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©2016, Edward M.

Bounds
Originalmente publicado em inglês
com o
Editora Vida título Prayer and Praying Men.
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Tradução: Juliana Kummel de Oliveira
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Revisão de tradução: Sônia Freire Lula
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Almeida
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Ortográfico da Língua Portuguesa,
assinado em 1990, em vigor desde
janeiro de 2009.
1. edição: ago. 2016
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)
(Câmara Brasileira do Livro, sp, Brasil)

Bounds, Edward M., 1835-1913.


Homens de oração / Edward M. Bounds ; [tradução Juliana Kummel de Oliveira]. -- São
Paulo : Editora Vida, 2016. -- (Série Vida de oração)
Título original: The Weapon of Prayer
ISBN 978-85-383-0336-7
1. Oração – Cristianismo 2. Vida cristã – I. Título. II. Série.
SUMÁRIO

Introdução
1. Homens de oração do Antigo Testamento
2. Homens de oração do Antigo Testamento (continuação)
3. Abraão, um homem de oração
4. Moisés, um poderoso intercessor
5. Elias, um profeta de oração
6. Ezequias, um rei de oração
7. Esdras, um reformador de oração
8. Neemias, um restaurador de oração
9. Samuel, uma criança de oração
10. Daniel, um prisioneiro de oração
11. A fé dos pecadores na oração
12. Paulo, um mestre da oração
13. Paulo e suas orações
14. Paulo e suas orações (continuação)
15. Paulo e seus pedidos de oração
16. Paulo e seus pedidos de oração (continuação)
INTRODUÇÃO

O REVERENDO EDWARD MCKENDRIE Bounds foi um homem


extremamente dedicado a seu amado Senhor e Salvador Jesus
Cristo. Sua devoção era extraordinária a ponto de estar
constantemente orando e escrevendo sobre ele, exceto durante as
horas de sono.
Deus concedeu a Bounds uma grandeza de coração e um desejo
insaciável de servi-lo. Para isso, desfrutava do que alegremente
chamo de inspiração transcendente; caso contrário, ele não poderia
ter tirado de seu tesouro coisas novas e velhas que excedem em
muito tudo o que conhecemos ou lemos nos últimos cinquenta anos.
Bounds, sem dúvida, é uma estrela brilhante no céu espiritual.
Desde os dias dos apóstolos, não houve homem que o superasse
na profundidade de sua maravilhosa pesquisa sobre a vida de
oração.
Estava envolvido em escrever seus manuscritos quando o Senhor
lhe disse: “Muito bem, servo bom e fiel! […] Venha e participe da
alegria do seu Senhor!” Durante os anos 1911-1913, no Brooklyn,
em Nova York, eu recebia com frequência as suas cartas, que
diziam: “Ore por mim para que Deus renove minhas forças e me dê
visão para terminar os manuscritos”.
Wesley tinha um temperamento doce e perdoador, mas, quando
cutucado, era um homem de “perspicácia penetrante com um dom
para falar que cortava como um chicote”. Bounds era manso e
humilde e nunca se ouviu falar de que tivesse retaliado qualquer de
seus inimigos. Clamava por eles, orando e chorando de manhã bem
cedo e tarde da noite.
Wesley era facilmente enganado. Em certa ocasião, Charles disse
em tom de desgosto: “Creio que meu irmão nasceu para o benefício
dos desonestos”. Homem algum podia abusar da credulidade de
Bounds. Ele tinha uma habilidade rara para avaliar. Bounds
desviava-se de todas as fraudes na profissão e não perdia tempo
com elas.
Wesley passava os dias pregando e cavalgando. Bounds orava e
escrevia dia e noite.
Em seus últimos anos, Wesley não permitia mal-entendidos de
suas posições doutrinárias. Nesse aspecto, Bounds era muito
parecido com ele.
Wesley tornou-se conhecido quando ainda estava vivo. Sempre
era foco de atenção pública. Bounds, embora tivesse sido editor da
Christian Advocate por doze anos, era pouco conhecido fora de sua
igreja.
Wesley aos 86 anos ainda conseguia pregar nas ruas por trinta
minutos. Bounds, aos 75 anos, conseguia orar de joelhos às três
horas da quarta vigília.
Wesley, na época de sua morte, desfrutara de cinquenta e seis
anos de reconhecimento. Seu nome era conhecido por todos. O
cristianismo nascera de novo na Inglaterra sob sua poderosa
pregação e organização. Bounds, em comparação, permaneceu
desconhecido por cinquenta anos, mas recuperaria o “segredo
perdido e esquecido pela igreja” nos cinquenta anos seguintes.
A piedade, capacidade e popularidade de Wesley fluíam do início
de sua vida como um rio majestoso. Bounds fora represado, mas
agora começava a abrir caminho com uma força irresistível, e não
demoraria para ser como o poderoso Amazonas no mundo
devocional. Henry Crabbe Robinson, ao ouvir Wesley pregar em
Colchester, escreveu em seu diário: “Ele estava de pé diante de um
grande púlpito, e de cada lado havia um ministro, e os dois o
sustentavam. Sua voz era fraca e mal podia ser ouvida, mas sua
aparência reverente, principalmente seu cabelo longo e branco,
formava uma imagem que nunca será esquecida”. O escritor dessas
linhas abdicou do púlpito no Brooklyn em 1912 a favor do reverendo
E. M. Bounds apenas dez meses antes de sua morte. Sua voz
estava fraca e suas frases não eram bem articuladas. Quando ele
calmamente terminava a pregação de apenas vinte minutos, parecia
exausto.
Wesley tivera dinheiro suficiente para gastar durante todo o seu
ministério. Bounds não ligava para dinheiro. Não que o depreciasse,
mas considerava-o um poder de ordem inferior.
Wesley morreu com “brilho nos olhos e lábios que se abriam para
louvar”. “O melhor de tudo é Deus conosco”, escreveu Bounds.
“Quando ele estiver pronto, eu estou pronto; anseio por
experimentar as alegrias do céu.”
Wesley disse: “O mundo é minha paróquia”. Bounds orava como
se o Universo fosse sua cidade.
Wesley era a encarnação do desprendimento deste mundo, a
personificação da magnanimidade. Bounds era a encarnação da
humildade, abnegação e falta de preocupação com o mundo natural.
Wesley viverá no coração dos santos para sempre. Bounds,
eternamente.
Wesley dorme no pátio da City Road Chapel, entre seus queridos
que partiram, sob mármore esculpido em prosa, esperando a
ressurreição. Bounds dorme em Washington, Georgia, em um
cemitério, sem mármore recobrindo o túmulo, esperando a volta do
Noivo.
Esses dois homens tinham elevados e estritos ideais fora do
alcance de outros homens. Será que não existem mais homens
como esses no mundo, agora que estão mortos? Oremos por isso.
HOMER W. HODGE
Brooklyn Nova York
1. HOMENS DE ORAÇÃO DO
ANTIGO TESTAMENTO

O Espírito Santo concederá ao homem de oração o brilho


de uma esperança imortal, a música de uma canção
imortal em seu batismo e comunhão com o coração, dará
a esse homem as maiores e mais doces visões do céu
até que as outras coisas percam o gosto e outras visões
se tornem turvas e distantes. Ele colocará notas de
outros mundos em corações humanos até que toda
música do mundo seja dissonante e sem som.
REVERENDO E. M. BOUNDS

O ANTIGO TESTAMENTO ESTÁ repleto de relatos de homens santos


de oração. Os líderes de Israel naqueles primeiros dias eram
notórios por seus hábitos de oração. A oração era o que se
destacava proeminentemente na vida deles.
Para começar, observe o acontecimento relatado em Josué 10,
em que os próprios corpos celestes foram apresentados em oração.
Uma longa batalha estava em andamento entre os israelitas e seus
inimigos e, quando a noite se aproximava rapidamente, percebeu-se
que seriam necessárias mais algumas horas de sol para assegurar
a vitória dos exércitos do Senhor. Josué, um resoluto homem de
Deus, colocou-se na brecha em oração. O sol declinava com muita
rapidez no oeste para que o povo de Deus pudesse colher todos os
frutos de uma vitória notável, e Josué, percebendo quanto estava
em jogo naquela ocasião, gritou para que o povo de Israel ouvisse e
visse: “[…] ‘Sol, pare sobre Gibeom! E você, ó lua, sobre o vale de
Aijalom!’” (v. 12). E o Sol de fato ficou parado e a Lua parou seu
curso sob o comando desse homem de Deus de oração até que o
povo do Senhor se vingasse dos inimigos do Senhor.
Jacó não havia sido exatamente um padrão de justiça até que
teve um encontro de uma noite de oração. Mesmo assim, era um
homem de oração e creu no Deus da oração. Por isso, rapidamente
clamou a Deus em oração quando se viu em necessidade. Ele
estava fugindo de casa por medo de Esaú e seguia para a casa de
Labão, seu parente. Quando a noite chegou, parou em determinado
lugar para renovar-se com o sono e, enquanto dormia, teve um
sonho maravilhoso em que viu os anjos de Deus subindo e
descendo de uma escada que se estendia da terra ao céu. Não
surpreende que, ao acordar, tenha sido levado a exclamar: “[…]
‘Sem dúvida o Senhor está neste lugar, mas eu não sabia!’”
(Gênesis 28.16).
Foi então que ele fez uma aliança muito definida com o Deus
Altíssimo e em oração compromete-se em voto ao Senhor, dizendo:
“[…] ‘Se Deus estiver comigo, cuidar de mim nesta viagem que
estou fazendo, prover-me de comida e roupa, e levar-me de volta
em segurança à casa de meu pai, então o Senhor será o meu Deus.
E esta pedra que hoje coloquei como coluna servirá de santuário de
Deus; e de tudo o que me deres certamente te darei o dízimo’” (v.
20-22).
Com um profundo sentimento de completa dependência de Deus
e desejando acima de tudo a ajuda dele, Jacó condicionou sua
oração por proteção, bênção e orientação a um voto solene.
Portanto, Jacó fundamentou sua oração a Deus em um voto.
Vinte anos se passaram enquanto Jacó permanecia na casa de
Labão; ele havia se casado com duas de suas filhas, e Deus lhe
dera filhos. Sua riqueza aumentara muito, e ele havia resolvido
deixar aquele lugar e retornar para a casa onde fora criado. Ao se
aproximar de casa, sabia que precisaria encontrar-se com seu
irmão, Esaú, cuja ira não se abatera, apesar de terem se passado
muitos anos.
Todavia, Deus lhe disse: “[…] ‘Volte para a terra de seus pais e de
seus parentes, e eu estarei com você’” (31.3). Diante dessa temível
situação, a promessa de Deus e o voto que ele lhe havia feito muito
tempo antes lhe vieram à mente e Jacó entregou-se a uma noite de
oração. Foi aqui quando ocorreu aquele incidente estranho e
inexplicável de um anjo que luta com Jacó durante toda a noite até
que Jacó por fim obtém a vitória. “[…] ‘Não te deixarei ir, a não ser
que me abençoes’” (32.26). Naquela hora e naquele local, em
resposta à sua oração fervorosa, premente e persistente, ele foi
ricamente abençoado e seu nome foi mudado. Mais do que isso,
Deus foi além do desejo e pedido de Jacó e moveu-se de modo
inesperado sobre a natureza irada de Esaú, e eis que, quando Jacó
se encontrou com ele no dia seguinte, a ira de Esaú tinha sido
inteiramente apaziguada e ele superou Jacó em demonstrar
gentileza ao irmão que agira de forma errada com ele. Nenhuma
explicação dessa mudança notável no coração de Esaú será
satisfatória se deixar de lado a oração.
Samuel, o poderoso intercessor em Israel e um homem de Deus
era produto da oração de sua mãe. Ana é um exemplo memorável
da natureza e dos benefícios da oração insistente. Ela não tinha tido
filho algum, mas ansiava por um menino. Sua alma estava entregue
a esse desejo. Então foi à casa de adoração onde Eli, o sacerdote
de Deus, estava e, cambaleando sob o fardo que lhe pesava o
coração, parecia fora de si e também parecia alcoolizada. Seus
anseios eram intensos demais para ser articulados: “[…] ‘[…] eu
estava derramando minha alma diante do Senhor’” (1Samuel 1.15).
Dificuldades naturais insuperáveis estavam a caminho, mas ela
“continuava a orar” como diz o texto bíblico até que Deus lhe aliviou
o coração e sua face brilhante viu a resposta a suas orações; sua fé
deliberada levou-a a ter Samuel, e uma nação foi restaurada pela fé.
Samuel nasceu em resposta a uma oração seguida de voto feita
por Ana, pois a aliança solene que fez com Deus, se este lhe
concedesse seu pedido, não pode ser deixada de lado do relato ao
investigarmos esse acontecimento de uma mulher de oração e a
resposta que recebeu.
É interessante o que diz Tiago 5.15: “A oração feita com fé curará
o doente […]”. A palavra traduzida por “oração” significa voto, de
forma que a oração em sua forma mais elevada de fé é aquela
oração que entrega o homem todo como oferta de sacrifício.
Portanto, o homem que se consagra completamente e com tudo o
que possui a Deus em um voto defini do e sábio para nunca ser
quebrado, com um desejo apaixonado e inextinguível pelo céu — tal
atitude de dedicação própria a Deus ajuda poderosamente a oração.
Sansão, de certa forma, é um paradoxo quando examinamos seu
caráter religioso. Mas, em meio a todas as suas falhas, que foram
extremamente graves, ele conhecia o Deus que ouve a oração e
sabia como falar com ele.
A despeito da distância que Israel tinha percorrido, da
profundidade da queda da nação e das correntes de ferro que a
prendiam, seu clamor a Deus cobria facilmente a distância,
penetrava as profundezas e quebrava as correntes. Essa era a lição
que eles estavam sempre aprendendo e da qual se esqueciam, que
a oração sempre trazia Deus para libertá-los e que não havia nada
difícil demais para Deus fazer em favor de seu povo. Todos os
homens de Deus se encontraram em dificuldade em um momento
ou outro. Contudo, essas dificuldades geralmente eram precursoras
de grandes triunfos. Qualquer que fosse o motivo para as
necessidades, ou quaisquer que fossem os tipos de necessidade,
não importava qual fosse o grau, a fonte ou a natureza, não havia
problemas dos quais a oração não os pudesse livrar. A enorme força
de Sansão não o aliviou nem o libertou de seus problemas. Vamos
ler o que dizem as Escrituras:

Quando ia chegando a Leí, os filisteus foram ao encontro dele aos


gritos. Mas o Espírito do Senhor apossou-se dele. As cordas em
seus braços se tornaram como fibra de linho queimada, e os laços
caíram das suas mãos.
Encontrando a carcaça de um jumento, pegou a queixada e com ela
matou mil homens.
Disse ele então: “Com uma queixada de jumento fiz deles montões.
Com uma queixada de jumento matei mil homens”.
Quando acabou de falar, jogou fora a queixada; e o local foi
chamado Ramate-Leí.
Sansão estava com muita sede e clamou ao Senhor: “Deste pela
mão de teu servo esta grande vitória. Morrerei eu agora de sede
para cair nas mãos dos incircuncisos?”
Deus então abriu a rocha que há em Leí, e dela saiu água. Sansão
bebeu, suas forças voltaram, e ele recobrou o ânimo […] (Juízes
15.14-19).

Aqui tivemos mais um incidente na vida dessa personagem tão


peculiar do Antigo Testamento, que mostra como, em meio a grande
dificuldade, sua mente se voltava involuntariamente para Deus em
oração. Por mais inconstante que fosse sua vida, por mais distante
que andassem de Deus, por mais pecadores que pudessem ser,
quando uma dificuldade atingia esses homens, eles invariavelmente
clamavam a Deus por livramento e, como regra, quando se
arrependiam, Deus ouvia seus clamores e concedia o que pediam.
Esse acontecimento sucedeu perto do fim da vida de Sansão e
mostra como sua vida terminou.
Leia o relato que se encontra em Juízes 16. Sansão fizera uma
aliança com Dalila, uma mulher pagã, e ela, junto com os filisteus,
tentou descobrir a fonte de sua enorme força. Por três vezes
consecutivas ela falhou e finalmente por sua persistência e artifícios
femininos persuadiu Sansão a que lhe revelasse o maravilhoso
segredo. Assim, sem suspeitar, Sansão revelou a ela que a fonte de
sua força estava no cabelo, que nunca havia sido cortado; assim,
ela o despojou de seu grande poder físico, cortando-lhe o cabelo.
Dalila chamou os filisteus, que vieram, furaram os olhos de Sansão
e o maltrataram.
Certa ocasião, quando os filisteus estavam reunidos para oferecer
um grande sacrifício a Dagom, o ídolo local, chamaram Sansão para
diverti-los. Eis o relato de quando provavelmente estava sendo
motivo de riso para seus inimigos e os inimigos de Deus.

Sansão disse ao jovem que o guiava pela mão: “Ponha-me onde eu


possa apalpar as colunas que sustentam o templo, para que eu me
apoie nelas”.
Homens e mulheres lotavam o templo; todos os líderes
dos filisteus estavam presentes e, no alto, na galeria, havia
cerca de três mil homens e mulheres vendo Sansão, que
os divertia.
E Sansão orou ao Senhor: “Ó Soberano Senhor, lembra-te de mim!
Ó Deus, eu te suplico, dá-me forças, mais uma vez, e faz que eu
me vingue dos filisteus por causa dos meus dois olhos!” Então
Sansão forçou as duas colunas centrais sobre as quais o templo se
firmava. Apoiando-se nelas, tendo a mão direita numa coluna e a
esquerda na outra, disse: “Que eu morra com os filisteus!” Em
seguida, ele as empurrou com toda a força, e o templo desabou
sobre os líderes e sobre todo o povo que ali estava. Assim, na sua
morte, Sansão matou mais homens do que em toda a sua vida.
(Juízes 16.26-30)
2. HOMENS DE ORAÇÃO DO
ANTIGO TESTAMENTO
(CONTINUAÇÃO)

Os bispos Lambeth e Wainwright tinham uma grande


missão em Osaka, Japão. Certo dia, chegou uma ordem
das autoridades dizendo que não seriam mais permitidas
reuniões de protestantes na cidade. Lambeth e
Wainwright fizeram tudo o que podiam, mas os altos
oficiais estavam obstinados e inflexíveis. Então, os
homens se retiraram para o quarto de oração. A hora do
jantar chegou, e a menina japonesa foi chamá-los para a
refeição, mas ela caiu sob o poder da oração. A Senhora
Lambeth foi descobrir qual era o problema e caiu sob o
mesmo poder. Então eles se levantaram e foram abrir o
salão da missão, e a reunião começou imediatamente.
Deus desceu sobre a reunião, e dois dos filhos dos
oficiais da cidade foram ao altar para ser salvos. Na
manhã seguinte, um dos oficiais encarregados foi até a
missão e disse: “Prossigam com suas reuniões, vocês
não serão interrompidos”. O jornal diário de Osaka
publicou com letras garrafais: “O DEUS DOS CRISTÃOS
VEIO ATÉ A CIDADE NA NOITE PASSADA”.
REVERENDO H. C. MORRISON

JONAS, O HOMEM QUE orou na barriga do peixe, é outro exemplo


singular desses homens notáveis do Antigo Testamento dados à
oração. Jonas, um profeta do Senhor, estava fugindo de Deus e do
lugar onde deveria estar. Ele fora enviado em uma missão de
advertência à perversa Nínive e recebera ordens de pregar contra
eles “‘porque a sua maldade subiu até a minha presença’” (Jonas
1.2), disse Deus. Mas Jonas, por medo ou outro motivo, deixou de
obedecer a Deus e embarcou em um navio para Társis, fugindo do
Senhor. Ele parece ter negligenciado o fato de que o mesmo Deus
que o enviara àquela missão alarmante tinha os olhos sobre ele e o
próprio estava a bordo da embarcação. A caminho de Társis,
ergueu-se uma tempestade, e foi decidido que Jonas seria lançado
fora do barco a fim de apaziguar Deus e evitar a destruição da
embarcação e de todos a bordo. Mas Deus estava lá e estivera com
Jonas desde o princípio. Ele preparara um grande peixe para engolir
Jonas e assim prendê-lo, vencendo-o em sua fuga para cumprir a
tarefa que recebera e salvando-o para que pudesse ajudar a cumprir
os propósitos de Deus. Foi quando estava na barriga do peixe, em
grande dificuldade e passando por uma estranha experiência, que
Jonas clamou a Deus, que o ouviu e fez que o peixe o vomitasse em
terra seca. Que outra força poderia resgatá-lo daquele lugar
tenebroso? Ele parecia irremediavelmente perdido, no “ventre da
morte”, dado como morto e condenado. Mas ele ora — o que mais
ele poderia fazer? Era exatamente isso que ele estava acostumado
a fazer quando em dificuldades. “[…] ‘Em meu desespero clamei ao
Senhor, e ele me respondeu. Do ventre da morte gritei por socorro,
e ouviste o meu clamor’” (2.2).
E o Senhor deu ordem ao peixe, que vomitou Jonas em terra
firme.
Assim como os outros, ele uniu a oração a um voto que fizera,
pois diz na oração: “‘Mas eu, com um cântico de gratidão, oferecerei
sacrifício a ti. O que eu prometi cumprirei totalmente. A salvação
vem do Senhor’” (v. 9).
A oração foi a força poderosa que tirou Jonas do “ventre da
morte”. A oração, a oração poderosa, garantiu o final. A oração
levou Deus a resgatar o infiel Jonas. Apesar de seu pecado de fugir
do dever, Deus não podia recusar-se a atender à sua oração. Nada
é difícil demais para a oração, porque nada é difícil demais para
Deus. Aquela oração de Jonas, respondida na barriga do peixe,
transformou-se, em seus resultados poderosos, em um exemplo do
poder milagroso demonstrado na ressurreição de Jesus Cristo
dentre os mortos. Nosso Senhor põe seu selo de verdade sobre a
oração de Jonas e a ressurreição.
Nada pode ser mais simples do que esses casos da poderosa
libertação de Deus. Nada é mais básico do que o fato de que a
oração está simples e diretamente relacionada a Deus. Nada é mais
claro do que o fato de que a oração tem seu único valor e
significado na grande verdade de que Deus ouve as orações e
responde a elas. Nisso os homens do Antigo Testamento
acreditavam firmemente. É isso que se destaca contínua e
proeminentemente na vida deles. Eram essencialmente homens de
oração.
Quanto precisamos de uma escola que ensine a arte de orar! A
mais simples de todas as artes e a mais poderosa das forças está
em perigo de ser esquecida e corrompida. Quanto mais nos
afastamos dos joelhos da nossa mãe, mais nos distanciamos da
verdadeira arte da oração. Todas as nossas múltiplas atividades e
múltiplos professores posteriores nos fizeram desaprender as lições
da oração. Os homens do Antigo Testamento oravam com eficácia
porque eram homens simples e viviam em épocas simples. Eram
como crianças, viviam em tempos infantis e tinham fé como a de
criança.
Ao citarmos os homens do Antigo Testamento, notáveis por seus
hábitos de oração, não podemos omitir Davi, que se distinguia por
ser um homem de oração. A oração era um hábito para ele, pois diz:
“À tarde, pela manhã e ao meio-dia choro angustiado, e ele ouve a
minha voz” (Salmos 55.17). A oração não era uma ocupação
estranha para o doce salmista de Israel. Ele conhecia o caminho
para Deus e se encontrava com frequência nesse caminho. Não
surpreende que ouçamos seu clamor tão afetuoso e comovente:
“Venham! Adoremos prostrados e ajoelhemos diante do Senhor, o
nosso Criador” (95.6). Ele conhecia Deus como aquele que podia
responder à oração: “Ó tu que ouves a oração, a ti virão todos os
homens” (65.2).
Quando Deus castigou a criança nascida de Bate-Seba porque
Davi, por seus graves pecados, dera ocasião a que os inimigos de
Deus blasfemassem, não surpreende que o encontremos
comprometido em uma semana de oração, pedindo a Deus em favor
da vida da criança. Seu hábito de vida afirmou-se nessa grande
emergência em sua casa; por isso, encontramo-lo jejuando e orando
pela recuperação da criança. O fato de Deus ter negado o pedido
não afeta de forma alguma o hábito de oração de Davi. Embora ele
não tenha recebido o que pediu, sua fé em Deus não foi nem um
pouco afetada. O fato é que, embora Deus não lhe tenha dado a
vida daquele menino, mais tarde ele lhe deu outro filho, Salomão.
Possivelmente, o filho posterior foi uma bênção maior para ele do
que seria a criança por quem orara.
Com relação a esse período específico de oração, não podemos
negligenciar a oração penitente de Davi, quando Natã, sob as
ordens de Deus, revelou os dois grandes pecados de Davi, adultério
e assassinato. Imediatamente Davi reconheceu sua maldade,
dizendo a Natã: “‘Pequei’”. Para testificar seu grande pesar pelo
pecado, seu espírito quebrantado e genuíno arrependimento, basta
ler o salmo 51, em que a confissão de pecado, a profunda
humilhação e a oração são os ingredientes principais.
Davi sabia onde encontrar um Deus perdoador e ser recebido de
volta, e ter a alegria da salvação restaurada pela oração intensa,
sincera e penitente. É assim que todos os pecadores são
aproximados do favor divino, é assim que encontram perdão e que
recebem um novo coração.
Todo o livro de Salmos destaca a oração, e ela nos salta aos
olhos ao lermos este livro devocional das Escrituras.
Tampouco Salomão pode ser esquecido nessa lista de homens de
oração do período do Antigo Testamento. Fossem quais fossem
suas falhas, ele não se esqueceu do Deus que ouve orações nem
deixou de buscar o Deus da oração. Embora esse homem sábio no
final da vida tenha se afastado de Deus e o céu tenha ficado
nublado, nós o encontramos orando no início de seu reinado.
Salomão foi a Gibeom oferecer sacrifício, o que significa que
sempre havia uma ligação muito próxima entre oração e o sacrifício
e, enquanto estava lá, o Senhor apareceu a ele em uma visão à
noite e lhe perguntou: “[…] ‘Peça-me o que quiser, e eu darei a
você’” (1Reis 3.5). A sequência da história revela o caráter de
Salomão. O que foi que ele pediu?

