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FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

TRABALHO DE CAMPO DE FILOSOFIA DE DIREITO E METODOLOGIA


JURÍDICA
3º Ano-2023

Tema: Hermenêutica ou Interpretação do Direito

Discente: Intacara Adelino Dos Santos Intacara

Código 71210154

Quelimane, Fevereiro de 2023


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE LICENCIATURA EM DIREITO

TRABALHO DE CAMPO DE FILOSOFIA DE DIREITO E METODOLOGIA


JURÍDICA
3º Ano-2023

Tema: Hermenêutica ou Interpretação do Direito

Trabalho de campo a ser submetido na


coordenação do Curso de Licenciatura
em Direito UnISCED.

O Tutor: Grácio Muchanga

Discente: Intacara Adelino Dos Santos Intacara

Código 71210154

Quelimane, Fevereiro de 2023

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Índice
Introdução .......................................................................................................................... 4
HERMENÊUTICA JURÍDICA ....................................................................................... 5
ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO................................................................................ 5
Distinção entre Hermenêutica e Interpretação................................................................. 7
Problemas da Interpretação Jurídica: Vaguidade e Ambiguidade.................................. 7
Regras de Interpretação ..................................................................................................... 8
A Interpretação Gramatical e a Sistemática................................................................... 10
A Escola da Livre Pesquisa do Direito e o Direito Livre ............................................. 12
JURÍDICO HERMENÊUTICO CLÁSSICO ................................................................ 12
A teoria da acção comunicativa ...................................................................................... 13
Conclusão......................................................................................................................... 14
Referencias Bibliográficas .............................................................................................. 15

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Introdução

Com a actual dinamicidade do mundo moderno e a divulgação das normas jurídicas e o


estudo da hermenêutica jurídica e da interpretação jurídica, revela-se de extrema
importância, haja vista que nem sempre ao lermos um texto – e, em específico, um texto
jurídico – conseguimos compreender o seu significado e sua extensão. Dessa forma, os
métodos de interpretação se fazem necessários para que possamos verificar qual o
alcance da norma jurídica e qual a melhor interpretação diante do caso concreto.

A proposta do presente trabalho é a verificação da forma de interpretação constitucional


e infraconstitucional. Tal constatação deve ser feita da mesma forma, utilizando as
mesmas técnicas, para tanto precisamos entender o que vem a ser a hermenêutica e a
interpretação jurídica.

Hermenêutica e Interpretação do Direito Sobre os mesmos termos, Maximiliano declina


que a "Hermenêutica jurídica tem por objecto o estudo e a sistematização dos processos
aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito". Enquanto
isso, "interpretar é determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito".

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HERMENÊUTICA JURÍDICA

É uma ciência com um objecto específico, que é a sistematização e o estabelecimento


das normas, regras e/ou processos que busca tornar possível a interpretação e a inda
busca fixar o sentido e o alcance das normas jurídicas.

A Hermenêutica Jurídica dedica-se, portanto, "à interpretação e ao entendimento das


expressões e dos textos jurídico-normativos, seu sentido e seu valor", possibilitando
que o Direito, seja um "Sistema Lógico Jurídico Interpretativo-Argumentativo".
Sentido e Valor, atribuem um significado ao texto jurídico

A palavra "direito" possui mais de um significado correlato: é o sistema de normas de


conduta criado e imposto por um conjunto de instituições para regular as relações
sociais: direito objectivo; é a faculdade concedida a uma pessoa para mover a ordem
jurídica a favor de seus interesses: direitos subjectivos; é o ramo das ciências sociais
que estuda o sistema de normas que regulam as relações sociais: "ciência do direito".

A hermenêutica no campo jurídico é empregada para dizer o meio e o modo por que se
devem interpretar as leis, para que dessa forma se obtenham o exato sentido ou o fiel
pensamento do legislador.

ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO

Há algumas espécies de interpretação que terão de ser aplicadas de forma a materializar


o Direito. Cabe ao intérprete e somente a ele aplicar essa ciência jurídica, segundo Hans
Kelsen (2012). Para o mesmo autor, “existem duas espécies de interpretação, que devem
ser desguiadas claramente uma da outra: a interpretação do Direito pelo órgão que o
aplica, e a interpretação do Direito que não é realizada por um órgão jurídico mas por
uma pessoa privada e, especialmente, pela ciência jurídica” (KELSEN, 2015,p 388).

A interpretação ocorre de vários modos, de sorte a levar o intérprete a tirar o máximo de


si. A interpretação tem que ser livre para o intérprete, que precisa ter à disposição todos
os meios e garantias para a melhor aplicação da norma:

Isso significa, em outras palavras, que, no caso de conflito, no qual não se possa aplicar
nenhum dos três critérios, a solução do conflito é confiada a liberdade do intérprete;
poderíamos quase falar em um autêntico poder discricionário do intérprete, ao qual cabe
resolver o conflito segundo a oportunidade, valendo-se de todas as técnicas,

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hermenêuticas usadas pelos juristas por longa e consolidada tradição e não se limitando
aplicar somente a regra (BOBBIO, 2016, p.100).

Pode haver indeterminação intencional e não intencional na aplicação do Direito, sob


uma visão kelsiana de interpretar a norma, no que tange à aplicação desta. Observem-se
os dizeres do mestre quando explana sobre a interpretação:

A interpretação pode respeitar tanto ao fato (pressuposto) condicionante como a


consequência condicionada. A indeterminação pode mesmo ser intencional, quer dizer,
estar na intenção do órgão que estabeleceu a norma a aplicar.

A lei penal prevê para a hipótese de um determinado delito, uma pena pecuniária
(multa) ou uma pena de prisão, e deixa ao juiz a faculdade de, no caso concreto, se
decidir por uma ou pela outra e determinar a medida das mesmas – podendo, para a
determinação, ser fixado na própria lei um limite máximo e um limite mínimo
(KELSEN, 2015, p.389).

Na indeterminação não intencional, a norma deve ser aplicada no ato conforme se a lei é
positivada:

Temos em primeira linha a pluralidade de significações de uma palavra ou uma


sequencia de palavras que a norma exprime A mesma situação se apresenta quando o
que executa a norma crê poder presumir que entre a expressão verbal da norma e a
vontade da autoridade legisladora, que se há de exprimir através daquela expressão
verbal, existe uma discrepância, podendo em tal caso deixar por completo de lado a
resposta à questão de saber por que modos aquela vontade pode ser determinada
(KELSEN, 2015 p.389).

O autor mostra anteriormente e agora em uma elaboração mais ampla: o intérprete tem
como escopo aplicar a norma e com ela se ter o Direito em um caso concreto,
eliminando aspectos materiais e subjectivos da forma em que aqueles jurisdicionados
possam perceber que o Direito foi aplicado, de forma a ser visualizada a justiça, esta
qual é divina, mas sendo aplicada em um conceito simples e mortal, aplicada pelo
homem.

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Distinção entre Hermenêutica e Interpretação

O conceito de interpretação difere do de hermenêutica apesar de, ainda hoje,


encontrarmos alguns, poucos, doutrinadores que fazem essa confusão conceitual.

Celso Ribeiro Bastos consegue diferenciar a hermenêutica jurídica da interpretação


jurídica de forma magistral. Para esse jurista, a hermenêutica jurídica seria o conjunto
de tintas disponíveis, sendo assim, o hermeneuta, busca encontrar e produzir as mais
variadas nuances de cores de tintas. Por sua vez, o intérprete agiria como um pintor que
diante daquelas possibilidades apresentadas pelas tintas iria utilizá-las para apresentar
uma obra-prima.

Dessa forma, a HERMENÊUTICA JURÍDICA difere da interpretação jurídica no


momento em que no primeiro caso estamos lidando com uma ciência auxiliar do direito
que busca nos dizer QUAIS SÃO as formas de se buscar o entendimento das normas
jurídicas, enquanto que a INTERPRETAÇÃO JURÍDICA passa a ser a aplicação
dessas formas no texto legal concreto para se buscar o sentido das normas jurídicas.

