Você está na página 1de 72

OS DÍALOGOS

SÓCRATICOS E A
DEMOCRACIA
A
TETRALOGIA:APOL
OGIA , ÊUTIFRON,
CRÍTON, FÉDON
CONSENSO ACTUAL

1º PERÍODO (“SOCRÁTICO”)

Apologia Lísis Hípias Menor Górgias

Críton Íon Êutifron

Laques Alcibíades I Protágoras

Cármides Hípias Maior Trasímaco

2º PERÍODO

Ménon Menexeno República

Crátilo Fédon Fedro

Eutidemo Banquete

3º PERÍODO

Parménides Sofista Timeu Filebo

Teeteto Político Crítias Leis


A ORDEM DA 1ª TETRALOGIA
São quatro os diálogos
platónicos diretamente Êutifron, cuja ação a Apologia de
relacionados com o decorre algum tempo Sócrates relata a sua
processo, condenação e antes do julgamento; defesa perante juízes;
morte de Sócrates:

o Críton, em que na O Fédon descreve o


A proximidade entre
antevéspera da execução, último encontro de
estas quatro obras é de
se ponderam as razões Sócrates com os seus
natureza puramente
para aceitar a proposta amigos, até ao momento
dramática;
de fuga da prisão; da morte;
Embora a data exata da sua composição seja desconhecida, a Apologia
costuma ser considerada a obra mais antiga.

O Críton e a Apologia, sendo obras mais antigas, são qualificados


de «biográficos». E o Fédon pelo seu envolvimento com a Teoria das
Formas se deixa integrar no grupo das obras do segundo período e
pode distanciar uns vinte anos dos dois primeiros.
A leitura conjuntura da Apologia de Sócrates, Críton e Êutifron
permite: a) acompanhar o processo e a condenação de Sócrates, e b)
introduzir ao estudos dos diálogos chamados socráticos.
O MÉTODO DOS
DIÁLOGOS
PERGUNTA DE SÓCRATES PELA VIRTUDE
• Qualidades que a integram, de sua natureza e
das condições de sua aprendizagem.
–Virtudes: coragem (Lakhes), a piedade (Eutífron), a
temperança (Cármides), a beleza (Hípias Maior);
–É possível ensiná-las? (Protágoras, Mênon)
• Transformação da essência do ser (sentido
ôntico). Saber para viver melhor.
Por exemplo, no Êutifron, a realidade da piedade –
objeto da pergunta de Sócrates – é sempre
independente da qualidade das respostas que o seu
interlocutor propõe. Estas acabam sempre por ser
refutadas, por serem produzidas por uma aparência
de saber – um «julgar que sabe» (quando não sabe)
– que o saber de Sócrates reduz à contradição».

A Apologia e os primeiros diálogos formulam


constantemente o princípio, pelo qual «a sabedoria
humana é de nenhum valor real (Apol. 23 a-b).
OPOSIÇÃO DE SÓCRATES COM OS
INTERLOCUTORES

diálogo
Sócrates
Interlocutor sabe que
Julga que não sabe
sabe

diálogo
DOIS NÍVEIS EPISTÉMICOS DO DIÁLOGO

2. Subordinante, 1. O comum
é o «saber de saber das coisas,
saber», mas que que ocupa a
é «saber de não posição de
saber». subordinação
Sócrates Interlocutor
“É esta diferença de nível que impede a confusão de Sócrates
como céptico, que nega a possibilidade de se atingir algum saber,
ou com qualquer ignorante conformado com a sua incapacidade.”

Para Sócrates, «o único saber real é o conhecimento infalível dos


sinais que os deuses espalharam no confuso caminho dos
mortais.»

A sabedoria nenhum homem possui, e isto é provado infalibilidade


expressa pela irrefutabilidade das definições.

