Você está na página 1de 132

Lista de Redação – Estilística – 110 Questões [Médio]

Questão 01)
Texto I

MANIFESTO PELA CONCÓRDIA E PELA PAZ

Nenhum ser humano é uma ilha... por isso não perguntem por quem os
sinos dobram. Eles dobram por cada um, por cada uma, por toda a
humanidade. Se grandes são as trevas que se abatem sobre nossos
espíritos, maiores ainda são as nossas ânsias por luz.
As tragédias dão-nos a dimensão da inumanidade de que somos
capazes. Mas também deixam vir à tona o verdadeiramente humano que
habita em nós, para além das diferenças de raça, de ideologia e de religião.
E esse humano em nós faz com que juntos choremos, juntos nos
enxuguemos as lágrimas, juntos oremos, juntos busquemos a justiça, juntos
construamos a paz e juntos renunciemos à vingança.
A sabedoria dos povos e a voz de nosso coração nos testemunham: não
é terrorismo que vence terrorismo, nem é ódio que vence ódio. É o amor
que vence o ódio. É o diálogo incansável, a negociação aberta e o acordo
justo que tiram as bases de qualquer terrorismo e fundam a paz.
A tragédia que nos atingiu no mais fundo de nosso coração nos convida
a repensarmos os rumos das políticas mundiais, o sentido da globalização
dominante, a definição do futuro da humanidade e a salvaguarda da Casa
Comum, a Terra. O tempo é urgente. Desta vez não haverá uma arca de
Noé que salve alguns e deixe perecer os demais. Temos de nos salvar
todos, a comunidade de vida de humanos e não-humanos. Para isso
precisamos abolir a palavra inimigo. É o medo que cria o inimigo. E
exorcizamos o medo quando fazemos do distante um próximo e do próximo,
um irmão e uma irmã. Afastamos o medo e o inimigo quando começamos a
dialogar... a nos conhecer... a nos aceitar... a nos respeitar... a nos amar...
enfim, numa palavra, a nos cuidar.
Leonardo Boff

Julgue os itens que seguem.


01. Em “inumanidade” (l. 5), que tem o mesmo significado de
desumanidade, a palavra que dá origem ao termo perde o h inicial por
uma questão fonológica.
02. As expressões “por cada um” (l. 2), “por cada uma” (l. 2), revelam
cacofonia que deveria ser evitada.
03. O modo imperativo de formas verbais como “choremos” (l. 8),
“enxuguemos” (l. 8), “oremos” (l. 9), “busquemos” (l. 9), “construamos”
(l. 9), e “renunciemos” (l. 10), representam o desejo, a vontade de
concretização de tais ações.

www.projetoredacao.com.br
04. Acrescentando-se a desinência –mos às formas verbais “conhecer” (l.
23), “aceitar” (l. 23), “respeitar” (l. 23), “amar” (l. 24), “cuidar” (l. 24), não
incorreríamos em erro gramatical.
05. O uso de reticências, no primeiro (l. 1) e no último parágrafo (l. 23 e 24)
é um convite à reflexão.

Questão 02)

TEXTO 1

Dorme, ruazinha… É tudo escuro


E os meus passos, quem é que pode ouví-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos…
Dorme… Não há ladrões, eu te asseguro…
Nem guardas para acaso perseguí-los…
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos…
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão…
Dorme, ruazinha… Não há nada…
Só os meus passos… Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração…

(QUINTANA, Mario. A rua dos cataventos. Porto Alegre: Globo, 1940.)

Marque a opção FALSA.

O eu-lírico pede à rua que não se importune com seus passos quase
inaudíveis. A construção da “atmosfera de silêncio” faz-se a partir do tom de
sussuro presente no texto I,

a) reforçado pelo uso dos sons fechados /i/e/u nas rimas dos quartetos.
b) criado pelo emprego reiterado dos sons surdos /s/, como em “sono
sossegado”.
c) ampliado pelo uso das reticências que, mais do que uma função de pausa
na leitura, auxilia no alcance e uma modulação leve e insinuante de suas
idéias.
d) sugerindo pelo uso de termos como “escuro”, “sono sossegado”,
“lampiões”, “tranqüilos”, “madrugadas”, que configuram um clima de paz
e tranqüilidade.
e) sustentado pela metáfora presente em “O vento enovelou-se com um
cão…” (verso 10)

www.projetoredacao.com.br
Questão 03)
TEXTO 1

Dorme, ruazinha… É tudo escuro


E os meus passos, quem é que pode ouví-los?
Dorme o teu sono sossegado e puro
Com teus lampiões, com teus jardins tranqüilos…
Dorme… Não há ladrões, eu te asseguro…
Nem guardas para acaso perseguí-los…
Na noite alta, como sobre um muro,
As estrelinhas cantam como grilos…
O vento está dormindo na calçada,
O vento enovelou-se como um cão…
Dorme, ruazinha… Não há nada…
Só os meus passos… Mas tão leves são
Que até parecem, pela madrugada,
Os da minha futura assombração…
(QUINTANA, Mario. A rua dos cataventos. Porto Alegre: Globo, 1940.)

No texto I, o uso dos substantivos ruazinha e estrelinhas, no grau diminutivo,


a) deixa evidente que a dimensão física é a única coisa que importa ao eu-
lírico.
b) revela a visão pragmática e redutora da natureza e das coisas pelo eu-
lírico.
c) é perfeitamente natural, pois o eu-lírico, está se dirigindo a uma criança.
d) indica que o eu-lírico sente-se responsável pela segurança dos
moradores.
e) é aceitável devido ao sentimento de afeição do eu-lírico em relação às
coisas e à natureza.

Questão 04)
Texto
[...]
E existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e covardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio!... Musa! chora, chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto

Auriverde pendão da minha terra,


Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu, que da liberdade após a guerra,

www.projetoredacao.com.br
Foste hasteado dos heróis na lança,
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!


Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um 1 ris no pélago profundo!...
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!...
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!
“O navio negreiro’, Castro Alves.

Considerando que hipérbole é um recurso que tem por finalidade produzir


uma afirmação exagerada, assinale a alternativa em que se emprega esse
recurso.
a) “Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta, / Que impudente na
gávea tripudia?”
b) “Auriverde pendão de minha terra,! Que a brisa do Brasil beija e balança”
[...]
c) “Silêncio! Musa! chora, chora tanto! Que o pavilhão se lave no teu prantol
d) “Tu, que da liberdade após a guerra, / Foste hasteado dos heróis na lança”
[...]
e) “Andrada! arranca este pendão dos ares! ! Colombo! fecha a porta dos
teus mares!”

Questão 05)
Dadas as frases:

1. Fui doente durante dois anos (e estou são).


2. Fui doente para Buenos Aires (e voltei são).

Analise as formas “Fui doente”:


a) em termos morfológicos, “fui” constitui flexão de que verbo(s) em 1 e 2?
b) em termos sintáticos, que tipo de predicado temos em 1 e 2?
c) em termos semânticos, o que distingue “fui” em 1 e 2?

Questão 06)

"Frederico Paciência vinha me trazer até casa. Sofríamos tanto que parece
impossível sofrer com tamanha felicidade. E toda noite era aquilo: a boca
rindo, os olhos cheios de lágrimas."
(Contos Novos, Mário de Andrade)

Assinale a alternativa que NÃO pode significar uma das figuras de linguagem
presentes no trecho acima.

www.projetoredacao.com.br
a) Antítese.
b) Eufemismo.
c) Metáfora.
d) Paradoxo.
e) Contraste.

Questão 07)
A relação de sentido que há entre as orações grifadas em

“Lá a existência é uma aventura / De tal modo inconseqüente / Que Joana a


Louca de Espanha / [...] vem a ser contraparente da nora que nunca tive”

manifesta-se em
a) Eu jogava longe canudo e caneca. Para recomeçar no dia seguinte, sim,
as bolhas de sabão.
b) Sua voz era grave: metia medo.
c) Durante o dia, seu perfume ainda pairou pelo quarto. Ao anoitecer,
Dionísia abriu as janelas.
d) Esforçou-se muito, mas não alcançou o que procurava.
e) Ele não era advogado; mesmo assim quis defender o pai.

Questão 08)
Texto

País imenso, o Brasil bem que podia ter se fragmentado em diversos


Estados [...]. No entanto, permaneceu unitário, provavelmente em
conseqüência da escravidão, base da organização brasileira. Apesar de toda
a diversidade social e cultural de suas regiões, a identidade nacional foi
sendo moldada e alguns mitos foram sendo construídos como símbolos
dessa unidade. Um desses mitos, que completou 80 anos no mês passado,
foi a Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922. Desde cedo, na
escola, aprendemos que a literatura brasileira do século XX é um vasto
campo composto de modernismo, modernismo e modernismo, tudo
antecedido de pré-modernismo e vagamente seguido de pós-modernismo.
Não é bacana, singelo e econômico?
É um pavor, do ponto de vista crítico. Fica parecendo que tudo o que vale
na produção da literatura brasileira ou canta pela pauta modernista, ou pode
tirar suas esperanças do sol – porque não entrará na escola, no vestibular,
na compra de livros para a biblioteca. Traduzindo em miúdos: levando a sério
a absoluta dominância modernista, só tem valor a literatura arrojada, de
vanguarda, experimental em forma e em tema, que revire ou pareça revirar a
identidade nacional eternamente pelo avesso e contradite tudo o que for ou
parecer conservador. Se um autor escrever romance de feição tradicional, se
compuser teatro não-agressivo, se sua poesia dialogar com a tradição
clássica, se seu conto não fizer careta para a platéia, esquece.
Escritores que não rezam pela cartilha modernista e, ainda por cima,
freqüentam tema local, fora de São Paulo e do Rio de Janeiro, padecem do

www.projetoredacao.com.br
estranho problema de escreverem e serem lidos, mas não recebem validação
por parte de críticos e professores. De onde nasceu isso?
[…]
Um país deste tamanho tem uma riqueza imensa justamente em sua
variedade musical, lingüística e literária também. Por isso é que precisamos
passar em revista a supercentralidade do Modernismo paulista na descrição
de nossa história cultural e, particularmente, na validação crítica da literatura
– a favor de todas as vozes disponíveis, que não são ouvidas apenas porque
nosso ouvido não aprendeu. Mas bem que pode.
(Augusto L. Fischer. Revista Superinteressante, março/2002)

Há evidente equívoco quanto ao valor significativo atribuído ao sufixo do


vocábulo em:
a) supercentralidade (posição)
b) modernismo (doutrina)
c) validação (ato ou efeito de ato)
d) vagamente (modo)
e) modernista (adepto)

Questão 09)

Olhava mais era para Mãe. Drelina era bonita, a Chica, Tomezinho. Sorriu
para Tio Terêz: - “Tio Terêz, o senhor parece com Pai...” Todos choravam. O
doutor limpou a goela, disse: - “Não sei, quando eu tiro esses óculos, tão
fortes, até meus olhos se enchem d’água...” Miguilim entregou a ele os óculos
outra vez. Um soluçozinho veio. Dito e a Cuca Pingo-de-Ouro. E o Pai.
Sempre alegre, Miguilim... Sempre alegre, Miguilim... Nem sabia o que era
alegria e tristeza. Mãe o beijava. A Rosa punha-lhe doces-de-leite nas
algibeiras, para a viagem. Papaco-o-Paco falava, alto, falava.

Do ponto de vista do estilo e da relação deste com o sentido, esse trecho


caracteriza-se:
a) pela sucessão de frases curtas e entrecortadas, que mimetizam o ritmo
da emoção implicada na cena.
b) pela conjunção de narrador em primeira pessoa e em terceira pessoa,
interligando solidamente emissor e receptor.
c) pelo recurso intensivo às figuras de linguagem, com predomínio das
metáforas sobre as metonímias - o que potencia o teor simbólico do texto.
d) pelo predomínio da função emotiva sobre as funções poética e conativa,
o que gera a força encantatória própria do texto.
e) pela dominância da adjetivação afetiva, que traz à tona e potencia a
emoção própria da cena.

Questão 10)

Na posição em que se encontram, as palavras assinaladas nas frases abaixo


geram ambigüidade, EXCETO em:

www.projetoredacao.com.br
a) Pagar o FGTS já custa R$13,3 bi, diz o consultor.
b) Pais rejeitam menos crianças de proveta.
c) Consigo me divertir também aprendendo coisas antigas.
d) É um equívoco imaginar que a universidade do futuro será aquela que
melhor lidar com as máquinas.
e) Não se eliminará o crime com burocratas querendo satisfazer o apetite
por sangue do público.

Questão 11)
Outro dia, falando na vida do caboclo nordestino, eu disse aqui que ele não
era infeliz. Ou não se sente infeliz, o que dá no mesmo. Mas é preciso
compreender quanto varia o conceito de felicidade entre o homem urbano e
essa nossa variedade de brasileiro rural. Para o homem da cidade, ser feliz
se traduz em “ter coisas”: ter apartamento, rádio, geladeira, televisão,
bicicleta, automóvel. Quanto mais engenhocas mecânicas possuir, mais feliz
se presume. Para isso se escraviza, trabalha dia e noite e se gaba de bem
sucedido. O homem daqui, seu conceito de felicidade é muito mais subjetivo:
ser feliz não é ter coisas; ser feliz é ser livre, não precisar de trabalhar. E,
mormente, não trabalhar obrigado. Trabalhar à vontade do corpo, quando há
necessidade inadiável. Tipicamente, os três dias de jornal por semana que o
morador deve a fazenda, segundo o costume, são chamados “a sujeição”. O
melhor patrão do mundo não é o que paga mais, é o que não exige sujeição.
E a situação de meeiro é considerada ideal, não porque permita um maior
desafogo econômico – o que nem sempre acontece – mas sim porque meeiro
não é sujeito.
(Rached de Queiroz. Cem crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: J. Olympio
Editora, 1989. p. 216)

Quanto mais engenhocas mecânicas possuir, mais feliz se presume.


Na frase acima há uma relação de:
a) condição
b) proporcionalidade
c) temporalidade
d) causalidade
e) finalidade
Questão 12)
Texto

Quando estou, quando estou apaixonado


tão fora de mim eu vivo
que nem sei se vivo ou morto
quando estou apaixonado.

Não pode a fera comigo


quando estou, quando estou apaixonado,
mas me derrota a formiga
se é que estou apaixonado.

www.projetoredacao.com.br
Estarei, quem, e entende, apaixonado
neste arco de danação?
Ou é a morta paixão
que em deixa, que me deixa neste estado?
(Carlos Drummond de Andrade)

Assinale a opção em que se encontra exemplo de elipse.


a) “tão fora de mim eu vivo” (v. 2)
b) “que nem sei se vivo ou morto” (v. 3)
c) “Não pode a fera comigo” (v. 5)
d) “mas me derrota a formiga” (v. 7)
e) “Ou é a morta paixão” (v. 11)

Questão 13)
AMOR DE PERDIÇÃO

E Simão Botelha fugindo à claridade da luz e ao voejar das aves,


meditando, chorava e escrevia assim as suas meditações:
“O pão do trabalho de cada dia, e o teu seio para repousar uma hora a
face, pura de manchas: não pedi mais ao céu.
Ache-me homem aos dezesseis anos. Vi a virtude à luz do teu amor.
Cuidei que era santa a paixão que absorvia todas as outras, ou as depurava
com o seu fogo sagrado.
Nunca os meus pensamentos foram denegridos por um desejo que eu
não possa confessar alto diante de todo o mundo. Dize tu, Teresa, se os
meus lábios profanaram a pureza de teus ouvidos. Pergunta a Deus quando
quis eu fazer do meu amor o teu opróbrio.
Nunca, Teresa! Nunca, ó mundo que me condenas!
Se teu pai quisesse que eu me arrastasse a seus pés para te merecer,
beijar-lhos-ia. Se tu me mandasse morrer para te não privar de ser feliz com
outro homem, morreria, Teresa!”
in: CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de Perdição –A Brasileira de
Prazins. São Paulo:Difusão Européia do Livro, 1971, p. 151.

OS MAIAS

Mas Carlos vinha de lá enervado, amolecido, sentido, já na alma os


primeiros bocejos da sociedade. Havia três semanas apenas que aqueles
braços perfumados de verbena se tinham atirado ao seu pescoço – e agora,
pelo passeio de São Pedro de Alcântara, sob o ligeiro chuvisco que batia as
folhagens da alameda, ele ia pensando como se poderia desembaraçar da
sua tenacidade, do seu ardor, do seu peso… É que a condessa ia-se
tornando absurda com aquela determinação ansiosa e audaz de invadir toda
a sua vida, tomar nela o lugar mais largo e mais profundo – como se o
primeiro beijo trocado tivesse unido não só os lábios de ambos um momento,
mas os seus destinos também e para os olhos afogados numa ternura
suplicante: Se tu quisesses! que felizes que seríamos! que vida adorável!

www.projetoredacao.com.br
ambos sós!… E isto era claro – a condessa concebera a idéia extravagante
de fugir com ele, ir viver num sonho eterno de amor lírico, nalgum canto do
mundo, o mais longe possível da Rua de São João Marçal! Se tu quisesses!
Não, com mil demônios, não queria fugir com a sra. condessa de
Gouvarinho!…
in: QUEIRÓS, Eça de. Obras. Porto:Lello & Irmão – Editores, [s.d.], v. II, p. 210.

Em Amor de Perdição, quando Simão Botelho afirma “Dize tu, Teresa, se


os meus lábios profanaram a pureza de teus ouvidos.”, a palavra “lábios”,
que significa uma parte do seu corpo, é empregada para designar o próprio
Simão. Este recurso é denominado sinédoque. Baseado nesta informação,
releia o segundo período do fragmento de Os Maias e responda:
a) Encontre no mencionado período um exemplo de sinédoque e explique-
o.
b) Identifique, comprovando com elementos do próprio período, o
sentimento que Carlos revela em relação à condessa de Gouvarinho.

Questão 14)
Texto I

Quem somos nós, quem é cada um de nós senão uma combinatória de


experiências, de informações, de leituras, de imaginações? Cada vida é uma
enciclopédia, uma biblioteca, um inventário de objetos, uma amostragem de
estilos, onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas
as maneiras possíveis.
Ítalo Calvino

Texto II

Não há a possibilidade de existir um homem livre de todas as coerções


sociais. Isso não ocorre nem mesmo no interior do ser humano. Sabemos
que as normas sociais impõem até que desejos são admissíveis e que
desejos são inadmissíveis.
José Luiz Fiorin

Texto III

O inferno são os outros.


Jean Paul Sartre

Sobre o texto I é correto afirmar:


a) o segundo período estabelece com o primeiro uma relação de finalidade.
b) o segmento destacado equivale a: “cada um de nós é apenas uma
combinatória”.
c) o emprego do pronome nós indica distanciamento do falante em relação
ao enunciado.

www.projetoredacao.com.br
d) os complementos de combinatória constituem aspectos que contrariam
o sentido abrangente de enciclopédia.
e) a interrogação introduz dúvida para a qual o falante não propõe resposta.

Questão 15)
É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, como cidadãos
eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos
representantes no parlamento. Mas é igualmente verdade que a
possibilidade de ação democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar
do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o
seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a
única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua
pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder econômico, em particular à parte
dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo
com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum
a que, por definição, a democracia aspira.
Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo
verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos fatos, continuamos
a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e atuante, quando
dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os
inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica.
José Saramago

Assinale a alternativa que identifica corretamente o termo a que se refere a


palavra destacada.
a) acaba aí (linha 2)  a possibilidade de escolha do representante
b) não lhe agrade (linha 3)  o governo
c) pôr outro no seu lugar (linha 3)  o eleitor
d) aquele bem comum (linha 5)  o poder econômico
e) quando dela pouco mais nos resta (linha 8)  a nudez crua dos fatos
Questão 16)
Mote

Perdigão perdeu a pena,


Não há mal que lhe não venha.

Volta

Perdigão que o pensamento


Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.
Camões

www.projetoredacao.com.br
Considerando o sentido conotativo do texto, é correto afirmar que:
a) Camões defende os ideais mercantilistas do século XVI, exaltando o
poder ilimitado dos portugueses, aqui representado pela metáfora da ave
que Subiu a um alto lugar.
b) Camões, ao contrário do que fez em Os lusíadas, enaltece a busca de
fama e glória, prevendo um futuro glorioso para a pátria, o que se
comprova pelo sentido do último verso.
c) o poeta relativiza o valor da ambição desmesurada, representada pelo
ato do Perdigão, e confirma, assim, o ponto de vista crítico expresso na
obra épica Os lusíadas.
d) a visão de mundo renascentista tem como base ideológica os princípios
religiosos que condenam a busca de prazeres mundanos, por isso a ave
Ganha a pena do tormento.
e) Camões endossa o ideal da propagação da fé católica e do
expansionismo português, representados, no poema, pelo vôo heróico
do Perdigão.

Questão 17)
Portal do Assinante Estadão. Aqui não há visitantes, só gente de casa.

O Portal do Assinante Estadão é um lugar dedicado especialmente a você,


24 horas por dia, feito para as pessoas se sentirem em casa. Veja alguns
privilégios: entrega em dois endereços, transferência temporária, interrupção
de entrega, promoções exclusivas do Clube do Assinante, informações sobre
o jornal. Entre sem bater, fique à vontade e acesse. Afinal, a casa é sua.

No texto,
a) a expressão gente de casa poderia ser substituída, sem prejuízo do
sentido original, pela expressão “donos da casa”.
b) Afinal pode ser substituído, sem que haja alteração do sentido original,
por “finalmente”.
c) expressões utilizadas comumente para visitantes bem-vindos são
empregadas para transmitir os conteúdos de “aproximação”,
“familiaridade”.
d) Afinal pode ser substituído, sem que haja alteração do sentido original,
por “portanto”.
e) em feito para as pessoas se sentirem em casa, o termo as pessoas tem
como referência visitantes e assinantes, que, por sua vez, têm sentidos
opostos.

Questão 18)
Pela manhã Madalena trabalhava no escritório, mas à tarde saía a
passear, percorria as casas dos moradores. Garotos empalamados e
beiçudos agarravam-se à saia dela.
Foi à escola, criticou o método de ensino do Padilha e entrou a amolar-
me reclamando um globo, mapas, outros arreios que não menciono porque
não quero tomar o incômodo de examinar ali o arquivo.Um dia,

www.projetoredacao.com.br
distraidamente, ordenei a encomenda. Quando a fatura chegou, tremi. Um
buraco: seis contos de réis. Calculem. Contive-me porque tinha feito tenção
de evitar dissidências com minha mulher e porque imaginei mostrar aquelas
complicações ao governador quando ele aparecesse aqui. Em todo o caso
era despesa supérflua.
Graciliano Ramos, São Bernardo

Pela manhã Madalena trabalhava no escritório, mas à tarde saía a passear


Uma nova redação para a frase acima, que comece com “À tarde Madalena
saía a passear, ” e não prejudique nem o sentido original nem a correção,
deverá ter a seguinte continuidade:
a) se bem que pela manhã tinha trabalhado no escritório.
b) porém pela manhã trabalhou no escritório.
c) todavia pela manhã iria trabalhar no escritório.
d) embora pela manhã trabalhasse no escritório.
e) quando pela manhã costumava trabalhar no escritório.

Questão 19)
O major era pecador antigo, e no seu tempo fora daqueles de que se diz
que não deram o seu quinhão ao vigário: restava-lhe ainda hoje alguma
cousa que às vezes lhe recordava o passado: essa alguma cousa era a
Maria-Regalada que morava na prainha. Maria-Regalada fora no seu tempo
uma mocetona de truz, como vulgarmente se diz: era de um gênio
sobremaneira folgazão, vivia em contínua alegria, ria-se de tudo, e de cada
vez que se ria fazia-o por muito tempo e com muito gosto; daí é que vinha o
apelido – regalada – que haviam ajuntado a seu nome.
Isto de apelidos, era no tempo destas histórias uma cousa muito comum;
não estranhem pois os leitores que muitas das personagens que aqui figuram
tenham esse apêndice ao seu nome.
Obs.: de truz – de primeira ordem, magnífica
Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias

A frase que, no contexto, pode ser corretamente entendida como uma


conseqüência é:
a) (linha 02) essa alguma cousa era a Maria-Regalada.
b) (linha 02 e 03) Maria-Regalada fora no seu tempo uma mocetona de truz.
c) (linha 03) era de um gênio sobremaneira folgazão.
d) (linha 04) fazia-o por muito tempo e com muito gosto.
e) (linha 06) não estranhem pois os leitores.

Questão 20)

Compare o provérbio "Por fora bela viola, por dentro pão bolorento" com a
seguinte mensagem publicitária de um empreendimento imobiliário:

www.projetoredacao.com.br
Por fora as mais belas árvores. Por dentro a melhor planta.

a) Os recursos sonoros utilizados no provérbio mantêm-se na mensagem


publicitária? Justifique sua resposta.
b) Aponte o jogo de palavras que ocorre no texto publicitário, mas não no
provérbio.

Questão 21)
AS POMBAS

Vai-se a primeira pomba despertada...


Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada

E à tarde, quando a rígida nortada


Sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...

Também dos corações onde abotoam,


Os sonhos, um por um, céleres voam
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,


Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam
E eles aos corações não voltam mais...
(Raimundo Correia)

Pobre é a rima que se processa entre palavras da mesma classe gramatical,


tal qual esta:
a) despertada / madrugada
b) dezenas / apenas
c) nortada / revoada
d) serenas / penas
e) pombais / mais

Questão 22)

Observe as frases que seguem:

1. Ela também sofrera muito com a morte do pai.


2. Os suspeitos do crime eram três, aliás, quatro.
3. Era eu mesmo que queria deixar o cargo que ocupava.
4. Assistiram ao espetáculo cerca de 50 mil espectadores.

Os termos assinalados em negrito denotam, respectivamente:

www.projetoredacao.com.br
a) inclusão, retificação, reforço, avaliação;
b) reforço, inclusão, avaliação, retificação;
c) inclusão, avaliação, retificação, reforço;
d) avaliação, reforço, retificação, inclusão;
e) retificação, avaliação, inclusão, reforço.

Questão 23)
Leia os quadrinhos.

(www.gilmaronline.zip.net. Adaptado.)

O elemento-surpresa da história é explorado por meio de


a) sequência de verbos no futuro do presente, formando uma gradação.
b) ambiguidades, decorrentes do emprego de pronomes demonstrativos.
c) frases cujos sujeitos não podem ser recuperados pelo contexto.
d) elipses dos complementos verbais e emprego de termos de sentido
vago.
e) reiteração de palavras de sentido negativo, para reforçar a recusa do
pedido.

Questão 24)
O parágrafo reproduzido abaixo introduz a crônica intitulada Tragédia
concretista, de Luís Martins.

1
O poeta concretista acordou inspirado. Sonhara a noite toda com a
namorada. E pensou: lábio, lábia. O 2lábio em que pensou era o da
namorada, a lábia era a própria. Em todo o caso, na pior das hipóteses, já
tinha 3um bom começo de poema. Todavia, cada vez mais obcecado pela
lembrança daqueles lábios, achou que 4podia aproveitar a sua lábia e,
provisoriamente desinteressado da poesia pura, resolveu telefonar à criatura
5
amada, na esperança de maiores intimidades e vantagens. Até os poetas
concretistas podem ser homens 6práticos.
(Luís Martins, Tragédia concretista, em As cem melhores
crônicas brasileiras. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, p. 132.)

www.projetoredacao.com.br
a) Compare lábio e lábia quanto à forma e ao significado. Considerando a
especificidade do poeta, justifique a ocorrência dessas duas palavras
dentro da crônica.
b) Explique por que a palavra todavia (ref. 3) é usada para introduzir um
dos enunciados da crônica.

Questão 25)

(www.uol.com.br, acesso em 30/08/2011)

A alternativa que corrige a falha de paralelismo gramatical existente na


manchete, mantendo o mesmo sentido, é:

a) Presidente do UFC prevê abertura de escritório no Brasil e fazer evento


na Rocinha.
b) Presidente do UFC prevê que escritório seja aberto no Brasil e evento
na Rocinha.
c) Presidente do UFC prevê que abertura de escritório no Brasil crie evento
na Rocinha.
d) Presidente do UFC prevê abrir escritório no Brasil e realizar evento na
Rocinha.
e) Presidente do UFC prevê escritório no Brasil ou evento na Rocinha.

Questão 26)
Leia o fragmento a seguir.

“Quando saí do tribunal, vim pensando na frase do Lopes, e pareceu-me


entendê-la. ‘Suje-se gordo!’ era como se dissesse que o condenado era mais
que ladrão, era um ladrão reles, um ladrão de nada.”
ASSIS, Machado. Relíquias de Casa Velha.

Em “...vim pensando...”, quanto ao aspecto verbal, a expressão é uma


perífrase

a) incoativa.
b) durativa.
c) pontual.
d) descontínua.
e) conclusiva.

www.projetoredacao.com.br
Questão 27)
Considerando os pares de frases a seguir, avalie em que casos a informação
em (a) permite afirmar (b).

1. a) Em 01 de setembro de 2012, a cidade de São Paulo registrou a tarde


mais quente do inverno.
b) A tarde de 01 de setembro foi a mais quente do ano na cidade de São
Paulo.
2. a) A música dita “sertanejo universitário” visa às classes A e B, enquanto
as demais variedades sertanejas visam às camadas mais populares.
b) A música conhecida como “sertanejo universitário”, ao contrário das
demais variedades sertanejas, não visa às camadas populares.
3. a) Apesar de trabalharem juntos, a relação entre o técnico e o goleiro foi
pautada por uma desconfiança recíproca.
b) Tanto o técnico quanto o goleiro tinham restrições mútuas.

Atende(m) à condição acima estabelecida o(s) item(ns):

a) 1 apenas.
b) 2 apenas.
c) 3 apenas.
d) 1 e 3 apenas.
e) 2 e 3 apenas.

Questão 28)
Aquela olhadinha despretensiosa no Facebook pode consumir horas de
trabalho. Segundo uma pesquisa divulgada recentemente, 62% das pessoas
admitem que navegar na internet faz com que elas procrastinem (...).
Na pesquisa, 71% dos entrevistados disseram deixar tudo para a última hora.
"Eles reclamam de falta de tempo, mas perdem tempo em redes sociais", diz
Barbosa.
A internet não é a única culpada, mas é como se ela juntasse a fome com a
vontade de comer: a preguiça com a oferta de algo divertido que exige pouco
esforço. "Procrastinação sempre existiu, mas antigamente não tinha Skype
e Facebook. Hoje a luta é mais severa, há mais coisas para nos sabotar",
afirma Barbosa.
(http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1124603-internet-e-a-
maior-causa-de-procrastinacao-diz-estudo.shtml)

O termo “procrastinem”, empregado no primeiro parágrafo, tem significado


novamente explorado no texto em

a) “navegar na internet”.
b) “deixar tudo para a última hora”.
c) “juntasse a fome com a vontade de comer”.
d) “a luta é mais severa”.
e) “coisas para nos sabotar”.

www.projetoredacao.com.br
Questão 29)
Observe com atenção a comunicação entre os dois falantes na tirinha
abaixo.

DAVIS, Jim. Garfield em grande forma. Porto Alegre: L&PM, 2011.

Na tirinha, o efeito de humor é gerado pela não convergência semântica


conferida ao significante ele pelos dois falantes, uma vez que
a) o segundo interlocutor não estava atento à situação comunicativa, o que
gerou a falha na comunicação.
b) ele, por ser uma palavra polissêmica, sempre necessitará do sujeito
explicitado no texto.
c) há no texto uma indeterminação do sujeito, o que gera ambiguidade.
d) se trata de uma palavra homônima, gerando ambiguidade sintática.
e) em 3ª pessoa, o vocábulo ele, no contexto dessa frase, provoca
ambiguidade.
Questão 30)
ASA BRANCA
(Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira)

Quando "oiei" a terra ardendo


Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação

Que braseiro, que fornaia


Nem um pé de "prantação"
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão

Por farta d'água perdi meu gado


Morreu de sede meu alazão

Inté mesmo a asa branca


Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
"Intonce" eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração

www.projetoredacao.com.br
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão

Espero a chuva cair de novo


Pra mim vortar pro meu sertão

Quando o verde dos teus "óio"


Se "espaiar" na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração

Eu te asseguro não chore não, viu


Que eu vortarei, viu
Meu coração.
(Disponível em: < http://letras.mus.br/luiz-gonzaga/47081/ > Acesso em:
08/11/2012.

Assim como “prantação”, no 2º verso e 3ª estrofe da canção de Luiz


Gonzaga, outras palavras da língua portuguesa, como, por exemplo,
“ingrês”, “pubricar”, “pranta” “frauta”, “frecha”, são pronunciadas por falantes
que não tiveram acesso à norma culta dentro de uma variação linguística
considerada não padrão.
Todavia, na história da formação da língua portuguesa já foram consideradas
como pronúncias corretas.
Assinale a opção que nomeia esse fenômeno fonético que contribuiu para a
formação da própria língua portuguesa.

a) Dislexia
b) Rotacismo
c) Vícios de linguagem
d) Provincianismo
e) Palatalização

Questão 31)
Na última década, os sites de comércio eletrônico têm alterado preços com
base em seus hábitos na Web e atributos pessoais. Qual é a sua situação
geográfica e seu histórico de compras? Como você chegou ao site de
comércio eletrônico? Em que momentos do dia você o visita? Toda uma
literatura emergiu sobre ética, legalidade e promessas econômicas de
otimização de preços. E o campo está avançando rapidamente: em setembro
passado, o Google recebeu a patente de uma tecnologia que permite que
uma companhia precifique de forma dinâmica o conteúdo eletrônico. Pode,
por exemplo, subir o preço de um livro eletrônico se determinar que você tem
mais chances de comprar aquele item em particular do que um usuário

www.projetoredacao.com.br
médio; ao contrário, pode ajustar o preço para baixo como um incentivo se
julgar que é menos provável que você o compre. E você não saberá que está
pagando mais do que outros exatamente pelo mesmo produto.
(Michael Fertik, Um conto de duas internets. Scientific American Brasil,
São Paulo, março 2013, p. 18.)

a) Considerando as informações presentes no trecho, explique o sentido de


“precificar”.
b) Substitua os dois conectivos “se” sublinhados, fazendo as adaptações
gramaticais necessárias e mantendo o nível de formalidade do período.

Questão 32)
O CAVALO QUE BEBIA CERVEJA

“[...] Seo Priscílio apareceu, falou com seo Giovânio: se que estórias
seriam aquelas, de um cavalo beber cerveja? Apurava com ele, apertava.
Seo Giovânio permanecia muito cansado, sacudia devagar a cabeça,
fungando o escorrido do nariz, até o toco do charuto; mas não fez mau rosto
ao outro. Passou muito a mão na testa: - “Lei, quer ver?” Saiu, para surgir
com um cesto com as garrafas cheias, e uma gamela, nela despejou tudo,
às espumas. Me mandou buscar o cavalo: o alazão canela-clara, bela face.
O qual – era de se dar a fé? – Já avançou, avispado, de atreitas orelhas,
arredondando as ventas, se lambendo: e grosso bebeu o rumor daquilo,
gostado, até o fundo; a gente vendo que ele já era manhudo, cevado naquilo!
Quando era que tinha sido ensinado, possível? Pois, o cavalo ainda queria
mais e mais cerveja. Seo Priscílio se vexava, no que agradeceu e se foi. Meu
patrão assoviou de esguicho, olhou para mim: - “Irivalíni, que estes tempos
vão cambiando mal. Não laxa as armas!” Aproveitei. Sorri de que ele tivesse
as todas manhas e patranhas. Mesmo assim, meio me desgostava”.

(ROSA, João Guimarães. O cavalo que bebia cerveja”. In:______.