“Agora, Senhor, meu Deus, fizeste o teu servo reinar em lugar de


meu pai, Davi. Mas eu não passo de um jovem e não sei o que
fazer.
Teu servo está aqui no meio do povo que escolheste, um povo tão
grande que nem se pode contar.
Dá, pois, ao teu servo um coração cheio de
discernimento para governar o teu povo e capaz de
distinguir entre o bem e o mal. Pois quem pode governar
este teu grande povo?” (1Reis 3.7-9)

Não nos surpreende que em resposta a tal oração esteja


registrado o seguinte:

O pedido que Salomão fez agradou ao Senhor.


Por isso Deus lhe disse: “Já que você pediu isso e não uma vida
longa nem riqueza, nem pediu a morte dos seus inimigos, mas
discernimento para ministrar a justiça, farei o que você pediu. Eu
darei a você um coração sábio e capaz de discernir, de modo que
nunca houve nem haverá ninguém como você. Também darei o que
você não pediu: riquezas e fama, de forma que não haverá rei igual
a você durante toda a sua vida” (1Reis 3.10-13).

Que oração! Que humildade e simplicidade! “Eu não passo de um


jovem”. Ele descreveu muito bem o que era realmente necessário! E
veja como Salomão recebeu muito mais do que pedira!
Tomemos como exemplo a oração notável na dedicação do
templo. É possível que essa seja a oração mais longa registrada na
Palavra de Deus. Como é abrangente, intencional e profunda!
Salomão não poderia estabelecer os fundamentos da casa de Deus
sobre outra coisa senão na oração. E Deus ouviu essa oração,
assim como o ouvira antes: “Assim que Salomão acabou de orar,
desceu fogo do céu e consumiu o holocausto e os sacrifícios, e a
glória do Senhor encheu o templo” (2Crônicas 7.1). Desse modo
Deus confirmou a aceitação daquela casa de adoração e de
Salomão, o rei que orava.
A lista dos homens do Antigo Testamento que eram dados à
oração cresce à medida que avançamos e é longa demais para
fazermos menção de todos eles. Mas os nomes de Isaías, o grande
profeta evangélico, e Jeremias, o profeta chorão, não podem ser
deixados fora do relato. Ainda outros poderiam ser mencionados.
Mas esses são suficientes e com seus nomes fechamos essa lista.
Que os leitores atentos das Escrituras tenham em mente a questão
da oração e vejam que lugar de importância a oração ocupava na
mente e na vida dos homens do passado.
3. ABRAÃO, UM HOMEM DE ORAÇÃO

Oh, por homens e mulheres determinados que levantarão


cedo e de fato serão consumidos por Deus. Por uma fé
que corra em direção ao céu com o raiar da manhã e
como navios de um mar sem portos carregados nos
refúgios da alma antes que o trabalhador comum tenha
sacudido o orvalho de sua foice ou o vendedor ambulante
apanhe suas cestas de palha para espalhar os frutos da
terra diante dos primeiros compradores.
REVERENDO HOMER W. HODGE

ABRAÃO, O AMIGO DE DEUS, é uma impressionante ilustração dos


homens do Antigo Testamento que acreditavam firmemente na
oração. Abraão não era de forma alguma uma figura irreal. Na
simplicidade e obscuridade da dispensação patriarcal, como
demonstrado por ele, aprendemos o valor da oração, bem como
descobrimos que se tratava de uma prática antiga. De fato, a oração
remonta às primeiras eras do homem na terra. Vemos como a
energia da oração é absolutamente necessária nas dispensações
mais simples da graça de Deus, bem como nas mais complexas.
Quando estudamos a pessoa de Abraão, descobrimos que depois
de ter sido chamado para viver em um país desconhecido, na
jornada com a família e com seus servos, onde quer que se
detivesse pelo caminho para passar a noite ou mais tempo, ele
sempre erigia um altar e “invocava o nome do Senhor”. E esse
homem de fé e oração foi um dos primeiros a erigir um altar familiar
ao redor do qual reunia a família para oferecer sacrifícios de
adoração, de louvor e de oração. Os altares construídos por Abraão
proporcionavam, antes de tudo, momentos para a oração conjunta,
não secreta.
À medida que as revelações de Deus se tornavam mais plenas e
perfeitas, as orações de Abraão aumentavam, e foi num desses
momentos espirituais que Abraão prostrou-se com o rosto em terra
e Deus lhe falou. Em outra ocasião, encontramos esse homem, “o
pai da fé”, prostrado diante de Deus, surpreso quase ao ponto da
incredulidade diante dos propósitos e revelações do Deus todo-
poderoso ao lhe prometer um filho em sua idade avançada e das
promessas que Deus lhe fez em relação ao filho prometido.
Até mesmo o destino de Ismael foi moldado pela oração de
Abraão: “[…] ‘Permite que Ismael seja o meu herdeiro!’” (Gênesis
17.18).
Que história extraordinária a de Abraão diante de Deus,
intercedendo repetidamente em favor da perversa cidade de
Sodoma, casa de seu sobrinho Ló, condenada pela decisão divina
de destruí-la. O destino de Sodoma ficou suspenso por um
momento por causa da oração de Abraão e, por pouco, não foi
completamente mudado pela humildade e insistência desse homem
que acreditava convictamente na oração e que sabia como orar.
Abraão não tinha outro recurso para salvar Sodoma, senão a
oração. Talvez o fracasso em realmente resgatar Sodoma da
condenação à destruição deveu-se à visão otimista de Abraão da
condição espiritual daquela cidade. Talvez fosse possível — quem
sabe? — que, se Abraão tivesse rogado a Deus mais uma vez,
pedindo para que a cidade fosse poupada mesmo se houvesse
apenas um homem justo, por causa de Ló, Deus poderia ter
atendido ao pedido de Abraão.
Observe outro momento na vida de Abraão que revela como ele
era um homem de oração e tinha intimidade com Deus. Abraão
viajara até Gerar e estava peregrinando naquela região. Temendo
que Abimeleque pudesse matá-lo e tomasse sua esposa, Sara, para
satisfazer sua luxúria, ele enganou Abimeleque, ao dizer que Sara
era sua irmã. Deus apareceu a Abimeleque em sonho e o avisou
para que não tocasse em Sara, dizendo-lhe que ela era esposa de
Abraão, não sua irmã. Então, ele disse a Abimeleque: “‘Agora
devolva a mulher ao marido dela. Ele é profeta e orará em seu favor,
para que você não morra’ […]” (20.7). E assim é registrada a
conclusão do incidente: “A seguir Abraão orou a Deus, e Deus curou
Abimeleque, sua mulher e suas servas, de forma que puderam
novamente ter filhos, porque o Senhor havia tornado estéreis todas
as mulheres da casa de Abimeleque por causa de Sara, mulher de
Abraão” (v. 17,18).
Esse caso de certa forma assemelha-se ao de Jó no final de sua
terrível experiência e dos horríveis desafios, quando seus amigos,
que não compreendiam Jó, nem compreendiam a forma com que
Deus tratava seu servo, acusaram-no falsamente de estar em
pecado e esta ser a causa de todos os problemas que o afligiam.
Deus disse a tais amigos de Jó: “‘[…] Meu servo Jó orará por vocês;
eu aceitarei a oração dele […]’” (42.8). “Depois que Jó orou por seus
amigos, o Senhor o tornou novamente próspero […]” (v. 10).
O Deus Altíssimo sabia que seu servo Jó era um homem de
oração e podia enviar-lhe seus amigos para que ele orasse em seu
favor e assim cumprisse os planos e propósitos de Deus.
Abraão tinha como norma estar perante o Senhor em oração. A
vida dele era repleta de oração, e a dispensação de Abraão foi
santificada pela oração. Em suas peregrinações, onde quer que
parasse, a oração era sua companheira inseparável. Lado a lado
com o altar do sacrifício, estava o altar de oração. Ele levantava
cedo pela manhã e se dirigia ao lugar onde permanecia diante do
Senhor em oração.
4. MOISÉS, UM PODEROSO
INTERCESSOR

A oração intercessora é um poderoso meio da graça de


Deus ao homem de oração. Martyn observa que em
épocas de sequidão e depressão interior, ele com
frequência encontrava o deleitável reavivamento no ato
de orar pela conversão, pela santificação ou pela
prosperidade em favor de outros na obra do Senhor.
Pedir a Deus dons e bênçãos pelos demais era para ele o
canal divinamente natural para uma visão renovada de
sua própria parte e porção em Cristo, de Cristo como o
próprio descanso e poder, da “perfeita liberdade” de
render-se completamente a seu mestre em sua obra.
BISPO HANDLEY C. G. MOULE

A ORAÇÃO SE UNE aos propósitos de Deus e se entrega para


assegurar esses mesmos propósitos. Com que frequência a sábia e
benigna vontade de Deus falharia em sua rica e beneficente
finalidade por causa dos pecados das pessoas se a oração não
tivesse entrado para deter a ira e assegurar a promessa! Israel
como nação teria encontrado a justa destruição e o destino que
merecia depois da apostasia do bezerro de ouro não fosse pela
interposição e incansável importunação da oração de Moisés
durante quarenta dias e quarenta noites!
Maravilhoso foi o efeito, no caráter de Moisés, de sua oração
maravilhosa. A comunicação próxima e sublime com Deus quando a
Lei foi dada não operou transfiguração de caráter como o fez a
incansável oração daqueles quarenta dias em oração com Deus. Foi
quando ele desceu daquela longa batalha de oração que seu rosto
brilhava com resplendor ofuscante. Nossos montes de
transfiguração e o brilho celestial no caráter e na conduta nascem
de períodos de lutas em oração. Noites de oração transformaram, e
muito, Jacó, o enganador, em Israel, um príncipe que tinha acesso a
Deus e aos homens.
Nenhuma missão era mais majestosa em propósito e resultados
do que a de Moisés, e nenhuma era mais responsável, diligente e
difícil. Nela aprendemos sobre o sublime ministério e preceito da
oração. Não se trata de algo apenas como meio de suprimento e
auxílio, mas algo que tem uma função compassiva por meio da qual
a longanimidade compassiva de Deus flui em abundância. A oração
é um meio para restringir a ira de Deus a fim de que a misericórdia
vença o julgamento.
O próprio Moisés e sua missão foram resultado da oração.
Conforme está registrado: “Depois que Jacó entrou no Egito, eles
clamaram ao Senhor, e ele enviou Moisés e Arão para tirar os seus
antepassados do Egito e os estabelecer neste lugar” (1Samuel
12.8). Esse foi o início do grande movimento pela libertação dos
hebreus do cativeiro egípcio.
Os grandes movimentos de Deus tiveram sua origem e energia,
bem como foram moldados pelas orações dos homens. A oração
está diretamente relacionada a Deus. Outros fins, colaterais e
secundários, são assegurados pela oração, mas, quase
exclusivamente, a oração está relacionada a Deus. Ele se agrada de
ordenar suas decisões e basear suas ações nas orações de seus
santos. A oração influencia Deus. Moisés não poderia realizar a
grande obra de Deus, embora fosse comissionado por ele, se não
orasse muito. Moisés não poderia governar o povo de Deus e
executar os planos divinos sem que seu incensório estivesse cheio
com o incenso da oração. A obra de Deus não pode ser feita se o
fogo e a fragrância não estiverem sempre queimando, subindo e
perfumando.
A oração de Moisés estava constantemente abrandando o terrível
golpe da ira de Deus. Por quatro vezes, o faraó solicitou as orações
de Moisés para aliviá-lo do temível golpe da ira de Deus. “‘Orem ao
Senhor’” (Êxodo 8.8), foi a petição do faraó a Moisés quando as
repugnantes rãs estavam sobre ele. E “Moisés clamou ao Senhor
por causa das rãs que enviara sobre o faraó. E o Senhor atendeu ao
pedido de Moisés” (v. 12,13).
Quando a horrível praga das moscas tinha arruinado toda a terra,
mais uma vez o faraó clamou a Moisés lastimando-se: “‘[…] orem
por mim […]’” (v. 28). Moisés saiu da presença do faraó e orou ao
Senhor, e mais uma vez o Senhor fez de acordo com a palavra de
Moisés. Os poderosos trovões e granizos em sua fúria alarmante e
destrutiva arrancaram desse perverso rei o mesmo apelo intenso a
Moisés: “‘Orem ao Senhor’”. E Moisés saiu da cidade e sozinho com
o Deus Altíssimo “ergueu as mãos ao Senhor. Os trovões e o
granizo cessaram, e a chuva parou” (9.33).
Embora Moisés fosse o homem da lei de Deus, nele a oração
revelava sua força poderosa. Com ele, assim como na dispensação
mais espiritual, seria possível dizer: “Minha casa é casa de oração”.
Moisés aceitou o valor nominal completo do princípio fundamental
de que a oração está relacionada a Deus. Em Abraão vimos esse
princípio enunciado vividamente. Em Moisés, ele é ainda mais caro
e firme. Ele declarava que a oração afetava Deus, que Deus era
influenciado por sua conduta de oração e que ouvia a oração e
respondia a ela, mesmo quando o ouvir e responder pudessem
mudar a maneira de ele agir e reverter suas ações. Mais forte do
que todas as outras leis e mais inflexível que qualquer outro decreto,
é este decreto: “‘Clame a mim e eu responderei […]’” (Jeremias
33.3).
Moisés vivia perto de Deus e dispunha do mais livre, desimpedido
e ousado acesso a Deus, mas isso, em vez de diminuir a
necessidade de oração, fez dela ainda mais necessária, evidente e
poderosa. A familiaridade e a proximidade de Deus concedem
deleite, frequência, objetivo e poder à oração. Aqueles que mais
conhecem Deus são os mais ricos e mais poderosos na oração.
Pouca familiaridade com Deus, distância e frieza fazem da oração
algo raro e frágil.
Moisés passou por condições extremas que nem mesmo a oração
aliviou, mas não há circunstância extrema capaz de confundir ou
desbaratar Deus quando a oração o inclui na questão.
A missão de Moisés era divina. Fora ordena da, dirigida e
planejada por Deus. Quanto mais de Deus há em um movimento,
mais oração há, visível e no controle. A norma de oração de Moisés
na igreja ilustra a necessidade de coragem e persistência na oração.
Durante quarenta dias e quarenta noites, Moisés apresentou com
insistência as suas orações pela salvação do povo de Deus. Tal era
a preocupação que acompanhou seu longo período de oração em
favor deles que as fraquezas e os apetites do corpo ficaram
suspensos. A forma singular pela qual as orações de um homem
justo afetam Deus fica evidente quando Deus exclama a Moisés:
“‘Deixe-me agora, para que a minha ira se acenda contra eles, e eu
os destrua. Depois farei de você uma grande nação’” (Êxodo 32.10).
A presença de tal influência sobre Deus nos enche de assombro,
admiração e temor. Quão grandioso, ousado e devotado deve ser tal
intercessor!
Lemos o seguinte neste registro divino:

Assim, Moisés voltou ao Senhor e disse: “Ah, que grande pecado


cometeu este povo! Fizeram para si deuses de ouro.
Mas agora, eu te rogo, perdoa-lhes o pecado; se não,
risca-me do teu livro que escreveste”.
Respondeu o Senhor a Moisés: “Riscarei do meu livro todo aquele
que pecar contra mim.
Agora vá, guie o povo ao lugar de que lhe falei, e meu
anjo irá à sua frente […]” (32.31-34).

A rebelião de Corá foi a ocasião em que a ira de Deus flamejou


contra toda a congregação de Israel que simpatizava com esses
rebeldes. Mais uma vez, Moisés aparece no palco da ação, dessa
vez com Arão unindo-se a ele em intercessão por aqueles que
haviam pecado contra Deus. Mas isso mostra que em um momento
sério como aquele Moisés sabia em quem buscar alívio e foi
encorajado a orar para que Deus suspendesse sua ira e poupasse
Israel. Eis o que foi dito sobre a situação:

E o Senhor disse a Moisés e a Arão: “Afastem-se dessa


comunidade para que eu acabe com eles imediatamente”.
Mas Moisés e Arão prostraram-se com o rosto em terra e disseram:
“Ó Deus, Deus que a todos dá vida, ficarás tu irado contra toda a
comunidade quando um só homem pecou?” (Números 16.20-22).

A presunção, o orgulho e a rebelião de Miriã, irmã de Moisés, que


contou com a presença e a simpatia de Arão, abriu oportunidade
para que a oração e o espírito de Moisés ocupassem uma nobre
posição. Por causa do pecado dela, Deus atingiu-a com lepra. Mas
Moisés intercedeu carinhosa e ansiosamente pela irmã que
ofendera gravemente Deus; a oração dele salvou-a de uma terrível
e incurável enfermidade.
O seguinte registro é intenso e interessante:

Então a ira do Senhor acendeu-se contra eles, e ele os deixou.


Quando a nuvem se afastou da Tenda, Miriã estava leprosa; sua
aparência era como a da neve. Arão voltou-se para Miriã, viu que
ela estava com lepra e disse a Moisés: “Por favor, meu Senhor, não
nos castigue pelo pecado que tão tolamente cometemos. Não
permita que ela fique como um feto abortado que sai do ventre de
sua mãe com a metade do corpo destruída”.
Então Moisés clamou ao Senhor: “Ó Deus, por misericórdia,
concede-lhe cura!”
O Senhor respondeu a Moisés: “Se o pai dela lhe tivesse cuspido
no rosto, não estaria ela envergonhada sete dias? Que fique isolada
fora do acampamento sete dias; depois ela poderá ser trazida de
volta” (Números 12.9-14).
As murmurações dos filhos de Israel forneceram condições para
que todas as forças da oração entrassem em ação. Elas trouxeram
à luz de forma impressionante a importância da oração intercessora
e revelaram Moisés ocupando sua grande função de intercessor
perante Deus em favor do povo. Foi em Mara, onde as águas eram
amargas, que o povo murmurou excessivamente contra Moisés e
contra Deus.
Eis o relato das Escrituras:

Então chegaram a Mara, mas não puderam beber das águas de lá


porque eram amargas. Esta é a razão pela qual o lugar chama-se
Mara.
E o povo começou a reclamar a Moisés, dizendo: “Que
beberemos?”
Moisés clamou ao Senhor, e este lhe indicou um arbusto. Ele o
lançou na água, e esta se tornou boa. Em Mara o Senhor lhes deu
leis e ordenanças e os pôs à prova (Êxodo 15.23-25).

Quantos lugares amargos da terra foram adoçados por orações


que somente os registros da eternidade revelarão?
Mais uma vez, em Taberá, o povo reclamou, e Deus se irou com
ele. Novamente Moisés tomou a frente, colocou-se na brecha e orou
em favor dele. Aqui está o breve relato:

Aconteceu que o povo começou a queixar-se das suas dificuldades


aos ouvidos do Senhor. Quando ele os ouviu, a sua ira acendeu-se,
e fogo da parte do Senhor queimou entre eles e consumiu algumas
extremidades do acampamento.
Então o povo clamou a Moisés, este orou ao Senhor, e o fogo
extinguiu-se (Números 11.1,2).

Moisés recebeu o que pedira. A oração dele era específica, e a


resposta de Deus também era específica. Ele sempre era ouvido
pelo Deus Altíssimo quando orava, e Deus sempre lhe respondia.
Certa vez, porém, a resposta não foi específica. Ele havia orado
para entrar em Canaã. A resposta veio, mas não era o que ele
pedira. Ele recebeu uma visão da terra prometida, mas não recebeu
permissão de cruzar o Jordão e entrar na terra da promessa. Foi
uma oração do mesmo tipo da oração de Paulo, que orou três vezes
para que um espinho na carne fosse removido.
Mas o espinho não foi removido. Contudo a graça lhe foi
concedida, o que tornou o espinho em bênção.
Não devemos pensar que pelo fato de o salmo 90 ter sido
incorporado no que conhecemos como “salmos de Davi”, que Davi
tenha sido seu autor. Por consenso geral, sua autoria é atribuída a
Moisés e serve-nos de exemplo de oração desse homem que
entregou a lei de Deus ao povo. Trata-se de uma oração que deve
ser estudada. Ela é sagrada para nós porque tem sido o réquiem
pronunciado sobre os mortos durante muitos anos. Ela foi
imprecada como descanso eterno diante do túmulo de muitos
homens justos que já dormiram. Mas essa mesma familiaridade
pode fazer que perca seu pleno significado. Seremos sábios se a
digerirmos não para os mortos, mas para os vivos, a fim de que nos
ensine a viver e a orar enquanto vivermos e também a como morrer.
“Ensina-nos a contar os nossos dias para que o nosso coração
alcance sabedoria […] Consolida, para nós, a obra de nossas mãos;
consolida a obra de nossas mãos!” (Salmos 90.12,17).
5. ELIAS, UM PROFETA DE ORAÇÃO

“Conheci homens”, disse Goodwin — realmente deve ter


sido ele — “que iam a Deus por nada mais que ir a ele,
pelo tanto que o amavam. Eles desprezavam manchar
Deus ou eles mesmos com qualquer outra missão que
não a de estar a sós com ele em sua presença. A
amizade é mais incentivada, mesmo entre os homens,
quando há visitas frequentes; quanto mais livres e puras
forem tais frequentes visitas e quanto menos forem
ocasionadas por negócios, necessidades ou hábito, mais
amigáveis e bem-vindas serão”.
REVERENDO ALEXANDER WHYTE

ELIAS É PREEMINENTEMENTE O mais destacado dos profetas. A


coroa, o trono e o cetro pertencem a ele. Suas vestes são de um
branco reluzente. Ele parece exaltado em sua natureza veemente e
devotada, como se fosse alguém sobre-humano, mas o Novo
Testamento posiciona-o ao nosso lado como um homem com a
mesma natureza que a nossa. Em vez de colocá-lo fora da esfera
humana, por causa dos resultados extraordinários de suas orações,
o Antigo Testamento aponta para Elias como um exemplo a ser
imitado e uma inspiração para nos encorajar. Orar como Elias e
alcançar resultados como Elias é a necessidade imperativa do
nosso tempo.
Elias aprendera a lição da oração e formara-se naquela escola
divina antes de o conhecermos. Em lugares secretos, nas
montanhas ou na planície ele estivera a sós com Deus, um
intercessor contra a degradante idolatria de Acabe. Suas orações
haviam prevalecido poderosamente com Deus. Como eram seguras
e intrépidas as respostas de suas orações!
Ele estivera conversando com Deus sobre vingança. Elias era a
personificação de seu tempo. Aqueles eram tempos de vingança. O
intercessor não deveria estar vestido com um ramo de oliveira e
adorno de madeira, símbolo de quem suplicava por misericórdia,
mas, sim, com fogo, o símbolo da justiça e do mensageiro da ira. De
forma abrupta, diante de nós, ele entra na presença de Acabe! Muito
seguro e com ousadia santa, declara diante do surpreso e
amedrontado rei sua terrível mensagem, uma mensagem obtida por
sua oração, “Ele orou fervorosamente para que não chovesse”
(Tiago 5.17), e Deus não deixou de atender à sua oração. “[…] ‘Juro
pelo nome do Senhor, o Deus de Israel, a quem sirvo, que não cairá
orvalho nem chuva nos anos seguintes, exceto mediante a minha
palavra’” (1Reis 17.1).
O segredo de sua oração e do caráter desse homem se
encontram nas palavras “a quem sirvo”. Isso nos faz lembrar as
palavras de Gabriel a Zacarias, informando a este sacerdote que ele
e sua esposa teriam um filho na velhice: “[…] ‘Sou Gabriel, o que
está sempre na presença de Deus […]’” (Lucas 1.19). O arcanjo
Gabriel dificilmente demonstrava devoção mais inabalável, coragem,
pronta obediência e ciúmes da honra de Deus do que Elias. Quanto
poder vemos nessa oração! “[…] e não choveu sobre a terra durante
três anos e meio” (Tiago 5.17). Que forças onipotentes podem
governar os poderes da natureza! “Não cairá orvalho nem chuva”.
Que homem é esse que ousa fazer tal afirmação ou reivindicar tal
poder? Se sua declaração for falsa, ele será considerado um
fanático ou louco. Se sua declaração for verdadeira, ele terá
suspendido o braço do Onipotente e assumido, com a permissão de
Deus, o lugar de Deus. A terra amaldiçoada e ressequida e os dias
e noites abrasadores, sem orvalho nem chuva, atestam a verdade
de suas palavras e provam a severidade, a força, a firmeza e a
paixão do homem que segura as nuvens e suspende a visitação
abençoada da chuva. Elias é o nome dele, e isso atesta a verdade
desse nome, “Javé é meu Deus”. As orações dele tinha o poder de
suspender o curso benéfico da natureza. Nessa questão, ele ocupou
o lugar de Deus. O sóbrio, impassível e pouco criativo Tiago, irmão
de Jesus, em sua epístola nos diz: “Vejam o que a oração pode
fazer pelo exemplo de Elias! Orem como Elias orou. Que o homem
justo coloque em ação toda a energia da oração. Que os santos e
os pecadores, os anjos e os demônios vejam e sintam o poder da
oração. Vejam como a oração de um homem bom tem poder,
influência e eficácia em Deus!”
A oração de Elias não era fingida, não era uma representação,
não se tratava de uma oração oficial sem vida nem alma. Elias
estava em suas orações. Todo o seu ser, com todo o ímpeto de suas
forças, estava nelas. O Deus Altíssimo era real para ele. A oração
era a forma de projetar Deus com toda a sua força para o mundo, a
fim de vingar o nome dele, estabelecer seu ser, vingar seu nome
que havia sido blasfemado e a lei que fora violada e vingar seus
servos.
Em Tiago 5.17, diz “orou fervorosamente”. Ou seja, orou com
todas as energias combinadas da oração.
A oração de Elias era forte, insistente e irresistível em seus
elementos de poder. Orações débeis não garantem resultados, não
glorificam Deus nem fazem bem ao homem.
Elias aprendeu lições novas e mais elevadas sobre a oração
quando Deus o escondeu no riacho de Querite. Sem dúvida, ele
estava tendo comunhão com Deus, enquanto Acabe o procurava
por todo lugar. Depois de um tempo, ele recebeu ordem de ir para
Sarepta, onde Deus ordenou a uma viúva que o sustentasse. Ele foi
para lá pelo bem da viúva e para seu próprio bem. Benefício para
Elias e um bom sinal para a viúva foram os resultados da ida de
Elias. Enquanto essa mulher cuidava dele, ele cuidava da mulher.
As orações de Elias fizeram mais pela mulher do que a
hospitalidade dela fez por Elias. Grandes desafios e tristezas
aguardavam-na. Sua pobreza e viuvez falam de suas lutas e
pesares. Elias estava lá para aliviar a pobreza dela e para suavizar
suas aflições.
Eis o interessante relato:
Algum tempo depois o filho da mulher, dona da casa, ficou doente,
foi piorando e finalmente parou de respirar.
E a mulher reclamou a Elias: “Que foi que eu te fiz, ó homem de
Deus? Vieste para lembrar-me do meu pecado e matar o meu
filho?”
“Dê-me o seu filho”, respondeu Elias. Ele o apanhou dos braços
dela, levou-o para o quarto de cima, onde estava hospedado, e o
pôs na cama.
Então clamou ao Senhor: “Ó Senhor, meu Deus, trouxeste também
desgraça sobre esta viúva, com quem estou hospedado, fazendo
morrer o seu filho?”
Então ele se deitou sobre o menino três vezes e clamou ao Senhor:
“Ó Senhor, meu Deus, faze voltar a vida a este menino!”
O Senhor ouviu o clamor de Elias, e a vida voltou ao menino, e ele
viveu.
Então Elias levou o menino para baixo, entregou-o à mãe e disse:
“Veja, seu filho está vivo!”
Então a mulher disse a Elias: “Agora sei que tu és um homem de
Deus e que a palavra do Senhor, vinda da tua boca, é a verdade”
(1Reis 17.17-24).