Como não há saber perfeito de um objeto por parte de um


sujeito é pela interrogação que evoluímos nos seus níveis.
O SABER É SOBRE QUE? DIVERSAS
RESPOSTA DE PLATÃO.
1.Saber prático sobre a 2. Engloba todas as
produção de certos atividades que realiza
objetos uma obra socialmente útil

3. Visa a causa ou
explicação (aitia) do
«bem-feito» de cada
objeto ou conhecimento
do «Bem».
• A elevação, do plano prático ao plano
ético, é típica das investigações dos
primeiros diálogos de Platão. Este é o
motivo que dos equívocos entre Sócrates
e os seus interlocutores.
DO FILOSOFAR À FILOSOFIA
• Entre o conflito de saberes, da sociedade da época, o filósofo reclama
publicamente as suas responsabilidades de intelectual e criador de cultura.
• Entre os competidores encontram-se, os representantes tradicionais da polis,
como os juízes, figuras de peso como Aristófanes ou Ânito e os novos que
reclamam uma nova paideia (educação): os sofistas.
• Sócrates é uma figura que se encontra entre esse conflito, mas não é que ele é
alheio as estes movimentos.
• Na Apologia de Sócrates é ela mesma uma apologia ao filosofia como
propedêutica à filosofia.
• Os diálogos de Platão apresenta o conteúdo do filosofar socrático que é
contraposto aos outros modos de saber.- que não são mais que aparências de
saber.
• A questão fulcral é como pensar. Os argumentos filosóficos são
caminhos os únicos caminhos para evitar aporias como nos outros
saberes.
• Nos diálogos a entrega do filosofar – o saber da ignorância – é
defendida de duas maneiras: positivamente pelo logos socrático (o
saber humano) e negativamente de chegar a saber o que são a
coragem, a piedade, a sensatez, a sabedoria, a justiça: numa palavra,
«a virtude».
• A função da aporia muda com os diálogos: Para Sócrates do
Ménon, o dever da investigação e da procura do que se não sabe
(86b-c). No Fédon, a aporia resulta da «insanidade do sensível»,
para se pode ampliar até a Formas numa teoria explicativa da
realidade como solução.
DAR A LUZ A VERDADE

“Se você voltar a conceber, estará mais


preparado após esta investigação, ou ao
menos terá uma atitude mais sóbria,
humilde e tolerante em relação aos outros
homens.”
(Sócrates, em Teeteto de Platão)
METODOLOGIA DOS PRIMEIROS
DIÁLOGOS.
• As investigações socrática fixa como metodologia a pergunta e a
resposta (método dialético) como regulador da produção e
refutação das declarações significativas.
• Esta consiste na combinação da pergunta «O que é?» que despoleta
uma série das definições – com os elenchos – a técnica refutativa –
mais a epagoge – a indução socrática – usada como forma de
incorporar a informação aduzida por meio de exemplos e
comparações
A PERGUNTA «OQUE ?»

• São as perguntas de Sócrates que comandam o encadeamento das conversas


que constitui o diálogo socrático típico. Por isso a longo do diálogo surge
inúmeras perguntas que podem reduzir a dois tipos muitos gerais a saber:
• «O que é (X)?» e «(X) é (Y)». Por exemplo « O que é a sensatez»? (Carmides)
e «Aretê é ensinável ou nasce-se com ela?» (Ménon).
• Na sua simplicidade, a pergunta «O que é?» consente os mais variados tipos
de respostas.
• Sócrates sem renunciar a formulação que aponta para um objeto evidente, irá
acrescentando exigências a que a resposta deverá obedecer.
•O CASO
DE
EUTÍFRON
A 1ª TETRALOGIA E O ATAQUE AS INSTITUIÇÕES
PENAIS
APOLOGIA: Deve os tribunais basear nos
OS sentimentos ou na
TRIBUNAIS racionalidade da argumentação?

Se não existe a A moralidade tem


imortalidade valem a
FÉDON OS EUTÍFRON
EQUÍVOCOS fundamento no
pena ter valores? A MORTE FUNDADO
A RELIGIÃO divino ou na
NO MEDO razão humana?