Primeiras estórias. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p. 145).

Guimarães Rosa, na sua obra, revela a necessidade de revitalizar o


homem, por meio de uma estrutura linguística autêntica, promovendo,
sobretudo, uma revolução instrumental: a revolução estilística. Esse é um
ponto de vista apontado pelos críticos Afrânio Coutinho e Eduardo Coutinho,
no livro A Literatura no Brasil, volume 4, publicado pela editora de São Paulo
em 2004. Nessa perspectiva, marque a alternativa que identifica, nos dois
trechos, essa revolução estilística, pela desconstrução da linguagem no
conto “O cavalo que bebia cerveja”:

a) Seo Giovânio permanecia muito cansado, sacudia devagar a cabeça /


Saiu, para surgir com um cesto com as garrafas cheias.
b) Saiu, para surgir com um cesto com as garrafas cheias / Me mandou
buscar o cavalo.

www.projetoredacao.com.br
c) A gente vendo que ele já era manhudo, cevado naquilo! / Seo Giovânio
permanecia muito cansado, sacudia devagar a cabeça.
d) Seo Giovânio permanecia muito cansado, sacudia devagar a cabeça /
Pois, o cavalo ainda queria mais e mais cerveja.
e) Me mandou buscar o cavalo / A gente vendo que ele já era manhudo,
cevado naquilo!

Questão 33)
O fragmento a seguir refere-se ao personagem Joaquim dos Anjos, do livro
Clara dos Anjos, de Lima Barreto.

O seu saber musical era fraco; adivinhava mais do que empregava noções
teóricas que tivesse estudado. Aprendeu a "artinha" musical na terra do seu
nascimento, nos arredores de Diamantina, em cujas festas de igreja a sua
flauta brilhara, e era tido por muitos como o primeiro flautista do lugar.
Embora gozando desta fama animadora, nunca quis ampliar os seus
conhecimentos musicais. Ficara na "artinha" de Francisco Manuel, que sabia
de cor; mas não saíra dela, para ir além. (BARRETO, Lima. Clara dos Anjos,
ano, p. 60.)

Após a leitura, assinale a alternativa INCORRETA.

a) O uso do diminutivo “artinha” expressa entonação preconceituosa do


narrador em relação ao instrumento da flauta e das músicas executadas
pelo personagem.
b) O uso do diminutivo “artinha” revela o caráter popular da música
praticada pelo personagem, sem intenção de degradá-la.
c) O uso do diminutivo “artinha”, grafado entre aspas, explicita a
consciência linguística do narrador, que opta pelo registro popular para
dar mais autenticidade a seu relato.
d) O uso do diminutivo “artinha” revela concomitantemente entonações
irônicas e afetivas na expressão narrativa de Lima Barreto.

Questão 34)

“Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas


mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras,
em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-
alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio.”

Carlos Drummond de Andrade

Sobre as relações semânticas estabelecidas entre alguns segmentos do


texto, analise as assertivas abaixo.

www.projetoredacao.com.br
I. Em “Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas
mimosas e muito prendadas”, a conjunção “e” apresenta a causa e a
consequência de um fenômeno.
II. Embora o conectivo “mas” funcione, na maioria das vezes, para
adicionar uma relação de oposição, nesse caso, traduz em “mas ficavam
longos meses debaixo do balaio.”, – esse conectivo pode ser substituído
por “uma vez que”.
III. O trecho “Os janotas, mesmo sendo rapagões” traduz uma referência de
concessão.

É correto o que se afirma em

a) I, II e III.
b) II e III, apenas.
c) II, apenas.
d) III, apenas.
e) I, apenas.

Questão 35)
Leia os textos a seguir.

E nunca realizei nada na vida.


Sempre a inferioridade me tolheu.
E foi assim, sem luta, que acomodei
na mediocridade de meu destino.
CORALINA, Cora. Poemas dos becos de Goiás e histórias mais.
Goiânia: UFG, 1980. p. 157.

Não te deixes destruir...


Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
CORALINA, Cora. Vintém de cobre
: meias confissões de Aninha Goiânia: UFG, 1985. p. 139.

A poética de Cora Coralina é acentuadamente autobiográfica. Nestes dois


fragmentos, ao falar de certos contornos de sua própria vida, a escritora
apresenta a si mesma de forma contraditória, ora marcada por resignação
(primeiro poema), ora marcada pelo desafio (segundo poema).

Essa contradição pode ser identificada a partir dos seguintes recursos


linguísticos:

www.projetoredacao.com.br
a) presença de períodos simples (primeiro poema) e de períodos
compostos por subordinação (segundo poema).
b) uso da 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito (primeiro poema) e da
2ª pessoa do singular do imperativo (segundo poema).
c) predominância de frases afirmativas (primeiro poema) e de frases
negativas (segundo poema).
d) emprego de advérbios de negação (primeiro poema) e de advérbios de
tempo (segundo poema).

Questão 36)
Labaredas nas trevas
Fragmentos do diário secreto de
Teodor Konrad Nalecz Korzeniowski

20 DE JULHO [1912]

Peter Sumerville pede-me que escreva um artigo sobre Crane. Envio-lhe


uma carta: “Acredite-me, prezado senhor, nenhum jornal ou revista se
interessaria por qualquer coisa que eu, ou outra pessoa, escrevesse sobre
Stephen Crane. Ririam da sugestão. […] Dificilmente encontro alguém,
agora, que saiba que é Stephen Crane ou lembre-se de algo dele. Para os
jovens escritores que estão surgindo ele simplesmente não existe.”

20 DE DEZEMBRO [1919]

Muito peixe foi embrulhado pelas folhas de jornal. Sou reconhecido como o
maior escritor vivo da língua inglesa. Já se passaram dezenove anos desde
que Crane morreu, mas eu não o esqueço. E parece que outros também não.
The London Mercury resolveu celebrar os vinte e cinco anos de publicação
de um livro que, segundo eles, foi “um fenômeno hoje esquecido” e me
pediram um artigo.
FONSECA, R. Romance negro e outras histórias.
São Paulo: Companhia das Letras, 1992 (fragmento).

Na construção de textos literários, os autores recorrem com frequência a


expressões metafóricas. Ao empregar o enunciado metafórico “Muito peixe
foi embrulhado pelas folhas de jornal”, pretendeu-se estabelecer, entre os
dois fragmentos do texto em questão, uma relação semântica de

a) causalidade, segundo a qual se relacionam as partes de um texto, em


que uma contém a causa e a outra, a consequência
b) temporalidade, segundo a qual se articulam as partes de um texto,
situando no tempo o que é relatado nas partes em questão.
c) condicionalidade, segundo a qual se combinam duas partes de um texto,
em que uma resulta ou depende de circunstâncias apresentadas na
outra.

www.projetoredacao.com.br
d) adversidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em
que uma apresenta uma orientação argumentativa distinta e oposta à
outra.
e) finalidade, segundo a qual se articulam duas partes de um texto em que
uma apresenta o meio, por exemplo, para uma ação e a outra, o
desfecho da mesma.

Questão 37)
Tarefa
Morder o fruto amargo e não cuspir
Mas avisar aos outros quanto é amargo
Cumprir o trato injusto e não falhar
Mas avisar aos outros quanto é injusto
Sofrer o esquema falso e não ceder
Mas avisar aos outros quanto é falso
Dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a não pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.
CAMPOS, G. Tarefa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.

Na organização do poema, os empregos da conjunção “mas” articulam, para


além de sua função sintática,

a) a ligação entre verbos semanticamente semelhantes.


b) a oposição entre ações aparentemente inconciliáveis.
c) a introdução do argumento mais forte de uma sequência.
d) o reforço da causa apresentada no enunciado introdutório.
e) a intensidade dos problemas sociais presentes no mundo.

Questão 38)
DIGA NÃO AO NÃO

Quem disse que alguma coisa é impossível?


Olhe ao redor. O mundo está cheio de coisas que, segundo os pessimistas,
nunca teriam acontecido.
“Impossível.”
“Impraticável.”
“Não”.
E ainda assim, sim
Sim, Santos Dumont foi o primeiro homem a decolar a bordo de um avião,
impulsionado por um motor aeronáutico.
Sim, Visconde de Mauá, um dos maiores empreendedores do Brasil,
inaugurou a primeira rodovia pavimentada do país.
Sim, a SXY Brasil também inovou no país.
Abasteceu o primeiro voo comercial brasileiro.

www.projetoredacao.com.br
Foi a primeira empresa privada a produzir petróleo na Bacia de Campos.
Desenvolveu um óleo combustível mais limpo, o OC Plus.
O que é necessário para transformar o não em sim?
Curiosidade. Mente aberta. Vontade de arriscar.
E quando o problema parece insolúvel, quando o desafio é muito duro, dizer:
vamos lá.

Soluções de energia para um mundo real.


Jornal da ABI, Órgão Oficial da Associação
Brasileira de Imprensa, n.º 336, dezembro de
2008, p. 4. (adaptado).

O autor do texto utiliza, como recurso evidente para a progressão temática,

a) as relações de tempo estabelecidas entre as informações apresentadas.


b) a apresentação de diversos efeitos dos fatos elencados.
c) a repetição do advérbio de afirmação “sim” articulando as informações.
d) as relações de causa estabelecidas entre as informações apresentadas.
e) o estabelecimento de relações de condição entre as informações do
texto.

Questão 39)

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter
outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se
acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se
acostuma a não abrir todas as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo
se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma,
esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

COLASANTI, M. Eu sei, mas não devia. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

A progressão é garantida nos textos por determinados recursos linguísticos,


e pela conexão entre esses recursos e as ideias que eles expressam. Na
crônica, a continuidade textual é construída, predominantemente, por meio

a) do emprego de vocabulário rebuscado, possibilitando a elegância do


raciocínio.
b) da repetição de estruturas, garantindo o paralelismo sintático e de ideias.
c) da apresentação de argumentos lógicos, constituindo blocos textuais
independentes.
d) da ordenação de orações justapostas, dispondo as informações de modo
paralelo.
e) da estruturação de frases ambíguas, construindo efeitos de sentido
opostos.

www.projetoredacao.com.br
Questão 40)
Não há crenças que Nelson Leirner não destrua. Do dinheiro à religião,
do esporte à fé na arte, nada resiste ao deboche desse iconoclasta. O
principal mérito da retrospectiva aberta em setembro na Galeria do SESI-SP
é justamente demonstrar que as provocações arquitetadas durante as
últimas cinco décadas pelo artista quase octogenário continuam vigorosas.
Bravo, n. 170, out. 2011 (adaptado).

Um dos elementos importantes na constituição do texto é o desenvolvimento


do tema por meio, por exemplo, do encadeamento de palavras em seu
interior. A clareza do tema garante ao autor que seus objetivos — narrar,
descrever, informar, argumentar, opinar — sejam atingidos. No parágrafo do
artigo informativo, os termos em negrito

a) evitam a repetição de termos por meio do emprego de sinônimos.


b) fazem referências a outros artistas que trabalham com Nelson Leirner.
c) estabelecem relação entre traços da personalidade do artista e suas
obras.
d) garantem a progressão temática do texto pelo uso de formas nominais
diferentes.
e) introduzem elementos novos, que marcam mudança na direção
argumentativa do texto.

Questão 41)
O bonde abre a viagem,
No banco ninguém,
Estou só, stou sem.
Depois sobe um homem,
No banco sentou,
Companheiro vou.
O bonde está cheio,
De novo porém
Não sou mais ninguém.
ANDRADE, M. Poesias completas. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.

Em um texto literário, é comum que os recursos poéticos e linguísticos


participem do significado do texto, isto é, forma e conteúdo se relacionam
significativamente. Com relação ao poema de Mário de Andrade, a
correlação entre um recurso formal e um aspecto da significação do texto é

a) a sucessão de orações coordenadas, que remete à sucessão de cenas


e emoções sentidas pelo eu lírico ao longo da viagem.
b) a elisão dos verbos, recurso estilístico constante no poema, que acentua
o ritmo acelerado da modernidade.
c) o emprego de versos curtos e irregulares em sua métrica, que
reproduzem uma viagem de bonde, com suas paradas e retomadas de
movimento.

www.projetoredacao.com.br
d) a sonoridade do poema, carregada de sons nasais, que representa a
tristeza do eu lírico ao longo de toda a viagem.
e) a ausência de rima nos versos, recurso muito utilizado pelos
modernistas, que aproxima a linguagem do poema da linguagem
cotidiana.

TEXTO: 1 - Comum à questão: 42

Morte e Vida Severina

O meu nome é Severino


não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,

www.projetoredacao.com.br
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença é que a morte severina ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
Somos muitos Severinos
Iguais em tudo e na sina:
a de abrandar estas pedras
suando-se muito em cima,
a de tentar despertar
terra sempre mais extinta,
a de querer arrancar
algum roçado da cinza.
Mas, para que me conheçam
melhor Vossas Senhorias
e melhor possam seguir
a história da minha vida,
passo a ser o Severino
que em vossa presença emigra.

(João Cabral M. Neto – Morte e Vida Severina – Ed. Nova. Fronteira – 1997
– adaptado)

Questão 42)

Elipse é um recurso de coesão textual que consiste na omissão de um termo


anteriormente mencionado. Assinale a passagem do texto em que o autor
não utilizou este recurso.

a) não tenho outro de pia.


b) fique sendo o da Maria.
c) há muitos na freguesia.
d) e que foi o mais antigo.
e) a de abrandar estas pedras.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 2 - Comum à questão: 43

Declaração

Devia começar, como o sabe de cor e salteado a maioria dos leitores, que
é sem dúvida nenhuma muito entendida na matéria, por uma declaração em
forma.
Mas em amor, assim como em tudo, a primeira saída é o mais difícil.
Todas as vezes que esta idéia vinha à cabeça do pobre rapaz, passava-lhe
uma nuvem escura por diante dos olhos e banhava-se-lhe o corpo em suor.
Muitas semanas levou a compor, a estudar o que havia de dizer a Luizinha
quando aparecesse o momento decisivo. Achava com facilidade milhares de
idéias brilhantes: porém, mal tinha assentado em que diria isto ou aquilo, já
isto ou aquilo lhe não parecia bom. Por várias vezes, tivera ocasião favorável
para desempenhar a sua tarefa, pois estivera a sós com Luizinha; porém,
nessas ocasiões, nada havia que pudesse vencer um tremor nas pernas que
se apoderava dele, e que não lhe permitia levantar-se do lugar onde estava,
e um engasgo que lhe sobrevinha, e que o impedia de articular uma só
palavra. Enfim, depois de muitas lutas consigo mesmo para vencer o
acanhamento, tomou um dia a resolução de acabar com o medo, dizer-lhe a
primeira coisa que lhe viesse à boca.
Luizinha estava no vão de uma janela a espiar para a rua pela rótula:
Leonardo aproximou-se tremendo, pé ante pé, parou e ficou imóvel como
uma estátua atrás dela que, entretida para fora, de nada tinha dado fé. Esteve
assim por longo tempo calculando se devia falar em pé ou se devia ajoelhar-
se. Depois fez um movimento como se quisesse tocar no ombro de Luizinha,
mas retirou depressa a mão. Pareceu-lhe que por aí não ia bem; quis antes
puxar-lhe pelo vestido, e ia já levantando a mão quando também se
arrependeu. Durante todos esses movimentos o pobre rapaz suava a não
poder mais. Enfim, um incidente veio tirá-lo da dificuldade.
Ouvindo passos no corredor, entendeu que alguém se aproximava, e
tomado de terror por se ver apanhado naquela posição, deu repentinamente
dois passos para trás, e soltou um – ah! – muito engasgado. Luizinha,
voltando-se, deu com ele diante de si, e recuando espremeu-se de costas
contra a rótula: veio-lhe também outro - ah! – porém não lhe passou da
garganta e conseguiu apenas fazer uma careta.
A bulha dos passos cessou sem que ninguém chegasse à sala; os dois
levaram algum tempo naquela mesma posição, até que Leonardo, por um
supremo esforço, rompeu o silêncio, e com voz trêmula e em tom o mais sem
graça que se possa imaginar perguntou desenxabidamente:

- A senhora... sabe...uma coisa?


E riu-se com uma risada forçada, pálida e tola.
Luizinha não respondeu. Ele repetiu no mesmo tom:
- Então... a senhora... sabe ou... não sabe?
E tornou a rir-se do mesmo modo. Luizinha conservou-se muda.
- A senhora bem sabe...é porque não quer dizer...

www.projetoredacao.com.br
Nada de resposta.
- Se a senhora não ficasse zangada ... eu dizia ...
Silêncio.
- Está bom ... Eu digo sempre... mas a senhora fica ou não fica zangada?
Luizinha fez um gesto de quem estava impacientada.
- Pois então eu digo ... a senhora não sabe ... eu...eu lhe quero ... muito
bem...

Luizinha fez-se cor de uma cereja; e fazendo meia volta à direita, foi dando
as costas ao Leonardo e caminhando pelo corredor. Era tempo, pois alguém
se aproximava.
Leonardo viu-a ir-se, um pouco estupefato pela resposta que ela lhe dera,
porém, não de todo descontente: seu olhar de amante percebera que o que
se acabava de passar não tinha sido totalmente desagradável a Luizinha.
Quando ela desapareceu, soltou o rapaz um suspiro de desabafo e
assentou-se, pois se achava tão fatigado como se tivesse acabado de lutar
braço a braço com um gigante.
Manuel Antônio de Almeida. Memórias de um Sargento de Milícias

Questão 43)

O vocábulo “Enfim”, utilizado na última frase do segundo parágrafo,


apresenta valor semântico:

a) conclusivo.
b) explicativo.
c) concessivo.
d) contrastivo .
e) comparativo.

TEXTO: 3 - Comum à questão: 44

I.

Esta terra, Senhor, parece-me que, da ponta que mais contra o sul
vimos, até outra ponta que contra o norte vem, de que nós deste ponto
temos vista, será tamanha que haverá nela bem vinte ou vinte e cinco
léguas por costa. Tem, ao longo do mar, em algumas partes, grandes
barreiras, algumas vermelhas, outras brancas; e a terra por cima é toda
5
chã e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é tudo praia
redonda, muito chã e muito formosa.
Pelo sertão nos pareceu, vista do mar, muito grande, porque a
estender d´olhos não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos
parecia muito longa.
[...]

www.projetoredacao.com.br
As águas são muitas e infindas. E em tal maneira é graciosa que,
querendo 10aproveitá-la, tudo dará nela, por causa das águas que tem.
Porém, o melhor fruto que dela se pode tirar me parece que será salvar
esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela
deve lançar.
CASTRO, Silvio. A carta de Pero Vaz de Caminha. Porto Alegre: L&PM,
1996. p.97-98.

II.
–– Em toda a parte –– não acha, meu padrinho? –– há terras férteis.
Mas como no Brasil, apressou-se ele em dizer, há poucos países que as
tenham.
Vou fazer o que tu dizes: plantar, criar, cultivar o milho, o feijão, a batata
inglesa... Tu irás ver as minhas culturas, a minha horta, o meu pomar ––
então é que te convencerás como 5são fecundas as nossas terras!
A idéia caiu-lhe na cabeça e germinou logo. O terreno estava
amanhado e só esperava uma boa semente.
[...]
As primeiras semanas que passou no “Sossego”, Quaresma as
empregou numa exploração em regra da sua nova propriedade. Havia
nela terra bastante, velhas árvores 10frutíferas, um capoeirão grosso com
camarás, bacurubus, tinguacibas, tibibuias, monjolos, e outros
espécimes. Anastácio que o acompanhara, apelava para as suas
recordações de antigo escravo de fazenda, e era quem ensinava os
nomes dos indivíduos da mata a Quaresma muito lido e sabido em coisas
brasileiras.
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Ática,
1996. p. 74-76.

Questão 44)
Analise o jogo semântico, ou seja, a polissemia que se verifica no emprego
da palavra “semente” (I, l. 12) em comparação com “semente” (II, l. 7),
identificando, qual o sentido em que essa palavra foi usada em cada caso.

TEXTO: 4 - Comum à questão: 45

TEXTO I

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu
Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que
a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no
bosque como seu hálito perfumado.

www.projetoredacao.com.br
Mais rápida que a corça selvagem, a morena virgem corria o sertão e as
matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara.
O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a
terra com as primeiras águas.
Um dia, ao pino do Sol, ela repousava em um claro da floresta. Banhava-lhe
o corpo a sombra da oiticica, mais fresca do que o orvalho da noite. Os ramos
da acácia silvestre esparziam flores sobre os úmidos cabelos. Escondidos na
folhagem os pássaros ameigavam o canto.
(ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Ática, 1994, cap 2.)

TEXTO II

(Iracema voou)

Iracema voou
Para a América
Leva roupa de lã
E anda lépida
Vê um filme de quando em vez
Não domina o idioma inglês
Lava chão numa casa de chá

Tem saído ao luar


Com um mímico
Ambiciona estudar
Canto lírico
Não dá mole pra polícia
Se puder, vai ficando por lá
Tem saudades do Ceará
Mas não muita
Uns dias, afoita,
Me liga a cobrar:
− É Iracema da América.
(HOLANDA, F. Buarque. As cidades. Rio de Janeiro: BMG, 1998.)

Questão 45)
Os recursos expressivos utilizados em um texto contribuem para a
construção dos sentidos. Em relação aos recursos fonéticos do texto I,
assinale a afirmativa correta.
a) A ocorrência exclusiva de fonemas sonoros em Mais rápida que a corça
selvagem contraria a idéia de velocidade que Alencar quis imprimir à ação
da personagem.
b) Na expressão lábios de mel, a utilização de recursos sonoros abertos,
tônicos e orais cria idéia de sensualidade com valor negativo.
c) A noção de valentia em guerreira tribo, da grande nação tabajara. é
ressaltada pela predominância de fonemas vibrantes.

www.projetoredacao.com.br
d) A idéia de distância espacial em Além, muito além é enfatizada pelo
alongamento dos fonemas nasais.
e) Em Um dia, ao pino do sol, a repetição do fonema tônico e fechado /i/
sugere pausa forte como é forte o calor do sol.

TEXTO: 5 - Comum à questão: 46

Olho as minhas mãos

Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas


Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las
Assim, lentamente, como essas anêmonas do
fundo do mar...
Fechá-las, de repente,
5
Os dedos como pétalas carnívoras!
Só apanho, porém, com elas, esse alimento
impalpável do tempo,
Que me sustenta, e mata, e que vai secretando
o pensamento
Como tecem as teias as aranhas.
A que mundo
10
Pertenço?
No mundo há pedras, baobás1 , panteras,
Águas cantarolantes, o vento ventando
E no alto as nuvens improvisando sem cessar.
Mas nada, disso tudo, diz: “existo”.
15
Porque apenas existem...
Enquanto isto,
O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses
E, cheios de esperança e medo,
Oficiamos rituais, inventamos
20
Palavras mágicas,
Fazemos
Poemas, pobres poemas
Que o vento
Mistura, confunde e dispersa no ar...
25
Nem na estrela do céu nem na estrela do mar
Foi este o fim da Criação!
Mas, então,
Quem urde eternamente a trama de tão velhos
sonhos?
Quem faz – em mim – esta interrogação?

(QUINTANA, Mário. Apontamentos de história sobrenatural. Porto Alegre:


Globo, 1984.)

www.projetoredacao.com.br
Questão 46)
Além de funcionar como elemento de ligação entre termos de mesmo valor,
o conectivo e foi utilizado no texto, algumas vezes, para exprimir o efeito de
aceleração contínua.
Esse conectivo foi empregado para produzir tal efeito em:
a) “Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento” (v. 7)
b) “E no alto as nuvens improvisando sem cessar.” (v. 13)
c) “E, cheios de esperança e medo,” (v. 18)
d) “Mistura, confunde e dispersa no ar...” (v. 24)

TEXTO: 6 - Comum à questão: 47

Quase-noite

01
Chegava aquele momento em que a tarde parecia neutra – não
pertencendo a tempo algum. As 02andorinhas haviam se recolhido à fresta
das telhas depois de terem sobrevoado a cidade o dia inteiro. 03Os gritos das
crianças em ruas bem distantes agora eram ouvidos como em um sonho –
ecoavam talvez 04de tempos longínquos... vozes que, com certeza, nem mais
existiam.
05
Do pomar da casa-grande já não se avistava o sol, que havia pouco
sumira atrás do casarão ao 06lado. As plantas iam sendo banhadas por uma
luz amarela, quase noite... e as coisas foram adquirindo 07um formato
estranho, um ritmo lento: como se não fosse somente hoje, mas todos os dias
de todos os 08tempos... naquela hora morta da tarde.
09
O relógio preparava-se para anunciar a hora do Ângelus. Um rádio triste,
perdido em algum 10quintal da vizinhança, logo mais tocaria a Ave-Maria,
espalhando por todas as casas um ar grave, de 11paz e medo. A velha
senhora, nesse momento, largaria o tricô sobre a cadeira e pensaria nos
filhos 12distantes, quando eles ainda brincavam entre as árvores do quintal.
Recordaria inutilmente o marido, 13mesmo sabendo que depois sempre
vinham as lembranças tristes.
14
Lembrou-se de que exatamente a essa hora, há muito tempo, tivera pela
primeira vez a mesma 15impressão sobre o final da tarde. O filho menor entrou
porta adentro, vinha do pomar, dizendo ter visto 16o primo Isaías entre as
plantas, e que lhe perguntara pela tia. Ao olhar novamente, não o avistou
mais. 17Então veio correndo me contar aos gritos. Na madrugada seguinte,
chegou (a cavalo do lugarejo 18distante) um mensageiro, anunciando a morte
do menino na tarde anterior.
19
Desde aquele dia ela tem certeza de que à boquinha da noite – quando
não é mais tarde, nem 20ainda é noite – se estabelece um vínculo entre todas
as coisas em todos os tempos. Talvez por isso 21largue o que esteja fazendo,
apure bem os ouvidos e reze uma prece em silêncio... no mais absoluto
22
silêncio.
SALGUEIRO, Pedro. Dos valores do inimigo. Fortaleza: Ed. UFC, 2005. p.
59-60.

www.projetoredacao.com.br
Questão 47)
a) Por priorizar alguns efeitos de sentido, dentre os quais estão o efeito
estético da mensagem ou uma ambigüidade intencional, o texto literário
pode se permitir liberdades formais. Pode, por exemplo, desviar-se do
paralelismo sintático, sem que isto deva ser considerado incorreção de
linguagem. No período “O filho menor entrou porta adentro, vinha do
pomar, dizendo ter visto o primo Isaías entre as plantas, e que lhe
perguntara pela tia” (linhas 15-16), a quebra do paralelismo sintático é, na
verdade, necessária.
Com base nisto, diga em que ponto se dá a quebra de paralelismo
sintático referido acima.
b) Escreva S (sim) ou N (não), conforme se mantenha ou não o paralelismo
sintático entre as orações que completam o sentido de dizendo.
1. ( ) O filho menor entrou porta adentro, vinha do pomar, dizendo
que tinha visto o primo Isaías entre as plantas e que lhe perguntara
pela tia.
2. ( ) O filho menor entrou porta adentro, vinha do pomar, dizendo
que tinha visto o primo Isaías entre as plantas e ter perguntado pela
tia.
3. ( ) O filho menor entrou porta adentro, vinha do pomar, dizendo
que tinha visto o primo Isaías entre as plantas e perguntando-lhe pela
tia.
c) Diga por que a frase abaixo não é fiel ao sentido do texto, apesar de
respeitar o paralelismo sintático.
O filho menor entrou porta adentro, vinha do pomar, dizendo ter visto o
primo Isaías entre as plantas e ter-lhe perguntado pela tia.

TEXTO: 7 - Comum à questão: 48

Impasses na lógica global?

Uma das certezas que movem a lógica global é a de que a China e a Índia
manterão as trajetórias atuais de estabilidade política e altas taxas de
crescimento econômico.
As projeções de longo prazo supõem uma contínua melhora 5de renda
dos 2,4 bilhões de chineses e indianos – que constituem 25% da população
mundial –, mantendo o vigor do capitalismo globalizado.
É curioso como não aprendemos com a história e com nossos inúmeros
erros de previsão; a arrogância não nos deixa perceber que 10é preciso
suportar um futuro freqüentemente além da nossa percepção, tantas são as
variáveis que nele influem. Lidamos com o tempo que virá de forma pouco
responsável.
Na verdade, não agüentamos não saber. E, por isso, transformamos
meras hipóteses em certezas, deixando na beira da 15estrada justamente as
dúvidas que nos poderiam salvar. Basta verificar que boa parte das projeções
de mais de 10 anos, feitas durante o século 20, foi equivocada. Crises

www.projetoredacao.com.br
imprevistas são inerentes ao capitalismo, que delas se nutre, renovando-se
em meio a cinzas e sucatas.
20
Se analisarmos o complexo quadro atual, não é difícil enxergar graves
impasses estruturais que o mundo pode ter de enfrentar ainda na próxima
década.
Alguns são decorrentes justamente do padrão de inserção da China e da
Índia numa lógica global que se aproveita deles para um 25casamento de
interesses, à primeira vista, virtuoso.
Suponhamos, em primeiro lugar, que essas duas nações apenas
pretendam atingir, em 10 anos, um padrão de vida equivalente à média atual
do Brasil e do México, que ainda são pobres. Na verdade, a maioria dos
analistas internacionais espera muito mais que isso.
30
Vamos tentar indicar – de maneira simplificada – que impactos isso
poderia causar. A renda anual média de cada brasileiro, medida pelo Banco
Mundial (2005), é de US$ 8.195 e a do mexicano, de US$ 9.803. Ou seja, a
média dos dois é de US$ 8.999. A China tem, hoje, US$ 5.896 por
habitante/ano e a Índia, US$ 3.139, o que dá 35uma média de US$ 4.518.
Para que esse valor atinja a média de Brasil e México em 10 anos, será
necessário adicionar US$ 4.518 a cada cidadão chinês e indiano; se
multiplicarmos esse valor pelos seus 2.375 milhões de habitantes, teremos
um total de US$ 10.647 bilhões.
40
Ora, esse imenso valor, a ser criado em apenas uma década, seria
próximo do PIB norte-americano (US$ 11.641 bilhões), que responde, hoje,
por 28% do total mundial.
Imagine-se o impacto brutal que isso significaria em recursos naturais,
matérias-primas, poluição ambiental e efeito estufa em nível 45planetário.
Alguns cenários, bem mais pessimistas, se delineiam. Um deles poderá
eclodir por meio de tensões sociais e políticas na China, que conduzam a
distúrbios e rupturas; cenário, aliás, muito possível para um país gigantesco
em tamanho e desafios.
50
Outro eventual impasse estrutural é a tendência declinante de salários
mundiais a partir da pressão por competitividade global.
O custo médio salarial de uma faixa-padrão de trabalhador qualificado, na
União Européia, é de US$ 25 por hora; nos EUA, é de US$ 20; no Leste da
Europa e no Brasil, é de US$ 4; mas, na 55China, é de US$ 0,7.
Diante dessa assimetria brutal, o México já perdeu para os chineses
quase metade dos empregos de suas maquiadoras; a Europa tem
dificuldades em utilizar os “baixos” salários dos países do Leste; e a América
Latina fica fora das oportunidades que a fragmentação 60da produção global
gera, porque não consegue competir com os salários de fome da Ásia.
Pelo visto, parece que uma diminuição do nível de emprego no mundo
não-asiático e uma convergência geral dos salários globais em direção a um
nível inferior, puxada pela Ásia, é uma das alternativas 65concretas de médio
prazo.
Isso significaria redução geral de renda, pressão contínua para
rebaixamento de proteção social e mais uma forte diluição das classes
médias tradicionais.

www.projetoredacao.com.br
Para além da euforia com o crescimento do mundo puxado 70pela China
e pela Índia, nuvens carregadas também tingem o céu do futuro. O
pretensioso mundo global quer viver de certezas; no entanto é bom estarmos
preparados para surpresas.
DUPAS, Gilberto. “Impasses na lógica global?”. Disponível em
www.jornaldaciencia.org.br, de 18 dez. 2006. Acesso: 26 dez. 2006. (Texto
adaptado)

Questão 48)
Assinale a alternativa em que os dois termos destacados, no par de frases
transcritas, exercem a mesma função sintática.
a) ... a arrogância não nos deixa perceber que é preciso suportar... (linhas
9-10)
Lidamos com o tempo que virá de forma pouco responsável. (linhas 11-
12)
b) ... inerentes ao capitalismo, que delas se nutre... (linhas 17-18)
Uma das certezas [...] é a de que a China e a Índia manterão... (linhas 1-
2)
c) ... justamente as dúvidas que nos poderiam salvar. (linha 15)
... numa lógica global que se aproveita deles... (linha 24)
d) Vamos tentar indicar [...] que impactos isso poderia causar. (linhas 30-31)
Suponhamos [...] que essas duas nações apenas pretendam... (linhas 26-
27)
TEXTO: 8 - Comum à questão: 49

TEXTO II
A doença
(Manoel de Barros)

Nunca morei longe do meu país.


Entretanto padeço de lonjuras.
Desde criança minha mãe portava essa doença.
Ela que me transmitiu.
Depois meu pai foi trabalhar num lugar que dava
essa doença nas pessoas.
Era um lugar sem nome nem vizinhos.
Diziam que ali era a unha do dedão do pé do fim
do mundo.
A gente crescia sem ter outra casa ao lado.
No lugar só constavam pássaros, árvores, o rio e
os seus peixes.
Havia cavalos sem freios dentro dos matos cheios
de borboletas nas costas.
O resto era só distância.
A distância seria uma coisa vazia que a gente
portava no olho
E que meu pai chamava exílio.

www.projetoredacao.com.br
Questão 49)
O campo semântico relacionado à doença é construído pelo emprego dos
seguintes vocábulos:
a) pessoas, doença, transmitiu, portavam;
b) padeço, borboletas, exílio, transmitiu;
c) pessoas, pé, costas, olho;
d) padeço, doença, transmitiu, portavam;
e) padeço, doença, transmitiu, constavam.

TEXTO: 9 - Comum à questão: 50

Ninguém aí do poder em Brasília manja de marxismo e semiologia. Fala-


se na necessidade de eliminar a herança feagaceana (que, aliás, não é
maldita, é sinistra), mas não da ruptura lingüística com essa herança, ou seja,
o PT reproduz a mesma linguagem feia e inestética do PSDB.
“Custo Brasil” é de matar!
A “flexibilização laboral” designa desemprego. Carteira de trabalho é luxo.
Se a polícia der uma blitz e pedir carteira de trabalho, 40 por cento da
população vai em cana.
A linguagem revela a ideologia e governa os homens.
Prova é que nunca até hoje existiu político mudo. Ao contrário, político é
falastrão, fala qualquer coisa, fala pelos cotovelos. Não é senão por isso que
o enigmático ministro José Dirceu prestigia no Paraná o comediante Ratinho,
cujo gogó midiático agrada aos ouvidos da plebe boçalizada que não
freqüentou os Cieps.

VASCONCELLOS, Gilberto F. O Richelieu do Ratinho e a herança


lingüística tucana. Caros Amigos. São Paulo: Casa Amarela, n. 61, jul.
2003, p. 17.

