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Aquilino Marcelino Inácio

Arcádio Luciano Joaquim


Arcenio Orlando Limeme
Bene Jacinto Bene
Catarina José Nyoka
Charmila Anastácio Elija

Licenciatura em Direito
Tema
Interpretação das Leis e Integração da Lei

Universidade Rovuma
Faculdade de Direito
Nampula, Dezembro, 2021
Aquilino Marcelino Inácio

Arcádio Luciano Joaquim

Arcenio Orlando Limeme

Bene Jacinto Bene

Catarina José Nyoka

Charmila Anastácio Elija

Tema

Interpretação das Leis e Integração da Lei

Trabalho de carácter avaliativo, a ser apresentado na


cadeira de Introdução ao Estudo do Direito˗II,
Licenciatura em Direito, 1⁰ Ano, II˗ Semestre, II˗
Grupo, TA⁄L.

Docente: MSC. Edson Manuel Cussangiua

Universidade Rovuma

Faculdade de Direito

Nampula, Dezembro, 2021


Índice
Introdução........................................................................................................................................3

1.2. Objectivos do trabalho..........................................................................................................4

1.3. Metodologias e técnicas usadas............................................................................................5

2. Interpretação da lei...................................................................................................................5

2.2. O elemento literal, como a imagem ou texto........................................................................8

3. Elementos e métodos de interpretação da lei.........................................................................11

3.1. Interpretação e ordenamento...............................................................................................12

3.2. A letra.................................................................................................................................13

3.3. Critério da sua fonte e valor................................................................................................13

3.4. Critério da finalidade..........................................................................................................14

3.5. Métodos de interpretação da lei..............................................................................................15

4. Integração da lei.....................................................................................................................17

4.1. Lacunas da lei e sua integração..........................................................................................18

4.2. Analogia..............................................................................................................................18

5. Artigo 11 do código civil........................................................................................................19

5.1. Lacuna e situação extrajurídica.....................................................................................20

Conclusão.....................................................................................................................................24

Referências bibliográficas.............................................................................................................25

Anexos...........................................................................................................................................26
1. Introdução

Por vezes, diz-se que a lei clara não necessita de interpretação. É um erro. Para aplicar a lei e
sempre preciso entende-la ou compreende-la, isso é a interpretação. A técnica de interpretação
chama-se hermenêutica. A interpretação das leis é muita das vezes percebida e interpretada de
forma desviante, isso pelo simples facto de não se observar os métodos de aplicabilidade e em
que condições aplica-las. A interpretação é definida por vários cultores do Direito como sendo, o
processo de análise as normas jurídicas com o fim de se buscar o seu real alcance.

Determina o modo que a lei deve ser interpretada, impedindo que o juiz a interprete seu prazer.
A interpretação não se confunde com a integração da lei. Enquanto a integração é mecanismo
supletivo da lei, por ela ser omissa, na interpretação existe a lei a ser aplicada no concreto, sendo
ela o procedimento de revelações do significado e do verdadeiro sentido da norma. Assim a
interpretação tem por finalidade: revelar o sentido da norma e revelar o seu alcance.

O trabalho está dividido em cinco (5) partes onde integram o mesmo número de capítulos.

A primeira parte é maioritariamente introdutória, servindo-se esse espaço para a presentação dos
objectivos pretendidos, não deixando de fora os métodos e as técnicas usadas no desenrolar da
pesquisa.

A segunda parte, corresponde ao estudo do segundo capítulo, de salientar que é nessa mesma
parte que introduziremos o tema do trabalho, que é identificação e análise dos vários conceitos
usados para a definição da interpretação das leis.

A terceira parte, que corresponde ao terceiro capítulo, que é a exposição dos elementos e
métodos usados na interpretação das leis apresentados por vários e renomados doutrinadores do
Direito.

A quarta parte, que corresponde ao quarto capítulo, versa sobre a integração das leis e como
devem ser integradas as lacunas, procedendo-se a uma análise minuciosa das lacunas da lei.

A quinta e última parte, é integrada pelo quinto capítulo, este é referente integração das lacunas a
luz da legislação moçambicana, remetidos ao estudo do Código civil.
1.2. Objectivos do trabalho

Constitui objectivo geral:

 A compressão lucida da interpretação e integração das leis, a diferença entre estes dois
termos concretamente; a importância da interpretação das leis na esfera jurídica bem
como definir as directrizes de integração as lacunas na pratica.

Constituem Objectivos específicos;

 A percepção fundamentada da interpretação das leis que tornam possível a aplicabilidade


das mesmas.
 Analise dos vários conceitos apresentados e o estudo comparativo, com recursos aos
pensamentos e percepções dos cultores do Direito.
 A descoberta dos motivos que pautam na ma interpretação e integração das leis no campo
jurídico.
1.3. Metodologias e técnicas usadas

A presente pesquisa é do tipo qualitativo e para a sua materialização contou-se com os métodos
de estudo de caso; revisão bibliográfica, método comparativo, tendo a analise documental
complementado o estudo.
2. Interpretação da lei

Segundo o renomado professor João de Castro Mendes, a interpretcao é a determinação ou


fixação do exacto sentido e alcance de uma norma.

Por vezes, diz-se que a lei clara não necessita de interpretação ˗ in claris non fit interpretatio. É
um erro. Para aplicar a lei e sempre preciso entende-la ou compreende-la, isso e a interpretação.
Esta pode ser mais ou menos fácil, mas e sempre necessária. A técnica de interpretação chama-se
hermenêutica.(MENDES, João, 1994, p.215).

