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Universidade Católica de Moçambique

Faculdade de Ciências Agronómicas

2º Ano de Licenciatura em Direito

Trabalho Individual de Direito penal

Nome:Dercio Benedito Mabunda

Docente Dr:Danilo Tiago

Cuamba, Maio, 2022


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÓMICAS

Trabalho de Pesquisa da Cadeira de Direito penal

Licenciatura em direito 2° Ano – Pós-Laboral

Tema: Interpretação e integracao da lei criminal

Trabalho de Pesquisa de carácter


avaliativo da Cadeira de direito penal
orientado por Dr: Danilo Tiago

Cuamba, Maio de 2022


Índice
1. Introdução...............................................................................................................4
1.1 Objectivo geral.........................................................................................................4
1.2 Objectivos específicos.............................................................................................4
2.Interpretacao e integracao da lei criminal...................................................................5
2.1.Interpretaçao da lei crminal.....................................................................................5
2.3.Princípios reitores da interpretação da lei penal......................................................6
2.2.1.Interpretação quanto ao Sujeito............................................................................7
2.2.2.Interpretação autêntica ou legislativa...................................................................8
2.2.3.Interpretação doutrinária ou científica................................................................10
2.2.4.Interpretação jurisprudencial..............................................................................10
2.2.5.Interpretação literal ou gramatical......................................................................11
2.2.6.Interpretação histórica.........................................................................................11
2.2.7.Interpretação teleológica.....................................................................................11
2.2.8.Interpretação sistemática ou sistêmica................................................................12
2.3.1.Interpretação evolutiva.......................................................................................13
2.3.2.Interpretação declaratória ou declarativa............................................................13
2.3.3.Interpretação restritiva........................................................................................13
2.3.4.Interpretação extensiva.......................................................................................13
3.Conclusão..................................................................................................................13
4.Bibliografia...............................................................................................................15
1. Introdução

O presente trabalho tem por objectivo o Diante de diversos estudos acerca da matéria da
interpretação da lei penal, pude observar que muitos remetiam a autores dos cursos de
introdução ao estudo do direito e da hermenêutica jurídica. E, em raríssimas
oportunidades, o assunto na seara penal era esmiuçado de tal forma que não restassem
dúvidas sobre a dinâmica do assunto, ressaltasse que, ainda assim, o assunto não
esgotava em um único manual.

Por este motivo, iniciei uma pesquisa aprofundada na doutrina brasileira e estrangeira
da temática em análise. Foi observado também as jurisprudências do Superior Tribunal
de Justiça e do Supremo Tribunal Federal sobre os métodos de interpretação e sua
aplicação prática nas decisões em matéria penal.

Por isso afirmo que a interpretação é fundamental e, ao longo da análise sobre o tema,
os tópicos foram aumentando na mesma proporção que a pesquisa se aflorava. A lei seja
ela qual for, por mais clara e objetiva que seja, ainda assim será interpretada, pois, não
se pode falar em lei clara sem se interpretar a sua clareza.

1.1 Objectivo geral


 Analisar Interpretação e integracao da lei criminal.

1.2 Objectivos específicos

 Definir Interpretação e integracao da lei criminal;


 Identifica integracao da lei criminal;
 Descrever Interpretação e integracao da lei criminal.

A efetivação sólida do presente trabalho foi graças a aplicação do procedimento


bibliográfico na colectiva de dados que consistiu numa incessante pesquisa literária do
tema em estudo e também ao recurso a obras virtuais disponibilizados pela internet.

Em termos organizacionais, o trabalho é composto de introdução, desenvolvimento,


conclusão, e referências bibliográficas.

2. Interpretação e integracao da lei criminal

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Para o professor constitucionalista Dirley da C, J. (2008) a interpretação pode ser
conceituada como a “atividade prática de revelar/atribuir o sentido e o alcance das
disposições normativas, com finalidade de aplicá-las a situações concretas, pois
interpretar é determinar o conteúdo e significado dos textos visando solucionar o caso
concreto. Não se interpreta em vão, ou por diletantismo, mas para resolver os problemas
jurídicos concretos”.

