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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS DE SAÚDE

Curso de Medicina – Ano Propedêutico

CADEIRA DE ÉTICA FUNDAMENTAL

Docentes: Pe. Adelino Fernando Correia Fernandes


Pe. Jean de Dieu Bukuro
Pe. Tomé Canfoce

Ano de 2021
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ÉTICA FUNDAMENTAL
INTRODUÇÃO

Definição e significado da Ética


A Ética é parte da Filosofia que considera questões e concepções fundamentais acerca da vida
do universo, do ser humano e do seu destino. Determina princípios e valores que orientam as pessoas e
a sociedade.
Etimologicamente, a palavra Ética vem do grego Ethos, que significa costumes, o “modo de
ser” ou “carácter”, o perfil duma pessoa.
A Ética filosófica que é esta em questão estuda o comportamento dos indivíduos frente aos
apelos morais da sociedade em que este vive.
Não é fácil delimitar o campo de actuação da Ética, bem porque ela se manifesta de diferentes
maneiras conforme a cultura, os costumes e os hábitos de determinadas populações ou públicos.
A Ética diz respeito ao estilo de vida, à forma de vida adquirida ou conquistada pelo homem.
É interessante notar que enquanto a moral parte de fora para dentro do universo do indivíduo, a
Ética pelo contrário parte de dentro para fora do mesmo. Isso significa que para iniciarmos um estudo
aprofundado no assunto se faz mister conhecer a História da Filosofia, sem desprezar a Ética nas
Religiões.
A Ética também diz respeito ao saber cientifico que caminha em direcção ao bem. O Ético
expressa uma qualidade ou dimensão da realidade humana em relação com a responsabilidade das
pessoas.
A Ética e, portanto, a teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade, ou
seja, é a ciência que estuda os actos humanos, enquanto bons ou maus.
Uma pessoa é Ética quando é de Boa conduta, quando se orienta, ou se deixa orientar, por bons
princípios, quando procura viver o bem e com boas convicções. Em contrapartida, ela é considerada
antiética quando as suas acções são más e lesam os padrões estabelecidos pela sociedade. O principio
Ético fundamental e universal é, portanto, “Fazer o bem” e “Evitar o mal”.
A Ética é, enfim, uma reflexão científica sobre a arte de bem viver.

Divisão da Ética
 Podemos dividir o estudo da Ética com base nestas escolas:
 Na Filosofia Grega: naturalismo e antropocentrismo;
 Na Filosofia Medieval: cristianismo;
 Na Filosofia Moderna: racionalismo e empirismo E na
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 Filosofia Contemporânea: o dever e o sentir.
Ética e moral
Como acabamos de afirmar no parágrafo anterior, Ética provem do Gregos Ethos e significa
costumes.
A Palavra Moral, porem, provem do latim mores e também significa costumes. Por esta
coincidência etimologia conceptual, estudiosos há, que preferem afirmar que a Ética e a moral são
mesma coisa, visto que ambas tem como objecto o comportamento humano e dizem respeito aos
costumes e tratam das questões teóricas bem como praticas do agir humano.
Outros vão mais longe separando uma da outra. Esses últimos se agarram aos argumentos de
que enquanto a moral estuda os costumes contextualizados, a Ética julga a moral distinguindo o bem
do mal.
As palavras ‘ética’ e ‘moral’ são semelhantes em sua etimologia, mas, por convenção,
adoptamos a Ética como estudo teórico e específico de acções orientadas por valores morais e das
consequências dessas acções - mesmo quando envolvem seres não humanos, como os animais e
o meio ambiente. Enquanto a Ética é relativa à reflexão, estudo e Princípios de valores humanos, a
moral é relativa aos costumes e práticas dos diversos agrupamentos humanos incluindo os códigos
normativos.

Objecto da Ética
Podemos distinguir o objecto da Ética em material e formal.
O objecto material diz respeito aos actos humanos que se devem distinguir dos actos do
homem.
 Os actos humanos são acções praticadas de forma livre, consciente, deliberada
e voluntaria, acções essas, que afectam a própria pessoa, a outras pessoas, ou a determinados
grupos sociais ou mesmo a sociedade no seu todo.
 Os actos do homem são aqueles praticados de modo inconsciente, ou seja
contra a própria vontade ou liberdade ou mesmo por ignorância ou por falta de
conhecimento.
Apresentemos como exemplo uma mulher que é violada intimamente por desconhecidos,
contra a sua vontade e consentimento. Esse acto praticado assim é conhecido por acto do homem. Se,
por acaso, a mesma mulher praticasse o mesmo tipo de acto, mas de forma livre, voluntaria e
consentida, esse acto passaria a ser conhecido por acto humano.
Constituem actos do homem as acções praticadas por instinto natural do homem, exemplo: as
necessidades Biológicas.
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Podemos também dar um outro exemplo: o dos malucos. Eles muitas vezes praticam actos
inconscientemente. Portanto, as suas acções são conhecidas como actos do homem.
Outro exemplo ainda, iria para as crianças. Essas também nesse grupo dos praticantes dos actos
do homem porque elas ainda não são dotadas do pleno uso da razão, e também não possuem o
domínio directo da vontade.

O objecto formal da Ética


Objecto formal da Ética é a moralidade dos actos humanos, pois, o agir é moralmente bom,
quando as escolhas livres estão de acordo com o verdadeiro bem do homem.
A ética formal preocupa-se com o motivo da acção e não com o resultado da conduta. Ou seja,
diferentemente da ética empírica e da ética dos bens, a ética formal não se prende a resultados. A ética
formal é também conhecida como ética Kantiana, por ter como seu precursor Immanuel Kant.

Tipos de Ética
Existem tantos tipos de Ética. Dentre eles podemos destacar os seguintes:
 Ética filosófica;
 Ética religiosa;
 Ética Cristã;
 Ética Social;
 Ética Profissional (Deontologico, deceologico e sigiloso na profissão);
 Ética Economica;
 Ética Politica;
 Bioética;

A importância do estudo da Ética


O estudo da Ética é importante para nós porque nos oferece uma visão de conjunto sobre a
Ética geral, da deontologia e da diceologia profissionais.
Ademais, com esse estudo adquirimos conhecimentos sobre os fundamentos da Ética e, no
caso da deontologia profissional, sobre os fundamentos da deontologia profissional.
A Ética é importante porque nos ajuda a reflectirmos sobre as normas de boa conduta e
buscarmos formas de pautarmos por elas, de modo a alcançarmos a felicidade, que é o fim último da
pessoa, tão almejada por todos os humanos, deixando de lado possíveis caminhos, atitudes e
comportamentos maléficos que levam à perdição.

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Ela nos fornece certos princípios éticos que nos ajudam a ser e saber estar, ou seja, a viver e
conviver bem, de maneira justa, pacífica e digna, na sociedade, de modo a alcançar uma plena
realização pessoal e social.
Por outras palavras, a Ética nos adopta de instrumentos intelectuais éticos para aquilo que a
pessoa será e fará para ser feliz.
Com a ética, a pessoa também adquirirá conhecimentos sobre o bem, a verdade, a virtude, mas
também sobre o mal, a falsidade, a mentira, e outros aspectos, nas relações quotidianas.
Ela nos treina para que não nos deixemos levar pelas falsas seduções, nem pelas propostas
aliciantes mas desviadoras.
A ética nos ajuda a vivermos e agirmos sempre de maneira sábia.
É importante frisar que a reflexão filosófica sobre o agir moral tem por base as práticas morais
em toda a sua complexidade, mas não se esgota em constatações de cunho social ou psicológico sobre
como ou porque as pessoas decidem o que fazer.
É tão importante compreender as regras e mecanismos que permeiam nossas sociedades quanto
propor críticas e essas práticas: estariam elas nos conduzindo a qual fim? Valorizam o que há de
humano em nós? Não podemos negar que a Ética aponta para o que pode ser realizável e não apenas
para o habitual. Mesmo que o quotidiano em sua complexidade nem sempre permita um agir livre,
consciente e autónomo, esses são os fundamentos a partir dos quais construímos nossas perspectivas
éticas.
Portanto, não é fácil delimitar o campo de actuação da Ética, bem porque ela se manifesta de
diferentes maneiras conforme a cultura, os costumes e os hábitos de determinadas populações ou
públicos.
É interessante notar que enquanto a moral parte de fora para dentro do universo do indivíduo, a
Ética pelo contrário parte de dentro para fora do mesmo. O relevante para avaliar as contribuições é
sempre a perspectiva crítica e a tentativa de oferecer uma explicação ou solução às dificuldades que
resultam do comportamento humano.
Portanto, Para formar sujeitos éticos se faz necessário permear todas as disciplinas com os
assuntos pertinentes a este tema
Ética, também, implica conflitos entre o que eu penso e o que o outro pensa resolvidos pela
moral esses conflitos desembocam no que chamamos de tolerância religiosa ou política.

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Objectivos da disciplina

O estudo da Ética pretende:


 Estimular ao estudante o raciocínio crítico e a reflexão;
 Ampliar o conhecimento sobre questões éticas no ambiente académico e profissional;
 Propiciar ferramentas para lidar de forma mais eficaz com situações de conflito ético e
profissional;
 Ampliar o conhecimento sobre o Profissionalismo;
 Estimular o uso das competências do Profissionalismo no quotidiano académico e
profissional;
 Ampliar o conhecimento sobre os elementos fundamentais da comunicação clínica na
sua correlação com a prática profissional em Medicina;

Competências Profissionais

O Estudante de Ética Fundamental deve ser capaz de:


 Conhecer estratégias para lidar com conflitos éticos;
 Conhecer a deontologia e a diciologia profissionais;
 Conhecer os princípios e valores fundamentais da ética e da moral;
 Identificar a importância do relacionamento entre o médico e paciente;

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UNIDADE I - CONCEITUALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA
ÉTICA E DA MORAL

CONTEÚDOS DA PRIMEIRA UNIDADE


1.1- Definição da Ética e moral a partir da Etimologia e diversos autores.
1.2- Objecto de estudo da Ética e Moral.
1.3- Origem da Ética e Moral: Breve historial e Ideias gerais desde os principais
precursores: Sócrates, Platão e Aristóteles
1.4- Debate em volta da semelhança e dissemelhança entre a Ética e Moral: Antiguidade e
Modernidade.
1.5- Divisão e classificação da Ética: Fundamental, Normativa, Descritiva e Metaética) e a
Moral (Individual, Social e Religiosa).
1.6- O Princípio Ético Moral “Fazer o bem e evitar o mal” ou princípios morais básicos e a
sua aplicabilidade na sociedade.
1.7- Relação entre Ética e outras Ciências: Filosofia, Direito, Sociologia e Economia.

OBJECTIVO PRINCIPAL DA PRIMEIRA UNIDADE


Esta unidade pretende levar os estudantes a conhecer a natureza da ética a partir da sua
etimologia, do seu objecto, dos seus métodos, das suas tipologias, procurando também discutir a
conceitualização e a definição da ética e a distinção entre a ética e a moral.

ACTIVIDADES
1. Pelo facto da ética ter como objecto de reflexão o comportamento humano, apontar hábitos e
costumes sociais que reflectem o comportamento humano.
2. Estabelecer a diferença entre a Ética e a Moral, dando características de cada conceito.
3. Especificar e diferenciar os pensamentos éticos de Sócrates, Platão e Aristóteles.
4. Fazer um quadro comparativo sobre as semelhanças e diferenças entre a ética e a moral na
antiguidade e na modernidade.
5. Estabelecer uma clara distinção entre: Ética Normativa, Descritiva e Metaética.
6. Explicar porquê “fazer o bem e evitar o mal” é princípio moral.
7. Estabelecer a relação entre a ética e direito.

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1. Conceitualização e desenvolvimento Histórico da Ética e da Moral
1.1. Definição da Ética e moral a partir da Etimologia e diversos autores
1.1.1 Estudo etimológico do termo Ética
Etimologicamente, o termo “ética” vem do grego éthos. Quando escrito éthos, com acento
agudo (em grego, inicia com a letra épsilon), representa a ideia fundamental de usos, costumes, que na
vida de um povo ocupam um lugar importante no conceito próprio de moralidade, e, portanto,
identificando-se mais com a moral e, quando escrito êthos, com acento circunflexo (em grego, inicia
com a letra êta), significa carácter ou modo de ser, e dá, portanto, a ideia de disposição interior, de
personalidade. Portanto, podemos dizer que o universo ético compreende esses dois pólos: o pólo
exterior (próprio da moral, dos costumes), e o pólo interior (próprio da interioridade, do carácter).
Originariamente, o conceito era tomado a partir do seu carácter exterior, de vida colectiva. Daí
o conceito ser usado para acções que promovam o bem comum ou a justiça no meio social. Devido ao
facto de que os gregos a utilizavam no sentido de hábitos e costumes que privilegiassem a boa vida e o
bem viver entre os cidadãos, com o tempo tal palavra passou a significar modo de ser ou carácter.
Enfim, tinha que se garantir um modelo de vida que deveria ser adquirido ou conquistado pelo homem
por meio da disciplina rígida que lhe formaria o carácter e que seria transmitida aos jovens pelos
adultos. Na Grécia, o homem aparece no centro da política, da ciência, da arte e da moral, uma vez que
para sua cultura até os deuses eram humanos com seus defeitos e qualidades.

