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Índice

O CEO Viúvo, a Babá e o Prazer Proibido


Sinopse:
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
Juliana
Marco
O CEO Viúvo, a Babá e o Prazer Proibido
O CEO VIÚVO, A BABÁ E O PRAZER
PROIBIDO

JOSIANE VEIGA

1ª Edição

2021

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser


reproduzida ou transmitida por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico,
incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco
de dados sem autorização escrita da autora.
Esta é uma obra de ficção. Os fatos aqui narrados são produto da imaginação. Qualquer
semelhança com nomes, pessoas, fatos ou situações da vida real deve ser considerado mera
coincidência.

Título:

O CEO VIUVO, A BABÁ E O PRAZER PROIBIDO.

Romance

ISBN – 9798524708526

Texto Copyright © 2021 por Josiane Biancon da Veiga


Sinopse:
Marco Soares precisava de uma babá para sua filha. Não uma
mulher para sua vida.
Viúvo, em seu casamento foi traído e apunhalado por sua
falecida esposa. Ele não acreditava mais no amor, mas quando
Juliana surgiu, ele não pôde resistir ao poder que ela emanava.
Todavia, Juliana era mais despedaçada que ele. E tampouco
estava disposta a experimentar o amor. Homens, na sua experiencia,
só causavam dor.
Como duas almas quebradas podiam resistir ao sentimento
que parecia avassalá-los?
Marco

Tudo começou como uma brincadeira. O tipo de coisa que você faz porque
não tem nada para fazer. Faz porque sua vida é uma merda tão grande que
você busca qualquer coisa que te desconcentre da bosta que se afundou...
Um hobby.
Começou assim, mudou minha vida.
Eu trabalhava muito em um escritório, como corretor de imóveis. As
vendas não estavam boas e o trabalho estava dobrado. Os contratos de
aluguel não estavam rendendo, e meu chefe estava me cobrando metas
impossíveis de alçar.
Eu me sentia um fracassado por já ter uma certa idade e não ter
independência financeira, nem autonomia.
Meu casamento também não estava feliz. Minha esposa estava tendo
um caso. Eu sei, pois vi no celular dela mensagens sexuais trocadas com
outro homem. E, para piorar, eu nem me importei. Minha vontade
desesperada era de pedir o divórcio, mas tinha medo de que a irresponsável
que desposei pusesse nossa filha pequena ao alcance de homens de má fé.
No jornal, padrastos andavam abusando de crianças todos os dias.
Estava tão complicado ter qualquer tipo de confiança em Luana que me
submeti a aceitar o chifre em silêncio. Afinal, e se ela colocasse Lizandra ao
alcance de um pervertido?
Infelizmente, Luana não tinha nenhum sentimento em relação a
maternidade. Nós nos casamentos porque estávamos grávidos, e porque eu
basicamente achei que podíamos crescer juntos.
Em um mês vi a merda que fiz.
Luana não queria trabalhar, passava o dia todo tirando fotos com
metade dos seios para fora a fim de postar nas redes sociais, não arrumava a
casa, não queria cozinhar, basicamente eu trabalhava fora e dentro de casa,
sustentando uma garota que estava mais disposta a viver a juventude do que
ser mãe e esposa.
Era isso, basicamente.
Eu estava infeliz. No âmbito pessoal e no profissional.
Então, num grupo de vendas da internet vi que um cara estava
vendendo uma máquina que detectava metais.
Eu gostava de documentários e via muitos homens encontrando
tesouros com tais máquinas. O homem estava se desapegando, então o preço
estava bem em conta... e eu queria algo para me ocupar. Um hobby. Não
esperava encontrar nada mais que uma ou outra moeda velha da época do
Getúlio Vargas. Ou talvez algum cruzeiro enferrujado que ninguém dava
valor. Mas a máquina mudou minha vida.
Não só ela.
Luana também.
Suspiro, sentando-me no escritório da minha mansão.
Ah, como vou explicar isso? Como explicar o exato instante em que
tudo mudou?
Na tarde em que deixei Lizandra na creche, eu vi que Luana iria se
encontrar com outro homem. Ela nem tentava esconder o celular, e hoje
penso se ela não queria alguma reação minha. Mas, a verdade é que eu
estava tão afundado em mim mesmo, talvez num tipo de depressão, que
ignorei a mensagem que vibrava no celular em cima da mesa, desbloqueado.
Fui procurar moedas enquanto Luana foi até um motel com um
motociclista.
Na tarde em que encontrei uma raridade datada da época dos
romanos, enterrada em um campo abandonado perto da Azenha, na minha
cidade Porto Alegre – ninguém sabe explicar como estava lá! – Luana sofreu
um acidente de moto.
Minha esposa faleceu na mesma hora que eu procurava informações
sobre a moeda na internet. Estava falando com alguém de um museu, que
queria fazer um teste de carbono na moeda, quando um policial bateu na
minha porta.
A moeda foi comprada de mim por um colecionador dois dias depois
de enterramos minha esposa. Enquanto me tornei viúvo, virei também
empresário, já que usei o dinheiro da moeda para criar minha própria
empresa. Empresa essa que me deixou podre de rico.
Luana estava morta e eu estava milionário.
Era quase que uma justiça poética.

✽✽✽
Sete anos depois...

Uma das coisas de se criar uma filha sozinho é entender que você
não vai ter o pulso de mãe para ser rígido da maneira que ela precisa.
Eu suspirei olhando o visor do celular. A diretora de um dos
melhores colégios de Porto Alegre me ligava pela terceira vez em quinze
dias.
— Algum problema? — um dos investidores da minha empresa de
transportes indagou, e eu neguei.
— Apenas um assunto particular. Pode me dar licença para atender?
— disse, já me levantando da mesa.
O homem assentiu enquanto eu andava até a janela. Deslizei o dedo
na tela em direção ao ícone verde e disse um “alô” tão desmotivado que tive
certeza de que a diretora o sentiu como se ele fosse tateável.
Ao longe eu vi um quero-quero sentando-se sobre o gramado que
adornava a frente do restaurante na zona sul. Era uma fêmea, logo se
percebia seu instinto de aproximar-se de um ninho, onde a cabeça adorável
de um filhote surgiu entre a relva verde.
Era um problema, minha filha não ter mãe.
Ela era inteligentíssima, com um dom impressionante para muitas
coisas, como arte, oratória e – estranhamente – física. Uma coisa contrastava
a outra, mas Lizandra amava as estrelas e amava qualquer coisa relacionada
a astronomia. Na mesma medida, amava literatura, amava autores
importantes como Alexandre Dumas e Erico Veríssimo, e parecia ter aptidão
para artes plásticas, inclusive pintura.
Eu devia estar orgulhoso... e eu estava! O problema é que seus dons
contrapunham com a personalidade geniosa, o completo desrespeito por
regras, e sua vocação para tornar a vida de qualquer adulto próximo em um
inferno.
— Sr. Marco. Nós já conversamos sobre isso, mas creio que saiba
que a sua filha aprontou de novo. Está se tornando insustentável.
Na nossa última reunião a diretora sugeriu que eu procurasse outra
escola mais preparada para lidar com Lizandra. Eu devolvi indagando se a
escola iria desistir de uma criança.
— O que houve agora?
— O senhor não sabe?
— O que eu não sei?
Era um diálogo idiota que estava me incomodando muito. Ao longe o
investidor me encarou com ar curioso.
— Bom, parece que sua filha entrou escondido na sala dos
professores e mexeu no relógio que aciona o alarme automático. Depois ela
foi em todas as salas do seu prédio e alterou o relógio de cada uma, com
meia hora adiantado. Assim, ela conseguiu que a aula terminasse trinta
minutos mais cedo, causando muita confusão para alunos que esperavam o
transporte assim como para professores que preparavam exercícios. Quando
percebemos o que aconteceu, fomos atras das câmeras para buscar respostas
e descobrimos que foi ela. Indagamos por que fez isso e ela disse que o pai
havia dito que, se ela não gosta das aulas, devia dar um jeito para fazê-las
passar mais rápido.
Eu estava sem palavras. Não foi em absoluto uma ordem para que
aprontasse, apenas... eu estava cansado e não tinha resposta para suas
reclamações. Lizandra odiava a escola.
— Eu estou indo aí.
Desliguei o aparelho e voltei para a mesa.
Explicar a situação para o investidor era algo bem complicado, mas
eu não tinha muita escolha.
— Sou pai solo — finalizei, e o homem arqueou as sobrancelhas.
— Não tem babá?
Parece que ele não gostava de ser preterido por uma criança. As
pessoas achavam que tempo era dinheiro, e odiavam perder tempo com um
empresário que não sabia educar a própria filha.
— Está complicado. Lizandra é uma criança... ah... como dizer... Eu
já a levei a psicólogos. Ela começou a dizer para a doutora que via gente
morta, e que a psicóloga só falava com ela porque já havia falecido também.
O homem riu diante da minha explicação.
— Estou atrás de uma babá. A última me disse que o salário não
valia o trabalho.
O homem gargalhou de novo, e juro que dessa vez eu quase o
xinguei. Minha situação não era engraçada, era desesperadora!
Juliana

Eu estava atrasada para o encontro de meu chefe com o empresário de


transportes Marco Soares. Entrei no restaurante rapidamente, arrumando
minha saia amassada e tentando caminhar com pausas porque o som dos
saltos naquele piso amadeirado estava chamando demais a atenção.
Suspirei ao ver meu chefe Augusto e percebi seus olhos de águia em
minha direção.
Ele era controlador, difícil e odiava atrasos. Eu queria justificar meu
atraso, mas sabia que isso só pioraria o humor dele. Augusto era o tipo de
homem que tratava os empregados com desdém e gritos.
Tudo bem, eu era acostumada aos gritos.
Meu pai era um bêbado alcoólatra que me criou assistindo minha
mãe apanhar. Saí de casa aos dezessete anos porque não aguentava mais
sofrer nas mãos dele, com as surras dele, e fui morar com o primeiro
namorado que me convidou.
Fui de um inferno para o outro.
Meu ex-namorado era tão abusivo quanto meu pai. E ele gostava de
gritar no meu ouvido como forma de intimidação. Eu apanhei dele algumas
vezes até completar dezoito anos e conseguir um trabalho de estágio que me
pagava um salário-mínimo, mas que me deixava apta a encontrar outro lugar
para morar.
Fiquei numa pensão durante três anos, enquanto estudava e
trabalhava, até concluir meu curso de secretariado e conseguir emprego com
Augusto.
De cara, fui informada pelas outras pessoas que uma secretária nunca
ficava mais de um ano com ele. Eu já estava a quatro. Pois gritos eram tão
comuns na minha vida que eu não me afugentava por eles.
Além disso, eu precisava do salário, e do vale alimentação.
— Boa tarde — disse, me aproximando da mesa. Ignorei seu olhar de
quem iria começar a berrar a qualquer momento, e girei meu corpo para trás,
procurando pela companhia de meu chefe. — E o Sr. Soares?
Marco Soares era um empresário importante e eu sabia que Augusto
estava ansioso para fechar negócio com ele.
— Sumiu.
— Como?
— Ele foi atender uma ligação sobre a filha. Daí veio dizer que a
pirralha deu algum problema e que precisava ir até ela. Eu esperei quinze
dias para conseguir um encontro com ele, e ele me deixa sem sequer uma
conversa acertada sobre os negócios?
Meu Deus, ele estava mal-humorado e eu sabia que quando
aconteciam problemas, Augusto ficava assim por dias.
Eu arcaria com as consequências pela irresponsabilidade de outra
pessoa.
— Bom, o senhor estava me esperando? Podemos ir se quiser.
— Acha mesmo que eu ficaria perdendo meu tempo aqui só por sua
causa? Marco foi buscar a fedelha, mas vai voltar. Aliás, você está atrasada.
— Deu um acidente no caminho com uma moto e o trânsito... —
comecei, mesmo sabendo de que não adiantava.
— Então aprenda a ter asas. Não gosto de empregados
irresponsáveis. Eu te coloco na rua se te atrasar de novo. Pobre só dá valor
para o trabalho quando está passando fome!
Eu estava lívida e uma parte de mim quase lacrimejou. Os gritos
eram terríveis, mas a humilhação conseguia ser ainda pior. Eu podia sentir
minha nuca queimando com o olhar assombrado das funcionárias do
estabelecimento. A vergonha tinha que ser pública.
— E não é seu primeiro atraso esse mês...
— Naquele dia eu estava doente...
— Desculpa sua para faltar ao trabalho.
Eu tinha o atestado médico da minha ida ao posto de saúde, mas não
adiantava nada. Eu sabia que se houvesse outra pessoa disponível para
minha vaga, ele teria me despedido naquele dia.
Sentei-me à mesa e, pelo canto do olho, observei meu chefe, que
estava bufando, descontando em mim sua irritação.
Ao todo, esperamos quarenta minutos até a figura de um homem
surgir na porta de entrada. O rosto de Augusto desanuviou e ele sorriu, como
se não estivesse puto pela espera.
— Marco! Deu tudo certo? E sua filha?
— Está na sala destinada a crianças, brincando na cama elástica.
Bom, desculpe o atraso, Augusto.
— Imagine, essas coisas acontecem — Augusto disse, muito
falsamente. — Podemos ir direto ao assunto do contrato que quero firmar
com você?
Marco concordou e então nossos olhos se encontraram por um
momento.
— E você é?
— Juliana. Sou a secretária do Sr. Augusto.
Ele sorriu amplamente e eu senti nele uma gentileza pela qual não era
acostumada com homens. Então me vi sorrindo também. Meu sorriso morreu
quando percebi o olhar azedo do meu chefe na minha direção.
— Minha secretaria estava atrasada, mas chegou pouco depois de
você sair. Ela fará nas anotações.
Eu assenti. Então me sentei, e observei os homens. Augusto ergueu a
mão para pedir mais um café enquanto Marco me encarava novamente.
Ele era bonito. Bem-vestido. Devia ter uns quarenta e poucos anos,
talvez cinquenta. A lateral dos seus cabelos estava um pouco desalinhado,
havia alguns fios grisalhos que lhe davam um charme especial.
— Cadê a garota do café? — Augusto questionou irritado.
Tudo o estava irritando ali.
— Vá atrás de mais café para mim — ele disse, rispidamente.
O olhar de Marco volveu para mim e eu sei que ele percebeu a forma
grosseira no tom de Augusto. Não havia nenhuma educação, nenhum “por
favor”, eu era como um cachorro irritante que ele tocava da mesa com um
“saí daqui, sarnento!”.
Enrubesci, mas levantei-me e fui até a mesa em que havia visto a
atendente poucos minutos antes. Dali, vi uma menina pulando num
brinquedo numa sala de vidro.
Ela sorriu para mim.
Eu me vi sorrindo também. Sabia que era a filha que Marco disse ter
ido buscar. E a achei um pouco diferente do pai, com seus cabelos loiros.
Todavia, ela tinha o olhar do pai. Eu mal havia olhado para o pai
dela, mas estava certa de que ela tinha os olhos do pai.
Acenei para ela, e ela acenou para mim de volta.
— Gosta de crianças? — a atendente surgiu numa porta.
— Oh, não sei — fui sincera. — Nunca convivi com crianças.
— São difíceis, mas é divertido — ela murmurou. — Precisa de
algo?
— Café. Meu chefe quer mais café.
Volvi na direção da mesa dos homens e vi Augusto negando a mão.
Oh Deus, o que era agora?
Corri na sua direção.
— Sim senhor?
— Cancele o café. Nós vamos jantar juntos para acertar o negócio.
Um jantar de negócios é bem melhor que um café da tarde.
Deus, por quê? Eu só queria que encerrassem o dia e eu pudesse ir
para casa. Estava cansada daquele homem, daquela vida, só queria tomar um
banho e ir para debaixo das cobertas.
— É que minha filha tem uma consulta daqui a meia hora — Marco
pareceu perceber meu olhar desanimado. — Eu me esqueci porque estou
sem babá... É muito vergonhosa a situação...
— Imagine, entendemos — Augusto comentou.
Que ódio desse homem falso!
— É a vida de um pai solo — ele sorriu e então estendeu a mão para
Augusto.
Enquanto ele apertava a minha mão, eu imaginava o que ele quis
dizer com pai solo. Era divorciado? Por que a mãe não assumia obrigações?
Marco se afastou em direção a sala envidraçada. Meus olhos o
seguiam e eu fiquei tocada quando o vi sorrindo para a pequena, antes de
pegá-la no colo. Esse homem parecia um pai incrível.
— Está sorrindo feito uma idiota por quê?
Suspirei, com Augusto me trazendo de volta a realidade.
Marco

Ok, eu não devia ter prestado tanta atenção na secretária de Augusto. Mas,
o rosto jovem e delicado de Juliana me chamou a atenção tão logo eu a vi.
Lembrava-me de minha própria juventude, quando eu ainda
acreditava no amor e sonhava em ter alguém para mim.
Neguei com a face, enquanto trocava a marcha do carro.
Essas coisas, esse fogo... isso já não era para mim. Eu tinha uma filha
pequena para criar. Uma garota como Juliana devia ter dezenas de
pretendentes, talvez até mesmo um namorado. Eu não acreditava que já
fosse casada porque era jovem demais.
E se fosse amante de Augusto?
Não... não.
Augusto foi muito nojento com ela. Nossa, seu tom com a garota me
revirou os olhos! Eu tinha minha própria secretaria, Vanda, e jamais falei
com ela naquele tom.
Que vontade de dizer umas boas verdades para ele. Todavia, eu não
sabia o tipo de relação que eles tinham e não queria me envolver. Ainda
assim, fiquei tocado na vontade de resolver aquilo, dizer que se o homem
gostava tanto de gritar, que gritasse com um homem, não com uma mulher
tão...
Suspirei.
— Papa, o senhor entende que o telescópio que me comprou é de
cinquenta milímetros e eu preciso de um de setenta? – a voz infantil de
minha filha me fez prestar atenção nela.
— Mas... você não pode ver as estrelas com esse que eu lhe comprei?
Oh céus, eu não entendia nada de telescópio, e quando fui comprar
um, o vendedor me disse que cinquenta milímetros estavam bom para uma
criança.
— Não posso ver a Monóceros com ele.
— Mono o quê?
— É uma constelação.
— Certo. Mas, porque precisa ver essa constelação em especial.
— Eu já lhe disse. Nunca presta atenção em mim. Nunca presta
atenção no que eu falo.
Ah, cacete! É verdade, ela falou muito disso, mas eu não entendia
nada, Lizandra apontava números e cálculos e para mim aquilo parecia
aramaico.
— Ah, é mesmo. É o negócio cor-de-rosa, né?
— Nebulosa Roseta, pai — ela corrigiu, revoltada.
Deus, eu precisava de uma mulher. Uma mulher para cuidar dela e
ficar ouvindo minha filha falar de estrelas e planetas, incentivando-a nos
seus hobbys. Eu não tinha tempo, nem inteligência suficiente para entender.
O problema é que eu não tinha sorte. Não foi apenas a mãe de
Lizandra. Eu já sai com várias mulheres desde que fiquei viúvo, mas
provavelmente era maçante demais para elas.
Sem emoção.
Sou do tipo que só sabe ganhar dinheiro e ir para casa no final do dia.
Encontros, festas, clubes... essas coisas não me atraem. Eu prefiro procurar
moedas, andar pelo mato, ver a natureza, do que me empreitar no que hoje
chama tanto a atenção das garotas.
Há um ano eu saí com uma garota especial. Ela também curtia as
mesmas coisas que eu. Todavia, ela não aceitava Lizandra. Sei que minha
filha tem dificuldade de causar simpatia com sua personalidade difícil, mas a
questão entre as duas ficou insustentável, e eu tive que escolher.
— Papai! E então?
— E então, o quê?
— Viu como não presta atenção em mim?
Eu olhei pelo retrovisor e a vi sentada no banco atrás de mim. Seus
cabelos loiros balançavam ao vento que entrava pela janela do veículo.
— Feche a janela. O ar está ligado. Não sabe que é perigoso?
— Meu telescópio? — ela retorquiu.
— Certo. Vou comprar.
Era mais fácil gastar do que discutir a questão.

✽✽✽
Augusto me encarou com seriedade quando entrei no restaurante com
minha filha.
— Desculpe. Vanda não podia ficar com ela essa noite e eu estou sem
babá — voltei a explicar.
Ele assentiu. Eu pedi que Lizandra cumprimentasse as pessoas,
educadamente, e depois a levei até a área infantil, onde outras crianças
brincavam numa piscina de bolinha.
“Deus, que ela não me apronte hoje”, orei enquanto a deixava lá.
Quando voltei a mesa, Augusto não estava em canto nenhum.
Encarei Juliana que respondeu:
— Sr. Augusto foi ao banheiro.
— Ok.
Juliana desviou o olhar, sua boca com um sorriso sem graça, como se
fosse forçada para estar ali.