Não por acaso o professor alemão Edmund, M. (1958) aduzir que “todo o direito,
também o direito penal, requer uma ‘interpretação’. Interpretar a lei significa averiguar
seu sentido determinante, a fim de aplicá-lo aos casos particulares da vida real”. No
mesmo diapasão Damásio de Jesus (1995, p. 70) dispara que “a interpretação nada mais
é do que o processo lógico que procura estabelecer a vontade contida na norma jurídica.
Interpretar é desvendar o conteúdo da norma”.

2.1.Interpretaçao da lei crminal

Segundo o professor Dirley, C. J (2008) “a interpretação é atividade prática que se


dispõe a determinar o sentido e o alcance dos enunciados normativos (…) no processo
de compreensão do Direito, hermenêutica e interpretação são os dois lados de uma
mesma moeda”. Estado Democrático de Direito a Constituição Federal emana como
fonte primordial de todo o ordenamento jurídico e este deve estar umbilicalmente ligado
aos parâmetros daquele. Daí se afirmar que o Direito Penal e o Direito Constitucional se
vinculam de um modo formal através da supremacia constitucional. Nas palavras
de Nilo, B. e Eugenio, R. Z. (2006) “o saber do direito penal deve estar sempre sujeito
ao que o saber do direito constitucional informar”.

Conforme Marcelo, N. (2008) “toda a interpretação normativa se assenta no


pressuposto da superioridade jurídica axiológica da Constituição. Em razão da
supremacia constitucional, nenhum ato jurídico incompatível com a Lei Maior pode ser
considerado como válido”. Por isso a professora Janaína, C. P. (2003) advogar que o
direito penal deve ser concebido sob duas vertentes “a) o Direito Penal como potencial
espelho da Constituição e b) o Direito Penal como instrumento de tutela a direitos
fundamentais”.

Com o advento da Constituição Federal de 1988, assim como ocorreu com outros ramos
do Direito, com o Direito Penal não pôde ser diferente, e houve uma

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constitucionalização do Direito Penal. Isto é, normas salutares, passaram a integrar o
âmbito da Constituição de forma que houve, inclusive, uma petrificação de normas
penais nos Direitos e Garantias Fundamentais (rol do art. 5º, CF), por isso se falar em
um Direito Penal Constitucional.

Ademais, para se levar em conta a interpretação da lei penal conforme a Constituição


conforme aduz Eugenio, R. Z. (1994) deve se implicar em “levar em conta as normas
constitucionais que coroam o edifício em que a lei está imersa, que inevitavelmente
implica uma área de controle sobre o legislador ou um correção constitucional do
escopo de suas palavras”.

Ainda discutindo o tema o professor argentino Eugenio, R. Z. (2016) demonstra a


necessidade da construção de um direito penal humano, sendo a base deste a
Constitucionalização do Direito Penal, constitucionalização esta que se dá através de
uma interpretação das normas penais na ótica constitucional, onde isso implicaria, no
campo jurídico geral, na “necessidade de aperfeiçoar a interpretação de toda a lei com
base nas normas fundamentais dos direitos humanos, promovendo nossos estados de
direito no sentido

2.3.Princípios reitores da interpretação da lei penal

Para Luiz F, G. (2009) existem princípios que são reitores da interpretação da lei penal,
isto é, deve o exegeta na análise interpretativa das leis penais se nortear com as
seguintes bases

: a) princípio hierárquico (a interpretação deve ser feita segundo a Constituição. Aqui se


fala na interpretação conforme, isto é, interpretação conforme a constituição);

b) princípio de vigência (entre duas interpretações possíveis, é preferível a que dá


sentido para as palavras da lei em lugar da que as nega);

c) princípio da unidade sistemática (todos os textos do ordenamento possuem vigência


simultânea);

d) princípio dinâmico (os textos mudam de sentido com o passar do tempo) e;

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e) princípio da liberdade interpretativa (nenhuma interpretação pode ser imposta
coativamente); todo o ‘dirigismo interpretativo’, tal como foi imposto no moçambique
com as súmulas vinculantes, tem raiz autoritária e contrária a liberdade de investigação
científica.

