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Elisa Braden
SINOPSE
11 de setembro de 1814
Wiltshire, Inglaterra
*~*~*
11 de setembro de 1814
Lake Champlain, New York
Jonas deveria ter sido morto umas dez vezes até agora.
Doze, se contasse um marido raivoso que o perseguiu com um
machado ou o pai raivoso que, com um tiro, tirara o chapéu
de sua cabeça. Mas ele nunca contava os incidentes
envolvendo mulheres e bebidas. Esses eram autoinfligidos.
A verdade era que Jonas Bartholomew Hawthorn não
fora feito para morrer. Pelo contrário, ele fora amaldiçoado
para assistir os outros morrerem.
― O que está desenhando aí, Hawthorn? As tetas da sua
mãe? ― Risos alegres seguiram a piada, misturando-se ao
ruído dos cascos da fragata e ao estalo de suas velas.
Jonas levantou o rosto de seu esboço. O sol brilhava
como um espelho sobre o enorme lago naquela manhã.
Enquanto os carpinteiros raspavam e martelavam e os
homens da infantaria mal treinados colocavam os canhões no
lugar, ele estava aproveitando alguns momentos abençoados
antes da batalha para registrar o cenário ao seu redor: milhas
de lago de água azul, uma margem com floresta densa e um
bando de gansos voando acima.
Em breve, a morte chegaria. Por enquanto, ele exploraria
algo mais bonito.
― Não. ― Ele respondeu ao insulto de Bailey com um
sorriso meio preguiçoso. ― As tetas da sua mãe são mais
atraentes. Quer dar uma olhada?
A alegria de seu colega soldado azedou-se. Aos vinte
anos, Bailey era apenas um ano mais novo do que Jonas, mas
vira apenas uma escaramuça medíocre no continente antes
de embarcar ao Canadá com o Trigésimo Nono Regimento de
Infantaria. Jonas se juntara ao Trigésimo Nono aos dezesseis
anos. Ele sobrevivera aos mosquetes e canhões em Buçaco,
atirou lanças em Albuera. Ele assistiu homens como Bailey
irem cegamente enlouquecidos para Vittoria e desmoronarem
como marionetes em Toulouse. Ele vira inúmeros franceses
morrerem por suas mãos. Hoje, ele veria o mesmo acontecer
aos americanos.
Jonas era experiente e a morte o conhecia bem.
O ruivo Bailey levantou seu queixo de barba ruiva.
― Eu não deixo ninguém insultar a minha mãe, seu
canalha.
Rindo, Jonas assoprou o pó do carvão de seu desenho,
guardou o pequeno caderno no bolso e entrecerrou os olhos
sobre o deplorável jovem antagonista.
― Talvez não devesse deixá-la rebolar nua com os tipos
como eu.
― Como assim, rebolar?
― Vadiar.
A confusão se transformou em fúria.
― Você nunca encontrou a minha mãe. Ela voltou à
Inglaterra.
― Não, de fato. Embora nada amplie mais o prazer de um
homem do que a expectativa.
A confusão retornou.
― O que diabos está dizendo?
Jonas agarrou o corrimão às suas costas e se levantou.
Ele se movimentou devagar, pois sempre achara que ser
subestimado era uma vantagem valiosa. Por outro lado, ele
era alto, então se inclinou contra o corrimão para reduzir sua
altura. Depois, sorriu.
― Estou dizendo que é melhor evitar mencionar a mãe de
um homem.
― Foi isso o que eu disse.
― Então, nós concordamos.
Bailey coçou a sua cabeça ruiva.
― Eu não gosto muito de você, Hawthorn.
O sorriso de Jonas cresceu.
― Dê um tempo e você não gostará nada.
Outra coçada. Mas testa franzida em confusão.
― Quando a batalha começa?
Jonas suspirou e olhou para trás. Eles estavam
passando pelo farol na Cumberland Head. Esperava que os
navios começassem a atirar em breve, mas os tolos como
Bailey não tinham paciência. Ansiavam por uma luta, mesmo
que essa fosse contra seus colegas. Jonas apenas queria ser
deixado em paz.
― Não se preocupe, Bailey. Em breve você estará
limpando o sangue do convés. Provavelmente o seu próprio.
