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ITER CRIMINIS DIREITO PENAL

PARTE GERAL
1. CONCEITO

São as fases ou etapas que o agente percorre até chegar à consumação do delito.

FASES DO CRIME
1 Cogitação O agente está apenas pensando no crime que vai cometer.
2 Preparação É a prática de todos os atos que antecedem o início da execução.
3 Execução É o desenvolvimento do núcleo do tipo penal.
4 Consumação É a reunião de todos os elementos constitutivos do crime.

1.1. Cogitação

Dentre as fases do crime, é a única interna, em que o agente está apenas


pensando no crime que vai cometer, sendo uma fase impunível.

1.2. Preparação

É a prática de todos os atos que antecedem o início da execução, não sendo


uma fase punível, salvo se os atos constituírem crime autônomo (ex.: art. 288);

Art. 288. Associarem-se 3 ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
Pena - reclusão, de 1 a 3 anos.
Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver
a participação de criança ou adolescente.

1.3. Execução

É o momento em que se inicia a ofensa ao bem jurídico, por meio do


desenvolvimento do núcleo do tipo penal.

1.4. Consumação

É o momento em que todos os elementos do crime estão reunidos.

Art. 14 - Diz-se o crime:


I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

Art. 14 - Diz-se o crime:


II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à
vontade do agente.

ADVERTÊNCIA
O exaurimento não faz parte das fases do crime, sendo considerado apenas o seu
“esgotamento”, caracterizando os atos praticados após a consumação. O exaurimento
não é punível, salvo se constituir crime autônomo.

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2. TEORIAS PARA DISTINGUIR ATO PREPARATÓRIO DE ATO EXECUTÓRIO

2.1. Teoria da hostilidade ao bem jurídico

Os atos executórios são aqueles que atacam o bem jurídico ou ocasionam uma
situação de risco.

2.2. Teoria objetivo-formal

O ato executório é aquele que inicia a realização do núcleo do tipo penal (verbo).

2.3. Teoria objetivo-individual (preponderante)

Os atos executórios são aqueles que, de acordo com o plano do agente,


realizam-se no momento imediatamente anterior a prática do núcleo do tipo
penal.

3. ESTUDO DO CRIME CONSUMADO

O crime está consumado “quando nele se reúnem todos os elementos de sua


definição legal”.

Art. 14 - Diz-se o crime:


I - consumado, quando nele se reúnem todos os elementos de sua definição legal;

3.1. CLASSIFICAÇÃO DO CRIME EM RAZÃO DA CONSUMAÇÃO

a) Material

É aquele que se consuma com a produção de um resultado naturalístico, ou


seja, provocando alteração no mundo exterior.

Ex.: Homicídio
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de 6 a 20 anos.

• Se o crime deixar vestígios, será obrigatória a realização do exame de


corpo de delito:
CPP, art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de
corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

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b) Formal

É aquele cuja lei descreve uma conduta e um resultado, mas o resultado não
precisa ocorrer para que esteja consumado.

Ex.: Corrupção Ativa


Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para
determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
Pena – reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.

c) Mera Conduta

A lei não descreve o resultado naturalístico, apenas a conduta, que


consumará o crime quando for realizada.

Ex.: Desobediência
Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de 15 dias a 6 meses, e multa.

3.2. CLASSIFICAÇÃO DO CRIME EM RAZÃO DO MOMENTO DA CONSUMAÇÃO

a) Crime Instantâneo

É aquele que produz o resultado imediatamente após a consumação.

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de 6 a 20 anos.

b) Crime Permanente

É aquele cuja consumação se prolonga no tempo.

Art. 159 - Sequestrar pessoa com o fim de obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate:
Pena - reclusão, de 8 a 15 anos.

c) Crime Habitual

É aquele que pressupõe a repetição de condutas para a consumação, sendo


a conduta isolada considerada fato atípico.

Art. 284 - Exercer o curandeirismo:


I - prescrevendo, ministrando ou aplicando, habitualmente, qualquer substância;
II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio;
III - fazendo diagnósticos:
Pena - detenção, de 6 meses a 2 anos.

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4. ESTUDO DO CRIME TENTADO

Também conhecido como crime conatus, crime imperfeito ou crime incompleto, é


aquele que não se consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente.

Art. 14 - Diz-se o crime:


II - tentado, quando, iniciada a execução, não se consuma por circunstâncias alheias à vontade
do agente.

