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Universidade Federal do Piauí

Centro de Educação Aberta e a Distância

DIREITO
COMERCIAL

Marcos Daniel da Silva Rocha


Ministério da Educação - MEC
Universidade Aberta do Brasil - UAB
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD

Direito Comercial

Marcos Daniel da Silva Rocha


PRESIDENTE DA REPÚBLICA Dilma Vana Rousseff Linhares
MINISTRO DA EDUCAÇÃO José Henrique Paim
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REVISÃO ORTOGRÁFICA Elizabeth Carvalho Medeiros Profª. Iracildes Maria Moura Fé Lima
REVISÃO GRÁFICA Aurenice Pinheiro Tavares Prof. Dr. João Renôr Ferreira de Carvalho

R672d Rocha, Marcos Daniel da Silva


Direito Comercial / Marcos Daniel da Silva Rocha. - Teresina: EDUFPI, 2013.

158p

ISBN:

1. Empresário Individual. 2. Registro Empresarial. 3. Livros Empresariais.


4. Educação a distância. I. Título.

CDD: 658.04

© 2014. Universidade Federal do Piauí - UFPI. Todos os direitos reservados.

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contra a propriedade intelectual, com sanções previstas no Código Penal. É proibida a venda deste material.
O presente material contempla algumas noções acerca de temas que
compõem o universo jurídico. Ela cuida dos aspectos fundamentais relativos
ao Direito Comercial, abordando assuntos que dizem respeito ao empresário
individual e às sociedades empresárias, mas que repercutem, direta e
indiretamente, na vida de toda a coletividade.
Deve ficar claro que todos os temas aqui abordados podem ser
aprofundados. Noutras palavras, o enfoque aqui ofertado é compatível com o
propósito do curso, e não poderia ser diferente; mas as leituras e pesquisas
aqui sugeridas devem complementar possíveis e naturais lacunas.
No final de cada unidade, serão propostas questões de fixação e
aprofundamento do conteúdo.

BONS ESTUDOS!!!
UNIDADE 1
11 DO PERFIL DO DIREITO COMERCIAL

Conceito e Objeto.......................................................................1 3
Evolução Histórica......................................................................1 3
Autonomia..................................................................................1 6
Da Empresa e sua Função Social................................................1 7

UNIDADE 2
21 DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL

Conceito.....................................................................................23
Excluídos do Conceito de Empresário Individual........................23
Requisitos para o Exercício Individual da Empresa.....................24
Da Natureza Jurídica do Empresário Individual..........................30

UNIDADE 3
35 DO REGISTRO EMPRESARIAL

Órgãos do Registro de Empresa.................................................37


Importância do Registro e Consequências da Ausência de
Registro......................................................................................39
Registro e Autorização Estatal para o Exercício de Atividade
Empresarial................................................................................40
Caráter Público dos Atos Registrários.........................................44
Prazo para Realizar o Registro....................................................44
Os Atos Compreendidos pelo Registro de Empresa...................44
Estrutura da Junta Comercial ....................................................45
Processo Decisório.....................................................................45
Do Processo Revisional...............................................................46
Subordinação Jurídica Híbrida da Junta Comercial.....................47
UNIDADE 4
49 DO NOME EMPRESARIAL

Conceito.....................................................................................51
As Espécies de Nome Empresarial..............................................51
Do Nome Empresarial Relativo a Cada uma das Modalidades de
Sociedade...................................................................................52
A Formação e a Proteção do Nome Empresarial........................53
Das Marcas.................................................................................53
Nome Tempresarial e Título de Estabelecimento.......................59
Repressão ao uso Indevido do Nome Empresarial.....................60

UNIDADE 5
61 DOS LIVROS EMPRESARIAIS

Conceito.....................................................................................6 3
Importância................................................................................6 3
Requisitos da Escrituração..........................................................6 4
Sigilo e Exibição dos Livros Empresariais....................................6 5
Extravio, Deterioração ou Perda de Livros Empresariais............6 6
A Ausência de Escrituração Regular e suas Consequências.......6 7
Guarda e Conservação dos Livros Empresariais.........................6 7

UNIDADE 6
69 DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

Conceito.....................................................................................71
Elementos do Estabelecimento Empresarial .............................71
Alienação do Estabelecimento Empresarial...............................72
Da Locação Empresarial.............................................................73

UNIDADE 7
75 DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

Colocação do Problema..............................................................77
Pressupostos de Existência da Sociedade Empresária...............77
Requisitos de Validade da Sociedade.........................................78
Das Sociedades Limitadas..........................................................79
Das Sociedades Anônimas..........................................................85
Dissolução Parcial da Sociedade Empresária..............................91
Extinção Societária.....................................................................91
UNIDADE 8
93 DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Conceito.....................................................................................95
Classificação dos Títulos de Crédito...........................................95
Princípios dos Títulos de Crédito................................................97
Do Endosso.................................................................................98
Do Aval.....................................................................................100
Vencimento, Pagamento e Protesto.........................................102
Do Cheque Pré-datado.............................................................105

UNIDADE 9
107 DA RECUPERAÇÃO EMPRESARIAL

Noção, Importância e Espécies.................................................109


Quem Pode Requerer Recuperação Empresarial.....................113
Meios de Recuperação.............................................................114
Dos Documentos que Devem Acompanhar o Pedido de
Recuperação.............................................................................115
Convolação da Recuperação Empresarial em Falência.............116
Panorama Esquemático do Processamento da Recuperação
Empresarial Judicial..................................................................117

UNIDADE 10
119 DA FALÊNCIA

Noção e Importância................................................................121
Princípios que Regem o Direito Falimentar..............................122
O Caráter Menos Severo do Regime Falimentar......................124
Quem é o Devedor Sujeito à Falência?.....................................125
Quem Pode Requerer a Decretação da Falência?....................126
Hipóteses Legais de Decretação da Falência............................126
Da Classificação dos Créditos na Falência ................................127
Sentença Declaratória da Falência...........................................129
Efeitos da Decretação da Falência............................................130
Crimes Falimentares.................................................................132
Panorama Esquemático do Processamento da Recuperação
Empresarial Judicial..................................................................134
UNIDADE 1
Do Perfil do Direito Comercial

Resumindo
Na presente unidade é feita uma breve apresentação do Direito Comercial: seu conceito, sua
importância, suas relações com outras disciplinas jurídicas e o processo de sua formação histórica.
DO PERFIL DO DIREITO
COMERCIAL

CONCEITO E OBJETO

O Direito Comercial, também conhecido e designado modernamente


como Direito Empresarial, é o ramo do direito privado que tem por objeto
a disciplina da atividade econômica organizada segundo os aspectos de
produção e circulação de bens e serviços com finalidade lucrativa.
Neste sentido, Fazzio Júnior afirma que devemos entender o Direito
Comercial como um conjunto de normas que focaliza:

As relações jurídicas derivadas do exercício da atividade


empresarial. Disciplina a solução de pendências entre
empresários, bem como os institutos conexos à atividade
econômica organizada de produção e circulação de bens
(contratos, títulos de crédito, insolvência etc). Tem por
objeto a empresa, como unidade serviçal do mercado
cuja existência está amarrada ao intuito do lucro (FÁZZIO
JUNIOR, 2008, p. ?)

O Direito Comercial cuida da regulamentação jurídica de atividades


como a indústria, o comércio e a prestação de serviços, temas presentes,
direta ou indiretamente, na vida cotidiana de cada um de nós.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

O Direito Comercial, como disciplina jurídica autônoma, somente


surgiu na Idade Média, mais exatamente no século XII.
Deve ficar claro que o comércio é praticado desde a Antiguidade.

Do Perfil do Direito Comercial 13


Porém, um ramo específico do direito para cuidar da regulamentação dessa
atividade econômica somente surgiu, como mencionado, bem depois.
Para o nascimento do Direito Comercial foi fundamental o papel
desempenhado pelas chamadas corporações de mercadores, entidades
privadas criadas pelos mercadores.
Frederico Viana Rodrigues assevera que:

Com o incremento do comércio, fortaleceram-se os grupos


profissionais dos mercadores, chamados de corporações
de ofício. Bem organizadas, as corporações passaram
a tutelar os interesses de seus membros em face da
impotência do Estado.

Outra não é a opinião de Alfredo de Assis Gonçalves Neto, para quem


“nasceu o direito comercial como obra dos comerciantes da Idade Média; foi
por eles criado e aplicado para regular as relações jurídicas relativas aos
negócios que celebravam entre si”.
Somente era considerado comerciante aquele que estivesse
registrado em uma corporação.
Tais entidades desempenhavam duas atividades muito importantes.
De um lado produziam suas próprias normas internas; de outro julgavam os
conflitos eventualmente verificados entre os comerciantes filiados.
A segunda grande fase da formação histórica do Direito Comercial
teve lugar na França, se estendendo do final do século XVIII até meados do
século XX. Sobre o período em exame, assim se manifestou Fábio Ulhoa
Coelho:

No início do século XIX, em França, Napoleão, com a


ambição de regular a totalidade das relações sociais,
patrocina a edição de dois monumentais diplomas
jurídicos: o Código Civil (1804) e o Comercial (1808).
Inaugura-se, então, um sistema para disciplinar as
atividades dos cidadãos, que repercutirá em todos os
países de tradição romana, inclusive o Brasil. De acordo
com este sistema, classificam-se as relações que hoje em
dia são chamadas de direito privado em civis e comerciais.
Para cada regime, estabelecem-se regras diferentes sobre
contratos, obrigações, prescrição, prerrogativas, prova
judiciária e foros. A delimitação do campo de incidência do
Código Comercial é feita, no sistema francês, pela teoria
dos atos de comércio.

14 unidade 1
Para o doutrinador italiano Alfredo Rocco, era considerado ato de
comércio todo ato que realiza ou facilita a atividade de interposição na troca.
A teoria dos atos de comércio não tardou em ser superada,
notadamente em face de sua reconhecida debilidade para servir como critério
científico para a caracterização da matéria sujeita ao regime comercial.
Neste sentido, tornou-se célebre a afirmação do professor paulista
Brasílio Machado, para quem a teoria dos atos de comércio, notadamente
a definição de ato de comércio, representava “problema insolúvel para a
doutrina, martírio para o legislador, enigma para a jurisprudência”.
Possuindo como marco inicial a entrada em vigor do Código Civil
italiano de 1942, tem início a fase atual da formação histórica do direito
empresarial. A etapa em exame tem como núcleo a teoria da empresa, marco
teórico que altera as fronteiras entre o Direito Comercial e o Direito Civil, de
modo que algumas atividades classicamente consideradas civis passam a
ser objeto de regulação pelo Direito Comercial.
Sobre o sistema italiano da disciplina jurídica das atividades
econômicas, assim se pronuncia Fábio Ulhoa Coelho:

A teoria da empresa é, sem dúvida, um novo modelo


de disciplina privada da economia, mais adequado à
realidade do capitalismo superior. Mas através dela não
se supera, totalmente, um certo tratamento diferenciado
das atividades econômicas. O acento da diferenciação
deixa de ser posto no gênero da atividade e passa para
a medida de sua importância econômica. Por isso é mais
apropriado entender a elaboração da teoria da empresa
como o núcleo de um sistema novo de disciplina privada da
atividade econômica e não como expressão da unificação
dos direitos comercial e civil.

Prosseguindo em seu raciocínio, arremata o autor paulista:

A adoção da teoria da empresa não implica a superação


da bipartição do direito privado, que o legado jurídico de
Napoleão tornou clássica nos países de tradição romana.
Altera o critério de delimitação do objeto do Direito
Comercial — que deixa de ser os atos de comércio e
passa a ser a empresarialidade —, mas não suprime a
dicotomia entre o regime jurídico civil e comercial. A partir
da teoria da empresa, o Direito Comercial (empresarial,
de empresa, dos negócios – é indiferente a denominação

Do Perfil do Direito Comercial 15


que se lhe dê) deixa de ser o ramo jurídico aplicável à
exploração de certas atividades (as listadas como atos
de comércio) e passa a ser o direito aplicável quando a
atividade é explorada de uma determinada forma (qual
seja, a forma empresarial).

No Brasil, sob o regime do Código Comercial de 1850 e do Decreto


737, foi adotada a teoria francesa dos atos de comércio.
A teoria italiana da empresa começou a ser adotada, ainda que de
maneira esparsa, no direito brasileiro a partir de várias leis como o Código
de Defesa do Consumidor (Lei n. 8078/90) e a Lei do Registro Público de
Empresas Mercantis (Lei n.8934/94). Entretanto, é o Código Civil de 2002
que consolida a teoria da empresa no direito nacional afastando por completo
a teoria dos atos de comércio.

AUTONOMIA

O Código Civil Brasileiro, lei que entrou em vigor no dia 11/01/2003,


trouxe várias novidades para o ordenamento jurídico brasileiro. Entre elas,
merece ser lembrada a revogação da primeira parte do Código Comercial e
a absorção dos assuntos que lá eram tratados. Tal fato acendeu discussões
sobre uma suposta perde de autonomia por parte do Direito Comercial, uma
vez que boa parte do código comercial foi afetada.
Ocorre que não há razão alguma para tal questionamento. Mesmo
diante do fato acima descrito, o direito comercial preservou integralmente
sua autonomia, seja do ponto de vista científico, do ponto de vista legal ou do
ponto de vista didático.
Sobre o tema, assim se pronunciou Fábio Ulhoa Coelho

Em outras palavras, o fim da autonomia legislativa dos


preceitos normativos relacionados aos interesses dos
empresários (expresso, no Brasil, pela revogação da
primeira parte do Código Comercial de 1850 pelo novo
Código Civil) não significa necessariamente o fim da
autonomia didática do Direito Comercial. Na verdade,
desde que a lei de 11 de agosto de 1827 instituiu os
cursos jurídicos no Brasil e até que se altere a Portaria
Ministerial que define as disciplinas obrigatórias do curso
de graduação em Direito, direito comercial gozará de
autonomia didática. Nenhuma Faculdade poderá outorgar

16 unidade 1
aos seus alunos o grau de bacharel em Direito sem lhes ter
oferecido a disciplina com esta denominação em unidades
curriculares autônomas. A demonstração inequívoca de
que não se confunde, senão por desinformação ou má-fé,
as autonomias legislativa e didática do direito comercial
encontra-se numa breve pesquisa à questão na Itália e
Suíça. Como se sabe, são estes os dois países de tradição
jurídica romana cujo direito privado, antes do Brasil, foi
legislativamente unificado. Em nenhum deles, o Direito
Comercial deixou de existir como disciplina universitária
independente.

Em face do exposto, seja sob a designação direito comercial, seja


sob a denominação direito empresarial, a disciplina do direito ora objeto de
nossa atenção continua sendo ramo jurídico autônomo, tanto do ponto de
vista legislativo como sob o enfoque didático e doutrinário.

DA EMPRESA E SUA FUNÇÃO SOCIAL

Classicamente, sob os influxos do ideário liberal, a atividade negocial,


o contrato e a propriedade eram tidos como imunes a qualquer interferência
estatal, na medida em que o mercado seria bastante para promover sua
própria regulamentação.
Com o surgimento do Welfare State, no início do século XX, a
situação muda de figura. O papel reservado ao Estado deixa de ser de um
mero espectador do jogo negocial e passa a ser de um regulador.
Profundas modificações são implementadas no contorno jurídico
da atividade negocial, de modo que esta somente encontra justificação e
legitimidade se estiver em consonância com a chamada função social.
Com propriedade, Rodrigo Almeida Magalhães afirma:

Atualmente, a empresa não é mais vista tendo como único


objetivo o lucro. Ela passou a ser uma instituição social,
que pela sua importância, desenvolvimento e influência
dependem toda a humanidade. Nela, a maior parte da
população possui alguma ligação, seja como sócio,
empregado, consumidor. É uma instituição social porque
provém a grande maioria de bens e serviços da sociedade
e, ainda, dá ao Estado grande parcela de suas receitas
fiscais.

Do Perfil do Direito Comercial 17


Na legislação, embora a Constituição Federal de 1988 não utilize
a expressão função social, o seu artigo 170 inequivocamente estabelece
parâmetros, condicionantes, incidentes sobre o exercício de qualquer
atividade econômica em território nacional:

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça
social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno
porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua
sede e administração no País.

Ainda na legislação, cabe mencionar o artigo 47 da Lei n. 11.101


de 2005 (Lei de Falências e Recuperação Empresarial), dispositivo que faz
explícita referência à função social da empresa nos seguintes termos:

Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a


superação da situação de crise econômico-financeira do
devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora,
do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estímulo à atividade econômica.

Diante de todo o exposto, deve ficar claro que a empresa não pode
mais ser considerada como um fim em si mesma, isolada e indiferente à
realidade que a cerca, mas sim como um poderoso instrumento de redução
da pobreza e disseminação de riqueza e desenvolvimento.

18 unidade 1
EXERCÍCIO

1) Qual o objeto de estudo do direito comercial?

2) Quais as etapas da formação histórica do direito comercial?

3) O Código Civil de 2002 retirou a autonomia do direito comercial no Brasil?


Justifique sua resposta.

4) Em que consiste a função social da empresa?

