colocar a sua segurança em perigo
e mesmo não admitindo tinha medo de
errar ou de se machucar. No entanto, as
feridas com o tempo se curam, mas as
oportunidades não voltam. Pela primeira
vez na vida resolveu arriscar, dar um
tiro no escuro. E como nada é
impossível para um coração cheio de
vontade, naquele momento estava em
Tijuana com Jesse Carter em seus
braços, após beijá-la com paixão, o
melhor beijo de sua vida na opinião
dele.
— Acabei de dar o meu primeiro beijo,
acho que estou sonhando. —Jesse
pensou alto sorrindo apaixonada, não
conseguia acreditar que aquilo havia
acontecido, ainda mais com quem.
— Não está! — Mordeu de leve o lábio
inferior de Jesse para provar o que tinha
acabado de falar, resultando em um
gemido agudo da parte da moça um,
misto de dor com prazer que fez o
bandido se perguntar onde uma puritana
apendeu a fazer aquilo, ou melhor com
quem? Ou então ela aprendia rápido, se
lembraria disso mais tarde.
— Por favor, Blade, não brinque
comigo! — Então ela o abraçou,
escondendo o rosto em seu peito
másculo com vontade de chorar.
— Não gosto de brincar com ninguém,
nem mesmo quando criança. — Aquela
revelação fez o coração de Jesse
apertar, em sua mente veio a imagem de
um garotinho triste sentado sozinho em
um banco velho de madeira no jardim
chorando a morte dos pais. Passando
uma infância solitária tendo que se virar
sozinho, sem amor e carinho. E o pior
disso tudo era que o pai dela era um dos
culpados por ter destruído a vida do
homem que ela amava, só não sabia até
onde o Major estava envolvido nisso
tudo, mas iria descobrir em breve.
— Que bom, porque não aguentaria se
estivesse me fazendo de boba. —
Aconchegou-se em seus braços, se
sentia incrivelmente protegida dentro
deles.
— Não preciso fazer, já e de natureza.
— Disse muito sério, Jesse não ficou
chateada pela ofensa, achou foi é graça.
— Preciso me preocupar com o Anão da
Branca de Neve? — Perguntou Blade
com o tom sombrio, mas não zangado.
Então, delicadamente levantou o rosto
de Jesse para que olhasse nos olhos dele
quando respondesse.
— Não o chame mais assim, o nome
dele é Michelangelo e eu gosto muito
dele. — Se zangou com Blade, não
gostava quando debochava da altura do
barman daquela forma maldosa.
— Gosta? — O bandido arqueou uma
sobrancelha ligeiramente desconfiado,
não gostando nem um pouco do rumo
daquela conversa.
— Se eu disser que não gosto dele
estaria mentindo, mas não chega nem
perto do que sinto quando estou com
você. Não pelo o que é, mas sim pelo o
que eu sou quando estou ao seu lado. —
Blade relaxou os músculos, aliviado por
ouvir aquilo.
— Ótimo! Porque se voltar a vê-lo, vou
arrancar o coração dele e comer no
jantar e não pense que eu não faria isso,
porque faria sim. – Disse friamente a
fitando com os olhos escuros e
assustadores como uma noite gelada no
Alasca.
— Eu sou uma pessoa livre, Blade, nem
temos nada ainda e já vem me proibindo
de conversar com os meus amigos.
— Amigos? Então pelo jeito vai ser uma
chacina. Vai ser até bom, porque acabou
de chegar uma pistola de longa distância
que encomendei da Alemanha e eu estou
louco para estrear. Fora que se fosse de
fato amiga dele não teria se arrumando
tanto para sair com ele, nem teria
deixado tentar enfiar a maldita língua
dentro da sua boca. — Disse Blade
irritado, mas animado com a ideia da
chacina.
— Prefiro não falar nada, não quero
estragar esse momento maravilhoso. —
Jesse achou melhor fingir não ter ouvido
aquilo, caso contrário seria o início da
terceira guerra mundial. Então fechou os
olhos e se deliciou com a sensação
maravilhosa do calor do corpo dele tão
próximo ao seu, não sabendo ela que
aquela era a primeira vez que
Maldonado abraçava alguém. Se ele
soubesse que era tão bom teria praticado
o ato mais vezes, os abraços foram
feitos para quando as palavras deixam a
desejar.
— Espero que tenha guardado bem cada
palavra, como eu disse não sou homem
de brincar com nada. — A soltou de
forma rude empurrando-a alguns bons
centímetros para longe dele, como se
não quisesse que Jesse o tocasse mais
naquele momento. — Agora descanse
um pouco, porque vamos sair as oito. —
Completou curto e grosso como sempre,
virando as costas caminhado na direção
da porta sem se despedir, fazendo a
investigadora pensar que o impetuoso
Blade Maldonado estava de volta, firme
e forte.
— Não seria melhor aproveitar que
ainda está escuro e irmos de uma vez
invadir o esconderijo do filho do
inimigo do seu pai? Sob a luz do dia
pode ser perigoso, temos que usar o que
for possível ao nosso favor. —Blade
parou no vão da porta e sorriu meio de
lado surpreso, uma pena ela não ter
visto, foi uma cena mortalmente sexy. —
“ Então ela é mais esperta do que
parece. ”
— Não vamos mexer com isso por hoje,
vou levar você para o seu primeiro
encontro de verdade. — Jesse
literalmente congelou, mesmo de um
jeito mandão estava a convidando para
sair. Não foi despercebido aos ouvidos
da jovem o excesso de ênfase na palavra
“primeiro”, descartando totalmente
qualquer encontro que tenha vindo antes
dele.
Sem dar tempo de Carter dizer mais
nada Blade foi embora, passaram-se
horas e a jovem continuava sentada na
mesma posição sobre a cama totalmente
sem chão enrolada na toalha refletindo
em tudo o que estava acontecendo. O
homem fora da lei deixaria de resolver
algo importante para ele apenas para
levá-la para sair, isso era tão lindo,
perfeito. Assim como tudo na pequena
cidade de Tijuana. o hotel onde se
encontravam hospedados era simples,
mas bem arrumado e esbanjando cores
fortes por toda parte. As paredes
coloridas cada uma de um tom diferente,
entre vermelho, amarelo, verde e azul
profundo. Uma pequena cama de solteiro
no meio, uma cômoda antiga no canto e
um banheiro minúsculo, pelo menos a
água era quente. Faltavam dez minutos
para o horário combinado e ela ainda
estava lá, perdida em seus próprios
pensamentos, confusa. Onde Blade iria
levá-la? Como iria agir em um encontro
com ele? Ou o que vestiria sendo que
não havia trazido nada além da roupa do
corpo, sua câmera velha e uma pequena
bolsa à tiracolo da Nayla com alguns
utensílios de maquiagem da estilista. Foi
tirada do transe por batidas na porta,
abriu só um pouco para ver quem era.
— Tudo bem, sou eu. — Estremeceu ao
perceber de quem se tratava, então abriu
a porta por completo para que Blade
entrasse.
— Bom dia! — Jesse sorriu timidamente
para ele que segurava alguma coisa na
mão esquerda, puxando a toalha para
tampar as pernas de fora totalmente sem
jeito diante dele. Blade estava lindo
como de costume, de banho tomado
trajando seu habitual jeans surrado e
uma camisa branca fina de mangas
longas moldando os músculos, os
cabelos molhados e um perfume que
ficaria cheirando uns quinze minutos no
quarto depois que fosse embora.
— Vista isso. — Blade disse rude
jogando o que estava segurando
praticamente na cara dela, sem nem
responder o bom dia carinhoso da moça.
— Onde conseguiu esse vestido? —
Jesse perguntou desconfiada segurando a
peça, era um azul escuro com flores
brancas, modelo simples de alcinhas
finas na altura do joelho com algumas
pregas na cintura dando um efeito ainda
mais rodado para a saia. Não havia
etiqueta ou algum vestígio que o vestido
havia sido comprado, apenas um cheiro
gostoso de amaciante como se estivesse
sido acabado de lavar e havia sido
colocado no varal para secar, na
verdade ainda estava um pouco úmido.
— Por aí. — Respondeu com desdém,
cruzando os braços sem paciência. Não
apreciava a mania irritante dela de
querer saber o porquê de tudo, era só
vestir o vestido e pronto.
— Por aí onde, Blade Maldonado? Até
porque não deve ter nenhuma loja aberta
em pleno domingo.
— Pare com essa mania irritante de
querer saber o porquê de tudo, não sabe
o trabalho que tive para conseguir isso.
Vista essa porra logo e pare de me
amolar, vou te esperar lá em baixo e não
demore mais de quinze minutos. —
Desceu resmungando alguns palavrões
irritado, se segurando para não brigar
mais com ela.
Jesse fez o que ele mandou, um pouco
chateada com a grosseria desnecessária
dele para com ela, iria demorar um
pouco para se acostumar com o jeito
rude de Blade. O vestido ficara uma
graça nela, mais curto do que ele pensou
quando escolheu entre as roupas de um
varal que achou nas proximidades.
Prendeu o cabelo para o alto com um
palito que achou perdido na gaveta da
penteadeira deixando alguns cachos
soltos, passou um pouco do pó da Nayla
e um leve toque de batons nude nos
lábios, nada de muito exagero. Calçou
as sapatilhas salmão que a mãe lhe
presenteou, e desceu às pressas com a
câmera no pescoço e a bolsa debaixo do
braço. Já vira Blade perdendo a
paciência muitas vezes, e não estava a
fim de presenciar tal espetáculo
novamente.
— Porque prendeu o cabelo? — Foi a
primeira coisa que Maldonado
perguntou assim que pós os olhos sobre
Jesse, como um gavião vigiando a presa.
Mas certo que acertara na escolha do
vestido, parecia ter sido feito para ela.
— Porque está perguntando se não gosta
dele? — Usou da mesma grosseria dele
de instantes atrás, as vezes é bom fazer o
outro provar do próprio veneno.
— Aprendi a gostar. — Se aproximou
dela fazendo charme a desarmando por
completo, gostoso era pouco para
definir aquele homem. Sem pedir se
podia tirou o palito de seu cabelo
fazendo os cachos caírem como uma
cascata em dia de chuva, moldando o
delicado rosto levemente maquiado de
Jesse, detalhe que não passou
despercebido por Blade. — E de todo o
resto também, afinal é o conjunto dos
detalhes que faz a obra ser perfeita. —
Concluiu olhando para ela de cima a
baixo como se tivesse avaliando o
produto, oferecendo uma piscadela para
o lado de Carter, quase a matando do
coração diante de tanta beleza junta.
— Onde vamos? — Jesse perguntou
levemente corada, vivia envergonhava
quando ficava perto dele, sentia-se
intimidada.
— Se eu quisesse que soubesse, já teria
dito. — Disse mal-educado e saiu
andando rápido até um beco mais
próximo, dentro dele debaixo de uma
lona havia uma moto preta com amarelo
turbinada pelo Li com alguns aparelhos
de alta tecnologia e a potência de mais
de quatrocentos cavalos, uma verdadeira
máquina sobre duas rodas. Pendurados
nela tinha dois capacetes, ele em um
raro momento de cavalheirismo ajudou
Jesse a colocar o dela ajeitando com
cuidado para não a machucar.
— Essa maravilha é sua? — Perguntou
Jesse inocente assim que subiu na moto,
sem saber se deveria ou não segurar na
cintura dele. Nunca sabia ao certo
quando tinha autorização para tocar
nele, Blade era muito instável.
— Segure firme em mim, se cair vai
ficar para trás. E se abrir essa boca para
fazer mais uma pergunta seja ela qual for
eu mesmo vou arrumar uma forma de te
calar, entendeu bem? — Jesse apenas
acenou com a cabeça para demostrar
que tinha entendido o recado,
envolvendo os braços em volta da
cintura dele com firmeza.
Blade corria tanto que realmente Carter
teria que ser esperta para não cair, mas a
sensação da adrenalina subindo
correndo em suas veias era maravilhosa.
Depois de mais de uma hora na estrada
chegaram a um estabelecimento amplo
em um lugar mais afastado, um clube
cinco estrelas de tiro clandestino para
bandidos. A investigadora literalmente
pirou quanto entrou no lugar, feito uma
criança em uma loja de doces. Nunca
conseguiu apreender muita coisa nos
cursos oferecidos pela Polícia, agora
teria a chance de aprender com quem
entendia do assunto. Em um tour
detalhado pela loja de armas, onde
Maldonado explicara para ela sobre
cada modelo e potência de cada uma das
armas, a investigadora ouvia tudo
atentamente sem deixar passar uma
vírgula. Quase morreu de vergonha
quando encostou na prateleira e
derrubou uma estante inteira de vidro do
chão, o dono ficou tão encantado com a
graciosidade da moça ao se desculpar
que não cobrou o prejuízo. Mas Blade
pagou cada centavo, não queria ela
devendo favores para ninguém, muito
menos a outro homem. Além de pagar
presenteou Jesse com a arma que ela
escolhesse, que foi um 38KM. Na
parede da loja havia uma pintura antiga
de um Collt, idêntica à que o pai do
Blade segurava na foto do quarto secreto
dele. O vendedor explicou que aquela
arma fazia parte de uma lenda
fantasiosa, e que não existia de fato, uma
história de pescador. Não sabendo o
pobre homem que o herdeiro dela estava
bem na frente dele e que só não estava
na mão do mesmo porque o pai dela
havia se apoderado do objeto
provavelmente de forma ilícita. Mas
Jesse resolveria isso também,
devolveria para o dono na primeira
oportunidade que tivesse e contaria que
era filha de quem a roubou. Na hora de
atirar nos alvos deu foi e graça, a
Investigadora acertava em qualquer
lugar menos onde devia, então Blade
sem muita paciência resolveu ensinar
para moça como é que se faz.
— Primeiro passo, nunca abaixe a
guarda para o alvo e mantenha os braços
bem esticados segurando a arma com
firmeza. Concerte a postura e deixe um
pé uns vinte centímetros mais para trás
levemente elevado para servir como
amortecedor para o impacto quando
puxar o gatilho. — Explicou Blade,
detalhadamente.
— Assim né? Acho que estou indo bem.
— Comentou Jesse, toda torta igual a um
anzol. Parecendo o Corcunda de Notre
Dame. — O bandido suspirou nervoso,
caminhando até ela alinhando o seu
corpo atrás do dela, colado. A jovem se
arrepiou toda com o contato próximo,
um calafrio subiu pela nuca até chegar
nas bochechas que coraram por conta da
sua libido gritar em êxtase.
— Com frio, investigadora? —
Perguntou Blade com a voz rouca,
incrivelmente sexy chegando a boca ao
pé do ouvido da jovem.
— Um pou...co. — Jesse respondeu
gaguejando.
— Engraçado, o clima desse país é
naturalmente quente, muito quente. —
Blade disse aproximando-se mais e
mais, como se fossem um só. Jesse se
perguntou se o que estava cutucando a
bunda dela era uma arma ou se ele
estava mesmo literalmente “armado”.
— Sou frienta. — Mentiu e ele sabia
disso. Jesse podia sentir o sorrisinho
cínico em seu rosto, gostou de saber que
o corpo dela reagia ao toque dele. Como
vingança ela rebolou se esfregando na
“arma” dele, o safado a puxou pela a
cintura para mais perto ainda, então
Jesse notou que ele estava, sim, armado
de verdade, em ponto de bala.
— Pare de tirar a minha concentração,
ficar essa bunda em mim não está
ajudando. — Resmungou Blade
divertido.
— Tem tirado a minha desde que
cheguei, chumbo trocado não dói. —
Empinou a bunda para trás, fazendo-o
gemer de prazer.
“ Então ela não era mesmo tão santa
como parecia, sabia provocar e muito
bem. ”
— Ok! Eu entendi o recado, agora
vamos focar nisso. Mantenha o olhar
para frente, como vai acertar um alvo
que não vê? — Ergueu a cabeça de
Jesse para que olhasse para um boneco
de papel alguns metros longes dela, ela
assim como ele estava com óculos de
plástico para protegerem os olhos e fone
nos ouvidos para se resguardarem do
barulho dos tiros. — Agora acerte a
postura e tente relaxar, está muito tensa.
— Se apoderou das curvas da moça
como se estivesse segurando um violino.
— Agora deixe os braços totalmente
eretos e segure com firmeza. — A
palavra “ereto” trouxe os pensamentos
ínclitos a mente de Jesse novamente, ele
parecia estar fazendo aquilo de
propósito com ela, e estava. Não
sabendo ela que na dele passavam
coisas bem piores, dignas de uma
bofetada bem dada. Bandidos jogam
baixo e Blade era o melhor nisso.
— Acho que não nasci para fazer isso,
Blade, sou muito desajeitada. — A
investigadora desanimou, estava muito
nervosa com as investidas camufladas
dele, um calor fora do normal.
— Alguma coisa me diz que aprende
rápido investigadora, vamos fazer até
você pegar o jeito da coisa. Depois vai
escorregar pelas suas mãos
naturalmente, chegando ao ponto de
arrasar comigo de olhos fechados. Era
incrível como tudo o que ele falava a
fazia pensar em sexo e olha que Jesse
mal fazia ideia do significado dessa
palavra. Definitivamente não! Ele não
estava falando da arma.
— Você acredita mesmo que sou capaz,
Blade? — Jesse perguntou insegura
encolhendo os ombros, como sempre
fazia quando queria se esconder.
— Você é capaz de fazer qualquer coisa,
Jesse, só precisa acreditar nisso. —
Carter suspirou, quase teve o seu
primeiro orgasmo só de ouvir o nome
dela naquela voz grossa dos infernos,
erótica e sexy.
— Obrigada! — A jovem agradeceu
sorrindo confiante para ele, respirou
fundo e atirou. Pela primeira vez na vida
Jesse Carter acertou em cheio bem no
meio do alvo, foi preciso fechar os
olhos e abrir por duas vezes para ter
certeza que aquilo era mesmo verdade.
— Eu acertei! Eu acerteiiiii. — Ela
pulava de um lado para o outro feito
uma louca que acabara de fugir do
manicômio, sem vergonha de mostrar o
quanto estava feliz. Abraçou um senhor
que ia passando e beijou o rosto dele,
que foi embora contagiado com a alegria
dela. Depois começou a fazer uma
dancinha estranha, a da vitória. — “
Ela era uma garota esperta, só
precisava que alguém acreditasse nela.

Blade estava encostado na parede
olhando para Jesse em seu pequeno
surto de felicidade, estava com os
braços cruzados totalmente hipnotizado
com aquela cena encantadora e
apaixonante.
Passaram o dia todo no clube de tiro,
depois que Jesse acertou o primeiro tiro
não quis parar mais de treinar. Depois
que almoçaram na praça de alimentação
a jovem não falava em outra coisa além
de como estava feliz de ter aprendido a
atirar. Continuou treinando na parte da
tarde enquanto Maldonado fazia algumas
ligações importantes de longe sem tirar
os olhos dela.
— Então, gostou do nosso seu primeiro
encontro? — Perguntou Blade olhando
para ela pelo canto do olho assim que
chegaram em frente a porta do quarto
dela no hotel. Jesse tinha saído do clube
saltitando como a Chapeuzinho
Vermelho com sua cesta pela a floresta.
Já era noite quando conseguiu tirá-la de
lá, por ela passaria o resto da noite ali.
Mas infelizmente não podiam, tinham
que acordar cedo para pôr em ação o
que realmente haviam vindo fazer em
Tijuana, invadir o esconderijo do filho
do Carlo Castelli.
— Muito obrigada! Hoje foi o dia mais
feliz da minha vida, ainda mais porque
passei com você. — Respondeu Jesse
radiante como uma estrela cadente, o
brilho era o mesmo.
“ Era tão fácil fazê-la feliz, ela é
daquelas que ainda se apaixona por
flores e cartas. ”
— Idem. — Maldonado exclamou baixo,
mas não o suficiente para que Jesse não
ouvisse e sorrisse diante da declaração
dele.
— Boa noite, Blade, vou sonhar com
você! — Na verdade ela queria ter
completado “ não vá sem antes me
presentear com o meu segundo beijo”,
mas ficou com medo dele chamá-la de
oferecida novamente.
— Boa noite, e tente sonhar com coisas
boas, não comigo. — Sem perceber
Blade tocou os lábios dela com os seus
por alguns segundos, segurando o rosto
dela com as mãos. Algo tão natural e
familiar que ele foi embora sem
perceber o impacto profundo que aquele
pequeno gesto significou para ela,
queria tê-la beijado como da última vez,
mas não queria forçar a barra. Jesse
fechou a porta encostado as costas atrás
dela com os olhos fechados levando as
mãos sobre o peito sentindo o coração
palpitar apaixonado. Mas a felicidade
durou pouco tempo, infelizmente. A
primeira coisa diferente que notou no
quarto foi uma folha branca sobre a
cama escrito um recado com letras
recortadas de revista, sobre ele havia
uma rosa vermelho sangue.
“Como foi o passeio dos pombinhos?
Eu sei quem você é Jesse Carter, agora,
imagina como o Blade vai ficar quando
souber que é filha do homem que
participou da emboscada que mandou
os pais dele para o inferno? Mas não
se preocupe porque o seu segredo está
guardado comigo, por enquanto. Como
tenho um bom coração também deixei
alguns presentinhos no quarto do seu
namoradinho, entre eles uma ficha com
todos os nomes dos policias envolvidos
na emboscada, e adivinha qual é o
primeiro da lista? Major Will Carter,
diga adeus para o seu papai. A essa
altura já estou longe sem deixar nem
rastro meu para trás, destruí o meu
esconderijo em mil pedaços assim
como farei com o último Maldonado e
tudo e todos que são importantes para
ele. ”
Ass.
Matteo C.
Ps.: Filho de Carlo Castelli.
Jesse tremia de cima a baixo segurando
aquela folha, em um rompante voltou a
si e saiu correndo o mais rápido que
pode até o quarto do Blade. Paralisou ao
chegar da porta e vê-lo sentado no chão
com as mãos no rosto em choque,
totalmente entregue. As paredes repletas
de fotos coladas em ordem do momento
em que os pais foram detidos na
emboscada depois vendados e
colocados de joelho, e se beijando
minutos antes de serem mortos
estraçalhados por tiros. Eram tantos
policias atirando ao mesmo tempo que
provavelmente o legista não deveria
nem conseguido contar ao certo quantos
disparos foram, parecia estar em uma
guerra lutando pelo país. E o pior,
mesmo mais jovem Jesse reconheceu
perfeitamente o pai entre os atiradores
com um sorriso maldoso no rosto, como
se sentisse orgulho de estar participando
daquilo. Agora era fato! O Major
participara mesmo do covarde
assassinato dos Maldonado. A equipe de
policias de plantão naquele dia havia
destorcido os fatos dizendo que foram
mortos porque reagiram, tudo mentira
para ganhar fama de heróis em cima na
morte de duas pessoas que deveriam ter
sido presas e julgadas corretamente
pelos seus crimes.
— Por favor, me abrace! — Implorou
Blade.
Com os olhos vermelhos assim que
notou a presença dela no quarto, abriu
os braços para que Jesse se aninhasse
dentro deles, a dor era grande demais.
Ela correu até ele e atendeu o seu
pedido, molhando o peito do bandido
com as lágrimas que caíam em silêncio
sem parar. O último Maldonado não
chorou, apenas a abraçou o mais forte
que pode olhando para o envelope sobre
a cama com os nomes dos policias
envolvidos com sede de vingança, só o
que ele não sabia que a única pessoa
que seria capaz de confortá-lo naquele
momento era a filha de um deles.
CAPÍTULO 18
"Quando um homem ama uma mulher."
Jesse chorou nos braços do último dos
Maldonado até adormecer, o próprio,
mesmo com o coração em frangalhos
não soltou uma lágrima sequer. E isso
era realmente preocupante, afinal
aqueles que não demostram a dor são os
que mais a sentem. Blade olhava para
Jesse dormindo serenamente pensando
no que Julius dissera sobre Deus ter
mandando um Anjo para trazer luz a sua
vida sombria, um milagre. Ela era tão
pequena e frágil, mas tinha um peso
imenso e esmagador sobre ele e isso o
assustava muito. Jesse representava a
palavra sensível em todos os sentidos,
desde a estatura física baixa e os traços
delicados à personalidade de uma
adolescente no colegial, principalmente
o coração puro de uma criança. Mas ao
mesmo tempo era sexy, do jeito dela,
mas era, irresistível às vezes. Em outros
tempos o terrível bandido teria pegado
aquela lista contendo os assassinos dos
pais e eliminado todos em uma fração de
segundos, mas por hora Blade não
importava onde estava naquele
momento, desde que fosse com ela em
seus braços. Jesse parecia fazer tudo ser
mais fácil e mais suportável. Dormindo
assim tão tranquila parecia de fato um
anjo, era como o encontro do inferno
com o céu.
— Oi! — Disse Jesse ao acordar
sonolenta, abrindo e fechando os olhos
lentamente com os cílios longos. Estava
entorpecida sentindo a ponta do dedo
indicador de Blade contornar os traços
delicados do seu rosto, da mesma forma
que fizera na noite que estava delirando
de febre.
— Você me assusta demais, Jesse. —
Revelou Blade olhando no fundo dos
olhos dela. No momento contornava os
lábios grossos da investigadora em
formato de maçã, o fruto proibido. Ele a
via assim, como algo que desejava, mas
não podia ter.
— Isso não faz sentido, Blade. Pode me
destruir com um sopro se quiser, em um
piscar de olhos. A maioria das pessoas
me acha burra, e desastrada. — Carter
se remexeu preguiçosamente dentro dos
braços fortes repletos de tatuagens assim
como o peitoral másculo sem camisa, a
segurava com firmeza.
— Mostre a eles que não é, muitos
espertos tentaram me matar e estão
debaixo de sete palmos agora. Se existe
alguém que pode acabar comigo esse
alguém é você, investigadora. — Os
olhos de Blade pairaram sobre a boca
da jovem, que mordeu os lábios
involuntariamente ansiando por um
beijo.
— O que quer dizer com isso? —
Perguntou Jesse com o cenho franzido,
confusa.
— O que eu disse sobre fazer mais
perguntas, Pequena? — Seu tom não era
zangado, nem ameaçador.
— Que iria me calar. — Mas Jesse se
assustou assim mesmo, nunca dava para
saber o que aquele homem estava
pensando. Como instinto se encolheu
toda para se proteger dele.
— E é isso que vou fazer agora mesmo.
— Então Blade a beijou, não como da
primeira vez. Foi mais quente, cheio de
paixão. Ele podia sentir a doçura de
Jesse, ao mesmo tempo quente e intenso.
A jovem quase morreu quando Blade
interrompeu o beijo para olhar para ela
embriagado de prazer.
— Não consigo tirar as minhas mãos de
você, acho que me enfeitiçou. —
Revelou o bandido sendo sincero.
— Então não as tire. — A voz dela saiu
sexy e convidativa.
— Não me provoque, Pequena! — Ele
murmurou essas palavras com a boca
encostada na pele dela, a barba de
alguns dias fazendo cócegas. Blade
desceu pela garganta e beijou a
cavidade da sua clavícula e ela arqueou
para trás desejando que Blade
continuasse. E o bandido continuou o
caminho vagarosamente beijando no V
formado pelos seus seios, Jesse estava a
ponto de enlouquecer a qualquer
momento.
— Oh! Blade, não pare. Ela implorou.
— Eu quero provar você inteira,
lentamente. — Depositou um beijo sobre
o seio esquerdo dela, com o bico duro
debaixo do tecido fino do vestido. —
Mas não aqui, nem agora. — Ele a
abraçou, escondendo o rosto na curva do
pescoço da jovem debaixo de uma
montoeira de cachos rebeldes. Jesse
entendeu o recado e deu logo um jeito de
resolver o problema.
— Feche os olhos querido, não quero
que sofra mais. — Jesse pediu
docemente levando a mão no rosto de
Blade acariciando-o com carinho, ele
fechou olhos com força sentindo o
coração apertando cada vez mais dentro
do peito.
Em um pulo Jesse levantou e começou a
retirar aquelas fotografias horríveis da
parede segurando na pontinha para
proteger as digitais que poderia ter
nelas, as colocou dentro do envelope
junto com os nomes dos Policiais
corruptos, uma por uma. Tirando forças
não sabia de onde, sofrendo como se
fosse a sua mãe que estivesse sido
assassinada covardemente.
— Pode abrir agora. — Quando Blade
abriu os olhos se deparou com a Jesse
de joelhos diante dele com um sorriso
doce no rosto e os olhos cheio de amor.
Era óbvio que pertenciam a mundos
diferentes, talvez ele fosse a dor e ela a
cura. Dois caminhos tortos que se
encontraram por acaso ou por
intervenção divina. Naquele momento
percebeu que tinham que parar naquele
ali enquanto ainda seria fácil. Mas a
verdade era que Blade tinha a sensação
de que já era tarde, fora laçado em um
nó cego.
— Oi! — Disse Blade a observando
meio abobalhado, era o ser mais
encantador que vira na vida. — "Como
ela fazia aquilo? Fazer a dor ir embora
só com um sorriso, nem lembrava mais
o porquê estava nervoso."
— Vamos para a casa agora? Perdemos
a batalha, mas não a guerra. — A voz
dela fora confiante, tanto que contagiou
até quem nunca teve esperanças de nada
na vida. Blade esperava sempre o pior
de tudo.
Quando chegaram na casa de Blade,
estavam todos sentados na sala
esperando por eles. Inclusive uma
mulher muito bonita que não pareceu
muito estranha para Jesse sentada no
sofá ao lado de Bobbi e Julius, Li estava
sentado no chão e Estevão de pé de
braços cruzados próximo a janela. A
desconhecida trajava um vestido rosa
choque exageradamente curto, não que
Jesse tivesse algum preconceito com
isso, com umas pernas bonitas daquelas
tinha mais é que mostrar mesmo, pensou
a jovem. O pior foi quando a tal mulher
abriu um sorriso enorme ao ver Blade,
levantou e veio rebolando com uma
bunda enorme e os seios maiores ainda
explodindo para fora do decote. Era uma
morena, no mínimo uns quinze
centímetros maiores do que Jesse,
cabelos longos e lisos pouco abaixo da
cintura e olhos azuis da cor do mar, uma
pele de pêssego muito bem maquiada.
Agora a investigadora se lembrava dela,
era a mesma mulher que fez o escândalo
no departamento para distrair os
policias enquanto Carter pegava a pasta
do caso dos Maldonado.
— Quando tempo, tigrão, que saudades.
— A mulher cumprimentou Blade com
um beijo na boca, apenas um selinho,
mas o suficiente para deixá-la com
ciúmes. Para a surpresa de Jesse ele
não a afastou ou a impediu de tocar nele
como na maioria das vezes fazia com
ela, ao contrário deixou ser beijado sem
se importar com quem estava vendo.
Isso foi o que mais a magoou, muito
mesmo. Blade disse que não estava
brincando com ela, mas pelo jeito estava
o tempo todo.
— Como vai, Sara? Senti saudades
também. — O que? Além de beijá-la
estava sendo educado com ela também,
isso foi a gota d'agua para Jesse. A
investigadora ficou tão nervosa que
queria arrancar os olhos dele e deixá-lo
cego, para sempre.
— E ela, quem é? — A vampira
sugadora de homens dos outros
perguntou apontando para Jesse a
reparando de cima a baixo, curiosa.
" Eu sou quase namorada dele, então
fique longe sua oferecida."
— Só uma conhecida, está nos ajudando
no caso. — Jesse lançou os olhos na
direção dele como uma flecha, como
assim, só uma conhecida? Ele estava
brincando com ela esse tempo todo
mesmo, usou quando precisou e agora
que tinha chegando algo melhor estava a
descartando.
— Eu sou Sara, você deve ser Jesse, a
Policial atrapalhada. Os meninos me
falaram muito bem de você, inclusive o
Julius. — A investigadora olhou para o
mexicano que dizia "relaxa ela é legal",
então Carter pegou na mão dela e tentou
ser a mais educada possível.
— Prazer em te conhecer Sara, e sim eu
sou a policial atrapalhada e uma grande
idiota que insiste em acreditar nas
pessoas. — Sorriu amarelo, tentando
conter a raiva.
— Bem que me falaram que você é
engraçada, adoro pessoas com senso de
humor já vi que vamos nos dar muito
bem. — Hora ou outra Blade passava os
olhos sobre Jesse, não entendia o porquê
estava sendo tão seca com a Sara que
estava sendo tão simpática com ela.
— Vamos sim, pelo visto temos o
mesmo gosto para algumas "coisas"
também. — Ironizou Jesse, ganhando um
olhar desaprovador de Blade. Além de
cretino, era cínico também. Estava tão
irritada, queria arrancar cada fio dos
cabelos lindos e sedosos da Sara e
deixá-la careca. Porque ela tinha que ser
tão perfeita e alta, e se equilibrar tão
bem em cima daqueles saltos assassinos,
exibindo aquele corpo perfeito?
— Boa noite, irmão, senti a falta do
senhor. — Bobbi veio ao encontro do
irmão e o abraçou. Mas desta vez teve
uma surpresa, Blade correspondera o
abraço. Envolvendo os braços em volta
do caçula com força, afagando os
cabelos castanhos claro do jovem
carinhosamente.
— Eu também, Mascote, você cresceu
nesse final de semana. — Se Jesse não
estivesse tão irritada com Blade teria
rido da forma dele tratar o irmão como
se fosse um bebê, era de admirar que
Bobbi não virou um rapaz mimado.
— Eu te amo tanto Blade, você e os
meus irmãos são a minha vida! – Nesse
momento o coração do bandido doeu,
ele pensou que se a namorada de Bobbi
era tão importante como Jesse estava se
tornando em sua vida não era justo com
o garoto obrigá-lo a ficar longe da
garota que amava.
— E a sua namorada, filho? Porque não
liga para ela e pergunta como está, acho
que devem ter muitas coisas para
colocarem em dia.—Enfiou a mão no
bolso e entregou o celular para ele,
Bobbi saiu perplexo segurando o
aparelho.
— Aleluia, irmãos! — Gritou Li do
fundo da sala, tão perplexo quanto
Bobbi.
— Sai desse corpo que não te pertence e
vá em busca da luz! – Exclamou Estevão
fazendo sinal da cruz na direção ao
Blade, fazendo um ritual exorcista.
— Sejam bem-vindos, Blade e Jesse,
que bom ver os dois juntos. — Se Julius
desse mais um sorrisinho malicioso
daquele para o lado do Maldonado,
ficaria sem os dentes. Para evitar futuros
problemas dentários, guardou só para
ele a alegria de vê-los juntos. O casal
contou tudo o que havia acontecido em
Tijuana, menos a parte dos amassos no
hotel e o primeiro encontro no Clube de
Tiros.
— Preciso que trabalhe nisso para mim,
Li, tente recuperar alguma digital e
descubra o que puder. — Jogou o
envelope contendo as fotos, mas a ficha
com os nomes dos policias corruptos
estava muito bem guardada e protegida
no bolso de sua jaqueta.
— Deixa comigo. — O chinês pegou o
envelope e foi para o seu laboratório
cientifico, mais equipado do que o da
CIA.
— Porque pediu a ajuda da Sara? Ela
chegou aqui dizendo que ligou para ela
pedindo que te esperasse aqui, fiquei até
preocupado. – Perguntou Julius. Então
era com a vampira que ele ficou
pendurado no telefone por horas
enquanto Jesse treinava a mira, foi a
primeira coisa que veio à mente dela. A
cada minuto a raiva só aumentava, mais
um pouco e iria explodir.
— Em Tijuana descobri que o filho do
Carlo tem um cassino de luxo aqui em
Los Angeles e que é o Capanga dele,
Josué Torres, que administra o lugar. O
idiota tem paixões por mulheres bonitas
e atraentes, por isso liguei para a Sara,
ela vai seduzi-lo e depois drogá-lo para
tirarmos dele onde o Matteo Castelli se
esconde. — Nessa hora Jesse morreu,
literalmente. Se encolheu toda, olhando
para o chão devastada. Em nenhum
momento Blade pensou nela para fazer
aquilo, não era bonita e muito mesmo
atraente o suficiente para seduzir um
homem. Não era bem esse o motivo, era
outro bem diferente, só que nervosa
como estava não acreditaria nem se
ouvisse da boca dele.
— E o que vai fazer com ele quando o
encontrar? — Perguntou Estevão, já
desconfiado da resposta.
— Esquartejá-lo vivo, e igualmente
farei com os policias que mataram os
meus pais. Irei executar um por um,
usando os mesmos métodos que eles
usaram. — Os olhos de Blade naquele
momento estavam de uma cor
indecifrável, mas não significava boa
coisa, isso era evidente. Acinzentados
como o céu em um início de tempestade,
simplesmente assustadores.
—Não! — Jesse gritou levantando com
vontade de chorar, está certo que o pai
era uma pessoa horrível. Mas, deveria
pagar pelos seus crimes diante a justiça
e não cruelmente assassinado. Combater
maldade com maldade, só piora as
coisas.
— Porque não bebe um pouco de água,
querida? Parece que não está se sentindo
bem. — Sara pegou um pouco de água
da jarra que estava sobre a mesa e levou
para Jesse com uma expressão
preocupada no rosto, realmente não era
uma má pessoa. E nem tinha nenhum tipo
de relacionamento amoroso com Blade,
na verdade tinha uma dívida eterna com
ele devido a um fato que acontecera há
muitos anos.
— Obrigada! — Assim que ia pegar o
copo Jesse desiquilibrou e derramou
toda a água em cima do Blade que
estava sentado ao lado dela, se tivesse
sido planejado não teria dado tão certo.
— Mas será que você não acerta uma,
Jesse? — Blade levantou nervoso, e
saiu xingando alguns palavrões em
direção ao quarto para trocar de roupa.
Sara seguiu atrás dele, como se ele fosse
alguma criança que precisasse de ajuda
para vestir outra camisa. Pensou Jesse
morta de ciúmes, o coração sangrando.
Infelizmente ela tinha que admitir, os
dois faziam um casal lindo.
— Jesse? — Julius gritou, mas já era
tarde. Ela saiu correndo com o rosto
banhado por lágrimas, mais uma vez
humilhada. Se as pessoas soubessem o
peso das palavras, dariam mais valor ao
silêncio. Ainda mais para um coração
caridoso como o de Jesse Carter, as
pessoas boas são as mais sensíveis.
—Onde está a Jesse? — Foi a primeira
coisa que Blade deu falta quando voltou
para a sala, estava azedo por ter levado
uma bronca daquelas de Sara no quarto
enquanto trocava de camisa. Ela não
achou correto a forma rude que ele
tratou Jesse e ela nem sabia o que estava
acontecendo entre eles, se não a bronca
teria sido maior.
— O que você acha, Tigrão? Ela foi
embora chorando, seu idiota! —Julius
soltou os cachorros em cima dele e com
razão.
Blade saiu correndo atrás de Jesse, mas
não a encontrou em casa e em nenhum
outro lugar. Nem mesmo na residência
dos pais e ele fez vigia na porta dos
Carter por dias seguidos. Na quarta-
feira de manhã viu o pai dela saindo de
carro fardado segurando alguma coisa
embrulhada em um pano velho olhando
para todos os lados assustado, achou
estranho a jovem nunca ter comentado
que o pai também era policial. No dia
que deu uma surra de cinto no Major ele
estava apaisana e um pouco escuro
também, Blade usava uma máscara no
rosto o que atrapalhou um pouco a sua
visão, mas olhando para ele naquele
momento à luz do dia o seu rosto lhe
pareceu bastante familiar. Só que estava
com a cabeça tão cheia de preocupação
com a investigadora que resolveu deixar
para lá, primeiro queria encontrá-la para
ter certeza que estava bem e depois
torcer o pescoço dela por sumir assim
sem motivo nenhum, pelo menos ele
achava que não tinha. Na quinta à noite
Blade estava a ponto de se suicidar
diante de tanto desespero, o celular dela
só dava caixa postal ou fora de área.
Como alguém poderia sumir daquela
forma? Parecia magia negra ou castigo.
Passou a sexta e o sábado todo na cama
em um estado vegetativo, parecia um
mendigo todo barbudo e desalinhado. Se
alguma coisa acontecesse com Jesse ele
não se perdoaria nunca, daria um jeito
de ir para o inferno antes do esperado,
de um jeito ou de outro. Um fio de
esperança apareceu quando o seu celular
tocou, mas não era ela. Estava sentindo
tanta falta dela, só queria pelo menos
ouvir a sua voz.
— Onde você está, porra? — Julius
berrou, ultimamente só se dirigia a
Blade aos gritos.
— Vai para o inferno, Perez, me deixe
em paz. — A voz de Blade saiu fraca,
desde o sumiço de Jesse que não comia
nada.
— Você esqueceu que é hoje que a Sara
vai no Cassino seduzir o capanga do tal
Matteo Castelli? Porra, cara, o que está
acontecendo com você, estamos
repassando o plano a semana toda. Anda
tão disperso, quase não para em casa e
nem tem tomado banho direito. —Blade
revirou os olhos sem paciência, não
estava se importando com mais nada. No
entanto, por outro lado tinha medo de
Jesse estar nas mãos do herdeiro da
máfia, agora mais do que nunca tinha
que colocar as mãos nele.