CRÍTON Os nossos deveres de basear-


A PRISÃO se nos costumes (maioria) ou
na reflexão e soberania da
cidade?
VENTU R A S E
D ESVEN T U R A S
D A D E M O CRACI A
OS ANTECEDENTES HISTÓRICO DO PROCESSO DE
SÓCRATES: VENTURAS E DESVENTURAS DA DEMOCRACIA
Quando comparece perante o tribunal em 399,
Sócrates tem 70 anos.
Sócrates nasceu em 470, dez anos depois da Batalha
de Salamina.
Após a vitória grega sobre os persas, o mundo histórico é dominado pela
rivalidade em Atenas, potencia marítima, comercial e cosmopolita, apoiado
pelo vasto império e com um regime democrático e Esparta, potência
continental dotada de um regime aristocrático.
Cada uma destas cidades tentava alargar a sua esfera
de influência e exportar o próprio regime político.
EM 431 TEM INICIO A GUERRA DO PELOPONESO ENTRE O IMPÉRIO
ATENIENSE E A CONFEDERAÇÃO FORMADA PELAS CIDADES DE
ESPARTA, TEBAS, CORINTO E OUTROS ALIADOS.
EM 430 QUANDO OS HABITANTES DA ÁTICA SE REFUGIARAM POR TRÁS DAS
FORTIFICAÇÕES DE ATENAS E CONTANDO RESISTIR POR MEIO DO ABASTECIMENTO
POR MAR, A DOENÇA EPIDÉMICA (PESTE DE ATENAS - TIFO) DEVASTOU A CIDADE.

UMA DAS VÍTIMAS FOI PÉRICLES, QUE DIRIGIA AS


OPERAÇÕES MILITARES.
UMA GUERRA SEM FIM A VISTA FEZ REFORÇAR OS PARTIDOS
DA PAZ. O ARISTÓCRATAS OPUNHAM-SE À GUERRA.

FOI NESTE AMBIENTE QUE PLATÃO NASCEU EM


428.
EM 421 DITOU-SE A PAZ DE «NÍCIAS» NOME DO GENERAL
ATENIENSE QUE O CONCLUIU COM O REI DE ESPARTA,
PLEISTOANAX.
ALCIBÍADES
Em 421 a guerra continuava, e uma figura essencial no processo de Sócrates surge. ALCIBÍADES. «Belo, rico e brilhante, a
todos parecia ser o novo Péricles.

Alcibíades terá sonhado com um império ateniense a toda a bacia mediterrânea. Por isso durante quinze anos vai ser um
dos principais protagonistas de uma história plena furor de traições.

Estratego (General-Chefe) em 420, Alcibíades terá tentado em vão vencer Esparta por meio de uma aliança com Argos
para apoderar-se da Magana Grécia.

Venceu a Liga do Peloponeso, ficando Atenas senhora do Mediterrâneo.

O incidente que causou agitação popular e que envolvia Alcibíades: a mutilação do Busto de Hermes e a paródia feita aos
Mistérios de Elêusis por jovens leva-o a ser acusado.

Escapa a acusação indo a cabeça de uma expedição. Depois de poucos sucesso das batalhas ele foge para Esparta, que o
incitou a opor-se Atenas na Sicília.

Atenas é dizimado no seu exército e Esparta ataca Ática e alia-se aos Persas numa liga anti-ateniense.
• Aristocratas ou oligarcas rivalizavam com os democratas durante
esses desaires que Atenas sofria.
• Os democratas eram partidários da guerra e oligarcas eram á favor
a alianças. Antifonte, orador e partidário oligarca puro era a favor
da paz com Esparta e Terâmenes queriam um regime censitário
amplo (democracia).
• Os jovens aristocracia aproveitava da fraqueza da democracia criar
um clima de insegurança através de associações secretas que
entregam-se a uma série de assassinatos políticos.
• Alcibíades aliara-se aos Persas e fomentou a conspiração contra os
oficiais da frota que Atenas enviara a Samos. Com apoio deles ele
queria regressar Atenas mas com o intuito de derrubar a
democracia.
AS ACUSAÇÕES
LANÇADAS CONTRA
S Ó C R AT E S
• Em fevereiro de 3999, o poeta Meleto depôs nas mão do arconte-
rei uma queixa contra Sócrates.
• Texto da ACUSAÇÃO, segundo Favorinus:
• «Eis a queixa que redigiu e que afirmou sob juramento
contraditório Meleto, filho de Meleto, do demos de Pitos contra
Sócrates, filho de Sofronisco, do demo Alopeco. Sócrates é
culpado de não acreditar nos deuses reconhecidos pela cidade
e de introduzir novas divindades; além disso, corrompe a
juventude. Pena pedida: morte»
• Sócrates no quadro de
Rafael, Escola de Atenas
QUEM É MELETO, LÍCON E ÂNITO?
ACUSADORES: Meleto, Ânito e Lícon.
• Meleto, o acusador oficial, é um poeta trágico e lírico. No
Êutifron, Sócrates descreve Meleto como: «jovem e sem
notoriedade (…), de cabelos lisos, pouca barba, nariz
recurvado» (2b).
• Meleto parece ter sido mais conhecido que Platão, dado
que Aristófanes o cita.
• Lícon era um cidadão naturalizado de origem jónica,
membro do partido democrático.
• Ânito é o acusador principal, cuja a personalidade e as suas
funções são de grande importância para compreender o
processo: O seu pai, curtidor de peles Antémion, fez
fortuna e havia dado a ele uma educação esmerada. Banido
pelos Trinta, Ânito junta aos exilados de File que o elegem
estratego. Isto significa que ele tem uma participação
importante no restabelecimento da democracia

