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PSICOLOGIA DA SAÚDE

Resumos

Lesão Vertebro Medular


É uma incapacidade física que provoca maior
dependência funcional. A principal causa são os
acidentes de viação (causa externa nº 1 da mortalidade
nos jovens). A proporção é de 4:1 para o sexo masculino.

A melhoria dos cuidados de emergência, os avanços no


tratamento médico e procedimentos de reabilitação mais
sofisticados conduziram a uma diminuição acentuada da
taxa de mortalidade.

Resulta de uma lesão na medula espinal:


o Estrutura cilíndrica localizada dentro da coluna
vertebral
o Faz parte do SNC e é a principal via de
comunicação entre o cérebro e o organismo.
o Principal via de transmissão de informação
sensorial (tato, dor, calor, frio), motora e neuronal
entre o cérebro e o exterior.

Compressão/contusão da medula resulta em:


o Interrupção da passagem de informação
o Incapacidades funcionais abaixo da zona lesada.

Segmento cervical = tetraplegia


Segmentos torácico, lombar ou sacral = paraplegia
Principais complicações físicas da lesão medular O que esperar em termos de adaptação?
“Viver é um direito, não uma obrigação”
o Revestimento cutâneo
úlceras de pressão “Percebi que tinha que ser feliz com aquilo que tinha…”
o Aparelho cardiovascular
tromboembolismo, hipotensão, bradicardia
2 preditores centrais no ajustamento psicológico
o Aparelho respiratório
o Recursos financeiros
insuficiência respiratória, infeções
o Relações significativas e apoiantes
o Distúrbio do controlo esfincteriano vesical e
intestinal
o Infeções urinárias; Insuficiência renal Dificuldades no processo de adaptação a ter em conta:
o Alterações metabólicas e endócrinas: o Deixar o hospital e regressar a casa
diurese; tolerância à glicose o Enfrentar a cadeira de rodas
o Alterações sexuais/fertilidade: o Evitar o isolamento social
disfunção eréctil, ejaculatória, orgástica, … o Ocupação profissional
o Osteoporose, fraturas, espasticidade o Redefinir o sentido de vida

O primeiro impacto Eu antes… Eu agora… Eu depois…


Ficar dependente de outros para quase todas as ações de
um dia-a-dia normal?”
“Como conseguiria aceitar a condição de tetraplégico”? Sistema familiar e social
o Expressão emocional
À medida que constatava a realidade da minha situação o Ajustamento e adaptação da família
de dependência física absoluta, também me começava a o Reorganização dos papéis e sistemas familiares
questionar:
O que fazer agora da minha vida?
Qual o meu futuro daqui por diante?
O que poderei fazer face a esta situação?

Intervenção Psicológica
O que fazer perante este primeiro impacto?
o Sentimentos intensos
_ choque,
_ desespero,
_ angústia
_ revolta
_ vergonha
_ inferioridade

o Lidar com a culpa; se… se


o Porquê a mim?
o O que vai ser da minha vida?...
o Preferia ter morrido…
Todas estas fontes de sofrimento configuram perdas
Intervenção psicológica nos Cuidados paliativos relativamente à “vida normal”. Para compreender as
“Tu importas porque és tu, tu importas até ao último perdas:
momento da tua vida” Cicely Saunders
Diagnóstico e O deixar de ser…
A filosofia dos cuidados paliativos: A intervenção nos tratamento (identidade)
cuidados paliativos entende que a morte não é uma
doença a ser curada, mas o fim do ciclo de vida. O deixar de ter…
O deixar de fazer…
(funcionalidade)
PONTOS DE INTERVENÇÃO
1. Qualidade de vida o Autonomia
Doença paliativa O deixar de estar…
2. Dignidade
(conetividade)
3. Posição face à vida e à morte
4. Perdas e lutos
5. Qualidade da relação entre os profissionais e doentes
Porque se teme a morte?
6. Ajudar a família a lidar com a doença e o seu próprio
“Penso em todas as coisas que não fiz e gostava de fazer”
luto.
o Proporcionar o processo de elaboração das diversas
perdas
ÁREAS DE INTERVENÇÃO o Nenhuma atividade pode satisfazer a nossa ânsia de
Os cuidados paliativos afetam o doente, a família, mas vida eterna
também os profissionais de saúde.
“Não sei se vivi da forma certa”
O profissional o A qualidade da nossa vida é determinada pela forma
“Morre-se mal quando os profissionais de saúde não como interpretamos as nossas experiências, mais do
que pelas experiências em si
estão preparados para lidar com as reações emocionais
o O arrependimento, muito injustamente, tem má
que emergem da comunicação com os doentes”
fama; ele pode ser usado de forma construtiva

