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PERIGOSAS NACIONAIS

Quem tem medo do


Lobo Mau?

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

É proibida a distribuição total ou parcial


dessa obra sem a prévia autorização da autora.
Todos os direitos pertencem a Josiane
Biancon da Veiga

ISBN: 9781983377969

PERIGOSAS ACHERON
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Sinopse

Cuidado com o Lobo Mau!


Toda história tem um começo. E o assasinato de sua
mãe tornou Dylan Bennet um vilão. Não obstante, criou sua
fama em cima de sangue, violência e sexo.
A vingança o movia. Perdeu tudo por conta do maldito
gângster Foster. Atingir o homem era o único objetivo de sua
vida.
Mas, naquela floresta, a menina
de chapeu vermelho não era tão
indefesa.
Jessica Foster não era uma coitadinha. Apesar de ter
crescido em um convento, ela tinha no sangue o arredio
desejo de liberdade. Então, enredar-se pelo mundo proposto
por aquele homem pecaminoso não lhe deu medo.
Jessica era corajosa o suficiente para espreitar a
obscuridade da alma de Dylan.

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Sumário
Sinopse
Dedicatória:
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
PERIGOSAS ACHERON
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Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
DEMAIS LIVROS CONTEMPORÂNEOS DA
AUTORA
Laços de Amor
No Calor dos Seus Braços
Uma Música para Nós
A SAGA DOS REINOS
DEMAIS LIVROS DA AUTORA

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Dedicatória:

A cada leitor maravilhoso que não apenas vai


me ver em Bienais pelo país, mas que também me
acompanha na internet, lê meus livros, comenta,
divulga, me dá seu carinho, não me deixa desistir;
A minha mãe que mesmo cansada e no auge
dos seus lindos sessenta e quatro anos enfrentou
maratona de Bienal para me dar seu apoio;
A Jesus, Deus, que sempre coloca pessoas
iluminadas no meu caminho quando estou prestes a
vacilar.
Muito obrigada.

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Nota da Autora:
Não posso convidá-los para ler esse livro.
É direito de cada um escolher ou não
afundar-se numa história sem mocinhos ou
mocinhas. Apenas anti-heróis e vilões. Cada qual
lutando pelo seu objetivo.
Sentia falta desses livros históricos, desse
meu lado sarcástico nas obras onde o personagem
pode ser mau e não precisa de remissão – como em
Kinshi na Karada – e sim de vingança!
Talvez por isso fui tragada para a década de
20 e 30, cidade de Chicago. Quantas coisas
descobri durante a Lei Seca?
Tentei passar alguns dados históricos na
obra, mas não a levem tão seriamente. Existem
excelentes livros sobre mafiosos e gângsteres bem
mais verídicos. Minha narrativa se concentra no

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que o ser humano é capaz para acalmar sua alma


atormentada.
E é exatamente isso que se resume Jessica e
Dylan. Não sei qual dos dois é pior. Qual tem mais
raiva dentro de si.
E, não deixe se enganar, a perturbação
mental deles não justifica seus atos, mas ao menos
faz com que possamos entendê-los, apesar de
sabermos que ninguém em sã consciência agiria
como eles.
Enfim, 41° Livro. Uma marca que muito me
orgulha. Especialmente porque posso brincar com
as nuances humanas em cada uma delas.
Ijuí, 12 de julho de 2018.
Josiane Biancon da Veiga

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Capítulo 01

“Oh, meu Deus,


que medo tenho hoje!”
Irmãos Grimm

Chicago, 1910.

— Era uma vez...

Dylan sentiu os olhos pesarem. A mãe, tão


bonita quanto o sol ao entardecer, estava sentada ao
seu lado na cama. Nas mãos, a jovem mulher
mantinha um livro de conto de fadas e, naquela
noite, lhe narraria alguma bonita história como era
de costume.

— Uma graciosa menina; quem a via ficava


logo gostando dela.

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Mas havia algo errado naquela noite. O


menino de cinco anos não conseguia definir
exatamente o quê.

Naquele casebre em que moravam solitários


logo após o assassinato do pai, as noites eram
sempre atormentadas por algo à espreita, um
demônio que parecia consumir a racionalidade da
mãe. Mas, naquela noite em especial, havia algo a
mais. E não se encontrava no livro velho e mofado
de histórias, nem no vento fantasmagórico que
batia na janela.

O estralo na porta ele mais sentiu que ouviu.


A mãe sobressaltou-se, mas não parou sua
narrativa.

— ... Certa vez, presenteou-a com um


chapeuzinho de veludo vermelho e, porque lhe
ficava muito bem, a menina não mais quis usar
outro e acabou ficando com o apelido de
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Chapeuzinho Vermelho.

Dylan Bennet podia ouvir os passos no


corredor, mas a neutralidade na voz da mãe não o
assustou. O que quer que fosse que andava em
passos lentos pelo assoalho rangido não merecia a
atenção materna.

Ela estava certa em terminar sua história ao


seu pequeno filho.

E que história. Havia um lobo. Uma avó. Um


engano. Assassinato, morte e redenção.

O som no corredor cessou. A voz da mãe


também cessou. Então, ela curvou-se para ele e
beijou levemente sua têmpora.

— Dylan. — Seu tom era sério e rápido.


Contudo, não perturbador. — No quarto da mama
tem uma sacolinha com dinheiro. Pegue e fuja.
Procure por seu tio, August Bennet. Não vá para
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um orfanato e não deixe que o peguem. Se cuide,


eu te amo muito.

Todas aquelas palavras ditas fizeram-no


fechar os olhinhos. A mãe beijou sua face
novamente, e depois se afastou em direção à porta.

Ela saiu.

O som do corredor voltou.

Mas, apenas passos. Não houve gritos, nem


súplicas. Era como se a mãe estivesse disposta a
enfrentar o que fosse para não traumatizá-lo.

Depois, o estrondo capaz de fazer as


madeiras tremerem. Um clarão seguiu-se. Outro.

E o silêncio novamente tomou o ambiente.

Dylan nunca mais ouviria a voz da mãe. Mas


o ecoou daqueles tiros o seguiria até o fim de sua
vida.

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Foi August Bennet que o encontrou. Não que


fora tarefa fácil. Assim que a polícia foi chamada
até o casebre para recolher o corpo da mulher de
um antigo cafetão, num bairro pobre de Chicago, a
criança que lá residia desapareceu.

Pareceu entender as ordens da mãe. Pegou


sua sacolinha com alguns trocados e saiu andando
sem rumo pela cidade, à procura do tio August.

Foi um dos homens de August que o viu. Em


meio a uma praça de má fama, o menino perdido
parecia aterrorizado pela solidão.

Não entendia ainda que a mãe nunca voltaria,

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e que August não era exatamente o tipo exemplar


de familiar.

Quando um carro negro parou próximo do


garotinho, ele viu um homem grande, alto e de
vestimentas impecáveis se aproximar.

A mãe era uma puta pobre, então não


conseguia perceber que aquele era alguém do
mesmo sangue. Por que um dos homens mais
abastados da cidade era irmão de sua pobre
genitora?

Foi levado até uma mansão, onde recebeu um


quarto e alimento.

E só com o passar dos anos compreendeu que


a mãe, apesar de puta, era honesta. Não queria o
dinheiro sujo de August, por isso preferiu a
prostituição.

Não que se odiassem, os dois irmãos.


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Quando soube que a irmã havia levado dois tiros na


cara, August foi até sua casa, sujou seus sapatos de
couro preto impecáveis na poça de sangue, e
apertou a pobre mulher nos braços. Jurou a ela que
cuidaria de Dylan.

Apenas, o destino os levou a posições


diferentes.

A puta honesta seguindo a dignidade


miserável, enquanto o rico e respeitável
comerciante contrabandeava drogas em todo estado
de Illinois.

— Você é sangue do meu sangue e eu não


tenho filhos — o tio disse, alguns anos depois. —
Terá que cuidar de tudo que conquistei — indicou.

Foi então que Dylan passou a ir às aulas de


manhã e a aprender a atirar durante à tarde.
Praticamente um treinamento de guerra.

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Ele precisava saber como se portar diante das


situações que envolviam o mercado negro do
contrabando.

Aos dezesseis anos matou o primeiro


homem. Um comerciante que revendeu mercadoria
de August e não lhe pagou. Além disso, não
cumpriu o trato.

— A palavra de um homem é tudo — o tio


lhe disse. — Se um homem diz que vai lhe pagar
em tal dia, e esse dia chegar e ele não trouxer o
dinheiro, esse homem não é digno de respirar.

Dylan apertou o gatilho. Era fácil. Era


prazeroso. O sangue era quente. Ele gostava
daquela sensação de poder.

A hombridade da mãe foi perdendo-se com o


passar dos dias, dos meses, dos anos. Mas, sua voz
doce e seu olhar amoroso nunca se perderam em

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sua memória.

Aos dezoito quis saber quem a havia


assassinado. Já havia cometido uma ou duas dúzias
de execuções pela cidade e estava pronto para
destruir o canalha que lhe explodira a face.

O tio, agora de cabelos brancos, insistiu para


que ele esquecesse isso.

— Putas sempre atraem o que não presta.


Provavelmente foi algum cliente.

Mas, não era. Alguns sussurros que ele havia


captado pela casa lhe indicou que não havia sido
tão simples.

Foi nessa época que surgiu um nome: Foster.


Antony Foster. Um ítalo-americano concorrente
que havia matado o cafetão de sua mãe e depois
ordenou que atirassem na prostituta que havia
presenciado o crime.
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— Não se meta com aquele homem — o tio


ordenou.

Porque, soube depois, Foster era um


demônio. Usava as extensas ferrovias para escoar
suas drogas e contrabando subornando políticos,
policiais e funcionários das vias férreas. Em menos
de uma década havia se tornado o bandido mais
respeitado da sociedade.

Até soube que a Igreja lhe fizera uma


homenagem em uma festa católica qualquer após
uma pomposa doação a Casa das Irmãs do Sagrado
Coração.

Foster era um bandido perigoso e poderoso.


E, enquanto August viveu, Dylan não tentou ir atrás
de vingança.

Todavia, nunca o esqueceu e sempre lhe


estudou os passos. Queria pegá-lo, massacrá-lo,

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destruí-lo. Só teria paz quando o matasse e só viu


essa oportunidade surgir mais de uma década e
meia depois, em meio a Lei Seca, quando os
Bennet já haviam se tornado gângsteres poderosos
e ameaçadores.

Porém, não foi da maneira que desejava.

Dylan Bennet estava sentado ao lado do


caixão negro. Ao fundo da sala onde ocorria o
velório, Harold Dayley o observava atentamente.

Em meio à crise entre brancos e negros no


início da década de vinte, onde ocorreu um
massacre entre as duas comunidades, Harold

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tornou-se órfão.

Nem saberia especificar como tudo


aconteceu. Foi tão rápido, na verdade.

Aparentemente um jovem negro havia ido até


uma praia e, por engano, nadou até o lado branco
da cidade. Quando os cor-de-leite perceberam o
rapaz, atiram-lhe pedras, expulsando-o do lugar.
Assim, o jovem precisou retornar a nado até o seu
lado. Morreu no trajeto, sem forças, sucumbindo na
correnteza.

Levou com ele mais de vinte negros e dez


brancos, numa guerra racial que se instaurou então.

Os pais, apesar de não se envolverem na luta


e trabalharem dia e noite na fábrica de máquinas
que ficava ao sul, foram vítimas daquela batalha.

Não que brigassem por ela, mas tiveram a


casa queimada, junto a outras mil residências, numa
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vingança por alguma morte ocorrida naquele dia.

Morreram queimados, e Harold só escapou


porque sua janela do quarto estava quebrada e não
fechava direito.

Assim o menino ficou só. Sem parentes para


lhe acolher ou uma casa para voltar, tornou-se de
rua. Foi uma sorte quando começou a ser usado
pelos Bennet para recados. Aquilo o livrou da
morte certa.

Em pouco tempo, ganhou o respeito e o


carinho de Dylan. Eram como irmãos, apesar de um
ser preto e outro branco.

Quando iam a zona sul da cidade, as pessoas


encaravam Dylan com ódio, apesar de nada
dizerem por perceberem – pelas vestimentas – que
aquele era um bandido perigoso.

Na zona norte, onde os brancos viviam, era


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Harold o tratado como animal, afugentado pela cor


de sua pele.

Todavia, entre os dois homens havia uma


forte ligação. E não havia, dentro daquela gangue,
quem se atrevesse a criticar a amizade pujante.

Até porque Dylan era explosivo e agia sem


pensar muito. Era Harold quem lhe segurava o
temperamento e lhe impedia de cometer barbáries.

Aproximou-se do amigo a quem chamada de


irmão. Dylan estava quieto e sem lágrimas, apesar
de estar perdendo o único parente que tinha. August
morrera durante a madrugada, dormindo,
contrariando a todas as leis que indicavam que teria
um findar violento.

— Joe Bergl disse que seu novo Rolls-Royce


ficará pronto hoje — murmurou.

Assunto estranho para um velório.


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— Preto, como pedi?

— Sim, muito bonito o carro — Harold


indicou.

— Você já o viu? O piso falso que solicitei


está lá? Cabem as armas e munições?

— A blindagem é especial também —


Harold completou. — Ele disse que pode ir olhar o
carro quando desejar.

Juntamente com Clarence Lieder, Joe era um


dos mais famosos mecânicos de gângsteres de
Chicago. Dylan sabia que aquele carro estava
perfeito.

— Dylan — o murmuro de Harold fê-lo


volver o olhar para o outro. — Eu sinto muito por
seu tio.

Dylan quis rir, mas dignou-se a dar os

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ombros.

— Meu tio me ensinou tudo que sei, mas ele


era um obstáculo a meus propósitos.

O que aquilo significava?

— Dylan...

— Um veneno simples em seu chá e ele


livrou-se de uma vida difícil. Agora que tinha
tuberculose, não lhe restava muito. Ao menos,
assim, ele teve um fim digno.

Harold precisou manter a face pacífica para


não demonstrar o horror que sentia ao perceber que
Dylan havia assassinado o tio.

— Eu sei o que está pensando.

— Nada disse.

— Não precisa. Eu consigo perceber pela sua


respiração entrecortada.
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Harold fugiria naquele instante, se pudesse.


Não porque não amava seu irmão de alma, mas
porque se aterrorizava pelas ações dele.

— Meu tio teve a vida que quis, dormiu com


todas as mulheres que o dinheiro pôde comprar —
aproximou-se do ouvido do outro e murmurou. —
E com alguns homens também — riu. — E então
morreu tranquilo numa cama quente, para desgosto
de todos os seus inimigos.

Era uma perspectiva otimista que Harold não


conseguia seguir.

— O que fará agora?

— Quero dominar Chicago.

— Os Bennet são muito fortes do lado leste


da cidade. Creio que...

— Quero a cidade — reafirmou.

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— Foster mantêm...

— Quero a morte dele.

— Dylan...

— Tudo se encaminhou para que eu chegasse


aqui — murmurou. — Antony Foster é meu
principal inimigo e rival nos negócios. Chegou a
hora de ele saber que há um novo lobo mau nessa
floresta chamada Chicago.

Aquela noite estava gelada. Noites frias


sempre o agoniavam.

David Foster, sobrinho do magnata Antony,


estava parado ao lado de um Buick escuro
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aguardando a negociação do carregamento de uma


carga importante.

Não entendia porque o governo havia


proibido o álcool. Não percebiam que aquilo só
aumentava a criminalidade. Homens ansiavam pela
sua bebida e tinham direito a ela.

Puxou um charuto e o acendeu. Não estava


apreensivo porque era um acordo comum ao seu
dia-a-dia. Uma carga de uísque chegaria à baía em
breve e ele apenas precisava verificar se os
empregados a colocariam em um determinado
caminhão conforme combinado.

Repentinamente o som de pneus cortou o ar.

David buscou pelo Colt 38 que mantinha na


cintura, esperando pelo desfecho daquela
inesperada visita.

Repentinamente, o som de tiros cortou o ar.


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Mas, não havia veículo em lugar nenhum.


Percebeu, então, que o veículo era apenas uma isca
para desviar a atenção, e que o som de balas vinha
da baía.

Era uma armadilha. Um roubo de seu


contrabando.

Disparou contra o escuro, uma, duas... tantas


vezes que perderam-se em sua mente medrosa, mas
não acertou em ninguém. Deu-se conta que era alvo
fácil ali, solitário.

Repentinamente, sentiu um corte quente


contra a barriga. Caiu ao lado do veículo. Fora
baleado!

Passos. Pegou a arma. Disparou. Apenas um


click seco se ouviu. Estava descarregada. O maldito
ladrão sem honra o havia aguardado terminar de
descarregar sua munição.

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Então, um homem de sobretudo bege


aproximou-se.

— Preto! Preto sujo! — xingou, revoltado


porque um ser de cor escura se atreveu a machucar
um Foster.

Recebeu um chute na face. Mas, não daquele


desgraçado e sim de outro, branco, que se
aproximou por trás, segurando Shotgun 12.

— Filho da puta! Filho da...

— Não vai morrer — o branco avisou. — Ao


menos, não agora. Quero que leve um recado.

— Recado?

— Diga a seu tio que Dylan Bennet manda


cumprimentos.

Uma coronhada na fronte, e David apagou.