O primeiro filósofo que escreveu sobre ética foi Aristóteles. Com esse título, Aristóteles
escreveu duas obras: Ética a Nicómaco (seu filho) e Ética a Eudemo (seu aluno).
Os filósofos gregos sempre subordinaram a ética às ideias de felicidade da vida presente e do
sumo bem. Nos textos antigos, ética quase sempre parece estar relacionada com desejo inato ao
homem de busca da realização do sumo bem. A filosofia grega preocupa-se com a reflexão sobre ética
desde os primórdios. Isso porque, ética ou a sede de justiça, é uma das três dimensões da filosofia.
As outras duas seriam a teoria e a sabedoria. Em Roma, ética passa a ser denominada “mores”;
que significa “moral”. No direito romano a palavra ética refere-se a normas de conduta ou princípios
que regem a sociedade ou um determinado grupo e em uma determinada época. Numa palavra: lei.
A ética é histórica, o que se deve ao facto de estar solidificada em noções de valor, que mudam
à medida que se descobrem novas verdades. O agir ético não será apenas uma simples reprodução de
acções das gerações anteriores, mas uma actividade reflexiva que oriente a acção a seguir num
determinado momento de nossa vida pessoal. Quando surgem questionamentos sobre a validade de
determinados valores ou costumes, e a realidade exige novos valores que possam orientar a ética,
surge a necessidade de uma teoria que justifique esse novo agir, uma vez que é impossível a acção
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ética sem que o agente compreenda a racionalidade dessa acção. Aqui aparecem os filósofos que
produzem uma reflexão teórica que oriente a prática ou a crítica do viver ético.

1.1.2 Riqueza terminológica e expressiva


Os significados principais da ética podem ser sintetizados da seguinte forma, como expõe
Carlos Maria Martini, na sua obra Viagem pelo vocabulário da ética (citado em Ética geral:
apontamentos, s.a.: p.2):
a) Ética significa costume, o que se costuma fazer, aquilo que normalmente se faz. Ethos,
em língua grega, indica o costume social, o modo de comportamento próprio de uma determinada
sociedade.
b) Outro significado mais específico indica uma sociedade bem orientada, isto é, uma
sociedade que se pode definir ‘boa’, que segue comportamentos que brotam da experiência e da
sabedoria, como elementos positivos para a paz, a ordem social e o bem comum.
Vem depois o sentido absoluto que significa: aquilo que é bom em si mesmo, aquilo que
deve ser feito ou evitado a todo o custo, o que é digno do homem, o que se opõe ao que é
indigno, o que não é negociável, nem se pode discutir ou transgredir.
c) Por fim, temos também o significado de reflexão filosófica sobre os comportamentos
humanos e sobre o seu sentido último.
Diz o cardeal Martini:
Penso que a ética deva ser principalmente um lugar onde as pessoas
sejam permanentemente encorajadas, animadas e confortadas. A grande
palavra da ética é: podes fazer mais e melhor, na vida és chamado a ser algo
superior; é possível ser honesto e é uma aventura extraordinária do espírito.
(Martini, 1994, citado em Ética geral: apontamentos, s.a.: p.2)

1.2. -Objecto de estudo da ética


A ética estuda as acções humanas. Sendo assim, seu objecto distingue-se em material e formal.
O objecto material diz respeito aos actos humanos que se devem distinguir dos actos do homem.
Os actos humanos são acções praticadas de forma livre, consciente, deliberada e voluntária,
que afectam a própria pessoa, a outras pessoas, ou a determinados grupos sociais ou mesmo a
sociedade no seu todo.
Os actos do homem são aqueles praticados de modo inconsciente e involuntário, ou seja, são
aqueles actos em que a vontade humana não entra ou a sua liberdade não entra em jogo.

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O estudo do objecto da ética leva-nos à conclusão de que a pessoa antes de praticar qualquer
acção deve analisar os prós e os contras e estar preparada para assumir os riscos e as consequências.
Por outras palavras, toda a acção ética deve visar algum bem. Portanto, ela deve buscar todos os meios
possíveis para alcançar esse tal bem.

1.3 Origem da Ética e Moral: Breve historial e Ideias gerais desde os principais
Precursores: Sócrates, Platão e Aristóteles

1.3.1 A ética na Antiguidade: a ética grega


1.3.1.1 Sócrates (470-399 a.C.)
Para Sócrates, o saber fundamental é o saber a respeito do homem (daí a sua máxima:
"conhece-te a ti mesmo"): (1) é um conhecimento universalmente válido, contra o que sustentam os
sofistas; (2) é, antes de tudo, conhecimento moral; e (3) é um conhecimento prático (conhecer para
agir rectamente).
A sua ética é conhecida como Ética racionalista pelas seguintes razões:
a) Uma concepção do bem (como felicidade da alma) e do bom (como o útil para a
felicidade);
b) A tese da virtude (areté: capacidade radical e última do homem) como conhecimento, e
do vício como ignorância (quem age mal é porque ignora o bem; por conseguinte, ninguém faz o
mal voluntariamente)
c) A tese, de origem sofista, segundo a qual a virtude pode ser transmitida ou ensinada.
d) É um conhecimento universalmente válido, contra o que sustentam os sofistas; (2) é,
antes de tudo, conhecimento moral; e (3) é um conhecimento prático (conhecer para agir
rectamente).
e) A bondade, o conhecimento e a felicidade se entrelaçam estreitamente.
f) O homem age rectamente quando conhece o bem e, conhecendo-o, não pode deixar de
praticá-lo; por outro lado, aspirando ao bem, sente-se dono de si mesmo e, por conseguinte, é feliz.

1.3.1.2 Platão (427-347 a.C.)


Foi discípulo de Sócrates. Para ele, a ética se relaciona intimamente com a filosofia política, e
a polis é o terreno da vida moral. A ética de Platão depende:
a) Da sua concepção metafísica: dualismo do mundo sensível e do mundo das ideias
permanentes, eternas, perfeitas e imutáveis, que são a verdadeira realidade, e têm como cume a
Ideia do Bem, divindade, artífice ou demiurgo do mundo;
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b) Da sua doutrina da alma: princípio que anima ou move o homem. A alma consta de três
partes: razão, vontade ou ânimo e apetite. A razão que contempla e quer racionalmente é a parte
superior, o apetite, relacionado com as necessidades corporais, é a inferior.
Como o indivíduo por si só não pode aproximar-se da perfeição, torna-se necessária a presença
do Estado ou da Comunidade política; isto é, o homem é bom enquanto bom cidadão. A Ideia do ser
humano se realiza somente na comunidade. Por isso, a ética desemboca necessariamente na política. O
homem se forma espiritualmente somente no Estado e mediante a subordinação do indivíduo à
comunidade.

1.3.1.3 Aristóteles (384-322 a.C.)


Foi discípulo de Platão e fundador da sua própria escola, o Liceu, cujos discípulos eram
chamados de peripatéticos (de perípatos, que significa caminhar por), pois ele ensinava os seus
discípulos caminhando.
Para Aristóteles, na continuidade do seu mestre Platão, o homem se forma espiritualmente
somente no Estado e mediante a subordinação do indivíduo à comunidade. O fim último do homem é a
felicidade (eudaimonia) e esta se realiza mediante a aquisição de certos modos constantes de agir (ou
hábitos) que são as virtudes. Estas não são atitudes inatas, mas modos de ser que se adquirem ou
conquistam pelo exercício e, já que o homem é ao mesmo tempo racional e irracional.
Existem duas classes das virtudes:
a) As virtudes intelectuais ou dianoéticas: que operam na parte racional do homem, isto é,
na razão.
b) As virtudes práticas ou éticas: que operam naquilo que há nele de irracional, ou seja,
nas suas paixões e apetites, canalizando-as racionalmente.
Mas o que é virtude para Aristóteles? Para ele, a virtude consiste no termo médio (in medio
virtus) entre dois extremos (um excesso e um defeito). A virtude é um equilíbrio entre dois extremos
instáveis e igualmente prejudiciais.

1.4 Debate em volta da Semelhanças e Dissemelhanças entre a Ética e a Moral:


Antiguidade e Modernidade.
Como já se sabe, ética provém do grego ethos e significa costumes, bem como “carácter” e
“modo de ser”. A palavra moral, porém, provém do latim mos ou mores e também significa costume
ou costumes, no sentido de conjunto de normas ou regras adquiridas por hábito. (Vázquez, 1978, p.
14). Por esta feliz coincidência etimológica e conceptual, estudiosos há, que preferem afirmar que a
ética e a moral são a mesma coisa, visto que todas dizem respeito aos costumes e ambas tratam das
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questões teóricas bem como práticas do agir humano. Outros estudiosos vão mais longe separando
uma da outra. Esses últimos se agarram aos argumentos de que, enquanto a moral estuda os costumes
contextualizados, a ética julga a moral distinguindo o bem do mal.
Neste sentido, partindo da etimologia das duas palavras, tem-se o seguinte: a moral é o
conjunto de regras, princípios e valores que determinam a conduta do indivíduo, enquanto a ética é o
instrumento fundamental para a instauração de um viver em conjunto, a base para a construção do
mundo sociopolítico, condição necessária para a sobrevivência da espécie humana.
Eis então as diferenças fundamentais entre a ética e a moral:

1.4.1 Ética
a) Disciplina filosófica – pensamento crítico
b) Revelação de valores que norteiam o “dever ser” dos humanos
c) Conjunto de juízos valorativos manifestados livremente na acção individual de cada um
d) Reflexão construída e reconstruída incessantemente
e) Expressão do ser humano como exigência radical
f) Disposição permanente para agir de acordo as próprias exigências.

1.4.2 Moral
a) Limita-se ao estudo dos costumes e da variante das relações
b) Conjunto de regras que se impõem às pessoas
c) Impulso que move o grupo
d) Acção colectiva que tende a agir de determinada maneira
e) Comportamentos automatizados
f) Receio de reprovação social
g) Cumprimento sem questionamento
h) Consolidação de práticas e costumes.
Enquanto a moral tem uma base histórica, o estatuto da ética é teórico, corresponde a uma
generalidade abstracta e formal. A ética estuda a moral e as moralidades, analisa as escolhas que os
agentes fazem em situações concretas, verifica se as opções se conformam aos padrões sociais.

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1.5 Divisão ou Classificação da Ética (Fundamental, Normativa, Descritiva e Metaética
1.5.1 Divisão ou Classificação da ética
Os estudos teóricos da Filosofia Moral subdivide a Ética em diversas categorias, as principais
são quatro: Ética fundamental, Ética Descritiva, Ética Metaética e Ética Normativa.

1.5.1 Ética fundamental


A palavra Ética vem do grego ethos e significa "modo de ser" ou "carácter". A Ética filosófica
que é esta em questão estuda o comportamento dos indivíduos frente aos apelos morais da sociedade
em que este vive. Não é fácil delimitar o campo de actuação da Ética, bem porque ela se manifesta de
diferentes maneiras conforme a cultura, os costumes e os hábitos de determinadas populações ou
públicos.
É interessante notar que enquanto a moral parte de fora para dentro do universo do indivíduo, a
Ética pelo contrário parte de dentro para fora do mesmo. Isso significa que para iniciarmos um estudo
aprofundado no assunto se faz importante conhecer a História da Filosofia, sem desprezar a Ética nas
Religiões.

1.5.2 Ética Descritiva


Descreve o que é o Bem e o que é o Mal, através da apreensão empírica dos fenómenos morais.
Não há posicionamento normativo.

1.5.3 Metaética
É abstracta e epistemológica, seu objectivo é investigar a natureza dos valores, dos juízos
morais (bem/Mal); e os significados da linguagem avaliativa (das estruturas do discurso), métodos e
lógica.

1.5.4 Ética Normativa


Procura racionalmente configurar o campo prático da moral num estudo “histórico-filosófico
ou conceitual” (Bitta) sobre normas morais das sociedades, desenvolvendo critérios – o foco das
problemáticas é a acção moral. As principais correntes de pensamento e discussões ético-normativas
podem ser divididas em duas correntes de pensamento teórico: Ética Normativa Teleológica (ou Ética
Consequencialista) e Ética Normativa Deontológica.

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1.5.4.1 Ética Deontológica - do grego déon, dever – também chamada de Teoria do Dever,
foca-se nas intenções e no valor da acção/regra, que devem corresponder às aspirações morais internas
de cada indivíduo.
Foi o filósofo Immanuel Kant quem começou traçar os caminhos para uma sistematização
teórica da Ética Deontológica dentro da Filosofia Moral, argumentava que nossas obrigações morais
devem derivar do imperativo categórico formulado como se fosse uma Lei Universal.

1.5.4.2 Ética Teleológica - do grego teleos, fim - também denominada de Ética


Consequencialista, é a ética, como o próprio nome sugere, que valoriza as consequências, os fins da
acção. Em oposição à Ética Deontológica, na acção a intenção é o menos importante, as consequências
é que devem ser boas. E o bom é considerado o fim natural, a felicidade. Os defensores desta ética -
Aristóteles, Sócrates, Platão, Epicuro, Stuart Mill, Bentham, Hare, Singer e etc. - alegavam que todos
os homens se devem reger por esta finalidade, as melhores opções são as que oferecem melhores
resultados.

1.5.5 Divisão da Ética


A Ética ainda pode ser dividida em dois grandes conjuntos: a Ética Geral e a Ética Aplicada.