Que dificuldades antecipo em mim? “À medida que pioro dou pelo passado cada vez mais
o Conhecer e lidar com as próprias angústias presente em mim”
o Desmistificar a morte o Voltar a experimentar o passado é fundamental,
o Conhecer a filosofia de atuação podendo exercer um efeito tranquilizante. A
transigência é obrigada a parar – nem que seja por
O doente uns momentos.
“Para compreender as pessoas devo tentar escutar o que
elas não dizem, o que elas talvez nunca venham a dizer” “Penso em todos os momentos significativos em que não
John Powell estarei presente”
o Partes da vida que se orgulhem e que são/foram mais
O que se teme? (principais fontes de sofrimento) significativas; histórias que mais gostariam que
o Dor e sofrimento físico fossem lembradas; ou conselhos para a família e
o Alterações da imagem corporal amigos - Protocolo de perguntas orientadas da
o Perda de autonomia e dependência de terceiros Terapia da Dignidade.
o Perda de dignidade
o Perda de sentido da vida e orientação interior “Não sei lidar com isto”
o Perda de papéis sociais e estatuto social e familiar o Mesmo que a pessoa seja obrigada a enfrentar
o Alterações na situação económica da família obstáculos exteriores, por vezes incrivelmente
o Medo do abandono dolorosos, ainda assim tem liberdade para optar pela
o O sofrimento dos entes queridos forma como vai assumir e lidar com essas
o Medo da morte dificuldades
o “Crie um destino que seja capaz de amar”
“Sinto vontade de me afastar das pessoas” Ditado chinês: Não podemos evitar que os pássaros da
o Não só os que estão bem tendem a evitar os que tristeza voem sobre a cabeça da pessoa, mas podemos
morrem, como os que estão a morrer muitas vezes evitar que construam ninhos nos seus cabelos.
contribuem para o seu próprio isolamento.
o “Alguns recusam o empréstimo da vida para
evitarem ter que pagar a dívida da morte”

“Temo a solidão da morte”


o Morrer é algo profundamente solitário
o A sensação de vazio é assustadora
o O isolamento existencial: medo de perder o mundo
que não existe igual na cabeça de mais ninguém

A família
A presença é o maior presente que se pode dar a qualquer
pessoa que enfrente a morte... mas estar presente é de
uma enorme exigência.

A família é merecedora de grande atenção nesta fase


dado que (1) é por excelência a primeira linha de apoio
ao doente, (2) acumula papéis sem preparação científica,
técnica e até humana e (3) experiência fortes
sentimentos de exaustão, desespero e impotência.

Nos últimos tempos de vida há uma necessidade de estar


todo o tempo com o doente resultante de uma ansiedade
de separação e angústia (por se sentir que o tempo se
esgota) e da culpa (porque muito ficou por se dizer ou
fazer). Há uma ambivalência entre o deixar ir e não
querer perder a pessoa.

Conspiração do silêncio: doente e família numa tentativa


de proteção mútua.

Tarefas de luto adaptativas do familiar

Aceitar a realidade da perda iminente


O que não significa que se consiga antecipar o futuro
sem o doente. Permite a recordação dos
acontecimentos que decorreram ao longo do processo
de doença.

