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ESPELHO
JOSIANE VEIGA
O HOMEM POR TRÁS DO
ESPELHO
JOSIANE VEIGA
1ª Edição
2018
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou
transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou
arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem autorização escrita da autora.
Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação. Qualquer
semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser considerado mera
coincidência.
Título:
O HOMEM POR TRÁS DO ESPELHO
Romance
ISBN - 9781728959894
Texto Copyright © 2018 por Josiane Biancon da Veiga
Sinopse:
Não há vergonha em um trabalho honesto. Mesmo que os motivos que me levaram a ele tenham sido
escusos e repulsivos.
Definitivamente, esforcei-me para sair daquele círculo onde tudo se resumia a servir os poderosos Turner.
Todavia, a vida me pôs exatamente no caminho de Oliver.
E machucava agora cuidar da filha dele... Filha que ele teve com outra mulher. Mas, o que me restava? Eu
precisava curar as feridas que ele mesmo despertara. Voltar a Ilha de Hill e me tornar a babá da pequena
Cathy fazia parte desse processo.
E quanto a Oliver Turner? Ele que fosse para o inferno! Nunca mais cairia na lábia daquele maldito...
Sumário
JOSIANE VEIGA
Nota da Autora
Dedicatória
Capítulo Um
Amelia, a fedida
Capítulo Dois
RETORNO
Capítulo Três
CATHY
Capítulo Quatro
OLIVER
Capítulo Cinco
PROTEÇÃO
Capítulo Seis
SEMPRE VOCÊ
Capítulo Sete
A REALIDADE
Capítulo Oito
LARNE
Capítulo Nove
A VERDADE
Capítulo Dez
O MAU
Capítulo Onze
MATERNIDADE
Capítulo Doze
O FIM
Epílogo
FUTURO
MAIS LIVROS DA AUTORA
Nota da Autora
Esse é meu último livro de 2018. Até janeiro, não pretendo voltar a escrever, porque foi um ano
extremamente trabalhoso, onde finalizei a saga dos Reinos e me dediquei muito a histórias novas e
diferentes, como Quem tem Medo do Lobo Mau?, com um contexto novo que foi Chicago dos anos 20,
algo que pouco me chamava a atenção até tal livro.
O Homem por Trás do Espelho foi um desafio. Quem é meu leitor, sabe que não escrevo em
primeira pessoa porque sempre me considerei o deus que não se importa nas minhas histórias, narrando
sem sentimentos; e, em primeira pessoa, eu estaria mais intimamente ligada aos personagens. Então, O
Homem por Trás do Espelho foi uma prova a mim mesma. E, felizmente, considero-me satisfeita com o
resultado final. Provavelmente é um dos meus melhores livros de 2018, mesmo tendo sido escrito em
menos de duas semanas e durante o período final das eleições.
Um adendo. O nome Amelia da protagonista é sem o acento. Por quê? Porque é assim que se
escreve ao leste do Reino Unido. Mas, a pronúncia fica abrasileirada mesmo.
Enfim, espero que gostem da história. Foi escrita com um carinho imenso.
Muitos beijos e até 2019.
Josiane Biancon da Veiga,
Outubro de 2018.
Dedicatória
A lunática Cinthia Pires Gutierrez que é um apoio mais que importante à literatura nacional. Estava
de aniversário um dia antes do lançamento do livro, e achei de bom tom agradecê-la em forma de história
por todo o apoio que seu grupo sempre me deu. Muito obrigada minha amada. E muitas felicidades.
Capítulo Um
Amelia, a fedida
S
empre soube que aquele lugar era maldito.
Não que fosse assombrado por ameaças sobrenaturais, mas sim
condenado porque todas as minhas piores lembranças estavam ali, enterradas
entre as rochas elevadas, mergulhadas no mar de águas calmas, leves como a
areia fina e escura que cercava Hill.
A Ilha de Hill era um pequeno amontoado de terra em meio a um vasto
oceano. Alguns quilômetros que poderiam ser cruzados durante um único dia de
caminhada, cercado por uma praia de areia suja e de ondas frias, ficava a oeste
da Grã-Bretanha, próximo o suficiente da Irlanda do Norte, mas conquistada
pelos Ingleses em guerras passadas há muito tempo.
Talvez porque no passado tivesse algum valor. Era o único pedaço de
terra após Portpatrick e, provavelmente, servia de base para abastecimento de
navios que cruzavam aquele estreito.
Mas, as guerras de outrora ficaram exatamente onde deviam: no passado.
Naquele momento, Hill era apenas uma ilha com pequenas casas de pescadores,
onde seus pouco mais de três mil habitantes serviam a um único senhor:
Theodoro Turner.
Os Turners eram pessoas nobres. O primeiro deles começou um legado
de condes que sempre toou aos propósitos da monarquia.