4.1. TEORIAS PARA PUNIR A TENTATIVA

a) Teoria Subjetiva / Monista / Voluntarista

A tentativa deve ser punida da mesma forma que o crime consumado, pois
o que vale é a intenção do agente.

CE, art. 309. Votar ou tentar votar mais de uma vez, ou em lugar de outrem:
Pena - reclusão até 3 anos.

b) Teoria Objetiva / Dualista / Realística

A tentativa é apenada de forma mais branda, em razão da ofensa ao bem


jurídico.

• Em regra, adota-se a Teoria Objetiva, porém, excepcionalmente, alguns


crimes são punidos de acordo com a Teoria Subjetiva, sendo conhecidos
como crimes de atentado;

4.2. REQUISITOS DO CRIME TENTADO

1 Início da execução.
2 Dolo de consumar o crime.
3 Não consumação por circunstâncias alheias à vontade do agente.

• Em regra, o agente é sancionado com a pena do crime que desejava consumar,


reduzida de 1/3 a 2/3, sendo que quanto mais próximo o agente chegar da
consumação, menor será a redução:
Art. 14, parágrafo único - Salvo disposição em contrário, pune-se a tentativa com a
pena correspondente ao crime consumado, diminuída de 1/3 a 2/3.

• A conduta do agente é adequada de forma indireta/mediata, conjugando o


artigo do crime que ele pretendia consumar, com a forma tentada do art. 14,
II, CP (adequação típica mediata);

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4.3. CLASSIFICAÇÃO DA TENTATIVA

O agente esgota completamente os meios de que


Perfeita/Acabada dispunha para lesionar o objeto material.
Ex.: atirador que esgota as munições da arma.
O agente é impedido antes de esgotar toda a sua
Imperfeita/Inacabada potencialidade lesiva.
Ex.: atirador contido por populares.

Cruenta/Vermelha Há produção de lesão na vítima.


Incruenta/Branca A vítima não é atingida, não havendo dano algum.

4.4. INFRAÇÕES QUE NÃO ADMITEM TENTATIVA

1 Contravenção Penal Não admite por expressa previsão legal.


2 Crime Culposo Não admite por não haver dolo na conduta criminosa.
3 Crime Preterdoloso Não admite por haver culpa no agravamento do resultado.
4 Crime Unissubsistente Não admite fracionamento da conduta (um único ato).
5 Crime Habitual Não admite por haver necessidade de condutas repetidas.
6 Crime Omissivo Próprio Não se pode tentar não fazer algo.
7 Crime de Perigo Abstrato Não admite por também ser um crime unissubsistente.
8 Crime de Atentado Não admite por que a tentativa já consuma o crime.

5. CRIME IMPOSSÍVEL / QUASE CRIME / CRIME OCO / TENTATIVA INIDÔNEA

Ocorre quando a conduta do agente jamais poderia levar o delito à consumação,


seja pela absoluta ineficácia do meio, seja pela absoluta impropriedade do objeto.

Art. 17 - Não se pune a tentativa quando, por ineficácia absoluta do meio ou por absoluta
impropriedade do objeto, é impossível consumar-se o crime.

• A conduta do agente não é enquadrada como crime, não respondendo sequer pela
tentativa;

5.1. HIPÓTESES

a) Ineficácia Absoluta do Meio

É a escolha de um meio de execução que jamais levará à consumação.


Ex.: Uso de arma de brinquedo para matar alguém.

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b) Impropriedade Absoluta do Objeto

Ocorre quando a conduta do agente não é capaz provocar qualquer resultado


lesivo à vítima.
Ex.: Atirar em pessoa já morta.

c) Flagrante Preparado/Provocado

Não se pode estimular a prática de delito com a finalidade de capturar as


pessoas seduzidas, pois os fins não justificam os meios.

Súmula 145/STF - Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia


torna impossível a sua consumação.

• A prisão é ilegal, e o fato praticado pela pessoa seduzida é enquadrado


como crime impossível;
• No caso do crime de Tráfico de Drogas, como o traficante já tinha a droga
em sua posse ou em estoque quando é abordado por policial disfarçado
de usuário, sua prisão é legal, não se caracterizando um crime impossível,
já que a consumação do tráfico é preexistente à provocação;

Súmula 567/STJ - Sistema de vigilância realizado por monitoramento eletrônico ou


por existência de segurança no interior de estabelecimento comercial, por si só, não
torna impossível a configuração do crime de furto.