O artigo 9.⁰, do código civil, dispõe que:

1. A interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos textos o
pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é
aplicada.
2. Não pode, porém, ser considerado pelo intérprete o pensamento legislativo que não tenha
na letra da lei, um mínimo de correspondência verbal, ainda que imperfeitamente
expresso.
3. Na fixação do sentido e alcance da lei, o intérprete presumirá que o legislador consagrou
as soluções mais acertadas e soube exprimir o seu pensamento em termos adequados.

Se toda a fonte consiste numa matéria em procura transmitir um sentido ou conteúdo intelectual,
a que chamaremos o seu espírito, tem sempre de haver uma tarefa intelectual, por mais simples
que seja, como condição para extrair da matéria o espírito que a matéria esconde.

Devemos acrescentar que a ignorância deste processo lava a supor que são raros os problemas
trazidos pela interpretação. Parece Nomeadamente no que às leis respeita, que a solidez e a
segurança do texto afastam dificuldades. Por isso o leigo reage mal quando o jurista lhe afirma
que se discute qual a solução de dado caso: «então isso não esta na lei?». Mas esta insegurança
relativa é fatal, pois não há praticamente formula perfeita; a linguagem deforma sempre a
mensagem que deveria ser transmitida. (ASCENSÃO, José, 1993, p.373).
Segundo, (SOUSA; Marcelo Rebelo de; GALVÃO, Sofia, 1993, p.55), A interpretação é uma
tarefa fundamental que, nos mais variados aspectos, o dia-a-dia nos impõe. Por isso, numa vida
de relação, os homens interpretam a Natureza e por isso os homens se interpretam mutuamente.

. A interpretação não é uma tarefa indiferenciada ou uniforme. Captar o sentido de algo supõe,
antes de mais, que se atente nesse algo. Não é a mesma coisa interpretar uma conversa entre dois
amigos no café ou interpretar um soneto de Camões. Apreender um determinado conteúdo
pressupõe a ponderação daquilo que o encerra. A interpretação passa, pois, por uma prévia
identificação e demarcação dos vários tipos de mensagens. Fundamental será, desde logo, a
distinção entre as mensagens que se corporizam com durabilidade e aquelas outras que revestem
formas não duradouras. Porque o modelo de interpretação das primeiras necessariamente difere
do modelo de interpretação das segundas.

A interpretação da obra de arte em um exemplo perfeito do que pode ser a interpretação de uma
mensagem corporizada com durabilidade. Quatro (4) referências serão decisivas: O sujeito, o
momento, o fim e o objecto da interpretação.

Quem e o sujeito da interpretação? Quem pode interpretar?

Em primeiro lugar, o autor ou autores da obra de arte. E a chamada auto interpretação. Mas
também outras pessoas, sejam leigos ou especialistas. É a hetera interpretação. E qual o
momento ou momentos da interpretação? Quando se pode interpretar?

A obra de arte pode ser interpretada no momento da sua criação, ou pode sê-lo posteriormente.
No primeiro caso, a interpretação dir-se-á originária ou contemporânea. No segundo caso, der se
a superveniente.

Qual o fim da interpretação? O que que verdadeiramente se procura na interpretação de uma obra
de arte?

Em princípio três posições são concebíveis:

˗ Uma posição subjectivista genética ou do autor, em que se quer alcançar o sentido que o autor
quis projectar na obra.
˗ Uma posição subjectivista do destinatário, em que se pretende exprimir um sentido que o
intérprete, tantas vezes com base em dados não racionais, atribui a obra.

˗ E uma posição objectivista, em que se busca atingir um sentido se possível mais objectivo, que
permita aproximar as «leituras» da obra de arte dos vários destinatários, mas destacando o do
sentido que o autor, lhe terá querido imprimir. Numa outra perspectiva, o fim da interpretação
pode variar em função de uma referência temporal.

˗ O que é o objecto da interpretação da obra de arte? A partir de quê é que se interpreta?

Para captar o sentido que a obra de arte encerra, a que saber jogar com variadíssimos elementos.

2.2. O elemento literal, como a imagem ou texto.

E os elementos extra- literais. Destes, ressaltam três. O elemento histórico, na sua tripla vertente
das influências experimentadas pelo autor, da integração da obra na produção global daquele
autor e da génese ou processo de criação. O elemento sistemático, como a inserção da obra no
contexto muito amplo da evolução artística até à actualidade. O elemento teleológico,
exprimindo a razão de ser da relevância daquela obra de arte, não só na actualidade como através
dos tempos.

A importância relativa destes elementos extra- literais depende da posição assumida a propósito
da questão do fim da interpretação. Tal como os elementos históricos são essenciais para uma
posição subjectivista genética historicista, os elementos sistemático e teleológico revelam-se
decisivos para as posições objectivistas e subjectivista do destinatário actualista.

A interpretação de mensagens contidas em actos do poder político é muito diversa da


interpretação da obra de arte.

Uma sociedade pluralista permite que esta, embora possa entender-se que é sempre de algum
modo comprometida com certas estruturas ou valores enquadrantes do intérprete, se revele
totalmente livre e facultativa. O intérprete da obra de arte não se encontra obrigado a nenhuma
conduta relacionada com essa interpretação ou com a realidade interpretada.
Já a interpretação do conteúdo de um acto do poder, nomeadamente do poder político, é
completamente diferente. O objecto da interpretação é agora um acto que se destina a regular
coercivamente relações da vida social e que, por isso e naturalmente, não se pode compadecer
com a facultatividade e o subjectivismo na sua interpretação.