1.5.5.1 A Ética Geral é abrangente, faz a análise e estudos das normas e moralidades (e
códigos morais) que permeiam a sociedade como um todo - preceito, regras, legislações – absorvendo
a peculiaridade cultural, espacial e histórica de cada sociedade.

1.5.5.2 A Ética Aplicada é uma área recente da filosofia moral, mais restrita que a primeira,
procura fazer reger os códigos de ética para determinada categoria e sector social e discutir problemas
morais concretos da sociedade.
Exemplo da Ética Aplicada: Ética Profissional, Ética Empresarial, Ética Animal, Ética
Ecológica, Ética Científica, Bioética e etc.

1.6 O Princípio ético moral “Fazer o bem e evitar o mal” e ou princípios morais básicos
sua aplicabilidade na sociedade
Um princípio é o começo de algo. O conceito também é usado com referência a um valor ou a
um preceito que se tem em conta para o desenvolvimento de uma acção. Um princípio, por
conseguinte, pode ser equivalente a uma norma.

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Ético, por outro lado, diz respeito à ética (o ramo filosófico que se centra nos assuntos morais).
A ética, neste sentido, é formada pelas regras morais que são tomadas como base para agir.
Com isto, podemos analisar a noção de princípio ético. Trata-se de uma regra que serve como
guia para definir a conduta, uma vez que recolhe aquilo que é considerado válido ou bom.
As pessoas têm diferentes princípios éticos devido a estarem associados à consciência de cada
um. Existem, no entanto, numerosos princípios éticos partilhados a nível social. Respeitar todos os
seres humanos, não exercer a violência e ajudar quem precisa são alguns exemplos dos princípios
éticos mais comuns.
Também tem-se como princípio ético a honestidade do indivíduo para com uma ou várias
pessoas (a depender da situação), o uso de sua liberdade sem que seus actos interfiram negativamente
na vida de outras pessoas, ser responsável e responder pelos seus actos e as consequências dos
mesmos, possuir disciplina e respeitar as leias impostas numa sociedade, seja as de seu país ou de um
país qual esteja visitante ou residindo no momento, entre outras.
Logo, o princípio ético é algo importante para que as pessoas saibam como lidar umas com as
outras. Por conta disso, em países como o Brasil, nos cursos universitários a ética é tida como
importante disciplina, ajudando os alunos a aprenderem como se comportar de forma ética perante a
sociedade, não interferindo no direito de outras pessoas. É por esse motivo que tais princípios são
fundamentais na formação do ser humano.
A ética é algo essencial dentro de uma sociedade. Em resumo, ela estuda os hábitos das
pessoas dentro de uma sociedade, desenvolvendo os princípios, a fim de guiar as pessoas para que
tenham atitudes que sejam correctas, sendo que, muitas das vezes, atitudes que também precisam estar
dentro da lei.
Para a determinação dos princípios éticos, o ser humano foi compilando aquilo que se revelou
prejudicial para as sociedades e que, por conseguinte, deveria ser evitado no comportamento. Se a
experiência histórica demonstrar que a violência não leva a nada de positivo, a não-violência torna-se
um princípio ético. As pessoas tendem a crer, por conseguinte, que não se deve agir com violência
uma vez que as consequências de uma acção violenta são negativas.
Violar um princípio ético pode acarretar diferentes consequências. Quando o princípio ético
coincide com uma lei, a falta supõe um delito e dá origem a um castigo legal.
Actualmente, o princípio ético tem sido objecto de constantes estudos, acarretando em
discussões tanto no meio académico quanto no meio profissional. E isso acontecido devido a
exposição de condutas antiética na sociedade actual. E o assunto é algo universal, uma vez que as
condutas dos seres humanos não estão sempre em conformidade com as leis.

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Um princípio é o começo de algo. O conceito também é usado com referência a um valor ou a
um preceito que se tem em conta para o desenvolvimento de uma acção. Um princípio, por
conseguinte, pode ser equivalente a uma norma.
Ético, por outro lado, diz respeito à ética (o ramo filosófico que se centra nos assuntos morais).
A ética, neste sentido, é formada pelas regras morais que são tomadas como base para agir.
Com isto, podemos analisar a noção de princípio ético. Trata-se de uma regra que serve como
guia para definir a conduta, uma vez que recolhe aquilo que é considerado válido ou bom.
As pessoas têm diferentes princípios éticos devido a estarem associados à consciência de cada
um. Existem, no entanto, numerosos princípios éticos partilhados a nível social. Respeitar todos os
seres humanos, não exercer a violência e ajudar quem precisa são alguns exemplos dos princípios
éticos mais comuns.
Também tem-se como princípio ético a honestidade do indivíduo para com uma ou várias
pessoas (a depender da situação), o uso de sua liberdade sem que seus actos interfiram negativamente
na vida de outras pessoas, ser responsável e responder pelos seus actos e as consequências dos
mesmos, possuir disciplina e respeitar as leias impostas numa sociedade, seja as de seu país ou de um
país qual esteja visitante ou residindo no momento, entre outras.
Logo, o princípio ético é algo importante para que as pessoas saibam como lidar umas com as
outras. Por conta disso, em países como o Brasil, nos cursos universitários a ética é tida como
importante disciplina, ajudando os alunos a aprenderem como se comportar de forma ética perante a
sociedade, não interferindo no direito de outras pessoas. É por esse motivo que tais princípios são
fundamentais na formação do ser humano.
A ética é algo essencial dentro de uma sociedade. Em resumo, ela estuda os hábitos das
pessoas dentro de uma sociedade, desenvolvendo os princípios, a fim de guiar as pessoas para que
tenham atitudes que sejam correctas, sendo que, muitas das vezes, atitudes que também precisam estar
dentro da lei.
Para a determinação dos princípios éticos, o ser humano foi compilando aquilo que se revelou
prejudicial para as sociedades e que, por conseguinte, deveria ser evitado no comportamento. Se a
experiência histórica demonstrar que a violência não leva a nada de positivo, a não-violência torna-se
um princípio ético. As pessoas tendem a crer, por conseguinte, que não se deve agir com violência
uma vez que as consequências de uma acção violenta são negativas.
Violar um princípio ético pode acarretar diferentes consequências. Quando o princípio ético
coincide com uma lei, a falta supõe um delito e dá origem a um castigo legal.
Actualmente, o princípio ético tem sido objecto de constantes estudos, acarretando em
discussões tanto no meio académico quanto no meio profissional. E isso acontecido devido a
16
exposição de condutas antiética na sociedade actual. E o assunto é algo universal, uma vez que as
condutas dos seres humanos não estão sempre em conformidade com as leis.

1.6.1 Educar para a Virtude: Fazer o bem e evitar o mal


Numa sociedade cada vez mais moldada na relativização dos valores, nas suas mais variadas
formas, necessita de uma nova orientação. A superação do modelo dogmático feito pela Modernidade,
e a superação do modelo racionalmente rígido feito pela Pós-modernidade, não garantiram uma
sociedade mais equilibrada. É preciso a instauração de um “novo tempo”, próprio dos que pretendem
ser virtuosos superando os vícios.
Precisamos reforçar a vivência da ética e irmos além do conhecimento cognitivo sobre a
mesma. Muito podemos saber sobre ética, mas não necessariamente praticá-la. Também é necessário ir
além da dimensão proibitiva. Não se trata de desvalorizar as regras que proíbem actos contrários ao
bem comum, mas potencializar a condição interior dos sentidos das virtudes como condição sine qua
non, pois nosso Fundamento é Jesus. “Meus filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua,
mas por actos e em verdade”. (I João 3, 18). Pelos valores do Evangelho e pelo desprezo às
ideologias que sufocam a verdade do mesmo, poderemos reconduzir nossa sociedade à virtude. Na
Exortação Apostólica Evangeli Gaudium (26) Papa Francisco afirma: “Sem vida nova e espírito
evangélico autêntico, sem «fidelidade da Igreja à própria vocação», toda e qualquer nova estrutura se
corrompe em pouco tempo”
A educação para ética tem se fundamentado mais na dimensão proibitiva, naquilo que não se
deve fazer, descuidando da dimensão do que se deve sentir. A ética pela lógica da proibição legisla
atitudes, que na verdade deveriam ser reveladas em nossa essência. Quem tem Jesus como Mestre
conhece a verdade e por isso se torna virtuoso e não espera ser repto pelas proibições. Nisto consiste a
consciência moral. O Catecismo da Igreja Católica esclarece:
§1776 A CONSCIÊNCIA MORAL “Na intimidade da consciência, o homem descobre uma
lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a
evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei ressoa no íntimo de seu coração... É uma lei inscrita
por Deus no coração do homem. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde
ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz”.
No comportamento diário aprendemos pela imitação do outro e repetimos como
comportamento pessoal
Vivemos tempos de crise ética e “ondas ideológicas” tentam nos confundir sobre o que é certo
e o que é errado. Por isso, é preferível optarmos sempre por formulações que não permitam
ambiguidade. Por exemplo, respeitar a vida pode ser relativizado por essas ondas. Imaginemos que
17
alguém considere, que em respeito a sua própria vida, possa matar outra pessoa, como no caso do
aborto. A alegação de defesa do aborto pode vir a ser uma ‘norma ética própria’, fruto do relativismo.
A formulação “não matar” é directo indicando como se deve agir: não matar! Se alguém matar estará
desrespeitando a regra, independente da intenção ou da justificativa que se encontre para realizar tal
facto. O Catecismo da Igreja Católica é claro:
§1789 Algumas regras se aplicam a todos os casos: Nunca é permitido praticar um mal para
que daí resulte um bem. A "regra de ouro": "Tudo aquilo que quereis que os homens vos façam, fazei-
o vós a eles".
§1833 A virtude é uma disposição habitual e firme de fazer o bem.
O que seria do homem sem a virtude? O homem virtuoso, pensa antes de agir, ele não age por
extinto, mas pela razão. Fundamenta o Catecismo da Igreja Católica:
§1804 As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da
inteligência e da vontade que regulam nossos actos, ordenando nossas paixões e guiando-nos segundo
a razão e a fé. Propiciam, assim, facilidade, domínio e alegria para levar uma vida moralmente boa.
Pessoa virtuosa é aquela que livremente pratica o bem.
Através da virtude o homem, como ser racional, pode chegar ao consenso para uma vida
respeitável e livre dos vícios. A vida virtuosa é a superação da vida viciosa. A Virtude ou o vício
somente podem ser adquiridos pelo hábito, ou seja, pela vivência no éthos. Elucida Aristóteles (1995):
(...) toda “virtude”, para a coisa da qual é “virtude”, tem como efeito, ao mesmo tempo, colocar
esta coisa em bom estado e lhe permitir bem executar sua obra própria (...) Se, então, se dá o mesmo
em todos os casos, a excelência, a virtude do homem, será igualmente uma disposição pela qual um
homem torna-se bom e pela qual também sua obra tornar-se-á boa (Ética a Nicômaco.1106a 15-23).
No comportamento diário aprendemos pela imitação do outro e repetimos como
comportamento pessoal, tornando-se assim, uma “segunda natureza”, assim como prevê Aristóteles
quando passamos do vício para a virtude.

1.6.2 Valores morais


Valores morais são os conceitos, juízos e pensamentos que são considerados “certos” ou
“errados” por determinada pessoa ou sociedade.
Normalmente, os valores morais começam a ser transmitidos para as pessoas nos seus
primeiros anos de vida, através do convívio familiar. Com o passar do tempo, este indivíduo vai
aperfeiçoando os seus valores, a partir de observações e experiências obtidas na vida social.
Assim, além de ter recebido o ensinamento sobre valores morais durante sua criação, uma
pessoa pode formar seu conjunto de valores morais, a partir de suas próprias vivências.
18
1.6.3 Valores morais nas sociedades
Os valores morais podem ser variáveis, ou seja, podem divergir entre sociedades ou grupos
sociais diferentes. Por exemplo, para um grupo de indivíduos uma acção pode ser considerada
correcta, enquanto para outros esta mesma atitude é repudiada e tida como errada ou imoral.
Assim, os valores morais são baseados em diversos factores, como cultura, tradição,
quotidiano, religião e educação de determinado povo.
O cultivo dos valores morais em uma sociedade é uma das formas de garantir a convivência
pacífica entre as pessoas, pois, de certa forma, determinam como devem ser os comportamentos,
funcionando como uma espécie de orientação sobre a forma de agir.
Da mesma forma, a existência de valores morais é importante para garantir a existência de
ordem em uma sociedade.

1.6.4 Valores morais universais


No entanto, existem alguns valores que são apresentados como “universais”, pois estão
presentes em quase todas as sociedades do mundo. Por exemplo: liberdade, igualdade, respeito,
educação e justiça.
A consciência de que o respeito ao próximo deve ser um imperativo no convívio social pode
ajudar a evitar uma das consequências mais desagradáveis e negativas que o conflito de diferentes
valores morais pode provocar: a discriminação e o preconceito entre as pessoas.

1.6.5 Valores na Declaração Universal dos Direitos Humanos


Alguns destes valores morais são tão primordiais que estão previstos na Declaração Universal
dos Direitos Humanos. Entre os valores que são destacados na Declaração estão a liberdade de
escolhas individuais, a liberdade política e o cultivo da solidariedade.
A igualdade entre as pessoas também é um valor determinado na Declaração e significa que
todos são iguais, independente de diferenças culturais, raciais, religiosas, sociais ou económicas.
Descubra mais sobre o significado de valores.