✽✽✽
Havia apenas cinco outros clientes no restaurante quando nossa
reunião foi encerrada. Lizandra estava sentada perto de uma televisão
assistindo um filme da Disney, mas parecia sonolenta, enquanto Juliana
estava quase fechando os olhos. Já Augusto estava satisfeito pelo contrato
firmado.
Meu olhar foi de minha filha para a secretária de Augusto, e eu me
culpei por submetê-las assim.
— Bom, eu sinto muito por termos demorado tanto — disse a ela.
— É obrigação dela me acompanhar em reuniões para fazer
anotações - Augusto apontou.
Ok. Isso estava me incomodando. Isso estava me incomodando
muito. Por que diabos Augusto a tratava tão mal?
Juliana baixou a cabeça, enquanto fechava sem caderninho. De
repente ela se levantou e nos encarou.
— Vou ver a criança. Parece estar quase dormindo.
Meu olhar a seguiu. Ela se aproximou de Lizandra e as duas
começaram a conversar, eu não sabia sobre o quê.
— Ah, está difícil achar uma boa secretária hoje em dia — Augusto
reclamou.
— Por que diz isso? A achei muito competente.
— Você não sabe como é a realidade. Esses funcionários sempre
querem mais e mais. Ontem ela me trouxe uma nota do sindicato dizendo
que eu devia lhe pagar o vale transporte.
Era um direito dela.
Eu me lembrei vagamente da época que fui humilhado por meu chefe
por exigir um auxílio creche por causa de Lizandra. Ele havia dito
claramente que pensava em me demitir e contratar alguém sem filhos.
— Bom, eu preciso ir — murmurei.
Então me levantei, sem me despedir. Estava enojado com a maneira
daquele homem lidar com alguém tão...
Fechei os olhos. Logo me aproximei de Lizandra. Juliana me encarou
e estendeu a mão.
— Foi um prazer, Sr. Soares.
— O prazer é meu, Juliana. Aliás, Juliana de quê?
— Ferreira.
E então ela voltou para perto do chefe. Meu olhar ficou nela, até um
risinho debochado me fazer encarar a pequena loira.
— O que foi?
Lizandra estava sorrindo.
— Ela disse que o chefe dela é horrível! Que é pior que esse filme
que eu estava assistindo.
— É a Bela e a Fera — constatei, olhando o televisor. — É um dos
melhores filmes que existe...
— A bela está sendo interpretada pela Emma Watson. E eu não gosto
dela.
Meu Deus, por quê?
— Eu gostei da Juliana — ela disse, e eu soube que as duas haviam
se apresentado.
— É mesmo? Fico feliz.
— Ela não me tratou como uma criança retardada como você me
trata.
Lá vamos nós...
— Quando eu a tratei assim, Lizandra?
— Você me deu um DVD da Xuxa. A gente nem tem aparelho de
DVD.
Isso já fazia cinco meses. E ela não esquecia.

✽✽✽

Eu não dormi naquela noite, pensando em Juliana. Não, não foi nos
quadris largos, e no busto grande e apetitoso, nem no seu olhar lindo, no seu
nariz arrebitado ou na sua boca apetitosa.
Eu só conseguia pensar em como Augusto a estaria tratando. E em
como devia ser para ela ir trabalhar todos os dias sendo submetida a um
chefe insuportável.
Ela devia sair daquele emprego. Eu sei que não está fácil encontrar
trabalho, mas o tratamento de Augusto beirava ao assédio moral.
Enquanto entrava no escritório, puxando Lizandra pela mão, recebi
um olhar curioso de Vanda.
— Ela está com problemas na escola.
— A professora é muito burra — minha filha retrucou e eu a fuzilei
com os olhos.
— Olhe como fala da sua professora! Tenha respeito!
— Ela disse que evolucionismo é ciência provada, por isso que ela só
ensinava isso na classe, mas eu acredito que fomos trazidos para esse planeta
pelos extraterrestres.
— Isso é só uma teoria, Lizandra.
— Assim como o evolucionismo. Ou você acha que já o provaram.
Como você é ingênuo, papai.
Enquanto Vanda riu, eu indaguei aos Deuses – ou aos ETs – o que foi
que fiz para merecer isso.
— Estou sem babá, então Lizandra ficará no escritório hoje. Por
favor, arrume algumas canetas e alguns papeis para ela se entreter.
— Ele acha que eu vou desenhar — ela debochou e Vanda riu
novamente.
— Bom, seu pai tem muito o que fazer hoje. — Vanda disse a ela, e
Lizandra pareceu pensativa.
— Eu trouxe o meu celular — ela ergueu um aparelho e eu respirei
aliviado porque soube que ela passaria boas horas jogando.

✽✽✽
— Nunca é bom falar disso, Marco, mas... na sua situação... talvez
um internato...
Eu encarei Vanda. A minha porta estava fechada e Lizandra estava na
recepção.
— Não posso me afastar da minha filha, Vanda.
Minha secretária assentiu, compreensiva. Mas eu sabia que ela não
entendia. Nós dois flertamos algumas vezes e parecia que Lizandra era o
único empecilho para avançarmos. Vanda não estava disposta a me ajudar a
cuidar de minha filha.
— Sabe... Ontem... Nossa, Augusto é um merda - mudei de assunto.
— O investidor?
— Sim, ele trata a secretária dele como um lixo.
Vanda arrumou alguns papeis em seus braços, enquanto murmurava
algo. A encarei curioso.
— Oh, só estava pensando alto.
— Sobre o quê?
— Vi a moça ontem aqui, e ela parecia jovem, infeliz e deslocada.
Unha de fome como é Augusto, aposto que seu salário é uma miséria. Será
que ela não gostaria de trocar de profissão? Se eu tivesse um chefe como
Augusto, iria preferir cuidar de uma criança do que aturar um cavalo dando
coices como ele.
E a luz da sabedoria iluminou minha mente.
Juliana

Não consegui terminar o trabalho da manhã. Primeiro porque Augusto me


fez sair as 08:30 para ir procurar café para ele na padaria da esquina, pois a
cafeteira do escritório não estava ligando. Depois, ele me entregou vários
contratos que eu devia digitar, recolher sua assinatura, scanear e enviar para
diversas filiais ao longo do Rio Grande do Sul.
Havia dito ao meu chefe que o computador estava lento e com
problemas, mas pessoas ricas não se importam com as dificuldades dos seus
funcionários. Ele me ignorou e continuou exigindo que eu fosse rápida,
mesmo que a máquina não respondesse a todos os meus comandos.
As onze e meia ele saiu para almoçar. Antes me disse que eu não
devia ir sem enviar a documentação. Portanto, quando finalizei já eram doze
e quarenta e eu teria pouco mais de meia hora para engolir algo e voltar para
minha rotina da tarde.
Entrei no elevador, de repente depressiva sobre a vida que eu estava
levando. Eu trabalhava muito, ganhava pouco, não tinha amigos, nem
família, sequer um namorado. Temia que os anos fossem passando e eu não
vivesse nada, que eu me arrastasse até que me afundasse em doenças e
velhice.
A porta do elevador se abriu e eu dei de cara com um homem que eu
conhecia.
— Sr. Soares?
O homem me encarou com muita surpresa.
— Juliana? Não sabia que ainda estava no prédio. Eu iria deixar um
bilhete embaixo da porta do escritório.
Ele sorriu para mim. Seus olhos eram azuis penetrantes, e ele tinha
pequenas covinhas nas bochechas.
— Oh, eu tinha muito trabalho.
Eu saí do elevador. Fiquei cara a cara com aquele homem. Ele era
muito bonito.
Enrubesci, afastando os pensamentos. Eu não queria pensar na
aparência daquele homem, mas era impossível ignorar o quanto ele chamava
a minha atenção, apesar de ser bem mais velho que eu.
— É algum recado para o senhor Augusto?
— Não. Eu queria falar com você. Iria deixar meu telefone para que
me ligasse.
Meu alerta acendeu. Sim, eu o achava bonito, mas não estava com
disposição para ir transar com um cara rico simplesmente porque ele pudesse
me dar presentes. Afinal, eu sabia que um cara daqueles jamais olharia para
uma pobretona como eu com alguma intenção séria.
— Sobre o quê?
— É um assunto meio delicado...
Seu olhar desceu para o meu corpo. Eu quase fiquei ofendida,
quando reparei que ele percebeu o que fez, arregalou os olhos e deu um
passo para trás, envergonhado.
— Ah, desculpe... isso pareceu meio...
— Tudo bem. Qual é o assunto?
— Reparei que Augusto é um chefe difícil.
— Sim.
— E pensei... Pensei se você não estaria disposta a trabalhar para
outra pessoa.
Parecia um sonho. Todavia, o olhar dele segundos atrás me enervou.
E se eu saísse desse trabalho certo, que apesar de sugar minha alma pagava o
salário em dia, fosse trabalhar para ele, e depois ele me colocasse na rua
porque não me joguei aos seus pés.
Augusto era um cretino, mas nunca tentou abusar sexualmente de
mim.
E eu sabia que era comum alguns chefes tentarem subjugar suas
subalternas. Eu mesma vivenciei isso em um estágio.
— Eu não tenho muito estudo, apenas um curso de secretariado.
Então não sei se o senhor teria algum cargo para mim, já que o Sr. Augusto
não se incomoda com isso.
Na verdade, quando eu surgi pedindo emprego no seu escritório, sua
outra secretaria havia se cansado dele, e o deixado sem aviso prévio. Ele
estava desesperado, e eu era uma presa fácil. Aguentava seus rompantes
porque não tinha escolha.
— E você ganha bem?
— Salário comercial. E vale alimentação.
— Posso te pagar o dobro, mais vantagens além do vale alimentação.
Plano de saúde, auxílio transporte, essas coisas.
Ok. Ok. Agora ele chamou minha atenção.
— Mas, entende que eu só tenho um curso de secretariado?
— Na verdade a vaga que eu quero te oferecer não exige que tenha
um diploma. Só paciência.
Fiquei intrigada com a maneira que ele disse isso. Parecia sério,
cansado, desesperado.
— Que tipo de trabalho é?
— Antes de dizer, preciso que saiba que talvez tenha que fazer hora
extra, mas eu vou pagar por tudo.
Aham. Agora sim eu percebi o desespero nele.
— Está me assustando, Sr. Soares.
Seus olhos arregalaram, e ele mordeu o lábio. Depois ele deslizou
seus dedos pelo cabelo, fechando os olhos. Por alguns segundos, eu fiquei
deslumbrada pela sua imagem impactante, mas logo voltei a razão.
— Parece um trabalho difícil.
— É mais um trabalho... que você precisa ter “jeito” para fazer.
Marco parecia estar buscando as palavras, sendo extremamente
cuidadoso.
— É sobre minha filha. Você a conheceu...
— Sim, a menininha loira.
— Isso. Ela precisa de uma babá.
Era essa a vaga? Ele iria me pagar o dobro que eu ganhava e mais
benefícios para ser uma babá?
— Não vejo porque é tão difícil...
— Ok — me cortou. — Eu vou ser sincero porque não adianta mentir
para você. Lizandra é muito complicada. Muito — destacou. — Ela é
extremamente inteligente, mas é enervante, as professoras a odeiam, e a
diretora da escola particular que a coloquei não quer mais ela na escola.
— Estão se desfazendo de uma criança? Isso dá processo!
Certo! Lá estava eu, super revoltada e protetora com uma criança que
eu mal conhecia.
— Se você conhecer Lizandra saberá que a diretora não está errada.
Eu nem posso culpá-la. Lizandra é... Oh Deus, como vou explicar?
Eu fiquei em silêncio até ele deliberar sobre a questão.
— Olhe, o importante é você saber que é um cargo difícil e eu estou
pagando mais porque... é difícil — ele repetiu.
— Você parece estar me vendendo a imagem de que eu seria babá do
próprio Lúcifer.
— Te garanto que se ela for para o inferno, toma o cargo dele.
Ok. Eu ri.
— Sinceramente, eu não a achei difícil.
— Sim, eu sei. Ela gostou de você.
— Ela disse isso?
— Ela não te criticou como faz com todo mundo. Ao contrário, disse
que a tratou como uma pessoa normal.
— Bom, ela é uma criança. Eu a tratei...
— Falou mal de Augusto para ela. Ela adorou.
Enrubesci, completamente envergonhada.
— Não estou criticando, eu vi a maneira como ele te tratou. Imagino
como seja difícil ter um chefe tão babaca.
Lá fora o estrondo de um trovão seguiu-se a um iluminar de um
relâmpago. Olhei para a rua, e de repente me senti livre.
Eu nunca havia me sentido livre antes.
— Eu aceito.
— Mesmo?
— Só preciso avisar o Sr. Augusto.
— Certo. Aqui — ele me estendeu um cartão. — É o telefone do meu
escritório. Fale com Vanda, ela vai encaminhar sua documentação. Quando
pode começar?
Ele estava com pressa. Eu devia dar o aviso prévio a Augusto, mas
de repente me senti tão má quanto diziam ser Lizandra.
— Amanhã.
— Oh, Deus, isso é maravilhoso!
Ele pegou nas minhas mãos e apertou, completamente agradecido.
Quando sai do prédio para almoçar, andei até um restaurante um
pouco mais caro perto da Avenida Ipiranga.
Hoje eu iria comemorar.
Marco

Ela concordou.
É isso.
Ela concordou.
Meu Deus, ela nem imaginava onde estava se metendo.
Mas, eu a avisei. Eu expliquei detalhadamente que Lizandra era uma
criança difícil. Talvez Juliana acreditasse que tivesse experiência com
crianças e conseguiria controlá-la.
Ai caramba... Ela iria cair do cavalo.
Mas, que escolha eu tinha, além e jogá-la aos lobos? – em lobos, leia-
se a criança mais complicada do mundo! Ao menos eu havia resolvido o
meu problema, e teria alguém para olhar Lizandra enquanto eu trabalhava.
Oh... eu também teria que encontrar uma nova escola para minha
filha...
E se eu conseguisse um professor particular?
Será que no Brasil aceitava-se que Lizandra tivesse aulas particulares
em casa? Li em algum jornal que uma jovem que estudou em casa não
conseguiu entrar na faculdade por falta do diploma do ensino médio. Eu não
queria complicar a vida da minha filha no futuro, mas não sei que escola
escolher, porque ela parece não se dar bem com ninguém.
Pensei na minha falecida esposa. Ah Luana, por que você foi morrer?
Se estava tão infeliz no casamento, a gente podia ter se separado. A cada dia
que passava, eu mais a desculpava pela forma que encarou seus dias. Acho
que eu também queria me afundar numa existência desgarrada para esquecer
os problemas.
Se bem que... Eu jamais faria nada para colocar minha filha em risco.
Deus, eu amava Lizandra. Amava. Ok, ela me deixava louco, era uma peste,
mas não conseguia evitar de sentir um absurdo orgulho por sua inteligência.
A quem ela puxou, eu jamais vou saber. Só sou rico pela sorte e porque
trabalho igual uma mula. Mas Lizandra, se tivesse um pouco mais de
maturidade emocional, conseguiria ter sucesso profissional apenas pela
mente ágil e a forma rápida de pensar.
— Por que está rindo? — minha secretária questionou, entrando na
minha sala e me entregando papeis.
— Rindo?
— Pois é, está rindo sozinho.
Só então eu percebi que o pensamento de ter Juliana e Lizandra
juntas me deixava muito feliz.

✽✽✽
— A casa é grande, como você pode ver. Está um pouco empoeirada
porque não pude fazer faxina essa semana... — expliquei para Juliana que
me encarou com olhos arregalados.
— Você não tem empregada?
É... eu teria que explicar que mesmo sendo um homem rico, com
uma mansão no centro de Porto Alegre, não tinha empregados.
— Lizandra não... ela...
— Sua filha te tem na mão, não é? — ela riu, me dando um tapinha
nos ombros.
Oh, cara... eu queria sentar-me no colo dela e chorar.
— Tenho uma senhora que vem uma vez por semana fazer a faxina,
Lizandra a aceita. No mais, sou eu que limpo tudo. Lizandra...
— Lizandra tem um temperamento terrível — ela apontou. — Você
já me disse. Não tem problema...
— Olha, estou te dizendo... Não é que ela seja mimada... talvez um
pouco...
— Está tudo bem.
O autocontrole de Juliana me fez encará-la com outros olhos. Havia
algo na maneira dela que me trazia conforto e tranquilidade. E isso não
parecia bom, porque sentir algo além de respeito pela babá da minha filha
podia me deixar sem uma babá para minha filha. Lizandra vinha sempre em
primeiro lugar.
Mesmo assim, era inevitável. Juliana tinha um olhar firme, ombros
retos, e a cabeça altiva. E ela mexia comigo. Nem sei por que, mas mexia.
Talvez eu estivesse tempo demais sem uma mulher.
De repente, som de passos na escada. Olhei para cima, ainda eram
oito horas da manhã e Lizandra não costumava acordar cedo.
— Filha, lembra-se de que eu disse que você teria uma nova babá?
Essa é Juliana...
— Eu me lembro dela, papai — Lizandra sorriu.
Eu não sabia se era gentileza ou planos maldosos.
— Se comporte com ela, entendeu?
A menina assentiu. Com Lizandra, nunca dava para saber com
certeza se ela cumpriria o trato.

✽✽✽
Eu esperei o dia todo por um telefonema revoltado. Esperei pelo que
quer que fosse que Lizandra aprontaria com Juliana. Mas, ela não me ligou.
Meu coração estava aos saltos imaginando que a mulher havia desistido de
tudo e ido embora sem me comunicar, quando entrei pela porta da frente da
minha casa, já noite.
Meus olhos caíram em Lizandra que estava assistindo a um dos
documentários do History 2. Juliana estava ao lado dela, os olhos
arregalados vidrados na televisão.
Talvez tenha sido o silêncio que me assustou. Onde estavam os
gritos?
— Boa noite?
Lizandra voltou-se para mim. Logo ela corria na minha direção e me
abraçava.
— Papai!
— Você teve um bom dia?
— Sim! — ela vibrou. — Juliana e eu fizemos bolo, fizemos as
unhas, depois ela me ajudou com a lição, e depois nós assistimos um filme
sobre Nefertite, uma rainha do Egito. Sabia que o marido dela amava o sol?
Eu sabia exatamente que ela não estava falando do calor do astro, ou
de forma poética, e sim do fato de o sol ser uma estrela.
— Ele era monoteísta — ela me contou.
Eu assenti como se soubesse do que ela estava falando.
Juliana se levantou do sofá e se aproximou. Por alguma razão, eu
vibrei por vê-la, e fiquei aliviado por Lizandra parecer não ter aprontado
nada.
— Bom, eu tenho que ir — ela disse. — Foi um bom dia...
— Eu posso falar com você um minuto? — indaguei.
— Peça para ela ficar, papai — Lizandra disse, e eu sei que
enrubesci.
— Eu estarei aqui amanhã, Lizandra — explicou.
Não consegui esconder a surpresa ao ver que Lizandra respeitou as
palavras, sem fazer birra ou agir como um demônio tentando convencer uma
freira a pecar.
Juliana e eu nos aproximamos da porta, enquanto Lizandra se
afastava, voltando para o sofá.
— Foi um dia tranquilo?
— Sua filha é maravilhosa — ela apontou.
Eu quis rir, mas estava assustando demais para isso. O que Lizandra
estava aprontando? Talvez ela estivesse enganando Juli...
— Ela é inteligente demais, e as pessoas não a incentivam a isso, só
ficam tratando-a como se fosse diferente. Devia ter orgulho dela.
Eu tinha. Mas... aquele tom? Era uma reprimenda?
— Eu...
— Desculpe minha franqueza, mas eu adorei o dia. Eu aprendi muito.
Lizandra sabe muitas coisas sobre as estrelas, e tudo sobre astronomia a
fascina. Ela me disse que quer estudar física. Eu acredito que ela será uma
cientista maravilhosa.
— Ela tem um temperamento difícil — perseverei.
— Ela só se protege de gente ignorante que não entende o quanto ela
é especial.
Depois que Juliana saiu, eu fiquei parado perto da porta, absorvendo
as informações. Era a primeira pessoa que elogiava minha filha daquela
maneira, admirada pela sua forma de agir.
Mas, ela foi bem grossa comigo. Parecia que estava ressentida por
tudo que eu disse sobre Lizandra quando lhe ofereci o trabalho.
Eu sorri. Dessa vez não precisei de minha secretária para me apontar
o fato. Era a segunda vez naquele dia que eu sentia isso, ao pensar em
Juliana.
Juliana

O cheiro de álcool estava lá, impregnado no ar. A casa que eu cresci


sempre teve aquele odor amargo, pesado, de sofrimento constante.
Entrei na sala. Os meus pés pequenos bateram no assoalho de
madeira, causando um som perturbador. O homem alto tirou os olhos do
televisor e me encarou.
— O que foi?
— Mamãe mandou avisar que o jantar está servido.
Ele me olhou dos pés à cabeça. Meu pai sentia-se enojado ao me ver.
Eu era uma coisinha sem graça, sem talento, notas medianas, personalidade
maçante, inteligência medíocre.
— Já estou indo — ele murmurou, volvendo-se para o copo, a fim de
sorver o último gole do líquido colorido.
Quando ele se colocou de pé, eu percebi que estava bêbado. Como
sempre. Mas, a cada dia que passava parecia ter menos resistência ao álcool.
Seus passos cambaleantes foram dados em direção à porta da cozinha,
quando enrolaram-se.
Eu tentei ir até ele. Mas, ele era pesado e me vi caindo com ele no
chão. O som chamou a atenção da minha mãe, que correu até a sala, e com a
voz parcimoniosa se aproximou do marido.
— Você é uma imundície, Juliana! Por que não cuidou do seu pai?