5.2. TEORIAS SOBRE O CRIME IMPOSSÍVEL

a) Teoria Sintomática

Em razão da demonstração de perigo que o agente pode oferecer, este


deve ser punido ainda que o crime se mostre impossível.

b) Teoria Subjetiva

O agente é punido com a pena do crime tentado, sendo indiferente o grau


de impropriedade ou ineficácia do objeto.

c) Teoria Objetiva Pura

O crime impossível nunca é punido, pouco importando se a ineficácia ou a


impropriedade são absolutos ou relativos.

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d) Teoria Objetiva Temperada (Adotada)

O crime impossível não é punido somente se a ineficácia ou a


impropriedade forem absolutas, havendo responsabilidade penal se forem
relativas.

6. DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA

O agente inicia execução, mas, mesmo podendo prosseguir até o fim, resolve, por ato
voluntário, interromper o iter criminis.

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que


o resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

• O agente não responde pela tentativa do crime que pretendia praticar, apenas
pelos atos praticados;

7. ARREPENDIMENTO EFICAZ

O agente encerra os atos executórios e pratica uma nova conduta, impedindo a


ocorrência do resultado.

Art. 15 - O agente que, voluntariamente, desiste de prosseguir na execução ou impede que o


resultado se produza, só responde pelos atos já praticados.

• O agente não responde pela tentativa do crime que pretendia praticar, apenas
pelos atos praticados, porém, se o agente não conseguir impedir o resultado,
responderá pelo crime consumado;

7.1. Disposições Comuns

• Ambas são causas de exclusão da tipicidade, visto que incidem sobre o


elemento resultado;
• Em ambos os casos, em regra, o agente responde somente pelos atos
praticados;
• Segundo a Fórmula de Frank, na tentativa, o agente quer consumar, mas não
pode e, na desistência voluntária e no arrependimento eficaz, o agente
pode consumar, mas não quer;
• Se o crime for praticado mediante concurso de pessoas, os institutos serão
comunicáveis aos demais delinquentes;
• A desistência voluntária e o arrependimento eficaz são espécies de tentativa
abandonada/qualificada, em que o resultado não se produz por força da
vontade do agente;

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• Segundo a doutrina, a desistência voluntária e o arrependimento eficaz
passam por 3 fases: início da execução, não consumação e interferência da
vontade do próprio agente;
• Ambos não precisam ser necessariamente espontâneos (partir diretamente
do agente), bastando que sejam voluntários (inclusive se decorrentes de
sugestão ou conselho de terceiro);
• Para a utilização dos institutos, é necessário que a consumação do crime
não ocorra, entretanto, uma vez ocorrida, o agente possui em seu favor uma
atenuante genérica:
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
III - ter o agente:
b) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o
dano;

8. ARREPENDIMENTO POSTERIOR

É uma causa obrigatória de diminuição de pena, aplicável aos crimes praticados sem
violência ou grave ameaça à pessoa, em que o agente, por ato voluntário, repara o
dano ou restitui a coisa antes do RECEBIMENTO da denúncia ou queixa.

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa, reparado o dano
ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da queixa, por ato voluntário do
agente, a pena será reduzida de 1/3 a 2/3.

• O crime foi consumado, mas o agente pratica atos para reparar o dano da vítima;
• A violência contra a pessoa não é admitida, mas contra o objeto é indiferente;
• De acordo com a doutrina, se a violência for culposa, pode ser aplicado o instituto;
• Se o crime for praticado mediante concurso de pessoas, o instituto será
comunicável aos demais delinquentes, ainda que a vítima se recuse a receber a
reparação do dano ou a restituição da coisa;
• Embora seja obrigatória a redução da pena, o benefício não se estende ao coautor
ou partícipe que não tenha voluntariamente realizado o ressarcimento;
• O processo se inicia com o recebimento da petição inicial (denúncia/queixa-crime)
pelo Juiz;
• O pagamento de cheque sem fundos antes do recebimento da denúncia extingue
a punibilidade, porém, se efetuado após o recebimento, a ação penal prossegue:
Súmula 554/STF – O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o
recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

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8.1. REQUISITOS

1 É cabível apenas nos crimes sem violência ou grave ameaça contra a pessoa.
2 A reparação do dano ou restituição da coisa deve ser integral, excluindo todo o dano.
3 O ato deve ser voluntário.
4 O ressarcimento ocorrer até o recebimento da denúncia/queixa (antes do processo).

• O agente responde pelo crime praticado, com redução da pena de 1/3 a 2/3;

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