— Estou indo. — Desligou na cara de
Julius e saiu correndo para a garagem.
Os parceiros estavam em um quarto de
hotel ao lado do Cassino, Li montou
todos os equipamentos necessários para
monitorar os passos de Sara dentro do
lugar, iria entrar no sistema de segurança
da casa de jogos para ter acesso as
câmeras. Durante o caminho, na rádio
começou a tocar a mesma música que
ele dançou com Jesse no baile de
máscaras, tudo que ele não queria
lembrar naquele momento. As palavras
faziam tanto sentido, que parecia ser
escrita para os dois. Deste a parte de
não conseguir pensar em mais nada a
passar a noite na chuva e abrir mão de
tudo por ela.
Quando um homem ama uma mulher
Não consegue manter sua mente em
nada mais
Ele trocaria o mundo
Por uma coisa boa que encontrou.
Se ela for má, ele não consegue
perceber isso
Ela não pode fazer nada errado
Ele vira as costas para seu melhor
amigo
Se o amigo a criticar.
Quando um homem ama uma mulher
Gasta seu último centavo
Tentando agarrar-se ao que ele precisa
Ele abriria mão de todos os seus
confortos
E dormiria lá fora na chuva
Se ela dissesse que esse é o jeito
Que as coisas deveriam ser
Quando um homem ama uma mulher
Ele dá tudo o que tem, yeah
Tenta segurar seu precioso amor
Meu bem, meu bem não me trate mal
Quando um homem ama uma mulher
Bem no fundo de sua alma
Ela pode lhe trazer tal miséria
Se ela está brincando com ele, como se
fosse um bobo
Ele é o último a saber...
"Eu ainda vou achar o cara que fez
essa música e dar um tiro nele!"
— Então, ela já está dentro do Cassino?
— Perguntou Blade quase sem ar de
tanto que correu para chegar ali, estava
ansioso e nem sabia ao certo por que. Li
se encontrava sentado totalmente focado
na tela do seu notebook digitando
ferozmente parecendo ter mais vinte
dedos em cada mão, Julius estava de pé
ao lado do chinês de braços cruzados,
com cara de pouco amigos.
— Estevão acabou de colocá-la para
dentro, está disfarçado de garçom. Xing
está tentando achá-la nas câmeras, deve
ter mais de mil naquele lugar. —
Respondeu sério, não havia nem sinal do
mexicano simpático que costuma ser.
Blade não entendia o porquê ninguém,
além dele estava se preocupando com o
sumiço dela, parecia que todos sabiam
onde ela estava menos ele.
— Oi,Tigrão, você sabe me dizer se
aqui fazem entrega de comida no quarto?
Estou varada de fome. — Sara saiu do
banheiro pisando com um pé só e o
outro enfaixado, pulando feito um
canguru.
— Se você está aqui, quem está dentro
do Cassino? — Blade estava confuso,
sem entender nada.
— Achei! — Gritou Li, vitorioso.
— Isso só pode ser brincadeira. —
Rosnou Maldonado, possesso.
Ao olhar para os monitores instalados
na parede onde conseguia ver Jesse de
vários ângulos, incrivelmente sexy
dentro de um vestido vermelho, curto,
bem colado ao corpo. Os cachos soltos
bagunçados propositalmente, parecendo
uma felina perigosa. Uma maquiagem
muito bem-feita, sombra escura e batom
vermelho. Para completar, nos pés um
salto agulha muito sexy, erótico. Ela
estava a fantasia sexual de qualquer
homem, a de Blade, no caso. Então ele
percebeu que era como no final da
música, exatamente igual.
"Se ela brincar com você, te fazendo de
bobo, será o último a saber...”
CAPÍTULO 19
Por: Blade Maldonado
Naquele momento podia sentir cada
músculo do meu corpo tremendo de tanta
raiva, aquela mulher era a única pessoa
do mundo que conseguia me tirar do
sério de verdade. Tudo nela me irritava,
profundamente. Desde o sorriso
encantador àquela voz doce dos
infernos, havia uma coisa na Jesse que
me atraia muito e que era só dela. Ao
mesmo tempo não suportava a sua
presença, era atrapalhada e sonsa. Mas
quando estava longe sentia a sua falta, a
cada dia mais. O que passou na cabeça
daquela maluca para me afrontar assim?
Tinha conhecimento que jamais a
deixaria participar de algo tão perigoso
e mesmo assim foi agindo pelas minhas
costas. Iria tirá-la de dentro do Cassino
imediatamente e se existia mesmo um
Deus no céu que Ele tivesse piedade
dela, porque eu não teria.
— Eu vou tirar ela de lá, agora! —
Afirmei já partindo em direção a saída,
não sairia daquele lugar sem dar um tiro
no meio da testa de qualquer maldito
que se atrevesse a olhar para a Jesse. Eu
estava irritado, puto, irado, possesso e
com um ódio mortal daquela mulher!!!
— Você não vai a lugar nenhum,
entendeu bem, Blade? — Disse Julius
com a expressão séria, atrevendo- se a
segurar no meu braço com força.
— E quem vai me impedir? — Perguntei
irritado olhando para a mão dele em
mim, seria capaz de arrancar o braço
dele caso insistisse em querer me
segurar.
— Se entrar naquele Cassino agora no
estado que está, Jesse será morta. Se
você quer que isso aconteça, não vou te
segurar. Mas acho que deveria dar uma
chance para a moça, mesmo magoada
com você por ter sido um idiota com ela
não pensou duas vezes em ajudar quando
a Sara torceu o pé ontem e eu liguei de
última hora pedindo socorro. —
Concluiu, me soltando como havia
prometido, Julius sempre foi o mais
sensato do grupo.
'' Então não estava atendendo só as
minhas ligações, a minha raiva por ela
só aumentava mais a cada segundo."
— Isso é por ter colocado a Jesse no
meio dessa porra. E se alguém tocar em
um fio de cabelo dela vai vir muito mais
de onde veio esse, não vou parar até que
o seu rosto esteja irreconhecível. —
Soquei a cara do Julius com força, que
foi direto ao chão devido a intensidade
golpe que não estava esperando. Minha
vontade era matá-lo a base do soco, ter
o prazer de vê-lo sangrando até a morte.
— Não acredito que vivi até hoje para
ver Blade Maldonado preocupado com
alguém ou melhor com ciúmes! Espero
que tenha gostado do vestido vermelho
que ela está usando, escolhi em
homenagem a você, parceiro. — O
mexicano abusado levantou-se do chão
massageando o lugar onde tinha acertado
o soco, com o canto da boca sujo de
sangue.
— Maldito! — Soquei a cara dele
novamente por várias vezes, mas o
desgraçado continuou rindo debochado
como se fosse imune a dor.
— Vocês dois poderiam deixar para
resolverem isso mais tarde? Temos um
problema maior agora, Jesse acabou de
chegar no salão do Cassino e acho que a
presença dela chamou logo de cara a
atenção do Josué Torres, o tal capanga
do Matteo, ele está literalmente babando
em cima dela. — Exclamou Li com os
olhos atentos ao monitor, empurrei o
Julius de qualquer jeito e fui para perto
do chinês, roxo de raiva, conferir com
os meus próprios olhos o que ele havia
dito. E de fato era verdade, não só eles
como todos os homens em volta da mesa
de jogos pararam o que estavam fazendo
para olhar para ela.
— Eu vou matar friamente cada um
deles, ainda essa noite. — Rosnei, fora
de mim.
— Ela realmente está maravilhosa! E
olha que nem exagerei muito na
maquiagem que fiz nela, Jesse é
naturalmente linda e o jeito tímido dela
só a faz mais charmosa ainda. — A
intrometida da Sara comentou com a
boca cheia de alguma coisa que estava
comendo enquanto via tudo de onde
estava sentada na cama, sabia que tinha
o dedo dela naquela produção toda da
investigadora.
— Você consegue me ouvir, Jesse?
Mecha no cabelo se a resposta for sim,
quero saber se o microfone que coloquei
no seu ouvido está funcionando
corretamente. — Li entrou em contado
com ela fingindo não notar a minha
presença, totalmente concentrado no que
estava fazendo. Ela colocou a mão no
cabelo sensualmente, demais para o meu
gosto.
— Ótimo querida, está indo muito bem!
— Ela deu um pequeno sorriso com o
elogio de Julius, ficava feliz com tão
pouco. — O nosso alvo é aquele homem
alto de terno preto de gravata borboleta,
cabelo penteado para trás e barba
grisalha. Não se esqueça que ele gosta
de mulheres sensuais, mas não
oferecidas. — Jesse ouvia atentamente,
como se soubesse mesmo como seduzir
alguém.
— Pare de tentar enganá-la dizendo que
é capaz de seduzir alguém, Julius.
Porque todos presentes aqui sabem que
não! Mande essa idiota sair daí antes
que estrague tudo como sempre faz,
vamos procurar alguém mais adequado
para colocar no lugar da Sara. — Fui
cruel e não me senti nem um pingo de
culpa por isso. A Jesse tinha que
entender que ela não tinha nascido para
aquele tipo de coisa, deveria ser ilegal
um anjo como ela no meio de tanta
luxúria. Para me afrontar a maldita virou
para a câmera arqueando a sobrancelha
e um sorriso perigoso no rosto, muito
sexy. E saiu rebolando em direção à
mesa de jogos onde Josué Torres estava,
se eu pudesse teria atravessado o
monitor e torcido o pescoço dela.
— Aiiii. – Ela gemeu de dor, após dar
dois passos e tropeçar no próprio pé
caindo de joelhos apoiando as duas
mãos no chão chamando a atenção de
todos presentes, principalmente do alvo.
Era óbvio que aquilo iria acontecer, mas
ninguém quis me ouvir, ela poderia até
estar a porra de uma mulher gostosa
para caramba vestida com aquele
pedaço de pano que chamava de vestido.
Mas o que chama de verdade a atenção
de homens como o capanga do Matteo
Castelli são as mais experientes, foi uma
covardia do Julius jogar uma virgem na
mão de um pervertido.
— Não se preocupe Blade, está tudo
sobre controle. Jesse só está sendo ela
mesma, a garota mais amável e doce do
mundo, essas qualidades podem
conquistar até o coração mais frio do
mundo, você não acha? — Lançou os
olhos sobre mim, louco para levar mais
um soco. —Agora, cala a boca e veja do
que ela é capaz. — Completou confiante
cruzando os braços, tanto eu, Li e Sara
estávamos preocupados, mas ele não
estava nem um pouco.
— Ele está se aproximando dela, agora
tudo pode acontecer. — Li levou as
mãos atrás da cabeça nervoso e a Sara
virou o rosto para o lado sem coragem
de olhar qual seria a reação do capanga.
— Você está bem? — Para a surpresa de
todos ele estendeu a mão para ajudá-la a
se levantar, era evidente que o
desgraçado estava interessado nela.
— Obrigada, o Senhor é um homem
muito gentil! — Jesse sorriu para ele,
mas não qualquer sorriso, era o tipo que
iluminava o mundo todo. Isso me afetou,
não gostei de vê-la sorrindo para outro
homem. Era como morrer mil mortes em
vida, uma dor sem fim.
— Sou gentil apenas com as mulheres
que tem o sorriso bonito igual ao seu, é
nova por aqui? Com certeza me
lembraria de uma joia exótica como
você, o seu cabelo é muito atraente e a
sua timidez a coisa mais erótica do
mundo. Sou Josué Torres, o
administrador e sócio do Cassino. — O
desgraçado estava dando em cima dela
descaradamente, assinando a sua
certidão de óbito.
— Sou Naomi Suan, e o prazer é todo
meu, Josué! Obrigada pelos elogios, fico
feliz em saber que ainda existem homens
no mundo que sabem como tratar uma
mulher. — Depositou um beijo no rosto
de um homem que havia acabado de
conhecer, encantada. Não estava
parecendo que ela estava contracenando
e se estivesse não tinha a necessidade
nenhuma de beijá-lo.
— Espero que esteja ciente que eu estou
ouvindo cada palavra que está dizendo,
investigadora. Se eu fosse você não
brincava com fogo, porque o incêndio
pode ser grande depois. — Tentei dizer
o mais calmo que pude, não queria
deixá-la nervosa na frente do inimigo.
— Pode vir quente que eu estou
fervendo, se não sabe brincar não desce
para o play. — A maldita disse
disfarçadamente, para que o capanga
não ouvisse. Julius tentou abafar o riso
tapando a boca com a mão se divertindo
com o acontecido.
— Porque não vem para a mesa de jogos
comigo? Alguma coisa me diz que uma
mulher linda como você vai me dar
sorte, te quero ao meu lado essa noite.
— Piscou para Jesse, cheio de segunda
intenções.
— Nada me deixaria mais feliz! — Eu
estava ficando louco ou ela estava
mesmo flertando com o inimigo? De uma
hora para outra aquela mulher tímida
tinha sumido, dando cena para uma dama
da noite. Se o plano dela era me ferir,
estava se saindo muito bem, até demais.
Depois do idiota ganhar uma fortuna
pedindo que a Jesse escolhesse o
número em qual apostar, ela não errava
uma. Saíram de lá e foram para o bar
comemorar, queria impressioná-la com
dinheiro, como se ela se importasse com
isso. A cada minuto o homem ficava
mais encantado com a simpatia e
espontaneidade da investigadora, não
perdendo uma oportunidade para tocá-
la. E em meio a muitas risadas e fletes
entre os dois, enfim o capanga a chamou
para irem para um lugar mais "íntimo".
— Nunca conheci nenhuma mulher como
você, tão doce e gentil. Ao mesmo
tempo fatal, um poder de sedução fora
do comum e olha que eu entendo bem
quando o assunto são mulheres. Nunca
acreditei em paixão à primeira vista,
mas depois que te conheci, estou
repensando essa questão. Não estava
brincando quando disse que queria que
passasse a noite toda ao seu lado, na
verdade era muito sério. —Chegou a
boca bem próximo ao ouvido dela, que
abaixou a cabeça envergonhada. — No
café da manhã também, podemos passar
o dia todo na cama fazendo sexo
selvagem. — Jesse corou muito.
— Puta que pariu! O cara e bom, até eu
fiquei a fim dele agora. – Brincou o Li,
fazendo Julius e Sara gargalharem.
Enquanto o meu ódio só aumentava, me
sentia um leão enjaulado.
— A missão acabou Jesse, saia daí
agora. Não vai a lugar nenhum com esse
cara, se não sair eu mesmo vou aí dentro
te pegar. — Eu não estava brincando,
não estava nem aí para mais nada! Só
queria tirá-la de perto daquele homem e
de qualquer outro que tentasse se
aproximar dela.
— E o que está me esperando para me
levar para esse tal lugar mais "intimo"?
Mal posso esperar para estar em seus
braços, o dia amanhã promete. — Disse
a oferecida como uma vadia de fim de
festa, uma prostituta barata. Estava com
tanta raiva, louco para atirar em alguém.
— Não brinque comigo, porra, mandei
você sair agora! — A desgraçada nem
deu bola para mim, fingiu mexer no
cabelo e tirou o microfone do ouvido e
jogou discretamente dento da bolsa.
— Eu vou matar os dois! E quem entrar
no meu caminho também. — Quebrei a
tela do monitor com um soco em cima da
imagem dos dois saindo do salão de
mãos dadas trocando olhares de
cumplicidade e indo em direção ao
corredor, com certeza pegar o primeiro
elevador para a cobertura onde ficavam
os camarotes para os clientes vips
levarem suas amantes. Ninguém se
atreveu a tentar me segurar dessa vez,
nem mesmo o Julius. Passei pela porta
da frente do Cassino com uma pistola
em cada mão, entrei no elevador
bufando de raiva parecia que estava
sumindo em câmera lenta. Em um
determinado momento entrou um casal
de velhinhos muito bem vestidos, com
certeza antigos amantes de jogos. O
senhor trajava um terno italiano e
chapéu preto, ostentando uma bengala de
ouro puro. A esposa usava um casaco
legítimo de couro, cheia de joias caras,
trazendo os cabelos grisalhos em um
corte na altura dos ombros.
— A sua mãe sabe que você anda esse
tipo de coisa, filho? Armas são
perigosas, destroem tanto a vítima
quanto quem as usa. — Perguntou o
senhor assim que o elevador começou a
se movimentar, nem um pouco
intimidado de estarem presos dentro de
uma caixa de aço com um homem
armado.
— Na verdade foi presente dela, no meu
aniversário de dez anos. —Respondi
olhando para frente, não dispunha de
muita paciência no momento. A música
de piano tocando não estava ajudando
muito, então dei um tiro na caixa de som
do elevador.
— Se você não fizesse eu teria feito,
odeio essas músicas cafonas. Você viu
que a sua mão está sangrando, querido?
Deixa eu dar um jeito nisso, segure isso
por um instante amor. — A Senhora
pegou a arma da minha mão e entregou
para o marido, nem eu havia percebido
que tinha machucado quando soquei a
tela do monitor. Ela tirou um lenço que
estava em volta do pescoço e enrolou na
minha mão, carinhosamente.
— Não vai dizer a palavrinha mágica?
— Perguntou a Senhora, pensei que
estava brincando, mas não estava.
Estava me olhando com a cara feia, por
um momento pensei que iria puxar a
minha orelha.
—Valeu! — Respondi apenas, contra a
minha vontade. A porta do elevador se
abriu e eles foram embora de braços
dados sorrindo, aquela alegria toda não
era normal.
Estava em frente a porta da suíte
principal pronto para arrombar e entrar
enchendo os dois de tiros, quando a
porta abriu e a Jesse passou por mim
calma fingindo que não estava me
vendo. Peguei no braço dela e a joguei
para dentro de uma suíte do lado, ela
iria ter que me explicar direitinho o que
aconteceu entre os dois dentro daquele
maldito quarto.
— O que você quer? Estou com pressa.
— Cuspiu ela, me fuzilando com o olhar
como se eu fosse o errado da história,
cínica.
— O que aconteceu entre vocês dois
naquela suíte? Deixou que tocasse em
você, entregou a sua virgindade a ele?
Se é que era virgem mesmo, porque do
jeito que te vi se comportando como
uma prostitua barata hoje, não sei de
mais nada. — Eu estava com tanta raiva,
só queria feri-la da mesma forma como
estava ferido.
— Cale a boca, nunca mais fale comigo
assim novamente! — Deu uma bofetada
na minha cara, com vontade.
—Você quer morrer, garota? Nunca
nenhuma mulher ousou bater no rosto de
um Maldonado, deveria te castigar por
isso. — Os meus olhos soltavam faíscas
de raiva e ela não recuou nem um minuto
me enfrentando de nariz empinado.
— Fico feliz em ser a primeira. — Me
enfrentou, como uma onça brava.
— Onde pensa que iria chegar com
isso? Estava querendo chamar a minha
atenção, fazer uma cena? — Gritava tão
alto e ela se encolhia
tanto, que por um momento pensei que
entraria chão a dentro para fugir de mim,
tremia de medo.
— Não, seu cretino! Fiz porque sou uma
idiota, como sempre pensando nos
outros antes de mim. Consegui muita
informação do capanga do Matteo, ele
soltou tudo sobre o chefe depois que
batizei a bebida dele. Está tudo gravado
no gravador dentro da minha bolsa, o
melhor disso tudo que ele só vai acordar
amanhã e sem se lembrar de nada. —
Naquele momento fui obrigado a soltá-
la, tinha que ficar longe para mantê-la
segura de mim, do jeito que estava
nervoso era capaz de fazer alguma coisa
contra a segurança física dela.
— Não abuse do meu autocontrole,
investigadora, devo te alertar que nunca
fui muito bom em controlar a minha
raiva. Então não brinque com a minha
paciência, antes que o pior aconteça
com você. — Tentei me manter calmo
por fora, mas por dentro meu sangue
pegava fogo.
— Eu juro não entendo você, porque
está tão nervoso assim? Consegui o que
vocês queriam, não consegui? Então
pare de fazer drama e me deixe ir
comemorar o sucesso da missão com o
pessoal. — Ela girou o corpo depressa
fazendo a saia do vestido girar, por
Deus! De perto parecia mais curto
ainda, estava praticamente nua.
— Deu certo por sorte, porra! — Berrei
e se ela abrisse a boca mais uma vez
seria capaz de torcer o pescoço dela de
verdade.
— Porque não sou bonita e atraente
como a Sara, não é mesmo? Não tenho
peitos grandes nem uma bunda
avantajada, apenas uma garota normal.
Sinto muito em te alertar que os tempos
mudaram Blade, a beleza atrai, mas é o
conteúdo que conquista. — Jesse
abaixou a cabeça evitando os meus
olhos, que com certeza estavam
brilhando de ódio na escuridão.
— Você é mais tonta do que pensei!
Infantil e mimada. — Não pensei nela
para o plano não porque que não era
capaz ou bonita o suficiente, mas sim
porque eu não queria nenhum homem
tocando ou olhando para o que é meu.
— Ainda bem que você não é o único
homem do mundo, existem muitos outros
por aí que acham essa tonta aqui muito
"interessante". — Ela estava querendo
morrer, só pode!
— Sei que está falando do barman, é ele
que você quer? — A minha voz saiu
aguda, não sei se estava preparado para
ouvir a resposta dela. Jesse remexeu o
anel no seu dedo de um lado para o
outro, um movimento simples, mas muito
excitante.
— Responda, porra! — Ordenei
socando a parede, andava de um lado
para o outro como uma fera enjaulada.
— Miche é um bom rapaz. —
Respondeu apenas, odiava o jeito íntimo
dela chamá-lo pelo apelido.
— E o que mais? — Já que havia
começado a falar, que dissesse tudo logo
de uma vez.
— E mais nada Blade, minha vida
pessoal não é da sua conta! —
Respondeu malcriada levando as mãos a
cintura, se não estivesse tão irritado com
ela teria a beijado naquele momento.
Ficava ainda mais atraente quando
nervosa, uma tentação.
— Não me pareceu nada quando vi
vocês andando de mãos dadas na
exposição de fotos no parque, como dois
pombinhos apaixonados. Não me
pareceu nada quando ele tentou te beijar
e você fechou os olhos para receber o
beijo e para que fique bem claro o nome
dele é Michelangelo e não "Miche".
— Eu juro que tentei Blade, mas você
não faz outra coisa a não ser me oprimir
e me rebaixar sempre que pode. É
cruelmente grosso comigo, já fui muito
humilhada na minha vida por diversas
pessoas, mas isso acabou. Não alimento
mais nada que não seja recíproco,
vamos dar as mãos como duas pessoas
civilizas e cada um segue o seu caminho.
—A frieza dela me assustou muito.
— Como assim cada um seguir o seu
caminho? Já esqueceu tudo o que
aconteceu entre nós em Tijuana, porque
eu não esqueci. — Estava começando a
me desesperar. E se ela estivesse
falando sério? Eu tinha a certeza que
odiava aquela mulher com todas as
minhas forças principalmente o efeito
que a presença dela causava em mim,
até a voz dela me irritava. Ao mesmo
tempo, a desejava feito um louco! Tinha
o poder de fazer a minha dor sumir,
trazia luz aos meus dias mais sombrios.
Me deixava bobo só de olhar para ela,
enfeitiçado, essa era a palavra correta.
— É claro que não esqueci, Blade. Mas
o que aconteceu em Tijuana, fica em
Tijuana. Aqui não passo de uma
conhecida que está ajudando vocês
nesse caso, não é mesmo, Tigrão? —
Jogou as palavras na minha cara,
realmente aquela Jesse em minha frente
não era a mesma de alguns dias atrás.
Estava diferente, muito confiante.
— Se você quer assim tudo bem,
investigadora. Jamais vou ser o príncipe
encantado que procura, merece ficar
com alguém que te venere, mande cartas
e te encha de flores. — Nunca mais
queria sentir aquela dor que estava
sentindo, era como morrer em vida. Ela
havia me destruído por completo.
— Não almejo ser venerada, apenas
amada. Não precisa ser perfeito, apenas
de verdade. — Encarou-me. Como não
tinha reparado antes que a boca dela era
tão atraente? Um sorriso tímido e
sensual, uma mistura que prometia todo
o tipo de prazer.
— Você parece um anjo caído do céu
que veio me enfeitiçar, me destruir. —
Queria poder dizer não sobre o que
sentia por ela, evitá-la a todo custo. Mas
simplesmente não conseguia, era mais
forte do que eu.
— Os anjos normalmente sãos descritos
loiros e dos olhos claros, nunca ouvi
dizer sobre algum Anjo Negro. —
Corrigiu ela.
— Estou diante de um agora. — Diminui
a distância entre nós, mais um
centímetro e os músculos duros do meu
peito estariam contra a maciez dos seios
dela que estavam enrijecidos. Estava
excitada, assim como eu. Naquele
momento esqueci de tudo, éramos só eu
e ela. Quando dei por mim já tinha a
imprensado na parede erguendo-a do
chão, uma das mãos em concha sobre
suas nádegas e a outra a pressionava
pela base da coluna, para junto de mim.
Ela podia sentir a ereção do meu
membro roçando nela louco por sexo
bruto e violento, por um prazer extremo.
As pernas dela se engancharam em volta
da minha cintura, queria mandar tudo
para o inferno e fazê-la minha ali
mesmo. Então, escorreguei a minha
língua para dentro da boca dela,
explorando todo espaço. Os braços de
Jesse rodearam o meu pescoço enfiando
as mãos entre os meus cabelos, os seios
cada vez mais sensíveis pressionando
em mim praticamente implorando que
fossem tocados. A cada momento o beijo
ficava mais exigente, necessitado. Não
sabia ao certo quanto tempo havíamos
ficando nos beijando, talvez horas quem
sabe, o tempo havia parado.
— Jesse! — O nome dela saiu dos meus
lábios como um sussurro, um leve
gemido.
— Estou ouvindo, querido! — Os lábios
dela estavam vermelhos e inchados,
provavelmente os meus também.
— Eu sei que que nunca vou ser o
homem que você merece, nasci para ser
um vilão. Gosto do que faço e não
pretendo mudar nunca, mas posso tentar
melhorar por você se quiser, o que acha
da ideia de ser o meu Anjo para
sempre? — Do nada ela me abraçou
forte e começou a chorar, como se
estivesse se despedindo.
— Vou sentir tanto a sua falta, espero
que um dia possa deixar de me odiar. —
Alisou o meu rosto molhado.
— Não estou entendendo pequena, por
mais que me irrite jamais seria capaz de
odiar você. Porque onde andou todos
esses dias? Fiquei tão preocupado, senti
tanto a sua falta. Mais uns dias e eu iria
morrer, promete que não mais me
assurtar assim. — Encostei a minha testa
na dela.
— Precisava de um tempo para tomar
coragem para te contar um segredo, tem
uma coisa sua que está comigo. — Ela
chorava cada vez mais, estava
começando a ficar assustado de
verdade.
— Por favor, não chore, Anjo. —
Implorei, não aguentava vê-la sofrendo
daquela forma.
— Eu não sou um Anjo, Blade, na
verdade estou mais para a filha do
demônio. — Escorregou dos meus
braços para o chão cabisbaixa, os
ombros curvados como se estivesse
carregando o peso do mundo nos
ombros.
— Fale logo de uma vez, porra, chega
de meias palavras. — Explodi, ela
estava me deixando nervoso.
— Nunca se perguntou o porquê nunca te
falei o meu sobrenome? —Enfiou a mão
dentro da bolsa e tirou um embrulho
igual ao que vi com o pai dela. — Sou
filha do homem que roubou isso da sua
família Blade, o meu pai a pegou no dia
que participou dia da emboscada. O meu
nome é Jesse Carter, carrego o
sobrenome de um policial corrupto e
assassino. Não posso mais continuar
mentindo para o homem que eu amo,
mesmo que isso faça ele me odiar pelo
resto da vida. —Completou me
entregando o Collt, uma arma antiga,
relíquia da família Maldonado passada
de pai para filho. A mesma mulher que
havia me feito descobrir que debaixo de
tanta maldade, dentro do meu peito batia
um coração, o destruiu de uma forma
que jamais teria cura.
CAPÍTULO 20
“ Conversa Definitiva...”
Blade olhava para o Collt em suas mãos,
era a primeira vez na vida que tocava no
objeto, o máximo que chegou perto foi
nas mãos do pai. A arma era montada
por peças intercambiáveis, únicas. Em
seu vasto conhecimento em armas jamais
vira nada igual, nem ao menos parecido.
Um verdadeiro endosso inovador da
arte, uma mistura do rústico com
contornos delicados. Depois de avaliar
detalhadamente a relíquia, seus olhos
voltaram-se para Jesse toda encolhida
no chão chorando, compulsivamente.
Escondendo o rosto por trás das
próprias pernas como uma coelhinha
assustada. Era muita informação para
Blade processar naquele momento, o pai
de quem pensava ser seu anjo havia
destruído a sua família e ainda roubado
algo importante para ele que pensou
estar em qualquer lugar menos nas mãos
da mulher que fazia o seu coração bater
mais forte, que tinha o feito acreditar
que podia ser uma pessoa melhor. Mas
ela havia mentido para ele, havia o
enganado. Então, uma raiva enorme se
apossou do bandido. O sangue correndo
em suas veias como larva fumegante,
grosso e fervescente. Em sua mente
rondavam dúvidas cruéis e letais.
Quando o mal encontra uma pequena
entrada para a alma de alguém por
menor que seja, ele já chega mostrando
serviço colocando coisas onde não tem,
chifres na cabeça de cavalo, como diz o
velho ditado. — " E se ela me enganou
esse tempo todo a mando do pai dela?
Tudo que vivemos juntos não passou de
uma mentira, um doce e encantador
engano onde o meu Anjo não passa de
um demônio com cara de santa."
Então totalmente tomado pelo ódio,
Blade Maldonado segurou o Collt na
cintura e caminhou em direção a ela que
ainda chorava sem parar como a revolta
do mar em meio a tempestade, a passos
firmes que pareciam furar o chão a
qualquer momento, capaz de fuzilar só
com olhos qualquer coisa que ousasse
atravessar o caminho dele. Estava
disposto a arrancar a verdade da filha
do diabo, custe o que custasse. Depois a
mandaria para o inferno onde traidores
como Jesse Carter deveriam morar pela
eternidade queimado no fogo ardente.
Mas bem no meio do caminho o bandido
pisou em algo, era uma mini caderneta
que provavelmente escorregara da bolsa
da investigadora quando tirou o Collt
para devolvê-lo ao verdadeiro dono. Os
olhos escuros de Blade imediatamente
tomaram um tom de azul cor de jacinto,
as nuvens sombrias foram embora dando
passagem para um lindo amanhecer.
Tudo isso por conta do que havia escrito
nas folhas, por mais de uma vez de
forma aleatória. Com uma letra formosa
e delicada, assim como a dona dela. Em
volta havia vários corações pintados
com caneta vermelha, pareciam ter sido
feitos por uma adolescente e não uma
mulher de vinte e seis anos — '' Por
favor não me odeie muito Blade, eu te
amo."
— Não conseguiria te odiar nem se eu
quisesse, isso é impossível! — Disse
mais para ele do que para ela, realmente
Jesse Carter era um ser naturalmente
amável. A jovem parou de chorar no
mesmo momento e o encarou com as
duas esferas cor de canela dançando
dentro de um mar de águas sem fim.
Ela havia quebrado o coração de Blade
de uma forma que jamais teria cura, mas
cada pedacinho dele ainda precisava
dela, desesperadamente,
independentemente de qualquer outra
coisa no mundo, ou além dele talvez,
algo como depois da morte, quem sabe.
— Então você não vai gritar comigo?
Me xingar ou atirar em mim? — Blade
olhou para ela com um certo pesar em
saber que era assim que Jesse a via,
como um monstro. — "O que eu havia
feito com aquela pobre garota? Sempre
esperando o pior de mim."
— Se não fiz isso quando te vi na porra
desse pedaço de pano, por que faria
agora? Deveria pedir o seu dinheiro de
volta, porque a metade do vestido deve
ter ficado na loja. — Ela estava ficando
louca ou Blade estava tentando ser
engraçado? Mas era sério demais para
fazer uma piada, esse tipo de coisa não
combinava com ele.
— Você é o tipo que gosta de brincar
com a vítima antes de matá-las? Como
os gatos fazem com os coitadinhos dos
ratos? Se for saiba que para mim isso é
o último grau da maldade de um ser
humano. — Jesse tinha a voz chorosa,
como uma criança assustada depois que
contara para a mãe que tinha aprontado.
Blade soltou uma gargalhada macabra
achando graça da inocência dela.
— Já passei do último grau de maldade
há muito tempo, investigadora. Mas não
vou mentir que brincar com você não
passou pela minha mente hoje, de várias
maneiras. — Olhou para as pernas da
moça, pousando os olhos mais tempo
que o necessário sobre as coxas. Subiu
lentamente pela cintura, passando a
língua sobre os lábios ao ver a ponta de
um dos seios balançando dentro da
abertura lateral do vestido.
— E você iria gostar muito! —
Completou Blade totalmente malicioso,
cheio de segundas, terceiras e infinitas
intenções. Jesse agradeceu por estar
apoiada na parede senão teria escorrido
ao chão, derretida.
— Não entendi o seu comentário. —
Jesse envergonhada puxou a base da
lateral do vestido na intenção de
esconder o lugar onde ele estava
olhando, fazendo-se de boba. — '' Ela
havia entendido sim, muito bem."
— Venha aqui! — Blade sentou na cama
e estendeu a mão para ela, com uma
expressão estranhamente calma. Jesse
negou com a cabeça permanecendo
exatamente no mesmo lugar que estava,
aquela reação dele era completamente
diferente do que estava esperando.
Contava com no mínimo o massacre da
serra elétrica ou um ataque o Jack
Matador.
— Agora! — Ordenou ele, com uma
expressão não tão calma em seu rosto.
Então, Jesse levantou desconfiada
caminhando cautelosamente e sentou-se
ao lado do bandido na cama a uma
distância consideravelmente segura.
— Pode dizer. — Jesse mexia no anel
em seu dedo demonstrando o quanto a
presença dele mexia com ela, era como
ir do céu ao inferno em uma fração de
segundos.
— Aqui! —Blade bateu a mão sobre o
colo, olhando para ela totalmente
constrangida sem saber o que fazer. Não
sabendo se deveria confiar realmente
naquela calmaria toda, um homem traído
sabe mentir muito bem quando tem sede
de vingança. Sem paciência ele mesmo a
pegou e a colocou em seu colo, sem
nenhum pingo de gentileza.
— Assim está melhor! — Envolveu os
braços em volta da cintura de dela,
trazendo-a mais próximo de si.
— Porque não está bravo comigo? —
Perguntou Jesse intrigada sem coragem
para encará-lo, com os olhos ainda
molhados.
— Olhe para mim! — Não mandou,
pediu de forma gentil até demais. — Me
desculpe por ter mentido para você?
Pelo meu pai ter ajudado a destruir a sua
vida, tirando as pessoas que amava. —
Jesse quase se perdeu dentro daquelas
duas lagoas azuis, lindas e misteriosas.
Um labirinto repleto de mistérios, que
daria tudo para se perder dentro pelo
resto da sua vida.
— O seu pai tirou de mim as únicas
pessoas que eu amei na vida, mas por
outro lado me trouxe você. A dívida
dele está paga comigo para sempre. —
Tirou alguns cachos sobre o rosto de
Jesse que estava encobrindo a visão do
sorriso encantador que veria em... 1, 2,
3... E lá estava ele, iluminando tudo em
volta. Blade sentiu-se honrado por ser o
motivo, envaidecido seria o correto a
dizer sobre o bandido naquele momento.
— " Quero vê-la sempre assim,
sorrindo."
— Obrigada por me perdoar, Blade,
prometo nunca mais mentir para você.
— Jesse envolveu os braços em volta
do pescoço o amado, depositando beijos
castos por toda extensão do rosto de
Blade.
— E que nunca mais vai usar esse
vestido? Só para mim, se quiser fazer
uma dança erótica também não seria
nada ruim. — Fez piada novamente. Ele
até tentou sorrir, mas tinha os músculos
do rosto tensos demais para torná-lo
sincero.
— Que coisa feia querer tudo só para
você, tem que aprender a dividir sabia?
— Brincou Jesse, fazendo carinho no
braço dele sem acreditar que aquilo era
verdade. Blade havia lhe perdoado de
verdade. Se soubesse que essa seria a
reação dele teria contado antes. Odiava
mentiras, porém muita mais a hipótese
de ser odiada por ele.
— Não o que é meu, sou egoísta! —
Disse com a voz sombria, assustadora
na verdade.
— Em se tratando de você eu também
sou, Tigrão! — Era primeira vez que
Blade a vira séria, ficava encantadora
assim também. Jesse tentou sair do colo
dele, mas ele não deixou cravando firme
as duas mãos sobre as coxas dela. — "
Então não era o único possesivo ali,
ela também sentia ciúmes de mim."
— A Sara só me beijou porque você
deixou, da próxima vez faça alguma
coisa quando outra mulher quiser
colocar as garras no que é seu. Se fosse
eu teria explodido o cara antes dele
pensar em se aproximar da minha garota.
— Sua garota? — Perguntou Jesse, em
uma irresistível combinação erótica do
rubor e ingenuidade.
— Quero que seja, mas antes
precisamos conversar. Está na cara que
não sou um bom partido, Jesse, gosto de
matar as pessoas covardemente. Isso me
diverte, me dá prazer! — Dizia
naturalmente, com o semblante calmo.
— Já fiz tudo de errado que você pode
imaginar e não me arrependo de nada.
Minha vida é perfeita do jeito que ela é,
não pense que vou virar um santo do dia
para a noite, porque isso não vai
acontecer. Nascemos em lados opostos.
Até podemos tentar fazer isso dar certo,
mas será quase impossível. Fora que sou
muito mais velho, você é pouco mais
velha que o meu irmão caçula. Mesmo
assim quero tentar, mas se for demais
para você e quiser cair fora, eu entendo.
— Ela escutava atentamente tudo o que
Blade falava.
— Não vai se livrar de mim assim tão
rápido. Blade Maldonado, arrumou uma
cruz para a vida inteira. — Ela deu uma
gargalhada gostosa, estava feliz como
nunca esteve.
— Tem mais uma coisa, a mais
importante de todas. — Blade olhou no
fundo dos olhos dela, afinal aquela seria
a única barreira que poderia separá-los.
Havia uma certa tensão no ar, um
momento decisivo. Ele respirou fundo e
começou a falar, sem tirar os olhos dela.
— Eu jurei nunca ter filhos, Jesse.
Quero que o sangue ruim dos
Maldonado morra comigo, trancado a
sete chaves no inferno. — Foi duro com
as palavras, para que ela entendesse
claramente. Jesse ficou calada por
algum tempo, segundos que parecem
uma eternidade para Blade. Sabia que o
sonho dela era ser mãe, então se
preparou para o pior.
— Não quero ter filhos se você não for
o pai, seremos eu e você contra o
mundo. — Jesse foi sincera, mas com
um sorriso triste nos lábios.
— Nunca imaginei que algum dia teria
uma garota só minha, mas pensei que se
tivesse, ela teria que ser noventa e nove
por cento demônio e um por cento Anjo,
não o contrário.
— Não sou tão santa assim, Blade, já
tive pensamentos impuros com um
homem na adolescência e não foi só uma
vez. — Blade arregalou os olhos pasmo
diante de tamanha revelação, os
músculos do corpo involuntariamente se
contraíram.
— Quem é esse maldito? — Perguntou
nervoso, o pobre individuo estaria
debaixo de sete palmos ainda naquele
dia.
— Antônio Banderas no papel de Zorro,
sempre gostei de homens mais velhos.
— Ela corou.
— Pare com isso. — Ele ordenou com a
voz grave.
— Desculpe. — Jesse abaixou a cabeça,
como uma submissa obediente.
— Se soubesse o que está se passando
em minha cabeça agora... — Mordeu a
curva no pescoço de Jesse, com as mãos
hibernando para a cima da coxa
encontrando o tecido da calcinha de
renda branca. Ele gemeu, só de pensar
se ela estaria molhada ansiando ser
tocada mais intimamente.
— Vai acontecer tudo o que está
pensando e mais um pouco, não aqui e
nem agora. — Uma ideia veio a sua
mente na velocidade da luz, queria dar a
ele uma coisa que nunca teve antes. —
Vamos a um lugar, só confie em mim. —
Levantou em pulo, ficando de pé diante
dele. Parecendo uma boneca com a saia
do vestido todo rodada, os cachos
revoltos caindo charmosamente sobre o
rosto.
— Como aprendeu andar de salto tão
rápido, Sara é boa em ensinar, mas não
faz milagres. — Blade perguntou
olhando para ela desconfiado
observando-a se equilibrar
perfeitamente em cima do belo e
atraente salto quinze vermelho sangue,
que agora de perto havia percebido
algumas pedrinhas transparentes por
cima, um luxo. Arqueou a sobrancelha
curioso, inquisidor.