• Após a guerra do Peloponeso, Ânito é um dos personagens


destacados do partido democrático (um democrata
centrista e não extremista).
AS ANTIGAS CALÚNIAS CONTRA SÓCRATES

SEGUNDO SÓCRATES DA APOLOGIA AS VELHAS


ACUSAÇÕES RESUMIRIAM DESSA FORMA: «Sócrates
é culpado: procura indiscretamente o que se passa sob a
terra e no céu, faz do argumento mais fraco o argumento
mais forte, ensina os outros a fazerem como ele».

Para Sócrates essas acusações


são difusas e anónimas, a exceção
de Aristófanes de As Nuvens
Sócrates reconhece que é mal
visto pelos Atenienses e que a sua
má reputação vai pesar no
processo, mas de resto as
acusações são apenas calúnias.
EXPLICAÇÃO DO «ATO DE ACUSAÇÃO»
1
Essa filosofia está em
concorrência com a
religião por
interessar por todos
os domínios,
inclusive aqueles que
a religião pretendia
assumir competência,
como os fenómenos
celestes e
subterrâneos.
2. Fazer do «argumento mais fraco o argumento mais forte».

Para esta censura, não existe dúvida, na medida em que a maioria dos
atenienses considerava Sócrates como um sofista.

Esquino escrevia 52 anos depois da sua morte: «haveis levado à morte o


Sofista Sócrates porque parecia que ele tinha educado Crítias, um dos
Trinta Tiranos que haviam derrubado a democracia» (Contra Timarco,
173).
DIFERENÇA ENTRE SÓCRATES E OS SOFISTAS

Sócrates:
Sofistas:
Ele não era
Professores
pago pelas
pagos e
lições, não era
itinerantes
itenerante
PONTOS COMUNS ENTRE SÓCRATES E
SOFISTAS:

SÓCRATES, tal como os sofistas, estava rodeado


de jovens ricos e ociosos (cf.23c) que pensavam
aprender junto dele a arte da palavra que lhes
iria abrir as portas do poder na cidade.
• São os discursos paradoxais de Sócrates que cria o
preconceito de que Sócrates é um Sofista:
• A ideia de ser o mais sábio dos homens porque
sabia que nada sabia, ou que vale mais sofre uma
injustiça do que cometê-la é que toma o título no
senso comum de tentar fazer o argumento mais
fraco triunfar sobre o mais forte.
A ACUSAÇÃO DE ARISTÓFANES
•A acusação de ele ser um fisiólogo, um
filósofo da natureza, Sócrates irá atacar
sobretudo Aristófanes de As Nuvens.