Nas palavras magistrais de Vicente Ráo, temos que: “A hermenêutica tem por objecto
investigar e coordenar, por meio sistemático, os princípios científicos e leis decorrentes
que disciplinam a apuração do conteúdo, do sentido e dos fins das normas jurídicas e a
restauração do conceito orgânico do Direito, para efeito de sua aplicação; a
interpretação, por meio de regras e processos especiais, procurando realizar,
praticamente, estes princípios e estas leis científicas; a aplicação das normas jurídicas
consiste na técnica de adaptação dos preceitos, nelas contidos e assim interpretados, às
situações de fato que se lhes subordinam.

Sendo assim, entendemos que hermenêutica jurídica e interpretação jurídica são duas
expressões distintas que não devem ser utilizadas como sinónimos, porém precisamos
ressaltar que há uma corrente minoritária que não apresenta o mesmo entendimento.

Problemas da Interpretação Jurídica: Vaguidade e Ambiguidade

No âmbito do Direito, ao buscarmos a interpretação jurídica, nos deparamos com dois


problemas distintos e perigosos que são a vaguidade e a ambiguidade, já que os dois
geram incertezas e dúvidas.

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A ambiguidade, nas palavras magistrais de Plácido e Silva, derivado do vocábulo latino
ambíguos (equívoco, duvidoso, incerto, variável, com dois sentidos), vem precisamente
indicar a disposição legal ou texto de lei, ou cláusula contratual que possa mostrar um
duplo sentido. Desse modo, diz-se que a lei é ambígua, ou há ambiguidade, quando, por
defeito ou falta de clareza de sua redacção, se possa ter dúvida em relação a seu
verdadeiro sentido, ou possa ser interpretado de diferentes maneiras. A vaguidade gera a
incerteza com relação aos limites de seu significado, até onde estará o alcance da norma
jurídica a ser interpretada.

Regras de Interpretação

São três as espécies de regras de interpretação jurídica: as legais, as científicas e as da


jurisprudência, vejamos cada uma delas:

As Regras Legais de Interpretação

Encontra-se previsto no art. 4º. e 5º. Da Lei de Introdução ao


Código Civil as regras de interpretação das normas jurídicas:

Art. 4º. Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo
com a analogia, os costumes e os princípios gerais do direito. Art.
5º. Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se
dirige e às exigências do bem comum.

Regras Científicas de Interpretação

Vários são os doutrinadores que se debruçaram para estudar e delinear as regras de


interpretação. Dentre os doutrinadores que se destacam podemos citar as regras
clássicas de Justiniano, a quem devemos o Corpus Iuris Civilis. Já actualmente podemos
citar as regras criadas por Carlos de Carvalho em sua clássica obra +ova Consolidação
das Leis Civis. Vejamos:

“Caput – A ementa de lei facilita sua inteligência.

§ 1º. +o texto da lei se entende na haver frase ou palavra inútil, supérflua ou sem
efeito;

§ 2º. Se as palavras da lei são conformes com a razão devem ser tomadas no sentido
literal e as referentes não dão mais direito do que aquelas a que se referem;

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§ 3º. Deve-se evitar a supersticiosa observância da lei que, olhando, só a letra dela,
destrói a sua intenção.

§ 4º. O que é conforme ao espírito e letra da lei se compreende na sua disposição.

§ 5º. Os textos da mesma lei devem-se entender uns pelos outros; as palavras
antecedentes e subsequentes declaram o seu espírito;

§ 6º. Devem concordar os textos das leis, de modo a torná-los conforme e não
contraditórios, não sendo admissível a contradição ou incompatibilidade neles.

§ 7º. As proposições enunciativas ou incidentes da lei não têm a mesma força que as
suas decisões;

§ 8º. Os casos compreendidos na lei estão sujeitos Pa sua disposição, ainda que não os
especifique, devendo proceder-se de semelhante a semelhante, e dar igual inteligência
às disposições conexas.