✽✽✽
Era meu aniversário de dezesseis anos. Não que eu esperava uma
festa, mas quando entrei em casa voltando da biblioteca da escola, senti o
coração aos saltos ao ver meus pais parados no meio da sala.
Esperei pelos parabéns, pelos cumprimentos, mas minha mãe virou
de costas e saiu. Então, meus olhos prestaram atenção no meu pai. Ele não
estava bêbado. Sua sobriedade destacava seu movimento de mãos firme,
enquanto puxava a cinta.
Eu sabia o que aconteceria. Eu seria espancada. Meu pai caiu no dia
anterior, e a culpa era minha.
— Você só me dá trabalho! Uma inútil que nunca prestou para nada.
Seus julgamentos doíam demais. A dor pulsou no meu coração e
transpareceu em meu rosto.
Quando abri os olhos daquele sonho vindo em forma de recordação,
senti que as lágrimas já molhavam meu travesseiro.

✽✽✽
Talvez Marco Soares lembrasse meu pai. E por isso despertou em
mim uma raiva incontida. Da mesma maneira que Lizandra, também fui uma
criança subestimada. Diferente dela, eu não tive pulso para me impor.
Contive as lágrimas porque odiava chorar. Eu já não era mais uma
menina, e Marco não era nada meu. Eu devia lembrar-me que aquele homem
não tinha o direito de mexer comigo, suas opiniões e posições não deviam
despertar nada em mim. Eu sou apenas uma funcionária e sou paga para
cuidar da filha dele.
E que garota ela era!
Eu não precisei de nada para despertar a amizade da pequena, além
de lhe tratar com respeito e educação. Entrei no ônibus, a imagem de
Lizandra tomando conta da minha cabeça.
A mãe dela devia ser loira. Pois Marco tinha os cabelos escuros
como a noite.
Apertei meu punho, tentando evitar de visualizar a imagem daquele
homem pecaminoso em minha mente. Toda vez que eu estava perto de
Marco, alguma coisa eclodia na minha alma.
E isso não era bom. Nada bom.

✽✽✽
— Você tem namorado?
Marco Soares estava parado ao lado da mesa, na cozinha, servindo-se
de uma xícara de café. Eu estava arrumando o cereal de Lizandra quando a
pergunta dele me fez arregalar os olhos?
— O quê?
— Só curioso...
Era meu direito ter minha vida pessoal mantida de forma privada.
Contudo, eu não vi maldade ou malícia na pergunta, apenas, definitivamente,
curiosidade.
Marco Soares tinha a estranha mania de parecer me tratar como uma
velha amiga, apesar de eu saber que nós dois não éramos amigos, nem
seríamos.
— Não.
— Mas, já teve?
— Sim. Já morei com uma pessoa. Não deu certo.
— Sinto muito. Sei como é. Meu casamento também não deu certo.
A imagem de Augusto comentando que Marco era viúvo chegou à
minha mente, mas a forma com que ele falou do caso parecia indicar
divórcio.
— Sua esposa faleceu, não?
— Sim. Mas nós dois... — seu tom era negativo. — Sabe... Era
questão de tempo para um de nós pedir a separação.
— Lamento — disse, por cordialidade.
Marco balançou a cabeça, aceitando o cumprimento. Depois, ele
largou a xícara na pia e olhou o relógio. Ele não explicou por que o
casamento não deu certo, nem eu perguntei. Parecia o máximo que
avançaríamos, quando seu tom me fez arregalar os olhos.
— Sabe, Juliana... Eu reparei nos seus horários desde que começou a
trabalhar para mim. Você chega cedo, sai tarde, faz hora extra sem
questionar, nunca indica ter outro compromisso, e já vi seu Facebook, não
parece sair para se divertir. Você é muito jovem, não desista de encontrar a
felicidade porque não deu certo com seu namorado.
Eu sorri para ele, fingindo aceitar suas palavras. O que eu passei nas
mãos do meu pai, e do meu único namorado, me serviu de escola. Eu jamais
ficaria à mercê de outro homem novamente.
Marco

Eu não devia ter dito aquilo para ela. Não era meu direito envolver-me em
sua vida pessoal. Isso que eu nem pensava na hipocrisia do meu conselho.
Dizer para Juliana não desistir do amor - quando eu mesmo já havia
desistido - era o cúmulo da vergonha alheia.
Contudo, ela era tão bonita. Tão jovem. Ver a completa apatia dela
em relação aos detalhes da vida me incomodava muito. Juliana mereceria o
amor, merecia viver mais do que...
Ah, cara...
Ok. Um monte de sensações desconhecidas estava tomando conta de
mim, relacionadas a babá de Lizandra.
E isso não era normal e estava me assustando para caramba. Não
tinha um bom histórico com mulheres e, de repente, eu passei a acreditar
que...
Que o quê?
Estava louco!
Eu não devia estar pensando em Juliana daquela forma. Era ridículo,
nojento... eu estava com vergonha de mim mesmo. Juliana ainda era uma
menina...
Bom, nem tanto, mas ela parecia jovem demais.
Mesmo assim, como mentir para mim mesmo o quanto ela estava me
afetando? O quanto eu ficava pensando nela por horas? O quanto eu gostava
de vê-la na minha casa, perto da minha filha? O quanto o perfume suave dela
me deixava inebriado?

✽✽✽

Meu celular vibrou no bolso. Na minha frente, a tela do meu


computador tinha uma planilha de entrada e saída de mercadorias que
precisavam ser analisadas.
Mesmo assim, eu não ignorei a ligação. Especialmente porque vi que
o número que chamava era o de Juliana.
Meu coração bateu forte. Imediatamente eu respirei fundo e tentei
ignorar aquilo. Ora, provavelmente era apenas uma reclamação sobre
Lizandra. Até demorou...
Mesmo assim, era a primeira vez que ela me ligava. Alguma coisa
em mim despertou quando entendi que ouviria sua voz além dos
cumprimentos de bom dia pela manhã, ou as despedidas no final da tarde.
— Juliana?
— Espero não estar incomodando.
Não estava. Eu ignorei a tela, tentando conter meu ritmo cardíaco.
Certo, eu já sabia que ela mexia comigo, e sabia que devia reter qualquer
avanço nessa relação. Nós temos uma diferença de idade, ela é minha
empregada, eu não estou confortável para amar alguém.
Ainda assim, estava tremendo.
— O que houve? Lizandra...
— Oh, não... nada sobre isso. Lizandra fez o dever e estávamos
assistindo televisão.
— Então?
— Só queria saber se te incomodaria se eu tirasse Lizandra de casa,
hoje? Está um dia bonito, e estava pensando em levá-la para brincar na
praça.
— Claro, pode ir, a vontade...
Logo em seguida ela desligou. Meu coração ainda pulsava
fortemente após isso.

✽✽✽
— Papai?
Encarei Lizandra enquanto a ajudava a colocar o pijama. Não era tão
tarde, mas ela parecia cansada de ter brincado na praça. Estava animada e
feliz, era raro ver seu sorriso tão sincero, então eu lhe fiz um cafuné nos
cabelos.
— O que foi?
— Por que não se casa com Juliana?
Olhei para ela um pouco espantado. Todavia, incapaz de negar a
ideia.
Lizandra sabia. Claro que sabia. Era inteligente demais, perspicaz o
suficiente para saber mais do que deveria.
— Casar?
Sua ideia parecia natural e vinha de encontro com meus próprios
pensamentos atuais. Mesmo assim, eu quase ri porque sabia que isso era
impossível.
— Sim, pai. Ela é perfeita.
Sim, Juliana era perfeita.
— Juliana disse alguma coisa para você?
Talvez nesse último mês, minha filha foi capaz de captar algo vindo
de Juliana, assim como fora capaz de me decifrar.
— Claro que não. É seu dever de homem conquistá-la.
Eu quase ri daquilo.
— De onde você tirou essa ideia?
— Sobre vocês ficarem juntos ou sobre seu dever?
Ri novamente.
— Lizandra, ela é sua babá. E existe um negócio chamado ética
profissional...
— Você está sozinho há muito tempo, pai. Tem o direito de ser feliz.
Juliana também tinha o direito de ser feliz. E ela não conseguiria isso
ao lado de um velho quebrado como eu.
Juliana

Era incrível como eu me sentia melhor ao lado de uma criança como


Lizandra do que de adultos da minha própria idade.
Suspirei, bebendo um pouco de refrigerante, observando o local
cercado de pessoas animadas.
Havia sido convidada para o aniversário de uma antiga amiga e
colega de escola. Já fazia algum tempo que a gente não se via, então fiquei
surpresa quando ela me mandou o convite pelo Facebook. Minha primeira
reação foi recusar, mas então me lembrei do que disse Marco: eu havia
desistido de viver?
A verdade é que quando sai de casa, estava cheia de sonhos e ilusões.
Contudo, Lucas, meu ex-namorado, era um cara violento e mesquinho. Foi
muito difícil viver num lugar onde era cobrada o tempo todo por tudo. Lucas
não queria dividir as despesas, e sim exigia que eu pagasse tudo. Quando eu
reclamava, apanhava.
De repente, me vi enfiada no mesmo ciclo de dor que tinha em casa.
Temerosa de ter me moldado a esse tipo de homem por conta de minha
infância complicada, eu preferi ficar sozinha.
Mas... eu não queria desistir de viver.
Contudo...
Um cara me encarou por uns segundos, tentando flertar. Eu desviei
minha atenção para a mesa dos doces, sem saber por que estava agindo
assim.
Todavia, pensamentos inapropriados me tomaram. Não com esse
homem, e sim com outro, ainda mais proibido.
Marco me olhava diferente. Era como se quisesse me dizer algo.
Como se houvesse um segredo travado em sua garganta.
Mordi um brigadeiro, pensando que ele não parecia violento. Mas, o
que eu sabia? Ele estava se divorciando quando a esposa morreu. Podia ser
que fizesse da vida dela um verdadeiro inferno.
Outro homem olhou para mim. Sai de perto da mesa, não estava
interessada.
Droga! Eu estava numa festa, pensando no meu chefe? O que diabos
estava acontecendo comigo?
De repente senti uma presença ao meu lado. Era Silvana, minha
amiga. Ela tinha um sorriso simpático no rosto e parecia animada.
— Jorge disse que gostou de você — apontou para o primeiro cara ao
longe. — Não sei dizer se está solteira, faz muito tempo que não
conversamos. Mas, acho que você não está mais com Lucas, né?
— Já faz cinco anos que nos separamos.
— E sem namorado?
— Não estou procurando — murmurei.
— Ah, mas Jorge é um cara superlegal! — ela exclamou e eu sorri,
porque ela não havia mudado muito do ensino médio.
— Eu acredito. Apenas...
— Você não gostou dele?
Pelo jeito que ela estava olhando para mim, era melhor me explicar
logo.
— Eu estou trabalhando com uma pessoa...
Os olhos dela brilharam como se tivesse captado tudo.
— Você me disse que estava cuidando da filha de um viúvo — ela
comentou, e isso me fez recordar de um bate papo online que tivemos. — É
ele?
Eu concordei.
— Acho que tem algo rolando entre nós, apenas não sei se devo dar
qualquer passo. Ele é um homem... Bom...
Ela apenas balançou a cabeça, como se ela entendesse tudo.
— Está apaixonada?
Não sabia como responder isso, então dei de ombros.
— Se posso te aconselhar em algo, em nome dos velhos tempos é:
não deixe de viver por causa das coisas que passou ao lado de Lucas. Você é
uma garota tão legal e merece ser feliz.
Parecia que meu anjo da guarda estava me dando dicas para seguir
em frente e arriscar a felicidade. Ou era um demônio tentando me afundar
em dor e degradação, novamente.
Marco

O irmão de Luana olhou para mim com ar sincero. Leandro e eu éramos


amigos antes mesmo de eu desposar a irmã dele. Eu sabia que seu
afastamento nos últimos anos derivava da vergonha pelo que Luana fez
comigo. Mesmo assim, fiquei feliz quando ele apareceu naquela quarta-feira
para tomar um café antes de ir visitar a sobrinha.
— Como é morar no interior? — indaguei tão logo a atendente da
cafeteria colocou uma xícara de expresso na minha frente.
Leandro deu os ombros, a questão parecia não importar.
— Eu sinto um pouco de falta de Porto Alegre, do movimento, da
agitação. O interior do Estado é bem... parado.
— Eu acho que iria gostar de morar no interior, ter uma vida longe
do trânsito intenso, do barulho enlouquecedor — apontei. — Um lugar onde
Lizandra pudesse brincar na rua sem que eu me preocupasse com sua
segurança.
— Você quer os anos quarenta, não o interior — ele riu. — As coisas
não são assim, tão tranquilas. Talvez em cidades minúsculas, mas não onde
moro.
Risinhos femininos fizeram com que nós dois nos virássemos na
direção de uma mesa onde um grupo de estudantes loiras, aparentemente
universitárias, bebiam café enquanto tentavam flertar.
Leandro sorriu para elas, demonstrando interesse, mas eu apenas
volvi em direção ao meu café.
— Lembra-se de quando a gente costumava namorar esse tipo de
garota? — Leandro apontou.
— Nós éramos bem mais jovens.
— O que está dizendo? Você não ficaria com uma mulher apenas por
conta da idade?
O meu pensamento voltou-se inconvenientemente para Juliana.
Suspirei, tentando evitá-lo. Isso estava saindo do controle. Eu estava
pensando nela o tempo todo, todos os dias, em cada momento. Ansiava por
ver seu rosto todas as manhãs e contava os minutos para poder voltar para
casa e me despedir.
— Eu tenho mais coisas com que me preocupar. Criar sua sobrinha é
uma delas.
— Bem, Lizandra precisa de uma mãe — ele disse e eu evitei
novamente o pensamento em Juliana.
— E você acha que uma garota de vinte e poucos anos, que está na
idade de apreciar a vida, vai querer assumir uma menina de outra mulher? Já
é difícil uma mulher da minha idade querer isso.
Ele pareceu pensar algum tempo, enquanto bebia seu café.
— A sua secretária sempre pareceu interessada em você.
— Vanda? — fingi surpresa.
Porque não era surpresa. Vanda e eu nos dávamos bem e ela já havia
me dado dicas que eu ignorei. Vanda podia me querer, mas não queria
Lizandra. Ela já havia me dito que a melhor maneira de eu arrumar uma
companheira seria encaminhar minha filha para um colégio interno.
— Vai me dizer que você dispensaria uma mulher daquelas? —
Leandro tinha um sorriso malicioso no rosto.
— No momento estou mais preocupado que Lizandra termine o ano
letivo antes que eu tenha que arrumar outra escola para ela.
— Oh, sim, você me comentou por telefone, a sua escola parece
ansiar por dispensá-la, não é?
— Ela ficou uns dias em casa, mas voltou para o colégio hoje de
manhã. Sua babá disse-me que ela parecia arrasada.
— Ela é só uma criança, com certeza não estava arrasada —
desdenhou.
Eu não tinha certeza. As palavras de Juliana quando me ligou de
manhã pareciam indicar outra coisa.
Olhei no relógio e percebi que logo o dia se encerraria. Juliana iria
buscar Lizandra e ao menos minha filha teria a babá para desabafar. Eu
realmente não estava no clima para suas reclamações sobre o ambiente
escolar.
— Vou no banheiro, já volto - Leandro disse.
Assenti para Leandro, que se levantou e ver menção de ir em direção
aos banheiros, mas caminhou até a mesa das garotas e começou a bater papo
com elas.
Alguns olhares volveram para mim, e eu me senti um animal em
exposição, pronto para ser abatido.
— Marco?
Meu coração acelerou quando olhei na direção oposta da mesa e
encarei Juliana.
Não sabia que ela pudesse estar ali, mas minha mente percebeu que
essa cafeteria não ficava assim tão longe da escola e Juliana poderia ir tomar
um café antes de buscar Lizandra.
— Oi?
— Oi Marco — ela sorriu.
Eu me senti totalmente envergonhado pelos risinhos femininos e a
gargalhada de Leandro ao longe. Juliana olhou naquela direção, e suas
sobrancelhas arquearam levemente.
— Estou surpreso por vê-la aqui.
— Estava com vontade de tomar um café e comer um pão de queijo.
Seus gostos eram tão simples quanto os meus. Nada nela parecia
sofisticado ou complexo.
— Por favor, me permita pagar um café para você.
— Não é necessário.
— Eu insisto.
— Não quero atrapalhá-lo.
Eu percebi um tom magoado na voz? É sério isso? Por algum motivo
fiquei eufórico e ansioso. Eu queria puxá-la contra mim e perguntar se ela
havia enlouquecido em considerar que eu estava flertando.
— Só vim tomar um café com meu cunhado.
— Cunhado?
— O irmão da minha falecida esposa.
— Ah.
Ao longe Leandro se sentou na mesa com as garotas. Eu percebi que
ele não iria ver a sobrinha naquele dia. Incrível como ele era parecido com
Luana, que também nunca colocou Lizandra em primeiro lugar.
— Acho que perdi meu parceiro de café — disse a Juliana. — Ele
sempre foi assim com rabos de saia.
— São amigos a muito tempo?
— Tempo o suficiente para saber que ele nem vai lembrar de mim,
enquanto não sair com uma dessas garotas. Você quer mesmo o café daqui?
Posso te oferecer algo diferente? Depois podemos ir buscar Lizandra juntos.
Ela sorriu, concordando. Eu amei aquele sorriso brilhante que parecia
resplandecer para mim. Deus, eu gostava de tudo nessa garota, o que era
enlouquecedor e imprudente.
Joguei uma nota de vinte em cima da mesa, e me afastei, guiando
Juliana para fora do lugar. O sol lá fora nos acolheu com seu calor. Seu
cabelo brilhou contra a luz, enquanto sua pele parecia ainda mais sedosa e
delicada.
Meu coração acelerou. Eu estava perdido.
Juliana