Fazer a despedida
Ajuda a família a reconhecer que o final se aproxima
e a concretizar a despedida de forma simbólica ou
concreta, verbal ou não verbal.
Problemáticas da adaptação à doença oncológica Efeitos secundários: alopecia, náuseas e vómitos, fadiga
Áreas de intervenção e as suas especificidades. marcada, anorexia (as alterações da imagem corporal
levam a sentimentos de vulnerabilidade física e
emocional), alterações gastrointestinais, parestesias,
Intervir psicologicamente na área da oncologia requer:
disfunções sexuais, alterações cognitivas, neutropenias e
1. Conhecer a doença, tratamentos e implicações. restrições alimentares.
2. Atender às especificidades de cada indivíduo.
3. Perceber o impacto biopsicossocial para poder Radioterapia
intervir eficazmente. Tipos: teleterapia, braquiaterapia (isolamento de vários
dias) ou radioterapia metabólica.
1º PRESSUPOSTO
CONHECER DOENÇA E TRATAMENTOS Provoca alterações na qualidade de vida são e efeitos a
médio e longo prazo.

Efeitos mais comuns: mal-estar geral, náuseas, fadiga e


depressão; Outros efeitos secundários mais dependentes
da zona de irradiação e dosagem administrada:
alterações sanguíneas, dor e secura da cavidade oral,
alteações do paladar e voz, perda de peso e apetite,
reações dermatológicas, queixas cognitivas,
queimaduras, alopecia, diarreia, disúria, menopausa ou
esterilidade.

Transplante de medula óssea


Tipos: autotransplante (dador e recetor são a mesma
Tratamentos principais pessoa), alotransplante (histocompatibilidade, são
- Cirurgia pessoas diferentes) ou singénico (dador gémeo).
- Quimioterapia
- Radioterapia Complicações iniciais: alopecia, mucosite e outras
- Hormonoterapia
- Imunoterapia infeções, aplasia medular, problemas hepáticos, doença
- Transplante de medula óssea enxerto contra hospedeiro, disfunções renais,
respiratórias e cardíacas;
Cirurgia Diagnóstica
Obter amostra do tecido tumoral para diagnóstico
Complicações tardias: doença enxerto contra hospedeiro
Cirurgia Classificadora
Classificar a extensão dos tumores
crónica, disfunções de órgãos e recidiva ou 2ª neoplasia.
Cirurgia Preventiva
Retirar lesões pré-cancerosas Terapias biológicas
Cirurgia de Ajuda Hormonoteria
Para aplicação de outras técnicas como a introdução de A hormonoterapia é um tratamento de eleição para
cateter venoso central doentes cujo tumor apresenta recetores hormonais
Cirurgia Curativa positivos e tem como finalidade diminuir o risco de
Intenção de cura; radical e mutilante ou conservadora e recidiva. Pode ser administrado por via endovenosa ou
não mutilante oral. São referenciados como principais efeitos
Cirurgia Redutora secundários os calores (hot flashes), os afrontamentos,
Redução da massa tumoral, comprovação da eficácia da as alterações no peso, as alterações do humor e as
quimioterapia, ressecção de tumor persistente.
alterações da função sexual, induzindo uma menopausa
Cirurgia Paliativa
precoce (artificial).
Paliar um sintoma (obstrução digestiva…)
Cirurgia de Reconstrução
Recuperar uma função ou a estética Imunoterapia.
Podem causar perturbações neuropsiquiátricas,
Quimioterapia alterações cognitivas com lentificação, alteração da
memória, concentração e linguagem, ansiedade,
Serve para curar, controlar, profilaxia da doença ou
depressão com ideação suicida…
paliação. No entanto, provoca toxidade hematológica,
cardíaca, neurológica, gastrointestinal e dermatológica.
2º PRESSUPOSTO Além dos stressores genéricos da doença e tratamentos
CONHECER AS IMPLICAÇÕES existem ainda os stressores específicos e cada fase da
doença.
Crise
- Grande impacto; A doença e as suas fases
- Provoca uma disrupção/desequilíbrio no percurso Fases e sentimentos e reações predominantes:
normal de vida; 1. Pré-diagnóstico:
- Acarreta limitações no desempenho das obrigações Dúvida, incerteza, angústia, medo, evitamento e
sociais, profissionais e pessoais; pensamentos ou preocupações recorrentes.
- Provoca alterações no comportamento do indivíduo
e nas relações deste com o seu corpo e com os outros; 2. No pós-diagnóstico:
- Exige mudanças ao nível dos significados e dos Choque ou perda de controlo, negação, revolta, alívio,
projetos pessoais definidos até então; medo/angústia, incerteza e culpa. Entram em
- Rutura também na vida dos familiares e ação mitos e construções sociais, havendo uma busca por
significativos; um sentido, uma razão (porquê?).