§ 9º. O caso omisso na letra da lei se compreende na disposição quando há razão mais
forte.

§ 10. A identidade de razão corresponde à mesma disposição de direito.

§ 11. Pelo Espírito de umas se declara o das outras, tratando-se de leis análogas.

§ 12. As leis conformes no seu fim devem ter idêntica execução e não podem ser
entendidas de modo a produzir decisões diferentes sobre o mesmo objeto.

§ 13. Quando a lei não fez distinção o intérprete não deve fazê-la, cumprindo entender
geralmente toda a lei geral.

§ 14. A eqüidade é de direito natural e não permite que alguém se locuplete com jactura
alheia.

Regras da Jurisprudência para Interpretação Jurídica

Quem mais se preocupou em compilar as regras de jurisprudência foi Washington de


Barros Monteiro, que entre outras apresentou as seguintes regras:

“a) Na interpretação deve-se sempre preferir a inteligência que faz sentido à que não
faz.

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b) deve-se preferir a inteligência que melhor atenda à tradição do direito.

c) deve ser afastada a exegese que conduz ao vago, ao inexplicável, ao contraditório e


ao absurdo.

d) há que se ter em vista o eo quod plerumque fit, isto é, aquli que ordinariamente
sucede no meio social.

e) Onde a lei não distingue, o intérprete não deve igualmente distinguir.

f) todas as leis excepcionais ou especiais devem ser interpretadas restritivamente.

g) tratando-se porém, de interpretar leis sociais, preciso será temperar o espírito do


jurista, adicionando-lhe certa dose de espírito social, sob pena de sacrificarse a
verdade à lógica.

h) em matéria fiscal, a interpretação se fará restritivamente.

i) deve ser considerado o lugar onde será colocado o dispositivo, cujo sentido deve ser
fixado

A Interpretação Gramatical e a Sistemática

A Revolução Francesa atinge um ponto culminante com a publicação do Código Civil


de Napoleão. É um monumento da ordenação da vida civil, projectado com grande
engenho e não menor arte. Portalis, um de seus grandes elaboradores, prudentemente
reconhecera a existência de insuficiências e lacunas no Código, mas assim não
pensaram os seus primeiros intérpretes, os quais pretenderam que não havia parcela da
vida social que não tivesse sido devida e adequadamente regulada, razão pela qual
haviam sidorevogadas todas as ordenações, usos e costumes até então vigentes.
(COELHO, 1972: 260). A Revolução Francesa vinha declarar a igualdade de todos
perante a lei e, ao mesmo tempo esfacelava os núcleos nos quais ainda subsistiam
sistemas jurídicos particularistas com pretensão de "soberania" perante o Estado. Os
privilégios e as prerrogativas da nobreza e do clero desapareceram para que o Direito se
revelasse apenas através da vontade geral. "Todos os direitos são fixados pela lei",
como expressão da vontade geral, proclamou Jean Jacques-Rousseau, fundando
criadoramente o pensar político de seu tempo. Surgia, assim, o Código Civil, como

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expressão da vontade comum, não admitindo qualquer concorrência por parte dos usos e
costumes e, também, por parte de elaborações legislativas particulares. A lei exsurgiu
plano tão alto que passou a ser como que a única fonte de Direito. O problema da
Ciência do Direito resolveu-se, de certa maneira, no problema da interpretação melhor
da lei. Havia duas verdades paralelas: o Direito positivo é a lei; e, uma outra: a Ciência
do Direito depende da interpretação da lei segundo processos lógicos adequados. Foi
por esse motivo que a interpretação da lei passou a ser objecto de estudos sistemáticos
de notável finura, correspondentes a uma atitude analítica perante os textos segundo
certos princípios e directrizes que, durante várias décadas, constituíram o embasamento
da Escola da Exegese.