Se sobreviver, poderá voltar a beber rum e a insultar as mães
dos colonos.
― Bom em falar bobagens. Ouvir dizer que o Tenente
Phillips puxou o seu traseiro de uma prisão para embarcar no
Confiance.
Jonas cruzou seus braços e deu uma risadinha.
― Um mal entendido. Acontece que a mulher do alferes
não foi confiável ao dizer que seu marido não voltaria em
horas.
― Você estava bêbado.
― Cada homem do Trigésimo Nono estaria na prisão se
isso fosse uma ofensa.
Bailey estreitou os olhos.
― Você foi pego beijando a dama no quarto do marido
dela.
―Humm. ― Jonas sorriu com a recordação. ― Falando
em seios adoráveis.
Três homens da infantaria mais jovens se aproximaram,
flanqueando Bailey e semicerrando os olhos para Jonas com
vários graus de nervosismo.
― O último canhão está no local. ― Disse o loiro, secando
o suor de sua testa com as costas sujas da mão.
― Maldição. ― Disse o mais alto com uma marca cor de
vinho em sua bochecha. ― Nunca pensei que sentiria falta da
sujeira espanhola novamente.
Clayton, Jonas se lembrou. O nome do homem era
Clayton. Ele tentava evitar descobrir os nomes deles, mas a
marca de nascença era muito vívida, assim como o cabelo
ruivo de Bailey.
―Aye. ― Falou o mais magro, remexendo-se de um pé
para o outro como se lutasse para segurar a urina.
Jonas virou os olhos para a popa. Os navios menores do
esquadrão seguiam como cordeiros atrás de uma ovelha. O
Confiance era o maior de todos ― o maior navio, o maior alvo.
As nuvens cobriram momentaneamente o sol, colorindo a
água de cinza.
Ele girou para olhar ao norte, além da proa. À distância,
uma linha de navios de guerra americanos esperava para
recebê-los com uma estrondosa saudação.
Olhou para os homens diante dele, parte de uma
tripulação montada às pressas para uma embarcação não
terminada. Olhou para as pranchas sujas de piche sob as
suas botas. Os conveses foram construídos com madeira
verde tão áspera que os canhões do enorme navio tiveram que
ser erguidos em vez de serem rolados. Mesmo para uma
tripulação bem treinada ― o que eles não eram ― usá-los era
um trabalho árduo.
Olhou para cima, para o cordame e sentiu o vento forte
enfraquecer dentro das grandes e brancas velas. Lutou contra
um frio estranho e agourento.
― Espero que esteja certo. ― Ele murmurou, afastando-
se do corrimão. ― Melhor começar. ― Ele se abaixou para
pegar sua sacola assim que um oficial atarracado como um
castor se aproximou. Evitando os olhares azedos do homem,
Jonas encolheu os ombros sob a sua sacola. Obviamente o
alferes ainda estava irritado com o incidente entre Jonas e os
adoráveis seios da esposa dele.
― Tomem as suas posições. ― O castor gritou. ― Estejam
prontos.
Eles se moveram para baixo do convés de canhões. Outro
arrepio serpenteou através dele diante do caos: marinheiros
grisalhos gritavam ordens para uma tripulação de oito
homens com pouquíssima experiência. Mesmo ali, os
carpinteiros corriam carregando fitas métricas e ferramentas.
Bolas de quase meio quilo esperavam nas prateleiras para
serem carregadas após a primeira saraivada.
Uma mão puxou seu ombro para trás.
― Mova o seu traseiro inútil, Hawthorn. ― O castor
vociferou.
Ele quis perguntar se a esposa do alferes achava o seu
traseiro inútil ― ela pareceu bastante impressionada, pelo que
se lembrava. Mas ele não gostaria de ser enfiado em um
canhão e atirado ao outro lado da baía. Em vez disso, segurou
a língua e se uniu a Clayton e Bailey e cinco outros homens
no sétimo canhão.
Um oficial com sotaque escocês, um sobretudo azul e
grandes dragonas1 vagava pela linha dos canhões, mãos
atrás das costas, olhos na tripulação. Ele era mais jovem do
que Jonas esperava para um comandante de um esquadrão ―
trinta anos, supunha. Mas os olhos do Capitão Downie
pareciam tão sombrios quanto Jonas sentia.