Transição É necessário:
Fase transitória e necessária entre a crise e o restabelecer a. Gestão de todo este impacto emocional
de um novo equilíbrio emocional, psicológico e social, b. Necessidade de informação
podendo ser adaptativo ou desadaptativo; c. Reorganização familiar

Choque e negação 3. Ajustamento e Tratamentos:


Revolta e frustração Incapacidade física e mental, dependência (impotência),
Depressão e isolamento dor, mal-estar, fadiga física e emocional,
Adaptação ao processo de doença vulnerabilidade, incerteza faze à eficácia dos
tratamentos, sintomas antecipatórios, hospitalização,
É uma fase de confronto com inúmeros desafios. maior isolamento social, rutura com os contextos,
sentem que são um fardo para os cuidadores. Podem
desenvolver perturbações emocionais e
Distress comportamentais e uma autoimagem negativa.
“Experiência emocional desagradável, multifatorial de
natureza psicológica (cognitivo, comportamental, 4. A fase de remissão:
emocional), social e/ou espiritual, que pode interferir Pode constituir uma fase de “lua-de-mel”, onde há um
com a capacidade de lidar efetivamente com o cancro, os retorno gradual às rotinas e atividades, redefinição dos
seus sintomas físicos e o seu tratamento. O distress papeis, projetos, objetivos e estilo de vida.
estende-se ao longo de um continuum que vai desde
sentimentos normais de vulnerabilidade, tristeza e medo Surgem, no entanto, sentimentos de
até problemas que se podem tornar incapacitantes, tais desintegração/desadequação. Por um lado, evitam o
como, a depressão, ansiedade, pânico, isolamento social, contexto hospitalar, por outro dependem dos
e crises existenciais e espirituais”. profissionais de saúde. Há também um confronto
progressivo com sequelas.
Fatores associados:
- Doença crónica (curso prolongado); Surgem reações emocionais contraditórias (alegria e
- Ameaça à própria vida e à estabilidade prévia alívio, mas insegurança e desamparo juntamente com
(doença grave); um medo de recaída ou incerteza).
- Prognóstico incerto (recidivas, remissões…);
- Conotações associadas à doença (morte, dor, 5. Na fase de sobrevivência:
desfiguração); Há confronto com as sequelas da doença e confronto com
- Tratamentos agressivos, invasivos e, por vezes, as respostas dos contextos de vida e seus intervenientes
mutilantes; à experiência da pessoa e o seu estado atual.
- Limitações ao nível da funcionalidade em múltiplas;
esferas de vida (alterações funcionais e emocionais); Medo de recidiva!
- Diminuição da perceção de qualidade de vida;
- Doença que se expande a outros territórios de Alteram os seus projetos de vida, e fazem (re)significação
interação (familiar, escolar, profissional, social…); da experiência da doença.
6. No caso de uma recidiva: Perdas relacionadas com a funcionalidade
Surge uma nova crise pessoal e familiar com sentimentos - Acentuar da incapacidade de mobilidade, de
de desesperança e revolta. Percebem a cronicidade da execução de atividades;
situação e acaba por ter impacto mais negativo do que no - Perda de uma grande variedade de funções físicas;
diagnóstico inicial, exacerbando os medos. - Perda de autonomia e de papéis sociais;
- Perda da autodeterminação por constrangimentos
Acentuam-se ideias de morte e compara-se com outros físicos e mentais;
percursos de doença.
Perda progressiva de capacidades funcionais para
Há um peso das experiências, mas também dos desenvolver tarefas e assumir obrigações e papéis. São
conhecimentos prévios. acompanhadas de sentimentos de inutilidade, de
incerteza, de incapacidade e de ausência/perda de
7. Fase terminal: controlo sobre a própria vida.
Foca-se nos cuidados de natureza paliativa com
envolvimento da família e elaboração da consciência da E quando a cura não é possível?
morte e desvinculação. Surgem reações emocionais O doente chega ao profissional de cuidados paliativos
intensas (impotência, culpa, ambivalência) juntamente com o seu percurso próprio, com todas as suas perdas
com medo da dor e do sofrimento. passadas e na iminência de enfrentar outras mais.