1.6.6 Valores morais e sociais


Na vida em sociedade, os valores morais são essenciais, pois ditam o comportamento das
pessoas, a forma de interacção entre os membros daquele grupo e a ordem do quotidiano social.
Os valores sociais estão focados no desenvolvimento da cidadania, a partir de contribuições
que ajudem a melhorar e organizar a vida em sociedade.
19
1.6.7 Valores morais e éticos
Partindo do conceito da ética, os valores éticos são princípios que não se limitam apenas às
normas, costumes e tradições culturais de uma sociedade (valores morais), mas também procuram se
focar nas características compreendidas como essenciais para o melhor modo de viver ou agir em
sociedade de modo geral.
Saiba mais sobre o significado de Ética e Moral.

1.6.8 Valores morais e religiosos


A religião é uma das principais entidades presentes dentro da sociedade que ajudam a moldar
os valores morais, assim como a família. Assim, doutrinas religiosas também podem ser fontes de
orientação de valores morais.
A fé, a bondade, o amor, o matrimónio e a união familiar são alguns exemplos dos valores
morais defendidos pela Igreja. No caso da religião católica todos os valores religiosos estão baseados
nos ensinamentos descritos na bíblia, sendo direccionados para o que a doutrina religiosa entende
como sendo "certo", "errado", "bem" ou "mal".
Já a doutrina espírita, por exemplo, tem a prática da caridade e da tolerância como seus
principais valores.

1.6.9 Normas morais


As normas morais são regras de convivência social e obedecem sempre a três princípios:
 Auto-obrigação,
 Universalidade,
 Incondicionalidade;
São sempre importantes, mesmo que não efectivamente cumpridas.
As normas morais são regras de convivência social ou guias de acção, porque nos dizem o que
devemos ou não fazer e como o fazer. As normas morais obedecem sempre a três princípios. Primeiro
que tudo é sempre caracterizado por uma auto-obrigação, ou seja, vale por si mesma
independentemente do exterior, é essencial do ponto de vista de cada um. Também é universal, porque
válida para toda a Humanidade, ninguém está fora dela e todos são abrangidos por ela.
Por último, as normas morais são também incondicionais, visto que não estão sujeitas a
prémios ou penalizações, são praticadas sem outra intenção, finalidade. Mesmo que não sejam
cumpridas, as normas morais existem sempre, na medida em que o homem é um ser em sociedade e
nas suas decisões tenta fazer o bem e não o mal.
20
E, por vezes, mesmo que as desrespeite, o homem reconhece sempre a sua importância e o
poder que elas têm sobre ele.

1.7 Relação Ética e outras Ciências: Filosofia, Direito, Sociologia e Economia


1.7.1 A Ética e a filosofia - A ética deve-se alicerçar numa concepção filosófica propiciadora
de uma
compreensão integral da criatura como ser social, histórico e criador.

1.7.2 A Ética e o Direito - Dentre todas as formas de comportamento humano, a jurídica é a


que guarda maior intimidade com a moral. É com base na profunda vinculação moral/direito que se
pode estabelecer o relacionamento ética/direito. Pois a ética não é senão a ciência do comportamento
moral do homem na sociedade.

1.7.3 Ética e Sociologia - segundo VAZQUÉZ a sociologia e seria ciência que estuda as leis
que regem o desenvolvimento e a estrutura das sociedades humanas. Ela apresenta estreita relação com
a ética ao se estudar o comportamento humano sob o ponto de vista de determinadas relações.

1.7.4 A Ética e a Economia - O dinheiro, ao tornar-se cada vez mais a expressão


absolutamente adequada e o equivalente de todos os valores, superam, numa altura meramente
abstracta, toda variedade dos objectos. Ele se torna o centro no qual as coisas mais distintas, mais
heterogéneas, mais remotas encontram o seu elemento comum e se tocam.

21
UNIDADE II - CONCEITOS BÁSICOS DA ÉTICA E SUA IMPLICAÇÃO NO
CONTEXTO REAL

CONTEÚDOS DA SEGUNDA UNIDADE

2.1- Formação da Consciência Moral


2.2- Responsabilidade moral e Liberdade
2.3- Moralidade e Eticidade
2.4- Acto Humano, Acto Moral e Acto Amoral: O Agir Moral

OBJECTIVO PRINCIPAL DA SEGUNDA UNIDADE

Esta unidade pretende levar os estudantes a ser capaz de relacionar o Ético e a vida concreta. E
ser capaz de fazer uma reflexão racional em torno da Ética e da Moral.

ACTIVIDADES

1. Estabelecer os quatro estágios da consciência moral e dar um exemplo para cada um.
2. Saber em quê consiste a responsabilidade moral e liberdade, sob ponto de vista da ética.
3. Saber qual o principio que rege a moralidade e a eticidade e, dar um exemplo para cada
conceito.
4. Apresentar um exemplo claro para cada conceito:
a) Acto Humano:
b) Acto do Homem:

22
2. Conceitos Básicos da Ética e sua implicação no contexto real
2.1 Formação da consciência moral
Na linha de Haring (1960), e de acordo com o ensinamento da Igreja, há uma necessidade de
formar a própria consciência para que o juízo moral prático possa coincidir com a vontade de Deus e
para que a consciência autoritária da criança chegue a ser a consciência perfeitamente madura do
adulto.
Tal formação da consciência deve realizar-se em cada indivíduo no sentido de:
a) Assumir as implicações dos princípios básicos da moralidade;
b) Aprender a como aplicar as normas de tal forma que possa haver um juízo razoável da
consciência;
c) Escutar a verdade e procura-la a partir das fontes onde ela, de facto, pode ser
encontrada.
Na formação da consciência, cada um deve estar consciente dos princípios básicos da
moralidade e sobretudo na escuta da voz interior, que é norma interiorizada. Certamente, uma
consciência bem formada é caracterizada por quatro atitudes: racional, autónoma, altruísta, e
responsável.
A pessoa deve estar pronta para escutar o que é que a lei prevê como correcção dos seus
próprios pontos de vista e como uma auto-salvaguarda ou defesa contra as influências de formadores
dos seus juízos. Esta cedência à lei não é submissão imatura, mas é a aprovação resultante da
iluminação das próprias limitações e do conhecimento de que as leis morais são fruto da experiência e
do trabalho comum de muitas gerações.
Portanto, a consciência moral, no ser fundamento maior da dignidade humana, deve ser
formada.
O dever formal e moral mais fundamental do ser humano é formar a sua própria consciência:
“Se a luz que há em ti se converte em trevas... quão grandes serão as essas trevas” O meu dever
formal é moral quando é realizado no concreto. A consciência é fazer (e não pensar ou sentir ou
teorizar) o bem e evitar o mal.

2.2 Responsabilidade moral e liberdade


O conceito de liberdade, na filosofia, designa de uma maneira negativa, a ausência de
submissão, de servidão e de determinação, isto é, ela qualifica a independência do ser humano. De
maneira positiva, liberdade é a autonomia e a espontaneidade de um sujeito racional. A liberdade é um
princípio constituinte para que o ser humano possa ser julgado acerca de sua responsabilidade em seus
actos. A liberdade qualifica os actos humanos. A relação que existe entre liberdade e responsabilidade
23
moral é uma relação de complementaridade, em que estão ligados entre si. Sendo assim, pode-se
questionar sobre os actos humanos, acerca de sua moralidade e sobre a responsabilidade do homem
por seus actos. LECLERQ1 afirma que: “[...] os actos só têm carácter moral na medida em que nele
intervém a liberdade; e seu carácter moral diminui na proporção que diminui a intervenção do livre-
arbítrio”. Logo, a moralidade dos actos consiste em fazer o uso da liberdade. Quando a liberdade é
privada, não há responsabilidade moral. Portanto, o homem é responsável pelos actos que pratica com
liberdade.
Diz a Sagrada Escritura: “Deus quis deixar ao homem o poder de decidir” (Eclo. 15,14). Por
isso, a dignidade do homem exige que ele possa agir de acordo com uma opção consciente e livre;
movido e levado por convicção pessoal e não por força de um impulso interno cego ou debaixo de
mera coacção (Pontifício Conselho “Justiça E Paz”, 2002, n.135).
O que caracteriza a pessoa humana é a liberdade. Perante este facto, uns afirmam a existência
da liberdade e outros a sua não existência. Estas tendências partem de como definem o homem. Para
definir o homem podemos encontrar duas tendências: uma individualista que encerra o homem na sua
individualidade, afirmando que o homem é ser em si mesmo, e outros de tendência altruísta que
afirmam que a pessoa humana é um ser em relação.
Descartes definiu o homem a partir de si mesmo. Ė no “cogito ergo sum” que encontramos o
significado do homem. Para Descartes o homem é um ser egoísta e individual, cujo centro de atenção
é ele mesmo. Martin Buber, diferentemente, vai dizer que o homem é um ser de relações.
O idealismo hegeliano não dá liberdade ao homem. A pessoa é ser de relação com o absoluto.
Na relação com o absoluto o homem é absorvido. O absoluto engole a pessoa.
No marxismo, como no idealismo, o homem é apresentado como um ser de relações. O homem
é o ser que entra em relação com a comunidade e esta o devora. A comunidade é o centro das
atenções. Não existe o homem individual, mas o homem colectivo.
O existencialismo está mais para o sentido. O que existe está para fora. Gabriel Marcel diz que
a pessoa está na relação eu-tu, através do diálogo comunicativo. O homem é ser com os outros. Karl
Jaspers distingue três elementos na pessoa: ser histórico, ser em si mesmo e ser comunicativo. Sartre
distingue o homem dos outros objectos. O homem é ser para si. O nada cria-se a partir do ser.
A antropologia teológica afirma que o homem é pessoa enquanto tem relação com Deus. Deus
é para o homem um “eu” e um “tu”. O homem é pessoa na medida em que se personaliza em Deus.
O homem é um ser livre porque Deus é absolutamente livre. Ė livre na medida em que pode
escolher. O homem em comparação com o animal é livre porque o animal não muda de procedimento,
não tem capacidade de escolher, não tem projecto, não pode progredir nem regredir, depende de sua
condição natural.
24
Liberdade é a capacidade de dizer sim ou não ao bem e também de dizer sim ou não ao mal.
Por isso, perante o sim ao bem, o homem recebe louvores e graças por parte dos homens e de Deus, e
perante o sim ao mal o homem recebe repreensão e castigo. Por isso, na liberdade, está implicada uma
responsabilidade. A liberdade de (escolha) é ao mesmo tempo uma liberdade para (responsabilidade).
“Liberdade é capacidade de decidir-se a si mesmo para um determinado agir ou sua omissão,
respectivamente para este ou aquele agir” (RABUSKE, Edvino A., Antropologia Filosófica,
Petrópolis, Vozes, 2001. p.89).
Trata-se de um poder, do eu mesmo que se refere a um acto que tem um objecto. Isto implica
duas situações: primeira, determinado acto deve ser posto ou não e, segundo, eu me decido ou não por
este ou aquele modo de agir. No acto livre, a decisão da minha liberdade é a causa primeira para que a
minha liberdade se torne assim e não de outra forma. Então, no querer livre aparece o agarrar-se à
possibilidade ou aos objectivos. Por isso, a liberdade não é somente a capacidade duma escolha mas
uma decisão sobre mim mesmo e as possibilidades da minha própria existência. A liberdade de
escolha pressupõe como condição de possibilidade que o homem seja livre e tenha autonomia,
espontaneidade, abertura ao ilimitado, e não esteja amarrado, determinado. Esta propriedade é
liberdade fundamental.
A liberdade é uma propriedade da vontade, do querer, do tender. O que pretende é o bem, o
valor. A capacidade de decidir-se livremente por um determinado bem supõe o conhecimento de que
este bem é parcial. Mas o homem não é simplesmente livre como uma pedra. A consciência da
liberdade deve ser conquistada pelo homem.

2.3 Moralidade e eticidade


2.3.1 Moralidade
Para entender o significado de moralidade, precisamos entender o termo que dá origem à
palavra: moral. A palavra “moral” vem do latim mos ou moris – e significa costumes. Nós vivemos
em uma sociedade e a sociedade tem normas estabelecidas do que é certo e do que é errado. Em um
sentido mais simples, a noção de moralidade pode estar associada às noções de justiça, acção e dever:
a moralidade não se relaciona àquilo que cada um quer para si e sim às formas de agir com o outro.
Ainda que “moralidade” se refira a um código moral concreto (“a moralidade de determinado
país” ou “a moralidade de determinado período histórico”, por exemplo, expressões pelas quais
determinamos o que é moral ou imoral) pode ser usado como sinónimo de “O moral”. Quando se
entende assim, significa que mesmo havendo códigos morais distintos entre si, há aspectos que nos
possibilitam identificá-los como sendo “morais”.