A lei é um acto do poder político do Estado. Cria Direito, estabelece regras, impõe condutas. Não
pode, por isso, comportar uma qualquer interpretação. Em causa está a própria sobrevivência do
projecto colectivo.

Daí que a certeza do Direito e a segurança na comunidade se somem à salvaguarda da autoridade


do poder político do Estado para impedirem que a lei possa ser interpretada com o fim de
permitir a cada um dos seus destinatários a atribuição de um sentido pessoal e específico.

A interpretação da lei nasce do reconhecimento de determinadas referências e desenvolve-se


pelo consenso em torno de determinados critérios.

Quando pode a lei ser interpretada? Qual o momento da interpretação da lei?

Tal como a obra de arte, a lei pode ser interpretada no momento em que é criada ou pode sê-lo
posteriormente. No primeiro caso, a interpretação diz-se originária, no segundo, superveniente.

. E quem pode interpretar? Qual o sujeito de interpretação da lei?

Diga-se, numa palavra prévia, que a questão respeita apenas, em princípio, à interpretação
superveniente. A interpretação originária e, em regra, efectuada pelo próprio legislador. Ora, a lei
pode ser interpretada pelo mesmo órgão que elaborou a lei interpretada - é a chamada auto-
interpretação.

Ou pode ser interpretada por órgão ou entidade diversa do órgão que elaborou a lei interpretada -
é a hetero- interpretação.

________________

1. SOUSA; Marcelo Rebelo de; GALVÃO, Sofia, 1993, p.55˗59.


Na perspectiva do Professor João Baptista Machado, O certo e que muito raro os legisladores se
aventuram a fixar autoritariamente orientação interpretativa. Serão muito provavelmente
induzidos a esta abstinência pele sensata razão de que as regras legais sobre interpretação terão
nenhuma ou escassa relevância prática, pois que sobe a capa da orientação interpretativa ditada
pelo legislador (p. ex.: da orientação subjectivista), facilmente se insinuariam os princípios e os
argumentos da orientação oposta. Digamos que, quando muito, o legislador pode atribuir um
peso interpretativo maior ou menor a textos não promulgados (trabalhos preparatórios). Em que
se possa descobrir, digamos a interpretação que o legislador deu as suas próprias palavras. Mais
o recurso a tais textos não promulgados só se verificará, ainda assim, ou quando o texto
promulgado seja em si ininteligível (e então seria um recurso sempre necessário), ou quando o
intérprete conclua que esse texto e intrinsecamente ambíguo (conclusão a que pode não chegar
dentro de certa orientação interpretativa, mas já chegaria se adoptasse uma outra). (MACHADO,
João Baptista, 1982, p.174).

Continuando (VARELA, Bartolomeu, 2011, p.70), entende que, antes de se aplicar a lei (ou
qualquer norma jurídica), há que interpretá-la, para se ter uma clara percepção do sentido e
alcance do que nela se contém, ou seja, do pensamento do legislador.

Estudada no âmbito da denominada Hermenêutica Jurídica, a interpretação da lei é o processo


técnico-jurídico que visa determinar qual o conteúdo e alcance das normas jurídicas.

A interpretação da norma jurídica integra duas fases: interpretação literal, em que se vai
apreender o sentido gramatical, textual ou literal da norma legal; interpretação lógica, em que, a
partir do texto da norma e com base em elementos extra- literais, se procura extrair o pensamento
do legislador. A interpretação das leis é objecto de estudo no âmbito da Hermenêutica Jurídica.

________________

2. Hermética jurídica é a teoria científica da arte de interpretar, aplicar e integrar o direito.


3. VARELA, Bartolomeu, «Introdução ao direito», 2011, p.70.
Na perspectiva do doutrinador, Dimitri Dimoulis, interpretação jurídica, trata-se de um processo
de atribuição de sentido aos enunciados normativos jurídico (textos de normas). Evidentemente,
o operador do direito não atribui aos textos de norma o significado que quiser, mas busca
entender o sentido objectivo que possui, plicando os métodos da interpretação jurídica.

A finalidade da interpretação jurídica e constatar a vontade do autor da norma, tal esta foi fixada
em dispositivos jurídicos. Como dizia Savigny «a interpretação e reconstrução do pensamento
estampado na lei» (1949, p.82). Mas concretamente, o intérprete tenta entender aquilo que o
autor da norma queria que acontece em determinada situação.

A necessidade de constatar a vontade do legislador e fundamental na interpretação do direito.


Como dissemos, o aplicador do direito não tem a liberdade de decidir de acordo com sua
consciência ou opinião política. Sua tarefa e entender os dispositivos vigentes para construir a
norma jurídica e aplicar em, determinada situação, da forma mais fiel possível, aquilo que os
legisladores determinam. Assim:

Nas democracias o legislador exerce um poder superior


porque e legitimado pelo foto popular, devendo os demais
poderes seguir de forma fiel os seu mandamentos. (MAUS,
1989; RUTHERS, 1999, P.397˗399)

Ainda na visão do doutrinador, existem controversas na interpretação das que segundo o mesmo,
resulta de duas razões:

1. Vagueza da linguagem: a linguagem humana apresenta carácter vago, as palavras podem ser
interpretadas de varias maneira e quase sempre há dúvidas, incertezas e controvérsias.

2. Abstracção dos regulamentos: Em segundo lugar, as finalidades sócias da norma jurídica


impõem a criação de regulamentos abstractos. O legislador não quer regulamentar um caso
concreto, mas um conjunto amplo de situações que podem ocorrer no futuro.

3. Conflitos de interesses: as controversas relacionadas com a interpretação jurídica são causadas


por conflitos de interesses de grupos e pessoas.