Diferentes fases traduzem-se em diferentes mudanças e Nesta etapa, nunca deverá ser esquecida a complexidade
implicações. e multidimensionalidade das sucessivas perdas, o caráter
cumulativo destas transformações e lutos.

Há necessidade de uma intervenção eclética e abrangente


Quais os processos de mudança na doença que contemple: as particularidades da doença, do doente
oncológica? Diferentes fases levam a diferentes e do seu percurso; o modo como resolveu e lidou com as
expressões das perdas. perdas inerentes às etapas anteriores da doença; e que
determine quais os lutos a fazer no momento presente,
com o avançar da doença.

Perdas relacionadas com a conectividade


- Perspetiva de perda da própria vida;
- Perspetiva de perda de todas as relações afetivas
significativas;
- Observa-se muitas vezes um desvincular de si, das
pessoas queridas e do mundo;
- Perante a finitude da vida, há o confronto com a
incapacidade para (1) manter um sentido de vida
(SV) e uma orientação interior (OI) e para (2)
manter a ligação com tudo o que o rodeia;
Perdas relacionadas com a identidade
- Tomada de consciência da perda do estatuto de
saudável (e constrangimentos subjacentes); Nesta fase de doença paliativa a perda deixa de ser uma
- Confronto com a perda da integridade do seu corpo possibilidade para se assumir como uma inevitabilidade.
e/ou da sua mente; A morte ocorre com aviso prévio: é neste período de
- Constatação da incapacidade de dar continuidade à antecipação que o doente e familiares começam a
sua vida, aos seus projetos e às suas aspirações; evidenciar respostas de luto – o luto antecipatório. É um
- Questões que reportam para a “perda” da fenómeno que abrange um conjunto de processos de
identidade, transformações no self e sentimentos de lutos, de coping, de interação, planificação e
despersonalização reorganização psicológica.
o Alterações na autoimagem interna e externa
o Impacto na autoestima
Luto antecipatório: Tarefas de luto adaptativas – Familiar
Manter o Envolvimento com o Doente
- O doente vive-o de um modo diferente dos - Responder às exigências da doença e, em
familiares, dado que perde muitas pessoas simultâneo, encontrar formas de partilhar e
significativas de uma só vez e perde a ligação à vida. envolver o doente nas vivências familiares
- Favorecer estilos de comunicação saudáveis
(abertura, verdade, empática, não silenciada …)
- A família (cada pessoa vive-o de modo único) perde
apenas uma pessoa, sendo que natureza do vínculo
Manter a Independência face ao Doente
influencia a dor; esta perda implica alterações no - Mostrar que doente e família são entidades
modo de viver (papéis, tarefas, obrigações e afetos). autónomas
- Compreender que após a morte do doente cada
elemento do grupo familiar irá perdurar
Nesta fase a família é merecedora de grande atenção por - Reforçar as capacidades e identidade de cada
ser a primeira linha de apoio. Acumulam papeis, muitas indivíduo
vezes sem qualquer tipo de preparação científica, técnica - Ajudar o familiar a diferenciar as suas
ou humana. necessidades das do doente
- Encorajar o planeamento da sua vida futura e a
Experienciam fortes sentimentos de exaustão, continuidade das atividades no presente.
desamparo, desespero, solidão, culpa, incompreensão,
Adaptar-se às mudanças de papéis e rotinas
ambivalência, insegurança e impotência.
- Aceitar e encontrar formas de adaptação às novas
exigências
Experienciam o que se chama de “sobrecarga do - Redistribuir tarefas e antecipar mudanças futuras
cuidador”: implicações físicas, psíquicas, sociais, permanentes
espirituais e financeiras que condicionam as capacidades Gerir os afetos provocados pela perda
adaptativas à situação e à perda – esta etapa requer - Gerir os sentimentos desencadeados pelas
várias tarefas de luto. sucessivas perdas
- Favorecer a expressão emocional e a tomada de
consciência do significado da perda para cada
Tarefas de luto adaptativas – Doente pessoa da família
- Potenciar o suporte social
Dimensão relacionada com a doença. Aceitar a realidade da perda iminente
- Promover a melhor adaptação possível à doença e - Ser capaz de antecipar e preparar o futuro sem o
sua progressão. significativo
- Gerir o desconforto, incapacidades e sintomas - Ajudar a compreender a informação médica
(controlo sintomático). - Fazer planos para o pré e o pós-perda
- Possibilitar a regulação emocional dos afetos - Permitir a recordação do percurso da doença
gerados pela doença, tratamento (e seus efeitos
secundários) e proximidade da morte. Fazer a despedida
- Ajudar a família a reconhecer que o final se
Dimensão relacional. aproxima
- Mostrar a importância de manter e desenvolver as - Concretizar a despedida de forma simbólica ou
relações de um modo adequado, com os familiares, concreta, verbal ou não verbal
amigos e profissionais.
- Preservar uma relação saudável consigo mesmo
pela busca de equilíbrio emocional, autoimagem
positiva e dignidade pessoal.
O luto antes e depois da morte
- Consentir o assumir de uma atitude ativa perante
a doença e decisões a tomar (aumenta o
Não existem expressões universais de luto, mas sim
autocontrolo e autoeficácia, diminui a ansiedade). respostas influenciadas por padrões culturais. O impacto
da perda manifesta-se a vários níveis: fisiológico, saúde,
Dimensão psicológica emocional, cognitivo, comportamental, sexual e
- Tomada de consciência da proximidade da morte. espiritual.
- Encontrar um bem-estar psicológico mesmo
perante o final da vida. A intensidade traduz-se no continuum de distress – o
- Preparar para o fim e para as perdas que antecipa. sofrimento é o 6º sinal vital em oncologia.
- Intervir nos assuntos de vida inacabadas e
favorecer as despedidas.
O luto complicado - Quando é que estamos perante
processos de luto complicados durante o processo de
doença (doente e família) ou após a morte do doente?