Agora, mantinham na ilha uma fábrica de pescados e um castelo em
estilo vitoriano, e tudo girava em torno da vontade daquela família.
As manhãs começavam sempre às seis horas. Era o horário que a maioria
dos trabalhadores acordava para ir trabalhar. Alguns iam para a fábrica, outros
para os barcos. Os mais jovens - eu me incluía nisso -, iam para a pequena escola
que nos educava.
Nunca entendi porque o filho único de Theodoro foi educado ali, comigo.
Oliver era o herdeiro de uma das famílias mais ricas de todo Reino Unido, mas
sentava-se na mesma cadeira que os filhos dos empregados do pai.
Não que isso fizesse alguma diferença na vida dele. Era arrogante e
presunçoso. Gostava de vestir-se com calças largas e jaquetas de atleta. Talvez
pelo dinheiro e pela beleza, mantinha sempre o nariz empinado, como se
fossemos a escória daquele lugar e devíamos agradecer a Deus por ter sua
sagrada presença entre nós.
Tinha seus amigos, contudo. Membros da alta classe da fábrica. A filha
do administrador, Ava, estava sempre agarrada em seu braço, naquele namoro
que chegava a dar ânsia de tão grudento.
Sempre a observei com admiração e – admito – um pouco de inveja.
Afinal, até o nome dela era bonito: Ava.
Era estranho como a vida sempre dava a algumas pessoas o máximo que
elas podiam aproveitar. Ava, além do nome impactante, era uma linda loira de
corpo perfeito e de aparência impecável. Sempre vestida na última moda,
adorava dançar nos bailes de Hill como se fosse a própria Britney Spears.
Ela sabia que todos a admiravam. Não era à toa que sempre nos olhava
com um leve tom de deboche como se dissesse: “Invejem-me. Nunca terão o que
tenho!”.
E isso era fato. Para nós, o restante daquela ilha, restava saber que Oliver
e Ava eram a aristocracia, e que o nosso pouco dinheiro provinha deles.
Era por isso que eu sempre quis ir embora...
Por isso e por causa do maldito apelido que a própria Ava havia me dado,
e que grudara em mim como chiclete no calçado.
“Amelia fedida!”
Recordo-me que na primeira vez que ouvi aquela alcunha, arregalei os
olhos e pus o nariz embaixo dos braços com rapidez, tentando descobrir se
realmente fedia.
Diante da ausência de qualquer odor, a encarei com questionamento.
Mas, ela não respondeu a minha questão. Diante da gargalhada dos demais
colegas de classe, e do riso elevado de Oliver ao longe, eu passei a ser Amelia
Fedida, a perdedora da escola.
E doía ouvir aquilo, não vou negar. Sempre que alguma professora me
chamava “Amelia Jones”, eu ouvia o “fedida” murmurado ao fundo.
Céus, como machucava... Parecia uma agulha me furando a pele, dia
após dia, até que eu mesma passei a cortar os braços para esquecer a dor
psicológica.
Ninguém reparou, é claro. Além de eu usar mangas compridas o tempo
todo, meu pai, um bêbado sem valor, mal me olhava. Minha mãe foi embora
quando eu tinha sete anos. Conheceu um turista que veio de balsa à ilha, e em
três dias decidiu seguir com ele. Lembro-me de ela vir despedir-se de mim na
escola. Um adeus sem grande emoção. Quando choraminguei ela despejou um
“Não atrapalhe a minha vida!”, e percebi que, para ela, eu era apenas isso: um
estorvo.
Já meu pai nunca me disse nada do tipo. Nem sei se ele reparou que a
esposa o deixou ou que a filha perdedora vivia abatida pelos cantos. Desde que
me lembro, ele gostava de beber até cair. Assim, sempre que aparecia em casa,
era esbarrando pelos cômodos e com olhos apagados pelo torpor da embriaguez.
Foi assim que aqueles piores anos foram se cruzando. E a apenas alguns
meses de concluir o colegial que percebi de onde viera o apelido. Eu morava
num casebre ao lado do armazém onde as sardinhas eram armazenadas.
Minha casa cheirava a peixe, mas eu era tão habituada àquilo que nunca
reparei. E também nunca o senti em mim.
Mas isso não importava. Ninguém ligava se eu me cortava, ou tomava
banhos demorados todos os dias. Ninguém me via encharcando-me de perfume,
gastando o pouco que sobrava das bebedeiras de papai com colônias fortes para
tentar apagar um pouco o horror que sofria na escola.
E tudo por causa daquele casal de namorados: Ava e Oliver.
Eles tornaram minha adolescência um inferno.
Aquela mágoa eu nunca esqueceria.