A interpretação é um processo de descoberta do conteúdo de um texto, de decodificação


de seus significados e intenções.

De acordo com artigo 7 do código penal, não é admissível a interpretação extensiva ou o


recurso à analogia ou indução por paridade ou maioria de razão para qualificar qualquer
facto como crime, definir um estado de perigosidade ou determinar a pena ou medida de
segurança que lhes corresponde.

Tratando-se de interpretação legislativa, não se fala em criação de normas, dado que se


pressupõe a existência de lei. O ato de interpretar é impreterivelmente feito por alguém,
um sujeito, que, empregando certas ferramentas cognitivas, busca o sentido e o alcance
do que está contido na lei: trata-se de se buscar a compreensão mais adequada daquilo
que está contido na norma.

Há diversos modos de interpretação da lei penal. Aqui, elencaremos os principais:

Quanto ao Sujeito Quanto ao Modo Quanto ao resultado

 Literal
 Autêntica (Legislativa) (Gramatical)
 Declaratória
 Histórica
 Posterior (Declarativa)
 Teleológica
 Contextual  Restritiva
(Lógica)
 Doutrinária (Científica)  Extensiva
 Sistemática
 Jurisprudencial  Analógica
(Sistêmica)
 Evolutiva

2.2.1.Interpretação quanto ao Sujeito

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É aquela que se faz suficientemente clara pela leitura da lei em si. Depreende-se
cruamente da própria lei, tendo força obrigatória. Por exemplo, vejamos o art. 3 da lei
24-2019 lei da revisão do Código Penal:

1. A lei penal não tem efeito retroactivo, salvas as particularidades constantes dos
números seguintes.

2. A infracção punível por lei vigente, ao tempo em que foi cometida, deixa de o ser se
uma lei nova a eliminar do número das infracções.

3. Tendo havido já condenação transitada em julgado, fica extinta a pena, tenha ou não
começado o seu cumprimento.

4. Quando a pena estabelecida na lei vigente ao tempo em que é praticada a infracção


for diversa da estabelecida em leis posteriores, é sempre aplicada a moldura penal que,
concretamente, se mostrar mais favorável ao agente do crime. Se, porém, tiver havido
condenação, ainda que transitada em julgado, cessam a execução e os seus efeitos
penais logo que a parte da pena que se encontrar cumprida atinja o limite máximo da
pena prevista na lei posterior, sendo esta favorável. 5. As disposições da lei sobre os
efeitos da pena têm efeito retroactivo, em tudo quanto seja favorável ao agente do
crime, ainda que este esteja condenado por sentença transitada em julgado, ao tempo da
promulgação da mesma lei, salvo os direitos de terceiros

Podemos observar que o art. define expressamente quem é considerado funcionário


público pela legislação: “quem exerce cargo, emprego ou função pública”. Ora, não
restam interpretações externas ao texto legal que precisem ser aplicadas para se ter o
entendimento deste conceito. Ele está suficientemente posto na norma.

Todavia, este gênero de interpretação se subdivide em: Posterior e Contextual.

2.2.2.Interpretação autêntica ou legislativa

A interpretação autêntica ou legislativa é aquela realizada pelo próprio legislador,


quando cria uma norma e em seguida traz outro dispositivo com o objetivo de esclarecer
aquela. Por partir do legislador significa dizer que se está diante de uma lei
interpretativa. Ou seja, é a lei interpretando a própria lei.

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Característica marcante da interpretação legislativa é sua força cogente, obrigatória,
impositiva, onde não poderá o intérprete se afastar dos parâmetros disciplinados pelo
legislador.

Observe que há autores que entendem que a interpretação autêntica não se trata de
forma de interpretação, mas apenas de uma mera lei nova. Neste sentido Serpa Lopes,
citado por Frederico Marques (1997, p. 207) assevera que “embora certos autores
somente se considere interpretação a proveniente do magistrado, por entenderem que a
denominada autêntica estabelece direito novo, não sendo assim uma interpretação, mas
uma nova lei”.