Questão 50)

Considerando a variedade lingüística do texto, tem-se que

a) o uso do verbo manjar, em “manja de marxismo e semiologia”, denota


apropriação de termo exclusivo de grupo social estigmatizado.
b) a expressão “herança feagaceana“ é um empréstimo lingüístico que
significa o conjunto da política social empreendida pelo ex-presidente
FHC.
c) a expressão em cana, em “40 por cento da população vai em cana”, é
uma variedade regional, empregada com sentido pejorativo.
d) a expressão “gogó midiático“ é um exemplo de que o autor, no seu
raciocínio, combina registro coloquial com registro formal.
e) a palavra “blitz“ é um neologismo, consolidado no português, que integra
o léxico ativo de segmentos sociais marginalizados.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 10 - Comum à questão: 51

O território

O trem de ferro partia cedo, acordando Ilhéus, os trilhos na terra


esbranquiçada do mar. Rompia léguas, a máquina fervendo, as vilas e
arruados ficando atrás. Internava-se pouco a pouco na mata, fumaça e pó
nos vagões, seu apito gritando nos campos. Os cacaueiros escuros, casas
em solidão, bolsões de capim alto. Ele passava, homens a sua carga, a selva
ainda como nascera, virgem e sem caminhos. Estacava na ponta dos trilhos,
o rio ali se alargava, os grapiúnas* esperavam. A última estação, um arruado
de casas pobres, casebres arruinados, cor-de-chumbo a terra. Sequeiro,
lugar de guerras, muito sangue no chão, as balas dos rifles nas paredes,
cheiro de cacau no calor pesado.
– Aqui começa o território – o menino sabia.
.........................................................................................
Grande e selvagem o território. Viajar, percorrendo-o nos vales e nos flancos
da selva, era conhecer lajedos fechando as passagens e deter-se para vê-lo
melhor. Sua aspereza, a força, seus viventes. Ninguém fraco em suas
fronteiras, nem mesmo os pássaros, muito menos os homens. A pólvora na
aguardente uma bebida, o domador tão selvagem quanto o cavalo, o gavião
se fazia rei porque matava. Era assim o território.
Adonias Filho. Léguas da promissão. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
1968.
*grapiúna: nome dado pelos sertanejos aos habitantes do litoral.

Questão 51)
Um dos principais recursos utilizados pelo autor para descrever o espaço em
que se dá a ação é o uso reiterado de:

a) frases nominais.
b) adjetivos antepostos.
c) orações subordinadas.
d) advérbios de lugar.
e) verbos no presente.

TEXTO: 11 - Comum à questão: 52

Todos os Nomes
1
Passar os olhos pela relação dos jogadores inscritos por nossos clubes
profissionais para a atual 2 temporada profissional pode ser uma experiência
reveladora.
3
O que primeiro salta à vista é a quantidade de nomes estrangeiros – em
geral de origem 4 inglesa, ainda que existam alguns Jeans, Michels e Pierres
de sabor francês e um ou outro Juan de sonoridade castelhana.
5
O grosso mesmo é de nomes anglo-saxões.

www.projetoredacao.com.br
6
Só de Wellingtons eu contei seis. Se bobear, tem mais Wellington que José
no nosso futebol.
7
Nem vamos perder tempo falando da profusão de Williams, de Christians,
de Rogers e de Andersons.
8
Até aqui, parece que eu, um mero Zé, estou me queixando dessa invasão
onomástica 8 estrangeira e engrossando o coro dos que, como o deputado
Aldo Rebelo, querem defender a 10 “pureza” da língua pátria a golpes de
multas e proibições.
11
Longe de mim tal insensatez.
12
Uma língua se enriquece no contato e na troca com todas as outras.
13
Os nomes predominantes em uma geração refletem o imaginário de sua
época, não o 14 determinam.
15
Mais significativo do que a assimilação pura e simples dos nomes
estrangeiros – é o processo de 16 canibalização que eles sofrem aqui.
17
Abaixo do Equador, Alain vira Allan, Michael vira Maicon (ou Maycon),
David vira Deivid e 18 Hollywood vira Oliúde.
19
Isso sem falar nas criações genuinamente brasileiras, como o espantoso
Maicosuel (jogador do 20 Cruzeiro). É a contribuição milionária de todos os
erros, como queria................................................

José G. Couto. Folha de S. Paulo, 02/02/2008. Adaptado.

Questão 52)

Considere as seguintes afirmações relativas a diferentes fragmentos do texto:

I. Em “o grosso mesmo” (ref. 5 ) e “engrossando o coro” (ref. 9) ocorre idéia


de quantidade.
II. O verbo “bobear” (ref. 6) pertence a uma variedade lingüística diferente
daquela que predomina no texto.
III. Com o uso da expressão “até aqui” (ref. 8), o autor faz referência ao ato
enunciativo.
IV. A expressão “um mero Zé” (ref. 8) pode ser substituída, sem prejuízo para
o sentido, por “um falso Zé”.

Está correto apenas o que se afirma em:

a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) II, III e IV.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 12 - Comum à questão: 53

TEXTO I

“Escrever, para mim, é um ato que preenche várias finalidades. Em primeiro


lugar, é uma forma de organizar o mundo, de dar sentido às coisas, através
daquela progressão lógica: princípio, meio, fim. Em segundo lugar, é um
grande meio de comunicação com nossos semelhantes: a palavra escrita é
um território que partilhamos em silêncio, em amável cumplicidade. Escrever
é contar histórias. Cheguei à literatura por causa disto. Gostava de ouvir as
histórias que meus pais, imigrantes, contavam e queria fazer como eles,
contar também as minhas histórias, mas contar como os escritores que li
desde pequeno (Monteiro Lobato, Érico Veríssimo, Jorge Amado) e que eu
admirava. Por último, quero dizer que há, no escrever, um componente
lúdico. Colocar as palavras uma ao lado da outra é um jeito de organizar o
pensamento, mas é sobretudo um jogo, como aqueles jogos de armar. Tudo
isso para dizer que escrever tem de ser sinônimo de prazer e emoção. Dar
prazer e emoção ao leitor é a primeira tarefa do escritor.”
(Moacyr Scliar, http://www.klickescritores.com.br)

TEXTO II - Escrever é Triste

Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos


sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas
com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura
não só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a
simples claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha.
O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, puré de
palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário. O que você perde em
viver, escrevinhando sobre a vida. Não apenas o sol, mas tudo que ele
ilumina. Tudo que se faz sem você, porque com você não é possível contar.
Você esperando que os outros vivam, para depois comentá-los com a maior
cara-de-pau ("com isenção de largo espectro", como diria a bula, se seus
escritos fossem produtos medicinais). Selecionando os retalhos de vida dos
outros, para objeto de sua divagação descompromissada. Sereno. Superior.
Divino. Sim, como se fosse deus, rei proprietário do universo, que escolhe
para o seu jantar de notícias um terremoto, uma revolução, um adultério
grego — às vezes nem isso, porque no painel imenso você escolhe só um
besouro em campanha para verrumar a madeira. Sim, senhor, que
importância a sua: sentado aí, camisa aberta, sandálias, ar condicionado,
cafezinho, dando sua opinião sobre a angústia, a revolta, o ridículo, a
maluquice dos homens. Esquecido de que é um deles. Ah, você participa com
palavras? Sua escrita — por hipótese — transforma a cara das coisas, há
capítulos da História devidos à sua maneira de ajuntar substantivos,
adjetivos, verbos? Mas foram os outros, crédulos, sugestionáveis, que
fizeram o acontecimento. Isso de escrever «O Capital» é uma coisa, derrubar
as estruturas, na raça, é outra. E nem sequer você escreveu «O Capital».

www.projetoredacao.com.br
Não é todos os dias que se mete uma ideia na cabeça do próximo, por via
gramatical. E a regra situa no mesmo saco escrever e abster-se. Vazio, antes
e depois da operação. Claro, você aprovou as valentes ações dos outros,
sem se dar ao incômodo de praticá-las. Desaprovou as ações nefandas, e
dispensou-se de corrigirlhes os efeitos. Assim é fácil manter a consciência
limpa. Eu queria ver sua consciência faiscando de limpeza é na ação, que
costuma sujar os dedos e mais alguma coisa. Ao passo que, em sua
protegida pessoa, eles apenas se tisnam quando é hora de mudar a fita no
carretel.(...)
(Drummond de Andrade, Carlos. O Poder Ultrajovem, 1972.)

Questão 53)
É possível afirmar que:

a) no texto II, o afastamento de uma vida atuante por parte do escritor fica
patente na passagem “Selecionando os retalhos de vida dos outros...”.
b) no texto I, o isolamento em que vive o escritor é expresso em “...em
amável cumplicidade.”
c) no texto II, a produção escrita como uma atividade concernente à
utilização do vernáculo demonstra-se nas expressões “puré de palavras”
e “espelho (infiel) do dicionário”.
d) no texto II, com “...que costuma sujar os dedos e mais alguma coisa.”, o
autor faz menção à complexidade da atividade literária que requer
exercício corporal intenso e integral.
e) no texto I, a expressão “como aqueles jogos de armar” apresenta a
atividade literária como um quebra-cabeças em que as palavras
preenchem lacunas de acordo com as necessidades estilísticas do texto.

TEXTO: 13 - Comum à questão: 54

Darwin 200, por Ir. Joaquim Clotet (Reitor da PUC)

1
Comemoramos em 2009 o segundo centenário do nascimento de
Charles Robert Darwin. Um 2homem admirado, estudado e até considerado
polêmico por alguns.
3
As homenagens, os congressos, as publicações e as exposições serão
inúmeras. Sociedades 4científicas, filosóficas e teológicas, universidades e
museus de história natural têm já programadas as mais 5diversas atividades
sobre a vida e a obra do relevante cientista, nascido em 12 de fevereiro de
1809. A 6Universidade de Cambridge, a título de exemplo, tem programado
para o próximo mês de julho o Darwin 7Festival, um evento científico e cultural
de extrema relevância. Do mesmo modo, o Natural History 8Museum de
Londres já inaugurou a Darwin Exhibition, _________ e altamente
documentada exposição 9sobre o autor.
10
Não deixa de chamar a atenção a _____________ universitária do
grande naturalista, observador 11e colecionador. Iniciou os estudos de
medicina na Universidade de Edimburgo. Vale acrescentar que o pai 12dele

www.projetoredacao.com.br
era médico. Abandonou essa opção antes de ter concluído o curso. Ingressou
na Universidade de 13Cambridge para estudar artes. Nessa época,
aproximou-se das línguas clássicas, da filosofia, da teologia 14e, por incrível
que pareça, da matemática e da física.
15
Nem o mundo das humanidades nem o das ciências divinas configurou,
contudo, sua indiscutível e 16preclara opção intelectual: a observação atenta
e crítica da natureza.
17
Duas experiências marcaram definitivamente o futuro do notabilíssimo
cientista: uma viagem e o 18jardim da sua casa.
19
A viagem, realizada no Beagle, durou cinco anos e permitiu-lhe
observar, escrever, desenhar e 20colecionar animais e plantas numa longa
singradura. Dois terços dessa viagem passou-os em terra firme. 21Por sinal,
de abril a junho de 1832, esteve no Brasil e alugou uma propriedade na baía
de Botafogo. De 22volta à pátria, comprou uma casa, Down House, a 16
milhas de Londres. O grande jardim nela existente 23foi o seu laboratório. A
leitura dos dados obtidos na viagem, o exame dos espécimes coletados e
seus 24experimentos com orquídeas, pombas, baratas e minhocas, entre os
outros muitos por ele realizados, o 25inspiraram à formulação de sua teoria
da seleção natural e prepararam a edição da Origem das Espécies, 261859.
27
A vida e a obra do bicentenário autor são ainda hoje objeto de acendrado
estudo, pesquisa e 28debate, atingindo o patamar da transdisciplinaridade.
Esse reconhecimento do valor e significado da sua 29produção contrasta com
a discrição do avisado viajante e do erudito pesquisador, pois ele próprio
afirmava 30que não era especialista em nenhuma disciplina.
31
Continuam ainda hoje o estudo e o debate entre criacionismo, ou
doutrina bíblica da criação, e 32evolucionismo, proveniente da seleção
natural. O papa Pio XII, na sua carta encíclica Humani Generis, 331950,
convida e estimula ao aprofundamento de ambas as teorias. A Academia
Pontifícia das Ciências, do 34Vaticano, dedicou ______ extraordinárias ao
tema no passado mês de novembro. Afirmou-se a existência 35de provas que
evidenciam a evolução. Destaca-se, porém, que o ser humano, o homem e a
mulher, não 36são o resultado do caos, mas que foram pensados e amados
pelo Criador. Uma conferência internacional 37sobre a _________ entre a fé
e a teoria da evolução está programada pela mesma entidade para o
38
próximo mês de março. Não é em vão que Darwin também estudou teologia
e era homem que amava o 39diálogo.
( Zero Hora - 09 de janeiro de 2009 – texto adaptado)

Questão 54)

Em relação aos termos sublinhados na frase Dois terços dessa viagem


passou-os em terra firme. (ref. 20), afirma-se que:

I. Têm a mesma função sintática.


II. Têm funções sintáticas diferentes.
III. O segundo termo retoma o primeiro.

www.projetoredacao.com.br
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e II.
e) Apenas I e III.

TEXTO: 14 - Comum à questão: 55

Apólogo brasileiro sem véu de alegoria

1
O trenzinho recebeu em Magoari o 2pessoal do matadouro e tocou para
Belém. 3Já era noite. Só se sentia o cheiro doce do 4sangue. As manchas na
roupa dos 5passageiros ninguém via porque não havia 6luz. De vez em
quando passava uma fagulha 7que a chaminé da locomotiva botava.
8
Trem misterioso. Noite fora noite 9dentro. O chefe vinha recolher os
bilhetes de 10cigarro na boca. Chegava a passagem bem 11perto da ponta
acesa e dava uma chupada 12para fazer mais luz.
13
Noite sem lua nem nada. Os fósforos é 14que alumiavam um instante as
caras 15cansadas e a pretidão feia caía de novo. 16Ninguém estranhava. Era
assim mesmo 17todos os dias. O pessoal do matadouro já 18estava
acostumado. Parecia trem de carga o 19trem de Magoari.
20
Porém aconteceu que no dia 6 de maio 21viajava no penúltimo banco do
lado direito 22do segundo vagão um cego de óculos azuis. 23Cego baiano das
margens do Verde de 24Baixo. Flautista de profissão dera um 25concerto em
Bragança. O taioca guia dele só 26dava uma folga no bocejo para cuspir.
27
Baiano velho estava contente. Primeiro 28deu uma cotovelada no
secretário e puxou 29conversa. Puxou à toa porque não veio 30nada. Então
principiou a assobiar. Assobiou 31uma valsa (dessas que vão subindo, vão
32
subindo e depois descendo, vêm descendo). 33De repente deu uma cousa
nele. Perguntou 34para o rapaz:
35
- O jornal não dá nada sobre a 36sucessão presidencial?
37
O rapaz respondeu:
38
- Não sei: nós estamos no escuro.
39
- No escuro?
40
- É.
41
Ficou matutando calado. Claríssimo que 42não compreendia bem.
Perguntou de novo:
43
- Não tem luz?
44
Bocejo.
45
- Não tem.
46
Cuspada.
47
Matutou mais um pouco. Perguntou de 48novo:
49
- O vagão está no escuro?
50
- Está.
51
De tanta indignação bateu com o 52porrete no soalho. E principiou a grita
53
dele assim:

www.projetoredacao.com.br
54
- Não pode ser! Estrada relaxada! Que 55é que faz que não acende? Não
se pode 56viver sem luz! A luz é necessária! A luz é o 57maior dom da
natureza! Luz! Luz! Luz!
58
E a luz não foi feita. Continuou 59berrando:
60
- Luz! Luz! Luz!
61
Só a escuridão respondia.
62
Baiano velho estava fulo. Urrava. Vozes 63perguntaram dentro da noite.
64
- Que é que há?
65
Baiano velho trovejou:
66
- Não tem luz!
67
Vozes concordaram:
68
- Pois não tem mesmo.
69
Foi preciso explicar que era um 70desaforo. Homem não é bicho. Viver
nas trevas é cuspir no progresso da 72humanidade. Depois a gente tem a
71
73
obrigação de reagir contra os exploradores 74do povo. No preço da
passagem está 75incluída a luz. O governo não toma 76providências? Não
toma? A turba ignara fará 77valer seus direitos sem ele.
78
- Que é que se vai fazer então? 79Ninguém sabia. Isto é: João Virgulino
sabia. 80Magarefe chefe do matadouro de Magoari, 81tirou a faca da cinta e
começou a 82esquartejar o banco de palhinha.
83
Todos os passageiros magarefes e 84auxiliares imitaram o chefe. Os
instintos 85carniceiros se satisfizeram plenamente. A 86indignação virou
alegria. Era cortar e jogar 87pelas janelas.
88
O chefe do trem foi para o cubículo 89dele e se fechou por dentro
rezando. Belém 90já estava perto. Dos bancos só restava a 91armação de
ferro. Os passageiros de pé 92contavam façanhas. Baiano velho tocava a
93
marcha de sua lavra Às armas cidadãos! O 94taioquinha embrulhava no
jornal a faca 95surrupiada na confusão.
96
Belém vibrou com a história. Os jornais 97afixaram cartazes. Era assim
o título de um: 98Os passageiros no trem de Magoari 99amotinaram-se
jogando os assentos ao leito 100da estrada. Mas foi substituído porque se
101
prestava a interpretações que feriam de 102frente o decoro das famílias.
Diante do 103Teatro da Paz houve um conflito sangrento 104entre populares.
105
Dada a queixa à polícia foi iniciado o 106inquérito para apurar as
responsabilidades. 107O delegado perguntou a um passageiro que 108se
declarou protestante e trazia um 109exemplar da Bíblia no bolso:
110
- Qual a causa verdadeira do motim?
111
O homem respondeu:
112
- A causa verdadeira do motim foi a 113falta de luz nos vagões.
114
O delegado olhou firme nos olhos do 115passageiro e continuou:
116
- Quem encabeçou o movimento?
117
Em meio da ansiosa expectativa dos 118presentes o homem revelou:
119
- Quem encabeçou o movimento foi um 120cego!
121
Quis jurar sobre a Bíblia mas foi 122imediatamente recolhido ao xadrez
porque 123com a autoridade não se brinca.
(Antônio de Alcântara Machado. Coleção Nossos
Clássicos. v. 57. p. 38-43. Adaptação.)

www.projetoredacao.com.br
Questão 55)
A escritura literária de Alcântara Machado é marcada por elementos que
provocam mais o riso do que a gargalhada. Ele consegue esse efeito, com
muita freqüência, por meio de recursos lingüísticos, mas também por meio
de situações inusitadas. Nas colunas abaixo, vêm os recursos empregados
no conto em estudo (coluna 1) e as respectivas explicações (coluna 2).
Numere, então, a coluna 2 de acordo com a coluna 1.

Coluna 1
1. Assobiou uma valsa (dessas que vão subindo, vão subindo e depois
descendo, vêm descendo). (refs. 30-32)
2. Claríssimo que não compreendia bem. (refs. 41-42)
3. E a luz não foi feita. (ref. 58)
4. A turba ignara fará valer seus direitos sem ele. (refs. 76-77)
5. Quem encabeçou o movimento foi um cego! (refs. 119-120)

Coluna 2
( ) O emprego de expressões de significações opostas em uma mesma
construção, sugerindo um contra-senso ou absurdo.
( ) A introdução de um termo erudito em um discurso que vinha mantendo o
estilo popular.
( ) A explicação de uma teoria de caráter científico por meio de um discurso
próprio do senso comum.
( ) A intertextualidade entre uma escritura de estilo e temática populares e
uma escritura de estilo e temática nobres.
( ) Uma personagem que apresenta uma contradição do tipo pensamento vs.
ação; essência vs. aparência, ou qualquer outra do gênero.

Assinale a opção que apresenta a seqüência correta, de cima para baixo.

a) 5, 3, 1, 2, 4
b) 2, 4, 1, 3, 5
c) 1, 3, 5, 2, 4
d) 2, 4, 5, 3, 1

TEXTO: 15 - Comum à questão: 56

Observe o fragmento abaixo de um conto de Clarice Lispector:

“Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão
caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros
apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade
intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as
luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O
assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos. Ao mesmo
tempo que imaginário – era um mundo de se comer com os dentes, um
mundo de volumosas dálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por

www.projetoredacao.com.br
parasitas folhudos, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que
precedesse uma entrega – era fascinante, a mulher tinha nojo, e era
fascinante. As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que
apodrecia.
Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a
náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada.
A moral do jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia
nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias
boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe
pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A
decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela
via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos, enviados pela vida
mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava
que sentia o seu cheiro adocicado...
O jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.”
(LISPECTOR, C. Amor. Laços de família.
Rio de Janeiro: Rocco, 1998. P. 25)

Questão 56)
Quando o narrador descreve as percepções da personagem e seqüencia três
sentenças conclusivas de um estado de espírito (A crueza do mundo era
tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos),
o verbo “ser” funciona como:

a) uma valorização da morte dentro dos padrões habituais.


b) um modo de percepção privilegiada do circuito natural dos fenômenos.
c) um modo de conclusão falida e frustrante em relação ao sentido da vida.
d) uma natural condição de não se aceitar o fim das coisas.
e) uma impressão equivocada quanto ao sentido prático dos fenômenos.

TEXTO: 16 - Comum à questão: 57

A missa dos inocentes

Se não fora abusar da paciência divina


Eu mandaria rezar missa pelos meus poemas que não
conseguiram ir além da terceira ou quarta linha,
vítimas dessa mortalidade infantil que, por ignorância dos
pais,
Dizima as mais inocentes criaturinhas, as pobres...
Que tinham tanto azul nos olhos,
Tanto que dar ao mundo!
Eu mandaria rezar o réquiem mais profundo
Não só pelos meus
Mas por todos os poemas inválidos que se arrastam

www.projetoredacao.com.br
Pelo mundo
E cuja comovedora beleza ultrapassa a dos outros
Porque está, antes e depois de tudo,
No seu inatingível anseio de beleza!
(Mário Quintana)

Questão 57)
Considerando os efeitos de sentido de elementos morfossintáticos que
constam nos versos do poema, analise as observações feitas a seguir.

00. No primeiro verso, não seria quebra de harmonia com o verso seguinte
dizer: Se não for abusar da paciência divina.
01. Em: “Eu mandaria rezar missa pelos meus poemas”, o modo subjuntivo
expressa o valor hipotético da afirmação.
02. O termo ‘infantil’ está em afinidade com o outro ‘criaturinhas’, assim como
a palavra ‘mortalidade’ está em sintonia com o verbo ‘dizimar’.
03. No verso “E cuja comovedora beleza ultrapassa a dos outros”, há uma
ideia de ‘posse’, sinalizada pelo termo destacado.
04. Em: “meus poemas que não conseguiram ir além da terceira ou quarta
linha”, há uma restrição explicitamente indicada.

TEXTO: 17 - Comum à questão: 58

A graça do idioma

1
Digam o que disserem, o humor é quase sempre uma 2porta entreaberta,
cheia de possibilidades. Humor, o conceito, 3já fundiu a cabeça de muita
gente séria. Pirandello gastou quilos 4de papel rascunhando o seu O
Humorismo e admitiu não 5entender do assunto. Humberto Eco transformou
a seriedade 6na real criminosa de O Nome da Rosa. Até Freud navegou
pelas 7sinuosas curvas do chiste. Mas ninguém parece acertar em 8cheio
num alvo gelatinoso, que, nem bem cercado, parece 9escorrer pelos dedos.
10
Afinal, humor é rótulo volúvel, aplicável tanto a 11comédias, farsas e
ironias como a palhaçadas no bar ou ditos 12picarescos. Serve a sátiras,
mímicas, grunhidos, disfarces ou 13grosserias, os bons jogos de palavras, a
má associação de ideias, 14a mais deslavada denúncia do ridículo no
sagrado.
15
Para alguns, o molejo do corpo pesa mais que a 16elaboração do chiste.
Um comediante popular, como Tom 17Cavalcante, costuma dizer que a
diferença está no uso da voz, 18não na idade da piada. Rir, antes da hora,
engasga, garante 19Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. Porque o
cômico 20depende de senso prático de tempo, nem mais adiante, nem um
21
toco a menos.
[...]
Luiz Costa Pereira Junior. In: Revista Língua Portuguesa.
São Paulo: Segmento. Ano I, nº 12, 2006, p. 4.

www.projetoredacao.com.br
Questão 58)
Em “Digam o que disserem [...]”, é correto afirmar em relação ao termo em
destaque que há:

a) Significação intransitiva que inviabiliza ao interlocutor a construção de


hipótese sobre a pessoa do discurso.
b) Referência a algum termo cujo sujeito pode ser identificado na situação
discursiva do enunciado.
c) Intencionalidade discursiva do locutor para produzir um efeito
indeterminado com respeito ao sujeito da situação comunicativa.
d) Explicitude do agente do discurso identificável no contexto do enunciado
por meio da flexão verbal.
e) Ocorrência de um fenômeno sintático-semântico que cria condições para
identificação do referente do discurso.

TEXTO: 18 - Comum à questão: 59

Considere o poema de Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810).

18
Não vês aquele velho respeitável,
que à muleta encostado,
apenas mal se move e mal se arrasta?
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,
o tempo arrebatado,
que o mesmo bronze gasta!

Enrugaram-se as faces e perderam


seus olhos a viveza:
voltou-se o seu cabelo em branca neve;
já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
nem tem uma beleza
das belezas que teve.

Assim também serei, minha Marília,


daqui a poucos anos,
que o ímpio tempo para todos corre.
Os dentes cairão e os meus cabelos.
Ah! sentirei os danos,
que evita só quem morre.

Mas sempre passarei uma velhice


muito menos penosa.
Não trarei a muleta carregada,
descansarei o já vergado corpo
na tua mão piedosa,
na tua mão nevada.

www.projetoredacao.com.br
As frias tardes, em que negra nuvem
os chuveiros não lance,
irei contigo ao prado florescente:
aqui me buscarás um sítio ameno,
onde os membros descanse,
e ao brando sol me aquente.

Apenas me sentar, então, movendo


os olhos por aquela
vistosa parte, que ficar fronteira,
apontando direi: — Ali falamos,
ali, ó minha bela,
te vi a vez primeira.

Verterão os meus olhos duas fontes,


nascidas de alegria;
farão teus olhos ternos outro tanto;
então darei, Marília, frios beijos
na mão formosa e pia,
que me limpar o pranto.

Assim irá, Marília, docemente


meu corpo suportando
do tempo desumano a dura guerra.
Contente morrerei, por ser Marília
quem, sentida, chorando
meus baços olhos cerra.

(Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e


mais poesias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1982.)

Questão 59)

Marque a alternativa em que o verso apresenta acento tônico na segunda e


na sexta sílabas:

a) o tempo arrebatado.
b) das belezas que teve.
c) daqui a poucos anos.
d) e ao brando sol me aquente.
e) na mão formosa e pia.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 19 - Comum à questão: 60

Leia o texto a seguir, extraído do conto A hora e vez de Augusto Matraga.

Já Nhô Augusto, incansável, sem querer esperdiçar detalhe, apalpava os


braços do Epifânio, mulato enorme, de musculatura embatumada, de
bicipitalidade maciça. E se voltava para o Juruminho, caboclo franzino, vivo
no menor movimento, ágil até no manejo do garfo, que em sua mão ia e
vinha como agulha de coser:
– Você, compadre, está-se vendo que deve de ser um corisco de chegador!...
E o Juruminho, gostando.
– Chego até em porco-espinho e em tatarana-rata, e em homem de vinte
braços, com vinte foices para sarilhar!... Deito em ponta de chifre, durmo em
ponta de faca, e amanheço em riba do meu colchão!... Está aí nosso chefe,
que diga... E mais isto aqui...
E mostrou a palma da mão direita, lanhada de cicatrizes, de pegar punhais
pelo pico, para desarmar gente em agressão.
Nhô Augusto se levantara, excitado:
– Opa! Oi-ai!... A gente botar você, mais você, de longe, com as clavinas...
E você outro, aí, mais este compadre de cara séria, p’ra voltearem... E este
companheirinho chegador, para chegar na frente, e não dizer até-logo!... E
depois chover sem chuva, com o pau escrevendo e lendo, e arma-de-fogo
debulhando, e homem mudo gritando, e os do-lado-de-lá correndo e pedindo
perdão!...
Mas, aí, Nhô Augusto calou, com o peito cheio; tomou um ar de
acanhamento; suspirou e perguntou:
– Mais galinha, um pedaço, amigo?
– ’Tou feito.
– E você, seu barra?
– Agradecido... ’Tou encalcado... ’Tou cheio até à tampa!
Enquanto isso, seu Joãozinho Bem-Bem, de cabeça entornada, não tirava
os olhos de cima de Nhô Augusto.
E Nhô Augusto, depois de servir a cachaça, bebeu também, dois goles, e
pediu uma das papo-amarelo, para ver:
– Não faz conta de balas, amigo? Isto é arma que cursa longe...
– Pode gastar as óito. Experimenta naquele pássaro ali, na pitangueira...
– Deixa a criaçãozinha de Deus. Vou ver só se corto o galho... Se errar,
vocês não reparem, porque faz tempo que eu não puxo dedo em gatilho...
Fez fogo.
– Mão mandona, mano velho. Errou o primeiro, mas acertou um em dois...
Ferrugem em bom ferro!

(ROSA, J. G. Sagarana. 71.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. p.394-


395.)

www.projetoredacao.com.br
Questão 60)
O trecho “– Você, compadre, está-se vendo que deve de ser um corisco de
chegador!...” pode ser substituído, sem prejuízo do sentido original, por

a) “– Você, parceiro, sem grande alarde, bem de mansinho, consegue tudo


o que quer!...”.
b) “– Amigo, creio que você é muito mais eficiente com o garfo do que com
a faca!...”.
c) “– Amigo, pelo visto, você é um caboclo muito bom de garfo!...”.
d) “– Companheiro, a julgar pelo que vejo, você deve ser muito ligeiro no
ataque!...”.
e) “– Companheiro, está-se vendo que você transforma tudo num
verdadeiro cavalo de batalha!...”.

TEXTO: 20 - Comum à questão: 61

Os donos da comunicação

Os presidentes, os ditadores e os reis da Espanha que se cuidem porque


os donos da comunicação duram muito mais. Os ditadores abrem e fecham
a imprensa, os presidentes xingam a TV e os reis da Espanha cassam o
rádio, mas, quando a gente soma tudo, os donos da comunicação ainda tão
por cima. Mandam na economia, mandam nos intelectuais, mandam nas
moças fofinhas que querem aparecer nos shows dos horários nobres e
mandam no society que morre se o nome não aparecer nas colunas.
Todo mundo fala mal dos donos da comunicação, mas só de longe. E
ninguém fala mal deles por escrito porque quem fala mal deles por escrito
nunca mais vê seu nome e sua cara nos “veículos” deles. Isso é assim aqui,
na Bessarábia e na Baixa Betuanalândia. Parece que é a lei. O que também
é muito justo porque os donos da comunicação são seres lá em cima. Basta
ver o seguinte: nós, pra sabermos umas coisinhas, só sabemos delas pela
mídia deles, não é mesmo? Agora vocês já imaginaram o que sabem os
donos da comunicação que só deixam sair 10% do que sabem?
Pois é; tem gente que faz greve, faz revolução, faz terrorismo, todas
essas besteiras. Corajoso mesmo, eu acho, é falar mal de dono de
comunicação. Aí tua revolução fica xinfrim, teu terrorismo sai em corpo 6 e
se você morre vai lá pro fundo do jornal em quatro linhas.
(Millôr Fernandes. Que país é este?, 1978.)

Questão 61)
No último período do texto, a discrepância dos possessivos teu e tua
(segunda pessoa do singular) com relação ao pronome de tratamento você
(terceira pessoa do singular) justifica-se como

a) possibilidade permitida pelo novo sistema ortográfico da língua


portuguesa.
b) um modo de escrever característico da linguagem jornalística.

www.projetoredacao.com.br
c) emprego perfeitamente correto, segundo a gramática normativa.
d) aproveitamento estilístico de um uso do discurso coloquial.
e) intenção de agredir com mau discurso os donos da comunicação.

TEXTO: 21 - Comum à questão: 62

Considere o poema de Luís Delfino (1834-1910) e a reprodução de um


mosaico da Catedral de Monreale.

Jesus Pantocrátor 1

Há na Itália, em Palermo, ou pouco ao pé, na igreja


De Monreale, feita em mosaico, a divina
Figura de Jesus Pantocrátor: domina
Aquela face austera, aquele olhar troveja.

Não: aquela cabeça é de um Deus, não se inclina.


À árida pupila a doce, a benfazeja
Lágrima falta, e o peito enorme não arqueja
À dor. Fê-lo tremendo a ficção bizantina2.

Este criou o inferno, e o espetáculo hediondo


Que há nos frescos3 de Santo Stefano Rotondo4;
Este do mundo antigo espedaçado assoma...

Este não redimiu; não foi à Cruz: olhai-o:


Tem o anátema5 à boca, às duas mãos o raio,
E em vez do espinho à fronte as três coroas de Roma.
(Luís Delfino. Rosas negras, 1938.)

(1) Pantocrátor: que tudo rege, que governa tudo.


(2) Bizantina: referente ao Império Romano do Oriente (330-1453 d.C.) e às
manifestações culturais desse império.
(3) Fresco: o mesmo que afresco, pintura mural que resulta da aplicação de
cores diluídas em água sobre um revestimento ainda fresco de argamassa,
para facilitar a absorção da tinta.
(4) Santo Stefano Rotondo: igreja erigida por volta de 460 d.C., em Roma,
em homenagem a Santo Estêvão (Stefano, em italiano), mártir do
cristianismo.
(5) Anátema: reprovação enérgica, sentença de maldição que expulsa da
Igreja, excomunhão.

www.projetoredacao.com.br
Figura de Cristo Pantocrátor

(Catedral de Monreale, Itália.)

Questão 62)
À árida pupila a doce, a benfazeja / lágrima falta.

A inversão das posições usuais dos termos da oração, provocada pela


necessidade de completar o número de sílabas e obedecer às posições dos
acentos tônicos nos versos, por vezes dificulta a percepção das relações
sintáticas entre esses termos. É o caso da oração destacada, que ocupa o
sexto e parte do sétimo versos. Em discurso não versificado, essa oração
apresentaria usualmente a seguinte disposição de termos:

a) A doce, a benfazeja lágrima falta à árida pupila.


b) A doce, a benfazeja pupila falta à árida lágrima.
c) Falta a lágrima a doce, a benfazeja à árida pupila.
d) Falta à pupila a árida, a doce, a benfazeja lágrima.
e) À pupila doce a lágrima, a árida, a benfazeja falta.

TEXTO: 22 - Comum à questão: 63

1
Uma pesquisa feita sobre a escolha do curso de Medicina indica que são
muitos os fatores conscientes determinantes de tal decisão, como a
influência familiar, o desejo de independência financeira, a identificação 5
pessoal com o curso, além do status profissional e da vontade de ajudar as
pessoas. Aliados a esses aspectos estão os fatores de natureza
inconsciente.
Alguns autores enfatizam que o indivíduo escolhe ser médico pelo
desejo de ajudar ou por vocação 10 profissional, já que o ideal médico
deve constituir-se na vontade de socorrer, no amor ao próximo e no
espírito de sacrifício.
Após o sucesso no concorrido processo seletivo, o estudante chega à
faculdade com a expectativa de 15 que não haverá mais angústias ou
exigências e de que, pelo contrário, a faculdade será o lugar adequado ao
desenvolvimento das habilidades necessárias à prática profissional. Essa
expectativa é corroborada pela recepção dada pelos veteranos, além do

www.projetoredacao.com.br
entusiasmo da 20 família, que se orgulha por ter um de seus membros como
estudante de Medicina.
Depois da fase de euforia, o estudante passa a vivenciar o curso de
Medicina por meio de aulas, disciplinas e professores. O contato com o
paciente traz 25 para o estudante uma série de temores, que são justificáveis
pela falta de experiência e pela insegurança na prática médica. A superação
dessas dificuldades depende, em grande parte, da relação estabelecida
entre professor e aluno, pois é durante a formação acadêmica 30 que se deve
procurar desenvolver nos alunos os recursos necessários para lidar com a
dimensão humana da relação terapêutica.
Às vezes, surge o desencanto pelo curso e uma infinidade de queixas –
volume excessivo de provas, aulas 35 monótonas e professores
desatualizados, contato desgastante com pacientes terminais e com a
morte. Além disso, observa-se que, durante a formação médica, os
momentos angustiantes são vividos, muitas vezes, de modo solitário.
40
Diante de tal situação, cada vez mais, as escolas médicas reconhecem
a necessidade de oferecer assistência psicológica a estudantes de
Medicina, destacando a importância de existir um ambiente acolhedor para
auxiliar os jovens a superar suas angústias.