________________

4. DIMOULIS, Dimitri, 2011, p.145˗147.


3. Elementos e métodos de interpretação da lei

ASCENSÃO, apresente primeiro uma grande distinção que devemos ter presente.

Vai nos permitir num primeiro momento deixar de fora a interpretação autêntica, que obedece a
princípios muito especiais. O critério reside antes de mais na forca normativa da interpretação.

Interpretação Doutrinal: e a que não tem qualquer repercussão sobre as fontes em causa, isto e, a
interpretação realizada por qualquer pessoa. A “interpretação doutrinal» não deve pois ser
tomada como a interpretação a cargo da doutrina˗ qualquer pessoa ou o técnico de direito, ou o
executor de uma acto administrativo, ou o juiz, todos fazem interpretação doutrinal.

Interpretação autêntica: e a que e realizada por uma fonte que não e hierarquicamente inferior as
fontes interpretadas.

A fórmula esta em parte dependente do que diremos sobre a hierarquia das fontes de direito, mas
supomos que pode ser compreendida por si. A lei interpretativa e a que realiza interpretação
autêntica, e a interpretação autêntica quando a nova lei se integra na lei interpretada.

Neste sentido a fonte que procede a interpretação autêntica esta subordinada ao conjunto das
fontes vigentes.

3.1. Interpretação e ordenamento

A interpretação parte de um elemento determinado de uma fonte, e procura exprimir a regra que
daquela e conteúdo. Mas isto não nos pode fazer esquecer que a interpretação e necessariamente
uma tarefa de conjuntos: Pano de fundo da interpretação e sempre o ordenamento em globo. O
sentido de cada fonte esta em necessária conexão com o de todas as outras, pelo que será
adulterado se o pretendermos tomar isoladamente.

______________

5. Ascensão, José de Oliveira, 1993, p.370˗ 374.


Assim:

O que vulgarmente se chama interpretação da lei é sempre


interpretação, não de uma lei ou norma singular, mas de uma
lei ou norma que se examina atendendo a posição que ocupa
no ordenamento jurídico em globo: o que quer dizer que, o
que efectivamente se interpreta é esse ordenamento e, como
consequência, a norma singular. (ROMANO; Santi).

De facto a interpretação e sempre revelação de um trecho da ordem global pelo que esta e
condição da relevância de cada elemento e determina o seu significado. A interpretação seria
aquilo que e independentemente da posição que porventura tome o legislador; far-se-ia
necessariamente seguindo as regras lógicas, os cânones gerais do pensamento jurídico.

3.2. A letra

É aquela em que cada palavra tem o seu significado ou os seus significados. Como a sua
conjugação não e arbitrária do conjunto de palavras do texto, logo resultara um ou vários
sentidos possíveis. Se tomarmos um texto numa língua desconhecida, o conjunto das palavras
nada nos diz; mas de um texto em língua portuguesa desprendem-se imediatamente sentidos. Só
em caso s extremos não acontecera assim, e o interprete terá de se resignar a concluir que o texto
não e veiculo adequado de qualquer conteúdo. Assim acontecera se por salto tipográfico ou
gralha o texto apresentar uma obscuridade inamável. (ASCENSAO, 1993, P.376˗377).

O professor João Castro Mendes, também apresenta métodos de interpretação da lei em


diferentes critérios: critério da sua fonte e valor e o critério da finalidade.

3.3. Critério da sua fonte e valor

Interpretação autêntica é a que é feita por lei de valor igual ou superior (hierarquia das leis) à
forma interpretada. A esta lei chama-se lei interpretativa. Característica da interpretação é que é
vinculativa ainda que esteja errada. Na verdade, se a interpretação aduzida pela lei interpretativa
é correta, verifica se uma verdadeira interpretação; se a pretensa interpretação na realidade altera
o sentido da norma anterior, revoga-a, mas continua a ter, a lei interpretativa, perfeita e exclusiva
vigência. Interpretação autêntica é a que é feita igualmente pelos assentos, uma vez que são
vinculativos, sem que possa opor a esta eficácia a desconformidade com a disposição que lhes
serve de base.
Interpretação oficial é a que é feita em lei (em sentido lato) de valor inferior ao da norma
interpretada. Esta interpretação pode vincular em termos de obediência hierárquica (a
interpretação que o ministro der por despacho a certa norma pode ser vinculativa para o seu
ministério, por obediência hierárquica); Não vincula para além disso, e designadamente não
vincula os tribunais.

Interpretação judicial: A interpretação feita pelos tribunais num processo (salvo o caso
particular dos assentos) só em valor vinculativo no processo em si. Fora disso pode persuadir
pela forca e exactidão dos argumentos, não mais.

Interpretação doutrinal ou particular: É a interpretação feita fora das condições que


caracterizam as outras hipóteses. Não tem, claro, qualquer forca vinculativa, mas apenas o valor
persuasivo que resulta do prestígio do intérprete ou da coerência lógica da argumentação.

3.4. Critério da finalidade

A interpretação também se pode diferenciar consoante a finalidade que se propõe.

Interpretação subjectivista: propõe-se como finalidade reconstituir o pensamento concreto do


legislador, entendido como a pessoa ou pessoas que fizeram a lei. A interpretação objectivista
procura determinar o sentido da lei em si, desligada da pessoa ou pessoa que a fizeram. Fala-se
no primeiro caso em determinação da mens legislatoris, no segundo da mens legis.

