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Platão 21
e sócom base nesse conhecimento será possível, em última análise, tomar uma
decisão correta.
Em As Leis(Nomoi), um de seus últimos diálogos, Platão formula uma utopia, uma
cidadeideal, que serviria de modelo para uma colônia a ser fundada. Nela, ao contrário
do que OCorre na República, em que os guardies, os homens justos, teriam o papel
fundamental como governantes, predominariam agora as leis, sobre as quais repousaria
quase que
inteiramente ajustiça na cidade.
CRÍTON
Sócrates e as leis de Atenas
PROTÁGORAS
O mito de Prometeu
1. Ver
Danilo Marcondes. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro, Zahar, 9 reimp. 2014, p.24-5.
22 Textos básicos de filosofia do direito
A REPÚBLICA
Omito de Giges
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cidade, busca uma resposta cada vez mais
buscandoofundamento daquilo que querabstrata,
discutir. radicalizando questo
a e
Platão, Como Aristóteles posteriormente,
e não resulta apenas deconsidera assim que ajustiça
é natural (katà physin) um contrato ou
caso contrário a sociedade não seria possível.
Desse modo, o convenção,
deve ser considerado natural ao homem. Ele contesta assim asenso de justiça
posição de Tra-
símaco, apresentada no livro I da
República, representativa
de
da época, segundo a qual ajustiça éuma imposição sOcial ese alguns sofistas
não houvesse
leis todoS Os homens praticarriam ainjustiça, ou seja, agiriam apenas em be-
neficio próprio.
Para Platão, a cidade justa ira se constituir através do governo dos Cr.
diäes aquem cabe a decisão politica, porque governam em nome da razán
(Wogos) e não apenas de seus Interesses pessoais, sendo portanto incapa7es
de cometer uma injustiça, privilegiando sempre o interesse da sociedade.
uma espécie de concepção de bem comum. Para Platão, nesse contexto, a
garantia da justiça na sociedade não é dada tanto pela natureza das leis, mas
pela virtude (areté) dos governantes, enquanto sábios (sópho).
No texto que se segue, parte do Livro ll da República, encontramos uma
discussão a respeito da natureza da justiça e da obediência à lei, baseada no
medo da punição e numaconcepção pessimista da natureza hurmana que Pla
tão irá combater ao longo do diálogo, mas que érepresentativa, em parte,
do pensamento da épOca, por exemplo entre os sofistas mais radicais. Segun
do essa visão pessimista da natureza humana, o justo sópratica a justiça por
medo da punição; se tiverem certeza da impunidade, os homens Cometerão as
transgressões que Ihes trazem vantagens. Daí a concepção de que o papel das
leis é evitar que os homens sigam seus impulsos e prejudiquem uns aos outros.
Trata-se de uma longa exposição feita por Glauco, sobrinhode Platão
e um dos principais interlocutores de Sócrates em todo o diálogo. Ela não
representa a posição de Glauco, mas simplesmente faz parte da dialética ar
gumentativa: caberá aSócrates, ao longo do diálogo, contestar essaposição,
defendendo a racionalidade da justiça.
66 (359a-360a)
bom praticar
GLAUCO: Os homens pretendem que, por natureza, e
ainjustiça e mau sofrê-la, mais ainda que épior sofrê-la do que
praticá-la. Por isso, quando ocorre de ora sofrê-la, ora praticá-la, aqueles que
não têm escolha em nenhum dos dois casos consideram que seria preferível
nem sofrê-la, nem praticá-la. Disso nascem as leis (nomous) econvenções
(synthekas), eo a lei prescrevia é o que se denominou legítimo (nomimon)
ejusto (dykaion).queEssa é a origem e a essência da justiça: estar entre o maior
Textos båsicos de filosofia do direito
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que se
benefício, que seria praticar impunemente ainjustiça, eo maior mal,
extremos, a justica &
ria sofrê-la sem ser capaz de vingar-se. Entre esses dois
considerada não como um bem em si mesmo, mas porque a impossibilidade
de praticar a injustiça lhe dávalor. Aquele quc pode praticar a injustiça n·o
concordaráem não cometê-la ou em sotrê-la, isso seria loucura. Essa é Sé
comum.
crates, a natureza e a origem da justiça, segundo a opinião
Vamos supor que os que praticam a justiça o fazem por impossibilidade
de praticar a injustiça. Concedamos ao justo e ao injusto a possibilidade de
seus de
fazer oque quiserem epassemos a observar para onde os conduzem
sejos. O justo será visto em tlagrante delito em busca do mesmo que o injusto.
ambos buscando se impor aos outros. E isso que toda natureza busca como
um bem. mas que a lei ea força reduzem ao respeito pela igualdade. Isso
pode ser representado pelo poder que, dizem, teve o antepassado de Giges,
oLídio. Esse homem era um pastor que trabalhava para o rei da Lídia. Um
dia. durante uma violenta tempestade seguida de tremores de terra, abriu
se uma fenda no solo e formou-se um precipício próximo de onde cuidava
de seu rebanho. Desceu, mesmo com espanto, ao fundo do abismo, onde
encontrou tesouros como um cavalo de bronze oco dentro do qual percebeu.
homem e
por uma abertura, um cadáver, que parecia mnaior que o de um
que tinha em uma das mãos um anel de ouro, o qual o pastor tomou para si,
ocorria todo
saindo sem pegar mais nada. Em uma reunião de pastores que
anel de ouro. Quan
més para prestar contas ao rei, compareceu usando o
anel para dentro,
do estava sentado junto com os outros, girou por acaso o
tornando-se subitamente invisível. Percebeu então que os outros pastores
o anel, tornou
falavam dele como se não estivesse mais lá. Girando de novo
vezes, certificando-se que o anel
se visível mais uma vez. Tentou isso outras
invisível, girando-o
tinha de fato esse poder. Girando o anel para dentro ficaincluiu-se
Percebendo isso, dentre os
de volta, tornava-se outra vez visível.
palácio, seduziu a rainha,
mensageiros que sedirigiam ao rei. Chegando ao Suponhamos que
persuadiu-a a matar o rei junto com ele e tomou o poder.
um eoinjusto, outro.
existissem dois anéis desse tipo e que o justo recebesse injus
incapaz de cometer uma
Nenhum dos dois seria de natureza tão forte,
poderia fazer isso sem receio
tiça e tomar um bem de outra pessoa, jáque Desse modo, nada dis
de tomar o que quisesse, sem ser responsabilizado
mesmo. E isso pode
tinguiria ojusto do injusto, ambos tenderiam a fazer o
justo por vontade própria,
ser citado como a grande prova de que ninguém é
um bem individual, porque
mas devido à coerção, não sendo assim a justiça
quem puder cometer uma injustiça, a cometerá.
Platão
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