A guerra agora estava oficialmente


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declarada.

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Capítulo 02

"Houve, uma vez, uma graciosa


menina; quem a via ficava logo
gostando dela".
Irmãos Grimm

“Não toquem na menina. Ela é minha filha”.

Os joelhos doíam. Ela quase podia sentir o


sangue quente escorregando nas pernas. Usar
pedregulhos como fonte de penitência era comum
naquele ambiente. Ajoelhar-se sobre pedras era o
que de melhor ela podia esperar por tamanho horror
em sua alma.

— Então Pedro aproximou-se de Jesus e


perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar
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a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até


sete vezes?" Jesus respondeu: "Eu digo a você: Não
até sete, mas até setenta vezes sete”.

Passos em volta de si. A freira vestida de


negro parecia envolvê-la em seu manto de
contrição.

“Não toquem na menina. Ela é minha filha”.

— Ore Jessica — a mulher comandou.

Sentiu um amargor nos lábios. Passaram-se


duas horas desde que fora chamada para
demonstrar fisicamente seu arrependimento pelos
pecados praticados.

— Ave Maria, cheia de graça... — começou.

Ficava ali o aprendizado. Padre Tom não


queria saber o quanto de ódio ela nutria em sua
alma. A confissão de seus demônios só lhe causaria

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mais dor. Uma jovem criada em um convento desde


os sete anos devia sentir-se sempre vistosa e cheia
de gentileza.

Seu ódio devia ser bem guardado. Não devia


mais falar sobre ele. Aquelas pessoas, por mais que
a tivessem criado, não eram sua família, nem seus
amigos. O dinheiro do maldito Foster as havia
comprado. O dinheiro comprava tudo.

A vara de marmelo cortou o ar e chocou-se


nas suas costas.

— Continue — a freira ordenou.

— Santa Maria, mãe da misericórdia...

“Não toquem na menina. Ela é minha filha”.

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A vida fora do convento não havia sido fácil,


mas havia a mãe. Ah, a mãe...

Era tão bela e jovem, a pequena e formosa


Justine. E tola, também, não podemos deixar de
mencionar. Idiota o suficiente para se encantar, aos
imaturos dezesseis anos, por Antony Foster, um
homem com o dobro da idade dela.

A vida de crimes do homem não a


amedrontou. O homem cruel e grosseiro com os
outros era charmoso e encantador com ela. Dava-
lhe presentes, levava-a para passear...

Foi assim que caiu na mais antiga falácia

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romântica de todas: a de que uma mulher pode


transformar um homem, mexer com seus
escrúpulos, modificar sua índole. Ah, soubesse a
pequena Justine que caráter não se muda, que
essência é algo que trazemos da alma, talvez ela
não tivesse trocado um segundo olhar com Antony.

Todavia, a verdade só veio realmente quando


percebeu que estava grávida. Ali, o caráter de
Antony ficou explícito.

O seu charmoso príncipe encantado badboy


agora era um homem repulsivo. Não lhe pediu que
abortasse, ordenou que matasse o bebê ainda no
ventre. Quando ela se recusou, ele agiu como quase
todos os cafajestes: negou que a criança fosse sua.

Justine nunca havia se deitado com outro


homem, mas recolheu sua dignidade e sumiu da
vida de Antony. Não que tivesse para onde ir, a
própria família a expulsou quando a perceberam de
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barriga a crescer.

Assim, passou a dormir num quartinho


alugado e a trabalhar como empregada aqui e acolá,
mas conseguiu parir e criar a filha, até que Antony
Foster retornasse a sua vida da pior maneira
possível.

Os Estados Unidos estavam passando por um


momento de intensa violência e miséria. Assim, a
Lei estava de olho naqueles que poderiam estar
alimentando a velha máquina da indignidade.

Foster percebeu que havia olhos grandes em


cima de si, e decidiu eliminar qualquer pista que
chegasse ao seu nome. Matou velhos comparsas,
prostitutas e, por fim, percebeu que ainda havia
alguém vivo que poderia delatá-lo as autoridades.

Não foi difícil encontrar Justine. Ela


costumava trabalhar em casas ricas pela cidade,

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mas, quando não conseguia trabalho, para não


deixar a pirralha na qual dera a luz passar fome,
prostitui-se por comida.

Um dos seus homens dormiu com ela.


Indicou-lhe o endereço. Numa madrugada, reuniu
dois comparsas de sua confiança e partiu em
direção à casa.

Tentaram ser discretos. Chamar a atenção


não era do seu interesse. Quando bateu na porta
daquele casebre, esperou pacientemente que a vadia
viesse abrir. Ela quase gritou quando o viu. Mas,
tão logo uma réstia de espaço surgiu no vão, eles a
empurraram e entraram na casa.

Lá, o som ficou restrito ao ambiente. Logo,


Antony viu uma pequena e feminina miniatura de si
mesmo o encarando com horror, enquanto corria
para a mãe.

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Um dos homens fez menção de bater na


garotinha.

— Não toquem na menina. Ela é minha filha


— avisou.

Depois, puxou a garota e a levou dali.


Aproximavam-se do carro quando o som único de
um disparo fez a criança desejar correr de volta
para a casa.

Segurou-a com firmeza.

— Você tem sorte — murmurou. — Vai ter


um futuro. Vou te levar para um lugar onde
receberá educação. Devia me agradecer por te
livrar daquela puta.

Jessica nunca pôde se despedir da mãe e


dizer o quanto a amava. E tudo por culpa daquele
maldito que, percebeu depois, era seu pai.

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O ódio nunca nasce de forma arrebatadora. É


algo cultivado, começa com a dor da perda, a
solidão e, por fim, passa a nutrir a alma pelo desejo
de vingança àquele que causou tanta amargura.

Jessica não odiava Deus, nem a igreja, nem


as freiras que a educaram. Nem padre Tom, apesar
de odiar a maneira como ele tratava Antony Foster
por conta do poder que o homem exercia em
Chicago.

Ela apenas não aceitava que a vida – injusta –


celebrava um bandido enquanto alguém como a
mãe fora massacrada e tirada da filha em tão pouca
idade.
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O pai veio vê-la umas duas vezes, naqueles


anos que se passaram no convento. Ela se recusava
a olhar para sua cara, mas sentia que sua voz
adentrava sua alma e fervilhava sua necessidade de
vingança.

Falou disso um dia, ao padre, que achou que


estivesse dominada por demônios. Afinal, na ideia
de todos o pai a tirou de uma mãe puta e a levou a
uma vida decente e honrosa. E Jessica sabia, de
alguma forma, que se falasse a verdade sobre
aquele ato, também seria vítima, mesmo sendo a
filha do homem.

Os anos passaram.

As penitências eram sempre aplicadas com o


intuito de fazê-la limpar sua alma, tornando-a
própria para Deus.

Mas, Jessica não desejava perdão. Nem para

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ela, nem para o pai. Queria justiça. Queria que ele


tivesse o mesmo fim de Justine.

E então ela parou de orar por perdão, e


passou a rezar por possibilidades. Chances de
deixar o convento. Chances de conseguir uma
arma. Chances de atirar na cabeça de Antony
Foster.

Chances...

Não sabia nada da vida. Mas, sabia o que


aquele espírito vingador em sua cerne lhe
inflamava.

Não importava o destino se ela tivesse a


chance de cumprir com seu desejado. Se, após
matá-lo tudo que lhe restasse fosse enfiar o cano do
revólver na boca e atirar, estava tudo bem. Tudo
valia a pena, se ela pudesse destruí-lo.

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Ela acordava às cinco horas da manhã para a


primeira oração do dia.

E, naquele dia em especial, padre Tom


parecia muito amistoso ao celebrar a missa.

— O Nobre Experimento mudará nosso país


— disse.

Houve um sonoro amém.

Jessica imaginou do que se tratava aquele


assunto, mas logo percebeu ser a tal Lei Seca que
as freiras murmuravam entre si durante o almoço.

Naquele clima hostil pelo país, o Congresso


havia aprovado uma emenda que proibia a
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fabricação, transporte e venda de bebidas alcoólicas


por todo o país. Era, obviamente, uma medida
desesperada para evitar a onda de crimes que
inundava o país e, em especial, Chicago.

Padre Tom era contra as bebidas. Mesmo o


vinho, ele apenas bebericava por obrigação.

— Álcool atrai demônios — ele disse, certa


vez, e agora repetia. — Isso prova que Deus olha
com carinho para nosso país e que nossos
congressistas estão dispostos a cumprir a vontade
do Nosso Senhor.

Jessica começou a pensar se homens como


Antony Foster bebiam. E se, caso bebessem, iriam
parar de usufruir das bebidas por causa de Deus ou
dos políticos.

Com certeza, Antony Foster daria o seu


jeito...

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O que ela não imaginava é que o jeito do pai


seria tornar-se um dos maiores contrabandistas de
bebidas destiladas durante o tempo da Lei Seca.

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Capítulo 03

“...não sabendo, porém, que animal


perverso era ele, não sentiu medo.”
Irmãos Grimm

Borbulhas explodiam na água marrom, suja,


daquele bar clandestino ao sul de Chicago.

A água estava dentro do uma grande tina de


madeira que os trabalhadores de uma das fábricas
usavam para limpar as mãos. O ambiente, já vazio
pela madrugada que adentrava, só mantinha ali o
homem que se afogava e os outros cinco homens da
gangue Bennet que o torturavam.

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Dylan assentiu para Thomas, um dos seus


homens. O homem foi retirado da água, em choque,
respirando fundo, buscando oxigênio.

— Ainda não tem nada a me dizer? — Dylan


indagou.

O dono do bar negociava há anos com


Antony Foster. Se alguém soubesse algum podre do
homem, era ele.

— O Sr. Foster matou todos que sabiam


demais.

— Sério? — O idiota falava como se Dylan


não soubesse. — Mas, eu não preciso de nada
escandaloso ou ilegal. Apenas alguma informação
simples, como se ele tem alguma amante favorita,
ou algum filho fora do mundo do crime.

— Mas, eu não sei de nada.

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Dylan assentiu novamente, e Thomas voltou


a enfiar a cabeça do homem na água.

— Não acho que Foster tenha algum segredo


— Harold murmurou sobre seus ombros.

— É melhor que tenha ou então ele vai


morrer — apontou para o afogado.

Novamente, o corpo voltou à superfície. Uma


breve pausa para que o homem recuperasse o
fôlego. Dylan, calmamente, puxou um charuto e o
acendeu.

— Nós podíamos ficar a noite toda aqui, mas


estou cansado — avisou. — Por que não diz logo o
que sabe e eu o deixo viver? — O outro fez menção
de retrucar, mas Dylan o interceptou com a palma
da mão ereta. — Por favor, não insista na ideia de
que Foster é homem sem passado sujo. Eu sei que
ele mandou matar uma cambada de gente anos

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atrás, para esconder segredos.

— Antony Foster vai me matar — o outro


apontou.

— E o que acha que eu farei contigo se ficar


se fazendo de desentendido?

Outro breve silêncio. Quando Thomas fez


menção de levá-lo novamente à água, o homem
ergueu as mãos, rendido.

— Ele tem uma filha — informou. — Poucas


pessoas sabem disso, além de alguns homens de
confiança do clã.

— E você sabe como?

— O sobrinho dele contou, durante uma


bebedeira, que ficou bem interessado na garota,
mas o tio vedou. Disse que, ao menos com ela, quer
fazer algo bom.

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— Como assim?

— Deixou-a para ser criada pelas freiras.


Quando concluir seus estudos, irá para a faculdade.
Lhe dará uma casa, e um começo de vida.

Dylan fez outro sinal com a fronte e Thomas


largou o homem.

— Matá-lo? — o empregado indagou.

— Sou um homem de palavra. Se ele me deu


a dele, e disse a verdade, viverá. — Volveu-se para
Harold. — Descubra tudo sobre essa garota.

Quando o grupo entrou no veículo preto


parado na esquina, o dono do bar entrou
rapidamente para dentro de seu estabelecimento,
arrumou suas coisas e nunca mais foi visto.

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Harold sabia que precisava levantar


informações sobre a tal filha do homem poderoso,
ou Dylan faria aquilo com seus métodos cruéis.

Eis um fato, caro leitor, que ainda não lhes


narrei: Harold Dayley não era um delinquente
como seu obstinado chefe. Na verdade, o homem
de pele escura e modos polidos teria sido um bom
pastor em alguma congregação, ou um bom
empregado, pai de família, em outra cidade, caso a
vida não o houvesse levado até seu inevitável
destino: Dylan.

O amor que nutria pelo irmão era o causador


de seus erros. Ele sabia disso. Ele pedia perdão a
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Deus todas as noites por isso. Contudo, mesmo


ciente dos pecados praticados, ele não podia
simplesmente abandonar Dylan.

Eles não tinham o mesmo sangue, mas


tinham a mesma alma. E Harold respirava pelo
irmão. Morreria pelo irmão. A vida ainda custaria
caro por conta daquilo.

Ele pensava nisso quando se deparou, numa


rua escura, com alguns baderneiros a perseguirem
uma mulata pequena e bonita, que choramingava de
medo e tentava livrar-se das mãos dos homens.

— Ei! — gritou, avançando.

Logo os homens se afastaram. As


vestimentas de Harold causavam medo em
qualquer um na cidade de Chicago.

— Você está bem? — indagou a moça.

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Só então a observou mais atentamente. Céus,


era linda... Apesar das vestes simples e dos olhos
molhados pelas lágrimas, era uma beldade de virar
a cabeça de qualquer vivente.

— O que uma moça como você faz nesse


lado da cidade? — questionou.

Tirou o casaco, colocou sobre os ombros


frágeis.

— Buscava trabalho, senhor.

Até a voz dela era doce...

— Como se chama?

— Mary.

— Eu tenho trabalho para você — avisou, de


súbito, sem pensar. — Sabe cozinhar?

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— Jessica Foster — Harold entregou a ele


uma pasta com documentos relacionados à garota.
— Nasceu em janeiro de 1902. A mãe era uma
menina, basicamente. Foi morta alguns anos
depois, acerto de contas entre gangues. Antony
Foster a adotou legalmente – contudo,
discretamente –, e a encaminhou ao convento
Sagrado Coração. O padre Tom tem a tutela da
garota.

— E como ela é?

— A vi de longe — Harold murmurou. —

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Mas, é uma jovem normal. Bonita, até. Cabelos


escuros, olhos azuis, típica ítalo-americana. O
temperamento, creio eu, deve ser doce e delicado,
pois foi criada dentro de um convento.

Naquele palacete ao leste de Chicago, agora


Dylan Bennet conseguia ver exatamente quais
seriam os próximos passos de sua vida.

— E qual é a da nova cozinheira? — brincou.

— A moça procurava trabalho.

— Muitos procuram. Mas, poucos têm a


sorte de encontrarem um cavalheiro como você.

Harold não conseguia esconder o sorriso


animador.

— Quem sabe... Um dia... — murmurou.

Um dia poderia ser um pastor ou um simples


pai de família. Talvez a jovem Mary estivesse ali

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por um propósito.

Que Deus o permitisse sonhar...

Foster era tão confiante em seu poder na


cidade que o Convento não tinha sequer um único
guarda a manter sua filha protegida.

Assim, não foi difícil para os homens


entrarem. Numa madrugada fria de inverno,
enquanto uma das madres preparava o altar para as
rezas da madrugada, Harold a rendeu.

— Pelo amor de Deus, isso é um convento.


Respeite Nosso Senhor! — A mulher buscava
dignidade no homem negro, mas não a encontrou.
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— Jessica Foster, madre? Onde está? —


Harold indagou.

— O que deseja com Jessica?

— Não importa à senhora. Diga-me onde ela


está e ninguém irá se machucar.

— Segunda torre, cela B. Você tem vinte


minutos. Depois disso, o sino irá soar para as rezas
— Harold avisou ao amigo.

Dylan assentiu.

— E a freira?

— Lhe bati com a coronha da arma. Mas, não

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ficará desacordada por muito tempo.

Outro aceno.

— Saíam daqui e deixem o carro ligado. Em


breve irei até vocês.

— Não precisa se arriscar, senhor — Thomas


murmurou. — Eu posso fazer isso.

— Tudo que se trata de Foster, eu quero


fazer pessoalmente.

Diante disso os homens saíram do convento.


Dylan seguiu na direção correta, e logo estava no
corredor que indicava as celas das noviças.

Percebeu as letras de identificação nas portas


e, na segunda, entrou.

Apesar do breu, logo a percebeu. Cabelos


longos e escuros contrastando com a fronha
branquíssima. Dormia como um anjo, serena, alheia

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ao mal que espreitava.

Ela remexeu-se e ele lhe apontou a arma.


Repentinamente, matá-la parecia má ideia. Ter uma
refém com a qual Foster pudesse se importar era
algo precioso.

Um manto escarlate caiu sobre sua face, com


a virada do corpo no leito. Era frio, ela parecia
buscar se aquecer melhor com as poucas cobertas.

Dylan sorriu, aproximando-se da cama.

— Acorde... Acorde chapeuzinho vermelho.

A moça pareceu um tanto confusa, mas logo


arregalou os olhos ao perceber o cano gelado do
colt sobre sua bochecha.

— Cobertas vermelhas? Lembra-me de a


história do lobo mau — ele brincou. — Não precisa
se assustar, apenas quero devorá-la um pouquinho,

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chapeuzinho.