•A acusação de Aristófanes é uma acusação


que afirma que Sócrates é um tipo de
intelectual que ocupa de bagatelas, como um
individuo.
AS NUVENS DE ARISTÓFANES
«As Nuvens de Aristófanes põe em cena o camponês Estrepsíades que foi
arruinado pela mulher, «uma lambisgoia da cidade», e o seu filho Fidípido,
ambos pretensiosos e ávidos de luxo. Não podendo reembolsar as dívidas vai ter
com Sócrates no seu «pensatório», porque ouvira dizer que aí se aprendia a
fazer triunfar a causa mais fraca a partir da causa mais forte, sendo esta, no
caso em questão, a do seus credores. Encontra Sócrates dependurado num cesto
que diz andar no ar e olhar o sol, significando o verbo «peripronein»
simultaneamente «olhar» e «desprezar». Ora, para o comum para dos gregos, o
sol é um deus. Mas Estrepsíades é demasiado limitado para tirar partido das
lições de Sócrates e envia o filho em seu lugar. Fidípido faz tais progressos
que após uma disputa com o pai acaba por vencer, demonstrando-
lhe que teve razão para o vencer. Por fim, como obra de higiene pública,
Estrepsíades arrasa e incendeia o pensatório de Sócrates»
Segundo Aristóteles e Diógenes Laércio,
Sócrates interessou na sua juventude pela
«investigação sobre a natureza».

Sócrates no Fédon que ficou desiludido com


este género de investigação, porque não explica
os fenómenos em termos teleológicos (fim),
mas em termos mecânicos.

Sócrates terá sofrido uma conversão intelectual


que o obriga a abandonar a investigação sobre
as causas dos fenómenos naturais e aplicar a
interrogação (dialética) ao domínio prático.
• Aristóteles escreve:
«A razão pela qual os nossos predecessores não
chegaram a este modo de pela qual os nossos
predecessores não chegaram não chegaram a este
modo de explicar as coisas (ou seja, a explicação
finalista) foi porque não foram capazes de definir a sua
essência (…). As pessoas que rodeavam Sócrates fizeram
alguns progressos nesta direção, mas a investigação
sobre a natureza periclitou e aqueles que filosofavam
viraram-se para a virtude útil e a política».
Aristóteles, Partes dos Animais, I, 1, 642 a 34-31)
• Para Aristóteles as grandes contribuições de
Sócrates foi ter «procurado o universal e,
primeiramente, fixado o pensamento sobre
definições» (Aristóteles, Metafísica A, 6, 987b1)
ROSTOS DE
SÓCRATES
HAVIA DOIS SÓCRATES?: UM PRÉ-SOCRÁTICO
E SOCRÁTICO, HISTÓRICO E PLATÓNICO
1. O primeiro 2. O segundo que
seria pré- conhecemos através
socrático – dos diálogos
aquele que «socráticos» de Platão
que refugia no domínio
procurava dos «discursos» e dos
descobrir a «valores» e que toma
verdade das como matéria-prima a
interrogação dialética.
coisas.
SÓCRATES DE XENOFONTE E DE PLATÃO
• Platão e Xenofonte dedicam a excluir o primeiro Sócrates, negam
simplesmente que ele tivesse ocupado de filosofia natural.
- Segundo Xenofonte:
«Não discutia, como a maioria, sobre a natureza do
universo e não procurava saber como nasceu o que os
filósofos chamam de mundo, nem através de que leis
necessárias se produz cada um dos fenómenos celestes;
ele demonstrava mesmo que era loucura ocupar-se
destes problemas» (Xenofonte, Memoráveis, I, 1, 11).
Os intérpretes modernos reconhecem a existência dos dois
Sócrates, cujo viragem situa-se em torno da data de As Nuvens
de Aristófanes, representado pela primeira vez em 423.

Aristófanes teria representado Sócrates que teria diante de si


antes de escrever a peça, ou seja, um filósofo naturalista.

Segundo Jean Humbert Sócrates reteve, senão o seu ensino,


pelo menos o movimento intelectual que representa a sofística,
a arte de conduzir um raciocínio de maneira metódica: O
Utensilio dialético que serviria mais tarde.
• As Nuvens faz uma mistura dos dois períodos: por a acusação
de ser naturalista e de ser sofista.

• Sócrates «não era um professor de virtude, como Protágoras


afirma, nem de Retórica, que era o domínio de Górgias, nem de
grámatica, na qual Pródicos se especializara, nem de nenhuma
outra techné. (…) Do nosso ponto de vista, podemos distinguir
Sócrates dos sofistas pela sua recusa de se apresentar como
alguém que ensina os outros (…) A diferença entre Sócrates e as
pessoas com as quais foi, não sem razão, confundido é, afinal, uma
diferença de objetivo, de género de existência que escolheu levar».