25
2.3.2 Eticidade é um substantivo feminino que expressa a qualidade do que é ético e moral,
caracterizando alguém que age dessa forma.
A ética pretende dar um fundamento às exigências morais (ética pura e normativa),
estabelecendo por si mesma, as leis que terão de determinar a conduta moral da vida pessoal e
colectiva. Neste sentido, o seu papel é muitas vezes demonstrar de que maneira é possível superar o
relativismo ético.
Na Antiguidade, os representantes da reflexão ética foram Platão, Aristóteles e os estóicos. Nos
tempos modernos Kant e Fichte e na época contemporânea foram Nietzsche, M. Scheler, N. Hartmann
e A. Schweitzer.

2.3.2.1 Princípio da Eticidade


A eticidade consiste em um dos princípios fundamentais do Código Civil de 2002. Este
princípio tem como consequência necessária o princípio da boa-fé objectiva, e significa que os
indivíduos devem agir em boa-fé nas relações de carácter civil.
Juntamente com os princípios de operabilidade e sociabilidade, o princípio da eticidade
constitui um pilar importante do Código Civil Brasileiro, porque atribui valor à dignidade do ser
humano. De acordo com esse princípio, um indivíduo deve ser íntegro, leal, honesto e justo. Isso
significa que qualquer atitude que vá contra o princípio da eticidade deverá ser punida.
A eticidade, sendo uma das características do código civil, garante que ele tem "sustentação
ética", porque reconhece e valoriza a probidade, a solidariedade social e outras qualidades do ser
humano.

2.3.2.2 Hegel e eticidade


De acordo com Hegel, a eticidade também pode ser retratada como "moralidade objectiva" ou
"vida ética" e expressa a verdade de dois conceitos abstractos - o direito e a moralidade. Segundo o
filósofo alemão, a concretização, limitação e mediação da liberdade constituem o âmbito da eticidade,
e a fim de realizar a liberdade, está presente na família, na sociedade civil e no Estado.

2.4 Acto humano, moral e amoral: Agir Humano


Agir é moralmente bom, quando as escolhas livres estão de acordo com o verdadeiro bem do
homem.

26
2.4.1 A moralidade dos actos humanos
«Os actos humanos, quer dizer, livremente escolhidos em consequência dum juízo de
consciência, são moralmente qualificáveis. São bons ou maus.» ( Catecismo, 1749). «A actuação é
moralmente boa quando as escolhas da liberdade estejam em conformidade com o verdadeiro bem do
homem e expressam assim a ordenação voluntária para o seu fim último, quer dizer, o próprio Deus”
[1] «A moralidade dos actos humanos depende:
 Do objecto escolhido;
 Do fim que se tem em vista ou da intenção;
 Das circunstâncias da acção.
O objecto, a intenção e as circunstâncias são as “fontes” ou elementos constitutivos da
moralidade dos actos humanos» ( Catecismo, 1750)

2.4.2 Imoral e amoral


Imoral e amoral são termos que se referem à moral, no entanto a relação que elas expressam
são diferentes.
Ultimamente, “imoral” e “amoral” têm sido aplicados para designar um mesmo significado:
aquele que não tem moral, ética.
É verdade, os dois termos referem-se à questão moral, no entanto, têm relações diferentes com
ela.
Certa vez, Óscar Wilde disse “a arte não é moral nem imoral, mas amoral”! O que isso quer dizer?
Vejamos por etapas e tendo por base o dicionário enciclopédico ilustrado Veja Larousse:
Primeiramente, o que é moral? É o que está “de acordo com os bons costumes e regras de conduta;
conjunto de regras de conduta proposto por uma determinada doutrina ou inerente a uma determinada
condição.”
No mesmo dicionário, moral também é classificada como o “conjunto dos princípios da honestidade e
do pudor”. Daí este termo ser tão utilizado em âmbito social, principalmente no político!

2.4.2.1 Imoral é tudo aquilo que contraria o que foi exposto acima a respeito da moral.
Quando há falta de pudor, quando algo induz ao pecado, à indecência, há falta de moral, ou seja, há
imoralidade.

2.4.2.2 Amoral é a pessoa que não tem senso do que seja moral, ética. A questão moral para
este indivíduo é desconhecida, estranha e, portanto, “não leva em consideração preceitos morais”. É o
caso, por exemplo, dos índios no tempo do descobrimento ou de uma sociedade, como a chinesa, que
27
não vê o fato de matar meninas, a fim de controlar a natalidade, como algo mórbido e triste.
Assim, o que Óscar Wilde quis dizer é que a arte não tem senso do que seja moral, por isso, para
alguns, tudo o que é visto não causa assombro, está dentro dos costumes. Já para outros, dependendo
do que se vê, é ultrajante, indecente!

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UNIDADE III - A PESSOA HUMANA COMO FUNDAMENTO DA MORAL

CONTEÚDOS DA TERCEIRA UNIDADE

3.1- Definição da Pessoa segundo São Tomas de Aquino


3.2- A Pessoa como categoria Ética: Racionalidade, Liberdade e Fim.
3.3- Relações humanas: A Pessoa como um fim em si mesma.

OBJECTIVO PRINCIPAL DA TERCEIRA UNIDADE

O Estudante deve ser capaz de reconhecer as diferentes formas de se relacionar com outras
pessoas e com o meio ambiente podem assumir, assim como as suas implicações éticas.

ACTIVIDADES

1. Definir os seguintes conceitos:


a) Pessoa:
b) Indivíduo:
c) Homem:
2. Exemplifique com clareza, quando é que uma pessoa não pode ser tratada como objecto,
instrumento ou meio.
3. O que entende por igualdade de género entre homem e mulher? Dar um exemplo.

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3. A Pessoa Humana como Fundamento da moral
3.1 Definição da Pessoa segundo São Tomas de Aquino
São Tomás de Aquino define pessoa como subsistente indivíduo em alguma natureza racional.
Concebe o significado da ideia de pessoa como relação, ou seja, a substancialidade da relação in
divinis. Para ele, não haveria outra forma de elucidar o significado das pessoas divinas, senão a de
esclarecer as relações entre elas, com o mundo e com os homens.
S. Tomás vale-se de Boécio para afirmar que a pessoa, em Deus, significa precisamente
relação: tudo o que é atinente às pessoas significa uma relação. Além disso, entendia ele que não havia
outra forma de se esclarecer o significado das pessoas divinas, senão a de esclarecer as relações entre
elas, com o mundo e com os homens.
Desta forma, a persona est subsistens in rationalis natura de São Tomás de Aquino, é uma
concepção na qual já se encontra inserida a noção de sujeito subsistente, na medida em que a
substância é aquilo que recebe o ser em si, o qual, por sua vez, confere pelo seu ato um carácter de
unidade e totalidade ao sujeito.
Desta concepção de pessoa destaca-se o carácter único do ser humano, bem como a ideia de
que todos os seres humanos são iguais em dignidade, visto que todos são inata e naturalmente dotados
da mesma racionalidade.
A consequência antropológica de tal concepção se explicita na medida em que o ser humano
não pode ser verdadeiramente pessoa a não ser que viva em rede de relações fundamentais e de
reconhecimento mútuo.
Tal perspectiva oferece uma fundamentação na dignidade não está condicionada e não se
sujeita às convenções jurídico-sociais, ou seja, não depende de factores externos ao ser humano.
Por isso, a concepção aquiniana de pessoa é considerada de fundamental para a construção do
conceito de pessoa na modernidade e permite pensar a pessoa a partir daquilo que o homem tem de
mais individual, próprio, incomunicável, menos comum e mais singular (persona como per se).
Embora a síntese aquiniana situada entre a tradição clássica e a teologia cristã, tenha sofrido
rupturas nos séculos que se seguiram, é inegável que os pensadores cristãos foram responsáveis não só
pelo aprofundamento do conceito de pessoa, como também pela re-significação da antropologia
subjacente à ideia de pessoa.
A verdade que a mudança de padrões filosóficos ocorrida na Idade Média representou os
primeiros passos para se ter o desenvolvimento da noção de pessoa na filosofia moderna. Pois na
perspectiva clássica e medieval, a pessoa humana, embora reconhecida na sua singularidade e
dignidade ontológica, não chegou a ser o centro das preocupações: se a influência cristã a colocou na

30
qualidade de sujeito dotado de valores intrínsecos a sua própria humanidade, o fez por ser ela imagem
e semelhança de Deus.
A preocupação era propriamente com cosmos, ou então, Deus. A filosofia preocupava-se com
os problemas relacionados ao "ser" enquanto ser e o conhecimento, por ser de cunho metafísico,
impossibilitava a construção de uma teoria do conhecimento.
A partir do século XVI na natureza e na história, Deus vai perdendo a transparência que tinha
para os antigos e o eixo e o centro da humanidade deslocam-se do contexto religioso.
As relações entre os homens se apresentam menos hierarquizadas e já não há mais uma central
orientação política, religiosa ou cultural. E novas produções subjectivas são feitas a partir da
Renascença, na qual as realidades passam a se referir ao ser humana, a começar pelo mundo da
natureza.
Na qualidade de sujeito, o ser humano destaca-se da natureza e a transcende, inverte-se,
portanto, a relação homem-natureza.
Esta atitude filosófica acarreta uma alteração do objecto da filosofia: do estudo da ontologia do
ser, a filosofia passa a ter por objecto o próprio sujeito cognoscente, o homem que antes e primeiro é
um ente que conhece.
Desta forma, o conceito de pessoa sofre necessariamente, uma alteração semântica, e a ideia de
persona perde o seu conteúdo ontológico e passa a designar uma realidade psíquica, na esteira de um
crescente avanço da razão técnico-instrumental.

Em síntese
Algo tem dignidade quando não tem preço, ou, em outras palavras, quando não pode ser
trocado por algo equivalente. A pessoa é fim em si mesma, porque não tem preço. Ela tem valor, e não
pode ser usada como meio para alcançar outro fim para além dela.
a) O significado da vida humana não é estar bem, mas ser bom;
b) A dignidade humana para Kant fundamenta-se no facto de a pessoa ser essencialmente
moral;
c) Dignidade não é apenas uma categoria antropológica, mas expressa também um
conteúdo ético; isto é, a categoria da dignidade humana levanta exigências éticas;
Ainda M.L. King diz: "O que me entristece não é a maldade dos maus, mas o silêncio dos
bons". E aos omissos, aos calados, aos que não reagem, B. Brecht dizia: vieram e prenderam:
 Os judeus (mas eu não fiz nada porque não era judeu);
 Os comunistas (mas eu não fiz nada porque não era comunista);
 Os sindicalistas (mas eu não fiz nada porque não era sindicalista);
31
 Os padres (mas eu não fiz nada porque não era padre);
 A mim (…) e não havia mais ninguém para me defender.
d) A dignidade não se refere a uma natureza abstracta, mas a seres concretos. Dignidade
diz respeito a seres históricos e concretos. Cada ser humano é pessoa por ser um indivíduo único e
insubstituível. Neste sentido, tem valor em si, isto é, goza de dignidade;
e) A dignidade não admite privilégios (mérito) em sua significação primária. Não é um
atributo outorgado, mas uma qualidade inerente, enquanto ser humano; é um “a priori” ético
comum a todos os humanos.
f) A dignidade é uma qualidade axiológica que não admite um “mais ou menos”. Não se
pode ter mais ou menos dignidade. Ela serve para incluir todo ser humano e não excluir alguns que
não interessam; não pode ser usado como critério de exclusão, pois, seu significado é justamente
de inclusão.
Em sua significação práxica, a categoria ética de dignidade tem uma orientação preferencial
para aqueles cuja dignidade humana está desfigurada ou diminuída na sua expressão. Neste sentido,
ajuda, por um lado, a corrigir possíveis reducionismos aos quais o ser humano pode ser submetido; por
outro, a orientar a acção para a meta da humanização.