Repentinamente, a coisa mais surpreendente


do mundo arrebatou todo o ambiente. A voz lúcida,
fria e racional da mulher ficou audível.

— Você acha que eu sou a presa? A vítima?


A chapeuzinho? — ela riu baixo. — Eu sou o
caçador.

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Capítulo 04

"Esta menina delicada


é um quitute delicioso”.
Irmãos Grimm

— Acha necessário amordaçar uma noviça?

Dylan Bennet encarou o amigo com o olhar


assombrado. Harold não fazia ideia do demônio de
aparência frágil que estava diante deles.

— Noviça? Só se for do diabo.

— Não blasfeme.

— Sequer se assustou em ver um homem


armado em seu quarto — objetou. — Depois, ainda
me ameaçou com palavras um tanto
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desconfortantes. Não nega a raça. É bem filha de


Antony Foster.

A mulher gemeu e se chacoalhou na cama,


parecia ansiosa para falar. Mas, nenhum dos
homens moveu-se para soltá-la.

— Está presa nesse quarto, nessa mansão


fora da cidade, cercada por seus homens. Por que
mantê-la amarrada? Ao menos podemos lhe dar
uma estadia decente.

As palavras pareciam incoerentes ao Bennet.

— É a filha de Foster!

— É uma moça criada em um convento.


Quiçá, sequer sabe o que o pai faz.

— É o mesmo sangue podre.

— Ainda assim nada fez para isso.

Dylan ergueu as mãos, derrotado. Era difícil


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competir numa guerra verbal com o melhor amigo.

Caminhou para próximo da janela e observou


o movimento do sol que nascia enquanto Harold
soltava a mordaça da moça.

— Então, prenderam-me por causa de


Foster? — ela indagou.

— Você não tem a doçura das freiras —


Dylan deixou a janela e volveu-se para ela. Aquela
constatação o incomodava.

— Porque não o sou.

— Mas, foi criada num convento.

— Uma interna — explicou. — Que teve que


viver a vida pelos olhos de outras jovens que lá
estiveram. E aprendi o que pude enquanto isso.

Os dois homens se encararam.

— Querem Antony Foster, não é? — ela


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indagou.

Dylan passeou os olhos pelo corpo bonito e


atraente. O olhar azul era vívido como o fogo do
fogão. Ela estava enrubescida; todavia, aquele
vermelhidão não aparentava raiva.

— Sim, eu quero o maldito.

— Então me solte. Dê-me uma arma. Diga-


me onde ele está e deixe-me fazer o serviço.

O olhar do bandido apertou-se, diante da


frase enigmática.

— É seu pai.

— Sim, é meu pai. Acredito que conseguirei


entrar em sua casa e me aproximar para matá-lo.

Dylan riu. Era um blefe, tinha certeza.

— E por que mataria o homem que te deu


tudo?
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— E o que ele me deu, branco? — ela


indagou, enojada.

— Teto, educação — o outro homem da sala


respondeu. — O que se espera de um pai.

— Cale a boca, preto — devolveu. — Não


sabe de nada!

Dylan caminhou reto até a cama. Afundou o


joelho nas cobertas e segurou a garganta da mulher
com força. Mesmo assim, não viu medo.

— Não fale assim com ele — murmurou.

Soltou-a. Jessica Foster tossiu antes de


retrucar.

— E como vou chamá-lo, branco? Não


fomos apresentados.

Maldita!

Por que não choramingava? Por que não


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aparentava o mínimo respeito ou temor?

— Eu sou Harold e ele é Dylan — o amigo


respondeu.

— Harold! — ralhou. — Não diga a ela!

— Não vê o óbvio, amigo? — indagou. —


Não percebe o ódio?

— É uma encenação para ser solta.

Jessica riu. Ela tinha uma risada tão falsa


quando a própria. Dylan arrepiou-se com o fato.
Quando planejou pegar a garota, preparou-se para
uma indefesa e amedrontada noviça. Mas, diante
dele estava um furacão.

Voltou a aproximar-se da cama. Queria ver o


medo naquele olhar. Queria que ela o temesse,
porque isso ajudaria em seus planos. Então,
escorregou a mão pela perna pálida, erguendo a

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saia levemente.

— Talvez eu devesse fodê-la e depois


entregá-la a meus homens? — murmurou a ameaça,
e preparou-se para o choro e as súplicas.

Mas, nada mudou. Estava diante de um


iceberg.

— Acha que pode me ameaçar? Amedrontar-


me? Você não tem nada para tirar de mim, porque
nada restou depois de Antony Foster.

Dylan ficou sobressaltado diante da frase. No


entanto, nada disse. Sendo segurado no braço por
Harold, ele deixou o quarto.

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— Jessica Foster — Harold murmurou.


Diante dele, Dylan servia conhaque em pequenos
copos. — Parece ser uma jovem muito forte.

— Interpretação — contrapôs.

— Não sei — o outro negou com a face. —


Parece odiar o tal Foster mais que você.

— É o pai dela — ironizou. Depois, estendeu


o copo ao amigo. — Provavelmente, quer nos
enganar.

Charutos foram acesos. Cada qual parecia


meditar diante da situação que acabara de ocorrer.

— Me perdoe, irmão — Harold murmurou.


— Mas a achei estranhamente franca e sincera.

— Está defendendo aquela mulher?

— Sabe a hora que ela me chamou de preto?


Não senti o repúdio ou a ofensa nas palavras. Era

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uma característica. Ora, é minha cor. E você é


branco. Ela não sabia nossos nomes, então nos
chamou pelo que nos definiu. Usou a mesma
entonação quando falou do pai.

— Quer dizer o quê com isso?

— Que talvez não esteja mentindo.

Dylan recusou o óbvio.

— O que importa? Ainda temos que


descobrirmos onde está Foster e avisá-lo que
estamos com sua filha.

— Sim, até porque ele não veio vingar o


sobrinho...

Subitamente, um sorriso maquiavélico no


rosto do pele clara. Harold arqueou as
sobrancelhas.

— O que pensa?

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— Em testar a nossa prisioneira.

Houve novamente um breve silêncio.

— Não lhe disse antes, mas o advertirei


agora. Não concordo com estupros.

— E quem precisa estuprar uma mulher


quando se tem um monte de meretrizes a lhe servir
por um bom dinheiro? — devolveu. — Agora, vá
buscar informações sobre a filha de Foster. Quero
saber tudo sobre a mãe, família ou qualquer outra
coisa relevante.

O outro assentiu e levantou-se rapidamente.


Apesar de serem irmãos de alma, Dylan ainda era
seu chefe.

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— Aonde vamos?

A pergunta de Madison, uma das jovens


cortesãs que serviam aos homens do clã Bennet, era
coerente. Quando a chamou naquela tarde para lhe
afagar o ego masculino, a jovem loira aspirante à
atriz que se perdeu no mundo da prostituição e das
drogas imaginou que Dylan a levaria ao próprio
quarto.

Contudo, ele seguia em direção ao outro


corredor da casa.

— Diga-me, bela Madison, você se


incomoda com plateia?

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A pergunta seguiu-se ao abrir de uma porta.


No fundo do quarto, uma jovem estava presa em
uma cama. As mãos e as pernas bem firmes em
cordas que iam até a cabeceira. O olhar dela era frio
e irrequieto.

Madison percebeu a roupa simples de dormir,


e quis rebelar-se contra algo tão asqueroso. Mas,
como uma Moll, uma mulher de bandido, ela tinha
que aquiescer e aceitar o que viesse.

Jessica percebeu o horror da jovem ao vê-la


presa. Mesmo assim, aquela pequena loira de olhos
verdes não pestanejou ao entrar no quarto.

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Estava bem vestida. Escandalosamente bem


vestida.

O vestido preto, de tranças nas pontas, era


acima do joelho. Jessica nem sabia que mulheres
podiam mostrar os joelhos! Ela usava colares largos
que chegavam ao peito. Uma tiara com uma pena
colorida adornava seus cachos claros.

— Jessica Foster, essa é Madison. — O


homem que se dizia Dylan as apresentou. —
Madison veio te mostrar como uma dama deve se
portar.

As palavras pareciam estranhas, mas Jessica


havia dito, desde o primeiro instante que o viu
armado em seu quarto, de que não pestanejaria nem
se amedrontaria.

Aquela raça maldita que vestia ternos caros e


escuros, chapéus fedora, e sapatos de couro preto,

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era da laia de seu pai. Nenhum deles lhe


acovardaria.

Dylan ergueu a saia de Madison, e Jessica foi


capaz de ver a cinta liga escura. Nunca havia visto
outra mulher em roupa de baixo, mas não se
assustou. Não era muito diferente dela mesma.

— Você já viu um pau? — Dylan indagou,


abrindo a braguilha da calça.

Se ele imaginou que ela fecharia os olhos e


se esconderia em lágrimas, estava muito enganado.
Ela só chorava pela mãe. De resto, a raça humana
imunda e podre não lhe transmitia nada.

Então, ele pegou aquele pedaço de carne


duro e ereto e o levou até as nádegas de Madison.

A mulher a observou. Viu as lágrimas.


Percebeu que doeu quando ele enfiou-se nela (onde
diabos ele havia colocado?), e ficou com pena.
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Mas, não retrocedeu. Não transmitiu nada.


Ficou firme e fria.

Que ele fizesse o que quisesse, porque dela


não teria nada.

Todavia, o ato foi interrompido por um


estrondo na parte inferior da casa.

Dylan logo puxou seu membro para dentro


das calças e pegou o revólver do casaco.

— Fique aqui — ordenou a Madison, que


ajeitava as calçolas e choramingava.

Estava com medo. De quê?

Quando Dylan sumiu, Jessica lhe chamou.

— Ei, Madison, não é?

A loira assentiu.

— Madison, preciso que me solte — pediu.

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A mulher parecia em dúvida. Nitidamente,


ela queria isso, mas sabia das consequências.

— Ele vai me matar.

— Talvez ele não volte do que quer que for


que esteja ocorrendo lá embaixo. Mas, nós temos
uma chance. Solte-me e eu cuido de você.

Era como se aquelas fossem as únicas


palavras que Madison esperasse ouvir em toda a
sua vida.

Puxando um pequeno canivete do sutiã, ela


correu até as cordas.

Era um silêncio estranho depois de estrondos


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que lembravam tiros. Dylan preparou a arma e


seguiu em passos vagarosos pelo corredor,
aguardando pela emboscada. Desde que armara
para sabotar o contrabando de Foster, aguardava
retaliação, mas imaginou que ela viria mais rápida e
na cidade. Poucas pessoas sabiam daquele refúgio
próximo ao lado Michigan. Além disso, a
emboscada ocorrera há semanas, e só então o velho
vinha até ele?

Se só surgia agora, era porque alguém já


delatara que ele estava com sua filha.

Subitamente, uma dor forte as costas. Caiu


no chão. A arma voou longe, e ele tentou
engatinhar rápido para chegar até ela.

Infelizmente, foi pego no caminho. Três


chutes nas costelas e Dylan perdeu o ar.

— Esperei que aquele preto saísse com

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metade dos seus homens e então ataquei. — A voz


era de David Foster, sobrinho de seu inimigo. —
Acha que ficaria impune a vergonha que me fez
passar diante do meu tio?

Então, o homem não estava ali por Jessica?

— E onde está Antony Foster? — indagou,


gemendo. — É tão covarde que não veio
pessoalmente reclamar sua mercadoria perdida?

— Ele não se preocupa com lixos como você


— devolveu.

— Ou talvez ele não aprove seu ataque


suicida. Sabe bem que estou praticamente sozinho
na casa, e quando meus homens souberem que veio
até aqui, você será o alvo perfeito de Harold.

Outros dois chutes.

— Filho da puta! Merece morrer pelo que fez

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a Família Foster!

Mais chutes. Dylan sentiu os olhos


escurecerem. Iria desmaiar pela dor. O desgraçado
talvez houvesse quebrado uma de suas costelas.

Mas, subitamente o ataque cessou. Percebeu


David caindo diante dele. Só então a visão lhe
confirmou Jessica com um martelo na mão. Atrás
dela, Madison estava em choque.

— Então você é um Foster? — a mulher


indagou.

Um tanto zonzo, David ainda teve tempo de


perguntar:

— Sim, um Foster. E você, quem é?

— Aquela que vai banir seu sangue da face


da terra.

Madison gritou quando as marteladas

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começaram a romper o crânio de David. Pedaços de


pele e cérebro respingaram pela parede. O sangue
escorregava, atingindo os ocupantes daquele
corredor estreito.

Assombrado, Dylan foi adquirindo as forças,


erguendo-se, enquanto via Jessica martelando a
cabeça do primo.

E só naquele momento soube que Harold


estava certo. Ela odiava Antony Foster mais que
tudo.

Então, quando mais nada restava além de


pedaços de um corpo estirado no chão, ela volveu
seu olhar para ele. Estava coberta pelo tom rubro
do sangue, mas o olhar azul estava mais vívido que
nunca.

— E então? Acredita em mim agora?

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Capítulo 05

“Olha, Chapeuzinho Vermelho,


que lindas flores!”
Irmãos Grimm

— Meu Deus do céu — Harold murmurou ao


verificar o corpo.

Aquele era um ataque puramente emocional.


Jessica Foster era praticamente uma psicopata
quando se tratava da família. Ao descobrir o que
ocorrera com sua mãe, ele conseguia entender os
motivos.

— As demais pessoas da casa estão bem?

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Dylan gemeu enquanto Madison apertava


uma atadura em seu torso.

— Fala da cozinheira? Ela estava na horta


quando aconteceu o ataque e não sabe de nada. Deu
muita sorte.

— Como descobriram onde estávamos?

— Alguém deu com a língua nos dentes, mas


isso não importa mais. Por que me preocuparei com
o pai, se a filha é uma máquina de guerra afogada
em raiva?

A frase seguiu-se de um riso irônico. Harold


não gostou daquilo.

— O que pensa em fazer, agora?

— Ora, irmão. Vamos ver com Jessica qual é


a vontade dela.

No fundo do corredor, Thomas, um dos seus

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capangas, surgiu.

— Livre-se desse lixo — Dylan ordenou ao


homem, apontando o cadáver estripado. — E você
— apontou Madison —, venha comigo.

Harold também os seguiu. Logo chegaram a


um quarto. Quando entraram, depararam-se com
Jessica nua, deitada em uma banheira, limpando-se
do sangue que havia manchado todo seu corpo.

Harold quis sair do quarto, mas a voz


feminina o interceptou.

— Não fique acanhado. Acredito que não sou


a primeira mulher nua que você já viu.

O homem negro encarou o outro. Percebeu o


sorriso de Dylan. Notou que estava deslumbrado.

— Não é adequado — murmurou.

— Seu amigo já me mostrou o pau dele —

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Jessica retrucou. — Bom, não sei se é esse o nome,


mas foi assim que ele chamou o treco feio que tem
no meio das pernas.

Uma gargalhada. Dylan parecia estar


divertindo-se como nunca naquela experiência. E
era realmente algo único. Jamais imaginariam que
uma jovem criada entre feiras fosse tão avessa as
formalidades sociais.

Contudo, o que ela disse enervou o negro.

— Você tentou...? — Harold começou, mas


foi interceptado.

— Não, não a estuprei nem forcei. Estava


apenas tendo um momento com nossa pequena e
doce Madison. — Puxou a loira contra si. — Aliás,
é por isso que está aqui, querida. — observou,
acariciando um tanto agressivamente a face da
loira. — Por que a soltou quando deixei claro que

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não devia fazê-lo?

Claramente, Madison ficou desesperada. O


aperto das mãos masculinas em seu corpo deixou-a
incapacitada de lutar por si. Até porque, de que
adiantava? Mulheres como ela sempre eram mortas
quando erravam ou quando não despertavam mais
interesse.

— Acho melhor você soltá-la — ouviu a voz


da outra mulher.

Seus olhos observaram Jessica Foster


erguendo-se da banheira, nua, completamente
inocente de sua sensualidade latente, mas enervada
ao ponto de lutar por sua vida.

— Você sabe do que sou capaz — Jessica


murmurou. — Me quer como inimiga? — Depois
observou Madison carinhosamente. — Salvei sua
vida, me deve isso. Dei-me a loira de presente.

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Dylan mal conseguia respirar. Havia algo


naquela mulher que eclodia nele. Era como um
espelho. Havia a raiva, o ódio. Mas também havia
uma gana especial que lhes permitia acordar toda
manhã, e buscar seu propósito.

Atirou Madison contra Jessica, que a


abraçou, consolando-a.

— Eu disse que cuidaria de você — A


morena murmurou contra seus cabelos macios.

E tinha palavra, Madison percebeu.

— Agora saía, amor — Jessica ordenou. —


Tenho que falar com os homens.

Enquanto a loira se afastava, Harold


aproximou-se de uma toalha e a estendeu a Jessica.
Eles a esperaram pacientemente secar-se e vestir-
se.

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O homem soube naquele instante que cada


momento de suas vidas estaria interligado a
vontade dela.

Jessica sugou a fumaça da piteira e aspirou


pausadamente à sensação agradável do cigarro.
Enfim, compreendeu naquele instante que gostava
de fumar. E de beber. O amargor do álcool pareceu
aquecer sua alma gélida.