MOREIRA, Simone da Nóbrega Tomaz et al. Revista Brasileira de Educação


Médica. Disponível em:<http://www.scielo.br/cielo. php?pid=s0100-
55022006000200003&script=sci_arttext>. Acesso em: 29 jun. 2012.
Adaptado.

Questão 63)

“Alguns autores enfatizam que o indivíduo escolhe ser médico pelo desejo
de ajudar ou por vocação profissional, já que o ideal médico deve constituir-
se na vontade de socorrer, no amor ao próximo e no espírito de sacrifício.”
(ref. 5-10)

A reestruturação do período que mantém o seu sentido original é o indicado


na alternativa

01. Ainda que o ideal médico deva constituir-se na vontade de socorrer, no


amor ao próximo e no espírito de sacrifício, alguns autores enfatizam
que o indivíduo escolhe ser médico pelo desejo de ajudar ou por
vocação profissional.
02. Alguns autores enfatizam que, quando o ideal médico se constituir na
vontade de socorrer, no amor ao próximo e no espírito de sacrifício, o
indivíduo deve escolher ser médico pelo desejo de ajudar ou por
vocação profissional.
03. Como o ideal médico deve constituir-se na vontade de socorrer, no amor
ao próximo e no espírito de sacrifício, alguns autores enfatizam que o
indivíduo escolhe ser médico pelo desejo de ajudar ou por vocação
profissional.

www.projetoredacao.com.br
04. À proporção que o ideal médico se constitua na vontade de socorrer, no
amor ao próximo e no espírito de sacrifício, alguns autores enfatizam
que o indivíduo deve escolher ser médico pelo desejo de ajudar ou por
vocação profissional.
05. Alguns autores, para que o ideal médico deva constituir-se na vontade
de socorrer, no amor ao próximo e no espírito de sacrifício, enfatizam
que o indivíduo escolhe ser médico pelo desejo de ajudar ou por
vocação profissional.

TEXTO: 23 - Comum à questão: 64

1
Sabe-se que dietas com alta densidade 2 energética, ricas em gorduras
(particularmente as 3 de origem animal) e pobres em fibras alimentares, 4
associadas à redução da atividade física, ao 5 tabagismo e ao consumo
excessivo de álcool 6 podem explicar parte substancial dos casos de 7
algumas doenças crônicas como, por exemplo, a 8 obesidade, as doenças
cardiovasculares, o 9 diabetes mellitus e a síndrome metabólica, tanto 10 em
países desenvolvidos como em 11 desenvolvimento.
12
Neumann et al., em estudo transversal realizado 13 no Município de São
Paulo, Brasil, encontraram 14 associações positivas e estatisticamente 15
significantes entre maior risco cardiovascular e 16 padrões de consumo de
alimentos caracterizados, 17 entre outros, pela maior ingestão habitual de 18
açúcares, gorduras saturadas, sal de adição e 19 álcool.
20
Como apontaram Alves et al., Lenz et al. e Hu, 21 em estudos
epidemiológicos em que se pretende 22 investigar o papel da dieta no
desenvolvimento de 23 doenças crônicas, a avaliação dos padrões de 24
consumo de alimentos apresenta vantagens em 25 relação ao procedimento
tradicional que considera 26 apenas a ingestão dos nutrientes, isoladamente.
27
Tal abordagem permite, com maior facilidade, 28 estabelecer estratégias
factíveis para a prevenção 29 ou tratamento das doenças.
30
Diversos fatores interferem nas opções 31 alimentares de indivíduos ou
populações, entre 32 eles, os biológicos (sexo, idade, etnia), 33
socioeconômicos (renda e escolaridade) e de 34 estilo de vida (tabagismo,
atividade física). Além 35 disso, como mostraram Levy-Costa et al. e Sichieri
36
et al., a disponibilidade local/regional de alimentos 37 tem papel importante
na definição de tais padrões, 38 indicando que variáveis relacionadas 39
exclusivamente ao indivíduo não são suficientes 40 para explicá-los.
41
Assim, dentro desse contexto, o presente 42 estudo teve como objetivos
descrever os padrões 43 de consumo de alimentos mais frequentemente 44
encontrados entre residentes no Município de 45 Ribeirão Preto, São Paulo,
e identificar quais 46 fatores se associam a eles (sociodemográficos, de 47
estilo de vida e de saúde).

Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 27(3):533-545, mar, 2011.


Adaptado.

www.projetoredacao.com.br
Questão 64)
No segundo parágrafo do excerto, do ponto de vista da inteligibilidade e do
conteúdo informativo do texto, seria dispensável o emprego das seguintes
palavras:

a) “em (...) transversal”. (Ref. 12)


b) “positivas e”. (Ref. 14)
c) “e estatisticamente”. (Ref. 14)
d) “de alimentos”. (Ref. 16)
e) “de adição”. (Ref. 18)

TEXTO: 24 - Comum à questão: 65

Nós, escravocratas

1
Há exatos cem anos, saía da vida para a história um dos maiores brasileiros
de todos os tempos: 2 o pernambucano Joaquim Nabuco. Político que ousou
pensar, intelectual que não se omitiu em 3 agir, pensador e ativista com
causa, principal artífice da abolição do regime escravocrata no 4 Brasil.

5
Apesar da vitória conquistada, Joaquim Nabuco reconhecia: “Acabar com
a escravidão não basta. 6 É preciso acabar com a obra da escravidão”, como
lembrou na semana passada Marcos Vinicios 7 Vilaça, em solenidade na
Academia Brasileira de Letras. Mas a obra da escravidão continua viva, 8 sob
a forma da exclusão social: pobres, especialmente negros, sem terra, sem
emprego, sem 9 casa, sem água, sem esgoto, muitos ainda sem comida;
sobretudo sem acesso à educação de 10 qualidade.

11
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra da escravidão se
mantém e continuamos 12 escravocratas.

13
Somos escravocratas ao deixarmos que a escola seja tão diferenciada,
conforme a renda da 14 família de uma criança, quanto eram diferenciadas
as vidas na Casa Grande ou na Senzala. 15 Somos escravocratas porque,
até hoje, não fizemos a distribuição do conhecimento: instrumento 16 decisivo
para a liberdade nos dias atuais. Somos escravocratas porque todos nós,
que estudamos, 17 escrevemos, lemos e obtemos empregos graças aos
diplomas, beneficiamo-nos da exclusão dos 18 que não estudaram. Como
antes, os brasileiros livres se beneficiavam do trabalho dos escravos.

19
Somos escravocratas ao jogarmos, sobre os analfabetos, a culpa por não
saberem ler, em vez 20 de assumirmos nossa própria culpa pelas decisões
tomadas ao longo de décadas. Privilegiamos 21 investimentos econômicos
no lugar de escolas e professores. Somos escravocratas, porque 22
construímos universidades para nossos filhos, mas negamos a mesma
chance aos jovens que 23 foram deserdados do Ensino Médio completo com

www.projetoredacao.com.br
qualidade. Somos escravocratas de um novo 24 tipo: a negação da educação
é parte da obra deixada pelos séculos de escravidão.

25
A exclusão da educação substituiu o sequestro na África, o transporte até
o Brasil, a prisão e o 26 trabalho forçado. Somos escravocratas que não
pagamos para ter escravos: nossa escravidão 27 ficou mais barata, e o
dinheiro para comprar os escravos pode ser usado em benefício dos novos
28
escravocratas. Como na escravidão, o trabalho braçal fica reservado para
os novos escravos: os 29 sem educação.

30
Negamo-nos a eliminar a obra da escravidão.

31
Somos escravocratas porque ainda achamos naturais as novas formas de
escravidão; e nossos 32 intelectuais e economistas comemoram minúscula
distribuição de renda, como antes os senhores 33 se vangloriavam da
melhoria na alimentação de seus escravos, nos anos de alta no preço do 34
açúcar. Continuamos escravocratas, comemorando gestos parciais. Antes,
com a proibição do 35 tráfico, a lei do ventre livre, a alforria dos sexagenários.
Agora, com o bolsa família, o voto do 36 analfabeto ou a aposentadoria rural.
Medidas generosas, para inglês ver e sem a ousadia da 37 abolição plena.

38
Somos escravocratas porque, como no século XIX, não percebemos a
estupidez de não abolirmos 39 a escravidão. Ficamos na mesquinhez dos
nossos interesses imediatos negando fazer a revolução 40 educacional que
poderia completar a quase-abolição de 1888. Não ousamos romper as
amarras 41 que envergonham e impedem nosso salto para uma sociedade
civilizada, como, por 350 anos, a 42 escravidão nos envergonhava e
amarrava nosso avanço.

43
Cem anos depois da morte de Joaquim Nabuco, a obra criada pela
escravidão continua, porque 44 continuamos escravocratas. E, ao
continuarmos escravocratas, não libertamos os escravos 45 condenados à
falta de educação.

CRISTOVAM BUARQUE
Adaptado de http://oglobo.globo.com, 30/01/2000.

Questão 65)

No desenvolvimento da argumentação, o autor enumera razões específicas,


facilmente constatadas no cotidiano, para sustentar sua opinião, anunciada
no título, de que todos nós seríamos ainda escravocratas.
Esse método argumentativo, que apresenta elementos específicos da
experiência social cotidiana, para deles extrair uma conclusão geral, é
conhecido como:

www.projetoredacao.com.br
a) direto
b) dialético
c) dedutivo
d) indutivo

TEXTO: 25 - Comum à questão: 66

Leia os versos de Almeida Garrett.

Não te amo, quero-te: o amor vem da alma.


E eu na alma – tenho a calma,
A calma – do jazigo.
Ai! Não te amo, não.

Não te amo, quero-te: o amor é vida.


E a vida – nem sentida
A trago eu já, comigo.
Ai, não te amo, não!

Ai! não te amo, não; e só te quero


De um querer bruto e fero
Que o sangue me devora,
Não chega ao coração.

Questão 66)

Em ordem direta e de forma concisa, os versos – Ai! não te amo, não; e só


te quero / De um querer bruto e fero / Que o sangue me devora, / Não chega
ao coração. – assumem a seguinte redação:

a) Ai! não te amo, não; te quero! De um querer que o sangue me devora


bruto e fero e não chega ao coração.
b) Ai! não te amo; e só te quero. De um querer bruto e fero, do qual o
sangue me devora, sem que chegue ao coração.
c) Não te amo, não; e só te quero – de um querer bruto e fero que me
devora o sangue, e não chega ao coração.
d) Não te amo, só te quero: de um querer bruto e fero, que devora o meu
sangue, mas não chega ao coração.
e) Não te amo; e só te quero. De um querer bruto e fero ao qual o sangue
me devora, embora não chegue ao coração.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 26 - Comum à questão: 67

Feito em casa

Na era digital, as empresas de tecnologia costumam desbravar novos


territórios. No entanto, há duas semanas, uma decisão do Yahoo! causou
polêmica: a empresa de tecnologia decidiu banir o home office de todas as
suas filiais. A justificativa enviada aos funcionários foi a de que “a velocidade
e a qualidade são muitas vezes sacrificadas quando se trabalha em casa”.
No Brasil, continua-se a defender a prática, mas com ressalvas: há vários
cuidados necessários para torná-la realmente eficiente.
Diego Gomes, paulistano, funcionário de uma instituição bancária,
trabalha dois dias por semana em casa. Ele optou pelo trabalho remoto no
dia do rodízio de seu carro e na sexta-feira, quando o trânsito é pior.
Apesar de reconhecer os benefícios, ele afirma que precisou tomar
precauções para sua produtividade não ser afetada, como criar um ambiente
de escritório em casa e conversar com sua família. “[Com a família] precisa
ser duro: das 9 h às 18 h, estou trabalhando: não vou ao mercado e não vou
consertar chuveiro. Tem que deixar claro.”
No banco onde Diego atua, os funcionários que se interessam pelo
teletrabalho têm de participar de um workshop e precisam fazer uma
autoavaliação. Eles precisam verificar, por exemplo, se trabalham com
independência e se sabem cumprir metas diárias ou se sua performance
precisa de acompanhamento constante.
As empresas também procuram descartar certos funcionários na hora de
escolher quem fará home office. A diretora de RH Edna Bedani afirma que
estagiários não devem atuar em casa. “São pessoas em formação, que
precisam de orientação”, afirma.
Especialistas também destacam a necessidade de disciplina do
profissional que fica em casa. “É preciso manter a rotina como se você fosse
para o escritório: acordar, tomar banho, tomar café, vestir-se etc., afirma
Jorge Matos, presidente de uma agência especializada em gestão de
pessoas e carreiras.

(Felipe Maia com a colaboração de Reinaldo Chaves,


Folha de S. Paulo, 10.03.2013. Adaptado)

Questão 67)
Releia o segundo parágrafo do texto.

No Brasil, continua-se a defender a prática, mas com ressalvas: há vários


cuidados necessários para torná-la realmente eficiente.

O trecho em destaque pode ser substituído, corretamente e sem alteração


do sentido do texto, por

www.projetoredacao.com.br
a) e com indagações: existe...
b) ou com condições: existem...
c) porém com vantagens: existem...
d) todavia com restrições: existem...
e) embora com exceções: existe...

TEXTO: 27 - Comum à questão: 68

ASMÁTICOS E ASMÓLOGOS

1
Não sei por que veio bater aqui em casa uma revista médica. Tomei
conhecimento de como a 2 betaciclodextrina é metabolizada em glicose. Mas
o que me impressionou mesmo foi o que há de 3 novidade em matéria de
terapêutica da asma. Meu conhecimento no ramo não foi adquirido nos 4
livros. Ainda que remoto, é saber de experiência feito. Uma vez imaginei
fundar um clube dos 5 asmáticos. Fôlego curto, o Octavio Malta foi um que
se entusiasmou.

6
Mas os asmáticos não são muito unidos. Tampouco os ex-asmáticos. É o
meu caso, apesar 7 de uma ou outra ameaça que lá de vez em quando me
assusta. E quase sempre nos momentos mais 8 inoportunos. Uma noite em
Madri tive de sair de um jantar direto para uma farmácia. Se não 9 opusesse
feroz resistência, me recolhiam a um pronto-socorro com direito a balão de
oxigênio. Lá se 10 vão vinte anos. Foi minha última crise, espero. Última, isto
é, derradeira.

11
Do tal clube dos asmáticos ficou uma crônica do Paulo Mendes Campos.
Para o asmático, 12 dizia ele, não há nada mais ofensivo do que perguntar
se asma pega. Pois não é contagiosa. É de 13 nascença e não mata. Dizem
até que garante vida longa. Se não tiver complicação, o asmático fica 14 pra
semente. Como a tuberculose nos velhos tempos, a asma teria afinidade
com certo tipo de gente. 15 Gente sensível e inteligente. Verdade ou não, é
um consolo.

16
Proust, por exemplo, todo mundo sabe que foi asmático. Vivia num sufoco
tremendo, fechado 17 naquele quarto forrado de cortiça. Isso nos seus
últimos anos de vida, depois que encerrou a fase 18 mundana. O que eu não
sabia e a tal revista me informou é que há hoje a asmologia. E há 19
asmólogos, claro. Aliás, aí em São Paulo existe um Jornal da Asma. Graças
ao seu editor, dr. Charles 20 K. Naspitz, pude ler exemplares de vários
números.

21
Boa parte do mistério e até, por que não?, do encanto da asma é porque
se trata de uma 22 doença hereditária e noturna. Ataca de preferência à noite.
E se retira com o sol. Na velha ortografia, 23 escrevia-se asthma. Palavra
grega, tem a ver com aspirar. A reforma ortográfica cortou o th. Se por 24 um

www.projetoredacao.com.br
lado simplificou o nome da doença, por outro aliviou a dispneia dos
asthmaticos. Um acesso em 25 Paris, por exemplo, ainda hoje é bem mais
grave. O th não soa, mas em francês ainda se escreve 26 asthme.

27
Imagine o que sofreu o pobre do Machado de Assis. Não sabia que ele era
asmático? Eu 28 também não. Sabíamos que era epiléptico. Pois o Jornal da
Asma o inclui entre os asmáticos. Já 29 tinha ouvido falar no estilo de gago
do Machado. Sim, também era gago. Há de ver que o ritmo da 30 sua prosa
vem é da asma. Outro que pagou tributo à sufocação foi o Graciliano Ramos.
Fumava que 31 nem um desesperado. Cigarro mata-rato. E asmático! Eu o
conheci e não sabia.

32
Explica-se por aí o temperamento abespinhado do Velho Graça. Outro
asmático foi Augusto 33 dos Anjos. Aquele pessimismo todo, coitado, era falta
de ar. Vivia a um passo da asfixia, numa época 34 em que a asmologia
apenas engatinhava. Não se sabia o que hoje se sabe, ou se propala. Sendo
35
uma forma de hipersensibilidade, que tem a ver com a respiração, isto é,
com a própria vida, a asma 36 inclina a pessoa para as letras e as artes. Dura
compensação!
(RESENDE, Otto Lara. Bom dia para nascer. S.P.:
Companhia das Letras, 2011, p.p.76-78. Texto adaptado.)

Questão 68)
A frase reescrita conserva o mesmo sentido da original em:

a) “Ainda que remoto, é saber de experiência feito.” (Ref. 4)


– Em função de ser antiga, a experiência se deteriora.
b) “Não se sabia o que hoje se sabe, ou se propala.” (Ref. 34)
– É inquestionável que hoje a propagação da asma é mais conhecida.
c) “Se não tiver complicação, o asmático fica pra semente.” (Ref. 13)
– Na falta de complicação, o asmático deixa descendência.
d) “Fôlego curto, o Octavio Malta foi um que se entusiasmou.” (Ref. 5)
– Por ser também asmático, o Octavio Malta foi um que se entusiasmou.

TEXTO: 28 - Comum à questão: 69

A última lição de Chico Anysio

A última entrevista de Chico Anysio, falecido em março, foi feita em sua casa
e não foi para nenhum jornal, rádio ou TV. Com cerca de 40 minutos de
duração, foi concedida ao psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da
Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Chico havia sido convidado para ser padrinho da campanha "A sociedade
contra o preconceito", 5 da ABP, lançada no Congresso Brasileiro de
Psiquiatria, ano passado. Devido ao seu estado de saúde e com medo de

www.projetoredacao.com.br
não comparecer ao evento, fez questão de deixar algumas palavras aos
médicos na abertura do congresso, onde seu depoimento foi exibido.

Como sua fala é de grande valia, divido com os leitores algumas de suas
últimas palavras. 9 Paciente orgulhoso do psiquiatra Marcos Gebara por
quase 25 anos, fez questão de explicitar a importância do tratamento
psiquiátrico na sua vida. "Sem os remédios da psiquiatria, eu não teria feito
20% do que fiz."

O grande Chico Anysio, que divertiu a vida de gerações de brasileiros, sofreu


de depressão por anos a fio.

14
"Depressão é um quadro que só se controla com remédio. O
antidepressivo acertou a minha vida. 15 A psiquiatria é fundamental como o
ar que eu respiro." A depressão era "um demônio, um gás letal, ela entra e
a pessoa não sente que está deprimida. Os outros é que descobrem".

17
Chico definiu como "criminoso" o preconceito contra as doenças mentais,
traduzido pela palavra psicofobia. "Achar que ir ao psiquiatra ainda é coisa
de maluco é retrato do preconceito. Depressão é uma coisa, maluquice é
outra", comparou.

20
Chico se revoltou com o descaso com que governos e autoridades lidam
com os transtornos mentais e o fornecimento de medicamentos.

"Se é possível ajudar e curar pessoas e isso não é feito, é crime. O governo
tem esse dever. Não é favor colocar os remédios psiquiátricos ao alcance
dos pobres, é obrigação. É dever do governo. Remédios psiquiátricos
precisam ser gratuitos para quem precisa, assim como já acontece com os
soropositivos", propôs.

Ele afirmava que seu grande mal não era a depressão, mas o cigarro. "Meu
pulmão foi meu grande adversário. O grande criminoso da minha vida foi o
cigarro. Eu venci a depressão porque pude pagar remédios e psiquiatra. A
depressão é vencível, é controlável. É só ir ao psiquiatra e tomar os
remédios. O cigarro não."

Ele era categórico em afirmar que seu único arrependimento em quase 80


anos de vida era o vício 31 no cigarro. "Sou do tempo em que fumar era coisa
de macho. Cary Grant fumava, Humphrey Bogart fumava... Conseguir que
uma pessoa pare de fumar significa que ela volte a viver", afirmou
emocionado.

Ele foi capaz de um feito raro: parar de fumar sozinho. Mas, infelizmente, já
era tarde demais. Os danos ao pulmão e coração eram de tal ordem que
muito pouco poderia ser revertido. Antes de falecer, Chico andava com a

www.projetoredacao.com.br
ideia de criar uma fundação com seu nome para apoiar os estudos de
combate ao tabagismo. Infelizmente, não teve tempo.

Ele tinha a dimensão do poder que suas palavras poderiam ter para as
vítimas de depressão e tabagismo.

"O humor só existe em países com problemas. Não existe humorista sueco
ou finlandês. Do problema nasce o humor. Como humorista, não tenho
nenhum poder de consertar uma coisa, mas tenho o dever de denunciá-la.
É o que estou fazendo aqui: denunciando a falta de socorro aos doentes
mentais no Brasil".

Que o seu contundente relato alcance aqueles que ainda fumam ou


questionam os danos que os transtornos mentais não tratados podem causar
na vida de quem os sofre, seus familiares e amigos. 46 Se Chico conseguiu
diminuir a tristeza de milhões de brasileiros com o sorriso, que ele possa
agora diminuir o preconceito contra as doenças psiquiátricas por meio de
suas palavras.

(GIGLIOTTI, A. Folha de São Paulo, 14/08/2012, 1º caderno, p.3.)


* Analice Gigliotti,48, mestre em psiquiatria pela Unifesp, é médica e
sobrinha de Chico Anysio

Questão 69)

Releia o trecho: “Paciente orgulhoso do psiquiatra Marcos Gebara por quase


25 anos, fez questão de explicitar a importância do tratamento psiquiátrico
na sua vida.” Os trechos abaixo sofreram deslocamento de palavras. O único
cuja alteração compromete o sentido do texto é:

a) Orgulhoso paciente do psiquiatra Marcos Gebara por quase 25 anos, fez


questão de explicitar a importância do tratamento psiquiátrico na sua
vida.
b) Por quase 25 anos paciente orgulhoso do psiquiatra Marcos Gebara, fez
questão de explicitar a importância do tratamento psiquiátrico na sua
vida.
c) Orgulhoso do psiquiatra Marcos Gebara por quase 25 anos, paciente,
fez questão de explicitar a importância do tratamento psiquiátrico na sua
vida.
d) Fez questão de explicitar a importância do tratamento psiquiátrico na sua
vida, paciente orgulhoso do psiquiatra Marcos Gebara por quase 25
anos.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 29 - Comum à questão: 70

A sorte do mendigo branco num país que vira a cara para os mendigos
negros
Robson Fernando de Souza

No Brasil, a raça ainda é um determinante se a pessoa vai ou não se dar


bem na vida. O caso do mendigo branco de olhos azuis de Curitiba é um
exemplo emblemático disso.
Uma história em que pobreza, padrão eurocêntrico de beleza e cultura
racista se chocam vem movimentando a internet. Um mendigo fotografado
em Curitiba está sendo assunto em todo o Brasil, por ser um branco de olhos
azuis, “mas” ter sido castigado pela pobreza mendicante. Quando sabemos
dessa novidade e a comparamos com a vida de milhares de outros mendigos
pelo Brasil, percebemos o quanto a cultura brasileira ainda é muito
impregnada de racismo.
O mendigo branco, cujo nome ainda não foi revelado, vive nas ruas de
Curitiba e posou para a foto desejando “ser colocado no rádio” para ficar
famoso. A fotografia foi posta no Facebook e agora campeia pelo Brasil
inteiro, chamando atenção de mulheres e homens. Ora é considerado “lindo
de morrer”, com muitas mulheres querendo namorá-lo e abrigá-lo,
encantadas com a beleza dele; ora vem sendo candidato às passarelas da
moda, como o modelo “dos sonhos” das grifes; ora tem sua mendicância
posta em dúvida, principalmente, por ser um branco de olhos azuis, parecido
demais com um europeu para ter sua pobreza reconhecida. As opiniões
convergem em sua maioria a um ponto: ele é “lindo” demais para continuar
mendigo.
E enquanto isso, no mesmo Brasil, inclusive na mesma Curitiba, milhares
de negros e pardos padecem de miséria igual ou pior, mas, por sua vez,
permanecem tratados como rejeitos da sociedade, como seres dignos de
nada mais do que pena ou virada de rostos. Muitos ainda clamam pela mídia,
por um pouco de atenção e humanitarismo, e tudo o que conseguem são
poucos minutos na TV ou no rádio, algumas doações e, com sorte, uma
ajuda de alguma ONG de assistência social ou do órgão oficial de serviço
social da prefeitura. Mas praticamente nunca são abraçados pelo padrão
cultural de beleza dominante no país, tornados celebridades instantâneas
em função de sua aparência física e alçados a modelos “sarados” e
adorados.
É aí que começamos a pensar: se fosse um negro de fortes traços
africanos ou um mulato, seria prontamente rejeitado em sua demanda de
“ser colocado no rádio” ou receber ajuda humanitária, empregatícia e/ou
habitacional de algum político ou empresa. Não chamaria a atenção de
quase ninguém na internet, exceto de algumas meias-dúzias de moças ou
rapazes que gostam da beleza negra. Seria apenas mais um entre milhares
de mendigos que vagam pelos centros das cidades do Brasil. Sua foto seria

www.projetoredacao.com.br
recebida com desdém pela sociedade, e ele voltaria, logo após a fotografia,
às ruas, para ali viver por tempo indeterminado, senão para sempre.
Em outras palavras, para nossa sociedade, não é normal ver em
mendicância e miséria um branco de aparência europeia. Para ela, brancos
merecem muito mais do que isso. Mas, por outro lado, negros nas ruas
pedindo esmolas e implorando por dignidade é considerado algo mais que
normal. É tradição já.Por que eles merecem ser alçados a modelos a serviço
da alta costura? Que se virem, vão trabalhar, procurar um emprego, correr
atrás da escola aonde não foram na infância – assim pensa grande parte da
sociedade que está agora se compadecendo com o pedinte
eurodescendente.
Observando a história e seu contexto, percebemos que a grande sorte do
mendigo ainda anônimo foi ser branco de olhos azuis, ter um forte fenótipo
eurodescendente – e talvez ser até mesmo um imigrante europeu
desabrigado. Sua beleza caiu nas graças do povo, seu nome será revelado
a qualquer momento, e agora ele está tendo seu momento de fama e poderá
virar um modelo a encantar as grifes e as pessoas que apreciam a beleza
masculina. Se fosse negro, sendo ou não um imigrante, seria considerado
“feio”, rebaixado a apenas “mais um” e continuaria visto como um mero
rejeito a ser tratado como lixo pela sociedade, pelo Estado e por seu braço
violento, a polícia.
A verdade é que o sujeito está prestes a subir na vida não tanto por acaso,
talento ou esforço. Mas sim porque nossa sociedade é racista e eurocêntrica
e, ao mesmo tempo que vira a cara para negros em situação de miséria, se
compadece de brancos que estão no mesmo estado. Afinal, ver
afrodescendentes pedindo esmola e padecendo nas ruas é “normal”, mas
brancos de olhos azuis considerados “bonitões” não.
Se os brasileiros parassem de achar normal haver negros em miséria nas
ruas e começassem a apreciar o padrão de beleza deles, passaríamos a ver
as passarelas lotadas de exmendigos, fazendo companhia,
profissionalmente, ao curitibano.
Este sequer se tornaria a celebridade instantânea que se tornou. Mas se
isso não acontece – e, ao invés, a miséria negra é tratada com banalidade –
, é porque o racismo, destacadamente em suas vertentes social e estética,
continua imperando fortemente e fazendo os brasileiros de todas as cores
acharem brancos melhores que negros apenas por terem pele, cabelo e
olhos claros.

Disponível em: <http://consciencia.blog.br/2012/10>.


Acesso em: 18 out. 2012. [Adaptado]

Questão 70)
Compare o funcionamento discursivo do elemento de coesão sublinhado nos
dois fragmentos a seguir e assinale a alternativa que expressa,
respectivamente, o efeito semântico de cada uma das duas ocorrências
dessa palavra nesses trechos.

www.projetoredacao.com.br
Fragmento 1:
“Se os brasileiros parassem de achar normal haver negros em miséria nas
ruas e começassem a apreciar o padrão de beleza deles...” (penúltimo
parágrafo)
Fragmento 2:
“Mas se isso não acontece (...) é porque o racismo (...) continua imperando
fortemente...” (último parágrafo)

a) Justificação / negação.
b) Injunção / contestação.
c) Previsão / condição.
d) Aconselhamento / confirmação.
e) Negação / previsão.
TEXTO: 30 - Comum às questões: 71, 72

Adesivos de família

A representação das recentes mudanças na família brasileira pode ser vista


em lugares distintos, como nas novelas, na literatura moderna e, em um
fenômeno recente, nos adesivos colados nos veículos. Uma pesquisa
identificou a prática de colar adesivos como uma sensação de
pertencimento, uma necessidade de mostrar que não se está sozinho no
mundo, ou que, mesmo sozinho, vive-se bem desta maneira. Segundo a
pesquisa, cada vez mais os espaços público e privado estão se
entrelaçando, gerando novas formas de discursividades – sendo os
adesivos de família um exemplo disso. Segundo a pesquisa, um aspecto
importante é que há o estereótipo da família (da ‘família feliz’), que teria uma
constituição pré-determinada (pai-mãe-filho(s)-cachorro) e também o
estereótipo de cada um dentro dessa família.
De acordo com a pesquisa, porém, em um curto período de tempo, os
adesivos ganharam uma complexidade que está além dos estereótipos
clássicos. Foi o início do processo de customização. Começaram a aparecer
famílias com dois homens, duas mulheres, cinco gatos, sete filhos, uma mãe
e uma filha, apenas uma pessoa e seus animais de estimação, dentre outros,
como forma de enunciar sua família para a sociedade.
Fonte: Romulo Orlandini, Adesivos de família são tendência de formas de
enunciação pública. ComCiência: revista eletrônica de
Jornalismo Científico, 21/03/2012. Disponível em:
http://www.comciencia.br/comciencia/?
section=3&noticia=736. Acesso em: 12 set. 2012. Adaptado.

www.projetoredacao.com.br
Questão 71)
Do texto foi alterada a estrutura sintática e morfológica de alguns fragmentos
(a ordem dos termos).

Assinale a alternativa que indica CORRETAMENTE em que o sentido se


mantém inalterado, isto é, o sentido é o mesmo do texto.

a) Mudanças nas recentes representações podem ser vistas em lugares


distintos na família brasileira.
b) Ganharam os adesivos uma complexidade que está além dos
estereótipos clássicos, em um curto período de tempo.
c) Colar adesivos, na prática, identificou uma pesquisa como uma
sensação de pertencimento.
d) Novas formas de discursividades estão se entrelaçando, gerando
espaços público e privado.
e) Há um aspecto pré-determinado que o estereótipo da família (da ‘família
feliz’) é que teria uma constituição importante.

Questão 72)
Considerando as palavras fenômeno, privado, discursividades, estereótipo e
customização, assinale a alternativa CORRETA em que a palavra em
destaque mantém o mesmo significado usado no texto.

a) Os brasileiros lamentam a ausência do Fenômeno na próxima Copa do


Mundo.
b) Ando percebendo que o estereótipo do jovem hoje é de alguém imaturo,
alienado e pouco pensante.
c) Ninguém mais aguenta as discursividades dos políticos quando sobem
nos palanques, nos comícios, para falar aos seus eleitores.
d) A natureza agradecerá no dia em que todos tiverem a customização de
produzir menos lixo ou reciclá-lo adequadamente.
e) Muitos brasileiros são privados de seus direitos mais elementares.

TEXTO: 31 - Comum às questões: 73, 74

A IMPORTÂNCIA DO NÚMERO ZERO (Maria Fernanda Vomero – Abril


de 2001)

A invenção do zero foi uma das maiores aventuras intelectuais da


humanidade – e não só para a matemática.


As regras que valem para todos os outros não servem para ele. Só as
obedece como e quando bem entende. “Assim faço a diferença”, costuma
dizer. Mas não é nem um pouco egoísta. Pelo contrário. Quanto mais à
direita ele vai, mais aumenta o valor do colega da esquerda, multiplicando-o
por dez, 100 ou 1.000. Trata-se de um revolucionário. Com ar de bonachão,

www.projetoredacao.com.br
dá de ombros quando é comparado ao nada. “Sou mesmo”, diz. “Mas isso
significa ser tudo.” Com vocês, o número zero – que ganha, nestas páginas,
o papel que lhe é de direito: o de protagonista de uma odisseia intelectual
que mudou o rumo das ciências exatas e trouxe novas reflexões para a
história das ideias.

Pode soar como exagero atribuir tal importância a um número
aparentemente inócuo. Às vezes, você até esquece que ele existe. Quem se
preocupa em anotar que voltou da feira com zero laranjas? Ou que comprou
ração para seus zero cachorrinhos? Só fica preocupado quando descobre
um zero na conta bancária. Mesmo assim, logo que chega o pagamento
seguinte, não sobra nem lembrança daquele número gorducho.

O símbolo “0” e o nome zero estão relacionados à ideia de nenhum, não-
existente, nulo. Seu conceito foi pouco estudado ao longo dos séculos. Hoje,
mal desperta alguma curiosidade, apesar de ser absolutamente instigante.
“O ponto principal é o fato de o zero ser e não ser. Ao mesmo tempo indicar
o nada e trazer embutido em si algum conteúdo”, diz o astrônomo Walter
Maciel, professor da Universidade de São Paulo. Se essa dialética parece
complicada para você, cidadão do século XXI, imagine para as tribos
primitivas que viveram muitos séculos antes de Cristo.

A cultura indiana antiga já trazia uma noção de vazio bem antes do
conceito matemático de zero. “Num dicionário de sânscrito, você encontra
uma explicação bastante detalhada sobre o termo indiano para o zero, que
é shúnya”, afirma o físico Roberto de Andrade Martins, do Grupo de História
e Teoria da Ciência da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Como adjetivo, shúnya significa vazio, deserto, estéril. Aplica-se a uma
pessoa solitária, sem amigos; a um indivíduo indiferente ou insensível. O
termo descreve um sentimento de ausência, a falta de algo, uma ação sem
resultados. Como substantivo, shúnya refere-se ao nada, ao vácuo, à
inexistência. A partir do século VIII d.C., os árabes levaram para a Europa,
junto com os outros algarismos, tanto o símbolo que os indianos haviam
criado para o zero quanto à própria ideia de vazio, nulo, não-existente. E
difundiram o termo shúnya – que, em árabe, se tornou shifr e foi latinizado
para zephirum, depois zéfiro, zefro e, por fim, zero.