Um terceiro calafrio arrastou-se pelo pescoço de Jonas.
― Preparem-se para carregar os canhões! ― O Capitão
Downie anunciou sobre a cacofonia. Atirar os canhões
sinalizava que o exército britânico na vila de Plattsburgh
avançaria em um ataque coordenado. ― Enquanto nós
vencemos a batalha na baía, nossos soldados clamarão vitória
em terra!
Jonas observou o capitão, orgulhoso e direto, receber
acenos respeitosos da tripulação inexperiente e rejeitada por
outros navios. Todos pareciam ter segurança. Mas aos olhos
de Jonas, Downie não parecia um homem prestes a vencer
uma batalha. Ele parecia um homem indo à forca.
Outro calafrio arrepiante o atingiu, transformando-se em
coceira ao longo de sua nuca. O olhar de Jonas caiu sobre
Bailey, febril de antecipação. Ao lado dele, o firme Clayton
parecia confiante, embora sua garganta ondulasse como em
um gole.
Ao sinal do capitão, eles carregaram os canhões. Cada
canhão recuou vários metros, parou apenas pelas cordas de
segurança que os prendiam. Jonas e o resto da tripulação se
apressaram para carregar e colocar a arma de duas toneladas
de volta a posição.
Seus ouvidos zumbido como insetos.
O navio mantinha o seu curso em direção ao navio de
bandeira americana, o Saratoga. Pode ter levado minutos ou
horas até o Confiance sofrer seu primeiro golpe ― minutos,
provavelmente. Quando a explosão aconteceu, a madeira
estilhaçou e voou como balas. Os conveses acima foram
destruídos. Se os seus ouvidos estivessem funcionando, teria
ouvido os gritos dos homens morrendo. Como estavam, ele
não conseguiu ouvir nada além do zumbido.
Entretanto, ele conseguia enxergar. Um dos tenentes,
com o rosto manchado de sangue, gritar a Downie, que estava
parado ao lado de um dos canhões. Jonas viu a boca do
tenente repetir as formas das palavras ‘perdemos” e “maldita
âncora”.
Apesar de seus esforços para subir nas cordas dos
canhões, o calafrio de Jonas agora pulsava espesso dentro
dele. Inferno maldito. Se eles tivessem perdido a âncora,
teriam pouca esperança para manobrar até uma posição
apropriada para a batalha, muito menos virar o navio para se
valer de novas armas. Ele entrecerrou os olhos pela abertura
do canhão em direção ao Saratoga. O vento cessara. De fato, o
Confiance parecia ter diminuído a velocidade a um rastejar
aquém da posição que precisavam para um ataque completo.
O marinheiro que liderava a tripulação de Jonas
gesticulava freneticamente, tentando transmitir a necessidade
de armar-se novamente. Jonas pareceu ser o único a
entender, então ele empurrou um Clayton que franzia a testa
e um Bailey de olhos vítreos em direção ao lado oposto do
carregamento de canhões. Mostrando-lhe o que era preciso,
apressou-se à frente e fez o mesmo com outros dois homens.
O marinheiro lhe acenou em agradecimento.
Quando o Confiance atirou nos americanos, já havia
sofrido um dano fatal. Jonas sentiu isso chegar. A perda da
âncora, a morte do vento. A tripulação desorganizada e
inexperiente. Até mesmo a madeira verde dos conveses. Esses
fatores não foram os responsáveis pelo desastre que se
seguiu. Em vez disso, gotas individuais de azar coincidiram
para formar o curso.
Uma das embarcações menores fora danificada mais
cedo. Ele flutuava como um barco de brinquedo infantil entre
o Confiance e o Saratoga, negando-os um tiro curto.
Eles esperaram e esperaram por sinais de que as forças
terrestres tivessem avançado e comprometido as fortalezas
americanas. Os sinais nunca vieram.
Pior de tudo, não mais do que meia hora do início da
batalha, o Capitão Downie foi derrubado por um de seus
próprios malditos canhões. Foi atingido diretamente por uma
bala atirada pelo Saratoga, o enorme canhão de ferro voou de
seu carro e esmagou o escocês de olhar sombrio com o seu
peso. Seu relógio foi esmagado também, marcando o
momento de sua morte.