Interpretação histórica e interpretação actualista

Outra distinção a fazer contrapõe a interpretação histórica à interpretação actualista. A


primeira tem por finalidade reconstruir o sentido que a lei tinha no momento da sua elaboração e
entrada em vigor; A segunda, determinar o sentido que a lei tem no momento da sua aplicação.
Por alteração das circunstâncias e até dos sentidos das palavras, podem ser diferentes os dois
sentidos. Entende-se conveniente que a interpretação deve ser actualista. Com efeito, a lei tem
valor como instrumento social, não como peca de tradição.

______________

6. .MENDES, João Castro, 1994, p.218˗220.


Segundo Varela, na interpretação da lei, temos presentes quatro elementos, a saber:

- Elemento literal – atende-se à letra da lei, ao sentido das palavras que a compõem;

- Elemento lógico. – Vai-se explorar todas as possibilidades de análise do texto legal, para se
determinar a razão de ser das normas, o espírito da lei;

Elemento sistemático – Tem se em conta a norma não numa perspectiva isolada mas sim no
âmbito do sistema em que a norma está inserida;

- Elemento histórico – Para se interpretar bem a norma, deve-se considerar o contexto histórico
em que a mesma foi adoptada, sendo para isso importante a consulta dos documentos que fazem
parte dos trabalhos preparatórios do diploma.

3.5. Métodos de interpretação da lei

Existem vários métodos de interpretação das normas jurídicas, cuja classificação varia consoante
os critérios: sua fonte ou origem, sua finalidade e seu resultado. Atendendo ao critério da fonte
ou origem da interpretação, esta pode ser autêntica ou doutrinária:

a) Interpretação autêntica - É uma interpretação que é feita pelo próprio órgão que criou a
norma (não pode ser feita por um órgão de hierarquia inferior) e deve assumir a mesma forma de
acto que a utilizada na produção da norma que ora se interpreta.

b) Interpretação doutrinal - É uma interpretação feita por especialistas e técnicos de Direito,


como os magistrados, juristas, assim como pelos tribunais, fazendo uso da doutrina e da ciência
jurídicas. Quanto ao critério da finalidade da interpretação da norma jurídica, distinguem-se os
métodos de interpretação: subjectivista, objectivista, histórica ou actualista:

. a) Interpretação subjectivista - É um método de interpretação através do qual se procura


reconstituir o pensamento concreto do legislador.

______________

7. .VARELA, Bartolomeu, 2011, p.70˗71.


b) Interpretação objectivista - É um método de interpretação em que se busca apurar o sentido
da norma abstraindo-se de quem foi o legislador ou de quem produziu essa norma.

c) Interpretação histórica - É um método de interpretação em que se busca alcançar o sentido


que a norma tinha no momento de sua aprovação e entrada em vigor.

d) Interpretação actualista - É um método de interpretação em que se busca alcançar o sentido


que a norma tinha no momento de sua aplicação ou execução.

Atendendo ao resultado da interpretação, distinguem-se os seguintes métodos de interpretação:


interpretação declarativa, extensiva, restritiva, enunciativa e ab-rogante:

a) Interpretação declarativa - É um método de interpretação em que o intérprete entende que o


sentido da norma está de acordo com o respectivo texto.

b) Interpretação extensiva - É um método através do qual se faz uma interpretação de modo a


corrigir a não conformidade entre a letra da norma e o pensamento do legislador, no
entendimento de que este expressou na lei menos do que queria, não abarcando todas as
situações que caberiam razoavelmente no seu pensamento. Assim, o intérprete alarga o alcance
da norma de modo a abarcar essas situações, adequando-se, assim, a letra da norma ao
pensamento do legislador.

c) Interpretação restritiva - É um método através do qual se faz uma interpretação de modo a


corrigir a desconformidade existente entre a letra da norma e o pensamento do legislador, no
entendimento de que este expressou na lei mais do que queria, usando uma formulação
demasiado ampla que foi além da realidade que pretendia abarcar. Assim, o intérprete restringe
ou reduz o alcance da norma de modo a abarcar apenas as situações que caberiam razoavelmente
no pensamento do legislador

. d) Interpretação enunciativa - É uma interpretação em que, através de um processo dedutivo,


se retira da norma todas as suas consequências.

e) Interpretação ab-rogante - É um método de interpretação em que o intérprete, apesar de


presumir que o legislador consagrou a solução mais acertada e exprimiu correctamente seu
pensamento, conclui que a norma não tem qualquer efeito útil, nomeadamente porque é
incompatível e irreconciliável com outra norma jurídica.(VARELA, 2011, p.71˗72).
É semelhante à interpretação correctiva, a que se refere:

Ascensão (1993), que ocorre quando se conclui que a lei é


nociva para a comunidade, contrastando com os interesses que
a ordem jurídica considera preponderantes; neste caso, a
norma inadequada, injusta, inoportuna ou nociva é afastada
pelo intérprete no pressuposto de que o legislador não teria
desejado esse efeito caso o pudesse prever.

DIMOULIS, 2011, p.155˗156, aponta ainda a existência de mais dois métodos de interpretação
das leis; A analogia e Restrição de sentido:

a) Analogia: no caso da analogia, o intérprete excede o limite do possível significado dos termos
legais (Atienza, 1986; ROMEU, 1990). A analogia começa onde termina a possibilidade de
interpretação extensiva. Temos uma interpretação analógica quando se considera que uma norma
rege determinadas situações, apesar da impossibilidade de subsumir essas situações aos termos
da norma. A analogia se justifica pela constatação de que os casos contemplados pela norma
apresentam grandes semelhanças com os não comtemplados. A aplicação da lei deve ser
estendida porque ocorre identidade da razão jurídica: ubi eadem ratio, ibi idem jus (quando a
razão for a mesma, a lei deve ser a mesma).

b) Restrição de sentido: Aqui o interpreta opera de modo parecido ao da analogia; os resultados


são, porem, exactamente opostos. A interpretação e dada de forma contraria ao sentido do termo,
excluindo de sua aplicação situações que, sem duvida alguma, são abrangidas pelo regulamento
legal. A justificativa e a mesma dada no caso da analogia: A finalidade da lei impe que seja feita
uma interpretação que contraria o conteúdo da norma (sua letra), para reflectir ʽʽ o espírito do
legislador.

