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Sobre a Morte, o

Morrer e o
Processo de
Enlutamento
Prof.ª Ms. Giovana Bovo Facchini
gifacchini@hotmail.com
www.dialogospsicologicos.com.br
O Menino Doente
Gabriel Metsu

A Criança Doente
Edvard Munch (1886)
Primavera
Edvard Munch (1889)

A Mãe
Morta e a
Criança
Edvard
Munch
Morte no Quarto da Doente
(1899)
Edvard Munch (1895)
Os dias
de hoje...
Morte e
Terminalidade

“A morte, em si, está ligada a uma ação má, a um acontecimento


medonho, a algo que em si clama por recompensa ou castigo.”
(KÜBLER-ROSS, 2002, p.6)

“Quanto mais avançamos na ciência, mais parece que tememos e


negamos a realidade da morte.”
(KÜBLER-ROSS, 2002, p.11)
MORTE HOJE
o Solitária
o Mecânica
o Desumana

Esquiva da ansiedade em lidar:


Com o paciente e seus medos
 Com os familiares e seu desespero
 Com sua própria mortalidade
Deve-se focalizar o
paciente como
pessoa e tratá-lo
como um ser
humano, fazendo-o
participar do
tratamento.

Os doentes raramente são consultados sobre


seus desejos.
PENSAR SOBRE
A MORTE

PENSAR
SOBRE A VIDA

“Da morte de nada sabemos. Só sabemos as histórias contadas do lado de cá,


palavras que sobre ela colocamos, a fim de torná-la uma presença (...). Quem não
fala sobre a morte acaba por esquecer da vida. Morre antes, sem perceber (...)”
(Rubem Alves, Histórias para Pequenos e Grandes)
“Nossa meta não deveria ser dispor de
especialistas para pacientes moribundos, mas
treinar pessoal hospitalar para enfrentar
serenamente tais dificuldades e procurar soluções
(...) podemos ajudá-los a morrer tentando ajudá-
los a viver, em vez de deixar que vegetem de
forma desumana.”
(KÜBLER-ROSS, 2002, p.25)
Confiança na
Figura do
Médico
 Diante de um diagnóstico reservado, a questão não
deveria ser “devo contar?” mas “como vou dividir isso
com meu paciente?”

Pedido Recorrente: “O paciente quer receber a notícia?”


Atitudes diante da
Morte e do Morrer:
Os 5 Estágios

 Necessidade de entendimento dos estágios por parte da


equipe médica (reações esperadas x não esperadas).
 Estágios são igualmente previstos diante de recebimento de
outras más notícias (Ex: diagnósticos) e de enlutamento.
 Os 5 estágios ocorrem de forma não linear.
1. Negação e
Isolamento

 A negação pode ser parcial ou total.


Funciona como um “pára choque” depois de notícias
inesperadas e chocantes.
 Estágio temporário, substituído por uma “aceitação
parcial”.
2. Raiva
 Envolve sentimentos de revolta,
inveja e ressentimento.

 Estágio mais difícil de ser aceito por familiares e equipe.


 Necessário o entendimento de que o paciente quer ser
escutado, compreendido (“Eu ainda estou vivo!”).
 Não deve ser tomado como pessoal.
 Para tolerar a raiva do paciente, deve-se eliminar a esquiva
da escuta.
3. Barganha

 Estágio de menor duração.


 Tentativa de “acordo” que adie o desfecho inevitável.
 Inclui um prêmio oferecido “por bom comportamento” e
estabelece uma “meta” auto-imposta.
 A maioria das barganhas são feitas com Deus e geralmente
são mantidas em segredo.
4. Depressão

 Ocorre quando a doença não pode mais ser “escondida” (novos


sintomas, hospitalizações, cirurgias, etc.).
 Todos os sentimentos anteriores dão lugar a um sentimento de
grande perda.
 O paciente precisa expressar o seu pesar.
 Reativa (Comunicação) x Preparatória (Silêncio)
 Desejo/Disposição do Paciente x Expectativa de Terceiros
5. Aceitação
 Contemplação do fim próximo
com um certo grau de tranquila
expectativa.
 Aceitação ≠ Felicidade
 Família necessita de mais suporte que o paciente.
 Visitas passam a ser indesejadas ou curtas; menos conversa;
comunicação não verbal.
 Luta contra a morte e sua negação dificultam o processo de
aceitação.

EVITAR O DISCURSO DA “LUTA PELA VIDA A QUALQUER PREÇO”


Esperança

Permeia
todos os
Estágios!
“(...) os pacientes que melhor
reagem são aqueles que foram
encorajados a extravasar suas
raivas, a chorar durante o pesar
preparatório, a comunicar seus
temores e fantasias a quem
puder sentar-se e ouvi-los em
silêncio.”
(KÜBLER-ROSS, 2002, pp.123-124)
Religiosidade
 Importante aspecto no
processo de enfrentamento.
 Deve ser respeitada pelos
profissionais de saúde.
 Deve ser cuidadosamente
abordada quando funciona
de forma contraproducente
(comportamento passivo).
Weisman (1972)
Quando não está mais em jogo o
diagnóstico e a cura, inicia-se um
tratamento com ênfase no alívio e
no bem estar da pessoa.

3 estágios da Doença Terminal:


 Estágio 1: início dos sintomas ao diagnóstico.

 Estágio 2: diagnóstico ao estágio terminal (concentração da maior parte


do tratamento; combate à doença; busca da cura).