Bem distante da Índia, nas Américas, por volta dos séculos IV e III a.C., os
maias também deduziram uma representação para o nada. O sistema de
numeração deles era composto por pontos e traços, que indicavam unidades
e dezenas. Tinham duas notações para o zero. A primeira era uma elipse
fechada que lembrava um olho. Servia para compor os números. A segunda
notação, simbólica, remetia a um dos calendários dos maias. O conceito do
vazio era tão significativo entre eles que havia uma divindade específica para
o zero: era o deus Zero, o deus da Morte. “Os maias foram os inventores
desse número no continente americano. A partir deles, outros grupos, como
os astecas, conheceram o princípio do zero”, diz o historiador Leandro
Karnal, da Unicamp.

E os geniais gregos, o que pensavam a respeito do zero? Nada. Apesar
dos avanços na geometria e na lógica, os gregos jamais conceberam uma
representação do vazio, que, para eles, era um conceito até mesmo

www.projetoredacao.com.br
antiestético. Não fazia sentido existir vazio num mundo tão bem organizado
e lógico – seria o caos, um fator de desordem. (Os filósofos pré-socráticos
levaram em conta o conceito de vazio entre as partículas, mas a ideia não
vingou.) Aristóteles chegou a dizer que a natureza tinha horror ao vácuo.

“Conceber o conceito do zero exigiu uma abstração muito grande”, diz o
historiador da matemática Ubiratan D’Ambrosio, da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC). Quando o homem aprendeu a calcular, há
cerca de 5.000 anos, fazia associações simples a partir de situações
concretas: para cada ovelha, uma pedrinha. Duas ovelhas, duas pedrinhas
e assim por diante. “Se sobrassem pedras, o pastor sabia que provavelmente
alguma ovelha tinha sido atacada por um lobo ou se desgarrado das
demais”, diz o matemático Irineu Bicudo, da Universidade Estadual Paulista
(Unesp), em Rio Claro. O passo seguinte foi representar graficamente esses
números com símbolos e fazer contas com eles.

Os babilônios, que viveram na Mesopotâmia (onde hoje é o Iraque) por
volta do ano 2.500 a.C., foram os primeiros a chegar a uma noção de zero.
Pioneiros na arte de calcular, criaram o que hoje se chama de “sistema de
numeração posicional”. Apesar do nome comprido, a ideia é simples. “Nesse
sistema, os algarismos têm valor pela posição que ocupam”, explica Irineu.
Trata-se do sistema que utilizamos atualmente. Veja o número 222 – o valor
do 2 depende da posição em que ele se encontra: o primeiro vale 200, o
segundo 20 e o terceiro 2. Outros povos antigos, como os egípcios e os
gregos, não usavam esse sistema – continuavam a atribuir a cada número
um sinal diferente, fechando os olhos para a possibilidade matemática do
zero.

O sistema posicional facilitou, e muito, os cálculos dos babilônios. Contudo,
era comum que muitas contas resultassem em números que apresentavam
uma posição vazia, como o nosso 401. (Note que, depois do 4, não há
número na casa das dezenas. Se você não indicasse essa ausência com o
zero, o 401 se tornaria 41, causando enorme confusão.) O que, então, os
babilônios fizeram? Como ainda não tinham o zero, deixaram um espaço
vazio separando os números, a fim de indicar que naquela coluna do meio
não havia nenhum algarismo (era como se escrevêssemos 4_1). O palco
para a estreia do zero estava pronto. Com o tempo, para evitar qualquer
confusão na hora de copiar os números de uma tábua de barro para outra,
os babilônios passaram a separar os números com alguns sinais específicos.
“Os babilônios tentaram representar graficamente o nada, mostrando o
abstrato de uma forma concreta”, diz Ubiratan.
10°
Perceba como um problema prático – a necessidade de separar números
e apontar colunas vazias – levou a uma tentativa de sinalizar o não-existente.
“Trata-se de uma abstração bastante sofisticada representar a inexistência
de medida, o vazio enquanto número, ou seja, o zero”, diz a historiadora da
ciência Ana Maria Alfonso Goldfarb, da PUC. “Temos apenas projeções
culturais a respeito do que é abstrato”, afirma Leandro Karnal. Na tentativa
de tornar concreta uma situação imaginária, cada povo busca as referências
que tem à mão. Veja o caso dos chineses: eles representavam o zero com

www.projetoredacao.com.br
um caractere chamado ling, que significava “aquilo que ficou para trás”, como
os pingos de chuva depois de uma tempestade.
Trata-se de um exercício tremendo de abstração. Você já parou para pensar
como, pessoalmente, encara o vazio?
11°
Apesar de ser atraente, o zero não foi recebido de braços abertos pela
Europa, quando apareceu por lá, levado pelos árabes. “É surpreendente ver
quanta resistência a noção de zero encontrou: o medo do novo e do
desconhecido, superstições sobre o nada relacionadas ao diabo, uma
relutância em pensar”, diz o matemático americano Robert Kaplan, autor do
livro The Nothing That Is (O Nada que Existe, recém-lançado no Brasil) e
orientador de um grupo de estudos sobre a matemática na Universidade
Harvard. O receio diante do zero vem desde a Idade Média. Os povos
medievais o ignoravam solenemente. “Com o zero, qualquer um poderia
fazer contas”, diz Ana Maria. “Os matemáticos da época achavam que
popularizar o cálculo era o mesmo que jogar pérolas aos porcos.” Seria uma
revolução.
12°
Por isso, Kaplan considera o zero um número subversivo. “Ele nos obriga
a repensar tudo o que alguma vez já demos por certo: da divisão aritmética
à natureza de movimento, do cálculo à possibilidade de algo surgir do nada”,
afirma. Tornou-se fundamental para a ciência, da computação à astronomia,
da química à física. “O cálculo integral e diferencial,desenvolvido por Newton
e Leibniz, seria inviável sem o zero”, diz Walter Maciel. Nesse tipode cálculo,
para determinar a velocidade instantânea de um carro, por exemplo, você
deve levar em conta um intervalo de tempo infinitamente curto, que tende a
zero. (É estranho calcular quanto o carro se deslocou em “zero segundos”,
mas é assim que funciona.) “O cálculo integral está na base de tudo o que a
ciência construiu nos últimos 200 anos”, diz Maciel.
13°
Ainda hoje o conceito de zero segue revirando nossas ideias. Falta muito
para entendermos a complexidade desse número. Para o Ocidente, o zero
continua a ser uma mera abstração. Segundo Eduardo Basto de
Albuquerque, professor de história das religiões da Unesp, em Assis, o
pensamento filosófico ocidental trabalha com dois grandes paradigmas que
não comportam um vazio cheio de sentido, como o indiano: o aristotélico (o
mundo é o que vemos e tocamos com nossos sentidos) e o platônico (o
mundo é um reflexo de essências imutáveis e eternas, que não podemos
atingir pelos sentidos e sim pela imaginação e pelo conhecimento). “O
Ocidente pensa o nada em oposição à existência de Deus: se não há Deus,
então é o nada”, diz Eduardo. Ora, mesmo na ausência, poderia haver a
presença de Deus. E o vazio pode ser uma realidade. É só pensar na teoria
atômica, desenvolvida no século XX: o mundo é formado por partículas
diminutas que precisam de um vazio entre elas para se mover.
14°
Talvez o zero assuste porque carrega com ele um outro paradigma: o de
um nada que existe efetivamente.
15°
Na matemática, por mais que pareça limitado a um ou dois papéis, a
função do zero também é “especial” – como ele mesmo faz questão de
mostrar – porque, desde o primeiro momento, rebelou-se contra as regras
que todo número precisa seguir. O zero viabilizou a subtração de um número

www.projetoredacao.com.br
natural por ele mesmo (1 – 1 = 0). Multiplicado por um algarismo à escolha
do freguês, não deixa de ser zero (0 x 4 = 0). Pode ser dividido por qualquer
um dos colegas (0 ÷ 3 = 0), que não muda seu jeitão. Mas não deixa nenhum
número – por mais pomposo que se julgue – ser dividido por ele, zero. Tem
ainda outros truques. Você pensa que ele é inútil? “Experimente colocar
alguns gêmeos meus à direita no valor de um cheque para você ver a
diferença”, diz o zero. No entanto, mesmo que todos os zeros do universo se
acomodem no lado esquerdo de um outro algarismo nada muda. Daí a
expressão “zero à esquerda”, que provém da matemática e indica nulidade
ou insignificância.
16°
Mas o zero – como você pôde ver – decididamente não é um zero à
esquerda. “Foi uma surpresa constatar como é central a ideia de zero: o nada
que gera tudo”, diz Kaplan. E mais: há quem diga que o zero é parente do
infinito, outra abstração que mudou as bases do pensamento científico,
religioso e filosófico. “Eles são equivalentes e opostos, yin e yang”, escreve
o jornalista americano Charles Seife, autor de Zero: The Biography of a
Dangerous Idea (Zero: A Biografia de uma Ideia Perigosa), lançado no ano
passado nos Estados Unidos. O epíteto atribuído ao zero no título – ideia
perigosa – não está ali por acaso. “Apesar da rejeição e do exílio, o zero
sempre derrotou aqueles que se opuseram a ele”, afirma Seife. “A
humanidade nunca conseguiu encaixar o zero em suas filosofias. Em vez
disso, o zero moldou a nossa visão sobre o universo – e também sobre
Deus.” E influenciou, sorrateiramente, a própria filosofia. De fato, trata-se de
um perigo.
Disponível em <http://super.abril.com.br/
ciencia/importancia-numero-zero-442058.shtml>. Acesso em 14 mar. 2012.
(ADAPTADO)

Texto II
CERTAS COISAS (Lulu Santos)

(1) Não existiria som


(2) Se não houvesse o silêncio
(3) Não haveria luz
(4) Se não fosse a escuridão
(5) A vida é mesmo assim,
(6) Dia e noite, não e sim...

(7) Cada voz que canta o amor não diz


(8) Tudo o que quer dizer,
(9) Tudo o que cala fala
(10) Mais alto ao coração.
(11) Silenciosamente eu te falo com paixão...

(12) Eu te amo calado,


(13) Como quem ouve uma sinfonia
(14) De silêncios e de luz.

www.projetoredacao.com.br
(15) Nós somos medo e desejo,
(16) Somos feitos de silêncio e som,
(17) Tem certas coisas que eu não sei dizer...

(18) A vida é mesmo assim,


(19) Dia e noite, não e sim...

(20) Cada voz que canta o amor não diz


(21) Tudo o que quer dizer,
(22) Tudo o que cala fala
(23) Mais alto ao coração.
(24) Silenciosamente eu te falo com paixão...

(25) Eu te amo calado,


(26) Como quem ouve uma sinfonia
(27) De silêncios e de luz,
(28) Nós somos medo e desejo,
(29) Somos feitos de silêncio e som,
(30) Tem certas coisas que eu não sei dizer...
Disponível em <http://letras.terra.com.br/lulu-santos/35063/> Acesso em 15
mar. 2012.

Questão 73)
Assinale a alternativa em que o elemento destacado (texto I) pertence a uma
classe gramatical diferente em relação aos demais:

a) “atribuir tal importância a um número”. (2º parágrafo)


b) “Aplica-se a uma pessoa solitária” (4º parágrafo)
c) “O termo descreve um sentimento de ausência, a falta de algo...” (4 º
parágrafo)
d) “A partir deles, outros grupos, como os astecas...” (4º parágrafo)
e) “... atribuir a cada número um sinal diferente” (8º parágrafo)

Questão 74)

Observe, nos fragmentos abaixo, os termos destacados. Assinale a opção


em que a função sintática do termo em destaque é diferente das demais.

a) “Só as obedece como e quando bem entende”. (1º parágrafo, texto I)


b) “Ao mesmo tempo indicar o nada e trazer embutido em si algum
conteúdo”. (3º parágrafo, texto I)
c) “A primeira era uma elipse fechada que lembrava um olho”. (5º
parágrafo, texto I)
d) “Trata-se do sistema que utilizamos atualmente”. (8º parágrafo, texto I)
e) "Por isso, Kaplan considera o zero um número subversivo”. (12º
parágrafo, texto I)

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 32 - Comum à questão: 75

1
O que devemos fazer quando a promessa de 2 progresso monetário ou
de eficiência econômica significa 3 estabelecer um preço para os bens
considerados sem4 preço? Enfrentamos continuamente o dilema de nos 5
movimentar em mercados moralmente questionáveis na 6 expectativa de
alcançar fins meritórios.
7
No livro O que o dinheiro não compra — os limites 8 morais do mercado,
Michael J. Sandel apresenta uma 9 claríssima descrição do processo de
mercantilização 10 da vida do homem contemporâneo e nos mostra um 11
sombrio quadro do totalitarismo econômico do sistema 12 capitalista, capaz
de subverter as disposições éticas 13 mais basilares da conduta humana em
nome do 14 encilhamento financeiro. Nesse contexto, tudo se torna 15
plenamente comercializável, seja a aquisição do diploma 16 universitário, o
atendimento prioritário nas filas de 17 embarque dos aeroportos, a
possibilidade de participação 18 nas seções parlamentares, assim como a
venda de 19 autógrafos dos ídolos esportivos ou mesmo a venda de 20 órgãos
do corpo humano, dentre inúmeras outras 21 circunstâncias bizarras.
22
A vida humana se torna, na sociedade 23 contemporânea, o grande
motor do capital. Se antes o 24 dinheiro era o suporte econômico para a
manutenção 25 material da vida humana, agora essa passa a se 26 submeter
cegamente aos ditames financeiros. Diz-se 27 popularmente que “dinheiro
não tem cheiro”: o dinheiro 28 é desprovido de conteúdo moral, uma vez que
é apenas 29 um instrumento que serve de intermédio para as 30 transações
comerciais humanas. Nessa perspectiva, o 31 que importa é o negócio e não
a origem do dinheiro; 32 todavia as ações capitaneadas pela acumulação
cada 33 vez mais sôfrega de lucros são plenamente regidas pela 34 órbita da
moralidade, circunstância que justifica a 35 aplicação de paradigmas
axiológicos na análise filosófica 36 da relação humana com o dinheiro.
Quanto mais o 37 mercado aumenta a sua infiltração nas esferas não 38
econômicas da vida humana, mais ele se envolve em 39 questões
tipicamente morais. A era do triunfalismo do 40 mercado coincidiu com um
período no qual o discurso 41 público se diluiu radicalmente de qualquer
substância 42 moral e espiritual. Talvez nossa única esperança de 43 manter
a estrutura do mercado em seu devido lugar seja 44 discutirmos o genuíno
significado dos bens e das 45 práticas sociais que valorizamos na vida social.
46
O dinheiro tornou-se uma horrenda hipóstase 47 humana, cultuada como
o suprassumo da existência 48 de cada pessoa. Os signos que regem a
dinâmica da 49 máxima exploração comercial de bens e valores são 50 signos
teológicos secularizados, pois o dinheiro se 51 tornou o deus do regime
capitalista. Nunca se fez valer 52 de maneira tão infame o lema-mor do
espírito capitalista 53 “tempo é dinheiro”. [...]

DAINEZI, Gustavo. O preço do dinheiro. Filosofia: ciência & vida.


São Paulo: Escola, ano VII, n. 74, p. 78, set. 2012.

www.projetoredacao.com.br
Questão 75)
No período “Se antes o dinheiro era o suporte econômico para a manutenção
material da vida humana, agora essa passa a se submeter cegamente aos
ditames financeiros” (l. 23-26),

a) a construção do período está pautada numa relação de condicionalidade


entre os termos oracionais.
b) os termos “Se” e “se” possuem diversidade de valor gramatical.
c) os vocábulos “antes” e “agora”, como termos adverbiais, denotam um
mesmo tempo histórico.
d) as expressões “suporte econômico” e “ditames financeiros” apresentam
o mesmo conteúdo semântico sob formas estruturais diferentes.
e) a utilização do pronome “essa” remete a algo não diretamente referido
no texto.

TEXTO: 33 - Comum à questão: 76

A Leste do Sol, Oeste da Lua

Aos trancos e barrancos, remendos e cacos


Chegamos às praias do terceiro milênio.
Com os pés feridos e sujos tocando de leve
o límpido oceano de Aquarius.
Com o enorme peso, o custoso fardo
da técnica sem ética da civilização
Num Mundo tão chato e moderno
atado por invisíveis teias e milhões de cabos.
Na mesma imagem, no mesmo som.
Na mesma moda, na mesma cor.
Na mesma tristeza, no mesmo sonho.
Na mesma burrice, no mesmo riso a mesma dor!
Perdemos todas as lições da História.
Em resumo: são vinte mil anos de guerras.
E em nome da tal liberdade
só fogueiras, cadeias, misérias.
E como é curta a nossa memória,
o que sabemos de lemúria1 e Atlantis?
E assim como os Impérios passaram
Passarão as nossas cidades.
E sobre a noite dos tempos,
a luz vigilante da estrela nos diz:
Se quem tem boca vai à Roma,
quem tem coração irá à Andromêda2!
Eu sei de um lugar ao Norte do Cruzeiro do Sul
Do lado direito daquela estrela azul.
A Leste do Sol, Oeste da Lua

www.projetoredacao.com.br
Guitarras e violinos cantam
Sai de casa vem brincar na rua
nas ruas deste grande País
O nome desse País reluz
O nome desse País: Amor
Quem pode dizer o nome desse grande País?
Marcos Viana. Disco Sagrado Coração da Terra

VOCABULÁRIO
1. Lemúria: é um dos continentes extintos, considerados por muitos como
o paraíso perdido, igualmente existe Atlântida, outro continente perdido.
Assim, Lemúria virou muito mais que um mito, uma possibilidade teórica
sobre hipóteses do segredo da formação das civilizações no mundo.
2. Andrômeda ou Andrómeda: é a princesa mitológica Andrômeda, é uma
constelação do hemisfério celestial norte.

Questão 76)
O trecho “quem tem coração irá à Andrômeda!” poderia ser substituído,
respeitado o mesmo significado, pelo dito popular:

a) quem tudo quer, tudo perde.


b) água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
c) casa de ferreiro, espeto de pau.
d) quem quer, faz; quem não quer, manda.
e) ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão.

TEXTO: 34 - Comum à questão: 77

Política literária
Carlos Drummond de Andrade

O poeta municipal
discute com o poeta estadual
qual deles é capaz de bater o poeta federal.
Enquanto isso o poeta federal
tira ouro do nariz.

Questão 77)
Em relação aos aspectos fonológicos, o quarto verso do poema apresenta

a) quatro dígrafos, sendo dois vocálicos e dois consonantais.


b) apenas dois dígrafos, ambos vocálicos.
c) quatro dígrafos vocálicos.
d) um encontro vocálico e três dígrafos.
e) somente três encontros consonantais.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 35 - Comum à questão: 78

Texto I

Ninguém mora onde não mora ninguém

1
Nas grandes cidades, pessoas que não têm onde 2 morar são
contraditoriamente chamadas de “moradores” de rua. 3 É um eufemismo que
acoberta o quadro da injustiça social típica 4 das sociedades em fase de
capitalismo selvagem, aquele no qual 5 a eliminação do outro é a regra. Que
tantos e cada vez mais 6 vivam nas ruas é uma prova de que o famoso
instinto gregário do 7 ser humano se esfacela, ou assume formas cada vez
mais 8 enganadoras, porquanto mais voláteis em uma sociedade que é,9 ao
mesmo tempo, de massas e de indivíduos que não têm a10 menor noção do
que significa o outro.

11
O aumento das relações virtuais em detrimento das 12 relações “atuais” é
a própria perversão das massas marcadas 13 pela anulação física individual
em nome de um eu abstrato, 14 sustentado apenas como imagem, como
avatar, e que tem como 15 correspondente um outro reduzido à sua mera
abstração. Há, 16 certamente, exceções para a regra da distância com que o
eu 17 mede o outro

18
Dizem as pesquisas que o número de pessoas vivendo 19 sem teto cresceu
nos últimos anos por causa do desemprego. E 20 são milhares. Motivos além
do desemprego podem confundir21 quanto ao sentido (e o sem sentido) da
complexa experiência 22 vivida por essas pessoas. Afinal, pode-se encontrar
entre os que 23 vivem nas ruas até mesmo quem não se sente em situação
de 24 injustiça social..

25
A população das ruas das grandes cidades é composta 26 de habitantes
(ou desabitantes) provisórios ou não, que estão ali 27 por motivos diversos.
Muitas vezes são afetivos. Não é raro 28 encontrar ricas histórias de vida
entre as pessoas sem morada, 29 desde aquele que renunciou à vida
burguesa por considerá-la 30 insuportável, até quem, por meio de
inesperadas leituras 31 filosóficas, criou um significado para o ato de “habitar”
a 32 transitoriedade, ou seja, “desabitar” instransitivamente e estar 33 assim,
na mera existência.

34
Que não habitar uma casa possa significar uma 35 experiência existencial
é, no entanto, apenas a exceção que 36 confirma a regra da contemporânea
injustiça social a cuja base 37 racional e afetiva tantos entregam as forças.
Renunciar, desistir, 38 jogar a toalha, permitir-se a impotência como o
Bartleby, de 39 Melville, ou o fracasso, como um dia afirmou J. L. Borges,
pode 40 ser o único modo de viver em um mundo marcado pela 41 melancolia
e pelo sem sentido em termos políticos, estéticos e 42 metafísicos.

www.projetoredacao.com.br
43
O cenário social contemporâneo é o espaço e o tempo 44 dessa
possibilidade de fracasso que diz respeito à potencialidade 45 mais profunda
de nossos tempos. É a forma mais terrível do mal, 46 a da banalização que
se estabelece na vida humana como força 47 lógica. Como um “deixar
acontecer”, ao qual damos o nome de 48 “abandono”, esse ato de exílio, de
ostracismo, de curiosa rejeição 49 sem ação. A mendicância das pessoas é
apenas a verdade 50 íntima do capitalismo como mendicância da própria
política 51 deixada a esmo em nome de antipolíticos interesses pessoais. A
52
mendicância é a imagem social das escolas, dos hospitais 53 públicos, do
salário mínimo.

54
“Moradores de rua” são a figura mais perfeita do 55 abandono que está no
imo da devoração capitalista. Convive-se 56 com eles nos bairros elegantes
das cidades grandes como se 57 fossem um estorvo ou, para quem pensa de
um modo mais 58 humanitário, como um problema social a ser resolvido 59
filantropicamente. Alguns moram em lugares específicos, têm sua 60
“própria” esquina, carregam objetos de uso aonde quer que vão; 61 outros
perambulam a esmo, desaparecendo da vista de quem 62 tem onde morar.
São meras fantasmagorias aos olhos de quem 63 não é capaz de supor sua
alteridade. Esmagados pela 64 contradição de morar onde não mora
ninguém, não têm o direito 65 de ser alguém. Partilham o deslugar. E, no
entanto, praticam o 66 mesmo que os outros dentro de suas casas: dormem,
comem, 67 fazem sexo. A condição humana é o que se divide por paredes 68
ou na ausência delas. A democracia torna-se uma questão de 69 nudez e
exposição da vida íntima.

70
Ninguém “mora na rua”; antes, quem está na rua não 71 mora. Quem está
fora dos básicos direitos constitucionais está 72 excluído da sociedade. E,
muito mais além da Constituição, está 73 excluído pelo próprio status com
que é medido. O status de 74 “morador de rua” é apenas um modo de incluir
os excluídos na 75 ordem do discurso acobertadora do fascismo prático de
cada dia, 76 oculto sob o véu da autista sensibilidade burguesa. Se o princípio
77
de autoconservação a qualquer custo é a base da ação de 78 indivíduos
unidos na massa, está imediatamente perdida a 79 dimensão do outro sem a
qual não podemos dizer que haja ética 80 ou política. Mesmo sob o status de
morador de rua, o mendigo da 81 nossa esquina é a prova do fracasso de
todos os sistemas. Se as 82 estatísticas não mudarem comprovando que a
tendência da 83 exceção pode ser a regra, talvez a democracia de teto e
paredes 84 não sirva mais a ninguém em breve. Só que às avessas.

TIBURI, Márcia. Ninguém mora onde não mora ninguém. Cult, São Paulo, n.
155, mar. 2011. Disponível em:
<revistacult.uol.com.br/home/2011/03/ninguem-mora-onde-não-
moraninguem/>. Acesso em: 06 fev. 2012. (Adaptado)

www.projetoredacao.com.br
Texto II

Moradores de rua têm cercado para o Galo da Madrugada


Postado às 21:37, em 7 de fevereiro de 2013.

Foto: Alexandre Lopes/Especial para o Blog

Um cercado foi "montado" por moradores de rua para o desfile do Galo da


Madrugada, neste sábado (9). A família, que tem uma "casa" em frente ao
antigo edifício Trianon, na Boa Vista, área central do Recife, fez (ou fizeram
para ela) uma área isolada por fita para se proteger da multidão. [...]

Disponível em:
<http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2013/02/07/morador
es_de_rua_tem_cerca do_para_o_galo_da_madrugada_145763.php>.
Acesso em: 10 fev. 2013. (Adaptado.)

Texto III

Viaduto proibido

Disponível em:
<http://charges.uol.com.br/upload/bobagens/viadutoproibido.jpg>. Acesso
em: 10 fev. 2013.

www.projetoredacao.com.br
Texto IV

Morador de rua

Disponível em: <http://i1.wp.com/quemtemmedodademocracia.com/wpcontent/


uploads/2011/10/morador-de-rua1.jpg>. Acesso em: 10 fev. 2013.

“[...] Que não habitar uma casa possa significar uma experiência existencial
é, no entanto, apenas a exceção que confirma a regra da contemporânea
injustiça social a cuja base racional e afetiva tantos entregam as forças. [...]”
(Refs. 34 a 37), “[...]o fracasso, como um dia afirmou J. L. Borges, pode ser
o único modo de viver em um mundo marcado pela melancolia e pelo sem
sentido em termos políticos, estéticos e metafísicos. O cenário social
contemporâneo é o espaço e o tempo dessa possibilidade de fracasso que
diz respeito à potencialidade mais profunda de nossos tempos.[...]” (Refs. 39
a 45) e “[...] Mesmo sob o status de morador de rua, o mendigo da nossa
esquina é a prova do fracasso de todos os sistemas. [...]” (Refs. 80 a 81).
(Fragmentos retirados do texto I).

Questão 78)
Assinale a opção CORRETA a respeito dos sentidos que as palavras
assumem no texto I:

a) O vocábulo “gregário” (Ref. 6) remete à “segregação”, ou seja, ao instinto


do homem de separar, de marginalizar as minorias sociais.
b) “Eufemismo” (Ref. 3) significa contraditório e, sem prejuízo do sentido,
poderia ser substituído pelo termo “incoerência”, pois os moradores de
rua são o retrato da injustiça social.
c) O vocábulo “mendicância” (Ref. 52), associado a escolas, hospitais e
salário mínimo, diz respeito ao fato de haver muitos pedintes em frente
a instituições de ensino, de saúde e bancárias.
d) A expressão “em detrimento” (Ref. 11) demarca a igualdade e
concomitância entre relações virtuais _ hoje tão comuns, mediadas pela
tecnologia da informação _ e relações “atuais” (Ref. 12).
e) O termo “filantropicamente” (l. 59) foi usado com certo teor irônico, tendo
em vista que, nesse contexto, a filantropia não é algo bom, pois significa
resolver o problema por caridade, por mero humanitarismo.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 36 - Comum à questão: 79

Para alguém conhecido, no início da carreira, como “o peru que fala”, graças
à vermelhidão causada pela timidez diante do auditório, Silvio Santos passou
por uma notável transformação nos 50 anos à frente do programa que leva
seu nome. Hoje, está totalmente sem vergonha.
Só nos últimos meses, perdeu as calças no ar (e deixou a cena ser exibida),
constrangeu convidados com comentários irônicos e maldosos e vem
falando palavrões e piadas sexuais em seu programa. Está, como se diz na
gíria, “soltinho” aos 81 anos.
(Marco Aurélio Canônico. O rei está nu. Folha de S.Paulo, 19.08.2012.)

Questão 79)
Ambiguidade é o duplo sentido causado pela má construção da frase.
Entretanto, em alguns casos, a ambiguidade pode ser construída pelo autor,
de forma proposital, com a intenção clara de chamar a atenção para uma
dupla possibilidade interpretativa.

Essas observações permitem afirmar que, no texto acima, ocorre


ambiguidade na expressão:

a) “piadas sexuais”, consequência de desvios involuntários do autor quanto


à coerência.
b) “soltinho”, na qual as aspas foram usadas para permitir que ela seja lida
em sentido próprio e figurado.
c) “perdeu as calças”, que não é compreendida pelo leitor, devido ao uso
inadequado do verbo.
d) “o peru que fala”, como resultado da má construção da frase, do ponto
de vista sintático.
e) “sem vergonha”, empregada com a intenção estilística de sugerir dupla
interpretação.

TEXTO: 37 - Comum à questão: 80

Leia trechos da entrevista do médico Raul Cutait à revista Veja.

Só não errou o cirurgião que nunca operou. Errar é parte de qualquer


atividade humana, em especial quando em fases iniciais de aprendizado. O
que todo médico deve ter em mente é que cada resultado indesejado precisa
motivar uma intensa reflexão, começando pela pergunta mais crua: será que
errei? Eu poderia ter tomado alguma decisão diferente? O que será preciso
fazer para evitar que esse evento indesejado ocorra no futuro em uma
situação semelhante? Essas perguntas refletem humildade, virtude que
tanto se ensina cultivar nas escolas de medicina, mas que raramente se vê
sendo praticada no cotidiano dos médicos. A humildade é o instrumento mais

www.projetoredacao.com.br
eficaz na escolha da conduta médica mais adequada, porque ela coíbe a
onipotência.
Estamos vivendo um momento especialmente perigoso. O Brasil tem 185
faculdades de medicina em funcionamento. Boa parte delas não tem
condições básicas de oferecer cursos de medicina de qualidade. O governo
falhou clamorosamente ao permitir que esses cursos fossem abertos e falha
ao permitir que eles continuem em funcionamento. São escolas sem corpo
docente qualificado e sem estrutura hospitalar adequada ao ensino. Por isso,
é insuficiente o número de vagas para a residência, etapa fundamental na
qualificação do médico. Apenas 60% dos médicos formados hoje tiveram
acesso à residência médica. É justamente na residência médica, sob a
coordenação de um profissional experimentado, que se tem contato com as
melhores práticas. A partir dessa etapa, cada um voará de acordo com sua
competência, interesse e dedicação.
(Veja, 25.01.2012. Adaptado.)

Questão 80)
Assinale a alternativa cuja frase contém termo empregado com sentido
figurado.

a) São escolas sem corpo docente qualificado e sem estrutura hospitalar


adequada ao ensino.
b) É justamente na residência médica, sob a coordenação de um
profissional experimentado, que se tem contato com as melhores
práticas.
c) Por isso, é insuficiente o número de vagas para a residência, etapa
fundamental na qualificação do médico.
d) Boa parte delas [faculdades de medicina] não tem condições básicas de
oferecer cursos de medicina de qualidade.
e) A partir dessa etapa, cada um voará de acordo com sua competência,
interesse e dedicação.

TEXTO: 38 - Comum à questão: 81

1
Fui criado com princípios morais comuns. Quando 2 eu era pequeno, mães,
pais, professores, avós, tios, 3 vizinhos eram autoridades dignas de respeito
e 4 consideração. Quanto mais próximos ou mais velhos, 5 mais afeto.
Inimaginável responder de forma mal educada 6 aos mais velhos,
professores ou autoridades… 7 Confiávamos nos adultos, porque todos eram
pais, mães 8 ou familiares das crianças da nossa rua, do bairro, ou 9 da
cidade… Tínhamos medo apenas do escuro, dos 10 sapos, dos filmes de
terror…

11
Hoje me deu uma tristeza infinita por tudo aquilo 12 que perdemos. Por
tudo o que meus netos, um dia, 13 ,enfrentarão. Pelo medo no olhar das
crianças, dos 14 jovens, dos velhos e dos adultos. Direitos humanos para 15
criminosos, deveres ilimitados para cidadãos honestos. 16 Não levar

www.projetoredacao.com.br
vantagem em tudo significa ser idiota. Pagar 17 dívidas em dia é ser tonto…
Anistia para corruptos e 18 sonegadores… O que aconteceu conosco?
Professores 19 maltratados nas salas de aula, comerciantes ameaçados 20
por traficantes, grades em nossas janelas e portas. Que 21 valores são
esses? Automóveis que valem mais que 22 abraços, filhas querendo uma
cirurgia como presente 23 por passar de ano. Celulares nas mochilas de
crianças. 24 O que vais querer em troca de um abraço? A diversão 25 vale
mais que um diploma. Uma tela gigante vale mais 26 que uma boa conversa.
Mais vale uma maquiagem que 27 um sorvete. Mais vale parecer do que
ser… Quando foi 28 que tudo desapareceu ou se tornou ridículo?

29
Quero arrancar as grades da minha janela para 30 poder tocar as flores!
Quero me sentar na varanda e 31 dormir com a porta aberta nas noites de
verão! Quero a 32 honestidade como motivo de orgulho. Quero a vergonha 33
na cara e a solidariedade. Quero a retidão de caráter, a 34 cara limpa e o
olhar olho no olho. Quero a esperança, a 35 alegria, a confiança! Quero calar
a boca de quem diz: 36 “temos que estar ao nível de…”, ao falar de uma
pessoa. 37 Abaixo o “TER”, viva o “SER”. E viva o retorno da 38 verdadeira
vida, simples como a chuva, limpa como um 39 céu de primavera, leve como
a brisa da manhã! E 40 definitivamente bela, como cada amanhecer. Quero
ter 41 de volta o meu mundo simples e comum, onde existam 42 amor,
solidariedade e fraternidade como bases. Vamos 43 voltar a ser “gente”.
Construir um mundo melhor, mais 44 justo, mais humano, onde as pessoas
respeitem as 45 pessoas. Utopia? Quem sabe?… Precisamos tentar… 46
Quem sabe comecemos a caminhar transmitindo essa 47 mensagem…
Nossos filhos merecem, e nossos netos 48 certamente nos agradecerão!

JABOR, Arnaldo. Fui criado com princípios morais comuns. Disponível em:
< http://pensador.uol.com.br/autor/arnaldo_jabor/3/>. Acesso em: 18 set.
2012

Questão 81)

Do ponto de vista semântico, a informação sem suporte no texto é a que


diz respeito ao termo transcrito na alternativa

01. “tristeza” (Ref. 11) se contrapõe a “alegria” (Ref. 35).


02. “grades em nossas janelas e portas” (Ref. 20) reflete a sensação de
“medo” (Ref. 9).
03. “retidão de caráter” (Ref. 33) mantém relação de sentido com
“honestidade” (Ref. 32) e “vergonha na cara” (Ref. 32-33).
04. “cara limpa” (Ref. 34), nesse caso, traduz as ideias expressas por
“simples” (Ref. 38), “leve” (Ref. 39) e “bela” (Ref. 40).
05. “olhar olho no olho” (Ref. 34) pressupõe uma atitude de destemor, em
face da “confiança” (Ref. 35).