3.2 A Pessoa como categoria Ética


3.2.1 Racionalidade
Racionalidade é a qualidade ou estado de ser sensato, com base em fatos ou razões. A
racionalidade implica a conformidade de suas crenças com umas próprias razões para crer, ou de suas
acções com umas razões para a acção. “Racionalidade" tem significados diferentes especializados
em economia, sociologia, psicologia, biologia evolutiva e ciência política. Uma decisão racional é
aquela que não é apenas fundamentada, mas também é ideal para alcançar um objectivo ou resolver
um problema.
Determinar optimização para o comportamento racional exige uma formulação quantificável
do problema, e fazer várias suposições-chave. Quando o objectivo ou problema envolve a tomada de
uma decisão, o factor de racionalidade em quanta informação está disponível (por exemplo,
conhecimento completo ou incompleto). Colectivamente, a formulação e pressupostos de fundo são o
modelo em que a racionalidade se aplica. Ilustrando a relatividade da racionalidade: se alguém aceita
um modelo no qual beneficiando a si mesmo é o ideal, em seguida, a racionalidade é equiparado a um
comportamento que é auto interessado, a ponto de ser egoísta; enquanto que, se alguém aceita um
modelo no qual a beneficiar o grupo é o ideal, então o comportamento puramente egoísta é

32
considerado irracional. É, portanto, sem sentido de afirmar a racionalidade sem especificar também os
pressupostos do modelo de fundo que descrevem como o problema é enquadrado e formulado.
O que é Liberdade:
3.2.2 Liberdade
Liberdade significa o direito de agir segundo o seu livre arbítrio, de acordo com a própria
vontade, desde que não prejudique outra pessoa, é a sensação de estar livre e não depender de
ninguém. Liberdade é também um conjunto de ideias liberais e dos direitos de cada cidadão.
Liberdade é classificada pela filosofia, como a independência do ser humano, o poder de ter
autonomia e espontaneidade. A liberdade é um conceito utópico, uma vez que é questionável se
realmente os indivíduos têm a liberdade que dizem ter, se com as mídias ela realmente existe, ou não.
Diversos pensadores e filósofos dissertaram sobre a liberdade, como Sartre, Descartes, Kant, Marx e
outros.
No meio jurídico, existe a liberdade condicional, que é quando um indivíduo que foi
condenado por algo que cometeu, recebe o direito de cumprir toda, ou parte de sua pena em liberdade,
ou seja, com o direito de fazer o que tiver interesse, mas de acordo com as normas da justiça. Existe
também a liberdade provisória, que é atribuída a um indivíduo com cunho temporário. Pode ser
obrigatória, permitida (com ou sem fiança) e vedada (em certos casos como o alegado envolvimento
em crime organizado).
A liberdade de expressão é a garantia e a capacidade dada a um indivíduo, que lhe permite
expressar as suas opiniões e crenças sem ser censurado. Apesar disso, estão previstos alguns casos em
que se verifica a restrição legítima da liberdade de expressão, quando a opinião ou crença tem o
objectivo discriminar uma pessoa ou grupo específico através de declarações injuriosas e difamatórias.
Com origem no termo em latim libertas, a palavra liberdade também pode ser usada em
sentido figurado, podendo ser sinónimo de ousadia, franqueza ou familiaridade. Ex: Como você
chegou tarde, eu tomei a liberdade de pedir o jantar para você.
A liberdade pode consistir na personificação de ideologias liberais. Faz parte do lema
"Liberdade, Igualdade e Fraternidade", criado em 1793 para expressar valores defendidos pela
Revolução Francesa, uma revolta que teve um impacto enorme nas sociedades contemporâneas e nos
sistemas políticos da actualidade.
Liberdade e Ética, de acordo com a ética, a liberdade está relacionada com responsabilidade,
uma vez que um indivíduo tem todo o direito de ter liberdade, desde que essa atitude não desrespeite
ninguém, não passe por cima de princípios éticos e legais.

33
3.2.3 O Fim
No agir humano «o fim é o termo primeiro da intenção e designa o objectivo buscado em uma
acção. A intenção é um movimento da vontade para um fim; visa ao termo do fazer» (Catecismo,
1752). Um acto que, por seu objecto, é “ordenável" a Deus, «atinge sua perfeição última e decisiva
quando a vontade o ordena efectivamente a Deus». A intenção do sujeito que actua «é um elemento
essencial na qualificação moral da acção» (Catecismo, 1752).
A intenção «não se limita à direcção da cada uma de nossas acções tomadas isoladamente, mas
também pode também ordenar várias acções para um mesmo objectivo; pode orientar toda a vida para
o fim último» (Catecismo, 1752). «Uma mesma acção pode estar, pois, inspirada por várias intenções»
(ibidem).
«Uma intenção boa não faz nem bom nem justo um comportamento em si mesmo
desordenado. O fim não justifica os meios» (Catecismo, 1753). «Pelo contrário, uma intenção má
acrescentada (como a vangloria) converte em mau um acto que, de seu, pode ser bom (como a esmola;
cfr. Mt 6, 2-4)» (Catecismo, 1753).

3.3 As Relações humanas: A Pessoa como um fim em si mesma.


A pessoa humana concebida como “um fim em si mesma” é um conceito moderno que deflui
directamente dos direitos humanos e encontra sua validade no princípio da dignidade da pessoa
humana. Traz agregada em si uma extensa carga valorativa perceptível nas mudanças históricas e
éticas da sociedade actual. Embora seus pressupostos morais enfrentem uma crise de fundamentos, sua
concretude é rescaldada pelo consenso ocidental dos Estados Democráticos de Direito em torná-la
vértice de todo o ordenamento jurídico-constitucional, aplicada jurisdicionalmente através do caso
concreto.

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UNIDADE IV - A ÉTICA NA MODERNIDADE: CRISE DA MORAL E PROBLEMAS
ACTUAIS

CONTEÚDOS DA QUARTA UNIDADE

4.1- Debate sobre os problemas actuais: “Aborto, Suicídio, Eutanásia” e outros problemas
4.2- Valores Morais: Justiça, Bem Comum, Respeito Mútuo, Empatia ou Filantropia e
outros.
4.3- Relativismo Ético e Moral.

OBJECTIVO PRINCIPAL DA QUARTA UNIDADE

O estudante deve ser capaz de reflectir sobre a sua consciência e reconhecer o valor do outro e
de si mesmo, e com a consciência do outro em relação ao valor e dignidade do outro.

ACTIVIDADES

1. Fazer uma abordagem ética em volta da problemática actual da COVID-19 no que diz
respeito a travagem da sua propagação.
2. Falar sobre um dos valores morais e o seu impacto negativo na sociedade Moçambicana.
3. Olhando para o alastramento da COVID-19 estabelecer cinco medidas universalmente
aceites e cinco somente aceites no país onde te encontras.

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4 A Ética na modernidade: Crise da moral e Problemas actuais
A modernidade é o nosso habitat peculiar. Não nos notamos como os velhos se viam, pois
nenhum deles reflectia em questionar a naturalidade das afinidades entre o homem e a sociedade. E a
modernidade aprece precisamente quando o homem começa a se ajuizar desconexo da comunidade
que ele integra (COSTA, 2010).
Os seres modernos não atribuem a origem mítica da colectividade a um vínculo orgânico. Para
eles, é errónea a afirmação de que somos descendentes de Abraão, Rómulo, nem de Eva. Não somos
unidos por tradições, não pertencemos à mesma família, nem religião e costumes. Para os modernistas,
o que nos une é a nossa vontade individual, guiada pela razão. O racionalismo clássico é oposto a
tradições mitológicas e religiosas com base em uma razão natural, que explica a ordem natural do
mundo e os seus aspectos (COSTA, 2010).
A crença de que a razão poderia explicar todos os feitios do mundo, foi colocada em suspeita
no pensamento medieval, de maneira especial, porque muitos dos elementos essenciais do cristianismo
não eram franqueados pela razão, mas pela fé. Seria muita ambição do homem aspirar que a sua razão
abrangesse o mundo criado por um deus omnipotente, cuja grandeza não poderia ser nunca
compreendida por nossa restringida racionalidade. Assim, mesmo que as compreensões cristãs tenham
sustentado a ideia de que a razão pode nos transportar a muitas verdades, não se podia acreditar que
ela nos desvendasse toda a verdade (PESTANA, 2012).
Assim, o pensamento medieval é bastante céptico diante aos limites de uma racionalidade
individual. A razão é vista como algo que nos expõe a relações naturais, constituída independente dos
homens. Portanto, é o critério de racionalidade que nos permite separar os ditames da lei humana e lei
natural (PESTANA, 2012).
Foi contra esta tradição, que naturalizava os seus valores tradicionais para garantir a sua
legitimidade, que elevou o pensamento moderno. Descarte foi pioneiro reconhecendo que, entre o que
ele ponderava natural, existia muito de convencionalismos difundidos pela sua cultura. Mas ele já não
mais podia converter em natural tudo o que lhe era familiar. Assim, a razão moderna não se distanciou
da noção de naturalidade, mas a reafirmou, especialmente Porque a sua principal função era
diferenciar o aparentemente natural do verdadeiramente natural (SCREMIN, 2004).
As teorias dos contratualistas não articularam de maneira muito inovadora o direito natural e o
direito positivo, Porém, o campo da naturalidade foi redefinido, pois muita coisa passou do campo da
naturalidade para o campo da artificialidade. E foi justamente com esse trânsito que a modernidade
pôde criticar a tradição, da qual vários elementos passaram a ser vistos como construções artificiais
ilegítimas (ARANHA; 2009).

36
A saída encontrada para harmonizar essa fragmentação de moralidades coexistentes foi
justamente remeter a moralidade para o campo do privado, em que nenhuma validade objectiva seria
admissível. Mais do que isso, a privatização da moralidade era uma garantia da liberdade de crença,
especialmente da liberdade de religião, que era um dos pilares das modernas sociedades europeias.
Assim, a regulação da vida pública deixa de ser um papel da moralidade de inspiração religiosa, e
passa a ser monopólio de um direito pretensamente laico. Porém, nem toda a moralidade foi remetida
ao campo do privado, pois restava a moralidade natural, cuja validade seria objectiva (CHAUÍ, 2004).
Por isso mesmo, a ética moderna não se volta a uma catalogação das virtudes dominantes em
uma tradição, pois isso é deixado aos moralistas de cada crença, aos missionários e catequistas de
todos os géneros. Esse género de educação moral não deixa de existir, mas ele migra da reflexão
filosófica para a pregação teológica. Todavia, restava aos filósofos definir aquele núcleo da
moralidade cuja validade universal poderia ser demonstrada. Nesse sentido, a busca da moralidade se
aproxima imensamente da busca pelo direito natural, pois ambas se fundem na ideia de que existem
valores justos por natureza, que podem ser identificados a partir de um uso adequado da razão.
Portanto, os primeiros filósofos modernos da ética, da política e do direito continuavam a velha
tradição platónica, em sua busca pela identificação do bem em si (CHAUÍ, 2004).

4.1 Debate sobre os Problemas actuais: “Aborto”, Suicídio, “Eutanásia” e outros


problemas actuais.
A modernidade é o nosso habitat peculiar. Não nos notamos como os velhos se viam, pois
nenhum deles reflectia em questionar a naturalidade das afinidades entre o homem e a sociedade. E a
modernidade aparece precisamente quando o homem começa a se ajuizar desconexo da comunidade
que ele integra (COSTA, 2010).
A ética moderna traz a tona o conceito de que os seres humanos sempre devem ser o fim de
uma acção e nunca um meio parar alcançar determinado interesse, pois o homem é visto no centro e
tudo está ao seu serviço. Essa é uma ideia defendida por Kant, um dos principais filósofos da
modernidade, que acreditava na ideia de o que o homem é um ser egoísta, destrutivo, ambicioso, cruel
e agressivo (GREIK, 2002).
As crises históricas determinam as mudanças históricas que acontecem e mudam a realidade da
sociedade de forma radicalmente. É uma questão bastante relevante para filosofia, visto que o
desenvolvimento da história e as suas crises cabem a filosofia, ela não pode ficar estática a situações
vividas pelo homem moderno. A função da filosofia é elucidar o homem em seu ser total (MATOS,
1992).

37
A ética tornou-se uma problemática fundamental no ocidente do século XX. Durante os anos
50 e 60 chegou-se a utilizar o termo reabilitação ética. A mentalidade técnico-científica se tornou cada
vez mais dominante na civilização ocidental, menosprezando a ética e a reduzindo apenas aos
problemas individuais. A ética não faz parte do âmbito racional, pois racionalidade é ligada a ciência,
e tudo que não é pertencente a ciência é resultado do livre arbítrio de cada um. A ética está no centro
da vida humana, pois a tarefa fundamental e primordial do homem é a construção do seu eu
(OLIVEIRA, 1989).

4.1.1 Aborto
As ciências contemporâneas, sobretudo as ciências da vida (biologia, medicina, genética etc.),
criaram uma série de dilemas éticos que são estudados pela filosofia. O ramo da filosofia que estuda os
problemas morais que surgem dessas ciências é chamado bioética; e a subdivisão da bioética que cuida
de assuntos específicos da medicina, como o aborto, é chamada ética médica. O aborto é um dos
pontos mais difíceis da ética médica. Ele envolve aspectos religiosos, legais, médicos, socioculturais e
políticos. Neste artigo, examinaremos o aborto somente do ponto de vista da filosofia, expondo os
principais argumentos contra e a favor da interrupção intencional da gravidez.

4.1.2 Suicídio
A tentativa de suicídio ou sua prática efectiva envolve sempre uma grande dose de sofrimento,
tensão, angústia e desespero. Esta dor da alma pode ser real ou ser a consequência de uma crise de
natureza afectiva, de uma conturbação mental, como, por exemplo, a psicose no seu grau mais agudo,
ou de uma depressão com sintomas delirantes. Se estes estados alterados da mente vêm acompanhados
do consumo de drogas e de álcool, a acção é potencializada significativamente, o que torna a atitude
suicida praticamente inevitável. O indivíduo pode ou não deixar uma explicação de seu ato para
familiares e amigos, através de uma nota ou de uma carta.
A palavra suicídio foi criada em 1737 por Desfontaines. Com origem no latim – sui (si mesmo)
e caedere (acção de matar) -, ela aponta para a necessidade de buscar a morte como um refúgio para o
sofrimento que se torna insuportável. Esta acção voluntária e intencional parte do ponto de vista que a
morte significa o fim de tudo, um mergulho no nada, visão esta acentuada pelo viés materialista que
envolve a nossa civilização. O suicídio pode ser concretizado através de actos mais agressivos -
geralmente uma escolha masculina -, como tiros e enforcamento, que conduzem quase sempre à
morte; ou por acções mais amenas, normalmente uma opção feminina, como o uso de remédios ou
venenos, que nem sempre conduzem a um desenlace fatal. Pode haver também casos de prática suicida

38
quando o sujeito deixa de prover certas necessidades fisiológicas, um ato gradual, como se negar a
ingerir o alimento.