— “Ela é bela demais pra ser amada e pura demais para esse mundo”
— Oliver leu. — “Até essa noite eu não conhecia a verdadeira beleza...” — Seu
olhar centralizou em mim. — O que pensa?
— Que é romântico? — dei os ombros.
Trabalhar naquelas últimas duas semanas após as aulas ao lado de Oliver
Turner me mostrou alguém completamente focado quando o assunto era
literatura. Eu sabia que ele levava a sério. Que para ele, palavras eram especiais
e mereciam a devida atenção.
— Você não se importa com os sentimentos de Romeu? — ele me
questionou.
— Ele é um personagem.
— Ele é um pouco de todos nós.
— Não de mim.
Oliver sorriu e aproximou-se lentamente. Travei na cadeira, curiosa com
o que se sucederia.
— A morte que sugou-lhe o
mel dos lábios, inda não
conquistou sua beleza.
Do que diabos ele estava falando?
— Olhe para você, Amelia. A morte não lhe sugou a essência.
— Eu não morri.
— Não mesmo? A cada dia que passa nós padecemos um pouco mais.
Talvez você já tenha morrido e nem percebeu.
Desviei o olhar e me ergui. Preparava-me para ir embora quando a voz
dele me estancou.
— Ei, tem companhia para o baile?
O baile que ocorria em julho era sempre muito disputado. Mas,
francamente, nem me passou pela mente que Oliver me indagasse tal coisa. Por
isso, assim, fiquei boquiaberta, sem reação.
— Ava me deu um chute. Você quer vir comigo? — a pergunta parecia
inocente.
Tudo parecia inocente. Naquelas últimas semanas ao lado dele, senti que
poderíamos ter nos tornado amigos. Caso isso procedesse, talvez a perseguição
na escola parasse.
— Eu...
— Eu te encontro no clube às sete da noite, certo?
Depois, ele se levantou.
Algum canto do meu coração pareceu flutuar.
Eu não tinha nada para vestir para ir ao baile. De tal modo, abri o guarda-
roupa onde o restante das vestimentas da minha mãe eram mantidas e procurei
um vestido bonito.
Meu pai entrou na casa pequena e observou a cena.
— O que está fazendo?
— Vou ao baile — contei a ele.
Não acreditava que fosse intervir. Nunca se importou comigo.
— Sabe que vão reduzi-la a pó, não?
Ele disse em voz alta o que a minha mente me alertava o tempo todo.
— Eu prometi — contrariei a ele e a minha própria razão.
O cheiro de uísque chegou as minhas narinas. Logo o observei sentando-
se diante da mesa.
— Está bem. Vou aguardar.
— Aguardar o quê?
— Aguardar você retornar chorando. Estarei aqui porque precisará de
mim — explicou. — E está tudo bem, porque sou seu pai.
Ele era só um velho bêbado que nunca pareceu se importar comigo, mas
naquele instante eu senti um profundo carinho por sua figura decaída.
Mesmo com todos os defeitos, ele não me abandonou. Mesmo que a
esposa o humilhasse perante todos, ele me criou.
— Hill nunca foi nossa casa — murmurou. — Nascemos aqui, crescemos
aqui, mas essa ilha maldita nunca foi nossa casa.
Com aquelas palavras mordazes, eu fui me arrumar para o baile.
Londres, 2018
O homem que me levou até seu escritório era bem diferente do garoto que eu
me lembrava.
Claro, o tempo nos muda. Eu sabia disso. Eu vivi isso. Mas, não esperava
que o tivesse mudado tanto.
Oliver Turner agora com seus mais de trinta anos era bem diferente do
adolescente charmoso que me lembrava. Seu rosto trazia uma carranca marcada
por cicatrizes. Seus lábios finos formavam uma linha reta, como se nunca
sorrisse, e seu olhar parecia ter visto muitas mazelas no universo.
— Nunca pensei que fosse vê-la novamente — ele comentou,
convidando-me a sentar.
Estávamos no seu escritório. O mordomo James havia trazido café e
agora eu bebia o líquido enquanto tentava manter a calma e aparentar completa
apatia.
— Oh, sim. Fui morar em Londres.
— Londres? — ele pareceu surpreso.
— Sim, mas retornei porque preciso de um tempo longe da vida corrida
da cidade grande. Soube que sua filha carece de uma tutora.
— Bom... — ele murmurou. — Você viu a situação de Catherine.
Havia algo na voz dele. Um misto de dor e vergonha. Fiquei irritada com
aquilo, mas tentei não demonstrar.
— É uma menina adorável.
Seus olhos, repentinamente, tomaram os meus. Estremeci.
— Você sumiu depois do nosso beijo — ele murmurou.
Fiquei pasma com a audácia de trazer aquele assunto doloroso de volta.