O Supremo Tribunal Federal no julgamento do RHC 117.270, onde se tratava do


alcance do parágrafo único do art. 1º da Lei nº. 7.492/19866 para fins de enquadramento
no crime de gestão fraudulenta, tendo como ponto central as instituições financeiras
irregulares (isto é, aquelas não autorizadas pelo Banco Central), decidiu da seguinte
forma:

A norma inscrita no art. 1º e respectivo parágrafo único da Lei 7.492/1986 traduz


verdadeira interpretação autêntica dada pelo próprio legislador quando edita diplomas
legislativos de caráter geral, inclusive aqueles de conteúdo eminentemente penal. Essa
cláusula normativa, em realidade, objetiva explicitar, mediante autêntica interpretação
emanada do próprio legislador, o âmbito de incidência material da Lei 7.492/1986,
vinculando a compreensão e a incidência dos tipos penais nela definidos ao sentido
claramente abrangente da expressão “instituição financeira”, inclusive para efeito de
adequação de condutas aos elementos que compõem as estruturas típicas constantes do
art. 4º e do art. 16 de referido diploma legislativo. Consequente legitimidade do
enquadramento, na figura típica do art. 4º da Lei 7.492/1986 (crime de gestão
fraudulenta), da conduta de pessoas físicas ou de pessoas jurídicas que operem sem
autorização do Banco de Moçambique (hipótese em que também haverá concurso
formal com o delito tipificado no art. 16 de referido diploma legislativo), em razão da
equiparação legal de tais pessoas, para fins penais, à instituição financeira (Lei
7.492/1986, art. 1º, parágrafo único). (…) Revestem-se de caráter autônomo as condutas
tipificadas no art. 4º e no art. 16, ambos da Lei 7.492/1986, que define os crimes contra
o sistema financeiro nacional, de tal modo que o comportamento do agente que comete
o delito de gestão fraudulenta de instituição financeira (art. 4º) mostra-se também

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compatível com a prática do crime de operação de instituição financeira não autorizada
(art. 16). É que o delito de gestão fraudulenta tanto pode ser cometido em instituição
financeira autorizada quanto em instituição financeira não autorizada pelo Branco de
Moçambique , sob pena de atribuir-se inadmissível tratamento privilegiado àquele —
não importando se pessoa física ou jurídica — que atua, ilegalmente, sem a necessária e
prévia autorização do Bacen, nos diversos segmentos abrangidos pelo sistema
financeiro nacional: mercado monetário, mercado de crédito, mercado de câmbio e
mercado de capitais. [RHC 117.270 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 6-10-2015, 2ª T,
DJE de 20-10-2015

Posterior:

A interpretação posterior é aquele em que a lei é criada inicialmente prevendo um


determinado conceito, mas não o explica de forma clara, sendo necessária uma lei
posterior para explicar e regulamentar aquele objeto anteriormente previsto.

Contextual:

Já a interpretação contextual é aquela que é elaborada juntamente com a lei inicial, ou


seja, o objeto e sua complementação estão previstos na mesma lei. Este é o caso do
exemplo dado com o art. 327 do Código Penal.

2.2.3.Interpretação doutrinária ou científica

É aquela realizada por profissionais do direito, acadêmicos; contida em livros,


doutrinas, revistas e periódicos. Aquela que os comentadores do Direito dão aos
dispositivos legais. Esse tipo de interpretação ganha grande destaque nas questões que
envolvem a aplicação de princípios e normas mais amplas ou abertas, tendo em vista
que a adequação ao caso prático exige um direcionamento mais concreto

2.2.4.Interpretação jurisprudencial

É a discutida e firmada em juízos e Tribunais. A partir de um caso concreto, os tribunais


(sejam superiores ou não) firmam dada interpretação de determinada lei e a aplicam nos
casos concretos que analisam. A partir destes entendimentos, outros aplicadores do
Direito podem se valer de tais interpretações.