4.1.2 Eutanásia
A eutanásia é definida como a conduta pela qual se traz a um paciente em estado terminal,
ou portador de enfermidade incurável que esteja em sofrimento constante, uma morte rápida e sem
dor. É prevista em lei, no Brasil, como crime de homicídio.
Entre as formas dessa prática existe a diferenciação entre eutanásia activa, quando há
assistência ou a participação de terceiro – quando uma pessoa mata intencionalmente o enfermo por
meio de artifício que force o cessar das actividades vitais do paciente - e a eutanásia passiva, também
conhecida como ortotanásia (morte correta – orto: certo, thanatos: morte), na qual se consiste em não
realizar procedimentos de ressuscitação ou de procedimentos que tenham como fim único o
prolongamento da vida, como medicamentos voltados para a ressuscitação do enfermo ou máquinas de
suporte vital como a ventilação artificial, que remediariam momentaneamente a causa da morte do
paciente e não consistiriam propriamente em tratamento da enfermidade ou do sofrimento do paciente,
servindo apenas para prolongar a vida biológica e, consequentemente, o sofrimento.
A literatura que trata desse tema é ainda escassa no Brasil, uma vez que o tema é um tabu e
geralmente associado ao suicídio assistido. No entanto, aqueles que advogam a favor da “boa
morte”, como é referida por estes, a diferenciação do suicídio assistido com o argumento de que a
ortotanásia, ou eutanásia passiva, nada mais é que permitir que o indivíduo em estado terminal,
portador de doença incurável e que demonstre desejo conscientemente, possa passar pela experiência
da morte de forma “digna e sem sofrimento desnecessário”, sem a utilização de métodos
invasivos para a prolongação da vida biológica e do sofrimento humano. Uma morte natural.
A eutanásia não é um dilema recente, trata-se de uma discussão que permeia a história humana
por tratar de um tema tão complexo e sensível: a escolha individual da vida pela vida, ou o direito a
escolher quando o sofrimento ou a dor pode se tornar uma justificativa tangível para que se busque a
morte como meio de alívio.
A eutanásia é um direito legalmente previsto em alguns países como a Holanda e a Bélgica,
nos casos para pacientes terminais ou portadores de doenças incuráveis que acarretam em
sofrimento físico e emocional para o paciente e seus familiares. Em outros países, no entanto, é
possível que o paciente faça o requerimento legal de não haver tentativa de ressuscitação no caso de
parada crítica de órgãos. É importante destacar que a eutanásia é um acto de vontade própria e
individual do enfermo, quando em estado de plena consciência, que garante a esse a escolha entre
cessar seu sofrimento em vida ou continuar lutando. Este é o principal ponto da discussão sobre o
39
direito de escolha individual à vida: a liberdade do sujeito que sofre em determinar se sua vivência é
justificada seja pelas suas crenças, vontade individual, ou por simples compaixão por aqueles que
seriam atingidos pela sua morte.

4.1.3 Outros problemas actuais


A problemática bioética é numerosa e complexa, envolvendo fortes reflexos imprimidos na
opinião pública sobretudo pelos meios de comunicação de massa. Alguns exemplos dos temas:
 Clonagem
 Reprodução assistida
 Fertilização “in vitro”
 Modificação genética.

4.2 Valores Morais: Justiça, Bem comum, Respeito mútuo, Empatia ou Filantropia e
outros.
4.2.0 Valores morais
São conceitos, juízos e pensamentos que são considerados " certos" ou "errados" por
determinada pessoa ou sociedade
Desde o nascimento nos é ensinado o que é certo e errado e a partir disso reproduzem-se
valores impostos pela sociedade. Antes de mais nada o valor moral pode ser definido como "respeito a
vida", não apenas a vida individual mas sim a vida colectiva, já que vivemos colectivamente
dependendo uns dos outros.

4.2.1 Justiça
É conhecida a definição de justiça dada por Ulpiano: suum quique tribuere, dar a cada um o
seu. E é sugestivo o pensamento de Salvador Allende, quando diz “Não basta que todos sejam iguais
perante a lei. É preciso que a lei seja igual perante todos.”
A justiça deve ser compreendida como a “virtude que inspira o respeito pelo direito de outrem”
(Perfeito et al., 1994, p. 1069), pois ela significa dar a cada um o que é seu ou o que lhe
pertence. Também se pode afirmar que a justiça consiste em dar a cada um aquilo que lhe corresponde,
por direito, nomeadamente, a assistência social, educação, emprego, saúde, assistência económica e
assistência jurídica.
Se tivermos qualquer dúvida sobre esse princípio de dar a cada um segundo o seu direito ou o
que lhe pertence, ou se nos perguntarmos como é que podemos reconhecer o que é de direito de
alguém ou que seja sua pertença, os diversos instrumentos jurídicos nacionais e internacionais como a
40
Constituição da República, a Lei do Trabalho, e outras leis, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos, entre outras convenções, têm bem claros e fixados esses princípios. Para complementar a
esses instrumentos jurídicos e essas convenções, está a consciência humana bem patente em cada um
de nós. Basta accioná-la e pô-la em prática.
O discurso sobre a justiça é vasto, e tem vários critérios de classificação. No nosso caso, vamos
nos deter sobre a justiça social, justiça distributiva, justiça pública ou jurídica e a justiça comutativa.
a) A justiça social: Toda e qualquer pessoa que vive na sociedade é dotada de direitos,
como o direito à vida, à educação, à saúde, ao emprego, à habitação, etc. A justiça social é aquela
que respeita e promove os direitos de todos, em geral, e de cada um, em particular, como membro
duma sociedade. Ela promove direitos e oportunidades iguais de todos para todos, de tudo, em
tudo, para todos e para cada um, ou seja, tratamento igual para todos, sem qualquer possibilidade
de discriminação. Para se instaurar uma verdadeira justiça social é fundamental que as instituições
sociais se distanciem da corrupção, do nepotismo, do suborno, da extorsão, do clientelismo, etc. e,
se deixem guiar pela transparência. A justiça social consiste fundamentalmente no respeito ou
reconhecimento dos direitos humanos, quer naturais bem como positivos, na igualdade
fundamental de todo o homem e na equidade, sem descriminação, quanto à aplicação da lei e
quanto a distribuição de bens e serviços, como por exemplo a política da habitação, da educação,
do emprego, dos serviços hospitalares.
b) Justiça distributiva: A justiça distributiva é a aquela que se encarrega pela recta e digna
distribuição ou repartição dos bens e serviços, entre os indivíduos na sociedade, sem
discriminação, sem olhar para a cara da pessoa, como por exemplo os salários, de acordo com as
reais capacidades e necessidades de cada um. Trata-se da justiça equitativa. A justiça distributiva
encarrega-se pela distribuição ou repartição proporcional da riqueza, da economia, dos bens, dos
serviços, dos salários, entre os indivíduos, na sociedade. A distribuição deve ser digna, correcta ou
equilibrada e equitativa. A distribuição deve ser equitativa no sentido de que, deve ser
proporcional, segundo os méritos pessoais, ou seja, de acordo com a condição de cada um, sem
discriminação, sem olhar para as caras e as condições ou o status das pessoas. Para a sua promoção
e operacionalização, é fundamental que haja “leis que determinam as condutas individuais e
grupais da comunidade e definem, assim, o que é justo e o que é injusto” (Chalita, 2003, p. 109).
c) Justiça pública ou jurídica: A justiça pública ou jurídica encarrega-se pela mediação
das relações sociais, através de leis soberanas. Baseada, fundamentalmente, nas leis, funciona
como força estabilizadora que luta contra as infracções e as violações, com o propósito de instaurar
uma sociedade mais organizada, mais fraterna, mais justa, mais pacífica e mais habitável. Confere
a qualquer cidadão, em caso de se sentir prejudicado ou injustiçado, o direito de mover uma acção
41
judicial, ou seja, o direito de acusar, notificar e de mover algum processo judicial contra o seu
ofensor, ou o que considera de infractor. A justiça jurídica tem uma função correctiva, ou seja, ela
tem a função de reparar, repor ou devolver a verdade; repor a situação ou o facto deslocado da
normalidade.
d) Justiça comutativa: A justiça comutativa vigora fundamentalmente nas relações
interpessoais e “inter-grupais”. Ela encarrega-se pela observância dos contractos e pelas trocas de
vária ordem, sejam elas comerciais, profissionais, laborais, entre outras. Enfim, a justiça
comutativa deve garantir ou assegurar a satisfação mútua.

4.2.2 Bem comum


O bem comum é o conjunto de condições sociais básicas, criadas numa sociedade, tais como as
diversas forças de segurança pública e social, bem como algumas infra-estruturas sociais,
nomeadamente, escolas, hospitais, estradas, fontanários, espaços recreativos ou de lazer, entre outros,
para que todas as pessoas que nela vivem, tenham direito de aceder ou usufruir, delas se possam
beneficiar e se desenvolvam de maneira digna e integral, para alcançarem a própria perfeição e
felicidade. O bem comum é aquela soma de condições que faz com que todos atinjam um nível de vida
física, moral, cultural e espiritual digna de seres racionais (Rodrigues, Ética e civismo, 33). Portanto, o
bem comum não é algo concreto, mas é o conjunto de todas essas condições que tornam possível o ser
humano alcançar a sua perfeição, não só o ser humano, mas a própria sociedade alcançar a sua
perfeição como um todo.
O Estado é o primeiro protagonista do bem comum. Neste contexto, os funcionários do Estado
devem ser bastante flexíveis e atentos às necessidades de toda a sociedade, de todas as pessoas, em
geral, e de cada pessoa, em particular. Para tal, esses funcionários do Estado devem descortinar todo o
tipo de burocracia no processo de instauração e funcionamento do bem comum. Porém, todos os
cidadãos são co-protagonistas na promoção desse mesmo bem, ou seja, ninguém é isento ou alheio
nem a promovê-lo e nem a usufrui-lo. Como se pode entender, o bem comum não é o mesmo que o
bem público. Quando se fala de bem público, apenas queremos contrapô-lo ao bem particular. O bem
público é o conjunto de bens a disposição de todos, contrário dos bens pertencentes a alguém em
particular. O bem comum foge dessas considerações. Engloba o bem público e o bem privado, mas
transcende a todos eles, pois refere-se a condições.
Os diversos poderes públicos constituídos na sociedade, e não só, devem criar condições de
modo que todos os constituintes dessa sociedade, sem distinção de ninguém, usufruam condigna e
ordinariamente dos tais bens. Ademais, eles devem estar comprometidos e empenhados em

42
reconhecer, respeitar e promover os direitos humanos para a realização e concretização do bem
comum, em benefício de todas as pessoas daquela sociedade.
O bem comum é o bem das pessoas, enquanto estas estão abertas entre si, na realização dum
projecto unificador que beneficia a todos. A noção do bem comum assume a realidade do bem pessoal
e a realidade do projecto social na medida em que as duas realidades formam uma unidade de
convergência: a comunidade. O bem comum é o bem da comunidade. (Vidal & Santidrian, 1981, p.
24).

4.2.3 Respeito mútuo


O respeito é uma virtude incontornável, ou mesmo obrigatória entre humanos. Respeito mútuo
ao género oposto, respeito à pessoa de cor e raça diferente, respeito à outra religião, enfim, respeito à
pessoa de status ou condição social diferente favorecem a boa convivência entre as pessoas e,
consequentemente, favorece uma vida harmónica e pacífica. Aliás, ninguém deve ser tratado segundo
a sua cor, raça, género, estrato social, proveniência, religião que professa, em diante. Cada um precisa
de ser respeitado simplesmente por causa da sua dignidade, uma dignidade que é inerente ao facto de
ser pessoa. Basta que seja pessoa para ser respeitada. As diferenças aqui mencionadas são bem-vindas.
Elas são uma fortuna, uma riqueza porque nos enriquecem e nos complementam. Feliz diferença! É
preciso valorizar aquilo que nos une em detrimento daquilo que nos separa. O que torna possível esta
conciliação das diferenças é a atitude constante do diálogo.
A palavra diálogo (do grego diá mais logos) tem o seguinte significado etimológico: o que
passa através (diá: passagem, movimento) da palavra (logos). Trata-se duma conversação entre duas
pessoas ou mais, é uma troca de intervenientes. Embora se desenvolva a partir de pontos de vista
diferentes, o verdadeiro diálogo supõe um clima de boa vontade e compreensão recíproca. Portanto, o
diálogo supõe, chama e exige o respeito mútuo.
Por respeito pretendemos dizer a consideração, valorização e o apreço que nutrimos por nós
próprios e pelos outros, e vice-versa, visto que todos somos diferentes mas iguais em dignidade. Todos
nascemos e morremos. Por falarmos de dignidade, é essa que realmente caracteriza a pessoa humana.
A reciprocidade desse respeito é o que nos leva a usar o adjectivo “mútuo”: respeito mútuo.
Respeito significa que, apesar da diferenciação, é fundamental a valorização e aceitação da
pessoa tal como é, na sua condição e sempre tratá-la como pessoa e não como objecto. No convívio e
relacionamento social, a pessoa, porque dotada de dignidade, como já o dissemos, deve estar no centro
das atenções. Cada qual é o que é, com suas qualidades e defeitos. Ainda que tenha defeitos, nem por
isso ela deve ser desrespeitada e desprezada. Aliás, ninguém é sem defeitos. Ela deve ser valorizada e
aceite tal como ela é. Ao aceitar o outro mesmo que tenha seus pontos fracos, significa que é uma
43
exigência séria para que ele também me aceite como eu sou. Aí entra a questão da igualdade: todos
somos iguais em dignidade.
Nos diálogos, debates, palestras, por exemplo, eticamente respeita-se a pessoa: respeitam-se as
suas ideias e pensamentos, escutando-os atentamente, ainda que não concordemos com eles. Melhor
ainda, nos debates discutem-se as ideias e os pensamentos e não as pessoas; discutem-se as ideias e
pensamentos das pessoas e não as pessoas das ideias e dos pensamentos. Discutem-se as ideias e
pensamentos do dono e não o dono das ideias e dos pensamentos. Portanto, o relacionamento com os
outros, baseado no respeito mútuo, é livre de preconceitos e etiquetas.