Do Perfil do Direito Comercial 19


UNIDADE 2
Do Empresário Individual

Resumindo
Na presente unidade é feito um estudo do empresário individual: seu conceito, sua natureza
jurídica, os requisitos para ser empresário individual, com especial enfoque na capacidade e na
proibição.
DO EMPRESARIO INDIVIDUAL

CONCEITO

Preliminarmente, deve ficar claro que a atividade empresarial pode


ser exercida através de duas formas distintas: por empresário individual e
pelas sociedades empresárias. Delas nos ocuparemos mais adiante.
É considerado empresário, de acordo com o que informa o artigo 966
do Código Civil, o exercente de atividade econômica organizada de produção
e circulação de bens e serviços com o objetivo de lucro.
A moderna figura do empresário não pode ser confundida com a
tradicional figura do comerciante. Realmente, quando se fala em comerciante
normalmente vem à mente a ideia de intermediário, de especulador, daquele
que se interpõe entre o produtor e o consumidor com o objetivo de obter mais
valia, de obter lucro.
A atividade do empresário vai além da mera intermediação,
compreendendo também, como mencionado no conceito acima, a produção,
a circulação de bens, e a prestação de serviços.
O empresário individual exerce sua atividade pessoalmente, por sua
conta e risco, tomando decisões e suportando os riscos inerentes à atividade.
Ainda que se utilize de gerentes, deve ficar claro que a atuação desses
profissionais deve ser imputada à pessoa do empresário.

EXCLUÍDOS DO CONCEITO DE EMPRESÁRIO INDIVIDUAL

O já mencionado artigo 966 do Código Civil, mais exatamente em


seu parágrafo único, enuncia que não são considerados empresários os
profissionais exercentes de atividade intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores,

Do Empresário Individual 23
salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa.
O Conselho da Justiça Federal, na III Jornada de Direito Civil, editou
sobre o assunto em exame o Enunciado n. 194, que diz que “Os profissionais
liberais não são considerados empresários, salvo se a organização dos fatores
da produção for mais importante que a atividade pessoal desenvolvida”.
No mesmo sentido foi a edição do Enunciado n. 195, dispondo que:

A expressão ‘elemento de empresa’ demanda interpretação


econômica, devendo ser analisada sob a égide da
absorção da atividade intelectual, de natureza científica,
literária ou artística, como um dos fatores da organização
empresarial.

Para arrematar o presente tópico, merece lembrança a situação


descrita por Sylvio Marcondes ao retratar como exemplo da distinção entre
atividades empresariais e não empresariais a situação do médico, o qual,
enquanto exerce direta e isoladamente a medicina, atendendo em seu
consultório, não é considerado empresário. Porém, a partir do instante
em que a atividade médica é prestada sob a estrutura de um hospital,
multiprofissional, procurado pelos pacientes por ser um verdadeiro complexo
de serviços de saúde, estamos diante de uma atividade empresarial.

REQUISITOS PARA O EXERCÍCIO INDIVIDUAL DA EMPRESA

O exercício individual da empresa depende do preenchimento de


dois requisitos básicos: capacidade e ausência de proibição. Neste sentido
estabelece o artigo 972 do Código Civil, ao informar que podem exercer a
atividade de empresário os que estiverem em pleno gozo da capacidade civil
e não forem legalmente impedidos.
Para um melhor entendimento dos requisitos é necessária uma breve
exposição do que vem a ser a capacidade.

O requisito da capacidade civil

A capacidade civil se desdobra em capacidade de direito e capacidade


de fato. Também chamada de capacidade de gozo ou capacidade de aquisição,
a capacidade de direito consiste na possibilidade de gozar direitos. Quem
tem aptidão para adquirir direitos deve ser apto a usufruí-los e exercê-los, por

24 unidade 2
si ou por via de representação. É adquirida a partir do nascimento com vida.
Também chamada de capacidade de exercício, a capacidade de
fato consiste na aptidão para exercer pessoalmente os direitos na vida
civil, exercendo-os por si mesmo, sem necessidade de assistência ou
representação.

Das incapacidades

Para que se possa entender melhor o sentido e o alcance da


capacidade, é necessário que se tenha clareza sobre o que vem a ser o seu
oposto: a incapacidade.
a) Conceito – consiste na restrição legal ao exercício dos atos da
vida civil, imposta pela lei àqueles que necessitam de proteção, exatamente
por lhes faltar o necessário discernimento (seja em razão da idade reduzida,
seja em razão de distúrbio psíquico) para entender a realidade que os cerca
e com ela interagir.
Inexiste incapacidade de direito, eis que todas as pessoas, desde o
nascimento com vida, têm garantido o usufruto dos direitos que titularizam.
A incapacidade diz respeito, na verdade, ao exercício pessoal e individual de
direitos.
b) Modalidades – de acordo com o grau de comprometimento do
discernimento, de acordo com a maior ou menor incidência de obstáculo ao
pleno entendimento da realidade a incapacidade é classificada em absoluta
e relativa.
b.1) Incapacidade Absoluta – os absolutamente
incapazes não têm discernimento. Não podem, portanto, A situação jurídica dos índios
é regulada em lei específica:
exercer pessoalmente seus direitos, devendo ser representados
a Lei n. 6.001, de 19 de
por um tutor (se o absolutamente incapaz for menor) ou por um dezembro de 1973 (Estatuto
curador (se a incapacidade absoluta deriva de outros motivos do Índio). Acesse em http:www.
que não a menoridade). A atuação do absolutamente incapaz planalto.gov.br/civil_03/leis/
L600.htm para conhecê-la.
fora dos contornos aqui traçados torna o ato realizado viciado
por nulidade absoluta.

De acordo com o artigo 3º do Código Civil, são considerados


absolutamente incapazes:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o

Do Empresário Individual 25
necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua
vontade.

b.2) Incapacidade Relativa – os relativamente incapazes já possuem


algum discernimento, embora não seja ainda o necessário para permitir-lhes
uma livre atuação civil. Podem exercer pessoalmente seus direitos, carecendo,
porém, da atuação conjunta de um assistente. Devem, portanto, ser assistidos
por um tutor (se o relativamente incapaz for menor) ou por um curador (se
a incapacidade relativa deriva de outros motivos que não a menoridade). A
atuação do relativamente incapaz fora dos limites aqui indicados torna o ato
realizado viciado por nulidade relativa (também chamada de anulabilidade).
De acordo com o artigo 4º do Código Civil, são considerados
relativamente incapazes:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência
mental, tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.

c) Cessação da Incapacidade - de acordo com o artigo 5o do Código


Civil, a menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa
fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil, tornando-se, portanto
plenamente capaz.
Entretanto, o mesmo artigo estabelece situações excepcionais em
que a plena capacidade civil poderá ser alcançada antes da idade de dezoito
anos.
São as hipóteses caracterizadoras da emancipação, ou seja, da
antecipação da plena capacidade civil. Saliente-se que uma vez concedida a
emancipação não mais poderá ser objeto de revogação.
Existem três modalidades de emancipação:
- emancipação voluntária: é aquela concedida pelos pais, ou por um
deles na falta do outro, mediante escritura pública, independentemente de
homologação judicial, se o menor tiver dezesseis anos completos;
- emancipação judicial: é aquela concedida por sentença do juiz,
ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
- emancipação legal ou tácita: é aquela adquirida pelo menor, em

26 unidade 2
razão da ocorrência de um dos seguintes eventos:
- pelo casamento;
- pelo exercício de emprego público efetivo;
- pela colação de grau em curso de ensino superior;
- pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de
relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis
anos completos tenha economia própria.

d) Excepcional possibilidade de exercício da atividade empresarial


individual por incapaz – Os artigos 974 a 976 do Código Civil de 2002
trazem, de maneira inovadora, a excepcional possibilidade de exercício
individual de atividade empresarial por incapaz.
Sobre o tema assim se manifesta Fábio Ulhoa Coelho:

No interesse do incapaz, prevê a lei hipótese excepcional


de exercício da empresa: pode ser empresário individual
o incapaz autorizado pelo juiz. O instrumento desta
autorização denomina-se alvará, A circunstância em que
cabe essa autorização é especialíssima. Ela só poderá
ser concedida pelo Judiciário para o incapaz continuar
exercendo empresa que ele mesmo constituiu, enquanto
ainda era capaz, ou que foi constituída por seus pais
ou por pessoa de quem o incapaz é sucessor. Não há
previsão legal para o juiz autorizar o incapaz a dar início a
novo empreendimento.

Deve ficar claro que o incapaz judicialmente autorizado deve ser


representado ou assistido (conforme seja absoluta ou relativamente incapaz)
no exercício da atividade.
Saliente-se ainda que para autorizar a continuidade da empresa
pelo incapaz, o juiz deve se convencer, após exame das circunstâncias e
dos riscos da empresa, bem como da conveniência em continuá-la, que a
continuidade será boa para os interesses do incapaz.
Por fim, não se pode perder de vista que a autorização pode ser
revogada a qualquer tempo pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes
legais do menor ou do interdito.

Do Empresário Individual 27
SAIBA MAIS

Para saber mais sobre o excepcional exercício individual da atividade


empresarial por incapaz, leia os artigos 974 a 976 do Código Civil:
Art. 974. Poderá o incapaz, por meio de representante ou devidamente
assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por
seus pais ou pelo autor de herança.
§ 1o Nos casos deste artigo, precederá autorização judicial, após
exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem como da conveniência
em continuá-la, podendo a autorização ser revogada pelo juiz, ouvidos os
pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo
dos direitos adquiridos por terceiros.
§ 2o Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que
o incapaz já possuía, ao tempo da sucessão ou da interdição, desde que
estranhos ao acervo daquela, devendo tais fatos constar do alvará que
conceder a autorização.
Art. 975. Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que,
por disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará,
com a aprovação do juiz, um ou mais gerentes.
§ 1o Do mesmo modo será nomeado gerente em todos os casos em
que o juiz entender ser conveniente.
§ 2o A aprovação do juiz não exime o representante ou assistente do
menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados.
Art. 976. A prova da emancipação e da autorização do incapaz,
nos casos do art. 974, e a de eventual revogação desta, serão inscritas ou
averbadas no Registro Público de Empresas Mercantis.
Parágrafo único. O uso da nova firma caberá, conforme o caso,
ao gerente; ou ao representante do incapaz; ou a este, quando puder ser
autorizado.

Do impedimento ou proibição para ser empresário

Em princípio, todas as pessoas desfrutam de legitimidade jurídica


para o exercício de atividade empresarial, salvo expressa disposição legal
em sentido contrário. Não por acaso, a Constituição Federal de 1988, em seu
artigo 5, XIII, proclama que é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou
profissão, atendidas as qualificações que a lei estabelecer.

28 unidade 2
De acordo com lista elaborada pelo DNRC (Departamento Nacional
do Registro do Comércio), estão impedidos de exercer individualmente a
atividade empresarial, entre outros, os seguintes sujeitos:

• os chefes do Poder Executivo, nacional, estadual ou municipal;


• os membros do Poder Legislativo, como senadores, deputados
federais e estaduais e vereadores, se a empresa “goze de favor
decorrente de contrato com pessoa jurídica de direito público, ou
nela exercer função remunerada”;
• os magistrados;
• os membros do Ministério Público Federal;
• os empresários falidos, enquanto não forem reabilitados;
• as pessoas condenadas a pena que vede, ainda que
temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime
falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão,
peculato; ou contra a economia popular, contra o sistema
financeiro nacional, contra as normas de defesa da concorrência,
contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade,
enquanto perdurarem os efeitos da condenação;
• os leiloeiros;
• os cônsules, nos seus distritos, salvo os não remunerados;
• os médicos, para o exercício simultâneo da farmácia; os
farmacêuticos, para o exercício simultâneo da medicina;
• os servidores públicos civis da ativa, federais (inclusive Ministros
de Estado e ocupantes de cargos públicos comissionados em
geral). Em relação aos servidores estaduais e municipais observar
a legislação respectiva;
• os servidores militares da ativa das Forças Armadas e das Polícias
Militares;
• estrangeiros (sem visto permanente).

A pessoa legalmente impedida de exercer atividade própria de


empresário, se a exercer, responderá pelas obrigações contraídas. A
referente diretriz, contida no artigo 973 do Código Civil, é bem razoável, pois
caso fosse admitido o contrário, estar-se-ia premiando a conduta ilícita do
exercente.

Do Empresário Individual 29
Por fim, cabe mencionar que tanto os proibidos como os incapazes
podem ser sócios de sociedades empresárias.
Com relação aos proibidos, é suficiente que não tenham poder de
gestão da entidade. A título de exemplo, mencione-se o disposto no artigo
117, X, da Lei n. 8112/90 (lei que estabelece o regime jurídico dos servidores
públicos da União, suas autarquias e fundações públicas), no sentido de que
é vedado ao servidor “participar de gerência ou administração de sociedade
privada, personificada ou não personificada, exercer o comércio, exceto na
qualidade de acionista, cotista ou comanditário”.
Com relação aos incapazes, devem estar representados
(absolutamente incapazes) ou assistidos (relativamente incapazes); não
podem ter poder de administração; e o capital da sociedade (no caso de
uma sociedade limitada) ou pelo menos a participação do incapaz (no caso
de uma sociedade anônima) deve estar plenamente integralizada, paga,
disponibilizada para a sociedade.
Saliente-se que, diversamente dos servidores públicos, inexiste
dispositivo legal autorizativo para os incapazes, de modo que a possibilidade
acima descrita é fruto de construção doutrinária e jurisprudencial.

DA NATUREZA JURÍDICA DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL

Dentre os modos de exercer a atividade empresarial, tem predominado


o exercício individual e a adoção da forma societária da sociedade limitada.
As estatísticas sobre o registro de empresários individuais e de
sociedades empresárias, disponíveis no site do Departamento Nacional do
Registro de Empresa, assim revelam:

30 unidade 2
Estatísticas

CONSTITUIÇÃO DE EMPRESAS POR TIPO JURÍDICO - BRASIL - 1985-


2005
FIRMA SOCIE- SOCIE-
COOPE- OUTROS
ANOS INDIVI- DADE DADE TOTAL
RATIVAS TIPOS
DUAL LIMITADA ANÔNIMA
1985 168.045 148.994 1.140 363 66 318.608
1986 277.350 238.604 1.034 297 204 517.489
1987 222.847 195.451 857 319 161 419.635
1988 208.017 184.902 1.214 404 128 394.665
1989 240.807 209.206 1.251 437 151 451.852
1990 279.108 246.322 748 438 141 526.757
1991 248.590 248.689 611 447 156 498.493
1992 221.604 207.820 594 515 132 430.665
1993 254.608 240.981 697 757 161 497.204
1994 264.202 245.975 731 657 207 511.772
1995 263.011 254.581 829 879 187 519.487
1996 252.765 226.721 1.025 1.821 360 482.692
1997 275.106 254.029 1.290 2.386 410 533.221
1998 239.203 223.689 1.643 2.258 335 467.128
1999 244.185 229.162 1.422 2.330 246 477.345
2000 225.093 231.654 1.466 2.020 369 460.602
2001 241.487 245.398 1.243 2.344 439 490.911
2002 214.663 227.549 1.012 1.556 371 445.151
2003 228.597 240.530 1.273 1.503 310 472.213
2004 222.020 236.072 1.366 2.438 303 462.199
2005 240.306 246.722 1.800 1.297 413
TOTAL 4.569.288 4.300.257 20.080 21.731 4.534 8.915.890
FONTE: Juntas Comerciais.

Para ver mais estatísticas do DNRC, visite a página www.dnrc.gov.br

A predileção pelo exercício individual da empresa talvez se deva ao


alarmante desemprego, fato que naturalmente desencadeia um irracional
ímpeto empreendedor; e também por ignorância, já que as pessoas imaginam
ser o empresário individual pessoa jurídica.

Do Empresário Individual 31
Em razão do último motivo, saliente-se que os leigos acreditam que,
sendo empresários individuais, apenas os seus bens diretamente vinculados
ao exercício da atividade estariam sujeitos a serem penhorados para a
satisfação do crédito daqueles a quem devem. Acreditam erroneamente que
seus bens não empregados na atividade empresarial estariam imunes aos
credores.
Que fique claro, então! O empresário individual é pessoa física e,
como tal, seu patrimônio é unitário, estando todo ele (à exceção dos bens
que permitam uma existência digna ao devedor, notadamente o imóvel em
que reside e os bens que nele constam) vinculado à sorte da atividade
empresarial.

Para saber mais sobre as regras tributárias incidentes sobre o empresário


individual, acesse a página: www.receita.fazenda.gov.br.

Apenas para fins tributários é que o empresário individual é equiparado


a pessoa jurídica, apenas equiparado (como dito, ele não é pessoa jurídica).
Assim dispõe o artigo 150 do mencionado decreto:

Art. 150. As empresas individuais, para os efeitos do


imposto de renda, são equiparadas às pessoas jurídicas
(Decreto-Lei nº 1.706, de 23 de outubro de 1979, art. 2º).
§ 1º São empresas individuais:
I - as firmas individuais (Lei nº 4.506, de 1964, art. 41, §
1º, alínea “a”);
II - as pessoas físicas que, em nome individual, explorem,
habitual e profissionalmente, qualquer atividade econômica
de natureza civil ou comercial, com o fim especulativo de
lucro, mediante venda a terceiros de bens ou serviços (Lei
nº 4.506, de 1964, art. 41, § 1º, alínea “b”);
III - as pessoas físicas que promoverem a incorporação
de prédios em condomínio ou loteamento de terrenos, nos
termos da Seção II deste Capítulo (Decreto-Lei nº 1.381,
de 23 de dezembro de 1974, arts. 1º e 3º, inciso III, e
Decreto-Lei nº 1.510, de 27 de dezembro de 1976, art. 10,
inciso I).