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Interpretação quanto ao modo ou meio empregado

2.2.5.Interpretação literal ou gramatical

O sujeito considerará o sentido literal, gramatical das palavras contidas na lei, não
abrindo margens para interpretações subjetivas (que vão além das palavras e seus
significados denotativos). Aqui, não se falaria na intenção do legislador ao dispor tais e
tais coisas, pois tudo o que pretendia o legislador, seguindo esta forma interpretativa,
está posto única e rigidamente em sua escrita literalmente avaliada.

2.2.6.Interpretação histórica

Esta forma de interpretar traz a necessidade de se verificar qual a origem da lei. Qual
sua época e seu contexto.

Veja, é possível identificar claramente a evolução histórica da sociedade, e esta forma


de interpretação visa a comportar as suas novas necessidades legislativas. Por exemplo:
o Código Penal foi elaborado em 1940 e punia severamente o crime de traição. Todavia,
com a evolução da sociedade, traição deixou de ser um ilícito penal. Ao interpretar esta
lei atualmente, ter-se-ia que indagar qual a intenção do legislador da época por trás da
simples disposição literal da norma. Proteger a família? A dignidade da pessoa humana?

Nota-se que tal norma fazia sentido se posta à luz de seus seus precedentes sociológicos
e contextuais, e tais constatações do processo evolutivo e momento de elaboração,
certamente, dão suporte ao melhor aclaramento da disposição legal.

2.2.7.Interpretação teleológica

Sujeito explora e tenta desvendar a real intenção do legislador ao editar aquela lei. A
finalidade à qual ela deveria servir quando foi premeditada e editada. Por exemplo, o
art. 319-A do Código Penal:

319 – A. (...) Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu


dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita
a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo:

Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.

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Podemos observar que o artigo não fala nada sobre os agentes impedirem a entrada de
acessórios telefônicos como, por exemplo, bateria, carregadores, fones de ouvidos.

Ora, o Supremo Tribunal Federal (STF), fazendo uma interpretação teleológica do tema,
decidiu que a intenção do legislador ao elaborar este artigo era de coibir o acesso do
preso a qualquer meio de comunicação externa dentro da penitenciária, inclusive por
aparelhos eletrônicos. Isto é, a verdadeira finalidade da lei é a de impedir, apesar de não
ter sido assim posto explicitamente, que o preso tenha acesso a qualquer meio de
comunicação com o exterior.

2.2.8.Interpretação sistemática ou sistêmica

É aquela realizada entre a legislação em vigor e os princípios gerais do direito, isto é, a


lei em vigor é apreciada com base nos princípios gerais do direito, sistematicamente.
Por exemplo, o art. 44 do Código Penal:

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de


liberdade, quando: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998)

 I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for
cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo;(Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998).

 II – o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de
1998).

III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado,


bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja
suficiente. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998).

Como podemos observar, o artigo não permite a aplicação de penas alternativas quando
o crime é doloso cometido com violência, contudo, na hipótese de crime doloso com
emprego de violência que resulte em menor potencial ofensivo (por exemplo, uma lesão
corporal leve), a pena alternativa é possível de ser aplicada, tendo em vista a
interpretação sistemática do Código Penal, da Lei 9.099/95 e do princípio do in dubio
pro reo (em caso de dúvida, o juiz decidirá sempre em prol do réu). Vê-se que tal forma

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interpretativa pressupõe que as normas não são isoladas de todo seu contexto, devendo
elas ser lidas em conformidade e coerência com todo o ordenamento jurídico.

2.3.1.Interpretação evolutiva

Explora o significado legal de acordo com progresso científico, isto é, busca evoluir
junto com as transformações sociais. Exemplo: Lei Maria da Penha. Há uma corrente,
bem forte, que defende a aplicação da Lei Maria da Penha em casos de mudança de
sexo, ou seja, a Lei ampararia também a pessoas que fizeram a cirurgia de troca de sexo.
Esta interpretação, assim sendo, pede que novos significados e concepções sejam
atribuídos a antigos conceitos postos na lei.