— Só porque eu não uso não quer dizer
que eu não saiba usar. — Deu uma
piscadela para o lado dele, sorrindo
magnificamente para ele.
— Ok! Mas acho melhor deixarmos para
ir nesse tal lugar outro dia. Temos que
levar o gravador até o pessoal e tentar
extrair o máximo de pistas possíveis do
paradeiro do Matteo Castelli, esse é o
foco da missão, lembra? Não ficar
perdendo tempo passeando por aí,
duvido que possa me levar em algum
lugar que eu goste. — O Blade Chato
havia voltado novamente, com a corda
toda.
— Apenas segure a minha mão, vem
comigo. Que no caminho eu te explico, a
base de um relacionamento é a
confiança. — Ela sabia que um bom
soldado segue o rumo da missão sem
pestanejar e que ainda tinha que contar a
Blade onde esteve todo esse tempo e
como havia sido a conversa tensa com o
pai que foi ameaçado pela própria filha,
que pela primeira vez o enfrentara para
defender o que achava certo,
principalmente o homem que amava.
Mas por hora queria apenas viver uma
noite sem regras, uma noite a dois.
— Hoje você paga a conta. — Assim o
casal mais inusitado do momento saiu de
mãos dadas, para uma noite que
prometia grandes emoções e prazeres
eternos.
CAPÍTULO 21
Jesse estava há mais de meia hora
tentando convencer Blade a deixá-la
dirigir o seu carro até o local onde
queria levá-lo, se fosse outro qualquer
veículo da sua coleção até deixaria. Mas
o Impala era o Impala, não precisava
dizer mais nada. Não deixava ninguém
nele, tão pouco o conduzir. Agora
estavam dois teimosos, que pouco tempo
atrás acabaram de fazer as pazes,
brigando novamente.
— Assim que disse que quer tentar fazer
dar certo? Ótimo! Queria te levar para
conhecer um lugar, mas se quer estragar
a surpresa, tudo bem. Vou dizer qual é o
endereço, fica pouco mais de quarenta
minutos daqui. — Blade olhou para
aquela criatura minúscula na sua frente,
pensando se deixá-la viva tinha sido
realmente uma boa ideia para o bem-
estar do seu psicológico. Só que era
tarde demais para voltar atrás com a sua
palavra, infelizmente.
— Deveria trabalhar com vendas,
sabia? Realmente é boa em convencer as
pessoas, quase chorei agora. — Ironizou
Maldonado, passando por ela de cara
feia. Abriu a porta do veículo com
brutalidade e entrando no mesmo sentou-
se com a postura ereta e elegante no
banco do carona.
— Obrigada Blade, você é muito legal!
— Debochou Jesse, morta de felicidade
em saber que iria dirigir um legítimo
Impala.
A cada curva o coração de Jesse pulava
dentro do peito com medo de fazer
alguma burrice, matar os dois na
próxima esquina ou qualquer coisa do
tipo. Blade, por sua vez, não falava
nada, estava da mesma forma de quando
entrou no carro, com os braços cruzados
emburrado. Mas também não opinava
em nada, simplesmente ficava em
silêncio olhando sempre para frente com
uma expressão inelegível. Pelo canto
dos olhos Jesse viu quando bandido
achou a lua no céu que estava cheia e
brilhante. Ele conseguia ser ainda mais
bonito com a luz dela refletindo em seu
rosto, a forma do pecado em carne e
osso.
— Você conseguia mesmo me ouvir
através da Lua? — A voz grossa e sexy
dele ecoou dentro do carro. Jesse
congelou, as mãos tremiam segurando o
volante. Blade não percebeu o quanto a
sua pergunta havia deixado a jovem
nervosa, estava entretido demais com a
cabeça virada para o lado de fora da
janela inclinada um pouco para cima
namorando a beleza que era o céu à
noite.
— Então você lembra da noite em que
ficou doente e que dormimos juntos?
Tive tanto medo que morresse naquele
dia. — Comentou ela, pensativa.
— De cada palavra e detalhe. —Virou o
rosto para olhar para a Jesse bem no
fundo dos olhos.
— Eu também. — Jesse corou ao
lembrar que dormiram colados um ao
outro seminus, como um casal
apaixonado depois de passarem a noite
toda fazendo amor.
— Obrigado! — Exclamou Blade a
deixando pasma, ele não costumava ser
gentil assim com ela, nem com ninguém.
— Por que? — Jesse estava tentando
fielmente manter a atenção na estrada,
mas com os olhos dele queimando sobre
ela estava um pouco difícil manter o
controle do próprio corpo, imagina de
um veículo inteiro.
— Por ter salvado a minha vida por três
vezes. — A voz de Blade saiu baixa,
mas firme.
— Três? — Jesse lembrava apenas de
duas, da primeira quando quase matou o
parceiro atirando na mão dele que
estava com a arma apontada para Blade
e a segunda na noite quando ficou
doente.
— Sim! A terceira foi quando apareceu
na minha vida, estava morto antes de
você chegar. — Proferiu Blade, sincero.
Com os olhos azuis brilhando como duas
safiras valiosas à luz da Lua,
fascinantes. — Pensou Jesse Carter,
completamente apaixonada.
— Na verdade foi você que salvou a
minha vida, Blade, acreditou em mim
mesmo sabendo que sou um fracasso em
tudo o que faço. — Foi preciso a jovem
piscar várias vezes para conter o pranto,
era bom saber que agora não estava
mais sozinha no mundo. Era como se um
completasse o outro na medida certa. No
entanto, como o relacionamento de um
bandido cruel com uma policial poderia
dar certo? Era como querer juntar um
demônio com um anjo, praticamente
impossível.
— Mas em relação a sua pergunta é sim,
falava com você através da Lua. Era
como o vento, não podia te ver, mas
podia te sentir. — A voz de Jesse saiu
sensível, com um leve vestígio de choro.
— É bom saber que não estava louco, o
meu Anjo de fato sempre existiu. — Ela
podia sentir o coração apaixonado
derretendo dentro do peito. Blade
Maldonado era assim mesmo,
irresistível.
— Gosto quando me chama assim, Anjo.
— Ela corou um pouco. Mas o suficiente
para que Blade notasse o seu
constrangimento, nada passava
despercebido aos olhos dele.
— O seu cheiro ainda está no meu tapete
até hoje, toda vez que vou para o meu
esconderijo aquele é o único lugar onde
consigo dormir. Em frente a lareira, mas
o calor dela não é nada comparado ao
do seu corpo. — Revelou sem coragem
de olhar para ela. Passaram o resto do
caminho sem trocar nenhuma palavra, o
silêncio dizia tudo. A poucos
quilômetros adiante chegaram ao tal
local onde Jesse queria que ele
conhecesse, na verdade o único lugar
onde sentia-se realmente em casa,
amada.
— Que lugar é esse? — Perguntou o
bandido, um tanto curioso. Assim que o
Impala estacionou em frente a uma
antiga casa de madeira, era grande e
antiga, mas conservada, pintada de
branco encardido puxando para um tom
de bege barato. Em volta da mesma
havia um jardim bem cuidado com
diversos brinquedos feitos de madeira,
como chiador, balanço, roda-roda entre
outros.
— Onde sempre venho quando quero
esconder do mundo ou quando sou
magoada por algum idiota, você não é o
único aqui que tem um esconderijo,
Tigrão. — Provocou ela com sucesso.
— Pare de me chamar assim! —
Resmungou com uma expressão azeda no
rosto. Parecendo uma criança mimada
fazendo pirraça.
— Não parece se importar quando a
Sara te chama de Tigrão, não é mesmo?
Ah! Esqueci, vocês têm uma ligação
forte que vem de muitos anos. — Blade
odiava quando Jesse era irônica com
ele, realmente esse tipo de coisa não
combinava com ela.
—Temos mesmo! E isso não é da sua
conta, é assunto meu e da Sara. — Jesse
olhou para ele o encarando por alguns
segundos. Desviando o olhar logo após,
magoada por se maltratada por ele pela
milésima vez, Blade não sabia
conversar civilizadamente com ninguém,
perdia a paciência facilmente. Na
verdade, nunca a teve.
— Talvez não tenha sido uma boa ideia
tê-lo trazido aqui, pode ir embora se
quiser. É evidente que nem queria vir, eu
que fiquei insistindo. Pode seguir o seu
caminho, Blade, boa noite! – Ela saiu do
carro batendo a porta andando rápido
com olhos lacrimejando, mas não
chorou. Nem mesmo quando ouviu o
motor do carro acelerando, Blade estava
indo embora talvez para sempre.
— Engole o choro Jesse, eles não
merecem te ver assim. — Jesse
conseguiu se conter, Blade literalmente
era capaz de levá-la ao céu e ao inferno
na velocidade da luz. Respirou fundo
diante da velha porta de madeira e
segurou na maçaneta que estava com um
lado quebrado, lembraria mais tarde de
comprar uma nova. Conforme foi
abrindo o aroma de pipoca com
manteiga adentrou suas narinas e o calor
do lugar que mais amava no mundo
abrandou as suas dores, como o sol
aparecendo após um dia inteiro chuvoso.
Entrou fazendo o mínimo de barulho
possível, parecendo estar em um campo
minado.
— Surpresa! — Gritou Jesse animada,
assim que chegou na sala. Não tinha
mais vontade de chorar, era incrível
como aquele lugar tinha a capacidade de
curar qualquer tipo de dor seja qual
fosse o tamanho dela. Por isso queria
trazer Blade ali, mas era ignorante
demais para deixar que alguém fizesse
algo de bom para ele.
— Tia Jesse! — As crianças do Lar das
Freiras para Anjos que nasceram com o
vírus HIV gritaram em uníssono, eram
completamente apaixonadas pela
investigadora. No atual momento, o
número de abrigados no lugar era de
vinte crianças, todas muito bem
cuidadas com muito amor e carinho
pelos voluntários do lugar. Jesse se
orgulhava muito de ser uma das
responsáveis por ajudar manter o local
aberto, todo mês entregava pessoalmente
a metade do seu salário e se pudesse o
doaria todo.
—Boa noite, meus amores! — Beijou o
rosto de um por um, com carinho. Era
sábado à noite, dia de ficarem
acordados até mais tarde, não muito,
para a sessão de histórias da Irmã
Florence, diretora do abrigo, comiam
pipoca e brincavam a vontade.
— Que bom que deu para você vir,
querida, por um minuto não pegaria o
começo da história. — A irmã Florence
chegou na sala segurando a pequena
Alice de apenas dez meses no colo e um
sorriso enorme no rosto.
— Pensei que não daria para vir irmã,
mas aqui estou. — Jesse abraçou a
freira depositando um beijo no rosto de
Alice que vivia com a cara fechada, não
aceitava ir no colo de ninguém além da
irmã Florence e não largava a sua
chupeta para nada, só para mamar. A
Freira sensitiva como era percebeu que
a investigadora não estava bem, uma
pessoa quando gosta de verdade da
outra conhece quando está triste.
— E o seu amigo quem é? — Perguntou
a Freira olhando para alguém atrás de
Jesse, a jovem ficou petrificada. Depois
de retomar a razão olhou para trás e lá
estava Blade lindo como sempre com as
mãos nos bolsos da calça jeans,
totalmente sem jeito. Mas a cara azeda
continuava a mesma, porém o que
importava era que ele não tinha ido
embora.
— Ele é o seu namorado, tia? —
Perguntou Thomas, um garotinho ruivo,
de sete anos, cheio de sardinhas
alaranjadas. Usava pijama branco com
desenhos de carrinhos, nos pés meias
com orelhas de gatinhos. A mãe dele era
uma garota de dezoitos anos que morreu
pouco depois de dar-lhe à luz. Ninguém
sabia quem era o pai, por ter nascido
com o vírus da AIDS ninguém da família
quis ficar com o pobrezinho, então o
entregaram ainda bebê para a irmã
Florence.
— Pare de ser intrometido, Thomas,
isso é feio. Deixe a nossa visita em paz
e sente-se no seu lugar, meu amor, daqui
a pouco começarei a contar a história de
hoje. — A Irmã salvou Jesse, não tinha
resposta para a pergunta do garoto.
— Desculpe por ter trazido alguém sem
avisar irmã, mas queria que ele
conhecesse o lugar que mais amo no
mundo. Que me faz sentir em casa,
protegida. — Blade olhou à sua volta
vendo um monte de crianças bagunceiras
falando todas ao mesmo tempo, uma
casa bagunçada com brinquedos
espalhados até no teto. Fora que parecia
um arco-íris de tantas cores que tinha,
um exagero. Pensou ele, não
conseguindo ouvir os próprios
pensamentos no meio daquela bagunça
toda. — “ O que ela vê de tão incrível
nesse lugar? Não conheço o inferno,
mas deve ser melhor do que esse lugar
cheio de monstrinhos falando sem
parar. ”
Blade estava horrorizado! Se não queria
ter filho antes, agora muito menos. Nem
em um milhão de anos, só não saía
correndo sem olhar para trás, por causa
da Jesse. Ainda mais quando viu uma
foto de Jesus pendurada na parede,
olhando para ele como se o estivesse
julgando por estar ousando pisar em
solo sagrado. Para falar a verdade não
entendia o qual a intenção dela em trazê-
lo ali, era evidente que iria odiar logo
de cara.
— Seja bem-vindo a nossa casa, meu
filho, aqui todos são bem-vindos. Assim
como Deus que apenas ama seus filhos
independentemente de qualquer coisa,
não julgamos ninguém. — A irmã
Florence pousou a mão no ombro dele,
olhando para ele como se pudesse ler os
seus pensamentos. Era uma senhora de
mais de oitenta anos, a pele enrugada
cheia de marcas mostrando a
experiência e a sabedoria que tinha,
— Obrigado. — Respondeu apenas,
desconfiado, fitando aquela mulher
trajando o seu costumeiro hábito preto
tapando dos pés até o último fio de
cabelo, a gola era branca e sobre ela a
corrente que pendurava um crucifixo.
— Eu que agradeço, querido! Não temos
muitas visitas aqui, denominam as
nossas crianças como demônios só
porque que nasceram com o vírus HIV,
dizem que tem o “sangue ruim”. —
Naquele momento Blade levou um tiro,
bem no meio do peito acertando o
coração em cheio, a dor era a mesma.
Consequentemente, voltou a olhar a sua
volta, mas com outros olhos. Então ele
se viu naquelas crianças, só que
diferente dele elas tinham umas às outras
e alguém que as amava. Ele não teve
nada disso, teve que se virar sozinho.
Eram felizes mesmo tendo vários
motivos para serem tristes, e
estranhamente sorriam o tempo todo. A
casa não parecia mais uma bagunça e
sim um esconderijo bem equipado para
aqueles não aceitos pelo mundo. —
“Agora entendi o porquê ela me trouxe
aqui, para mostrar que existiam outros
iguais a mim. Mas que sorriam apesar
de tudo, apesar da dor. ”
— Agora se acomodem onde acharem
mais confortável, porque vou contar uma
bela história que cabe perfeitamente no
dia de hoje. Poderia segurá-la para mim,
querido? Acho que ela gostou de você.
—A irmã Florence praticamente jogou a
criança no colo de Blade, que a segurou
no ar com nojo que encostasse nele. A
pequena Alice parou de chupar a
chupeta cor de rosa encarando o
bandido, pelo jeito o charme de Blade
funcionava com o sexo oposto
independentemente da idade. Foi então
que ela sorriu para ele, esticando a
mãozinha para tocar em seu rosto.
— Acho que ela gostou de você, não
gosta de nenhum colo além do da irmã
Florence. — Comentou Jesse sorrindo,
Blade sentiu um alívio imenso ao saber
que ela não estava mais chateada por ele
ter sido um completo idiota pela
milésima vez. — Segure ela direito
porque pode deixá-la cair no chão, não
queremos isso não é Alice? — Fez
carinho no rosto da pequena, ajeitando-a
do jeito corretamente no colo de
Maldonado.
— Pegue-a você, não gosto de crianças!
– Tentou entregar Alice para Jesse, mas
a pequena envolveu os bracinhos
gorduchos em volta do pescoço dele
deitando a cabeça no seu ombro.
Chupando a chupeta, piscando
lentamente, sonolenta. Sem muita
alternativa, sentou com ela agarrada nele
ao lado da investigadora no sofá verde
escuro para ouvir a freira contar a tal
história.
— A história escolhida de hoje é a do
“Bom Samaritano”, onde Deus vem nos
ensinar que a bondade de um coração
muitas vezes está escondida onde menos
parece. — Explicou a irmã Florence em
uma cadeira de balanço com todas as
crianças sentadas no chão em silêncio a
ouvindo com os olhinhos atentos.
Menos uma que estava emburrada
sentada no segundo degrau da escada
que dava para o segundo andar da casa,
era Jeniffer a mais velha entre os
abrigados. Ficava sempre sozinha pelos
cantos, com uma touca preta cobrindo a
metade do rosto e fones nos ouvido com
a música gótica no último volume. As
unhas pintadas de preto, combinando
com o restante de suas vestes que eram
no mesmo tom. Parecia até filha do
Estevão, pensou Blade. Apesar de tanta
personalidade para uma garota de treze
anos, ela tinha um olhar inseguro, triste,
diria ele. Jesse agradeceu a irmã por ter
escolhido aquela linda história para
contar, realmente cabia feito uma luva
para a ocasião.
— Obrigada por não ter ido embora, não
sabe o quanto é importante para mim que
esteja aqui. — Jesse deitou a cabeça no
ombro livre de Blade, já que o outro
estava mais que ocupado com a pequena
Alice que ainda mantinha os bracinhos
em volta do pescoço dele segurando
com força como se tivesse medo de que
alguém a tirasse dali.
— Quando quero uma coisa, não sou de
desistir fácil. — Blade entrelaçou os
dedos dele em meio aos da jovem, que
para ela soou como um “Estou feliz
também de estar aqui com você. ”
“Era uma vez um certo homem que foi
assaltado, o espancaram até cair no
chão. E enquanto ele sangrava passou
um cidadão, era um sacerdote e fingiu
que não o viu pois estava com pressa,
tinha prioridades, mas a verdade é que
lhe faltava amor. No mesmo lugar vai
passando um levita, quem sabe uma
canção para Deus. Ele cantava dizendo
“Eu Te amo acima de tudo! ”, mas não
amou o próximo como se deve amar,
como a si mesmo. Fez a mesma coisa
que o sacerdote e prosseguiu de mãos
vazias e o homem machucado
continuou caído no chão. No mesmo
lugar vem vindo um bom samaritano,
não sei o seu nome ou mesmo a sua
religião. Não sei como ele cantava, se
orava bem, mas sei que suas mãos
estavam ocupadas. Mas dentro dele
havia muita compaixão e quebrando
protocolos se aproximou do homem
ferido. Derramou azeite em suas
feridas, estancou o sangue e o
levantou. O bom samaritano sem
nenhuma obrigação cuidou daquele
homem fazendo da sua vida a essência
dele. Ele não olhou para sua
aparência, nem para o que aquele
pobre homem tinha para oferecer,
apenas o ajudou. Assim é Deus que não
julga as pessoas pela aparência ou
pelo que dizem ser. Mas vê a sua
atitude quando faz as coisas para não
ganhar nada em troca ou quando as faz
sem ninguém estar olhando. ”
No final da história Blade apertava tanto
a mão de Jesse que parecia que ia
esmagar os dedos dela a qualquer
momento. Talvez ainda houvesse alguma
chance para um pagão como ele. A
investigadora não era a única ali a fazer
bom uso do seu dinheiro, os parceiros
de Maldonado não faziam ideia de onde
o mesmo enfiava tanto dinheiro se não
possuía conta bancária em lugar nenhum
e nem tinha muitas propriedades. O que
ninguém sabia era que Blade era como
Robin Hood, roubava dos ricos para dar
aos pobres. Mas o que se dá com uma
mão, a outra não precisa saber, guardava
o segredo só para ele. Logo o bandido
deu pressa de ir embora, também já
tinha passado da hora das crianças irem
para a cama.
— Onde coloco essa coisa? —
Perguntou Blade, com total desdém.
Apontando para a Alice que dormia
serenamente em seu colo, como uma
bonequinha de porcelana.
— No segundo andar a última porta no
final do corredor, pode deitá-la no
berço. — Disse a freira com vontade de
rir, as vezes o mau humor de Blade
chegava a ser engraçado para quem não
o conhecia de verdade. Ele subiu as
escadas resmungando, mas colocou o
bebê no berço com o maior cuidado do
mundo e ainda lhe afagou os cabelos
louros, mesmo não gostando dela tinha
que admitir que as bochechas gordas e
rosadas era uma graça. Na volta
passando pelo corredor topou com
Jeniffer, a projeto de filha do Estevão,
de treze anos. Com a touca na cabeça
quase escondendo os olhos e os fones no
ouvido como som tão alto que o bandido
conseguia ouvir a música de longe e a
cara mais azeda do que a dele.
— Não precisa se esconder do mundo,
muitos não tiveram a mesma sorte que
você tem de morar em uma casa com
pessoas que te amam. Não deixe
ninguém tirar os melhores momentos da
sua vida de você, tome uma atitude antes
que seja tarde. — Exclamou Blade
assim que passou pela garota, sem virar
para olhar para trás ele ouviu o barulho
da touca indo ao chão e os fones sendo
arremessados para longe. Enfim, Jeniffer
resolveu se libertar para o mundo. Blade
e Jesse se despediram da irmã Florence
e foram embora, levando com eles a paz
daquele lugar.
— Vou te levar para a casa. — Proferiu
Blade, entrando no carro do lado do
motorista.
— Isso é seu e melhor entregar antes que
eu esqueça. — Pegou o gravador na
bolsa e entregou para ele já dentro do
carro, sem encará-lo. — Obrigado por
me levar para casa, sei que fica bem
longe da sua rota normal. — Ajeitou-se
no banco carona, puxando o vestido
curto para baixo.
— Não vou te levar para a sua casa. —
Girou a chave fazendo o motor do
Impala roncar e lançou os olhos para as
pernas dela com mais da metade
descoberta. — Vamos para a minha. —
Concluiu com a voz grave e firme.
— O pessoal estará nos esperando lá?
— Perguntou desconfiada, nervosa com
a ideia de ter que ficar sozinha com ele.
— Não estou falando dessa casa, mas
sim do nosso esconderijo nas
montanhas. — Como assim nosso? Se
não tivesse ouvido em alto e bom tom
teria pedido para que ele repetisse
novamente, só para ter certeza que não
estava ficando louca. Quando chegaram
no esconderijo “deles”, o coração dela
parou quando Blade trancou a porta,
pegou na mão dela em silêncio e a
conduziu até o seu quarto, o principal da
casa.
— Boa noite, investigadora! – Ele disse
parado bem na frente dela assim que
chegaram no quarto. — Se precisar de
mim estarei dormindo no tapete em
frente a lareira, sentindo o seu cheiro.
—Esfregou a ponta do nariz na curva do
pescoço de Jesse, fazendo contornos
delicados com a ponta do polegar nas
costas dela. Ela quase gritou pedindo
que não a deixasse dormir sozinha.
— Porque não pode dormir aqui
comigo? A sua cama é grande, cabe duas
pessoas perfeitamente nela. —
Argumentou alisando o rosto dele que
fechou os olhos para desfrutar daquela
sensação maravilhosa.
— Não sei se conseguiria só dormir ao
seu lado, é mais seguro para você que eu
fique na sala. Só te trouxe para cá
porque te quero perto de mim essa noite,
mesmo que não seja em meus braços. —
Os olhos dele escureceram,
perigosamente.
— Não estou falando literalmente em
dormir Blade, agora você que está se
fazendo de bobo. — Resmungou ela,
nervosa.
— Não acho certo que isso aconteça
hoje, seria como se quisesse me dar algo
em troca por ter perdoado você. Além
do mais, devíamos ao menos sair
algumas vezes ou ver alguns filmes
juntos sentados no sofá. Odeio esse tipo
de programa, mas por você eu posso
suportar. Quero fazer disso o mais
normal possível, que seja bom para
você. — Tentou pegar a mão dela, mas
ela não deixou recuado com um passo
para trás.
— Essa escolha não é sua, Blade. —
Afastou um passo para olhar melhor
para ele. — É minha e espero que aceite
a minha decisão. — Completou Jesse,
levando as mãos para trás do corpo à
procura do fecho do vestido.
CAPÍTULO 22
— Precisa de ajuda? — Perguntou
Blade vendo a pobre moça quase
arrancando o fecho do vestido tentando
abri-lo. Já que aquela era a decisão final
dela iria fazer valer a pena tê-la feito.
— Sim, obrigada! – Respondeu com a
cabeça baixa, morta de vergonha.
— Apenas relaxe, prometo ser gentil. —
Blade aproximou a boca do ouvido da
investigadora, com a respiração quente
fazendo cócegas no pescoço dela.
Ele desceu o zíper do vestido,
depositando leves beijos no pescoço de
Jesse. A peça foi ao chão em uma
fração se segundos, desnudando o corpo
frágil. Ela usava um conjunto íntimo
branco de renda com combinações de
três peças, a que mais lhe chamou a
atenção foi a cinta-liga na qual a bainha
encontrava o topo da meia calça bem ao
meio das coxas levemente torneadas.
Blade foi obrigado a recuar um passo
para admirá-la melhor, com calma.
Perdeu o fôlego, Anjo era pouco para
denominá-la naquele momento.
— Você sempre me surpreendendo,
Senhorita Carter. — Blade fez questão
de chamá-la pelo segundo nome, para
toda e qualquer insegurança em relação
a culpa pelo pai dela fosse embora. E
correu os olhos deliberadamente pelo
seu corpo de cima a baixo para que ela
soubesse o quanto a desejava.
— Não gostou? Eu desconfiei que não
iria gostar dessa cor, se eu soubesse que
estaria com você teria escolhido algo
melhor. — Ela corou, cobrindo o corpo
com as mãos.
— Está perfeita, branco é a cor dos
anjos. — Acariciou alguns cachos de
Jesse, depois o rosto. Diminuindo a
distância entre os dois novamente, para
sentir o aroma natural de flores frescas
que vinha dela.
— O seu coração bate forte para quem
diz que não tem um, posso ouvir daqui.
— Correu sensualmente as pequenas
mãos pelo seu peito forte.
— Ele só se manifesta quando estou
com você. — Disse com a voz ardente,
carregada de desejo.
Ela sorriu tímida, sem acreditar que
aquilo realmente estava acontecendo.
Havia valido a pena esperar por tanto
tempo, vinte e seis longos anos. Na
verdade, ela não havia beijado ninguém,
não por falta de pretendente, nem que
eles não existissem, mas nunca tinha
chegado de fato a se interessar por
alguém para chegar em tal ponto.
— Não sei o que fazer, Blade. Dei o
meu primeiro beijo um dia desses. Eu te
quero muito, você é bem mais velho do
que eu e com certeza tem um vasto
conhecimento em sexo, estar comigo vai
ser muito sem graça para você. — Ela
desviou o olhar, constrangida. Não
conseguia manter contado visual com
ninguém por muito tempo, sempre fora
extremamente tímida.
— Também não sei o que fazer, nunca
estive com uma virgem antes. Não vou
mentir para você, gosto de sexo bruto e
selvagem, avassalador. — Apertou a
cintura dela, puxando-a para mais perto
dele, desafiando a lei da física tornando
dois corpos em um só.
— Tenho medo de me descontrolar e
acabar te machucando, as mulheres que
costumo sair gostam de brutalidade. Mas
você é pura demais para algo tão sujo,
na verdade isso que estamos fazendo
não é certo, Pequena. — Virou de
costas para ela, pela primeira vez na
vida tentando fazer a coisa certa.
— Porque não? — Perguntou Jesse,
abraçando as costas dele deitando a
cabeça sobre a mesma com cuidado, não
sabia qual seria a reação dele.
— Nessa história eu sou o Lobo Mau,
Jesse. Lobos são caçadores, não
mandam cartas, presenteiam com flores,
muito menos juram amores. Deveria
dividir esse momento tão especial com
alguém digno e que te mereça de
verdade, o barman talvez. — Ela sentiu
os músculos de Blade ficarem tensos, os
punhos fechados com força. Era
evidente que não estava sendo fácil para
ele dizer aquelas coisas, mas era
preciso.
— É isso que você quer? Que eu me
entregue a outro homem? Pensei que me
desejasse! — Jesse o soltou
imediatamente, insegura.
— Claro que não, porra! Eu quero você,
como nunca quis nada na vida. Mas
acontece que ele é o mocinho dessa
história, sou apenas o vilão, o mais
cruel de todos. — Blade virou de frente
para ela, a encarando com os olhos
carregados como as nuvens no dia no
dilúvio.
— Então pare de me jogar para os
braços de outro, o meu coração dói
quando fala esse tipo de coisa. Se não
me deseja é só falar, não precisa ficar
inventando desculpas para sair fora. —
Abaixou os olhos para os próprios pés,
remexendo o bendito anel de um lado
para o outro no dedo em movimentos
circulares, segurando o choro.
— Se eu me afastar não é por falta
sentimento, é por excesso dele. — Blade
ergueu o rosto dela com carinho e
depositou um beijo no rosto negro
levemente corado, tímido.
— Bom, mudando de assunto. Se você é
o Lobo Mau nessa história, quem sou
eu? — Se a intenção dela era tirar o
clima pesado no ar, tinha conseguido
com louvor. A expressão séria do rosto
de Blade fora embora, deixando uma
mais leve no lugar. Jesse fizera com ele
a mesma brincadeira que o bandido fez
quando se conheceram, no dia quase
morreu de constrangimento.
— A Chapeuzinho Vermelho. — Ele
respondeu com os olhos escuros
faiscando de desejo e luxúria.
— E o que o Lobo Mau faz com a
Chapeuzinho Vermelho? — A voz de
Jesse saiu provocativa, um anjo
brincando de ser demônio, pensou ele,
gostando da ideia.
— Ele a come!!! – Sussurrou baixinho
ao pé do ouvido dela, sedutor. —
Lentamente. — Concluiu a fazendo
gemer.
— Não pense no amanhã. Blade, vamos
viver apenas o agora. — Pegou a mão
dele e colocou sobre o seu coração,
para que soubesse que pertencia a ele e
a ninguém mais.
— Realmente acho que deveria
trabalhar com vendas, é ótima em
convencer as pessoas. — Brincou Blade
sorrindo. Sim! Ele estava sorrindo para
a mulher seminua à sua frente, a única
capaz de fazê-lo realizar tal proeza.
— Eu amo o seu sorriso, assim como
tudo que há em você. — Jesse tomou a
iniciativa de beijá-lo com paixão
envolvendo os braços em volta do
pescoço dele, tendo que ficar na ponta
dos pés para poder tocar-lhe os lábios.
Blade interrompeu o beijo, a jovem
quase enlouqueceu pela falta de contado
físico.
— Não importa quanto tempo eu viva ou
onde vá, vou me lembrar dessa noite a
cada segundo da minha existência. —
Blade a girou para que ficasse de costas
para ele abraçando-a pela cintura,
colando o seu corpo ao dela.
Provocando-a com leves mordidas na
orelha, enquanto abria o fecho do sutiã
com calma, após libertar os seios tocou
os mamilos com os polegares em
movimentos circulares. Dando vários
beijos no ombro dela desceu pelas
costas deixando um rastro de pequenos
chupões, a respiração de Jesse ficava
cada vez mais pesada.
— Posso? — Ele pediu autorização para
terminar de desnudá-la. Jesse não
entendeu o pedido já que havia tirado a
parte de cima. Mas acontece que agora
iria tocar no local mais sensível de uma
mulher, não achava certo fazê-lo sem
perguntar se realmente podia. Ela
assentiu e Blade tirou devagar a sua
meia calça, soltando as presilhas e
enrolando-a lentamente pelas suas
pernas, detendo-se para depositar beijos
nas partes conforme iam ficando
desnudas.
— Você tem belas pernas, Senhorita
Carter. — Jesse nem percebeu quando
Blade se pôs de pé por de trás dela
novamente, mordendo a curva do seu
pescoço a segurando firme pela cintura
esfregando nela o membro duro dentro
da calça. Migrando as mãos para dentro
da calcinha, se livrando dela como um
truque de mágica. Ela ouviu passos em
direção a estante e segundos depois, os
acordes da guitarra da música “Always”
do Bon Jovi tomaram conta do quarto.
— Você é maravilhosa, uma obra de
arte. — Sussurrou baixinho alisando a
barriga dela com as pontas dos dedos,
mantendo-se atrás dela. Jesse estava
começando a ficar nervosa com o fato
de não poder vê-lo, queria ver a
expressão dele enquanto a tocava.
— Por favor Blade, quero olhar para
você quando estiver me tocando. —
Suplicou. — Também queria poder te
tocar, sentir o calor do seu corpo... — A
voz quase falhou, ficando constrangida
depois que falou.
— Ainda não, Anjo, tenha calma e me
deixe admirá-la por mais alguns
instantes. Deite-se na cama, que já estou
indo lhe fazer companhia. — Jesse se
encolheu ao ouvir a palavra cama, então
ele a puxou para mais perto beijando
seus ombros até que relaxassem e se
sentisse segura.
— Porque escolheu essa música? —
Estava curiosa com esse detalhe, mesmo
sabendo que ele não gostava de
perguntas arriscou fazer aquela.
— Porque ela me fez companhia durante
todos os dias que esteve sumida, não é
justo que agora que está em meus braços
a deixe de fora desse momento, o nosso
momento. — Ouvindo aquilo Jesse
perdeu o foco de tudo, nem soube como
teve pernas para caminhar até a cama
deitando-se de barriga para cima sobre
a mesma. O bandido teve que se
concentrar, a imagem da jovem nua em
sua cama o estava convidando a voar
por sobre ela e a possuir de todas as
formas possíveis. No entanto, precisava
se controlar para fazer tudo certo e dar a
ela a primeira vez que toda mulher
merece ter. Sem pressa começou a tirar
a roupa, sem tirar os olhos dela, que o
encarava timidamente.
Always - Sempre (Bon Jovi)
Este Romeu está sangrando
Mas você não pode ver seu sangue
Não é nada além de sentimentos
Que este velho sujeito abandonou
Tem chovido desde que você me deixou
Agora estou me afogando na enchente
Sabe, sempre fui um lutador
Mas sem você, eu desisto.
Saiba que estarei te esperando até as
estrelas não brilharem,
Até os céus explodirem e as palavras
não fazerem mais sentido
Sei que quando eu morrer, você estará
em minha mente
E eu te amo, sempre amei.
O que eu não daria para passar meus
dedos pelos seus cabelos
Para tocar seus lábios, abraçar-te
Quando você disser suas preces, tente
entender
Cometi erros, sou apenas um homem
Eu vou te amar, querida.
E estarei aqui, para sempre e mais um
dia... Sempre.
Se você me dissesse para chorar por
você, eu poderia
Se você me dissesse para morrer por
você, eu tentaria
Olhe para o meu rosto, não há preço
que eu não pague
Para dizer estas palavras a você.
Eu vou te amar, querida
Sempre
E estarei lá, para sempre e mais um dia
Sempre....
Por fim Jesse nem estava prestando
atenção na música mais, a imagem de
Blade caminhando nu em direção a ela
lhe tirou todo e qualquer tipo de
sanidade. Dormindo era grande, mais
acordado era um monstro. — Pensou
Jesse se perguntando se era normal ser
daquele tamanho. E principalmente se
aquilo tudo caberia dentro dela, parecia
algo impossível. Ele era lindo demais,
uma beleza estonteante. Ele subiu sobre
a cama engatinhando como um tigre
prestes a atacar a presa, o peito dela
subia e descia rapidamente, nervosa. O
bandido subiu beijando os pés da jovem,
depois pouco abaixo do joelho trilhando
um caminho entre as pernas dela, quando
chegou a vez da parte de dentro da coxa
Jesse ficou tensa segurando o lençol
com força para o que supôs estar por
vir. Mas para sua surpresa Blade pulou
a parte íntima da jovem beijando o osso
do quadril, ele queria prová-la de todas
as formas sim, só que não queria deixá-
la constrangida logo em sua primeira
vez. Passou a língua na parte debaixo do
seio esquerdo o sugando de leve. Jesse
não conseguia se conter diante de tantas
sensações novas, agarrou os cabelos
dele o puxando para ela totalmente
descontrolada enquanto era sugada sem
pudor.
— Calma, Pequena. — Ele sorriu
olhando para Jesse, sedutoramente.
— Desculpe! — Pediu ela, corada. Isso
só o excitou ainda mais, ao nível
extremo. Blade começou a beijar
suavemente seu pescoço e a região da
clavícula, ao mesmo tempo
massageando os seios que estavam com
os mamilos duros implorando que
fossem tocados por ele. Queria que ela
se sentisse segura e desejada.
— Beije-me! — Ela pediu, precisava ter
certeza que aquilo estava realmente
acontecendo.
— Esse será o seu último beijo como
uma virgem, antes de se tornar uma
mulher nos meus braços. — Sussurrou,
beijando o ombro dela.
Ele se inclinou, colocando-se sobre
Jesse, uma perna entre as suas e a outra
do lado seu corpo, dividindo o peso do
monte de músculos entre os cotovelos
apoiados na cama próximo aos de Jesse.
Sem tirar os olhos dela por nem um
segundo, a seduzindo em silêncio.
— Fico feliz que seja com você, não
imagino sendo com qualquer outro. —
Jesse elevou a cabeça um pouco para
esfregar a ponta do nariz dela no dele,
com carinho.
— Preciso que converse comigo, dizer
se está gostando ou qualquer tipo de
desconforto. Sou um pouco grande e
você é muito pequena e frágil, uma
combinação perigosa ainda mais para
um momento como este. Não quero te
machucar, jamais me perdoaria se isso
acontecesse. Mas preciso que me ajude
a ajudar você, mesmo sendo gentil
acredito que no começo ainda deva
sentir um pouco de dor. — Explicou ele,
sendo maduro.
— Tenho um pouco de vergonha de falar
sobre esse tipo de coisa, não tem
problema se doer um pouco, eu aguento.
— Desviou o olhar, muito
envergonhada.
— De forma nenhuma! Não é mais uma
adolescente, porra, essa não é uma boa
hora para agir como uma. — Disse com
a voz um pouco alterada, mas não com
raiva.
— Desculpe. — Pediu com vontade de
chorar, assustada. Ele sentiu um aperto
no peito ao ver a angústia nos olhos
dela, por um momento esquecera o
quanto era sensível.
— Eu te desejo tanto, Pequena, consegue
entender isso? — Perguntou com a voz
baixa, praticamente um sussurro.
Acariciando os cachos rebeldes
espalhado de forma aleatória e selvagem
pelo travesseiro. Ela sorriu, feliz diante
de tais palavras. — Mas para ser bom
para mim tem que ser bom para você
primeiro, quero te dar todo prazer do
mundo. — Completou olhando no fundo
dos olhos dela, demostrando que estava
falando muito sério.
— Eu prometo dizer se algum momento
me deixar desconfortável, porque só vai
ser bom para mim se for para você
também. — Jesse fez carinho no rosto
dele, sorrindo. O semblante de Blade se
iluminou como o pôr do sol em um dia
de verão, o céu representado pelos
olhos incrivelmente azuis naquele
momento.
— Obrigado investigadora, você é muito
legal! — Brincou ele, aliviado.
Levou a boca até os seios dela,
segurando um com a mão e sugando o
outro com vontade. Queria fazer aquilo
desde que os vira debaixo da camisa
branca dele molhada que estava em
Jesse emprestada na primeira vez que
esteve em seu esconderijo, eram
perfeitos do jeito que imaginou por
diversas vezes. Estava a torturando com
lambidas lentas, mordendo os mamilos
que ficavam cada vez mais rígidos.
— Blade... — Ela gemeu, jogando a
cabeça para trás quando uma mão
atrevida de Blade tocou na sua
intimidade explorando o território
novo. Ele a calou com um beijo
molhado, sedento. O tal último dela
como uma virgem, por isso fez questão
de caprichar. Ainda a beijando ergueu o
braço para pegar uma camisinha na
gaveta do criado mudo ao lado da cama
e a colocou o mais rápido que pode, em
tempo recorde.
— Está pronta? — Ela assentiu, o
bandido a agarrou firme pelos quadris e
pressionou o corpo conta o da jovem.
Encaixou o membro na entrada dela que
parecia ter feito como molde para
recebê-lo, um encaixe perfeito. Quase
perdeu o controle quando percebeu o
quanto ela estava molhada esperando
para ser preenchida e saciada.
— Eu sempre estarei pronta para você!
— Jesse sorriu para ele, que sorriu para
ela de volta.
— Confie em mim, amor! —Jesse estava
tendo alucinações ou ele havia mesmo a
chamado de amor? Não teve muito
tempo para pensar, pois ele a penetrou,
sem avisar. Mas, só um pouco.
Ela fechou os olhos com força sentindo
uma ardência em meio às pernas, era
dolorosamente gostosa a sensação.