O objetivo da norma tributária em exame é, unicamente, propiciar


para o empresário individual um tratamento tributário menos severo do que o
destinado às pessoas físicas.

32 unidade 2
Quanto à obrigatoriedade de inscrição do empresário individual no
C.N.P.J. (Cadastro Nacional das Pessoas Jurídicas), nada mais natural pode
haver, uma vez que o C.N.P.J. é um mero cadastro da Receita Federal que,
por óbvio, não tem o poder de alterar a essência jurídica daqueles que a ele
estão submetidos.

EXERCÍCIO

1) Conceitue empresário individual.

2) Indique e explique os requisitos para ser empresário individual.

3) Qual a diferença entre a incapacidade e a proibição?

4) O empresário individual é pessoa física ou pessoa jurídica? Justifique sua


resposta.

Do Empresário Individual 33
UNIDADE 3
Do Registro Empresarial

Resumindo
Na presente unidade será feito um estudo sobre o registro público de empresas, abrangendo: os
órgãos do sistema de registro; a importância e as conseqüências da ausência de registro; os tipos
de registro; a autorização para exercer atividade empresarial.
DO REGISTRO EMPRESARIAL

ÓRGÃOS DO REGISTRO DE EMPRESA

É através do SINREM (Sistema Nacional do Registro de


Empresas Mercantis) que se processa o registro dos empresários
Visite o site da Junta Comercial
individuais, das sociedades empresárias, de profissionais que
do Estado do Piauí no
atuam como colaboradores do setor empresarial (tradutores, endereço: http://www.jucepi.
corretores e leiloeiros, por exemplo), e dos livros empresariais pi.gov.br/index.php
e demais documentos pertinentes à atividade empresarial. O
referido sistema tem sua atuação desdobrada em dois níveis ou
planos:

Plano federal

DNRC (Departamento Nacional do Registro do Comércio), órgão


federal, integrante do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior. Suas atribuições, previstas no artigo 4 da Lei n. 8934, de 1994, são
as seguintes:
• supervisionar e coordenar, no plano técnico, os órgãos incumbidos
da execução dos serviços de Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins;
• estabelecer e consolidar, com exclusividade, as normas e
diretrizes gerais do Registro Público de Empresas Mercantis e
Atividades Afins;
• solucionar dúvidas ocorrentes na interpretação das leis,
regulamentos e demais normas relacionadas com o registro de
empresas mercantis, baixando instruções para esse fim;

Do Registro Empresarial 37
• prestar orientação às Juntas Comerciais, com vistas à solução de
consultas e à observância das normas legais e regulamentares
do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins;
• exercer ampla fiscalização jurídica sobre os órgãos incumbidos
do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins,
representando para os devidos fins às autoridades administrativas
contra abusos e infrações das respectivas normas, e requerendo
tudo o que se afigurar necessário ao cumprimento dessas normas;
• estabelecer normas procedimentais de arquivamento de atos de
firmas mercantis individuais e sociedades mercantis de qualquer
natureza;
• promover ou providenciar, supletivamente, as medidas tendentes
a suprir ou corrigir as ausências, falhas ou deficiências dos
serviços de Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades
Afins;
• prestar colaboração técnica e financeira às juntas comerciais
para a melhoria dos serviços pertinentes ao Registro Público de
Empresas Mercantis e Atividades Afins;
• organizar e manter atualizado o cadastro nacional das empresas
mercantis em funcionamento no País, com a cooperação das
juntas comerciais;
• instruir, examinar e encaminhar os processos e recursos a serem
decididos pelo Ministro de Estado da Indústria, do Comércio e do
Turismo, inclusive os pedidos de autorização para nacionalização
ou instalação de filial, agência, sucursal ou estabelecimento no
País, por sociedade estrangeira, sem prejuízo da competência de
outros órgãos federais;
• promover e efetuar estudos, reuniões e publicações sobre
assuntos pertinentes ao Registro Público de Empresas Mercantis
e Atividades Afins.

Plano estadual

Juntas Comerciais, órgãos integrados à estrutura administrativa do


Estado em que está inserida a Junta. Sua função é executiva, relativa à
prática dos atos registrários, competindo-lhe, de acordo com o previsto no
artigo 8 da lei de registro:

38 unidade 3
• executar arquivamentos, matrículas e autenticações;
• elaborar a tabela de preços de seus serviços, observadas as
normas legais pertinentes;
• processar a habilitação e a nomeação dos tradutores públicos e
intérpretes comerciais;
• elaborar os respectivos Regimentos Internos e suas alterações,
bem como as resoluções de caráter administrativo necessárias
ao fiel cumprimento das normas legais, regulamentares e
regimentais;
• expedir carteiras de exercício profissional de pessoas legalmente
inscritas no Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades
Afins;
• o assentamento dos usos e práticas mercantis.

IMPORTÂNCIA DO REGISTRO E CONSEQUÊNCIAS DA AUSÊNCIA DE


REGISTRO

O exercício regular de atividade empresarial depende de prévio


registro do exercente, empresário individual ou sociedade empresária, na
Junta Comercial.
O registro, de acordo com o disposto no artigo 968 do Código Civil,
deve conter:
• o seu nome, nacionalidade, domicílio, estado civil e, se casado,
o regime de bens;
• a firma, com a respectiva assinatura autógrafa;
• o capital;
• o objeto e a sede da empresa.
A ausência do registro deixa o agente exposto a uma série de
prejudiciais consequências, merecendo destaque as seguintes:
• impossibilidade de autenticação dos livros empresariais. Como
consequência, tais livros não terão eficácia probatória em favor
do empresário;
• impossibilidade de requerer falência de outro empresário;
• impossibilidade de requerer recuperação empresarial;
• impossibilidade de enquadramento como microempresa ou
empresa de pequeno porte;
• impossibilidade de participar de licitações públicas;

Do Registro Empresarial 39
• tratando-se de sociedade empresária, reputa-se ineficaz a
cláusula do contrato social limitativa da responsabilidade dos
sócios;
• saliente-se ainda ser o sócio que se apresenta como representante
da sociedade sem registro diretamente responsável pelas
obrigações sociais;
• impossibilidade de inscrição no CNPJ, INSS e demais cadastros
estaduais e municipais;
• caracterização de infração a obrigação tributária acessória.

REGISTRO E AUTORIZAÇÃO ESTATAL PARA O EXERCÍCIO DE


ATIVIDADE EMPRESARIAL

O registro na Junta Comercial não pode ser confundido com


autorização para o exercício de atividade empresarial.
Com efeito, as juntas equivalem a um cartório, um grande banco
de dados, não tendo atribuição para realizar exame substancial acerca dos
registros que lhe são solicitados. Dito de outra forma, deve ficar claro que as
juntas devem se limitar a verificar a compatibilidade formal dos documentos
que lhe são ofertados para registro com o que diz a lei.
Ademais, não se pode perder de vista que, em regra, não há
necessidade de autorização do Estado para que se possa exercer trabalho,
ofício ou profissão, prevalecendo a ideia da ampla liberdade de iniciativa.
As ideias acima expostas encontram-se insculpidas no próprio texto
da Constituição Federal de 1988, respectivamente, nos artigos 13 e 170.
Porém, quando a legislação, excepcionalmente, exigir autorização
estatal para o exercício de determinada atividade, o registro na junta somente
poderá ser feito, em conformidade com o disposto no artigo 45 do Código
Civil, se precedido da devida autorização.
Neste passo, revela-se interessante atentar para a seguinte tabela
formatada pelo DNRC, na qual são listadas atividades cujo exercício depende,
por força de lei, de prévia autorização estatal:

40 unidade 3
ANEXO À INSTRUÇÃO NORMATIVA DNRC/No 32, DE 19 DE ABRIL DE 1991
CATEGORIA DAS NATUREZA DO FUNDAMENTO ÓRGÃO DE
EMPRESAS ATO LEGAL APROVAÇÃO
1 - Instituições a) Ato Constitutivo Lei 4595, de Banco Central
Financeiras e b) Assembleia 31.12.64: art. 10, do Brasil
Assemelhadas, Geral/Reunião inciso I
Públicas e Privadas: de Diretoria ou • art. 17 e 18 e
• Caixas Econômicas Conselho de parágrafos;
• Bancos Comerciais Administração que • art. 30;
• Bancos Múltiplos trate de: • art. 33 e
• Bancos de • constituição; parágrafos;
Desenvolvimento • alteração Lei 4728, de
• Bancos de estatutária; 14.07.65:
Investimento • modificação no • arts. 11, 12 e
• Sociedades capital; 13;
de Crédito, • transformação, (1) Res. 20/66,
Financiamento e fusão, cisão e do CMN
Investimento incorporação; (2) Lei 5764, de
• Sociedades • eleição/ 6.12.71:
Corretoras de nomeação de • arts. 17, 18 e
Câmbio e de Títulos administradores e 20
e Valores Mobiliários membros de órgãos C.F: art. 192-VIII
•Sociedades estatutários;
Distribuidoras de • instalação,
Títulos e Valores transferência e
Mobiliários cancelamento
• Sociedades de de sedes e
Crédito Imobiliário(1) dependências
• Sociedades de c) Contrato social e
Arrendamento suas alterações;
Mercantil d) Escritura Pública
• Cooperativas de de Constituição
Crédito(2)

Do Registro Empresarial 41
2 -Sociedades de Atos constitutivos § 4° do art. 49 Comissão
Investimento e suas alterações da Lei 4728, de Valores
e a investidura de de 14.07.65 Mobiliários
administradores das - Lei 6385,
sociedades de 07.02.66
e Resolução
1289/ CMN de
20.03.87
3 -Mineração Alteração de Art. 97 e s/ Departamento
contratos ou parágrafo único, Nacional de
estatutos sociais, do Decreto Produção
após concessão n° 62.934, de Mineral -
de título a que se 02.07.68 DNPM, por
refere o art. 96 do delegação do
Decreto n° 62.934, Ministro da
de 02.07.68 Infraestrutura
4 - Estrangeiras Pedido de Arts. 59 a 73 Governo
autorização, do Decreto-lei Federal
funcionamento n° 2.627, de
e alterações de 26.10.40
qualquer natureza
de sociedades
mercantis
estrangeiras, filial,
sucursal, agência ou
escritório.
5 - Estatais Constituição de Art. 37, item XIX Congresso
empresa estatal, da Constituição Nacional
assunção do Federal
controle de empresa Veja
por empresa estatal, Constituição
incorporação de Estadual ou Lei
empresa estatal Orgânica do
por empresa estatal Município
e liquidação de
empresa estatal.

42 unidade 3
6 -Serviços aéreos a) Atos constitutivos Lei n° 7.565 Ministério da
e modificações de 19.12.86 - Aeronáutica –
b) Cessão ou Código Brasileiro DAC
transferência de Aeronáutica.
de ações de
sociedades
nacionais.
c) Os acordos que
impliquem consórcio
pool, conexão,
consolidação ou
fusão de serviços ou
interesses
7- Telecomunicações a) Alterações Art.38, da Lei Secretaria
e radiodifusão posteriores à n° 4.117, de Nacional de
constituição 27.08.62 Comunicações
b) Eleição de
Diretoria
8 - Serviços de a) Atos Art. 34, 42 e Art. 2° da
radiodifusão, constitutivos 43 do Decreto Lei 6.634, de
mineração, e alterações nº 85.064, de 02.05.79 -
colonização e posteriores 26.08.80 regulamentada
loteamento rurais b) Abertura pelo Decreto
em faixa de de filiais, agências, n° 85.064, de
fronteira bem como sucursais, posto ou 26.08.80
participação de quaisquer outros
estrangeiros em estabelecimentos
pessoa jurídica de com poder de
qualquer natureza. representação da
sede relacionados
com a prática de
atos que exijam
assentimento prévio.
c) Participação
de estrangeiro na
empresa.

Do Registro Empresarial 43
CARÁTER PÚBLICO DOS ATOS REGISTRÁRIOS

De acordo com o disposto no artigo 29 da Lei n. 8934/94, as


informações registradas nas juntas comerciais têm caráter público.
Assim, qualquer pessoa pode acessá-las, não sendo necessária a
comprovação de um interesse específico. Basta que o requerente pague as
taxas pertinentes ao pedido e poderá obter os dados que deseja.

PRAZO PARA REALIZAR O REGISTRO

De acordo com o disposto no artigo 36 da Lei n. 8934/94 e no artigo


1151, parágrafo 2º, do Código Civil, o interessado em realizar o registro
(empresário individual ou sociedade empresária) terá 30 dias para realizá-lo,
contados da assinatura dos documentos, a cuja data retroagirão os efeitos
do arquivamento.

OS ATOS COMPREENDIDOS PELO REGISTRO DE EMPRESA

O registro de empresa se desdobra em três modalidades distintas:

Matrícula

Estão submetidos ao presente tipo de registro os seguintes sujeitos:


leiloeiros, tradutores públicos, intérpretes comerciais, trapicheiros e
administradores de armazéns-gerais.

Arquivamento

Os atos sujeitos à modalidade de registro em exame são os seguintes:


constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas individuais, sociedades
empresárias e cooperativas (refere-se à maioria dos atos registrados).

Autenticação

Estão sujeitos a autenticação a escrituração empresarial, livros, fichas,


balancetes (Livro Diário, Livro de Registro de Duplicatas, por exemplo).

44 unidade 3
ESTRUTURA DA JUNTA COMERCIAL

As juntas comerciais, de acordo com o que determina o artigo 9 da lei


de registro, devem ter a seguinte estrutura:

Presidência

O órgão diretivo e representativo

Plenário

Órgão deliberativo superior, composto por no mínimo 11 e no máximo


23 vogais, escolhidos na forma do art. 12 da LRE (empresários, advogados,
economistas, contadores e administração pública).

Turmas

Órgãos deliberativos inferiores (são divisões do plenário, compostas


por 03 vogais cada).

Secretaria-Geral

Órgão administrativo e executivo das deliberações.

Procuradoria

Órgão fiscalizador e promotor do fiel cumprimento das normas legais


e executivas, funcionando também como consultoria e dando suporte jurídico
nos processos judiciais de interesse da Junta Comercial.

PROCESSO DECISÓRIO

Existem duas formas pelas quais as juntas comerciais decidem:


regime colegiado e regime singular.

Colegiado

Do Registro Empresarial 45
Competência do plenário ou das turmas da Junta Comercial, listada
no artigo 41 da lei de registro (julgamento de recursos; matéria atinente a
sociedades anônimas, consórcios, grupos de sociedade, transformações
societárias). O presente regime se encarrega de matérias de maior grau de
complexidade. Prazo para julgamento: 10 dias úteis.

Singular

Competência residual, ou seja, o que não for matéria sujeita ao regime


decisório colegiado será submetido ao regime singular, cabendo a decisão
ao presidente, vogal ou mesmo um servidor por designação do presidente.
Prazo: 03 dias úteis.

DO PROCESSO REVISIONAL

As decisões tomadas pela Junta Comercial podem ser revistas


administrativamente de acordo com um dos seguintes mecanismos:

Pedido de reconsideração

Tem por objeto obter a revisão de despachos singulares ou de


turmas, que formulem exigências para o deferimento de registro, devendo
ser apresentado no prazo para cumprimento da exigência (30 dias), sendo
apreciado pela autoridade requerida em 05 dias úteis.

Recurso ao plenário

As decisões definitivas, singulares ou de turmas, nos pedidos de


registro. Prazo = 10 dias úteis, contados da data de intimação da parte ou da
publicação do ato no órgão oficial de publicidade da Junta.

Recurso ao ministro do desenvolvimento

Como última instância administrativa, de decisões do plenário que


manteve ou reformou decisões singulares ou de turmas em pedidos de
registro. Prazo = 10 dias úteis, contados da data de intimação da parte ou da
publicação do ato no órgão oficial de publicidade da Junta.

46 unidade 3
SUBORDINAÇÃO JURÍDICA HÍBRIDA DA JUNTA COMERCIAL

Como visto, a Junta Comercial é um órgão integrado à estrutura


administrativa do Estado-membro no qual está situada e também componente
de um sistema nacional (o SINREM) capitaneado por um órgão federal
(DNRC).
Diante disso, em questões de natureza administrativa e orcamentária
a junta está subordinada ao governo do Estado. Já em questões de natureza
registrária, técnica, a Junta está subordinada ao DNRC.
Fábio Ulhoa Coelho assim examinou a questão:

Da duplicidade de vínculos hierárquicos decorre, segundo


algumas decisões judiciais, a competência da Justiça
Federal para apreciar a validade dos atos da Junta,
relacionados ao direito comercial. Se o registro de uma
sociedade limitada é, por exemplo, negado, a pretexto de
que o contrato social não atende os requisitos da lei, a
discussão sobre a pertinência, ou não, do indeferimento
caberia ser feita, de acordo com esse entendimento,
perante juízes federais, porque a Junta, no caso, atuou
como órgão executante das normas emanadas pelo
DNRC, integrante da estrutura administrativa da União. Já
na hipótese de a Junta, por exemplo, ter inabilitado um
licitante, na concorrência pública para a construção de sua
sede, o conhecimento da matéria seria da competência do
juiz estadual, tendo em vista que o objeto da lide, agora, é
ato administrativo.