Ele era um oceano inteiro que eu mal conseguia reprimir a vontade de me


afundar.
Eu não tinha mais oxigênio. Marco estava adentrando minha alma,
roubando meu fôlego, mudando tudo em mim.
Não devia estar aqui com ele. Não sei exatamente o que diabos
estava se passando comigo, mas era completamente antiprofissional passear
numa praça ao lado de seu chefe, enquanto tomava sorvete.
Paramos perto de um pequeno lago com peixes e eu senti o calor do
braço dele muito próximo do meu, quase ao ponto de me tocar, me arrebatar,
e isso não devia ser certo.
Olhei para ele rapidamente, e fui capaz de captar sua necessidade.
Havia um tipo de desejo em seus olhos que me fizeram fraquejar.
Ele podia ser minha perdição.
Nunca fui apegada a sexo, até porque meu ex costumava subir em
mim, se enfiar algumas vezes, e depois de me molhar, cair para o lado e
dormir. Mas, agora, nesse ambiente calmo, público e completamente pueril,
eu estava apertando uma coxa contra a outra, sentindo uma enorme
necessidade de...
Ah, eu queria que ele me olhasse. Me tocasse... Me beijasse.
— Seu cunhado não vai se irritar?
— Não se preocupe. Leandro só vai se lembrar de mim amanhã,
quando acordar na cama de alguma desconhecida.
Ainda tínhamos uma hora para ir buscar Lizandra. E eu não sabia
exatamente como preencher esse tempo, temerosa em dizer demais, ou de
permitir que ele visse meu calor sobre minha máscara de neutralidade.
— Então, Juliana... O que você faz nos momentos de folga?
Ele sabia um pouco de mim por causa do que viu no Facebook, mas
parecia querer saber mais.
— Bom, eu gosto de caminhar.
— É mesmo?
— Gosto de colocar um fone de ouvidos e sair sem rumo. Sabe...
Esquecer os problemas. E você?
Ele pareceu pensar.
— Ah, eu tenho um hobby. Eu gosto de procurar tesouros.
— Como assim?
— Eu tenho um detector de metais. Eu saio por estradas, campinas...
vasculho terrenos.
— Procura o quê?
— Moedas velhas, ou qualquer coisa interessante. Uma vez encontrei
um ferro de passar roupa da época dos farroupilhas. Ele tinha até um brasão
da nova república.
— E o que faz com isso? — indaguei, terminando meu sorvete.
— Levo para museus ou coloco a leilão no Mercado Livre.
Era incrível como ele parecia simples. Um homem simples e comum.
Era muito rico, então eu esperava que fosse a muitas festas, muitos eventos,
saísse com modelos, e tal... Talvez ele até fizesse isso, mas agora declarava
algo mais solitário para mim.
Minha mente voltou para o lago.
Lá embaixo os peixes se moviam na sua dança harmônica da
natureza.
Será que ele tinha um relacionamento? Talvez algo mais escondido
para preservar a filha. Como eu queria ter liberdade para perguntar...
Deus, o que eu estava pensando? Isso não me envolvia de forma
alguma! Eu não estava naqueles romances de banca que lia no celular. A
vida real era bem mais complicada. Eu não era uma mocinha virgem e
pudica que acreditava no amor.
Mesmo que Marco estivesse disposto a algo comigo... Como eu
poderia acreditar em alguém novamente?
De repente senti um toque gentil nos meus dedos. Meus olhos se
arregalaram, enquanto me volvi para Marco.
— Obrigado por ter aceitado cuidar de Lizandra — ele disse. —
Você foi a melhor coisa que me aconteceu nos últimos anos.
Minha boca abriu, espantada. Eu queria dizer alguma coisa, mas
estava surpresa e chocada demais. Pior, eu não tinha forças para separar
nossos dedos, porque aquele singelo toque, tão inocente, parecia a coisa mais
incrível e erótica que já vivi.
— Você está saindo com alguém? — indaguei.
E senti imediatamente meu rosto enrubescer com a minha audácia.
As palavras haviam escapado derivadas do meu estado nervoso. Minha
mente estava nublada, quase entrando em colapso.
— Bom... — ele gaguejou. — É estranho que um homem da minha
idade seja um velho sozinho, não é?
— Você não é velho.
— Devo ter o dobro da sua idade, ou quase isso. De qualquer modo,
eu sou assim. Quero dizer, todo mundo pensa que um homem rico, com um
ótimo emprego e uma casa linda deva ter seu número de amigas coloridas
por aí. Mas, a verdade é que eu não tenho ninguém. — Ele ficou sério. —
Você deve estar me achando um esquisito...
— Não. Não penso isso.
— Com sinceridade, a mãe de Lizandra meio que me traumatizou —
ele riu, triste. — Você entende isso? Relacionamentos ruins?
Com certeza eu entendia.
— E eu sempre pensei que Lizandra vinha em primeiro lugar. Então
eu me dediquei a cuidar dela. E estava tudo bem... Até eu ver você.
Meu coração acelerou. Suas palavras eram suáveis e tão doces. Eu
sabia que ele podia estar mentindo, porque homens mentem como esporte,
mas eu queria tanto acreditar. E nem devia. Fora o status profissional e
financeiro divergente entre nós, ele ainda era um homem rico mais velho que
podia facilmente enganar uma pobre coitada apenas para comê-la.
Subitamente, ele inclinou-se. Seus lábios roçaram os meus. Nossos
olhos estavam abertos e eu pude ver cada detalhe do seu rosto perfeito se
aproximando de mim.
Ele me estudou, afastou-se alguns centímetros. Esperava minha
recusa, que eu talvez o esbofeteasse, mas a verdade é que eu o queria isso
mais do que a vida. Então apenas fechei meus olhos.
Sua boca voltou. Firme, quente, forte, arrebatando-me com uma
fome que eu nunca havia experimentado. Havia uma onda de desejo entre
nós que fazia com que eu sentisse a tensão na respiração entrecortada
daquele homem.
Sua boca afundou, mais e mais, buscando, cavando, sua língua
mesclando a minha. Estávamos à vista de qualquer um, e ainda assim eu não
me importei.
Nunca senti isso e queria viver a experiência.
Quando nos livros diziam que você poderia ouvir sinos ao ser
beijada, achava que era lorotas de autoras loucas. Hoje sei que é verdade.
Nesse momento, nesse instante, eu sei que há um cântico sagrado soando nos
meus ouvidos.
Ele me puxou para mais perto. Seu corpo duro tocou o meu. Meu
centro umedeceu, e eu não contive um gemido delicado e baixo nos lábios.
Nesse exato instante eu podia me esfregar nele como uma cadela no
cio, mas a razão voltou a minha mente. Então eu o empurrei um pouco,
tentando respirar, tentando recuperar minha consciência.
Uma criança gritou ao longe e eu olhei naquela direção. Vi olhares
zangados de adultos me observando.
Dei dois passos para trás e Marco respeitou.
— Me desculpe... Eu... Eu... Você pode buscar Lizandra hoje?
— Sim... Claro.
Então lhe dei as costas e fugi.
Aquele homem... aquele homem me aterrorizava. Seu poder sobre
mim, sobre meu corpo, podia me levar ao céu ou ao inferno.
Estaria disposta a arriscar tudo nas mãos de alguém assim?
Eu não podia ser tão louca... Não podia!

✽✽✽
Eu sei que Marco Soares ficou aliviado quando me viu no dia
seguinte, entrando na sua casa, pronta para mais um dia de trabalho. Com
certeza ele pensava que eu pediria demissão depois do dia anterior, mas a
verdade é que eu precisava do salário e não tinha escolha.
Sim, eu queria fugir, mas não podia.
— Bom dia.
— Bom dia, Juliana.
Eu tirei o casaco e o coloquei sobre um suporte na entrada da casa.
Quando voltei para meu patrão, seu olhar estava fixo em mim, nos meus
seios proeminentes sobre a blusa de lã. E eu podia ler a luxúria nele. Com
certeza ele iria me levar para a cama, assim que pudesse.
Mas, não aconteceria. Eu estava queimando, mas preferia passar pela
vergonhosa experiência de comprar um vibrador do que aceitar me deitar
com ele.
— Eu queria falar com você.
Fiquei nervosa. Morreria de vergonha se ele falasse do desejo que
correu entre nós.
— Sim?
— Eu tenho alguns acordos para fechar na Serra, sobre o transporte
dos vinhos produzidos para a Ásia. E eu pensei... Bom... Estou pensando em
passar uns dias num lugar bonito. Não muito tempo, duas semanas na Serra
Gaúcha para que Lizandra conheça a Serra no inverno. Queria saber se você
pode nos acompanhar? Me sentiria mais seguro com a babá por lá. E,
também, já que terei que trabalhar, você poderia cuidar dela? Claro que irei
te pagar hora extra.
Por que parecia uma armadilha?
— Tudo bem — disse. — Quando vamos?
Marco

Eu devia procurar uma mulher qualquer para fazer sexo. Conhecia várias
assim, que sairiam comigo apenas por uma boa trepada e algum presente
interessante. Talvez até por dinheiro.
Sentei-me, recostando as costas na enorme cadeira de presidente do
meu escritório. Meus olhos perdidos em planilhas, minha mente pensando
em Juliana.
Eu devia procurar uma mulher qualquer para fazer sexo.
Assim eu tiraria da cabeça a babá de minha filha. Todavia, eu não
costumava sair apenas para transar e, também, depois daquele beijo...
Algo mudou.
Uma leve batida na porta me fez erguer a face naquela direção.
Vanda me observou sorrindo.
— O que foi, Marco? Parece aéreo.
Observei o corpo de Vanda, discretamente. Bom, ela sempre esteve
disposta a sair comigo. Se eu sugerisse que fizéssemos sexo, ela aceitaria?
Ou ela iria querer uma aliança? Um compromisso?
O que diabos eu estou fazendo? Como eu posso pensar uma coisa
dessas com minha secretária. Suspirei. Estava desesperado, tentando
acreditar que meu sentimento por Juliana era apenas desejo reprimido de um
velhaco que não trepava há meses.
Todo homem precisa de sexo. Não é?
Mas, eu nunca pensei tanto nisso, nem senti tanta vontade.
Me levantei, pegando meu casaco.
— Marco?
— Vou para casa mais cedo, hoje. Por favor, cancele minhas
reuniões.
Ela assentiu.
— Já conseguiu uma escola para Lizandra?
— Sim, ela vai encerrar seu ano na atual escola, e irá para uma
instituição católica ano que vem.
— Internato?
Eu quase podia ler seu interesse ali.
— Não.
De fato, ela murchou após minha negativa. Eu não sabia direito o que
Vanda sentia, mas compreendia que entre nós nada aconteceria porque se
uma mulher não era capaz de aceitar Lizandra, também recusava a mim.

✽✽✽
O inverno gaúcho era inconstante. Provou-se quando a tarde
ensolarada se tornou breu e nuvens grossas de chuva e frio anunciaram-se
sobre a capital.
Antes mesmo de chegar em casa, o vento mortal já se movia como
um deus maldoso e vingativo sobre a região, derrubando árvores e postes.
Fiquei preso no trânsito, dois acidentes na Protásio Alves e uma
árvore caída entre a Azenha e o Partenon tornou aquele resto do dia um
inferno.
Quando cheguei em casa, todas as luzes estavam apagadas. Já era
tarde e Lizandra estava dormindo. Busquei o interruptor e percebi que a luz
também havia acabado. Eu tinha um gerador elétrico e iria descer ao porão
para acioná-lo, mas primeiro busquei por Juliana, afinal, não há havia visto
na casa, nem no quarto de Lizandra, e não acreditava que ela houvesse
deixado minha filha sozinha num dia como esse.
Encontrei-a na sala de estar, descansando numa poltrona. Meus olhos
haviam se acostumado a escuridão e eu era capaz de vislumbrar seu rosto
adormecido, sua respiração calma e seus olhos fechados.
— Oi? — disse, balançando minha mão levemente no ombro dela.
Ela abriu os olhos, parecia subitamente assustada.
— Sou eu.
Eu vi o pânico nela, mas percebi que ela lutou bravamente para não
demonstrar nada para mim.
— Oi, Marco. A luz acabou.
— Sim, a cidade está uma confusão com o temporal. Muitas árvores
caídas, e sem energia em diversos bairros. Eu tenho um gerador elétrico, vou
acioná-lo. Aqui esteve tudo bem?
— Sim, tudo tranquilo.
— Sinto muito por chegar tarde, Juliana.
— Imagine... eu conheço o trânsito em dias assim. Metade da cidade
deve estar embaixo d’água.
Concordei.
— Se estiver tudo ok para você, te convido para passar a noite. Não
acho seguro você sair a essa hora, com o tempo assim. Pode chover
novamente, ou pode ser perigoso porque os postes de energia estão
apagados. Eu tenho um quarto de hóspedes.
Eu pensei que ela fosse recusar. Me preparei para implorar. Eu só
queria tê-la ali, segura, perto de mim, de Lizandra, longe de todo o resto do
mundo.
— Eu aceito, obrigada.
Ela cruzou por mim, indo em direção as escadas que levavam ao
segundo piso. Meus olhos a seguiram, meu coração doendo no peito.
Eu estava louco por essa mulher.
Juliana

Meu coração estava acelerado. Eu não devia estar aqui, era perigoso
demais para minha sanidade ficar perto desse homem. Mesmo assim, eu
aceitei passar a noite debaixo do mesmo teto que ele.
Passos no corredor fizeram meu coração acelerar. Meus olhos
volveram para a porta e eu pude vislumbrar pela luz do corredor que invadia
o quarto pela réstia da porta, que ele estava ali, parado perto da entrada,
talvez em dúvidas se devia prosseguir.
Venha...
Eu ouvi seu suspiro do outro lado. Suas dúvidas que também me
povoavam. Isso não era certo, e mulher honrada nenhuma jamais iria dormir
com seu patrão.
Mas, eu não conseguia evitar meu coração palpitante, minha
respiração irregular e toda uma febre que descia pelo meu corpo, invadindo
minha alma.
Eu o queria. Deus, nunca quis um homem como queria esse.
Ele se foi antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa.
Eu devia agradecer a Deus. Os motivos que o fizeram recuar eram os
certos. O fato de eu desejar ter esse homem no meio das minhas pernas não
devia guiar minha racionalidade.
O que eu estava pensando?
Eu já não tivera a experiência de ter um homem? Não sabia como
eles podiam avassalar tudo em você? Não sabia como eles podiam tornar sua
vida um inferno?
— Príncipes encantados só existem nas novelas... — murmuro.
O ouvi praguejar ao longe. De repente, ele voltou e bateu na porta do
meu quarto. Foi inesperado, porque dessa vez não houve receio.
— Sim? — indaguei, meu coração quase saindo pela boca.
— Ah, Juliana... Queria lhe dizer... A viagem que lhe falei...
— Sim? — repeti. — O que tem?
— É na próxima semana. Se você deseja cancelar...
— Eu irei.
— Oh, que bom. — Havia alívio em sua voz? — Enfim, boa noite.
Fechei meus olhos com força.
— Boa noite, Marco.

✽✽✽
Lizandra ficou radiante quando soube da viagem. Como toda criança,
ela desejava conhecer lugares novos, passear, experimentar coisas novas e
essas coisas.
Na semana que se seguiu eu a levei para comprar roupas novas e
cortar o cabelo – que estava enorme.
— Sua filha é muito linda — a cabelereira me disse, enquanto lhe
cortava as pontas das madeixas loiras.
Uma sensação de perda me tomou, talvez pela certeza de que eu
jamais a teria – ou a uma criança como ela. Era difícil pensar em ser mãe,
quando minha infância havia sido um inferno.
— Eu sou a babá — respondi a mulher.
— Eu não tenho mamãe — Lizandra também disse, e meu coração se
condoeu.
O olhar de piedade da mulher me angustiou, e eu desviei os olhos,
tentando evitar que aquele sentimento me dominasse.
Suspirei.
Se eu trabalhasse por anos para Marco, talvez pudesse ver Lizandra
crescer e se tornar uma mulher. Isso seria como ser mãe, não é?

✽✽✽
Bento Gonçalves era uma cidade linda, e eu fiquei apaixonada pela
entrada do hotel, que remetia a colonização italiana da cidade.
— Obrigado por ter vindo conosco, Juliana.
A voz que soou atras de mim me fez girar para Marco. Ele estava
entregando a chave do carro para o manobrista e aceitava o oferecimento de
auxílio de um funcionário do hotel com as malas.
— É meu dever — disse, simples.
— É mais que isso.
Não sabia o que ele queria dizer, então apenas sorri e concordei.
— Juliana, papa e eu sempre passeamos quando ele viaja a negócios,
agora você também vai viajar muito — Lizandra me disse, segurando
minhas mãos.
Eu não costumava viajar, então era uma novidade em minha vida. E
eu imaginei se viveria muito isso ao lado daquela família.
Entramos no hotel e eu fiquei esperando que Marco fizesse o check-
in. Eu ficaria no mesmo quarto que ele? Provavelmente ele pegaria um tipo
de apartamento com dois ou três quartos, para que eu o dividisse com
Lizandra.
Ele assinou alguns papeis e depois girou na minha direção sorrindo.
Nenhuma indicação se dividiríamos o quarto ou não.
Por que estou tão nervosa?
Marco fez um chamado com a mão e me convidou a segui-lo.
Segurando as mãos de Lizandra, fomos em direção aos elevadores.
— Você parece estressada — ele comentou, apertando o botão.
— Só cansada. Muitas horas de estrada.
— Sim. Claro. Já vamos subir e você poderá descansar?
Sozinha?
Era essa a questão que me inquietava.
— Dizem que vai nevar essa semana — ele murmurou, o assunto do
tempo parecendo indiferente ao meu coração desesperado.
A porta do elevador se abriu.
Parecia uma nova vida a me esperar.
Marco

Eu sabia o que ela queria me perguntar. Eu vi sua inquietação sobre


dividirmos o quarto. Talvez pensasse que seria comum as pessoas manterem
seus empregados pessoais perto. Mas, o mais perto que minha sanidade
permitia ter Juliana era no quarto ao lado.
Talvez não resistisse a ela se a visse acordar...
— Aqui – entreguei a ela uma chave. — Seu quarto é ao lado do
meu. Lizandra ficara comigo, então pedi uma chave extra, para você —
entreguei a ela. — Espero que tenha uma boa estadia — me senti um
funcionário do hotel, dizendo isso.
— Obrigada, Marco.
Estávamos parados no corredor. Lizandra já havia roubado a chave
do nosso quarto das minhas mãos e entrava, buscando conhecer o pequeno
apartamento que aluguei. Eu devia seguir minha filha, mas não conseguia
dar nenhum passo.
— Foi uma longa viagem, espero que descanse.
Ela assentiu.
— Talvez queira jantar comigo...
Seus olhos arregalaram, e eu enrubesci. Me senti um garoto com tal
reação.
— Quero dizer... comigo e Lizandra, claro.
— Seria um prazer.
Então ela me deixou, entrando na própria suíte e fechando a porta.
Meu coração parecia sentir sua perda. Desde nosso beijo, seu gosto
ainda estava na minha boca, e eu queria sentir quão mais sabores ela tinha.
— Papai! Tem uma banheira no seu quarto!
Eu olhei para a minha filha e sorri.
— Mesmo?
— Sim! Posso brincar nela.
— É claro que pode.
Entramos, e eu observei o ambiente luxuoso. Aquele era um dos
melhores hotéis da serra gaúcha, e a janela central dava vistas para uma linda
montanha. Nuvens grossas e escuras ao longe indicavam que esfriaria mais.
Enquanto ouvia o barulho da água correndo e da risada de Lizandra
ao longe, tirei minha jaqueta e coloquei em volta do apoio da cadeira. Numa
mesa de escritório, pus meu notebook e o liguei, sabendo que havia trabalho
a ser feito.
Eu tinha uma reunião on-line em menos de meia hora, e precisava
tirar Juliana da cabeça para me dedicar aos negócios.
Mas, não podia evitar de pensar nessa coisa que parecia nos atrair
demasiadamente. Ela sentia o mesmo, tinha que sentir. No nosso beijo, pude
experimentar suas necessidades.
Eu devia lutar por essa mulher.
E se ela me destruísse? Eu sabia que o amor não existia, e ainda
assim estava disposto a arriscar tanto?

✽✽✽
— Não quero ser chato, mas estou esperando sua resposta.
Eu olhei para a tela, os olhos arregalados. Do outro lado do visor,
várias pessoas pareciam esperar algo de mim. Só que eu sequer havia ouvido
a pergunta que me foi feita na reunião on-line, já que tudo em que eu
pensava era na babá de minha filha, na sua boca incrível e no quarto eu
desejava...
Deus, nunca quis tanto uma mulher.
Isso só podia ser uma crise por causa da minha idade. Homens com
quase cinquenta ficavam encantados assim por moças de vinte e poucos?
Era vergonhoso!
— Me desculpem, qual a pergunta?
Juliana

Marco apareceu entre a nuvem escura que parecia corroer meus sonhos. Eu
fechei os olhos, tentando apagar sua figura bonita de meu coração, mas logo
sentia seu toque em meu rosto, a chama que ele parecia despertar em mim.
— Por que você não me dá uma chance?
Porque não há chances. Porque não existe felicidade.
— Ele me batia — contei, piscando as lágrimas que ameaçavam cair.
— Eu fui morar com ele por necessidade, porque queria sair de casa..., mas,
ele me destruiu. Ele me humilhava... ele me estuprava... — minha voz
embargou.
Marco me puxou contra si, infundindo-me com seu conforto e força.
— Eu não sou ele — disse. — Me dê uma chance...
Eu queria isso mais do que imaginava. Queria alguém que pudesse
despertar meu desejo na mesma medida que me fizesse sentir segura. O
primeiro homem de minha vida, com sua raiva e violência, acabou com
meus sonhos românticos. Com Marco, todavia, parecia diferente.
E se não fosse?
Toquei-o, tentando empurrá-lo, afastá-lo... Mas ele permaneceu
firme. De repente, sua boca me tomou, um beijo leve que parecia querer
mais.
E esse mais veio.
Eu podia sentir sua masculinidade dura tocando meu ventre na
intensidade que sua língua invadia minha boca.
— Não posso, não posso... — Murmurava entre gemidos, mas não
mais certa se era o certo a fazer.
— Ah, o que você fez comigo? — Ele gemeu, deixando a cabeça cair
para trás, os olhos fechados. — Eu só consigo pensar em te foder...
Suas palavras alimentaram o fogo que se alastrava pela minha pele.
Senti meu centro pingar. Estava tão úmida, queria tanto... Eu pulsava de
vontade desse homem.
— Foda-me, então, Marco. É o que eu preciso. Ter você enterrado
dentro de mim. Por favor, eu preciso de você.
— Eu não poderia negar, mesmo se quisesse — ele respirou,
voltando para minha boca com força.
Fui eu que abri o zíper de sua calça, agarrando seu pênis e liberando-
o da prisão do tecido. O acariciei com força, mais rápido, e ele saltou em
cima de mim.
Senti a cama nas minhas costas.
Puxei seu pau, guiando-o em direção a minha vagina latejante.
Ele empurrou.
Gritei.
Era tão bom... tão bom.
Marco batia brutalmente na minha carne, e eu balancei em seu
encontro.
— Marco... Marco... — implorei.
E então sua imagem linda e deliciosa começou a esvaecer. Meus
olhos abriram, e eu tomei ciência do quarto escuro e da solidão que me
encontrava.
Era um sonho.
Eu havia acabado de ter um sonho úmido com meu chefe.