A oração de Elias penetrou regiões em que a oração nunca


estivera antes. As terríveis, misteriosas e poderosas regiões da
morte foram invadidas pela presença e pelas demandas da oração.
Jesus Cristo se refere à ida de Elias até a viúva principalmente, se
não apenas, para o bem dela. A presença e a oração de Elias
impediram que a mulher passasse fome e trouxeram o filho enfermo
de volta à vida. Certamente não há dor como a amargura da perda
de um filho único. Com que convicção e segurança Elias enfrenta a
situação! Não há hesitação em suas ações e não há pausa em sua
fé. Ele leva o filho morto para seu próprio quarto e sozinho com
Deus faz seu pedido. Naquele quarto Deus o encontra, e a luta é
apenas com Deus. A luta é intensa e sagrada demais para alguma
companhia ou para um espectador. A oração é feita a Deus, e o
assunto é com ele. A criança fora tomada por Deus, e Deus governa
o reino da morte. Em suas mãos estão as questões de vida e morte.
Elias acreditava que Deus retirara o espírito da criança e que Deus
poderia muito bem restaurar aquele espírito. Deus respondeu à
oração de Elias. A resposta foi a prova de que a missão de Elias
vinha de Deus e da verdade da Palavra de Deus. A criança morta
que foi restaurada à vida era uma plena convicção da seguinte
verdade: “‘Agora sei que tu és um homem de Deus e que a palavra
do Senhor, vinda da tua boca, é a verdade’”. As respostas de oração
são as evidências de Deus e da verdade de sua Palavra.
O teste imortal de Elias ocorrido na presença de um rei apóstata,
diante de uma nação infiel e sacerdotes idólatras no monte Carmelo,
é uma exibição sublime de fé e oração. No concurso os profetas de
Baal haviam falhado. Nenhum fogo desceu do céu em resposta a
seus clamores frenéticos. Elias, com muita tranquilidade de espírito
e confiança, chama Israel para si. Ele restaura o altar destruído de
Deus, o altar de sacrifício e de oração, e coloca os pedaços do
novilho em ordem sobre o altar. Em seguida, emprega todos os
meios possíveis para impedir alguma acusação de engano. Tudo é
inundado com água. Em seguida, Elias faz uma oração modelo,
notável por sua clareza, simplicidade e sinceridade extrema, que se
tornou conhecida por sua brevidade e fé.
Leiamos o relato das Escrituras:

À hora do sacrifício, o profeta Elias colocou-se à frente do altar e


orou: “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque e de Israel, que hoje
fique conhecido que tu és Deus em Israel e que sou o teu servo e
que fiz todas estas coisas por ordem tua. Responde-me, ó Senhor,
responde-me, para que este povo saiba que tu, ó Senhor, és Deus
e que fazes o coração deles voltar para ti”.
Então o fogo do Senhor caiu e queimou completamente o
holocausto, a lenha, as pedras e o chão, e também secou
totalmente a água na valeta.
Quando o povo viu isso, todos caíram prostrados e gritaram: “O
Senhor é Deus! O Senhor é Deus!” (1Reis 18.36-39).
Elias, assim como antes, lidava diretamente com Deus. A
verdadeira oração sempre trabalha com Deus. Tal oração de Elias
servia para determinar a existência do verdadeiro Deus, e a
resposta direta de Deus resolve a questão. A resposta também é a
credencial da missão divina de Elias e a evidência de que Deus
trabalha com os homens. Se tivéssemos mais orações como as de
Elias, o que consideramos maravilhas não seriam as maravilhas que
agora são para nós. Deus não seria tão estranho, tão distante e tão
indistinto em ação. Tudo é subjugado e frágil porque nossas
orações são subjugadas e frágeis.
Deus disse a Elias: “[…] ‘Vá apresentar-se a Acabe, pois enviarei
chuva sobre a terra’” (1Reis 18.1).
Elias agiu prontamente sob a ordem divina e apresentou-se a
Acabe. Ele havia lutado com Acabe, Israel e Baal. A nação como um
todo voltara as costas para Deus. O dia estava desvanecendo nas
sombras da noite. A chuva não viera. Mesmo assim, Elias não
cruzou os braços dizendo que a promessa falhara, mas deu crédito
e cumprimento à promessa.
Eis como a Escritura registrou o resultado:

E Elias disse a Acabe: “Vá comer e beber, pois já ouço o barulho de


chuva pesada”.
Então Acabe foi comer e beber, mas Elias subiu até o alto do
Carmelo, dobrou-se até o chão e pôs o rosto entre os joelhos.
“Vá e olhe na direção do mar”, disse ao seu servo. E ele foi e olhou.
“Não há nada lá”, disse ele. Sete vezes Elias mandou: “Volte para
ver”.
Na sétima vez o servo disse: “Uma nuvem tão pequena quanto a
mão de um homem está se levantando do mar”. Então Elias disse:
“Vá dizer a Acabe: Prepare o seu carro e desça, antes que a chuva
o impeça”.
Enquanto isso, nuvens escuras apareceram no céu, começou a
ventar e a chover forte, e Acabe partiu de carro para Jezreel.
O poder do Senhor veio sobre Elias […] (1Reis 18.41-46).
Então aconteceu como Tiago registrou: “Orou outra vez, e os céus
enviaram chuva, e a terra produziu os seus frutos” (Tiago 5.18).
A oração importuna e impetuosa de Elias e a promessa de Deus
trouxeram a chuva. A oração leva a promessa a seu gracioso
cumprimento. É preciso oração persistente e perseverante para dar
à oração seus maiores e mais graciosos resultados. Nesse caso, foi
a oração esperançosa, observando resultados, buscando a
resposta. Elias tinha a resposta na pequena nuvem do tamanho da
mão de um homem. Ele tinha a segurança interior da resposta
mesmo antes de receber a chuva. Como a oração de Elias
envergonha nossas débeis orações! A oração dele fez as coisas
acontecerem. Ela vingou a existência e o ser de Deus, trouxe
convicção a consciências embotadas e lentas e provou que Deus
ainda era Deus na nação. A oração de Elias fez que toda uma
nação se voltasse para Deus, ordenou o movimento das nuvens e
direcionou o cair da chuva. Ela trouxe fogo do céu para provar a
existência de Deus ou para destruir os inimigos de Deus.
A oração do profeta mais notável de Israel estava trajava vestes
de fogo. A coroa dourada estava em sua cabeça, e seu incensório
estava cheio e fragrante com o brilho, a melodia e o perfume da
oração. Que poder maravilho revestiu-o naquela ocasião! Não
surpreende que Eliseu tenha clamado quando viu esse impetuoso
profeta do Senhor entrar na carruagem para sua viagem celestial:
“[…] ‘Meu pai! Meu pai! Tu eras como os carros de guerra e os
cavaleiros de Israel!’ […]” (2Reis 2.12). Mas carruagens e exércitos
não poderiam fazer tanto por Israel como fizeram as orações de
Elias. As orações são forças onipotentes, universais e dirigidas ao
céu.
Onde estão as pessoas de oração dos tempos modernos com fé
impetuosa que podem inflamar as orações de Elias? Precisamos
hoje de governantes na igreja que possam acrescentar a força, o
brilho e a fragrância das orações de Elias com suas próprias
orações.
Elias não podia tocar nada, a não ser pela oração. Deus estava
com ele de forma poderosa porque ele era poderoso na oração.
Na batalha com os profetas de Baal, ele afirma de forma clara e
positiva que o verdadeiro Deus de Israel será determinado pela
oração. Deus está vivo? A Bíblia é a revelação de Deus? Quantas
vezes essas perguntas são feitas nos dias de hoje? Quantas vezes
precisam ser respondidas? Um apelo pela oração é a única decisão
para elas. Onde está o problema? Não em Deus, mas na nossa
oração. A prova de Deus e de sua existência é que ele responde a
orações. É preciso ter fé e fazer uma oração como a de Elias para
resolver a questão. Onde estão os Elias dos dias de hoje na igreja?
Onde estão os homens com as mesmas paixões que ele, que
podem orar como ele orou? Temos milhares de homens com as
mesmas paixões, mas onde estão os homens que oram como ele
orava? Observe com que calma e confiança ele lança o desafio e
constrói o altar. Como sua oração é calma e objetiva naquela
ocasião!
Em vez de tal oração destoar dos princípios e da moderação do
Novo Testamento, esta oração de Elias é apresentada como
exemplo a ser imitado e uma ilustração do que a oração pode fazer
quando realizada pelo homem correto do modo correto. Os
resultados de Elias poderiam ser assegurados se tivéssemos mais
homens como Elias orando.
Elias orou de forma real, verdadeira e intensa. Quanta oração
existe hoje que não é oração verdadeira; pelo contrário, algo vazio e
meras palavras! Muitas delas nem podem ser chamadas de oração.
O mundo está cheio de orações desse tipo. Ela não vai a lugar
algum, não traz benefícios nem alcança resultados. Na verdade, não
se esperam resultados nem retorno.
Os requisitos da verdadeira oração são os requisitos da religião
pessoal, vital e segundo a Escritura. Estes são os requisitos do
verdadeiro culto religioso nesta vida. Fundamental entre esses
requisitos está que no serviço acabamos servindo. Portanto, na
oração, devemos orar. Verdade e coração, estes são o centro, a
substância, a importância, o coração da oração. Não há
possibilidade de oração sem que realmente oremos com toda a
simplicidade, realidade e verdade. Orar sem oração — como é
comum, popular, enganadora e vã!
6. EZEQUIAS, UM REI DE ORAÇÃO

Uma pessoa pode formar um hábito de estudo até que a


vontade esteja tranquila e apenas o intelecto esteja
envolvido, tendo a vontade se retirado completamente do
exercício. Isso não é válido para a verdadeira oração. Se
os sentimentos são lentos, frios, indiferentes, se o
intelecto não fornece material para revestir a petição com
imagem e fervor, a oração é um mero vapor do exercício
intelectual e nada é realizado.
REVERENDO HOMER W. HODGE

A GRANDE REFORMA RELIGIOSA na época do rei Ezequias e do


profeta Isaías fora completamente impregnada com oração em seus
vários estágios. O rei Ezequias, de Judá, serve de exemplo de líder
de oração da Igreja de Deus, com vestes brancas e coroa dourada.
Tinha inteligência e força, sabedoria e piedade. Foi estadista,
general, poeta e reformador religioso. Foi uma ilustre surpresa para
nós não tanto por sua força e inteligência — eram de se esperar —,
mas por causa da piedade e de todas as situações relacionadas a
ele. A rara afirmação “Ele fez o que o Senhor aprova” é uma
surpresa alegre e emocionante quando consideramos todos os
antecedentes e o ambiente em que estava. De onde ele veio? Como
foi sua infância?
Quem eram seus pais e qual era o perfil religioso deles?
Materialismo, parcialidade e apostasia absoluta marcaram o reinado
de seu pai, avô e bisavô. Enquanto crescia, o ambiente de sua casa
estava longe de ser favorável à piedade e à fé em Deus. Entretanto,
uma coisa o favoreceu. Ele foi favorecido por ter Isaías como amigo
e conselheiro quando assumiu a coroa de Judá. Como é bom
quando um estadista tem um homem temente a Deus como
conselheiro e amigo!
Com que familiaridade e sucesso ele intercedeu a Deus, como
vemos no festival da Páscoa, em que inúmeras pessoas não
estavam aptas para participar. Eles não haviam se preparado
realizando a purificação cerimonial exigida e era importante que
recebessem permissão de comer a Páscoa com todos os outros.
Eis o breve relato com referência especial à oração de Ezequias e
o resultado:

Visto que muitos na multidão não se haviam consagrado, os levitas


tiveram que matar cordeiros da Páscoa para todos os que não
estavam cerimonialmente puros e que, por isso, não podiam
consagrar os seus cordeiros ao Senhor.
Embora muitos dos que vieram […] não se tivessem purificado,
assim mesmo comeram a Páscoa, contrariando o que estava
escrito. Mas Ezequias orou por eles, dizendo: “Queira o Senhor,
que é bondoso, perdoar todo aquele que inclina o seu coração para
buscar a Deus, o Senhor, o Deus dos seus antepassados, mesmo
que não esteja puro de acordo com as regras do santuário”.
E o Senhor ouviu a oração de Ezequias e não castigou o povo
(2Crônicas 30.17-20).

Então o Senhor o ouviu quando ele orou e mesmo a violação da


mais sagrada lei da Páscoa foi perdoada em resposta à oração
desse rei de oração que temia a Deus. A lei deve curvar o próprio
cetro à oração.
A força, a objetividade e o fundamento de sua fé e a oração
revelam-se nas palavras a seu exército. São palavras memoráveis,
mais fortes e mais poderosas do que todas as tropas de
Senaqueribe:

“Sejam fortes e corajosos. Não tenham medo nem desanimem por


causa do rei da Assíria e do seu enorme exército, pois conosco está
um poder maior do que o que está com ele.
Com ele está somente o poder humano, mas conosco está o
Senhor, o nosso Deus, para nos ajudar e para travar as nossas
batalhas”. E o povo ganhou confiança com o que disse Ezequias,
rei de Judá (2Crônicas 32.7,8).

Sua defesa contra os inimigos poderosos de Deus era a oração.


Seus inimigos tremeram e foram destruídos por suas orações
quando seu próprio exército não poderia. O povo de Deus sempre
estava seguro quando seus príncipes eram príncipes na oração.
Um evento sério e importante atingiu o povo de Deus durante o
reinado de Ezequias, testando sua fé em Deus e fornecendo
oportunidade de testar a oração para obter libertação. Judá estava
sendo extremamente pressionado pelos assírios e, humanamente
falando, a derrota e o cativeiro pareciam iminentes. O rei da Assíria
enviou uma comissão para desafiar e blasfemar o nome de Deus e
para insultar o rei Ezequias; proferiram seus insultos e blasfêmias
publicamente. Observe como Ezequias reagiu imediatamente e sem
hesitação: “Ao ouvir o relato, o rei Ezequias rasgou as suas vestes,
pôs roupas de luto e entrou no templo do Senhor” (2Reis 19.1).
Seu primeiro pensamento foi voltar para Deus e ir à “casa de
oração”. Deus estava em seus pensamentos, e a oração era a
primeira coisa a ser feita. Por isso, enviou mensageiros a Isaías
para que se unisse a ele em oração. Em tal emergência, Deus não
poderia ser deixado de fora. Eles precisavam apelar a Deus para
que os libertasse dos inimigos que blasfemavam de Deus e de seu
povo.
Exatamente em meio a essa crise, as forças do rei da Assíria, que
estavam cercando Ezequias, foram desviadas de um ataque
imediato a Jerusalém. Contudo, o rei da Assíria enviou a Ezequias
uma carta difamadora e blasfemadora.
Pela segunda vez, ao ser insultado e sitiado pelas forças desse
rei pagão, ele entra na casa do Senhor, a “casa de oração”. Para
onde mais iria? E a quem apelaria, senão ao Deus de Israel?
Ezequias recebeu a carta das mãos dos mensageiros e a leu. Então
subiu ao templo do Senhor e estendeu-a perante o Senhor. E
Ezequias orou ao Senhor: “Senhor, Deus de Israel, que reinas em
teu trono, entre os querubins, só tu és Deus sobre todos os reinos
da terra. Tu criaste os céus e a terra. […] Agora, Senhor nosso
Deus, salva-nos das mãos dele, para que todos os reinos da terra
saibam que só tu, Senhor, és Deus” (2Reis 19.14,15,19).

Observe a rápida resposta e os resultados maravilhosos de tal


oração feita por esse rei temente a Deus. Em primeiro lugar, Isaías
assegurou ao rei que ele não precisava temer coisa alguma. Deus
ouvira sua oração e traria grande libertação.
Em segundo lugar, o anjo do Senhor desceu com asas velozes e
destruiu 185 mil assírios. O rei foi vingado, Deus foi honrado e o
povo de Deus foi salvo.
A oração conjunta do rei de oração e do profeta de oração foi uma
força poderosa para trazer libertação e destruir os inimigos de Deus.
Exércitos prostrados a sua mercê, indefesos, e anjos, velozes e
armados com poder e vingança, foram seus aliados.
Ezequias havia ministrado em oração destruindo a idolatria e
reformando seu reino. Ao enfrentar seus inimigos, a oração foi sua
principal arma. Agora testaria sua eficácia contra o propósito
estabelecido e declarado do Deus Altíssimo. Será ela de utilidade
nesse novo campo de ação? Veremos. Ezequias estava muito
doente, e Deus enviou seu velho amigo, o sábio conselheiro e
profeta Isaías, para adverti-lo de que seu fim se aproximava e dizer-
lhe que pusesse em ordem seus negócios para sua partida
definitiva. Eis o que a Escritura relata:

Naquele tempo Ezequias ficou doente e quase morreu. O profeta


Isaías, filho de Amoz, foi visitá-lo e lhe disse: “Assim diz o Senhor:
‘Ponha em ordem a sua casa, pois você vai morrer; não se
recuperará’” (2Reis 20.1).
O decreto de que ele iria morrer veio diretamente de Deus. O que
poderia anular ou reverter aquele decreto divino do céu? Ezequias
nunca estivera em uma condição tão insuperável, com um decreto
tão direto e definitivo de Deus. A oração pode mudar os propósitos
de Deus? A oração pode arrancar das garras da morte alguém que
foi decretado à morte? A oração pode curar um homem de uma
doença incurável? Esses eram os questionamentos com os quais
ele agora tinha que lidar. Mas parece que a fé dele não vacilou nem
por um momento. Sua fé não foi abalada nem por um minuto ao
receber a notícia repentina e definitiva entregue pelo profeta do
Senhor. Não surgiram em sua mente as dúvidas que a incredulidade
moderna levantaria. Imediatamente, ele se entrega à oração. No
mesmo instante, sem demora, ele se volta para Deus, que emitiu o
decreto. Para quem mais ele poderia ir? Será que Deus não pode
mudar seus próprios decretos, se ele quiser?
Observe o que Ezequias fez nessa situação complicada, muito
pressionado, e veja o resultado:

Ezequias virou o rosto para a parede e orou ao Senhor: “Lembra-te,


Senhor, como tenho te servido com fidelidade e com devoção
sincera. Tenho feito o que tu aprovas”. E Ezequias chorou
amargamente (2Reis 20.2,3).

Ele não ofereceu a Deus uma súplica presunçosa por sua


recuperação. Ele estava apenas alegando sua fidelidade, assim
como Cristo fez anos mais tarde: “‘Eu te glorifiquei na terra […]’”
(João 17.4).
Ele está lembrando o Senhor, está evocando sua sinceridade,
fidelidade e serviço de forma completamente legítima. Essa oração
está de acordo com a oração de Davi em Salmos 26.1: “Faze-me
justiça, Senhor, pois tenho vivido com integridade […]”. Esse não
era um teste de oração para Ezequias nem uma cura pela fé, mas,
sim, um teste de Deus. Se a cura viesse, seria a cura de Deus.
Mal Ezequias terminara a oração e Isaías estava prestes a ir para
casa, Deus deu outra mensagem a Ezequias, dessa vez uma mais
agradável e encorajadora. A força poderosa da oração afetara Deus,
mudara o édito e revertera o propósito dele em relação a Ezequias.
O que é que a oração não pode fazer? O que um homem de oração
não pode realizar por meio da oração?

Antes de Isaías deixar o pátio intermediário, a palavra do Senhor


veio a ele:
“Volte e diga a Ezequias, líder do meu povo: Assim diz o Senhor,
Deus de Davi, seu predecessor: ‘Ouvi sua oração e vi suas
lágrimas; eu o curarei. Daqui a três dias você subirá ao templo do
Senhor. Acrescentarei quinze anos à sua vida. E livrarei você e esta
cidade das mãos do rei da Assíria.
Defenderei esta cidade por causa de mim mesmo e do meu servo
Davi’” (2Reis 20.4-6).

A oração foi feita a Deus com a intenção de que ele


reconsiderasse e mudasse de ideia. Sem dúvida, Isaías voltou para
casa com o coração mais leve do que quando entregou a
mensagem original. Deus recebeu a oração daquele rei doente e o
pedido para que revogasse seu decreto; ao final, condescendeu em
conceder a ele o pedido. Às vezes, Deus muda de ideia. Ele tem o
direito de fazer isso. Os motivos para que mude de ideia são fortes.
Seu servo Ezequias queria ser atendido. Ezequias havia sido um
servo diligente e fizera muito em favor do Senhor. Verdade,
perfeição e bondade haviam sido os ingredientes do serviço de
Ezequias e a regra de sua vida. As lágri mas e a oração de
Ezequias impediram a execução do decreto de Deus para tirar a
vida de seu servo. Oração e lágrimas são coisas poderosas para
Deus. Elas significam muito mais para ele do que persistência e
decretos. “‘Ouvi sua oração e vi suas lágrimas; eu o curarei’” (2Reis
20.2)
A doença morre diante da oração. A saúde vem em resposta à
oração. Deus respondeu mais do que Ezequias pedira. Ezequias
orara apenas por sua vida, mas Deus lhe deu vida e ainda lhe
prometeu segurança e proteção de seus inimigos.
Contudo, Isaías também tinha relação com a recuperação desse
rei de oração. Havia mais do que oração. A oração de Isaías foi
transformada na habilidade do médico. “Então disse Isaías:
‘Preparem um emplastro de figos’. Eles o fizeram e o aplicaram na
úlcera; e ele se recuperou” (2Reis 20.7).
Deus com frequência usa remédios para responder à oração.
Frequentemente é necessário mais fé para ir além dos meios e não
confiar neles do que para rejeitar completamente todos os meios.
Aqui estava um simples remédio que todos sabiam que não curava
a doença mortal e mesmo assim foi um meio para auxiliar ou testar
a fé. No entanto, ainda havia mais oração a ser feita. Isaías e
Ezequias não podiam fazer nada sem muita oração:

Ezequias havia perguntado a Isaías: “Qual será o sinal de que o


Senhor me curará e de que de hoje a três dias subirei ao templo do
Senhor?”
Isaías respondeu: “O sinal de que o Senhor vai cumprir o que
prometeu é este: você prefere que a sombra avance ou recue dez
graus na escadaria?”
Disse Ezequias: “Como é fácil a sombra avançar dez graus, prefiro
que ela recue dez graus”.
Então o profeta Isaías clamou ao Senhor, e este fez a sombra
recuar os dez graus que havia descido na escadaria de Acaz (2Reis
20.8-11).