Era natural que, nesse quadro espiritual, a interpretação fosse vista, de início, apenas
sob dois prismas dominantes: um prisma literal ou gramatical, de um lado, e um prisma
lógico-sistemático, do outro. O primeiro dever do intérprete é analisar o dispositivo
legal para captar o seu pleno valor expressional. A lei é uma declaração da vontade do
legislador e, portanto, deve ser reproduzida com exactidão e fidelidade. Para isto, muitas
vezes é necessário indagar do exacto sentido de um vocábulo ou do valor das
proposições do ponto de vista sintáctico.

A lei é uma realidade morfológica e sintática que deve ser, por conseguinte, estudada do
ponto de vista gramatical. É da gramática tomada esta palavra no seu sentido mais
amplo - o primeiro caminho que o intérprete deve percorrer para dar-nos o sentido
rigoroso de uma norma legal. Toda lei tem um significado e um alcance que não são
dados pelo arbítrio imaginoso do intérprete, mas são, ao contrário, revelados pelo exame
imparcial do texto.(HART, 1963: 197).

________________________________________________

HART, Herbert. El Concepto del Derecho, trad cast, Buenos Aires,


1963. 106 Ibidem, p.198

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A Escola da Livre Pesquisa do Direito e o Direito Livre

Visando a superar as deficiências da interpretação histórico-evolutiva, novas teorias


hermenêuticas foram elaboradas, a partir das últimas décadas do século XIX. Na
França, surgiu um movimento que não tem nada de revolucionário, porquanto o grande
François Gény não é um inovador, no sentido de revolucionar, mas, ao contrário, um
construtor equilibrado, que vai, aos poucos, abrindo o caminho que lhe parece deva ser
trilhado. (POUND, 1959: 267).116 Deve-se a Gény o movimento chamado da libre
recherche, ou seja, da livre pesquisa do Direito.

O interessante na obra de François Gény é que ele quer conciliar certas posições
clássicas da Escola da Exegese com as necessidades do mundo contemporâneo. Assim,
por exemplo, não concorda ele, de maneira alguma, com a tese de Windscheid e outros,
no sentido de se descobrir uma intenção possível do legislador, se estivesse vivendo no
mundo contemporâneo. Diz ele que o intérprete da lei deve manter-se fiel à sua intenção
primeira. Segundo Gény, a lei só tem uma intenção, que é aquela que ditou o seu
aparecimento. Não se deve deformar a lei, mas, ao contrário, reproduzir a intenção do
legislador no momento de sua decisão. Uma vez verificado, porém, que a lei, na sua
pureza originária, não corresponde mais aos factos supervenientes, devemos ter a
franqueza de reconhecer que existem lacunas na obra legislativa e procurar, por outros
meios, supri-las.

JURÍDICO HERMENÊUTICO CLÁSSICO

O intérprete, quando na presença de um fato concreto, deve aplicar a norma de forma a


levá-la a uma nova dimensão, sem, no entanto, modificá-la. Deve apenas retirar da
norma o que ela realmente tem, a fim de solucionar determinado conflito:

A norma no escalão superior não pode vincular em todas as direcções (sob todos os
aspectos) o ato através do qual é aplicada. Tem sempre de ficar uma margem, ora maior,
ora menor, de livre apreciação, de tal forma que a norma do escalão superior tem
sempre, em relação, ao ato de produção normativa ou de execução aplicada, o carácter
de um quadro ou moldura a preencher por este ato (KELSEN, 2015, p.388).

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Uma boa maneira de definir uma noção bem ampla para a aplicação da Hermenêutica é
dizer que ela é a atividade a que se dedica ao tentar encontrar significado para algo.
Trata-se da tradicional técnica que parte do pressuposto de que a Constituição Federal é,
antes de tudo, uma lei e, como tal, deve ser interpretada, buscando descobrir sua
verdadeira intenção, a partir de elementos históricos, gramaticais, finalísticos, lógicos e
sociais (KELSEN, 2015).