Blade estava se segurando para não
entrar rasgando tudo, se fosse com outra
mulher já estaria mole nas mãos dele há
muito tempo. Mas sabia que qualquer
movimento brusco poderia machucá-la,
então permaneceu imóvel até que ela se
acostumasse um pouco com tamanho
dele dando uma atenção especial para os
seios lambendo e chupando na intenção
de distraí-la um pouco da dor, tinha
ciência do seu membro que tinha um
tamanho avantajado e o fato dela ser
muito apertada não estava ajudando
muito, seria doloroso para ela de um
jeito ou de outro.
— Essa parte não vai ser muito
confortável, tente não ficar nervosa. —
Como Jesse apenas assentiu sem abrir
os olhos, ele levou a boca bem próximo
ao ouvido dela.
— Por favor, abra os olhos, amor! —
Ela o abriu na mesma na hora, ela havia
lhe chamado de amor pela segunda vez
naquele dia. Blade a encarava fixamente
sem piscar. Com as duas safiras azuis
fixas nela, brilhando como um farol em
alto mar. — Não sou o melhor homem
do mundo, mas prometo te dar o melhor
de mim. — Completou sério na intenção
de passar o máximo de confiança
possível e tranquilizá-la.
Deu a primeira investida rompendo o
hímen, sentindo as paredes vaginais de
Jesse se contraírem em protesto a aquele
corpo estranho pedindo passagem, para
Blade a melhor sensação do mundo. Ela
arregalou os olhos em uma expressão de
dor, o que excitou ainda mais o bandido.
Involuntariamente a investigadora soltou
um leve gemido, foi nesse momento que
ele percebeu que apesar da dor estava
sendo prazeroso para ela também. Jesse
sorriu ao sentir o homem que amava por
completo dentro dela, de repente uma
onda de calor irradiou por todo o seu
corpo quando ele começou a entrar e
sair em uma lentidão enlouquecedora,
uma deliciosa tortura. A jovem estava
amando o cuidado que o bandido estava
tendo em todos os momentos, se
esforçando para ir com calma para não a
machucar. Contudo, queria mais dele,
muito mais. Ser responsável por fazê-lo
perder a cabeça e amá-la loucamente,
desabar sobre o seu corpo totalmente
sem forças. Pensando assim, decidiu
mostrar que não era tão frágil assim,
sabia ousar às vezes. Em um só
movimento ágil, inesperado para Blade,
Jesse estava sentada sobre ele, com uma
perna de cada lado do seu corpo.
— O que está fazendo? — Perguntou um
bandido confuso, com o cenho franzido
prestes a fechar a cara. Odiava perder o
controle da situação, não estar no
comando.
— Colocando o meu um por cento
demônio em ação. — Ele sorriu
surpreso e malicioso.
— Você não deixa de me surpreender,
investigadora! — Não resistiu e levou
as mãos aos seios dela que estavam
balançando, chamando por ele. Não
satisfeito em apenas tocá-los levou a
boca primeiro um, depois o outro. Eram
médios e redondos que cabiam
perfeitamente dentro das suas mãos,
como de uma adolescente na puberdade,
ela parecia uma. Linda, pura e inocente,
como um Anjo de verdade. Voltou a
deitar as costas na cama para admirar a
bela dela, só agora estava percebendo o
quanto era linda. Os cachos rebeldes
caindo sobre o rosto, a pele negra
levemente corada em um tom vermelho
aveludado escuro. Os lábios que já eram
naturalmente grossos estavam mais
volumosos devido ao inchaço causado
pelos beijos apaixonados protagonizado
pelos dois instantes atrás, que se
repetiria inúmeras vezes mais naquela
noite, dois amantes descobrindo o amor.
Naquele momento, Jesse poderia pedir o
que quisesse que ele daria. Ela o tinha
em suas mãos, de corpo e alma. De uma
forma muito sexy o puxou pelo cordão
do exército em seu pescoço e o encarou
olhando no fundo dos olhos
intensamente.
— Eu sou nova nisso, sabe? Então
preciso que converse comigo, dizer se
está gostando ou se estou fazendo algo
de errado. Se sentir desconfortável pode
falar, temos que trabalhar juntos para
que isso dê certo, essa não é uma boa
hora para ficar tímido. — Blade
assentiu, soltando uma gargalhada
gostosa.
— Sim, senhora! — Disse Blade,
levantou a mão até a cabeça prestando
continência. Como um bom soldado de
guerra dando continência ao seu
superior, sua dona inclinou o corpo para
tocar seus lábios e ele a abraçou forte
por um motivo que nem ele sabia qual.
Não costumava falar durante o sexo, mas
estava achando muito interessante todo
aquele contato físico, os olhares e acima
de tudo o diálogo durante todo o ato.
— Ótimo! — Exclamou Jesse, mandona
o empurrando para trás com a mão
aberta em seu peito, tendo o deslumbre
da imagem de uma parede de músculos
desenhada com belos gominhos bem
definidos. Parecia o corpo de um atleta
olímpico, no auge de sua carreira. Jesse
ergueu o quadril, fazendo Blade prender
a respiração quando ela meio sem jeito
segurou o seu membro encaixando-o na
intimidade dela, e sentou sobre ele, em
um golpe só.
— Por mil demônios. — Gemeu
Maldonado, em êxtase. Ela o estava
levando a um grau de loucura
desconhecido pela ciência, de um jeito
fascinante. Era uma sensação tão forte
que teve que fechar os olhos para
sobreviver ao impacto que causara nele,
parecia ter sido pego por uma onda
gigante.
— Olhe para mim! — Ordenou Jesse,
inclinando o corpo sobre Blade
aproximando o rosto ao dele. Ela o
encarava fixamente quando ele
obedeceu, os olhos em duas nuvens
acinzentadas com manchas azuis
dançando tango dentro delas.
— Quero que seja o primeiro e o último.
— Declarou Jesse em um dos seus raros
momentos de segurança.
— Não haverá nenhuma outra para mim,
nem nessa vida ou qualquer outra que
possa existir. — Exclamou Blade, sem
perder o contato visual.
Eram dois aprendizes na arte de amar e
de serem amados. Ela nunca tinha feito
amor, ele apenas sexo. Era como se um
completasse o outro, a outra metade da
laranja. Blade tentou beijá-la, mas Jesse
não deixou. Começou a rebolar em cima
dele, deixando-o totalmente louco.
Notando a falta de experiência da moça
e um pouco de timidez da parte dela ao
realizar os movimentos, segurou firme
em sua cintura impulsionando a subir e
descer. Ele podia ouvir os gemidos dela
ecoando por toda a casa de tão excitada.
Blade limitou-se apenas em admirá-la,
jogando a cabeça para trás apertando os
próprios seios prendendo o seu lábio
carnudo inferior entre os dentes. Blade
sentou com ela no colo, roubando um
beijo apaixonando aumentando o ritmo
das investidas dentro dela que tinha os
braços em volta do pescoço dele
segurando firme, com desejo. Em
determinado momento ele afastou um
pouco o rosto para olhar para ela, queria
guardar aquela imagem em câmera lenta
em sua mente pelo resto de sua vida,
trancando-a a sete chaves dentro do
coração. Era tanta beleza que as
palavras lhe faltaram, Jesse era uma
mistura perfeita da inocência com o
pecado. Os acordes da guitarra
roubaram a cena, o refrão da música que
não sabiam dizer quantas vezes repetiu,
dizia tudo.
“Saiba que estarei te esperando até as
estrelas não brilharem,
Até os céus explodirem e as palavras
não fazerem mais sentido
Sei que quando eu morrer, você estará
em minha mente
E eu te amo, sempre amei. ”
— Blade eu vou. — Percebendo que a
respiração de Jesse estava cada vez
mais ofegante o esmagando dentro dela e
que estava prestes a chegar ao fim em
um giro a deitou de costas na cama
tampando o corpo da jovem com o seu.
Ele equilibrou sobre o cotovelo,
acariciando o rosto dela. Estocando
cada vez mais rápido, forte. Se tivessem
vizinhos, com certeza ouviriam os
gemidos da jovem, eram altos e
eróticos, o que o deixou ainda mais
excitado, se é que isso fosse possível.
— Goze para mim, Pequena, goze
comigo! — A voz dele era grave,
exalando excitação. Jesse lhe aranhou as
costas, pousando as mãos sobre as
nádegas dele elevando o próprio
quadril, disposta a atraí-lo mais para
dentro dela. Conforme ele aumentava as
estocadas, ela o puxava mais para si
mostrando o seu prazer.
— Eu te amo, Blade! — Declarou Jesse
chegando ao clímax. Gozando de uma
forma alucinante sentindo um prazer que
jamais imaginou experimentar antes,
melhor do que qualquer coisa que já
tivesse provado.
— Você me enfeitiçou! — A voz de
Blade saiu tão intensa quanto a
expressão em seu rosto, rendido aos
encantos dela, realmente enfeitiçado.
Assim os dois gozaram em satisfação
completa, plena. Em uma explosão de
emoções, eram uma combinação
estranha, o encontro do inferno com o
céu. Foi assim que o Anjo Jesse
Carter se entregou ao pecado nas mãos
do demônio Blade Maldonado ou era ele
que estava se rendendo nos braços dela?
Uma pergunta que ninguém tinha a
resposta nem mesmo nenhum os dois.
CAPÍTULO 23
— Oi! — Exclamou Blade inclinando
um pouco a cabeça para olhar para ela,
o sol estava começando a nascer com os
raios entrando pela janela de vidro
refletindo sobre os dois corpos nus em
meio uma bagunça de lençóis.
— Oi! — Jesse respondeu com a voz
fraca e um sorriso leve no rosto, ainda
se recuperando do orgasmo recente.
—Você está bem, Pequena? —
Perguntou Blade, preocupado. Tirando a
montoeira de cachos sobre o rosto de
Jesse, que deu a ele um sorriso
encantador como resposta.
— Nunca estive melhor! — Por mais
incômodo que estivesse sentindo no
meio das pernas com aquela ardência.
Estar com homem que amava olhando
para ela preocupado depois de fazerem
amor, tirava a atenção dela de qualquer
dor que pudesse estar sentindo. Alisou o
rosto de Blade com a palma da mão
aberta, tocando-lhe os lábios em um
beijo casto.
— Foi bom para você? — Blade foi
direto, sem rodeios.
— Superou as minhas expectativas, e
para você? — Ela corou as maçãs do
rosto, desviando o olhar envergonhada.
Blade inchou o peito orgulhoso e
vaidoso.
— Diferente! — Respondeu seco, tinha
dificuldades para falar sobre os seus
sentimentos, com uma expressão
enigmática.
— Entendo. Deve ter sido estranho para
você que está acostumado com mulheres
experientes da sua idade. Maduras e
seguras de si, que sabem satisfazer o
desejo de um homem na cama. — Jesse
rolou o corpo saindo debaixo dele,
tampando-se com o lençol se sentindo
uma completa idiota.
— Disse diferente porque nunca dormi
com uma mulher envolvendo sentimento
no meio, acho que nunca mais vou
querer fazer de outra forma. — A
envolveu pela cintura com apenas um
braço e a arrastou para o mesmo lugar
que estava, onde nunca deveria ter
saído. Inclinando o rosto bem próximo
ao dela, quase tocando os lábios um do
outro. — Com outra além de você! —
Concluiu em um sussurro. O coração de
Jesse palpitou, ele estava se declarando
para ela. Do jeito dele, mas estava.
— Ah! Blade! — As palavras faltaram
para Jesse, que não viu outra saída além
de roubar um beijo apaixonado e quente.
Tomada por um desejo avassalador
fechou um pouco as pernas prendendo o
corpo dele em meio a elas, erguendo os
quadris na tentativa de conseguir o
segundo orgasmo naquela noite.
— Calma diabinha, teremos muito tempo
para isso depois. — Blade interrompeu
o beijo, quase sem ar. Ela estava
aprendendo rápido!
— Pensei que podia fazer mais de uma
vez em uma noite. — Comentou
frustrada, com um biquinho que Blade
achou infantil, mas lindo.
— Podemos fazer quantas vezes você
quiser, por mim viraríamos a noite. —
Mordiscou o ombro dela, depois voltou
a olhar em seus olhos. — Mas não
vamos abusar na sua primeira vez, aqui
embaixo deve estar um pouco sensível.
— Ele levou a mão entre meio as pernas
dela, tocando-lhe leve a intimidade.
— Obrigada por estar sendo tão gentil!
—Jesse agradeceu, piscando os olhos.
Nunca, em mil anos pensou que perderia
a virgindade de forma tão perfeita e
única.
— Venha, vou dar um banho em você. —
Se pôs de pé ao lado da cama e estendeu
a mão para Jesse, que puxou o lençol até
o pescoço com vergonha fingindo que
não estava vendo. Ele queria ter dito que
ela merecia tudo aquilo e muito mais e
que aquela tinha sido a melhor noite de
sua vida. Só que não teve coragem,
achou melhor guardar consigo.
—Vá você, depois eu vou. Posso muito
bem fazer isso sozinha, já sou uma
mulher agora. — Afirmou orgulhosa,
como se tivesse tornado a pessoa mais
responsável do mundo de um dia para o
outro.
"Uma mulher agindo como uma
criança, com vergonha de ficar nua na
minha frente, como se eu já não tivesse
visto tudo."
— Eu sei que pode fazer isso sozinha,
Pequena! — Começou a falar com
calma, para que ela entendesse. — Mas
eu também posso fazer isso, me deixa
cuidar de você? — Jesse assentiu,
amando esse Blade paciente e
cuidadoso. Para não parecer evasivo
Blade enrolou o lençol em volta do
corpo dela e a levou para o banheiro nos
braços, ela podia muito bem andar, mas
se aquela era a forma dele cuidar dela,
iria aproveitar o máximo dessa rara fase
de calmaria do bandido. Colocou Carter
sentada na bancada de granito escuro da
pia do banheiro depositando um beijo
rápido em seus lábios. Se afastou por
um instante para colocar a banheira para
encher, colocou alguns sais de banho
dentro e voltou para buscar o Anjo que
olhava tudo de longe.
— Poderia virar de costas, por favor?
— Ele queria gritar com ela, mas não o
fez. Atendeu o seu pedido resmungando,
cruzando os braços sobre o peito
másculo.
Jesse suspirou diante aquela bela
imagem, o visual de suas costas era tão
bom quanto a frente. Sem uma camada
de gordura e a única parte do corpo sem
tatuagens, uma curiosidade que
perguntaria a ele mais tarde, caso ainda
estivesse de bom humor, uma bunda
redonda e durinha, com músculos
glúteos bem desenvolvidos. Como tinha
pernas bonitas! Fortes! Delineadas! Não
vira muitos homens nus nem na
televisão, Blade era o único na verdade.
Mas com certeza não deveria ter muitos
iguais a ele por aí, não mesmo! E mesmo
com aquela marra toda tentando ser
gentil, parecia incrivelmente ardente. E
era todo dela, pelo menos naquele dia.
— Pode virar agora. — Quando Blade
virou qualquer irritação que poderia
estar naquele momento foi embora, para
bem longe.
Queria guardar aquela imagem para o
resto de sua vida, o dia que viu um Anjo
de verdade em carne e osso bem a sua
frente. Jesse estava sentada dentro da
banheira recostada na ponta e as pernas
esticadas, os braços apoiados um de
cada lado das bordas com um manto de
espuma cobrindo os seus seios. Ela
havia prendido o cabelo em um nó mal
feito ao topo da cabeça, com alguns
cachos perdidos sobre o rosto. As
bochechas levemente coradas, os olhos
cor de canela brilhando ao olhar para
ele. Blade achava a cor da pele dela
linda, um tom de chocolate com leite
perfeito.
— Só um instante, preciso recuperar o
fôlego. — Respirou fundo por pelo
menos três vezes antes de ir fazer
companhia a ela na banheira, onde
depois de admirá-la mais um pouco
sentou-se por trás dela de forma que ela
pudesse encostar as costas no peito dele.
Então aproveitaram para conversar
sobre algumas coisas que ainda
precisavam ser esclarecidas.
— Sério que enfrentou o seu pai por
minha causa? — Indagou Blade,
alisando a coxa dela debaixo d'água com
as pontas dos dedos. Jesse então contou
como tudo havia acontecido, nos
mínimos detalhes. Não fora uma
conversa fácil com o Major, conheceu
um lado dele pior do que imaginava.
— Assassino! — Exclamou Jesse, assim
que entrou no escritório do pai. A mãe
não estava em casa por algum motivo e a
irmã teve que ficar até mais tarde no
trabalho.
— O que você disse? Além de
imprestável ficou louca também, pelo o
que eu sei não é bem-vinda nessa casa
mais. — Ergueu a cabeça para olhar
para ela com total desdém. Estava
sentado em sua mesa lendo alguns
relatórios do trabalho. — Nunca foi, sua
mãe deveria ter seguido a minha vontade
e interrompido a gravidez assim que
descobrimos que seria uma menina. —
Foi cruel, mais do que o de costume.
— Em outros tempos isso teria destruído
o meu coração, mas depois de tudo o
que descobri sobre o Senhor não faz
nem cócegas. — Foi irônica, entrando
sem pedir licença como antes sempre
fazia.
— Então a sonsa aprendeu a ser irônica
agora? O que acha que a sua mãe vai
dizer quando souber que está andando
com má companhia, vai deixar a filhinha
dela de castigo. — Debochou,
encostando as costas na cadeira de
couro preto gargalhando como uma
hiena no cio.
— E o que pensa que a sua esposa vai
dizer quando souber que eu estou
andando como o homem que o Senhor
matou os pais covardemente, depois de
terem se rendido. Vou te entregar para o
seu superior, tenho provas e fotos do dia
que participou do fuzilamento do casal
Maldonado a mando Carlo Castelli, o
antigo chefe da Máfia europeia. —
Mandou tudo logo de uma vez, para
mostrar que não estava de brincadeira e
queria justiça pelo o que o pai fez.
— Você está me dizendo que já esteve
diante do último Maldonado? — Era
primeira vez que Jesse via o pai
chocado de verdade, ainda mais sendo
por causa dela.
— Garanto que foi muito mais de uma
vez, estou vindo da casa dele agora. Ele,
assim como eu, sabe como tudo
aconteceu de fato, o assassinato dos pais
dele não é mais apenas um boato no
mundo do crime. Não reagiram depois
de detidos, foram mortos cruelmente
pela Polícia. — Ela estava disposta a
tudo, custe o que custasse.
— Diga onde esse sangue ruim está, que
vou mandá-lo para junto dos pais nos
quintos dos infernos, onde é o lugar de
gente como ele. – Começou a procurar
alguma coisa na gaveta, a arma. Parecia
um louco, ofegante como um viciado em
craque a mais de um mês sem fazer uso.
— Gente como o senhor, não é mesmo
Major Carter? — Ele parou na mesma
hora o que estava fazendo para olhar
para a filha, tinha o 38MK que havia
ganhado de Blade no dia do primeiro
encontro deles em Tijuana, apontado
para ele.
— Então a mocinha sonsa se apaixonou
pelo vilão? — Soltou uma gargalhada
macabra, daquelas de virar a cabeça
para trás. — Pare de ser idiota garota,
bandidos não amam ninguém além deles
mesmo. E abaixe essa arma, nós dois
sabemos que não sabe usar isso. Então
me dê essa coisa antes que alguém se
machuque. — Jesse olhou para o pai
com a sobrancelha arqueada, disparando
um tiro certeiro no quepe que estava
muito bem alinhado na cabeça do Major.
— Mais um passo e dessa vez o tiro
será certeiro, aprendi com o melhor. —
O Major entendeu o recado, direitinho,
pois se manteve imóvel, com os olhos
arregalados.
— Pode me entregar para o meu
superior se quiser, não me arrependo de
nada. Não faz ideia do que rola no
mundo da Polícia, garota, tem mais gente
perigosa do que no próprio mundo do
crime. Devia estar orgulhosa do seu pai,
o casal Maldonado são apenas dois de
centenas de bandidos que capturamos e
depois mandamos para o inferno e
acobertamos com relatórios falsos. Não
é isso que os mocinhos fazem? Acabam
com os vilões. Não confunda as coisas,
filha, esse bandido está te usando para
chegar até — Proferiu cinicamente, ele
era pior do que Jesse imaginava.
— Pelo jeito, a única diferença dos
vilões para os mocinhos é a cobertura
da mídia, o que ela quer que as pessoas
acreditem. Sempre quis que tivesse
orgulho de mim, era o meu herói.
Quando era pequena achava o máximo
quando saía de manhã para trabalhar
com o seu uniforme, pensava que era sua
armadura. Larguei o meu sonho de ser
fotógrafa para seguir os seus passos na
Polícia, agora tenho vergonha de dizer
que tenho o mesmo sangue que o senhor.
— Eu sempre tive vergonha de você ter
o meu sangue, se sua mãe não fosse tão
honesta poderia jurar que não é minha
filha. Nasceu igual a cobra da minha
sogra, ela nunca gostou de mim e
deixava isso bem claro. — A voz do
Major era de nojo, toda vez que olhava
para Jesse via a imagem da sogra.
— Minha avó sempre teve razão, era a
pessoa mais bondosa do mundo e eu
tenho orgulho de me parecer com ela. E
se ainda estivesse viva, apoiaria a
minha atitude de te entregar para a
justiça. — Dizer isso era doloroso para
Jesse, mas o certo é sempre o certo.
— Só para você saber, não vai dar em
nada porque o meu superior, sua inútil,
assim como eu está envolvido nisso e o
superior dele também e assim
sucessivamente. — Apontou a arma
sobre o peito do pai, prestes a enfrentá-
lo de verdade pela primeira vez. O pior
de tudo era o sorriso debochado que não
tirava do rosto se achando o
espertalhão.
— Você vai pedir o divórcio para a
minha mãe ainda hoje, me entregar o
Collt que roubou do Senhor Maldonado
e sumir do mapa pelo resto das nossas
vidas, se aposentar e ir morar em uma
casa no lago de preferência na China,
estamos combinados? — Foi taxativa,
direta.
— Nunca! Quando era pequeno o meu
avô, que era policial assim como o meu
pai, me contou sobre a lenda do Collt,
eu me apaixonei por ele no mesmo
momento e sabia que seria meu algum
dia. Passei minha juventude estudando
sobre esse objeto incrível, o dia mais
feliz da minha vida foi quando o achei
escondido no porta malas do carro do
casal Maldonado, depois de serem
fuzilados. Ele é a minha preciosidade,
abri mão da minha recompensa na época
para ficar com o Collt. — Disse aos
berros fora de si.
— Ah! Não papai? Só para o Senhor
ficar sabendo, Blade conseguiu a lista
dos policias que participou da morte dos
pais dele e adivinha quem a encabeça?
Sugiro que suma do mapa antes que ele
encontre você, e acredite, ele é bem
mais assustador pessoalmente do que
dizem por aí.
— Fill, você está no escritório? —
Maria Joaquim chegou, à procura do
futuro ex-marido.
— Estou no escritório, mulher. —
Respondeu rude sem tirar os olhos da
filha.
— Se tocar em fio de cabelo dela, quem
vai acabar com você sou eu, tem até
amanhã para me entregar o Collt e sumir
das nossas vidas para sempre. — Girou
a arma no dedo e guardou na cintura,
como uma profissional. Viu em um filme
depois que aprendeu atirar e andou
treinando em casa, todos os dias. Passou
na cozinha para dar um beijo na mãe e
foi embora.
— Não acredito que atirou no seu pai
para me defender e ainda por cima
acertou! — Blade apertou Jesse com
tanta força dentro que os braços
pareciam querer quebrá-la ao meio,
estava orgulhoso dela.
— Sou capaz de fazer qualquer coisa
por você, Blade. — Virou o rosto para
poder olhar para ele, no fundo dos
olhos. — Por que te amo, não importa o
que aconteça, eu juro que será o único
homem da minha vida.
— Não sabe o que está dizendo, Jesse,
isso aqui não está certo. Seu pai está
com a razão em parte, mocinhas não se
apaixonam por vilões. E bandidos não
amam ninguém além deles, haverá uma
hora que terá que escolher em qual lado
ficar. Não quero me iludir achando que
será do meu, já matei mais pessoas do
que você conheceu na vida e
provavelmente matarei muito mais. —
Desviou o olhar, Jesse pensou por um
instante antes de começar a falar.
— Tudo o que eu vejo a minha frente é
um homem real, sem fingimento. Defeito
todo mundo tem, eu mesma sou a rainha
deles. Eu não levo jeito para mocinha,
normalmente são bonitas e bem vestidas
e andam com o cabelo sempre arrumado.
— Aconchegou-se nos braços dele,
encostando a cabeça em seu peito
ouvindo o coração bater forte. Era
incrível como quanto mais Blade tentava
afastá-la, ela se aproximava ainda mais.

— Parando para pensar, você não se


parece com as mocinhas dos filmes, não
mesmo! — Brincou ele mais relaxado.
— Minha escolha sempre vai ser você,
Blade! Mas não posso lidar com o fato
de que um bandido nunca vai conseguir
amar ninguém além dele mesmo, isso é
demais para mim. Talvez seja melhor
parar por aqui, cada um segue o seu
caminho. — A voz de Jesse estremeceu,
fazendo o coração de Blade apertar.
— Seja a minha exceção. — Jesse
sorriu, como uma adolescente
apaixonada.
— A sua exceção chama Bobbi Xing
Perez Salvatore Maldonado, tem que ver
como olha para o seu irmão. Consegue
imaginar a sua vida sem ele? Isso se
chama amor Blade, existem várias
formas de amar uma pessoa.
— Também não imagino mais a minha
vida sem você. — Declarou Blade,
fazendo-a se derreter por dentro.
— O único que pode me tirar da sua
vida é você, Blade. Porque eu não
pretendo ir a lugar nenhum, agora que
experimentei o que é estar nos braços de
um Maldonado não quero sair nunca
mais, dizem que não tem muitos por aí.
— Encostou a coxa nele o provocando.
— Se eu fosse você aproveitava,
Senhorita Carter. Sou edição limitada, o
único e original ao seu dispor. —
Gabou-se sem nenhuma modéstia.
— É isso que vou fazer agora. Beijou-o,
mas não foi qualquer beijo. Era aquele
que dizia "Vamos fazer dar certo!" E
assim passaram mais algum tempo
namorando na banheira, Blade foi
atencioso o suficiente para ficar ao lado
dela na cama até que pegasse no sono
dentro dos seus braços.
Ele não conseguiu dormir, estava com a
cabeça cheia demais. Ficar com a Jesse
era loucura, uma insana e deliciosa
loucura. Blade a queria, mas sabia a
imensidão dos problemas que isso traria
principalmente para ela. Levantou com
cuidado para não a acordar, ajeitando o
lençol sobre o corpo nu da jovem, mas
não antes de dar mais uma boa
conferida. — “ Quem diria que ela
escondia tudo isso debaixo daquelas
roupas largas, e é tudo meu."
Foi para a cozinha preparar o café da
manhã, com certeza Jesse acordaria
faminta depois de perder tanta energia
durante a noite. Estava quase tudo
pronto, os ovos mexidos, bacon,
torradas e bolo com recheio de goiabada
que sabia ser o preferido dela. Queria
dar prazer a ela de todas as formas.
Estava fazendo o suco natural de laranja
quando sentiu a presença dela, antes
mesmo de vê-la.
— Bom dia! — Cumprimentou Jesse,
totalmente tímida encostada na parede.
Usava um roupão preto de Blade,
contorcendo os pés descalços pisando
no chão frio e os cabelos soltos de
forma esvoaçante, segurando o celular
sobre o peito. Sem coragem de olhar
para ele que estava totalmente nu,
usando apenas um avental com o amigo
lá de baixo bem animado para aquela
hora da manhã. Grande, grosso e
vigoroso. O cheiro estava ótimo, além
de lindo, sabia usar uma arma, era rico e
sabia cozinhar e mesmo assim pensava
não ser um bom partido. A cozinha era
grande, os móveis modernos em inox
colados na parede. Uma mesa de vidro
de seis cadeiras no centro, e uma cesta
de frutas frescas no meio dela. Era
extremamente organizada como todo o
restante da casa.
— Está com fome? — Perguntou Blade
virando-se para olhar para ela, seguindo
a direção onde os olhos dela estavam
fixo na região do seu membro cada vez
mais ereto.
— Muita. — Respondeu rápido e não
estava falando de comida. E ele sabia
disso com certeza.
— Então venha, vou alimentar você. —
A maldita voz grossa quase a fez gozar,
a vontade dela era voar em cima dele e
arrastá-lo para a cama novamente.
Nunca imaginou que estaria algum dia na
cozinha de um homem lindo preparando
o café da manhã dela praticamente nu,
fazendo uso apenas de um avental
branco com flores vermelhas, com
certeza era da mãe dele.
—Você não vai se vestir primeiro? —
Perguntou mexendo no cabelo, tentando
disfarçar o constrangimento. Sem
paciência ele mesmo a buscou e colocou
sentada no balcão da cozinha, Jesse
deixou o celular próximo ao dele. Blade
pacientemente arrumou de tudo um
pouco em um prato branco de porcelana,
abriu os joelhos de Jesse se enfiando
entre as pernas dela para alimentá-la. O
fato dele não usar garfo e faca só
deixava tudo mais sensual e erótico.
— Está um pouco quente aqui, não acha?
— Colocou o prato sobre o balcão e
tirou o avental ficando totalmente nu,
desamarrou as tiras do roupão de Jesse,
olhando-a nos olhos mordendo o lábio
inferior. Diante da visão da parte da
frente do corpo dela desnudo, para ele
foi como se tivesse abrindo os portões
do paraíso ou do inferno.
— Não está tão quente assim. — Ela
ameaçou fechar o roupão com uma
agilidade incrível.
— Nem pense nisso. — Impediu-a antes
de concluir o ato.
— Mas Blade, não estou acos... —
Parou de falar, envergonhada demais
para olhar para ele.
— Tem que acabar com essa timidez
toda, Jesse. Depois de te ver nua, não
aceito que use mais nada além do seu
sorriso encantador quando estivermos
sozinhos. Você disse que me ama, não
disse? Quando era pequeno ouvi a minha
mãe dizer para o meu pai que quem ama
confia, não sei muito sobre o amor, mas
pensei que fosse verdade. — Ela soltou
as tiras do roupão, deixando-o aberto da
mesma forma que ele tinha deixado.
— Acho que também iria sair muito bem
trabalhando com vendas, Blade. —
Brincou ela sorrindo de cabeça baixa,
mexendo no anel em seu dedo de um
lado para o outro. Era um ato
involuntário, fazia quando estava
nervosa.
— Não sabe o perigo que corre toda vez
que faz isso. — Jesse levantou o olhar e
viu duas poças escuras a encarando, sem
piscar. Então Blade a beijou de forma
selvagem, como se o beijo tivesse
acabado de ser inventado. Segurando-
lhe a cintura com uma mão e a outra
apertando o seio dela, com desejo. O
celular dos dois tocaram na mesma hora,
ambos atenderam sem olhar.
— Onde você está, filha? — Blade
arregalou os olhos assustado ao ouvir a
voz da mãe de Jesse.
— Onde você se enfiou, porra? — Jesse
quase ficou surda devido ao grito de
Julius, visivelmente irritado.
— É para você. — Disseram juntos,
trocando os aparelhos.
— Seja rápido Julius, estou muito
ocupado. — Blade queria acabar com o
assunto rapidamente.
— O que fez com a Jesse? Seja lá o que
for farei o dobro com você depois,
entendeu bem, Blade? — Exclamou o
mexicano nervoso.
— Desculpa Julius, mas você não faz o
meu tipo. — Debochou Blade,
brincalhão. Olhando malicioso para
Jesse a sua frente sentada no balcão da
sua cozinha com o roupão aberto, dando
a ele um vislumbre da imagem dos seios
desnudos com os mamilos eriçados.
— Não estou brincando, Maldonado,
quando fui procurá-la em seu
apartamento topei de cara com a louca
da mãe dela que me bateu com a bolsa
pensando que era um bandido. Está certo
que sou um, mas não estava roubando
nada naquele momento, só queria ajudar
a filha dela tirando-a de suas garras. —
Blade quase gargalhou imaginando a
cena, mas não queria deixar o parceiro
ainda mais irritado.
— Apanhando de uma mulher, grandão?
Você já foi melhor de briga, e sobre a
Jesse não se preocupe porque estou
cuidando muito bem dela. — Jogou uma
piscadela para o lado da jovem,
mortalmente sexy.
— Não sabia que a mãe da Jesse era tão
jovem e bonita também, mas uma louca.
— Blade arqueou a sobrancelha,
sentindo um certo interesse nas palavras
dele.
— Então fique esperto parceiro, ouvi
por aí que a Senhora Carter está se
divorciando. — Desligou na cara de
Julius, sem nem dizer ao menos tchau.
Jesse olhou para ele com o cenho
franzido enquanto conversava com a
mãe, em sinal de reprovação a atitude
dele. Blade ficou em silêncio, ouvindo a
conversa entre mãe e filha.
— Mas a filha da Tia Ana já está
fazendo quinze anos, mamãe? E vai ter
baile de debutante, que legal! Eu sei que
a senhora está muito triste por causa do
divórcio e o sumiço do papai e quer sair
para distrair um pouco, mas já é na sexta
e eles moram no Canadá, quase do outro
lado do mundo. É muito frio e as minhas
primas são todas metidas e nenhuma
delas gosta de mim. Não podemos só
sair eu, a senhora e a Mainara para um
programa só de meninas? — Jesse
suspirou fundo depois de um longo
tempo ouvindo a mãe, em silêncio.
Sentindo Blade depositando beijos na
curva do pescoço dela, que prestava
atenção em cada palavra não gostando
nem um pouco do rumo que a conversa
estava tomando.
— Está bem mamãe, eu vou. Não
precisa chorar, mas não usarei nenhum
vestido ridículo e muito menos salto
alto... E o homem bonitão musculoso que
viu no meu apartamento e só o
encanador do prédio por isso tinha a
chave, não é nenhum bandido. Depois
peço desculpas pela senhora ter batido
nele com a bolsa, também te amo. Tchau.
— Desligou o celular, pronta para
continuar com Blade de onde tinham
parado.
— Você não vai para o Canadá na sexta,
invente alguma desculpa para a sua mãe.
Jesse cruzou os braços olhando para ele,
não acreditando que estava dando uma
ordem a ela.
— E porque não? — Puxou-o pelo
cordão do exército deixando o rosto
dela bem próximo ao de Blade cruzando
as pernas atrás das costas dele
deixando-o preso nas mãos dela.
— Por que eu estou mandando, isso é
mais que o suficiente. Levou as mãos
nas nádegas dela apertando com força
puxando para mais perto de si, de tal
forma que pressionasse o membro em
Jesse.
— Acontece que você não manda em
mim, meu amor! Mas como sou boazinha
vou te dar duas alternativas e não tente
bancar o espertinho comigo. — Deu um
beijo daqueles nele, para mostrar que
ela era que estava no comando. — Você
pode ir comigo como meu par no baile
de debutante do aniversário da filha da
minha Tia Ana, o que seria incrível, já
que nunca nenhum rapaz me chamou para
ir a um baile antes. Ou ficar aqui como
um bom menino me vendo viajar para o
outro lado do mundo para uma festa
cheias de rapazes, solteiros e usando
ternos caros. E não quero nenhum tipo
de reclamação, porque deve haver
confiança entre nós. Muito menos que
venha com esse papo que não posso ir
porque é muito perigoso com Matteo
Castelli solto por aí e que não vai poder
me proteger de longe e blá, blá, blá....
Porque vou de um jeito ou de outro, com
ou sem você. Então, o que vai ser,
tigrão? — Ela o colocou contra a
parede, uma coisa que ninguém nunca
conseguiu fazer antes.
CAPÍTULO 24
Havia um silêncio mortal e doloroso.
Blade tinha uma expressão indecifrável,
os olhos pensativos percorriam cada
centímetro do rosto de Jesse. Ele era um
homem misterioso, astuto e perigoso.
Contudo, depois que conhecera a
investigadora muita coisa mudou, mas
não a tal ponto de receber ordens de
uma mulher. Estava para nascer quem
mandaria nele, obrigá-lo a fazer uma
coisa que não queria.
— Não gosto de lugares frios, boa
viagem! — Jogou o prato sobre o colo
de Jesse, com brutalidade. Fazendo a
comida que tinha arrumado com tanto
zelo ficar uma bagunça, assim como os
sentimentos dele naquele momento.
— Obrigada, não estou com fome! —
Tirou o prato de cima do seu colo e o
colocou desapontada sobre o balcão.
— Se não quer comer, não coma. Agora
vista-se, vou te levar para a sua casa. —
"Para bem longe de mim", completou
Jesse, mentalmente. Blade virou as
costas, nervoso demais para olhar para
ela.
— Pensei que iriamos passar o dia todo
aqui. — Respirou fundo, olhando para a
bunda durinha e definida do bandido à
sua frente. — Juntos no nosso
esconderijo. — Completou com as
bochechas coradas, na sua mente vinham
os momentos mais quentes da noite
anterior, do orgasmo. Pensando em
quando repetiriam a dose, por ela
naquele momento mesmo.
— Também andei pensando em muitas
coisas, mas acabei de aprender que nada
é do jeito que a gente pensa,
principalmente as pessoas. — Foi
áspero, frio e calculista nas palavras já
saindo da cozinha. Para ele o dia havia
acabado.
Jesse desceu do balcão arrasada, se
sentindo culpada por ter acabado com o
momento dos dois. Nunca foi de fazer o
"tipo ousada", quando fora, estragou
tudo. Fez o caminho até o quarto na
esperança que ele estivesse lá, mas não
estava. Vestiu suas roupas e saiu à
procura de Blade segurando os saltos
em uma mão e a bolsa sobre o peito,
como um escudo.
—Vamos! — Exclamou Blade sério,
assim que ela pisou na sala. –Durante o
caminho de volta não teve conversa, tão
pouco troca de olhares. Era como se
fosse invisível para ele, como dois
estranhos. O bandido era bom até
demais em ignorar as pessoas.
— Aqui está o gravador, pelo que o
capanga do Matteo Castelli disse
quando estava drogado, é que a mansão
do chefe dele fica em algum lugar em
Puerto Rico. Não disse a localização
exata, mas falou várias informações
sobre os negócios sujos e lugares onde
frequenta e os cúmplices. — Foi a única
coisa que Jesse disse assim que o
Impala estacionou em frente ao seu
apartamento, Blade não foi capaz nem
de soltar o volante para pegar o
gravador. Então ela o deixou em cima do
porta luvas e abriu a porta saindo do
carro.
— Você vem me ver antes da viagem?
Queria te ver antes. — Abaixou a
cabeça triste, com vontade de chorar.
Ouvindo como resposta apenas o ronco
do motor do Impala, acelerando a cem
quilômetros por hora. Blade havia indo
embora sem se despedir dela.
Maldonado voltou para a casa com um
mau humor do cão. Não estava para
brincadeira, louco para descontar a
raiva dele em alguém. O motivo de tanto
ódio era porque não conseguia tirar
Jesse da cabeça, mas era teimoso
demais para ir atrás dela para dizer que
não aceitou acompanhá-la na viagem
porque não estava preparado para
conhecer de fato a família dela, a sogra.
Sabia que não era o genro preferido que
nenhuma mãe queria ter, provavelmente
iria odiá-lo logo de cara. Já a vira uma
vez no hospital quando Jesse levou o
tiro no lugar de Bobbi, mas naquele dia
ainda não tinha tirado a virgindade de
sua filha. Fora que já era uma homem
trinta e sete anos, onze anos a mais de
diferença da idade de Jesse.
— Onde está a Jesse, Blade? — Foi a
primeira coisa que Julius perguntou com
o cenho franzido, desconfiado. Ele e Li
estavam sentados no sofá roendo as
unhas esperando por eles, ansiosos para
saber o que descobriram.
— Não interessa. — Respondeu Blade
irritado, ligando o gravador e colocando
sobre a pequena mesa de vidro no meio
os dois sofás de tamanho diferentes.
O capanga do Matteo era um idiota!
Respondia a tudo o que a investigadora
perguntava, tentando agarrá-la a todo
momento. Isso irritou ainda mais
Maldonado, não sabia lidar com os
ciúmes. Naquele momento, a vontade
dele era matar todo mundo que passava
pela sua frente, principalmente quem
ousasse olhar para Jesse, a sua garota.
Por fim, nem queria ouvir mais nada, só
continuou na sala mesmo porque se
saísse ficaria óbvio o motivo.
— Você é tão linda, quero te fazer minha
a noite toda. Vem aqui, minha deusa de
ébano. — Dizia o capanga na gravação,
em um tom meloso que fez o estômago
de Blade revirar. A voz estava
arrastada, com certeza os tranquilizantes
que Jesse havia dado para ele deveriam
estar começando a fazer efeito.
— Ainda não, querido! Quero que
responda algumas perguntas, aí sim
vamos brincar a noite toda. — A voz de
Jesse saiu sensual e provocativa.
Ele experimentara aquele tom dela na
noite anterior e sabia o quanto podia ser
perigoso mesmo estando sem efeito de
nenhum remédio, teria dado o que ela
pedisse na noite que a fizera mulher.