A tripulação do canhão já exausta e desesperada,
afundou-se no desespero. Jonas e o marinheiro continuavam
a empurrar os outros homens às suas posições. Continuaram
gritando, embora ninguém pudesse escutar. Continuaram
gesticulando para recarregar. Jonas continuou levando o
canhão em seu lugar, ignorando a mancha de piche e sangue
no convés. Ignorando o odor fétido da morte, o cheiro amargo
da pólvora queimando em um clarão. Ignorando a inclinação
do navio enquanto eles afundavam na água.
Outra explosão atingiu o casco do Confiance. Lascas de
madeira verde voaram, salpicando em sua carne como tiros
de chumbinho. Ele ignorou isso. Forçou suas botas a se
apoiarem às pranchas ásperas e empurrou o carrinho do
canhão.
Perder não era desculpa para desistir.
Outra explosão. Um laranja brilhante passou pela visão
periférica de Jonas. O horror manchado de vinho envolveu o
rosto suado de Clayton que olhava boquiaberto para o convés
atrás de Jonas. Agarrando o braço de Clayton, ele o empurrou
para que olhasse para a direção oposta.
Não fazia sentido olhar. Bailey estava morto.
Provavelmente melhor. Os feridos estavam sendo
arrastados ao convés abaixo, onde a água estava acima de
seus narizes. Aqueles que não tinham sido feitos em pedaços,
estavam prestes a se afogar.
Apenas carregue o canhão. ― Pensou. ― Carregue o
canhão e atire.
A tripulação à esquerda havia sido eliminada no último
ataque lateral. Metade da tripulação à sua direita estava
sentada no convés sujo de sangue, os olhos vazios e baixos,
as cabeças abaixadas em derrota.
Que maravilha. As armas deste lado do navio estavam
reduzidas a quatro. Eles perderam a segunda âncora há uma
hora. Sem âncoras ou vento, eles não tinham chances de virar
o navio para o conjunto de canhões novos.
Apesar do desespero, apesar de tudo, ele agarrou as
cordas e forçou a sua tripulação a empurrar o canhão em
direção à sua abertura. Ao sinal do tenente, Clayton acendeu
a arma.
O tiro sacudiu o navio.
Imediatamente a sua tripulação correu para recarregar.
Ela batia nos ombros e oferecia acenos de
encorajamento. Podia não saber os nomes deles. Ele poderia
nunca mais ver os seus rostos novamente. Mas se
sobrevivesse, queria que eles tivessem certeza de uma coisa: a
falha não fora deles.
O suor ardia os olhos. A fumaça queimava os pulmões.
Os ombros estavam em chamas pelo esforço de puxar uma
arma de duas toneladas para a posição, de novo e de novo.
A bochecha com a marca vinho de Clayton atraiu a sua
atenção um momento antes de ele ter um vislumbre do
Saratoga. Onde o rosto do rapaz não era marcado, ficou
branco. Branco como as nuvens sobre o Lago Champlain.
Ele se virou como se fosse fazer uma pergunta a Jonas.
Em seguida o seu corpo estava voando. Colidindo. Um
crânio duro com uma marca vinho atingiu o queixo de Jonas.
Lampejos de luzes giraram e faiscaram. Oitenta quilos de seu
colega de infantaria amassaram-no como uma semente
embaixo de um arado. A força fez com que ambos deslizassem
pela madeira verde e manchas vermelhas de sangue
Por um tempo ele flutuou dentro do branco e cinza.
Ouviu um zumbido. Primeiro, culpou o zumbido nos ouvidos
que não pararam desde que o tiroteio começou.
Mas não, este era musical. Uma voz suave e leve. Oscilou
um pouco, como as águas do lago na costa de pedras. Uma
beleza tímida e incerta. Ele quis capturá-la. Prolongá-la e se
aquecer.
No som, um calor tímido.
A terra apareceu diante dele, uma extensão ondulante de
pasto, ovelhas, cevada e centeio. Também casinhas. Telhados
de palha em bom estado. Uma casa grande feita de pedra
cinza com, de todas as coisas, torres em dois cantos. Como
um castelo em miniatura.