2.3.2.Interpretação declaratória ou declarativa

Seria aquela em que a letra de lei corresponde inteiramente e somente àquilo que o
legislador quis dizer, sem supressão e sem adição de nenhum outro trecho e nenhuma
outra fonte, ou seja, a Lei expressa de forma clara a vontade do legislador, sem a
necessidade de complementação normativa.

2.3.3.Interpretação restritiva

A interpretação é reduzida em face do alcance das palavras contidas na Lei, para


corresponder à real vontade do legislador. Isto é, considera-se que a lei possui palavras
“em excesso”, que ela disse mais do que gostaria de ter dito, e tal interpretação restringe
parte do texto para atender à sua finalidade pretendida.

2.3.4.Interpretação extensiva

A interpretação se estende para além do alcance das palavras postas pelo legislador, sem
a necessidade de se elaborar uma norma complementar. Aqui, considera-se que a norma
disse menos do que deveria ter dito, deixando de abarcar conteúdo pretendido. De novo,
tem-se a busca pela real vontade do legislador. Um exemplo de norma a ser interpretada
extensivamente é o art. 235 do CP, no qual se incrimina a bigamia. Ora, é possível de se
depreender que, já que a bigamia é ilícita, a poligamia também é.

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3.Conclusão

Para terminar dizer que, Registre-se que em tempos remotos, diante das arbitrariedades
cometidas pelos poderes instituídos chegava-se a afirmar que a interpretação deveria ser
vedada, pois a mesma poderia sofrer dos arbítrios dos juízes, assim, ao elaborar as leis
os legisladores deveriam ser o mais preciso possível. Sobre esse período o Marquês
Cesare Beccaria (2007), defendia em sua obra dos Delitos e das Penas que “os
julgadores dos crimes não podem ter o direito de interpretar as leis penais, pela própria
razão de não serem legisladores. (…) As leis tomam sua força da necessidade de guiar
os interesses particulares para o bem geral e do juramento formal ou tácito que os
cidadãos vivos voluntariamente prestaram ao rei. Qual será, então, o legítimo intérprete
das leis? O soberano, isto é, o depositário das vontades atuais de todos; e nunca o juiz
(…)

Onde assim se dizer, nas palavras do professor Germán Aller (2013) que “a ciência


criminal apresenta desde muitas décadas uma grande evolução, por vezes incrível em
termos de níveis de criatividade, inovação e abstração, mostrando uma verdadeira
explosão de teoria e critérios interpretativos do direito positivo”.

Ao longo do trabalho buscaremos abordar da forma mais clara possível e ao mesmo


tempo objetiva, todos os temas pertinentes a interpretação da lei penal e da analogia em
matéria penal. Convidamos o leitor para que se debruce sobre essa vasta pesquisa.

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4.Bibliografia

ALLER, G. La Democratización Del Derecho Penal. In: Conferencia dada en la


Facultad de Derecho de la Universidad de Castilla La Mancha (UCLM), Toledo, 20 de
diciembre de 2013.

AMARAL, C. P. Cabra. Princípios Penais: da legalidade à culpabilidade. São Paulo:


IBCCrim, 2003.

APALATEGUI, J. M Argumentos, reglas y valores en la interpretación jurídica.


2017. PP. 37-62.

ARECHIGA, M.V. Liber ad Honorem Sergio García Ramírez. La Interpretación de la


Ley Penal. Tomo I. Instituto de Investigaciones Jurídicas. Serie E: VARIOS, Núm. 94.

ASÚA, L. J. Principios del derecho penal: la ley y el delito. 3. ed. Buenos Aires:
Abelado-Perrot, 1958.

ASCENÇÃO, J.O .O direito: introdução e teoria geral. Lisboa: Fundação


Gulbenkian, 1982.

BACIGALUPO, H Manual de Derecho Penal: parte general. Bogotá: Temis, 1996.

BALESTRA, C. F. Tratado de Derecho Penal: parte general. 2. ed. Tomo I. Buenos


Aires: Abeledo-Perrot, 1970.

BARROS, F. M de. Direito Penal – parte geral. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

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