— Eu era uma menina — retruquei. Segurei o tom de raiva. Quis
demonstrar o quanto aquilo não me abalava. — Ouvi seus amigos rindo e fui
choramingar em algum canto. Você sabe como somos intensos quando somos
jovens. Até o apelido que me deu... Oh, como era mesmo?
— Nunca lhe dei nenhum apelido — ele retrucou.
— Amelia fedida! — exclamei, ignorando sua recusa. — Ah, eu odiava
esse apelido. Levei um tempo para superá-lo.
— Foi Ava — ele insistiu.
— Ava? — ergui as sobrancelhas, parecendo só então me lembrar dela.
— Soube que casaram. Como ela está?
— Estamos divorciados.
— É mesmo? Sinto muito.
Houve um breve silêncio. Oliver parecia me avaliar. Senti-me
incomodada com aquele olhar. Ainda parecia ter algum poder sobre mim e eu me
recusava a aceitar tal absurdo.
— Então? Posso me considerar a babá de sua filha?
Oliver não respondeu. Seus olhos estavam cravados em mim como se
ainda não acreditassem que eu estivesse ali.
— Sim — disse, depois de um certo tempo.
Levantei-me. Estava eufórica por ter acesso a casa e a vida dele.
Esperava conseguir material para Richard. Descobrir seus podres e escancará-los
era um desejo que não conseguia esconder.
A manhã havia iniciado fria. No entanto, ao longe era possível ver o sol
brilhando entre as nuvens.
Pela experiência vivida, eu sabia que logo o dia ficaria claro e
esquentaria. Por isso pus um vestido leve enquanto preparava o café da manhã
no jardim para Cathy.
Ela sempre acordava às nove horas, o que me dava tempo de preparar
coisas nutritivas e saborosas, antes de ir ajudá-la a vestir-se.
Nunca pensei que minha vida poderia se focar nas necessidades de uma
criança, mas não negava que cuidar de Catherine era uma das minhas poucas
alegrias.
Tínhamos uma ligação. Além das palavras cruéis dos demais, também
fomos deixadas por nossas mães. Eu podia me ver nela, e sabia que agora ela se
espelhava em mim.
— O nome dela foi inspirado em Catherine Earnshaw.
Aquela frase me assustou. Abandonei o preparo da mesa e volvi para
Oliver.
Ele estava particularmente bonito naquela manhã. Roupas claras e de
linho. Não parecia o mesmo homem tenso que vivia se esgueirando pela casa.
— Não conheço — repliquei.
— Catherine Earnshaw, a amada de Heathcliff. Nunca leu “O Morro dos
Ventos Uivantes”?
— Vi o filme, serve?
Sim, eu já havia lido o livro, mas queria vê-lo revirar os olhos,
angustiado.
— Eu tenho o livro na biblioteca — ele sugeriu.
— Eu já vi o filme. Por que lerei o livro?
Suspirou zangado. Uma parte de mim sentia aquele prazer culpado por
vê-lo irritado. Outra parte queria afrontá-lo porque se sentia mais inteligente
porque tinha um mínimo a mais de cultura.
— Está me provocando, não está?
Tentei esconder o sorriso.
— Enfim — ele murmurou —, realmente me importei em escolher um
nome bonito para ela.
Meu sorriso findou-se diante da justificativa. Aquele breve flertar foi
cortado pela entrada obtusa do assunto doloroso.
— Está querendo dizer que a ama?
— Eu a amo — afirmou.
— A ama, mas tem dificuldades de olhar para ela?
— Porque sou o culpado — assumiu. — Catherine nunca teria ficado
cega se não fosse por minha culpa.
Senti ímpetos de gritar que ele estava certo. Mas, vi-me a consolá-lo.
— Foi um acidente...
— Eu provoquei esse acidente. A culpa é minha.
Então Oliver volveu-se para a casa. Ao longe, podia ver seu reflexo nos
vidros das janelas. Custou-me a acreditar que estivesse chorando.
Planejei muito como falar com Oliver durante todo o dia. Contudo, no
cair da noite, ao me postar diante da porta do escritório dele, todas as palavras
haviam desaparecido de minha mente.
Mesmo assim, bati. Aguardei. Levou alguns segundos até ele dizer um
“entre”, e eu abrir com receio a porta.
O escritório estava um pouco escuro. As luzes apagadas, mas com o
computador ligado era possível ver o rosto de Oliver Turner a me encarar com
nítida surpresa.
— Amelia?
As palavras pareciam ter desaparecido de minha mente. Meu coração era
amaldiçoado pela paixão reprimida por aquele homem. E a constatação disso se
deu ao fato de que nunca o achei tão bonito quanto naquele instante, o rosto sério
e abatido, cansado, diante de uma tela clara, aonde provavelmente construía
alguma narrativa impactante.
— Não quero atrapalhar seu trabalho — murmurei.