Sobre a repercussão da subordinação jurídica híbrida no que diz


respeito à determinação do juízo competente para resolver conflitos judiciais
envolvendo a Junta Comercial, assim se manifestou Sérgio Campinho:

Os eventuais conflitos, oriundos de atos decorrentes


de questões pertinentes a registro de competência das
Juntas, devem ser dirimidos perante a Justiça Federal
e não frente à Estadual, justamente em função dessa
subordinação técnica. Já as querelas que envolverem
aspectos administrativos se encontram afetas à Justiça
Estadual, como nomeações de vogais e questões relativas
ao funcionalismo (CAMPINHO, 20?, p,?)

Do Registro Empresarial 47
EXERCÍCIO

1) Como é formado o SINREM?

2) Indique e explique os tipos de registro.

3) Liste quatro consequências da ausência de registro.

4) Por que se diz que a subordinação jurídica da Junta Comercial é híbrida?

48 unidade 3
UNIDADE 4
Do Nome Empresarial

Resumindo
Na presente unidade é feito um estudo sobre o nome empresarial e sobre as marcas, abrangendo:
conceito e importância; formação e proteção; modalidades; diferenças entre o nome e a marca;
consequências da utilização indevida.
DO NOME EMPRESARIAL

CONCEITO

É aquele utilizado pelo empresário para se identificar, enquanto


sujeito exercente de uma atividade econômica. Ao tempo em que designa o
empresário ou sociedade empresária, designa também a atividade por este
desenvolvida.

AS ESPÉCIES DE NOME EMPRESARIAL

Firma individual

Privativa do empresário individual. Sua estrutura coincide com o nome


civil do empresário. Em caso de colidência com outro nome já registrado,
deverá o segundo empresário acrescer um designativo para diferenciá-lo
(João da Silva e João da Silva – Livreiro, por exemplo).

Firma social ou razão social

Sua estrutura toma por base os nomes civis dos sócios. Em caso de
grande número de sócios, é admitida a colocação da expressão “& Cia” ao
final do nome empresarial.

Denominação social

Sua estrutura pode tomar por base qualquer expressão linguística,


seja ou não o nome civil de sócio da sociedade empresária. Quando a
expressão escolhida não é nome civil, chama-se “elemento fantasia”.

Do Nome Empresarial e das Marcas 51


As denominações (nas sociedades limitadas, anônimas e comanditas
por ações) devem ser formadas por expressão indicativa do objeto social, ou
seja, da atividade desenvolvida pela sociedade empresária.
Nas denominações não é obrigatório o emprego dos nomes dos
sócios ou dos acionistas, uma vez que nesta espécie de nome empresarial
tem pouca aplicação o princípio da novidade.

DO NOME EMPRESARIAL RELATIVO A CADA UMA DAS MODALIDADES


DE SOCIEDADE

Sociedade em nome coletivo

Firma social ou razão social. Esta sociedade só pode ser constituída


por pessoas físicas.

Sociedade em comandita simples


Para saber mais sobre as
regras de formação e proteção
do nome empresarial, acesse Firma social ou razão social. Ressalte-se que apenas
a Instrução Normativa n. 104 os sócios comanditados (administram a sociedade e têm
do DNRC, no link: http:// responsabilidade ilimitada) podem emprestar seus nomes civis
www.dnrc.gov.br/Legislacao/
para a formação do presente nome empresarial. É que, neste caso,
NMinuta104nomeempresarial2.
pdf a estrutura do nome empresarial é indicativa da responsabilidade
ilimitada dos sócios cujos nomes o integram.

Sociedade em comandita por ações

Pode usar firma social ou denominação social, aditada sempre,


qualquer delas, da expressão “comandita por ações”. Optando-se pela firma
social, somente os acionistas diretores, que são ilimitadamente responsáveis
pelas obrigações sociais, podem emprestar seu nome para a formação do
nome empresarial.

Sociedade anônima

Só pode usar denominação social, acompanhada das expressões


“companhia” ou “sociedade anônima”, por extenso ou abreviadamente,
vedada a utilização da primeira ao final da denominação. Ressalte-se ainda

52 unidade 4
que, é permitida a indicação do nome do fundador, acionista ou pessoa que
haja concorrido para o bom êxito da formação da empresa.

Sociedade limitada

Pode usar tanto firma social como denominação social. Em qualquer


caso deve figurar a expressão “limitada”, por extenso ou abreviadamente.
Só podem emprestar seu nome para a formação da firma os sócios pessoa
física. Caso todos os sócios sejam pessoas jurídicas, a limitada deverá,
necessariamente, adotar denominação social. Na estrutura da denominação
pode figurar o nome de um ou mais sócios.

A FORMAÇÃO E A PROTEÇÃO DO NOME EMPRESARIAL

A própria Constituição Federal, em seu artigo 5º, XXIX, garante a


proteção do nome empresarial.

Os princípios que regem a formação e a proteção do nome empresarial


– princípio da novidade e princípio da veracidade – encontram-se previstos
no artigo 34 da Lei Registro de Empresas e no artigo 1163 do Código Civil.

O princípio da novidade impede a adoção, no mesmo Estado, de


nome igual ou semelhante ao de outro empresário. Isso se justifica em razão
da garantia de exclusividade que o registro na Junta confere.
Já o princípio da veracidade proíbe a adoção de nome que veicule
informação falsa sobre o empresário a que se refere.

DAS MARCAS

O conceito de marca

Segundo a lei brasileira (Lei n. 9279 de 1996), marca


Para saber mais sobre
é todo sinal distintivo, visualmente perceptível que identifica e as regras de formação
distingue produtos e serviços de outros análogos, de procedência e proteção das marcas,
diversa, bem como certifica a conformidade dos mesmos com acesse o site do INPI, no
link www.inpi.gov.br
determinadas normas ou especificações técnicas.

Do Nome Empresarial e das Marcas 53


Classificação das marcas

As marcas podem ser classificadas de acordo com o objeto ao qual


fazem referência e de acordo com a forma pela qual se apresentam.

a) Classificação quanto ao objeto (ou quanto ao uso): a Lei 9.279


de 1996, no seu artigo 123, estabelece as seguintes espécies de marca:

a.1) MARCA DE PRODUTO – serve para distinguir um produto de


outro igual, similar ou afim. Exemplo:

Fonte: www.google.com.br

a.2) MARCA DE SERVIÇO – serve para distinguir um serviço de outro


igual, similar ou afim. Exemplo:

Para descobrir quais são as Fonte: www.google.com.br


marcas consideradas mais
valiosas na economia mundial
a.3) MARCA DE CERTIFICAÇÃO – serve para atestar
no ano de 2009, de acordo
com pesquisa produzida pela a conformidade de um produto ou serviço com determinadas
Interbrand, no seguinte link: normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à
http://www.mmonline.com.br/ qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada.
noticias.mm?url=Interbrand_
Exemplo:
revela_marcas_globais_mais_
valiosas_em_2009.

54 unidade 4
Fonte: www.google.com.br

a.4) MARCA COLETIVA - As marcas coletivas, por seu turno, visam


identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada
entidade. Exemplo:

Fonte: www.google.com.br

b) Classificação quanto ao modo de apresentação:

b.1) MARCA NOMINATIVA:

b.2) MARCA FIGURATIVA

Fonte: www.google.com.br

Do Nome Empresarial e das Marcas 55


b.3) MARCA MISTA

Fonte: www.google.com.br

b.4) MARCA TRIDIMENSIONAL

Fonte: www.google.com.br

Sinais não registráveis como marca

O art. 124 da Lei 9.279 de 1996 enumera um rol taxativo de sinais que
não são registráveis como marca:
• brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e
monumento oficiais, públicos, nacionais, estrangeiros ou
internacionais, bem como a respectiva designação, figura ou
imitação;
• letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de
suficiente forma distintiva;
• expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à
moral e aos bons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de
pessoas ou atente contra a liberdade de consciência, crença, culto
religioso ou ideia e sentimento dignos de respeito e veneração;
• designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não

56 unidade 4
requerido o registro pela própria entidade ou órgão público;
• reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador
de título de estabelecimento ou nome de empresa de terceiros,
suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais
distintivos;
• sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou
simplesmente descritivo, quando tiver relação com o produto
ou serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para
designar uma característica do produto ou serviço, quanto à
natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de
produção ou de prestação do serviço, salvo quando revestidos de
suficiente forma distintiva;
• sinal ou expressão empregada apenas como meio de propaganda;
• cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas
de modo peculiar e distintivo;
• indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão
ou sinal que possa falsamente induzir indicação geográfica;
• sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência,
natureza, qualidade ou utilidade do produto ou serviço a que a
marca se destina;
• reprodução ou imitação de cunho oficial, regularmente adotada
para garantia de padrão de qualquer gênero ou natureza;
• reprodução ou imitação de sinal que tenha sido registrado como
marca coletiva ou de certificação por terceiro, observado o
disposto no art. 154;
• nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo, artístico, cultural,
social, político, econômico ou técnico, oficial ou oficialmente
reconhecido, bem como a imitação suscetível de criar confusão,
salvo quando autorizados pela autoridade competente ou entidade
promotora do evento;
• reprodução ou imitação de título, apólice, moeda e cédula da
União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios, dos
Municípios, ou de país;
• nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico
e imagem de terceiros, salvo com consentimento do titular,
herdeiros ou sucessores;
• pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome artístico

Do Nome Empresarial e das Marcas 57


singular ou coletivo, salvo com consentimento do titular, herdeiros
ou sucessores;
• obra literária, artística ou científica, assim como os títulos que
estejam protegidos pelo direito autoral e sejam suscetíveis de
causar confusão ou associação, salvo com consentimento do
autor ou titular;
• termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que tenha
relação com o produto ou serviço a distinguir;
• reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com
acréscimo, de marca alheia registrada, para distinguir ou certificar
produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de
causar confusão ou associação com marca alheia;
• dualidade de marcas de um só titular para o mesmo produto ou
serviço, salvo quando, no caso de marcas de mesma natureza, se
revestirem de suficiente forma distintiva;
• a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de
acondicionamento, ou, ainda, aquela que não possa ser dissociada
de efeito técnico;
• objeto que estiver protegido por registro de desenho industrial de
terceiro;
• sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o
requerente evidentemente não poderia desconhecer em razão de
sua atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado em território
nacional ou em país com o qual o Brasil mantenha acordo ou que
assegure reciprocidade de tratamento, se a marca se destinar
a distinguir produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim,
suscetível de causar confusão ou associação com aquela marca
alheia.”

Diferenças entre o nome empresarial e a marca

a) Quanto à referência

O nome empresarial faz referência a sujeito de direito (empresário


individual e sociedade empresária); a marca faz referência a objeto de direito
(produto e serviço).

58 unidade 4
b) Quanto ao órgão no qual é realizado o registro

O nome empresarial é registrado na Junta Comercial; a marca


é registrada no I.N.P.I. (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).
Ressalte-se que as marcas notoriamente conhecidas desfrutam de proteção
independentemente de registro.

c) Quanto ao âmbito territorial de proteção

O registro do nome empresarial confere ao seu titular exclusividade de


uso em todo o território do Estado no qual a Junta Comercial onde foi feito o
registro está situada. O registro da marca confere ao seu titular exclusividade
de uso em todo o território nacional.

d) Quanto ao âmbito material de proteção

O registro do nome confere ao seu titular exclusividade de uso em


todas as classes e categorias de atividade, não apenas naquela atividade
exercida pelo titular. O registro da marca confere ao seu titular exclusividade
de uso por classe ou categoria de atividade. O registro da marca é setorizado,
segmentado. Saliente-se que as marcas de alto renome conferem ao seu
titular exclusividade de uso em todas as classes ou categorias de atividade.

e) Quanto ao âmbito temporal de proteção

O registro do nome confere ao seu titular exclusividade de uso por


tempo indeterminado, ou seja, enquanto o titular estiver registrado na Junta
Comercial, seu nome empresarial está protegido. O registro da marca confere
ao seu titular exclusividade de uso por 10 anos, prorrogáveis por sucessivos
períodos.

NOME EMPRESARIAL E TÍTULO DE ESTABELECIMENTO

O título de estabelecimento é o que identifica o local em que a


empresa é exercida. Diferentemente do que se verifica na atualidade, o título
de estabelecimento era passível de registro perante o Departamento Nacional
da Propriedade Industrial, o qual lhe conferia a proteção de exclusividade

Do Nome Empresarial e das Marcas 59


no âmbito municipal (situação encontradiça no período compreendido
entre os anos de 1934 e 1967). Inobstante a ausência de registro, o título
de estabelecimento encontra proteção legal, de acordo com o disposto nos
artigos. 124, 195, V, 207 e 209 da Lei 9.279 de 1996.

REPRESSÃO AO USO INDEVIDO DO NOME EMPRESARIAL

O uso indevido de nome empresarial submete o infrator a severas


consequências que se desdobram no âmbito civil e no âmbito penal.

Na esfera civil, o lesado pode ajuizar contra o infrator uma ação de


indenização, com base nos artigos 186, 187 e 927 do Código Civil. Mencione-
se ainda a possibilidade de ajuizamento pelo lesado, em conformidade com
o disposto no artigo 1167 do Código Civil, de ação para obter o desfazimento
do registro do infrator.

No campo penal, a conduta do infrator pode caracterizar crime de


concorrência desleal, sujeitando-o, de acordo com o disposto no artigo 195,
V, da Lei n. 9.279 de 1996, a pena de detenção de 03 meses a 01 ano, ou
multa.

EXERCÍCIO

1) Indique e explique as espécies de nome empresarial.

2) Indique e explique os princípios que regem a formação e a proteção do


nome empresarial.

3) Conceitue marca.

4) Indique e explique três diferenças entre o nome empresarial e a marca.

60 unidade 4
UNIDADE 5
Dos Livros Empresariais

Resumindo
Na presente unidade é feito um estudo sobre os livros empresariais, abrangendo: conceito
e importância; requisitos; exibição judicial e administrativa; conseqüências da ausência de
escrituração regular; perda de livros.
DOS LIVROS EMPRESARIAIS

CONCEITO

Consiste no registro de todas as operações das quais


Para saber mais sobre
participe o titular da empresa. Saliente-se que, de acordo com
as regras referentes a
a Instrução Normativa 107/2007 do DNRC, a escrituração escrituração, acesse a
pode se dá das seguintes formas: livros, em papel; conjunto Instrução Normativa n. 107 do
de fichas avulsas; conjunto de fichas ou folhas contínuas; DNRC, no seguinte link: http://
www.dnrc.gov.br/Legislacao/
livros em microfichas geradas através de microfilmagem de
MinutaIN107maio2008.pdf
saída direta do computador (COM); livros digitais.

IMPORTÂNCIA

A escrituração possibilita a seu titular a avaliação do acerto das


decisões administrativas tomadas, bem como a definição dos rumos a serem
seguidos.
A escrituração também visa a propiciar informações aos outros sócios
da empresa, por exemplo, ou mesmo a terceiros, que por força de lei ou
de contrato, devam ter acesso aos dados a ela concernentes, tais como
determinados credores ou o Fisco.
Os dados escriturados também servem de base para o exercício da
fiscalização estatal da incidência e recolhimento de tributos devidos pelo
empresário.

Dos Livros Empresariais 63


REQUISITOS DA ESCRITURAÇÃO

Requisitos extrínsecos

Os requisitos extrínsecos da escrituração são também conhecidos


como de autenticação e como requisitos externos. Os instrumentos de
escrituração devem ter um termo de abertura e um termo de encerramento;
as páginas devem ser numeradas tipograficamente e devem ser autenticadas
pela Junta Comercial.
O termo de abertura deve conter o nome empresarial; o NIRE; a data
do arquivamento dos atos constitutivos; o local da sede ou filial; a finalidade
a que se destina; o número de ordem; a quantidade de folhas e o CNPJ.
O termo de encerramento deve conter o nome empresarial; a finalidade
do livro; o número de ordem; o período a que se refere; e a quantidade de
folhas escrituradas.
Ainda de acordo com a instrução normativa 107/2007, os termos de
abertura e de encerramento serão datados e assinados pelo empresário,
administrador da sociedade empresária ou procurador e por contabilista
legalmente habilitado, com indicação do número de sua inscrição no Conselho
Regional de Contabilidade – CRC e dos nomes completos dos signatários e
das respectivas funções; ambos os termos devem ser datados e assinados
pelo empresário, ou pelo administrador da sociedade e por contabilista
responsável pela escrituração.
Segundo o artigo 12 da mencionada instrução normativa, e também
segundo o artigo 1181 do Código Civil, lavrados os termos de abertura e
de encerramento, os instrumentos de escrituração dos empresários e das
sociedades empresárias, de caráter obrigatório, salvo disposição especial de
lei, deverão ser submetidos à autenticação pela Junta Comercial: I - antes ou
após efetuada a escrituração, quando se tratar de livros, conjuntos de fichas
ou folhas contínuas; II - após efetuada a escrituração, quando se tratar de
microfichas geradas através de microfilmagem de saída direta do computador
(COM) e de livros digitais. O empresário e a sociedade empresária poderão
fazer autenticar livros não obrigatórios.
É dispensado das exigências acima descritas o pequeno empresário
a que se refere o art. 970 do Código Civil, que não está obrigado a seguir
um sistema de contabilidade com base na escrituração uniforme de seus
livros, em correspondência com a documentação respectiva, nem a levantar

64 unidade 5
anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico.