A teoria da acção comunicativa

Segundo a teoria da acção comunicativa, o Direito submete os homens ao domínio das


normas e estas não se mostram suficientes para resolver os conflitos provenientes da
convivência social por várias razões, uma delas é a rapidez com que os factos se
antecedem à possibilidade de um padrão de conduta ditado pela ordem vigente. A outra
é a realidade normativa, formulada e interpretada de acordo com as instituições que
administram a justiça, e que nem sempre possuem o aparato ético e técnico condizente
com as vontades e necessidades dos sujeitos.

Resumindo em pouquíssimas palavras o sentido de interpretar, o decerto recearam


também que o vocábulo arraste à concepção romana e canónica de Hermenêutica -
exegese, quase mecânica nos texto, vantajosamente substituída hoje pela interpretação
dos mesmos como fórmulas concretas do Direito científico (MAXIMILIANO, 2000,
p.01)

É possível visualizar que a Hermenêutica engloba a interpretação e a exegese. Esse fato


lhe proporciona um completo entendimento, uma visão artística, cultural e filosófica
enorme, sem precedentes, uma conjuntura dimensional no Direito (MAXIMILIANO,
2000).

Para aplicar o Direito, há necessidade da conjuntura fato-valor-norma-interpretação.


Esta permite enquadrar um fato concreto a uma norma jurídica adequada, de modo a
submetê-lo às prescrições normativas, a lei, aglutinando valores sociais, e a submetê-lo
a uma relação com a atualidade, pois a sociedade está sempre evoluindo, e tal evolução
é difícil de ser acompanhada pelo legislador. Permite, então, que se levem em conta os
anseios da sociedade na procura por justiça. Quando se realiza a interpretação, realiza -se
o “dever ser” e o ser do Direito, submetendo as prescrições da lei a uma relação com a
vida real (GRAU, 2005

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Conclusão

Contudo, o objectivo da acção comunicativa está em apresentar outro tipo de


racionalidade, que embora tácita, está vinculada a uma teoria do discurso, que vise,
primordialmente, explicitar as razões de justificação e fundamentação das preposições
argumentativas que os sujeitos de Direito precisam utilizar para suas interacções no
mundo da vida. Em outras palavras, o que uma norma, imposta aos cidadãos, determina,
pode até ser obstado pelos sujeitos a quem lhe cabe obedecer, mas tal ressalva à
obediência normativa deve ser justificada e fundamentada para que não represente
ilegitimidade ou ilegalidade. Por outro lado, quando invoca o agir comunicativo como
forma de verdade que atende bem às premissas de justificativa dos actos justos, o que
ele quer dizer é que, através dos recursos do discurso jurídico e da linguagem, é possível
alcançar a validade do acto normativo.

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Referencias Bibliográficas

SIQUEIRA, Ada Bogliolo Piancastelli. Notas sobre direito e literatura: o absurdo do


direito em Albert Camus. Disponível em: < http://funjab.ufsc.br/wp/wp

RÁO, Vicente. O Direito e a Vida dos Direitos. 5ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora Revista
dos Tribunais, p. 1999, p. 456.

Consilium - Revista Eletrônica de Direito, Brasília n.4, v.1 maio/ago. de 2010.

MAXIMILIANO, Carlos. Hermenêutica e Aplicação do Direito. 19ª. Ed. Rio de


Janeiro: Editora Forense, 2007, p. 29.

RÁO, Vicente. O Direito e a Vida dos Direitos. 5ª. Ed. Rio de Janeiro: Editora Revista
dos Tribunais, p. 1999, p. 464.

HERMENÊUTICA JURÍDICA. In: Dicionário Jurídico. Rio de Janeiro: Forense


Universitária, 1990, p. 226-227.

RÁO, Vicente. O direito e a vida dos direitos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005

SICHES, Luis Recaséns. Tratado general de filosofia del derecho. 5 ed. México:
Editorial Porrua, 1975

FERRAZ JÚNIOR, Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito: técnica, Decisão,


dominação. 6ª ed. São Paulo: Atlas, 2008

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