 No intuito de obter clareza, o legislador deve seguir as seguintes orientações: formular


frases curtas; expressar-se de forma sintaticamente clara, usando a pontuação de forma
simples; empregar os termos em seu sentido técnico ou então no sentido comum.
 No intuito de dar orientações precisas ao aplicador, o legislador deve: indicar claramente
o objectivo e o âmbito de aplicação da norma; evitar o uso de sinónimos e termos
ambíguos; e limitar-se a utilização de siglas notórias.
4. Integração da lei
4.1. Lacunas da lei e sua integração

Generalidades

Pode haver casos que devam ser regulados juridicamente, mas para os quais a lei não de resposta
imediata. Estes casos chamam-se lacunas da lei.

A actividade destinada a encontrar solução jurídica para esses casos, norma que lhe seja
aplicável, diz-se integração da lei. Vide no artigo 10 do código civil:

1. Os casos que a lei não preveja são regulados segundo a norma aplicável aos casos análogos.

2. Há analogia sempre que no caso omisso procedam as razões justificativas da regulamenta9ao


do caso previsto na lei.

3. Na falta de caso análogo, a situação é, resolvida segundo a norma que o próprio intérprete
criaria, se houvesse de legislar dentro do espírito do sistema.

Há aqui dois métodos a considerar:

_ A analogia;

_ O método previsto no número 3 do artigo 10

4.2. Analogia

De há muito se estabelece que, não se encontrando na lei solução jurídica para um caso, se busca
uma norma que regule um caso análogo.

I. Quando se verifica a analogia? O n.⁰2 Do artigo 10⁰ do· C6digo Civil responde: Há analogia
sempre que no caso omisso proceda as razões justificativas da regulamentação do caso previsto
na lei.

______________

8. MENDES, João Castro, 1994, p.237˗238.


9. Para maior lucidez, vide nos n⁰ʼs 1, 2 e 3 do artigo 10⁰ do Código Civil.
Este critério pode exprimir-se também deste modo: Há analogia quando a razão de decidir no
caso omissos no caso previsto e a mesma, Ubi eadem est ratio legis, eadem est ejus dispositivo.

5. Artigo 11 do código civil

.E muitas vezes difícil traçar a fronteira entre a analogia e interpretação extensiva. Na primeira
hipótese, entende-se que o legislador não pensou ou quis alargar a solução legal ao caso omisso,
mas este apresenta as mesmas características essenciais que justificaram a solução quanto ao
caso previsto. Na segunda hipótese, chega-se a conclusão de que o legislador quis a solução
alargada, mas a sua maneira de dizer ou de se exprimir traiu-o - minus dixit quam_ voluit.

«O recurso a analogia pressupõe a existência de uma lacuna da lei, isto e,


pressupõe que uma determinada situação não esta compreendida nem na letra
nem no espírito da lei. Esgotou-se todo o processo interpretativo dos textos sem
se ter encontrado nenhum que contemplasse o caso cuja regulamentação se pre
tende, ao passo que, na interpretação extensiva, encontra-se um texto, embora,
para tanto, haja necessidade de estender as palavras da lei, reconhecendo que
elas atraiçoaram o pensamento do legislador que, ao formular a norma, disse
menos do que efectivamente pretendia dizer. Mas o caso esta contemplado. Não
há omissão (Prof. Pires de Lima-Varela, 1987, p.60).

A diferença é fácil de estabelecer em teoria, muito difícil de aplicar na prática. E no entanto as


duas categorias tern a importantíssima diferença de regime estabelecida no artigo 11⁰do Código
Civil:

«As normas excepcionais não comportam interpretação anal6gica, mas admitem interpretação
extensiva».

Verificando-se uma lacuna da lei e não havendo norma aplicável por analogia, as chamadas
lacunas rebeldes a analogia, o artigo 10⁰, n.⁰ 3, do Código Civil manda que a situação seja
decidida «segundo a norma que o pr6prio interprete criaria, se houvesse de legislar dentro do
espírito do sistema».

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10. MENDES, João Castro, 1994, p.240˗242.


11. Vide no n.⁰ 3 do artigo 10⁰ do Código Civil.
ASCENSAO, José Oliveira de, 1993, p.420˗421. Antes porem de passarmos à análise
destes processos, devemo-nos interrogar sobre o significado da própria categoria
lacuna. E, nomeadamente, devemos distinguir a lacuna da situação extrajurídica.

5.1. Lacuna e situação extrajurídica

Não basta dizer que lacuna é o caso não previsto pelo direito, ou não regulado
normativamente. Porque a maior parte das situações da vida não são previstas nem
reguladas pelo direito. Debalde procuraremos nas leis regras sobre passos de dança, ou
lançamento de satélites espaciais, ou preparação para o casamento. Nern o direito
adianta nada se alguém se queixa de que o vizinho não o cumprimenta quando se cruza
com ele na rua. E apesar disso, não dizemos então que há uma lacuna. Se fosse
solicitado para resolver casos dessa ordem o juiz limitar-se-ia a declarar que a hipótese
está extramuros da ordem jurídica. Se quisermos, considerando que toda a actuação que
não tern relevância jurídica especifica e genericamente tomada como Ilícita, diremos
que defrontamos aqui actuações que não são impostas nem relevantes, são meramente
lícitas.