— Não atrapalha. Estou concluindo um capítulo.
Suspirei.
— Nunca perguntei sobre o que escreve.
— Romances. — respondeu. — Ficção, suspense... Não tenho um
padrão.
Quase disse que algum dia leria algo dele, mas a verdade é que jamais
me atreveria a conhecer a alma daquele homem.
Sabia que escritores permitiam que os leitores os reconhecessem
verdadeiramente através de sua escrita. Temia me encantar por Oliver e me
perder para sempre dentro das letras que compunha seus textos.
— Um homem estava tirando fotos de Cathy... — comecei.
Queria explicar para Oliver que Richard poderia ser uma ameaça.
Preocupava-me com a menina. Mas, todas as minhas palavras perderam-se
diante da ação dele.
Repentinamente, Oliver se pôs de pé e avançou até mim. Fiquei em
silêncio, como se assistisse a uma cena de televisão.
Ele era meu ponto fraco...
Vergonhosamente, não me afastei quando suas mãos traçaram círculos
em minhas costas, num abraço confortador. Logo, sua boca me tomou, e todo
assunto que me levou até ali ficou esquecido.
Uma parte de mim ainda se sentia traída e humilhada pelo que ocorrera
anos atrás. Outra, estava completamente entregue a aquele momento sublime.
Por Deus, ser beijada por Oliver Turner me fez sentir mais feliz do que
nunca, cheia de esperanças de coisas boas que se anunciavam, como se depois
daquele beijo, enfim, nós dois pudéssemos construir uma vida juntos.
Eu queria parar.
Implorei a Deus que me ajudasse a parar.
Imagens de uma vida a dois, criando Catherine, tendo outros filhos,
surgiu em minha mente.
Era uma vergonha, mas naquele pequeno lapso do tempo eu deixei de ser
a mulher carregada de barreiras e me tornei apenas a mulher dele. A mulher que
ele beijava e que, pelo mastro firme contra meu ventre, a mulher que ele queria.
Uma réstia de racionalidade me tomou. Apertei a mão de Oliver,
esperando que ele parasse o beijo – pois eu era incapaz disso! —, todavia, o
homem diminuiu o espaço entre nossos corpos.
De súbito, o equilíbrio. Tudo o que acontecera pertencia ao passado, e o
futuro não apresentava o menor sinal de apreensão ou medo. O futuro era algo
novo que poderia ser construído por nós.
Eu podia, não? Podia ter o amor dele...?
— Oliver — murmurou.
— Hum? — Oliver beijou meu ombro.
— Nós... — seus dentes capturaram minha nuca e fui incapaz de
prosseguir.
— Meu amor — ele sussurrou, com os lábios colados em mim.
Ressentimento, recriminação, erros e culpas surgiram como brasa viva
em minha carne, assim, de supetão.
Ele me usou no passado. Encantou-me. Depois, fez pouco caso, riu de
mim. E mesmo que nossos corações estivessem tão próximos, batendo juntos em
total harmonia, eu não podia permitir que o engano me tomasse novamente.
— Me solte — implorei.
E ele soltou. Porque parecia querer se cavalheiro e não queria dar a
entender que poderia ser uma ameaça a mim.
— Me desculpe — pediu. — Por favor, não me deixe novamente.
Suas palavras me chocaram.
Recuei os passos e fugi de sua presença.
Richard e suas fotos ficaram esquecidas.
Tudo que eu lembrava era do quanto Oliver me aquecia e do quanto
àquilo era errado.
Que Oliver não me amasse, não era surpresa. Mas, que ele usasse a
própria filha cega para ter uma mulher que o traiu de volta, era algo inconcebível
para mim.
Deitada no meu colo, Catherine parecia tão pequena, tão encolhida, como
se houvesse um mundo inteiro sobre ela, a pesar-lhe sua pequena alma.
Por que sofria tanto? Diziam que nossa dor era recompensa por nossa
maldade, mas o que aquela pequena criatura havia feito para ser tão usada e
destruída pelos dois pais inconsequentes?
— Não quero que Ava volte para cá — ela murmurou. — Não quero...
Apesar de tê-la chamado de mamãe quando nos conhecemos, agora não
usava esse apontamento. Eu entendia. Eu mesma me recusava a pensar na minha
genitora com esse título. Minha mãe sumiu de minha vida quando eu era
pequena e nunca se preocupou em saber meu destino.
Como uma mulher podia carregar uma criança no ventre por nove meses
e depois esquecê-la como se não existisse?
Céus, eu daria tudo... tudo... cada detalhe da minha vida para poder ter
Cathy para mim.
Abracei seu pequeno corpo, apertando-a contra meu peito.