— Então, essa é sua mãe — Dylan lhe


estendeu uma fotografia.

Foi estranho vê-la, após tantos anos. Justine


ainda era exatamente como em suas lembranças.

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Muitas das recordações de Jessica perderam-se no


tempo, mas Justine permaneceu.

— Meu único amor — ela murmurou,


buscando a foto e beijando-a gentilmente.

— Encontrei uma tia-avó sua — Harold


contou. — Ela não tem interesse em conhecer você,
mas ao menos contou-me sua história. O que sabe
de si?

— Apenas que minha mãe era a mulher mais


maravilhosa do mundo, e que foi tirada de mim
muito cedo.

Harold assentiu.

— Justine, sua mãe, era filha de um


empregado da fábrica. Pertencia a uma boa família
cristã. Ela era uma moça muito decente e honrada,
mas caiu na lábia de Antony Foster. Os pais a
avisaram que o homem não prestava, mas,
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provavelmente pela pouca idade, não percebeu o


risco. Foi deixada assim que ficou grávida.

Dylan observou Jessica. Naquele instante,


curto e breve, ela não era uma fera ferida. Agora,
era apenas uma garotinha ouvindo histórias que
desconhecia.

— Os pais exigiram que ela tirasse o bebê,


mas Justine se recusou. A sua tia-avó disse que ela
preferiu limpar penicos e vender o corpo para
sustentar a filha, a matá-la.

— Minha mãe era uma puta? — Jessica


sorriu. — Não me surpreende. Eu lembro que, às
vezes, eu tinha fome, ela saía por algumas horas e
me trazia comida sem explicar como conseguiu.

— Minha mãe também era puta — Dylan a


surpreendeu. Não esperava que ele fosse ser
compreensível com ela. — Mas, era a mulher mais

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incrível do mundo.

Trocaram sorrisos. Almas se reconhecendo


após tanto tempo.

— Mas, essa vida não é segura, e então um


dia ela envolveu-se numa briga de gangues e...

— Isso é o que disseram a você? — Jessica o


interrompeu.

Harold assentiu.

— É a história oficial.

Jessica riu.

— Meu pai a matou. Seus homens me


matariam também, mas ele disse que eu era sua
filha, e me levou da casa onde morávamos. Não me
deixou sequer despedir-me de minha mãe.

Os dois ficaram chocados.

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— Eu nunca soube direito porque ele fez


isso, e também não me importa. Tudo que me
lembro dele é o maldito dizendo que eu devia ser
grata por ele ter me tirado daquela vida. Depois,
algumas visitas curtas no convento onde exigia que
eu lhe pedisse sua benção.

Ali estava, toda a razão para aquela raiva.

— E você pedia? — Dylan perguntou.

Não que importasse, mas estava curioso. Ela


era estranhamente corajosa e inconsequente.

— Não.

— E o que acontecia por se recusar?

— Castigos — murmurou. — Castigos dados


pelo padre por conta de minha alma perturbada. —
Jessica tragou novamente. — Não importa mais. O
padre não estava errado, eu sempre soube que havia

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algo maligno em mim. E tive muito tempo para


marinar esse ódio no convento.

Dylan acreditava nela.

— Não sei o que planejam contra Antony


Foster, mas estou dentro. Serei de grande ajuda,
pode acreditar.

Dylan sabia. E mesmo que não o soubesse,


ele já estava conectado a ela.

Ela havia arrumado os cabelos num coque


baixo e bonito. Era elegante, naquela roupa
socialmente discreta. Um bege claro que
contrastava com os cabelos negros como a noite.
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Os sapatos de saltos altos denotavam sua


figura pueril. Dylan não evitou o suspiro ao vê-la
vestida de forma impecável pela primeira vez.

Estavam numa área aberta, usada para


treinamento de tiro. Se Jessica Foster faria parte de
sua gangue, ela tinha que saber se defender
sozinha.

— Eu gosto de navalhas — ela comentou,


assim que ele lhe estendeu calibre ponto trinta e
oito.

— E de martelos, eu reparei.

Não evitava mais sorrir em sua presença. Até


porque, ela sempre retribuía seu sorriso com outro
maior, mais afetuoso.

Volveu-se para o alvo. Apontou a arma.

Céus, estava louco por ela...

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Apertou o gatilho. No alvo. Na mosca.


Sempre foi bom de mira.

Volveu seu olhar à mulher. Percebeu sua


admiração.

— Já atirou antes?

— Eu aprendo rápido — ela murmurou.

Pegou a arma. Recebeu as instruções mais


básicas sobre preparo e repuxo. Por fim, disparou.

O estrondo doeu em seus ouvidos, mas ele


percebeu que Jessica permanecia segura. Todavia,
ela não havia sequer se aproximado do alvo.

— Imagine que é seu pai — murmurou


contra seus ouvidos.

O corpo dela estremeceu. Sentiu-se mole e


aquecida. O encarou. Houve alguns segundos em
que os olhos ficaram um vidrado no outro, até

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baixarem, aos lábios.

Ela também o queria...

Mas, Jessica não estava ali para flertar. Ela


tinha uma vingança para concretizar e sua raiva
parecia maior que a dele.

Voltou-se novamente para o alvo. Respirou


fundo.

Apertou o gatilho.

Na mosca!

— Nós não temos problema com a maioria


das famílias de Chicago — Harold comentou,

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enquanto limpava o cano Submachine marrom. —


A maioria fica restrita a sua área, e mantêm o
respeito. Existe um código que todos seguem — ele
comentou, repassando a ela a arma.

Jessica carregou a arma, e depois a entregou


a Madison, que a colocou em uma caixa.

— Código?

— Uma linha de regras que faz com que


possamos viver em relativa paz entre as gangues.

Ela riu. Viver em paz parecia algo muito


longe de uma vida em Chicago.

— Seja franco — Harold começou. — Não


prometa se não puder cumprir; Pagar as dívidas é
tão importante quanto cobrá-las; Respeite a casa
dos outros. — Depois, suspirou pesadamente. —
Não guarde ressentimentos — murmurou, por
último.
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— Seu chefe não parece muito disposto a


cumprir a última regra.

Harold assentiu.

— O velho Bennet sempre manteve sua


família, sua casa, seus homens sobre essas regras; e
sempre trabalhamos em sossego. Mas, Dylan... Ele
não consegue seguir isso. Nunca terá paz se não
obtiver sua vingança.

— Sorte a minha — ela riu. — E dele,


também. Alguns dos homens da gangue poderiam
querer a morte dele por causa disso, mas manteve a
lealdade dos Bennet.

— Não de todos — Harold murmurou. —


Essa casa em que estamos é um refúgio. Ninguém
devia saber sobre sua existência. Contudo, seu
primo a achou.

— Um traidor entre nós? — Harold percebeu


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a preocupação na voz feminina.

— Bom...

— Precisamos descobrir quem é, e matá-lo


— ela advertiu. — Não podemos permitir que nada
atrapalhe a vingança.

Céus, ela era uma versão feminina de Dylan.


Ele assustou-se com a semelhança.

— Amor — Jessica volveu-se para Madison.


— Vá preparar meu banho quente, por favor.

A mulher loira ergueu-se rapidamente,


deixando-a a sós com Harold.

— Você a trata com muito carinho — o


negro murmurou.

— Ela me ajudou num momento difícil


arriscando a própria vida. E eu lhe fiz uma
promessa. Eu cuidarei dela enquanto viver —

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objetou. — Mas, e quanto ao delator? Tem ideia de


quem possa ser?

— Não.

— E aquele tal de Thomas? Achei-o um


tanto estranho.

— Fiel como um cão — negou. — Todos da


casa o são. Dylan pode ser um homem estranho,
mas é justo e honrado com todos do clã. Ele
morreria por cada homem daqui, e sei que todos
também dariam a vida por ele.

Aquele tipo de unidade era estranho para


Jessica. Depois da mãe, ela nunca teve nenhum
vinculo.

— Agora, você é um de nós. Mataríamos por


você, também — Harold murmurou, a fazendo rir.

Esperava que nunca fosse preciso.

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Capítulo 06

“Que orelhas tão grandes tens!


- São para melhor te ouvir”.
Irmãos Grimm

— É sério, Bennet?

Dylan sorriu para John Brich, um capitão de


navio pirata que lhe trazia bebida contrabandeada
do México.

— Uma mulher?

O tom machista parecia não incomodar a


dupla que o encarava com torpor.

— Invejei Al Capone por ter tido a brilhante


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ideia de colocar Virginia Hill como contadora.


Mulheres são mais frias e honradas no andamento
dos negócios.

— Mas a sua dama não parece disposta a


mexer com números.

Jessica riu. Dylan não a observou, mas soube


que ela estava muito confortável em estar ali, numa
baía escura e perigosa, carregando nas mãos uma
Lupara.

— Mas ela sabe mexer, pode ter certeza.

Depois disso, homens surgiram carregando


caixas. Alguns dos homens de Dylan pegaram as
mesmas, abriram algumas, verificaram o conteúdo
e assentiram para o chefe.

Naquele instante, Dylan entregou uma maleta


cheia de dólares a John.

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— É sempre um prazer fazer negócio com


você, Bennet — o outro sorriu diante do dinheiro.

Era uma tarefa simples, não fosse tão


perigosa. Pegar a bebida em algum lugar secreto,
encher caminhões com ela de forma discreta, e
depois espalhar por bares clandestinos.

— Não é tão complicado assim — Jessica


murmurou.

Enquanto os homens se afastaram, Dylan


aproximou-se dela.

— Não há muitas mulheres no crime, não é?


— ela brincou.

— Há sim, mas a maioria é namorada dos


gângsteres. É raro uma que tem papel ativo sem
precisar de um homem para protegê-la.

— Que fofo. E você estava me protegendo?

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— ela brincou.

— Temos objetivos semelhantes — ele


concordou. — Ah, Jess... — murmurou seu nome
entre os dentes. Era delicioso. Ele adorava cada
parte dela. — Você é tão maravilhosa, sabia?

— Por que também quero a morte de Antony


Foster?

— Exatamente. É tão raro encontrar alguém


que entende minha raiva e me apoia. Mesmo
Harold tem suas dúvidas sobre minha vingança.

A mulher sabia que aquilo era verdade.

— Ainda temos tanto a trabalhar no plano,


não é mesmo? — indagou. — Sei que...

Sua fala foi interrompida por sirenes e apitos


da polícia. Novamente, alguém os havia dedurado.
Aquela rotina já estava incomodando Dylan

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demasiadamente.

Pensando rápido, Dylan ordenou aos homens


que se espalhassem. Perderiam a mercadoria, mas
não queria nenhum deles preso. O prejuízo ele
calcularia depois.

Puxou Jessica pelo braço e a levou até o


lugar mais escuro dali. Havia algumas salas
pesqueiras abertas, e ele a encostou contra uma
parede, enquanto protegia seu corpo com o próprio
e observava ao redor, com a arma em punho.

— Eu não preciso que me trate como uma


coitadinha — ela murmurou.

O hálito cálido fez seu sangue ferver.

— Ainda está em treinamento — disse, sua


boca muito perto da dela. — Quando estiver pronta,
será você a me proteger — brincou.

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Houve uma gritaria. Ordens para buscas.


Novamente, percebeu que precisava tirá-la dali.
Não queria que a pegassem. Se ele morresse ou
fosse preso, ainda teria a ela para concretizar a
vingança. Um dos dois tinha que chegar até
Antony.

Correram pelo labirinto de casebres até


chegarem a um bairro de pescadores.

Estava muito frio e um dos saltos de Jessica


havia quebrado. Estranhamente, ela não havia dito
nada mediante isso e permaneceu ereta, com um
dos pés erguido.

Era tão forte... Tão firme... Dylan teve a


sensação que desconhecia o medo.

A chuva intensificou-se. A água estava


gelada, então buscaram abrigo numa casa de pesca
abandonada. Lá, havia apenas um amontoado de

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lenha e moveis velhos empoeirados.

Dylan limpou um dos vidros da janela e


apoiou a pistola ali, à espera que fossem pegos.

Mas, não seriam. Não sabia, mas já haviam


se afastado bastante de onde a emboscada policial
ocorrera.

— Tem ciência de que alguém está nos


delatando, não é?

Dylan sabia que Jessica estava insistindo no


assunto com Harold. Ele mesmo estava
incomodado com esse pensamento. Confiava a vida
a seus homens.

— Entende que não posso arriscar minha


vingança? — ela indagou.

— Quer sair do clã Bennet? — ele devolveu.

Nem mesmo havia percebido o momento em

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que Jessica deixara de ser sua prisioneira e tornara-


se sua irmã de armas.

— Quero pegar o delator e matá-lo — ela


respondeu.

Ele riu, baixo.

— É tão surpreendente seu vocabulário.


Especialmente se levarmos em consideração que é
uma mulher criada num convento.

— Já lhe disse que marinei por anos em ódio


naquelas celas.

— Sim, você é perfeita — ele murmurou.

Lá fora, a chuva ficou mais forte. O ambiente


estava gelado. Dylan baixou a arma e observou a
madeira. Queria acender uma fogueira, mas a luz
poderia atrair a atenção.

— Como sairemos daqui?

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— Quando for seguro, iremos até uma das


minhas casas na cidade.

— Espero que não morramos de frio até lá —


ela gemeu. — Queria muito um cigarro.

— Você fuma demais.

— Acalma minha mente.

Ele podia entender aquilo. Também usava o


tabaco como uma droga mental.

Tirou o casaco e colocou sobre os ombros


dela.

— Pronto, Jess... Fique firme que logo estará


numa casa quentinha e confortável — disse baixo.

— Jess? Por que me chama assim?

— Eu gosto — ele confessou. — Gosto de


tudo em você.

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O tempo parecia passar vagarosamente


naquele cubículo sujo e fedido. Jessica observou os
restos de peixe jogados em um lado, e algumas
garrafas vazias de bebida em outro.

Largou a arma, e sentou-se em um banco que


parecia prestes a ruir.

— Por que não nos pegam de uma vez? —


reclamou.

— A vida no crime é um jogo de paciência,


querida — ele brincou. — Teremos sorte se a
policia desistir de nos caçar e escaparmos daqui.

— Tenho certeza que você tem bons


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advogados — ela ironizou a situação.

— Os melhores. Mas, não quero minha Jess


numa cela cheia de vagabundas que podem querer
tocar na sua pele. Isso é algo que eu quero
exclusividade.

— Quer?

Dylan sabia que ela não se intimidava por


desafios. Mas, quando agia assim, tão sedutora, ele
quase perdia a razão. E amor não era exatamente
algo que se podia vivenciar naquela vida maldita.

— Quando eu estava no convento, uma das


garotas comentou-me que foi beijada por um
namorado — Jessica contou. — Fiquei curiosa com
a experiência.

Ele riu.

— Céus, você é uma tentação. Mas, ainda

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tenho um pouco de juízo na minha cabeça.

Jessica suspirou, como se zangada pela


desfeita. Ora, ele a agradava. Era bonito de fazer as
mulheres olharem demasiadamente em sua direção.
Tinha os cabelos negros e o olhar intimidante.
Fazia as pernas dela tremerem.

— Devíamos viver a vida com toda a


intensidade que ela nos dá — Jessica avisou.

— Mesmo? Por quê?

— Porque é curta — foi direta e franca. —


Estamos prestes a matarmos Antony Foster. Mesmo
que sobrevivamos a emboscada contra ele, haverá
represaria. Ou talvez a polícia nos pegue. Quem
sabe nos pendurem em cordas, nos enforquem sem
piedade, ou nos eletrocutem enquanto fumam
charutos enormes e conversam sobre a missa de
domingo.

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Dylan sabia que ela tinha razão. Mas, sabia


igualmente que, caso avançasse, era um caminho
sem volta. Ela o faria perder a cabeça, esquecer sua
racionalidade, arriscar tudo. Ele sequer a tocara e já
não a tirava dos pensamentos.

— Não estou te pedindo em casamento —


Jessica ergueu-se. Caminhou até ele. — Estou te
pedindo um beijo. Sou tão feia assim?

— Jess — ele disse, não mais resistindo a


aproximar-se. — Não entende? Gosto de tudo em
você.

E então estendeu sua mão. Os olhos vidrados


um no outro. Os dedos tocaram o rosto feminino,
num carinho confortador. O polegar passeando pela
bochecha até chegar aos lábios. A boca abriu-se.

Ele agachou-se um pouco e quase a beijou.


Ouviu o gemido baixo dela, mas voltou atrás.

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Queria vê-la mais um pouco. Ainda a pura Jess.


Porque sabia que depois que se fundissem, ele a
corromperia como a tudo que tocava.

O dedo deslizou para o queixo. Os olhos


cravaram na boca. Voltaram ao olhar azul.
Subitamente, os dedos deixaram o rosto, e os dois
braços fortes e másculos a cercaram na cintura.

Dylan a puxou forte contra si. Ela gemeu


novamente. Estava trêmula. Ele tinha uma pegada
muito forte, ela sabia que jamais escaparia dali.

Os dedos masculinos apertaram sua nuca e


então ele a beijou. Não doce. Não delicadamente
como se devia a uma virgem. Ele a sugou com toda
a sua alma, apertando-a, deslizando a língua entre
seus dentes, lambendo sua boca, gemendo enquanto
sentia o próprio prazer feminino rebolando
discretamente contra seu ponto viril.