Requisitos intrínsecos

Também conhecidos como requisitos internos, dizem respeito ao


modo de lançamento das informações nos livros. A escrituração deve ser
feita no idioma nacional; com o emprego da moeda nacional; sem borrões;
sem rasuras; sem espaços em branco; sem escritos nas margens ou nas
entrelinhas; e em ordem cronológica. Ademais, em caso de erro na efetivação
da escrituração deverá ser feito o estorno na forma contábil.

SIGILO E EXIBIÇÃO DOS LIVROS EMPRESARIAIS

Em princípio, os livros empresariais são sigilosos, devendo ficar a


salvo da curiosidade alheia. O sigilo tem fundamento na proteção dos negócios
do empresário e da sociedade empresária, de modo que seus negócios não
sejam prejudicados pelo conhecimento público (especialmente por parte de
seus concorrentes) de sua situação patrimonial.
Não se pode perder de vista, porém, que o sigilo é relativo. Com
efeito, o sigilo cede diante de ordem judicial e diante de ordem emanada de
fiscal tributário.

Exibição judicial

A exibição judicial, em regra, somente pode ser decretada contra


empresário ou sociedade empresária que é parte da ação judicial, sendo
necessário também que o requerente comprove legítimo e específico
interesse jurídico na exibição pretendida.
Existem duas modalidades de exibição judicial: a total e a parcial. A
tabela a seguir demonstra as diferenças entre os dois tipos:

EXIBIÇÃO JUDICIAL TOTAL EXIBIÇÃO JUDICIAL PARCIAL


Somente pode ser decretada nas Pode ser decretada em qualquer
hipóteses expressamente previstas ação judicial da qual seja parte o
em lei (examinar artigo 1.191 do titular dos livros.
Código Civil).

Dos Livros Empresariais 65


Sua decretação depende de expresso Pode ser decretada de ofício pelo
pedido da parte interessada. juiz.
A recusa do titular dos livros em A recusa do titular dos livros em
exibi-los enseja a decretação judicial exibi-los enseja a presunção de
da apreensão dos mesmos. veracidade dos fatos alegados pelo
autor do pedido de exibição.

Exibição administrativa

A exibição dos livros empresariais, como já mencionado, pode ser


Para saber mais
determinada por ordem de fiscal tributário. Tal possibilidade não é de causar
sobre as regras
referentes à exibição
estranheza, uma vez que as informações registradas nos livros têm grande
administrativa dos importância no que diz respeito à atividade de fiscalização e cobrança de
livros empresariais, tributos.
acesse o Código Neste sentido, dispõe, por exemplo, o artigo 1.193 do Código Civil, ao
Tributário Nacional
estabelecer que o sigilo dos livros empresariais não se aplica às autoridades
no seguinte link:
http://www.planalto. fazendárias no exercício da fiscalização do pagamento de impostos, nos
gov.br/ccivil_03/Leis/ termos estritos das respectivas leis especiais.
L5172.htm Entre as referidas leis especiais, merece destaque o Código Tributário
Nacional, que, em seu artigo 195, preceitua que para os efeitos da legislação
tributária, não tem aplicação quaisquer disposições legais excludentes ou
limitativas do direito de examinar os livros e demais papéis dos empresários
e das sociedades empresárias, ou da obrigação destes de exibi-los.

EXTRAVIO, DETERIORAÇÃO OU PERDA DE LIVROS EMPRESARIAIS

Ocorrendo extravio, deterioração ou destruição de qualquer dos


instrumentos de escrituração, o empresário ou a sociedade empresária fará
publicar, em jornal de grande circulação do local de seu estabelecimento,
aviso concernente ao fato e deste fará minuciosa informação, dentro de
quarenta e oito horas, à Junta Comercial de sua jurisdição.
Recomposta a escrituração, o novo instrumento receberá o mesmo
número de ordem do substituído, devendo o termo de autenticação ressalvar,
expressamente, a ocorrência comunicada.

66 unidade 5
A AUSÊNCIA DE ESCRITURAÇÃO REGULAR E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A falta de livros obrigatórios devidamente escriturados de acordo com


os requisitos extrínsecos e intrínsecos anteriormente estudados, sujeita o
faltoso a diversas consequências, quais sejam:
• presunção de veracidade dos fatos alegados pela parte adversa,
em medida judicial de exibição de livros;
• tipificação de crime falimentar;
• inacessibilidade à recuperação empresarial;
• ineficácia probatória em favor do titular;
• impossibilidade parcial de verificação de conta – perícia contábil
preparatória do pedido de falência, que supre a inexistência de
título executivo.

GUARDA E CONSERVAÇÃO DOS LIVROS EMPRESARIAIS

De acordo com o previsto no artigo 1.194 do Código Civil, o empresário


e a sociedade empresária devem guardar e conservar em bom estado os
livros empresariais e demais papéis relativos a sua atividade enquanto não se
consumar a prescrição ou decadência no tocante aos atos neles registrados.

EXERCÍCIO

1) Indique e explique as funções da escrituração.

2) Que providências a lei exige em caso de perda de livros?

3) Quais as consequências da ausência de escrituração regular?

4) Por quanto tempo o empresário deve guardar os livros empresariais?

Dos Livros Empresariais 67


UNIDADE 6
Do Estabelecimento
Empresarial

Resumindo
Na presente unidade será feito um estudo sobre o estabelecimento empresarial, abrangendo:
conceito; elementos; alienação do estabelecimento e locação empresarial.
DO ESTABELECIMENTO
EMPRESARIAL

CONCEITO

De acordo com o que consta do artigo 1.142 do Código


Civil, considera-se estabelecimento todo complexo de bens Para saber mais sobre o
estabelecimento empresarial,
(corpóreos e incorpóreos) profissionalmente organizado,
acesse interessante texto do
para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade professor Marlon Tomazette,
empresária. no seguinte link: http://www.
Não se trata de uma mera justaposição de bens, mas de uniceub.br/revistamestrado/
um conjunto funcional, racionalmente organizado e predisposto ed2/pdf/artigo13.pdf

por seu titular (empresário individual ou sociedade empresária)


para a geração de lucro.

ELEMENTOS DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

Como o próprio conceito ofertado já revela, existem duas categorias


de elementos do estabelecimento empresarial: os corpóreos (também
chamados de materiais ou tangíveis); e os incorpóreos (também chamados
de imateriais ou intangíveis).
Como exemplos dos primeiros, podemos mencionar: as mercadorias
expostas à venda e estocadas; o maquinário de uma fábrica; as motocicletas
para a realização de entregas. Como exemplos dos segundos, podemos
mencionar: o nome empresarial; a marca; o título de estabelecimento.
A clientela e o aviamento (potencial de lucratividade do estabelecimento)
não devem ser considerados como elementos do estabelecimento, mas sim
como seus atributos.

Do Estabelecimento Empreserial 71
ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

Um dos negócios jurídicos que pode ter por objeto o estabelecimento


é a sua transferência pelo titular a terceiros, o que se dá por um contrato
conhecido como contrato de trespasse.
A plena eficácia do negócio depende do atendimento dos seguintes
requisitos:
a) o contrato deve ser celebrado por escrito;
b) o contrato deve ser registrado na Junta Comercial;
c) o contrato deve ser publicado na imprensa oficial.

Ademais, de acordo com o disposto no artigo 1145 do Código Civil,


se ao alienante não restarem bens suficientes para pagar o seu passivo, a
eficácia da alienação do estabelecimento dependerá, também, do pagamento
de todos os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou
tácito, em trinta dias a partir de sua notificação.
Outro aspecto digno de nota diz respeito à responsabilidade pelo
pagamento das dívidas decorrentes da exploração de estabelecimento que
foi alienado.
A propósito desta questão, diz o artigo 1146 do Código Civil que
o adquirente do estabelecimento responde pelo pagamento dos débitos
anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados,
continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um
ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos
outros, da data do vencimento.
No Código Tributário Nacional já existia regra (embora específica
para as dívidas de origem tributária) tratando do assunto.
O artigo 133 do referido diploma determina que, não sendo o caso
de aquisição durante processo de recuperação empresarial ou de falência, a
pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer
título, estabelecimento empresarial, e continuar a respectiva exploração, sob
a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde
pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos
até à data do ato: a) integralmente, se o alienante cessar a exploração do
comércio, indústria ou atividade; b) subsidiariamente com o alienante, se este
prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da

72 unidade 6
alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria
ou profissão.
Ainda no artigo 133 consta que se o estabelecimento empresarial
for adquirido através de alienação judicial em processo de falência ou
em processo de recuperação empresarial, o adquirente não se tornará
responsável pelas dívidas anteriores à alienação.
Saliente-se que a isenção de responsabilidade acima descrita não
ocorrerá se o adquirente for sócio da sociedade falida ou em recuperação
judicial, ou sociedade controlada pelo devedor falido ou em recuperação
judicial; parente, em linha reta ou colateral até o 4o (quarto) grau, consanguíneo
ou afim, do devedor falido ou em recuperação judicial ou de qualquer de seus
sócios; ou identificado como agente do falido ou do devedor em recuperação
judicial com o objetivo de fraudar a sucessão tributária.
Ainda sobre a alienação do estabelecimento, deve ficar claro que,
de acordo com o artigo 1.147 do Código Civil, não havendo autorização
expressa, o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao
adquirente, nos cinco anos subsequentes à transferência.

DA LOCAÇÃO EMPRESARIAL

Frequentemente o estabelecimento empresarial apresenta-se


localizado em imóvel alugado. O contrato entre o proprietário do imóvel e o
empresário (ou sociedade empresária) é chamado de contrato de locação.
O dono do imóvel recebe a designação de locador, e o inquilino recebe a
denominação de locatário.
O contrato de locação empresarial possui uma característica especial.
Realmente, se o locatário preencher determinados requisitos, poderá obrigar
o locador a renovar o contrato em curso.
Os requisitos são os seguintes: a) requisito formal – contrato escrito e
por prazo determinado; b) requisito temporal – prazo do contrato equivalente
a pelo menos cinco anos (um contrato só ou vários contratos sucessivos e
ininterruptos); c) requisito material – exercício pelo locatário, há pelo menos
três anos ininterruptos, no imóvel locado, da mesma atividade.
Preenchidos os requisitos ora mencionados, o locatário poderá ajuizar
contra o locador uma ação renovatória, instrumento pelo qual buscará
obrigar o proprietário a renovar o contrato. A ação deve ser ajuizada nos
primeiros seis meses do último ano do contrato que se pretende renovar.

Do Estabelecimento Empreserial 73
O locador possui algumas defesas previstas legalmente. As mais
importantes são as chamadas exceções de retomada. Assim, o locador não
estará obrigado a renovar o contrato se comprovar a ocorrência de um dos
seguintes fatos: a) proposta insuficiente do locatário; b) proposta melhor de
terceiro; c) reforma substancial no imóvel determinada pelo poder público; d)
reforma valorizadora pretendida pelo dono do imóvel; e) uso próprio, desde
que atue em ramo diverso do locatário; f) transferência de estabelecimento
empresarial existente há mais de 1 ano e titularizado por ascendente,
descendente ou cônjuge (ou sociedade por eles controlada), desde que atue
em ramo diverso do locatário.

EXERCÍCIO

1) Em que consiste o estabelecimento empresarial?

2) Quais são os requisitos do contrato de alienação do estabelecimento


empresarial?

3) Que cuidado deve ter o alienante de estabelecimento empresarial, quando,


ao tempo do negócio, já estiver insolvente?

4) Quais são os requisitos para a caracterização do contrato de locação


empresária?

74 unidade 6
UNIDADE 7
Do Direito Societário

Resumindo
Na presente unidade será feito um estudo sobre as sociedades empresárias, abrangendo seus
pressupostos, requisitos, constituição, extinção, com especial destaque para as duas principais
modalidades societárias (sociedades limitadas e sociedades anônimas).
DO DIREITO SOCIETÁRIO

DAS SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

Colocação do problema

Compondo o trio de pessoas jurídicas genericamente previstas


na Parte Geral do Código Civil como pessoas jurídicas de direito privado
não estatal, figuram as sociedades empresárias ao lado das fundações e
associações.
O mesmo Código, mais adiante, já na Parte Especial do Direito de
Empresa, cuida, a partir do artigo 981, das referidas sociedades.
Somente podem ser utilizados os modelos societários legalmente
previstos, não sendo possíveis inovações substanciais no campo em questão.
Assim é que as sociedades empresárias somente poderão adotar
uma das seguintes estruturas:

a) sociedade em conta de participação;


b) sociedade em nome coletivo;
c) sociedade em comandita simples;
d) sociedade limitada;
e) sociedade em comandita por ações e sociedade anônima.

PRESSUPOSTOS DE EXISTÊNCIA DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

Vem da doutrina, como exemplo, examine-se Fábio Ulhoa Coelho, a


ideia de que na gênese da sociedade devem concorrer dois pressupostos, os
quais dizem respeito à própria existência da pessoa jurídica.
O primeiro pressuposto é a affectio societatis, expressão latina que

Do Direito Societário 77
traduz a vontade de se associar e de permanecer associado. Com efeito, não
se pode conceber a existência de qualquer negócio jurídico sem a expressão
da vontade livre e consciente dos celebrantes.
O segundo pressuposto é a pluralidade de membros. No direito
brasileiro, diferentemente do que se verifica em outros países onde, segundo
Calixto Salomão Filho, é generalizada a previsão da criação de sociedades
unipessoais (sociedades com um único sócio) com responsabilidade limitada,
a regra é que não podem existir sociedades unipessoais.

REQUISITOS DE VALIDADE DA SOCIEDADE

No plano da validade do negócio jurídico de sociedade encontramos


os requisitos genéricos e os requisitos específicos.

Requisitos genéricos

Quanto ao primeiro requisito genérico, a capacidade das partes


contratantes, assevere-se que desde a decisão do Supremo Tribunal Federal
produzida nos autos do Recurso Extraordinário n. 82.433, de 16/06/1976 não
há mais qualquer dúvida sobre a possibilidade da participação de incapazes
como sócios de sociedades limitadas, desde que, cumulativamente, estejam,
conforme o grau de incapacidade incidente, representados ou assistidos;
não exerçam atribuições de administração; o capital social esteja totalmente
integralizado.
No que diz respeito ao segundo requisito genérico, não se pode perder
de vista que a exigência de licitude do objeto social revela necessidade de
adequação não apenas à lei, mas também à moral e aos bons costumes.
Acerca do derradeiro requisito genérico, relembre-se que no direito
brasileiro, de acordo com o disposto no artigo 107 do Código Civil, segundo o
qual “A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial,
senão quando a lei expressamente a exigir”, vigora o princípio da liberdade de
forma. Ocorre que o contrato social deve ser registrado na Junta Comercial e
para tanto, por óbvio, deve ser escrito.

Requisitos específicos

No campo dos requisitos específicos, enumere-se: todos os sócios

78 unidade 7
devem contribuir para a formação do capital social; e todos os sócios devem
participar dos resultados sociais.
No tocante ao primeiro requisito específico, é possível realizar a
contribuição com dinheiro em espécie; com outros bens móveis; com bens
imóveis e com créditos.
Sobre o segundo requisito específico, é de se dizer que a participação
nos resultados é, em regra, proporcional à quantidade de quotas que cada
sócio possui em relação ao capital da sociedade.

DAS SOCIEDADES LIMITADAS

Entre as sociedades empresárias previstas no direito brasileiro,


duas possuem especial destaque, sendo inclusive os modelos societários
mais utilizados: as sociedades limitadas e as sociedades anônimas. Delas
cuidaremos a partir de agora.
As sociedades limitadas têm uma estrutura relativamente mais
simples do que a estrutura das sociedades anônimas, sendo mais indicadas
para empreendimentos de pequeno e médio porte.