 Estágio 3: tratamento ativo diminui; ênfase na busca de alívio de


sintomas e cuidados pessoais.
Weisman (1972): mito de que o
paciente terminal só teme a morte.

Erickson (1974): comunicação


(padrão do duplo vínculo  mensagens
contraditórias ou “conspiração do silêncio”).

Lamerton (1980): no paciente terminal deve-se tratar os


sintomas, e não a doença (bem estar físico x bem estar psicológico).

Nos estágios finais da doença, o tom de voz e a proximidade


física são mais importantes do que o conteúdo do que se fala.
“Segundo Le Shan (1973), o
paciente com tempo limitado de
vida, não importando qual é o
tempo objetivo, necessita realizar o
desligamento das pessoas e
objetos amados. O terapeuta traz
consigo a possibilidade de conexão
com a vida que ainda está aí. A
questão do tempo limitado é
relativa; mais do que a quantidade,
importa a qualidade de vida.”

(KOVÁCS, 1992, p.205)


Processo de
Enlutamento
LUTO

ROMPIMENTO
DE VÍNCULO
O luto é um processo de aperceber-se, de
tornar real o fato da perda.

 Entendido como uma crise: desiquilíbrio frente à quantidade de ajustamento


necessário de uma única vez e os recursos disponíveis imediatos para lidar com a
situação.
O luto vai incluir uma série de respostas psicológicas, fisiológicas, sociais e
comportamentais.
Processo de
Enlutamento
 Expressão de reações emocionais como tristeza, raiva, revolta ou culpa é
normal e esperado.
 Não passar por esses processos no tempo certo poderá ocasionar danos
futuros com sofrimento ainda maior que o próprio processo de luto, com
probabilidade de ocorrência do chamado “luto patológico”.
 Luto Patológico: familiar pode passar a ter atitudes do falecido de forma
compulsiva e identificação com os sintomas do morto, acreditando-se que o
mesmo está presente nos objetos ou nas outras pessoas.
Quatro Fases
do Luto
1. Fase de Choque: com duração de horas ou semanas, podendo aparecer
manifestações de desespero ou raiva.
2. Fase da Saudade e da Busca pelo Ente Querido: com duração de meses ou
anos, essa fase ocorre quando o indivíduo quer recuperar o ente querido,
podendo manifestar raiva quando percebe que não é possível.
3. Fase da Desorganização e Desespero: choro, raiva, acusações a pessoas
próximas, com sentimento de uma tristeza profunda, pois se sabe que a perda foi
definitiva e se sente que nada mais tem valor.
4. Fase de Organização: o indivíduo aceita a sua perda e constata que uma nova
vida precisa ser iniciada. A saudade e a tristeza ainda podem aparecer, pois o
processo do luto é gradual.
Luto
Antecipatório

LUTO PELA FUTURA PERDA QUE SE APROXIMA.

 Fase em que os familiares ficam no “fio da navalha”:


além de se prepararem para a morte que se aproxima,
também precisam se dedicar com todo amor, atenção e
carinho ao paciente terminal.
Luto
Antecipatório
 Sentimentos: tristeza, raiva, culpa, ansiedade, solidão, fadiga,
desamparo, alívio e estarrecimento.
 Sensações Físicas: vazio no estômago, aperto no peito, nó na garganta,
hipersensibilidade a barulhos e sensação de despersonalização.
 Aspectos Cognitivos: descrença, confusões, preocupações, sensação
da presença e alucinações.
 Comportamentos: distúrbios do sono e apetite, comportamento aéreo
com tendência de esquecimento, isolamento social, sonhos com pessoas
que já faleceram, suspiros, hiperatividade e choro
Família
Passa pelos mesmos
estágios que o paciente ao
saber de uma doença grave.
O enfrentamento vai
depender da estrutura de
cada indivíduo e da relação
estabelecida entre eles.
Família
 Perda em vida.
 Luto antecipatório.
 Ambivalência de sentimentos.
 Medo de ver o sofrimento e a decadência da pessoa
amada.
 Impotência.
 Sentimentos de culpa.
 Tentativa de reparação.
 Desorganização na sua forma de vida.
Possibilidades
Terapêuticas
 Autoconhecimento (revisão da
vida, aprofundamento de relações)

 Não supor necessidade de


temas determinados (ex: morte)

 Desenvolver escuta atenta


do outro de suas necessidades
Algumas
Dificuldades

 Sentimentos de impotência e frustração.


 Medo de ver o sofrimento, a dor, a degeneração física.
 O terapeuta deve perceber os próprios sentimentos
(morte, finitude).
 Busca de terapia pessoal e supervisão.
Referências
Bibliográficas
 BROMBERG, M.H.P.F. A psicoterapia em situações de perdas e luto. Campinas: Editora
Livro Pleno, 2000.
 FONSECA, J.P. Luto Antecipatório. Campinas: Editora Livro Pleno, 2004.
 KÜBLER-ROSS, E. Sobre a morte e o morrer. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
 KOVÁCS, M.J. A morte em vida. Em: H.P.F. Bromberg; M.J. Kovács; M.M.M.J. Carvalho;
V.A. Carvalho (Orgs.). Vida e Morte: laços da existência. São Paulo: Casa do Psicólogo,
1996.
 KÓVACS, M.J. Morte e desenvolvimento humano. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002.
 PARKES, C.M. Luto: estudos sobre a perda na vida adulta. São Paulo: Summus, 1998.

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