Eu a amava. Eu não conseguia mais impedir o sentimento. Poderia ser a
mãe dela, a mãe verdadeira dela. Poderia cuidar de suas necessidades, ajudá-la a
enfrentar o mundo, vê-la crescer e tornar-se mulher. Poderia estar ao seu lado
quando se casasse ou quando tivesse suas próprias crianças.
Eu queria Cathy como jamais quis algo na vida.
— Meu amor — murmurei contra seus cachos loiros. — Diga-me: se eu
pudesse levá-la embora, iria comigo?
Senti seu choro sucumbir.
— Como se você fosse minha mãe? — ela questionou.
Senti minha garganta arder pelas lágrimas que me recusava a derramar.
— Eu gostaria de ser sua mãe — disse, tão absurdamente sincera.
— Eu quero que seja minha mamãe — ela sorriu.
E então eu a trouxe novamente para meus braços.
Estava feito. Que Oliver e Ava fossem para o inferno, que o diabo os
carregasse, que queimassem para sempre. Eles fizeram Catherine, mas não a
mereciam.
Agora ela era minha.
Independente do quanto essa ideia era louca, eu lutaria por ela. E eu a
teria. Pagaria o preço que fosse por isso.
Quando abri a porta do meu quarto, ele estava sentado na minha cama.
Travei.
— Aonde foi? — me indagou, como se tivesse algum direito.
— Onde está Ava? — rebati.
— Na casa do pai — informou. — Onde você estava?
— Isso importa?
— Achei que estivéssemos juntos — Oliver teve o descaramento de me
dizer. — Eu quero que estejamos juntos. Sei que está confusa e zangada, mas
deixe tudo comigo, irei resolver essa situação.
Quase ri. Ao preço da dor de Catherine?
Céus, nunca o odiei tanto quanto naquele instante!
— Não estamos juntos — lhe informei.
— Na noite passada...
— Foi só sexo — dei os ombros.
Ele sorriu. Sabia que eu mentia.
— Amelia, você nunca iria para a cama comigo apenas por sexo.
— O que sabe? Nem me conhece. Ficamos anos sem nos ver.
— E mesmo separados por anos, ainda somos estranhamente verdadeiros
quando estamos um diante do outro. Como quando éramos adolescentes.
— Pois é. Nessa época você era apaixonado por Ava. Ainda é?
— Por favor, você sabe que não é verdade. Eu te expliquei na noite
passada...
— Você contratou um jornalista para obrigá-la a voltar para você —
apontei.
— É isso que ela te disse?
— E qual outro motivo você teria para montar um dossiê contra ela? —
indaguei. Queria saber realmente a verdade. — Ava estava quieta no canto dela,
mas você a provocou.
— Essa é a sua verdade, não a minha.
— E qual é a sua?
— A minha não pode ser dita. Ainda não. Precisa confiar em mim. Estou
cuidando de tudo...
Fiquei exausta diante de tanta asneira.
— Por favor, vá embora — disse, abrindo a porta do meu quarto.
Ele se levantou e caminhou até a saída. Antes de ir, seus dedos tocaram
meu ventre. Um carinho confortador, como se quisesse explicitar que tudo
ficaria bem.
— Eu amo você — ele murmurou.
Ao sair, eu fechei a porta. Escorei-me na madeira, até escorregar até o
chão. Minhas vistas estavam nubladas pelas lágrimas, mas eu tentei secá-las
antes que caíssem.
Oliver Turner não podia mais ter nenhum poder sobre mim. Eu não podia
amá-lo. Não era mais uma criança.
Nem sequer uma vítima, pois agora era dona da minha própria razão.
Foi escolha minha entregar-se a ele.
A única vitima naquela história estava dormindo no quarto próximo. E
por ela, eu precisava ser forte.
E eu seria.
Capítulo Oito
LARNE
A ideia de pagar Ava para ter o mínimo de paz não era boa nem nos alegrava.
Mas, como a loira só se importava com dinheiro, eu tentei me ater a essa
convicção.
Catherine ficaria segura conosco, e Ava que vivesse a sua vida como
quisesse. Eu não me importava em ter que lhe destinar uma parte substancial do
lucro da fábrica, se com isso ela permitisse que Oliver e eu vivêssemos em paz
em Hill.
— Vocês ficaram loucos? — Richard quase gritou quando Oliver lhe
contou o plano, no escritório da Mansão Turner.
De canto, eu observei a cena com apreensão.
— Amelia não quer expor Cathy.
— Não há outra forma. Catherine será exposta por essa mãe ordinária
mais cedo ou mais tarde — o jornalista objetou. — Estão apenas adiando isso.
No futuro, será Cathy que terá que arcar com as despesas extravagantes de Ava.
Eu sabia disso.
— Precisamos apenas de tempo — expliquei. — Tenho ciência que é um
peso para Cathy, mas enquanto pudermos evitar que ela seja sujeitada, é o
melhor.