Jesse foi esperta e corajosa em sua
atuação no Cassino, isso não tinha como
negar, por mais raiva que estivesse.
— E o que a minha coelhinha quer
saber? Se levantar o vestido e me deixar
ver essas pernas digo o que quiser,
todos os crimes que já cometi e olha que
não são poucos. — Deu uma gargalhada
gostosa, totalmente dopado.
— Como quiser, meu amor. – Se Jesse o
chamasse de "meu amor" a coisa não
ficaria boa para ela depois, não mesmo.
— Você tem pernas lindas, coelhinha e
se seu responder levanta o vestido mais
um pouco? — Perguntou esperançoso e
atrevido.
— Como faço para encontrar o dono do
Cassino? Se disser deixo tocá-las e
onde mais quiser. — Foi direta. Se
Blade tivesse visto a cara de safada que
ela fez naquele momento teria dado um
troço de raiva.
— O menino Matteo? A mansão da
família Castelli fica em Puerto Rico, a
mãe dele é Argentina. Votou para o país
dela depois da morte do marido, criando
os filhos na cultura dela. — Respondeu
ele, totalmente à vontade.
— Filhos? – Jesse perguntou no susto,
pasma.
— Sim, dois meninos. Matteo é filho do
primeiro casamento com o Carlo
Castelli, o caçula é o Enrico, vindo de
uma relação relâmpago. – Os três
bandidos se entreolharam com os olhos
semicerrados, essa era uma coisa que
não esperavam.
— E em qual rua fica essa casa? Ele vai
muito lá, me fale mais sobre o irmão
caçula. — Era como se ela tivesse lido
os pensamentos de Blade, era isso que
mesmo que ele estava querendo saber.
Não sabia o porquê, mas essa história
do irmão do Matteo o deixou com uma
pulga atrás da orelha.
— Porque tanto interesse na família do
meu patrão? — Nessa hora Blade ficou
tenso, pensando que se ela não tivesse
sido esperta poderia ter acontecido o
pior.
— Que tal colocarmos uma música? Vou
fazer um strip-tease para você, a cada
peça de roupa que eu tirar você
responde a uma pergunta, meu amor. —
Jesse deu um jeito de mudar de assunto,
rapidinho. Blade nunca tinha chegado ao
nível de raiva tão grande, os olhos
escureceram como a noite. Quando
colocasse as mãos nela estaria perdida,
com certeza. Pelo o tempo que a música
sexy durou e o quanto de perguntas que
ele respondeu e os assovios do capanga
ela deveria ter ficado nua e isso teria
que ser bem explicado depois.
— Pelo sangue do Cordeiro, como diria
Estevão. A Jesse com essa cara de
santinha eim? As quietinhas são as
piores, escondem o fogo debaixo da
saia. — Comentou Li, abusado.
Resultando em um nariz sangrando, o
olho esquerdo roxo e quase a perda de
dois dentes da frente. Blade só não
terminou o serviço porque foi impedido
por Julius que o imobilizou em um
abraço de urso, senão o chinês teria
caminhado pelo vale das sombras
naquele domingo.
— Pera aí gente, falando no Estevão
onde ele está até agora? — Julius tinha o
semblante preocupado, com um mau
pressentimento.
— O meu irmão está bem gente, tentei
ligar para ele ontem à noite. Não me
atendeu, mas mandou uma mensagem
dizendo que teve que ir em casa às
pressas porque parece que a minha avó
não está bem de saúde. — Bobbi
apareceu no escritório segurando um
livro grosso sobre Leis, acertando os
óculos de grau de armadura redonda.
Comendo uma barra de cereal, sabor
chocolate ao rum. Vestia o seu habitual
suéter verde de linho, presente de Blade.
Os únicos avós e tios que o jovem
conhecera pessoalmente foram os pais
de Estevão, passou um mês com eles
quando terminou o Ensino Médio.
— Menos mal, tomara que a mãe dele
fique bem logo. — Julius fez sinal para
que o jovem sentasse ao lado dele no
sofá, ao lado do Li com o seu olho roxo.
— O que aconteceu com Senhor, irmão?
— Bobbi perguntou preocupado, vendo
o rosto do chinês todo machucado. Tirou
um lenço branco do bolso do suéter e
limpou o sangue que escorria do canto
da boca dele, com cuidado.
— Escorregou. — Respondeu Blade
cruzando os braços com cara de santo.
— Foi só isso, filho, seu irmão está bem
não se preocupe. — Li afagou o cabelo
de Bobbi, olhando no canto dos olhos
para Blade que ainda estava com cara
de inocente.
E assim a semana passou lentamente.
Estevão sem dar notícias e isso começou
a preocupar todos de verdade. Por mais
esnobe que o inglês era, sempre ligava
vez ou outra para dizer que estava bem,
dessa vez nem isso fez. Pensaram até em
ligar para a família dele, mas,
preferiram aguardar mais um tempo
antes de incomodar os Salvatore, de
preocupá-los. Jesse também estava
muito preocupada, não com o sumiço de
Estevão, e sim com o de Blade que não
deu mais sinal de vida, nem mesmo no
dia da viagem. Estava sentindo-se
sozinha e abandonada.
A saudade do amado só aumentava, era
como se estivesse deixando um pedaço
dela para trás. Mas também não ligou
para ele, cansou de ser esnobada e ficar
correndo atrás. Para piorar teve que
aguentar os olhares estranhos dos
companheiros de trabalho no
departamento criminalista do FBI,
estava todo mundo desconfiado com o
estranho pedido de demissão do Major.
Tirando isso, foi incrível trabalhar sem
a opressão do pai vinte e quatro horas
em cima dela. Não sabia para onde ele
tinha ido, só esperava que fosse para
bem longe de todas elas. Ver a tristeza
de sua mãe era de cortar o coração,
estavam mãe e filha sofrendo por terem
sido abandonadas por dois homens
egoístas que não as mereciam. Ainda
por cima teve a conversa tensa com o
Michelangelo, foi logo após que Blade a
deixou em casa com o coração partido.
Quando a companhia tocou Jesse saiu
correndo derrubando tudo o que
encontrava pelo caminho pensando que
era o amado que tinha se arrependido e
vindo fazer as pazes, mas ficou triste
assim que abriu a porta e viu o barman
sorrindo para ela segurando um buquê
de flores maior do que ele.
— Bom dia, Princesa! — Disse ele com
um sorriso doce no rosto. Miche era
naturalmente gentil e agradável. Seria
tudo tão mais fácil se tivesse se
apaixonado por ele, talvez não tivesse
com o coração em pedaços agora, um
dia depois de ter tido a sua primeira vez
com um homem sem coração que a
abandonou no dia seguinte. Esse
pensamento a fez ficar emotiva,
resultando em um ataque de choro.
— O que houve, linda? Por favor não
chore, estou aqui agora. —Michelangelo
a tomou em seus braços e deixou que
colocasse a dor toda para fora.
— Obrigada Miche, entre. — Agradeceu
cessando o choro, limpando os olhos
com as costas das mãos.
— Está melhor? O que fizeram com
você, Jesse? — Perguntou pegando na
mão dela e a conduzindo até o sofá a
abraçando novamente depois que
sentaram.
— Partiram o meu coração. — A voz
dela era de cortar o coração, estava
muito magoada.
— Entendi. — O barman ficou triste só
então Jesse percebeu o que havia falado.
— Oh! Miche, me perdoe! Se eu
pudesse escolher, com certeza teria me
apaixonado por você, tenho certeza que
jamais seria capaz de me magoar. Mas a
gente não escolhe essas coisas,
infelizmente. — Fez um carinho no rosto
do rapaz que a olhava com os olhos
claros brilhando como rubis.
— Nisso você tem razão. — Respondeu
com um sorriso triste.
— Em quê? Que nunca iria me magoar?
— Jesse perguntou confusa.
— Não. — Olhou nos olhos dela
profundamente. — Que a gente não
escolhe por quem se apaixona, quando
viu já era. — Depois de ficar uns
instantes sério ele enfim sorriu
mostrando os dentes bonitos.
Mudaram de assunto a partir daí e
passaram o resto da tarde conversando,
apenas como amigos. Apesar da tensão,
ter essa conversa com Michelangelo foi
um alívio para Jesse. Mesmo destruída e
com todos motivos para desistir da tal
viagem, não desistiu. Talvez fosse até
bom para se distrair um pouco, respirar
outros ares. Chegaram no Canadá na
quinta feira a noite, como sempre
Mainara chamou a atenção de todos, era
bonita, bem vestida e inteligente. A tia
Ana era a irmã mais nova de Maria
Joaquim. Casou-se com um rapaz
Canadense e morava em uma
cidadezinha numa mansão gigante e fria.
Traduzindo, podre de ricos. Metidos e
esnobes, achavam-se melhores que os
outros. Não sabia como a tia Ana que
era uma mulher tão doce e amável
conseguia conviver entre eles, eles não
combinavam juntos. A filha deles,
Jeniffer, a aniversariante, era a típica
patricinha, que passava vinte e quatro
horas fazendo compras ou gritando com
os empregados. A sorte da investigadora
foi que o irmão do meio da mãe dela
veio para a festa também, eram a parte
engraçada da família que morava em
Nova York. Em especial, o filho mais
velho dele, o Tony um amor de pessoa,
sempre se deram muito bem. Era um
negro alto, forte e lindo de viver.
Tinham a mesma idade e mantinham
contato pelas redes sociais desde
sempre.
— Ela nem parece ser da mesma família
que nós, não é mesmo? —Comentou o
Tony se aproximando de Jesse que
estava sentada pensativa e sozinha em
um canto mais afastado da sala toda
encolhida de frio, mesmo dentro de um
casaco de lã marrom e o aquecedor
ligado. Ela olhou para as primas
reunidas falando em roupas caras e
falando mal da vida dos outros, eram
chatas e debochadas.
— Não mesmo. — Jesse suspirou fundo.
— O que acha de sairmos para patinar?
É melhor do que ficarmos aqui no meio
dessa gente metida, quando começarem
a se arrumar para o evento do ano, tende
a piorar, vamos fugir e só voltar na hora
da festa? — Tony fez o pedido, mas
Jesse nem olhou para a cara dele.
— Não estou animada, obrigada pelo
convite, primo. — O olhar de Jesse
estavam na direção da vista da janela
que dava para o jardim, todo tampado
por flocos de neve.
— Se mudar de ideia, estarei me
arrumando, saio daqui a trinta minutos.
— Deu uma piscadela charmosa. Jesse
sorriu amarelo e voltou a olhar para
fora. Cansada de ficar triste, resolveu
dar o primeiro passo e ligou para Blade.
— Só liguei para dizer que estou
sentindo sua falta e queria que estivesse
aqui comigo. — A voz de Jesse era
chorosa, estava tendo um dia ruim.
— Ah! Está? Problema seu, eu estou
ótimo! — Blade foi rude com ela, mais
do que o de costume. Também não
estava nos seus melhores dias, não
mesmo.
— Que música alta é essa? — Perguntou
Jesse desconfiada, pelo ritmo eletrônico
deveria ser alguma boate ou algo do
tipo. Havia vozes de mulheres ao fundo,
uma verdadeira bagunça.
— Você não foi para a sua festa? Então,
arrumei uma para ir também. — Disse
ironicamente, vingativo. Mas ela não
respondeu nada, essa foi a vez dela
desligar na cara dele. Blade retornou no
mesmo momento, uma, duas infinitas
vezes. Só que Jesse fingiu não estar
vendo, resolveu tirar o resto dia para
ela. Esquiar com o primo Tony, depois
voltar e se arrumar linda e maravilhosa
para a festa de aniversário. O que valeu
muito a pena, já que o passeio fora
melhor do que esperava. Passaram o dia
todo fora, se divertiram tanto que Jesse
nem lembrou de um certo bandido de
coração frio e duro.
— Mãeee, a Senhora não vai acreditar.
O Tony me ensinou a esquiar, só cai
doze vezes. — Jesse chegou na sala
pulando toda animada de mãos dada
com o primo. Faltava menos de uma
hora para os convidados começarem a
chegar, todo mundo se encontrava muito
bem arrumado para a festa.
— Onde você estavam filham? Passaram
o dia todo fora, meu amor, não
conseguimos entrar em contato com
nenhum dos dois e olha que tentamos,
estão atrasados. — Maria Joaquim
tentou ajeitar o cabelo da filha
colocando um cacho atrás da orelha, que
estava uma verdadeira bagunça como
sempre. Ajeitou a roupa puxando a gola
do casaco e espanando com as pontas
dos dedos os pequenos flocos de neve
sobre ele, como fazia quando era
criança. Jesse não entendeu porque
todos estavam olhando para ela de
forma estranha, inclusive as primas
metidas dentro dos seus vestidos
glamorosos e o rostos exageradamente
maquiados, a irmã Mainara estava atrás
da mãe tentando fazer algum tipo de
sinal para ela como se quisesse alertá-la
de algo importante.
— Eu me arrumo rapidinho mamãe,
agora até animei para a festa. O Tony me
convidou para ser o seu par no baile de
debutante da nossa prima e vai dançar a
valsa principal comigo, ele não é
encantador? – Ela sorriu, eufórica com a
notícia.
— Você já tem um par! — Uma voz
grossa e poderosa veio do fundo da sala.
E um silêncio mortal se fez presente,
Jesse respirava cada vez mais rápido
como se estivesse ficando sem ar.
Blade estava lindo encostado na parede
dentro de um smoking Black Duos, o
mais caro da última coleção. A barba
feita, o cabelo com gel, muito bem
penteado para trás. Os sapatos também
eram pretos, sociais. Com a postura
elegante de sempre, superior aos
demais. O perfume Jesse sentia de
longe, muito bom por sinal. Mantinha as
mãos escondidas dentro do bolso, os
olhos escuros, perigosos. Primeiro o
olhar dele desceu para a mão de Tony
segurando a de Jesse, depois levantou
fitando o rosto da investigadora de um
jeito que dizia — “Você está ferrada!"
CAPÍTULO 25
— Porque não disse que iria trazer um
convidado, filha? — Maria Joaquim
ainda tentava ajeitar o cabelo da filha,
mesmo sabendo que seria inútil sem a
ajuda de um pente para tirar os ciscos
que provavelmente armazenou devido
aos doze tombos durante as aulas de
esquiar com o primo Tony.
— Depois falamos sobre isso, mamãe,
vou me arrumar antes que os convidados
cheguem. — Jesse sorriu sem graça, não
sabia o que fazer. Não tinha coragem de
olhar para o Blade, mas sabia que olhos
dele a fuzilavam de onde estava.
— Não vai cumprimentar o seu amigo,
filha? Que coisa feia, não foi assim que
eu te ensinei. — A investigadora
congelou, apavorada. Aquela não era
uma bora hora para a mãe mostrar que
era a melhor do mundo, só estava
piorando as coisas para o lado dela.
— Jesse tem razão mãe, ela já está
muito atrasada. — Mainara notou pelo o
semblante da irmã que havia alguma
coisa de errado, a conhecia melhor que
ninguém. Pegou na mão dela com a de
intenção de tirá-la dali e perguntar o que
estava acontecendo, estava preocupada.
— Que isso Mainara? Não foi essa a
essa educação que dei para vocês duas,
o pobre rapaz veio de longe para ver a
sua irmã que passou o dia sumida com o
primo. — Jesse balançou a cabeça, não
tinha como a situação dela piorar. —
Atrasada ou não ela vai cumprimenta-lo
e agradecer por ter vindo. — Maria
Joaquim disse séria.
— Eu já disse como a senhora está linda
hoje, mamãe? Com certeza a mulher
mais elegante da festa e do mundo. —
Tentou mudar o foco do assunto, mas foi
sincera em relação ao elogio. A mãe
realmente estava exuberante dentro de
um vestido azul intenso, de uma manga
só, pouco abaixo do joelho. Tinha o
corpo farto em curvas como o da filha
mais nova Mainara e dona de um belo
sorriso. Não aparentava a idade que
tinha tampouco ter duas filhas adultas.
— Agora, Jesse, o rapaz está esperando.
— Ordenou a mãe. Respirou fundo
soltando a mão da irmã, olhando para
ela com o olhar confortante. Todos
deram um passo para o lado para abrir
passagem até ele.
— Olá Blade, que bom que veio! —
Jesse fez à vontade mãe, dizendo as
palavras entre os dentes. Diante de
Blade, mas em uma distância
consideravelmente segura.
— Tente fugir e vai se arrepender
depois. — Ele disse discretamente
dando um beijo em seu rosto.
— Agora chega de drama, já era para
Jesse estar pronta. Vem nega, vou te
ajudar com o vestido. — Mainara enfim
conseguiu tirar a irmã de um problema
dos grandes e saiu arrastando-a escada
acima. Tudo sobre aos olhos
ameaçadores de Blade que
acompanharam a investigadora até sumir
de vista.
— Quem é aquele gostoso com cara de
mau, Jesse Carter? — Indagou Mainara
assim que chegaram ao quarto de
hóspedes da mansão, colocando as mãos
na cintura nervosa.
— Só um amigo. — Respondeu Jesse
tirando a roupa às pressas, indo em
direção ao banheiro. Ouvindo os saltos
da irmã estalando atrás dela, não iria ser
fácil se livrar tão cedo das perguntas
dela.
— Então porque ele olhou para a mão
do Tony segurando a sua de um jeito que
parecia tirar uma arma da cintura a
qualquer momento e dar um tiro na cara,
na mosca.
— Não começa Mai, para de paranoia.
— Jesse gritou do lado de dentro do
Box, com a cabeça cheia de espuma.
— Ok! Então não vai se importar em
saber que as nossas amadas primas
ficaram dando em cima gostosão.
Principalmente a víbora da Valéria, que
se acha a mais linda do mundo. —
Provocou a irmã, o que deu muito certo,
já que Jesse abriu a porta do box quase
colocando o chão abaixo.
— O quê? Será possível que essas
oferecidas não podem ver um homem
bonito que já vão dando em cima dele,
mas se a Valéria não ficar longe dele,
vou arrancar cada fio daquele aplique
mal colocado dela. — Mainara ficou
boquiaberta, era difícil ver a irmã
nervosa assim.
— Eu sabia! Você está pegando aquele
ogro mal-humorado, gente ele é enorme.
Está lavando a cara em moça, quero
saber de tudo. Vocês já se beijaram?
Estão namorando? Não acredito que
tenho um cunhado gato daquele. —
Mainara não para de tagarelar, nem um
minuto.
— De onde saiu isso? — Jesse deixou
cair no chão a toalha preta que estava
enxugando o corpo, apontando para um
vestido longo vinho escuro, da Prada,
frente única, modelo sereia de mangas
longas com uma abertura
consideravelmente sensual do lado
mostrando as coxas. Havia um par de
sandálias pretas de salto médio com a
etiqueta também da Prada, confortáveis.
Um conjunto de joias de três peças de
diamantes vermelhos, brincos, cordão e
um pulseira folheada a ouro. Para
completar um buquê de flores maior do
que o que ganhou de Michelangelo, com
um pequeno bilhete escrito a mão.
" Para o seu primeiro baile, espero que
goste. B.M"
— O bonitão trouxe para você em uma
caixa enorme com um laço maior ainda
por cima, um buquê de rosas vermelhas
para mim e outro para a mamãe com um
bilhete lindo dizendo que estava
honrado em nos conhecer pessoalmente.
Achamos a atitude dele muito fofa, não
se veem cavalheiros assim por aí hoje
em dia. — Jesse ficou pasma,
literalmente, sem saber o que pensar,
mas amou o fato dele ter escolhido tudo
pensando nela e para ela. Mas havia
alguma coisa atrás de tudo aquilo e
estava morta de medo de ficar sozinha
com Blade para descobrir depois.
— Esqueça disso por enquanto, depois
falamos sobre esse assunto. Me ajude a
me arrumar, temos que correr antes que
a mamãe apareça batendo na porta,
louca atrás de nós duas. — Mainara
concordou muito a contragosto,
emburrada. Depois de quarentas
minutos, Jesse estava linda! Com uma
maquiagem muito bem-feita, o batom
vermelho provocante que a irmã cismou
que deveria usar para combinar com o
restante do look. O cabelo prendeu em
um coque, preso ao topo da cabeça.
— O Ogro delícia vai morrer de ciúmes
de você irmã, a cara vai ficar mais
azeda ainda. — Mainara soltou uma
gargalhada alta.
—Vamos descer logo e pare de
gracinhas. — Jesse revirou os olhos
frustrada.
No salão de festas, que ficava atrás da
mansão, havia um bandido impaciente à
espera do seu par, também era a sua
primeira vez em um baile de debutantes.
Nem na escola havia ido a um, tudo que
sabia aprendeu com a mãe em casa.
Falava quatro línguas e tinha um
conhecimento maior do que muito
graduado recém-formado. Era
inteligente, culto e observador. Olhando
ao seu redor Blade teve a certeza que
jamais iria fazer parte daquele mundo,
era barulho demais para um lobo
solitário. A decoração fora toda feita em
branco com dourado, jarros com flores
naturais enfeitavam as mesas dos
convidados. Pessoas metidas falando
coisas fúteis, fora o olhar questionador
da mãe de Jesse, que o acompanhava
por onde quer que fosse.
— Chegou o grande momento de receber
a aniversariante e as suas madrinhas de
honra. Cada cavalheiro deve vir até a
frente para pegar sua dama conforme for
chamada, essa é a hora de colocarmos
beleza nessa festa, pessoal! — Brincou
o orador do baile, um homem nanico de
sorriso simpático. Blade ficou
incomodado de todos nomes serem
chamados, menos o de Jesse que fora o
último. Queria vê-la logo e estar com
ela.
— Com vocês chamo a linda jovem
Jesse Carter, que veste vinho. A cor da
paixão avassaladora e perigosa. —
Anunciou, fazendo o coração do Homem
sem Lei disparar. Não teve ninguém que
não olhasse para ela assim que apontou
no fundo da passarela toda forrada com
um tapete vermelho, com as bochechas
coradas. A mistura erótica do rubor da
inocência misturando-se ao charme de
uma mulher recém desvirtuada, algo
fantástico. Ela veio andando devagar
com medo de tropeçar, graças a Deus
deu tudo certo. Já Blade em um pulo
estava à espera dela, próximo a escada
da passarela para recebê-la e pegar o
que era seu.
— Você está linda! – Elogiou,
estendendo a mão para ajudá-la a descer
os três degraus.
— Obrigada! — Ela moveu a boca
como se fosse dizer algo a mais, porém
se deteve. A conduziu até o mesmo lugar
onde estava antes, o mais discreto do
evento.
— Se você respirar eu mato todo mundo
e o seu priminho será o primeiro,
entendeu? — Ameaçou Blade,
envolvendo o braço em volta da cintura
dela. Jesse apenas confirmou calada
com a cabeça.
Passaram grande parte do aniversario
assim, ela era teimosa demais e ele sem
um pingo de paciência. Mas tudo mudou
até a música dos dois começar a tocar,
que serviu como melodia para a
primeira noite de amor deles. Não
ouviram mais nada além dos acordes da
guitarra do Bom Jovi, as lembranças
vieram como um raio na mente de
ambos. Blade percebendo que as costas
de Jesse estavam arrepiadas de frio, a
abraçou por trás para aquecê-la melhor.
Dando o primeiro passo, percebendo
isso a jovem se virou de frente para o
bandido entrelaçando os braços em
volta do seu corpo pousando a cabeça
sobre o peito dele fechando os olhos.
Então os corpos começaram a se
movimentar lentamente ao som da
música, em um ritmo perfeito. Quando
terminou, a investigadora ergueu o rosto
para olhar para o amado. O que viu foi
uma expressão mais relaxada, calma.
Em sinal de paz se equilibrou nas pontas
dos pés e beijou o queixo dele sem
esperar nada em troca, mas para
surpresa da investigadora Blade
esfregou a ponta do nariz no dela. Essa
era a forma deles de se desculparem um
com outro, levantar a bandeira branca de
paz.
— Não está mais bravo comigo? —
Perguntou receosa com os dois pés
atrás.
— Muito. —Fechou a cara,
perigosamente. — Mais tarde tem que
me explicar direitinho algumas coisas,
detalhadamente. — Olhou para a
direção do primo Tony conversando com
alguns rapazes perto da mesa de
bebidas, depois voltou os olhos para ela
com o cenho franzido.
— Blade eu... — Ele a impediu que
falasse, colocando o dedo indicador
sobre os seus lábios.
— Mais tarde Jesse, mais tarde... —
Deixou solto no ar, mas pelo tom dele,
Jesse sabia que estava planejando algo
nada bom para ela. Preferiu não
aprofundar o assunto, não seria
inteligente provocar a fera na frente de
toda a família dela.
— Quer beber alguma coisa? Se quiser
eu posso pegar. — Ela esperou alguns
instantes antes de mudar cuidadosamente
de assunto.
— Não vai sair de perto de mim para
nada. — Respondeu azedo, apertando a
cintura dela.
—Vamos dançar, Jesse? É a sua música
favorita. — Mainara chegou animada e
saiu a puxando para a pista de dança, se
ela soubesse o problema que estava
arrumando para a irmã jamais faria isso.
Jesse começou a mexer o corpo sem
graça para não fazer desfeita, mas o
pensamento estava em Blade.
— Lindas não? Elas são o meu tesouro,
quem quebrar o coração de qualquer
uma delas vai ter que se ver comigo
depois. — Maria Joaquim apareceu
segurando duas taças de champanhe
olhando na direção das filhas dançando,
no exato momento que Blade pretendia
ir até lá e tirar a Jesse arrastada pelos
cabelos como na idade da pedra.
— Entendo. — Maneou com a cabeça
mostrando que havia entendido o
recado.
— Aceita? — Entregou uma das taças
cheia de liquido borbulhante a ele.
— Obrigado. — Virou em um gole só
lamentando de não ser algo mais forte, a
presença da sogra o intimidava bastante.
— Onde a conheceu? Minha filha não é
muito de sair, sempre foi muito tímida e
sensível. — Maria Joaquim o encarou
de frente.
— Ela é mais forte e corajosa do que
imagina. — Blade não tirava os olhos de
Jesse a vigiando como um caçador de
olho na presa.
— De uns tempos para cá tenho notado a
minha filha diferente, mais segura.
Sorrindo sempre, feliz. Agora sei o
motivo, estou na frente dele. — Segurou
a mão de Blade, olhando no fundo dos
seus lindos olhos azuis escuros. —
Promete que irá fazer de tudo para não a
magoar? Se tiver paciência com a Jesse
pode ter certeza que nunca será mais
amado por outra mulher do que por ela,
nasceu com um coração grande, mas
frágil. Então cuidado, cuide dela com
carinho!
— Às vezes a bondade exagerada dela
me irrita bastante. Odeio o efeito que o
sorriso dela tem sobre mim, poderia
pedir o que quisesse que eu daria.
Quando me afronta, me fazendo viajar
mais de doze horas para um lugar frio,
odeio lugares gélidos, cheio de coisas
importantes para fazer em casa só
porque não atendeu as minhas quarenta e
oito ligações. — Comentou sem pensar,
quando viu já tinha se aberto com
alguém que havia acabado de conhecer.
A sogra não era tão ruim como ouviu
falar, pelo menos não aquela.
— Quarenta e oito? — Perguntou
surpresa.
— Sou insistente quando quero uma
coisa, Senhora. — Blade a respondeu,
tirando os olhos da pista e a encarando.
— Fico feliz em saber disso, meu filho!
— Maria Joaquim beijou o rosto de
Blade e seguiu o seu caminho, ele sentiu
como se tivesse tido aquela conversa
com a própria mãe dele.
Jesse aos poucos foi perdendo o medo e
começou a dançar junto com a irmã, mas
se perguntando se Blade ainda estava a
vigiando. Em uma breve espiada viu os
olhos dele deslizarem preguiçosamente
por todo o seu corpo, parando mais que
o necessário nas suas pernas torneadas
que apareciam na abertura do vestido
conforme se movimentava. Percebeu os
outros estavam olhando para ela também
e achou isso um máximo! Na esperança
que Blade estivesse vendo o espetáculo
de camarote, que tivesse sendo uma
tortura para ele. Assim daria mais valor
em vez de ficar agindo feito um
completo idiota. Enciumado com o que
vira, o bandido saiu mandado para tirar
a Jesse da pista de dança, mas foi
impedido novamente.
— Está sozinho, gato? — Uma mulher
da voz melosa e um vestido estranho cor
de rosa choque segurou no braço de
Blade, que estava prestes a dar um tiro
nela caso não o soltasse. Tinha a voz
vulgar e enjoativa, uma maquiagem
exagerada e uma arrogância enorme.
Para piorar era oferecida, Blade odiava
esse tipo.
— Ele não está sozinho, Valéria! E acho
bom você ficar bem longe do que é meu,
porque estou armada e não terei um
pingo de receio em usá-la, caso acho
preciso. — Jesse levantou a abertura do
vestido, mostrando a arma presa na
altura da coxa. Blade achou a coisa mais
sexy do mundo, era uma gata manhosa
que quando acuada mostrava as unhas.
Não satisfeita e morta de ciúmes. Jesse
pegou na mão de dele e saiu o
arrastando para fora do salão, possessa,
sem importar com o frio que estava
fazendo.
— É feio sair antes da valsa principal,
sabia? — Debochou, gostava de vê-la
irritada. Ainda mais por conta de ciúmes
dele. Dessa vez Jesse não abaixou a
cabeça, defendeu o que era dela.
— O que veio fazer aqui? Você é muito
cara de pau, depois de tudo aparecer
como se nada tivesse acontecido. —
Blade podia ver de longe as veias do
pescoço dela pulando, realmente estava
nervosa. Preocupado que alguém os
ouvisse e incomodado com o frio, a
puxou para dentro de uma porta a
esquerda. Era uma espécie de adega,
antiga, mas organizada.
— Quem deveria estar nervoso aqui sou
eu! Porque não atendeu as minhas
ligações? — Alterou a voz.
— Estava ocupada. — Cruzou os
braços, evitando os olhos dele.
— Esquiando com o Tony? – Foi
irônico, hostil.
— Sim e foi incrível passar o dia com
ele. —Blade perdeu a cabeça e tirou a
arma da cintura, imprensando-a na
parede apontando para a cabeça dela.
— Não me provoque, não sabe do que
sou capaz. — Apertava o pescoço de
Jesse cada vez mais forte, os olhos
escuros e vazio como uma noite fria.
— Pode me matar se quiser, pelo menos
não vai mais me magoar. —Blade a
soltou imediatamente.
— Você também me magoou. — Era a
primeira vez que o vira se abrindo em
relação aos seus sentimentos, mesmo
assim isso não diminuiu a raiva que
estava sentindo por ele.
— Como pode me abandonar no dia
seguinte da nossa primeira vez? Eu me
senti a pior mulher do mundo, me senti
usada. Pegou o que queria e depois
jogou na porta do meu apartamento
como um cachorro sarnento, foi embora
e me deixou falando sozinha. — Sentiu
vontade de chorar, mas se manteve firme
não derramou nem uma lagrima.
— Não cheguei nem no final da rua e já
estava arrependido, voltei para fazer as
pazes. Mas te encontrei nos braços de
outro, o barman. Isso acabou comigo,
passar em cima do meu orgulho e vir
aqui não foi fácil para mim, mas vim
porque não aguentava mais ficar um
minuto sem te ver. Para completar chego
e te vejo de mãos dadas com o tal Tony,
fora o strip-tease que fez para o capanga
do meu maior inimigo. — Ele não havia
voltado para se desculpar, mas voltara
porque a vira nos braços de
Michelangelo. E mesmo magoado veio
para o baile, porque sabia que era
importante para ela.
— E foi chorar as mágoas em uma boate
ao som de música eletrônica e várias
mulheres dando em cima de você,
aposto que dormiu com a metade delas.
— Ela estava ficando boa em ser
irônica, tocar no ponto certo para afetá-
lo.
— Eu não fui em porra nenhuma, aquele
barulho que ouviu era o Li vendo
televisão com o volume alto. Os
personagens é que estavam em uma
boate, eu estava feito um idiota deitado
no sofá pensando em você. — Exclamou
sem paciência.
— Eu te feri, você me feriu. O jeito é
nos afastarmos, fingir que nunca nos
conhecemos. — Jesse falou engolindo o
choro, mas sabia que era o certo a se
fazer. O que começa errado, termina
pior ainda.
— Você gosta do barman? — Perguntou
de um jeito muito fofo, Jesse balançou a
cabeça negativamente com o coração
partido.
— Do Tony, então? — Ele parecia uma
adolescente, inseguro.
— Eu amo você, Blade! — O olhar dele
iluminou como o nascer do sol, cheio de
esperança.
— Mentira, quem ama não desiste. —
Afastou-se dela magoado.
— Às vezes desistir é a maior prova de
amor que se pode dar a uma pessoa,
talvez um dia você entenda que certos
afastamentos por mais dolorosos que
sejam, servem para evitar sofrimentos
maiores. É obvio que nunca vamos dar
certo, juntos, insistir é pior. — Jesse
tinha razão, e ele sabia disso.
— Vou sentir sua falta, Anjo. —
Declarou Blade com a voz levemente
trêmula.
— Eu também. — Jesse o abraçou forte,
o que foi retribuído na mesma
intensidade, caindo em seguida em um
pranto sem fim. Não conseguiu segurar o
choro quando ele começou a cantar um
trecho música deles bem baixinho em
seu ouvido, enquanto lhe afagava os
cachos com carinho.
"Tem chovido desde que você me
deixou
Agora estou me afogando no dilúvio
Você sabe que sempre fui um lutador
Mas sem você, eu desisto.
Agora não posso cantar uma canção de
amor
Como deve ser cantada
Bem, acho que não sou mais tão bom
Mas querida, eu disse que estragaria
tudo.
Sim, e eu te amarei, querida, sempre
E estarei ao seu lado por toda a
eternidade sempre
Eu estarei lá até as estrelas deixarem
de brilhar
Até os céus explodirem e as palavras
não rimarem
E sei que quando morrer, você estará
em meu pensamento
E eu te amarei, sempre...
Tudo o que vivemos não volta mais,
São apenas lembranças de uma vida
diferente.
Algumas que nos fizeram rir
Algumas que nos fizeram chorar
Uma que você fez ter que dizer adeus.
Mas não esqueça que eu te amarei...
Sempre..."
— Meu Deus, que dor! Não queria que
tivesse que ser assim, queria poder te
fazer feliz! — Jesse chorava tanto que
molhou a gola da camisa dele, estava
sendo muito difícil para ela deixá-lo ir.
— O pouco que conheci da felicidade
foi ao seu lado, obrigado por isso. Por
me dar a oportunidade, mesmo que por
um só instante, de acreditar em finais
felizes e que o amor cura tudo, até as
piores pessoas como eu. — Eles
estavam tão agarrados um ao outro que
pareciam que não iam se soltar nunca
mais.
— Eu não quero que vá. — Jesse
sussurrou no ouvido dele, com a voz
chorosa.
— Não me deixe ir. — Ele sussurrou de
volta. Sem reposta da parte dela a
soltou, virando para ir embora, de vez.
— Se cuida. — Blade disse levando a
mão na maçaneta da porta, sem coragem
de olhar uma última vez para ela.
— Por favor fica, faz amor comigo? —
Ela pediu, fazendo a mão dele congelar
no ar antes que chegasse a porta. Mas
pensou melhor, resolveu fazer o certo.
— Não importa o quanto me arrependa
de tudo o que fiz, não há religião que
possa me salvar. O meu coração sangra
por saber que nunca chegarei nem perto
do que você merece e isso me
atormenta, todos os dias. Não piore as
coisas, deixe como está. Procure um
rapaz da sua idade e que não seja um
cara tão problemático como eu. —
Torceu a maçaneta para o lado direito,
abrindo a porta.
— Se você for será para sempre, mas se
resolver ficar é para fazer amor comigo
e não me soltar mais. A escolha é sua,
mas saiba que seja qual for não tem mais
volta. — Foi taxativa, era tudo ou nada.
A única coisa que ela ouviu foi o som da
porta batendo com força, com ele do
lado de dentro.
— Mas que porra, Jesse! Você é muito
boba, era a sua chance de se livrar de
mim. — Blade começou a resmungar
rabugento, mas ela o calou com um beijo
apaixonado, cheio de esperança para um
futuro juntos. Então, naquele momento
descobriram que o amor só dá certo
quando a gente oferece a alma do jeito
que ela é. Sem precisar ser feito, apenas
de verdade.
Enquanto isso no baile de debutante
Maria Joaquim estava entretida
ajeitando um arranjo de flor sobre a
mesa principal, ao lado do bolo de três
andares e uma montoeira de brigadeiros,
quando percebeu alguém se
aproximando atrás dela.
— Com licença senhorita, você por
acaso viu a Jesse Carter por aí? Preciso
muito falar com ela, é urgente. — A voz
era grossa, mas pelo excesso de
educação, muito agradável.
— Primeiro não é senhorita, é Senhora
Carter. Segundo, por que um encanador
do prédio da minha filha viajou para o
Canada atrás dela? — Maria Joaquim
nervosa colocou as mãos na cintura e
Julius engoliu em seco pensando: o que
iria fazer agora?

CAPÍTULO 26
Jesse passou os braços em volta do
pescoço de Blade durante o beijo,
puxando-o para si. Ele havia a
pressionado com brutalidade contra a
parede, moldando-a ao seu corpo. As
mãos dele deslizavam pelas curvas dela
sem nenhum pudor até pousarem sobre
as nádegas da jovem apertando com
força, com vontade e durante todo esse
tempo, os seus lábios continuavam
colados um no outro em ritmo
avassalador e insaciável. Blade mordeu
a parte inferior da boca de Jesse
fazendo-a gemer, isso fez ele sorrir em
meio ao beijo.
— Você me deixa louco, investigadora.
— Ele confessou quase sem voz e
começou a beijá-la de forma
desesperadora.
— Em qual sentido? — Jesse fez
charme, afastando a boca da dele. Blade
fechou a cara não gostando de perder o
contato físico.
—Todos. — Respondeu rápido na
pretensão de continuar de onde haviam
parado.
— O Senhor também não é fácil, Senhor
Maldonado. — Blade a encarou com o
semblante sério e, imediatamente, Jesse
se preparou para o pior.
— Nunca disse que era. — Seu tom de
voz ficou defensivo.
— Bom como costumam dizer por aí.
Quanto mais difícil melhor, mais
gostoso. — Jesse o desarmou, estava
aprendendo como domar a fera.
— Gostoso é? — Perguntou malicioso
acariciando-lhe os seios de leve,
esfregando os polegares nos mamilos
que começavam a despontar sob o
tecido fino do vestido. Jesse sentiu uma
onda de calor e prazer possuir o seu
corpo.
— Safado! — Jesse suspirou, totalmente
entregue.
— Não viu nada, mas terá a
oportunidade de ver! Ou melhor, sentir
bem forte e fundo. — A última palavra
praticamente sussurrou com os lábios
cerrados aos dela a seduzindo.
— Porque não me mostra agora? — A
resposta dela mesmo que meio insegura
o surpreendeu bastante. Ainda mais
quando Jesse levou a mão no cinto da
calça dele na intenção de abri-lo.
— Precisamos parar, antes que eu faça
alguma idiotice. — Mesmo querendo
muito, Blade sabia que a possuir ali
seria loucura. Alguém poderia pegá-los
em flagrante. A primeira pessoa que
veio à sua mente foi a mãe dela, que,
provavelmente, quando sentisse a falta
da filha sairia a sua procura. Não queria
problemas com a sogra.
— Idiotice? — A insegurança de Jesse
dobrou, agora era ela que não queria
mais. Desviou o olhar chateada.
— Olhe para mim! — Ordenou, mas ela
não obedeceu. Então, Blade virou o
rosto dela obrigando-a olhar nos olhos
dele. — Não sou nenhum adolescente,
Jesse. Para mim você é como uma
dessas garrafas de vinho antigas dessa
adega, valiosa demais e que quero
degustar com calma, de preferência na
minha cama. Já que me fez vir para esse
lugar frio, o mínimo que deve fazer é me
manter aquecido. — Beijou o rosto de
Jesse, depois a abraçou. — A noite toda
e durante o dia também. — Concluiu por
fim, sentindo o coração dela bater forte
contra o seu peito.
— Eu te amo, Blade! — Ela se
declarou, mas não teve resposta da parte
dele. Porém, sentiu sua respiração ficar
suave e os seus braços se estreitarem
mais em volta dela. Jesse não ficou
triste pois não esperava que ele
respondesse. Sabia suas limitações e as
respeitava. Tinha ciência que talvez
nunca ouvisse um "eu te amo", mas para
ela não importava ficar falando. Mais
vale sentir do que falar!