Ele se sentou em um jardim à sombra de um salgueiro
mais alto do que a casa. Sob os seus pés havia pedras
quadradas e, entre as pedras, havia tomilho. A fragrância da
erva encheu sua cabeça, parecendo verão. Flores se
derramavam dos vasos próximos. Uma fonte espirrava. Ele
não conseguia vê-la, pois os dois lados do jardim eram
ornados por sebes altas, mas a ouvia. Uma luz dourada
atravessava a névoa. Isso iluminou tudo.
O vento soprou.
― Algum dia. ― Ele pareceu suspirar.
Não. Não algum dia. Agora. Ele queria ficar ali, com a voz
gentil dela limpando-o da morte.
Ele tentou insistir. Tentou falar.
― Não é assim que termina. ― O vento assoprou.
Em meio a fios brancos e luz dourada, logo atrás dos
galhos do salgueiro chorão, ele viu uma seda preta tremular.
Talvez a asa de um pássaro? Um corvo. Preto cintilante.
Ela cantarolou a sua canção.
― Não é como termina. ― Sussurrou o vento.
O preto se afastou entre as folhas. O nevoeiro engoliu o
jardim. Sua canção ficou fraca. Ansiosa. Assustada.
Não! Ele queria ficar. Deus, por que ele não podia ficar?
― Não é como termina.
Ele precisava ficar. Precisava encontrar seu lugar.
Encontrá-la.
O branco e o cinza se desvaneceram na noite. O ruído em
seus ouvidos ficou mais forte. Uma força violenta o levantou
por uma fenda no céu.
O preto ficou vermelho. Vermelho ruivo.
E vinho.
E madeira.
Alguma coisa estava deitada no seu peito. Pesada. Não
conseguia respirar.
Os ombros doíam. O queixo doía. Os ouvidos zumbiam.
Sua cabeça rolou para o lado. Ele se permitiu um único
momento para fechar os olhos. Ignorar o horror. Recordar a
canção.
Respirar.
Então ele empurrou. Rolou o corpo sem vida de Clayton.
Sentou-se e olhou a morte.
Em todos os lugares. Em todos os lugares.
O rosto com dentes grandes do alferes Beaver apareceu
na frente do dele, limpo, exceto por um pouco de fuligem.
― Hawthorn. ― O homem murmurou. ― Você está vivo?
O diabo o levasse. Sim. Ele estava. Como sempre, ele
estava vivo e rodeado pela morte.
Aquilo parecia uma punição, e uma cruel.
O alferes Beaver murmurou alguma coisa como
‘rendição’. O convés de armas estava coberto pelos destroços
da guerra ― corpos e sangue. Partes do que deveria ter sido
homens e não eram mais. O navio quebrado e rangendo
tombou bruscamente.
Jonas quis rir. O absurdo geralmente fazia isso. Que
farsa esquecida por Deus para enviar homens como Clayton e
Bailey ― soldados da infantaria posando de marinheiros ―
para lutar em um navio não terminado, depois render-se logo
após o massacre. Eles morreram por nada.
Malditamente nada.
Sim, ele quis rir. Mas ele estava coberto pelo sangue
inútil deles.
E ele ainda era capaz de ouvi-la cantarolar. Apenas uma
memória, claro, mas era um doce conforto. Algum dia, ele
escaparia desse mundo vil. Por enquanto, ele encontraria
pedaços de belezas para mantê-lo são ― costa verde e um lago
de água azul. Ou um vislumbre de um preto brilhante entre
os galhos de um salgueiro.
Algum dia, ele teria um lugar bonito em vez da guerra.
Ele ficaria nas pedras que cheiravam a tomilho, assistiria a
luz do sol cortar a névoa e saberia que ele havia encontrado
um lar. Um lar que nenhuma força desse mundo ou do
próximo o faria partir.
CAPÍTULO 1
11 de julho de 1826
Primvale Castle, Dorsetshire
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Ela não vestia nada além da luz da lua. Curvas que ele
só vira cobertas por vestidos teciam um feitiço sinuoso. Fez
sua cabeça girar e seu pênis ficar mais duro do que as pedras
na Caverna de São Cuteberto. Mamilos que ele só tocara
através de tecido estavam duros também. Eles eram rosas.
