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Estudo 3

Luto e seus impactos para a família,


paciente e equipe
Introdução

Filha às escondidas, com muito medo, pergunta:


“Doutor, meu pai vai morrer? Quanto tempo ele tem?”
Resposta:
“Veja bem, em algum momento, todos vamos…”

Foi perdida uma chance de diálogo sobre o processo de luto pela perda de
alguém querido.
É mágico como a dor passa quando aceitamos a sua presença. Olhemos
para a dor de frente, ela tem nome e sobrenome. Quando reconhecemos
esse sofrimento, ele quase sempre se encolhe. Quando negamos, ele se
apodera da nossa vida inteira.

Ana Claudia Quintana Arantes


Perspectivas sobre a Morte
As atitudes perante a morte foram passando de uma
aceitação espontânea, sendo ela incorporada como um fato
natural, esperado e superado, para atitudes nas quais é
considerada tabu, interdita, vergonhosa e destruidora.

Também os avanços científicos e tecnológicos de vários


campos, aí se incluindo a medicina, contribuíram para
estigmatizar a morte: não mais natural, mas sim uma
inimiga a ser vencida a qualquer preço.

(SILVA, 2006)
Processo de Morrer
Eutanásia
Conceitos e
definições
sobre o Ortotanásia Morte Kalotanásia
processo de
morrer

Distanásia
(CANO et al, 2020)
• Abreviação intencional da vida a fim de aliviar ou
EUTANÁSIA evitar o sofrimento do enfermo cuja morte é
iminente.

• Tentativa de manter a vida a qualquer custo, com


atos médicos desproporcionais que tornam a morte
DISTANÁSIA mais difícil, infligindo mais sofrimento ao paciente e
seus familiares.

• A morte em seu processo natural e inevitável,


ORTOTANÁSIA respeitando o direito da pessoa de morrer com
dignidade, amparada por cuidados paliativos.

(CANO et al, 2020)


Kalotanásia

A outra origem do termo provém de kalós, thánatos (kalós: boa,


bela; thánatos: morte), significando a morte bela, nobre e
exemplar.
“É impossível conhecer o homem sem lhe estudar a morte, porque, talvez mais do que
na vida, é na morte que o homem se revela. É nas suas atitudes e crenças perante a
morte que o homem exprime o que a vida tem de mais fundamental.”

Edgar Morin
Apoio ao luto para cuidadores familiares: a lacuna
entre diretrizes e práticas em cuidados paliativos
• Objetivo: Identificar padrões de apoio ao luto em serviços de cuidados paliativos com base na
experiência de pessoas enlutadas de uma pesquisa populacional e em relação às diretrizes da
prática clínica.

• Resultados: Mais pessoas com câncer (64%) receberam cuidados paliativos em comparação com
outras doenças, como doenças cardíacas, demência e falência de órgãos (4-10%). O APOIO AOS
CUIDADORES FAMILIARES ANTES E APÓS A MORTE DO FAMILIAR NÃO FOI CONSIDERADO
IDEAL. Apenas 39,4% dos enlutados relataram ter sido especificamente questionados sobre seu
pré-luto emocional / psicológico, e apenas metade dos enlutados percebeu que tinham apoio
suficiente dos serviços de cuidados paliativos. Metade dos enlutados teve um contato de
acompanhamento do serviço em 3-6 semanas, e um quarto teve um acompanhamento em 6
meses. Seu feedback qualitativo sublinhou a utilidade limitada da abordagem geral do apoio ao
luto, que costumava ser descrita como "não pessoal" ou "genérica" ou "apenas prática padrão".
Apoio ao luto para cuidadores familiares: a lacuna
entre diretrizes e práticas em cuidados paliativos

• Conclusões: A pontualidade e a consistência do relacionamento são cruciais para criar


rapport e confiança na capacidade do serviço de ajudar no pós-luto, bem como um foco
nas necessidades específicas e não genéricas dos enlutados. À luz dessas limitações, os
serviços de cuidados paliativos podem investir melhor seus esforços principalmente na
avaliação e apoio aos cuidadores familiares durante o período pré-luto e no
desenvolvimento de capacidade comunitária e caminhos de referência para os cuidados de
luto. Nossas descobertas sugerem que o apoio ao luto nos serviços de cuidados paliativos
australianos tem apenas uma relação tênue com diretrizes e ferramentas de avaliação,
uma conclusão também tirada em estudos de outros países, enfatizando as implicações
internacionais de nosso estudo.
O Luto