Seu capital social apresenta-se fracionado em unidades denominadas


quotas, sendo que aqueles que as titularizam têm o status jurídico de sócios.
A regime de responsabilidade dos sócios obedece o disposto no
artigo 1052 do Código Civil, segundo o qual a responsabilidade de cada sócio
é restrita ao valor de suas quotas, mas todos respondem solidariamente pela
integralização do capital social.
Seu ato constitutivo é um contrato social, documento que deve
conter, pelo menos, as informações contidas no seguinte modelo aprovado
pelo DNRC:

CONTRATO DE CONSTITUIÇÃO DE: _____________________


1. Fulano de Tal, (nome completo), nacionalidade, naturalidade, estado
civil, regime de bens (se casado), data de nascimento (se solteiro), profissão, nº
do CPF, documento de identidade, seu número, órgão expedidor e UF onde foi
emitida (documentos válidos como identidade: carteira de identidade, certificado
de reservista, carteira de identidade profissional, Carteira de Trabalho e Previdência
Social, Carteira Nacional de Habilitação – modelo com base na Lei nº 9.503, de
23.9.97), domicílio e residência (tipo e nome do logradouro, número, bairro/distrito,

Do Direito Societário 79
município, Unidade Federativa e CEP) e
2. Beltrano de Tal ................................................... (art. 997, l , CC/2002)
constituem uma sociedade limitada, mediante as seguintes cláusulas:
1ª A sociedade girará sob o nome empresarial ............................. e terá sede e
domicílio na (endereço completo: tipo e nome do logradouro, número, complemento,
bairro/distrito, município, Unidade Federativa e CEP). (art. 997, II, CC/2002)
2ª O capital social será R$ .................................. (............................... reais
(dividido em .............. quotas de valor nominal R$ ...... (............ reais), integralizadas,
neste ato em moeda corrente do País, pelos sócios:
Fulano de Tal ................. nº de quotas ............. R$ ...........
Beltrano de Tal ............... nº de quotas............. R$.................... (art. 997,
III, CC/2002) (art. 1.055, CC/2002)
3ª O objeto será ....................................................
4ª A sociedade iniciará suas atividades em ...................... e seu prazo de
duração é indeterminado. (art. 997, II, CC/2002)
5ª As quotas são indivisíveis e não poderão ser cedidas ou transferidas a
terceiros sem o consentimento do outro sócio, a quem fica assegurado, em igualdade
de condições e preço direito de preferência para a sua aquisição se postas à venda,
formalizando, se realizada a cessão delas, a alteração contratual pertinente. (art.
1.056, art. 1.057, CC/2002)
6ª A responsabilidade de cada sócio é restrita ao valor de suas quotas, mas
todos respondem solidariamente pela integralização do capital social. (art. 1.052,
CC/2002)
7ª A administração da sociedade caberá ................................................
. com os poderes e atribuições de ........................................... autorizado o uso do
nome empresarial, vedado, no entanto, em atividades estranhas ao interesse social
ou assumir obrigações seja em favor de qualquer dos quotistas ou de terceiros, bem
como onerar ou alienar bens imóveis da sociedade, sem autorização do outro sócio.
(artigos 997, Vl; 1.013. 1.015, 1064, CC/2002)
8ª Ao término de cada exercício social, em 31 de dezembro, o administrador
prestará contas justificadas de sua administração, procedendo à elaboração do
inventário, do balanço patrimonial e do balanço de resultado econômico, cabendo
aos sócios, na proporção de suas quotas, os lucros ou perdas apurados. (art. 1.065,
CC/2002)
9ª Nos quatro meses seguintes ao término do exercício social, os sócios
deliberarão sobre as contas e designarão administrador(es) quando for o caso. (arts.
1.071 e 1.072, § 2o e art. 1.078, CC/2002)

80 unidade 7
10 A sociedade poderá a qualquer tempo, abrir ou fechar filial ou outra
dependência, mediante alteração contratual assinada por todos os sócios.
11 Os sócios poderão, de comum acordo, fixar uma retirada mensal, a título
de “pro labore”, observadas as disposições regulamentares pertinentes.
12 Falecendo ou interditado qualquer sócio, a sociedade continuará
suas atividades com os herdeiros, sucessores e o incapaz. Não sendo possível ou
inexistindo interesse destes ou do(s) sócio(s) remanescente(s), o valor de seus haveres
será apurado e liquidado com base na situação patrimonial da sociedade, à data da
resolução, verificada em balanço especialmente levantado.
Parágrafo único - O mesmo procedimento será adotado em outros casos em
que a sociedade se resolva em relação a seu sócio. (art. 1.028 e art. 1.031, CC/2002)
13 O(s) administrador(es) declara(m), sob as penas da lei, de que não está(ão)
impedidos de exercer a administração da sociedade, por lei especial, ou em virtude de
condenação criminal, ou por se encontrar(em) sob os efeitos dela, a pena que vede,
ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos; ou por crime falimentar, de
prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato, ou contra a economia popular,
contra o sistema financeiro nacional, contra normas de defesa da concorrência, contra
as relações de consumo, fé pública, ou a propriedade. (art. 1.011, § 1º, CC/2002)
Inserir cláusulas facultativas desejadas.
14 Fica eleito o foro de ............ para o exercício e o cumprimento dos
direitos e obrigações resultantes deste contrato.
E por estarem assim justos e contratados assinam o presente instrumento em
_______ vias.
_____________, ___ de ___________de 20__
Local e data
aa)_________________________ aa)______________________
Fulano de Tal Beltrano de Tal
Visto: ______________ (OAB/MG 0987)
Nome

Um outro aspecto muito importante para a adequada fixação do


perfil das sociedades limitadas diz respeito ao regime de regência supletiva
introduzido pelo Código Civil (aplicável quando omissas as regras dessa
sociedade).
Nesse ponto, calha bem a lição de Fábio Ulhoa Coelho, para quem,
de acordo com o Código Civil de 2002 passaram a existir “duas limitadas”. É

Do Direito Societário 81
que o Código dispõe, em seu artigo 1.053, o que segue: “A sociedade limitada
rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da sociedade simples.
Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da
sociedade limitada pelas normas da sociedade anônima”.
Assim, de regra, as omissões legais e contratuais acerca da
regulamentação das sociedades limitadas, serão supridas pela automática
aplicação das regras das sociedades simples. Em sentido diverso, poderá o
contrato social estipular expressamente que a regência supletiva será a da lei
das sociedades anônimas (Lei 6.404, de 15/12/1976).

Mas quais seriam as decorrências da aplicação de um ou de outro


disciplinamento?

Em primeiro lugar, temos as hipóteses de dissolução parcial da


sociedade. Nas sociedades limitadas regidas supletivamente pelas regras
das sociedades simples, são mais numerosas, a saber: morte de sócio;
liquidação de quota a requerimento de credor de sócio; exercício motivado
do direito de retirada; exercício imotivado do direito de retirada e expulsão
de sócio.
Submetida à regência das sociedades anônimas, restariam apenas
duas situações geradoras da dissolução parcial da sociedade limitada:
exercício justificado do direito de retirada e expulsão de sócio.
Não por acaso, as primeiras são também conhecidas como limitadas
de vínculo instável e as segundas como limitadas de vínculo estável.
Em segundo lugar, temos a diferença quanto as regras para realização
de desempate em deliberação societária. O cálculo da maioria para se
chegar à vontade social não é feito pela chamada contagem por cabeça.
Não vale nas sociedades empresárias, como lembra Fábio Ulhoa Coelho,
o princípio democrático. A regra one man, one vote (um homem, um voto) é
aqui inaplicável. Nas sociedades tem maior poder de influência nas decisões
quem tem mais quotas ou ações.
Assim, um único sócio, eventualmente titular de quotas representativas
de mais da metade do capital social será considerado maioria e poderá,
dependendo da situação, soberanamente impor aos demais determinadas
decisões.
Mas, e se acontecer empate? Tratando-se de limitada regida
supletivamente pelas regras das sociedades simples, será feita a contagem

82 unidade 7
por cabeça. Pela regência supletiva das sociedades anônimas a solução
aponta para a realização de nova assembleia no prazo mínimo de dois meses
para reexaminar a matéria. Nos dois modelos, a persistência do empate
conduz o problema à apreciação pelo Poder Judiciário.
Em terceiro lugar, indique-se que ausente qualquer disposição
contratual acerca da destinação do lucro eventualmente havido num
exercício social, e imprevista a regência supletiva pela lei das sociedades
anônimas, terá o lucro o destino que lhe atribuir a maioria, podendo inclusive
ser totalmente reinvestido em proveito da própria sociedade.
Por outro lado, inexistindo disciplinamento específico, e diante
de expressa previsão contratual determinando a aplicação supletiva da
legislação das sociedades anônimas, pelo menos 50% (cinquenta por cento)
do lucro líquido deverá ser proporcionalmente distribuído aos sócios, ficando
reservada à maioria a possibilidade de dar ao lucro que sobrar o destino que
lhe parecer conveniente.
Aliás, sobre os quoruns de deliberação dos sócios, examine-se
a seguinte tabela ofertada pelo DNRC, com o objetivo de sistematizar as
principais situações verificadas nas sociedades empresárias:

MATÉRIAS QUORUNS
Matérias previstas no art. 1.071 do
CC/2002:
a) aprovação das contas da Maioria de capital dos presentes,
administração; se o contrato não exigir maioria
mais elevada (inciso III, art. 1.076
CC/2002).
b) designação dos administradores, Administrador não sócio: (art.
quando feita em ato separado; 1.061 CC/2002)
• unanimidade dos sócios, se o
capital social não estiver totalmente
integralizado;
• dois terços do capital social,
se o capital estiver totalmente
integralizado:
Administrador sócio (inciso II, art.
1.076 CC/2002)
• mais da metade do capital social.

Do Direito Societário 83
c) destituição dos administradores; Administrador, sócio ou não,
designado em ato separado
• mais da metade do capital social
(inciso II, art. 1.076 CC/2002);
Administrador sócio, nomeado no
contrato social
• dois terços do capital social, no
mínimo, salvo disposição contratual
diversa (§ 1º, art. 1.063, CC/2002)
d) o modo de remuneração dos Mais da metade do capital social
administradores, quando não (inciso II, art. 1.076 CC/2002).
estabelecido no contrato;
e) modificação do contrato social; Três quartos do capital social,
salvo nas matérias sujeitas a
quorum diferente (inciso I, art. 1.076
CC/2002).
f) incorporação, fusão e dissolução Três quartos do capital social (inciso
da sociedade, ou a cessação do I, art. 1.076 CC/2002).
estado de liquidação;
g) nomeação e destituição dos Maioria de capital dos presentes,
liquidantes e o julgamento das suas se o contrato não exigir maioria
contas; mais elevada (inciso III, art. 1.076
CC/2002).
h) pedido de concordata. Mais da metade do capital social
(inciso II, art. 1.076 CC/2002)
Outras matérias previstas no
Código Civil 2002
Exclusão de sócio – justa causa Mais da metade do capital social,
se permitida a exclusão por justa
causa no contrato social (art. 1.085
CC/2002).
Exclusão de sócio remisso Maioria do capital dos demais
sócios (parágrafo único do art.
1.004 CC/2002).
Transformação Totalidade dos sócios, salvo se
prevista no ato constitutivo (art.
1.114 CC/2002)

84 unidade 7
Para saber mais sobre o mercado, bem como sobre as vantagens e
sobre os custos que envolvem a criação e a manutenção de uma sociedade
anônima aberta, acesse o site da Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo)
clicando http.www.bovespa.com.br/Principal.asp.

DAS SOCIEDADES ANÔNIMAS

A sociedade anônima, também conhecida como companhia, tem o


capital social dividindo unidades representativas chamadas ações, sendo
que aqueles que as titularizam são chamados de acionistas, tendo o status
de sócios. Nas sociedades anônimas a responsabilidade dos acionistas será
limitada ao preço de emissão das ações subscritas ou adquiridas.
As sociedades anônimas podem ser classificadas em abertas e
fechadas, conforme suas ações estejam ou não admitidas à negociação no
mercado de valores mobiliários. A autorização para a referida negociação
é competência da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), entidade que
compõe a estrutura da Administração Pública Federal.
As sociedades anônimas normalmente são utilizadas para a realização
de grandes empreendimentos e tem grande influência na economia nacional.
Como exemplos de sociedades anônimas podemos lembrar as conhecidas
Companhia do Vale do Rio Doce e Petrobrás.
Como já mencionado, a estrutura das sociedades anônimas é mais
complexa do que a estrutura das demais sociedades, e tal fato fica claro
desde a criação da entidade. Enquanto nas sociedades limitadas é suficiente
a confecção e o registro de contrato social assinado pelos sócios, nas
sociedades anônimas as formalidades são muitas.
A título de exemplo, observe-se a seguir o panorama da constituição
de uma companhia de capital aberto.
Em primeiro lugar, devem ser obedecidos os requisitos preliminares:
subscrição, pelo menos por 3 (três) pessoas, de todas as ações em que se
divide o capital social fixado no estatuto; realização, como entrada, de 10%
(dez por cento), no mínimo, do preço de emissão das ações subscritas em
dinheiro; depósito, no Banco do Brasil S/A., ou em outro estabelecimento
bancário autorizado pela comissão de valores mobiliários, da parte do capital
realizado em dinheiro.
Em seguida, com a devida intermediação de uma corretora (conhecida
como underwriter) previamente cadastrada na CVM, deve ser feito o pedido de

Do Direito Societário 85
registro da sociedade e da emissão de ações na CVM. Entre os documentos
obrigatórios que devem acompanhar o pedido de registro estão o projeto de
estatuto; o prospecto (instrumento de divulgação da emissão das ações); e o
estudo de viabilidade econômica e financeira do empreendimento.
Caso a CVM aprove o registro passa-se, mais uma vez com a
devida intermediação da corretora para a etapa em que se buscará a efetiva
colocação das ações no mercado. Todas as ações devem ser subscritas,
adquiridas, sob pena de ser frustrado todo o procedimento de constituição
da sociedade.
Colocadas todas as ações no mercado, deve ser realizada a
assembleia de fundação da entidade, para a qual serão convocados todos
os subscritores.
Um outro aspecto que bem ilustra a diferença de complexidade entre
a sociedade anônima e as demais sociedades e mais exatamente entre as
sociedades anônimas de capital fechado e as sociedades anônimas de capital
aberto, diz respeito à documentação necessária para constituí-la.
Transcreve-se, por oportuno, tabela produzida pelo DNRC, indicando
os documentos que devem ser apresentados para a constituição de
sociedade anônima de capital fechado, também conhecida como constituição
por subscrição particular:

A) CONSTITUIÇÃO POR SUBSCRIÇÃO PARTICULAR, MEDIANTE


INSTRUMENTO PÚBLICO

ESPECIFICAÇÃO Nº DE VIAS
• Requerimento (Capa de Processo) com assinatura do
administrador, acionista, procurador, com poderes específicos, 1
ou terceiro interessado (art.1.151 CC/2002), (vide tabela de
atos e eventos para preenchimento do requerimento).
• Certidão de inteiro teor da escritura de constituição,
contendo: a qualificação dos subscritores, estatuto, relação
das ações subscritas e entradas pagas, transcrição do recibo
de depósito bancário da parte de capital realizado em dinheiro,
3
laudo de avaliação de bens , se for o caso, nomeação dos
administradores e, se for o caso, dos conselheiros fiscais,
menção ao visto do advogado, indicando nome e número de
inscrição na OAB - (1)

86 unidade 7
• Aprovação prévia do órgão governamental competente,
1
quando for o caso, se não constar do instrumento público (2)
• Original ou cópia autenticada (3) de procuração, com
poderes específicos e se por instrumento particular, com
firma reconhecida, quando o requerimento for assinado por 1
procurador. Se o outorgante for analfabeto, a procuração
deverá ser passada por instrumento público.
• Cópia autenticada (3) da Identidade dos diretores (4) e do
1
signatário do requerimento
• Ficha de Cadastro Nacional - FCN - fls. 1 e 2 1
Comprovantes de pagamento: (5)
a) Guia de Recolhimento/Junta Comercial. 1
b) DARF/Cadastro Nacional de Empresas (código 6621).

Transcreve-se também, por oportuno, tabela produzida pelo DNRC,


indicando os documentos que devem ser apresentados para a constituição de
sociedade anônima de capital aberto, também conhecida como constituição
por subscrição pública:

B) CONSTITUIÇÃO POR SUBSCRIÇÃO PÚBLICA EM ASSEMBLEIA


GERAL

ESPECIFICAÇÃO Nº DE VIAS
• Requerimento (Capa de Processo) com assinatura
do administrador, acionista, procurador, com poderes
específicos, ou terceiro interessado (art.1.151 CC/2002), 1
(vide tabela de atos e eventos para preenchimento do
requerimento).
• Ata da assembleia de constituição (1; 2)
• Estatuto e prospecto, bem como original do jornal em que
tiverem sido 3
publicados (1;2)
• Relação completa dos subscritores do capital social
(ou lista/ boletins/ cartas de subscrição), devidamente 3
autenticados pela instituição financeira (2)

Do Direito Societário 87
• Recibo de depósito bancário da parte do capital realizado
em dinheiro. É exigido depósito de, no mínimo, 10% do 1
capital subscrito em dinheiro
Ata de eleição de peritos ou de empresa especializada, na
3
hipótese de realização do capital em bens (2)
• Ata de deliberação sobre laudo de avaliação dos bens,
se não contida a deliberação na ata de constituição, 3
acompanhada do laudo (2)
• Folhas do Diário Oficial e do jornal de grande circulacão
que publicaram o anúncio convocatório da assembleia de
constituição e das assembleias preliminares, se for o caso 1
(3)

• Folha do Diário Oficial da União, do Estado, do DF ou do


Município que contiver o ato de autorização legislativa, se
1
tiver participação societária de empresa pública, sociedade
de economia mista, autarquia ou fundação pública
• Ficha de Cadastro Nacional - FCN - fls. 1 e 2 1
Aprovação prévia do órgão governamental competente,
1
quando for o caso (4)
• Original ou cópia autenticada (5) de procuração, com
poderes específicos e se por instrumento particular, com
firma reconhecida, quando o requerimento for assinado por 1
procurador. Se o outorgante for analfabeto, a procuração
deverá ser passada por instrumento público.
• Cópia autenticada (5) da identidade dos diretores (6) e do
1
signatário do requerimento
• Comprovantes de pagamento (7)
a) Guia de Recolhimento/Junta Comercial. 1
b) DARF/Cadastro Nacional de Empresas (código 6621).