A lei, ao impor ao juiz o dever de julgar mesmo quando houver lacuna, tern
evidentemente em vista a verdadeira lacuna, e não a situação extrajurídica. Em ambas as
hipóteses há falta de regra específica, mas só o caso lacunoso deve ser juridicamente
regulado. É explícito o art. 3/2 do Estatuto dos Magistrados Judiciais Moçambicano (Lei
n.⁰ 7/2009, de 11 de Março), que dispõe que o juiz não pode abster-se de julgar, com
fundamento na falta, obscuridade ou ambiguidade da lei ou em dúvida insanável sobre o
caso em litígio, desde que este deva ser juridicamente regulado. Está distinção
corresponde ao sentir comum. O sentimento jurídico corrente basta para que não
aconteça ajuizarem-se acções referentes a matérias extrajurídicas.

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12. ASCENSAO, José Oliveira de, 1993, p. 420˗421.


13. Conjugado com o n.⁰ 2 art. 3 da n.⁰ 7/2009, de 11 de Março que regula o Estatuto dos
Magistrados Judiciais de Moçambique
Mas, paradoxalmente, esta singeleza pratica não se alicerça numa construção doutrinária
precisa.

A distinção das lacunas e das situações extrajurídicas, dos casos que devem ou não ser
juridicamente resolvidos, e extremamente difícil. Não há nenhuma receita de efeito
assegurado que permita a demarcação dos dois campos.

Como proceder, então? O critério tern de tornar-se fundamentalmente valorativo. Deve


perguntar-se antes de mais se o caso, encarado pelo ponto de vista da solução normativa
que se pretende, respeitaria antes as ordens religiosa, moral ou de cortesia, ou se pelo
contrário revestira os caracteres próprios do jurídico. Entram em acção os princípios
fundamentais sobre a distinção do direito e das restantes ordens normativas.

Se se concluir que o caso pertence a outra ordem normativa, deve ser afastado e isto
ainda que doutros lugares da lei resultasse que hipóteses análogas teriam recebido
disciplina jurídica.

Se pelo contrário se concluir que o caso cabe dentro da descrição fundamental da ordem
jurídica, ainda e necessário determinar se ele deve ser juridicamente regulado. Tern de se
encontrar algum, indício normativo que permita concluir que o sistema jurídico requer a
consideração e solução daquele caso.

Lacunas ocultas

Até por vezes a função da interpretação e mais delicada. Há regras aparentemente


genéricas, que parecem cobrir todo um sector. Porem; através da interpretação restritiva,
verifica-se que não foi explicitada uma excepção ou restrição que deveria existir de
harmonia com o próprio sentido da lei.

Temos de concluir que aquele caso não está abrangido pela regra. Ao menos na
generalidade das hipóteses, isto significara que o caso é lacunoso.·

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14. ASCENSAO, José Oliveira de, 1993, p. 421˗424


A interpretação restritiva conduziu aqui a descoberta de uma lacuna. Assim aconteceria
por exemplo se a lei determinasse, em regra aparentemente genérica, a forma de
celebração do casamento, e se viesse depois a apurar que não era aplicável aos
casamentos in articulo mortis: haveria lacuna quanto a forma de celebra9ao destes. Fala
a doutrina nestes casos em lacunas escondidas, ou ocultas.

Há ainda lacuna oculta quando a matéria é prevista, mas por interpretação ab-rogante não
se conclui pela liquidação dos preceitos em contraste, ou do preceito para o qual se não
encontra um sentido. Mas por outro lado a integração não se confunde com a
interpretação, em sentido restrito. Esta em causa sobretudo a interpretação extensiva. Em
qualquer caso a ordem jurídica tern de nos apontar o processo a que podemos recorrer
para ultrapassar a paragem provocada pela lacuna.

Dessa forma, NADER; Paulo, 2014, Conclui que, lacuna se caracteriza não só quando a
lei é completamente omissa em relação ao caso, mas igualmente quando o legislador
deixa o assunto a critério do julgador. É possível de se manifestar ainda quando a lei,
anomalamente, apresente duas disposições contraditórias, uma anulando a outra. De
ocorrência mais difícil, está espécie de lacuna decorre de defeito da lei e não por
imprevisão do legislador. Antes de concluir pela existência de antinomia entre duas
normas e abandoná-las, o intérprete deve submetê-las a um rigoroso estudo, com base nos
subsídios que a hermenêutica jurídica oferece, pois muitas vezes o conflito é mais
aparente do que real. Para:

ENNECCERUS, ocorre ainda a lacuna “quando uma


norma é inaplicável por alcançar casos ou arrastar
consequências que o legislador não haveria ordenado se
conhecesse aqueles ou suspeitasse estas”.

Além de não caracterizar uma lacuna, pois a lei oferece a disposição, esta hipótese de
não aplicação da regra é problemática, pois a correcção do defeito pode ser alcançada,
conforme o caso, com a diminuição do campo de incidência da lei, de acordo com os

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15. ASCENSAO, José Oliveira de, 1993, p. 424


16. NADER; Paulo, 2014, p. 104.
Princípios hermenêuticos. A integração da lei não se confunde com as fontes formais,
nem com os processos de interpretação do Direito. Os elementos de integração não
constituem fontes formais porque não formulam directamente a norma jurídica, apenas
orientam o aplicador para localizá-las. A pesquisa dos meios de integração não é
actividade de interpretação, porque não se ocupa em definir o sentido e o alcance das
normas jurídicas. Uma vez assentada a disposição aplicável, aí sim se desenvolve o
trabalho de exegese.(NADER; Paulo, 2014, p. 104).