Bromberg (2000) aponta o luto como um conjunto de


reações a uma perda significativa e pontua que nenhum é
igual ao outro, pois não existem relações significativas
idênticas.
Worden (1998) Lista Categorias Processo
de Luto Normal, Dividindo-as em:
Sensações físicas: vazio no estômago, aperto no
Sentimentos: tristeza, raiva, culpa, ansiedade, peito, nó na garganta, hipersensibilidade ao
solidão, fadiga, desamparo, choque, anseio, barulho, sensação de despersonalização, falta de ar
emancipação, alívio e estarrecimento; (respiração curta), fraqueza muscular, falta de
energia e boca seca;

Comportamentos: distúrbios de sono, distúrbios


do apetite, comportamento aéreo, isolamento
Cognições: descrença, confusão, preocupação, social, sonhos com a pessoa que morreu, evitar
sensação de presença e alucinações; lembranças do falecido, procurar e chamar pela
pessoa, suspiros, hiperatividade, choro, visitar
lugares e carregar objetos que lembrem o falecido.
Luto
BROMBERG (2000) KUBLER-ROSS (1998)

• Entorpecimento • Negação e isolamento


• Anseio ou protesto • Raiva
• Desespero • Barganha
• Recuperação • Depressão
• Aceitação
Processos para Elaboração do Luto
RANDO (1992/1993) AFIRMA QUE ALGUNS PROCESSOS SÃO

IMPORTANTES PARA ELABORAÇÃO DO LUTO, ENTRE OS QUAIS:


Recolher e
Reagir à revivenciar as
Reconhecer o luto
separação experiências com
a pessoa perdida

Abandonar ou se Reinvestir energia


Reajustar-se a
desligar de em novas relações
uma nova situação
relações antigas
Como ajudar o enlutado ou a família? A melhor maneira é estar junto à
pessoa e estabelecer um vínculo de apoio, e cabe à equipe toda definir
de que forma realizá-lo. Algumas sugestões:

Estimular suporte
Estimular ajuda Aconselhamento
nas redes sociais,
mútua entre os individual e/ou
igrejas, clubes,
familiares familiar
grupos de arte etc.

Acompanhamento
Psicoterapia
conjunto com
Grupo de apoio individual e/ou
profissional
familiar
Fases do processo do morrer

Segundo Kübler-Ross (1992) um paciente em estágio terminal e seus


familiares podem passar por cinco fases no processo do morrer:

• Negação: ajuda a aliviar o impacto da notícia, servindo como uma


defesa necessária a seu equilíbrio. Geralmente em pacientes
informados abruptamente e prematuramente. O paciente desconfia
de troca de exames ou competência da equipe de saúde. Geralmente
o pensamento que traduz essa defesa é: "não, eu não, não é
verdade". O médico deve respeitar, porém ter o cuidado de não
estimular, compactuar ou reforçar a negação.
Fases do processo do morrer

Raiva: o paciente já assimilou seu diagnóstico e prognóstico, mas se revolta por


ter sido escolhido. Surgem sentimentos de ira, revolta, e ressentimento e tenta
arranjar um culpado por sua condenação. Geralmente se mostra muito queixoso e
exigente, procurando ter certeza de não estar sendo esquecido, reclamando
atenção, talvez como último brado: Não esqueçam que ainda estou vivo! Nesta
fase deve-se tentar compreender o momento emocional do paciente, dando
espaço para que ele expresse seus sentimentos, não tomando as explosões de
humor como agressões pessoais.
Fases do processo do morrer
Negociação: tentativa de negociar o prazo de sua morte, através de
promessas e orações. A pessoa já aceita o fato, mas tenta adiá-lo.
Deve-se respeitar e ajudar o paciente.

