Você está na página 1de 5

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

JOSÉ BRUNO LUIS NASCIMENTO

A OCUPAÇÃO DE SOCRATES: uma concepção do fazer filosófico

JOÃO PESSOA
2023
JOSÉ BRUNO LUIS NASCIMENTO

A OCUPAÇÃO DE SOCRATES: uma concepção do fazer filosófico

Dissertação apresentada como meio de obtenção de nota


da unidade I no componente curricular de Introdução à
Filosofia, oferecida no semestre 2023.1, aos discentes do
curso Bacharel em Ciências Sociais da Universidade
Federal da Paraíba.

Orientadores: Juliano Cordeiro da Costa Oliveira &


Francisco de Assis Vale Cavalcante Filho.

JOÃO PESSOA
2023
Sócrates, filho de Sophroniscus e Phaenarete. Vivia na cidade de Atenas. Nessa época,
Atenas acabara de sair da Guerra do Peloponeso, a cidade permanecia num estado de
apreensões. Toda atividade que possibilitasse ou incentivasse a desconfiança do poder e
segurança da polis seria hostilizado, ainda mais quando se discursavam para a população,
podendo leva-la a questionar seus conceitos e concepções. Sócrates não empunhava sua verdade
como uma espada, mas tinha como broquel o seu diálogo que, mais tarde serviria para diversas
atividades e ramos da ciência.
Platão em sua obra, Apologia de Sócrates, apresenta por meio de diálogos, o julgamento
de Sócrates, possivelmente datado aos anos de 399 ou 400 a.c. Ele vai julgamento sendo
acusado por Meleto, Ânito e Licon, por corromper a juventude ateniense. O seu julgamento foi
precedido por mais ou menos 501 jurados, com a deliberação num único dia. A ironia é uma
marca presente no discurso de Sócrates, e o mesmo, a usa como provocação a retorica de seus
acusadores.
Durante sua defesa, Sócrates traz à tona questionamentos no fragmento 20.c: “Afinal,
Sócrates, qual é a tua ocupação? De onde vieram as calunias contra ti?” (Platão, 1993, p. 71).
Neste trecho, nota-se como o próprio Sócrates leva a refletir seus opositores sobre o seu fazer
filosófico. E mesmo prestes a ser condenado tendeu a ser filosofo pôr essência até o fim,
pretendendo causar-lhes o desconforto da dúvida e os encaminhar em busca da verdade.
Mas se constituindo a tal indagação de Sócrates, qual seria então a ocupação do filosofo
e de que maneira esse saber causaria tantos julgamentos e condenações perante a sociedade?
Em sua defesa ele traz as diversas dimensões que a filosofia toma por fundamento, na busca
por respostas.
Determinados conceitos da vida cotidiana, como a verdade, a sabedoria, a justiça, a
excelência, a cidadania, o bem e o mal, são alguns dos aspectos imateriais investigados por tal
fazer. Tal desventura de pesquisa tendia ao filosofo a ação se desprender de todos os conceitos
pré-formatados e de verdades completas, sem o aspecto da refuta. Ao esmiúçam-no de tal forma
para se deparar e aceitar sua própria ignorância. De modo a estar em movimento de abertura ao
desconhecido e novo.
Sócrates, validava em seu discurso a busca pela verdade absoluta. Segundo o mesmo, a
relatividade das coisas, cabia aos sofistas que usavam da retórica como convencimento da
maioria. Para ele, as verdades relativas só serviriam para agradar a quem as ouvisse ou as
formulassem. Na sua perspectiva, a própria verdade teria aspecto de abalar os próprios templos
de Atenas.
Outra relutância sua seria de pôr em verdade os discursos das crenças e das paixões
sobre a razão das coisas. O que os poetas, descendentes de Homero, faziam de forma impagável.
Segundo, Sócrates, a produção artística poderia existir, mas sem interferir na cidadania dos
habitantes da cidade. Ou que até o próprio filosofo poderia ter suas crenças e paixões, desde
que isso não intervisse em seu discernimento.
Posto isto, essa poderia ter sido umas das razões das quais a filosofia se tornou tão
ameaçadora para as sociedades conservadoras. Ao colocar em xeque suas verdades vindouras
e muitas vezes inquestionáveis. Nesta época em Atenas, o saber-demasiado era considerado
divino e por isso temeroso, ao passo, que o não-saber era tido concebido como antinatural ou
bestial.
Contrapondo essa ideia, Sócrates, afirmava a sabedoria, não sendo o saber de tudo, e
sim o estar sempre na busca pelo todo. Ou seja, reconhecendo o seu não-saber já seria o
princípio do caminho ao derradeiro conhecimento. Compreendo que o caminho não seria fácil,
mas demandaria do seu amadurecimento com o tempo e experiências de vida.
Platão (2019), em sua obra compilada em A República, registra o que viria ser a tão
conhecida alegoria ou mito da caverna. Neste mito, são retratados indivíduos dentro de uma
caverna que apenas prestam atenção em determinadas imagens formadas a partir das sombras
de uma grande fogueira, e que entre si tentavam discernir tais figuras.
Em dado momento um dos prisioneiros solta-se e sai para fora e se depara com a
natureza ao redor, pois, de primeira sensação teria a luz do sol inebriando sua visão causando
dor e desconforto, para só então perceber a coisas reais e naturais daquele mundo. E se caso
esse homem tentasse voltar para a caverna para mostrar aos seus companheiros que viam eram
apenas sombras e ilusões, caso não o matariam, por medo, por incertezas, por equívocos
formados por preconceitos e preceitos.
Por que não evidenciar a própria inspiração, se não o próprio Sócrates. O que atribui
noção do fazer filosófico, a desventura de encontrar com o desconhecido e expressa-lo ao
mundo. Mas a busca por desejar abrir os olhos da comunidade pode correr em consequências e
até risco, Sócrates por fim foi condenado naquele mesmo dia a morte por envenenamento.
Outra obra de Platão (2016), e não menos importante, Fédon, retrata a última ação de
Sócrates. Nesse diálogo com seus seguidores, se mostra como uma fortaleza em relação a sua
morte, seus seguidores até o interpelam a desistir, a possivelmente fugir. Contudo assim não
quis, morrer por seus ideais e valores parecia fazer mais sentido naqueles últimos instantes de
vida.
Atualmente, a sociedade contemporânea ainda tem certa relutância ao se falar da
ocupação dos filósofos. Suas atividades para muitos permanecem à mercê do senso comum do
ópio ou da falta de ações especificas. De certo modo, o próprio Sócrates, não poderia ter
imaginado que suas anedotas, seus diálogos e sua persona seriam tema e modelo para inúmeros
pesquisadores de diversas áreas dos conhecimentos.
Conclui-se que o próprio fazer filosofo não poderá ser dimensionado a uma resposta
pronta, se não um aparato de argumentos que obtemos dos antigos e dos que ainda estarão por
vim. Essa é apenas uma das visões da Filosofia por si mesma, existindo, questionando
realidades, conceitos e afirmações.

Você também pode gostar