— Pegue algumas peças de roupas para
usar amanhã e deixe um bilhete para a
sua mãe sobre a cama dizendo para não
se preocupar, porque estará comigo. —
Jesse não entendeu tanta confiança da
parte dele em falar com a sua mãe que
passaria a noite e o dia seguinte com um
homem que ela acabara de conhecer, era
quase o mesmo que dizer que a filha
tinha sido sequestrada por um louco
estuprador de garotas indefesas. Jesse
não sabia de nada, estava inocente,
Blade já tinha ganhado a sogra assim
que Maria Joaquim colocara os olhos
nele no hospital segurando a sua mão há
um tempo atrás.
Mesmo sem entender fez o que ele
mandou, obedeceu e colocou algumas
peças de roupas e alguns objetos de
higiene pessoal dentro da mochila. A
ideia que iria acordar do lado dele de
manhã era maravilhosa, perfeita. Fez o
trajeto de ida e volta até o quarto sem
que ninguém a notasse e sorriu quando
encontrou Blade esperando por ela
impaciente, encostado em um carrão
branco novinho em folha. Parecia
aqueles de filme, caro e veloz. Ele tinha
se livrado do casaco e da gravata
ficando apenas de camisa branca de
mangas longas como se não sentisse o
frio congelante do Canadá, de fato era
um homem quente. Ainda mais com as
mãos no bolso, as pernas cruzadas uma
na frente da outra e uma expressão sexy
no rosto, um verdadeiro Deus do
Olimpo.
—Você demorou. — Resmungou abrindo
a porta do lado do carona. Blade era
grosso, mas sabia ser gentil quando
queria.
— Relaxa, temos a noite toda e o dia
também. — Jesse beijou o rosto dele
antes de entrar no carro.
— Para mim é muito pouco. —
Esbravejou o bandido de cara azeda.
— Para onde vamos? — Perguntou
Jesse tentando colocar o cinto, sem
sucesso, Blade ajudou com ignorância.
Se não o conhecesse o jeito dele, teria
ficado magoada.
— Não interessa! — Cortou o assunto
dando partida, saindo em disparada em
direção ao centro da cidade de Toronto.
— Obrigada pelo vestido e os demais
presentes, eu amei! — Sorriu para ele,
tímida. Queria ter dito que mesmo
gostando tanto não iria aceitar,
principalmente as joias. Mas achou
melhor deixar para dizer outra hora,
para não o deixar nervoso e estragar
tudo como depois da primeira vez dos
dois no esconderijo. Blade não
respondeu nada, esticou o braço para o
banco de trás da Ferrari GTC4Lusso e
pegou uma pequena caixa preta com um
laço por cima.
— Aqueles presentes comprei para
você, esse é para mim! — Colocou a
pequena caixa na palma da mão de
Jesse, que a segurou com cuidado. As
bochechas dela coraram quando a abriu,
morta de vergonha. Era uma fantasia
erótica da Chapeuzinho Vermelho, uma
capa com capuz vermelho sangue e a
calcinha fio dental minúscula na mesma
cor. O tecido era tão fino que chegava a
ser transparente, no lado esquerdo do
quadril havia um pequeno laço.
O hotel cinco estrelas que Blade estava
hospedado era o maior e mais luxuoso
da cidade. Não trocaram uma palavra
sequer durante o trajeto do carro até o
elevador, onde esperavam o próximo
para subir até a cobertura, estavam em
total silêncio. Jesse segurava a mochila
nervosa, ainda mais porque sabia que os
olhos dele queimavam sobre ela.
Surpreendeu-se quando sentiu os dedos
da mão direita do bandido deslizarem
entre os dela e não a soltou mais.
— Você está bem? — Perguntou Blade
em um tom preocupado olhando para
ela, que tremia mesmo usando um
casaco grosso de pelos beges sobre o
vestido que pegou quando fora no
quarto, antes de saírem da mansão dos
tios.
— Só com um pouco de frio. —
Encolhe-se fingindo prestar a atenção na
tela fixada na parede que mostrava onde
o elevador estava, vinte e quatro
andares acima. Ele sabia que Jesse
estava mentindo, o tremor tinha outro
motivo, a ansiedade.
— Vai passar quando o seu corpo
estiver debaixo do meu, com minhas
mãos deslizando em cada centímetro
dele. — Maldonado disse naturalmente
num tom de tranquilidade. Ele era
completamente irresistível, em todos os
sentidos. Jesse apenas engoliu em seco
fazendo cara de paisagem como se não
tivesse ouvido o comentário.
De repente, entraram quatro rapazes na
faixa de vinte e poucos anos no
elevador. Pareciam estar voltando de
alguma balada, o cheiro de álcool tomou
conta da grande caixa de aço. Blade
notando a forma que os indivíduos
olhavam para Jesse de cima a baixo,
admirando suas curvas delicadas e bem
moldadas pelo vestido que ele tinha
comprado e escolhido pessoalmente,
puxou a jovem para mais perto de si
imediatamente para que soubessem que
ela já tinha dono e que esse sortudo era
ele. E o jeito como os olhou, os fuzilou
fazendo-os saírem amedrontados no
próximo andar, praticamente voando.
— O que você tem, Blade? — Perguntou
Jesse confusa, sem entender o porquê
ele estava com a cara mais fechada que
o normal. Afinal, ela não havia feito
nada de errado, pelo menos não naquele
momento.
— Ciúmes! — Respondeu apenas, entre
os dentes. Pela expressão dele, achou
melhor deixar o assunto quieto, mas o
sorriso vaidoso estava lá, presente no
rosto de Jesse.
— Alugou uma cobertura inteira só para
você ficar alguns dias aqui? —
Perguntou Jesse, assim que chegaram de
frente a porta.
— Para nós. — Blade tirou um cartão
do bolso destrancando a porta. A jovem
levou a mão na boca encantada com o
que viu.
O apartamento estava todo enfeitado
com flores de todas as cores. No chão
havia um tapete de pétalas de rosas
vermelhas que fazia um caminho até a
suíte principal, a cama com lençóis de
seda branca. No criado mudo ao lado,
uma garrafa de champanhe dentro de um
recipiente com gelo e duas taças de
cristal. O teto era todo espelhado,
podiam se ver enquanto fizessem amor.
As janelas eram panorâmicas, sem
cortinas e dava vista para a cidade de
Toronto tendo como pano de fundo as
montanhas cobertas por uma camada
grossa de neve iluminada pela lua. A luz
era fraca e aconchegante, assim como o
clima do lugar agradavelmente quente e
acolhedor. O luxo estava em toda parte,
desde os móveis modernos a cada
mínimo detalhe da decoração. Ele havia
pensado em tudo para agradá-la.
— Gostou? Não sou muito bom nisso.
E se fosse então? Pensou ela correndo
os olhos pela cobertura. Pela primeira
vez Blade estava inseguro achando que
ela não iria gostar da surpresa que ele
havia preparado com as próprias mãos
antes de ir à casa da família de Jesse a
procura dela.
— Eu amei, obrigada! Pensei que lobos
não mandavam flores, nem fossem
românticos. — Beijou os lábios dele
sorrindo, emocionada.
— Você é a minha exceção, lembra?
— E isso me deixa muito feliz. —
Sorriu de um jeito encantador.
— É preciso de tão pouco para fazê-la
feliz! — Tocou-lhe o ombro com as
pontas dos dedos em movimentos leves.
— Eu não chamaria isso de pouco,
Senhor Maldonado. — Levou o dedo
indicador ao meio do peito musculoso
de Blade sobre o tecido caro do terno
importado.
— O banheiro fica na segunda porta a
esquerda, pode usá-lo para se trocar. —
Blade tinha um sorriso malicioso e
calculado nos lábios.
— Está bem! — Jesse respondeu
envergonhada, olhando para a direção
que ele falou.
— Não demore. — Ordenou, aperando a
bunda dela.
Trinta minutos depois Jesse voltou
usando apenas a minúscula calcinha fio
dental e a capa vermelha. Havia soltado
o cabelo, os cachos estavam mais
rebeldes do que nunca. A delicadeza de
um anjo vestida com a ousadia de um
demônio. Os olhos dela se acenderam de
desejo ao ver Blade em frente a enorme
janela que ia do chão ao teto só com a
calça desabotoada e o fecho aberto,
deixando à mostra a parte bem abaixo
do abdômen. Ele tinha os olhos fechados
sentindo o vento gélido tocar o seu
rosto, a sua expressão era de paz. Assim
que sentiu a sua presença ele os abriu,
virando o rosto para o lado para admirá-
la melhor.
Chegou a encher de ar o peito
perfeitamente tatuado e expirou
lentamente. Começou uma minuciosa
varredura dos pés pequenos descalços
sobre as pétalas de rosas e subiu
devagar até encontrar os olhos castanhos
escuros e tímidos. Em vez de pular em
cima dela como qualquer outro homem
faria no lugar dele, Blade caminhou
tranquilamente até a garrafa de
champanhe e serviu-se de uma taça.
Pensou que o bandido enfim iria tocá-la,
mas ele não o fez. Passou por ela
segurando a sua bebida e sentou em uma
poltrona no canto que dava uma visão
ampla e privilegiada de todo o quarto.
Cruzou as pernas e sorveu um gole, sem
perder o contato visual com a
investigadora.
— Dance para mim, quero que toque o
seu corpo pensando em mim como fez
em Tijuana. — Uma voz grossa e sexy
ecoou pelo quarto. Era evidente que
estava muito excitado. A mesma música
que tocou no bar naquele dia começou a
tocar, a "Lambada - Dança Proibida”.
Jesse permaneceu paralisada,
envergonhada demais para atender o
pedido dele.
— Não podemos pular essa parte? —
Jesse perguntou sem graça.
— Agora! — Mandou tirando uma arma
da cintura destravando-a e colocando
sobre o colo, em forma de ameaça. Jesse
sabia o que ele estava fazendo, queria
puni-la por conta do strip-tease que
fizera para o capanga do Matteo
Castelli. E tinha razão, Blade poderia
deixar passar o abraço com o barman e
o esqui com o primo Tony, mas jamais
deixaria isso passar em branco. O
pequeno episódio com o capanga do
inimigo. Era detalhista e vingativo. Isso
era muita ingratidão da parte dele, não
era justo ser punida por ter arriscado a
vida para ajudá-lo. — " E a boba aqui
pensando que estava sendo romântico
comigo, não passava de uma encenação
para me castigar. Mas se queria brigar,
que aguentasse as consequências."
— Como quiser! — Tirou a capa o
surpreendendo, como sempre. Blade
babou olhando para ela só de fio dental
vermelho, era uma combinação perfeita
com a cor negra de sua pele. O jeito que
a olhou, sabia que estava perdido nas
mãos dela. Jesse fechou os olhos
sentindo o ritmo da música, deixando-se
levar por ela. Começando com um
movimento muito sexy no quadril,
enquanto deslizava as mãos pela lateral
do corpo, nas curvas. Não satisfeita
virou de costas sem parar de rebolar,
segurando os cachos no topo da cabeça
depois soltando-os como uma cascata.
— Santo Deus! — Exclamou Blade fora
de si, ela havia se curvado como se
estivesse reverenciando algum rei,
empinando a bunda. E subiu deslizando
as mãos nas pernas, em algum tipo de
dança erótica e provocante inventada
por Jesse, O que mais o excitava era a
forma delicada com que realizava os
gestos, parecia uma bailarina com tanta
leveza e charme. Para piorar a situação
do bandido, a jovem começou a cantar
com a voz doce junto com a música.
"A recordação vai estar ele para
sempre aonde eu for,
Chorando estará ao lembrar de um
amor
Que um dia não soube cuidar
Canção, riso e dor, melodia de amor
Um momento que fica no ar."
Não bastava parecer com um anjo, tinha
que cantar como um também. — Pensou
Blade hipnotizado como um marinheiro
entregue ao canto de uma sereia.
Virando-se de frente para ele
novamente, com uma mão Jesse apertava
um seio e a outra enfiou dentro da
calcinha, de fato imaginando ser tocada
por ele. Blade remexeu-se na poltrona
tentando ajeitar o volume que havia se
formado dentro da calça, mas estava se
tornando grande demais para manter
escondido.
— Agora já chega, porra! — Blade
praticamente gritou, nervoso. Vendo que
ela estava se virando muito bem na
função de se dar o prazer, que era dele.
Mas Jesse não parou, parecia estar em
algum tipo de estado de transe. Quando
a música enfim terminou, a
investigadora abriu os olhos se
deparando com o bandido diante dela
com uma expressão assustadora.
— Chegou a hora do Lobo Mau atacar!
— Blade a empurrou sobre a cama
arrancando-lhe a calcinha, tirou a calça,
depois a cueca branca dando a ela uma
bela visão do membro incrivelmente
ereto apontando para o teto. Engatinhou
sobre Jesse cobrindo totalmente o seu
corpo frágil com o dele. Um manto que
toda mulher sonhava ter na vida.
— Para que que esses olhos tão grandes,
Lobo Mau? — Brincou ela, percebendo
a forma gulosa que olhava para ela
enquanto tocava-lhe a coxa alisando
com as pontas dos dedos.
— Para te ver melhor, Chapeuzinho! —
Respondeu, olhando no fundo dos seus
olhos. Havia fogo e desejo dentro deles.
— E essa boca grande? — Perguntou
Jesse, sem saber do perigo que estava
correndo indo em frente com aquela
brincadeira. Ele não respondeu nada, a
única coisa que a jovem ouviu foi o
barulho das algemas sendo trancadas em
torno dos seus pulsos.
— Para te comer melhor! — Quando
deu por si, Blade estava com o rosto
enfiado no meio de suas pernas depois
de descer beijando todo o seu corpo.
Jesse estremeceu, não queria nem pensar
o que estava passando na cabeça do
último perigoso e destemido
Maldonado.
— Blade por favor, eu nunca imaginei
ser toca... — Ela se calou,
envergonhada.
— Tudo sempre tem uma primeira vez!
— E beijou-lhe as coxas. Blade não
parou de olhar nem por um instante para
o rosto dela atento a qualquer sinal de
desconforto.
— Anjo, abra as pernas! — Os olhos de
Jesse ficaram apreensivos e
desconfiados. Mas fez o que ele
mandou, se estivesse com as mãos soltas
teria coberto o rosto morta de vergonha.
Blade sabia disso, por isso as prendeu,
queria que ela o visse dando-lhe prazer.

— Não se preocupe, vai gostar! —


Blade sorriu sacana e começou a
acariciá-la com os dedos. Jesse gemeu
só com aquele simples contato.
— Tenho certeza que sim! — Disse
Jesse tensa.
Blade ouvia a respiração dela se
acelerar à medida que se aproximava da
intimidade dela. O bandido inclinou a
cabeça a admirando. E gostou do que
viu, a ansiedade nos olhos dela em ser
tocada por ele. Primeiro beijou a parte
interior da coxa depositando uma leve
mordida no mesmo lugar, provocando-a
antes de começar a tortura com a boca.
Ela arqueou o corpo ao sentir sua língua
deslizando por toda a extensão de sua
entrada, quente e úmida. Foram gemidos
e mais gemidos, altos e excitantes para
Maldonado que começou a chupá-la
cada vez mais rápido, até ela se debater
e tentar fechar as pernas. Foi então que a
jovem chegou ao seu ponto máximo,
soltando um gemido tão alto que pareceu
um grito de socorro. E gozou, sentindo o
corpo relaxar nas mãos dele. Blade
continuou a chupá-la, lentamente
apreciando o gosto dela. Soltou as
algemas, enquanto a beijava.
— Isso foi incrível! — Blade olhou para
aqueles lindos olhos escuros,
expressivos contendo um sorriso
convencido, feliz por ser o responsável
por dar tanto prazer ao seu Anjo.
— E vai ficar cada vez melhor, temos a
noite toda pela frente! — Blade
alcançou a mão para pegar uma
camisinha, mas se esquecera de
comprar. A última usara na primeira vez
de Jesse e como não vivia mais uma
vida imunda, esqueceu-se de comprar
mais. Sem pensar muito jogou tudo para
o alto agindo como um adolescente
inexperiente e apaixonado.
— Oh! Assim é muito melhor, vou tentar
me lembrar como de você está sempre
certo. — A voz dela saiu manhosa,
carregada de luxúria. Dessa vez Blade
não foi gentil como da primeira vez,
segurou o cabelo dela entre os dedos a
penetrando com força cada vez mais
fundo. A impressão era que fosse parti-
la ao meio a qualquer momento e olha
que estava se segurando bastante para
não a amar como queria. Ficaram nessa
dança erótica por um bom tempo, até os
dois corpos estarem suados e saciados.
— Você é minha! — Blade urrou feito
um cavalo no cio, gozando como nunca
havia feito antes com nenhuma das tantas
outras mulheres sexys, confiantes e
maduras com quem tivera relações.
Repetiram a doze por mais algumas
vezes, até perderem totalmente a força.
Durante o resto da noite o Anjo
adormeceu nos braços do demônio,
entrelaçados, carne com carne. Entre
beijos sonolentos e carícias espontâneas
de cumplicidade.
— Está acordada, Pequena? — Blade
sussurrou no ouvido de Jesse, que se
aninhava preguiçosamente dentro dos
seus braços. O dia havia acabado de
clarear e ele não podia esperar nem
mais um segundo para ouvir a voz dela.
Ficar com ela estava se tornando um
vício, uma perigosa obsessão.
— Bom dia, amor! — Jesse respondeu
bocejando ainda sonolenta com os olhos
fechados. Blade arregalou os olhos, não
esperava por aquilo. Realmente Jesse
Carter era uma caixinha de surpresas,
que aos poucos estava desvendando
cada uma delas. Sempre pensou ter sido
feito para ser ímpar e não par, tampouco
ser amado de verdade por uma mulher,
além de sua mãe.
— O que você disse? Acho que não ouvi
direito. — Eram raros os momentos que
Blade demostrava algum tipo de
sentimento e aquele era um deles.
— Eu disse “Bom dia”! — Os olhos de
Jesse ainda permaneciam fechados,
ainda estava com sono.
— Não essa parte, a outra. — Falou
baixinho, tímido.
— Que parte, amor? — A palavra
"amor" saía tão natural da boca de
Jesse, que poderia ouvi-la dizer sempre.
Ele se inclinou-se para beijá-la na curva
do pescoço, estavam abraçados de
conchinha e falou bem perto dela, perto
demais.
— Ainda não te ouvi direito. — Mentiu,
cinicamente.
— Mentiroso! — Brincou ela, abrindo
os olhos.
— Obrigado! — Dessa vez Blade disse
em um tom sério e firme apertando a
cintura dela com força.
— Por quê? — Entrelaçou os dedos nos
dele para passar segurança.
— Por me amar mesmo eu não
merecendo ser amado. — A voz de
Blade estremeceu e os músculos do seu
corpo ficaram tensos. Jesse preocupada
virou o rosto para olhá-lo, encontrando
dois olhos azuis cintilantes e tristes.
— Eu te amo, Blade Maldonado! —
Declarou com bastante ênfase no " eu te
amo", ele não disse nada, tocando-lhe os
lábios com os seus. Abriu as pernas dela
com o joelho, não precisava ser muito
inteligente para saber o que pretendia.
Se posicionou melhor e a penetrou
segurado firme em seus quadris e
apertando-lhe os seios. Nada melhor do
que selar aquele momento fazendo amor
em uma linda manhã de sábado em
Toronto vendo a neve cair através do
vidro. Depois acabaram adormecendo
outra vez, sem hora para acordar.
CAPÍTULO 27
“Acerto de contas. ”
Havia um mexicano e um chinês
desesperados a procura do casal Blade
Maldonado e Jesse Carter por cada
centímetro de Toronto. Eles tinham
viajado para lá às pressas, precisavam
encontrar o parceiro com urgência para
contar o que de tão grave, que só
poderia ser dito pessoalmente, havia
acontecido recentemente.
— O que houve na casa dos tios da
Jesse que te deixou com essa cara azeda
a noite toda, Julius? — Perguntou Li,
curioso. O mexicano saíra da festa de
aniversário feito um tiro, de cara
fechada. O chinês que o esperava no
carro quase congelando do lado de fora,
ficou sem entender nada, o porquê de
tanto mal humor.
— Você acha que eu tenho cara de
bandido? — Julius respirou fundo,
abatido, olhando para o chinês, que se
encontrava sentado todo torto no banco
carona enrolado feito um bebê em um
cobertor azul com o cabelo todo
arrepiado, pelo canto do olho. Passou a
noite toda dirigindo a procura de Blade,
já que Maria Joaquim não facilitou em
nada, praticamente o expulsando a
pontapés do baile. Parecia que tinha
medo dele ou do que a sua presença
causava nela, melhor dizendo.
— Não, só olho para você e lembro da
minissérie Prison Break. Aquela que tem
um monte de presos com a vida toda
ferrada e caras de psicopata. — Li falou
irônico. Diante aos últimos
acontecimentos não estava para
brincadeira.
— Eu estou falando sério, porra! Será
que não dá para conversar direito com
você? Estou cansado das suas piadinhas
sem graça, nem sei porque perco o meu
tempo te perguntando as coisas. —
Trovejou Julius, socando o volante
nervoso.
— Ok! Qual o nome dela? — Li cruzou
os braços, sem paciência.
— Não sei, ela não me disse. — Torceu
os lábios, revirando os olhos debaixo
dos óculos escuros. — Ela pensa que
sou um bandido que está perseguido a
filha dela. — Coçou a cabeça sem jeito,
usava o cabelo sempre cortado bem
baixo, quase rapado. Julius tinha um
coração grande, era sensível para essas
coisas de amor. Quando amava era
intensamente, já tivera o coração partido
por diversas vezes, então tinha muito
medo quando sentia que estava
começando a se interessar por alguém
de verdade.
— Mas você é um bandido, criatura! E
de certa forma está perseguindo a filha
dela sim, ela tem toda razão de ficar
desconfiada. — Li gritou no ouvido do
parceiro.
— Eu sei, mas ela não sabe! Está me
julgando pela aparência, só porque sou
grande e musculoso, odeio usar terno.
Isso é muito injusto, não me deu nem a
chance de explicar o porquê precisava
falar com a filha dela. — Choramingou,
lembrando da curta conversa que tivera
com Maria Joaquim. A mulher lhe
chamava a atenção de uma forma
diferente, intensa. Era como se eles se
conhecessem há muitos anos, de outra
vida talvez.
— Quer dizer então que você viajou até
aqui atrás da minha filha para dizer que
estourou um cano no apartamento dela e
está todo alagado? — Maria Joaquim
tinha o cenho franzido, as mãos na
cintura prontas para atacar e defender a
cria, caso fosse preciso.
— Sou muito bom no que faço, senhora,
em tudo! — Um arrepio correu pelo
corpo de Maria Joaquim, pensamentos
impuros em sua mente. Pediu perdão a
Deus mentalmente por isso, era mãe de
família e não podia pensar nesse tipo de
coisa, ainda mais com um homem que
acabara de conhecer, mas que mexia
tanto com ela.
— E como conseguiu entrar aqui? Está
na cara que não é um convidado. —
Olhou para ele de cima a baixo,
admirando uma montanha de músculos
de quase dois metros de altura. Julius de
fato não estava vestido para a ocasião,
não precisava ser muito inteligente para
saber que não deveria estar ali. Trajava
casaco comprido, preto, grosso e de
bolsos largos, calça jeans escura e justa
enfiada dentro de botas de camurça de
canos longos.
— O que há de errado com a minha
roupa? — Retrucou Julius.
— O que não há de errado com ela? —
Maria Joaquim falou sem pensar e o
mexicano olhou para ela e se perguntou
de onde Jesse havia herdado tanta
doçura e delicadeza, já que daquela
mulher não foi! E muito menos do pai,
que era um policial corrupto.
— Não sou obrigado a ficar aqui
ouvindo suas grosserias! De onde eu
venho, se alguém chega em uma festa
não importa como esteja vestido, será
bem tratado do mesmo jeito. — Julius
foi mais rude do que queria, nenhum dos
dois sabia o motivo de tanta antipatia um
pelo o outro. Mas como Blade dissera
para Jesse um dia "quem desdenha quer
comprar”.
— Pelo amor de Deus, Julius! Nós com
um problemão desse e você pensando
em mulher? Temos que achar Blade e
voltar logo para Los Angeles, graças a
Deus Bobbi não desconfiou de nada
quando demos a ideia de ele passar a
semana na casa da namoradinha dele, a
Lia. Não existe lugar mais seguro do que
a casa do consagrado juiz Thompson em
Washington, se o Mascote souber o que
está acontecendo, vai entrar em total
desespero. — Explodiu Li. Em seu rosto
não havia nenhum vestígio do brincalhão
que costumava ser. O chinês limpou
depressa uma lágrima que escorregou
pelo rosto de traços orientais, a essa
altura Julius estava em prantos também.
— Eu tenho medo da reação do Blade,
quando souber. Vai querer vingança e
acabar fazendo uma besteira das
grandes. — Bufou Julius, preocupado.
— Não importa qual será a reação dele,
mas sim que temos que deixá-lo a par de
tudo o que aconteceu. E seja o que Deus
quiser, se prepare para ver o inferno
sendo aberto bem diante dos nossos
olhos libertando os piores demônios que
existem dentro de Blade Maldonado. —
Li e Julius trocaram olhares, ambos
carregados de preocupação com o que
estava por vir dali em diante. E assim
seguiram caminho, fazendo a varredura
nos últimos hotéis de Toronto que
faltavam passar. Blade sabia muito bem
se esconder quando queria, era bom
nisso. Só queria ficar junto do seu Anjo
sem ser incomodado por nada ou
ninguém.
Depois de dormirem por mais algumas
horas e fazerem amor durante boa parte
da manhã, Blade acordou as quatorze
horas esfregando os olhos, irritando-se
quando passou a mão no lado de Jesse e
não encontrou nada. Levantou a procura
dela pela cobertura enrolado em um
lençol azul claro com a metade
arrastando pelo chão, o cabelo todo
bagunçado, tal qual uma criança
manhosa a procura da mãe. Encontrou-a
na cozinha, preparando o café da “tarde”
dele, ou pelo menos tentando. Jesse
estava de costas encostada no balcão,
vestindo apenas a camisa branca de
mangas compridas e que fazia parte do
smoking que ele usara na noite interior,
apenas aquilo e mais nada. O cabelo
preso ao topo da cabeça com um
elástico, com alguns cachos soltos,
cantando um louvor que falava sobre o
amor de Deus e como Ele era
misericordioso com os filhos. De fato, a
voz dela parecia a de um anjo, pensou
Blade parado na porta a observando
enquanto cortava alguns morangos em
pedaços pequenos para colocar na
salada de frutas. Elevou o pé esquerdo
descalço até a parte de trás da
panturrilha e coçou-a de leve com a
ponta do dedo maior, de uma forma
muito sensual. Foi preciso se controlar
para não a arrastar para a cama
novamente e passar o resto do dia lá
namorando.
— Boa tarde, Pequena! — Blade disse
com a voz grave e charmosa e aqueceu
toda a cozinha e também o coração de
Jesse que virou a cabeça para trás para
olhá-lo, lindo, com a cara de sono,
segurando o lençol na altura da cintura.
— Bom dia, amor! — Jesse abriu um
sorriso lindo, na verdade, encantador e
que acompanhado da palavra "amor"
nesse tom angelical era apaixonante. E
aquele cabelo preso de forma desconexa
com alguns cachos soltando do elástico,
era a cena mais linda que vira na vida.
O seu Anjo nunca pareceu tão lindo
como naquele momento. Pensou em
como pode odiá-la tanto quando a
conhecera, mas se antes não suportava a
voz dela, agora não conseguiria viver
sem ela.
— Eu poderia me acostumar com essa
cena todos os dias da minha vida! —
Disse mais para ele do que para ela em
um suspiro cheio de paixão.
— Eu também. — Jesse olhou para o
peito dele nu todo tatuado, a coisa mais
sexy do mundo para ela. — Com
certeza! — Completou vendo a cara de
safado com que ele olhava para as suas
pernas. Blade parecia uma máquina de
fazer sexo, sempre querendo mais e
mais. Na noite passada mal tinha
terminava uma rodada e já estava pronto
para outra.
— Não gostei de acordar e não te ver ao
meu lado, espero que isso não se repita
mais. — Seu tom era grave e ameaçador.
Fechou a cara, com uma tromba enorme.
— Só queria que quando o meu amor
acordasse, ele tivesse uma bela mesa de
café da manhã, ou melhor, da tarde. —
Blade olhou para o lado, se deparando
com uma mesa com vários tipos de
coisas saudáveis: suco natural de
laranja, ovos mexidos, iogurte de
ameixa, leite e café forte, entre outras
várias coisas. Ele avaliou tudo de perto
sem pressa.
— Quando aprendeu a cozinhar? —
Perguntou desconfiado, com a
sobrancelha arqueada.
— Na verdade eu liguei para a cozinha
do hotel e pedi tudo. Mas paguei com o
meu cartão. Como o Lar Angel, da Irmã
Florence, recebeu uma doação gorda de
alguém misterioso e que dará para eles
viverem bem por décadas e até pagar a
faculdade das crianças, não estão mais
precisando da minha ajuda, o meu
salário agora está sobrando inteiro. Vão
até construir uma casa nova para eles
mudarem! Fiquei tão feliz por eles, que
Deus abençoe essa pessoa, onde quer
que ela esteja! — Jesse comentou com
os olhos brilhando, não sabendo ela que
essa "tal pessoa" estava diante dela
agora, sentado na mesa em uma das seis
cadeiras de madeira pintadas de branco,
ouvindo tudo atento.
— Você usou o seu cartão para pagar,
Jesse? Não seja idiota gastando o seu
dinheiro à toa, eu posso comprar esse
hotel inteiro para você se quiser. —
Blade se arrependeu assim que falou,
Jesse havia abaixado a cabeça
segurando o pequeno pote da salada de
frutas. Ele havia a magoado, coisa que
prometeu nunca mais fazer.
— Não quero o seu dinheiro, Blade, a
propósito eu ia mesmo te falar que não
posso aceitar os presentes que comprou
para mim. Pode tomar o seu café, que eu
vou tomar o meu banho. — Colocou o
pote de salada de frutas em cima da
mesa, ao lado do prato de biscoitos
amanteigados.
— Não vai a lugar nenhum, vamos tomar
banho juntos depois. Por favor me
desculpe, Anjo! Não se zangue comigo,
não sou bom em pensar antes de falar. E
os presentes são seus, como a mim e
tudo o que é meu. — Segurou no braço
de Jesse e a puxou para o seu colo
gentilmente.
— Eu não quero saber do seu dinheiro,
Blade, só de você. — Ela o envolveu
com os braços em torno do seu pescoço,
escondendo o rosto no peito dele. Ele
alisou levemente as costas de Jesse com
as pontas dos dedos.
— Poderia achar que é porque o meu
dinheiro é sujo, mas como te conheço
bem, Anjo, não aceitaria nem se eu fosse
o papa. É teimosa demais, luta para ser
independente e não admite que ninguém
tire isso de você. Respeito e admiro
isso! — Ela sorriu com os olhos
marejados, emocionada por Blade em
tão pouco tempo a conhecer melhor que
ninguém.
— Vou ficar com o vestido, as flores e
as sandálias também porque nunca se
deve negar nada da Prada. — Jesse
gargalhou alto. Mas só falou aquilo para
não o fazer sentir-se tão mau, e Prada é
Prada, não é algo que se deve recusar
nunca, mesmo! Mas as joias, não
aceitaria, deveria valer uma fortuna.
— E a fantasia da Chapeuzinho
Vermelho também, quero que use para
mim outra vezes. — Ele apertou as
coxas dela, mordendo o seu ombro.
— Safado! — Jesse deu um tapa nas
costas de Blade.
— Gostosa! — Deu um tapa na bunda
dela com vontade abrindo o lençol e
enfiando Jesse dentro dele, a fome de
Blade não tinha nada a ver com o café
da manhã, mas sim com o "prato
principal".
— Para Blade! Não começa, tem que
tentar comer alguma coisa. — Jesse
tentava se livrar das investidas dele,
parecia um polvo, com as mãos
passeando por todas as partes do seu
corpo ao mesmo tempo.
— Já estou. — Respondeu o safado
deslizando as mãos para o meio das
pernas de Jesse, era difícil parar um
homem como Blade, quase impossível.
— Eu montei a mesa do café com tanto
carinho para você, para agradecer pela
noite maravilhosa de ontem, mas nem
olhou para ela. – Disse Jesse, fazendo
beicinho.
— Droga! Está bem! — Retrucou
parando de beijar o pescoço dela a
contragosto.
— Posso alimentar você? — Jesse
abaixou o olhar, retorcendo as mãos
nervosa. Blade pensou em como ela
ainda tinha medo dele, talvez nunca
passaria a má impressão que lhe causou
desde que se conheceram. Era óbvio que
ela ainda tinha bastante receio em
relação a ele, de falar qualquer coisa e
receber alguma grosseria como resposta.
— Claro, Pequena. — Então ela abriu
um sorriso largo, e pegou um pedaço do
morango que havia cortado e colocou na
boca dele. Além de saboreá-lo, fez
questão de chupar a ponta do dedo de
Jesse olhando em seus nos olhos. Um ato
simples, mas erótico. E assim foi
durante todo o café, que pareceu mais
um ritual de acasalamento.
— Quero fazer um pacto com você para
que isso dê certo. — Jesse apontou para
ela, depois para ele. — Vamos
conversar sempre sobre tudo. E não
haverá mentiras entre nós, nunca mesmo.
E não esconderemos nada um do outro,
por pior que seja o problema, vamos
tentar resolver. Por mais que briguemos
durante o dia, jamais dormiremos
brigados. — Ainda estavam sentados na
mesa, ela no colo dele. Jesse estava tão
compenetrada que Blade logo percebeu
que ela estava falando muito sério.
— Fui eu que comprei o prédio que
você mora e mandei reformar o seu
apartamento, não me arrependo de nada!
E faria tudo de novo para te manter
segura, Anjo. — Revelou já na
defensiva, estudando o rosto de Jesse a
procura de algum sinal de irritação.
— Já sabia, mas estava esperando você
estar pronto para me contar. No dia da
nossa primeira vez no seu esconderijo
nas montanhas vi a caixinha de música
da sua mãe, que sumiu do meu
apartamento, escondida dentro da gaveta
da cômoda no guarda roupa, estava
procurando uma toalha. A propósito,
como agora estou com boa condição
financeira, aluguei um lugar legal perto
da casa da minha mãe e mudarei em
breve. Ela queria que voltasse para a
sua casa, mas achei melhor não. Sou
independente agora, como sabe isso é
importante para mim. Mas também quero
estar mais perto dela, a poucos
quarteirões de distância já está mais que
perfeito, vou poder vê-la todos os dias.
— Jesse nunca esteve tão feliz, tudo
estava começando a dar mais que certo.
— Então não está brava comigo,
Pequena? — Os olhos de Blade
pareciam perdidos, talvez por medo de
perdê-la. Não estava acostumado a ter
muitas coisas boas em sua vida, as que
tinha temia perder, por isso tanto
exagero nos cuidados com Bobbi.
— Só se você não me levar para passear
nos pontos turísticos em Toronto, como
os casais normais fazem quando estão
em viagem. — O bandido assentiu mais
tranquilo.
— Nosso pacto está selado, sem
mentiras ou segredos! — Blade apertou
a mão de Jesse, firme como no mundo
do crime, onde ninguém volta atrás em
sua palavra, depois de dita. — Seremos
um só, dois corpos, com a mesma alma.
E nada vai nos separar, sem mentiras,
segredos e medos. Ficaremos juntos,
aconteça o que acontecer. —Concluiu.
Aquele seria de fato um pacto que
duraria por toda vida e além dela
também.
— Para sempre! Você promete? —
Perguntou Jesse olhando para ele e
sorrindo.
— Para sempre! Prometo! — Blade
respondeu beijando seus lábios.
— Só mais uma coisa, qual é o seu nome
verdadeiro? — Perguntou curiosa,
fazendo ele se remexer incomodado na
cadeira.
— Não posso falar, essa é a única coisa
que será segredo entre nós. — Cortou o
assunto, sem chances de acordo. Isso era
um assunto confidencial e de família.
Blade levava isso muito a sério porque
havia sido uma promessa que tinha feito
a seu pai. O nome verdadeiro era para
usar em caso de urgência, caso as coisas
ficassem feias e precisasse mudar de
identidade.
— Está bem! — Ela respondeu
cabisbaixa. Blade nem deu importância,
a pegou no colo e a levou em direção ao
quarto jogando-a sobre a cama fazendo
cócegas nela, as gargalhadas de Jesse
inundaram o quarto.
Depois disso tomaram banho juntos. —
Vestiram-se com roupas grossas dos pés
à cabeça e passearam a tarde toda em
vários lugares bonitos como a Torre CN,
o Museu Real de Ontário e a Casa
Loma. Chegaram na cobertura aos
beijos, pretendendo namorar o resto do
dia. Mas bateram na porta assim que a
fecharam. Maldonado colocou Jesse
atrás dele antes de olhar no buraco da
fechadura para ver quem era. O coração
chegou a parar quando viu que se tratava
de Li e Estevão, ambos pareciam
nervosos. Preocupado que fosse alguma
coisa com Bobbi o coração quase parou
de bater.
— O que houve? — Jesse perguntou
preocupada, vendo como Blade ficara
pálido.
— Saberei agora! — Ele abriu a porta
com tanta força que quase a tirou do
lugar.
— Graças a Deus te achamos! Estamos
desde de ontem te procurando. — Blade
não gostou nem um pouco da expressão
estranha no rosto de Julius, havia alguma
coisa muito errada acontecendo.
— O que estão fazendo aqui? E quem
ficou cuidando do Bobbi? Com Estevão,
suponho. Pensei que não voltaria agora,
que ficaria por lá por mais algum tempo.
— Jesse sentindo um clima tenso no ar,
segurou a mão do amado.
— Bobbi está na casa da namorada, a
filha do Juiz, seguro com eles. O
problema é outro, com o Estevão... Ele...
— Li fungou não conseguindo completar
a frase, segurando o choro.
— O que tem Estevão? — Blade gritou,
nervoso.
— A mãe dele não estava doente coisa
nenhuma, ele nem chegou a sair do
Cassino aquele dia. — Blade ficou
petrificado com as palavras do
mexicano, os olhos que passaram o dia
todo em azul cor de jacinto, agora
estavam escuros como a noite. Jesse
apertou a mão dele ainda mais forte,
com medo de ouvir a que viria a diante.
— Onde está o Estevão então? Digam
logo, porra! — O coração de Blade
estava apertado como se fosse sair do
peito a qualquer momento.
— Foi deixado na nossa porta,
praticamente morto. — Julius jogou a
bomba, observando o efeito destruidor
que ela causara em Blade. O impacto foi
tão grande que ele chegou a dar um
passo para trás com a mão sobre o peito,
totalmente destruído.
— Veja com os seus próprios olhos,
filmaram e colocaram no bolso dele. —
Li tirou o celular de Estevão e mostrou
um vídeo gravado nele para Blade ver.
O inglês estava sentado em uma cadeira
de ferro com as mãos amarradas para
trás. Ainda vestia o disfarce de garçom
do Cassino, um terno branco de gravata
borboleta preta. Haviam cortado o
cabelo cumprido que ele tanto amava e o
seu rosto estava repleto de manchas
roxas e muito inchado. Mesmo já
entregue e com a cabeça caída para
frente não paravam de bater nele, era
soco atrás de soco. Gritavam o tempo
todo, "onde está o Maldonado? Diga ou
vai morrer". Mas Estevão não falava
nada, jamais entregaria o parceiro, no
mundo do crime a lealdade era tudo para
um bandido. Morreria, mas não falaria
nada. O mais triste era ver o desespero
do corvo vendo tudo do lado de fora da
janela ao fundo. O pássaro negro batia
as asas depressa totalmente desesperado
golpeando o vidro com o bico e usando
muita força, tentando entrar para ajudar
o dono. Blade sabia o que o animal
estava sentindo, afinal a vontade dele
era a mesma, entrar no vídeo e tirar o
amigo de lá.
— O que foi, Jesse, você reconheceu
algum deles? — Perguntou Julius, vendo
a jovem chorar compulsivamente
olhando para um dos agressores, todos
estavam mascarados.
— Sim, este é o meu pai. — Apontou o
dedo para a tela do celular. O Major era
o que batia em Estevão com mais
crueldade, golpes cheios de ódio. Jesse
conheceria aquela voz arrogante em
qualquer, a maldade dele era única.
— O seu pai trabalha para o Matteo
Castelli? Meus Deus! Os policias são
mil vezes piores que nós, pelo menos
não fingimos ser bonzinhos. Sabia que
não podia confiar nessa raça ruim, por
mim mandava todos para o inferno. Se
não tivéssemos corrido para o hospital,
Estevão estaria morto agora. — Li
partiu para cima da Jesse, fora de si.
Mas Julius o segurou, impedindo-o de
chegar perto dela que se encolheu ainda
mais atrás de Blade chorando
demasiadamente. Carter entendia a raiva
do chinês, no lugar dele também estaria
com ódio dela. Gostava dele, sabia que
só estava nervoso e jamais tocaria um
dedo nela.