Ezequias age de acordo com a situação e cobre a resposta de


oração com ação de graças. A fragrância das especiarias está lá e a
melodia da harpa também. Há quatro coisas que precisamos ter
sempre em mente: Deus ouve a oração, Deus presta atenção à
oração, Deus responde à oração e Deus liberta pela oração. Nunca
é demais repetir essas coisas. A oração quebra todas as cadeias,
solta todas as correntes, abre todas as prisões e alarga todas as
fendas em que seus justos estejam presos.
A vida era doce para Ezequias e ele desejava viver, mas o que
poderia mudar o decreto de Deus? Nada, a não ser a energia da
oração. O coração de Ezequias estava partido sob o peso, e suas
águas fluíram e uniram força e volume à oração. Ele implorou com
grande empenho e com fortes argumentos, e Deus ouviu a oração
de Ezequias, viu suas lágrimas e mudou de ideia. Ezequias, por sua
vez, viveu para louvar a Deus e para ser um exemplo do poder da
oração.
Assim como para Ezequias, a oração decente e sem emoção não
servia para Paulo. Ele assumiu a atitude de um lutador e desafiou
seus irmãos a que se unissem a ele na agonia de um grande
conflito. Ele diz: “Recomendo, irmãos, por nosso Senhor Jesus
Cristo e pelo amor do Espírito, que se unam a mim em minha luta,
orando a Deus em meu favor” (Romanos 15.30).
Ele era fervoroso demais para lidar com a questão oração de
outro modo. Ele estava em agonia e desejava que seus irmãos
fossem seus companheiros no conflito e na luta que afligiam sua
alma. Epafras fazia o mesmo tipo de oração pelos colossenses: “[…]
Ele está sempre batalhando por vocês em oração, para que, como
pessoas maduras e plenamente convictas, continuem firmes em
toda a vontade de Deus” (Colossenses 4.12). Um objetivo sempre
digno de batalha. Esse tipo de oração dos primeiros pastores da
igreja apostólica era um segredo da pureza, uma fonte do poder da
igreja. E foi esse tipo de oração que Ezequias fez.
Era a oração nascida no fogo de um grande desejo e perseguida
na mais profunda agonia da batalha e oposição ao sucesso. Nossos
desejos espirituais não são fortes o suficiente para dar vida às
poderosas batalhas de oração? Eles não nos absorvem o suficiente
para interromper os negócios, deter atividades mundanas e nos
conduzir ao quarto, à solidão e a Deus a fim de conquistar cada
força de oposição e arrancar nossas vitórias das garras do inferno?
Desejamos pregadores, homens e mulheres que possam ilustrar a
utilidade, a força, a bênção e a amplitude mais extrema da oração.
Isaías lamentou que não houvesse ninguém que se comovesse
para alcançar Deus. Muitas orações eram feitas, mas eram frágeis,
complacentes e indiferentes demais. A alma não se movia
poderosamente em direção a Deus, não havia junção de todas as
energias santas para agarrar Deus e apropriar-se de seus tesouros
para usos espirituais. Orações sem força não têm poder para
superar dificuldades, não têm poder para bons resultados nem para
conquistar uma vitória completa e maravilhosa.
7. ESDRAS, UM REFORMADOR
DE ORAÇÃO

Antes da Grande Guerra houve muitos sinais de um novo


interesse pela ORAÇÃO e uma nova esperança por seu
exercício. Todos sabem como esses sinais se
multiplicaram. Pelo menos, isso foi algo bom que a guerra
fez por nós. Não vamos perder a oportunidade. A oração
não é um exercício fácil. Ela exige encorajamento,
exposição e treinamento. Nunca houve uma época em
que homens e mulheres mais sinceramente desejassem
que lhes dissessem como orar. A oração é o instrumento
mais poderoso em nosso arsenal, e, se vamos usá-la
como Deus nos encorajou, precisamos fazer tudo que
esteja ao nosso alcance para exercitá-la.
REVERENDO JAMES HASTINGS

ESDRAS, O SACERDOTE E um dos grandes reformadores de Deus,


surge diante de nós no Antigo Testamento como um homem de
oração que usou a oração para superar dificuldades e realizar
coisas boas. Ele retornara da Babilônia sob a proteção do rei da
Babilônia, que estranhamente fora movido em direção a Esdras e o
favorecera de muitas formas. Esdras estava a poucos dias em
Jerusalém quando o príncipe foi até ele levando a informação
perturbadora de que o povo não havia se separado do povo daquele
país e estava agindo de acordo com as abominações das nações
pagãs ao redor. E o pior de tudo é que o príncipe e os governadores
de Israel tinham sido os primeiros a transgredir.
Esdras precisou enfrentar uma situação difícil ao encontrar o povo
de Deus quase irremediavelmente envolvido com o mundo. Em
todas as épocas, Deus exige que sua igreja seja separada do
mundo, uma separação tão aguda que corresponde a um
antagonismo. Para atingir esse fim, Deus colocou Israel na terra
prometida, separou-o de outras nações com montanhas, desertos e
mares e instruiu-o diretamente a que não estabelecesse nenhum
tipo de relação com as nações estrangeiras, fossem relações de
casamento, fossem relações sociais ou econômicas.
Mas, ao retornar da Babilônia, Esdras encontra o povo em
Jerusalém paralisado, completa e desesperadamente prostrado pela
violação desse princípio. Eles haviam se casado e estabelecido os
laços mais próximos e mais sagrados na vida familiar, social e
econômica com as nações gentias. Todos estavam envolvidos: os
sacerdotes, os levitas, os líderes e o povo. A família, os negócios e
a vida religiosa do povo estavam fundamentados na violação da lei
de Deus. O que deveria ser feito? O que poderia ser feito? Essas
eram as questões difíceis que se apresentaram a esse líder de
Israel, esse homem de Deus.
Tudo parecia ser contrário à recuperação da igreja. Esdras não
podia pregar para eles porque toda a cidade se indignaria e o
expulsaria dali. Que força poderia recuperá-los para Deus de forma
que dissolvessem as sociedades nos negócios, se divorciassem de
mulheres e maridos, cortassem relações e rompessem amizades?
A primeira coisa sobre Esdras que é digna de nota foi que ele viu
a situação e percebeu quão séria era. Não se tratava de um otimista
cego que nunca via nada de errado no meio do povo de Deus. Pela
boca de Isaías, Deus pronunciara algo muito pertinente: “‘Quem é
cego senão o meu servo?’” (Isaías 42.18). Mas essa declaração não
poderia ser aplicada a Esdras. Tampouco ele minimizou as
condições, buscou paliativos para os pecados do povo ou diminuiu a
enormidade de seus crimes. A ofensa deles pareceu a seus olhos
séria ao extremo. É de muito valor que haja líderes em Sião que
tenham olhos para ver os pecados do povo de Deus, bem como os
males do momento. Uma das grandes necessidades da Igreja
moderna é de líderes do estilo de Esdras, que não sejam cegos, que
estejam dispostos a enxergar o estado das pessoas e que não
relutem em abrir os olhos e ver a real situação.
É natural que, ao ver os terríveis males na Igreja e na sociedade
de Jerusalém, ele tenha ficado perturbado. A triste condição das
coisas o afligiu a tal ponto que rasgou as próprias vestes,
desgrenhou os cabelos e sentou-se atônito. Tudo isso é evidência
da grande tristeza de sua alma pela situação deplorável. Então,
nesse estado de mente, preocupado, ansioso e com a alma
perturbada, Esdras entregou-se à oração, à confissão dos pecados
do povo e a implorar perdão misericordioso das mãos de Deus. A
quem ele iria em um momento como aquele, senão ao Deus que
ouve orações, que está pronto para perdoar e faz coisas
inesperadas?
Ele estava mais do que surpreso com a conduta pecaminosa do
povo, estava profundamente tocado e começou a jejuar e orar. A
oração e o jejum sempre alcançam alguma coisa. Ele ora com um
coração quebrantado, pois não há nada mais que possa fazer. Ele
ora a Deus profundamente sobrecarregado, prostrado no chão, e
chora enquanto toda a cidade se une a ele em oração.
A oração era a única forma de aplacar Deus, e Esdras se tornou
um grande agente de mudanças em uma grande obra para Deus,
com resultados maravilhosos. Toda a obra, seus princípios e
resultados estão resumidos em apenas um versículo em Esdras
10.1: “Enquanto Esdras estava orando e confessando, chorando
prostrado diante do templo de Deus, uma grande multidão de
israelitas, homens, mulheres e crianças, reuniram-se em volta dele
[…]”.
Houvera oração poderosa, simples e perseverante. A oração
intensa e persuasiva tinha alcançado seus objetivos. A oração de
Esdras trouxera resultados em uma grande obra para Deus. Foi
uma oração poderosa porque levou o Deus Altíssimo a realizar sua
própria obra, que não teria nenhuma esperança em nenhuma outra
fonte, salvo pela oração e por Deus. Mas nada está perdido para a
oração porque nada está perdido para Deus.
Mais uma vez, precisamos dizer que a oração está relacionada
somente com Deus e somente é bem-sucedida quando está
relacionada com Deus. Qualquer influência que a oração de Esdras
tenha tido sobre ele mesmo, seus resultados principais, senão o
único, ocorreram porque a oração atingiu Deus e moveu-o para
realizar sua obra.
Um arrependimento grande e generalizado seguiu-se à oração de
Esdras, e ocorreu uma reforma maravilhosa em Israel. O lamento de
Esdras e sua oração foram os grandes fatores que contribuíram
para fazer que tais coisas notáveis acontecessem.
Tão completo foi o avivamento que se seguiu que, como
evidência de sua genuinidade, os líderes de Israel foram a Esdras
com estas palavras:

“[…] Fomos infiéis ao nosso Deus quando nos casamos com


mulheres estrangeiras procedentes dos povos vizinhos. Mas,
apesar disso, ainda há esperança para Israel. Façamos agora um
acordo diante do nosso Deus e mandemos de volta todas essas
mulheres e seus filhos, segundo o conselho do meu Senhor e
daqueles que tremem diante dos mandamentos de nosso Deus.
Que isso seja feito em conformidade com a Lei. Levante-se! Esta
questão está em suas mãos, mas nós o apoiaremos. Tenha
coragem e mãos à obra!” (Esdras 10.2-4).
8. NEEMIAS, UM RESTAURADOR
DE ORAÇÃO

Nós não nos importamos com sua esplêndida capacidade


como ministro ou com seu dom natural como orador
diante dos homens. Temos certeza de que o que
realmente importa é: Ninguém pode ordenar o sucesso e
se tornar uma verdadeira alma de oração, a menos que
aplicação intensa seja seu preço. Agora mesmo estou
convencido de que a diferença entre homens santos
como Wesley, Fletcher, Edwards, Brainerd, Bramwell,
Bounds e nós mesmos é energia, perseverança,
determinação invencível para ser bem-sucedido ou
morrer tentando. Deus nos ajude.
REVERENDO HOMER W. HODGE

AO ENUMERARMOS OS HOMENS de oração do Antigo Testamento,


não devemos deixar de fora dessa lista sagrada Neemias, o
restaurador. Ele está em pé de igualdade com os outros que
apresentamos. Na história da reconstrução de Jerusalém depois do
cativeiro, ele desempenha um papel importante, e a oração tem
proeminência em sua vida durante aqueles anos. Ele estava cativo
na Babilônia e tinha uma importante posição no palácio do rei, de
quem era copeiro. Nele devia ter considerável mérito para que o rei
tomasse um cativo hebreu e o colocasse em tal ofício, no qual tinha
a vida do rei sob seus cuidados, pois era responsável pelo vinho
que ele bebia.
Foi quando Neemias estava na Babilônia, no palácio do rei, que,
certo dia, seus irmãos vieram de Jerusalém e, muito naturalmente,
Neemias desejou saber notícias do povo que estava lá e
informações sobre a própria cidade. Ele recebeu as perturbadoras
informações de que os muros estavam destruídos, os portões
haviam sido queimados e o remanescente que ali fora deixado no
início do cativeiro estava em grande aflição e desgraça.
Apenas um versículo revela o efeito de tais tristes notícias sobre
esse homem de Deus: “Quando ouvi essas coisas, sentei-me e
chorei. Passei dias lamentando-me, jejuando e orando ao Deus dos
céus” (Neemias 1.4).
Eis um homem cujo coração estava em sua própria terra muito
distante de onde ele vivia. Ele amava Israel, estava preocupado com
o bem-estar de Sião e era fiel a Deus. Profundamente perturbado
pelas informações relacionadas a seus irmãos em Jerusalém,
lamentou e chorou. Como são poucos os homens fortes destes dias
que podem chorar diante das maldades e abominações do nosso
tempo! Como são raros os que, ao verem a desolação de Sião,
estão suficientemente interessados e preocupados com o bem-estar
da Igreja para lamentar! Lamento e choro pela decadência da
religião, pelo declínio do poder do avivamento e pelas temíveis
incursões do mundo na Igreja são praticamente desconhecidos. Há
tanto do chamado otimismo que os líderes não têm olhos para ver a
ruína dos muros de Sião e o baixo estado espiritual dos cristãos dos
dias de hoje e têm menos coração para lamentar e chorar a
respeito. Neemias era um lamentador em Sião. E, por ter um
coração extremamente perturbado, faz o que outros santos de
oração haviam feito: ele vai a Deus e faz da situação um assunto de
oração. A oração está registrada em Neemias 1 e serve de modelo
para nossas orações. Ele começa com adoração, confessa os
pecados do povo, apela para as promessas de Deus, menciona
misericórdias anteriores e implora por misericórdia e perdão. Então,
olhando para o futuro, quando voltasse a ser convocado à presença
do rei, planejara pedir permissão para visitar Jerusalém e lá fazer o
que fosse possível para remediar a situação desoladora. Assim nós
o ouvimos orar por algo muito especial: “Faze com que hoje este teu
servo seja bem-sucedido, concedendo-lhe a benevolência deste
homem”. E ele acrescenta como explicação: “[…] Nessa época, eu
era o copeiro do rei” (v. 11).
Parecia correto orar por seu povo, mas como é que um rei pagão,
que possivelmente não tinha simpatia alguma pela triste condição
da cidade e do povo em uma terra cativa, nem tinha interesse algum
na questão, poderia ser afetado de forma tão favorável a ponto de
consentir abrir mão de seu fiel copeiro e permitir que ele se fosse
por meses? Mas Neemias cria em um Deus que poderia tocar até
mesmo a mente de um governador pagão e torná-lo favorável ao
pedido de seu servo de oração.
Neemias foi convocado à presença do rei, e Deus usou até a
aparência do semblante de Neemias como porta de entrada para
ganhar o consentimento de Artaxerxes. Assim se iniciou a conversa
com o rei, e o resultado final foi que ele não apenas permitiu que
Neemias voltasse a Jerusalém, mas forneceu-lhe tudo o que
precisava para a jornada e o sucesso da empreitada.
Neemias não apenas descansou quando orou pela primeira vez
sobre a questão, mas afirmou esse fato significativo enquanto falava
com o rei: “Então orei ao Deus dos céus”, dando a impressão de
que, enquanto o rei inquiria sobre seu pedido e o tempo que ficaria
fora, ele estava ali mesmo falando com Deus sobre a questão.
A oração intensa e persistente de Neemias prevaleceu. Deus
pode até mesmo agir na mente de um governante pagão e pode
fazer isso em resposta à oração, sem de forma alguma subverter
seu livre-arbítrio ou impor sua vontade. É um caso semelhante ao
de Ester, quando esta convocou seu povo para jejuar e orar em
favor dela quando fosse à presença do rei sem ser chamada. Em
resultado disso, a mente do rei foi tocada pelo Espírito de Deus em
um momento muito crítico, e ele foi movido favoravelmente em
direção a Ester e estendeu o cetro dourado para ela. Tampouco
Neemias parou de orar ao conseguir os primeiros resultados. Ao
reconstruir os muros de Jerusalém, Neemias enfrentou grande
oposição por parte de Sambalate e Tobias, que ridicularizaram o
esforço do povo para reconstruir os muros da cidade. Sem se abalar
com os insultos nem com a intensa oposição desses perversos
oponentes da causa de Deus, ele se empenhou na tarefa que
assumira. Mas Neemias incluía a oração em tudo o que fazia:
“Ouve-nos, ó Deus, pois estamos sendo desprezados. Faze cair
sobre eles a zombaria. E sejam eles levados prisioneiros como
despojo para outra terra” (Neemias 4.4). E, ao continuar o relato,
acrescenta: “Mas nós oramos ao nosso Deus […]” (v. 9).
Ao longo de todo o relato do nobre trabalho que estava fazendo,
percebemos que a oração tinha proeminência. Mesmo depois de os
muros estarem prontos, os mesmos inimigos dele e do povo de
Deus mais uma vez se opuseram à obra. Neemias, então, reforça
suas orações, e ele mesmo registra este significativo pedido: “[…]
‘Fortalece agora as minhas mãos!’” (Neemias 6.9).
Mais adiante, quando Sambalate e Tobias contrataram um
emissário para amedrontar e atrasar Neemias, ele se posiciona
diretamente contra o novo ataque e novamente se volta para Deus
em oração: “Lembra-te do que fizeram Tobias e Sambalate, meu
Deus, lembra-te também da profetisa Noadia e do restante dos
profetas que estão tentando me intimidar” (Neemias 6.14). E Deus
respondeu a seu trabalhador fiel e derrotou os conselhos e os
planos desses perversos oponentes de Israel. Neemias descobriu,
para seu espanto, que as porções dos levitas não lhes haviam sido
entregues, por isso a casa de Deus estava esquecida. Ele tomou
providências para que os dízimos devidos fossem entregues e para
que a casa de Deus fosse aberta e retomados os cultos religiosos,
indicando tesoureiros para cuidarem dessas questões. Mas a
oração não podia ser esquecida, por isso encontramos sua oração
registrada nessa ocasião: “Lembra-te de mim por isso, meu Deus, e
não te esqueças do que fiz com tanta fidelidade pelo templo de meu
Deus e pelo seu culto” (Neemias 13.14).
Não devemos pensar que esse era um apelo da justiça própria
como o dos fariseus da época do nosso Senhor que se dirigiam
ostentosamente ao templo para orar, que expunham suas
reivindicações cheias de justiça própria aos olhos de Deus. Foi uma
oração nos moldes da de Ezequias, que lembrou Deus de sua
fidelidade e de ter um coração reto aos olhos dele.
Mais uma vez Neemias encontra maldade entre o povo de Deus.
Logo depois de ter corrigido o mal que causou o fechamento da
casa de Deus, ele descobriu que o sábado estava sendo quebrado,
e aqui não apenas precisou aconselhar o povo e procurar corrigi-los
por meios brandos, mas também se propôs a exercer autoridade
caso não parassem de comprar e vender no dia de sábado. Já era
tempo de Neemias encerrar essa parte de seu trabalho com oração,
por isso registra suas palavras naquela ocasião: “[…] Lembra-te de
mim também por isso, ó meu Deus, e tem misericórdia de mim
conforme o teu grande amor” (Neemias 13.22).
Por último, como reformador, descobre outro grande mal entre o
povo. Eles haviam se casado com homens e mulheres de Asdote,
Amom e Moabe. Opondo-se a eles, Neemias fez que corrigissem
esse problema, e esse registro encerra-se com uma oração: “Não te
esqueças deles, ó meu Deus, pois profanaram o ofício sacerdotal e
a aliança do sacerdócio e dos levitas” (v. 29).
Purificando-os de todos os estrangeiros, Neemias anunciou as
responsabilidades dos sacerdotes e dos levitas, e o registro de sua
carreira termina com esta breve oração: “[…] Em tua bondade,
lembra-te de mim […]” (v. 31).
Feliz é a igreja cujos líderes são homens de oração. Feliz é a
comunidade cristã que contempla a construção de uma igreja que
tem líderes que estabelecem seus fundamentos com oração e cujos
muros crescem lado a lado com a oração. A oração ajuda a edificar
igrejas e a erigir os muros das casas de adoração. A oração derrota
os oponentes daqueles que estão executando as iniciativas de
Deus. A oração dispõe favoravelmente a mente até dos que não têm
relação com a igreja e move-os em direção às questões da igreja. A
oração ajuda poderosamente em todas as questões relacionadas à
causa de Deus e muito auxilia e encoraja o coração dos que têm o
trabalho de Deus neste mundo em suas mãos.
9. SAMUEL, UMA CRIANÇA
DE ORAÇÃO

Foi uma grande ação de Jerônimo, um dos pais romanos.


Ele deixou de lado todos os compromissos urgentes e foi
cumprir o chamado que recebeu de Deus, ou seja,
traduzir as Sagradas Escrituras. Suas congregações
eram maiores do que muitas de hoje, mas ele disse a seu
povo: “É necessário que as Escrituras sejam traduzidas;
vocês precisam encontrar outro ministro; vou para o
deserto e não devo retornar até que a minha tarefa esteja
concluída”. Foi embora, trabalhou e orou até ter
produzido a Vulgata que existirá enquanto o mundo
permanecer. Portanto, precisamos dizer a nossos
amigos: “Preciso ir, preciso de um tempo para estar a sós
e orar”. E, embora não escrevamos Vulgatas em latim,
mesmo assim nosso trabalho será imortal: Glória a Deus.
REVERENDO C. H. SPURGEON