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 39 - Comum às questões: 82, 83

Querendo que dê certo

1
Querer que dê certo a gente sempre quer: a nova 2 turma na escola, o novo
amigo, o vestibular, o primeiro 3 emprego, o casamento, o filho, a decisão
inescapável, 4 o necessário e o fútil, a segurança e a aventura. Os 5 planos
do novo ano. Os desejos bons e também os 6 menos nobres, de que alguém
se ferre, que para ele dê 7 errado — porque não somos santos. A construção
da 8 vida, tanta coisa. As pessoas queridas. O livro, o carro, 9 o amor ou até
a separação. A sobrevivência depois da 10 morte de alguém especial. Que
dê certo também o que 11 nem é pessoal, mas a todos atinge: o país, a 12
democracia, a qualidade de vida, a dignidade de todos, 13 a redução da
desigualdade, o nível do ensino, da saúde, 14 os cuidados com a seca, com
a enchente, com os 15 deslizamentos, com os horrores da saúde pública,
com 16 o excesso de faculdades pelo país, a insensatez das 17 cotas que
promovem a discriminação e o preconceito, 18 e marcam como
incompetentes os que se beneficiam 19 delas. Que, às vezes, nem têm outro
jeito, pois 20 nivelamos por baixo: facilitamos as coisas em lugar de 21 dar aos
que precisam melhores condições, condições 22 ótimas: isso seria o sensato.
Mas somos insensatos; 23 então, torcemos para que, apesar de tudo, dê
certo.
24
Agora nos oferecem mais planos, projetos, pacotes, 25 para que,
finalmente, o país deslanche do seu marasmo, 26 que pacotes anteriores não
sacudiram direito. Eu quero 27 muito que deem certo esses novos projetos.
Estradas 28 e ferrovias, para começar, pois o nosso transporte é 29 mais um
inqualificável fator do nosso inqualificável 30 atraso. Portos e aeroportos.
Espero que se incluam 31 também saúde, ensino, segurança, que andamos
cada 32 vez mais violentos e todas as notícias negativas, que 33 são muitas,
saem mundo afora preparando os espíritos 34 para 2016. Que sejam projetos
inteligentes e possíveis; 35 que tenham à frente gente supercompetente,
embora 36 competência seja mercadoria rara por aqui. Há gente 37 demais
improvisando; viramos o país do improviso, do 38 puxadinho, do jeitinho, do
palpite? Os muito competentes 39 podem nem querer certos cargos e
encargos. Sobretudo 40 se ligados à política: aí tudo se complica, os jogos
de 41 poder, os postos dados por interesse, não por preparo e 42 capacidade,
tanta trama que nem conhecemos direito, 43 mas de que sabemos o
suficiente para ficar de cabelos 44 em pé. O melhor seria não saber, assim a
gente se 45 salvaria? Seja como for, eu, mesmo assim, me interesso 46
extraordinariamente por este país.
47
Resta saber o que é “dar certo”. Um plano com 48 bons projetos é um
comecinho. Predominarem boas 49 intenções será dar um pouquinho certo
(tudo em 50 diminutivos por enquanto). Ficar em mãos experientes 51 e
competentes, sem amadorismo, será dar bastante 52 certo. Passar da utopia
para entrar na realidade, com 53 seriedade, seria ou será dar supercerto. Se
tudo sair 54 medianinho, já vai ser um avanço. Chegar a termo será 55 quase
um milagre: a gente não vê muito disso por aqui. 56 Não acredito cegamente,

www.projetoredacao.com.br
pelo que temos experimentado 57 de grandes palavras, grandes planos — e
grande 58 esquecimento. Mas eu quero, eu torço, eu apoio, eu 59 espero, eu
observo… e, quando puder, eu comento. Que 60 eu possa comentar só
coisas boas, coisas positivas e 61 concretas, e dizer: “Finalmente está dando
certo, viva a 62 gente brasileira”.
LUFT, Lya. Querendo que dê certo. Veja, São Paulo: Abril,
ed. 2284, ano 45, n. 35, p. 24, 29 ago. 2012. Adaptado.

Questão 82)
Quanto ao processo de composição do texto, é correto afirmar que ele
apresenta

01. o predomínio de uma linguagem metafórica, ao fazer referência a fatos


políticos de que a autora afirma ter o mais amplo conhecimento possível.
02. a adoção de uma forma de argumentação baseada na desconstrução de
utopias, tentando levar o leitor a uma reflexão mais criteriosa sobre a
realidade brasileira.
03. um discurso voltado para a necessidade da manutenção de
pensamentos positivos em torno do sucesso dos novos planos
socioeconômicos criados para o Brasil.
04. uma abordagem temática apoiada em frases desiderativas, visando
explicitar a opinião da articulista sobre o assunto enfocado e suas
dúvidas sobre a efetiva realização das novas metas voltadas para o
desenvolvimento brasileiro.
05. uma estrutura fundamentada em princípios éticos e morais, procurando
deixar evidente para o público leitor a importância da seriedade e do
respeito ao outro por parte do agente social a fim de que a cidadania no
país se fortaleça cada vez mais.

Questão 83)

A análise dos recursos linguísticos presentes no texto autoriza afirmar que


está sem fundamentação nas normas gramaticais o que se declara na
alternativa

01. Os dois-pontos que aparecem depois da forma verbal “atinge” (Ref. 11)
introduzem um aposto.
02. As expressões “de vida” (Ref. 12) e “de faculdades” ( Ref . 16), apesar
de se apresentarem com a mesma estrutura, exercem diferentes funções
sintáticas no período em que se incluem.
03. A partícula “se” (Ref. 40), nas duas ocorrências, possuem o mesmo valor
morfossintático.
04. O termo “de cabelos em pé” (Refs. 43-44) está usado em sentido
figurado e exerce função predicativa.
05. A forma verbal “Predominarem” (Ref. 48) está no plural para concordar
com o sujeito da oração, que também está no plural.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 40 - Comum à questão: 84

Asa Branca

Luíz Gonzaga/Humberto Teixeira

Quando “oiei” a terra ardendo


Qual a fogueira de São João
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Eu perguntei a Deus do céu, ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de “prantação”
Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Por farta d’água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
“Intonce” eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
“Intonce” eu disse, adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe, muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão [...]
Disponível em: < http://letras.mus.br/luizgonzaga/ 47081/ >. Acesso em:
08/11/2012.

Questão 84)
Assim como “prantação”, no 2º verso e 3ª estrofe da canção de Luiz
Gonzaga, outras palavras da língua portuguesa, como, por exemplo,
“ingrês”, “pubricar”, “pranta” “frauta”, “frecha”, são pronunciadas por falantes
que não tiveram acesso à norma culta dentro de uma variação linguística
considerada não padrão. Todavia, na história da formação da língua
portuguesa já foram consideradas como pronúncias corretas. Assinale a
opção que nomeia esse fenômeno fonético que contribuiu para a formação
da própria língua portuguesa.

a) Dislexia.
b) Rotacismo.
c) Vícios de linguagem.
d) Provincianismo.
e) Palatalização.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 41 - Comum à questão: 85

Abaixo, transcreve-se o início de quatro contos de Eça de Queiroz e da


novela “O recado do morro”, de Guimarães Rosa.

TEXTO 1: “Adão, pai dos Homens, foi criado no dia 28 de outubro, às 2 horas
da tarde...” (“Adão e Eva no Paraíso”)
TEXTO 2: “Eu possuo preciosamente um amigo (o seu nome é Jacinto) QUE
nasceu num palácio, com quarenta contos de renda em pingues terras de
pão, azeite e gado.
(“Civilização”)
TEXTO 3: “No ano de 1474, QUE foi por toda a Cristandade tão abundante
em mercês divinas, reinando em Castela El- Rei Henrique IV, veio habitar na
cidade de Segóvia, onde herdara moradias e uma horta, um cavaleiro moço,
de muito limpa linhagem e gentil parecer, QUE se chamava D. Rui de
Cárdenas.” (“O defunto”)
TEXTO 4: “Começou por me dizer que o seu caso era simples – e que se
chamava Macário...” (“Singularidades de uma rapariga loira”)
TEXTO 5: “Sem que bem se saiba, conseguiu-se rastrear pelo avesso um
caso de vida e de morte, extraordinariamente comum, QUE se armou com o
enxadeiro Pedro Orósio (Pedrão Chãbergo ou Pê- Boi, de alcunha), e teve
aparente princípio e fim, num julho-agosto, nos fundos do município onde ele
residia; em sua raia noroesteã, para dizer com rigor.” (“O recado do morro”)

Questão 85)

Indique o núcleo da expressão a que se refere o termo QUE sublinhado e


em caixa-alta nos textos 2, 3 e 5.

TEXTO: 42 - Comum à questão: 86

Leia o poema de Manuel Maria Barbosa du Bocage.

Importuna Razão, não me persigas

Importuna Razão, não me persigas;


Cesse a ríspida voz que em vão murmura,
Se a lei de Amor, se a força da ternura,
Nem domas, nem contrastas, nem mitigas.

Se acusas os mortais, e os não obrigas,


Se, conhecendo o mal, não dás a cura,
Deixa-me apreciar minha loucura;
Importuna Razão, não me persigas.

www.projetoredacao.com.br
É teu fim, teu projeto encher de pejo
Esta alma, frágil vítima daquela
Que, injusta e vária, noutros laços vejo.

Queres que fuja de Marília bela,


Que a maldiga, a desdenhe; e o meu desejo
É carpir, delirar, morrer por ela.
(Poesia Arcádica, 1985.)

Questão 86)
Assinale a alternativa em que os termos em destaque no verso do poema
pertencem a diferentes classes de palavras.

a) Se, conhecendo o mal, não dás a cura,


b) Se acusas os mortais, e os não obrigas,
c) Deixa-me apreciar minha loucura;
d) Esta alma, frágil vítima daquela
e) Cesse a ríspida voz que em vão murmura,

TEXTO: 43 - Comum às questões: 87, 88

A máquina extraviada

1
Você sempre pergunta pelas novidades daqui 2 deste sertão, e finalmente
posso lhe contar uma 3 importante. Fique o compadre sabendo que agora 4
temos aqui uma máquina imponente, que está entusiasmando 5 todo o
mundo. Desde que ela chegou 6 – não me lembro quando, não sou muito
bom em lembrar 7 datas – quase não temos falado em outra coisa; 8 e da
maneira como o povo aqui se apaixona até pelos 9 assuntos mais infantis, é
de admirar que ninguém 10 tenha brigado por causa dela, a não ser os
políticos.

11
A máquina chegou uma tarde, quando as famílias 12 estavam jantando ou
acabando de jantar, e foi 13 descarregada na frente da Prefeitura. Com os
gritos 14 dos choferes e seus ajudantes (a máquina veio em 15 dois ou três
caminhões) muita gente cancelou a sobremesa 16 ou o café e foi ver que
algazarra era aquela. 17 Como geralmente acontece nessas ocasiões, os
homens 18 estavam mal-humorados e não quiseram dar 19 explicações,
esbarravam propositalmente nos curiosos, 20 pisavam-lhes os pés e não
pediam desculpa, jogavam 21 as pontas de cordas sujas de graxa por cima
22
deles, quem não quisesse se sujar ou se machucar 23 que saísse do
caminho.

24
Descarregadas as várias partes da máquina, foram 25 elas cobertas com
encerados e os homens entraram 26 num botequim do largo para comer e
beber. 27 Muita gente se amontoou na porta mas ninguém teve 28 coragem

www.projetoredacao.com.br
de se aproximar dos estranhos porque um 29 deles, percebendo essa
intenção nos curiosos, de 30 vez em quando enchia a boca de cerveja e
esguichava 31 na direção da porta. Atribuímos essa esquiva 32 ao cansaço e
à fome deles e deixamos as tentativas 33 de aproximação para o dia seguinte;
mas quando os 34 procuramos de manhã cedo na pensão, soubemos 35 que
eles tinham montado mais ou menos a máquina 36 durante a noite e viajado
de madrugada.

37
A máquina ficou ao relento, sem que ninguém 38 soubesse quem a
encomendou nem para que servia. 39 É claro que cada qual dava o seu
palpite, e cada palpite 40 era tão bom quanto outro.

41
As crianças, que não são de respeitar mistério, 42 como você sabe,
trataram de aproveitar a novidade. 43 Sem pedir licença a ninguém (e a quem
iam pedir?), 44 retiraram a lona e foram subindo em bando pela máquina 45
acima – até hoje ainda sobem, brincam de esconder 46 entre os cilindros e
colunas, embaraçam-se 47 nos dentes das engrenagens e fazem um berreiro
48
dos diabos até que apareça alguém para soltá-las; 49 não adiantam ralhos,
castigos, pancadas; as crianças 50 simplesmente se apaixonaram pela tal
máquina.

51
Contrariando a opinião de certas pessoas que 52 não quiseram se
entusiasmar, e garantiram que em 53 poucos dias a novidade passaria e a
ferrugem tomaria 54 conta do metal, o interesse do povo ainda não diminuiu.
55
Ninguém passa pelo largo sem ainda parar 56 diante da máquina, e de
cada vez há um detalhe novo 57 a notar. [...]

58
Ninguém sabe mesmo quem encomendou a 59 máquina. O prefeito jura
que não foi ele, e diz que 60 consultou o arquivo e nele não encontrou nenhum
61
documento autorizando a transação. Mesmo assim 62 não quis lavar as
mãos, e de certa forma encampou 63 a compra quando designou um
funcionário para zelar 64 pela máquina. [...]
VEIGA, J. J. A máquina extraviada. In: MORICONI, I.
Os Cem Melhores Contos Brasileiros do Século. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2000. p. 229-232.

Questão 87)

Em que sentença o uso da palavra até é feito como em “... o povo aqui se
apaixona até pelos assuntos mais infantis,” (Refs. 8-9)

a) Há visitação no local para apreciarem a geringonça até o cair da noite.


b) A máquina levou a população toda até a casa do prefeito.
c) A seca foi tão forte que até fez os cactos secarem.
d) Fabiano não é de falar muito até que quis conversar com sinha Vitória.
e) O cachorro correu até a porta, mas desistiu de sair.

www.projetoredacao.com.br
Questão 88)
Podem-se reescrever as sentenças abaixo num único período.
Ainda não sabemos para que serve a máquina.
Isso não tem importância.
Ela é o nosso orgulho.

O período que junta as três, mantendo as relações lógicas, é:

a) Contanto que não saibamos para que serve a máquina, isso não tem
importância, tanto quanto ela é o nosso orgulho.
b) Já que ainda não sabemos para que serve a máquina, isso não tem
importância, quando ela for o nosso orgulho.
c) À medida que ainda não sabemos para que serve a máquina, isso não
tem importância, mas ela é o nosso orgulho.
d) Embora ainda não saibamos para que serve a máquina, isso não tem
importância, uma vez que ela é o nosso orgulho.
e) Se ainda não soubermos para que serve a máquina, isso não tem
importância, apesar de que ela é o nosso orgulho.

TEXTO: 44 - Comum às questões: 89, 90

TEXTO 1

Escher, o gênio da arte matemática

Com a ajuda da geometria, nada é o que aparenta ser no trabalho


surpreendente do artista holandês.

1
Você já deve ter visto pelo menos uma das gravuras do artista gráfico
holandês M. C. 2 Escher. Elas já foram reproduzidas não só em dezenas de
livros de arte, mas também na 3 forma de pôsteres, postais, jogos, CD-
ROMs, camisetas e até gravatas. Caso não se 4 lembre, então você não viu
nenhuma. Olhar para as intrigantes imagens criadas por 5 Escher é uma
experiência inesquecível. Tudo o que nelas está representado nunca é 6
exatamente o que parece ser. Há, em todas elas, sempre uma surpresa
visual espera 7 do espectador. Isso porque, para ele, o desenho era pura
ilusão. A realidade pouco 8 interessava. Antes, preferia o contrário: criar
mundos impossíveis que apenas parecessem 9 reais. Eis porque acabou se
tornando uma espécie de mágico das artes gráficas.

10
Seus desenhos, porém, não nasciam de passes de mágica, nem
somente de sua 11 apurada técnica de gravador. Sua obra está apoiada em
conceitos matemáticos, extraídos 12 especialmente do campo da geometria.
Essa era a fonte de seus efeitos surpreendentes. 13 Foi com base nesses
princípios que Escher subverteu a noção da perspectiva clássica 14 para
obter suas figuras impossíveis de existir no espaço "real". Aliás, desde o

www.projetoredacao.com.br
começo, 15 fascinou-o essa condição essencial do desenho, que é a
representação tridimensional dos 16 objetos na inevitável bidimensionalidade
do papel. Brincou com isso o mais que pôde. 17 Também ___ matemática na
divisão regular da superfície usada por Escher para criar, de 18 maneira
perfeita, suas famosas séries de metamorfoses, onde formas geométricas 19
abstratas ganham vida e vão, aos poucos, se transformando em aves,
peixes, répteis e até 20 seres humanos.

21
Foi essa proximidade com a ciência que deixou os críticos de arte da
época de cabelo 22 em pé. Afinal, como classificar o trabalho de Escher? Era
"artístico" o que ele fazia ou 23 puramente "racional"? Na dúvida, preferiram
silenciar sobre sua obra durante vários anos 24 Enquanto isso, o artista foi
ganhando a admiração de matemáticos, físicos, cristalógrafos e 25 eruditos
em geral. Mas essa é outra faceta surpreendente de Escher

26
Embora seus trabalhos tivessem forte conteúdo matemático, ele era
leigo no assunto. 27 ____ bem da verdade, Escher sequer foi um bom aluno.
Ele mesmo admitiu mais tarde 28 que jamais ganhou, ao menos, um "regular"
em matemática. Conta-se até que H.M.S. 29 Coxeter, um dos papas da
geometria moderna, entusiasmado com os desenhos do 30 artista, convidou-
o a participar de uma de suas aulas. Vexame total. Para decepção do 31
catedrático, Escher não sabia do que ele estava falando, mesmo quando
discorria 32 sobre teorias que o artista aplicava intuitivamente em suas
gravuras.

GALILEU. Escher, o gênio da matemática. Disponível em:


<http://galileu.globo.com/edic/88/conhecimento2.htm> Acesso em
05/05/2013.

Xilogravura: 'Céu e Água I', de 1938.


Foto: The M.C. Escher Company B.V. Baarn,The Netherlands.

VEJASP. Xilogravura ‘Céu e Água’. Disponível em:


http://vejasp.abril.com.br/atracao/maurits-cornelis-escher. Acesso em
09/05/2013.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO 2

Arte estimula o aprendizado de matemática

1
Resolver operações matemáticas foi difícil para muitos dos gênios da
ciência, e 2 continua pouco atraente para muitos alunos em salas de aula.
Muita gente pensa em 3 vincular matemática com a arte para tornar o
aprendizado mais estimulante.

4
O professor Luiz Barco, da Escola de Comunicações e Artes, da
Universidade de São 5 Paulo (USP) é um deles. "Há mais matemática nos
livros de Machado de Assis, nos 6 poemas de Cecília Meireles e Fernando
Pessoa do que na maioria dos livros didáticos de 7 matemática". Para ele, a
matemática captura __ lógica do raciocínio, assim como 8 acontece com o
imaginário na literatura, com a harmonia na música, na escultura, na 9
pintura, nas artes em geral.

10
Para o pesquisador Antônio Conde, do Instituto de Matemática e
Computação da 11 USP/São Carlos, a convivência entre arte e matemática
aumentaria a capacidade de 12 absorção dos estudantes. "O lado estético da
matemática é muito forte, a 13 demonstração de um teorema é uma obra de
arte", conclui.

14
O holandês Maurits Cornelis Escher é, provavelmente, um dos maiores
15
representantes dessa ligação, produzindo obras de arte geometricamente
16
estruturadas. Ele provou, na prática, que é possível olhar __ formas
espaciais do 17 ponto de vista matemático, ou sob o seu aspecto estético,
utilizando-as para se 18 expressar plasticamente.

19
"Olhando os enigmas que nos rodeiam e ponderando e analisando as
minhas 20 observações, entro em contato com o mundo da matemática", dizia
Escher, que 21 morreu em 1972.
CIÊNCIA E CULTURA. Arte estimula o aprendizado de matemática.
Disponível em: <http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-
67252003000100017&script=sci_arttext>. Acesso em 05/05/2013.

TEXTO 3

Poesia Matemática
Millôr Fernandes

1 Às folhas tantas
2 do livro matemático
3 um Quociente apaixonou-se
4 um dia
5 doidamente
6 por uma Incógnita.

www.projetoredacao.com.br
7 Olhou-a com seu olhar inumerável
8 e viu-a do ápice __ base
9 uma figura ímpar;
10 olhos romboides, boca trapezoide,
11 corpo retangular, seios esferoides.
12 Fez de sua uma vida
13 paralela à dela
14 até que se encontraram
15 no infinito.
16 "Quem és tu?", indagou ele
17 em ânsia radical.
18 "Sou a soma do quadrado dos catetos.
19 Mas pode me chamar de Hipotenusa."
20 E de falarem descobriram que eram
21 (o que em aritmética corresponde
22 a almas irmãs)
23 primos entre si.
24 E assim se amaram
25 ao quadrado da velocidade da luz
26 numa sexta potenciação
27 traçando
28 ao sabor do momento
29 e da paixão
30 retas, curvas, círculos e linhas senoidais
31 nos jardins da quarta dimensão.
32 Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
33 e os exegetas do Universo Finito.
34 Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
35 E enfim resolveram se casar
36 constituir um lar,
37 mais que um lar,
38 um perpendicular.
39 Convidaram para padrinhos
40 o Poliedro e a Bissetriz.
41 E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
42 sonhando com uma felicidade
43 integral e diferencial.
44 E se casaram e tiveram uma secante e três cones
45 muito engraçadinhos.
46 E foram felizes
47 até aquele dia
48 em que tudo vira afinal
49 monotonia.
50 Foi então que surgiu
51 O Máximo Divisor Comum
52 frequentador de círculos concêntricos,
53 viciosos.

www.projetoredacao.com.br
54 Ofereceu-lhe, a ela,
55 uma grandeza absoluta
56 e reduziu-a a um denominador comum.
57 Ele, Quociente, percebeu
58 que com ela não formava mais um todo,
59 uma unidade.
60 Era o triângulo,
61 tanto chamado amoroso.
62 Desse problema ela era uma fração,
63 a mais ordinária.
64 Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
65 e tudo que era espúrio passou a ser
66 moralidade
67 como aliás em qualquer
68 sociedade
RELEITURAS. Poesia matemática. Disponível em: <
http://www.releituras.com/millor_poesia.asp>. Acesso em 09/05/2013.

Questão 89)
“Olhando os enigmas que nos rodeiam e ponderando e analisando as
minhas observações, entro em contato com o mundo da matemática.”

Em relação às combinações sintáticas do trecho acima, qual das opções


apresenta uma análise equivocada referentes às expressões destacadas
abaixo?

a) A palavra que funciona como objeto direto de “rodeiam”.


b) A expressão “as minhas observações” funciona como sintagma
nominal (objeto direto) de “ponderando” e “analisando”.
c) “entro em contato com o mundo da matemática” é a oração principal
à qual três outras orações estão subordinadas.
d) “olhando”, “ponderando” e “analisando” são orações subordinadas
adverbiais temporais reduzidas de gerúndio, isto é, têm função adverbial
em relação à principal.
e) A oração “que nos rodeiam” tem função adjetiva em relação ao
substantivo “enigmas” que a antecede.

Questão 90)
Observe a oração destacada a seguir:

“Olhar para as intrigantes imagens criadas por Escher é uma experiência


inesquecível.” (Ref. 4, texto 1)

Em qual das opções abaixo a expressão em destaque exerce função


sintática distinta daquela da expressão destacada acima?

www.projetoredacao.com.br
a) (...) criar mundos impossíveis que apenas parecessem reais (...) (Ref. 8,
texto 1)
b) (...) Tudo o que nelas está representado nunca é exatamente o que
parece ser. (...) (Ref. 5, texto 1)
c) (...) Essa era a fonte de seus efeitos surpreendentes. (...) (Ref. 12, texto
1)
d) (...) que é a representação tridimensional dos objetos na inevitável
bidimensionalidade do papel. (...) (Ref 15, texto 1)
e) (...) mesmo quando discorria sobre teorias que o artista aplicava
intuitivamente (...) (Ref. 31, texto 1)

TEXTO: 45 - Comum à questão: 91

PORTÃO

46 O portão fica bocejando, aberto


47 para os alunos retardatários.
48 Não há pressa em viver
49 nem nas ladeiras duras de subir,
50 quanto mais para estudar a insípida cartilha.
51 Mas se o pai do menino é da oposição,
52 à ilustríssima autoridade municipal,
53 prima por sua vez da sacratíssima
54 autoridade nacional,
55 ah, isso não: o vagabundo
56 ficará mofando lá fora
57 e leva no boletim uma galáxia de zeros.

58 A gente aprende muito no portão


59 fechado.

ANDRADE, Carlos Drummond de. In:


Carlos Drummond de Andrade: Poesia e Prosa.
Editora Nova Aguilar:1988. p. 506-507.

Questão 91)
Atente ao que é dito sobre o vocábulo “insípida” (Ref. 50).

I. Foi empregado na acepção de sem graça, desinteressante, monótono.


II. Foi empregado no seu sentido literal, não figurado.
III. A mudança da posição desse adjetivo para depois do substantivo não
alteraria o significado do substantivo.

Está correto o que se afirma somente em

www.projetoredacao.com.br
a) I e II.
b) III.
c) I e III.
d) II.

TEXTO: 46 - Comum à questão: 92

DIÁLOGO DA RELATIVA GRANDEZA

Sentado no monte de lenha, as pernas abertas, os cotovelos nos joelhos,


Doril examinava um louva-deus pousado nas costas da mão. Ele queria que
o bichinho voasse, ou pulasse, mas o bichinho estava muito à vontade, vai
ver que dormindo – ou pensando? Doril tocava-o com a unha do dedo menor
e ele nem nada, não dava confiança, parece que nem sentia; se Doril não
visse o leve pulsar de fole do pescoço – e só olhando bem é que se via – era
capaz de dizer que o pobrezinho estava morto, ou então que era um grilo de
brinquedo, desses que as moças pregam no vestido para enfeitar.
Entretido com o louva-deus Doril não viu Diana chegar comendo um
marmelo, fruta azeda e enjoada que só serve para ranger os dentes. Ela
parou perto do monte de lenha e ficou descascando o marmelo com os
dentes mas sem jogar a casca fora, não queria perder nada. Quando ela já
tinha comido um bom pedaço da parte de cima e nada de Doril ligar, ela
cuspiu fora um pedaço de miolo com semente e falou:
– Está direitinho um macaco em galho de pau.
Doril olhou só com os olhos e revidou:
– Macaco é quem fala. Está até comendo banana.
– Marmelo é banana, besta?
– Não é mais serve.
Ficaram calados, cada um pensando por seu lado. Diana cuspiu mais um
caroço.
– Sabe aquele livro de história que o Mirto ganhou?
– Que Mirto, seu. É Milllton. Mania!
– Mas sabe? Eu vou ganhar um igual. Tia Jura vai mindar.
– Não é mindar. É me-dar. Mas não é vantagem.
– Não é vantagem? É muita vantagem.
– Você já não leu o de Milton?
– Li mas quero ter. Pra guardar e ler de novo.
– Vantagem é ganhar outro. Diferente.
– Deferente eu não quero. Pode não ser bom.
– Como foi que você disse? Diz de novo?
– Já disse uma vez, chega.
– Você disse deferente.
– Foi não.
– Foi. Eu ouvi.
– Foi não.
– Foi.

www.projetoredacao.com.br
– Foi não.
– Foooi.
Continuariam até um se cansar e tapar os ouvidos para ficar com a última
palavra se Diana não tivesse a habilidade de se retirar logo que percebeu a
dízima. Com pedacinho final do marmelo entre os dedos, ela chegou-se mais
perto do irmão e disse:
– Gi! Matando louva-deus! Olhe o castigo!
– Eu estou matando, estou?
– Está judiando. Ele morre.
– Eu estou judiando?
– Amolar um bicho tão pequenininho é o mesmo que judiar.
Doril não disse mais nada, qualquer coisa que ele dissesse ela aproveitaria
para outra acusação. Era difícil tapar a boca de Diana, ô menina renitente.
Ele preferiu continuar olhando o louva-deus. Soprou-o de leve, ele encolheu-
se e vergou o corpo para o lado do sopro, corno faz uma pessoa na ventania.
O louva-deus estava no meio de uma tempestade de vento, dessas que
derrubam árvores e arrancam telhados e podem até levantar urna pessoa do
chão. Doril era a força que mandava a tempestade e que podia pará-la
quando quisesse. Então ele era Deus? Será que as nossas tempestades
também são brincadeira? Será que quem manda elas olha para nós como
Doril estava olhando para o louva-deus? Será que somos pequenos para ele
como um gafanhoto é pequeno para nós, ou menores ainda? De que
tamanho, comparando – do de formiga? De piolho de galinha? Qual será o
nosso tamanho mesmo, verdadeiro?
Doril pensou, comparando as coisas em volta. Seria engraçado se as
pessoas fossem criaturinhas miudinhas, vivendo num mundo miudinho,
alumiado por um sol do tamanho de uma rodela de confete.
Diana lambendo os dedos e enxugando no vestido. Qual seria o tamanho
certo dela? Um palmo de cabeça, um palmo de peito, palmo e meio de
barriga, palmo e meio até o joelho, palmo e meio até o pé... uns seis palmos
e meio. Palmo de quem? Gafanhoto pode ter seis palmos e meio também –
mas de gafanhoto. Formiga pode ter seis palmos e meio – de formiga. E os
bichinhos que existem mas a gente não vê, de tão pequenos? Se tem bichos
que a gente não vê, não pode ter bichos que esses que a gente não vê não
veem? Onde é que o tamanho dos bichos começa, e onde acaba? Qual é o
maior, e qual o menor? Bonito se nós também somos invisíveis para outros
bichos muito grandes, tão grandes que os nossos olhos não abarcam? E se
a Terra é um bicho grandegrandegrandegrande e nós somos pulgas dele?
Mas não pode! Como é que vamos ser invisíveis, se qualquer pessoa tem
mais de um metro de tamanho?
Doril olhou o muro, os cafezeiros, as bananeiras, tudo bem maior do que ele,
uma bananeira deve ter mais de dois metros...

Aí ele notou que o louva-deus não estava mais na mão. Procurou por perto
e achou-o pousado num pau de lenha, numa ponta coberta de musgo. Doril
levantou o pau devagarinho, olhou-o de perto e achou que a camada de
musgo lembrava um matinho fechado, com certeza cheio de

www.projetoredacao.com.br
– Quando é que você vai deixar esse bichinho sossegado? Tamanho
homem!
Doril largou o pau devagarinho no monte, limpou as mãos na roupa
– Você não sabe qual é o meu tamanho.
Ela olhou-o desconfiada, com medo de dizer uma coisa e cair em alguma
armadilha. Doril estava sempre arranjando novidades para atrapalhá-la.
– Você nem sabe qual é o seu tamanho – insistiu ele.
– Então não sei? Já medi e marquei com um carvão atrás da porta da sala.
Pode olhar lá, se quiser.
Ele sorriu da esperada ingenuidade.
– Isso não quer dizer nada. Você não sabe o tamanho da marca.
– Sei. Mamãe mediu com a fita de costura. Diz que tem um metro e vinte e
tantos.
– Em metro de anão. Ou metro invisível.
Ela olhou-o assustada, desconfiada; e não achando o que responder,
desconversou:
– Ih, Doril! Você está bobo hoje!
– Boba é você, que não sabe de nada.
Ela esperou, ele explicou:
– Você não sabe que nós somos invisíveis, de tão pequenos?
– Sei disso não. Invisível é micuim, que a gente sente mas não vê.
– Pois é. Nós somos como micuins.
Diana olhou depressa para ela mesma, depois para Doril.
– Como é que eu vejo eu, vejo você, vejo minha mãe?
– E você pensa que micuim não vê micuim?
Diana franziu a testa, pensando. Doril tinha cada ideia.
[...]
– Não pode, Doril. A gente é grande. Olha aí, você é quase da altura desse
monte de lenha.
– Está vendo como você não sabe nada? Isso não é um monte de lenha. É
um monte de pauzinhos menores do que pau de fósforo.
– Ora sebo, Doril. Pau de fósforo é deste tamanho – ela mostrou dois
dedinhos separados, dando tamanho que ela imaginava.
– Isso que você está mostrando não é tamanho de pau de fósforo. Pau de
fósforo é quase do seu tamanho.
Diana ficou pensativa, triste por ter diminuído de tamanho de repente. Doril
aproveitou para ensinar mais.
– Como você é tapada, Diana. Tudo no mundo é muito pequeno. O mundo
é muito pequeno. – Olhou em volta procurando uma ilustração. – Está vendo
aquela jaca? Sabe o tamanho dela?
– Sei sim. Regula com uma melancia.
– Pronto. Não sabe. É do tamanho de cajá.
Diana olhou a jaca já madura em ponto de cair, qualquer dia caía.
– Ah, não pode, Doril. Comparar jaca com cajá?
– Mas é porque você não sabe que cajá não é cajá.
– O que é então?
– É bago de arroz.

www.projetoredacao.com.br
Diana olhou em volta aflita, procurando uma prova de que Doril estava
errado.
– E coqueiro o que é?
– Coqueiro é pé de salsa.
– E eu?
– Você é formiga de dois pés.
– Se eu sou formiga como é que eu pulo rego d´água?
– Que rego d´água?
– Esse nosso aí.
Doril sacudiu a cabeça, sorrindo.
– Aquilo não é rego d´água. É risquinho no chão, da grossura de um fio de
linha.
– E... E aquele morro lá longe?
– Não é morro. Você pensa que é morro porque você é formiga. Aquilo é um
montinho de terra que cabe num carrinho de mão.
Diana olhou-se de alto a baixo, achou-se grande para ser formiga.
– Onde você aprendeu isso?
Ela precisava da garantia de uma autoridade para aceitar a nova ideia.
– Em parte nenhuma. Eu descobri.
Diana deu um riso de zombaria, como quem começa a entender. Tudo aquilo
era invenção dele, coisa sem pé nem cabeça. Como a história de recado por
pensamento.
A mãe chamou da janela. Doril desceu do monte de lenha, um pau resvalou
e feriu-o no tornozelo. Ele ia xingar mas lembrou que pau de fósforo não
machuca. A mãe chamou de novo, ele saiu correndo e gritou para trás:
– Quem chegar por último é filho de lesma.
Diana correu também, mais para não ficar sozinha do que para competir.
Pularam uma bacia velha, simples tampa de cerveja emborcada no chão.
Pularam o fio de linha que Diana tinha pensado que era um rego d´água.
Doril tropeçou num balde furado (isto é, um dedal com alça), subiu de um
fôlego os dentes do pente que servia de escada para a varanda, e entrou no
caixotinho de giz onde eles moravam. A mãe uma formiguinha severa de
pano amarrado na cabeça estava esperando na porta com uma colher e um
vidro de xarope nas mãos, a colher uma simples casquinha de arroz. Doril
abriu a boca, fechou os olhos e engoliu, o borrifo de xarope desceu
queimando a garganta de formiga.
VEIGA, J. J. Melhores contos J. J. Veiga. Seleção de J. Aderaldo
Castello. 4. ed. São Paulo: Global, 2000. p. 97-102.

Questão 92)
Com a palavra dízima, o narrador avalia a situação vivida pelas
personagens, apropriando-se de um termo relacionado à

a) teologia, aludindo à contribuição paga pelos fiéis como obrigação


religiosa.
b) economia, evocando o imposto correspondente à décima parte do
rendimento de uma pessoa.

www.projetoredacao.com.br
c) matemática, fazendo referência à representação decimal de um número
que se repete indefinidamente.
d) sociologia, descrevendo o episódio da morte violenta de uma etnia.
e) geografia, conotando uma leitura estatística de dados apresentados.