✽✽✽
Eu devia ter me masturbado quando acordei. Mas, chocada demais
para me tocar, eu simplesmente tomei um banho frio e vim ao quarto de
Lizandra para ver como ela estava.
Agora, no ambiente de Marco, eu sentia o cheiro dele e tentava
apertar minhas coxas para afastar o desejo que parecia prestes a destruir
minha sanidade.
Lizandra estava tomando banho. Enquanto isso eu arrumava as
roupas dela no roupeiro, ouvi a porta sendo aberta. Vire-me e dei de cara
com Marco.
Meu coração começou a bater desenfreadamente. Essa coisa de
desejo sexual era muito difícil. Eu nunca havia experimentado esse tipo de
necessidade por um homem, e agora que vivia essa experiencia sabia que
talvez não resistisse.
— Oi. Vim ver se Lizandra está pronta para o jantar — ele disse.
— Ela está no banho.
O pequeno apartamento deles era composto de dois quartos
separados por uma sala de estar e um pequeno escritório. Então quando
cheguei, e não vi Marco ali, imaginei que estivesse no próprio quarto.
— Vão passear amanhã?
— Sim, Lizandra quer fazer o passeio de trem.
— Talvez eu vá junto — ele comentou e eu sorri.
Não devia ficar feliz por isso. Quanto mais longe eu ficasse dele,
mais segura eu estava.
— Obrigado por ter vindo conosco.
Sua voz saiu rouca e eu espremi mais as coxas. Marco estava
olhando para mim como se ele fosse um homem faminto e eu queria muito
ser sua refeição.
Talvez eu devesse tomar outro banho frio. Era difícil pensar com
aquele homem me encarando tão fortemente.
Marco voltou para a sala e eu me aproximei da janela da varanda,
abrindo-a e deixando que o ar gelado da serra gaúcha me acalmasse um
pouco.
Não queria me olhar no espelho, temerosa de que meu rosto estivesse
vermelho, pois meu sangue parecia fogo. Naquela temperatura, eu podia ver
minha respiração cada vez que exalava. Do jeito que meu corpo estava
esquentando ultimamente, agradeci a Deus pelo ar frio.
— Ju? — era a voz de Lizandra. — Me ajuda a secar os cabelos?
Olhei na direção do banheiro e pude ver aquela menina linda com os
cachos loiros pingando. Fechei rapidamente a janela por medo de ela pegar
um resfriado e sorri.
— Claro que sim.

✽✽✽
Marco me evitou no jantar. Pediu para que eu levasse Lizandra para o
restaurante porque estava muito ocupado. Mas, de alguma maneira eu sabia
que ele estava mentindo.
A maneira como ele me afastou subitamente me deixou
desconfortável, e eu nem sabia o motivo.
Eu estava tão atraída por ele que não conseguia pensar com lógica.
Quando voltamos para o quarto e ajudei Lizandra a se deitar, meu
pensamento começou a arrumar desculpas para que eu cedesse a tentação.
Ele era meu chefe e era um homem mais velho.
E daí?
Ele era muito rico e eu era uma pobretona.
E daí?
Tudo o que importava era a necessidade que sentia quando estava
perto dele.
Quando Lizandra apagou depois de eu lhe ler alguns capítulos de O
Hobbit, eu saí do seu quarto e o enfrentei na sala.
— Marco?
Ele me encarou, erguendo seu rosto do notebook.
— Sim?
A luz da cidade turística brilhava atrás dele. O vento uivava com
intensidade e o frio mal era abafado pelo climatizador. Mesmo assim, eu
queimava.
— Acho que temos que resolver isso.
— Resolver o quê? — ele questionou.
— Por que não foi jantar conosco? — retruquei.
Marco resvalou para trás na cadeira confortável. Ele cruzou os braços
e eu percebi que havia erguido o punho da camisa, seus músculos adornados
por pelos negros o tornavam ainda mais apetitoso.
— Você sabe por quê.
Eu sabia?
— Não sei.
— Você sabe. Você sente o mesmo que eu. E talvez eu esteja quase
cedendo a essa vontade absurda que mal consigo evitar. Mas, assim como
você, eu também tenho meus muros.
Então eu vi, nele, a mesma dor que havia em mim.
— O que ela fez para você?
— Ela?
— Você sabe... sua esposa...
Ele sorriu, triste. Estava quebrado, como eu.
— Ah, eu nem sei como começar. Não a culpo pelas traições ou
coisas assim, porque ela não me amava e não estava pronta para ser mãe e
esposa. Contudo, ela cravou marcas profundas e é difícil me dar uma chance
de ser feliz ou de acreditar que uma mulher me queira por quem sou.
Então ele foi traído? Magoado? Ferido de uma maneira que precisou
erguer paredes em volta de si para se proteger? Como éramos parecidos,
nisso. Todavia, ele tinha poder e dinheiro para se confortar. Meu ex me
deixou sem nada, apenas como a dor me destruindo.
— Mas, e você? Por que você não me dá uma chance? — me
indagou.
O sonho pareceu real agora. Eu quase podia visualizar o Marco que
me arrebatou de prazer durante o sonho, agora, diante de mim.
Ah Marco...
— Ele me batia. — Meu Deus, eu estava realmente contando isso?
Senti as lágrimas vindo em borbotões. — Eu fui morar com ele por
necessidade, porque queria sair de casa..., mas, ele me destruiu. Ele me
humilhava... ele me estuprava...
Então ele se ergueu. Cruzou a distância entre nós e se aproximou,
puxando-me contra si.
— Eu não sou ele — disse. — Me dê uma chance... Eu posso dar
uma chance para você também...
Oh, eu sabia como esse sonho terminaria. Eu devia ir embora antes
que a tentação me extasiasse e não pudesse mais me afastar.
Contudo, quando ele parou na minha frente, minha mão agarrou seu
cabelo e eu o trouxe para um beijo.
Estava louca. Definitivamente.
Não me importei.
Marco

No derradeiro instante em que nos beijamos naquela praça dias atrás, eu


soube que iria acontecer.
E eu a temi pelo mesmo motivo que ela me fascinava. O que uma
garota linda daquelas iria querer com um cara mais velho e derrotado como
eu?
O dinheiro não importava. Juliana era do tipo que lutava para ter o
seu próprios sustento. O que existia entre nós sim, me agoniava. Porque ela
era interessante, jovial, linda e cheia de vida. E eu era um fracassado, um
homem que nunca soube manter o interesse de uma mulher, um homem cuja
única qualidade era a conta bancária no azul.
Assim como Luana, ela iria se cansar do que quer que fosse que
existia entre nós. E as coisas iriam se complicar ainda mais. A minha vida
tranquila iria girar em 180 graus por causa dela.
Eu devia parar. Pedir que ela voltasse ao próprio quarto. Afastá-la do
meu corpo e da minha alma.
Contudo, agora, tudo que eu conseguia pensar era em colocar minhas
mãos em sua cintura e a puxar contra mim.
E foi o que eu fiz.
Deus, como ela encaixava direitinho, parecia que havia sido feita
exatamente para mim, para meu corpo. Eu fiquei quente e derretido quando
ouvi seu delicado gemido contra minha boca, e uma parte do meu cérebro
gritou desesperado, mas meu pau já havia tomado conta da minha mente.
Sem quebrar nosso beijo, eu a levei até meu quarto, empurrei-a
contra minha cama. Eu sabia que não havia mais volta, e ela não tentou
fugir.
Ela estava entregue. Quando nos olhamos, ela deitada, eu de pé aos
pés dela, vi pelo seu olhar entreaberto e seu rosto vermelho de excitação o
quanto não dava para resistir.
Eu nunca quis tanto uma mulher, e imaginava se ela já havia
experimentado tanto desejo por um homem.
Juliana mordeu o lábio inferior, suas ancas se movendo lentamente,
suas coxas bem apertadas, o bico dos seus seios surgindo na camisa clara,
provando que ela queimava.
Quando tomei a decisão de arriscar tudo, nesse momento, meu corpo
ganhou vida, cada terminação nervosa provocando sensações.
Cai em cima dela e voltei a beijá-la. Nunca parecia o bastante. Minha
língua dobrou-se em sua boca, tocando cada centímetro de sua cavidade,
eletrificando suas reações. Juliana gemeu e eu soube mais que nunca que
estava perdido pela paixão que queimava como um incêndio em minhas
veias.
A apertei. Minhas mãos deslizaram pelo seu tronco, fixando-se nos
seus seios. Os massageei, focando-me no bico inchado que despontava. Ela
ofegou, buscando minha boca mais e mais, sua parte inferior esfregando-se
contra meu pênis.
Fazia tanto tempo... Tanto tempo sem sexo, eu nem sabia que senti
tanta falta...
Deixei sua boca, e meus lábios traçaram sua mandíbula até à orelha e
depois desceram a pele sensível da garganta até a cavidade abaixo. Ela
deixou a cabeça cair para trás, deleitando-se. Minhas mãos desceram mais
até chegarem na sua calça. Abri o zíper do jeans, minha mão esfregando-se
no algodão da calcinha.
Sua boceta gotejou contra meu dedo, a umidade quente manchando o
tecido, trazendo aquele cheiro de boceta desejosa até meu nariz.
— Ah, eu quero te lamber tanto... Quero chupar você inteira — disse,
sem conseguir me conter.
— Marco! — Ela respirou, e eu sabia que estava sem controle.
Ela queria sentar-se na minha cara, e porra, eu queria isso para
cacete, também. Queria que ela montasse contra meu nariz, enquanto minha
língua se enfiava no seu buraco guloso.
Mas teríamos tempo para isso e agora importava mais respirar e
manter o controle para não gozar contra as coxas dela como um adolescente.
Ergui suas pernas e a coloquei contra minha cintura. Essa posição me
colocou firmemente contra ela, e Juliana voltou se esfregar ao longo do meu
eixo duro. Grunhi como um animal.
— Não quero que isso termine muito rápido...
Mas ela não parecia ter paciência.
— A gente pode fazer de novo depois, com mais calma — me disse.
— Agora preciso sentir teu pau dentro de mim... estou queimando a dias...
Toda noite que me deito na cama, me fodo com os dedos, pensando que é
você...
Cacete! Porra! Essa mulher estava me deixando duro como nunca.
Eu mal conseguia respirar. O suor já pingava da minha testa e meus cabelos
estavam úmidos de excitação.
— Não podemos fazer muito barulho — avisei, antes de tudo.
— Eu sei disso. Lizandra está dormindo.
Adorei o fato de que ela se preocupava com essas coisas. Senti o
quanto ela gostava da minha filha, e isso me fez sentir ainda mais desejo por
Juliana.
Enterrei o rosto nos seios, lambendo-os e beliscando até que ela
arqueou as costas, desesperada para que eu chegasse aos finalmentes.
Mas, não dava para ser rápido. Eu a desejei no instante que a vi pela
primeira vez, eu era louco por ela desde que nos beijamos, eu sonhava a
noite tomá-la para mim, então não conseguia me imaginar simplesmente me
enfiando dentro dela sem experimentar toda a doçura que ela tinha.
Desci até o estômago de Juliana, demorando-me sobre o umbigo
enquanto traçava um círculo em torno dele com a língua. Juliana gemeu
baixinho, e então fui até sua calcinha. Meus dentes roçaram as pernas dela, e
ela choramingou com os calafrios entre suas coxas.
Puxei sua calcinha, removendo-a. Ela pareceu envergonhada por
alguns instantes, e fechou as pernas, mas pus a mão em cada coxa e abri.
Olhei seu ninho quente, úmido, e minha boca salivou de vontade.
Desci minha língua por seus lábios molhados e ela gritou, se contorceu.
— Ai... — gemeu. — É tão bom que dói...
Chupei o clitóris e senti que sua boceta começou a latejar muito.
Suas mãos agarraram meu cabelo, forçando minha cara contra sua vagina.
Eu sabia que ela estava vindo em ondas, contorcendo-se sem equilíbrio, e
quis experimentar seu primeiro prazer na minha boca.
Ela gozou contra meus lábios, cavalgando contra minha língua,
gemendo e murmurando meu nome, enquanto parecia desconexa da nossa
realidade.
Ergui minha cabeça quando seus gemidos acalmaram. Visualizei seu
olhar vitorioso, de uma mulher que experimentou o orgasmo como se pela
primeira vez.
Talvez fosse...
— Você quer mais?
— Não a boca... me fode... me fode...
Me levantei, e percebi que estava tremulo. Meu pau parecia uma
rocha e eu quase tive dificuldade para tirá-lo da calça jeans tamanha a dureza
do meu cacete.
Então deixei que ela o visse, grande e grosso, para que soubesse
exatamente o que entraria dentro dela.
Ela mordeu os lábios e eu percebi que salivava de vontade de levar
leitinho na boca. Mesmo assim, eu não resistiria mais. Precisava gozar
dentro daquela boceta gulosa.
Subi pelo corpo dela, deslizando facilmente nela, me enterrando até o
talo. Ela estremeceu com o contato, sua boceta engolindo todo o meu caralho
com vontade.
— Você está tão molhada.
— E você está tão duro — ela respondeu, passando os braços em
volta do meu pescoço, as pernas em volta da cintura.
Ela cravou os calcanhares nos meus quadris, pedindo-me para
avançar.
— Mete... mete por favor...
Suas palavras desencadearam algo primitivo. Empurrei
profundamente duro. Juliana ofegou, e eu adorei a forma como ela tremia
enquanto eu a esticava.
— Tão delicioso — ela ergueu os quadris para encontrar cada
impulso de seu pênis.
Fechei os olhos com força, cerrando os dentes, arrepios subindo em
minha pele quando ela puxou as mãos para cima e para baixo das minhas
costas, arranhando-me as unhas. Então, abri meus olhos, meu olhar
capturando o dela.
A pressão aumentou e eu passei a bater mais e mais. Espasmos de
êxtase me tomaram, enquanto sua boceta se apertava ao meu redor, suas
paredes pareciam mais quentes e seguras, fazendo-me com que perdesse o
controle até me derramar inteiro dentro dessa mulher.
— Eu tô gozando...
— Goza dentro da minha boceta...
Não era preciso que ela pedisse. Nesse momento eu esqueci que não
usamos camisinha, eu esqueci que não fomos responsáveis, tudo que eu
pensava era no meu caralho derramando meu sêmen nela e no quanto isso
era bom.
E então tudo acabou. O gozo finalizou, e eu pude sair dela, sentindo
que o resto do meu líquido derramava em seu ventre e nas suas coxas.
Ah, era tão bom...
Mas, senti que com o fim do prazer, ela parecia tomar consciência do
que fizera. E eu não queria o arrependimento, não agora.
Eu sabia que ela iria fugir e eu não deixaria isso acontecer.
Nós ainda não havíamos terminado. Tao logo minha respiração
normalizasse, eu voltaria a chupar ela. Eu daria tanto prazer a essa mulher,
que ela nunca mais sequer pensaria em ficar longe de mim.
Juliana

Sim, foi um erro. Um erro gigante. Quando, em nome de Deus, se deixar


ser guiada pelos seus instintos sexuais poderia dar certo?
Ele era meu patrão. E essa era a coisa mais errada que eu já fiz. Ao
mesmo tempo, só de pensar em seus beijos e na maneira como ele me fez
gozar durante a noite, eu sentia uma vontade absurda de sorrir.
Mas era errado! Muito errado! Suspirei observando a paisagem pela
janela. Na minha frente, Lizandra degustava um chocolate quente.
Oh céus, o dia foi cheio. Quando acordei de manhã, Marco já havia
saído. Ele me deixou um bilhete dizendo que tinha um compromisso de
manhã. Então, eu levantei, tomei banho, e levei Lizandra para um passeio.
Nós pegamos um táxi e fomos conferir o Caminhos de Pedra. O
ponto turístico englobava algumas das antigas construções italianas de Bento
Gonçalves. Lizandra e eu experimentamos queijos e sucos de uva, enquanto
percorríamos casarões feitos há mais de um século.
— Juliana — Lizandra me chamou a atenção enquanto voltávamos
para o restaurante. — Você dormiu no quarto do papai?
Eu não queria responder, e me vi enrubescendo, sem saber como
responder aquilo sem escandalizá-la.
— Ah, bem...
— Você vai ser minha nova mãe?
— Não — disse, rapidamente, e seus olhos se entristeceram.
Eu não sei por que neguei tão rapidamente, mas sabia que era a
resposta certa. Marco não estava buscando um compromisso, tampouco eu.
O que aconteceu entre nós foi fruto do puro instinto animal, de um homem e
uma mulher que estavam compartilhando coisas demais nos últimos dias.
Quando chegamos e Lizandra se focou no chocolate quente, eu fiquei
com os olhos fixos na janela, meus pensamentos centrados em como seria
nosso reencontro.
Ah...
Eu queria sua boca em mim novamente. Eu queria que ele me
deixasse gozar em sua boca novamente. Nem devia estar pensando isso, mas
ainda estava tão quente, memórias de sua língua me lambendo vagando pela
minha mente.
Tão errado...
Eu estava com medo de tudo que estava acontecendo no meu íntimo.
Temia seu desprezo na mesma proporção que temia que Marco pudesse
sentir algo por mim.
A coisa certa era colocar distância entre nós.
Talvez eu devesse pedir demissão.
Meu olhar voltou para Lizandra. Como eu ficaria longe dela? Ela já
era tão importante para mim.
— Você está tão quieta, Juliana — ela observou.
— Só estou nervosa.
— Por causa do papai?
— Sim.
Não sei por que eu era tão aberta com ela. Lizandra ainda era uma
criança, mas era minha única amiga.
— Seu pai e eu...
Me calei. Não sabia o que dizer a seguir.
Eu estava apaixonada por ele. Um homem mais velho, experiente,
rico... alguém que nunca me veria a sua altura. Ele estava fora do meu
alcance e quanto antes eu reconhecesse isso, melhor.
— Sim? — Lizandra insistiu?
— Nada, querida. Esqueça.
Marco

Eu passei o dia inteiro preso numa reunião com novos distribuidores. A


exportação de vinho estava em alta depois de um inverno atípico na Europa,
o que estragou a matéria prima de várias vinícolas, e os produtores do sul
queriam a melhor proposta para os transportes.
Eu era acostumado a essa rotina de viagens, reuniões, e tempo
ocupado. Contudo, durante o dia inteiro pensei no quanto eu podia estar
vivenciando com minha filha e Juliana um dia agradável em Bento
Gonçalves.
Já era tarde da noite quando fechamos o contrato. Eu estava exausto
e sabia que Lizandra estaria dormindo, mas pensei que poderia pegar Juliana
acordada.
Passei todo meu tempo pensando nela, no seu gosto, no quão bem ela
me fez. Estava me sentindo um garoto experimentando a paixão pela
primeira vez.
Bati na porta do seu quarto, meu coração acelerado a possibilidade de
um reencontro apaixonado. Ela abriu a porta, me encarando com uma
dubiedade que fez meu pulso acelerar.
Então, deu-me as costas, entrando no quarto, parecendo cansada e
fadigada de uma forma que eu nunca vi.
— Juliana... — a chamei. Minha voz soou mais tenra do que queria.
Meus olhos dançaram em seu corpo, experimentando a sensação de
meu pau latejar pelo simples olhar. Eu estava com tanto desejo que me
mantinha afastado a um custo alto.
Minha própria sanidade.
— Nós devemos parar — ela decretou e eu sabia que não era capaz
de voltar atrás.
Na mesma medida, eu identificava o medo ali, transbordando nela.
Se entregar e sofrer era um pavor que eu também sentia.
Mas... não era capaz de voltar atrás...
— Devemos?
Um sorriso triste surgiu em seu rosto.
— Isso é tão errado que eu nem tenho por onde começar, Marco.
Você é meu chefe, e existe uma relação profissional entre nós que precisa ser
respeitada. Também não sou do tipo que me envolve só por prazer, sem
saber o que acontecerá amanhã. Apenas viver e não se preocupar? Isso não é
para mim.
Ela queria um compromisso? Era isso? Por alguma razão pensei estar
errado e me mantive em silêncio. Temia dizer algo que só piorasse a nossa
situação.
Juliana não estava brincando aqui. Nem jogando com as palavras.
Seus olhos baixaram e eu era capaz de saber que ela percebeu meu
pau duro. Imaginei se se sentiria intimidada ou ofendida, mas ela apenas
permaneceu em silêncio, como se absorvendo nossa situação na medida que
tentava conter sua própria vontade.
Sim, ela queria. Me queria. A maneira como sua respiração exalava
me deixava claro que estava... com tesão.
Mas ela tinha medo. Medo parecia a palavra que estava nos guiando
aqui. Medo e tesão.
— Marco, eu acho que você deve ir — disse, apontando a porta.
Merda, eu não queria ir embora! Eu queria atirar essa mulher na
cama, fodê-la até não restar nada dela, de mim, de nós. Que virássemos
apenas pedaços de carne e suor, paixão e tesão.
Mas, ok... ela não queria uma relação puramente física e eu não sei se
seria capaz de...
Por que não?
E se a gente pudesse ter algo além da paixão? E se a gente pudesse
dividir a vida?
Deus, era loucura. Eu não acredito que estava realmente pensando
em dividir meus dias com outra mulher! Me deixar a disposição para
novamente ser humilhado e traído.
Eu devia saber como as relações funcionavam, não era mais uma
criança.
— Está certo, Juliana. Apenas...
— Apenas?
— Se você... se você quiser... Nós podíamos...
Seu olhar era uma interrogação.
— Esqueça — disse, indo em direção à porta.
Antes de ir, voltei para ela e observei seu rosto avermelhado. Céus,
ela devia estar se contendo como eu. Ela também sabia o quão quente
éramos juntos, e eu sei que ela gozou muito comigo.
Mas, o medo é mais forte que desejo e éramos quebrados demais
para seguir adiante.