Depressão: aceita o fim próximo, fazendo uma revisão da vida, mostrando-se


quieto e pensativo. É um instrumento na preparação da perda iminente,
facilitando o estado de aceitação. Neste momento, as pessoas que o acompanham
devem procurar ficar próximas e em silêncio. Cabe ressaltar que o termo
"depressão" não está sendo utilizado aqui para designar a doença depressiva, mas
sim um estado de espírito.
Fases do processo do morrer

Aceitação: a pessoa espera a evolução natural de sua doença. Poderá


ter alguma esperança de sobreviver, mas não há angústia e sim paz e
tranquilidade. Procura terminar o que deixou pela metade, fazer suas
despedidas e se preparar para morrer.
Fatores que Dificultam a Aceitação da Morte:

Desequilíbrio financeiro que Dificuldade da pessoa em


História e elaboração de
o tratamento da doença ou aceitar cuidados, quando
perdas anteriores e crenças
a falta daquela pessoa esta estiver acostumada
com relação a morte
podem acarretar à família com o cuidar

Momento em que a morte A morte súbita impede os


ocorre no ciclo da vida, familiares de elaborarem
quanto mais jovem for o gradativamente o luto, ao
paciente, mais difícil será a contrário da morte
aceitação de sua morte prolongada
A fim de Ajudar o Paciente e seus
Familiares o Profissional de Saúde pode:
Ajudar a pessoa a descobrir
os fatos, desmistificando Não dar a pessoa uma falsa
Ajudar a pessoa a enfrentar
fantasias e esclarecendo confiança, oferecendo ajuda
a crise, auxiliando-a a
suas dúvidas, evitando e reconhecendo a validade
expressar seus sentimentos
especulações sobre a de seus temores
doença

Incentivar e sugerir uma


Não encorajar a pessoa a reorganização das tarefas
Ajudá-la a aceitar ajuda
culpar as outras cotidianas, para que a
pessoa receba assistência
Reações Consideradas Normais no Luto

Sensações físicas: sensação de


Cognições ou padrões diferentes
vazio no estômago; aperto no peito;
de pensamento: descrença (reação
nó na garganta; extrema
inicial numa função protetora),
sensibilidade ao barulho; sentimento
confusão, preocupação, sensação de
de irrealidade e despersonalização;
presença e alucinações (ex: ouvir a
respiração curta; falta de ar;
voz do falecido ou achar ter visto sua
fraqueza muscular; baixa energia e
imagem)
secura na boca
As Reações Consideradas Normais no Luto são:
Comportamentos associados: distúrbios do
sono, do apetite, comportamento aéreo,
tendência a esquecer das coisas, isolamento Sentimentos: frustração, dor,
social, sonhos com a pessoa que faleceu, evitação
de coisas que lembrem o morto, procurar e sofrimento, revolta, etc.
chamar pela pessoa, suspiros, hiperatividade,
choro, dentre outros

A insensibilidade pode manifestar-se como um


período de indiferença que não deve persistir por
mais de duas semanas. Intelectualmente, há uma
conformidade com o que aconteceu, mas sem
estar acompanhado de sentimento. A sensação
para a pessoa é de um sonho, pois se sente
perdida e irreal
REFERÊNCIAS
CALSAVARA, Vanessa Jaqueline; SCORSOLINI-COMIN, Fabio; CORSI, Carlos Alexandre Curylofo. A comunicação de
más notícias em saúde: aproximações com a abordagem centrada na pessoa. Rev. abordagem gestalt., Goiânia , v.
25, n. 1, p. 92-102, abr. 2019 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
68672019000100010&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 09 set. 2021. http://dx.doi.org/10.18065/RAG.2019v25.9.

CANO, Carlos Wilson de Alencar et al. Finitude da vida: compreensão conceitual da eutanásia, distanásia e
ortotanásia. Revista Bioética, v. 28, p. 376-383, 2020.

GABBAY, Daniela, e outros, Meios alternativos de Solução de conflitos, Editora FGV , 2013, pág. 58 e 59.

MARTINS, Julia Santos et al . Empatia e relação terapêutica na psicoterapia cognitiva: uma revisão sistemática. Rev.
bras.ter. cogn., Rio de Janeiro , v. 14, n. 1, p. 50-56, jun. 2018 . Disponible en
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-56872018000100007&lng=es&nrm=iso>.
accedido en 04 nov. 2021. http://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20180007.

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