Joias do tom mais de rosa mais escuro em doces e brancos
como a neve.
Ele a deitou na cama. Agora, estava ao lado dela,
satisfazendo o olhar.
Ele queira olhá-la para sempre. Mas havia muito que
tocar.
Deslizando a mão pelo cabelo, ele considerou suas
opções. Precisava manter o controle. Isso nunca fora um
problema antes dela, mas agora era um maldito problema.
Nada era mais bonito para ele do que a sua esposa. A
curva de sua cintura encaixada em seus quadris delgados.
Seu ventre liso, aveludado como um pêssego. Os cachos
negros entre suas coxas, um oásis para um homem sedento.
― Jonas? ― A neve caindo o inflamou. Fez seu coração
acelerar e seus músculos doerem.
Ele se afastou dela. Tentou respirar novamente contra a
necessidade eterna. De tomá-la. Dura e profundamente. Duro
e com força. Sem limites. Sem pausa.
O que ele precisava era de uma estratégia. Uma forma de
que ela o acompanharia em cada parte. Que ele não faria
nada para lhe causar medo e dor.
Ele se virou. Caminhou até ela.
Ela parecia confusa.
― Jonas?
― Eu vou descrever o que pretendo fazer. ― Ele absorveu
o choque de sua bela novamente. Por Deus, ela fazia sua
cabeça mergulhar. ― Antes de eu fazer isso.
― Oh.
Ele engoliu em seco e assentiu. Era uma boa ideia. Ela
não queria que ele a considerasse fraca, mas ele acabara de
despertar de um sono pesado para encarar a verdade horrível
e cruel que ela suportara. Ela simplesmente teria que aceitar
esse acordo.
Ela suspirou e se contorceu sobre o cobertor, levando o
corpo dele a uma febre.
― Muito bem. Se acha que deve.
― Devo.
― Devemos começar agora ou...?
― Sim. ― Ele encarava seus seios, perguntando-se qual o
gosto deles.
― Jonas.
Ele provavelmente deveria manter suas calças. Melhor
controlar dessa forma.
― Talvez devesse me beijar.
― Eu removerei minhas calças agora.
― Bom. Eu gostarei disso.
Se ela estava nua, ele deveria ficar nu. Fazia sentido. Ele
rapidamente as dispensou, pulando em um pé quando o
outro ficou preso.
Lábios como botão de rosa curvaram-se em um sorriso
malicioso. Os dedos dela moveram-se até sua boca.
― Aparentemente o seu desejo ficou inalterado.
Ele olhou para baixo antes de jogar a calça de lado.
― Aye.
― Isso me deixa muito feliz.
― Vou deitar ao seu lado agora.
Ela assentiu, movendo-se em direção ao centro da cama
para lhe dar espaço.
― Mudei de ideia.
Olhos de luar escureceram desapontados.
― M-mudou?
― Aye. ― Ele se ajoelhou. Eu irei pegar as suas pernas e
puxá-las em minha direção.
Ela piscou.
― Oh. Com que intenção?
― Assim eu posso prová-la.
Cílios grossos pestanejaram. Lábios macios se abriram.
― Oh!
Ele segurou os joelhos dela. Virou-a de lado e a puxou
para ele. A posicionou precisamente onde a queria, com o
traseiro na beira da cama e as pernas apoiadas em seus
ombros. Ele ficou feliz por estar de joelhos, pois o aroma dela
o deixou inebriado assim como uma garrafa de conhaque dos
Wallinghams. Rosas. Chuva. Tempestade marítima e uma
doce mulher.
Ele separou ainda mais as coxas dela. Apreciou a beleza
de sua mulher.
― Eu vou beijá-la aqui, amor. ― Ele deslizou um dedo por
dentro de suas coxas. Levemente. Apenas um leve roçar, de
fato. Ele usou a outra mão ― a mão que ainda estava ferida
por sua batalha com a árvore ― para mergulhar em suas
dobras, espalhando o mel que ele encontrou ali para o seu
centro de prazer. ― Então, mergulhou um dedo dentro de seu
centro encharcado. ― E aqui. ― Ele mergulhou outro dedo. ―
Eu vou experimentá-la e fazê-la gozar para mim.