✽✽✽
Lizandra pulou na minha cama, me fazendo acordar imediatamente.
— Filha — murmurei, ainda sonolento.
— Vamos andar de maria fumaça! — ela gritou, superanimada, e eu
sorri em sua direção.
Havia passado a noite basicamente em claro. Meditava se devia
romper o quarto de Juliana e lhe perguntar se ela queria se casar comigo. Era
loucura, mas se ela queria compromisso...
Na mesma medida, eu sabia que era a coisa mais idiota que faria na
vida. Não sou um garoto e paixão é diferente de amor. Amor eu sentia pela
minha filha, não por uma garota que tinha quase a metade da minha idade.
— Papai, você virá conosco?
— Eu tenho outro acordo para fechar hoje, mas prometo que vou
jantar com vocês — disse. — Aproveite por mim, ok?
Lizandra assentiu.
De repente minhas sobrancelhas arquearam. Normalmente Lizandra
tinha um temperamento terrível, incontrolável, e minha recusa ao seu convite
podia significar uma travessura terrível contra mim. Todavia, ela concordou
sem reclamar.
Estava tão madura...
✽✽✽

Juliana e eu nos encontramos na recepção do hotel. Eu arrumava o


terno enquanto ela ajeitava o cachecol em Lizandra. Me aproximei delas, e
percebi que Juliana mal conseguia encontrar meu olhar.
Havia vergonha nela e em suas ações. Eu não queria aquilo, em
absoluto. Nossa noite de amor havia sido a noite mais incrível que eu já vivi,
e não era motivo de embaraço entre nós.
— Posso falar com você um minuto?
Ela me encarou, assentindo, constrangida. Mais uma vez, observei
Lizandra e a percebi indo tranquilamente até um sofá na recepção,
aguardando que conversássemos em privacidade.
Isso era incrível.
— O que está fazendo com a minha filha? — questionei, e ela
arregalou os olhos.
— Como?
— Quero dizer... Lizandra está tão obediente e comportada. Desde
que você é babá dela, nunca mais aprontou...
Juliana sorriu um pouco.
— Apenas lhe ensinei um pouco sobre inteligência emocional. Lhe
expliquei que sua sabedoria seria muito mais útil se fosse admirada e não
temida. Lizandra é uma criança maravilhosa e nós duas... bom... Nós nos
tornamos muito próximas. O senhor...
— Senhor? Você sempre me chamou de Marco.
— Oh... eu pensei que fosse bom...
— Bom? — eu estava tão irritado. Me senti um velho diante do
adjetivo. — Bom? Ontem você estava gozando na minha boca e hoje...
— Não seja inadequado — ralhou. — Espero que seja um cavalheiro
diante do que aconteceu.
Inferno!
— Me desculpe. Eu...
Eu o quê?
Eu só queria tê-la de novo. Eu queria beijá-la, amá-la, ficar com ela
para sempre.
Contudo, ela era minha subordinada e não deveríamos estar fazendo
isso.
— Eu só quero que me chame de Marco. Por favor... Não quero que
nada mude entre nós.
Mas, tudo está mudado. E talvez nada mais volte a ser como era.
Juliana

Nunca senti prazer sexual antes de Marco. Talvez fosse por isso que eu
estava com tanto medo do que ele pudesse representar na minha vida.
Ah, eu me lembro da minha primeira vez. Lucas me convidou para
morar com ele, e eu estava enamorada porque ele me fazia sentir querida,
coisa que meu pai nunca fez.
Sai de casa sob o olhar desesperançado de minha mãe.
Provavelmente ela soubesse que eu estava indo para outro inferno, mas não
me avisou ou tentou me impedir. Ao contrário, ela sempre jogava na minha
cara que eu já estava velha demais para ficar morando em sua casa. As filhas
das vizinhas costumavam se amigar com quinze anos, e eu já tinha dezessete
e sequer tinha um namorado.
Na minha primeira noite, Lucas me deitou na cama, e sem
preparação, puxou minha calcinha. Eu estava nervosa e envergonhada, então
pedi para ele parar. Não foi charme ou “cu doce”. Foi desespero. Eu
realmente queria parar, queria ter mais tempo com ele antes de dar esse
passo, mas ele não recuou.
Minha primeira vez foi cheia de dor. Ele meteu e gozou sem se
preocupar com as lágrimas que eu derramei. Senti-me usada, violada , talvez
por isso, na noite seguinte, estava mais nervosa ainda quando ele me buscou
na cama.
Com o tempo, comecei a ser mais enérgica em me negar para ele.
Lucas, todavia, nunca aceitou minhas recusas. Ele me jogava na cama e
metia o suficiente para me molhar. Quando contei isso a uma colega de
trabalho ela me disse que era direito dele fazer isso, pois era meu homem.
Então, na minha cabeça, quando consegui me livrar de Lucas e ter
paz, tudo em que pensei foi no quanto a solidão não era tão ruim, e em nunca
mais ser propriedade de um homem.
Até Marco.
Até ele virar minha cabeça.
Até ele me fazer gozar com sua boca, me fazer arder com seu olhar,
me fazer gemer como uma cadela em seu pau, até ele...
Até ele se afastar quando eu pedi.
Agora eu estava ali. Cheia de dúvidas e perguntas porque ainda não
conseguia alçar o tipo de homem que ele era.
Um homem que se afasta...
Lizandra estava assistindo Dragon Ball na televisão a cabo. Vegeta e
Bulma teriam mais um filho e Vegeta dizia que não podia ir treinar com
Goku porque precisava estar por perto quando Bulma desse a luz. Esse tipo
de atitude me lembrou de Marco.
— Ju... — Lizandra volveu para mim e eu sorri para ela.
— Sim?
— Se papai e você tiverem um filho, não deixaria de me amar, né?
Eu fiquei tão chocada com as suas palavras que ao invés de negar o
bebê, simplesmente disse:
— Nunca deixaria de te amar, Liz...
Porque era um fato. Eu a amava. Amava essa garotinha loira,
inteligente e travessa, que me fazia rir e me sentir segura como mais nada
nesse mundo.
Nós havíamos passeado de trem durante o dia e agora estávamos
sentadas no quarto principal lanchando com o televisor ligado. Era um
ambiente calmo, mas eu fiquei momentaneamente assustada.
Queria dizer mais coisas a ela. Coisas como eu não estar envolvida
com o pai dela. Mas, não conseguia mentir para Lizandra porque certamente
seria uma mentira. Ainda sentia meu coração palpitar pela simples memória
desse homem.
O telefone tocou. Olhei para a tela do celular e me vi sorrindo pela
chamada de Marco.
Deus...
Ele tinha esse poder sobre mim. Eu não conseguia controlar a
felicidade que me trazia, mesmo sabendo que...
Oh, eu nem sabia mais.
— Oi?
— Estou ligando para confirmar se vocês já chegaram do passeio.
Quero jantar com as duas.
— Oh sim... estamos aqui.
— Ótimo. Por favor me aguardem. Quero levá-las a um restaurante
italiano que me indicaram na reunião da tarde.
Eu assenti, imaginando que roupa vestir. Uma parte de mim queria
estar bonita, outra gritava desesperadamente para que eu parasse com isso.
— Vamos te esperar — disse, e desliguei.
Lizandra me encarou com aqueles enormes olhos claros, num misto
de malícia que eu entendi muito bem.
Estava perdida...
Marco

O restaurante ficava em um lugar elevado, onde podíamos ver a cidade


bonita com suas luzes brilhantes ao fundo. Era um local sofisticado, com
suas mesas cobertas de toalhas vermelhas e cortinas douradas. Não era o tipo
de ambiente que eu levaria Lizandra, mas achei que ela estava bem-
comportada e poderia conhecer lugares mais adultos.
Além disso, disseram-me que a comida dali era incrível, tipicamente
italiana. O vinho também trazia a qualidade da serra gaúcha e fazia muito
tempo que eu não degustava de um bom tinto suave.
— A massa está incrível — o garçom nos disse, entregando o menu.
— Posso recomendar a com molho branco e com uma pitada de alecrim? É a
especialidade do chef.
Eu assenti, encarando Juliana, que também concordou. Não sei se
como eu, era também desacostumada a ambientes assim.
O homem se afastou, enquanto Lizandra começava a discorrer da
beleza da viagem de trem.
Eu ouvia a tudo, mas meu foco estava na mulher do outro lado da
mesa. Era estranho estar tão perto de Juliana, e na mesma medida, tão longe.
Olhei de soslaio para ela, e a percebi me observando. Seu olhar
mudou de foco tão logo nossos olhos se encontraram, e eu sabia que ela
estava se sentindo da mesma forma que eu.
— Você cresceu em ambientes assim? — ela perguntou na minha
direção, e Lizandra também me encarou.
— Como? — indaguei a Juliana.
— Você já veio de família abastada?
— Abastada? — eu ri.
— Sei que me disse que batalhou por tudo que tem, não estou
desmerecendo, só fiquei curiosa porque nunca fala da sua família.
Meu sorriso não sumiu. Não me incomodava com a pergunta dela.
— Não. Eu basicamente não tenho contato com meus pais. Meu pai
foi embora para o Rio de Janeiro quando eu tinha a idade de Lizandra e
nunca mais o vi. Minha mãe se casou de novo, e constituiu uma nova
família. Eu não tenho contato com ela. Me dava bem com minha ex-sogra e
cunhado, mas não somos muito íntimos. Apenas temos uma boa
convivência.
Ela assentiu, compreensiva.
— Então você realmente “se fez sozinho”?
— Financeiramente? Eu tive sorte.
— Trabalho duro não é sorte.
— No meu caso, foi sorte mesmo — dei os ombros. — Está tudo
bem. Meu primeiro milhão foi pela sorte, mas os próximos foram muito
trabalho. Mas, e você?
— Eu não tenho nenhum milhão.
Eu não aguentei e ri. Céus, era tão fácil gostar de tudo que ela dizia.
Eu não conseguia evitar em me apaixonar por ela.
— Também não tenho contato com meus pais.
— Que pena, eu queria ter avós — Lizandra disse, fazendo nos dois
arregalarmos os olhos, pelas palavras e pelo fato de que ela estava ali, pois
momentaneamente me esqueci de minha filha.
A comida chegou e o assunto morreu. Lizandra voltou a falar
bastante e nós dois evitamos saber mais um do outro. Tudo que entendíamos
parecia o suficiente. Estávamos nos apaixonando, estávamos loucos de tesão,
e estávamos apavorados, na mesma medida.

✽✽✽

Eu bati novamente na porta do quarto dela. Estava insistindo apesar


de minha vergonha e hesitação.
Todavia, eu não conseguia evitar, eu precisava... precisava tentar.
— Podemos conversar? — perguntei quando ela abriu a porta.
Juliana havia tomado banho, seus cabelos estavam molhados e o
cheiro do shampoo me tomou demasiadamente. Eu quase podia sentir os
dedos formigando, ansioso para tocar suas mechas, puxar suas madeixas,
enrolando-as no meu polegar, enquanto deslizava a boca pelo seu rosto.
Tínhamos que resolver isso. Estava ficando insustentável. Eu
precisava encarar meus sentimentos, e precisava que ela também olhasse
para os seus.
Eu estava sentindo algo. Era amor?
— Gostaria que nossa conversa fosse exclusivamente sobre Lizandra.
E se não foi por causa de sua filha que está aqui, não acho que devemos
prosseguir.
— Estou tentando evitar, Juliana, mas não consigo fugir disso.
— Mas, deve. Somos de mundos diferentes. Muito opostos.
— Ainda assim, tão iguais.
Eu disse isso sem pensar. Seu rosto ficou instantaneamente vermelho.
— Você não é igual a mim. Você é homem.
Eu não tinha como discutir isso. O mundo era deveras mais
complicado para as mulheres.
— Marco... Não quero falar sobre o que aconteceu. Só quero
esquecer.
— Esquecer?
— O que eu fiz... sinto-me tão envergonhada.
— Por quê? Somos adultos e livres.
Juliana olhou para mim como se eu estivesse louco.
— Eu não sou livre. Sou sua empregada.
— E daí? Me diz se não vale a pena arriscar?
Seus olhos pareceram pesarosos e dolorosos por alguns segundos.
— Eu não acho que eu deveria. Seus riscos são bem menores que os
meus. Você é rico e poderoso. Se nada der certo, você apenas troca de babá.
Eu ficarei sem ter onde trabalhar.
Era verdade. Mas, eu a queria ainda assim. Era capaz de tudo por ela.
Se ela quisesse segurança, eu poderia até pagar para ela, mesmo jamais
tendo pago por outra mulher. Minha boca chegou a abrir com a descabida
ideia, mas consegui reorganizar meus pensamentos antes de dizer isso.
Seria uma ofensa, estaria a chamando de prostituta e sei que ela
jamais seria isso.
Juliana era digna e trabalhadora. Uma mulher honrada.
— Eu sei que você está certa, mas ainda assim... ainda assim, eu não
consigo parar de pensar em você.
— Precisa parar. Precisa parar agora.
Dei um passo para frente. Ela recuou um.
— Você gosta de mim?
Era toda a questão.
— Você sabe a resposta — ela rebateu.
— Me diga.
— Eu gosto. Eu gosto muito de você. E gosto da sua filha. Adoro
estar na vida de Lizandra, acompanhando sua trajetória em se tornar uma
mocinha. Eu fico feliz de fazer parte disso. Mas, sei que meu papel tem
prazo contado, logo ela não irá precisar mais de uma babá, e logo você não
precisará mais de mim. Um dia vai conhecer uma mulher sofisticada, do seu
mundo, alguém que não fique envergonhada nos lugares bonitos que você a
levar...
A colocação me fez arregalar os olhos.
Juliana ficou envergonhada nessa noite?
Levei um tempo para entender que sim. Ela não tinha roupa para um
ambiente daqueles, e talvez nem soubesse se portar em um. Mas, estava tão
fascinado pela presença dela que nem percebi isso.
— Eu sinto muito. Da próxima vez podemos ir a um lugar menos
formal. E, se você quiser comprar roupas...
— Chega, Marco. Não diga algo que possa quebrar nossa amizade.
Não quero presentes. Só quero respeito.
Eu mal conseguia respirar.
— Eu respeito você.
— Então vá, por favor — ela pediu.
Era uma punhalada forte. Eu sabia que significava o fim. Ela gostava
de mim, mas não tinha forças para lutar por mim, por nós.
Então, respeitei, me afastando.
Juliana

Quando voltamos para Porto Alegre, a sensação que eu tinha é de que as


coisas ficaram claustrofóbicas. Conviver com Marco depois de ter tido uma
noite ardente com ele foi constrangedor. Eu queria fugir, me esconder, do
montante de coisas que estava vivendo, mas para onde quer que eu olhasse,
eu o via.
Ele era um pai presente, apesar de trabalhar muito. Então em muitos
almoços ou jantares com Lizandra, ele surgia e nos acompanhava. Mas,
ainda assim, eu não fazia ideia de que ele pudesse ter outro interesse além da
filha.
Quem me contou que a secretária de Marco era apaixonada pelo
chefe foi Lizandra. O assunto surgiu ao acaso, estávamos vendo um filme
cuja protagonista tentava impedir o pai de casar-se com uma mulher má.
Lizandra virou-se para mim e disse que parecia a vida dela.
— Como assim? — questionei.
— Vanda só não ficou com papai ainda porque não gosta de conviver
comigo. Se papai me colocar num colégio interno, com certeza ela vai “cair
matando”.
Eu não acreditei muito nas palavras porque Lizandra fazia parte do
“pacote” para qualquer mulher. E, talvez, por adorar tanto essa menina, eu a
considerava a “melhor parte” de estar com Marco.
Contudo, num dos dias que fui até o escritório de Marco para pegar
minha carteira de trabalho que ainda estava com o RH da empresa dele, e vi
a forma como Vanda o tratava, eu soube que Lizandra estava certa.

✽✽✽
Pode ser ridículo, mas reconheci em mim mesma uma quantidade de
ciúmes quando pensava na secretária bonita, esguia e bem-vestida de Marco.
Assim, evitava pensar nela ou evitava ter que ir ao escritório da
transportadora para não ter que vê-la.
Mas, nessa tarde, depois de deixar Lizandra na escola para o turno da
tarde, eu precisei ir até o escritório para conversar com Marco sobre um
curso de música que Lizandra estava querendo fazer.
Quando cheguei ao andar dele, percebi a mesa da sua secretária
vazia. Aproximei-me da porta da sala dele, a fim de bater para ver se ele
estava ali, quando a percebi entreaberta.
Pela pequena abertura pude vislumbrar Vanda flertado com ele,
sorrisinhos enquanto ela se sentava em sua mesa, como uma secretária de
respeito jamais faria. Marco estava recostado na sua poltrona, rindo sei lá de
quê.
De repente os olhos dele correram pela porta e ele me viu ali. Fiquei
tão assustada que me afastei o mais rápido que pude. Corri até o elevador e
apertei os botões com força.
Não sabia o que estava fazendo.
Não sabia por que estava doendo tanto.
Ouvi sua voz atras de mim, chamando-me.
A porta do elevador se abriu e fechou antes que ele conseguisse me
alcançar.
Lágrimas borbulhavam nos meus olhos enquanto eu constatava a
única verdade absoluta: Eu havia me apaixonado por esse homem, eu estava
perdidamente caída por ele, eu o desejava mais que tudo nesse mundo, mas
como eu ainda não estava pronta para ser dele, ele não pestanejou em se
tornar disponível para outra.
Porque ele era homem. Homem não espera.

✽✽✽
Lizandra já estava dormindo quando Marco chegou naquela noite.
Ele abriu a porta e eu prontamente busquei minha bolsa para sair.
Contudo, ele se colocou na minha frente, impedindo-me.
— Vamos conversar.
Eu não queria conversar. Eu não queria falar sobre estar espiando-o.
Eu não queria falar sobre Vanda e o quanto eles pareciam íntimos.
— Eu preciso ir, Marco. Boa noite.
Tentei passar por ele, mas ele se colocou na minha frente.
— Nós precisamos conversar — ele insistiu.
— Não vejo sobre o quê. Ah — suspirei. — Desculpe ter ido ao seu
escritório hoje. Eu precisava falar sobre algo... Mas, eu devia tê-lo esperado
em casa e conversado... Enfim, espero não ter atrapalhado Vanda e você...
Isso saiu carregado de ciúmes. E tudo que eu não queria era ter meus
sentimentos expostos dessa forma.
— Vanda e eu? O que você acha que viu? Vanda e eu estávamos
apenas conversando.
Ah, sim. E eu era uma idiota? Eu sabia exatamente o clima que
estava rolando ali.
— Desculpe, isso não é assunto meu.
— Eu não estou com ela. Eu nunca tive nada com ela. Eu estou
esperando você.
Sua resposta me deixou zonza. E eu precisava me recompor. Minhas
emoções precisavam ser enterradas. Era mais seguro não sentir. Eu precisava
me lembrar disso.
— Eu não sei o que você está esperando.
— Sua cura. Posso ser parte dela.
— Não estou doente.
— Suas dores te tornam doente, assim como as minhas fizeram
comigo. Mas, de alguma forma, você me curou, Juliana. Eu não sei como,
mas quando eu penso em você, eu tenho coragem de seguir adiante. Isso era
algo impensável para mim, antes. Me deixe ser parte disso em sua vida,
também.
Minhas mãos quase se ergueram e tocaram seu rosto ansioso.
Quase...
Não tinha coragem. Eu queria ter. Desejava mais que tudo. Mas
estava apavorada que dispusesse meus sentimentos para esse homem e
depois de ele enjoar, me trairia e destruiria como todos faziam.
Uma parte de mim insistia para lhe dar uma chance. Outra gritava
desesperadamente: “O que diabos você está fazendo?”.
— Eu só quero ir embora — murmurei.
Marco me encarou surpreso e por alguns segundos eu pensei que ele
não me deixaria sair.
E isso talvez fosse bom. Talvez se ele me forçasse, conseguiria
quebrar a barreira.
Todavia, então, abriu o caminho. Agradeci e cruzei por ele sem dizer
mais nada.
Eu estava desmoronando. Prestes a voltar e me atirar contra seus
braços, quando a imagem de Vanda voltou a minha mente. Ela era linda e
preparada, uma mulher segura, capaz de dar a um homem tudo que ele
precisava.
Marco estava certo quando disse que eu me tornei doente. As dores
podem acabar com você. As dores me quebraram em mil pedaços. Não tinha
certeza se um dia esses cacos iriam ser juntados e colados, pois cristal depois
que se rompe nunca volta ao normal.
Marco

Eu sabia que Vanda gostava de mim. Amor ou paixão, não sei bem, mas ela
sempre demonstrou interesse.
E era uma mulher lindíssima. Inteligente, com seus trinta e poucos
anos, culta, sabia se vestir, sabia se portar, e ser agradável. Todavia, mesmo
assim, eu não estava flertando com ela, apesar das palavras de Juliana.
Estava apenas... Não sei... descontraindo.
Vanda podia atirar seus sorrisinhos e elogios focados em conquistar o
viúvo rico, mas eu apenas estava passando o tempo, sentindo um pouco de
carícia no ego.
Não flertando.
Me senti um pouco irritado com a imaturidade de Juliana. Certo,
mesmo que eu só havia decidido que estava disposto a ser dela há poucas
semanas, o fato de ela me afastar com tanta veemência - quando claramente
gostava de mim - parecia um jogo de gato e rato que eu, por já ter certa
idade, não estava disposto a brincar.
Tentei falar com ela, mas foi em vão. Ela não queria ouvir nada do
que eu tinha a dizer. Ela podia me desejar, mas deixava claro que não
seguiria adiante o que me deixou numa situação incomoda.
Com meus sentimentos por ela revelados, ficou claro que eu queria
uma companhia. E se não fosse a mulher que eu amava, podia ser outra?
Então eu aceitei a conversa fiada de Vanda, apenas para sentir que
era vivo, humano, com sentimentos e necessidades como todos. Quando
Juliana nos flagrou, contudo, senti culpa, nem sei por quê.
Como ela não quis me ouvir e me escorraçou como sempre fazia,
pensei que o melhor seria desistir. Se ela quisesse, podia ter ao menos
tentado, mas estava tão arrasada pelo seu passado, - e pelo pouco que eu
sabia tinha motivos para isso – que parecia não ter lugar para mim.