AMARAL; Diogo Freitas do, entende que o costume praeter legem servem como
método de integração das lacunas, pois originam normas que dispõe de matéria não
reguladas por lei, isto é, manifesta-se nas áreas onde faltem leis. Ele e muito importante
na Direito Internacional e Direito Comercial. Assim:

O código civil de 1966 não refere ao costume entre as


fontes do Direito. Menciona os usos (artigo 3.⁰); mas
estes têm sido sido apontados como uma realidade
diversa do costume. O silêncio do Código Civil foi
propositado. Logo no início dos trabalhos que
conduziriam a feitura do Código Civil, a comissão
decidiu “que não se admita o costume como fonte do
direito, mantendo-se a orientação actual” (SERRA;
Adriano Vaz, 1946, p.16).

E, ainda que se não equiparasse à lei e só se lhe reconhece valor obrigatório na falta
dela, é, na ausência da lei que preveja a espécie vertente, mais consentânea com a
necessidade de certeza e com a justiça relativa, mandar observar a analogia.

Na África lusófona, existem e funcionam costumes que asseguram a coesão das


comunidades rurais. As leis reconhecem-nos ainda que, seguindo a lição da constituição
de Moçambique, eles não devam contrariar a Lei fundamental nem os direitos das
pessoas.

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17. AMARAL, Diogo Freitas do; 1997, p.377


18. NADER; Paulo, 2014, p. 104.
19. CORDEIRO, António Menezes, 2011, p. 634.
Conclusão

Neste trabalho foi feita uma análise profunda e exausta sobre até que ponto a
interpretação das leis e a integração das lacunas, podem de alguma forma condicionar a
percepção e alcance das normas jurídicas, destacando e comparando incidência de cada
tema em relação ao direito.

No que concerne aos objectivos por nos traçados, e relevante relatar que todos foram
cumpridos na integra, tendo em primeiro lugar contextualizando a interpretação das leis,
na perspectiva de vários doutrinadores, e de seguida prosseguindo com a analise dos
conceitos da interpretação das leis de forma clara, com recurso a diversas afirmações e
observações dos mais dos mais conceituados cultores do Direito, iniciando um estudo
comparativo em relação a interpretação e integração das leis com o elencar da
motivações por trás da preferência pela designação da introdução ao estudo do direito.

O presente trabalho foi de extrema importância para uma mais profunda compressão das
expressões “ interpretação das leis e integração das lacunas”, que de formas previa foi
nos, apresentada pelos renomados professores Bartolomeu Varela; Diogo Freitas do
Amaral; Dimitri Dimoulis; João de Castro Mendes; José oliveira de Ascensão; João
Baptista Machado; Marcelo Rebelo de Sousa e Sofia Galvão; e Paulo Nader, de como
deve ser feita a interpretação das leis seguindo os métodos e elementos estabelecido e de
que forma as lacunas devem ser integradas de modo a não entrar em colisão com as leis.
Com essa elucidação conseguimos ter, ao longo da elaboração do trabalho, uma visão
critica sobre até que ponto a interpretação e integração das leis podiam suprir as lacunas
encontradas no da aplicação das leis.

Nas várias constatações a que tivemos chegado nas diferentes etapas do trabalho, pode
concluir-se que a interpretação não deve cingir-se à letra da lei, mas reconstituir a partir dos
textos o pensamento legislativo, tendo sobretudo em conta a unidade do sistema jurídico, as
circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada.
Tanto a integração das lacunas deve ser feita tendo como o primeiro recurso a analogia, não
dispor de forma contrária a lei fundamental e outras soluções expressamente previstas na lei.
Referências bibliográficas

I. OBRAS:
1. AMARAL; Diogo Freitas do, Manual de introdução ao direito, Vol. I, Almedina Editora,
Lisboa, 1997.

2. ASCENSAO; José de Oliveira, O direito: introdução e teoria geral, 7. ͣ Edição,

Almedina editora, Coimbra, 1993.

3. DIMOULIS; Dimitri, Manual de introdução ao direito, 4.ͣ Edição, editora Revista dos
tribunais, São Paulo, 2011.
4. MACHADO; João Baptista, Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador,
reimpressão, Almedina, Porto, 1982.

5. MENDES; João de Castro, Introdução ao estudo do Direito, 3. ͣ Edição, Editora Pedro


Ferreira, Lisboa, 1994.

6. NADER; Paulo, Introdução ao estudo do Direito, 36. ͣ Edição, editora forense Lda, Rio de
Janeiro, 2014.

7. SOUSA; Marcelo Rebelo de, e Galvão, Sofia, Introdução ao estudo do direito, 5 ͣ Edição,
Lex, Lisboa, 2000.

8. VARELA; Bartolomeu Lopes, Manual de introdução ao direito, 2. ͣ Edição, revista,


Praia, 2011.

II. LEGISLAÇÃO

1. DECRETO-LEI N⁰ 47 344, de 25 de Novembro de 1966“ Código Civil”, Livro. I.


2. Lei que regula o Estatuto dos Magistrados Judiciais. (Lei nº. 7/2009 De 11 de Março, in
Boletim da República, Iª Série, N⁰. 10, de 11 de Março.
ANEXOS

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