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Segurou o rosto de Jessica. Mordeu seus


lábios. Marcou-a. Chupou-a. Queria que ela
soubesse que era dele. Porque ele também era dela.

Mais sons sensuais. Os corpos esquentaram-


se rapidamente. O frio, a chuva, o vento forte que
batia naqueles vidros sujos ficou perdido nos
gemidos carnais que ecoavam pelas madeiras
podres.

Puxou-a para cima de si, a erguendo um


pouco, fazendo com que o corpo feminino
deslizasse pelo seu.

— Ah... — aquele som gutural escapou dos


lábios de Jessica.

Ela queria. Ele sabia. Mesmo que não


estivesse pronta, queria. E queria muito.

O casaco dela caiu no chão. As mãos geladas


do homem tocaram sua espinha por baixo da blusa
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clara.

O beijo parou. Encararam-se.

Ele a analisou. O olhar febril fê-lo volver a


boca. Um beijo gentil. Entretanto, Jessica queria
mais e agarrou seus cabelos, fundindo suas bocas
novamente.

Aquela mulher não era do tipo delicada,


definitivamente.

— Delícia — ele murmurou, voltando a


beijá-la.

Ele sentia os braços dela o apertando, suas


mãos deslizando pelos seus cabelos, puxando.

Era uma agonia de prazer.

A camisa foi arrancada. Ele pode ver o


corpete por baixo. Os seios bem firmes, lindos,
perfeitos. Já a havia visto nua, mas agora era

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diferente. Agora havia marcas de seus chupões por


toda a pele abaixo do pescoço.

As pernas vacilaram. Ambos caíram no chão,


de joelhos, um diante do outro.

Dylan deslizou as duas mãos nas coxas


femininas. Apertou-as, puxou-as contra si, abrindo-
as e derrubando Jessica para trás.

Ali estava ele. No lugar que sempre quis. No


meio das pernas da mulher pelo qual esperou a vida
toda.

Deitou-se sobre ela, beijando mais.


Acariciando com as mãos aonde a boca não
chegava. Queria tudo. Queria a alma dela em suas
mãos.

A saia subiu na cintura, e as calçolas


desceram para os joelhos. Aquele ninho de cachos
escuros o deixou louco.
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Ele nem a ouvia mais. Os gemidos dela eram


altos, e em algum lugar na mente masculina ele
sabia que tudo que ela pedira fora um beijo, e não
aquele sexo em pura agonia.

— Vem — ela o chamou.

Nem sabia pelo que clamava. Mas, queria. O


que ele quisesse dar a ela, ela aceitaria.

Subitamente, contudo, o som de passos.


Dylan travou.

— O que foi? — ela perguntou, quando ele


ergueu-se um pouco. Beijou-o no queixo, puxando-
o novamente para si.

— Alguém vem vindo — Dylan avisou.

Por que diabos naquela porra de vida do


cacete alguém tinha que aparecer justo naquele
instante?

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Jessica vestiu-se rapidamente, enquanto


Dylan corria para a arma.

— Fique agachada — ordenou.

Apontou para fora. Suspirou de alívio – e


raiva – quando percebeu ser Thomas, um de seus
homens.

Durante a madrugada, Thomas apareceu na


casa de campo para informar que a retirada de
bebidas da baía havia dado errado.

Nenhum dos homens Bennet foi preso, mas


Dylan e Jessica estavam desaparecidos. No mesmo
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instante, Harold enviou alguns grupos para cercar


aquele lado litorâneo, a fim de encontrar os dois.

Às seis horas, ainda sem notícias, Madison


aproximou-se da cozinha, buscando por café.

Jessica era sua proteção. Ela sabia. Por conta


da ex-noviça, ela desafiou Dylan. Não sabia o que o
homem faria caso ela perdesse Jessica. Podia nada
fazer, já que a antiga prisioneira agora era parte da
gangue, mas... ela temia por si.

Quantas mulheres viu perderem a vida


naquele emaranhado de conflitos em Chicago?
Muitas amigas já não mais habitavam no mundo
dos vivos.

— Você está bem?

Ali estava a doce Mary, a sorrir-lhe com


gentileza. Harold Dayley estava encantado pela
mulata bonita. Sabia que ele pretendia pedi-la em
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casamento assim que pudesse, e constituir família.

Harold sonhava em sair da vida de crimes.


Madison poderia ter um destino semelhante?

— Moramos na mesma casa, mas


praticamente não conversamos — a loira comentou.
— Sequer lhe cumprimentei quando chegou.

— Oh, sei que foram dias difíceis.

— Mesmo assim foi muito descortês de


minha parte.

Mary negou com a face e lhe serviu uma


caneca de café. Era muito gentil e doce. Logo,
sentou-se perto de Madison, a fim de lhe trazer
tranquilidade.

— Preocupada com a Senhora da casa?

— Senhora?

— Achei que a mulher que sempre está com


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o chefe fosse sua esposa.

Madison não negou a informação.

— Eles estão sempre juntos, mas não sei se


há algo além do que vemos.

Mary pareceu interessada.

— Você serve aos homens Bennet?

— Servia a todos. Mas, depois que Jessica


veio morar aqui Dylan nunca mais me procurou, e
os demais também se mantêm afastados. Acredito
que seja por temê-la.

— Temê-la?

— Ela disse que eu lhe pertenço — falou, e


não escondeu um sorriso enigmático ao dizer as
palavras.

— Pertence? Quero dizer... Sei de algumas


mulheres que gostam de estarem com mulheres.
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— Oh, não... Não assim. Senhora Jessica


nunca me tratou como amante. Ela é mais como...
um anjo da guarda.

Mary sorriu.

— Espero ter a chance de conversar com ela


algum dia.

— Oh sim, senhor Dylan e Harold a mantêm


bem ocupada com o treinamento de armas. Quase
não a vejo, também. Mas acredito que ela ficará
feliz em conhecê-la.

Houve um barulho estranho na casa. Logo


Harold surgiu diante das mulheres.

— Thomas os encontrou — avisou.

E apenas o sorriso de uma delas foi sincero.

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Capítulo 07

“ Que mãos enormes tens!


- São para melhor te agarrar”.
Irmãos Grimm

Talvez porque estivesse um tanto assustado


com o furor dos sentimentos que Jessica provocara
em si, naquele dia, naquele canto ao leste de
Chicago, Dylan deixou-a ir sozinha com meia dúzia
de homens a verificar um descarregamento de
conhaque.

Era uma transação simples. Deixar algumas


caixas num casebre discreto que mais parecia uma
casa pobre, e pegar o dinheiro. Algo que
normalmente Thomas fazia sozinho, mas que seria
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uma experiência válida para Jessica.

— Você tem um cigarro?

Thomas a observou. Impecável num terninho


escuro, saltos altíssimos e cabelos escondidos por
um chapéu de abas discretas.

Era muito bonita. Mas, sequer se atrevia a


observá-la uma segunda vez. A filha de Antony
Foster e a predileta de Dylan Bennet não era para
seu bico.

Puxou um cigarro do maço que escondia nos


bolsos e deu a ela. Assim que a viu colocando entre
os lábios, levantou o isqueiro e acendeu.

O dono do bar aproximou-se, discreto.


Thomas fez sinal para três dos homens que os
acompanhavam, e eles começaram a descarregar as
caixas e levá-las até o bar.

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O procedimento foi rápido, já que não havia


tempo a perder. A polícia estava apertando o cerco
aos contrabandistas.

Logo, com a transação concluída, o


caminhão dos Bennet se afastou e Thomas pegou a
maleta de dinheiro.

O homem se afastou e eles aguardaram que


ele entrasse na casa antes de darem as costas e
andarem na direção do carro Buick preto que estava
na esquina.

Subitamente, contudo, sirenes policiais.


Jessica atirou o resto do cigarro no chão, enquanto
sacava o revólver.

— Não! — Thomas antecipou. — Fuja


agora.

Tão logo disse isso, foi acertado na perna por


uma bala. Jessica o viu caindo e correu a fim de
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não ser o próximo alvo.

Chegou-se atrás de um barril e aguardou.

O que se fazia agora? Os policiais já se


aproximavam de Thomas e ela soube que ele estava
perdido. Não pareciam tê-la visto ou fazerem
menção de irem atrás dela, mas um dos guardas
ordenou que a frota fosse atrás do caminhão.

Apenas um deles ficou ali, a vigiar Thomas.

O companheiro estava sangrando e pelas


caretas que fazia, devia sentir profunda dor.

Jessica decidiu permanecer quieta até saber


para onde ele iria ser levado. Quando retornasse aos
Bennet, queria levar consigo respostas.

Naquela noite aprendeu que nem tudo era


fácil conforme o planejado.

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— Não imagina como desprezo sua laia.

Thomas observou o homem em pé, a arma


apontada para si.

— É mesmo?

— Vocês são os responsáveis por tudo de


ruim que acontece em Chicago. Não respeitam a
Lei Seca, introduzem álcool num país a beira do
caos, piorando toda a situação.

— Sim, fomos nós os responsáveis pela


Depressão.

Aquela ironia não foi bem vinda. O policial


avançou e lhe chutou no rosto. Thomas gemeu de
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dor, sentindo que havia quebrado o nariz.

— Você é bem corajoso quando um homem


está no chão — murmurou.

— Eu devia matá-lo! Poderia dizer que


tentou fugir e eu tive que impedi-lo. Ninguém
reclamaria pela morte de um lixo como você.

Thomas não recuou diante da ameaça. Bem


da verdade, quem entrava naquela vida sabia que o
destino era a cadeia ou o cemitério. Ambos, caso as
acusações o levassem a pena de morte.

Percebeu o homem apontar a arma para sua


cabeça. Pensou em tudo que não viveu, e imaginou
o que teria feito diferente. Talvez, queria ter bebido
uma última taça de vinho, dançado uma última vez
num clube com a bela Francesca – uma prostituta
que ele sempre pagava quando ia ao bordel – e
dado uma última trepada.

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Ouviu o estrondo. Imaginou que era o fim.


Porém, a certeza desvaneceu ao perceber o policial
cair no chão.

Atrás dele a figura sucinta de Jessica surgiu.


Ela correu até ele e o ajudou a se erguer.

— Você matou um policial? — ele quase não


conseguia acreditar.

— Ele iria te matar — ela apontou.

E era a primeira vez que alguém demonstrava


àquele homem o mínimo de preocupação.

— Obrigado — murmurou.

Ela o ajudou a sentar no carro. Depois, foi até


a maleta de dinheiro e a guardou no porta-malas.

— Como mexo nesse troço? — ela indagou


sentando-se no lado do motorista.

Thomas riu.
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— Abaixe o freio de mão. Coloque o pé na


embreagem e...

Apagou. Jessica volveu a ele e o percebeu


respirando. Ele estava perdendo muito sangue e ela
teria que salvá-lo.

— Me ajudem! — ela gritou, entrando na


casa. — Thomas está no carro.

Harold foi o primeiro que surgiu a porta. Tão


logo o caminhão chegou até o depósito, um dos
homens Bennet avisou da emboscada. Dylan
enlouqueceu diante das palavras que Jessica e
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Thomas haviam ficado para trás.

Armado, partiu a procura deles, levando


consigo os demais homens. Estava disposto a tudo,
inclusive invadir a delegacia.

Apenas Harold e as duas mulheres ficaram


para trás.

Naquele momento, Harold entrou na cozinha


com o corpo de Thomas. O colocou em cima da
mesa.

— Amor — Jessica chamou Madison. —


Busque panos quentes e esquente água, por favor.

— Eu faço isso — a outra mulher da casa


antecipou-se.

Jessica observou Mary correndo até o fogão.


Não havia ainda trocado meia dúzia de palavras
com ela, mas sabia por cochichos que Harold

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estava louco pela mulata.

— Obrigada — murmurou.

A bala estava encravada na perna, e poderia


infeccionar se eles não a tirassem logo.

— Chame um médico — pediu a Harold.

— Não há tempo — o outro retrucou. Correu


até o fogo e esquentou uma lâmina nele. — Como
escaparam?

— Um policial iria matá-lo, então atirei antes


— Jessica explicou. — Não queria matar ninguém
além do meu pai, mas já tenho duas mortes nas
costas — deu os ombros. Aquilo não importava. —
Não é difícil sem a carga religiosa do convento em
sua mente.

Madison voltou com os panos, e enquanto


Harold prosseguia no trabalho de remover o

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projetil, a loira choramingou pelo outro.

— Ei amor... — Jessica a pegou nos ombros.


— Está tudo bem.

Mary as observou a distância. Madison era


doce e delicada. Frágil. Jessica era forte e
aguerrida. Era um mistério porque a morena
gostava da outra.

— Ele vai morrer?

— Se não aguenta uma bala na perna é


melhor que morra mesmo — Jessica retrucou.

Naquele momento um riso baixo e fraco


invadiu o ambiente.

— Ah, Jessica — Thomas murmurou. —


Nem parece que acabou de salvar minha vida.

Deram as mãos. Irmãos de armas. Jessica


Foster já era definitivamente Jessica Bennet.

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Jessica deitou-se na cama, suspirando alto


enquanto Madison arrancava seus sapatos e lhe
massageava os pés.

— Foi muito corajosa hoje, minha senhora.

Sorriu. Gostava daquele tratamento, daquele


carinho.

Repentinamente a porta do quarto abriu.


Dylan Bennet entrou com ares de fim dos tempos.
Parecia apressado e nervoso. Mas, relaxou ao vê-la
tranquila.

— Saía — ordenou à Madison.


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A loira nem piscou.

— Saía — repetiu.

Jessica sorriu, dando uma pausa no tempo


para saborear aquele instante. Depois, sentou-se na
cama e bateu de leve no ombro da loira.

— Pode ir, amor...

Só então Madison se levantou e seguiu para


fora.

Dylan abriu a boca pasmo, diante da


situação.

— Você é bem corajoso em invadir meu


quarto e dar ordens a minha garota, chefe —
Jessica o observou, um sorriso largo nos lábios.

Céus, ela o provocava de todas as formas que


queria. Talvez porque sabia que ele não resistiria a
nada vindo dela.

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— Arriscou-se muito hoje.

— Na verdade, nenhum pouco. Estive


escondida até ter a chance de pegar o tira.

— Não pensou nas consequências?

— Pensei que tive um primeiro beijo. Pensei


que cheguei perto de vingar-me de Antony. De
resto, não pensei em nada. Já te disse, a vida é
muito curta.

Dylan avançou. Fincou os joelhos na cama,


praticamente ficando em cima dela, mas sentado.

— Case comigo — ordenou.

Ouviu um riso debochado como resposta.

— Falo sério.

— Fala?

— Sim, eu te quero como minha mulher.

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Só então o semblante de Jessica perdeu


aquele ar risonho e irresponsável.

— Nunca mais peça isso.

— Por quê? Não quer ser a mãe de meus


filhos?

— Porque não tenho futuro. Não vou


sobreviver ao final dessa história.

Dylan levou as duas mãos a garganta da


mulher.

— Teme a morte?

— Jamais. Mas, temo a vida — retrucou.

Curvando-se, ele substituiu as mãos pela


boca.

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— Dylan!

Ele se deitou sobre ela.

— Por que faz isso, Jess? — indagou. — Não


vê que eu preciso tê-la? — A voz tornou-se um
gemido forte, intenso. — Que você se tornou uma
fome que nunca está saciada? Então você joga com
as palavras, me provoca ao limite. O que espera?
Que eu esqueça que é uma menina criada entre
freiras? Que eu a tome como uma mulher da vida,
sem uma aliança nos dedos? — A mão máscula
acariciou seu ventre e suas coxas, depois entreabriu
suas pernas para si.

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Jessica não alcançava o que era tão difícil


para Dylan entender. Ela tinha prazo de validade. E
estava acabando. Quanto mais aprendia sobre
armas e preparava-se para enfrentar Antony Foster,
mais seu fim se aproximava. Mas, antes da aurora
dos dias, ela exigia viver tudo que pudesse.

Se fosse ao lado dele... Seria ainda melhor.

Não sabia exatamente por quê. Nem como


começou. Tudo que entendia é que, desde o
primeiro olhar, ela era sua. Então, o guiou, o
coração batendo forte no peito, o sangue correndo
em suas veias, sua alma em fogo.

Seu corpo desejava Dylan ao ponto de os


quadris se retorcerem, erguendo-se para ele,
buscando-o.

— Venha para mim — pediu.

Depois sentiu, com uma excitação que


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percorreu todo o seu corpo, que ele também nutria


a mesma coisa.

E que importância tinha o nome que dariam a


aquele sentimento que parecia eclodir em seus
corações?

Amor? Paixão? Desejo? Amizade?

O que importava denominações quando


estavam juntos? Qual seria a diferença de se ter
uma aliança nos dedos durante um momento
sublime como aquele?

— Eu preciso tê-la...

As palavras saíram roucas. Ela podia sentir a


urgência de Dylan. Assim, ergueu os quadris para
recebê-lo. A magia explodiu dentro dela.

O sortilégio poderoso do sexo floreando de


sua alma, fundindo seus corpos em sensações

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inexplicáveis. Não era apenas sua carne excitada e


pulsante ao encontro de uma necessidade fugaz.
Era a alma, abrasada, que enfim encontrava seu
descanso junto a ele.

Jessica o buscou para um beijo urgente. Ele a


mordeu. Havia fogo e calmaria naquele carinho.