✽✽✽
— Estou pensando — Vanda surgiu na porta do meu escritório,
chamando minha atenção —, podíamos sair para jantar uma noite dessas. E
levar Lizandra junto.
Normalmente era o homem que convidava, mas Vanda não era do
tipo que esperaria.
— Oh... eu não sei bem... — murmurei.
— Vamos lá, Marco... Não seria legal eu me aproximar de Lizandra?
Eu acho que nós dois sabemos que é a minha distância com ela que está nos
impedindo de... avançar.
Não era. Mas, como eu explicaria isso? Como eu diria que só
pensava na babá de minha filha, sendo que a mesma sequer me queria?
— É... pode ser — disse, por fim. - Que tal hoje à noite?
— Ótimo. Eu escolho o restaurante — Vanda piscou o olho direito e
se afastou, meu coração estava transbordando de algo...
Culpa?

✽✽✽
Entrei em minha casa e meus olhos centraram na figura delicada de
Juliana perto do sofá.
— Boa noite, Marco.
Assenti. Era difícil falar com ela quando tudo em mim parecia um
redemoinho de sensações.
— Lizandra gostaria de fazer uma sessão de filme e pipoca hoje, e
estou pensando em ficar...
— Oh — a cortei. — Obrigado por se oferecer Juliana, mas eu tenho
planos para hoje.
— Planos? Precisará de mim?
— Não. Sairei para jantar, mas levarei Lizandra junto.
Ela concordou com uma sacudida rápida de cabeça. Mas seus olhos
diziam outra coisa.
— Marco, Lizandra odeia te acompanhar a esses jantares de
negócios. Eu posso ficar com ela.
— Não é de negócios. É um jantar com Vanda.
Eu disse isso e continuei a observando tentando ver nela qualquer
traço na sua máscara gélida.
Nada.
Sua expressão não denunciava suas emoções.
Talvez ela não se importasse. E só eu estava com medo de perdê-la
por me aproximar de outra mulher. Mas, nada... era como se nosso sexo
ardente não tivesse representado nada para ela.
Ah, Juliana... como eu queria que fosse diferente. Como eu queria
que ficássemos juntos. Que você demonstrasse raiva e brigasse, lutasse por
mim... por nós.
Mas, ela apenas suspirou e me deu um sorriso sem vida, fraco como
seus olhos abatidos.
— Está certo. Até amanhã então.
Juliana

Ele estava seguindo em frente.


Para ser honesta, eu devia parabenizá-lo. Homem nenhum deve se
sujeitar a ficar esperando uma mulher como eu. Eu esperava que ele fosse
feliz, afinal sua secretária combinava muito com ele.
Ah, Deus, o que diabos estou pensando?
Meu sentimento era tão aterrador que parecia me corroer. E se, agora,
com uma namorada, eu fosse privada da companhia de Lizandra. E se eu
fosse dispensada? E se eu perdesse todo o contato com Marco? Vanda podia
sentir ciúmes de mim, afinal eu era mais jovem do que ela.
Nossa, esse pensamento era ridículo! Eu jamais estaria à altura de
uma mulher tão bonita como ela.
Mas... eu dormi com Marco...
Ahhhhhhhhhhh!
Essa dor parecia me asfixiar.
E não era justo eu senti-la. Eu queria Marco para mim, na mesma
medida que fugia dele.
Se eu não tinha uma chance com ele, devia ficar feliz em vê-lo sendo
feliz com outra pessoa.
Não é?
Vanda era tão elegante e moderna. Ela tinha um cabelo cacheado e
loiro semelhante ao de Lizandra. Se alguém as visse juntas, poderia
considerá-las mãe e filha.
Lágrimas surgiram nos meus olhos, ardendo em minha garganta.
Meu medo de seguir em frente me fez perder tudo. Marco arrumou
uma namorada e agora Lizandra teria uma mãe. Se eu tivesse lhe dado uma
oportunidade, talvez...
Contudo, eu não conseguia...
Ele disse que poderia ser minha cura, mas eu o rejeitei.
Meu coração estava se partindo dentro de mim e não queria que
ninguém me visse desmoronar. Havia me apaixonado por Marco, mas não
fui capaz de seguir em frente.
Eu o perdi. Respeitosamente, devia sair de cena.
Devia pedir demissão.
Não voltar mais.
Volvi em direção a casa, e percebi suas luzes acesas. Eu devia ir me
despedir de Lizandra. Devia dizer que a amava, mas que não podia
continuar.
Faltava-me coragem, mais uma vez.
Quando cheguei no meu pequeno apartamento, sentei-me no sofá e
fiquei olhando a parede, mortificada com minha própria vida.
Era como se eu não tivesse um único motivo para seguir adiante. Era
como se não houvesse para onde prosseguir.
Só havia vazio. Sem Marco e Lizandra, o vazio era tudo que me
restava.
Ele seguiu em frente...
Talvez eu fosse romântica ou idiota o suficiente para acreditar que
ele iria esperar por mim pelo tempo que fosse necessário.
Oh Deus, mas não era justo.
As pessoas não podem ser colocadas numa eterna expectativa sem
qualquer esperança de realização.
Ele seguiu em frente porque era razoável que o fizesse.

✽✽✽
Sim, eu fui covarde. Eu não apareci no outro dia no trabalho, assim
como em todos os dias que se seguiram.
Eu não conseguia sequer levantar da cama. Algumas vezes me
esgueirava para o banho, algumas vezes comia um pão na cozinha...
Todavia, pela primeira vez eu me permiti viver o luto da desesperança que
sempre me recusei a experimentar.
Eu perdi o amor da minha vida. E perdi a criança que fez meus dias
valerem a pena.
Eu perdi tudo.
O meu celular vibrou. Era Marco me ligando sem parar. Eu não
estava com raiva dele por ter seguido em frente, apenas não tinha forças para
reagir.
Eu só conseguia ficar deitada, no vazio, na escuridão.
Eu só queria morrer.
Por que eu era tão quebrada? Por que meu pai fez o que fez comigo?
Por que Lucas me violentava? Por que eles destruíram toda minha
autoconfiança de uma forma que eu não conseguia reagir?
Eu sabia que uma hora teria que seguir. Provavelmente Marco acusou
abandono de emprego, e eu teria que ir buscar minha carteira na empresa
dele. Eu também precisava voltar a trabalhar porque o aluguel, a água e a luz
não se pagavam sozinhos.
Eu só preciso ter forças. Só preciso de mais um dia... mais uma
semana... Só preciso de mais um momento em minhas lágrimas.
Marco

Ela não atendia ao telefone.


Eu devia ir até o apartamento cadastrado na sua ficha admissional,
mas me faltava coragem.
Ela não me queria por perto, e eu devia respeitar isso.
Para piorar, Lizandra estava terrível. Ela me culpava pelo sumiço de
Juliana, e fez questão de ser desagradável com Vanda todas as vezes que nós
nos encontramos.
No fundo, mesmo que eu tentasse disfarçar, não me importava de
Lizandra não se dar bem com Vanda porque a verdade é que eu mesmo sabia
que isso não daria certo, e minha filha era o último dos motivos.
Estar com Vanda só me fez perceber o quanto eu queria estar com
Juliana. Eu sentia falta da leveza dela, da forma franca de falar, sentia falta
de não precisar encenar com ela, ser eu mesmo parecia o bastante para
Juliana.
Ah, se ela me quisesse... Deus, eu daria tudo por uma chance.
Olhei o visor do celular. O telefone estava desligado e a voz fria da
caixa postal me dizia para deixar um recado. Eu havia deixado muitos nos
últimos dias.
— Está tudo bem?
Vanda estava parada na porta do escritório e parecia cheia de si. Nós
não havíamos avançado muito desde que começamos a sair, e eu fugi de
qualquer intimidade porque me sentia nervoso e derrotado, mas ela parecia
não se importar.
Para ela, estar saindo com um CEO rico era o bastante.
Eu estava chateado, e ela estava reluzente. Foi assim que eu percebi o
quanto ela me lembrava Luana e o quanto eu parecia estar entrando em outro
relacionamento fadado a dor e fracasso.
Mas ela tinha minha idade e era mais adequada a mim. As pessoas,
quando nos vissem juntos, não nos julgariam como uma novinha e o velhote.
Isso era importante, não era?
— Não é nada — resmunguei.
— Querido, sei que algo te incomoda.
Odeio quando me chamam de querido. Faz-me sentir falsidade.
— Sua babá não deu retorno? — ela olhou meu celular. — Ainda
bem que Lizandra está se dando bem na escola, não é?
Lizandra se tornou uma criança mais dócil e fácil de lidar depois de
Juliana.
— Sim, Lizandra está indo muito bem.
— Mas isso não tira a irresponsabilidade dessa garota, abandonar o
trabalho sem dar qualquer explicação.
— Ela teve seus motivos.
Vanda empoleirou-se como uma águia medindo o alimento abaixo
dela. Pude perceber que ela não gostou do que eu disse. Lhe contradizer
nunca parecia boa coisa.
Mas era a verdade. O sumiço de Juliana não me assombrava, ela
fugiu porque precisava. Talvez, no lugar dela, eu fizesse o mesmo.
Fugir era sempre a coisa mais fácil. Fugir era a única coisa que
parecia nos acalentar nesse mundo cruel.
— Bom, estou disposta a ser mais que uma madrasta para Lizandra,
você sabe. Eu realmente pensei muito sobre isso e acho que é hora de eu
assumir a educação dela, talvez ter outros filhos também.
Eu fiquei em silêncio porque não sabia exatamente o que dizer.
— Marco... não acha que devemos avançar? Eu acho que podíamos ir
a um motel depois do trabalho... O que pensa?
Minha boca abriu e eu tentei absorver a informação de que Vanda
estava se oferecendo assim. E pior, de que eu estava completamente frio
diante do fato.
— Eu tenho que pegar Lizandra depois do trabalho. A escola exige
que estejamos lá até as 18 e meia.
Ok. Eu tinha uma desculpa para escapar. Bom... nem tanto.
De repente Vanda volveu para a porta, e a fechou. Fiquei abismado
com o calor que vi em seus olhos e algo subiu na minha bile.
Era desespero.
O que diabos estava acontecendo comigo? Desde quando ter uma
mulher bonita me querendo me fazia ficar tão nervoso?
Vanda se aproximou de mim. Isolados naquele escritório, eu a
percebi se ajoelhar diante de mim. A cena toda era grotesca demais e me
lembrava filmes pornôs que eu via na adolescência.
— Eu...
— Sim? — ela murmurou, abrindo meu zíper.
— Desculpe, eu não quero.
Segurei suas mãos e a impedi de continuar.
Vanda me olhou como se eu estivesse esbofeteando-a.
— O quê?
— Eu... eu não acho que esse é o local...
— Você está me desprezando?
Claro, ela era linda demais para achar que um homem pudesse
renegá-la.
— Me desculpe. Eu acho que não vai dar certo... entre nós. Não
estamos na mesma sintonia.
Seu lábio esticou numa carranca assombrada.
— É aquela novinha, não é? Nunca pensei que você fosse do tipo de
homem que troca fraldas.
— Não se trata disso...
— Não se trata disso? Aposto que ela só quer seu dinheiro.
— E você? Não quer?
Ela se levantou, uma dignidade machucada expressa no seu olhar.
— Vanda, eu me culpo muito por gostar de uma mulher tão mais
nova que eu. Mas, aconteceu. Eu não consigo evitar. Nem quero, acho...
Então ela virou as costas e saiu batendo a porta. Eu fiquei para trás,
terra arrasada depois de um vendaval. Na mesma medida, tão aliviado como
nunca.
Juliana
Três Meses Depois

Eu emagreci quase vinte quilos. Meu peso estava tão baixo que eu sentia
meus ossos grudando na minha pele. Me encarei no espelho do escritório e
vi minha apatia refletida.
O que eu estava fazendo ali?
Depois de quase um mês sem conseguir sair de casa, arrasada e numa
depressão absoluta, fui trazida a realidade com o aviso da energia elétrica me
informando que cortariam a luz.
As contas não param e eu não tinha o direito de parar.
Nos dois meses seguintes eu passei fazendo bicos de diarista
terceirizada até que Augusto me ligou.
Definitivamente eu não pensava em voltar para meu antigo chefe. Ele
era um cara terrível e ele quase acabou com a minha autoestima. Contudo,
eu precisava trabalhar e ele não havia se acertado com nenhuma secretária
depois que eu saí.
— Está tudo uma bagunça — ele disse, mexendo entre os papeis. —
Duas garotas passaram por aqui desde que você saiu. Todas incompetentes,
birrentas. Uma até me disse um palavrão.
Eu riria se houvesse qualquer alegria em mim.
— Você pode começar na segunda-feira?
Sua voz não era arrogante como costumava ser. Era quase
esperançosa. Desesperada.
— Claro — eu disse, apesar de querer recusar.
Eu não tinha escolha. Pobres nunca tem.

✽✽✽
Um dos motivos que mais me fez pestanejar em trabalhar para
Augusto novamente era a possibilidade de eu ter um encontro com Marco
Soares em qualquer negócio que Augusto fosse providenciar. Nas duas
primeiras semanas eu passei arredia, com o coração acelerado toda vez que a
campainha da porta do escritório soava, sempre à espera de ver seu rosto
moreno e másculo cruzando por mim.
Não aconteceu.
Eu pensei que Marco era passado enterrado até Augusto surgir numa
sexta-feira cheio de curiosidade.
— O que aconteceu entre Marco Soares e você?
Eu levantei meus olhos da tela do computador, meu coração batendo
freneticamente, minha respiração rápida e as mãos tremulas.
— Por quê?
— Ele perguntou de você. Perguntou se eu a vi...
Não que ele estivesse a minha procura. Ele sabia onde eu morava,
podia ter ido atrás se essa fosse sua vontade. Contudo, Marco não era do tipo
que corria atrás, ele respeitava minha decisão de não ter nada com ele.
No fundo, não podia evitar me ressentir por ele não ser um ogro
machista que se impunha. Eu não tinha coragem de avançar, por que ele não
lutava por mim?
— Lizandra deve sentir minha falta — expliquei. — Eu me apeguei
muito a filha dele. E ela a mim.
Augusto parecia cético, e eu quase podia vislumbrá-lo negando com
a face.

✽✽✽
Lá fora o vento uivou como se fosse assombrado. Eu me lembrei de
uma professora que dizia, sempre que o vento soava assim no inverno, que
eram as almas dos nossos antepassados que lamentavam pela vida perdida,
encontros que nunca ocorreram, amores que nunca viveram, dores que ainda
sentiam.
A vida é isso, não é?
Dor.
Alguém realmente experimentava a verdadeira felicidade?
Peguei o controle remoto e liguei o televisor. Na tela, a nova novela
bíblica mostrava uma cena dos patriarcas. Eu observei a encenação sem
realmente absorver o que estava acontecendo porque mal conseguia pensar
em alguma coisa.
Subitamente, meu celular vibrou ao meu lado. Eu não costumava
receber ligações, mas não olhei para a tela. Simplesmente atendi e o coloquei
no ouvido.
— Alô?
Houve um breve silêncio. Lá fora o vento continuava a lamentar.
— Juliana? Nem acredito que você atendeu...
Não precisei perguntar quem era. Eu conhecia Marco em cada
timbre. A voz dele era a única que me fazia vacilar. A única que trazia
lágrimas aos meus olhos.
Eu devia desligar. Devia. Não conseguia.
— Oi — murmurei. — O que deseja?
— Eu queria ir até sua casa, mas temia que a amedrontasse. Soube
que voltou a trabalhar para Augusto, pensei em ir até o escritório dele, mas...
me impor a você parece horrível. Então eu pensei que uma ligação seria...
— O que você quer? — fui firme.
Porque eu não queria ouvir sua voz agora que lutava
desesperadamente para esquecê-lo.
— Eu queria te explicar o que aconteceu... Sobre Vanda... você, eu...
— Desculpe, eu não quero ouvir. Eu acho melhor desligar.
— Espere!
Ok. Estava doendo. Absurdamente. Eu nunca senti tanta dor quanto
agora. Eu só queria fugir de novo. Na mesma medida, eu sabia que essa dor
podia me fortalecer.
— Eu fui idiota, Juliana. Achei que podia seguir em frente. Achei
que podia..., Mas, não posso. Não com outra mulher.
Neguei com a face.
— Eu não quero ouvir, Marco.
— Eu preciso de você. Lizandra precisa de você. A nossa vida não é
mais a mesma desde que se foi. — Ele respirou fundo. — Você precisa
voltar para nós.
— Eu não acho que é a melhor coisa. Você sabe que aconteceu algo
entre nós e agora você tem uma namorada...
— Não... Entenda, Vanda saiu da minha vida. Minha escolha. Eu não
consigo me sentir conectado com outra pessoa. O que eu experimentei com
você foi único, gracioso e intenso. Eu nunca vivi isso com mais ninguém. Eu
só preciso que me dê uma chance. Só uma Juliana. Só uma oportunidade e
eu vou te provar dia após dia que....
— Entenda — o cortei. — Eu não tenho forças para me submeter ao
risco de sofrer por amor. O sentimento pode ser grandioso, mas o medo é
maior.
Então desliguei.
Era tão covarde. Tão covarde.
Enquanto me afogava nas minhas lágrimas, eu me abracei naquela
sala nublada pela escuridão e pelas sombras manchadas da tela do televisor.
O que era tão fácil para outras pessoas era tão complicado para mim.
— Se você realmente me ama, terá que ser forte por nós dois —
murmurei.
Mas, ele não era. Ele também tinha seus demônios.
O vento uivou novamente. Agora sim eu entendia o lamento dos
fantasmas.
Marco

Eu não devia ter desistido dela, em primeiro lugar. Devia ter evitado Vanda
e lutado por nós. O que é claro para mim agora estava obscurecido pelas
minhas defesas antes.
Juliana era mais jovem que eu. Era linda e era capaz de conseguir
alguém melhor do que eu. Mesmo assim, eu devia ter lutado como um louco
por nós dois. É isso que um homem de verdade faz.
Estava sentado no sofá de minha casa, lá fora o vento batia com força
nas árvores do jardim. O bairro inteiro tremia pela tempestade e eu podia ver
os relances dos raios cruzando pela vidraça da janela.
Eu devia ter lutado por nós.
— Papai?
Volvi meu rosto para o lado e vi Lizandra parada perto das escadas,
seus longos cabelos loiros caindo como cascata de ouro por seus ombros
delicados de criança.
— Oi, amor? O que foi? A tempestade te acordou?
— O que mamãe fez que te faz fugir de Juliana?
Era uma pergunta adulta demais para alguém tão pequeno.
— Lizandra...
— Juliana não é mamãe. Ela não vai te machucar como mamãe fez.
Assenti.
— Eu sei.
— Então por que não está lutando por ela?
— Ah, filha. Um homem de verdade não tenta avassalar o desejo de
uma mulher. Se ela não quer, não é meu direito me impor.
— Mas, ela ama você, sabe disso, não é?
Tentei negar. Contudo, eu sabia que era verdade. Nosso amor, meu e
de Juliana, era tão medroso.
— Às vezes o amor não é o suficiente.
— O amor é tudo. O amor te fez lutar por nós dois quando mamãe
morreu. O amor te fez forte para nunca me abandonar. O amor devia lhe dar
forças de mostrar isso para Juliana.
Juliana