4.2.4 Filantropia ou empatia


4.2.4.1 Filantropia vem do grego φίλος (amor) e άνθρωπος (homem), e significa "amor à
humanidade". O seu antónimo é a misantropia.
Os donativos a organizações humanitárias, pessoas, comunidades, ou o trabalho para ajudar os
demais, directa ou através de organizações não governamentais sem fins lucrativos, assim como o
trabalho voluntário para apoiar instituições que têm o propósito específico de ajudar os seres vivos e
melhorar as suas vidas, são considerados actos filantrópicos.
Instituições de ensino filantrópicas são mantidas por entidades sem fins lucrativos, que
desempenha actividades, paralelas ou em conjunto com o Estado, sem ser remuneradas, diferente das
instituídas com fins lucrativos que são mantidas por uma ou mais pessoas físicas e/ou jurídicas de
direito privado, que constituem-se em entidades de carácter comercial, sendo esta apenas sua missão
maior, não sendo obrigadas a fazer actividades de cunho beneficente, embora, se quiserem, possam
lhes desempenhar.
Instituições filantrópicas podem ser laicas (sem vínculo religioso) ou confessionais (mantidas
por instituições religiosas).

4.2.4.2 Empatia
Empatia significa a capacidade psicológica para sentir o que sentiria uma outra pessoa caso
estivesse na mesma situação vivenciada por ela. Consiste em tentar compreender sentimentos e
emoções, procurando experimentar de forma objectiva e racional o que sente outro indivíduo.
A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. Está intimamente ligada ao altruísmo -
amor e interesse pelo próximo - e à capacidade de ajudar. Quando um indivíduo consegue sentir a dor
ou o sofrimento do outro ao se colocar no seu lugar, desperta a vontade de ajudar e de agir seguindo
princípios morais.

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A capacidade de se colocar no lugar do outro, que se desenvolve através da empatia, ajuda a
compreender melhor o comportamento alheio em determinadas circunstâncias e a forma como outra
pessoa toma as decisões.
Com origem no termo em grego empatheia, que significava "paixão", a empatia pressupõe uma
comunicação afectiva com outra pessoa e é um dos fundamentos da identificação e compreensão
psicológica de outros indivíduos.

4.3 O Relativismo ético e moral


4.3.1 O relativismo ético
Relativismo ético é a teoria de que não é nenhuma regra universal absoluta na rectidão moral
da sociedade. Consequentemente, argumenta-se que o desempenho ético de um indivíduo depende ou
é relativo à sociedade à qual pertence.
É também chamado de relativismo epistemológico, pois, sua ideia básica é que não existem
verdades universais sobre o mundo, apenas maneiras diferentes de interpretá-lo. Isso remonta à
filosofia grega, onde se trabalhou com a frase “o homem é a medida de todas as coisas”.
Posteriormente, seguiram-se declarações mais contemporâneas, como a de que as verdades são
subjectivas, dependendo do ponto de vista do analista, ou que, para cada cultura, existem diferentes
tipos de acordos.
Também existem posições em relação ao científico que buscam ser objectivas e lógicas,
chamadas verdades relativas – éticas. A partir dessas considerações segue o relativismo moral, a teoria
de que não existem verdades absolutas, objectivas e morais universalmente vinculativas.
O relativista ético nega que exista alguma verdade objectiva sobre o certo e o errado. Os
julgamentos éticos não são verdadeiros ou falsos, porque não há verdade objectiva adequada para um
julgamento moral.
Pode-se dizer que, para esses autores, a moralidade é relativa, subjectiva e não vinculativa.

4.3.1.1 Características do relativismo ético


O que é considerado moralmente certo e errado varia de sociedade para sociedade; portanto,
não há padrões morais universais.
– Se é certo ou não um indivíduo agir de uma certa maneira depende ou é relativo à sociedade
à qual ele pertence.
N Não há padrões morais absolutos ou objectivos que se apliquem a todas as pessoas em todos
os lugares e em todos os momentos.

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O relativismo ético sustenta que, mesmo além dos factores ambientais e das diferenças de
crenças, existem divergências fundamentais entre as sociedades. Em certo sentido, todos vivemos em
mundos radicalmente diferentes.
Cada pessoa tem um conjunto de crenças e experiências, uma perspectiva particular que colore
todas as suas percepções.
-Suas diferentes orientações, valores e expectativas regem suas percepções, para que diferentes
aspectos se destaquem e algumas características sejam perdidas. Mesmo quando nossos valores
individuais surgem da experiência pessoal, os valores sociais estão fundamentados na história peculiar
da comunidade.
-Eles vêem a moralidade como um conjunto de normas, hábitos e costumes comuns que
obtiveram aprovação social ao longo do tempo, para que pareçam parte da natureza das coisas, como
fatos.

4.3.1.2 Tipos do relativismo ético


4.3.1.2.1 Subjectivo
O subjectivismo torna a moralidade um conceito inútil, porque, em suas premissas, exerce
pouca ou nenhuma crítica interpessoal e seus julgamentos são logicamente possíveis.
Enquanto algumas culturas podem se sentir bem em matar touros em uma tourada, há muitas
outras que certamente sentem o contrário. Nenhum argumento sobre o assunto é possível. A única
coisa que poderia ser usada para um membro dessa cultura ou qualquer outra pessoa seria o fato de
que seria errado se eles não vivessem com base em seus próprios princípios.
No entanto, um deles pode ser que a hipocrisia é moralmente admissível (é bom com isso), por
isso seria impossível para ele fazer algo errado. Isso gera controvérsia sobre o que seria eticamente
correcto, em comparação com outros pontos de vista.
Diferentes personalidades artísticas, literárias e culturais têm opiniões conflituantes em relação
a esses temas, pois significa que todos os indivíduos são membros de diversas culturas e que o bem ou
o mal é moralmente subjectivo, dependendo de quem são os juízes e qual é o significado de avaliação
interpessoal.

4.3.1.2.2 Convencional
Na visão do relativismo ético convencional, não existem princípios morais objectivos, mas
todos são válidos e justificados em virtude de seu valor cultural, levando em consideração a aceitação,
onde a natureza social da moralidade é reconhecida, precisamente em seu poder e virtude. Além disso,
reconhece a importância do ambiente social, através da geração de costumes e crenças, e é por isso que
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muitas pessoas assumem que o relativismo ético é a teoria correcta, pois são atraídos por sua posição
filosófica liberal.
Portanto, essa posição parece implicar fortemente uma atitude de tolerância em relação a outras
culturas. Segundo Ruth Benedict, “o reconhecimento da relatividade ética alcançará uma fé social
mais realista, aceitando como uma esperança fundamental e como novas bases a tolerância a padrões
de vida coexistentes e igualmente válidos”.
O mais famoso dos que ocupam essa posição é o antropólogo Melville Herskovits, que
argumenta ainda mais explicitamente em suas falas que o relativismo ético implica tolerância
intercultural:
1) A moralidade é relativa à sua cultura
2) Não há base independente para criticar a moralidade de qualquer outra cultura
3) Portanto, você deve ser tolerante com a moral de outras culturas.

4.3.2 Relativismo moral


Relativismo Moral é uma posição metaética em que o julgamento moral ou de valores variam
conforme entidades diferentes como indivíduos, culturas e classes sociais as propõem.
O conceito é frequentemente confundido com o método de relativismo cultural empregado pela
antropologia na análise de culturas de etnias diferentes do observador. [1] O conceito do relativismo
cultural empregado pela antropologia é descritivo e não uma instância moral
É comum pensar que o relativismo em Ética seja garantido pela vasta diferença de opiniões
morais em uma sociedade. As opiniões morais a respeito do aborto ou da esmola seriam relativas, pois
alguns as aceitam e outros as criticam. Há uma espécie de relativismo nesse pensamento, mas
necessita ser especificado. O relativismo é uma tese metafísica, ou seja, é uma afirmação sobre a
realidade, sobre como as coisas são. Para o relativismo, não há padrões universais ou verdades
absolutas. O infanticídio, por exemplo, pode ser aceito em algumas culturas e rejeitado por outras, sem
que haja alguma forma de determinar se esse ato é em si moralmente permitido ou errado.
É um engano, entretanto, acreditar que a divergência de opiniões morais seja suficiente para
garantir a tese do relativismo, ou seja, para afirmar que padrões e regras morais são relativos e que
essa resposta é final. Todo esse debate não é simplesmente uma pesquisa de opinião. Para que
possamos fundamentar a tese relativista, adopta-se uma série de investigações e argumentos. Estes
pretendem tornar racionalmente aceitável a tese de que a moralidade é uma questão restrita às
convicções, práticas e tradições de um grupo de pessoas ou de uma cultura.
Um dos principais defensores do Relativismo moral é Gilbert Harman. Muitos de seus
argumentos comparam a moralidade com fenómenos em outros campos do saber. Uma das
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comparações mais interessantes é com a Física: não há como determinar, de forma absoluta, se algo
está ou não em repouso. Essa avaliação só pode ser relativa: todo objecto está em repouso ou
movimento em relação a um determinado ponto de referência.
O mesmo ocorreria com a Ética:
“Há muitas moralidades ou estruturas morais de referência e se algo é moralmente certo ou
errado, bom ou mau, justo ou injusto, virtuoso ou não é sempre uma questão relativa. Algo só pode ser
certo ou bom ou justo apenas em relação a uma estrutura moral e errado ou mau ou injusto em relação
a outra. Nada é simplesmente certo ou bom ou injusto ou virtuoso.” (HARMAN, p. 858).
A diversidade moral é um fato que não podemos negar, mas em que sentido é possível tomar
esse fato como evidência de que não há valores morais absolutos? Sabemos que todo ser humano é
falho em seus raciocínios e decisões, e que parte dessa imperfeição é reflectida em suas acções.
Devemos, assim, esperar certa falha no comportamento moral das nossas sociedades e dos diversos
agrupamentos humanos. Nenhuma moralidade pode ser, nesse sentido, a mais correcta ou perfeita.
Não estaríamos, em certo sentido, falhando em tomar as melhores decisões?
Em todo caso, a tese defendida por Gilbert Harman não está relacionada ao que uma ou
algumas pessoas pensam sobre determinado ato ou valor moral, nem da impossibilidade de chegarem a
um acordo. Assim como na Física dependemos de oferecer um ponto de referência para avaliar se algo
está ou não em movimento, na moralidade também precisamos oferecer algum contexto. Quando dois
brasileiros discutem sobre o aborto, é nesse contexto que será avaliada toda a discussão. E essa
avaliação não depende do que cada interlocutor pensa ou acredita sobre o aborto, pois é por uma
questão metafísica, a saber, a ausência de um valor universal para a moralidade do aborto, que esse ato
só pode ser avaliado contextualmente – sendo rejeitado ou permitido, sem que isso indique que o ato
é em si moralmente correcto ou inaceitável.
Gilbert Harman considera, como outros filósofos, que oferecer o relativismo moral como a
melhor explicação para toda a diversidade moral que percebemos. Esse posicionamento pressupõe que
as demais teorias, realistas ou mesmo construtivistas, não são capazes de oferecer outra explicação,
que seja mais plausível, para a complexidade moral que percebemos em nossas sociedades.

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Conclusão
Para formar sujeitos éticos se faz necessário permear todas as disciplinas com os assuntos
pertinentes a Ética.
A ética, entendida como a teoria ou ciência do comportamento moral do ser humano no
relacionamento com seu semelhante e o meio ambiente, sofre modificações de acordo com o momento
histórico em que se dá esta relação, com a complexidade da sociedade e das transformações que o
homem vai produzindo no ambiente.
O estudante de medicina, como actor dessas transformações, deve ter seu código de ética
permanentemente actualizado, não no sentido da permissividade, mas do comportamento adequado
aos que lidam com o bem mais precioso do ser humano, que é a vida.
A defesa da vida deve ser a principal preocupação do estudante de medicina. Neste sentido, sua
participação nas actividades desenvolvidas pela instituição na qual faz seu curso médico deve pautar-
se pela intransigente valorização da vida humana. Deve abster-se de praticar quaisquer actos que
possam significar risco para a vida e não permitir que nenhum membro da equipe de saúde da qual
participe os pratique. Qualquer intervenção que venha a praticar ou participar deve ser olhada como se
fosse nele mesmo. O que for bom, justo e oportuno para ele deve ser também para o paciente.
Dentro desta mesma premissa, deve orientar sua formação, evitando que em qualquer momento
sua deficiência possa colocar a vida ou a qualidade da vida em risco.

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