— Eu te amo — ela disse. Por quê? Não


sabia.

Todavia, a sensação era real.

E mesmo quando a dor da penetração veio,


ela apenas respirou fundo e tentou relaxar, ao
receber aquele mastro viril em si.

Dylan a preencheu de todas as formas que


uma mulher podia ser completada. E ela gemia com
a consciência de que seus corpos haviam se tornado
um só, pulsando, batendo no mesmo ritmo, naquela
dança louca e carnal, sexo contra sexo,
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pressionando e unindo, chegando e indo,


afundando-se e afastando-se.

Dylan pareceu maior. Ela sentia que ele


atingia a um lugar tão profundo em suas entranhas
que a faziam gemer mais alto e gritar. Porque era
dor e prazer, numa intensidade tão animalesca que
tudo que restava a ela era isso: submeter-se.

— Jess...

Ela prendeu as pernas em torno dele, cada


músculo contraído, e então uma onda poderosa os
tomou.

Era tão intenso... havia algo molhado, algo


lento, algo esguichado e, enfim, algo que a fez
gemer mais alto, arqueando-se totalmente para ele,
atingindo cada célula de seu corpo, enchendo sua
consciência de Dylan Bennet.

E seria assim para sempre. Ele era único. Só


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ele. Nunca haveria outro.

Dylan gemia, ondulava, pulsava dentro dela.


Maravilhada, percebeu que tudo que ela sentia, ele
também desfrutava. Ela o ouviu arfar, gemer, e,
enfim, gozar como se daquilo dependesse sua vida.

E depois, tudo que restou foi uma aura


maravilhosa, uma calmaria após a tormenta, onde
Dylan apenas cobriu seu corpo nu com o dele, e
deixou-se descansar sobre os seios macios.

Ambos pareciam sem fôlego, corações ainda


batendo fortemente em seus peitos. O pênis dele,
em inércia, descansou na coxa direita de Jessica, e
ela soube que aquele jamais seria o fim.

Eles ainda fariam aquilo muitas vezes. Nessa


vida, e em outras. E talvez sequer fosse a primeira
vez; quem sabe já não se maravilharam com aquela
experiência em outros momentos?

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Ah, o tempo nada mais significava. O que era


o tempo diante da eternidade?

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Capítulo 08

“Tendo assim satisfeito o apetite,


voltou para a cama e ferrou no
sono”.
Irmãos Grimm

— Sente dor?

A voz de Dylan parecia preocupada. Ela


abriu os olhos.

Ele estava deitado ao seu lado, ambos


cobertos por uma manta de lã, o quarto com as
luzes apagadas, mas ainda claro por causa da lareira
acesa. O frio daquele inverno exigia que a lenha
queimasse dia e noite.

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— Não, não estou.

Aquele leve desconforto no baixo ventre


nada significava perto do momento mais sublime
de sua vida.

— Fico imaginando se não devíamos ter ido


mais devagar, Jess.

Devagar?

— Nós nos conhecemos há poucos dias e eu


já não sei mais viver sem você.

Oh, ele estava assustado? Ela riu, achando


fofo.

— Pela primeira vez na vida, penso se não


posso ajuntar todo o dinheiro que conquistei nesses
anos, e irmos para o México. O que acha?
Comprarei uma fazenda, criaremos cavalos.
Faremos amor sobre o feno, e depois teremos um

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monte de filhos.

Eram planos lindos.

— Você sabe que temos objetivos — ela


negou.

Contudo, o objetivo de Dylan, agora, era ela.


Apenas ela. Ele não conseguia mais colocar Antony
Foster acima de tudo.

E quando a perdesse? O que faria? Jessica


lidava com a vingança como uma missão suicida.
Estaria certa? Ou era apenas pessimista?

Ou ele é que havia se tornado otimista


demais e não conseguia ver a razão.

— Dylan — ouviu seu sussurrou, enquanto


seus braços o envolviam por completo.

— Sim?

— Não importa. Nada importa. Apenas


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vamos viver o agora, está bem?

Ele passou a mão sobre a coxa macia da


mulher. Não lhe restando mais nada a dizer, apenas
assentiu e voltou a dormir.

Harold soube que algo havia ocorrido ao


casal tão logo os viu naquela manhã. Era uma
sensação estranha, como se agora não fossem mais
dois indivíduos diferentes, e sim duas faces de uma
mesma alma.

— Antony Foster está na sua mansão no


norte de Chicago e não saiu de lá tem vários dias.
Soube que iriam lhe fazer uma homenagem na

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prefeitura, mas cancelaram o evento.

— Está doente? — Jessica se preocupou.

Não! Ela não toleraria que aquele filho da


puta morresse feliz e tranquilo em uma cama
confortável. Ele tinha que pagar!

— Eu andei pensando em algo — o negro


avisou. — Mas, precisa ficar apenas entre nós três.
Temo que as paredes Bennet tenham ouvidos.

— Sim — Dylan concordou. — Alguém


anda espalhando nossos planos para o desgraçado!

— Pois bem — Harold prosseguiu. — Andei


vagando pelos bares clandestinos de Chicago.
Pescando uma informação aqui, outra ali. Por fim,
consegui descobrir que Bruce Steven está devendo
uma boa quantidade de dinheiro aos Foster. E, pelo
jeito, ele tem um prazo bem curto para pagar.

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— O que sugere?

— Em troca de algumas informações,


daremos ao homem uma boa quantia para que ele
desapareça de Chicago. Eu acho que ele trairia
Foster pelo dinheiro certo.

Dylan e Jessica se entreolharam. Era um bom


plano e eles estavam dispostos a isso.

Algo comum a Antony Foster era a seriedade


com que levava seus compromissos. Quando ele
agendava um horário para entrega de bebidas,
aquele horário era cumprido à risca. Por isso,
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quando Bruce lhe repassou as horas, o trio


vingativo chegou lá meia hora antes.

Depois, deixaram as metralhadoras bem


dispostas no beco onde emboscariam o caminhão.

Seria uma entrega pequena. Algumas caixas


pagas antecipadamente que seriam deixadas nos
fundos do bar.

Jessica aproximou-se da metralhadora e ficou


fazendo a mira. Queria estar pronta.

— Depois que o alvejarmos, vamos até eles.


Queremos a mercadoria.

A ordem de Dylan foi seguida com um sinal


de aquiescência por Harold e Jessica.

— Acha que dará certo?

— Ninguém mais sabe que viemos emboscar


o caminhão. Se não der certo, um de nós é o traidor

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— Harold constatou. Depois, volveu-se para


Jessica. — Não contou a Madison, contou?

— Confio na minha garota, mas não... Nada


disse.

— Bom...

Subitamente, o som de pneus cortando o ar.


O pequeno caminhão com a carroceria em baú se
aproximava lentamente.

Dylan deu o primeiro disparo. Logo, uma


chuva de metal cortou o ar. Os homens de Foster
não entregariam fácil sua mercadoria, mas
inegavelmente estavam surpresos pelo atrevimento
de alguém tentar roubá-los.

Ora, Foster dominava a cidade!

Logo, um dos entregadores foi atingindo. Os


demais ergueram as mãos, em rendição.

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— Isso não vai ficar assim — um deles disse


para Bennet.

Dylan sorriu.

— É exatamente o que esperamos.

— Leve o caminhão — Dylan avisou ao


amigo.

Harold assentiu. Era esse o plano. Não era


um roubo. Era uma provocação.

Ele pegaria o veículo e o levaria as ruas


próximas da morada de Antony. Destruiria a bebida

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ali, deixando claro que os Bennet não precisavam


daquela porcaria.

— Coloque um bilhete — Jessica pediu.

— Um bilhete?

— Deixe uma caixa intacta e nela escreva:


“Com os cumprimentos de Jessica Bennet”.

Dylan gargalhou diante das palavras. Os dois


homens no chão, já desarmados, enojaram-se com a
audácia.

— Você é Jessica? — um deles indagou.

— Conhece-me?

— Ficamos sabendo que a filha do chefe


havia se tornado a putinha de Dylan Bennet. O
chefe ficou arrasado por isso, já que te deu tudo,
educação e bom ambiente para crescer e ser uma
mulher exemplar. Mas, tornou-se uma Moll... Isso é

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uma vergonha tremenda.

Jessica aproximou-se do homem. Com a


coronha da pistola, desferiu um golpe forte na face
dele.

— Está achando que eu sou a putinha de


Dylan Bennet? — ela resmungou. — Não sabe de
nada, vagabundo! Ele é que é meu putinho.

Depois disso, disparou. Os dois corpos


ensanguentados foram abandonados naquela região.

Coisa comum em Chicago. Tudo respirava a


criminalidade e sangue.

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Capítulo 09

“...à tarde, retomasse o caminho de


volta para sua casa, aí então ele a
seguiria ocultamente para comê-la no
escuro.”
Irmãos Grimm

— Sabe o que penso sobre tudo isso,


querida?

Jessica gargalhou enquanto sentava-se sobre


ele. Na obscuridade do Rolls-Royce negro e
novíssimo de Dylan, eles já se aqueciam na ânsia
do prazer.

— Diga-me, meu putinho — ela puxou o


cabelo dele para trás, com força, denotando que
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estava extremamente excitada.

— Que isso não está certo.

Jessica travou. Ela havia acabado de ter


matado dois homens e estava satisfeita pelo ato.
Eram parte da gangue do Foster, e aquilo lhe deu a
sensação de que se aproximava o tempo de chegar
ao pai.

Mas, Dylan não parecia no mesmo clima.

— Esperei por isso minha vida inteira — ela


murmurou, parecendo querer explicar-se.

Todavia, não precisava. Ele sabia.

— Não é o ato. É como você encara isso —


ele insistiu.

Jessica queria que ele calasse a boca, então o


beijou profundamente, as mãos escorregando para o
mastro viril, forçando-o a excitação. Remexeu os

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dedos, para cima e baixo, bombeando, e quando o


percebeu pronto, sentou-se nele com força.

A mansão La Belle foi uma das primeiras


aquisições de Antony Foster, muitos anos antes,
quando iniciara na sua vida de crimes.

Lembrava bastante o palácio de Al Capone


em Miami, mas tinha algum ar mais europeu,
devido à descendência italiana de Foster.

Apesar do sobrenome, a mãe era uma


Bianchi, do norte da Itália. E ele gostava da mãe
mais do que do pai beberrão e sombrio que pouco
lhe ofereceu na vida além de surras e vergonha.

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Contudo, como pai, Antony orgulhava-se de


ser diferente. Ou, ao menos, tentara dar a filha um
destino honroso.

Mas, ser uma cadela vagabunda estava no


sangue de Jessica. Havia puxado à Justine, que
sequer tentou resistir ao seu charme badboy.

Enquanto segurava o bilhete deixado pela


desgraçada, ele pensou em tudo que fez por ela.
Todas as doações a Igreja, ao Convento, todos os
planos de lhe entregar a herança, toda a fortuna, e
também um casamento bem planejado com alguém
de sua confiança.

Mas, agora ela estava enredada com aquele


fedelho dos Bennet. Andava dormindo com o
homem, uma Moll, uma cortesã, uma amante sem
valor.

— Meu senhor — um de seus homens

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chamou sua atenção. — Nos autoriza a irmos até os


Bennet?

— Não. Apenas aguarde informações.

Aquela afronta não seria vingada? Todavia, o


homem respeitava demasiadamente Antony para
lhe questionar os métodos.

A loira observou sua protetora ao longe.


Jessica Foster parecia absorvida em raiva enquanto
fumava um cigarro e olhava para o horizonte
através da janela oval de seu quarto.

— Minha senhora? — Chamou sua atenção.


— Senhor Dylan mandou lhe avisar que o jantar
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está servido.

— Não tenho fome — ela murmurou. —


Diga-me, meu amor — volveu-se para a loira. —
Por que eles não vieram?

— Eles quem?

— Os Foster? Nós matamos dois de seus


homens e destruímos sua mercadoria. Por que não
vieram buscar vingança?

A loira não sabia o que dizer.

— Isso não é bom?

Jessica a encarou sombriamente. Todavia, em


seguida, saiu da janela e chegou-se a ela. Acariciou
seu rosto pálido com um dos dedos.

— Está com medo, amor?

— Sim, minha senhora.

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— Não carece. Já não lhe disse que cuidarei


de você?

Madison assentiu, com lágrimas nos olhos.

Por Deus, ela amava Jessica Foster mais que


tudo.

Harold aproximou-se da cozinha. Mary


estava envolvida em descascar batatas. Ela era
muito meiga e gentil, e mesmo numa atividade
cansativa, não murmurava reclamações.

Pegou uma faca e sentou-se ao lado dela,


ajudando-a.

— Eu queria lhe falar — ele murmurou,


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baixo.

Tinha medo das palavras que se seguiriam,


mas sabia que quanto mais perto Dylan e Jessica
estivessem de Antony, mais ele se aproximava da
aposentadoria.

— Eu tenho um bom dinheiro guardado —


contou. — Mantenho-me com os Bennet por
lealdade, mas... Enfim, Dylan sabe que, assim que
concluirmos algo que está pendente, eu quero parar.
Quero me mudar para o norte, Montana ou Dakota
do Norte — explicou. — E quero que venha
comigo como minha esposa.

O olhar de Mary estava assombrado.


Percebeu lágrimas lá, camufladas, devotadas, e
então ela assentiu, embevecida.

Naquele instante tão curto e frágil, Harold


Dayley foi o homem mais feliz do mundo.

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Segurando o rosto feminino, ele a beijou


respeitosamente.

— Muito obrigado.

Era o sonho de uma nova vida.

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Capítulo 10

“- Ai que medo
eu tive! Como estava
escuro na barriga
do lobo!”
Irmãos Grimm

— A pergunta que não quer calar é: Como os


homens de meu pai sabiam que eu estava com
Dylan Bennet se eu matei David?

A loira a observava de um canto. Absorvida


pela visão majestosa daquela mulher corajosa e
linda andando de um lado para o outro no quarto.

— Outra questão que me incomoda é: Nossos


planos contra Foster só deram certo quando
ninguém soube deles. — Respirou fundo. — Há um
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espião entre nós, e essa é a prova — constatou.

Repentinamente, Jessica parou. O olhar dela


cravou em Madison.

— Desconfia de mim, minha senhora?

A morena sorriu, suavizando a face.


Caminhou até Madison e lhe acariciou a face com
gentileza.

— É claro que não. Eu jamais desconfiaria de


minha garota. Mas, irei precisar de sua ajuda.

— Minha ajuda?

— Amor, os homens sempre desprezam as


mulheres. Eles não têm medo de falar de seus
planos perto de nós porque nos consideram
estúpidas demais para entendê-los. Então, eu tenho
minhas próprias ideias sobre o que está ocorrendo
aqui. Mas, para provar, preciso de sua cooperação.

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O que faria por mim?

A loira deslumbrada nem objetou.

— Eu faria qualquer coisa, minha senhora.

Dylan vestiu o sobretudo. Estava muito


bonito naquela noite, em especial. Jessica sorriu
diante da imagem aos pés da cama.

Ela definitivamente gostava dele. Muito.


Talvez o amasse, apesar de não permitir-se pensar
verdadeiramente no assunto. A verdade é que os
sonhos de viver uma vida longe de Chicago e ter
meia dúzia de meninos de cabelos escuros e olhos
azuis a encantavam.
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Contudo, aquela não seria a vida dela. Talvez


fosse a dele. Quem sabe ele ainda realizaria aqueles
sonhos pueris com uma boa mulher que cruzasse
seu caminho.

— Espero ter boas notícias quando voltar —


disse a ela.

Jessica remexeu-se nos lençóis. Estava nua,


haviam acabado de fazer sexo. Um ato que sempre
a deixava mole e agraciada.

— Você sabe que isso é um tanto perigoso —


ela murmurou.

— Achei que não se importasse com o


perigo.

— Não com aqueles que eu corro.

Dylan sorriu. Estava embevecido.

— Coloquei um homem infiltrado em

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Kenwood. Ele está trabalhando lá há algumas


semanas, cuidando das cargas que chegam. Seu pai
é bem discreto, traz a bebida e as drogas em meio a
latas de mantimentos.

— Um homem sério de negócios, com


certeza — ela riu.

Dylan voltou à cama e a beijou nos lábios.

— Me deseje boa sorte — pediu.

O toque gentil dos lábios femininos sobre os


seus foi intenso e protetor.

Dylan abriu um mapa demonstrando toda a


área da baía onde o descarregamento de bebidas de
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Foster poderia ocorrer.

— Quero homens em todo o cerco — disse a


Thomas. — O descarregamento chegará à
madrugada de sábado e eu não posso perder essa
chance.

— É muita coisa?

— Muita coisa — confirmou.

Depois, dispensou Thomas com a mão.


Jessica e Harold o observavam de um canto.

— Você pensou bem nisso? — Harold


indagou.

— Foster não reagiu a nossa provocação.


Nem sequer ao fato de termos a filha dele conosco.
Ele não virá até nós, então teremos que ir à ele.

— E La Belle é bem protegida. Mas, ao


armarmos um roubo a sua mercadoria em

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Kenwood, praticamente todos os seus homens terão


que deixar a casa e irem até a baía — Jessica
explicou.

— O que significa que ele ficará sozinho, ou


quase... — Dylan completou.