SAMUEL CHEGOU A ESTE mundo e passou a existir em resposta


direta à oração. Ele nasceu de uma mãe de oração que tinha no
coração muito anseio por um filho. Ele veio à vida em um ambiente
de oração, e seus primeiros meses neste mundo foram passados
em contato direto com uma mulher que sabia orar. Foi uma oração
acompanhada do voto solene de que se ela recebesse um filho ele
seria “dedicado ao Senhor”. Fiel ao voto, essa mulher de oração
colocou-o em contato direto com o ministro do santuário e sob
influência da “casa de oração”. Não surpreende que ele tenha se
transformado em um homem de oração. Não poderíamos esperar
outra coisa de uma vida que se inicia dessa forma e em tal
ambiente. Um ambiente desse tipo sempre marca as crianças e
tende a formar o caráter e determinar seu destino.
Ele estava em um lugar favorável para ouvir Deus falar com ele e
estava em um ambiente que atraiu sua atenção ao chamado divino
que recebeu. Foi muito natural que ao terceiro chamado do céu,
quando reconheceu a voz de Deus, esse coração infantil tenha
respondido com tamanha prontidão: “[…] ‘Fala, Senhor, pois o teu
servo está ouvindo’ […]” (1Samuel 3.9). Rapidamente esse menino
respondeu com submissão, disposição e oração.
Se tivesse nascido de um tipo diferente de mãe, se tivesse sido
colocado em outro ambiente, se tivesse passado seus primeiros
anos em contato com influências diferentes, alguém supõe que ele
poderia ter ouvido com facilidade a voz de Deus chamando-o a seu
serviço e que ele teria tão prontamente rendido sua jovem vida ao
Deus que o trouxera à existência? Será que uma casa voltada para
as coisas terrenas, com um ambiente mundano, separado da Igreja
de Deus, com uma mãe com mentalidade secular, teria produzido
esse caráter em Samuel? É necessário esse tipo de influências e
atividades no início da vida para produzir homens de oração como
Samuel.
Você gostaria que seu filho fosse chamado com pouca idade para
o serviço divino e fosse separado do mundo para Deus? Você lhe
daria essas condições para que ele fosse chamado pelo Espírito de
Deus na infância? Coloque-o sob a influência da oração. Coloque-o
perto e sob a influência direta do Homem de Deus e em contato com
a “casa de oração”.
Samuel conheceu Deus na infância. Como consequência, já
conhecia Deus na vida adulta. Ele reconheceu Deus na infância,
obedeceu e orou a ele. O resultado foi que ele reconheceu Deus na
vida adulta, obedeceu e orou a ele. Se mais crianças fossem filhas
de mães de oração, criadas em contato direto com a “casa de
oração” e educadas em ambientes de oração, mais crianças
ouviriam a voz do Espírito de Deus que lhes fala e responderiam
mais rápido aos chamados divinos a uma vida religiosa. Teremos
homens de oração nas nossas igrejas? Precisamos ter mães de
oração que os deem à luz, casas de oração que lhes deem o tom
em sua vida, ambientes de oração que ficarão impressos na mente
e que estabeleçam os fundamentos de uma vida de oração. Um
Samuel que ora vem de uma Ana que ora. Sacerdotes de oração
vêm de “uma casa de oração”. Líderes de oração vêm de uma casa
de oração.
Durante anos, Israel esteve sob o domínio dos filisteus, e a arca
estava alojada na casa de Abinadabe, cujo filho Eleazar fora
designado para manter o testemunho sagrado de Deus. O povo
dera lugar à idolatria, e Samuel estava preocupado com as
condições religiosas da nação. A arca de Deus estava ausente, o
povo se entregara a adorar ídolos e Deus se afastara dele de modo
estrito. Chamando-o a que abandonasse os deuses estranhos,
Samuel conclamou-o a que preparasse o coração para o Senhor e
que mais uma vez começasse a servi-lo — prometendo-lhe que o
Senhor o libertaria das mãos dos filisteus. Com uma pregação tão
direta, pois além de tudo Samuel era um pregador da época, causou
profunda impressão e deu muitos frutos, como esse tipo de
pregação sempre dá. “Assim, os israelitas se livraram dos baalins e
dos postes sagrados e começaram a prestar culto somente ao
Senhor” (1Samuel 7.4).
Isso, porém, não era suficiente. A oração precisa ser
acompanhada de reforma. Portanto, Samuel, fiel a suas convicções
sobre oração, diz ao povo: “[…] ‘Reúnam todo o Israel em Mispá, e
eu intercederei ao Senhor a favor de vocês’” (v. 5). Enquanto
Samuel estava intercedendo por esses israelitas pecadores, os
filisteus se reuniram para lutar contra a nação, mas o Senhor
interveio no momento exato, trovejou com grande estrondo e
desbaratou os inimigos de Israel, que “foram derrotados por Israel”
(v. 10).
Felizmente, a nação tinha um homem que podia orar, que
conhecia a hora e o valor da oração e um líder que tinha os ouvidos
de Deus e podia influenciar Deus. Contudo, as orações de Samuel
não pararam por aqui. Ele julgou Israel todos os dias de sua vida e
todos os anos percorria Betel, Gilgal e Mispá. Depois, voltava para
casa em Ramá, onde residia. “[…] e naquele lugar construiu um
altar em honra ao Senhor” (1Samuel 7.17). Era um altar de
sacrifício, mas também um altar de oração. E, embora possa ter
sido para o benefício da comunidade onde vivia, um tipo de igreja da
cidade, não devemos nos esquecer de que deve ter sido um altar
familiar, um lugar onde o sacrifício pelo pecado era oferecido, mas,
ao mesmo tempo, um lugar onde sua casa se reunia para adorar,
louvar e orar. Ali o Deus Altíssimo era reconhecido, mostrava que se
tratava de uma casa religiosa e ali pai e mãe invocavam o nome do
Senhor, diferenciando aquela casa de todas as casas mundanas e
idólatras ao redor.
Ali estava um exemplo de uma casa religiosa tão necessária
naquela época ímpia e descrente. Abençoada é a casa que tem um
altar de sacrifício e de oração, onde ações de graças diárias sobem
aos céus e onde se fazem orações pela manhã e à noite.
Samuel não era apenas um sacerdote de oração, um líder de
oração e um mestre de oração, mas também um pai de oração. E
qualquer um que conheça a situação no que diz respeito à religião
familiar sabe muito bem que o que os tempos modernos exigem são
lares religiosos, pais e mães de oração. É aqui onde tem início o
colapso na religião e onde a vida religiosa de uma comunidade
começa a decair, bem como o primeiro lugar a que devemos ir para
gerar homens e mulheres de oração na Igreja de Deus. É em casa
que deve iniciar o avivamento.
Uma crise atingiu a história dessa nação. O povo estava cegado
pela glória de um reino com um rei humano e estava pronto para
rejeitar Deus como seu rei como ele sempre fora. Por isso, foram a
Samuel com um pedido ousado: “‘[…] escolhe agora um rei para
que nos lidere, à semelhança das outras nações’” (1Samuel 8.5).
Esse pedido desagradou o homem de Deus que sentia ciúmes pelo
nome, pela honra e pelo prazer do Senhor Deus. Como poderia ser
de outra forma? Quem não teria ficado desagradado se tivesse sido
criado nos moldes de Samuel? Sua alma se entristeceu. O Senhor,
porém, confortou-o naquele momento, assegurando-lhe que “‘[…]
não foi a você que rejeitaram; foi a mim que rejeitaram como rei […]
Agora atenda-os […]’” (v. 7,9).
Então Samuel seguiu a inclinação de sua mente: “Então ele orou
ao Senhor”. Parece que em todas as questões relacionadas ao
povo, que diziam respeito a Samuel, ele precisava orar sobre o
assunto. Quanto mais agora que houvera uma revolução completa
na forma de governo e Deus deixaria de ser o governante do povo,
e um rei humano seria estabelecido. É preciso orar sobre os
assuntos nacionais. Os homens de oração devem levar a Deus em
oração os assuntos de governo. Legisladores, juízes e executivos
precisam de líderes em Israel que orem por eles. Que erros
poderiam ser evitados se houvesse mais oração envolvida nas
questões civis?
O assunto, porém, não se encerraria aí. Deus mostraria de forma
tão definitiva e clara seu desagrado com o pedido de um rei humano
que o povo saberia que coisa perversa havia feito, embora Deus
tivesse cedido ao pedido dele. Eles precisavam saber que Deus
ainda existia e estava relacionado a esse povo, com seu rei e com
os assuntos do governo. Por isso, as orações de Samuel deveriam
ser postas em ação para realizar os propósitos divinos. Portanto,
Samuel convocou o povo e mostrou-lhe o que o Senhor faria diante
de seus olhos. Ele clamou ao Senhor, e em resposta Deus enviou
uma terrível tempestade que aterrorizou o povo e o fez reconhecer o
grande pecado que havia cometido ao pedir um rei. O povo ficou
com tanto medo que rapidamente chamou Samuel para orar por ele
e poupá-lo do que parecia ser sua destruição. Mais uma vez Samuel
orou; Deus ouviu e respondeu; os trovões e a chuva cessaram.
Há mais um incidente de oração na vida de Samuel que é digno
de nota. O rei Saul recebera ordens de destruir todos os
amalequitas e tudo o que pertencia a eles, mas Saul, contrário à
instrução divina, havia poupado o rei Agague e o melhor das
ovelhas e dos bois e justificou-se dizendo que o povo o fizera.
Nesse momento, Deus entregou a seguinte mensagem a Samuel:
“‘Arrependo-me de ter posto Saul como rei, pois ele me abandonou
e não seguiu as minhas instruções’. Samuel ficou irado e clamou ao
Senhor toda aquela noite” (1Samuel 15.11). Tal declaração
repentina foi suficiente para causar pesar à alma de um homem
como Samuel, que amava sua nação, que era verdadeiro com Deus
e que, acima de tudo, desejava a prosperidade de Sião. Tal pesar na
alma por causa dos pecados do povo e à vista das abominações da
época sempre fazem que um homem se ponha de joelhos em
oração. É certo que Samuel levou o caso a Deus. Era tempo de
orar. O caso era sério demais para que ele não fosse
profundamente movido à oração. O homem interior de Samuel foi de
tal forma perturbado que ele orou a noite inteira sobre isso. Havia
muito em jogo para que ele fechasse os olhos para o problema e o
deixasse passar sem levar a questão a Deus, pois o bem-estar
futuro de Israel estava por determinar.
10. DANIEL, UM PRISIONEIRO
DE ORAÇÃO

É um fato histórico maravilhoso que os homens de


oração sempre foram os homens de poder no mundo.
Quero convencer você dessa verdade. Alguns de vocês,
homens — e estou feliz por ver tantos homens aqui nesta
noite —, se estão discutindo com algum amigo no
trabalho, certifiquem-se de perguntar a ele por que os
homens de poder no mundo foram os homens de oração.
Vejamos apenas um exemplo: Aonde sempre iam
encontrar homens para a linha de frente nos dias de
Havelock? Dirigiam-se para a reunião de oração de
Havelock; era ali que eles encontravam homens que
tinham coragem de ir para a linha de frente.
BISPO WINNINGTON INGRAM

DANIEL PASSOU POR UMA experiência notável quando estava na


Babilônia e recebeu ordens do rei para não orar a nenhum Deus ou
rei por 30 dias sob pena de ser lançado na cova dos leões. Ele não
deu atenção ao édito, pois está registrado:

Quando Daniel soube que o decreto tinha sido publicado, foi para
casa, para o seu quarto, no andar de cima, cujas janelas davam
para Jerusalém e ali fez o que costumava fazer: três vezes por dia
ele se ajoelhava e orava, agradecendo ao seu Deus (Daniel 6.10).

Não se esqueça de que esse era o costume desse homem de


Deus. Ele se ajoelhou e orou como costumava fazer. Qual foi o
resultado? Exatamente o que se esperava. Deus enviou um anjo
com Daniel à cova dos leões e fechou a boca deles, de modo que
nenhum fio de cabelo de sua cabeça foi tocado, e ele foi salvo de
modo maravilhoso. Ainda hoje a libertação sempre vem para os
santos homens de Deus que trilham o caminho da oração como
faziam os justos de antigamente.
Daniel não se esqueceu de seu Deus quando estava em uma
terra estrangeira, distante da casa de Deus e de seus cultos
religiosos e privado de muitos privilégios religiosos. Ele foi um
exemplo marcante de um jovem que era decididamente religioso no
mais desfavorável dos ambientes. Ele provou decisivamente que
alguém pode ser servo de Deus mesmo que esteja em um ambiente
nada religioso. No que diz respeito a uma nação temente a Deus,
ele estava entre pagãos. Não havia adoração no templo, não havia
dia de sábado, não havia leitura da Palavra de Deus. Mas ele tinha
um auxílio que permaneceu com ele e do qual não podia ser
privado, e este eram suas orações secretas.
Ao propor no coração, sem hesitar sobre o assunto em nenhum
momento nem fazer concessões, que não comeria das comidas do
rei nem beberia o vinho do rei, Daniel destacou-se naquele país
ímpio como exemplo admirável de um jovem temente a Deus em
primeiro lugar e que resolvera ser religioso a qualquer custo. Mas
ele não teria uma cama de flores para descansar nem uma estrada
tranquila para percorrer.
O excêntrico, tirano e irracional rei Nabucodonosor iria testá-lo, e
suas qualidades de oração seriam provadas. Esse rei teve um
sonho estranho, cujos detalhes se desvaneceram de sua memória,
mas o fato do sonho permaneceu. Ele ficou tão perturbado por
causa do sonho que chamou todos os adivinhadores, astrólogos e
mágicos para lembrá-lo do que havia sonhado e depois interpretá-lo;
uma tarefa humanamente impossível. Ele incluiu Daniel e seus três
companheiros, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego, com esses
homens, embora, na verdade, não houvesse nada em comum entre
as duas classes de homens. Ao ser informado de que era
impossível desvendar um sonho como esse e que, se o rei contasse
o sonho a eles, estes o interpretariam, o rei ficou muito zangado e
ordenou que fossem mortos. Tal sentença de morte também era
contra Daniel e seus três companheiros.
Mas Daniel entrou em cena. Por sugestão dele o precipitado édito
de execução foi suspenso, e ele chamou imediatamente seus três
companheiros em concílio e convocou-os para que se unissem a ele
em oração a fim de que Deus revelasse a Daniel o sonho e sua
interpretação. Em resposta a essa oração conjunta, lemos: “Então o
mistério foi revelado a Daniel de noite, numa visão. Daniel louvou o
Deus dos céus” (Daniel 2.19). Depois do evento de oração dos
quatro homens, Daniel revelou o sonho e sua interpretação ao rei,
por isso o rei reconheceu o Deus de Daniel e elevou Daniel e seus
três amigos a posições elevadas. Tudo isso aconteceu porque havia
ali um homem de oração exatamente na hora crítica. Abençoada é a
nação que tem homens de oração que podem ajudar os
governadores do povo em sua perplexidade e grandes dificuldades
e com os quais se pode contar para orar pelos governantes do
Estado e líderes da Igreja.
Anos mais tarde, ainda em uma terra estrangeira, ele não havia
se esquecido do Deus de seus pais e a ele foi dada a notável visão
do “carneiro e do bode”. Daniel não compreendeu a estranha visão,
mas mesmo assim sabia que ela vinha de Deus e que tinha um
profundo significado futuro para as nações e para o povo. Portanto,
é claro, ele seguiu a inclinação de sua mente religiosa e orou sobre
isso:

Enquanto eu, Daniel, observava a visão e tentava entendê-la,


diante de mim apareceu um ser que parecia homem. E ouvi a voz
de um homem que vinha do Ulai: “Gabriel, dê a esse homem o
significado da visão” (Daniel 8.15,16)

Então Gabriel fez que ele compreendesse o significado pleno


dessa visão incrível. Mas isso aconteceu em resposta à oração de
Daniel. Portanto, perguntas intrigantes sempre podem encontrar
uma resposta no quarto de oração. E, como em outros momentos,
Deus pode usar inteligências angelicais para transmitir informações
como respostas de oração. Os anjos estão profundamente
relacionados à oração. Os homens de oração e os anjos do céu
estão em contato direto uns com os outros.
Alguns anos mais tarde, Daniel estava estudando os registros da
nação e descobriu que os setenta anos de cativeiro de seu povo
haviam chegado ao fim. Então ele se entregou à oração: “Por isso
me voltei para o Senhor Deus com orações e súplicas, em jejum, em
pano de saco e coberto de cinza. Orei ao Senhor, o meu Deus, e
confessei […]” (Daniel 9.3,4).
Em seguida, está o registro nas Escrituras do Antigo Testamento
sobre a oração de Daniel, tão cheia de significado, tão simples em
suas declarações, tão fervorosa em espírito, tão direta em sua
confissão e pedidos, digna de ser imitada.
Foi enquanto ele estava orando que o mesmo arcanjo Gabriel,
que parecia não ter interesse especial nas orações desse homem
de Deus, “veio voando rapidamente para onde eu estava, à hora do
sacrifício da tarde. Ele me instruiu” (Daniel 9.21,22) e em seguida
deu as informações tão esperadas e valiosas para Daniel.
Os anjos de Deus estão muito mais perto de nós nos nossos
períodos de oração do que imaginamos. Deus emprega suas
gloriosas inteligências celestiais no abençoado trabalho de ouvir
orações e responder a elas, quando a oração, como no caso de
Daniel, está relacionada ao presente e ao futuro bem-estar de seu
povo.
Há outro evento na linha de oração na vida desse cativo da
Babilônia. Outra revelação foi feita a Daniel, mas o tempo de seu
cumprimento parecia estar em um futuro distante. “Naquela ocasião
eu, Daniel, passei três semanas chorando. Não comi nada
saboroso; carne e vinho nem provei; e não usei nenhuma essência
aromática, até se passarem as três semanas” (Daniel 10.2).
Foi então que ele teve uma experiência muito estranha e uma
revelação mais estranha ainda lhe foi entregue por um ser angelical.
Vale a pena ler o relato da Escritura:
Em seguida, a mão de alguém tocou em mim e me pôs sobre as
minhas mãos e os meus joelhos vacilantes.
E ele disse: “Daniel, você é muito amado. Preste bem atenção ao
que vou falar; levante-se, pois eu fui enviado a você”. Quando ele
me disse isso, pus-me em pé, tremendo.
E ele prosseguiu: “Não tenha medo, Daniel. Desde o primeiro dia
em que você decidiu buscar entendimento e humilhar-se diante do
seu Deus, suas palavras foram ouvidas, e eu vim em resposta a
elas. Mas o príncipe do reino da Pérsia me resistiu durante vinte e
um dias. Então Miguel, um dos príncipes supremos, veio em minha
ajuda, pois eu fui impedido de continuar ali com os reis da Pérsia”
(Daniel 10.10-13).

O que tudo isso significa é difícil de compreender, mas é


suficiente para nos levar a crer que os anjos no céu estão
profundamente interessados na nossa oração e são enviados para
nos contar as respostas a elas. Além disso, fica claro que algumas
forças que não enxergamos ou espíritos invisíveis estão agindo para
impedir que nos cheguem respostas às nossas orações. O texto não
diz de quem se tratava o príncipe da Pérsia que impediu o grande
ser angelical, mas sabemos o suficiente para perceber que havia
uma competição pelos filhos de Deus entre os espíritos enviados a
ministrar em resposta às nossas orações e o Diabo e seus espíritos
malignos, que procuravam derrotar os espíritos do bem.
Essa passagem também fala sobre a causa de respostas tardias
às orações. Por “três semanas” Daniel chorou e orou, e por “vinte e
um dias” o anjo divinamente enviado sofreu oposição do “príncipe
do reino da Pérsia”.
Foi providencial para Daniel ter coragem, resistência e
determinação para persistir na oração por três semanas enquanto o
temível conflito entre espíritos bons e espíritos maus estava
acontecendo ao redor dele, invisível aos olhos mortais. Para nós, é
bom saber que não devemos desistir de orar quando parece que
Deus não nos escuta e a resposta não é imediata. Leva tempo para
orar e leva tempo para receber a resposta à oração. Demorar em
responder a uma oração não significa recusa ou negação. Não
receber uma resposta imediata não é evidência de que Deus não
ouviu a oração. É preciso não somente coragem e persistência para
ter sucesso na oração, como também muita paciência. “Espere no
Senhor. Seja forte! Coragem! Espere no Senhor” (Salmos 27.14).
11. A FÉ DOS PECADORES
NA ORAÇÃO

Certo pregador cujos sermões converteram muitas almas


recebeu uma revelação de Deus de que não eram seus
sermões ou suas obras, mas as orações de um irmão
leigo e iletrado que se sentava nos degraus do púlpito
que implorava pelo sucesso do sermão. O mesmo pode
acontecer conosco no dia em que tudo for revelado.
Podemos acreditar, depois de todo o trabalho e cansaço,
que toda a honra pertence a outro construtor cujas
orações eram ouro, prata e pedras preciosas, e que
nossos sermões se não tiverem oração são apenas feno
e palha.
REVERENDO C. H. SPURGEON

UMA DAS CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS da oração quando


estudamos o Antigo Testamento sobre esse assunto é a fé de
homens pecadores e falhos na oração e a grande confiança que
tinham nas orações dos homens de oração daqueles dias. Eles
sabiam que certos homens eram homens de oração, que criam em
Deus, que tinham o favor de Deus e que oravam a Deus. Eles
reconheciam que esses homens tinham influência sobre Deus no
sentido de fazê-lo desviar a ira e trazer libertação do mal.
Frequentemente, quando estavam em dificuldades, quando a ira
de Deus os ameaçava e mesmo quando havia visitação do mal
sobre eles em razão de iniquidades, eles demonstravam sua fé na
oração apelando aos homens de oração que implorassem a Deus a
fim de que desviasse seu descontentamento e ira contra eles. Ao
reconhecer o valor da oração como meio de salvação, eles se
voltavam para os homens de oração para que intercedessem a
Deus em seu favor.
Um dos paradoxos mais estranhos daqueles primeiros dias é que,
mesmo quando as pessoas se afastavam de Deus e se voltavam
para o pecado, não se tornavam ateus nem descrentes no que diz
respeito à existência de um Deus que responde à oração. Homens
perversos criam na existência de Deus e tinham fé no poder da
oração para assegurar o perdão de pecados e a libertação da ira de
Deus. Isso mostra a influência da Igreja sobre os pecadores quando
estes creem no poder da oração e imploram que pessoas cristãs
orem por eles. É interessante e importante quando um pecador em
seu leito de morte chama um homem de oração para que ore em
seu favor. É significativo quando pecadores penitentes, cientes de
sua culpa, sentindo o desagrado de Deus, aproximam-se do altar de
uma igreja e dizem: “Orem por mim, vocês, homens e mulheres de
oração”. A igreja não percebe plenamente toda a importância do ato
e compreende menos ainda o pleno valor da oração, principalmente
para homens e mulheres não salvos que pedem que orem por sua
alma imortal. Se a igreja estivesse completamente viva e atenta ao
perigo real dos não convertidos ao redor e estivesse florescendo,
encontraríamos mais pecadores em busca dos altares da Igreja
clamando ao povo de oração: “Orem por minha alma”.
Pode haver muitas assim chamadas orações dos pecadores, mas
são frias, formais, oficiais, não vão a lugar algum, nunca chegam a
Deus e não realizam coisa alguma. Os avivamentos começam
quando os pecadores buscam as orações do povo que ora.
Várias coisas se destacam quando olhamos para aqueles dias do
Antigo Testamento:
Primeiramente, vemos a disposição dos pecadores contra Deus
para involuntariamente se voltarem a homens de oração em busca
de ajuda e refúgio quando os problemas se aproximavam e para
invocar suas orações por alívio e libertação. “Orem por nós”, era o
clamor deles.
Em segundo lugar, a prontidão com que aqueles homens de
oração respondiam a esses apelos e oravam a Deus por aqueles
que assim o desejassem. Além disso, ficamos impressionados com
o fato de que os homens de oração estavam sempre em espírito de
oração e prontos para buscar Deus. Eles estavam sempre
conectados com a oração.
Em terceiro lugar, observamos a influência maravilhosa que esses
homens de oração tinham sobre Deus sempre que apelavam a ele.
Quase sempre Deus respondia rapidamente e ouvia às orações
deles em favor de outros. Portanto, a oração intercessora
predominava naqueles primeiros dias da Igreja.
Uma questão a ser considerada é quanto da incredulidade dos
pecadores de hoje é responsabilidade da Igreja no que se refere ao
valor da oração como ação para afastar a ira de Deus. Quanto a
Igreja é responsável pelos poucos pranteadores por Sião nesta era
que ignoram seu chamado ao altar e tratam com indiferença os
apelos divinos para que se apresentem e orem a Deus?
A primeira ilustração que mostra a fé dos homens perversos na
oração e seu apelo para que um homem de Deus interceda é o caso
das serpentes venenosas enviadas contra os israelitas. Eles
estavam deixando o monte Hor pelo caminho do mar Vermelho para
contornar a terra de Edom quando falam contra Deus e Moisés
desta forma: “[…] ‘Por que vocês nos tiraram do Egito para
morrermos no deserto? Não há pão! Não há água! E nós
detestamos esta comida miserável!’” (Números 21.4,5).
Isso desagradou tanto Deus que ele enviou serpentes venenosas
no meio do povo, e muitas pessoas de Israel morreram.
“O povo foi a Moisés e disse: ‘Pecamos quando falamos contra o
Senhor e contra você. Ore pedindo ao Senhor que tire as serpentes
do meio de nós’. E Moisés orou pelo povo”. (v. 7).
Por mais que essas pessoas tenham se afastado de Deus e por
maior que fosse seu pecado de murmuração contra a forma com
que Deus as tratava, elas não tinham perdido a fé na oração, nem
tinham se esquecido de que havia um líder em Israel que tinha
intimidade com Deus na oração e que podia por esse meio evitar o
desastre e trazer libertação.
Jeroboão, o primeiro rei das dez tribos quando o reino foi dividido,
foi outro desses casos. Esse caso é notável pelo tanto que o rei se
afastou de Deus, fato que muitas vezes foi referido na história
posterior de Israel como “os pecados de Jeroboão, filho de Nebate”;
no entanto, mostra que, apesar de sua grande perversidade aos
olhos de Deus, ele não perdeu a fé na eficácia da oração. Em
determinada ocasião, esse rei atreveu-se a tomar o lugar do sumo
sacerdote e ficou ao lado do altar para queimar incenso. Um homem
de Deus veio de Judá e clamou contra o altar e proclamou: “‘[…] O
altar se fenderá, e as cinzas que estão sobre ele se derramarão’”
(1Reis 13.3). Isso enfureceu Jeroboão, pois ele percebeu que se
tratava de uma censura pública a ele, uma vez que ele se incumbira,
contrariamente à lei levítica, de assumir o ofício de sacerdote de
Deus. O rei estendeu a mão com o propósito aparente de prender
ou ferir o homem de Deus, dizendo, ao mesmo tempo, aos que
estavam perto dele: “‘Prendam-no!’”.
Imediatamente Deus feriu o rei com lepra, de forma que ele não
conseguia recolher a mão e, ao mesmo tempo, o altar se fendeu.
Extremamente surpreso com essa retribuição súbita ao pecado
vinda como um raio do céu, muito assustado, ele clamou ao homem
de Deus: “[…] ‘Interceda ao Senhor, o seu Deus, e ore por mim para
que meu braço se recupere’ […]” (1Reis 13.6). E está registrado: “O
homem de Deus intercedeu ao Senhor, e o braço do rei recuperou-
se e voltou ao normal”.
Tenhamos em mente que não estamos considerando os hábitos
de oração do homem de Deus nem as possibilidades de oração,
embora ambas estejam presentes aqui. Mas estamos vendo que um
governante de Israel distante de Deus e culpado de um terrível
pecado, ao ver cair sobre ele a ira de Deus, imediatamente clama
ao homem de oração que interceda a Deus em seu favor. É mais um
caso em que um pecador mostra sua fé na virtude das orações de
um homem de Deus. Triste será o dia, em uma terra cristã, quando
não apenas houver declínio na oração da igreja, mas também
quando os pecadores serão tão indiferentes à religião da Igreja que
não terão fé na oração e pouco se interessarão nas orações dos
homens de Deus que oram.
Outro exemplo vem logo em seguida. O filho de Jeroboão
adoeceu e estava prestes a morrer. E esse rei perverso e indiferente
enviou sua esposa a Aías, o profeta de Deus, para pedir a ele que
dissesse qual seria o resultado da enfermidade da criança. Ela
tentou enganar o profeta idoso, que já estava quase cego, tentando
fazer que ele não a reconhecesse. Mas ele tinha a visão de um
profeta, embora sua visão fosse embaçada, e imediatamente
revelou a ela que sabia sua identidade. Depois de dizer a ela muitas
coisas importantes sobre o reino e de acusar o marido de que ele
não guardara os mandamentos de Deus, mas se voltara para a
idolatria, o profeta lhe disse: “‘Quanto a você, volte para casa.
Quando você puser os pés na cidade, o menino morrerá’” (1Reis
14.12).
É natural que um pai com problemas apele por socorro a um
profeta de oração? Assim como no primeiro caso mencionado, seu
pecado não lhe cegou os olhos a ponto de não reconhecer o valor
de ter um homem de Deus que intercedesse por ele. Ele não
alcançou o que queria, como ficou provado, mas confirmou nossa
afirmação de que os pecadores do tempo do Antigo Testamento,
embora eles mesmos não fossem homens de oração, acreditavam
firmemente nas orações desses homens.
Tomemos o exemplo de Joanã, quando os filhos de Israel
estavam começando a viver como cativos na Babilônia. Joanã e
Jeremias, com um pequeno grupo, haviam sido deixados em sua
terra natal, e Ismael havia conspirado contra Gedalias, que havia
sido designado governador do país e o havia matado. Joanã veio
para resgatar e libertar o povo, pois Ismael os estava levando
embora de sua terra. Mas Joanã queria fugir para o Egito, o que era
contrário ao plano de Deus. Em meio a tais circunstâncias, reuniu
todo o povo e, determinados, foram apelar a Jeremias: “‘Ore
rogando ao Senhor, ao seu Deus, que nos diga para onde devemos
ir e o que devemos fazer’” (Jeremias 42.3).
Assim como em todos os outros apelos por oração a homens
bons, Jeremias intercedeu pelos que lhe pediam oração, e depois
de dez dias a resposta veio; eles foram informados por Jeremias do
que Deus queria que fizessem. Isso serviu para confirmar que não
deveriam ir para o Egito, mas permanecer em Jerusalém.
Entretanto, o povo e Joanã acusaram Jeremias de falsidade e se
recusaram a fazer o que Deus lhes dissera em resposta à oração.
Mas isso não anula o fato de que eles tinham fé na oração e nos
homens de oração. Ainda podemos citar outro caso provando a
verdade da nossa proposição de que os pecadores tinham fé na
oração na dispensação do Antigo Testamento, atestando assim
indiretamente a primazia da oração naqueles dias, pois certamente
a oração deve ter tido um lugar proeminente, e sua importância
deve ter recebido reconhecimento geral quando até pecadores com
suas ações endossam sua virtude e necessidade. Certamente se os
pecadores davam testemunho de seu valor e naquele tempo
demonstravam sua necessidade de oração, mesmo por meio da
oração de outra pessoa, nos nossos dias o povo de Deus deveria ter
um senso ainda profundo de sua necessidade e deveria ter mais fé
na oração e na virtude que ela possui. Com certeza, se os homens
do Antigo Testamento eram homens de oração desse calibre e
tinham tamanha reputação como homens de oração, então, nos dias
atuais, os cristãos deveriam ser tão dados à oração a ponto de
também ter uma grande reputação como homens de oração.
Zedequias era rei de Judá quando o cativeiro do povo de Deus
iniciou. Na verdade, estava encarregado do reino quando Jerusalém
foi cercada pelo rei da Babilônia. Foi nessa mesma época que
Zedequias enviou dois homens a Jeremias, dizendo:

“Consulte agora o Senhor por nós porque Nabucodonosor, rei da


Babilônia, está nos atacando. Talvez o Senhor faça por nós uma de
suas maravilhas e, assim, ele se retire de nós” (Jeremias 21.2).
Em seguida, Deus disse a Jeremias em reposta à sua indagação
o que deveriam fazer e o que aconteceria, mas, como na situação
que envolvera Joanã, Zedequias não deu crédito a Jeremias e não
fez o que Deus lhe havia instruído por meio do profeta. Mesmo
assim, provou-se decisivamente que Zedequias não perdera a fé na
oração como meio de descobrir a mente de Deus, tampouco o
ocorrido afetou sua crença na oração dos homens de oração.
Verdadeiramente a oração deve ter tido um lugar de destaque em
toda a história do Antigo Testamento quando não apenas homens
de Deus eram notáveis por seus hábitos de oração, mas mesmo
homens que se afastaram de Deus e se mostraram falsos
testemunharam de sua virtude ao apelarem a homens de oração
que intercedessem por eles. Isso é tão notório na história do Antigo
Testamento que nenhum leitor cuidadoso das Escrituras antigas
deixará de perceber.
12. PAULO, UM MESTRE DA ORAÇÃO

Fletcher de Madeley, um grande professor um século e


meio atrás, costumava lecionar a jovens estudantes de
teologia. Era um dos colaboradores de Wesley e um
homem de caráter santo. Ao ensinar sobre um dos
grandes temas da Palavra de Deus, tal como a plenitude
do Espírito Santo de Deus ou sobre o poder e a bênção
que ele deseja que seu povo desfrute, encerrava a lição,
dizendo: “Essa é a teoria; agora os que desejam a prática
sigam-me até meu quarto!” E vez após outra, eles
fechavam os livros e iam a seu quarto, onde a uma hora
de teoria se adicionavam uma ou duas horas de oração.
REVERENDO HUBERT BROOKE

COMO ERA PRESENTE, PERSISTENTE, ardorosa e tocante a urgência


de Paulo em orar por aqueles a quem ele escrevia e falava! Ao
escrever a Timóteo, diz: “Antes de tudo, recomendo que se façam
súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os
homens” (1Timóteo 2.1). Ele pretendia que a oração fosse o
primeiro investimento e verdade em favor da igreja. Em primeiro
lugar, a Igreja de Cristo deveria ser uma igreja de oração, deveria
orar pelos homens, por todos os homens. Ele instruiu os filipenses
da seguinte forma: “Não andem ansiosos por coisa alguma, mas em
tudo, pela oração e súplicas, e com ação de graças, apresentem
seus pedidos a Deus” (Filipenses 4.6). A igreja não deve andar
ansiosa a respeito de coisa alguma. Em tudo devemos fazer
orações. Nada era pequeno demais para que se orasse a respeito.
Nada era grande demais para Deus.
Paulo expressa por escrito à igreja em Tessalônica uma
prescrição vital e sempre essencial: “Alegrem-se sempre. Orem
continuamente. Deem graças em todas as circunstâncias, pois esta
é a vontade de Deus para vocês em Cristo Jesus”
(1Tessalonicenses 5.16-18). A Igreja deve entregar-se à oração
incessante. A oração nunca deveria ser interrompida na Igreja. Esta
é a vontade de Deus em relação à sua Igreja na terra.
Paulo não apenas estava se entregando à oração, mas ele de
forma contínua e persistente dizia ter ela importância vital. Ele não
era somente insistente quanto à oração na igreja em seus dias, mas
também recomendava a oração persistente. “Dediquem-se à
oração, estejam alerta”, era o tom de todas as suas exortações
sobre oração. “Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda
oração e súplica” era o modo de incentivar as pessoas a orar.
“Quero, pois,” eu exorto, este é o meu desejo, o que penso sobre o
assunto, “que os homens orem em todo lugar, levantando mãos
santas, sem ira e sem discussões” (1Timóteo 2.8). Como ele mesmo
orava desse modo, podia permitir-se insistir com aqueles a quem
ministrava.
Paulo era um líder que havia sido nomeado, cujo reconhecimento
e aceitação eram universais. Ele tinha muitos pontos fortes em seu
ministério. Sua conversão, tão evidente e radical, era uma grande
força, uma amostra perfeita de luta agressiva e defensiva. Seu
chamado ao apostolado foi claro, brilhante e convincente. Mas nada
disso consistia em seu poder mais divino capaz de produzir os
maiores resultados de seu ministério. A trajetória de Paulo era mais
distintamente moldada, e seu ministério alcançava mais sucesso e
poder pela oração do que por qualquer outra força.
Portanto, não surpreende que ele deveria dar tal proeminência à
oração em seu ensino e no que escrevia. Não poderíamos esperar
que fosse de outra forma. Assim como a oração era o mais elevado
exercício em sua vida pessoal, ela também assumiu tal posição em
seu ensino. Seu exemplo de oração acrescentou força a seu ensino
sobre oração. Sua prática e seu ensino corriam paralelamente. Não
havia incoerência entre ambos.
Paulo era um dos principais dos apóstolos, assim como o era na
oração. Se ele era um dos principais dos apóstolos, a oração
conspirou para esse fim. Consequentemente, ele era um dos mais
bem qualificados para ser um mestre da oração. Suas orações
davam-lhe condições de ensinar a outros o que era a oração e o
que ela podia fazer. E por esse motivo ele era qualificado para
instruir às pessoas que elas não deviam negligenciar a oração, pois
muita coisa dependia dela.
Por esse motivo, considero-o primeiro na oração. Porque nele
centralizavam-se orações mais piedosas do que em qualquer outro,
ele se tornou o primeiro entre os apóstolos. A coroa do martírio era
a coroa mais elevada da realeza do céu, mas a oração colocou essa
coroa, a do martírio, em sua cabeça.
Ele que ensinaria a orar devia primeiro entregar-se ele mesmo à
oração. Ele que compelia os outros à oração precisava primeiro
trilhar ele mesmo o caminho da oração. Na mesma proporção em
que os pregadores oram, eles devem estar dispostos a persuadir
outros a essa prática em sua pregação. Além disso, na mesma
proporção em que os pregadores oram, eles estarão qualificados a
pregar sobre a oração. Se esse curso de raciocínio é verdadeiro,
seria legítimo chegar à conclusão de que a razão pela qual há tão
pouca pregação sobre oração nos tempos modernos é que os
pregadores não são homens de oração?
Podemos relacionar toda essa questão da necessidade absoluta e
das possibilidades da oração nesta dispensação na atitude de Paulo
em relação à oração.
Se a força pessoal, se a energia de uma resolução firme, se
convicções profundas, se cultura e talentos pessoais e se o
chamado divino e a capacitação divina — se qualquer um desses,
ou todos juntos — pudessem dirigir a Igreja de Deus sem oração,
então, logicamente, a oração não seria necessária.
Se a profunda piedade e consagração inabalável a um propósito
elevado, se a lealdade apaixonada a Jesus Cristo, se qualquer um
desses fatores ou todos pudessem existir sem uma oração
entregue, ou pudessem elevar um líder da Igreja acima da
necessidade de oração, então Paulo estaria acima de sua utilidade.
Mas, se o grande e dotado, considerado e dedicado Paulo sentia a
necessidade de orar sem cessar, e percebeu que era urgente e
premente em relação a suas afirmações e necessidades, e se ele
sentiu que era imprescindível que a Igreja deveria orar sem cessar,
então ele e seus irmãos de apostolado deveriam ser auxiliados pela
universalidade da oração e seu poder. A oração de Paulo, seus
ensinamentos e a urgência com que ele compelia a igreja a orar são
a prova mais contundente da necessidade absoluta da oração como
grande força moral no mundo, um fator indispensável e intransferível
para o progresso e a expansão do evangelho e para o
desenvolvimento da piedade em âmbito pessoal. Na visão de Paulo,
não haveria igreja bem-sucedida sem oração e não haveria piedade
sem oração, aliás, sem muita oração. Uma igreja por meio da qual
flua oração como as chamas do incenso que saem do incensário e
uma liderança de cujo caráter, vida e hábitos chameja oração tão
espontânea, impressiva e evidente como o incenso aromático
chamejava — isso, sim, era liderança para Deus.
Orar em todo lugar, em todas as situações, ser perseverante na
oração e orar sem cessar, assim falou Paulo ao comentar sobre a
prática e a natureza divina da oração.
Timóteo era muito querido por Paulo, e a afeição era mútua e se
intensificava por todas as suas afinidades. Paulo encontrou em
Timóteo aqueles elementos que o qualificavam para ser seu
sucessor espiritual, pelo menos o depositário e o líder dos grandes
princípios e virtudes que eram essenciais para o estabelecimento e
prosperidade da Igreja. Essas verdades fundamentais e vitais ele
implementaria e enraizaria em Timóteo. Paulo considerava Timóteo
alguém a quem se podia confiar verdades vitais e fundamentais,
alguém que as preservaria fielmente e que as transmitiria na íntegra
no futuro. Por isso, confia a Timóteo a herança da oração para todas
as eras, como vemos em 1Timóteo 2.1.
Antes de avançarmos, é preciso destacar que Paulo escreveu
diretamente sob a orientação do Espírito Santo, que guardou Paulo
de qualquer erro e que sugeriu as verdades que Paulo ensinou. Nós
nos apegamos sem comprometimento algum à plena inspiração das
Escrituras, e, como os escritos de Paulo são parte dos escritos
sagrados, então as epístolas de Paulo são porções das Escrituras
ou da Palavra de Deus. Sendo assim, a doutrina da oração
conforme Paulo ensinava é a doutrina do Espírito Santo. Suas
epístolas fazem parte da Palavra de Deus, inspirada, autêntica e
com autoridade divina. Portanto, a oração ensinada por Paulo é a
doutrina que o Deus Altíssimo queria que sua Igreja aceitasse, na
qual cresse e que praticasse.
Portanto, essas palavras a Timóteo eram palavras divinamente
inspiradas. Essa parte dos Escritos sagrados é muito mais do que
mera sugestão e muito mais do que um simples esboço sobre
oração. Ela é tão instrutiva a respeito da oração, de como os
homens devem orar, de como os homens envolvidos na obra devem
orar e tão substancial quanto às razões pelas quais os homens
deveriam orar que precisa ser destacada com força e insistência.
Eis as palavras de Paulo a Timóteo sobre oração:

Antes de tudo, recomendo que se façam súplicas, orações,


intercessões e ações de graças por todos os homens; pelos reis e
por todos os que exercem autoridade, para que tenhamos uma vida
tranquila e pacífica, com toda a piedade e dignidade.
Isso é bom e agradável perante Deus, nosso Salvador, que deseja
que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da
verdade. Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os
homens: o homem Cristo Jesus, o qual se entregou a si mesmo
como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu
próprio tempo. […] Quero, pois, que os homens orem em todo lugar,
levantando mãos santas, sem ira e sem discussões (1Timóteo 2.1-
6,8).

Nesta seção sobre oração, expressamos por meio de Paulo a


herança e prática de todos os cristãos de todas as épocas. Trata-se
de uma obra de referência do grande serviço que é a oração, pois
nos apresenta uma visão da energia e dos muitos aspectos da
oração. A oração é a mais excelente de todas as disciplinas. Ela
deve ser a primeira em todas as atividades. A oração é tão precisa e
imperativa em sua importância e poder que permanece em primeiro
lugar entre os valores espirituais. Aquele que não ora, não é nada.
Nada, menos que nada. Está abaixo de zero, muito distante do que
se refere a Cristo, Deus e céu. A oração não está simplesmente
entre as primeiras coisas, no mesmo nível, mas acima de todas
elas; no topo; é assim que Paulo, com todo o coração, a define:
“Antes de tudo, recomendo”.
Segundo seu ensino, a oração é o que há de mais importante na
terra. Tudo o mais deve ser controlado, afastado para lhe dar
primazia. Ponha-a em primeiro lugar e mantenha sua primazia. O
conflito está relacionado à primazia da oração. A derrota e a vitória
estão nela. Fazer dela algo secundário é destroná-la. É restringir e
destruir a oração. Se a oração for estabelecida em primeiro lugar,
então Deus é posto em primeiro lugar e a vitória é assegurada. Ou a
oração reina, ou deve ser abdicada. O que será?
De acordo com Paulo, “súplicas, orações, intercessões e ações
de graças” — todos esses elementos e formas de oração — devem
ser oferecidos pelos homens. A oração é oferecida pelas coisas, por
todas as coisas, por todo o bem temporal e por todo o bem e graça
espiritual, mas nessas orientações Paulo eleva ao máximo os
resultados e propósitos da oração. Os homens devem ser afetados
pela oração. Sua bondade, seu caráter, sua conduta e destino estão
todos envolvidos na oração. Nesse sentido, a oração move-se com
o que há de mais elevado e busca os fins mais grandiosos. Estamos
cientes das bênçãos e concessões, das questões e situações que
tocam os homens, mas os próprios homens são aqui apresentados
como os objetos da oração. Isso amplia e enobrece a oração. Os
homens, em todo o seu alcance e condições variadas, devem ser
mantidos sob o domínio poderoso da oração.
O ensino de Paulo demonstra que a oração é essencialmente
algo da natureza interior. O espírito dentro de nós ora. Portanto,
preste atenção às instruções de Paulo: “Quero, pois, que os homens
orem em todo lugar […] sem ira”. “Ira” é um termo que denota o
movimento interno, natural das plantas e dos frutos, inchados de
suco. O sumo natural é aquecido à vida e eleva-se pelo
aquecimento da primavera. O homem tem dentro de si sucos
naturais que se elevam assim como a seiva. Aquecimento, calor,
todos os estágios de paixão e desejo, todos os graus de
sentimentos espontaneamente se elevam ao serem provocados.
Proteja-se deles e suprima-os. O homem não pode orar com esses
sentimentos naturais sem equilíbrio, quando são cultivados,
acariciados e conservados em seu interior. A oração deve ser feita
sem eles. “Sem iras”. Uma inspiração mais elevada, melhor e mais
nobre deve elevar a oração a Deus. A ira oprime, impede e suprime
a oração.
A palavra “sem” significa não fazer uso de, não ter associação
com, apartar-se, ser indiferente ao coração natural, não renovado;
ela não tem parte na oração. Seu calor e seus sucos naturais fluem
veneno que destrói a oração. A natureza da oração é mais profunda
que a natureza. Não podemos orar com a nossa natureza, nem
mesmo tendo a melhor e mais gentil natureza.
A oração é o verdadeiro teste de caráter. Fidelidade a nossas
condições e fidelidade a nossos relacionamentos são geralmente
evidenciadas por nossa fidelidade na oração. Algumas condições
dão origem à oração. Elas são o solo que germina e aperfeiçoa a
oração. Orar em determinadas condições parece muito apropriado.
Não orar em algumas situações parece insensível e contraditório. As
grandes tempestades da vida, quando estamos desamparados e
sem alívio, ou privados de satisfação, são as condições naturais e
providenciais para a oração.
A viuvez, por exemplo, é uma grande dor. Alcança as mulheres de
Deus, bem como as demais. Há muitas viúvas que são mulheres
tementes a Deus. Elas devem ser honradas, e a tristeza delas é
divina. Sua piedade é aromática e iluminada por um coração ferido.
Eis a descrição de Paulo de tais viúvas: “A viúva realmente
necessitada e desamparada põe sua esperança em Deus e persiste
dia e noite em oração e em súplica. Mas a que vive para os
prazeres, ainda que esteja viva, está morta” (1Timóteo 5.5,6).
Aqui vemos o contraste marcante entre duas classes de
mulheres. Uma se entrega a súplicas dia e noite. A outra vive em
prazeres e está espiritualmente morta. Portanto, Paulo descreve a
verdadeira viúva como aquela que faz da oração sua prática de
vida. As orações dela, nascidas de sua fé e desolação, são uma
força poderosa. Dia e noite suas orações sobem a Deus sem
cessar. O coração solitário é um apelo poderoso a Deus quando
esse coração se encontra no caminho da oração, intensa e
incansável.
Um dos mandamentos marcantes de Paulo, digno de estudo, é
“perseverem na oração” (Romanos 12.12), ou seja, continuem fiéis
na oração, que é sua descrição da oração. A expressão significa
delongar-se, permanecer, ser constante e fiel na oração, apegar-se
a ela fortemente, permanecer com força até o final, dar-lhe atenção
com vigor, devoção e constância, cuidar dela ininterruptamente.
A oração é um serviço, um serviço para toda a vida, e deve ser
seguido com diligência, fervor e esforço. O serviço cristão em
preeminência é a oração. É o serviço mais envolvente, mais
celestial, mais lucrativo. A oração é um serviço de dignidade tão
elevada e merecida e de tal importância que deve ser seguida “sem
cessar”. Ou seja, sem desistência ou abandono, seguido
assiduamente e sem interrupção. Devemos dar toda a nossa força à
oração. Ela deve alcançar todas as coisas, estar em todos os
lugares, encontrar-se em todas as estações e abraçar todas as
coisas, sempre e em todo lugar.
Na oração memorável de Efésios 3, Paulo ora por experiências
religiosas muito diversas. Ele está de joelhos diante de Deus, em
nome de Jesus Cristo, e pede que Deus conceda aos cristãos de
Éfeso ser em suas experiências muito além do que foram os santos
do passado. “[…] cheios de toda a plenitude de Deus” (v. 19), uma
experiência tão grande e gloriosa que deixa o cristão moderno tão
atônito a ponto de ficar com medo de olhar para essas alturas
sobrenaturais ou examinar tais insondáveis profundezas. Paulo
simplesmente nos entrega àquele “que é capaz de fazer
infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos” (v. 20).
Este é um exemplo de seu ensino sobre oração.
Ao escrever à igreja de Filipos, Paulo relata a situação e revela o
poder transformador da oração como segue:

É verdade que alguns pregam Cristo por inveja e rivalidade, mas


outros o fazem de boa vontade.
Estes o fazem por amor, sabendo que aqui me encontro para a
defesa do evangelho. Aqueles pregam Cristo por ambição egoísta,
sem sinceridade, pensando que me podem causar sofrimento
enquanto estou preso. Mas que importa? O importante é que de
qualquer forma, seja por motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está
sendo pregado, e por isso me alegro.
De fato, continuarei a alegrar-me, pois sei que o que me aconteceu
resultará em minha libertação, graças às orações de vocês e ao
auxílio do Espírito de Jesus Cristo.
Aguardo ansiosamente e espero que em nada serei envergonhado.
Ao contrário, com toda a determinação de sempre, também agora
Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela vida, quer pela
morte (Filipenses 1.15-20).

Ele teria assegurada a ousadia; a derrota e a vergonha seriam


evitadas pelas orações, e Cristo seria gloriosamente exaltado por
meio de Paulo, quer vivesse, quer morresse.
Devemos destacar que em todas essas citações em Coríntios,
Efésios e Filipenses, a Nova Versão Internacional utiliza a forma
mais intensa de oração, “súplicas”. É a intensa, pessoal, corajosa e
persistente oração dos santos que Paulo solicita; eles devem
empregar especial força, interesse, tempo e coração a suas orações
para que produzam os maiores frutos dourados.
A instrução geral sobre a oração aos cristãos de Colossos é
específica e afiada por meio de um apelo pessoal:
Dediquem-se à oração, estejam alerta e sejam agradecidos. Ao
mesmo tempo, orem também por nós, para que Deus abra uma
porta para a nossa mensagem, a fim de que possamos proclamar o
mistério de Cristo, pelo qual estou preso. Orem para que eu possa
manifestá-lo abertamente, como me cumpre fazê-lo (Colossenses
4.2-4).

Paulo recebe os créditos da autoria da epístola aos Hebreus. Nela


temos uma referência ao caráter da oração de Cristo, que serve
para ilustrar, registrar e autenticar os elementos da verdadeira
oração. Tão profundas são suas palavras! Atingem o coração em
cheio. Quão sublimes eram suas orações, pois orava como nenhum
homem jamais orara e mesmo assim orava a fim de ensinar os
homens a orar:

Durante os seus dias de vida na terra, Jesus ofereceu orações e


súplicas, em alta voz e com lágrimas, àquele que o podia salvar da
morte, sendo ouvido por causa da sua reverente submissão
(Hebreus 5.7).

As orações de Jesus Cristo extraíam as forças mais poderosas de


seu ser. Suas orações eram seu sacrifício, que ele ofereceu antes
de oferecer-se na cruz pelos pecados da humanidade. A oração-
sacrifício é o precursor e a promessa da abnegação. Precisamos
morrer em nosso quarto antes de estar aptos a mor rer na cruz.
13. PAULO E SUAS ORAÇÕES

Na vida de Frank Crossley, conta-se como um dia, em


1888, ele tinha se despedido de seus amigos, o general e
a sra. Booth, na estação; mas, antes que partissem, ele
lhes entregou uma carta dando os detalhes de um
sacrifício que resolvera fazer pelo Exército de Salvação.
Ele foi para casa e orava sozinho. “Enquanto estava
orando”, disse ele, “veio sobre mim o mais extraordinário
senso de alegria. Não era exatamente na cabeça, nem no
coração; era como se uma estranha mão estivesse
agarrando meu peito e enchendo-me com um êxtase que
nunca senti antes. Percebi que essa era a alegria do
Senhor”. Assim, esse servo de Deus fez em sua
peregrinação a Deus um avanço do qual nunca
retrocedeu. Ele pensou que fora exatamente no momento
em que os Booth tinham lido sua carta no trem e aquela
era uma resposta às orações deles; mais tarde, ouviu que
o casal havia orado por ele no trem pouco depois de
terem saído de Manchester.
REVERENDO EDWARD SHILLITO

