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AO ESTUDO
DO DIREITO
Magnum Eltz
Revisão técnica:
ISBN 978-85-9502-219-5
Introdução
O Direito é uma ciência que estuda as normas como construção social
e a sua aplicação no mundo dos fatos. No entanto, para que as normas
sejam aplicadas no mundo real, o sujeito da norma ou o julgador, em um
caso concreto, devem interpretá-la para adequar a situação de fato ao
suporte fático normativo ou o suporte fático normativo às especificidades
do caso concreto. A esse processo de concretização das normas dá-se
o nome de interpretação normativa, realizada a partir das ferramentas
elaboradas pelo ramo teórico da hermenêutica jurídica.
Neste capítulo, você vai ler a respeito das distinções entre interpreta-
ção e hermenêutica, das diversas ferramentas de interpretação normativa
existentes e do seu processo evolutivo, bem como das suas relações com
a hermenêutica filosófica.
Não são raras as contribuições da filosofia para a ciência jurídica, começando por suas
construções sobre o próprio conceito de justiça, passando pelas discussões sobre os
direitos naturais até a positivação das normas e teorias sobre as ciências políticas, eco-
nômicas e sociais que permeiam a construção das normas e da interpretação jurídica.
142 Hermenêutica e interpretação
A noção Platônica sobre o nomoteta, ou aquele que legisla sobre o uso das
palavras, é uma das primeiras raízes remotas de uma exegese literal, em que
a defesa de uma lógica por trás da escolha das palavras legitimaria o seu uso
conforme o emprego arbitrado pelo “artesão das palavras”.
Hermenêutica e interpretação 143
(Aristóteles em) sua “Primeira filosofia” pretende estudar o ser das coisas
(ousia), que quer dizer a sua essência, naquilo que elas são em si mesmas,
não importando o que elas pareçam e pelas mudanças que sofrem. Por isso,
Jacobus Thomasius, no séc. XII, afirmou que a primeira filosofia deveria
chamar-se de ontologia.
Para os objetivos (e limites) desta abordagem, é importante referir que, em
Aristóteles, a linguagem continua tendo um papel secundário. No fundo, o
sistema aristotélico, é uma releitura do pensamento de Platão, uma vez que
Aristóteles descobre uma brecha no sistema de seu mestre: como podemos falar
de essências subsistentes? Nele, a linguagem não manifesta, mas significa as
coisas. A palavra é (somente um) símbolo, e sua relação com a coisa não é por
semelhança ou por imitação, mas (apenas) por significação. A questão está
na adequatio, é dizer, na conformidade entre a linguagem e o ser. Pressupõe
uma ontologia. Ou seja, Aristóteles acreditava que as palavras só possuíam
um sentido definido porque as coisas possuíam uma essência. [...] A essência
das coisas que confere às palavras a possibilidade de sentido. Desse modo,
exemplificadamente, o que garante à palavra cão uma significação uma é o
mesmo que faz o cão ser cão.