Por fim, cumpre destacar as principais vantagens decorrentes da


abertura do capital de uma sociedade anônima listadas pela Bolsa de Valores
de São Paulo:

88 unidade 7
A empresa passa a ter Entre as motivações, sem dúvida, a mais
maior acesso a capital comum é o acesso a recursos para financiar projetos de
investimento. Evidentemente, existem diversas formas
para a empresa se financiar.
a) Recursos gerados pelo negócio
Uma delas é a utilização dos recursos gerados
pelo próprio negócio. Entretanto, essa alternativa
restringe os projetos da empresa ao montante de
recursos que ela é capaz de gerar, o que pode levar
ao desperdício de oportunidades e à limitação das
perspectivas de crescimento.
b) Capital de terceiros
Outra possibilidade é recorrer ao capital de
terceiros, por meio de dívida. Além da forma mais
tradicional de dívida, empréstimos bancários, uma
opção a ser considerada é a emissão de títulos de renda
fixa, debêntures ou notas promissórias, que podem ser
negociados na própria BOVESPA.
Liquidez A abertura de capital também pode proporcionar
patrimonial para os liquidez patrimonial, que nada mais é do que a
empreendedores possibilidade de empreendedores e/ou seus sócios
transformarem, a qualquer tempo, parte das ações que
possuam na empresa em dinheiro. É possível vender
algumas dessas ações no ato da abertura de capital ou,
no futuro, negociando na Bolsa. Dar alguma liquidez ao
patrimônio é uma forma muito razoável de protegê-lo.
Os sócios podem querer diversificar os investimentos,
seguindo o princípio que aconselha não colocar todos os
ovos numa única cesta. Além disso, se a empresa tiver
recebido investimentos de algum fundo de venture capital
ou private equity, a abertura de capital pode representar
a saída que esses sócios desejam. Geralmente, tais
investidores atuam em empresas de capital fechado de
menor porte, proporcionando-lhes estrutura, condições
financeiras e, muitas vezes, apoio administrativo. Em
contrapartida, só se tornam sócios de empresas em que
possam ter uma posição relevante no capital e desde que
vislumbrem a possibilidade de vender sua participação
societária, no futuro, de preferência por meio da abertura
de capital.

Do Direito Societário 89
A empresa melhora Uma grande vantagem da companhia de capital
sua imagem aberto em relação às demais é que ela tem muito mais
institucional projeção e reconhecimento de todos os públicos com
e fortalece o os quais se relaciona. Isso acontece porque ela passa
lacionamento com a ganhar visibilidade, ser regularmente mencionada
seus públicos na mídia e acompanhada pela comunidade financeira.
Apesar de ser impossível mensurar o valor agregado à
imagem em função da abertura de capital, não são poucos
os casos em que empresas listadas em bolsa melhoraram
as condições de negociação com fornecedores,
passaram a contar com maior exposição das suas
marcas, ganharam competitividade e aumentaram o
comprometimento dos funcionários, abrindo-lhes a
oportunidade de se tornarem acionistas também. Além
disso, a partir da abertura de capital, a credibilidade da
empresa aumenta perante a sociedade como um todo,
pois, para atender às necessidades de seus acionistas
investidores, e oferecer-lhes condições para que a
acompanhem de perto, a companhia terá de ser muito
mais transparente no fornecimento de informações. Pela
mesma razão, a empresa pode ganhar no relacionamento
com as instituições financeiras, que passam a ter maior
confiança na avaliação e na concessão de crédito. Um
efeito interessante, associado à postura ativa e vigilante
dos investidores e dos profissionais de investimentos, é
o ganho de eficiência em toda a organização, à medida
que a empresa passe a se disciplinar e a se organizar
melhor.
Reestruturação de Algumas empresas, para garantir sua
passivos sobrevivência e, eventualmente, recolocar-se na rota
de crescimento, são motivadas a pensar na abertura de
capital em função da necessidade de reestruturar seus
passivos. Embora essa seja uma razão forte e legítima,
nem sempre os investidores aceitam, confortavelmente,
participar de uma operação de reestruturação financeira,
em particular no caso de uma empresa nova, que ainda
não apresenta histórico na Bolsa. Para fazer a captação
de recursos com esse objetivo, a companhia deve
justificá-la muito bem para o mercado, explicando seus
planos e a mudança na estrutura de capital que o ingresso
desses recursos representará. O ideal é que a empresa
mantenha sempre uma estrutura financeira equilibrada
e, se tiver a abertura de capital como estratégia, procure
fazê-la antecipadamente para evitar o surgimento de
qualquer sinal de asfixia financeira.

90 unidade 7
DISSOLUÇÃO PARCIAL DA SOCIEDADE EMPRESÁRIA

Pode ocorrer que em razão de determinados eventos, a sociedade


sofra dissolução parcial, ou seja, pode ocorrer a saída de um sócio sem
prejudicar a continuidade da existência da sociedade.
As hipóteses mais comuns de dissolução societária parcial, também
chamada de resolução da sociedade em relação a um sócio, são as seguintes:
a) vontade dos sócios; b) morte de sócio; c) retirada de sócio; d) exclusão de
sócio; e) falência de sócio; f) liquidação da quota a pedido de credor de sócio.

EXTINÇÃO SOCIETÁRIA

A extinção de uma sociedade, também chamada doutrinariamente de


dissolução societária, tem caráter procedimental, ou seja, corresponde a uma
sequência de etapas que tem por ápice a cessação da personalidade jurídica
da entidade.
As etapas e seus respectivos significados são expostos a seguir:

Ato dissolutório – consiste no fato que desencadeia o procedimento


extintivo. Pode ser representado, entre outros motivos, pela vontade dos
sócios; pela cassação da autorização governamental (quando necessária);
pelo fim do prazo determinado de duração (quando existente o prazo); pela
falência; pela caracterização de ilicitude.
Liquidação – consiste na realização do ativo para a satisfação do
passivo. Em outras palavras, consiste na verificação dos ativos que integram
o patrimônio da entidade e na divisão do valor apurado entre os credores.
Partilha – se após a liquidação ainda restarem bens, eles serão
divididos proporcionalmente entre os sócios.
Cancelamento do Registro – a etapa final do processo de extinção
societária consiste no cancelamento do registro inicialmente realizado na
Junta Comercial. Somente com o mencionado cancelamento é que expira a
personalidade jurídica da sociedade.

Do Direito Societário 91
EXERCÍCIO

1) Indique e explique os pressupostos de existência de uma sociedade.

2) Como é a responsabilidade dos sócios de uma sociedade limitada?

3) Em que consiste uma sociedade anônima de capital aberto?

4) Indique e explique as etapas do processo de extinção de uma sociedade


empresária.

92 unidade 7
UNIDADE 8
Dos Títulos de Crédito

Resumindo
Na presente unidade será feito um estudo sobre os títulos de crédito, abrangendo seu conceito,
classificação, endosso, aval, pagamento, vencimento, protesto, além de abordar aspectos atuais
do cheque.
DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

CONCEITO

É do jurista italiano Cesare Vivante a definição consagrada de título


de crédito como todo documento necessário para o exercício do direito literal
e autônomo nele mencionado.
Os títulos de crédito foram criados para facilitar a circulação da
riqueza produzida, para facilitar, especialmente, a circulação e a negociação
do crédito.
Entre os títulos de crédito mais conhecidos e utilizados estão o
cheque, a nota promissória, a letra de câmbio e a duplicata.
O vigente Código Civil Brasileiro, seguindo a doutrina acima indicada,
preceitua em seu artigo 887 que o título de crédito, documento necessário
ao exercício do direito literal e autônomo nele contido, somente produz efeito
quando preencha os requisitos da lei.

CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

A doutrina que estuda os títulos de crédito classifica tais documentos


de acordo com diversificados critérios. Examinaremos agora os critérios mais
importantes e mais utilizados pelos autores.

Quanto à forma de transferência ou circulação

De acordo com o que leciona André Luiz Santa Cruz Ramos, conforme
o critério em exame, os títulos podem ser:

Dos Títulos de Crédito 95


a) TÍTULOS AO PORTADOR – título ao portador é aquele que circula
pela mera tradição, ou seja, pela simples entrega do título. Nele a identificação
do credor não é feita de forma expressa, de modo que qualquer pessoa que
porte o documento será presumido credor.
b) NOMINAIS À ORDEM – título nominal à ordem é aquele que
identifica expressamente o credor. A transferência do título nominal à ordem
depende, além da entrega do título, da prática de um ato formal denominado
endosso, ato materializado (conforme será examinado em tópico específico)
pela simples assinatura do credor no verso do documento.
c) NOMINAIS NÃO À ORDEM - título nominal não à ordem é aquele
que identifica expressamente o credor. A transferência do título nominal não
à ordem depende, além da entrega do título, da prática de um ato formal
denominado cessão civil de crédito (cujo estudo pertence aos domínios do
direito civil).
d) NOMINATIVOS – são aqueles emitidos em favor de pessoa
determinada, expressamente identificada em registro específico mantido pelo
emitente do título. A assinatura do emitente e do adquirente do título em
termo no mencionado registro é indispensável para a transferência do título.

Quanto à hipótese de emissão

Ainda de acordo com André Luiz Santa Cruz Ramos, em conformidade


com o critério em questão, os títulos de crédito podem ser:

a) ABSTRATOS – título abstrato é aquele que pode ser emitido


livremente, independendo de causa legalmente pré-determinada. Como
exemplo, pode ser citado o cheque, título que pode ser emitido para
documentar qualquer relação negocial.
b) CAUSAIS – título causal é aquele que pode ser emitido apenas
nas situações especificamente autorizadas pela lei. O exemplo perfeito
para ilustrar os títulos causais é a duplicata, título que somente pode ser
emitido para documentar uma compra e venda mercantil ou uma prestação
de serviços também de natureza mercantil.

Quanto ao modelo

Segundo Marcelo Bertoldi, de acordo com o presente parâmetro, os

96 unidade 8
títulos de crédito podem ser classificados em:
a) TÍTULOS VINCULADOS – são aqueles cujo formato deve obedecer
a um padrão previamente estabelecido pela lei, inalterável pela vontade das
partes sob pena de invalidade do título. Como exemplo pode ser mencionada
a duplicata, título cuja forma deve atender o disposto no artigo 27 da Lei n.
5474, de 1968 (Lei das Duplicatas) e, mais especificamente, o previsto nas
normas editadas pelo Conselho Monetário Nacional.
b) TÍTULOS LIVRES – são aqueles cujo formato pode ser livremente
convencionado pelas partes, inexistindo modelo legal previamente fixado.
Como exemplo pode ser mencionada a nota promissória, título que pode ser
confeccionado até mesmo em uma folha de caderno (naturalmente diferente
do cheque, título fornecido exclusivamente pelo banco), bastando que figurem
no papel as informações fundamentais previstas em lei.

PRINCÍPIOS DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

As vigas mestras sob as quais se estrutura toda a organização dos


títulos de crédito são representadas pelos princípios, normas que mostram a
essência do sistema, conferindo-lhe identidade.
Os princípios são normas de caráter fundamental que orientam a
elaboração, a interpretação e a aplicação das leis aos casos concretos.
Os princípios, reconhecidos por todos os autores do Direito Comercial,
aqui representados por Fábio Ulhoa Coelho, autor no qual a abordagem está
fundamentada, são os seguintes:

Cartularidade

O título de crédito é sempre uma cártula, um documento indispensável


para que o credor exerça o direito que dele consta.
Pelo princípio da cartularidade o credor do título de crédito deve
provar que se encontra na posse do documento para exercer o direito nele
mencionado. Se quiser, por exemplo, promover uma ação de cobrança contra
o devedor, deve juntar ao pedido o próprio título, sendo insuficiente a juntada
de cópia.

Dos Títulos de Crédito 97


Literalidade

O título de crédito vale pelo que nele está escrito, não se podendo
alegar fatos que não estejam formalmente grafados no documento.
Messineo afirma que “o direito decorrente do título é literal no sentido
de que, quanto ao conteúdo, à extensão e às modalidades desse direito, é
decisivo exclusivamente o teor do título”.
O credor não pode exigir e o devedor não está obrigado a pagar nada
além do que consta do título.

Autonomia

A partir do momento que o título de crédito circula, ele se desvincula


da relação jurídica que lhe deu origem. Assim, eventuais problemas, vícios,
havidos nessa relação não afetam o direito do credor do título, do portador de
boa-fé. Noutras palavras, diz-se que o título torna-se abstrato.
Contra o atual portador do título de crédito não pode ser alegada
pelo devedor (emitente do título) defesa que diz respeito a fato relacionado
ao negócio jurídico celebrado entre o devedor e quem com ele negociou
diretamente, ou seja, e o primeiro credor do título.

DO ENDOSSO

Como já mencionado, os títulos de crédito foram concebidos para


facilitar a circulação do crédito. O instrumento jurídico pelo qual ordinariamente
se dá a transferência dos títulos recebe o nome de endosso e é formalizado
pela simples assinatura do endossante no verso do documento.
Caso o endosso seja realizado na face do título, deve constar
expressamente declaração afirmando tratar-se de endosso, sob pena da
assinatura do endossante ser interpretada como aval (instituto que será
objeto de nossa atenção no tópico seguinte).
Quem realiza o endosso é chamado de endossante e, ao transferir
o título, preserva a responsabilidade pelo seu pagamento, tornando-se co-
devedor. Aquele em favor de quem o endosso é realizado, aquele que recebe
o título, tornando-se credor, recebe o nome de endossatário.
Quando o endossante simplesmente põe assinatura no título, sem
indicar em favor de quem está prestando o endosso, diz-se que o endosso é

98 unidade 8
em branco. Sendo assim, o título poderá circular livremente, como um título
ao portador.
Por outro lado, quando ao formalizar o endosso, o endossante indica
expressamente em favor de quem está transferindo o título, diz-se que o
endosso é em preto. Posta assim a questão, o título somente poderá circular
novamente através de um novo endosso, que poderá ser em branco ou em
preto.
Para um melhor entendimento acerca da função do endosso no que
diz respeito à circulação dos títulos de crédito e à legitimação do portador do
título como credor, é interessante o exame das seguintes situações, criadas
por Luiz Emygdio F. da Rosa Jr.:

Cadeia de endossos

Hipótese 1. A emite uma nota promissória a favor de B, que a


endossa em preto para C, que a endossa em preto para D. Este é portador
legítimo porque justifica o seu direito pelo endosso feito por C, e este prova
seu direito pelo endosso feito por B, que é o beneficiário da nota promissória.

endosso em preto endosso em preto


A------------------------------B--------------------------------C------------------------------D
emitente portador legítimo

Hipótese 2. A emite uma nota promissória em favor de B, que a


endossa em preto para C, que faz endosso em branco e entrega o título a D.
Este é portador legítimo porque justifica o seu direito pelo endosso em branco
feito por C, que prova seu direito pelo endosso feito por B, beneficiário da
nota promissória.

endosso em preto endosso em branco


A--------------------------------B-----------------------------------C-------------------------D
Emitente é portador legítimo

Dos Títulos de Crédito 99


Hipótese 3. A emite uma nota promissória em favor de B, que
endossa em preto para C, que entrega o título a D. Este não é portador
legítimo porque não prova seu direito em relação a C, que tendo adquirido o
título por endosso em preto, só podia negociá-lo mediante novo endosso, em
preto ou em branco, e, assim, a cadeia foi rompida.

endosso em preto tradição


A-------------------------------B------------------------------xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx D
Emitente não é portador legítimo

Hipótese 4. A emite uma nota promissória a favor de B. Este faz


endosso em branco e entrega o título para C, que, por tradição, o transfere
para D, que faz novo endosso em branco e entrega o título para E. Este é
portador legítimo porque prova seu direito pelo endosso em branco feito por
D, que também justifica seu direito pelo endosso em branco feito por B, não
importando que entre os dois endossos em branco tenha havido tradição do
título de C para D.

endosso em branco tradição endosso em branco


A-----------------------B------------------------CxxxxxxxxxxxxxD------------------------E
Emitente é portador legítimo

DO AVAL

Trata-se de uma garantia de pagamento do título de crédito prestada


por alguém (o avalista) em favor de outrem (o avalizado, que pode ser, por
exemplo, o emitente do título ou um endossante). O aval é formalizado pela
simples assinatura do avalista no anverso (na face) do documento.
Sobre a responsabilidade do avalista, Luiz Emygdio F. da Rosa Jr.
lembra que:

O avalista garante o pagamento como devedor solidário


e, por isso, o portador pode acioná-lo, individualmente ou
em conjunto com os demais obrigados, e não está sujeito
a observar o ordem pela qual se obrigaram.