AQUELE QUE ESTUDA AS orações de Paulo, tanto suas orações


como suas instruções sobre oração, descobrirá que cobre uma área
ampla, geral, precisa e diversificada. Parecerá que homens como
Wesley, Brainard, Lutero e todos os homens santos que os
sucederam no reino espiritual não eram culpados de fanatismo nem
superstição quando ordenavam todas as coisas, grandes e
pequenas, pela oração e entregavam todas as coisas, seculares ou
religiosas, naturais ou espirituais, a Deus em oração. Ao agir assim,
estavam seguindo o exemplo e autoridade do apóstolo Paulo.
Buscar Deus por meio da oração como Paulo buscou, ter
comunhão com Deus como Paulo tinha, suplicar a Jesus Cristo
como Paulo suplicava, buscar o Espírito Santo em oração como
Paulo buscava, fazer essas coisas sem cessar e estar sempre
correndo a carreira e ganhar Cristo como Paulo ganhou pela oração
— tudo isso faz um santo, um apóstolo e um líder de Deus.
Esse tipo de vida envolve, absorve, enriquece e é capacitada com
Deus e por Deus. A oração, se quiser ter sucesso, sempre precisa
nos envolver e absorver. Esse tipo de oração traz de volta os dias
de Paulo e assegura os dons de Paulo. Dias como os de Paulo são
bons, dons como os dele são melhores, mas a oração como a dele
é o melhor de tudo, pois ela traz os dias e os dons de Paulo. A
oração como a de Paulo vale todo o esforço necessário. A oração
que não custa nada não alcança nada. Na melhor das hipóteses, é
serviço de mendigo.
A estima que Paulo tinha pela oração é vista e reforçada pelo fato
de que Paulo era um homem de oração. Sua posição elevada na
igreja primitiva não era uma posição de dignidade e luxo para ser
desfrutada. Não era uma posição oficial, tampouco era uma de
trabalho penoso e inesgotável, pois Paulo era fundamentalmente um
homem de oração.
Ele iniciou sua grande carreira para Cristo em grande luta e na
escola da oração. O argumento maravilhoso e convincente de Deus
para dar certeza a Ananias foi: “‘[…] Ele está orando […]’” (Atos
9.11). Por três dias ficou sem enxergar, sem comer e sem beber,
mas a lição foi bem aprendida.
Ele partiu em sua primeira grande viagem missionária sob o poder
do jejum e da oração; e eles, Paulo e Barnabé, fundaram todas as
igrejas da mesma forma, com jejum e oração. Paulo iniciou o
trabalho em Filipos em “um lugar de oração”. Quando eles estavam
“indo para o lugar de oração” um espírito de adivinhação foi expulso
de uma jovem. E, quando Paulo e Silas foram lançados na prisão, à
meia-noite, eles oravam e cantavam louvores a Deus.
Paulo fez da oração um hábito, um serviço e uma vida. Ele
literalmente se entregou à oração. Por isso, a oração para ele não
era um traje exterior, uma simples cor, uma pintura, um polimento. A
oração era a essência, a medula, o osso, o próprio ser de sua vida
religiosa. Sua conversão foi uma maravilha de graça e poder. Sua
comissão apostólica era plena e real. Todavia, ele não esperava em
vão apresentar provas de seu ministério pelas circunstâncias
maravilhosas e pelos resultados de sua conversão, nem pela
comissão apostólica assinada e selada pela autoridade divina,
trazendo consigo os mais elevados dons e riquezas apostólicas,
mas pela oração, oração incessante, lutadora, agonizante e no
Espírito. Foi assim que Paulo trabalhou e coroou seu trabalho, sua
vida e sua morte com os princípios e a glória dos mártires.
Paulo tinha uma característica espiritual muito distinta, que era a
oração. Ele teve a profunda convicção de que a oração era um
grande e solene dever; que a oração era um privilégio real; que a
oração era uma força poderosa; que a oração mede a piedade,
torna a fé mais e mais poderosa; que era necessária muita oração
para o êxito do cristão; que a oração é um fator importante para o
progresso do Reino de Deus na terra; e que Deus e o céu esperam
a oração. De alguma forma, somos dependentes da oração para
grandes triunfos da santidade sobre o pecado, do céu sobre o
inferno e de Cristo sobre Satanás. Paulo aceitou como certo que
homens que conhecessem Deus orariam; que homens que
vivessem para Deus orariam muito; e que o homem não podia viver
para Deus se não orasse. Portanto, Paulo orava muito. Ele tinha o
hábito da oração. Ele estava acostumado a orar, e isso formou o
hábito. Ele estimava tanto a oração que conhecia perfeitamente seu
valor, e isso acelerou o hábito. Paulo tinha o hábito de orar porque
ele amava a Deus, e tal amor no coração sempre encontra
expressão em hábitos regulares de oração. Ele sentia a
necessidade de muita graça e de mais e mais graça, e a graça só
vem pelos canais da oração e somente transborda mais e mais
quando a oração sobeja mais e mais.
Paulo tinha o hábito de orar, mas ele não orava por simples força
de hábito. O homem é uma criatura tão dada aos hábitos que
sempre corre o perigo de fazer as coisas simplesmente de cor, em
uma rotina, de maneira descuidada. O hábito de Paulo era regular e
genuíno. Aos romanos, ele escreve: “Deus […] é minha testemunha
de como sempre me lembro de vocês em minhas orações […]”
(Romanos 1.9,10). Portas de prisões foram abertas e terremotos
aconteceram por orações de Paulo, mesmo por orações paulinas
tão melodiosas. Todas as coisas são abertas por orações como as
feitas por Paulo e Silas. A oração abre todas as coisas. Eles podiam
impedir Paulo de pregar, mas nada o impediria de orar. E o
evangelho podia abrir caminho pelas orações de Paulo como abria
pela pregação. O apóstolo podia estar na prisão, mas a palavra de
Deus estava livre e fluía como o ar da montanha; mesmo preso, ele
aprofundava na oração.
A alegria deles em Jesus era tão profunda que se expressava
alegre e docemente em louvor e oração mesmo em condições
dolorosas e deprimentes! A oração levou-os à comunhão plena com
Deus, que fez todas as coisas radiantes com a presença divina e os
capacitou a estar “alegres por terem sido considerados dignos de
serem humilhados por causa do Nome” (Atos 5.41) e a contar como
“motivo de grande alegria o fato de passarem por diversas
provações” (Tiago 1.2). A oração suaviza todas as coisas e santifica
todas as coisas. O homem de oração será um santo sofredor. Ao
sofrer pela oração, ele será um santo suave. Um homem de oração
será um santo que louva. O louvor nada mais é que oração em
forma de música e canção.
Depois daquela exortação notável aos presbíteros de Éfeso,
quando ali parou a caminho de Jerusalém, encontramos este
registro em Atos: “Tendo dito isso, ajoelhou-se com todos eles e
orou. Todos choraram muito e, abraçando-o, o beijavam” (Atos
20.36,37).
Ajoelhou-se e orou. Observe essas palavras. Ajoelhar-se para
orar era a atitude preferida de Paulo, a postura adequada de um
fervoroso e humilde suplicante. Humildade e intensidade ocupam
um papel importante na oração perante o Deus Altíssimo. É a
atitude própria do homem diante de Deus, de um pecador perante o
Salvador e de um mendigo diante do benfeitor. Selar a sagrada e
viva exortação aos presbíteros efésios com oração foi o que tornou
a exortação eficiente, bondosa e permanente.
A religião de Paulo nasceu das dores daqueles três dias de luta
em oração, enquanto estava na casa de Ananias, e lá ele recebeu
um ímpeto divino que nunca diminuiu até que o levou aos portões
da cidade celestial. Essa história espiritual e experiência religiosa
projetada ao longo de orações incessantes levou-o às mais
elevadas altitudes espirituais e rendeu os maiores resultados
espirituais. Paulo vivia na própria atmosfera da oração. Sua primeira
viagem missionária foi projetada pela oração. Foi por oração e jejum
que ele foi chamado para o campo missionário estrangeiro, e pelos
mesmos meios a igreja em Antioquia foi tocada para enviar Paulo e
Barnabé em sua primeira viagem missionária. Eis o registro da
Escritura:

Na igreja de Antioquia havia profetas e mestres: Barnabé, Simeão,


chamado Níger, Lúcio de Cirene, Manaém, que fora criado com
Herodes, o tetrarca, e Saulo. Enquanto adoravam o Senhor e
jejuavam, disse o Espírito Santo: “Separem-me Barnabé e Saulo
para a obra a que os tenho chamado”. Assim, depois de jejuar e
orar, impuseram-lhes as mãos e os enviaram (Atos 13.1-3).

Aqui está um modelo para todas as saídas missionárias, um


presságio de sucesso. Aqui o Espírito Santo estava dirigindo uma
igreja de oração, obediente à liderança do Espírito, e essas
condições geraram os maiores resultados possíveis na missão
desses dois homens de Deus. Podemos afirmar confiantes que
nenhuma igreja em que Paulo fosse um líder central seria uma
igreja sem oração. Paulo viveu, trabalhou e sofreu em uma
atmosfera de oração. Para ele, a oração era o coração e a vida da
religião, seus ossos e medula, o motor do evangelho e o sinal pelo
qual conquistava. Não sejamos incautos, pois foi aquele espírito que
fundou igrejas, que deu a elas o requisito permanente do
autossacrifício na forma de jejum e na prática da oração. Aqui está o
registro divino do trabalho de Paulo a esse respeito:
fortalecendo os discípulos e encorajando-os a permanecer na fé,
dizendo: “É necessário que passemos por muitas tribulações para
entrarmos no Reino de Deus”. Paulo e Barnabé designaram-lhes
presbíteros em cada igreja; tendo orado e jejuado, eles os
encomendaram ao Senhor, em quem haviam confiado (Atos
14.22,23).

Em obediência a uma visão espiritual, Paulo desembarca na


Europa e vai para Filipos. Não há sinagoga, e poucos judeus estão
lá, se é que algum. Contudo, umas poucas mulheres religiosas
encontram-se em um lugar para orar, e Paulo é levado por atração
espiritual e afinidade espiritual ao “lugar de oração”. O apóstolo
planta a primeira semente do evangelho na Europa naquela
pequena reunião de oração. Ali ele é o líder da oração e o pregador.
Lídia foi a primeira convertida naquela reunião de oração. Eles
prolongaram a reunião. Chamaram-na reunião para oração.
Foi quando Paulo estava indo para aquela prolongada reunião de
oração que ele realizou o milagre de expulsar o demônio de
adivinhação da pobre menina possessa que era fonte de lucro para
homens avarentos, o que resultou, por ordens do magistrado, em
açoites e prisão. O resultado pelas ordens de Deus foi a conversão
do carcereiro e de toda a sua casa. Ao apóstolo de oração, nenhum
desânimo é permitido. Umas poucas mulheres de oração são o
suficiente para um campo apostólico de trabalho.
Nesse último incidente, temos uma imagem de Paulo à meia-
noite. Ele está na prisão interior, escura e mortal. Ele foi severa e
dolorosamente açoitado, suas vestes estão cobertas de sangue e há
coágulos de sangue em seu corpo ferido. Seus pés estão no tronco,
e cada músculo está febril e inchado, sensível e doloroso. Embora o
encontremos em condições muito desfavoráveis e sofredoras, ele
está em meio à sua atividade preferida. Paulo está orando com
Silas, seu companheiro, com uma canção alegre e triunfante:
Por volta da meia-noite, Paulo e Silas estavam orando e cantando
hinos a Deus; os outros presos os ouviam. De repente, houve um
terremoto tão violento que os alicerces da prisão foram abalados.
Imediatamente todas as portas se abriram, e as correntes de todos
se soltaram. O carcereiro acordou e, vendo abertas as portas da
prisão, desembainhou sua espada para se matar, porque pensava
que os presos tivessem fugido. Mas Paulo gritou: “Não faça isso!
Estamos todos aqui!” (Atos 16.25-28, grifo nosso).

A oração nunca foi tão bela, nunca mais bem-sucedida. Paulo era
um adepto da oração, um amante da oração, um homem
surpreendentemente dedicado à oração que podia buscá-la com
alegres canções sob condições tais de desespero e desalento.
Quão poderosa arma defensiva era a oração para Paulo! Que
melodiosa! Os anjos sem dúvida silenciaram suas notas mais altas e
mais doces para ouvir a música que levava tais orações até o céu.
O terremoto trilhou o caminho que as poderosas forças da oração
de Paulo produziram. Ele não fugiu quando as correntes foram
soltas e o tronco caiu. Sua oração lhe ensinou que Deus tinha
propósitos mais nobres naquela noite do que a liberdade individual.
Sua oração e o susto do terremoto trariam salvação àquela prisão,
liberdade da escravidão e da prisão do pecado, que lhe foi
prefigurado pela emaciação de seu corpo. A providência poderosa
de Deus abrira a porta da prisão e quebrara as correntes não para
lhe dar liberdade, mas para dar liberdade ao carcereiro. As portas
que Deus abre providencialmente, com frequência, servem para
testar nossa capacidade para permanecer em vez de sair. Aqui
testaram a capacidade de Paulo de permanecer.
14. PAULO E SUAS ORAÇÕES
(CONTINUAÇÃO)

William Law apresenta esta palavra muito pertinente em


A Serious Call to a Devout and Holy Life [O chamado a
uma vida devota e santa]: “Quando iniciarem suas
petições, usem variadas expressões dos atributos de
Deus para torná-los mais sensíveis à grandeza e ao
poder da natureza divina”. Em seguida, William Law dá
vários exemplos, que ouso dizer não seriam úteis a mim,
pois eles prenderiam meu espírito em uma armadura.
Mas quero enfatizar e recomendar o princípio segundo o
qual a nossa comunhão deveria começar com os
elementos fundamentais de adoração e louvor.
REVERENDO J. H. JOWETT

HÁ DUAS OCASIÕES COM resultados maravilhosos em que não há


afirmação explícita de que Paulo estava em oração, mas as
circunstâncias e os resultados e o intenso e universal hábito de
oração de Paulo deixam evidente que o segredo dos resultados em
ambas as ocasiões é a oração. A primeira ocasião foi quando Paulo
zarpou para Filipos e chegou a Trôade, onde permaneceu por sete
dias. No primeiro dia da semana, quando os discípulos se reuniam
para partir o pão, Paulo pregou para eles, esperando partir pela
manhã, e prosseguiu pregando até tarde da noite.
Um jovem chamado Êutico estava sentado na janela e pegou no
sono e, como Paulo estava demorando em sua fala, o jovem caiu da
janela e foi declarado morto. Paulo desceu ao local onde o jovem
tinha caído e, abraçando-o, disse às pessoas ao redor que não
precisavam se preocupar, pois ainda estava com vida. Paulo
retornou ao quarto superior, onde estivera pregando, e seguiu
falando com os discípulos até o raiar do dia. O jovem voltou à vida
e, como resultado, todos foram muito confortados.
A conclusão natural, sem que o fato seja especificamente
afirmado, é que Paulo deve ter orado pelo jovem quando o abraçou,
e sua oração foi respondida na rápida recuperação do jovem.
A segunda ocasião foi durante a perigosa e longa tempestade que
atingiu o navio no qual Paulo estava sendo levado como prisioneiro
para Roma. A embarcação estava sendo jogada de um lado para o
outro na grande tempestade, e nem o Sol nem as estrelas
apareciam enquanto eles eram envolvidos pela tempestade e
lutavam contra o vento. Toda a esperança de que pudessem ser
salvos parecia ter desaparecido. Mas, depois de longa abstinência,
Paulo se colocou no meio dos que estavam a bordo e falou mais
especificamente aos oficiais da embarcação:

“[…] Os Senhores deviam ter aceitado o meu conselho de não partir


de Creta, pois assim teriam evitado este dano e prejuízo. Mas agora
recomendo que tenham coragem, pois nenhum de vocês per derá a
vida; apenas o navio será destruído. Pois ontem à noite apareceu-
me um anjo de Deus a quem pertenço e a quem adoro, dizendo-
me: ‘Paulo, não tenha medo. É preciso que você compareça
perante César; Deus, por sua graça, deu-lhe a vida de todos os que
estão navegando com você’. Assim, tenham ânimo, Senhores!
Creio em Deus que acontecerá conforme me foi dito” (Atos 27.21-
25).

Não é preciso esforço de interpretação para perceber nesse


simples registro o fato de que Paulo devia estar orando quando o
anjo apareceu a ele com a mensagem de encorajamento e certeza
de segurança. O hábito de Paulo de orar e sua fé firme na oração
devem tê-lo conduzido a ficar de joelhos. Uma emergência desse
tipo, em circunstâncias cruciais, necessariamente o levaria a orar.
Depois do naufrágio, quando estavam na ilha de Malta, temos
mais um retrato de Paulo em oração. Ele estava orando por um
homem muito doente. Enquanto acendiam uma fogueira, uma víbora
mortalmente venenosa agarrou-lhe no braço, e os bárbaros
imediatamente concluíram que se tratasse de uma retribuição por
algum crime que Paulo cometera, mas logo viram que Paulo não
havia morrido, por isso mudaram de ideia, concluindo que ele era
uma espécie de deus.
Naquele mesma ilha, morava o pai de Públio, que estava muito
doente, com febre e disenteria, e parecia estar chegando ao fim da
vida. Paulo foi vê-lo, impôs as mãos sobre ele e, com confiança
simples em Deus, orou e imediatamente a doença se foi, e o homem
foi curado. Quando os nativos da ilha contemplaram esse
acontecimento incrível, trouxeram outros doentes a Paulo, e eles
foram curados, do mesmo modo, pela oração de Paulo.
Voltando ao período da vida de Paulo no qual estava em Éfeso a
caminho de Jerusalém, ele para em Tiro. Antes, porém, de deixar
Éfeso, ele havia orado com todos eles. Mas ele não creu em suas
palavras por mais fortes, adequadas e solenes que possam ter sido.
Deus deve ser reconhecido, invocado e buscado. Paulo não
assumiu como certo, depois de ter feito o melhor, que Deus como
mestre do percurso abençoaria seus esforços em fazer o bem; pelo
contrário, ele buscou Deus. Deus não faz coisas de forma esperada.
Deus deve ser invocado, buscado e incluído nos assuntos em
oração.
Depois de visitar Éfeso, chegou a Tiro, onde parou por alguns
dias. Ali encontrou alguns discípulos, que imploraram que não fosse
a Jerusalém, dizendo pelo Espírito que ele não deveria ir àquela
cidade. Mas Paulo agarrou-se a seu propósito original de ir a
Jerusalém. O relato diz: “Mas, quando terminou o nosso tempo ali,
partimos e continuamos nossa viagem. Todos os discípulos, com
suas mulheres e filhos, nos acompanharam até fora da cidade e ali
na praia nos ajoelhamos e oramos” (Atos 21.5).
Que imagem para observar naquela praia! Ali estava uma imagem
familiar de amor e devoção, na qual maridos, esposas e até mesmo
crianças estão presentes; a oração é feita a céu aberto. Que
impressão deve ter causado sobre aquelas crianças! O navio estava
pronto para partir, mas a oração precisava consolidar a afeição
mútua e santificar esposas e filhos, e abençoar sua partida — uma
partida que seria final no que diz respeito a este mundo terreno. A
cena é bela e honra a mente e o coração de Paulo, sua pessoa e
sua piedade e demonstra a terna afeição com que ele era estimado.
Seu hábito dedicado de santificar todas as coisas pela oração vem à
luz claramente. “Ali na praia nos ajoelhamos e oramos.” Nunca uma
praia do mar vira uma imagem mais grandiosa ou testemunhara
uma visão mais encantadora — Paulo ajoelhado na areia daquela
praia, invocando a bênção de Deus sobre aqueles homens,
mulheres e crianças.
Quando Paulo foi acusado em Jerusalém, em sua defesa pública
ele se refere a dois eventos de oração. Um foi quando estava na
casa de Judas, em Damasco, depois de ter sido lançado ao chão e
ter se convertido. Ali ficou por três dias, e Ananias foi enviado até
ele para impor-lhe as mãos quando estava cego. Foi durante
aqueles três dias de oração. Este é o registro das Escrituras, e as
palavras são as que Ananias dirigiu a ele: “‘E, agora, que está
esperando? Levante-se, seja batizado e lave os seus pecados,
invocando o nome dele’” (22.16).
O Senhor encorajara o tímido Ananias a ir e ministrar a Paulo,
dizendo-lhe: “‘Ele está orando’”. E assim temos nessa alusão, as
orações de Paulo intensificadas pela exortação de Ananias. A
oração precede o perdão de pecados. A oração convém àqueles
que buscam Deus. A oração pertence ao que investiga sobre Deus
com fervor e sinceridade. Perdão de pecados e aceitação por Deus
sempre acompanham o final da oração fervorosa. A evidência da
sinceridade em quem verdadeiramente busca a religião é que dele
se pode dizer: “Ele está orando”.
A outra referência em sua defesa nos revela a intensidade da
oração em que toda a sua vida religiosa fora moldada e mostra
como, no absorvente êxtase de oração, a visão lhe fora dada e
instruções foram recebidas, as quais deveriam guiar sua árdua vida.
Também vemos os termos familiares em que ele se apresentou e
falou com seu Senhor:

“Quando voltei a Jerusalém, estando eu a orar no templo, caí em


êxtase e vi o Senhor, que me dizia: ‘Depressa! Saia de Jerusalém
imediatamente, pois não aceitarão seu testemunho a meu respeito’.
Eu respondi: Senhor, estes homens sabem que eu ia de uma
sinagoga a outra, a fim de prender e açoitar os que creem em ti. E,
quando foi derramado o sangue de tua testemunha Estêvão, eu
estava lá, dando minha aprovação e cuidando das roupas dos que
o matavam. Então o Senhor me disse: ‘Vá, eu o enviarei para longe,
aos gentios’” (Atos 22.17-21).

A oração sempre traz direção do céu a respeito do que Deus quer


que façamos. Se orássemos cada vez mais diretamente,
cometeríamos menos erros na vida em relação ao que devemos
fazer. A vontade de Deus em relação a nós é revelada em resposta
à oração. Se orássemos mais, melhor e mais mansamente, então
teríamos visões mais claras e arrebatadoras, e nossa comunicação
com Deus seria de ordem mais íntima, livre e ousada.
É difícil especificar ou classificar as orações de Paulo. Elas são
tão abrangentes, tão discursivas e tão precisas que não se trata de
uma tarefa fácil.
Paulo ensina muito sobre oração em sua didática. Ele enfatiza
especialmente o dever e a necessidade de oração da igreja, mas o
que era melhor para Paulo e melhor para nós é que ele mesmo
orava muito e exemplificava seu ensino. Ele praticava o que
pregava. Ele punha à prova o exercício da oração ao qual exortava
as pessoas de sua época.
Para a igreja de Roma, asseverou especificamente e com
solenidade seu hábito de oração. Ele escreveu o seguinte para os
cristãos de Roma: “Deus, a quem sirvo de todo o coração pregando
o evangelho de seu Filho, é minha testemunha de como sempre me
lembro de vocês em minhas orações […]” (Romanos 1.9,10). Paulo
não orava apenas por ele mesmo. Ele criou o hábito de orar pelos
outros. Ele era principalmente um intercessor. Assim como insistia
na oração intercessora pelos outros, também intercedia por eles,
além de orar por si mesmo.
Paulo inicia a notável epístola de Romanos no espírito de oração
e a encerra com esta instrução solene: “Recomendo, irmãos, por
nosso Senhor Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que se unam a
mim em minha luta, orando a Deus em meu favor” (Romanos
15.30).
Mas isso não é tudo. No coração dessa epístola, ele ordena que
“perseverem na oração”, ou seja, deem atenção constante à oração.
Façam dela o serviço da vida. Sejam dedicados a ela. Era
exatamente o que ele fazia, pois Paulo era um exemplo vivo da
doutrina de oração que ele defendia e imprimia em seu público.
Na epístola Tessalonicenses, a oração é inclusiva e maravilhosa!
Diz ele ao escrever sua primeira epístola a essa igreja:

Sempre damos graças a Deus por todos vocês, mencionando-os


em nossas orações. Lembramos continuamente, diante de nosso
Deus e Pai, o que vocês têm demonstrado: o trabalho que resulta
da fé, o esforço motivado pelo amor e a perseverança proveniente
da esperança em nosso Senhor Jesus Cristo (1Tessalonicenses
1.2,3).

Sem citar tudo o que ele diz, é importante ler suas palavras, mais
adiante, a esta mesma igreja de verdadeiros cristãos:

Noite e dia insistimos em orar para que possamos vê-los


pessoalmente e suprir o que falta à sua fé. Que o próprio Deus,
nosso Pai, e nosso Senhor Jesus preparem o nosso caminho até
vocês. Que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que vocês
têm uns para com os outros e para com todos, a exemplo do nosso
amor por vocês. Que ele fortaleça o coração de vocês para serem
irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai […] (3.10-
13).