TEXTO: 47 - Comum à questão: 93

1
No século XX, o progresso da Medicina 2 acompanhou de perto o
desenvolvimento das demais 3 ciências. Podemos afirmar, sem medo de
errar, que a 4 Medicina evoluiu mais no século XX do que em toda a 5 história
da humanidade. Além do progresso científico, 6 houve, igualmente, uma
evolução de conceitos a respeito 7 de saúde e doença; saúde já não é
apenas ausência de 8 doença, mas um estado de completo bem-estar físico,
9
mental e social, conforme definição da Organização 10 Mundial de Saúde.
11
É também do século XX a compreensão de que a 12 saúde depende de
múltiplos fatores, cabendo à Medicina 13 parcela importante, porém muito
menos decisiva do que 14 se acreditava. É ainda desse século o
reconhecimento 15 de que a saúde é um dos direitos fundamentais do 16
homem, ficando o Estado com a responsabilidade de 17 zelar pela sua
manutenção.
18
Temos, portanto, dois enfoques a considerar: o dos 19 avanços científicos
e suas consequências e o das 20 conquistas sociais, ou seja, do acesso aos
bens e 21 serviços que asseguram a saúde.
22
Do ponto de vista científico, podemos registrar, em 23 uma visão
retrospectiva, descobertas notáveis que 24 modificaram os destinos da
humanidade. Seria fastidioso 25 enumerar todas elas. Difícil também
hierarquizá-las. Mas 26 a maior contribuição da Medicina à saúde nesse
século 27 foi, sem dúvida, no campo da prevenção das doenças 28 por meio
da imunização em massa e das ações 29 desenvolvidas sobre o meio
ambiente.
30
Em decorrência de todos os progressos 31 alcançados pela Medicina no
século passado, sobretudo 32 em função das ações preventivas, surgiram
algumas 33 consequências que devem ser devidamente avaliadas. 34 Uma
delas foi a do aumento da duração da vida, que se 35 estendeu, em média,
até próximo de seus limites 36 fisiológicos.
37
Chegamos, assim, ao século XXI empolgados pelo 38 enorme progresso
alcançado pela Medicina e, ao mesmo 39 tempo, aturdidos pelas
consequências advindas desse 40 mesmo progresso e pelos novos desafios
que se nos 41 apresentam.
RESENDE, Joffre M de. A Medicina na passagem do milênio. Disponível em
:<http://usuarios.cultura.com.br/jmresende/Milenio.htm>. Acesso em: 21
out. 2012. Adaptado.

Questão 93)
Identifique com V as afirmativas verdadeiras sobre os elementos linguísticos
que compõem o texto e com F, as falsas.

www.projetoredacao.com.br
( ) A substituição de “já” por mais, mesmo diante da necessidade de se
deslocar esse último termo para depois da forma verbal, em “saúde já
não é apenas ausência de doença” (Refs. 7-8), não altera
semanticamente o contexto.
( ) O termo “parcela importante”, em “cabendo à Medicina parcela
importante” (Refs. 12-13), é um dos complementos do verbo caber, que
aparece flexionado no gerúndio.
( ) O pronome “se”, em “do que se acreditava.” (Refs. 13-14), exerce a
mesma função do que aparece em que “que se nos apresentam.” (Refs.
40-41).
( ) O conector “portanto”, em “Temos, portanto, dois enfoques a considerar”
(Ref. 18), estabelece com o que foi dito nos parágrafos anteriores o
mesmo tipo de relação que “Mas”, no trecho “Mas a maior contribuição
da Medicina à saúde nesse século foi, sem dúvida, no campo da
prevenção das doenças” (Ref. 25-27).
( ) A locução “sem dúvida” (Ref. 27) tem valor adverbial e que expressa
afirmação.

A alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo, é a

01. FVFVF
02. VFVFV
03. VVFFV
04. FFVVF
05. VVVVV

TEXTO: 48 - Comum à questão: 94

BRASI DE CIMA E BRASI DE BAXO (Fragmento)

Meu compadre Zé Fulô,


Meu amigo e companhêro,
Faz quage um ano que eu tou
Neste Rio de Janêro;
Eu saí do Cariri
Maginando que isto aqui
Era uma terra de sorte,
Mas fique sabendo tu
Que a miséra aqui no Su
É esta mesma do Norte.

Tudo o que procuro acho.


Eu pude vê neste crima,
Que tem o Brasi de Baxo
E tem o Brasi de Cima.
Brasi de Baxo, coitado!

www.projetoredacao.com.br
É um pobre abandonado;
O de Cima tem cartaz,
Um do ôtro é bem deferente:
Brasi de Cima é pra frente,
Brasi de Baxo é pra trás.

Aqui no Brasil de Cima,


Não há dô nem indigença,
Reina o mais soave crima
De riqueza e de opulença;
Só se fala de progresso,
Riqueza e novo processo
De grandeza e produção.
Porém, no Brasi de Baxo
Sofre a feme e sofre o macho
A mais dura privação.

Brasi de cima festeja


Com orquestra e com banquete,
De uísque dréa e cerveja
Não tem quem conte os rodete.
Brasi de baxo, coitado!
Vê das casa despejado
Home, menino e muié
Sem achá onde morá
Proque não pode pagá
O dinhêro do alugué.

No Brasi de Cima anda


As trombeta em arto som
Ispaiando as propaganda
De tudo aquilo que é bom.
No Brasi de Baxo a fome
Matrata, fere e consome
Sem ninguém lhe defendê;
O desgraçado operaro
Ganha um pequeno salaro
Que não dá pra vivê.

Inquanto o Brasi de cima


Fala de transformação,
Industra, matéra-prima,
Descobertas e invenção,
No Brasi de Baxo isiste
O drama penoso e triste
Da negra necissidade;
É uma coisa sem jeito

www.projetoredacao.com.br
E o povo não tem dereito
Nem de dizê a verdade.

No Brasi de Baxo eu vejo


Nas ponta das pobre rua
O descontente cortejo
De criança quage nua.
Vai um grupo de garoto
Faminto, doente e roto
Mode caçá o que comê
Onde os carro põe o lixo,
Como se eles fosse bicho
Sem direito de vivê.

Estas pequenas pessoa,


Estes fio do abandono,
Que veve vagando à toa
Como objeto sem dono,
De manêra que horroriza,
Deitado pela marquiza,
Dromindo aqui e aculá
No mais penoso relaxo,
É deste Brasi de Baxo
A crasse dos Marginá.

Meu Brasi de Baxo, amigo,


Pra onde é que você vai?
Nesta vida do mendigo
Que não tem mãe nem tem pai?
Não se afrija, nem se afobe,
O que com o tempo sobe,
O tempo mesmo derruba;
Tarvez ainda aconteça
Que o Brasi de Cima desça
E o Brasi de Baxo suba.
[...]
(ASSARÉ, Patativa do. Melhores poemas.
Seleção de Cláudio Portella. São Paulo: Global, 2006. p.329-332)

Questão 94)
Leia o trecho do poema transcrito abaixo e julgue as afirmações a respeito
das relações estabelecidas entre os termos da oração.

“No Brasi de Cima anda / As trombeta em arto som [...] / Inquanto o Brasi de
cima / Fala de transformação, / Industra, matéra-prima, / Descobertas e
invenção, / No Brasi de Baxo isiste / O drama penoso e triste / Da negra
necissidade;”

www.projetoredacao.com.br
I. O substantivo “trombeta” (linha 1) exerce função de sujeito do verbo
andar.
II. “transformação, Industra, matéra-prima” (linha 2) consiste em objeto
indireto do verbo falar.
III. O trecho “Descobertas e invenção” (linha 2) exerce função de objeto
direto do verbo falar.
IV. A conjunção “Inquanto” (linha 1) tem valor proporcional.
V. É correto afirmar que “No Brasi de Cima” (linha 1) exerce função
adverbial.

Há informações corretas apenas nos itens:

a) II, IV e V
b) I, II e IV
c) I, III e IV
d) III, IV e V
e) I, II e V

TEXTO: 49 - Comum à questão: 95

Focalize a passagem de um livro do astrônomo, escritor e divulgador


científico Carl Sagan (1934-1996) e uma tira de Adão Iturrusgarai publicada
no jornal Folha de S.Paulo.

Não existem perguntas imbecis

À exceção das crianças (que não sabem o suficiente para deixar de fazer as
perguntas importantes), poucos de nós passam muito tempo pensando por
que a Natureza é como é; de onde veio o Cosmos, ou se ele sempre existiu;
se o tempo vai um dia voltar atrás, e os efeitos vão preceder as causas; ou
se há limites elementares para o que os humanos podem conhecer. Há até
crianças, e eu conheci algumas delas, que desejam saber como é um buraco
negro; qual é o menor pedaço de matéria; por que nos lembramos do
passado, mas não do futuro; e por que há um Universo.

De vez em quando, tenho a sorte de lecionar num jardim de infância ou numa


classe do primeiro ano primário. Muitas dessas crianças são cientistas natos
— embora tenham mais desenvolvido o lado da admiração que o do
ceticismo. São curiosas, intelectualmente vigorosas. Perguntas
provocadoras e perspicazes saem delas aos borbotões. Demonstram
enorme entusiasmo. Sempre recebo uma série de perguntas encadeadas.
Elas nunca ouviram falar da noção de “perguntas imbecis”.

Mas, quando falo a estudantes do último ano do secundário, encontro algo


diferente. Eles memorizam os “ fatos”. Porém, de modo geral, a alegria da
descoberta, a vida por trás desses fatos, se extinguiu em suas mentes.

www.projetoredacao.com.br
Perderam grande parte da admiração e ganharam muito pouco ceticismo.
Ficam preocupados com a possibilidade de fazer perguntas “imbecis”; estão
dispostos a aceitar respostas inadequadas; não fazem perguntas
encadeadas; a sala fica inundada de olhares de esguelha para verificar, a
cada segundo, se eles têm a aprovação de seus pares. Vêm para a aula com
as perguntas escritas em pedaços de papel que sub-repticiamente
examinam, esperando a sua vez, e sem prestar atenção à discussão em que
seus colegas estão envolvidos naquele momento.

Algo aconteceu entre o primeiro ano primário e o último ano secundário, e


não foi apenas a puberdade. Eu diria que é, em parte, a pressão dos pares
para não se sobressair (exceto nos esportes); em parte, o fato de a
sociedade ensinar gratificações a curto prazo; em parte, a impressão de que
a ciência e a matemática não vão dar a ninguém um carro esporte; em parte,
que tão pouco seja esperado dos estudantes; e, em parte, que haja poucas
recompensas ou modelos de papéis para uma discussão inteligente sobre
ciência e tecnologia — ou até para o aprendizado em si mesmo. Os poucos
que continuam interessados são difamados como nerds, geeks ou grinds.*
* Gírias norte-americanas para designar pessoas chatas, desinteressantes,
esquisitas e, nesse caso, estudantes muito aplicados.
(Carl Sagan. O mundo assombrado pelos demônios, 1997.)

Mundo Monstro

(Adão Iturrusgarai. www.folha.com.br)

Questão 95)
Há até crianças, e eu conheci algumas delas, que desejam saber como é
um buraco negro; qual é o menor pedaço de matéria; por que nos lembramos
do passado, mas não do futuro; e por que há um Universo.
Explique com que finalidade, no plano semântico, o autor intercalou a oração
destacada à sequência do período transcrito.

TEXTO: 50 - Comum à questão: 96

Professores de Inglês

(1) Hoje qualquer pessoa pode aprender inglês com a maior facilidade: há
institutos e cursos especializados, livros que dispensam professor, aulas
pelo rádio e pela televisão, métodos tão modernos que nem me atrevo a
descrever, com medo de me sentir inatual. Mas houve um tempo em que não

www.projetoredacao.com.br
era assim: os professores de inglês eram difíceis de encontrar, os alunos
também não pareciam muito numerosos, a literatura francesa dominava com
uma encantadora prepotência, e parece que todo brasileiro educado devia
saber, em matéria de idiomas, apenas português e francês.
(2) Mas, por ter descoberto Keats e Shelley, nem sei bem como, eu andava
à procura de quem me ensinasse inglês, fosse por que método fosse,
contanto que eu pudesse chegar à poesia inglesa com a maior rapidez
possível.
(3) Comecei a frequentar um instituto onde havia muitos cursos de arte e
literatura. Parecia-me que aquele era o caminho. E dispunha-me a uma
dedicação total aos meus exercícios. Mas a boa professora, embora sem ser
inglesa, mas com cursos no estrangeiro e grande prática em aulas
particulares, iniciou suas aulas com um pequeno discurso sobre a absoluta
necessidade de se conjugar perfeitamente os verbos “to be” e “to have”,
antes de se conhecer sequer uma palavra do vocabulário.
(4) Ora, nem todos os estudantes haviam descoberto Keats ou Shelley, e
frequentavam as aulas por simples obrigação. Ninguém estava pensando
em versos ingleses: nem mesmo a professora. E foi um tal de recitar
indicativos, condicionais e subjuntivos, presentes, futuros e passados, ora
perfeitos, ora imperfeitos, ora mais que perfeitos, afirmativa, negativa e
interrogativamente, que aqueles solos e coros me conduziam a uma
inevitável sonolência.
(5) Mas havia salas próximas em que se estudavam piano e violino. De modo
que eu podia descansar na música, sempre que os verbos chegavam àquele
ponto de monotonia em que só me restava ou enlouquecer ou dormir.
(6) A minha segunda professora de inglês era inglesa mesmo. Também
acreditava na eficácia dos verbos “to be” e “to have”, acrescentava-lhes
ainda o “to get”, ao qual se referia com um sorriso tão carinhoso que até dava
vontade de se começar por aí. Mas essa professora tinha um método
encantador: oferecia-me uma xícara de chá, para acompanhar as aulas. Sua
sala era absolutamente igual às que se veem nos livros ilustrados para o
ensino do inglês. Exceto a lareira, tudo estava lá. E como eu já sabia um
pouco de verbos, passamos àquelas frases em que o chapéu ora é nosso,
ora é da nossa prima, e o gato ora está embaixo da mesa ora em cima da
cadeira. Mas era tão difícil chegar a Keats e Shelley!
(7) A terceira professora gostava de histórias de fantasmas e de sinos que
batem à meia noite. Mas, no meio das suas histórias, levantavam-se às
vezes o “to be” e o “to have”, e ela me pedia para recitar todos os seus modos
e tempos, acompanhando os meus esforços com um sorriso que talvez não
fosse completamente macabro, mas era bastante assustador.
(8) Feitas essas primeiras experiências, pareceu-me melhor ir diretamente
aos autores, e, de vez em quando, aperfeiçoar-me por meio de quantos livros
de “inglês sem mestre” fossem aparecendo.
(9) Encerrando o ciclo das professoras, começou o dos professores. Um era
persa e dava-me a traduzir sentenças filosóficas sem se ocupar dos modos
e tempos do “to be” e do “to have”. O outro vinha da Austrália: contava

www.projetoredacao.com.br
histórias de feitiçaria, mas no meio das histórias ficava com tanto medo do
que estava contando que era preciso tranquilizá-lo.
(10) Por isso, no dia em que visitei a casa de Keats, em Roma, não pude
deixar de pensar com ironia e tristeza: como são longos, às vezes, os
caminhos da vida! E quanto tempo se pode levar para se chegar a um poeta!
(Cecília Meireles. Inéditos. Rio: Editora Bloch, 1967, p. 151. Adaptado).

Questão 96)
Do ponto de vista gramatical – especificamente em relação ao âmbito da
sintaxe –, analise os seguintes comentários.

00. Em: “nem todos os estudantes haviam descoberto Keats ou Shelley”, o


verbo ‘haver’ deveria estar no singular, pois, nesse contexto, funciona
como verbo impessoal.
01. Em: “como são longos, às vezes, os caminhos da vida”, os termos da
oração estão postos em ordem direta, por uma questão de ênfase.
02. Em: “Mas, por ter descoberto Keats e Shelley, (...) andava à procura de
quem me ensinasse inglês”, o segmento sublinhando expressa um
sentido de causalidade.
03. Em: “como eu já sabia um pouco de verbos, passamos àquelas frases
em que o chapéu ora é nosso”, pela regência do verbo, o uso da crase,
neste caso, é facultativo.
04. Em: “Comecei a frequentar um instituto onde havia muitos cursos de arte
e literatura. Parecia-me que aquele era o caminho”, o segmento
sublinhado retoma toda a sentença anterior.

TEXTO: 51 - Comum à questão: 97

Os pássaros, a canção e a pressa

A aceleração do tempo é uma das características do século XX, talvez a


principal delas. As coisas chegam e vão embora com impressionante
rapidez. Flâmula – quem se lembra desse objeto? Espécie de bandeira
triangular homenageando clubes ou universidades, cidades ou países. As
flâmulas chegaram, fizeram grande sucesso e foram embora. O bambolê
teve a mesma sorte.
O século XX viu nascer e morrer o long-playing, o comunismo, o Zeppelin, o
charleston, o musical de Hollywood, os hippies, o radinho de pilha, o bonde
elétrico, a vitrola etc. Algumas invenções pareciam destinadas
irremediavelmente à obsolescência quando experimentaram um espetacular
retorno. Outras pareciam destinadas a um espetacular retorno quando
experimentaram o fracasso.
Pode-se alegar que, em outros séculos, também houve costumes e
tecnologias de vida breve. Não como no século XX, nem em quantidade nem
em velocidade. (...) Como resultado, a própria velocidade do tempo passou
a ser um valor em si. Se as coisas não andam depressa, ficam aborrecidas.
Parar é chatear-se, e lá vamos nós: a gastança do tempo, a gula de digeri-

www.projetoredacao.com.br
lo, o consumo compulsivo – desesperado, dir-se-ia – dessa substância, sem
cor nem cheiro, chamada tempo passou a ser a droga mais mortal. Esta é a
hora dos excitados.
Nesse processo, uma das criações mais características do século foi a
indústria da urgência. É preciso correr atrás do tempo. Ou correr na frente,
ainda melhor. Chegar antes dele, fazer uma hora em menos de uma hora,
eis o ideal. Quem não consegue está fora do ritmo, fora de seu tempo – com
isso chegamos ao telefone celular. Ele é a culminância apoteótica da
indústria da urgência que caracteriza estes nossos anos. Contabilize o leitor
com rigor científico: quantas vezes deu na vida, ou recebeu, um telefonema
realmente urgente? Algo que não pudesse esperar meia hora? Comunicados
realmente urgentes não são um acontecimento cotidiano. A rigor, ao longo
de uma vida, talvez não sejam dois ou três.
E, no entanto, os celulares se multiplicam como saúvas, brotam como capim.
Centenas deles, milhares, entram em circulação a cada dia. As pessoas na
rua portam o aparelhinho como se fosse uma nova peça do vestuário, ou um
novo complemento, como o guarda-chuva – ainda que mal comparado, pois
o guarda-chuva, em sua silenciosa dignidade, não toca, nem fala nem é
histérico. De repente um monte de gente percebeu que tem pressa, não pode
esperar, que é urgente chamar, é urgente ser chamado, é urgente, é urgente,
é tudo tão urgente...
Antonio Carlos Jobim não tinha nada a ver com isso, e é por isso que é
lembrado nestas linhas. Era um homem de vagares. Gostava de
passarinhos, árvores, canções e poesia, quatro produtos fora do alcance da
indústria da urgência. Ele andou na contramão da mistificação da pressa que
se abateu sobre as vidas da esmagadora maioria de seus contemporâneos.
E porque tinha uma outra percepção do tempo conseguiu, mesmo num
território do efêmero como o da música popular, deixar uma obra que o
ultrapassa, em duração.
(Roberto Pompeu de Toledo. Veja. Ed. 1371, p. 150. Adaptado).
Questão 97)
Em relação aos nexos semânticos entre diferentes segmentos do texto,
analise a consistência das indicações abaixo.

00. “As coisas chegam e vão embora com impressionante rapidez.” (O


segmento em destaque exprime uma relação de causalidade).
01. “É preciso correr atrás do tempo. Ou correr na frente, ainda melhor”. (O
conectivo sublinhado sinaliza um sentido de alternância).
02. “Se as coisas não andam depressa, ficam aborrecidas.” (A informação
introduzida pelo conectivo expressa uma condição da informação
principal).
03. “os celulares se multiplicam como saúvas, brotam como capim.” (A
relação pretendida é de comparação).
04. “E porque tinha uma outra percepção do tempo conseguiu, mesmo num
território do efêmero como o da música popular, deixar uma obra que o
ultrapassa, em duração”. (O segmento sublinhado expressa um sentido
de concessão).

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 52 - Comum à questão: 98

O xadrez de Marina

SÃO PAULO — Eduardo Campos não é um "zero", como Ciro Gomes o


chamou na sua tola e habitual verborragia, tampouco é o estrategista político
formidável, tal qual passou a ser pintado em Brasília após a surpreendente
filiação da ex-senadora Marina Silva ao seu PSB.
O governador de Pernambuco é um construtor de pontes, paciente e
habilidoso, que consegue se manter como interlocutor de quase todo o
mundo, de Lula a Serra, de Bornhausen e Ronaldo Caiado a Marina. É um
conciliador que parece mais mineiro do que o próprio Aécio Neves.
É evidente que esses traços o ajudaram a se posicionar no momento em que
Marina precisava achar uma saída para o imbróglio em que se meteu ao não
conseguir oficializar a tal Rede Sustentabilidade -- não se filiar a um partido
significaria abdicar totalmente da eleição presidencial; entrar numa sigla
qualquer apenas para ser candidata seria um gesto personalista que poderia
arranhar a imagem da nova política, que Marina tanto cultiva.
Mas, na prática, o governador pernambucano foi um agente passivo nessa
história toda. Se alguém anteviu alguma coisa, foi Marina. A ex-senadora
criou o principal fato político desde a eleição de Dilma e ainda jogou sobre
Campos a responsabilidade de crescer nas pesquisas em pouco tempo, ao
deixar claro que, se o governador não se viabilizar, ela pode concorrer.
No cenário anterior, Campos seria um vitorioso se terminasse a eleição
presidencial do ano que vem com cerca de 15% dos votos. Atingiria seu
objetivo de tornar-se um nome nacionalmente conhecido a fim de, quatro
anos depois, disputar a sucessão para valer.
Agora, após o empurrão da ex-senadora, se Campos não atingir esse
patamar nos próximos meses, antes mesmo de a campanha eleitoral
começar, poderá ser forçado a abdicar da candidatura em favor de Marina.
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/
rogeriogentile/2013/10/1354262-o-xadrez-de-marina.shtml.
Acesso em: 10 out. 2013.

Questão 98)
Leia o trecho a seguir, retirado do texto:

O governador de Pernambuco é um construtor de pontes, paciente e


habilidoso, que consegue se manter comointerlocutor de quase todo o
mundo, de Lula a Serra, de Bornhausen e Ronaldo Caiado a Marina.

A metáfora “construtor de pontes” é iluminada e explicada:


a) pelo uso do termo “interlocutor”.
b) pelo uso dos termos “paciente” e “habilidoso”.
c) pelo modo como se constrói a apresentação de seus interlocutores.
d) pelo fato de o governador ser, na verdade, um político, e não um
engenheiro.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 53 - Comum à questão: 99

Álbum de colégio

1
Um antigo colega criou e organizou um site sobre 2 nossos anos de colégio,
que já vão longe. Visitei ontem 3 as páginas virtuais de uma experiência real,
vivida 4 longamente numa velha escola, sólida tanto na construção 5 como
no ensino. A pesquisa do meu colega é 6 bastante rica: documenta com
detalhes pessoas e espaços 7 que nos foram muito familiares. Detive-me
logo 8 na sequência dos professores, como se de novo estivesse 9 a ouvir
suas vozes e a ver seus gestos, projetados 10 do tablado em que ficava a
mesa, junto ao 11 quadro-negro.

12
Dona Alzira, de matemática. Óculos grossos, de 13 aro escuro,
contrastando com a pele clara. Paciente, 14 repetia o que fosse necessário
de uma lição de álgebra 15 ou geometria. Eu me divertia com as palavras
novas, 16 que logo transformava em apelidos dos colegas: 17 Maria Clara
ficou sendo a Hipotenusa, por ser comprida 18 e magra, e o Zé Roberto
passou a ser Cateto, por 19 conta do nariz comprido. As palavras prestam-se
a associações 20 estranhas, talvez arbitrárias. O frequente 21 vestido de
folhas vermelhas de Dona Alzira me parecia 22 bandeira vistosa das minhas
dificuldades com as 23 equações e os teoremas.

24
Dava-me melhor em Português. Não tanto com a 25 Gramática das regras
severas e nomenclatura difícil, 26 mas com os textos bonitos que nos levavam
para fora 27 da escola, na viagem da imaginação. Descobri com 28 seu Alex,
professor grandalhão de voz grave e dicção 29 perfeita, o encantamento de
versos ou frases em 30 prosa ditos com muita expressão, valorizados em
cada 31 sílaba. E me iniciei em alguns autores que acabaram 32 ficando, como
Fernando Pessoa.

33
A História, ao que me lembro, dividia-se em Geral, 34 da América e do
Brasil. Tive mais de um professor, o 35 mais entusiasmado e entusiasmante
era o seu Euclides, 36 quase nunca imparcial, admirador dos gregos, não
tanto 37 dos romanos, capaz de descrever as viagens marítimas 38 dos
portugueses e espanhóis como se fosse um tripulante. 39 Não deixava de
admirar Napoleão, acentuando 40 a incomensurável diferença entre o tio e o
sobrinho. Na 41 História do Brasil, enfatizava as insurreições populares 42 e
censurava o Estado Novo.

43
Clicando aqui e ali (quem diria que havíamos de 44 conhecer e usar esse
tal de computador?) chego a outros 45 mestres, a outras aulas inesquecíveis.
As meninas 46 torciam o nariz nas de Química: o professor fazianos 47 usar
o laboratório e praticar reações (com sulfato? 48 com sulfeto?) que não
cheiravam nada bem. As mais 49 frágeis simulavam desmaios... Havia as
salas-ambiente, 50 destinadas e aparelhadas para disciplinas específicas. 51

www.projetoredacao.com.br
Na de Geografia, grandes mapas, projetor 52 de slides, maquetes e figuras
em alto relevo; na de 53 Biologia, acreditem: um esqueleto completo, de
verdade, 54 apelidado de Toninho (dizia-se que de um indigente, 55 morto há
várias décadas); na de Física, armários 56 com instrumentos que lembravam
ilustrações de 57 Da Vinci. O professor Geraldo não era exatamente 58 uma
grande vocação de pedagogo: com ele a Física ficava 59 mais difícil do que
já é. Dividia o curso em três 60 partes: Cinemática, Estática e Dinâmica, mas
não sobrava 61 quase nada de nenhuma. Como ficava ao lado 62 da sala de
Música, distraía-nos o piano de Dona 63 Mariinha, que punha seus alunos
para cantar peças do 64 folclore nacional, das cirandas e emboladas do
nordeste 65 às danças gauchescas.

66
E havia, é claro, os pátios de recreio, movimentados 67 nos intervalos. A
moralidade da época recomendava 68 dois pátios: um para os meninos, outro
para as 69 meninas. As turmas eram mistas, mas o convívio evitado 70 tanto
quanto possível. Regulava-se o comprimento 71 das saias, que algumas
colegas enrolavam sorrateiramente 72 na cintura. Afinal, a moda era a míni...
73
Discos recém-lançados de Roberto Carlos e dos 74 Beatles animavam o
intervalo maior, colocados na vitrola 75 reivindicada e conseguida pelo centro
estudantil.76 77 Volta e meia aparecia um jornalzinho dos estudantes, 78 de
corpo editorial instável e de vida curta.

79
Como esquecer, ainda, as figuras dos nossos inspetores 80 de alunos?
Seu Alípio, baixinho e bravo, vociferando 81 por nada; dona Gladyr, apelidada
de Arco-íris 82 por conta das roupas multicoloridas; dona Gervásia, a 83 mais
velha funcionária da escola, contadora de 84 “causos”; Albertina, moça
vigilante e de poucas palavras, 85 encarregada do portão de entrada das
meninas. 86 Na cantina, os três irmãos proprietários (“os três mosqueteiros
87
ou os três patetas?”, brincávamos) atendiam 88 a todos com desenvoltura
e bom humor. E, por todo 89 lado, as criaturas mais antigas e veneráveis: os
90
flamboyants copados, os plátanos, as duas figueiras. 91 Provavelmente
ainda todas vivas, florescendo.

92
De clique em clique armou-se na tela do monitor, 93 em grande angular, a
imagem da preciosa e velha 94 biblioteca da escola. Sim, tinha bibliotecária:
uma 95 senhora idosa e prestativa, sempre perfumada, rigorosa 96 na
disciplina: dona Augusta, de hábitos e gosto 97 conservadores. Na “sua”
biblioteca não entrava “esse 98 tal de Sartre, francês ateu e comunista que
desencaminha 99 a juventude”. Recomendava-nos Coelho 100 Netto e Olavo
Bilac, Machado de Assis e Euclides da 101 Cunha, e parava por aí: nenhum
entusiasmo pelos 102 modernos. Mas lá estavam Bandeira, Drummond, 103
Clarice, Graciliano, Guimarães Rosa, que íamos descobrindo 104 aos poucos.
A biblioteca tinha algumas preciosidades 105 do século XIX, encadernadas e
dispostas 106 nas prateleiras mais altas.

107
Ah, a educação física... Luxos dos luxos: um ginásio 108 de esportes, com
boa quadra e pequena arquibancada, 109 e um campo gramado de futebol,

www.projetoredacao.com.br
com traves 110 oficiais e rede, instalada apenas nos jogos importantes. 111
Lembro-me quando a seleção da escola recebeu 112 o time do Seminário
Presbiteriano, uns jovens educadíssimos, 113 diante dos quais parecíamos
uns trogloditas. 114 Pois nos deram uma goleada, com todo o respeito. 115
Nosso comentário ressentido: − Mas também esses 116 caras vivem
concentrados...

117
Velha escola. Por ironia, a tecnologia moderna 118 me leva ao passado e
materializa reminiscências que 119 pareciam condenadas à pura e desmaiada
memória. 120 Ao som das músicas daquela época, as jovens colegas 121
continuam moças e bonitas, e os rapazes ensaiam 122 seus flertes... Palavras
antigas. Mas está tudo 123 lá: no site do colégio, aberto à participação de
moços 124 e velhos, história organizada de uma década perdida 125 no século
XX. Lembrei-me agora de uma cena do filme 126 Sociedade dos poetas
mortos. O professor leva 127 seus corados alunos a um saguão da escola,
onde 128 estão fotos amareladas de alunos de outrora, que já 129 nem estão
neste mundo. Aos moços atentos àquelas 130 imagens pergunta o professor:
− Sabe o que dizem 131 esses jovens das fotos? Dizem: carpe diem, em
latim. 132 Ou: aproveita bem o dia que passa.
(Rinaldo Antero da Cruz, inédito)

Questão 99)
O texto apresenta passagens em que arranjos singulares de linguagem
ampliam as possibilidades de sentido da expressão. A alternativa em que se
reconhece corretamente um desses arranjos, no 5º parágrafo, é:

a) chego a outros mestres, a outras aulas inesquecíveis/ pleonasmo.


b) As meninas torciam o nariz nas de Química / anacoluto.
c) o professor fazia-nos [...] praticar reações [...] que não cheiravam nada
bem / paradoxo.
d) O professor Geraldo não era exatamente uma grande vocação de
pedagogo / eufemismo.
e) distraía-nos o piano de Dona Mariinha / hipérbole.

TEXTO: 54 - Comum à questão: 100

1
O esforço dos pensadores que nos antecederam 2 deixou pontos de partida
muito valiosos. Mas devemos 3 reconhecer que eles nos falaram de um país
que, pelo 4 menos em parte, deixou de existir. O Brasil de Gilberto 5 Freyre
girava em torno da família extensa da casa-grande, 6 um espaço integrador
dentro da monumental 7 desigualdade; o de Sérgio Buarque apenas iniciava
a 8 aventura de uma urbanização que prometia associar-se 9 à modernidade
e à cidadania; o de Caio Prado mantinha 10 a perspectiva da libertação
nacional e do socialismo; o 11 de Celso Furtado era uma economia dinâmica,
que 12 experimentava uma acelerada modernização industrial; 13 o de Darcy
Ribeiro – cujos ídolos, como sempre dizia, 14 eram Anísio Teixeira e Cândido

www.projetoredacao.com.br
Rondon – ampliava a 15 escola pública de boa qualidade e recusava o
genocídio 16 de suas populações mais fragilizadas.
17
Os elementos centrais com que todos eles 18 trabalharam foram
profundamente alterados nas últimas 19 décadas. A economia mais dinâmica
do mundo, que 20 dobrou seu produto, cinco vezes seguidas, em 50 anos, 21
caminha para experimentar a terceira década rastejante. 22 Todos os
mecanismos que garantiram mobilidade social 23 na maior parte do século
XX foram impiedosamente 24 desmontados, a começar pela escola pública.
A 25 urbanização acelerada concentrou multidões 26 desenraizadas,
enquanto a desorganização do mercado 27 de trabalho multiplicava
excluídos. Tornado refém do 28 sistema financeiro, o Estado nacional deixou
de cumprir 29 funções estruturantes essenciais. A fronteira agrícola foi 30
fechada, estabelecendo-se nas áreas de ocupação 31 recente uma estrutura
fundiária ainda mais concentrada 32 que a das áreas de ocupação secular.
Nessa sociedade 33 urbanizada e estagnada, os meios eletrônicos de 34
comunicação de massa tornaram-se, de longe, a principal 35 instituição
difusora de desejos, comportamentos e 36 valores, inoculando diariamente,
maciçamente e 37 irresponsavelmente, uma necessidade de consumo 38
desagregadora, pois inacessível. “Nunca foi tão grande a 39 distância entre
o que somos e o que poderíamos ser”, 40 disse recentemente Celso Furtado,
antes de nos deixar.
41
Não temos uma teoria do Brasil contemporâneo. 42 Estamos em voo cego,
imersos em uma crise de destino, 43 a maior da nossa existência. A História
está nos olhando 44 nos olhos, perguntando: “Afinal, o que vocês são? O 45
que querem ser? Tem sentido existir Brasil? Qual Brasil?”.
46
Temos hesitado em enfrentar questões tão difíceis, 47 tão radicais.
Preferimos brincar de macroeconomia. Mas 48 a disjunção está posta: ou o
povo brasileiro, movido por 49 uma ideia de si mesmo, assume pela primeira
vez o 50 comando de sua nação, para resgatá-la, reinventá-la e 51
desenvolvê-la, ou assistiremos neste século ao 52 desfazimento do Brasil. Se
ocorrer esse último desfecho, 53 representará um duríssimo golpe nas
melhores 54 promessas da modernidade ocidental e será um 55 retrocesso no
processo civilizatório de toda a 56 humanidade. A invenção do futuro se
tornará muito mais 57 penosa para todos.

BENJAMIN, César. Uma certa ideia de Brasil.


Revista Interesse Nacional. Disponível em:
<http://interessenacional.uol.com.br/index.php/
edicoesrevista/ uma-certa-ideia-de-brasil/>.
Acesso em: 6 maio 2014. Adaptado.

Questão 100)
As circunstâncias que explicitam, no contexto em que se inserem, um
posicionamento crítico do articulista são as indicadas em

I. “impiedosamente” (Ref. 23).


II. “diariamente” (Ref. 36).

www.projetoredacao.com.br
III. “maciçamente” (Ref. 36).
IV. “irresponsavelmente” (Ref. 37).
V. “recentemente” (Ref. 40).

A alternativa em que todas as circunstâncias indicadas estão corretas é a

a) I e II.
b) I e IV.
c) II e III.
d) II e V.
e) III, IV e V.