Richard se levantou da cadeira.
— Estão apenas se enganando. Ava é muito pior do que imaginam. Se
precisar, ela mataria a própria filha para conseguir fama.
Fiquei chocada com aquela frase.
— O que quer insinuar? — Oliver disse o que minha mente gritava.
— Ela matou o bebê que esperava — Richard explicou. — Meu filho. —
explanou. — Quando soube que estava grávida, nós já havíamos terminado.
Assim, lhe pedi para não abortar, pois eu criaria a criança. Mas, ela se recusou.
Disse que se não voltasse para ela, iria a uma clínica e depois me enviaria os
pedaços do bebê.
O que era aquela mulher? Que monstro psicopata esteve ao meu lado
durante minha adolescência?
— Não me diga...
— Sim — ele afirmou. — Não recebi pedaços, mas recebi a pontinha de
um minúsculo dedo na minha caixa postal, anonimamente. Nunca procurei a
polícia, nem nada. Até porque em nada ajudaria a questão. Apenas engoli minha
raiva e prossegui, na esperança de um dia poder destruí-la. E esse momento
chegou, mas ambos se acovardam. — Seus olhos, de modo repentino, cravaram
em mim. — Você acha que as pessoas não podem seres maus, mas o mal existe
desde os primórdios e não vai mudar porque supostamente as pessoas podem
mudar. Ava é um demônio e ela vai destruir todos vocês assim que tiver a
possibilidade.
— Como ela soube que você a seguia? — fiz a questão que me
incomodava desde que Ava retornou a Hill.
— Ela deve ter juntado os pontos. Eu jurei vingança e ela soube que eu
estava na Ilha onde ela cresceu e viveu quase toda a vida.
Repentinamente, a voz de Oliver soou, firme.
— Eu sinto muito, Richard. Mas, em jogo está Catherine. E ela é o mais
importante para nós, agora.
Adorei a maneira como ele me incluiu em sua fala. Sorri em sua direção.
— Eu o ajudarei como puder, mas Cathy não poderá fazer parte disso.
Richard se levantou. Não estava raivoso, mas parecia abrandado.
— Não é uma ameaça — explicou, antes de falar —, mas irão se
arrepender. Ava sabe como ferir. Ela não descansará até ter tudo que quiser. E
nesse momento ela quer fama, dinheiro e que ninguém saiba o que se passa em
sua alma. Vocês podem lhe dar a fama e o dinheiro, mas não podem garantir que
o dossiê contra ela surja em algum lugar.
Depois disso, saiu do escritório.
Meus olhos cravaram em Oliver. Richard estava certo e isso me
desesperava.
— Por que ela está aqui?
Obviamente Ava quis me ferir ao indagar aquilo. Estávamos no escritório
de Oliver, e ela sentava-se na mesa diante dele com uma postura irretocável de
quem era a dona do lugar.
— Amelia é minha noiva — Oliver lhe contou.
A gargalhada não tinha graça. Era apenas para me ferir.
— Amelia Fedida será a senhora Turner? — a pergunta me fez fechar os
olhos. Precisava me controlar. — Como pôde ter decaído tanto?
O olhar de Oliver focou-se em mim. Era como se pedisse que eu não
retrucasse. Queríamos a colaboração dela, então aceitei o insulto. Era um preço
baixo a se pagar por paz e por Cathy.
— Eu tenho um valor a lhe oferecer — ele estendeu-lhe um papel que a
fez arregalar os olhos. — Um valor mensal e o silêncio. E, é claro, em troca
quero que aceite assinar um documento oficializando que a guarda de Cathy é
exclusiva minha e que jamais a tentará novamente.
Ela sorriu diante do papel.
— Dinheiro em troca da ceguinha? É um bom negócio — manteve o
sorriso na face enquanto meus olhos encheram-se de lágrimas. — Eu fico me
perguntando o tanto que estão desesperados para que eu não leve Catherine
comigo.
— O que mais você quer? — Oliver estava possesso.
Soube que as coisas terminariam mal depois daquela frase cruel de Ava.
Então, fui até ele e me postei ao seu lado, tentando ajudá-lo a manter o controle.
— O dobro — ela bateu com o papel na mesa.
— Sim — eu respondi por ele.
Aquilo seria terrível, talvez a fábrica falisse. Mas, precisávamos de Cathy
mais do que de qualquer dinheiro. Eu poderia assumir a administração da fábrica
e tentar cortar custos. Oliver poderia assinar alguns contratos novos sobre seus
livros.
— Gostei da sua noiva, Oliver — ela riu. — Então, tragam os novos
documentos na balsa amanhã, às nove. Irei partir, mas antes de ir vou assinar o
que desejam.
Quando ela sumiu, nós dois suspiramos aliviados.