E esse tipo de oração pelos cristãos de Tessalônica está de


acordo com a oração de encerramento nessa epístola, que registra
uma marcante oração pela plena santificação de seus membros:
“Que o próprio Deus da paz os santifique inteiramente. Que todo o
espírito, a alma e o corpo de vocês sejam preservados
irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (5.23).
Como Paulo orava por aqueles primeiros cristãos! Eles estavam
em sua mente e coração, e ele perseverava: “Noite e dia insistimos
em orar […]” (1Tessalonicenses 3.10). Oh, se tivéssemos uma
legião de pregadores nestes dias de piedade superficial e de falta de
oração que fossem dados à oração por suas igrejas como Paulo
orava por aqueles a quem ministrava em seus dias! Homens de
oração são necessários. Da mesma forma, a nossa era exige
pregadores de oração. No final daquela oração notável no capítulo 3
de Efésios, Paulo declarou que Deus era “capaz de fazer
infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos”; agora
ele declara que insistia em orar, esforçando-se para que suas
orações fluíssem paralelamente ao poder de Deus e que seus
leitores não limitassem nem exaurissem esse poder, mas
recebessem tudo o que há para abençoar e enriquecer
imensamente a igreja.
Paulo e seus colaboradores oravam pelos santos de todos os
lugares. Permita-me mencionar novamente. Com que solenidade
Paulo chama a atenção dos cristãos romanos para a importância da
oração para eles, cristãos que ele nunca vira! “Deus é minha
testemunha de como sempre me lembro de vocês em minhas
orações.” Para as igrejas, ele diz: “Oramos constantemente por
vocês”.
Novamente na mesma frase o ouvimos dizer carinhosamente:
“Em todas as minhas orações em favor de vocês, sempre oro com
alegria” (Filipenses 1.4). Novamente ele escreve: “[…] não deixamos
de orar por vocês […]” (Colossenses 1.9). Mais uma vez lemos o
registro: “[…] oramos constantemente por vocês […]”
(2Tessalonicenses 1.11). E ainda mais uma vez está escrito: “não
deixo de dar graças por vocês mencionando-os em minhas orações”
(Efésios 1.16). Em seguida diz: “[…] lembrar-me constantemente de
você, noite e dia, em minhas orações” (2Timóteo 1.3). Sua
declaração “Noite e dia insistimos em orar” (1Tessalonicenses 3.10)
é um registro condensado da natureza envolvente da oração feita
por esse apóstolo de oração. Mostra conclusivamente como a
oração era importante em seu julgamento e em seu ministério e
mostra também como para ele a oração era um esforço agonizante
que buscava as bênçãos de Deus que não poderiam ser alcançadas
de outra forma.
O altruísmo de sua oração é visto no que escreveu aos romanos,
ao dizer-lhes: “[…] e peço que agora, finalmente, pela vontade de
Deus, me seja aberto o caminho para que eu possa visitá-los.
Anseio vê-los, a fim de compartilhar com vocês algum dom
espiritual, para fortalecê-los”(Romanos 1.10,11). O objetivo de seu
desejo de visitar Roma não era gratificação egoísta, prazer da
viagem ou outros motivos, mas, sim, que ele pudesse ser um meio,
em Deus, de “compartilhar com vocês algum dom espiritual” a fim de
que eles fossem fortalecidos no coração, irrepreensivelmente em
amor. Paulo queria que sua visita pudesse dar-lhes algum dom
espiritual que não tivessem recebido e que eles fossem firmados
nas áreas em que precisavam ser enraizados e alicerçados na fé,
no amor e em tudo que compreendia a vida e o caráter cristão.
15. PAULO E SEUS PEDIDOS DE ORAÇÃO

Desejo acima de tudo aprender a orar. Queremos soar o


toque da alvorada para os guerreiros cristãos. Desejamos
descobrir a verdade sobre a falta de oração real. Qual é?
Por que acontece? Por que se gasta tão pouco tempo em
oração quando Cristo, que tinha comando de seu tempo,
decidia passar grande parte dele em INTERCESSÃO?
“Pois viveu sempre para interceder por nós.” Acreditamos
que a resposta para o desejo está no coração, mas a
vontade é indisciplinada; a motivação está presente, mas
as afeições não se derramaram em horas de meditação
celestial; o intelecto é aguçado, mas não para horas de
estudo incansável. O intelecto e as afeições nunca foram
unidos pelo selo do abençoado Espírito Santo para fazer
ou morrer para a glória de Deus nos lugares secretos, a
portas fechadas e com a concupiscência crucificada.
REVERENDO HOMER W. HODGE

OS MUITOS PEDIDOS DE oração de Paulo por ele mes mo feitos


àqueles a quem ministrava mostram como Paulo priorizava a oração
e estimava seus efeitos. Ele mesmo orava muito e esforçava-se
para despertar os cristãos para a importância imperativa da
disciplina da oração. Ele sentia tão profundamente a necessidade
de orar que era dado ao hábito da oração pessoal. Compreendendo
isso para si, imprimia esse valor a outros. A oração intercessora, ou
oração em favor de outros, ocupava um lugar elevado em sua
avaliação da oração. Não surpreende, portanto, que o encontremos
pondo-se como motivo de oração para as igrejas às quais escrevia.
Por toda a devoção deles a Jesus Cristo, pelo interesse que
tinham no avanço do Reino de Deus na terra, por todo o fervor do
relacionamento pessoal deles com Jesus, Paulo os instrui a orar
muito, a orar incessantemente, a orar em todo o tempo, a orar por
todas as coisas e a fazer da oração uma disciplina. Dessa forma,
percebendo que ele mesmo dependia da oração em razão de seus
árduos deveres, dolorosos desafios e pesadas responsabilidades,
insiste com seus leitores para que orem especialmente por ele.
O maior dos apóstolos precisava de oração. Ele precisava da
oração dos outros e admitia isso de forma prática pedindo suas
orações. Seu chamado para o apostolado não o suprimia dessa
necessidade. Ele percebia e reconhecia sua dependência da
oração. Ele buscava e valorizava as orações de todas as pessoas
de bem. Ele não se envergonhava de pedir orações por ele mesmo
nem de insistir com os irmãos de todos os lugares para que
orassem por ele.
Ao escrever aos hebreus, fundamenta seu pedido de oração em
dois motivos, sua honestidade e sua ansiedade por visitá-los. Se ele
fosse insincero, não teria direito às orações das igrejas. Orar por ele
era uma forma poderosa de facilitar sua visita. Eles tocariam o lugar
secreto do vento e das ondas, arrumariam todos os meios
secundários e os fariam ministrar para esse fim. Orar põe Deus em
ação para fazer por nós as coisas que desejamos de suas mãos.
O pedido frequente de Paulo a seus irmãos era que eles orassem
por ele. Devemos julgar o valor de algo pela frequência com que é
pedido e pela petição especial e urgente com que é feito. Se isso for
verdadeiro, então para Paulo as orações dos santos estavam entre
seus maiores recursos. Pela urgência, repetição e reiteração do
pedido “orem por mim”, Paulo mostra conclusivamente o grande
valor que concedia à oração como meio de graça. Paulo não tinha
necessidade mais urgente do que a necessidade de oração. Não
havia nada tão apreciado e apreciável como as orações dos fiéis.
Paulo estabeleceu o importante fator da oração como o grande
fator de seu trabalho. Ele considerava a oração a energia mais
poderosa e de maior alcance. Ele anseia por ela e acumula-a ao
buscar as orações do povo de Deus. O fervor de sua alma é
expresso nesses pedidos. Ouça-o rogar por oração ao escrever aos
romanos: “Recomendo, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e
pelo amor do Espírito, que se unam a mim em minha luta, orando a
Deus em meu favor” (Romanos 15.30).
As orações dos outros em favor de Paulo eram valiosas porque
eles o ajudavam. As orações são grandes auxílios. Nada nos ajuda
mais nas nossas necessidades do que orações verdadeiras. Elas
suprem necessidades e libertam de dificuldades. A fé de Paulo,
escreve ele aos coríntios, fora muito testada, e ele fora
imensamente ajudado e fortalecido pela libertação de Deus. “[…]
vocês nos ajudam com as suas orações […]” (2Coríntios 1.11). Que
coisas maravilhosas Deus fez por seus santos dedicados por meio
das orações de outros! Os santos podem ajudar mais aos santos
pelas orações fervorosas do que de qualquer outra forma.
Em meio a inveja e difamação, e correndo perigo por falsos
irmãos, escreve aos filipenses:

pois sei que o que me aconteceu resultará em minha libertação,


graças às orações de vocês e ao auxílio do Espírito de Jesus
Cristo. Aguardo ansiosamente e espero que em nada serei
envergonhado. Ao contrário, com toda a determinação de sempre,
também agora Cristo será engrandecido em meu corpo, quer pela
vida, quer pela morte (Filipenses 1.19,20).

A vergonha fora retirada, a segurança assegurada, a vida e a


morte tornaram-se gloriosas pelas orações dos santos de Filipos em
favor de Paulo.
Paulo tinha muitas forças poderosas em seu ministério. Sua
conversão notável era uma grande força, um aspecto que projetava
poder, e mesmo assim ele não garantia resultados em seu ministério
pela força de sua conversão célebre. Seu chamado ao apostolado
fora claro, luminoso e convencera todos, mas ele não se fiava nisso
para os grandes resultados de seu ministério.
A trajetória de Paulo era mais bem moldada, e seu ministério
alcançava mais êxito e poder pela oração do que por qualquer outra
força.
Paulo insiste com os cristãos de Roma a que orem por ele para
que seja livre dos homens incrédulos. A oração é uma defesa e
proteção contra a maldade e as maquinações de homens maus. Ela
pode atingir os homens porque Deus pode atingi-los. Paulo não
apenas tinha inimigos descrentes aos quais combater, mas muitos
cristãos tinham preconceito contra ele a ponto de questionarem se
aceitariam algum serviço cristão de suas mãos. Isso acontecia
especialmente em Jerusalém; portanto, a oração, a oração
poderosa, precisa ser usada para remover forças poderosas e
malignas de preconceito estabelecido e inflamado.
A oração deles por Paulo deveria ter como objetivo a segurança
do apóstolo e também sua viagem próspera, para que a vontade de
Deus o trouxesse rapidamente até eles a fim de abençoar e renovar
mutuamente os cristãos romanos.
Esses pedidos de oração de Paulo são muito abrangentes.
Quantas coisas estão incluídas em seu pedido à igreja de Roma! O
seu pedido de oração, como a igreja à qual era dirigida, era
cosmopolita. Ele lhes suplica, o que indica intensidade e fervor, que
“se unam a [ele] em [sua] luta, orando a Deus em [seu] favor”. Ele
pede para que seja livre do mal e de homens ardilosos que
poderiam impedir ou atrapalhar sua missão; em seguida, para que o
serviço pelos santos pobres fosse aceito, para que ele pudesse
finalmente voltar com alegria e que eles pudessem ser renovados.
Quão cheio de fervor é esse pedido! Como o apelo é amoroso e
afeiçoado! Que tocante e elevado é a motivação para a mais
elevada e verdadeira forma de oração, “por nosso Senhor Jesus
Cristo”! Também pelo amor que temos pelo Espírito ou pelo amor
que o Espírito tem por nós; pelos laços da santa comunhão
fraternal. Por esses motivos grandiosos e constrangedores, o
apóstolo encoraja-os a orar por ele e a lutar com ele em oração.
Paulo está na grande batalha da oração, uma luta em que questões
mais poderosas estão envolvidas e correndo perigo; e ele está no
meio dessa batalha. Está comprometido com a luta porque Cristo
está nela. Ele precisa de ajuda; ajuda que só vem por meio da
oração. Portanto, ele implora a seus irmãos que orem por ele e com
ele.
Pela oração, inimigos são lançados fora. Pela oração,
preconceitos são expulsos do coração de homens bons. Seu
caminho para Jerusalém seria livre de dificuldades, o sucesso de
sua missão seria assegurado, e a vontade de Deus e o bem dos
santos seria alcançado. Todas essas finalidades altruístas estariam
asseguradas pela oração. Os resultados obtidos por orações
poderosas são de grande notoriedade e alcançam o mundo inteiro.
Se todos os sucessores apostólicos tivessem orado como Paulo, se
todos os cristãos em todas as eras tivessem tido o mesmo coração
dos homens apostólicos nas poderosas batalhas de oração, quão
maravilhosa e divina teria sido a história da Igreja de Deus! Seu
sucesso seria ímpar! A glória do milênio teria brilhado e abençoado
o mundo eras atrás.
Vemos no pedido de Paulo o valor que ele dava ao longo alcance
do poder da oração. Não que a oração tenha em si uma força
mágica, ou seja, um amuleto, mas ela move Deus a fazer as coisas
que nomeia. A oração não tem poderes fantásticos ou feitiços
poderosos em si, mas tem todo o poder porque faz que o Deus
Onipotente conceda o pedido a quem lhe suplica. Uma base e
precedente para toda a oração, assim entendia e expressava Paulo,
era “se unam a mim em minha luta, orando”. Paulo está envolvido
em um conflito sério, em uma batalha, em uma luta corpo a corpo. O
esforço é severo e exaustivo a toda a energia da alma, e a questão
é lançada em incerteza. Paulo nessa luta de oração precisa de
reforços e ajuda divina em seu empenho. Ele está no meio da
batalha, e a parte mais difícil está próxima, mas ele solicita, implora
a ajuda de outros. As orações dos santos são necessárias porque
ele precisa de ajuda para oferecer intensas orações.
A oração não é chamada de “luta” por nada, pois ela é a mais
intensa das batalhas. Há grandes empecilhos e os mais inveterados
inimigos à oração. Poderosas forças do mal lançam-se contra o
lugar secreto da oração. Inimigos fortes e entrincheirados estão
perto dos lugares recônditos onde se fazem orações. A oração feita
por Paulo não é fraca nem indiferente. Ele “abandonou as coisas de
criança”. O comum e o domesticado foram retirados. Paulo ora
poderosamente, ou não ora. O inferno precisa sentir e cambalear e,
sob o poder da oração do apóstolo, desabar; caso contrário, ele não
golpeia. Aqui a mais forte graça e os esforços mais valentes são
requisitos. Ter força é exigência nas orações feitas por Paulo. A
coragem é muito valorizada. Timidez e desejos temerosos não
valem de nada na mente de Paulo como estamos meditando. Os
inimigos devem ser enfrentados e expulsos; áreas devem ser
conquistadas. A bravura mais incansável e invencível e as mais
altas qualidades do soldado cristão são exigidas para a oração. Soa
o chamado para a oração, uma nota da trombeta do comandante; o
chamado para a fervorosa e persistente oração quando se trava o
grande conflito espiritual.
16. PAULO E SEUS PEDIDOS DE ORAÇÃO
(CONTINUAÇÃO)

Anunciamos a lei da oração da seguinte forma: A oração


de um cristão é uma fusão comum entre a vontade e o
gabinete, as emoções, a consciência, o intelecto, que
trabalham em harmonia em fogo brando, enquanto o
corpo coopera sob determinadas condições de higiene
para fazer que a oração seja sustentada em alta
temperatura tempo suficiente para assegurar resultados
tremendos, sobrenaturais e extraordinários.
REVERENDO HOMER W. HODGE

CHEGAMOS AO PEDIDO QUE Paulo fez à igreja de Éfeso, que se


encontra na parte final de Efésios 6, na carta escrita a esses
cristãos:

Orem no Espírito em todas as ocasiões, com toda oração e súplica;


tendo isso em mente, estejam atentos e perseverem na oração por
todos os santos. Orem também por mim, para que, quando eu falar,
seja-me dada a mensagem a fim de que, destemidamente, torne
conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador preso
em correntes. Orem para que, permanecendo nele, eu fale com
coragem, como me cumpre fazer (v. 18-20).

Por essa igreja ele tinha se esforçado e orado dia e noite com
muitas vigílias, lágrimas e humildade. Ao apresentar uma imagem
vívida do soldado cristão, com os inimigos cercando-lhe, o apóstolo
os incentivou a orar especialmente por ele.
A esses cristãos efésios, ele fez uma declaração abrangente da
necessidade, natureza e benefícios especiais da oração. Ela deveria
ser indispensável, incluindo todas as épocas e englobando todos os
diferentes lugares. As súplicas deveriam dar intensidade, o Espírito
Santo deveria ser invocado, deviam-se acrescentar atenção e
perseverança, e toda a família dos santos deveria estar envolvida.
A força de seu pedido de oração estava centralizada nele, que ele
fosse capaz de falar com ousadia, fluência, objetividade e coragem.
Paulo não dependia de seus dons naturais, mas daqueles que
recebia em resposta à oração. Ele temia ser covarde, tolo, orador
fraco ou tartamudo, e insistia que os cristãos orassem para que ele
tivesse coragem não apenas para falar com clareza, mas com
liberdade e perfeitamente.
Ele desejava que orassem para que tivesse ousadia. Nenhuma
qualidade parece mais importante ao pregador do que a ousadia. É
essa qualidade positiva que não mede consequências, mas com
liberdade e abundância enfrenta a crise, encara um perigo presente
e desempenha impassível seu dever. Era uma das características
marcantes dos pregadores e da pregação apostólica. Eles eram
homens ousados, eram pregadores ousados. A referência à
manifestação do princípio por eles é praticamente o registro de seus
desafios. É o aplauso de sua fé.
Há muitas correntes que aprisionam o pregador. Sua própria
ternura torna-o fraco. Sua afeição pelas pessoas tende a fazê-lo
prisioneiro. Suas relações pessoais, suas obrigações para com o
povo, seu amor por eles, tudo isso tende a obstruir sua liberdade e
restringir suas pregações. Estar continuamente orando por ousadia
para falar o que deve falar é uma grande necessidade!
Os profetas de antigamente eram exortados a não temer os
homens. Impassíveis à cara franzida deles, deveriam declarar a
verdade de Deus sem apologia, timidez, hesitação ou concessões.
O calor e a liberdade de convicção e sinceridade, a coragem de uma
fé vigorosa e, acima de tudo, o poder do Espírito Santo são auxílios
maravilhosos e instrumentos de ousadia. Tudo isso deveria ser
desejado e buscado com todo o fervor por ministros do evangelho
nestes dias!
Mansidão e humildade são virtudes elevadas de primeira
importância para o pregador, mas essas qualidades não militam de
forma alguma contra a ousadia. Essa ousadia não é a liberdade de
declarações apaixonadas. Não é repreensão, nem aspereza. É falar
a verdade em amor. A ousadia não é rude.
Rudeza desonra a ousadia. Ela é gentil como a mãe com seu
bebê, mas destemida como o leão diante de seu inimigo. O medo,
na forma suave e inocente da timidez ou na forma criminosa da
covardia, não tem lugar no verdadeiro ministério. Ser humilde, mas
com santa ousadia, é de importância fundamental.
Que força misteriosa e escondida poderia acrescentar coragem à
pregação apostólica e conceder declarações ousadas a lábios
apostólicos? Há uma resposta: é a oração que pode realizar esses
feitos.
Que força poderia afetar e conquistar o mal de forma que os
próprios resultados do mal se transformassem em bem? Mais uma
vez a resposta está nas palavras de Paulo, relacionadas com as
orações feitas por ele:

Ele nos livrou e continuará nos livrando de tal perigo de morte. Nele
temos depositado a nossa esperança de que continuará a livrar-
nos, enquanto vocês nos ajudam com as suas orações […]
(2Coríntios 1.10,11).
Mas que importa? O importante é que de qualquer forma, seja por
motivos falsos ou verdadeiros, Cristo está sendo pregado, e por
isso me alegro (Filipenses 1.18).

Podemos ver como as promessas de Deus se tornam reais e


pessoais por meio da oração.
“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem
daqueles que o amam […]” (Romanos 8.28). Eis uma promessa
preciosa. Paulo amava a Deus, mas ele não deixou a promessa
sozinha; na verdade, buscou com esforço os resultados
abençoados. Por isso, escreveu aos coríntios, como vimos antes:
“Estou em perigo. Creio em Deus para me libertar. Vocês nos
ajudam com as suas orações”. Ajudando-me em oração, vocês
ajudam Deus a fortalecer a promessa e a torná-la rica em
realização.
Os pedidos de oração de Paulo englobavam “súplicas por todos
os santos”, mas especialmente por coragem apostólica para ele
mesmo. Como ele precisava dessa coragem, assim como todos os
verdadeiros pregadores, chamados por Deus, precisam dela! A
oração servia para abrir as portas para o trabalho apostólico, mas,
ao mesmo tempo, servia para abrir os lábios apostólicos a fim de
pronunciar com bravura e verdade a mensagem apostólica.
Ouça-o enquanto ele fala à igreja de Colossos:

Ao mesmo tempo, orem também por nós, para que Deus abra uma
porta para a nossa mensagem, a fim de que possamos proclamar o
mistério de Cristo, pelo qual estou preso. Orem para que eu possa
manifestá-lo abertamente, como me cumpre fazê-lo (Colossenses
4.3,4).

Que apropriado um pedido como esse ser feito por um pregador


de hoje à sua comunidade de cristãos! Como é grande a
necessidade das coisas que Paulo desejava para si mesmo aos
pregadores de hoje! Como no pedido aos efésios, Paulo desejava
receber uma “porta para a mensagem” para que pudesse pregar
com liberdade do Espírito e ser livre de ser restringido no
pensamento ou impedido de falar. Além disso, ele desejava
habilidade para tornar manifesto nos termos mais claros, sem
confusão de pensamento, e com força de expressão, o evangelho
como lhe cumpre falar e como todo pregador deveria falar. Feliz é o
pregador que ministra a um povo que ora assim por ele!
E mais feliz ainda se interiormente, quando enfrenta suas tarefas
e responsabilidades, percebe quanto precisa que essas coisas
sejam pregadas de forma clara, forçosa e eficiente, tanto que insiste
com o povo para que ore por ele!
A oração transforma cruzes, desafios e oposições em bênçãos e
faz que cooperem para o bem. “[…] o que me aconteceu resultará
em minha libertação […]” (Filipenses 1.19), diz Paulo. Assim como
as mesmas coisas hoje na vida do pregador são transformadas em
graciosas bênçãos no final, “enquanto vocês nos ajudam com as
suas orações”. Santas orações ajudaram poderosamente a
pregação apostólica e resgataram homens apostólicos de muitas
dificuldades dolorosas. Da mesma forma, tais orações nos dias de
hoje alcançarão resultados semelhantes em pregações fiéis feitas
por ministros bravos e destemidos. A oração pelo ministro tem a
mesma eficácia que a oração do ministro. Duas coisas são sempre
importantes na vida e no serviço do verdadeiro pregador: primeiro,
quanto ele ora constante, fervorosa e persistentemente por aqueles
a quem prega; e, segundo, quanto aqueles a quem prega oram por
seu pregador. Feliz é o pregador que se encontra nessa situação.
Abençoada é a congregação assim favorecida.
À igreja em Tessalônica, Paulo envia seu pedido insistente,
objetivo, claro e eficaz:

Finalmente, irmãos, orem por nós, para que a palavra do Senhor se


propague rapidamente e receba a honra merecida, como aconteceu
entre vocês. Orem também para que sejamos libertos dos homens
perversos e maus […] (2Tessalonicenses 3.1,2).

Ele tem em mente uma carreira na qual o corredor está se


esforçando para chegar ao alvo. Empecilhos estão no caminho de
seu sucesso e precisam ser removidos a fim de que o corredor
possa, finalmente, ter êxito e obter a recompensa. A “palavra do
Senhor” é esse corredor, como pregava Paulo.
Essa palavra é personificada e há sérios impedimentos que se
interpõem em sua corrida. Ela precisa ter “via livre”. Tudo que
encontra pelo caminho e as oposições precisam ser retiradas da
estrada. Tais empecilhos para que a Palavra do Senhor corra e seja
propagada como se faz necessário se encontram no próprio
pregador, na igreja a quem ministra e nos pecadores ao redor. A
Palavra corre e é glorificada quando tem acesso livre à mente e ao
coração daqueles a quem é pregada, quando os pecadores são
convencidos do pecado, quando refletem seriamente sobre as
declarações da Palavra de Deus a respeito deles e quando são
induzidos a orar por si mesmos pedindo perdão e misericórdia. Ela é
glorificada quando os santos são instruídos em experiências
religiosas, corrigidos em erros de doutrina e enganos práticos, e
quando são levados a buscar coisas mais elevadas e a orar por
experiências mais profundas na vida com Deus.
Preste atenção. Não se trata de quando o pregador é exaltado por
causa do maravilhoso sucesso forjado pela Palavra. Não se trata de
quando as pessoas o louvam excessivamente e fazem muito caso
dele em razão de seus sermões notáveis, sua grande eloquência e
seus dons inigualáveis. O pregador é mantido nos bastidores em
toda essa obra de glorificação, embora ele esteja à frente como
objeto de todas essas orações.
A oração faz todas essas coisas. Por isso, Paulo constrange,
roga, insiste: “orem por nós”. E não se trata tanto de oração por
Paulo pessoalmente em sua vida cristã e experiência religiosa. Tudo
isso precisa de muita oração. Na verdade, tratava-se de orar por ele
oficialmente, orar por ele em seu ofício e serviço como ministro do
evangelho. Sua língua deve ser destravada para pregar, a boca que
não se cala e sua mente liberta. A oração deve ajudar em sua vida
religiosa não tanto porque ajudaria a “exercitar sua própria
salvação”, mas, pelo contrário, porque uma vida correta fortaleceria
a Palavra de Deus e livraria o pregador de ser um empecilho à
Palavra de Deus que prega. E como ele desejava que não houvesse
empecilho nele que atrapalhasse sua pregação, assim ele quer que
todos os impedimentos sejam retirados das igrejas às quais ministra
de modo que o povo de Deus não fique no caminho ou diminua o
peso da Palavra quando ela corre a carreira tentando chegar ao
alvo, à mente e ao coração das pessoas. Além disso, ele deseja que
os impedimentos nos descrentes sejam deixados de lado para que a
Palavra de Deus pregada por ele atinja os corações e seja
glorificada na salvação deles.
Com tudo isso diante de si, Paulo envia este pedido insistente aos
cristãos em Tessalônica: “orem por nós”, porque a oração de
cristãos verdadeiros ajudaria imensamente na corrida da Palavra do
Senhor.
Sábio é o pregador que tem olhos para ver essas coisas e que
percebe que seu sucesso depende muito de orações desse tipo em
seu favor por parte do povo de Deus. Como precisamos de igrejas
agora que, tendo o pregador em mente e a Palavra pregada no
coração, orem por ele para que “a palavra do Senhor se propague
rapidamente e receba a honra merecida”.
Há mais um aspecto nesse pedido que é digno de nota: “Orem
também para que sejamos libertos dos homens perversos e maus”.
Tais homens são empecilhos no caminho da Palavra do Senhor.
Não são poucos os pregadores que são incomodados por estes e
que precisam ser libertos de tais homens. A oração ajuda a que tais
pregadores sejam libertos de “homens perversos e maus”. Paulo era
incomodado por tais pessoas e por esse mesmo motivo ele insistiu
que a igreja orasse por ele para que encontrasse libertação.
Resumindo, percebemos que Paulo sente que o sucesso da
Palavra, sua liberdade e alcance estão condicionados às orações e
que o fracasso em orar restringiria sua influência e glória. Sua
libertação de homens perversos e maus, bem como sua segurança,
afirma ele, são de alguma forma dependentes das orações. Essas
orações, embora muito o ajudassem a pregar, iriam ao mesmo
tempo protegê-lo dos propósitos cruéis de homens perversos e
maus.
Em Hebreus 13.18, Paulo abre o coração aos cristãos hebreus,
pedindo a eles que orem em seu favor: “Orem por nós. Estamos
certos de que temos consciência limpa, e desejamos viver de
maneira honrosa em tudo”.
Nesse pedido de oração, são expressos a consciência de Paulo
de sua integridade de coração, seu testemunho interno e
honestidade, além de tratar de uma verdade básica de seu caráter
cristão. Ele não encontra culpa em si mesmo. “Orem por nós.” As
orações de vocês por nós encontrarão em mim integridade,
execução e administração honesta de todos os frutos da oração.
O objetivo do pedido é despertar os santos para a oração mais
fervorosa; mais devoção, persistência e urgência na oração. A
oração afetaria a visita do apóstolo a eles, apressaria e aumentaria
os benefícios dela. Paulo trata Filemom com as expressões mais
abertas e cordiais. Ele está ansioso e espera visitá-lo algum dia e
marca o compromisso. Está certo de que Filemom está orando,
pois, como este se convertera em seu ministério, conclui que
aprendera a lição paulina sobre a oração. Está seguro também de
que a oração abrirá o caminho para a visita, removerá os
empecilhos e os unirá em graça. Por isso, Paulo pede a Filemom
que prepare lugar para ele e acrescenta: “[…] graças às suas
orações, espero poder ser restituído a vocês” (Filemom 22).
Segundo o pensamento de Paulo, seus movimentos eram
impedidos ou auxiliados pelas orações de seus irmãos.

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