A. Nehamas «Eristic, Antilogic, Dialetic. Plato´s Demarcation of


Philosophy from Sophristry, History of Philosophy Quarteliy, Janeiro,
1990, p.11
• No entanto podemos dizer que Aristófanes é partidária do
«bom senso» enquanto crítico dos intelectuais sofistas,
mas sem poder distinguir filosofia naturalista da
interrogação sofista e nem Sócrates dos Sofistas.

• Por isso, na Apologia Sócrates critica esses partidários que


não sabem fazer essa distinção e «alegam os motivos de
queixa que existem contra aqueles que fazem filosofia…» e
misturam «os que estudam o que passam o que passa nos
ares e sob a terra, que não acreditam nos deuses, que
tornam mais forte o argumento mais fraco (Apol. 23d)
o que passam o que passa
nos ares e sob a terra,-
FILÓSOFOS NATURALISTAS

não acreditam nos


deuses -
HISTÓRIADORES

tornam mais forte o


argumento mais fraco.
SOFISTAS
ROSTOS DE SÓCRATES SEGUNDO
HANNAH ARENDT:
PENSADOR NA CIDADE
CIDADÃO MODELO DE
CIDADÃO POLÍTICA
CIDADÃO PLURALISTA

SÓCRATES
FUNDADOR DE UM MÉDOTO
MORALISTA DE EXAME DE VALORES
BUSCADOR DE PRINCÍPIOS

MOSCARDO
CRÍTICO TREMELGA
PARTEIRA
PORQUE UM
PROCESSO COM
PENA DE MORTE?
• SEGUNDO XENOFONTES: ÂNITO PERSEGUIA SÓCRATES COM
O SEU ÓDIO PORQUE TERIA DITO QUE UM HOMEM
CHEGADO AOS MAIS ALTOS CARGOS DA CIDADE NA DEVERIA
EDUCAR O SEU FILHO NO OFÍCIO DE CURTIDOR DE PELES.

• NA APOLOGIA É A PESQUISA JUNTO AOS ESPECIALISTAS É QUE


ATRAIU O ÓDIO DAQUELES QUE SÓCRATES CONSIDERAVA
COMO IGNORANTES.

• PLUTARCO NA SUA VIDA DE ALCÍBIADES CONTA QUE O ÓDIO


DE ÂNITO PROVINHA DE UMA RIVALIDADE AMOROSA
ENOVOLVENDO ALCÍBIADES.
POLÍCRATES: CINCO QUEIXAS CONTRA SÓCRATES
A SITUAÇÃO EM 399. Anos antes Atenas foi vencida e
destruída e depois de muitos sofrimentos, a democracia
é restabelecida graças a ação de pessoas como Trasibulo
e Ânito.

Ânito perdera quase toda a sua fortuna


na questão e não conseguiu reaver os
bens por via judicial.
Para o esforço da reconstrução da democracia os políticos
democratas exigia amnistia enquanto esforço materiais que
seriam acompanhados por uma reforma intelectual e moral. Esta
reforma é concebida por pessoas como Ânito que pretende
regressar às crenças tradicionais e aos valores familiares.
O DISCURSO DE ÂNITO SERIA ASSIM:

Se Atenas tivesse a dureza dos trabalhos dos


camponeses que tinha feito a sua grandeza, se não
tivesse sido destruída por vãs lutas intestinas, se não
tivesse honrado intelectuais parasitas, ainda cima
estrangeiros … Além disso, Esparta, que soubera
preservar o rigor dos costumes ancestrais e que não
acolhera os Sofistas, tinha ganho a guerra.
• Sócrates é então considerado por Ânito como um obstáculo à
reconstrução da cidade. Porque considerava que desviava os
jovens da participação da vida cívica, e até económica, para os
levar a consagrar a sua ociosidade a problema puramente
individuais.