Claramente, eles haviam planejado aquilo


juntos. Harold, contudo, não estava convencido que
o plano daria certo.

— Se os homens de Foster forem à baía...


Eles estão mais bem armados e preparados...

— Ninguém dos Bennet irá se machucar.


Vamos apenas provocar um alarme falso.

— Há um traidor entre nós — Jessica


explicou. — Ao saber dos planos do roubo, ele
avisará meu pai. Quando os Foster forem para lá,
contudo, não encontrarão nenhum dos homens
Bennet.
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— E esse trajeto nos dará tempo de


invadirmos La Belle e matarmos Foster.

Era aquilo, então. Um plano simples como os


dois jovens. Todavia, bem focado. Eles estavam
ansiosos e desesperados para cumprirem sua
vingança.

— E depois? — Harold indagou.

A vida poderia seguir para ambos, mas de


alguma forma, tanto o homem quanto a mulher
sabiam que não sairiam inteiros daquela
emboscada.

— A vida é curta — Jessica repetiu sua frase


comum. — Vamos fazê-la valer a pena!

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Naquela madrugada fria a porta que dava


acesso à cozinha abriu-se.

Escondida na escuridão, a jovem e bela Mary


adentrou seu local de trabalho, tirando o casaco e
tentando ter cuidado para não causar barulho.

Não era de seu interesse que alguém


soubesse que ela estivera fora durante algumas
horas. Por melhor cercada que fosse a mansão dos
Bennet, ela sempre conseguia se esgueirar e
escapar por algum tempo.

O que fazia nesse tempo, não era da conta de


ninguém. Mas, aliviava-lhe respirar fora da

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mansão.

E Mary era assim. Ela precisava de ar puro e


da alma longe da pecaminosidade que dominava
aquele lugar.

Mary também era do tipo racional e fria,


nunca acreditou em fábulas ou contos de terror.
Mas, naquele instante no escuro, ela sentiu que era
observada por alguém.

Acendeu a luz, mas a cozinha estava vazia.

Respirou fundo. Boa parte dos contos de


terror que vazavam de lábios crédulos era formado
pela errônea ideia das pessoas de que não estavam
sós num lugar.

E ela estava. Portanto, precisava apenas


respirar e pôr a cabeça no lugar. Logo estaria livre
daquilo tudo.

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Volveu-se para a pia e encheu um copo com


água. Enquanto sentia o líquido descer pela
garganta, o ranger de um passo atrás de si fê-la
volver-se rapidamente.

Não a tempo de ver seu assassino.

Um tiro certeiro a atingiu na face.

Morreu como viveu. Em uma cozinha


simples.

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Capítulo 11

“Chapeuzinho Vermelho dizia para


si: "Nunca mais sairás da estrada
para correr pela floresta, quando a
mamãe te proibir!”.
Irmãos Grimm

—“ A minha boca falará o louvor do Senhor,


e toda a carne louvará o seu santo nome pelos
séculos dos séculos e para sempre”.

— Amém — respondeu Jessica.

Afinal, era a única que sabia o que se seguia.


Os demais, homens acostumados à devassidão da
vida, apenas mantinham o corpo ereto e respeitoso
diante do túmulo aberto, onde um caixão bonito era
abaixado para dentro da cova.
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O padre católico – não Padre Tom, ainda


bem! – benzeu o caixão e então o ato fúnebre
encerrou-se.

Em um canto, Harold parecia num misto de


choque e pesar profundo. Era como se apenas seu
corpo estivesse ali, observando toda a cena terrível
diante dele.

Mary, a jovem com a qual ele planejava


construir um futuro fora assassinada dentro da
Mansão dos Bennet. Quem se atrevera? E por quê?

— Eu penso em duas possibilidades —


Jessica disse, mais tarde. Ela segurava seus dedos
escuros com um carinho abrasador. — Ou foi uma
provocação, uma resposta ao que planejamos fazer
amanhã ou...

— Ou?

— Talvez o alvo não tenha sido Mary. Viram


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uma silhueta feminina e atiraram. Antony Foster


deve estar revoltado pela filha estar se acostando
com um Bennet. Provavelmente quis limpar sua
honra.

Era coerente. Dylan mordeu o lábio.

— Amanhã o maldito vai pagar! — jurou.

Estavam ainda no cemitério. Harold e Jessica


sentados em um banco embaixo de uma árvore.
Dylan em pé, diante deles.

— Irei com vocês — avisou.

— Não — Dylan negou. — Jessica e eu não


queremos envolver ninguém nesse plano de
vingança...

— Agora é pessoal — Harold antecipou. —


Eu vou — foi firme. — Eu quero ver aquele
desgraçado queimar.

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— Não concordo — Dylan persistiu.

— Não é sua escolha — Jessica retrucou. —


Harold — volveu-se ao outro. —, se está certo
disso, seja bem vindo. Eu sei exatamente como se
sente e prometo fazer o possível para atingirmos
quem matou Mary.

Madison adentrou o quarto e seus olhos


cravaram na mala escura onde maços de dólares
preenchiam o interior.

— Tem cinquenta mil aqui — Jessica disse a


loira, que arregalou os olhos.

Ora, era dinheiro suficiente para comprar


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uma excelente casa e viver confortavelmente por


alguns anos.

— Um tanto eu ganhei com meu trabalho


para Dylan, outro tanto eu peguei dele — ela riu,
maliciosa. — Um roubo justo, você merece.

Tão logo disse isso, fechou a maleta e a


direcionou a Madison.

— Não, minha senhora — a outra negou.

— Tinja essas madeixas de preto — Jessica


aconselhou. — No mais, duvido que alguém se
lembre de você depois de alguns meses. Mas, pode
ser que Harold queira vingança.

Madison sentiu os olhos nublarem.

— Eu quero que seja feliz — Jessica


murmurou.

Enfim, a loira pegou a mala. Depois,

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aproximou-se lentamente da outra. Um beijo pueril


nos lábios e enfim se afastaram. Era a última vez
que se viam.

— Que horas o barco chegará à baía? —


Jessica perguntou, pela terceira vez.

— Duas da manhã.

— E por que diabos ainda não saíram da


casa?

Aquilo era mau. O plano partia do princípio


de que os Foster fossem abandonar a base assim
que o horário da entrega se aproximasse. Quando
saíssem, o trio poderia entrar e chegar a Antony.
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— Por que será que o chefe dos Foster não


saiu da toca ainda? — Harold murmurou. — Por
que ele não deu as caras na cidade desde que
Jessica foi levada do convento?

— Será que está doente? — Dylan


murmurou.

— Ele que não se atreva a morrer antes de eu


matá-lo — Jessica forçou.

Subitamente, movimento. Um a um, os


carros negros da gangue começaram a deixar a
residência. Partiam destino ao litoral. Dylan sorriu.

Harold tentaria avançar pelos fundos de La


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Belle, mas Dylan e Jessica decidiram acessar a


mansão por uma entrada lateral onde apenas um
homem mantinha-se a escoltar o lugar.

Sabiam que ele estava armado. Era possível


notar a pistola por baixo do casaco fino. Seu
chapéu cobria-lhe metade do rosto, e eles podiam
jurar que o homem cochilava em seu posto.

Caminharam naquela direção como um casal


de namorados. Mãos dadas e risinhos infantis e
apaixonados.

O homem ergueu a face e os observou. Ora, a


lateral da casa era um passeio público e nem
sempre ele tinha a sorte de ser um expectador de
uma cena romântica.

O casal passou por ele e parou. Um troca de


beijos, e o homem sorriu. Gostava de olhar.

Contudo, rapidamente, a mulher puxou uma


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pistola. Um tiro silencioso ecoou.

Não havia romantismo ali. Amor não tinha


espaço quando se tratava de sentimentos engajados
em ódio.

Não fora fácil acessar a La Belle pelos


fundos. Havia dois homens montando guarda, mas
Harold conseguiu desempenhar seu papel graças à
técnica e treinamento adquiridos durante os anos.

Não quis matá-los, então não o fez. Assim


como ele, aqueles homens eram apenas soldados do
clã. Portanto, derrubou-os através de dois tiros não
mortais com silenciadores.

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Depois, bateu-lhes na cabeça até que


desacordassem. Só então começou a se esgueirar
para dentro da casa.

Passo a passo, ele ouviu o som característico


de briga na ala superior. Pelo jeito, Jessica e Dylan
haviam chegado a Foster antes.

Pé ante pé ele começou a subir as escadas. O


lugar era deslumbrante e havia uma galeria de
retratos em quadros ao longo do trajeto.

Repentinamente, travou.

Pegou um dos porta-retratos.

Lá estava alguém que ele conhecia bem


abraçado a Antony Foster.

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Capítulo 12

"- Eis-te aqui, velho impenitente! Há


muito tempo, venho-te procurando!"
Irmãos Grimm

As razões pelas quais Antony Foster não


havia dado as caras mesmo diante de tantas
provocações tornaram-se claras ao par que agora
encarava aquele velho decrépito sentado em uma
cadeira de rodas.

Nem parecia o mesmo homem. Tanto Dylan


quanto Jessica tinham a imagem de um desgraçado
autoritário, de postura reta e olhar assustador. Mas,
aquele homem ali era apenas um nada, alguém que
eles matariam simplesmente se derrubassem da
cadeira.
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— Eu sabia que viria — o homem disse, seus


olhos cravados na filha. Sua voz era fraca, mas ele
ainda tinha aquele brilho hostil nos olhos. — Te
criei com todo cuidado e agora te vejo uma Moll,
puta de bandido, uma vadia! Quanta vergonha
trouxe ao meu nome.

Jessica quase não conseguia se mover. Não


era aquele ordinário sem forças que ela queria
matar. Era o homem forte que havia destruído
Justine.

— Eu não sou uma Moll — ela retrucou. —


Mas, se fosse, ao menos teria decência, ao contrário
de você.

— Decência é meu nome do meio, Jessica —


ele murmurou. — Não sabe que toda a cidade me
respeita?

Porque assim era o mundo. Idolatravam

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homens como ele por dinheiro e poder. Corações se


corrompiam na mesma velocidade em que homens
bons e honrados eram massacrados.

Jessica observou Dylan. Percebeu-o


caminhando em direção ao velho. Ele parecia
atônito, como se não acreditasse no que via.

— Eu a entendo — Antony deu os ombros.


— Puxou a mãe, não tem honra nem dignidade.
Mas, você — dirigiu-se a Dylan. — Por que um
Bennet tentou de todas as formas provocar uma
guerra?

— Você matou minha mãe — Dylan


respondeu, da forma mais simples que conseguia.

— Então ela era uma puta também. Nunca


toquei numa mulher honrada.

Repentinamente, um urro de ódio brotou no


coração de Jessica. A visão de Justine, sua doçura,
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seu cheiro, seu carinho, surgiu em sua mente. Ela


quase podia tocar a mãe, tamanha realidade com
que a visão brotava em sua alma.

E tudo aquilo se desvaneceu por conta


daquele filho da puta!

Não importava se agora era um velho


acabado. O que ele fizera ainda ressoava na vida do
par. E ele tinha que pagar por isso!

Puxou o trinta e oito do coldre e apontou na


cabeça do pai. Engatilhou.

— Queime no inferno, filho da puta — ela


murmurou.

E aquilo era tão sincero, tão real, que seu


coração encheu-se de paz.

— Jess — a voz de Harold, contudo, a


travou.

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Volveu-se para ele. O homem negro surgia


no quarto com um retrato nas mãos. Ela reconheceu
a figura da tela.

— Há quanto tempo você sabia? — ele


indagou.

Dylan, do outro lado do quarto, arregalou os


olhos diante da imagem. Jessica, porém, apenas deu
os ombros.

— Não foi Antony Foster que a matou, não


é? — Harold indagou.

— Eu precisava de sua ajuda para invadir a


casa. Eu sabia que teria homens na parte inferior,
assim Dylan e eu não daríamos conta. Minha
intenção é que você chamasse a atenção o
suficiente para que pudéssemos entrar por outro
lado.

— Foi você que a matou? — ele questionou,


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mais firme, erguendo a foto de Mary.

A mulata estava abraçada em Antony Foster.


Vestida como uma Moll, era quase irreconhecível.

Jessica não respondeu. Voltou-se novamente


para o pai. Ele tinha o olhar firme, não se
amedrontaria no momento final. Então, ela curvou-
se e murmurou nos seus ouvidos.

— Depois de te matar, vou colocar fogo em


La Belle e destruir tudo que você tem. Inclusive seu
sobrenome. Os Foster morreram comigo — avisou.

E então disparou.

O sangue respingou as paredes, enquanto a


cabeça apenas pendia para frente. Dylan apertou os
olhos, ciente de que havia outro monstro dentro do
quarto.

Nunca foi assim que ele planejou acabar com

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tudo.

— Você tem que parar — Harold avisou.

Ele abriu os olhos. Jessica estava no meio do


caminho entre ele e o irmão.

— É mesmo? — ela riu. — Então me pare —


ordenou. — Sabe qual foi o outro motivo pelo qual
eu estourei a cabeça de Mary? Além, é claro, de ela
ser uma puta traidora infiltrada e tê-lo tornado um
idiota? Eu me preparava para te contar à verdade
quando o momento certo chegasse porque eu sabia
que você poderia acabar com tudo.

Enquanto Harold abria a boca, pasmo,


Jessica voltou-se para Dylan.

— Não me leve a mal, meu querido. Mas,


você é fraco quando se trata da minha pessoa. Você
não teria coragem, porque me ama.

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Seu corpo girou novamente para Harold.


Caminhou até o homem.

— Sou mulher. E sei que vocês homens


ficam cegos diante de uma boceta. Então eu sabia
que vocês falavam de qualquer assunto sem medo
ou discrição diante das mulheres da casa. Eu não
era a traidora, obviamente. Sobrava Mary ou
Madison. Oh, a minha garota — referiu-se a
Madison —, ela é loucamente apaixonada por mim.
Eu sei. Finjo que não, faço aparentar amizade, mas
vejo os olhos brilhantes de Madison. Ela deixaria
matá-la, mas não me entregaria. Sobrava a outra,
portanto. Ordenei que Madison ficasse de olho. Ela
saiu algumas noites, encontrou-se com homens de
Foster. Numa das noites em que voltava para casa,
eu a espreitava. Nem viu quem a matou.

Harold secou as lágrimas. Era difícil para ele


a constatação daquele fato.
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— Você jurou vingá-la — Jessica provocou.


— Então, a vingue! Seja homem, mantenha sua
palavra!

Ela ergueu os braços. Queria que ele atirasse.


Não desejava dar cabo da própria vida, então
esperava que Harold o fizesse.

— E então? Não vai atirar? Não vai? — ela


gritou. — O quão covarde você é?

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Capítulo 13

“- Entra depressa, - disse a vovó; -


fechemos bem a porta para que ele
não entre aqui!”.
Irmãos Grimm

A questão era simples. Tão simples quanto os


vestidos floreados que Mary costumava usar
quando preparava o jantar.

Jessica queria morrer. Era perturbada demais.


Era maquiavélica demais. Tinha o sangue Foster
nas veias e planejara tudo, durante anos, para que,
depois de matar Antony, ela fosse a próxima a
desistir do mundo.

Mas, Harold acreditava em esperança.


Inclusive para ela. Acreditava no amor do irmão
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por aquela mulher. Dylan poderia curá-la. Ambos,


um remédio do outro. E viverem felizes.

Jessica e Dylan eram cravados em dor.


Aquela cicatriz poderia nunca desaparecer, mas
ainda assim poderiam encontrar a serenidade e
construir uma vida.

— Eu não vou fazer isso — Harold guardou


a arma.

Jessica parecia não acreditar. Seu olhar


surpreendido estava carregado pelas lágrimas.

— Não vai...? — ela indagou, num murmuro


tão baixinho que quase era inaudível.

Então a mulher ergueu a própria arma contra


seu queixo feminino. Harold saltou, tentando
impedi-la, quando um estrondo estourou seus
tímpanos.

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Jessica caiu no chão. Uma fumaça escurecida


as suas costas deu-lhe a certeza de que não fora ela
que havia atirado.

Encarou Dylan. Percebeu lágrimas


escorrendo pela face do irmão.

— Você sabe onde está o dinheiro. Distribua


entre os homens e ordene que cada um desapareça
de Chicago. Não quero que sejam presos. Podem
reconstruir a vida.

— Dylan...

O gângster aproximou-se de Jessica. Sentou-


se no chão e puxou o corpo contra si. A abraçou
fortemente.

— Ela era católica. Não falava muito de


Deus, mas eu sabia que era. Sabe o que é para um
católico o suicídio? Eu não queria que tivesse essa
marca. Não queria que sua memória fosse
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manchada... — explicou, as lágrimas travando sua


garganta, impedindo-o de prosseguir.

— Dylan... — Harold quis se aproximar.

— Dei ordens a você — o outro o lembrou.


— Ainda sou o líder dos Bennet, ao menos nessa
noite. Vá até os homens e organize tudo. Ainda
existe uma saída...

Harold assentiu. Sabia que precisava de


pressa.

Correu para fora do quarto, e então desceu as


escadas. Quando chegou à parte exterior da casa
ouviu o tiro, seco, denotando o fim.