Este é um termo utilizado para descrever reações


excessivas ou de prolongada duração ou de curta duração
ou até ausência de reação.

O luto complicado só se distingue do luto não complicado


(isto é, saudável) pela intensidade e duração das
respostas observadas, e não pela sua descrição das suas
caraterísticas de apresentação.

Para conhecer a realidade psicológica da pessoa que nos


chega à consulta é necessário começar por uma boa
3º PRESSUPOSTO avaliação psicológica.
AVALIAR E INTERVIR

Entender cada doente como um ser único.


o As suas caraterísticas de personalidade Preditores Mediador Resultados
o As suas estratégias de coping preferenciais Pré-morbilidade psiquiátrica
o Psicopatologia prévia Comorbilidade psiquiátrica
o A sua rede de suporte social Estádio da doença Ajustamento
o Experiências de vida significativas prévias Agressividade do tratamento Auto
o O modo como organiza a sua vida diária Impacto da doença Qualidade de
Eficácia
Suporte social vida
o As suas conceções sobre a vida, a doença e a morte
Estilos de coping/optimismo
o A fase do ciclo vital em que se encontra
Etapa desenvolvimental Longevidade
Ks de saúde e de adesão
Acontecimentos de vida
Estatuto socioeconómico

Avaliação psicológica

o Entrevista (à pessoa e significativos) e/ou


instrumentos
o Termómetro do distress como instrumento de rastreio
o Depressão, ansiedade e outra sintomatologia;
o Estilo de vida;
o Qualidade de vida;
o Risco de suicídio;
o Alexítimia;
o Impulsividade, agressividade e outras respostas ks;
o Presença de dependências químicas;
Num estudo randomizado feito com 215 doentes com cancro o Perceção do apoio social e da capacidade de recurso;
percebeu-se que 47% tinham diagnóstico de acordo com DSM o Locus de controlo e estilos atribucionais;
3 – 44% com perturbações clínicas (33 com perturbação de o Capacidade de tomada de decisão;
adaptação, 6 com perturbações afetivas major, 4 com o Estilo de coping;
perturbações mentais orgânicas e 2 com perturbação de o Significações atribuídas à experiência de doença;
ansiedade) e 3% com perturbações de personalidade. o Avaliação neuropsicológica;
o Diagnósticos diferenciais
Mais de dois terços dos diagnósticos envolviam (depressão/ metastização/ quadros neuropsicológicos)
o Perceções do doente e familiares em relação à situação
perturbações de adaptação reativas. Boa resposta a
clínica deste primeiro.
intervenções psicológicas.
Rastreio do distress Aquisição de competências específicas:
o De comunicação com os profissionais de saúde, com
a família, com o doente (no caso da família)
o Conspiração do silêncio, sexualidade, sequelas,
continuidade dos tratamentos (obstinação
terapêutica)
o Ajudar a pessoa a reconhecer as suas próprias
capacidades, a tomar decisões e a combater a
dependência e a passividade com (1) promoção da
perceção de controlo e de eficácia pessoal, (2) o uso
criativo dos recursos pessoais e ambientais e com (3)
a reabilitação
o Dotar com competências ativas orientadas para os
problemas, emoções, relacionar-se, trabalhar e viver.