• Sócrates para Ânito mina a autoridade familiar (O que tb


depreendemos de As Nuvens de Aristófanes.) Ele é considerada
inimigo do regime democrático, porque ridicularizou os
fundamentos da democracia e a faculdade da maioria governar.
Ele é crítico das instituições democráticos, sobre aquela que
tira a sorte os magistrados. Ele foi mestre de muitos inimigos
da democracia como; Carmides,Alcíbiades e Crítias.
• Ânito tem pois, razões mais gerais e mais profundas para
atacar que considera partidário da oligarquia e uma
ameaça a cidade. Mas tarde, o próprio Platão irá
reconhecer o fundamento «político» da acusação feita
contra Sócrates.

• A hostilidade popular aos filósofos que faz eco na


Apologia era amplamente baseada nas tomadas de posição
destes face à religião tradicional.
Para Ânito
Sócrates é um Para Karl Sócrates criticava as bases
adversário da Popper ideológicas em que assentava a
democracia: Sócrates democracia ateniense: a) a
Mas alguns multidão é inapta para decidir
era justamente em matéria de
autores
defendem que «campeão governo; b) as conceções morais
Sócrates não da do povo são erradas ou mal
fundamentadas; c) a tiragem à
se contentara sociedade sorte dos magistrados é o pior
com algumas
posições aberta» e dos processos possíveis; d) Na
intelectuais amigo da Apologia, Sócrates não qualquer
ilusão sobre a possibilidade de
contrárias à democracia melhorar a multidão.
democracia e a .
constituição.
• Sócrates e Platão estão de acordo que o exercício do poder
político exige um conhecimento especial como acontece com
as outras artes (ciências). Sócrates pensava que atividade
política exigia um saber do tipo moral e quem tivesse esse
saber é que deveria governar a cidade.
• Para Sócrates a massa popular não possui este saber, e a
democracia e má porque dá poder a massa para governar sem
este saber.
• Ânito e Sócrates são reacionários, na medida em que o
primeiro quer os valores tradicionais (é um conservador) e o
outro um novo sistema de valores para democracia que a
partir de agora deveria fundamentar em bases universais
racionais.
DEMOCRACIA DE ÂNITO VERSUS SÓCRATES
• Propõe uma reforma • Propõe uma reforma
moral e intelectual da moral e intelectual da
democracia baseada nas democracia baseado em
valores tradicionais (É um novos valores (universais e
democrata conservador). racionais).
• Propõe a partir do sistema • Propõe a partir da
(É um revolucionário) educação do cidadão

Ânito Sócrates
COMO REFORMAR A DEMOCRACIA?
Valores
Reforma
Tradição Pela reforma do
Tipo de Democracia

ou Razão? sistema político ou Popular ou


pela educação do meritocracia?
cidadão?: Política
sem cidadania ou sem
cidadania sem
Política.
• Sócrates não é um reacionário como Ânito, porque para ele o
consenso e as bases que assentava a sociedade tradicional tinham
sido vencidos e um novo sistema de valores precisaria ser fundado.
• Os antigos modos de transmissão de valores tornaram-se
inoperante perante o desenvolvimento da sociedade grega, e por
isso quando Sócrates alertava sobre isso ele era considerado como
inimigo da democracia e da educação familiar tradicional.
• Por isso era necessário perguntar pelas novas bases que deveria
assentar a democracia. Neste sentido é necessário um perito em
Excelência (virtude) para tal investigação.
• Sócrates viu como sua missão a procura desse especialista: o
inquérito aos políticos, aos poetas, aos artífices não eu frutos,
porque ainda os seus saberes fundava em ilusões.
• Para Sócrates tratava-se em todos os sentidos de «CHAMAR
OS SEUS CONCIDADÃOS Á RAZÃO».
• Chamar a Razão não significava fazer um reforma política e
social, pois o primeiro trabalho da chamada da razão é o de
«CUIDAR DAS ALMAS».
• Despertar o cidadão para o conhecimento de si. «CONHECE-
TE A TI MESMO». O tarefa de despertar os cidadãos de
Atenas para a razão é a missão que é atribuída a Sócrates na
cidade.
• Para essa tarefa Sócrates usa da Persuasão como meio para
atingir este fim:
• «A minha tarefa é, de facto, ir pelas ruas para vos
persuadir, jovens e velhos, a não vos preocupardes nem
com o vosso corpo nem com a vossa fortuna tão
apaixonadamente como com a vossa alma, para tornar
tão boa quanto possível
• (Apol. 30a).»

Você também pode gostar