Capítulo Onze
MATERNIDADE
E
u estava tão nervosa que não sentia as minhas mãos.
Oliver entendeu aquilo, talvez por isso, momentos depois, segurava meus dedos,
para me ajudar a suportar aquela provação.
No dia anterior, ele havia passado cada hora em contato com um
advogado pela internet. Os documentos foram preparados e bastava a assinatura
de Ava para que pudessem ser encaminhados a justiça.
Em poucas horas aquele pesadelo terminaria, disse a mim mesma. Ava
seria apenas um nome na lista de pagamentos da empresa. E ela nunca, em
hipótese nenhuma, se aproximaria de Catherine.
— Você acha que ela vai cumprir com o combinado? — indaguei a ele.
Oliver assentiu.
— Ava não é idiota. Ela sabe que se descumprir poderemos levá-la a
justiça. Ela sabe que iremos destruir sua vida deixando claro que ela vendeu a
filha por dinheiro.
O dia estava frio. A balsa balançava levemente sobre o mar. Apertei meus
braços em volta do meu corpo, olhando para a estrada.
Onde estava aquela mulher? Por que não acabava logo com aquele
tormento?
Subitamente, ouvi o som de uma música. O celular de Oliver tocava. Ele
havia recebido uma mensagem e agora a lia em silêncio.
De repente, seus olhos volveram-se para os meus.
— O que foi? — questionei.
— Richard... — murmurou. — Ele largou o dossiê na internet.
Através do próprio aparelho, ele abriu uma aba de navegação. Ao lado
dele, vi um site de fofocas sendo carregado. Uma foto de Ava com a palavra
“escândalo” surgiu em vermelho. Logo abaixo, estava a foto de Cathy e eu no
jardim.
— Meu Deus — murmurei.
Então veio uma dor absurda no coração. Algo que eu nunca havia sentido
antes, mas que eu sabia que pressentia o pior.
Deixei a balsa e corri pelo cais.
— Amelia — Oliver gritou meu nome.
— Preciso ver Catherine — o avisei.
Naquele instante eu soube que havia crianças que nasciam em ventres, e
outras que nasciam no coração. O pressentimento de mãe que tive sobre Cathy
foi tão poderoso que confirmou o que eu já sabia: aquela pequena menina loira e
cega era minha filha e eu a amava tremendamente.
A dmito que não avaliei bem a situação sobre Richard. Eu devia ter imaginado
que ele não desistiria tão fácil assim após Oliver e eu termos jogado a toalha e
aceitado a derrota para Ava.
Talvez porque a conhecesse melhor do que ninguém. Richard havia sido
seu amante, era capaz de ler suas intenções. Ele sabia que Ava era um monstro e
eu me culpei por não ter acreditado nele o suficiente para ter lutado contra ela e
evitado aquela cena deprimente.
— Além de todos saberem quem de verdade você é, Ava, será presa. É
sua punição. Matou meu filho e agora quer matar essa criança. Você é uma
psicopata.
Ava nitidamente ficou sem reação. Enquanto seus olhos estavam em
Richard e sua mente tentava processar a informação de que seus planos estavam
falhos, eu fui me aproximando novamente. Um passo de cada vez. A mão
estendida, tentando pegar Catherine.
— Ainda a tempo de evitar a prisão, Ava — Richard murmurou. — Dê a
criança para Amelia que eu não mostrarei esse vídeo para todos.
Eu percebia a loucura cruzando no olhar de Ava. Era agora ou nunca.
Avancei e puxei Catherine com força contra mim.
Ela gritou.
— Está tudo bem, amor... — eu tentei acalmá-la enquanto se debatia. —
Sou eu, sou eu...
Meu olhar cruzou com Ava. Eu amava a filha que ela renegava. Eu
desprezava o mundo de aparência que para ela era tão importante.
Nós éramos opostas. Mas, subitamente, quando a percebi balançando
para trás, nos vi iguais: humanas.
— Não faça isso! — gritei.
Era tarde demais.
Seu delicado corpo caiu sobre as rochas e, em seguida, o mar a levou.
Epílogo
FUTURO
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura, e teve
em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de vinte livros,
dos quais, vários destacaram-se em vendas na Amazon Brasileira.
Table of Contents
JOSIANE VEIGA
Nota da Autora
Dedicatória
Capítulo Um
Amelia, a fedida
Capítulo Dois
RETORNO
Capítulo Três
CATHY
Capítulo Quatro
OLIVER
Capítulo Cinco
PROTEÇÃO
Capítulo Seis
SEMPRE VOCÊ
Capítulo Sete
A REALIDADE
Capítulo Oito
LARNE
Capítulo Nove
A VERDADE
Capítulo Dez
O MAU
Capítulo Onze
MATERNIDADE
Capítulo Doze
O FIM
Epílogo
FUTURO
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