Restaurar e reajustar a identidade individual, a identidade


Depois de avaliar – intervir. inter-sistémica e a identidade social
Empatia: é uma porta para uma comunicação mais emocional, o Ideia de todo
criando um ambiente de segurança, conforto e confiança o Retomar dos papéis antes da doença
(maior espontaneidade e verdade). o Reajustar o meio à nova condição da pessoa
o Reconstruir o self depois desta experiência
Principais modelos de intervenção ameaçadora e desestruturante
1. Humanistas-existenciais
2. Cognitivo-comportamentais (Re)significação da experiência de doença
3. Construtivistas o Perceber qual o significado da doença na sua
4. Sistémicos trajetória existencial
o Crescimento positivo a partir do sofrimento pessoal
Os cognitivo-comportamentais servem para o controlo de
sintomas, para a regulação emocional, resolução de problemas Incrementar o suporte social
e psicoeducação. o Ajudar para que a família e a comunidade constituam
elementos de apoio emocional e instrumental
Objetivos da intervenção:
Preparar para a realidade da doença e seus tratamentos Perante uma recidiva ou doença em progressão
o Partilha ativa de informação, dos deveres e direitos. o Gestão de emoções fortes (destaque para o medo e
o Comunicação doente-profissionais de saúde saudável. incerteza)
o Identificar os ajustes necessários a fazer na o Evitar que sentimentos de infelicidade e de falta de
organização do dia-a-dia. esperança dominem, encontrando uma forma
própria de espiritualidade.
Coping com os tratamentos e seus efeitos secundários o Favorecer o reequilíbrio emocional
o Promover uma autoimagem e autoestima positivas
o Promoção de competências para lidar com a dor, o Adaptação à doença em progressão
mal-estar físico e com os sintomas antecipatórios, … o Trabalhar o luto antecipatório e temáticas
o Controlo sintomático (ansiedade, depressão, relacionadas com as perdas, a morte e o morrer
perturbações do sono e apetite, pânico, fobias, (doente e familiares)
pensamentos obsessivos...) o Gerir as ambivalências internas:
o Preparar para períodos prolongados de - Desvinculação vs. apego pelas pessoas e coisas;
hospitalização - Tarefas de vida inacabadas ou desejadas;
o Tentar manter o mais possível a autonomia e a - Dar um sentido à vida, aos seus acontecimentos,
independência (não negligenciar nem superproteger) história e legados.
o Promover a inserção e os laços sociais
Trabalhar junto das famílias ao longo de todo o processo de
Reajustamentos nas rotinas diárias: doença
o Integração de um novo estilo de vida (horários, o No ajustamento emocional
alimentação, dependência tabágica, sexualidade, o Na adequação de papéis, tarefas e rotinas ◦ No
exercício físico, emprego). suporte aos filhos, pais, irmãos…
o Reavaliação e redefinição das aspirações dos projetos o Diminuir o peso do fenómeno de sobrecarga do
de vida (lidar simultaneamente com a incerteza cuidador.
constante em relação ao futuro) o Na disponibilização de suporte e intervenção
o Focalização e implementação das novas aspirações, psicológica em casos de luto
prioridades e objetivos pessoais (exequíveis, realistas o No apoio a outros familiares significativos
e ajustáveis a cada instante).

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