— Calma aí, cara, a Jesse não tem culpa
de nada! O estado do Estevão é grave,
mais vai sair dessa e estar conosco
novamente. Agora ele tem um motivo
para viver, a namorada. — Julius saiu na
defesa da investigadora, mas também
estava bastante nervoso de ver o pai
dela batendo no amigo. Ele havia
encontrado centenas de ligações
perdidas no celular de Estevão desde
que o mesmo sumiu e mensagens de
amor de uma tal de "Nayla" dizendo o
quanto o amava e estava com saudades,
preocupada com o seu sumiço. Diante a
isso, Julius entrou em contado com a
moça e contou sobre ele e o hospital
onde estava internado em estado grave.
Ela foi correndo para o local e não
sairia de perto dele até que ficasse bom.
— Mas, o pai dela tem! — A voz de
Blade era assustadora, o tom carregado
de sede de vingança. Os punhos
cerrados e os olhos vermelhos escuros
irradiando ódio. O demônio dentro dele
havia sido libertado com sede de
sangue. Sem dizer mais nada caminhou
em direção a porta, sem nem olhar para
trás, para Jesse.
— Onde você vai, Blade? — Julius
perguntou quando já estava passando
pela porta, fazendo-o para bem no meio
dela.
— Acertar as contas! — Virou a cabeça
para trás para olhar para Jesse, de uma
forma assustadora e que a amedrontou.
Ele nunca havia a olhado assim, nem
mesmo nas vezes que estava muito
nervoso. E assim Maldonado foi embora
e ninguém ousou impedi-lo, até mesmo
porque sabiam que seria em vão.
CAPÍTULO 28
“Por favor, não me deixe. ”
Nayla havia chegado ao hospital
correndo pelos corredores vendo tudo
em câmera lenta, com o rosto banhado
de lágrimas. Estava com tanto medo de
perder Estevão, logo agora que estavam
tão bem. Depois de implorar ao médico
para deixa-la vê-lo, diante do desespero
da mesma não teve outra alternativa a
não ser autorizar uma visita breve, até
porque o vira chamando pela namorada
durante todo o tempo antes de entrar em
coma no meio da cirurgia para conter
uma hemorragia interna, clamava pela
presença dela repetindo o seu nome por
diversas vezes com tanto desespero que
comoveu o doutor Jorge, clínico geral.
Quando entrou no quarto, ficou
imensamente preocupada com o estado
que Estevão se encontrava. Deitado em
uma cama ligado a mais de doze
aparelhos que o mantinha vivo, com o
rosto cheio de hematomas,
irreconhecível. O cabelo agora curto
cortado todo torto, cruelmente. Uma
cena de cortar o coração de qualquer
pessoa. Mas não estava sozinho, a janela
estava entreaberta com o corvo pousado
sobre ela de prontidão, o vigiando.
Quando viu Nay balançou a cabeça
mostrando que estava ali e voou para
longe, deixando-os sozinhos.
— Oi, amor! — Sentou-se ao lado da
cama, alisando o rosto dele com
cuidado, evitando a parte machucada.
A respiração de Estevão era fraca, um
estado preocupante. Naquele momento
Nayla percebeu o quanto o amava e que
seria impossível continuar vivendo sem
ele. A maioria das pessoas sempre
tiveram medo da aparência exótica de
Salvatore, ela o amou pelo mesmo
motivo. Sabia que era único, feito
especialmente para ser seu. As lágrimas
de Nay derramavam sobre o lençol
branco quando abaixou para tocar os
lábios dele com o seu, cheio de amor e
esperança. De olhos fechados lembrou
como havia sido a primeira noite de
amor dos dois, de como tinha sido
perfeita. Primeiro saíram para um jantar
romântico. Ela tinha um amigo que era
dono de um restaurante famoso, que
fechou o lugar por um dia apenas para
receber o casal apaixonado com tudo o
que tinham direito. Quando terminou
foram para a casa de Estevão, no campo.
Os dois entraram de mãos dadas, a dele
suava sem parar, estava nervoso.
— E se eu não souber o que fazer,
Nayla? — O olhar de Estevão era
inseguro, tímido. Estavam no quarto,
de pé um de frente para o outro.
— Eu te ensino! — Ela segurava as
duas mãos dele, com a cabeça erguida
olhando no fundo dos olhos do amado
que estavam negros como a noite.
Nayla se aproximou e o ajudou a tirar
a camisa, ele fechou os olhos quando
sentiu um beijo quente em seu peito
grande e pálido. E abriu os olhos para
vê-la sorrindo lindamente, naquele
momento teve a certeza que aquela
seria a melhor noite da sua vida.
— Eu te amo, Nayla! — Era a primeira
vez que Estevão dizia isso a ela, a
alguém. Nem mesmo ao Bobbi havia
dito, porém demonstrava sempre que
podia, todos os dias. Do jeito dele, é
claro. Essa declaração pegou até o
inglês de surpresa, como pode ele, sem
sentimentos, amar alguém? Mas
aconteceu, de fato, desde que tinha
dezesseis anos e vira a garota nova da
escola chegar em sua sala, uma bela
negra que gostava de usar flores de
cabelo. Cheia de brilho e cores,
amorosa e extrovertida, tudo o que
faltava nele, ou seja, Nayla o
completava.
— Não mais do que eu, te amei no
instante que o vi pela primeira vez. —
Estevão a beijou, tentando lutar
contra o nervosismo. Depois do beijo
Nayla levou a mão para a alça da
camisola branca de seda e empurrou-a
para baixo, ela fez o mesmo com a
outra e a peça caiu para os quadris.
—Santo Deus! — Estevão permaneceu
imóvel, vendo sobre a luz de velas a
amada caminhar até a cama e sentar
nela bem a sua frente, nua para ele. Ela
era linda e delicada como uma flor
desabrochando. Tão segura e confiante
do que fazia.
— Vem aqui, querido. — Com o dedo
indicador a estilista o chamou, com
malícia no olhar. Ele chegou mais
perto, até que se elevou bem acima
dela procurando os seus olhos,
enquanto via suas mãos até o botão de
sua calça, abrindo-o.
— É assim... assim mesmo que fica? —
Estevão perguntou assustado
observando o membro duro feito pedra
apontando para cima, parecendo ter
vida própria. Já tinha ficado excitado
outras vezes perto dela, mas nunca
chegou a ficar daquele jeito.
— Não poderia estar melhor. — Nayla
depositou um beijo na ponta, que
diferente do resto do corpo tinha uma
cor rosada, viva. E, bota viva nisso.
Tinha um tamanho consideravelmente
grande, grosso com veias explodindo
em sua extensão.
— Eu te amo! — Ele repetiu, era tão
intenso que tinha a necessidade de
repetir várias vezes.
— Deite na cama. — Nay pediu e ele
obedeceu fitando o teto meio
constrangido, ansioso. Ela se pôs por
cima dele apoiando-se com um braço
de cada lado do corpo de Estevão para
falar olhando em seus olhos.
— Normalmente os homens gostam de
ficar por cima, mas como não tem
muita experiência, vou comandar hoje.
— Explicou e ele apenas assentiu em
silêncio.
— Estou pronto para ser amado por
você! — As bochechas de Estevão pela
primeira vez ficaram coradas de
verdade, em um tom avermelhado forte,
virando o rosto para o lado com
vergonha.
— Já é. — Beijou a sua boca, de forma
quente e fervorosa. Nayla o beijou até
que se afastassem sem ar e encontrou o
olhar de Estevão, duas esferas azuis
cintilantes se abriram, dilatadas. Ela
podia ver em seu rosto o quanto a
queria, da mesma forma como ela o
queria. E mantiveram os olhos fixos um
no outro o tempo todo, não se
desviaram nem por um segundo.
— Eu te amo! — Ele disse novamente,
precisava dizer. Os dedos deles
estavam ligados no travesseiro,
compartilhando o mesmo aperto,
Estevão mesmo que mais confiante
agora ainda tremia.
— Eu também te amo, querido, mais
que tudo! — Uma longa mecha do
cabelo de Estevão estava sobre o seu
rosto, tampando a visão da beleza que
Nayla só via nele. Ela empurrou-a
colocando atrás da orelha, e tocou-lhe
os lábios por alguns segundos. Como
tomava anticoncepcional e confiavam
um no outro, não usaram preservativo.
Chegaram ao fim abraçados, como se
fossem um só. O inglês estava todo
suado e com os cabelos espalhados por
toda a parte da cama, como se um
furacão tivesse passado por ele, um
furacão chamado Nayla Rodrigues.
— Foi bom? — Estevão fechou e abriu
os olhos lentamente para degustar o
som doce da voz dela, do seu amor...
— Não tenho palavras para descrever!
Podemos fazer de novo? Mas dessa vez
eu fico por cima, já aprendi o
suficiente. — Em um giro rápido estava
sobre ela, querendo mais. Desde então
não pararam mais, fazer amor tinha se
tornado um hobby para eles.
— Você não pode me deixar, Estevão,
não agora! — Inclinou o corpo sobre a
cama do hospital, aproximando a boca
do ouvido dele sussurrou. — Eu estou
grávida. — Então, ela sentiu a mão dele
apertando a sua de leve como se
quisesse dizer “não vou a lugar
nenhum”.
CAPÍTULO 29
Já era noite quando Maria Joaquim viu
da janela da sala um carro moderno, mas
estranho, chegando e estacionar em
frente à casa da irmã. Seu coração
disparou quando percebeu que quem
estava conduzindo era o suposto
"encanador" que tanto a tirava do sério e
a irritava. Consequentemente, mais
dúvidas começaram a rondar sua mente.
Quem de fato era esse homem daquele
tamanho? E o que queria com a Jesse?
Ficou ainda mais confusa quando de
dentro do veículo saíram a filha e um
chinês baixinho emburrado. Depois dos
três conversarem por um bom tempo,
compartilharam um abraço coletivo
carregado de emoção como se
estivessem fazendo as pazes e foram
embora. Jesse entrou em seguida de
cabeça baixa.
— Onde passou a noite, mocinha? E
quem eram esses homens que estavam
conversando com você no jardim? —
Maria Joaquim não costumava elevar a
voz para as filhas, mas não hesitava
caso fosse preciso.
— Agora não, mãe, por favor! — A voz
de Jesse saiu arrastada, realmente
aquela não era uma boa hora para
conversar. Estava nervosa pensando nas
últimas palavras de Blade “ acertar as
contas ”, e preocupada com que ele
poderia estar planejando fazer.
— Por favor, filha, converse comigo!
Onde está o rapaz simpático que veio
para ser o seu par na no baile e o que o
encanador do seu prédio faz aqui? —
Eram tantas dúvidas e pessoas estranhas
atrás de Jesse que Maria Joaquim estava
começando a pensar que a filha estava
envolvida com alguma coisa errada.
— São meus amigos, não precisa se
preocupar. — Jesse respirou fundo,
tentando manter a calma e não descontar
na mãe a raiva que estava sentindo do
pai.
— Não estou te reconhecendo mais,
filha, pelo jeito não confia mais em mim
para dividir os seus problemas. Se eu
soubesse o que está acontecendo
poderia ajudar, duas cabeças pensam
melhor que uma. —Jesse olhou para mãe
e viu a preocupação em seus olhos, mas
como explicar a ela que viu o ex-marido
dela espancando o amigo do homem que
amava e o pior, sentindo prazer em fazer
isso. Mas que por outro lado era um
bandido perigoso assim como os dois
parceiros deles que estavam com ela há
instantes antes, dos piores que existiam.
— Não se preocupe, mamãe, está tudo
bem! — Forçou um sorriso para
confirmar o que disse e a abraçou
fortemente. — Eu te amo, obrigada por
se preocupar sempre comigo. Só não
gostei muito daqui e quero voltar para
casa. Já comprei minha passagem de
volta para Los Angeles no voo de
amanhã bem cedo. Foi o único que tinha
vaga, se a Senhora e a Mainara quiserem
podem ficar, mas eu estou indo. Maria
Joaquim sabia que a filha estava
mentindo, mas não insistiu mais. Iria
esperar que se sentisse confortável e
confiante para falar.
— Se você vai, nós também vamos,
filha! Uma mãe de verdade jamais
abandona um filho e sua irmã também
não iria querer ficar aqui sem nós. —
Maria Joaquim não sabia o que estava
acontecendo para deixar Jesse tão triste
daquele jeito, mas estava com um
pressentimento ruim, como se alguma
tragédia das grandes estivesse para
acontecer.
Como o voo delas fez várias
interligações, passaram quase o dia todo
viajando. Chegaram no aeroporto de
Los Angeles a tarde e ficaram um pouco
confusas ao perceber que todos
olhavam-nas como se fossem
celebridades de Hollywood. Eram
olhares e cochichos, mas ninguém teve a
coragem de chegar até elas e dizer o
motivo de tanto alvoroço. O mais
estranho para Jesse foi que o parceiro
Hugo Rodrigues estava esperando por
elas no aeroporto com cara de choro e
preocupação.
— O que está fazendo aqui, Hugo? —
Jesse cumprimentou o parceiro com um
abraço carinhoso.
— Vocês não viram no jornal? Está
dando a toda hora, em todos os canais.
Pararam a programação normal e não
falam outra coisa além disso.
— Como assim, Hugo? Do que você
está falando, estou ficando assustada. —
Esperando o pior, Jesse começou a
chorar. E o nome de Blade foi a
primeira coisa que veio a sua mente,
agora além de assustada estava com
medo também.
— Tentei ligar para você mil vezes
quando tudo aconteceu, ainda bem que
não estava lá para ver. — Hugo fechou
os olhos pesarosos, como se estivesse
lembrando de algo horrível. — Mas só
caía na caixa postal, então lembrei que
tinha viajado para a casa da sua tia no
Canadá, obviamente deduzi que o seu
celular deveria estar desligado porque
estavam dentro do avião. Raqueei a lista
de voo do aeroporto, e vi que o nome de
vocês estava nesse. Por isso estou aqui,
para te apoiar nesse momento. —
Explicou ele, acertando os óculos de
grau. Realmente era um gênio em tudo o
que fazia.
— Mãeeee, vem aqui! — Gritou
Mainara, desesperada. Tinha parado em
uma lanchonete da praça de alimentação
do aeroporto e comprava um café para
espantar o sono já que acordaram cedo
para pegar o voo. Assustadas, Jesse e
Maria Joaquim saíram correndo para
ver o que estava acontecendo. A
investigadora ficou tão em choque
quanto a irmã quando viu a reportagem
que passava em uma TV enorme, fixa na
parede, no jornal da tarde.
Nesse exato momento, o bandido Blade
Maldonado estava em um bar no famoso
lado sul da cidade, onde somente os
bandidos da pior espécie frequentavam,
enchendo a cara, pensando em Jesse, no
que havia feito e principalmente como
arrumaria as coisas. Encontrava-se
sentado no balcão prestes a levar o copo
de uísque à boca, mas paralisou assim
que ouviu no rádio uma notícia que fez
todos no bar gritarem e assoviarem de
alegria. A morte de um policial já era
motivo de festa, imagina de vinte e três?
“O dia 28/11 do ano de 2012 vai ficar
marcado pela tragédia que atingiu Los
Angeles, onde vinte e três policiais
foram brutalmente espancados, depois
colocados de joelhos e fuzilados com
centenas de tiros, do mesmo modo que
eles fizeram há muitos anos atrás com
o casal de bandidos mais procurado de
todos os tempos, os Maldonado. Todos
eram integrantes da equipe que
trabalhou na emboscada, que ficou
marcada no século XX. Porém, o filho
deles, Blade, o último de sua linhagem
ruim, ficou vivo para herdar os
negócios no crime. Mesmo com todos
os esforços da justiça ninguém jamais
conseguiu pôr as mãos nele ou em
nenhum dos homens de sua choldra,
conhecida como “Os Homens sem
Medo” que já roubaram bilhões de
dólares pelo país. Por fim, os corpos de
22 policias foram encontrados
tristemente por algum integrante da
família, um deles pela filha de oito
anos ao chegar da escola. O curioso foi
que o assassino deixou uma marca
escrita na parede, as iniciais B.M. com
o sangue das próprias vítimas, fato este
que não precisa ser muito inteligente
para saber o que significa. Porém um
dos corpos, o 23º, diferente dos demais
foi encontrado cortado em vários
pedaços e posto dentro de um saco de
lixo preto em frente ao departamento
criminalista do FBI. Este corpo era do
Major Fill Carter que ali trabalhou
por muitos anos até pedir demissão
recentemente, por motivo não revelado.
Segundo os legistas, o Major Carter foi
esquartejado vivo vendo os pedaços do
seu corpo sendo cortados um por um,
lentamente. Na frente do prédio
também estavam escritas as mesmas
iniciais “B.M”, para que todos
soubessem que ele esteve ali. O chefe
da investigação de Los Angeles,
afirmou agora pouco se tratar de um
caso de vingança. Receberam uma
denúncia anônima de uma testemunha
dizendo ter visto um homem cheio de
tatuagens e com cara de mau tirando
um saco preto de dentro do porta-malas
de um carro Impala 1967. O que todos
nós queremos saber é o porquê, depois
de tanto tempo, o filho resolveu acertar
as contas, vingar a morte dos pais.
Agora, como na época do faroeste,
estão sendo espalhados panfletos por
toda parte com o retrato falado do
assassino e uma recompensa milionária
será paga para quem entregar esse
assassino cruel, vivo ou morto, os seus
dias estão contados Blade Maldonado.

— Mas que porra é essa? — Blade
praticamente gritou, dessa vez ele não
tinha feito nada daquilo, por mais que
quisesse. Vontade de matar o pai de
Jesse não lhe faltou, essa era a verdade.
Ele e a todos os outros que participaram
da morte dos seus pais. E invejava quem
o fez, mesmo sabendo que era para pôr a
culpa nele depois. Quando saiu do hotel
em Toronto tinha até passando pela a sua
cabeça fazer bem pior do que isso, tinha
boa criatividade no quesito tortura. Mas
o preço depois seria alto demais para
ele. Enquanto dirigia para longe dela em
sua mente veio a imagem de Jesse
sorrindo docemente. Pensou que nunca
mais o veria com os mesmos olhos,
seria sempre o homem que matou o
maldito do pai dela, mesmo sabendo que
ele merecia esse fim. Foi maduro o
suficiente para entender que perderia
tudo se agisse de cabeça quente, sem
pensar. Lembrou da promessa que tinha
feito e mesmo o odiando com todas as
forças, não tocaria um dedo nele e não
tocou. Depois que voltou para Las Vegas
em vez de fazer essa besteira tinha feito
outra coisa, muito mais importante e
ficou lá a noite toda... E quando o dia
clareou, teve que ir embora. Procurou
alguns contatos antigos no lado Sul da
cidade para colher informações sobre a
máfia cujo chefão era Matteo Castelli e
descobriu que ele era mais poderoso do
que imaginava. Após conseguir o que
buscava parou em um bar para beber e
pensar em como colocaria a mão no
verdadeiro culpado de tudo e também
em se desculpar com o seu Anjo por tê-
la deixado sozinha em Toronto, mas e
agora? Como resolveria essa bagunça
toda do assassinato do pai, se era difícil
ficarem juntos antes, depois disso seria
impossível. Jesse não acreditaria nele e
nunca mais iria querer vê-lo novamente.
Isso seria o fim de tudo, seus dias
seriam frios e chuvosos como um
diluvio sem fim.
— Recompensa milionária é, vivo ou
morto? — Blade ouviu o som de uma
espingarda sendo destravada, o dono do
bar estava bem diante dele com a arma
apontada para a sua cabeça. E mais
outras tantas atrás dele, todos de olho no
prêmio oferecido pela cabeça do último
Maldonado.
— Sério que querem tentar isso? — Ele
continuou sentado e calmo, bebendo o
seu uísque tranquilamente, não tinha
medo de nada.
— Não é nada pessoal Maldonado, mas
quando entra negócio no meio, a coisa
muda de figura. — Disse um homem
com os dentes da frente todos podres e a
roupas sujas como se não tomasse banho
há anos.
— Encontro vocês em breve, no inferno!
— E em um giro perfeito o último
Maldonado atirou nas luzes, tudo em
uma fração de segundos, deixando o
lugar em um breu total.
— Onde ele foi? — Perguntou o dono
do bar acendendo o isqueiro. E nem
sinal de Blade para contar história.
— Nunca gostei da bebida daqui
mesmo! — Disse Blade já do lado de
fora, de costas para o bar ouvindo o
lugar explodindo em mil pedaços. Como
ele fez isso? Ninguém soube dizer, coisa
dos Maldonado. Foram brincar com
fogo, acabaram se queimando,
literalmente.
Ele não perdeu nem mais um segundo,
foi atrás de Jesse para conversar com
ela. Com um fio de esperança que
acreditasse nele, mas mediante os fatos
seria muito difícil. Deduziu que estaria
na casa da mãe, assim como um monte
de pessoas, os vizinhos, parentes e uma
centena de amigos policiais do falecido
Major. Mas isso não seguraria Blade,
nada o seguraria. Precisa vê-la, falar
com ela. O bandido de onde estava,
dentro no carro a alguns metros da casa
da família Carter, não conseguiu ver
Jesse em momento nenhum. Quando
pensou em sair, ouviu a porta do Impala
batendo com toda a força.
— Nem pense em fazer isso! —
Ordenou Julius, autoritário.
— E quem vai me impedir, você? —
Blade ameaçou abrir a porta, mas Julius
não deixou segurando o braço dele.
— Já não está com problemas o
suficiente? E nem vamos discutir sobre
se é culpado ou não, porque estou do seu
lado independentemente de qualquer
coisa. Ir atrás dela com aquele monte de
gente só vai piorar as coisas, espere
pelo menos depois do enterro. Até
porque a Jesse nem está em casa agora,
está no hospital com a mãe desde que
chegaram de viagem à tarde, pois a
mesma teve uma elevação da pressão
quando recebeu a notícia da morte do
ex-marido. — Julius como sempre foi
sensato. Óbvio que não iria contar que
foi visitar Estevão e aproveitou para
visitar Maria Joaquim.
— Você não entende, cara, o que ela
significa para mim? — As palavras
faltaram para Blade, nem ele sabia ao
certo a resposta.
— Sim, eu entendo, mais do que você
imagina, parceiro. Por isso estou
tentando te impedir de fazer essa
loucura, essa insanidade. Tem outra
pessoa precisando muito de você agora.
— Julius apontou para onde o carro dele
estava estacionado pouco a frente, com
Bobbi sentando no banco do carona
chorando. — Ele viu a reportagem
falando sobre a morte dos policiais e
que estão te procurando vivo ou morto.
Veio embora sozinho, chegou em casa
desesperado. Quando contei sobre
Estevão, ele perdeu o chão de vez. —
Blade sentiu o coração doer ao ver o
sofrimento do irmão caçula e percebeu
que Julius estava coberto de razão.
Bobbi precisava dele agora e procurar
Jesse naquele momento seria um grande
erro.
No hospital, Jesse estava sentada toda
encolhida na recepção com o rosto
inchado de tanto chorar, o coração
partido e uma tristeza sem fim. A mãe
depois de ser medicada com duas doses
de calmantes, enfim dormiu. Mainara,
apesar de muito abalada, sabia manter a
pose diante qualquer situação de
desespero. Foi para a casa receber as
pessoas que chegavam aos montes para
prestar solidariedade e preparar tudo
para o enterro que aconteceria em breve,
devido ao estado caótico do corpo.
— Jesse? — O coração da
investigadora se aqueceu ao ouvir a voz
da amiga, mas voltou a doer quando viu
a expressão tão dolorida quanto a dela
no rosto de Nayla, talvez até mais que a
sua.
— Como soube que eu estava aqui? —
A voz de Jesse era chorosa,
melancólica.
— Não sabia, amiga, eu vim visitar o
meu namorado Este. Aconteceu uma
coisa horrível com ele, tenho medo que
não sobreviva. — Foi então que Jesse
começou a montar as peças do quebra-
cabeças: namorada do Estevão estava
com ele no hospital + namorado da
Nayla que chama Este internado
gravemente. Era = A um casal
apaixonado, que se conhecia desde a
época da escola. Tudo fazia sentido
agora, claramente. — Eu soube o que
houve com o seu pai, sinto muito, Jesse.
— Sentou-se ao lado da amiga e a
abraçou.
— Não sinta, porque se o seu namorado
morrer a culpa é do meu pai. — A
estilista arregalou os olhos, diante da
revelação da melhor amiga. Jesse contou
tudo a ela desde de o começo. As
amigas choraram juntas, abraçadas pela
ironia de estarem apaixonadas por
bandidos, ainda mais quando Nayla
revelou sobre a gravidez. Como Estevão
havia dado uma melhora durante a noite,
o médico liberou as visitas normalmente
e o direito de ter uma acompanhante
durante vinte e quatro horas. Ela
convidou Jesse para uma breve visita ao
namorado, antes que a mãe acordasse e
tivessem que ir para casa velar o que
restou do ex-marido.
— Eu não sou digna de vê-lo, não
depois do que o meu pai fez com ele. —
Jesse balançou a cabeça, cabisbaixa e
com lágrimas nos olhos, envergonhada
pelas atitudes do homem que a colocou
no mundo.
— Você não tem culpa, Jesse! O seu pai
que tem por ter sido um homem tão sem
coração. — Quando Nayla viu, já tinha
falado.
— Desculpe, amiga, disse sem pensar,
não se deve falar mal dos mortos. —
Nay ficou envergonhada por ter feito o
comentário.
— Só porque ele morreu não se tornou
uma boa pessoa, Nayla. Eu, melhor do
que ninguém, sei o pai que tinha. —
Jesse começou a chorar muito
novamente.
— Não chore, querida, venha, vamos
ver Estevão. — Saiu puxando-a pela
mão. Como Nayla era esperta fez
amizade com a equipe de enfermagem
conseguindo assim a autorização para
Jesse entrar no quarto, sem nenhum
problema. Estava morta de saudades do
amado, não o tinha visto desde a última
visita na noite anterior quando revelou a
ele que estava grávida. Ficou
preocupada pensando se teria passado
bem a noite, já que ficara sozinho. Mas
agora poderia ficar vinte e quatro horas
por dia ao seu lado e não sairia dali até
que ficasse cem por cento bem.
— Oh! Meu Deus! — Exclamou Jesse
assim que colocou os olhos em Estevão.
Sentiu o estômago revirar por saber que
havia sido o pai dela o responsável por
aquela maldade tão grande, rezando para
que ele tenha se arrependido de tudo que
fez antes de morrer.
— Há quanto tempo ele está ali? —
Jesse apontou para o corvo, se
equilibrando em uma perna só, olhando
para eles do lado de fora da janela.
— Desde que Estevão chegou, suponho.
— Nayla deu um meio sorriso, achava
linda a ligação dos dois.
— Fique bom logo, amigo, estamos
todos torcendo por você. — Jesse alisou
o seu rosto, afogando-lhe os cabelos, ou
o que restou dele. Mas agora estava
diferente, em um corte muito bem feito
por sinal.
— Você que acertou o cabelo dele?
Ficou ótimo assim. — Comentou Jesse,
deslizando os dedos pelos fios escuros.
Nesse momento uma enfermeira entrou
para fazer os curativos.
— Não fui eu, deve ter sido alguém da
equipe de enfermagem. Depois vou
agradecer quem fez, ficou ótimo mesmo.
— Nayla deu de ombros, com os olhos
sobre os curativos que a enfermeira
estava fazendo. Ficava atenta para ter
certeza que estavam cuidando bem do
seu amado.
— Não fomos nós, Senhorita, ontem à
noite estava do mesmo jeito que ele
chegou. Mas hoje de manhã, a janela
estava aberta, e o seu namorado
parecendo o Marlon Brando com esse
corte novo. — Jesse e Nayla se
entreolharam, sem entender nada. A
vantagem de ser um integrante da equipe
dos “Homens sem Medo” é que
entravam e saíam de qualquer lugar, sem
serem vistos.
No primeiro horário de visitas no outro
dia, Nayla foi surpreendia pela chegada
de três homens, um deles bem jovem.
Pelo o que Jesse havia contado, com
certeza se tratava de Bobbi, o irmão
caçula de Estevão. E os outros, os
amigos, ou melhor, os cúmplices.
— Você precisa ser forte, filho! Estevão
não iria gostar de ver o irmãozinho dele
chorando por sua causa. — Exclamou
Julius ajeitando a gola da blusa do
irmão, ainda na porta. Li ajeitou o
cabelo dele e os óculos, com muito
cuidado. Nay achou lindo o cuidado
deles com o jovem e sorriu imaginando
que seriam ótimos tios para o bebê dela
e Estevão.
— Ele não gostava de me ver chorando!
— Bobbi soluçou, mas engoliu o choro.
— Nenhum de nós gosta, principalmente
o Blade. — Li arqueou a sobrancelha,
para que o jovem entendesse o recado.
Maldonado havia conversado muito com
Bobbi em casa, que passou a noite toda
chorando com a cabeça deitada em seu
colo.
— Não fique triste, querido! Em breve
vai ter um sobrinho para brincar, eu e o
seu irmão estamos esperamos um bebê.
— Exclamou Nayla emocionada,
erguendo a mão para que Bobbi se
aproximasse. O choro tomou conta do
lugar, mas dessa vez era de alegria por
conta da novidade. Depois de
conversarem bastante e fazerem planos
para o novo integrante da família, a
namorada de Estevão se despediu das
visitas dizendo que sairia alguns
instantes para ir no velório do pai da
amiga, por consideração a ela e a
família.
O velório do Major Carter tinha mais
policiais do que pessoas comuns, com
direito a tiros para o alto e tudo. Como
se merecesse ser homenageado por
alguma coisa, pensou Jesse. Contudo,
era o pai dela e estava sofrendo com a
morte dele. O parceiro Hugo Rodrigues
não saiu de perto dela em nenhum
momento no cemitério, prometendo
procurar Blade Maldonado até no
inferno para fazê-lo pagar pelo que fez.
A investigadora não dizia nada, apenas
derramava as últimas lágrimas que lhe
restavam. Por fim, o grude dele estava
começando a incomodá-la, sabia que só
queria ajudar, mas por pelo menos um
minuto queria ficar sozinha com a sua
dor. Por conta disso, depois que todo
mundo foi embora, ela resolver ficar
mais um pouco para se despedir do pai,
sozinha. Assim como todos presentes a
investigadora usava preto, calça jeans
escura, camiseta e casaco cumprido
fechado. Abaixou-se próxima a cova
para colocar uma rosa branca, a qual
segurou durante toda a cerimônia.
— Eu te perdoei por tudo o que fez, pai.
E vou orar todos os dias para que
encontre a luz, o caminho de Deus. —
Ela chorava tanto que mal conseguia
falar. Ouviu passos arás de si, pensou
ser Hugo que voltou preocupado de
deixá-la sozinha.
— Eu já estou indo Hugo, não se
preocupe! — Exclamou Jesse sem olhar
para trás.
— Jesse, eu sinto... — Mais uma vez as
palavras faltaram para Blade, não
conseguiu completar a frase. Assustada
Jesse se levantou rápido, virando de
frente para o homem acusado de ter
matado o seu pai.
CAPÍTULO 30
A expressão no rosto de Jesse era
indecifrável e isso preocupou bastante
Blade. Ela era sempre expressiva
demais, até mesmo nos simples gestos.
Vê-la tão abatida acabou com ele, era
como se o coração tivesse se partido em
mil pedaços. Queria abraçá-la e não
soltar nunca mais. Agora fazia parte
dele, metade da sua alma, do seu
coração. E se ela não o perdoasse, pior,
se não quisesse ouvir o que tinha para
falar? Ele até tentou seguir o conselho
de Julius e esperar a poeira baixar um
pouco, mas não conseguiu, tinha que ver
“com os seus próprios olhos” que o seu
Anjo estava bem.
— O que você está fazendo aqui? — O
tom de Jesse saiu alto, zangado.
— Precisava te ver. — Pela primeira
vez na vida, Blade sentiu vontade de
chorar. Nunca imaginou que a rejeição
doesse tanto, mais do que qualquer dor
que sentira antes. Mas segurou,
engolindo em seco.
— Vá embora daqui! — Jesse gritou,
partindo para cima dele, esmurrando o
seu peito sem parar, dizendo para ele ir
embora. — Some daqui, agora! —
Repetia, várias vezes o magoando.
— É isso mesmo que você quer? Que eu
vá embora, porque se for essa é a última
vez que me verá. — Blade segurou as
mãos de Jesse, a imobilizando. O
coração dela batia tão rápido, a
adrenalina tomando conta do sangue.
— Se for para mantê-lo seguro, sim, eu
abro mão de você! Se continuar aqui
alguém pode te reconhecer, meu amor, e
querer te machucar por causa da
recompensa. — Os olhos de Blade se
encheram de lágrimas, ela acreditava na
inocência dele sem sequer precisar
ouvir uma palavra do que tinha para
dizer em sua defesa. Diante disso a
abraçou o mais forte que pode.
— Então não acredita nas mentiras que
estão dizendo sobre mim por aí, sobre
eu ter matado o seu pai? — Perguntou
com receio, com medo dela pensar
direito e mandá-lo embora de verdade,
para todo o sempre.
— Nós fizemos um pacto se lembra?
Sem mentiras, segredos e medos.
Ficaremos juntos, aconteça o que
acontecer. Eu acredito nisso, em você!
— Ela poderia exigir mil explicações e
mesmo assim não acreditar nele depois
que ouvisse, tinha vários motivos para
isso. Mas a sua garota não era assim,
esse não fazia o tipo de Jesse Carter.
Graças a Deus! Pensou ele.
— Eu tive tanto medo que não
acreditasse em mim, que quebrasse o
nosso pacto. — Jesse não esperou mais,
tomou-lhe os lábios para mostrar que
isso jamais aconteceria.
— Agora eu imploro, vá embora antes
que alguém te veja. — Ela tentou
empurrá-lo, mas Blade não se mexeu um
centímetro sequer.
— Eu não vou a lugar nenhum sem você,
não vamos nos separar nunca mais.
Desculpe-me por tê-la deixado para
trás, isso não vai acontecer mais. Te
levarei por onde for, nos meus braços se
for preciso. — Os olhos de Blade
estavam intensos, duas safiras brilhando
por conta das lágrimas que estava
segurando. O vento balançava
lentamente as árvores do cemitério
causando um assovio fino e longo,
assustador. Os cabelos de Jesse caíam
sobre o seu rosto e ele os tirou com
delicadeza.
— Ah! Blade, eu também te amo tanto!
— Ela caiu em seus braços chorando
sem parar, aquela era a forma dele dizer
que a amava. Maldonado a ergueu nos
braços e saiu caminhando com o seu
Anjo, que ainda chorava com o rosto
escondido em seu peito.
— Vou cuidar de você, Anjo! —
Sussurrou depositando um beijo sobre
os cachos rebeldes. E a levou para casa,
a dele.
— Tenho novidades, Blade! Demorou,
mas consegui achar o local exato da
casa da família do maldito do Matteo,
em Puerto Rico. — Li parou de falar,
assim que viu Jesse encolhida ao lado
do parceiro segurando a mãos dele com
a cabeça baixa. O chinês tinha o cabelo
todo bagunçado e olheiras escuras em
volta dos olhos, havia passado a noite
em claro trabalhando para descobrir o
endereço da família Castelli.
— Se eu dissesse que sinto muito pelo o
que houve com o seu pai estaria
mentindo, Jesse. Mas, sim, por você,
que é boa demais para amar alguém
como ele e sofrer por ele ter morrido.
— Li segurou a mão da jovem e a
abraçou em um ato solidário.
— Sabia que vamos ser tios, Blade? —
Bobbi chegou na sala não se cabendo de
alegria, mas se conteve assim que viu
Jesse. Não disse nada a ela, foi logo a
abraçando.
— Como vai, querido? — Beijou o
rosto do jovem.
— Meus pêsames, Jesse, sinto muito
mesmo! E sobre o que estão falando
sobre o Blade, é mentira! O meu irmão
jamais faria algo para te magoar, assim
como todos nós, ele te ama, de uma
forma diferente é claro, nem se
compara... — Bobbi iria continuar
falando, se Blade não o interrompesse,
totalmente constrangido.
— Chega Bobbi! A Jesse entendeu que
sente muito, deixe-a em paz, garoto. Ela
já me contou a novidade de que vamos
ser tios em breve, espero que o seu
irmão se recupere logo do "acidente de
carro" para saber da notícia. — Essa foi
a desculpa que deram para Bobbi sobre
o que aconteceu com Estevão,
precisavam poupá-lo o máximo que
pudessem.
— Estamos todos felizes com a notícia,
agora vá estudar para sua Pós-
Graduação. Temos que resolver um
problema de gente grande e não vá
dormir muito tarde porque amanhã bem
cedo a Sara vem te buscar para ir visitar
Estevão, ela vai cuidar de você
enquanto estivermos fora, espero que se
comporte. — Julius parecia preocupado,
coçando a cabeça pensativo.
— Não preciso que ninguém cuide de
mim, porra! Já sou um homem feito,
advogado formado. Sei que estão indo
atrás de quem está tentando incriminar o
Blade e eu quero ajudar. — O jovem
tinha os punhos cerrados, Bobbi era um
amorzinho, até mexerem com um dos
irmãos.
— Ainda bem que o Estevão não está
aqui para ouvir você dizendo essa
palavra feia, que levar um tapa na boca?
Mais uma dessa e eu a lavo com sabão,
agora vá para o seu quarto e não saia de
lá até que um dos seus irmãos mande. –
— Li gritou com o irmão caçula, se
segurando para não dar umas boas
palmadas no traseiro dele.
— Eu não vou a lugar nenhum e vou
dormir a hora que eu quiser, todo mundo
da minha idade fica acordado até tarde.
— Cruzou os braços, se rebelando.
—Você não é todo mundo, moleque! E
vai para o seu quarto agora, e se daqui
aqui a cinco minutos eu for lá e não
estiver dormindo vai apanhar pela
primeira vez para largar de ser
malcriado. — Blade foi taxativo e ai do
coitado do Bobbi se teimasse com ele.
— Mas eu não estou com sono, Blade!
— Choramingou Bobbi.
— Problema seu, tem quatros minutos
agora. E quando o Estevão acordar, ele
vai ficar sabendo disso. Estamos
entendidos? — Blade sabia ser mal
quando queria.
— Sim, Senhor! — E assim o jovem foi
para o quarto resmungando.
—Você não ia bater nele de verdade, ia?
— Julius perguntou, com a sobrancelha
arqueada.
— Não, mas deixe ele ir dormir
pensando que sim. — Blade não queria
ser pai, mas seria um dos bons. Esse
pensamento fez Jesse soltar um leve
sorriso, o primeiro do dia.
— Quando nós vamos para Puerto Rico?
Porque eu não sou irmã caçula de
vocês, não podem me proibir de nada.
— Jesse estava falando muito sério e
todos sabiam disso, principalmente
Maldonado.
— Não vai não porra nenhuma, vai
ficar com a sua mãe e sua irmã quietinha
em casa. — Blade tentou não elevar a
voz, mas foi tarde demais, quando viu já
estava aos berros. — Não vamos lá
brincar de casinha se é isso que está
pensando, queremos vingança, matar
quantos deles for possível. Acertar as
contas, sem nenhum pingo de honra. —
Os olhos dela faiscavam de raiva.
— Você prometeu que não iria mais me
deixar para trás, que me levaria aonde
fosse. — Ela piscava várias vezes para
não chorar, Blade soube que nada do
que falasse a faria mudar de ideia.
— Ótimo! Se quer ir problema seu,
saímos às cinco da manhã. — Saiu de
cara feia pisando duro em direção ao
seu quarto, mas não antes de passar no
do Bobbi para ver se estava dormindo, e
estava, o pobrezinho.
— Está bravo comigo? — Perguntou
Jesse, encostada no vão da porta. Blade
estava deitado na cama de costas para
ela, permaneceu na mesma posição,
calado. Percebendo que não teria
resposta da parte dele, deitou ao seu
lado abraçando-lhe a cintura. — Não
vamos dormir brigados, não hoje.
Preciso que me abrace e diga que tudo
vai ficar bem, porque vamos resolver
isso juntos. — Sussurrou em seu ouvido,
ele virou o corpo para ficar de frente
para ela e abraçou pousando a cabeça
de Jesse em seu peito.
— Vai ficar tudo bem, porque vamos
resolver os problemas juntos. —Soltou
um suspiro longo, na verdade ele queria
pedir para que ela não fosse.
— Perfeito! Mas tire essa cara azeda do
rosto, se não vou pensar que está
dizendo isso só para me agradar. — Na
verdade estava e não fazia nenhuma
questão em esconder isso. Jesse se
remexeu dentro dos braços dele
sentindo-os apertarem mais em volta do
seu corpo.
— E eu estou. — Disse direto pois
odiava rodeios. Não ia fingir estar bem
com isso, se não estava.
— Porque quer não quer eu não vá com
vocês? Por mais que o meu pai não
prestasse, eu quero ajudar a pegar o
homem que o matou de forma tão
covarde. Ele merecia ter sido preso e
julgado por tudo o que fez. — Jesse só
queria que ele entendesse o seu lado,
que confiasse nela.