Ela gemeu o nome dele. Sua vagina fechou-se ao redor
de seus dedos. Ondulando e exigindo mais.
Ele beijou na beira de uma de suas longas cicatrizes
antes. Branca e fina, começava na parte mais alta de sua
coxa e terminava em seu joelho. Depois, ele se moveu para o
interior da coxa, onde o demônio não se aventurara. Onde a
pele macia e branca era tão imaculada quanto a neve fresca.
Ele a beijou ali, saboreando água de rosas e sal. Saboreando
a sua mulher.
O oásis de cachos negros esperava, e ele lhe deu o que,
agora, implorava ― um toque mais profundo com seus dedos.
Ele os reposicionou para testar uma teoria. Reposicionou
novamente. Recebeu uma respiração ofegante.
― Oh, céus, Jonas. O que é... Isso é... Oh, céus.
E seu sorriso aumentou. Ele abaixou sua cabeça em
direção a ela. Agradou-lhe com firmes carícias de sua língua.
Levou-a cada vez mais alto. Usou cada maldita coisa que ele
aprendera para prolongar a pulsação de seu botão doce e
fazê-la gritar. Fazer Hannah entender o quão bonita ela era
para ele.
Ele lambeu e saboreou. Pressionou e golpeou.
E experimentou. Deus, como ele queria afogar-se nela.
Ela agarrou seu cabelo. Apertou seus dedos até eles
doerem. Arqueou as costas e cantou o nome dele.
Após ele levá-la ao ápice uma vez, decidiu fazer isso
novamente. Então, como prometera, ele retirou seus dedos e
os substituiu por sua língua. Forçou o corpo dela a aceitar o
prazer que ele estava dando como devido.
Ele não queria soltá-la. Ele não queria se afastar. Mas o
seu corpo estava fazendo demandas intensas.
No rastro do segundo clímax dela, ele a reposicionou
novamente, afundando quadris delgados dela na cama e
levantou-se.
― Eu sugarei os seus seios agora, Hannah.
― Jonas. ― Ela ofegou, os olhos brilhando, os braços
caídos moles e esparramados ao lado dos ombros. ― Eu...Eu
não sei se consigo...
― Você consegue. ― Ele lhe assegurou. ― Eu lhe
mostrarei.
Ele se deitou ao lado de sua esposa. Acariciou sua
bochecha e seu cabelo de meia-noite. Beijou a garganta e a
puxou para ele.
Ela ofegou ao sentir a enormidade de sua ereção.
― Oh, céus. Possua-me. Por favor. Você deve estar tão...
Deus, ela era macia. E os mamilos estavam duros.
― Eu irei tocá-la. ― Ele levou sua mão ao seio direito.
Apertou o mamilo e o puxou. Sentiu o ventre dela ondular.
Ouviu a voz de neve caindo excitada. Gemendo. Surpresa.
Sem entender quanto prazer ele podia lhe dar. Ele tomou a
boca dela na sua ― aveludada e madura como pêssegos.
Suas coxas se ergueram, as pernas envolveram os
quadris dele enquanto ela exigia.
Ele segurou os seios por baixo e os sugou. Puxou,
apertou, mordiscou e se deleitou. Então, ele moveu-se ao seio
esquerdo.
Este parecia lhe agradar ainda mais. Os dedos dela
aprofundaram-se em sua nuca. Puxaram seus cabelos. O fez
sorrir contra a pele dela. O terceiro clímax dela veio assim que
ele passou os dentes em suas pontas sensíveis.
Seus doces gritos de êxtase o acalmaram. Fez algo
caótico dentro dele se retesar. Ele diminuiu o auge dela com
beijos sobre sua doce boca. Acariciou a língua dela com a
sua.
― Eu vou fodê-la agora. ― Ele falou, todo seu controle se
fora. Ele não deveria usar tais palavras com ela. Mas sua
mente não estava falando. Era o seu corpo.
Ela assentiu, suas bochechas corando, os seios maduros
e inchados.
― Sim. ― Ela murmurou.
― Será fundo e rápido.