Ao longe eu podia ver a voz calma de Pedro Ernesto Denardin comentando


sobre a dificuldade que seria realizarem o jogo nessa noite. Talvez nevasse,
ele comentou. Mesmo assim, o campeonato não seria interrompido.
O frio atípico daquele outubro parecia corroer os ossos, fazendo com
que uma dor imensurável atingisse cada célula do corpo.
Eu me encolhi no meu blusão de lã, caminhando em direção a parada
de ônibus. A avenida movimentada me trouxe uma certa calma, pois já
estava anoitecendo e eu não queria ser pega sozinha na escuridão.
— Oi? — uma voz atrás de mim interrompeu meus passos.
Transeuntes continuavam a caminhar como se o tempo passasse
depressa demais naquele final de tarde, e todos estivessem atrasados. Eu
também estava. Não para o ônibus, mas para a vida.
Girei meu corpo e meus olhos fixaram-se na figura bonita de Marco.
Ele estava parado ereto, com as duas mãos no ombro, um cachecol
escondendo seu queixo de barba rasa. Meu coração vibrou, enquanto uma
parte de mim parecia ansiosa para sair correndo.
Mas, eu não queria mais correr.
— Oi — respondi, e permaneci parada, esperando o que quer que ele
viera dizer.
Marco estava tão bonito. Exatamente como eu me lembrava, cada
detalhe de sua aparência destacada pelos seus olhos vivazes e escuros.
Ele me fazia queimar. O sorriso em seus lábios. A maneira como seu
olhar me encarava. O tom de sua voz. Tudo nele atiçava uma parte
animalesca de minha alma.
— Como você está linda — ele murmurou.
Não sabia exatamente se queria aquele elogio. Porque ele não era
focado na verdade das palavras. O que de verdade ele parecia dizer era
“saudade”.
— Obrigada. — Meu coração acelerado parecia querer sair pela
boca. — Bem, foi bom revê-lo. Até mais...
— Juliana... — ele deu um passo para frente e sua mão segurou meu
braço. — Eu não vou deixar que se vá.
Eu não sabia exatamente o que isso queria dizer, então esperei.
— Durante todo esse tempo eu fiquei temeroso em avançar, em te
assustar, sempre permitindo que fizesse as próprias escolhas. Mas, você só
foge porque tem medo, não porque não me quer. Porque a verdade é que
você me quer, não quer?
Se eu dissesse não, ele iria embora, eu sei. E então eu devia dizer
não. Mas, eu não conseguia mentir para ele.
— O que você quer? — questionei.
— Eu quero conversar com você.
Se ele falasse, se ele tomasse a dianteira, ele iria reger essa relação.
Eu sei que colocaria tudo em suas mãos porque temia segurar meus próprios
sentimentos.
— Não acho que seja uma boa coisa. Estou seguindo a minha vida, e
sei que vai seguir a sua.
— Seguir? Você... está vendo outra pessoa?
Quase ri.
— Uma mulher não precisa estar com um homem no meio das pernas
para seguir em frente — rebati. — Oh, realmente não quero discutir com
você, Marco. Eu só quero paz. — De repente o pânico na minha voz. Estava
lacrimejante, triste, quase histérica. Antes que eu pudesse conter, já estava
quase chorando. — Por que você me persegue, Marco? Você tem uma
namorada. E uma vida. E dinheiro. E tudo que você quiser.
— Vanda foi um erro. Uma tentativa desesperada de não me deixar
tão à mercê de você. Mas, ela não é minha namorada, nem vai ser. Sequer
minha secretária ela é. Aliás, a vaga está disponível, e eu gostaria de que
minha carreira se juntasse com a minha vida amorosa. Seria maravilhoso
trabalhar ao lado de minha esposa.
— Esposa?
— Você, Juliana. Eu gostaria de que assumisse os negócios ao meu
lado. Que trabalhe comigo. Para construirmos nossa sociedade, não apenas
no âmbito romântico. Eu estou aqui porque não vou aceitar um não. Eu não
vou voltar para casa sem você. Eu te quero do meu lado, quero que tenhamos
mais filhos, quero que me ajude com Lizandra – só Deus sabe como você
consegue controlar ela – quero que administre a empresa comigo, e acima de
tudo, quero que me ame como eu te amo.
Minha boca abriu, mas eu não conseguia dizer alguma coisa. Estava
pasma, assustada, arrebatada pelas suas palavras. Eu entendia que Marco
estava me oferecendo tudo. Não sabia exatamente se isso era o certo. Mas
sabia que me assustava.
— Marco...
— Olhe nos meus olhos. E então me diga que não sente nada por
mim. É a única maneira de me fazer ir embora e te deixar em paz. Você tem
a chave na mão, só resta saber se abrirá a fechadura ou a deixará trancada
para sempre.
E então, silêncio. Ele esperou que eu respondesse. Queria poder dizer
que não sentia nada, que Marco estava louco se pensava que eu me deixaria
tão entregue a ele, que eu colocaria minha vida inteira em suas mãos, mas a
verdade é que nunca desejei tanto algo como isso, agora.
Eu só o quero.
Eu só quero estar com ele.
Eu só quero que ele me ame.
— E se tudo der errado? — minha voz saiu quase falha.
— E se tudo der certo?
— Mas..., Mas... Somos tão diferentes um do outro. Você é rico e eu
sou uma pobretona. Eu não sei viver no seu mundo, eu não...
— Pare, Juliana. Eu sou feito de carne, como você. Minha conta
bancária é ótima porque tive sorte. Só por isso. Mas eu também sei o que é
estar com as contas atrasadas, eu também sei o que é se sentir desconfortável
entre ricos... Deus, você não vê? A única coisa que eu quero, de verdade, é
ter você. Rica, pobre, gorda, magra, bonita ou feia... o que isso interessa?
Tudo que me importa é que você é a primeira mulher que realmente me fez
sentir alguma coisa. Eu me apaixonei por você. Minha filha ama você. Você
faz falta na minha casa. Você faz falta na minha vida. A melhor parte do meu
dia era voltar para casa e vê-la, nos finais da tarde. Então, é isso: estou sendo
absurdamente sincero com você. Eu te quero na minha vida, e estou pedindo
com todo o meu coração para que se case comigo e seja minha de agora em
diante.
Eu senti as lágrimas queimando meus olhos. Um sorriso surgiu no
meu rosto e eu precisei pôr as mãos na boca para contê-lo. Na minha frente,
Marco também sorriu.
— Você me ama, não ama? — ele questionou. — Você ama — ele
repetiu, cada vez mais certo.
Eu assenti porque de nada me restaria negar. Estava tão feliz, que
mesmo o vento gelado não incomodou minha alma acalorada.
Marco se curvou para mim. Seus lábios gelados pressionaram contra
os meus e eu amei a sensação de calor que me derretia contra ele.
Eu tinha lutado contra meus sentimentos por tanto tempo, que agora
que me entreguei a eles, me senti a mais vitoriosa das criaturas.
— Você aceita ser minha? — ele indagou, quando nosso beijo
quebrou.
— Eu aceito.
Marco

Nós nos casamos três meses após nosso reencontro, num familiar cerimônia
civil.
Juro, eu até pensei em fazer uma festa incrível, de arromba, que
caísse na boca de todo o povo da cidade, onde eu pusesse mostrar a todos
que eu estava desposando a mulher que mais amei nessa vida, mas Juliana
era por demais singela e reservada.
A lua-de-mel foi no Rio de Janeiro, em um hotel de frente para a
praia de Copacabana. Nós teríamos apenas uma semana de folga pois
Lizandra estava numa viagem escolar, e retornaria em sete dias.
Juliana era a pessoa certa, eu vi mais de uma vez naqueles dias,
quando a preocupação dela por Lizandra era maior que a minha.
Ela amava minha filha e isso só fazia meu coração vibrar ainda mais
por ela.
— Como eu estou? — ela indagou, enquanto entrava no quarto
vestida com um vestido multicolorido e largo. — Acha que pareço bem para
caminhar no calçadão.
Sorri. Ela estava linda, a cada dia mais.
— Você é a mulher mais linda que eu já vi.
— Não sou idiota, e lembro que você namorou Vanda.
— Nem sei se aquilo pode ser considerado um namoro. E, sim, eu a
acho mais bonita que Vanda.
— Não sou idiota — ela cantarolou, e eu sabia que não era ciúmes.
Entre nós esse tipo de coisa parecia não ter fundamento.
— Mas, estou sendo sincero.
— É, bem que dizem que, quem ama o feio, bonito lhe parece.
— Boba.
Ela sorriu, e eu poderia entrar na brincadeira, se meu corpo não
estivesse tão quente.
— Podemos ir caminhar mais tarde? — indaguei.
— Por quê?
Olhei sugestivamente para baixo, e Juliana riu.
— Você só pensa nisso?
Eu a queria. Queria tanto que doía. Queria ela dentro de mim, onde
pudesse protegê-la de todo mal, e nunca deixar que mais nada a ferisse.
— Eu te amo.
Juliana se aproximou, como se um sino houvesse soado entre nós, e
ela pudesse experimentar minha urgência. Nossas bocas colaram-se num
beijo cálido e desesperado.
O prazer de segurá-la em seus braços era enorme. Afastei-me um
pouco para segurar seus dois seios na mão, sentindo o peso deles,
deliciosamente perfeitos entre meus dedos.
— E então? Podemos ir caminhar mais tarde?
Lentamente ela levantou o vestido deixando a pele exposta.
— Eu estou louco por você — confessei.
Juliana tremia quando a levantei nos braços.
— Marco — ela murmurou enquanto eu a levava para a cama.
— O que, meu amor?
— Marco. Não consigo pensar.
— Não quero que você pense — respondi com a voz enrouquecida.
— Não quero que você pense.
Porque nosso amor não precisava de análises, ou julgamentos. Ele
apenas existia.
E isso era o que de melhor eu podia esperar da vida.
Ter ela. Para sempre.
Minha amiga, minha parceira, minha esposa.
Eu era um cara de sorte. E não porque achei uma moeda rara anos
atrás. Era porque nessa vida desgarrada eu conheci a mulher perfeita.
E nunca a deixaria partir.
Meu corpo arqueou, sentindo pequenas e maravilhosas chamas de
desejo. Eu brinquei com o poder que Igor me deu, provocando-o ao máximo.
Não deixei ele entrar em mim, apenas por maldade, para vê-lo gemer
desesperado, na ansia de me foder.
Céus, nunca quis tanto um homem quando o queria...
Ele era tão delicioso, como se tivesse sido feito só para mim.
De repente, Igor esqueceu-se das proprias regras. Virando-me na
cama, ele se acomodou em mim, sua mão livre deslizou entre as minhas
pernas.
— Oh sim... Toque-me — ofeguei, deixando minhas coxas se
abrirem enquanto seus dedos grossos deslizavam suavemente, tão
gentilmente, no meu centro.
Foi uma exploração de carícias. Eu queria mais. Eu queria calor e
pressão.
Igor se inclinou novamente e passou a língua no meu pescoço antes
de morder delicadamente o lóbulo da minha orelha.
— Margarida... Eu amo tanto você...
Seus dedos finalmente deslizaram para dentro de mim e meus quadris
empurraram para cima.
— Igor, agora, por favor...
Céus, agora era dele o poder. Nesse jogo carnal, eu havia perdido
totalmente o poder.
Eu era dele. Tão cegamente. Tão inteiramente.
Seus dedos entortaram dentro de mim, encontrando aquele ponto
especial que soltava faíscas através dos meus olhos.
— Eu quero agora!
Sua mão pressionou meu estômago.
— Primeiro goza para mim — ele murmurou. — Quero assistir.
Depois vou dar tudo que você quer...
Eu gritei enquanto seus dedos mergulhavam em mim, e sua boca
encontrava meu outro mamilo, sua língua raspando contra ele. Ao mesmo
tempo, seu polegar mudou para descansar bem contra o meu clitóris, e ele
pressionou em círculos rápidos.
Todos os meus músculos ficaram tensos quase ao ponto da dor, então
liberados, me jogando no orgasmo mais intenso que eu conseguia lembrar
(não que eu estivesse me lembrando de muitas coisas naquele instante). Eu
tentei me empenhar contra ele, um grito tenso escapando da minha garganta,
mas a mão dele na minha barriga me segurou rápido enquanto seus dedos
continuaram a trabalhar comigo durante todo o meu clímax.
— Igor!
— Isso, grite meu nome.
E eu gritei, deixando-me sentir cada gota de prazer e êxtase com total
abandono.
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Talvez fosse a cerveja, mas reparei imediatamente em como as maçãs
do seu rosto estavam coradas e a boca parecia inesperadamente suculenta. E
que coxas ela tinha! Aquilo era uma perdição.
— Você acha que a gente....
— O quê? Não... não... É loucura — retorqui. Mas, bem que eu
queria. — No entanto, você já pensou na possibilidade?
O silêncio caiu e esperei pela resposta dela.
— Ah, sei lá. Você é meu melhor amigo.
— E você é minha melhor amiga.
— Então, tipo...É estranho.
— Muito estranho.
— E tipo...
— Tipo?
— Se rolasse algo, nossos pais teriam expectativas sobre nós...
casamento, filhos... E você sabe que eu não quero ser mãe.
Ela nunca quis. Dizia isso desde os 5 anos de idade. Acredito que ser
a filha mais velha de cinco irmãos e ter assumido muitas responsabilidades
na criação deles tenha contribuído para isso.
— A não ser...
— Sim?
— Que eles não saibam...
— Que ninguém saiba — eu concordei.
Um estrondo no som da televisão. Jake, o protagonista de Lost,
estava batendo num cara com o rosto marcado. Meus olhos visualizaram a
cena pelo canto dos olhos, porque minha face ainda estava toda voltada para
Layne.
Meu corpo se moveu primeiro. Aproximei-me ainda mais no sofá,
esperando que ela risse e me afastasse e eu voltasse ao normal. Porque, ora,
estávamos bêbados, mas não éramos tão loucos, éramos?
Profundamente consciente de quão perto seus lábios estavam dos
meus, eu seguro minha respiração, e aguardo.
Layne não se afasta. Agora meu corpo já está inclinado sobre o dela,
seus seios roçando no meu peito, fazendo minha mandíbula apertar e meu
pau pulsar.
— É... já tem um tempo que eu não transo — admito quando seus
olhos baixam e percebem a protuberância na minha calça. — Você sabe que
meu namoro com Manuela deu errado ano passado e não sai com outra
garota desde então. E eu bebi muito... você sabe... bebi o suficiente para ficar
louco. Então você pode me chutar agora? Pelo bem de nós dois?
Layne me encara. Aqueles lindos olhos brilhantes focados em mim.
De repente, ela se inclina para cima, resvalando seu corpo delicioso no meu.
Deus, ela também bebeu muito. E agora, quem vai nos parar?
Seguro sua bunda, puxando-a para perto de onde eu sou tão duro. Ela
respira e os lábios se abrem.
— Você já fez? — indago, porque nunca a vejo com um cara por
mais de uma semana.
Ela nega. Eu sabia. Virgem. Vinte e cinco anos e virgem.
— Se você deixar, eu posso chupar sua boceta para ficar mais fácil.
Layne inclina a cabeça para trás. Ela está analisando.
— Fica mais fácil?
— Sim, na primeira vez é um tanto... doloroso.
Layne passa a mão sobre minha ereção, e eu gemo como um
adolescente diante da primeira transa. Eu mal posso esperar para tê-la
envolta do meu pau, sua boceta, sua boca...
— E chupar facilita?
— Fica mais molhado...
Eu arrasto minha mão para frente e para trás sobre o mamilo dela.
— Ah, eu lembro de ter lido sobre isso. — Ela moi contra mim,
deixando claro que ela fará o que quiser, e minhas sugestões não importam.
— Você está cheirando a álcool — ela sussurra. — Está bêbado demais e eu
também. A gente devia parar.
Ah, céus...
— Eu realmente quero te foder. — Admito, tentando convencê-la.
Meus dentes cavam meu lábio inferior enquanto luto pelo controle.
— Mas, se você não quer... eu juro que paro...
Ela encolhe os ombros, o movimento fazendo seus seios saltarem
levemente, fazendo minha boca secar mais uma vez.
— Olha, que tal um trato? A gente faz, eu perco a virgindade, e
depois a gente segue amigos, como se nada tivesse acontecido. Nem
precisamos falar do assunto. Estamos ambos bêbados, e ninguém precisa
culpar ninguém.
Que trato legal. Ótimo.
— Sem compromisso?
— Exato.
— Então vou deslizar meu pau dentro de você, sentindo pele contra
pele, e sem culpa?
— Combinado?
— Você vai me deixar desfrutar sua bocetinha?
— Vou — ela estava gostando das palavras sujas.
— Então, posso ver sua calcinha? Estou muito curioso em saber a cor
que usa. Acho que é vermelho.
— Não estou usando calcinha — As palavras são suficientes para me
fazer perder a cabeça.
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Seus dedos começam a traçar minha pele, subindo pelo meu vestido.
Estamos escondidos pela toalha da mesa, mas me sinto pecaminosa com sua
ação.
Seus dedos chegam na minha calcinha. Resvalam entre a renda e a
costura, adentrando minha intimidade.
Eu balanço, tesão e desespero, vergonha e adrenalina correndo soltas
pelas minhas veias.
Olho para os lados. Ninguém está prestando atenção em nós.
O dedo de Vitor entra entre meus lábios. Começo a balançar no ritmo
da música, tentando esconder o que está acontecendo.
Sem controle, minha mão desce até ele. Quero que ele sinta o que eu
estou sentindo. Por cima da calça eu posso experimentar a sensação do toque
na sua carne dura.
Vitor respira fundo. Eu o encaro. Nossos olhos estão escuros e cheios
de desejo.
Ele enrola meu clitóris e eu preciso morder a boca para não gritar. O
ritmo da música aumenta, e meu corpo sacode um pouco mais forte. Meus
dedos abrem o zíper da sua calça e seu pau salta para fora, duro, e eu sei que
ele está se segurando para não me levar correndo para o quarto.
Eu perdi minha virgindade naquela manhã. Fiz sexo mais tarde. E
agora quero mais. Três vezes num mesmo dia, isso está saindo totalmente do
controle.
Arrasto meus dedos, pressionando. A ponta do meu polegar aperta
sua cabeça, e eu a sinto úmida. Reprimindo um suspiro, sinto a pressão dura
e inchada pedindo para que eu lhe bata punheta. Então eu giro minha mão e
começo a socar para cima e para baixo.
Ele tenta esconder o prazer fechando os olhos. Seus dedos agora
estão mais fundos dentro de mim, eu estou prestes a explodir.
— Você está me deixando louco, Núbia — ele murmura.
Sou eu que estou louca.
Desejo. Amor.
Amor mais que tudo.
Meu sentimento me guia, eu sinto meu coração aquecer naquela farsa
porque apesar de tudo ser fingimento, eu sei que o tesão não é. O coração
dele pode pertencer a Ester, mas o corpo é meu, ao menos nessas 48 horas.
Vitor me encara e então me beija. Sua língua desliza sobre a minha,
enquanto sua boca me suga. Estou inebriada e quente, mal consigo
raciocinar.
De repente ele molha minha mão, esguichos fortes contra meus
dedos. Isso ativa meu desejo ainda mais e mal percebo quando estou
gozando nos seus dedos.
É liberdade. É tão precioso que mal consigo pensar.
Aos poucos meu corpo vai acalmando-se e nós afastamos os dedos.
Busco um guardanapo de papel e limpo seu sêmen, mas ele não faz o
mesmo. Minha umidade está entre seu indicador e dedo médio, e ele a deixa
lá.
A música cessa. Aplausos.
Inclino meu rosto por cima do ombro para ver se alguém percebeu o
que aconteceu. Mas, ninguém parece se importar com o que rolou naquele
canto do restaurante do hotel.
— Eu sou um marido incrível, não Núbia? Eu sempre te faço gozar...
— ele murmura nos meus ouvidos e eu preciso fechar os olhos com força
para aguentar o tesão.
— Sim, Vitor...
— Diga o quanto você precisa do meu pau essa noite?
— Eu preciso... Muito.
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Meu Deus, era meu melhor amigo. Eu tinha amor por ele. Mas, temia
magoá-lo porque...
Suas mãos me exploraram, e seus lábios se moveram do meu rosto
para o meu pescoço, minhas orelhas e meu pensamento se interrompeu.
Ele bombeou com tanta vontade, mergulhando cada vez mais fundo
até que comecei a tremer de prazer e tudo meu se perdeu a certeza de que eu
estava gostando – muito – de viver isso com Vicente.
Em TharnType, um dos protagonistas começou a transar com o
parceiro de quarto por causa da atração e acabou se apaixonando.
E se isso acontecesse comigo?
Essa ideia me fez enrijecer de tal forma que me senti apertando
Vicente dentro de mim ao ponto de ordenhá-lo.
— O que foi? — ele perguntou.
— Nada... Não pare...
Meus pensamentos podiam estar me matando, mas eu tinha certeza
de que queria o que estava acontecendo.
Mais e mais.
Percebi que ele estava crescendo, e isso só aumentou meu prazer. De
repente, um calor me atingiu e me elevou a um nível inigualável que era
quase causou dor. Então explodi em pedaços enquanto sentia Vicente
chegando ao ápice.
Então, depois daquela conexão absurda, meu corpo sacudiu e
descansou. O corpo de Vicente ainda conectado ao meu, pesado sobre meu
peito, uma junção de almas que eu jamais havia pensado existir.
— Talvez eu realmente esteja apaixonada por você — admiti, e senti
ele balançando num riso sincero.
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Josiane Biancon da Veiga nasceu no Rio Grande do Sul. Desde cedo, apaixonou-se por literatura,
e teve em Alexandre Dumas e Moacyr Scliar seus primeiros amores.
Aos doze anos, lançou o primeiro livro “A caminho do céu”, e até então já escreveu mais de vinte
livros, dos quais, vários se destacaram em vendas na Amazon Brasileira.
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