— Porque eu estou com medo, porra! Eu
não vou aguentar se alguma coisa
acontecer com você, isso é demais para
mim. — Ele a soltou, sentando na cama
de forma que Jesse não pudesse ver o
seu rosto. —Já basta o que aconteceu
com Estevão, ele está deitado naquela
cama fria de hospital por minha causa.
Daria tudo para estar no lugar dele, a
minha vida se fosse preciso. E tem o
Bobbi, a Sara é esperta, mas se não der
conta de proteger o meu garoto? Todos
os que são importantes para mim estão
correndo risco, Li e Julius amanhã vão
arriscar suas vidas lutando em uma
guerra que não é deles, é minha. — A
voz dele ficou falha, então ela percebeu
que Blade pela primeira vez na vida
estava chorando, de verdade. Então
Jesse notou que era ele que precisava de
um abraço, ouvir que tudo ficaria bem,
porque estavam juntos.
— Não chore, meu amor, eu te amo
tanto. Vai dar tudo certo, estou aqui com
você. — Ela abraçou forte suas costas, o
enchendo de beijos.
— Por favor não vá! Fique com a Sara e
o Bobbi, esperando por mim. —
Implorou com o rosto cheio de lágrimas.
— Eu não vou te abandonar, nem agora,
nem nunca! — Segurou o rosto do
homem que amava entre as mãos,
olhando no fundo de seus olhos.
— Não sabemos o que vamos encontrar
em Puerto Rico, estaremos entrando em
um ninho de cobras. Além do mais não
queria que me visse em ação, pode ser
bastante assustador. Vai ver o monstro
que sou de verdade e vai ter medo de
mim. — Até o choro de Blade era
discreto, silencioso.
— Provavelmente vou me apaixonar
ainda mais vendo o meu herói em ação.
— Jesse descansou a cabeça sobre as
costas largas e ele sentiu suas lágrimas
quentes deslizarem por ela. — Eu já te
vi em ação quando me salvou de ser
estuprada no bar por aqueles homens
horríveis e foi naquele momento que me
apaixonei por você. — A voz suave dela
o acalmou do medo, sempre acalmava.
— Não sou herói, Jesse, tire isso da sua
cabeça. Não nasci para ser uma boa
pessoa, então não espere muita coisa de
mim. — Acariciou as mãos dela, que se
encontraram uma com a outra com os
dedos entrelaçados em volta do seu
peito.
— O meu aniversário é daqui quase um
mês, no Natal. O meu pai nunca gostou
dessa data, por conta disso. Não deixava
fazer festas e me humilhava mais do que
o normal arranjando motivos para me
castigar. Por isso me sentia mal sempre
que essa data se aproximava, medo da
maldade que faria comigo. É horrível
dizer isso, mas estou me sinto aliviada
em saber que daqui para frente vou
viver em paz. Aliviada porque minha
mãe está livre para ser feliz ao lado de
alguém que a mereça de verdade e
minha irmã não precisará ser perfeita o
tempo todo para agradar a família, para
agradar a ele. Por perceber que não
preciso seguir os passos dele e enfim me
dedicar ao meu sonho de ser fotógrafa e
o realizar dando a volta ao mundo.
Desde a adolescência guardo dinheiro
para isso e ficaria muito feliz se depois
que essa confusão toda acabasse, você
viesse comigo nessa viagem sem data
para acabar. — Jesse chorava,
compulsivamente. Blade nunca pensou
em ter filhos, isso é um fato. Não queria
passar o sangue ruim dele a diante, mas
se fosse um homem normal e tivesse a
sorte que o Major Carter teve de ter uma
família bacana como a sua, teria
aproveitado cada minuto com elas. Jesse
era uma pessoa tão boa, que se sentia
culpada por estar livre das maldades do
pai e da sua opressão. Era isso que ele
mais amava nela, a capacidade de dar
amor até a quem não merece.
— Isso é um convite, mocinha? — Ele a
puxou para o seu colo, segurando-a
como se fosse um bebê.
— Uma intimação! — Afirmou, Jesse.
Maldonado olhou para baixo e viu
aqueles olhos escuros cheios de
lágrimas olhando para ele de forma tão
intensa e pensou que não conseguiria
mais viver sem eles por perto, nem se
quisesse.
— Eu vou aonde você for. — Ele selou
suas palavras com um beijo apaixonado.
— Porque não tem tatuagens nas suas
costas? — Já fazia um tempo que Jesse
queria perguntar.
— Não achei nenhuma que me chamasse
a atenção. — Deu de ombros, com
desdém. — Cada uma representa um
momento triste da minha vida de dor.
Essa foi a primeira que fiz, no
aniversário da minha mãe. Eu sinto falta
do meu pai, mas a dela é uma ferida que
nunca vai se fechar. — Blade apontou
para a imagem no braço subindo para o
ombro, era de uma mulher sorrindo
espontaneamente.
— Ela era tão linda, se parece com
você. — Fez carinho sobre a tatuagem,
pensando em como ele já havia passado
por tantos momentos ruins de dor.
Afinal, o seu corpo era setenta por cento
tatuado.
— Pensei que nunca conheceria alguém
tão doce quanto ela, mas aí você
chegou... — Alisou os lábios de Jesse, a
fazendo corar com a sua revelação.
— Se depender de mim o seu corpo não
vai ganhar mais nenhuma tatuagem, vou
passar o resto dos meus dias para te
fazer feliz. — Blade sorriu feliz por
estar ouvindo aquilo. Por ela acreditar
na inocência dele, por amá-lo.
— Idem. — Ele respondeu afogando-lhe
os cabelos, queria dizer que a amava, o
momento era perfeito. Mas
simplesmente não conseguia, ainda não
estava preparado.
— Ainda estou zangada com você por
ter ido ao enterro do meu pai atrás de
mim, o que passou pela sua cabeça,
Blade? Tem um retrato falado seu
rodando por aí, quando te vi lá tive tanto
medo de alguém de reconhecer. — O
bandido resmungou, odiava quando
alguém chamava a sua atenção, mesmo
estando errado.
— E eu estou zangado porque você ficou
a cerimonia todo abraçada com um cara,
não gostei da forma que ele te tocava. —
Fechou a cara, no mesmo momento.
Limpando as lágrimas, o Blade emotivo
mal tinha chegado e já tinha ido embora.
— É o Hugo, meu parceiro e amigo.
Uma das poucas pessoas que me trata
como gente, tem um coração enorme e o
cérebro maior ainda. As vezes a
inteligência dele me assusta, sempre está
um passo à frente de todos no
departamento do FBI. — Blade não
gostou da forma que Jesse falava do tal
rapaz, com admiração e carinho. Quando
a pessoa é perfeita demais, é porque
esconde algo de muito errado. Mas não
disse nada, ela iria falar que era dele.
— Não gosto desse "Hugo" e para o
bem dele espero que nunca mais vê-lo
colocando as mãos em você. — Olhou
para ela, ameaçadoramente. — A coisa
também não vai ficar boa para o seu
lado se autorizar a ele ou a qualquer
outro homem que te toque, me pertence
agora. E no que é meu, ninguém toca. —
Foi direto, sem possibilidades de
acordo.
— Quer dizer que estamos namorando?
— Perguntou esperançosa.
— Chame como quiser, desde que não
deixe nenhum outro homem encostar em
você. — Respondeu rabugento, seu
humor habitual.
— Eu prometo, que enquanto eu viver,
nenhum outro homem tocará o meu corpo
além de você. — Jesse sentiu os
músculos dos braços dele relaxarem em
volta dela.
— Faço das suas as minhas palavras,
não haverá nenhuma outra na minha
vida. — Saiu mais como juramento do
que promessa e Blade não voltava atrás
com a sua palavra. Uma vez dita, era
para sempre.
— Nem a Sara? Sei que já tiveram
alguma coisa e que ainda é muito forte
entre vocês dois. — Uma onda de
insegurança tomou conta de Jesse, algo
evidente em sua expressão.
— Nunca dormi com a Sara, nem
pretendo. Eu a vi sendo espancada pelo
namorado na rua, ela me contou depois
que isso acontecia com frequência. Ela
estava grávida de oito meses na época,
quando vi já estava em cima dele com
os meus punhos cheios de sangue do
desgraçado. Levei-a para o hospital, se
o bebê tivesse sobrevivido hoje estaria
com dez anos. Deste então sinto-me na
obrigação de protegê-la, não deixar que
ninguém a machuque. Acho que isso é o
que as pessoas chamam de amizade,
nunca senti nenhum tipo de desejo sexual
por ela — Explicou ele, para ver se
Jesse entendia de vez.
— Sinto muito pelo bebê e me desculpe
por ter tirado conclusões precipitadas.
— Jesse não era mãe e ficando ao lado
de Blade sabia que provavelmente nunca
iria ser. Mas sentiu nela a dor que a Sara
sentiu quando o médico anunciou que o
filho havia nascido morto e a admirava
por ter conseguido seguir em frente com
um sorriso no rosto.
— Ok! Agora tente dormir um pouco.
Precisamos acordar cedo, temos que
pegar o Matteo Castelli de surpresa. —
Puxou o lençol e a cobriu, depositando
um beijo em seu rosto.
— Se não vou apanhar? — Debochou
ela.
— Umas boas palmadas lhe faria muito
bem, investigadora, tem andado muito
teimosa. — Se ajeitaram debaixo do
lençol, na posição de conchinha. O rosto
de Blade apoiado na curva do pescoço
de Jesse, e os braços segurando firme
em volta de sua cintura.
— Mas sei que me ama assim mesmo.
— Exclamou Jesse, sonolenta.
— Mais do que você imagina, anjo. —
Blade respondeu sem nenhum sinal de
sono, uma pena ela não ouvido, havia
adormecid
CAPÍTULO 31
Chegaram em Puerto Rico armados até
os dentes e não estavam sozinhos. O
primo de Julius e a gangue dele veio dar
uma forcinha, uma bagatela de noventa
homens bem treinados, gente barra
pesada do México. Alugaram uma casa
no meio do nada para não levantar
suspeitas nenhumas. Grande o suficiente
para hospedar a todos, com direito a
banquete e tudo, digno de um rei e os
seus súditos. O plano era atacar de
madrugada, no silêncio da escuridão. Li
conseguiu um mapa exato dos cômodos
da casa da família Castelli e imagens do
lugar em 3G vindas direto de um
minissatélite que ele mesmo construiu e
mandou para o espaço. Isso dava a eles
uma boa vantagem, afinal podiam vigiar
os inimigos e saber a hora certa de
atacar. A residência parecia um forte
militar de tantos seguranças rondando do
lado de fora, mais o dobro por dentro.
Por sorte, a mãe e o irmão estavam
viajando pela Europa, o desgraçado
estava sozinho. Infelizmente não colocou
o pé em momento algum para fora
naquele dia, Blade amaria ver a cara do
maldito que vem infernizando tanto a sua
vida, antes de matá-lo. Conforme as
horas passavam, Jesse ficava cada vez
mais inquieta. Estava sentada no chão do
quarto, ansiosa roendo as unhas. Blade
que havia acabado de chegar, resolveu
fazer um convite inusitado, na intenção
de fazê-la se acalmar um pouco.
— Quero dançar, apenas eu e você. —
Estendeu a mão para Jesse, que olhou
para ele surpresa.
— Mas não tem música e o clima não
está muito pesado para isso. — Ela
virou o rosto para o lado, sem condições
de manter contato visual com o amado
naquele momento.
— Vai me negar uma última dança? —
Jesse levantou em um pulo, lançando os
olhos sobre ele como uma flecha. Que
papo era aquele de última dança? Não
gostou do seu tom, parecia estar se
despedindo.
— Não estou gostando dessa conversa,
Blade. — Ele a calou com um beijo,
soltando o cabelo dela em uma cascata
de cachos volumosos.
Ela usava uma bermuda jeans desfiada
nas pernas e uma camiseta branca
simples. Tênis esporte, no mesmo tom.
Se ele queria uma despedida, que fosse
algo bem especial, pensou Jesse.
Entregaria o seu coração a ele e tudo de
bom que existia nela. Com as mãos
trêmulas, tirou a jaqueta de couro preta,
o bandido levantou os braços para cima
para ajudá-la na missão de tirar a
camiseta vermelha. Lá fora os trovões
gritavam, como se o céu chorasse a dor
dos dois.
— Para onde está me levando? — Blade
a pegou nos braços e levou para a
varanda que ficava no lado de fora do
quarto. A noite estava triste e estava
começando a chover. Jesse estaria louca
ou Blade queria mesmo fazer amor em
uma varanda debaixo da chuva, em
Puerto Rico? E se alguém os visse ou se
escorregassem e caíssem no piso
molhado? Poderia ser perigoso.
— Não vou deixar você cair, está segura
em minhas mãos. — Exclamou Blade,
como se tivesse lido os seus
pensamentos. — E esse quarto é o mais
alto da casa, ninguém nos verá. —
Tranquilizou-a. Havia algo de ilícito no
que estavam fazendo, o que deixava tudo
mais perigoso e excitante. Os dois
dançaram por um bom tempo debaixo da
chuva, completamente nus. Jesse nunca
tinha experimentado sensação melhor do
que aquela, da pura e bela liberdade. E
pelo menos por aquela vez deixou o
peso do mundo de lado e se entregou ao
momento, fazendo amor sobre uma
cadeira reclinável. Enquanto Blade a
penetrava, ela levantou a face para o céu
e deixou que a chuva os abençoasse
enquanto era amada pelo homem da sua
vida. Não precisaram de palavras,
quando chegaram ao clímax, nos olhos
dos dois haviam a mesma declaração
silenciosa, mas gritante ao mesmo
tempo... “ Eu vou te amar para sempre.
Aconteça, o que acontecer. ”
Graças a Santa Protetora dos Bandidos
não estava chovendo na hora de invadir
a casa do Matteo Castelli. Foi moleza
para Li desligar o alarme da segurança,
estavam todos vestidos de preto e
encapuzados. Foram eliminando os
seguranças um por um, silenciosamente.
Jesse estava encantada com a astúcia de
Blade em ação, era maravilhoso,
excitante. Parecia uma dança de tango,
perfeita nos mínimos detalhes. Ela não
soube dizer ao certo quantos ele matou
até chegarem ao quarto do Matteo
Castelli, mas foram muitos. Nem ouve
oportunidade de ela colocar a mão na
arma, Maldonado pegava todos antes.
— Me espere aqui e a qualquer
movimento, atire! — Exclamou Blade, a
sua roupa estava toda desalinhada e suja
de sangue. A mão sobre a maçaneta da
porta do quarto do Matteo, enfim aquele
tormento teria fim.
— Não vim até aqui para te deixar
sozinho agora, quero olhar nos olhos
desse maldito quando você o mandar
para o inferno. — Trovejou Jesse,
cansada de ser boa com quem não
merecia. Ele assentiu contra a sua
vontade. Mesmo dando tudo mais do que
certo, Blade sentia que havia alguma
coisa de errado, estava sendo fácil
demais. Primeiro que aquela lambança
toda dos assassinatos dos policiais não
parecia ser coisa de um profissional
como o chefe da máfia europeia, mas
sim um amador. Colocou muita coisa em
risco fazendo isso, o que de fato não
fazia mesmo nenhum sentido.
— Fique atrás de mim Jesse e não saia.
— Assim ela fez e abriram a maçaneta
juntos.
— Diga as suas últimas palavras,
maldito! — Quando o homem deitado na
cama de luxo acendeu o abajur para ver
o que estava acontecendo, os dois
invasores quase caíram para trás,
principalmente Jesse.
— Miche? — Jesse tirou a touca, com
os olhos marejados.
— Eu nunca fui com a sua cara, os
bonzinhos no final sempre acabam sendo
os piores. — Blade tinha a arma
apontada para o meio da testa dele, o
ponto vermelho do laser dançando sobre
o osso frontal do falso barman.
— Oi princesa, como vai? — Miche
soltou uma gargalhada cínica,
debochada. Parecia um louco, totalmente
insano. — Eu estava no bar no dia que o
seu herói te tirou das mãos daqueles
bandidos cruéis, tinha ele na minha mira.
Mas aí vi a forma como olhava para
você desmaiada em seus braços e
pensei, porque matar se posso feri-lo
onde mais dói? Sabia que iam acabar se
envolvendo e eu a tomaria dele. Fiz de
tudo para te conquistar, até fiz a porra de
um curso de fotografia. Só que o feitiço
virou contra o feiticeiro e acabei caindo
nos seus encantos de verdade. Mas não
quis nada de mim além de amizade, tudo
por causa desse maldito. Você era para
ser minha Jesse, poderia ter tido uma
vida de rainha ao meu lado.
— Eu amava você Miche, não da forma
que queria, mas amava. — Ela estava
tão decepcionada que nem conseguia
olhar para ele. — E todo esse tempo era
um impostor? Matteo, filho do Carlo
Castelli.
— Matteo? — O impostor parecia
confuso, bêbado talvez. Isso explicaria o
monte de garrafas de bebidas vazias por
toda parte, era como se não
reconhecesse o próprio nome. — Vocês
são mais idiotas do que eu pensava!
Sim, eu sou Matteo, filho e herdeiro do
grande mafioso Carlo Castelli. —
Soltou outra gargalhada, dessa vez
macabra.
— Pare de rir, desgraçado! Eu não
entendo porque tanto ódio por mim, já
não basta o seu pai ter matado os meus e
acabado com a minha vida, só porque a
minha mãe não o amava e escolheu ficar
com o meu pai? Se ele se matou depois,
o problema é dele. E eu não obriguei a
Jesse a ficar comigo, se ela não te quis
foi porque não foi homem o suficiente
para conquistá-la. — Blade era assim,
curto e grosso.
— Pelo jeito é mania da sua família, os
Maldonado, roubarem as mulheres dos
Castelli, porque não sei se é do seu
conhecimento, Blade, mas a sua mãe já
era noiva do meu pai quando o seu se
achou no direito de roubá-la dele. Eles
eram noivos e no dia do casamento ela
simplesmente não apareceu, sem dar
nenhuma explicação. Sumiu no mundo
com o seu papaizinho, aquela maldita
vadia acabou com a vida do Matteo,
quer dizer a minha. — Começou a rir
novamente, como um louco. Era
estranho, às vezes falava dele na
terceira pessoa, como se estivesse
falando de outra pessoa. — Depois o
meu pai se casou com a minha mãe, mas
como não a amava descontava a raiva
nela e no filho que teve com ela, o pobre
Matteo. Sabia que foi ele que encontrou
o pai morto? Segurando a foto da sua
mãe e tinha apenas cinco anos de idade
na época. Desde então, não conseguiu
amar mais ninguém além dele mesmo.
Nem mesmo o irmãozinho caçula que a
mãe teve de outro casamento, o
coitadinho não tinha nada a ver com essa
sujeirada toda. E teve que crescer ao
lado de um irmão cruel e uma mãe
depressiva, no final acabou
enlouquecendo também tentando provar
a todos que era capaz de ser tão bom
quanto ele, ou melhor, como eu. —
Agora ele chorava e ria ao mesmo
tempo.
— Também não tenho culpa se os
Castelli não têm peito para segurar suas
mulheres, se antes admirava o meu pai,
agora o venero. Nós da família
Maldonado somos assim mesmo, quando
queremos uma coisa, pegamos e pronto.
Não acostumamos perder, mas se
acontece, continuamos de cabeça
erguida sem colocar a culpa nos outros.
Porque é isso que um homem de verdade
faz, admite que perdeu e parte para
outra, não ficamos choramingando ou
nos matando por causa de qualquer
coisa. — Blade perdeu a paciência, só
queria mandá-lo para o inferno logo de
uma vez.
— Não fala do que você não sabe! — O
falso Miche tirou uma arma de debaixo
do travesseiro e a apontou para Blade,
mas não esperava por uma chuva de
tiros, vindos da arma de Jesse. Morreu
olhando para ela, que estava surpresa
por não estar com um pingo de remorso
por ter feito aquilo.
— Você está bem com o que houve,
Jesse? — Perguntou Blade segurando a
mão dela, já no carro de volta para a
casa, ele passou o caminho todo em
silêncio, o olhar distante. A missão foi
um sucesso, mas Blade sentia que
alguma coisa não se encaixava. Tentava
acreditar que tudo estava bem, porém
tinha uma vozinha lá no fundo dizendo o
tempo todo que não. Era como dizer que
o quebra-cabeças havia sido montado,
porém ainda faltava a última peça.
— É normal não sentir remorsos depois
de matar alguém? — Os olhos dela
ainda estavam perdidos para fora da
janela do carro.
— Depois do primeiro, isso flui
naturalmente, estou orgulhoso de você!
— Jesse assentiu, com um leve sorriso.
Depois do que houve nunca mais seria a
mesma Jesse, seria outra, mais forte,
capaz de suportar qualquer coisa, por
pior que fosse. Quando chegou em casa,
a primeira coisa que Carter fez foi pedir
demissão no trabalho, era o fim da sua
carreira na Polícia que nunca deveria ter
começado, fora o maior erro que
cometera na vida. Fez uma pequena
reunião com a mãe e a irmã para contar
a verdade sobre o pai, para que não se
sentissem tão culpadas com a morte
dele. Afinal como a avó sempre dizia, a
tal “sogra” que o Major tanto odiava e
que parecia com a filha mais velha,
“quem caça acha e não perde tempo. ”
Também contou um pouco sobre a
família “exótica” do namorado,
escondendo apenas as partes mais
pesadas, é claro. Tanto que os bandidos
até foram convidados para passarem o
Natal na casa da família Carter. No dia
seguinte as festas natalinas, Blade e
Jesse iriam fazer a tal viagem em volta
do mundo sem data de retorno. Afinal
ele ainda era procurado pelas mortes
dos policiais, mas isso não era o que
preocupava a jovem. Blade estava a
cada dia mais estranho e taciturno.
Tendo pesadelos a noite e não queria
deixá-la mais sozinha, nem por um
segundo.
— Animado com a viagem? Estou louca
para fazer amor com você nas praias do
Havaí ou em alguma ilha deserta. —
Essa foi a forma que Jesse achou para
chamar a atenção de Blade, que veio à
festa de comemoração de Natal
praticamente à força, arrastado, essa era
a verdade.
Queria ter ficado em casa comemorando
o aniversário dela na cama, fazendo
amor o dia todo, mas ela o convenceu,
dizendo que ficaria muito tempo sem ver
a mãe e a irmã por conta da viagem. E
que o mínimo que podia fazer era passar
o aniversário com elas, além do mais,
era Natal, dia de passar em família, com
os entes queridos.
— Porque não vamos para a casa e
começamos hoje mesmo? — Fez a
proposta indecente, na esperança que
Jesse aceitasse. Agarrou a cintura dela,
puxando-a para mais perto dele. Estava
sentado em um banco no quintal, Blade
passou mais tempo lá do que dentro da
casa.
Ele queria ir embora, já os parceiros
estavam amando. Julius e Maria
Joaquim estavam em um papo animado,
haviam se desculpado pelas grosserias
que disseram um ao outro e até trocaram
o número dos celulares. Li e Mainara
não se deram muito bem, uma
implicância na disputa para ver quem
era o mais inteligente. Já Bobbi era o
xodó da festa, não tinha quem não se
apaixonasse por ele, além de muito
educado e extremamente carinhoso com
todos. Apesar do quadro do Estevão ter
melhorado bastante, ainda estava em
coma. Mas os médicos diziam que
poderia acontecer dele despertar a
qualquer momento, Nayla rezava para
que isso acontece antes que a barriga
crescesse muito para que ele não se
assustasse muito quando a visse.
— Diga-me, o que está acontecendo?
Anda mais calado que o normal e não
me deixa mais sozinha nem um segundo.
— Blade evitou olhar para ela, não
queria preocupá-la com os seus
pressentimentos ruins. Não tinha
motivos nenhum para tê-los, talvez fosse
só coisa da sua cabeça.
— Não está acontecendo nada, Pequena!
Só quero que chegue logo amanhã para
podermos cair no mundo sem rumo, sem
data para voltar. — Inclinou-se para
pegar uma caixa que estava ao lado dele
e a entregou.
— Feliz N atal, Anjo! — Jogou uma
piscadela sexy para o lado de Jesse.
— Que linda amor, obrigada! — Jesse
soltou um grito alto ao abrir a caixa e se
deparar com uma câmera profissional da
Nike. Era preta, com flashes potentes e
uma lente de longitude especial para
captar os mínimos detalhes de qualquer
coisa. Encheu o rosto dele de beijos
para agradecer.
— Calma aí, neguinha, tem mais um! Só
que o esqueci no esconderijo, antes de
viajarmos ainda dá tempo de passar lá
para pegarmos. — Colocou-a em seu
colo e beijou seus lábios. Jesse tentou
de todas as formas fazê-lo contar, mas
ele não disse nada.
— Dois presentes é muito, só este está
ótimo! — Ela pensou bem, não queria
que ele ficasse a enchendo de presentes.
— Esse é pelo Natal, o outro é de
aniversário. Se não quer, tudo bem, mas
tenho certeza que vai gostar mais
daquele do que deste. —Apontou para a
câmera, fazendo a curiosidade dela
aumentar ainda mais.
—Você não presta Blade! Seu bobo! —
Deu um tapa no ombro dele, e riu da
cara emburrada que ele fez.
— Não é isso que você diz quando eu
estou... — Cochichou coisa profanas e
obscenas em seu ouvido, fazendo-a
corar muito.
— Pare Blade, toma o seu presente de
Natal e sossegue! — Jesse tirou uma
caixinha azul do bolso da jaqueta jeans,
era pequena e delicada, assim como ela.

— É linda, mas eu não acredito em


Deus! Muito menos em Santos! — Ele
tirou da caixinha um cordão de ouro com
uma medalha de Santo Antônio, que
havia comprado em Puerto Rico.
— Larga de ser chato, Blade! O nome
Antônio origina-se do grego Antínis e
significa “valioso”, forte”, “ protetor”,
“digno de apreço”, “destemido”. Sem
dúvida descreve você, por isso, mesmo
não tendo fé quero que a use. Mandei
gravar atrás “Blade e Jesse para
sempre”. — Ela colocou o cordão em
volta do pescoço dele, que prometeu
nunca mais o tirar. Ficaram mais um
tempo na festa de Natal e se despediram
de todos, já que não os veriam mais
antes da viagem, nem tão cedo se
dependesse dele.
— Até breve, Blade, vou sentir muitas
saudades! Eu te amo, tenho orgulho de
ter você como irmão! — A declaração
de Bobbi o emocionou, aquele garoto
era tudo para ele.
— Vamos nos falar sempre, Mascote,
todos os dias. Eu que tenho orgulho de
ser seu irmão, é o melhor garoto que
conheço, quando não está sendo
malcriado e falando palavras feias. —
Blade o fazia lembrar do seu momento “
rebelde” sempre que podia.
— O Senhor não vai esquecer disso
nunca, né? — Bobbi revirou os olhos
lacrimejantes.
— Você sabe que não! — Beijou a testa
do jovem, bagunçando o cabelo dele.
Blade e Jesse acabaram decidindo ir de
uma vez ao esconderijo e passar a noite
toda por lá fazendo a festinha particular
deles, a dois. Maria Joaquim arrumou
alguns salgadinhos e doces para levarem
para a viagem, mas Jesse não quis, disse
que não andava com o estômago muito
bom naquela semana. Estava evitando
comer coisas pesadas até que o mal-
estar passasse, talvez demorasse mais
do que ela imaginava...
— O que está fazendo aí, amor? Volta
para a cama, está muito cedo. — Blade
falou sonolento, vendo Jesse
levantando-se às pressas da cama
vestindo a blusa cinza de moletom dele.
— Eu quero ver o pôr do Sol, amor,
pode dormir que daqui a pouco eu volto.
— Jesse beijou o rosto dele e saiu
correndo descalço, os cabelos
esvoaçantes. Chegou bem perto de um
precipício que tinha nos fundos do
esconderijo, de lá dava para ter uma
visão perfeita do sol nascendo por trás
das montanhas.
— Você vai pegar um resfriado,
teimosa! — Blade chegou esfregando os
olhos morto de sono, usando a calça do
moletom que estava com ela. Enfiado
dentro de um cobertor grosso, o cabelo
todo bagunçado.
— Que bom que veio, meu amor! —
Jesse pulou nos braços dele que a
envolveu dentro do cobertor xadrez
dele.
— E eu tive outra escolha? —
Resmungou contrariado.
— Cale a boca e aprecie essa obra
prima da natureza, nunca vi nada mais
bonito. — O céu havia tomado um tom
alaranjado, limpo sem nenhuma nuvem.
Os pássaros voando em comitivas de V,
lindos e elegantes. Por trás das
montanhas o sol veio surgindo meio
tímido, como se soubesse que estava
sendo observado. E estava, por um casal
apaixonado cheios de promessas e
esperanças para um novo futuro.
— Nem eu. — Comentou Blade olhando
para Jesse com cara de bobo, em
momento algum havia tirado os olhos
dela. Ela nunca pareceu tão bonita como
naquele momento, iluminada pelos raios
fracos do sol que iam chegando devagar.
As bochechas levemente coradas devido
ao frio, os cachos rebeldes voando
conforme a direção do vento. Então ele
pensou, é uma boa hora para entregar o
presente de aniversário dela. Não tenho
nada com que se preocupar, as coisas
não poderiam estar mais perfeitas. Esse
pressentimento ruim não era nada, só
coisa da sua cabeça. Em breve estaria
longe com ela, com o seu Anjo.
— Quer casar comigo? Esse é o seu
outro presente! — Blade ajoelhou-se
diante dos pés dela segurando um anel
com uma pedra de diamante enorme por
cima, o brilho quase a cegou. Pegando
Jesse totalmente de surpresa pois ela
não esperava por aquilo tão cedo, ainda
mais de forma tão romântica. Nunca
imaginou que seria tão feliz e amada um
dia.
— Claro, meu amor! Agora se você
quiser! — Ajoelhou-se em frente a ele e
o beijou sob a luz do sol que havia
nascido por completo, com toda sua
exuberância. — Somos um só agora! —
Ela completou, com a testa colada na
dele segurando o seu rosto entre as
mãos, ambos de olhos fechados.
— Para sempre! — Blade completou,
emocionado.
De repente um barulho estranho tomou
conta do céu, brotando helicópteros da
Polícia por toda parte. Quando
pensaram em correr, uma centena de
carros com a sirenes ligadas os
encurralaram em frente ao precipício. O
barulho de tudo junto era quase
insuportável, era ensurdecedor. Sem ter
o que fazer os dois se abraçaram,
aconteça o que acontecer estariam
juntos.
— Tire as mãos dela, Maldonado! Você
está preso por todos os roubos e
assassinatos dos policiais, tem o direito
de permanecer calado e tudo o que
disser será usado contra você no
Tribunal, tem direito a um advogado, se
não tiver como pagá-lo, o estado lhe
arranjará um. — Exclamou o parceiro
de Jesse, Hugo Rodrigues,
aproximando-se deles a passos lentos.
— Ele não matou os policiais, Hugo,
tem que acreditar em... — Jesse tentou
defendê-lo, mas foi cortada pelo
parceiro.
— Eu sei que ele te sequestrou Jesse,
mas não se preocupe. Estamos aqui
agora, está a salvo. Conseguimos
imagens das câmeras da rua onde fica o
galpão onde o seu pai foi assassinado e
esquartejado, antes de ser levado para
frente do departamento do FBI, nela o
Maldonado aparece entrando no lugar ou
vai mentir agora, Blade, dizendo que
não esteve na cena do crime? — Acusou
Hugo, certo do que estava dizendo.
Maldonado olhou para Jesse
desesperado, mas não desmentiu nada.
— Você disse que não haveria mentiras
e segredos! — Jesse se afastou a alguns
passos dele sem se importar com o
monte de armas apontadas para eles.
— Eu estive no local, Jesse, mas eu não
matei o seu pai. — Jesse cobriu o rosto
com as mãos, começando a chorar.
— Você quebrou o nosso pacto! —
Havia tanta mágoa no olhar de Jesse, na
verdade raiva.
— Não quebrei, Anjo, me deixa
explicar. — Ele tentou se aproximar
dela, mas foi baleado por Hugo com um
tiro bem no meio do peito.
— BLADEEEEE! — Gritou Estevão no
exato momento, assustando a todos no
hospital. Acordando do coma, com a
pele mais pálida do que nunca e os
olhos azuis arregalados. O corvo voava
dentro do quarto de um lado para o outro
em comemoração, já Nayla não
conseguia parar de chorar de tanta
alegria.
— Não! — Jesse tentou ajudá-lo, mais
foi arrastada para longe por dois
policiais. Hugo se aproximou dele que
ainda permanecia de pé com as duas
mãos sobre o buraco da bala que
sangrava sem parar, um Maldonado não
caía fácil.
— Isso é por ter entrado na minha casa e
matado o meu irmãozinho caçula. Eu sou
Matteo Castelli!!! — Cochichou Hugo,
de forma que só Maldonado escutasse.
Blade arregalou os olhos, deixando em
segredo quem matou o irmão dele, se
por acaso ele soubesse, Jesse estaria em
perigo. — Aquele pirralho, só esperou
eu viajar com a minha mãe para a
Europa para fazer essa lambança toda.
Com a mania idiota de provar que é
capaz, agindo pelas minhas costas, e não
é de agora. Moleque idiota, agora
acabou morto e a minha mãe passa os
dias chorando por causa dele! Eu odeio
vê-la chorando! — Matteo era tão louco,
quanto o irmão caçula.
— Eu vou voltar, nem que seja do
inferno para te matar e se ousar encostar
um dedo nela, vou arrancar um por um.
— Ameaçou Blade com a voz falha, o
sangue escorrendo no canto da boca.
— Ela agora é minha, como prêmio de
consolação! Apodreça no inferno,
maldito, a sua raça ruim termina aqui!
Não porque eu goste dela, mas porque
você a ama. — Discretamente, com a
ponta do dedo indicador empurrou
Blade Maldonado para o precipício, que
caiu em câmera lenta vendo Jesse
espernear chamando por ele.
— Eu te amo! — Sussurrou já fraco
demais para que ela escutasse,
infelizmente. Arrependeu-se por não ter
dito antes e agora era tarde demais.
“Alguns anos depois”...
— Olha, ele está acordando, qual o seu
nome, rapaz? — Perguntou um senhor já
de idade, usando roupas gastas. Era
esperto, fez a pergunta antes que os
médicos chegassem.
— O meu nome é Vladimir Alvarez,
mais conhecido como Blade
Maldonado!
E assim a história continua, onde ele
volta com sede de vingança em
“Blade Fênix” ( Ressurgindo das
Cinzas.) - LIVRO 2
Segue a baixo o Prólogo, como
degustação.
BLADE FÊNIX. [ RESURGIDO
DAS CINZAS] – LIVRO 2
PRÓLOGO
O mais novo empresário recém-
chegado na cidade de Los Angeles,
Vladimir Álvarez que na ocasião trajava
um belo terno italiano cinza, tirou
algumas horas do seu precioso tempo
para admirar o trabalho da bela
exposição de fotos de uma talentosa
fotógrafa que há alguns anos largou a
não tão brilhante carreira na Polícia
para se dedicar em tempo integral ao seu
amor pela arte e o sonho de viajar pelo
mundo. Estava próximo a uma foto dela,
muito bonita por sinal, na África, usando
um delicado vestido florido de pano
leve, sem maquiagem e o cabelo em um
corte curto enfeitado com um laço
branco, segurando uma câmera
profissional e sorrindo espontaneamente
rodeada por crianças visivelmente
encantadas com a sua presença, que ele
havia comprado. Ela era assim, deixava
um rastro de amor por onde passava.
Observou a jovem artista se aproximar
cumprimentando educadamente a todos
que vieram prestigiar o seu notável
trabalho, estava mais linda do que se
lembrava, mas a delicadeza continuava a
mesma, a doçura ao efetuar os pequenos
gestos, por mais simples que fossem.
Mesmo depois de tanto tempo, ainda
corava como uma adolescente quando
estava em algum lugar com muitas
pessoas, um Anjo tímido. O mundo
parou enquanto ele admirava seus
grandes e expressivos olhos castanhos
escuros.
A princípio, devido a elegância não a
reconheceu. Estava mais confiante e
madura, de fato, uma beleza de tirar o
fôlego de qualquer um, principalmente o
dele. Quando ela se aproximou
acompanhada da mãe e da irmã,
passando por ele, inclinou a cabeça e o
corpo em uma saudação cavalheiresca.
As suas mãos suaram e a respiração
ficou cada vez mais ofegante.
— Obrigada por vir, seja bem-vindo! —
Ela o cumprimentou com um belo
sorriso, sendo gentil. Sabia que não
deveria ter ficado magoado pelo fato
dela não o ter reconhecido, mas mesmo
assim ficou. Não poderia culpá-la, nem
ele mesmo se reconhecia quando olhava
o próprio reflexo no espelho. Os
cabelos agora eram longos na cor
castanho claro, a barba mediana, rústica
e sexy. Os olhos escurecidos com o
auxílio de lentes, conseguindo assim, se
tornar mais atraente do que já era. No
entanto, só o fato de poder ouvir aquela
voz doce novamente, já era mais que o
suficiente para o deixar imensamente
feliz.
— Obrigado, Senhorita! — Vladimir
tentou não vacilar olhando nos olhos
dela, mas foi em vão. Durante anos
ansiava por aquele momento do
reencontro. E ela estava tão linda,
perfeita! Usando um vestido longo vinho
modelo sereia que conhecia muito bem,
afinal fora ele quem o escolheu para lhe
presentear no seu primeiro baile. Ficou
surpreso dela ainda o possuir, havia o
guardado para usá-lo apenas em
ocasiões especiais. Isso fez o ego de
Vladimir inflar como um balão de gás.
— Eu que agradeço, Senhor! — Ele
pensou que iria morrer, ela havia dado
“aquele sorriso” que iluminava o mundo
todo, que poderia tirar dele o que
quisesse, era só pedir e o teria em suas
mãos.
Graças a Deus a conversa entre eles foi
breve demais e ela continuou o seu
caminho cumprimentando os outros
convidados, mais um minuto e a teria
beijado para matar a saudade que estava
sentindo dela, o seu Anjo. Mas antes que
isso acontecesse, tinha de fazer algo
muito importante, provar a sua inocência
para a sua amada. Sem condições de se
manter no recinto, Vladimir resolveu ir
embora o mais rápido que os seus pés
conseguissem andar. Mas algo o fez
parar, uma coisa inesperada.
— Tia Jesse, o Antônio me bateu de
novo! — Apareceu uma garotinha
chorando, tão branca que chegava a ser
pálida. Ela vestia um vestido negro
como a noite, era sua cor favorita. Os
cabelos escuros e longos, lisos e
brilhantes. Os olhos eram de um azul
forte, os traços do rosto que lembrava
muito alguém que Vladimir conhecia e
amava como irmão.
— Bati mesmo! Ela mereceu e se me
encher o saco, bato de novo! — Atrás
dela veio um garoto emburrado. Cara e
punhos fechados procurando briga.
Estava vestido como um homenzinho, de
terno cinza e gravata preta de riscos. Os
cabelos castanhos claros, com gel,
penteados para trás. Tinhas os traços
dela, mas os olhos... A cor não era nem
azul ou verde, mas de um tom
indecifrável. Idênticos aos de Vladimir,
assim como os do seu pai e de seu avô.
Raridade encontrada apenas nos
herdeiros do sobrenome Maldonado e
em mais nenhum outro lugar.
— Que coisa feia, Antônio! Peça
desculpas para Estefânia agora ou vai
ficar de castigo! — Ela chamou a
atenção do garoto, severa.
— Mas mãe... — Ele tentou se explicar,
não teve jeito.
— Agora, filho! — A mãe colocou as
mãos na cintura, batendo o salto do
sapato no chão, nervosa.
— Que inferno! Desculpe por ter te
batido, garota chata! — Saiu com a cara
azeda, mais fechada do que chegou.
Então, Vladimir percebeu que não eram
só os olhos que ele tinha da família, mas
o gênio forte também. Com esse
pensamento saiu da exposição,
totalmente sem chão diante da
descoberta.
Por: Autora Marí Sillva.

Obrigada por me acompanharem até o


final dessa viagem insana chamada
Blade Maldonado, onde tudo pode
acontecer. Um demônio que se
apaixonou pelo anjo, rendendo-se aos
encantos dela, o ser mais doce do mundo
chamado Jesse Carter. Não tenho
palavras para descrever o que estou
sentindo nesse momento, e forte demais.
Blade chegou na minha vida em um
momento difícil, tirou da depressão e me
mostrou que tudo é possível quando
acreditamos em nós mesmo. Jesse me
ensinou a não perder a fé nunca, mesmo
diante a tantos problemas difíceis, a
olhar para as pessoas sem maldade, com
amor. Fiquem com Deus e até breve, um
abraço.
*Confira a baixo a capa de “Blade
Fênix” (Ressurgindo das Cinzas)
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