TEXTO: 55 - Comum à questão: 101

O mundo que venci deu-me amor

O mundo que venci deu-me um amor,


Um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes couraçados.
O mundo que venci deu-me um amor
Alado galoupando em céus irados,
Por cima de qualquer muro de credo,
Por cima de qualquer fosso de sexo.
O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força as portas dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.
Amor que dorme e treme. Que desperta
E torna contra mim, e me devora
E me rumina em cantos de vitória.

(Faustino, Mário. Poesia completa. Poesia traduzida.


São Paulo: Max Limonad, 1985.)

Questão 101)

Considerando as relações semânticas e lexicais nas quais o texto se


ampara, assinale a alternativa cujo trecho NÃO exibe ideias contrastantes.

a) “O mundo que venci deu-me um amor,


Um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes couraçados.”
b) “Amor que dorme e treme. Que desperta
E torna contra mim, e me devora
E me rumina em cantos de vitória.”

www.projetoredacao.com.br
c) “O mundo que venci deu-me um amor
Alado galoupando em céus irados,
Por cima de qualquer muro de credo,
Por cima de qualquer fosso de sexo.”
d) “O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força as portas dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.”

TEXTO: 56 - Comum à questão: 102

Soneto
Álvares de Azevedo

Pálida a luz da lâmpada sombria,


Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!

Era a virgem do mar, na escuma fria


Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d’alvorada
Que em sonhos se banhava e esquecia!

Era mais bela! o seio palpitando...


Negros olhos as pálpebras abrindo...
Formas nuas no leito resvalando...

Não te rias de mim, meu anjo lindo!


Por ti – as noites eu velei chorando,
Por ti – nos sonhos morrerei sorrindo!

LIRA DOS VINTE ANOS.


São Paulo: Martin Claret, 2006.p.49-50.

Questão 102)

A comparação entre os elementos lexicais das duas primeiras estrofes revela


uma oposição entre noite e amanhecer que indica, respectivamente, a

a) precisão do tempo cronológico e a delimitação do cenário.


b) melancolia do amor inacessível e a ilusão dos sonhos projetados.
c) certreza da felicidade da mulher e a desconfiança de uma traição.
d) solidão da virgem e a presença do enunciador.
e) quietude do silêncio e a agitação da natureza.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 57 - Comum à questão: 103

Oração do Milho
Cora Coralina

Senhor, nada valho.


Sou a planta humilde dos quintais pequenos
e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso,
nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e haste, e, se me ajudardes, Senhor,
mesmo planta de acaso, solitária,
dou espigas e devolvo em muitos grãos
o grão perdido inicial, salvo por milagre,
que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo,
de mim não se faz o pão alvo universal.
O justo não me consagrou Pão de Vida
nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial
dos que trabalham a terra,
alimento de rústicos e animais de jugo.
Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,
coroados de rosas e de espigas,
e os hebreus iam em longas caravanas
buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,
quando Rute respigava cantando nas searas de Booz
e Jesus abençoava os trigais maduros,
eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo
na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proprietário, sou a polenta
do imigrante e a amiga dos que começam a vida
em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga,
o que me planta não levanta comércio,
nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa
e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos
na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras
à volta dos ninhos.

www.projetoredacao.com.br
Sou a pobreza vegetal agradecida a vós,
Senhor,
que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho!
Disponível em: www.plataforma.paraapoesia.nom.br/esther_
ensaios.htm Acesso em: 07 Nov. 2014.

Questão 103)
Observe os seguintes versos do poema: “Meu grão, perdido por acaso,
nasce e cresce na terra descuidada”. O trecho do verso que está entre
vírgulas apresenta a mesma função sintática registrada em

a) “Ó noite, ó minha nega acesa de letreiros”.


b) “Eu sou de três jeitos: alegre, triste e mofina”.
c) “Vem, morena, ouvir comigo esta cantiga”.
d) “Senhor, nada valho”.
e) “Ouça-me bem, amor preste atenção, o mundo é um moinho”.

TEXTO: 58 - Comum à questão: 104

TEXTO 1:
O CÉREBRO

Luiz Fernando Veríssimo, Zero Hora, 09/06/14

1
Lembra quando se dizia que determinado jogador era o cérebro do time?
Foi uma das expressões que 2 desapareceram do glossário do futebol, como
―cabeça de área‖. Era uma denominação imprecisa. Não significava que o
3
jogador monopolizava a inteligência do time. Nem deveria ser tomada
literalmente, como uma descrição anatômica (assim 4 outro jogador seria o
pulmão do time, outro o coração, outro o fígado…). O cérebro do time era
geralmente um 5 centromédio – outro termo que desapareceu – que
―pensava o jogo‖ e distribuía a bola com sabedoria. Orientava os 6
companheiros, municiava o ataque com passes certeiros e só não jogava
fumando um cachimbo metafórico, para completar 7 sua imagem professoral,
porque o juiz não deixaria.
8
O futebol mudou e o meio do campo não é mais um lugar seguro para
intelectuais. É onde o domínio do jogo é 9 disputado com rudeza, a
machadadas, e não há tempo nem espaço para a sabedoria. Hoje você olha
o meio-campo da 10 Seleção Brasileira com uma nostalgia difícil de definir –
até se dar conta de que está procurando o ―cérebro‖. Você está com 11
saudade do antigo ―cérebro‖. E não vê nada sequer parecido no time do
Brasil.
12
(…)

www.projetoredacao.com.br
TEXTO 2:

A INTELIGÊNCIA

Moisés Mendes, Zero Hora, 10/06/14

1
Não tem jeito, é hora de falar da Copa. Lanço uma tese a dois dias da
estreia: um time perfeito, para ser campeão 2 tem que ter pelo menos um
jogador que não olhe para a bola. Que olhe para o alto, para os lados, para
as costas, mas que 3 olhe pouco para o chão.
4
Esse jogador de cabeça erguida não é só a referência técnica, é a
inteligência tática e emocional do time. Um 5 exemplo clássico: um Didi.
Exemplos atuais: os espanhóis Iniesta e Xavi.
6
A Seleção que estreia quinta não tem este homem. O jogador de
inteligência superior raramente está lá na frente, 7 apenas no ataque. Ele vai
e volta. Nunca seria um Garrincha ou um Romário, ou um Nazário.
8
(…)
9
A inteligência do time não é o capitão ou o exemplo. Não é um Bellini,
um Carlos Alberto ou um Dunga, muito 10 menos um Thiago Silva ou um
David Luiz.
11
(…)
12
A inteligência também não estará necessariamente com o mais habilidoso.
Mas se manifesta, com certeza, no que 13 passa 99% do tempo com a cabeça
erguida. (…)
14
O mais inteligente não olha para o chão quando conduz a bola para
poder enxergar ao longe companheiros e 15 inimigos e o espaço de que
dispõe para resolver tudo de forma aparentemente (para quem olha de fora)
mais fácil.
16
O Brasil nunca ganhou uma Copa sem um homem que tivesse a virtude
de pensar e agir antes de todos os outros. 17 Eu diria, para resumir, que falta
à Seleção uma inteligência superior como a desse moço que faz o Rio
Grande chorar desde 18 sábado. O Brasil não tem um Fernandão.

Questão 104)
Das afirmações abaixo sobre os recursos linguísticos empregados nos
textos,

I. Os nexos que (texto 1, Ref.1) têm a mesma função.


II. Em “Era uma denominação imprecisa.” (texto 1, Ref.. 2), imprecisa
poderia ser substituída, sem alteração de sentido, por vaga, inexata.
III. Na referência 2 do texto 2, o Que sublinhado refere- se a jogador.
IV. Os nexos quando e para, no parágrafo “O mais inteligente não olha para
o chão quando conduz a bola para poder enxergar ao longe
companheiros e inimigos e o espaço de que dispõe para resolver tudo
da forma aparentemente (para quem olha de fora) mais fácil.” (texto 2),
estabelecem uma relação de, respectivamente, tempo e finalidade.

www.projetoredacao.com.br
está(ao) correta(s)

a) apenas II.
b) apenas a I e a IV.
c) apenas a II e a III.
d) apenas a II e a IV.
e) apenas a II, a III e a IV.
f) I.R.

TEXTO: 59 - Comum à questão: 105

Hoje não escrevo

Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de falta de apetite


para os milhares de assuntos.
Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos
sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas
com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura
não Chamada de abertura do portal globoesporte.com. Disponível em: só em
bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples
claridade da hora, vedada a você, que está de olho na maquininha. O mundo
deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras,
reflexos no espelho (infiel) do dicionário.

ANDRADE, Carlos Drummond de. De notícias e não notícias faz-se a


crônica.
Rio de Janeiro: Record, 1974. p. 46.

Questão 105)

No trecho “Chega um dia de falta de assunto. Ou, mais propriamente, de


falta de apetite para os milhares de assuntos”, o constituinte “mais
propriamente” exerce um papel importante na direção argumentativa do
texto, tendo como função

a) modificar o sentido do verbo “chegar”, agregando- lhe um contorno


metafórico.
b) dar uma carga de intensidade ao substantivo “assunto”, modificando-o
profundamente.
c) enfatizar a condição de ignorância do autor frente ao que pretende
escrever.
d) especificar um elemento apresentado de forma genérica na oração
anterior.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 60 - Comum à questão: 106

NOSSO TEMPO

(...)
V
Escuta a hora formidável do almoço
na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.
As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.
Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!
Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,
olhos líquidos de cão através do vidro devoram teu osso.
Come, braço mecânico, alimenta-te, mão de papel, é tempo de comida,
mais tarde será o de amor.
Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma indecisa,
evoluem.

O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.


Multidões que o cruzam não veem. É sem cor e sem cheiro.
Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,
vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,
toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.
(...)
Carlos Drummond de Andrade, Poesia completa.

Questão 106)

Considere as seguintes afirmações sobre o texto:

I. A expressão “num passe” (verso 2) exprime noção de tempo.


II. Segundo o poeta, “na hora formidável do almoço”, ocorrem os
movimentos de fluxo e refluxo, expressos, respectivamente, por
“esvaziam-se” e “se recuperam”.
III. O último verso contém dois verbos no imperativo (“toma” e “extrai”), por
meio dos quais o poeta se dirige ao leitor.

Está correto apenas o que se afirma em

a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) I e III.

www.projetoredacao.com.br
TEXTO: 61 - Comum à questão: 107
Considere o poema de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987).

Fuga
De repente você resolve: fugir.
Não sabe para onde nem como
nem por quê (no fundo você sabe
a razão de fugir; nasce com a gente).

05 É preciso FUGIR.
Sem dinheiro sem roupa sem destino.
Esta noite mesmo. Quando os outros
estiverem dormindo.
Ir a pé, de pés nus.
10 Calçar botina era acordar os gritos
que dormem na textura do soalho1.

Levar pão e rosca; para o dia.


Comida sobra em árvores
infinitas, do outro lado do projeto:
15 um verdor
eterno, frutescente (deve ser).
Tem à beira da estrada, numa venda.
O dono viu passar muitos meninos
que tinham necessidade de fugir
20 e compreende.
Toda estrada, uma venda
para a fuga.

Fugir rumo da fuga


que não se sabe onde acaba
25 mas começa em você, ponta dos dedos.
Cabe pouco em duas algibeiras2
e você não tem mais do que duas.
Canivete, lenço, figurinhas
de que não vai se separar
30 (custou tanto a juntar).
As mãos devem ser livres
para pesos, trabalhos, onças
que virão.

Fugir agora ou nunca. Vão chorar,


35 vão esquecer você? ou vão lembrar-se?
(Lembrar é que é preciso,
compensa toda fuga.)
Ou vão amaldiçoá-lo, pais da Bíblia?
Você não vai saber. Você não volta

www.projetoredacao.com.br
40 nunca.
(Essa palavra nunca, deliciosa.)
Se irão sofrer, tanto melhor.
Você não volta nunca nunca nunca.
E será esta noite, meia-noite.
45 em ponto.
Você dormindo à meia-noite.
(Menino antigo, 1973.)

1
soalho: o mesmo que “assoalho”.
2
algibeira: bolso de roupa.

Questão 107)
Identifique uma forma verbal e um substantivo que, bastante retomados ao
longo do poema, ilustram seu tema. Em seguida, valendo-se dessa
informação, explique a oposição entre o último verso e o restante do poema.

TEXTO: 62 - Comum à questão: 108

Leia o seguinte texto:

Israel, o bem e o mal


Denis Russo Burgierman

Enquanto o país fundado pelas vítimas do Holocausto transformou-se


em vilão, a pátria de Hitler virou exemplo de fofura. Afinal, os israelenses
são bons ou maus? E os alemães? A resposta não está neles: está no
ambiente.

Se um viajante do tempo saísse de 1950 e viesse bater em 2014, e


calhasse de lhe cair em mãos a pesquisa da BBC que mede a
popularidade dos países, talvez achasse que os dados estavam de
cabeça para baixo. Segundo a pesquisa, realizada com 25 mil pessoas
de 24 países, a nação mais popular que existe, vista por 60% das
pessoas como ―uma influência positiva‖ para o planeta, é a Alemanha.
Já os países mais malvistos, considerados por mais da metade dos
terráqueos como uma ―influência negativa‖, são Irã, Paquistão, Coreia
do Norte e… Israel.

O viajante do tempo não entenderia nada. Os alemães, portadores da


mesma carga genética da nação que elegeu e apoiou Hitler no mais
horripilante projeto de genocídio industrial da história, transformaram-se
nos fofos do mundo (e olha que a pesquisa foi realizada antes da Copa
de 2014). E Israel, fundado em 1948, em nome da liberdade, da justiça
e da paz, pelas próprias vítimas do nazismo, com amplo apoio dos

www.projetoredacao.com.br
progressistas, disputa, hoje, a lanterna da vilania global apenas com
ditaduras fundamentalistas (e olha que a pesquisa foi realizada antes
que bombardeios israelenses matassem crianças palestinas brincando
em Gaza).

Se as pessoas que vivem em Israel e na Alemanha possuem os mesmos


genes e as mesmas tradições de seus avós, que passaram pela guerra
encarnando, respectivamente, ―o bem‖ e ―o mal‖, o que mudou em
meros 70 anos? Nosso viajante, se quisesse descobrir a resposta,
poderia ajustar sua máquina do tempo para as 10 horas do dia 14 de
agosto de 1971.

Naquela manhã de sol, a tranquilidade da rica cidadezinha californiana


de Palo Alto foi subitamente quebrada por uma visão rara: policiais
algemando um estudante branco e conduzindo-o firmemente ao banco
de trás da viatura, sob o olhar assustado dos vizinhos. Aquele seria o
primeiro de nove jovens levados presos.

Nenhum dos nove tinha cometido crime algum – eram estudantes


saudáveis e comuns que tinham se voluntariado para uma pena de duas
semanas numa prisão simulada, montada num porão da Universidade
Stanford, em troca de US$ 15 por dia. Os guardas dessa prisão seriam
15 rapazes tão saudáveis e comuns quanto os prisioneiros, contratados
pelo mesmo salário. O autor da pesquisa, o psicólogo Philip Zimbardo,
definiu por sorteio quem seria guarda e quem seria prisioneiro. A partir
daí, os prisioneiros seriam tratados apenas por números, e foram
obrigados a referir-se aos guardas como ―senhor oficial correcional‖.
Nada de nomes.

Apenas seis dias depois, o Stanford Prison Experiment teve que ser
encerrado prematuramente, após vários prisioneiros sofrerem colapsos
nervosos. A convivência entre os dois grupos de rapazes comuns tinha
degringolado para a hostilidade aberta. Os guardas abusaram de
torturas, humilhações e atos de crueldade gratuita. Já os prisioneiros
sentiam-se impotentes, deprimidos e se tornaram dissimulados e
amargos.

Ao fim do experimento, havia desaparecido qualquer sinal de empatia


entre um lado e outro. Um guarda resumiu como uns viam os outros:
―esqueci que os prisioneiros eram gente‖. Esse fenômeno é conhecido
pelos psicólogos como ―desumanização‖. Segundo Zimbardo, a
desumanização desliga nosso senso moral. Em seu livro O Efeito Lúcifer,
ele explica que, quando isso acontece, pessoas comuns tornam-se
capazes de cometer atrocidades.

Para que a desumanização ocorra, é importante apagar a individualidade


de quem está do outro lado. É o que revelou um outro experimento

www.projetoredacao.com.br
clássico, realizado em 1963 por Stanley Milgram, na Universidade Yale.
Nesse estudo, os sujeitos de pesquisa tinham a tarefa de administrar
choques elétricos em voluntários vistos através de um vidro (os
voluntários na verdade eram atores fingindo estrebuchar). Em alguns
dos testes, uma pessoa na sala comentava de passagem que os sujeitos
tomando choques eram ―legais‖. Em outros, o comentário era: ―eles
parecem animais‖. Embora os atores fingindo levar choque fossem
sempre os mesmos, os sujeitos da pesquisa estavam muito mais
dispostos a eletrocutar o outro quando ele era descrito como ―animal‖.

É que o primeiro passo para a desumanização é rotular o sujeito do outro


lado. A partir do momento em que acreditamos que o outro não é um ser
humano, mas um animal, tornamo-nos capazes de basicamente tudo.
Um ambiente onde há uma grande desigualdade de poder – como uma
prisão – é o lugar perfeito para que ocorra rotulagem e, portanto,
desumanização. É exatamente o que existe hoje no Oriente Médio, onde,
na prática, todo um povo (os palestinos) virou prisioneiro de um país
(Israel).

O que as pesquisas mostram é que, nessas situações, não adianta


procurar culpados. Não interessa saber quem começou a briga ou quem
tem mais razão – o que interessa é o ambiente. Enquanto os dois povos
se relacionarem como se estivessem numa prisão, é inevitável que um
não enxergue a humanidade do outro. Os mais poderosos tendem a
perder a compaixão pelo outro lado, e acabam achando normal ser
brutal. Os menos poderosos tendem a acreditar que seus rivais são
todos maus e precisam ser destruídos. A única solução para uma
situação assim é mudar o ambiente. Foi o que a Alemanha fez nas
últimas três décadas, quando uma sociedade tolerante, igualitária e
largamente desmilitarizada foi instituída.

Nós humanos fomos geneticamente programados para acreditar que há


pessoas boas e más, e que um abismo separa umas das outras. A
realidade é que o mal mora em cada um de nós. O primeiro passo para
liberá-lo é acreditar que os inimigos são animais — ou algum outro rótulo,
como ―reacionários‖, ―comunistas‖, ―petralhas‖, ―tucanalhas‖,
―macacos‖, ―argentinos‖, ―feminazis‖, ―falocratas‖, ―talibikers‖,
―burgueses‖, ―evangélicos‖, ―judeus‖, ―terroristas‖.

Isso dito, nosso viajante do tempo, depois de ter presenciado a


carnificina da Segunda Guerra Mundial, talvez se assustasse ao ver o
tom desumanizador dos comentários no Facebook de 2014.

www.projetoredacao.com.br
Texto II

O Bicho
Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,


Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,


Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. Coordenação:
André Seffrin. 10ª ed. São Paulo: Global, 2014. p. 122.

Questão 108)
Na frase, extraída do texto I:

Já os países mais malvistos, considerados por mais da metade dos


terráqueos como uma ―influência negativa‖, são Irã, Paquistão, Coreia
do Norte e… Israel.

a) O autor empregou as reticências para causar que efeito


argumentativo?
b) Reescreva a frase, mantendo o mesmo efeito argumentativo, porém
sem empregar as reticências.

TEXTO: 63 - Comum à questão: 109

A ARTE DE ENGANAR

1
Em seu livro Pernas pro ar, Eduardo Galeano recorda que, na era vitoriana,
era proibido mencionar 2 “calças” na presença de uma jovem. Hoje em dia,
diz ele, não cai bem utilizar certas expressões 3 perante a opinião pública:
“O capitalismo exibe o nome artístico de economia de mercado; 4
imperialismo se chama globalização; suas vítimas se chamam países em via
de desenvolvimento; 5 oportunismo se chama pragmatismo; despedir sem
indenização nem explicação se chama 6 flexibilização laboral” etc.
7
A lista é longa. Acrescento os inúmeros preconceitos que carregamos:
ladrão é sonegador; lobista 8 é consultor; fracasso é crise; especulação é
derivativo; latifúndio é agronegócio; desmatamento é 9 investimento rural;

www.projetoredacao.com.br
lavanderia de dinheiro escuso é paraíso fiscal; acumulação privada de
riqueza 10 é democracia; socialização de bens é ditadura; governar a favor
da maioria é populismo; tortura 11 é constrangimento ilegal; invasão é
intervenção; peste é pandemia; magricela é anoréxica.
12
Eufemismo é a arte de dizer uma coisa e acreditar que o público escuta
ou lê outra. É um jeitinho 13 de escamotear significados. De tentar encobrir
verdades e realidades.

14
Posso admitir que pertenço à terceira idade, embora esteja na cara: sou
velho. Ora, poderia dizer 15 que sou seminovo! Como carros em
revendedoras de veículos. Todos velhos! Mas o adjetivo 16 seminovo os torna
mais vendáveis.
17
Coitadas das palavras! Elas são distorcidas para que a realidade,
escamoteada, permaneça como 18 está. Não conseguem, contudo, escapar
da luta de classes: pobre é ladrão, rico é corrupto. 19 Pobre é viciado, rico é
dependente químico
20
Em suma, eufemismo é um truque semântico para tentar amenizar os
fatos.
Frei Betto
Adaptado de O Dia, 21/03/2015.

Questão 109)
No segundo parágrafo, o emprego de certa estrutura encaminha a reflexão
do leitor para os disfarces que a linguagem permite.

Essa estrutura é caracterizada principalmente por:

a) modalização
b) pressuposição
c) exemplificação
d) particularização

TEXTO: 64 - Comum à questão: 110

Texto retirado do catálogo da 32ª Bienal de Arte de São Paulo:

Arte porque sim


Júlia Rebouças

Na tarde de 5 de novembro de 2015 uma barragem de rejeitos de mineração


de ferro rompeu no município de Mariana, Minas Gerais, despejando cerca
de sessenta milhões de metros cúbicos de lama e metais pesados em
seiscentos e sessenta e três quilômetros de extensão do rio Doce, que
deságua no oceano Atlântico. O volume de lama divulgado é contestado pela
empresa responsável, assim como a toxidade do material. Registram-se
índices de chumbo, arsênio e manganês acima de níveis seguros para o

www.projetoredacao.com.br
ecossistema. De acordo com o Ministério Público de Minas Gerais,
condicionantes do licenciamento ambiental da barragem estavam sendo
desrespeitadas, semque houvesse a devida fiscalização, o que incluía um
plano de emergência que poderia ter evitado a morte de dezessete pessoas
e a total destruição do vilarejo de Bento Rodrigues. O território dos indígenas
krenak, no vale do rio Doce, é totalmente destruído pela contaminação da
lama. Não há mais possibilidade de pesca, plantio ou criação de animais.
Sagrado para os Krenak, o rio é a entidade Watú –avô –por sua importância,
grandiosidade e pelo respeito que emana. Hoje uma cerca separa as
pessoas da margem intoxicada e infértil. Os rios somos nós todos, seres de
água. Cada criança que nasce é uma nascente. […] A cantora Elza Soares
vem a público e entoa o fim do mundo. […] Elza canta para não enlouquecer,
diz. Sua carreira começou num show de calouros na televisão, aos treze
anos, a fim de levantar dinheiro para comprar remédios para seu filho recém-
nascido. Diante de seu corpo negro, franzino, vestido com trajes risíveis para
a plateia domingueira, ouviu do apresentador Ary Barroso a pergunta
debochada de que planeta ela tinha vindo. Elza respondeu que vinha do
planeta fome. Em dezembro de 2015, sábado à noite, cinco jovens negros
estavam num carro na Zona Norte do Rio de Janeiro quando foram
executados por policiais com cento e onze tiros de fuzil e revólver. Os
policiais fraudam a cena do crime e forjam um auto de resistência. Extinção,
especulamos sobre essa ameaça, que já é iminência. Como fazer brotar do
solo humilhado, como abrir frestas para novas formas de vida? O amanhã
está aqui e se parece com ontem. […] O xamã yanomami Davi Kopenawa
trabalha com o etnólogo Bruce Albert para desenhar na pele do
papelregistros da cosmologia de seu povo. Narra sua história, que não é de
um indivíduo, mas de um coletivo, com seus conhecimentos, narrativas,
profecias.A história dos Yanomami, transmitida por meio de sonhos, chega
na forma de um livro que escapa aos gêneros e às disciplinas do saber
hegemônico ocidental. Generosamente, olha para nós, sujeitos do
alheamento, e nos explica que a terra dos antigos brancos era parecida com
a nossa. Lá eram tão poucos quanto nós agora na floresta. Mas seu
pensamento foi se perdendo cada vez mais numa trilha escura e
emaranhada […] Puseram-se a desejar o metal mais sólido e mais cortante,
que ele [Omama]tinha escondido debaixo da terra e das águas. Aí
começaram a arrancar o minério do solo com voracidade. Construíram
fábricas para cozê-los e fabricar mercadorias em grande quantidade. Então,
seu pensamento cravou-se nelas e eles se apaixonaram por esses objetos
como se fossem belas mulheres. Isso os fez esquecer a beleza da floresta
[…]E, assim, as palavras das mercadorias e do dinheiro espalharam-se por
toda a terra de seus ancestrais. É o meu pensamento. Antes de o ano
acabar, um menino kaingang de dois anos é degolado no colo da mãe por
um homem que se aproximou lhe fazendo um afago. Um país na vertigem
do presente. […] A arte vai à frente, as instituições vão atrás. Realizar a
Bienal de São Paulo que se assenta em 2016 compreende o exercício de
pensar, sempre e mais uma vez,no que pode a arte. Ou para que arte, ou
para quem? […] Os estudantes secundaristas ocupam suas escolas. A

www.projetoredacao.com.br
demanda é educação de qualidade e repúdio ao sucateamento do ensino
público. Denunciam o desvio de verba que seria usada para a compra de
merenda escolar. Merenda escolar. […] A polícia se chama choque e arranca
os estudantes da escola. As mulheres ocupam. Na caminhada, um cordão
de frente de mães que carregam seus bebês. A polícia se chama choque e
acompanha o cortejo como se fosse um bicho esfomeadoe açoitado, prestes
a atacar. Os corpos das mulheres têm marcas de tinta da cor vermelha. A
televisão da padaria transmite o debate num programa matutino. Os
especialistas discutem se é estupro ou não o caso de uma jovem de
dezesseis anos violentada por trinta e três homens. Vídeos com cenas do
ocorrido viralizam nas redes sociais. Não há tinta vermelha suficiente para
representar tanto sangue. […] Junho de 2016, dois meninos, um de dez e
outro de onze anos, furtam um carro em um bairro nobre de São
Paulo.Perseguidos, o de dez anos, que dirige o automóvel, é morto pela
polícia militar. Dez anos. É feito um auto de resistência –o menino teria
atentado contra a polícia. Os moradores do bairro nobre juntam-se para
contratar advogados e defender os policiais em caso de processo. […] Uma
semana antes de chegar junho, tem-se a notícia de que pelo menos
oitocentos e oitenta imigrantes afogaram-se no mar Mediterrâneo tentando
chegar ao continente europeu. Uma boate frequentada pela comunidade gay
de Orlando, na Flórida, é invadida por um atirador que mata cinquenta
pessoas. […] Como forjar imagens grávidas, palavras-sementes, formas
mutantes. A necessidade da arte. O povo Aymará dos Andes chilenos diz
que o futuro está em nossas costas, incógnito, enquanto o passado está na
nossa frente, diante de nossos olhos. […] Um artista de mãos dadas a um
pajé tukano, soprando uma nuvem, pousados sobre o centro geodésico da
América do Sul. Hoje é dia 14 de junho de 2016.

REBOUÇAS, Júlia. Arte porque sim. VOLZ, J.; REBOUÇAS, J. (Org.) 32ª
Bienal de São Paulo: Incerteza Viva: Catálogo.
São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2016.

Questão 110)

A partir de elementos retirados do texto, explique o título (“Arte porque sim”),


esclarecendo o fato de “porque” ali ser escrito desta forma.

www.projetoredacao.com.br
GABARITO:

1) Gab: FVFVV 7) Gab: E

2) Gab: E 8) Gab: A

3) Gab: E 9) Gab: A

4) Gab: C 10) Gab: D

5) Gab: não fornecido 11) Gab: B

6) Gab: B 12) Gab: B

13) Gab:
a) Havia três semanas que aqueles braços perfumados de verbena se
tinham atirado ao seu pescoço.”
Da mesma forma que a palavra “lábios’ é uma parte do corpo empregada
para designar Simão, ‘braços” designa a condessa de Gouvarinho.
b) A imagem dos “braços” da condessa em volta do pescoço de Carlos
apresenta os traços de sentido de aprisionamento, peso, asfixia, em vista
de sua associação com a seguinte passagem do mesmo período: “ele ia
pensando como se poderia desembaraçar da sa tenacidade, do seu
ardor, do seu peso…”. Carlos, portanto, sente-se sufocado pela
condessa.
Observação: o mesmo comentário do item a poderia ser feito em relação
a “pescoço”, que representa a personagem Carlos.

14) Gab: B 17) Gab: C

15) Gab: A 18) Gab: D

16) Gab: C 19) Gab: E

20) Gab:
a) Não. As rimas internas toantes (fora/viola, dentro/bolorento) estão
presentes só no provérbio. Também, o provérbio é formado por dois
redondilhos maiores, o que não ocorre na mensagem publicitária.
b) Há um jogo de palavras apenas no texto publicitário: relação entre
"árvore" (produto da natureza) e "planta" (projeto arquitetônico).

21) Gab: C
23) Gab: D
22) Gab: A

www.projetoredacao.com.br
24) Gab:
a) Quanto à forma, “lábio” e “lábia” parecem o masculino e o feminino da
mesma palavra. Quanto ao sentido, porém, trata-se de duas palavras
diferentes: “lábio” é “cada uma das partes carnudas que compõem o
contorno da boca”, enquanto “lábia” significa “manha, ardil, com
palavrório cheio de astúcia para persuadir”. O poeta, como outros
concretistas, pretende usar um jogo de palavras parecidas no aspecto
sonoro (paronomásia), com a comutação de alguns sons. Convém
lembrar que o importante poeta concretista Haroldo de Campos valeu-
se de jogos de palavras semelhantes: lixo/luxo, pluvial/fluvial.
b) “Todavia” é uma conjunção adversativa sinônima de “mas, porém, no
entanto, contudo, entretanto”. No contexto, manifesta a oposição entre o
impulso para a criação poética e a ação, prática, de telefonar à
namorada, cujos lábios o deixam obcecado, “na esperança de maiores
intimidades e vantagens”.

25) Gab: D 28) Gab: B

26) Gab: B 29) Gab: E

27) Gab: E 30) Gab: B

31) Gab:
a) Espera-se que o candidato indique que, no texto, “precificar” significa
atribuir maior ou menor preço a determinada mercadoria oferecida em
sites de comércio eletrônico de acordo com o perfil de consumo do
comprador.
b) Neste item, o candidato deve fazer as substituições e adaptações
indicadas, mantendo as relações de sentido estabelecidas entre as
construções e o nível de formalidade do período. Uma das possibilidades
seria: “Pode, por exemplo, subir o preço de um livro eletrônico, caso
determine...; ou, ao contrário, pode ajustar o preço para baixo como um
incentivo, caso julgue que é...”. Também podem ser aceitas outras
substituições desde que sejam respeitadas as restrições do comando.

32) Gab: E 38) Gab: C

33) Gab: A 39) Gab: B

34) Gab: D 40) Gab: D

35) Gab: B 41) Gab: A

36) Gab: B 42) Gab: D

37) Gab: C 43) Gab: A

www.projetoredacao.com.br
44) Gab:
Na Carta de Caminha, ao sentimento literal se superpõe outro: semente se
refere ao sentimento cristão. Em sentido figurado, trata-se de implantar na
alma do gentio a religiosidade cristã: a semente é a palavra de Deus.
Também em Policarpo Quaresma pode-se justapor ao sentido literal o
metafórico: é o grão que se planta para colher os frutos, mas é também a
concretização da “idéia” que estava na cabeça, “no terreno amanhado”,
pronto para o projeto.

45) Gab: D 46) Gab: A

47) Gab:
a) na segunda oração
b) SNN
c) 1º sentido: o primo faz a pergunta ao garoto;
2º sentido: o garoto pergunta algo ao primo.

48) Gab: C
63) Gab: 03
49) Gab: D
64) Gab: B
50) Gab: A
65) Gab: D
51) Gab: A
66) Gab: D
52) Gab: D
67) Gab: D
53) Gab: C
68) Gab: D
54) Gab: E
69) Gab: C
55) Gab: B
70) Gab: D
56) Gab: B
71) Gab: B
57) Gab: FVVVV
72) Gab: B
58) Gab: C
73) Gab: C
59) Gab: A
74) Gab: C
60) Gab: D
75) Gab: B
61) Gab: D
76) Gab: B
62) Gab: A

www.projetoredacao.com.br
77) Gab: A Texto 5: QUE = caso

78) Gab: E 86) Gab: B

79) Gab: E 87) Gab: C

80) Gab: E 88) Gab: D

81) Gab: 04 89) Gab: A

82) Gab: 04 90) Gab: D

83) Gab: 03 91) Gab: C

84) Gab: B 92) Gab: C

85) Gab: 93) Gab: 02


Texto 2: QUE = amigo
Texto 3: QUE = ano 94) Gab: E

95) Gab:
O autor intercalou a oração em que afirma experiência direta do que relata
ao apresentar uma série de perguntas propostas por crianças. Tal afirmação
visa a dar credibilidade ao fato de as crianças podem formular perguntas
fundamentais ao ponto de vista científico ou filosófico. Tais perguntas são
surpreendentes vindo de crianças que poderiam parecer inverossímeis – por
isso o autor destaca sua experiência direta do fato.Essa mesmas perguntas,
porém no contexto de autoconsciência e autocrítica inibidora de jovens de
mais idade, poderiam ser consideradas imbecis e assim evitadas.

96) Gab: FFVFV


102) Gab: B
97) Gab: FVVVV
103) Gab: B
98) Gab: C
104) Gab: E
99) Gab: D
105) Gab: D
100) Gab: B
106) Gab: D
101) Gab: A

107) Gab:
São retomados ao longo do texto o verbo fugir, que aparece seis vezes, e o
substantivo fuga, que consta no título e é retomado três vezes no poema.
Fuga e fugir ilustram, portanto, o tema desenvolvido nesses versos de Carlos
Drummond de Andrade.

www.projetoredacao.com.br
O último verso, “Você dormindo à meia-noite”, mostra a inércia, o repouso
do menino. Esse sentido que denota o aspecto estático do fecho do poema
contrasta com o tom dinâmico, arrojado de quem foge para nunca retornar.

108) Gab:
a) O uso das reticências cria o efeito argumentativo de quebra de
expectativa, enfatizando que Israel, um país que historicamente foi
visto como vítima, hoje, tem uma imagem negativa.
b) Já os países mais malvistos, considerados por mais da metade dos
terráqueos como uma ―influência negativa‖, são Irã, Paquistão,
Coreia do Norte e, surpreendentemente/por incrível que
pareça/acredite, Israel.

109) Gab: C

110) Gab:
"Arte porque sim" propõe uma afirmação e valorização da arte. Através de
frases tais como "Elza canta para não enlouquecer" e "A arte vai à frente, as
instituições vão atrás", a autora busca qualificar a arte como possível
resposta para os problemas sociais apontados no texto, a conjunção
explicativa "porque" acentua esse caráter de resposta que se vê apontada
desde o título.

www.projetoredacao.com.br

Você também pode gostar