Ela gemeu. Arqueou o pescoço e fechou os olhos por um
breve momento. Quando os reabriu, estavam brilhantes. Eles
o devoravam.
― Sim. ― Ela grunhiu. Sim, sim. Sim.
Ele afastou ainda mais suas coxas. Puxou-a
completamente para baixo dele. E deslizou profundamente
para dentro de sua esposa, sem parar. Sem limites. Sem nada
entre eles além da luz da lua e luxúria.
Ela o agarrou com força ― sua vagina, braços, dedos.
Agarrou-se a ele rápido quando ele começou a impor seu
ritmo. Ele enterrou o rosto em seu pescoço. Beijou a pele dela
e aspirou rosas. Seus quadris agiam por conta própria,
golpeando cada vez mais rápido. Seu pênis estava dentro de
um forno sedoso e apertado. Ele queria explorar. Tudo estava
mais brilhante do que era. A pele dela. Os olhos. O brilho
dentro de seu peito.
Ele não sabia de nada, não sentia nada além dela.
As pernas dela fechadas ao redor dele. Os braços
apertados e os lábios moveram-se por seu ouvido.
Depois ele ouviu. Seu nome.
Ele queria vê-la. Precisava disso.
Então ele olhou. Encontrou verdes pálidos.
Alguma coisa brilhava ali. Uma vibração. Algo único.
Ela cerrava os dentes. Pegou o rosto dele em suas mãos
com uma ferocidade que ele não sabia que ela possuía.
― Mantenha-me com você. ― Ela exigiu, suspirando e o
beijando. ― Fique aqui.
Ele não sabia o que ela queria dizer. Seu corpo
empurrava, levando-os a um precipício. Ela segurou a mão
dele. Levou-a a sua bochecha. Pegou o polegar em sua boca.
Sugou-o com força e mordiscou antes de soltá-lo.
― Mantenha-me com você. ― Ela repetiu.
― O que você precisa?
Ela levou a mão dele aos seios dela. Pegou o polegar e o
indicador e apertou seu próprio mamilo ― com muito mais
força do que ele faria. Ofegando, ela arqueou como se ele
estivesse lhe levando a outro pico. Ela estava quase lá, ele o
sentia chegar. Ondulando em torno dele. Mas quando ela
olhou dentro de seus olhos, era com desespero.
― Por favor. ― Ela soluçou. ― Mantenha-me aqui.
Ele lhe deu o que ela pedia e, em retorno, ela lhe deu a si
mesma. Mesmo quando ele golpeava dentro dela, sentia seu
próprio pico chegar à crista de uma onda rebelde, ela não
afastou o olhar.
Ela o prendeu. O tomou. Amou-o.
E o deixou amá-la.
Deixou que ele a penetrasse.
Dentro do luar, meia-noite, rosas e chuva. Dentro do
coração dela tão brilhante que ele se sentiu cego. Mas ele não
estava. Ele a via.
E, Deus, como ele a amava.
― Hannah. ― Ele falou, desesperado para ter mais. Ele
tocou a sua testa na dela. A manteve com ele.
Um olhar de encantamento quase dolorido cruzou o rosto
dela.
― Estou aqui, Jonas. ― Ela disse enquanto seu corpo
começava a ser tomado pelo clímax, a exigir que ele lhe desse
o seu em retorno. ― Oh, doce céu, estou aqui.
E quando o prazer surgiu e explodiu dentro dele, ele se
rendeu alegremente enquanto repetia a única coisa que ele
sabia ser verdade:
― Você é minha, amor. Apenas minha.
*~*~*
*~*~*
[←1]
Dragona é uma peça metálica ornada com franjas de fios de seda ou ouro, e era usada como
distintivo no ombro do uniforme militar.
[←2]
A cravat é uma faixa para o pescoço, precursora da moderna gravata e gravata borboleta,
originada de um estilo usado por membros da unidade militar do século XVII, conhecida como
croatas.
[←3]
Em inglês, ambos sobrenomes são cores. Gray é cinza e Brown, marrom. Assim, o sobrenome
seria ficaria Cinza-Marrom.
[←4]
topiaria é a arte de podar plantas em formas ornamentais.
[←5]
[←6]
Pêni ― moeda inglesa de menor valor