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Capítulo 14

“Mas tanto espichou o pescoço que


perdeu o equilíbrio e começou a
escorregar do telhado indo cair
exatamente dentro da gamela, onde
morreu afogado.”.
Irmãos Grimm

Momentos antes daquele disparo que selaria


o destino do clã Bennet, Dylan apertou Jessica nos
braços, beijando-lhe o rosto.

O sangue rubro escorreu da cabeça dela até a


bochecha. Ele deslizou os dedos, molhando as
madeixas negras com o tom vermelho.

— Chapeuzinho vermelho... — murmurou.

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Sorriu.

— Jess, você sabia que, uma vez, uma


graciosa menina — ele riu, antes de lhe beijar os
lábios —, oh, e quem a via ficava logo gostando
dela, assim como ela gostava de todos; — respirou
fundo, puxando a pistola da cintura. —
Particularmente, ela amava a avó que a presenteou
com um chapeuzinho de veludo vermelho e, porque
lhe ficava muito bem, a menina não quis usar outro
e acabou ficando com o apelido de Chapeuzinho
Vermelho.

Respirou pausadamente. Ergueu a arma.

— Eu realmente não sei se é uma história


feliz, mas ao menos o lobo morre — ele contou.

E então disparou.

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Capítulo 15

"Chapeuzinho Vermelho pôde voltar


felizmente para casa e muito alegre,
porque ninguém lhe fez o menor
mal.”.
Irmãos Grimm

Ele não se chamava mais Harold Dayley.


Com o fim do clã Bennet, trocou de nome, e agora
era conhecido pela alcunha de George Cass.

Mesmo assim, a vida tinha dessas coisas, de


sempre trazer traços do passado. E, assim como ela
o reconheceu tão logo o viu, ele também soube que
era ela, mesmo um tanto diferente, de cabelos
escuros e olhar sereno.

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Ela ergueu o livro. Depois da vida no crime,


Harold tornou-se escritor. Sua primeira obra
impressa foi logo um sucesso. Narrava à história
“Romeu e Julieta” de dois bandidos que se uniram
por uma vingança em comum.

Ao contrário do cenário criado por


Shakespeare ou pelos protagonistas reais, Jessie e
Dean – seus personagens – viveram felizes para
sempre em uma fazenda no México.

— Madison... — ele murmurou, a


convidando para entrar.

Era frio em Dakota do Norte. Mas, a casa de


dois andares no interior de uma cidadezinha que
nem constava no mapa estava confortável e
aquecida.

— Como você está? — ela indagou.

— Eu me casei. Minha esposa deve logo


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chegar com os gêmeos – explicou. – Ela ficará feliz


em conhecê-la. Já falei muito de você.

Madison, agora morena, sorriu.

— Gêmeos?

— Jessica e Dylan.

— É justo — ela suspirou. — Morreram


juntos. Nascem juntos. É a vida que nunca deixa
almas gêmeas distantes por muito tempo.

— Você sabe... — Madison bebericou o chá.


— Até o final, eu aguardei. Fiquei em um carro na
esquina dos Bennet. Tive esperanças...

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— Esperanças?

— Tolas, eu sei. Mas, esperei que ela


estivesse fingindo o tempo todo, assim como fingia
para você... E então, no momento propício, desse
um tiro em Dylan e voltasse para ficar comigo.

Harold sorriu, triste.

— É estranho, porque era amor, não é? — o


homem comentou. Não havia julgamentos em seu
tom. — Uma forma distorcida de amor, mas amor
— exemplificou. — Dylan e Jessica ficariam
juntos, não importariam as circunstâncias. Estava
escrito.

— Eu sei disso. Tive muito tempo para


pensar. Ela me deixou tudo que tinha porque queria
me recompensar pela lealdade e desculpar-se por
despertar sentimentos em mim dos quais era
incapaz de corresponder. Com o dinheiro pude

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comprar uma mercearia e mudar de vida. Jessica


me deu tudo. Doou-se para mim. Mas, o coração
dela nunca foi meu.

A neve lá fora começou a cair com mais


intensidade.

— Ainda acredita em finais felizes? — ela


indagou a Harold.

O homem sorriu. O vento uivou anunciando


uma noite barulhenta.

— Finais felizes existem — ele afirmou. —


Dylan e Jessica tiveram o deles. Tudo depende da
forma como você encara isso.

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O telefone tocou naquela casa bonita no


México. O homem atendeu a ligação com calma,
enquanto bebericava conhaque e lia o jornal.
Sentado em sua poltrona favorita, ele observava o
bebê dormindo num bercinho perto da janela.

— Sim?

— Madison veio aqui — Harold comentou.

— É mesmo? Como ela te descobriu?

— O livro.

O negro quase podia ouvir um “Há” do outro


lado da linha.

— E o que disse a ela?

— Nada importante. Pelo que Madison sabe,


vocês estão mortos.

Jessica surgiu ao fundo. Caminhou direto


para Justine, e a pegou no colo. Era hora de dar-lhe
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de mamar. Dylan sorriu diante da visão.

Naquela noite em que Antony Foster morreu,


ele viu-se obrigado a atirar na mulher. Ou ele faria
isso, ou Harold faria, movido pela piedade. Caso
ambos falhassem, Jessica mesmo daria fim a sua
vida.

Ela verdadeiramente queria morrer.

Então, ele engatilhou a arma e disparou.


Porém, de raspão. O suficiente para machucá-la e
desacordá-la.

Enquanto a tinha ensanguentada nos braços,


percebeu que ambos precisavam morrer para que
pudessem viver em paz com novas identidades.

Simulou seu suicídio. Harold cuidou do


resto. Quando seus homens viram a cabeça
ensanguentada de Jessica, a palavra sobre Dylan
restou.
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Eles morreram para o mundo, mas nasceram


para uma nova vida.

— Agradeço por tudo, Harold — Dylan


murmurou.

O outro apenas sorriu. Não precisava das


palavras. Eram irmãos, fariam tudo um pelo outro.

Mais tarde, Dylan achegou-se a esposa.


Jessica estava deitada, lendo um romance qualquer.

— Mi esposa — ele murmurou nos seus


ouvidos, fazendo-a rir.

Jessica não ofereceu resistência. Ela gostava


da mágica que acontecia em seu corpo sempre que
Dylan a tocava.

— Oh, Dylan... — ela murmurou. — Estou


cansada, Justine não dormiu durante a noite.

Ele sabia, havia a ajudado com a bebê de seis

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meses. Depois, ao amanhecer, foi para seu


respeitável emprego em uma sapataria.

— Você é tão linda — ele mordeu o lóbulo


de sua orelha.

— Acha mesmo que essa sedução barata vai


funcionar?

Houve um breve silêncio.

— Acho — ele riu.

O riso dela seguiu-se ao dele.

— Então está coberto de razão, meu amor.

E afundaram-se embaixo das cobertas. Mais


uma noite. Noites que se seguiriam até o fim de
suas vidas.

~~ Fim ~~

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DEMAIS LIVROS
CONTEMPORÂNEOS DA
AUTORA

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Laços de
Amor
Ele era um homem
cruel...

Alex Grassi estava a um


passo da presidência na
Rozzi Empreendimentos
quando seu caminho
cruzou com uma jovem
inocente e solitária que
lhe despertou diversas
emoções.
Contudo, no auge de sua
carreira, ele não tinha
tempo para viver um
amor avassalador como
aquele.
Alex tinha seus
demônios e a segurança
profissional se mostrou
mais importante que a
presença que parecia
acalentar sua alma.

E ela sofreu por isso...

Liliana dos Santos tinha


um histórico de rejeição
que nunca a abandonou.
Deixada ainda bebê em
um orfanato, excluída até
mesmo do convívio com

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as outras crianças por


conta da dislexia, ela se
tornou uma adulta
insegura e medrosa até
seu caminho cruzar com
Alex.
Ele parecia o homem
perfeito. Forte e seguro.
E ela escondeu-se atrás
de sua personalidade
intensa. Todavia, quando
se descobriu grávida,
percebeu que precisava
lutar sozinha.
Liliana soube, assim, que
havia uma força
imensurável em sua alma
feminina. Ser mãe lhe
deu coragem de lutar
contra tudo e todos pelo
seu bebê. E isso incluía
Alex.
A Noiva de
Nicolas
Ele precisava
de uma noiva...

Às vésperas de
assumir a
Presidência da
Empire
Eletronics,
Nicolas Padyris
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se viu
pressionado
pela abastada
família a se
casar.
Sentia-se no
século passado,
mas os
tradicionais
gregos Padyris
não lhe
repassariam tal
posição se não
encontrasse a
noiva perfeita.

Ela precisava
de dinheiro...
Carolina
Miranda saiu
do Brasil para
trabalhar.
Completamente
falida, ela
chegou às ilhas
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gregas com a
intenção de
juntar dinheiro
para retornar ao
país e abrir sua
própria
empresa.
A proposta de
um dos clientes
do bar em que
servia pareceu
vinda dos céus.
Fingir-se de
noiva de um
magnata grego
por uma boa
quantia lhe
daria a chance
de se
restabelecer.

O que nenhum
deles contava é
que aquela
farsa tornaria-
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se uma amizade
verdadeira que
logo se
vincularia ao
amor.
Nunca te
Esqueci
Ela lutou por
dignidade
Francesca
Abreu era fruto
de uma vida
difícil. Mesmo
assim, quando
conheceu
Andreas
Padyris,
confiou
cegamente que
o homem seria
seu grande
amor. Todavia,
quando
percebeu que
ele apenas
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queria usá-la
para atingir o
primo, fugiu,
desconhecendo
que levava
consigo o fruto
daquela paixão
avassaladora.

Ele lutou por


dinheiro...
Andreas
Padyris tanto
fez que
conseguiu
assumir a
Presidência da
empresa da
família.
Todavia, isso
custou muito.
Especialmente
o amor da única
mulher que fora
sua confidente
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e amiga. Perdê-
la lhe
evidenciou de
que o dinheiro
não era tudo, e
de que nem
todos que
tinham seu
sobrenome
eram
definitivamente
sua família.

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No Calor dos Seus


Braços
No deserto escaldante do
Qatar, eles aprenderam a
se amar...

Rosário Guerra
acreditava na premissa de
que almas gêmeas eram
espelhos uma da outra.
Aos vinte e nove anos,
virgem, completamente
invisível aos olhos de
todos, ela mantinha uma
fagulha acesa de
esperança de um dia
conhecer alguém,
apaixonar-se, constituir
uma família e ser feliz.

Não sabia, claro, que a


felicidade era um árduo
caminho pelo deserto do
coração de um homem
que, primeiramente, em
nada se assemelhava a
ela.

Porém, Darius Hayek


escondia mais do que
seus olhos verdes
pudessem expressar. O
passado de rejeição, a
autodestruição e o fogo
de uma alma indomável,
enfim, pareceu completar
a de Rosário.
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Ambos, figuras tristes,


cada um ao seu modo,
num mundo que os
arrasou em dor.

O amor poderia curar


suas feridas, mas para
isso eles precisavam
aceitar que haviam,
enfim, se encontrado.
Almas gêmeas que
haviam passado toda a
eternidade a se buscar.

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Uma Música para


Nós
A música de Miguel
salvou sua vida.

Beatriz Martins não


se importava com as
críticas à sua vida de
tiete. Seguir e
idolatrar Miguel Lins
era tudo que ela
tinha. As canções do
cantor pop haviam
lhe salvado no seu
pior momento, e
agora vivia por ele.

Ao descobrir que o
astro havia ido às
montanhas para um
descanso merecido,
ela o seguiu, a fim de
tirar algumas fotos e
observá-lo de longe.
Contudo, ambos
acabaram presos no
lugar pelo destino.

Aqueles dias que


poderiam significar o
paraíso lhe indicaram
um homem sádico,
de temperamento
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de temperamento
difícil e palavras
felinas. Sua
decepção, contudo,
lhe trouxe mais que
memórias.

Restou a ela um laço:


Samuel, seu pequeno
filho, que a ligaria
para sempre ao
famoso artista.

Uma Música para


Nós é um livro
rápido, ágil e
sentimental. Josiane
Veiga explora, mais
uma vez, a natureza
humana em todas as
suas nuances. Uma
leitura prazerosa com
personagens
complexos e cheios
de traumas,
buscando por
redenção.

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A SAGA DOS REINOS


LIVRO 1
Três reinos. Três
povos. Uma mulher,
unindo todos eles...

Esmeralda de Cashel
era uma imunda.
Filha de um estupro,
uma branca em terra
de negros. Tudo que
buscava em sua vida
era encontrar o
maldito homem que
havia destruído sua
mãe... Mesmo que
para isso ela
precisasse avassalar
o coração solitário de
um Rei amargurado.

Cedric de Bran via


seus dias cruzarem
diante de seus olhos
por trás de uma
máscara que
escondia seu rosto
deformado. Não
acreditava no amor,
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mas, quando chegou


ao seu reino uma
mulher de cabelos
vermelhos e olhos
cor de esmeralda, ele
não pôde escapar da
magia que parecia
dela emanar.

LIVRO 2
O amor os destruiu...

Elisabeth de Brace era


descendente direta da
antiga e mitológica
Rainha Esmeralda.
Contudo, não herdou a
audácia e a coragem de
sua antepassada. Presa
num mundo cruel, dada
por noiva a um rapaz que
não desejava, aceitou a
passagem de seus
monótonos dias sem
reclamações.
Contudo, a desistência do
casamento por parte de
Andrew Clark, fê-la
perceber que as coisas
poderiam piorar.
Para fugir de outro
matrimônio, dessa vez
com um homem
desonrado e repugnante,
aceitou deitar-se com um

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bastardo sem nome, que a


levou a uma vida de
dissabores e desilusão.
Joshua, o bastardo, nunca
creu que Elisabeth um dia
fosse sua. Cumpriu seu
papel de amigo na vida
dela, honrando-a e
amando-a em segredo.
Porém, quando ela
implorou que a tomasse,
ele não pestanejou.
Entretanto, Joshua não
havia nascido para um
relacionamento. Além da
vida desgarrada, ele não
confiava nos sentimentos
da esposa, e a torturava
com seu ciúme e
desconfiança.

Como o amor entre eles


poderia florescer se a
dúvida pairava o tempo
todo entre ambos?
LIVRO 3
Pilhar, roubar,
destruir... Nada disso
satisfazia ao bastardo
pirata Joshua.

Navegando pelos
mares dos deuses, ele
provocava o Rei com

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suas estratégias
cruéis de assalto.
Porém, o que
ninguém imaginava é
que tudo que fazia
tinha um objetivo.
Precisava de ouro
para voltar ao reino
de Bran e destruir a
mulher que um dia
ele amara.

Elisabeth Clark
pagaria caro por sua
traição, mesmo que,
para isso, ele
precisasse destruir-se
junto com ela.
LIVRO 4
Seria o amor capaz de
curar feridas tão
profundas?

Quando o Rei Iwan de


Masha herdou o trono, a
lei que punia os bastardos
pelos pecados de seus
pais foi extinta. Por conta
disso, Norman, um rapaz
destruído pelos castigos
anteriormente praticados
contra si, é reconhecido

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como filho único do lorde


mais abastado de Masha.

Levado das masmorras


até a nobreza, ele se torna
o novo senhor de
Nunemesse, a região
mais quente dos reinos.
Contudo, em si, tudo que
restou foi o ódio. Anos e
anos de apedrejamento,
clausura e tortura o
tornaram alguém seco e
cruel.

Nesse ínterim, Melissa,


uma jovem ignorada e
subjugada, é lhe dada em
casamento. Porém, como
a simplicidade do amor
poderia competir com a
maldade e a dureza de um
coração tão perturbado?
LIVRO 5
Nas terras
montanhosas de
Cashel, princípios
antigos desejam
renascer.

Gideon cresceu à
sombra de uma
antiga religião.

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Acredita que os
princípios destruídos
pelos Reis são a base
para que a terra de
Cashel volte a ser
rica e próspera.

A fome assola seu


povo, a peste ceifa
da criança ao ancião,
e o jovem guerreiro
busca por vingança.
Os Deuses devem ser
punidos por terem
esquecido o povo de
pele escura.

Porém, tudo cai por


terra ao conhecer a
sobrinha do Rei. A
morena de olhar
intenso e
temperamento difícil
faz com que seu
corpo exploda num
desejo avassalador.

A jovem Élen lhe é


proibida. Amá-la é
um pecado. Gideon
não pode fugir da
iniquidade.
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LIVRO 6
O amor e o ódio
mesclados nas
geladas terras de
Bran.

Lana era uma


Vagante, membro de
um clã que andava
entre os reinos em
busca de trabalho.
Aprendeu a arte da
dança e das ervas
desde cedo e, desde
cedo, sonhou com
liberdade.
Contudo, quando
levada até o norte de
Bran, viu-se alvo dos
desejos voluptuosos
de Brian Clark, o
novo Senhor de
Castelo Branco.
Fugir do homem
mostrou-se
impossível. Resistir a
ele, mais ainda. Mas,
havia uma promessa
feita a Deusa Masha.
Lana precisava do
homem certo para
trazer ao mundo o

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Deus Bran. E esse


homem com certeza
não seria alguém tão
perverso quanto o
homem audacioso
que a fazia tremer.

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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do


Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e teve
em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus
primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho
do céu”, e até então já escreveu mais de vinte
livros, dos quais, vários destacaram-se em vendas
na Amazon Brasileira.

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