100 unidade 8
Para ilustrar o afirmado o autor elabora o seguinte exemplo sobre
a responsabilidade do avalista, marcada, como explicado acima, pela
inexistência de benefício de ordem:

Primus emite uma nota promissória em favor de


Secundum, que a endossa para Tertius, sendo Quartus
avalista do endossante. Tertius, na qualidade de portador
do título, poderá acionar diretamente Quartus, avalista do
endossante Secundum, não estando obrigado a acionar
primeiro o emitente (Primus) e depois o endossante
(Secundum), para, em seguida, cobrar o título do avalista
do endossante.

Fala-se em avais simultâneos ou co-avais quando o aval é dado, em


conjunto, por duas ou mais pessoas em relação a uma mesma obrigação
cambiária, como devedores do mesmo grau (co-signatários de uma mesma
obrigação).
Fala-se em avais sucessivos quando há aval de aval. Os avalistas
sucessivos são obrigados de grau diverso.
O Supremo Tribunal Federal, por intermédio da edição da Súmula 189,
estabelece que “avais superpostos em branco são considerados simultâneos
e não sucessivos”.
O aval, a exemplo do que se verifica em relação ao endosso, pode ser
prestado em branco e em preto. O aval em branco é aquele que não identifica
o sujeito avalizado. Já o aval em preto é aquele que identifica expressamente
o sujeito avalizado.
Paralelamente ao aval, figura típica do direito comercial, existe
um instituto jurídico civil que também se presta a promover a garantia de
obrigação. Trata-se da fiança. Passemos agora a diferenciar os dois institutos,
de acordo com o que ensina Fábio Ulhoa Coelho:

O ato de garantia de efeitos não-cambiais é a fiança, que


se distingue do aval quanto à natureza da relação com
a obrigação garantida. A obrigação do fiador é acessória
em relação à do afiançado (CC, art. 837), ao passo que
a obrigação do avalista é autónoma, independente da
do avalizado (LU, art. 32). Como consequência desta
distinção, a lei concede ao fiador o benefício de ordem
(CC, art. 827), inexistente para o avalista.

Dos Títulos de Crédito 101


Certamente, a diferença fundamental entre as duas figuras reside no
fato de que na fiança a responsabilidade do fiador é subsidiária, ou seja,
ele somente pode ser cobrado depois que o credor comprova ter cobrado
o afiançado e não ter encontrado bens suficientes para o pagamento da
obrigação.

VENCIMENTO, PAGAMENTO E PROTESTO

O vencimento consiste no fato jurídico que torna exigível o crédito


cambiário mencionado no título. Quanto à espécie o vencimento pode ser
ordinário e extraordinário. O vencimento ordinário é o vencimento comum,
normalmente à vista ou decorrente do decurso de um prazo. Já o vencimento
extraordinário ocorre quando há a) recusa de aceite do título pelo sacado; b)
na falência do aceitante.
O pagamento consiste no meio direto e normal de extinção da
obrigação representada no título de crédito. Com o pagamento incide a regra
de que há o desfazimento das obrigações posteriores à do devedor que
cumpriu a obrigação documentada no título.
Quando o pagamento é realizado pelo devedor principal, ocorre a
extinção da totalidade das obrigações porque todos os demais devedores são
posteriores. Já quando o pagamento é realizado por co-devedor, como um
endossante, são extintas as obrigações de quem pagou e dos coobrigados
posteriores.
Não se pode perder de vista as cautelas que devem ser adotadas por
aquele que realiza o pagamento de título de crédito. Neste sentido, assevera
Fábio Ulhoa Coelho:

O pagamento de uma cambial deve cercar-se de cautelas


próprias. Em virtude do princípio da cartularidade, o
devedor que paga a letra de câmbio deve exigir que lhe
seja entregue o título. Em decorrência do princípio da
literalidade, deverá exigir que se lhe dê quitação no próprio
título. Se não observar tais cautelas específicas, e a letra
for endossada a portador de boa-fé, o devedor não poderá
furtar-se a um segundo pagamento, por força do princípio
da autonomia das obrigações cambiais. É claro que, em
seguida, poderá reaver o que pagou a mais de quem se
beneficiou do enriquecimento indevido. O endossante
que pagar uma letra poderá riscar o seu endosso e os
endossos posteriores.

102 unidade 8
Deve ficar claro ainda que a obrigação consubstanciada no título
de crédito tem natureza jurídica quesível, ou seja, o credor deve procurar o
devedor para receber o pagamento referente ao título.
Diante da inadimplência do devedor, o credor pode promover o protesto
do título de crédito. O protesto oferece ao devedor duas oportunidades: a
de quitar suas obrigações vencidas e a de defender-se contra débito sem
validade.
Consiste o protesto, em conformidade com o disposto no artigo 1 da
Lei n. 9492 de 1997, no ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência
e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos
de dívida. De acordo com o artigo 12 da lei em exame, o protesto será
registrado dentro de três dias úteis contados da protocolização do título ou
documento de dívida.
Por fim, deve-se realçar que se o devedor não paga o valor
representado pelo título de crédito no vencimento combinado, o credor
poderá promover ação judicial de execução do título contra o devedor, com
fundamento no artigo 585, I, do Código de Processo Civil.
O prazo de que dispõe o credor para ajuizar ação executiva contra o
devedor, varia conforme a espécie de título de crédito.
No que concerne ao cheque, título de crédito representativo de ordem
de pagamento à vista e que faz parte do cotidiano de milhões de pessoas, os
prazos, de acordo com o que disciplina o artigo 59 da Lei n. 7357 de 1985 (Lei
do Cheque), são os seguintes:
a) Prazo para ajuizamento de ação de execução contra o devedor: 06
meses contados do fim do prazo de apresentação para pagamento (30 dias
ou 60 dias, conforme se esteja falando de cheque da mesma praça ou de
cheque de outra praça);
b) Prazo para exercício do direito de regresso por um coobrigado
contra outro, contra o devedor principal ou contra seu avalista: 06 meses
contados da data do pagamento ou da propositura da ação de execução
contra ele.
c) Após o transcurso do prazo para o ajuizamento de ação de
execução, o credor poderá ainda propor contra o devedor ação tendo como
fundamento a vedação de enriquecimento indevido, devendo tal demanda ser
ajuizada dentro do prazo de 02 anos.
Fábio Ulhoa Coelho lembra ainda que se estivermos falando de

Dos Títulos de Crédito 103


cheque pré-datado apresentado antes da data indicada como data de
emissão, o marco inicial da contagem do prazo de 06 meses não será a data
indicada como data de emissão, mas sim a data em que efetivamente foi
realizada a apresentação para pagamento.
Já que se está falando sobre a inadimplência do devedor de título de
crédito, devem ser lembrados os elevados índices concernentes à devolução
de cheques por motivo de insuficiente provisão de fundos, consoante
demonstrado nos quadros que seguem:

Cheques Devolvidos
Cheques Devolvidos (2ª vez)* - Pessoa Jurídica
2008 2009 Var. % 09/08
Janeiro 385.219 470.011 22
Fevereiro 347.853 421.436 21
Março 369.909 524.007 42
Abril 369.725 447.351 21
Maio 383.392 492.074 28
Junho 341.273 417.431 22
Julho 388.776 455.236 17
Agosto 333.230 392.466 18
Setembro 362.468
Outubro 4431.802
Novembro 430.709
Dezembro 473.822
Total 4.618.178 3.620.012
* Devolvidos por alíneas 12, 13, 14

Cheques Devolvidos (2ª vez)* - Pessoa Física


2008 2009 Var. % 09/08
Janeiro 2.054.966 1.938.751 -6
Fevereiro 1.877.884 1.775.139 -5
Março 2.073.053 2.233.665 8
Abril 2.013.286 1.827.655 -9
Maio 2.020.321 1.995.897 -1
Junho 1.788.261 1.729.652 -3
Julho 01.970.363 1.859.633 -6
Agosto 1.656.345 1.597.420 -4
Setembro 01.778.715

104 unidade 8
Outubro 1.956.802
Novembro 1.850.040
Dezembro 2.012.066
Total 23.052.102 14.957.812
* Devolvidos por alíneas 12, 13, 14
Fonte: Equifax

DO CHEQUE PRÉ-DATADO

Ainda sobre o cheque, não se pode deixar se falar sobre a principal


utilidade que modernamente se tem atribuído a esse título, qual seja, a de
servir como garantia de pagamento de obrigação.
É que o cheque, como mencionado anteriormente, e como previsto
na já mencionada Lei do Cheque, mais exatamente em seu artigo 1, consiste
em uma ordem incondicional de pagamento à vista, de modo que a partir do
momento que o título é pré-datado, acaba servindo como forma de garantia
de pagamento do valor nele consignado e não como ordem de pagamento.
Diante disso, se o credor do cheque apresenta o título antes da data
combinada, fica caracterizada a quebra de contrato, sujeitando o infrator a
responder a ação judicial de indenização proposta pelo devedor.
Examine-se a esse respeito, duas das várias decisões do Superior
Tribunal de Justiça, as quais, por seu didatismo, merecem ser, ainda que
parcialmente, transcritas:

Civil. Recurso especial. Cheque pré-datado. Apresentação


antes do prazo. Compensação por danos morais. - Não
ataca o fundamento do acórdão o recurso especial que
discute apenas a natureza jurídica do título cambial emitido
e desconsidera o posicionamento do acórdão a respeito da
existência de má-fé na conduta de um dos contratantes.
- A apresentação do cheque pré-datado antes do prazo
estipulado gera o dever de indenizar, presente, como no
caso, a devolução do título por ausência de provisão de
fundos. Recurso especial não conhecido. (REsp 707272/
PB, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA,
julgado em 03/03/2005, DJ 21/03/2005 p. 382)

Dos Títulos de Crédito 105


Cheque pré-datado. Apresentação antes do prazo.
Indenização por danos morais. Precedentes da Corte.
1. A apresentação do cheque pré-datado antes do prazo
avençado gera o dever de indenizar, presente, como
no caso, a conseqüência da devolução do mesmo por
ausência de provisão de fundos. 2. Recurso especial
conhecido e provido. (REsp 557505/MG, Rel. Ministro
CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA
TURMA, julgado em 04/05/2004, DJ 21/06/2004 p. 219)

De tal forma se consolidou o entendimento do STJ sobre a matéria


em exame que o referido tribunal editou, já no presente ano, a Súmula 370, a
qual afirma que caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque
pré-datado.

EXERCÍCIO

1) Classifique os títulos de crédito quanto à hipótese de emissão.

2) Considere a seguinte situação: firmado um contrato entre A (obrigação


de pagar) e B (obrigação de entregar coisa certa), A emitiu título de crédito
representando a promessa de pagar; B endossou a nota para C; processado
por inadimplência, A defendeu-se, recusando o pagamento a C, alegando
não ser obrigado em face do descumprimento do contrato por parte de B.
Neste caso, é correta a decisão do juiz que acata a defesa de A e indefere o
pedido de C?

3) Em que consiste e como é formalizado o endosso?

4) O cheque pré-datado não tem valor jurídico. Julgue, fundamentadamente,


a presente afirmativa.

106 unidade 8
UNIDADE 9
Da Recuperação Empresarial

Resumindo
Na presente unidade será feito um estudo sobre a recuperação empresarial, abrangendo seu
fundamento, importância, modalidades, meios, quem pode usufruir da recuperação, os documentos
que devem acompanhar o pedido de recuperação.
DA RECUPERAÇÃO
EMPRESARIAL

NOÇÃO, IMPORTÂNCIA E ESPÉCIES

A recuperação empresarial e a falência são regidas pela Lei n. 11.101,


de fevereiro de 2005, lei que revogou o já bastante ultrapassado Decreto
7661, de 1945, antiga norma regente da crise empresarial.
Segundo o referido diploma legal, a recuperação empresarial (que
foi concebida em substituição à concordata) tem por objetivo viabilizar a
superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de
permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e
dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa,
sua função social e o estímulo à atividade econômica.
Sobre a enorme relevância da empresa para a sociedade, vale a pena
transcrever a seguinte lição de Fábio Konder Comparato, proferida na aula
inaugural dos Cursos Jurídicos da Faculdade de Direito da Universidade de
São Paulo, em 1983, período diurno:

Se se quiser indicar uma instituição social que, pela sua


influência, dinamismo e poder de transformação, sirva
como elemento explicativo e definidor da civilização
contemporânea, a escolha é indubitável: essa instituição
é a empresa. É dela que depende, diretamente, a
subsistência da maior parte da população ativa deste
país, pela organização do trabalho assalariado. A massa
salarial já equivale, no Brasil, a 60% da renda nacional. É
das empresas que provém a grande maioria dos bens e
serviços consumidos pelo povo, e é delas que o Estado
retira a parcela maior de suas receitas fiscais. É em
torno da empresa, ademais, que gravitam vários agentes
econômicos não assalariados, como os investidores de

Da Recuperação Empresarial 109


capital, os fornecedores, os prestadores de serviços. Mas
a importância social dessa instituição não se limita a esses
efeitos notórios. Decisiva é hoje, também, sua influência
na fixação do comportamento de outras instituições e
grupos sociais que, no passado ainda recente, viviam
fora do alcance da vida empresarial. Tanto as escolas
quanto as universidades, os hospitais e os centros de
pesquisa médica, as associações artísticas e os clubes
desportivos, os profissionais liberais e as Forças Armadas
- todo esse mundo tradicionalmente avesso aos negócios
viu-se englobado na vasta área de atuação da empresa.
A constelação de valores típica do mundo empresarial - o
utilitarismo, a eficiência técnica, a inovação permanente,
a economicidade de meios acabou por avassalar todos os
espíritos, homogeneizando atitudes e aspirações.

A própria Lei n. 11.101, de 2005, sabedora do caráter transindividual


da empresa, estabelece em seu artigo 47 que a recuperação judicial tem por
objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do
devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego
dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim,
a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade
econômica.
Sobre a eficácia da nova legislação disciplinadora da crise empresarial,
é possível observar um aumento da procura pelo instituto da recuperação
empresarial, bem como uma diminuição das falências decretadas, ao teor do
que ilustram as estatísticas lançadas abaixo:

Recuperação Judicial

Recuperação Judicial - Pedidos


2008 2009 Var. % 09/08
Janeiro 11 50 354,55
Fevereiro 22 23 4,55
Março 22 67 204,55
Abril 19 30 57,89
Maio 17 46 170,59
Junho 29 37 27,59
Julho 21 54 157,14

110 unidade 9
Agosto 22 30 36,36
Setembro 27
Outubro 20
Novembro 33
Dezembro 42
Total 285 337

Recuperação Judicial - Deferidas *


2008 2009 Var. % 09/08
Janeiro 6 32 433,33
Fevereiro 38 30 -21,05
Março 23 44 91,30
Abril 9 14 55,56
Maio 19 37 94,74
Junho 25 41 64,00
Julho 17 54 217,65
Agosto 9 35 288,89
Setembro 23
Outubro 15
Novembro 20
Dezembro 31
Total 235 287 0
*Inclui concordatas deferidas
Fonte: Equifax

Falências - Anos Anteriores

Falências Requeridas – Histórico


2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Janeiro 1.457 1.488 1.255 703 225 183 133
Fevereiro 1.711 1.714 1.271 970 265 203 129
Março 2.052 1.741 1.770 1.477 406 254 155
Abril 2.627 1.891 1.574 1.118 294 254 139
Maio 2.217 2.026 1.820 1.297 249 194 121
Junho 2.134 1.977 1.540 1.474 323 217 137
Julho 2.583 2.182 1.265 770 284 154 141
Agosto 2.434 1.868 1.042 622 315 175 135
Setembro 2.286 2.228 1.077 459 254 167 161

Da Recuperação Empresarial 111


Outubro 2.404 1.973 1.507 431 293 196 116
Novembro 1.766 1.686 1.607 386 259 181 131
Dezembro 2.036 1.719 1.590 319 207 154 133
Total 25.707 22.493 17.318 10.026 3.374 2.332 1.631

Falências Requeridas – Histórico


1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Janeiro 862 3.971 1.873 1.444 1.401 888 1.274
Fevereiro 1.099 3.492 2.709 2.763 1.842 1.733 1.636
Março 1.704 4.195 2.927 3.130 3.592 1.804 1.801
Abril 1.687 4.002 3.002 2.468 2.764 2.129 1.840
Maio 2.313 4.158 2.660 3.256 3.055 2.598 1.988
Junho 2.481 3.529 2.447 3.223 2.755 2.132 1.730
Julho 2.473 4.884 2.434 3.309 2.618 1.447 1.988
Agosto 2.705 3.976 2.873 3.259 2.235 2.181 2.099
Setembro 3.337 4.991 3.368 3.077 2.478 1.450 1.284
Outubro 3.339 4.517 3.305 3.055 2.117 1.397 1.449
Novembro 3.561 3.416 2.718 2.977 2.000 1.383 1.451
Dezembro 3.800 3.053 2.379 2.750 2.022 1.857 1.416
Total 29.361 48.184 32.695 34.711 28.879 20.999 19.956

Falências Decretadas – Histórico


2002 2003 2004 2005 2006 2008
Janeiro 322 196 203 115 143 65
Fevereiro 226 311 289 209 129 75
Março 474 337 385 417 226 80
Abril 403 381 343 297 205 96
Maio 480 385 444 350 171 64
Junho 431 334 375 347 183 61
Julho 421 391 255 264 158 72
Agosto 386 287 233 185 279 103
Setembro 266 536 184 220 164 92
Outubro 273 403 299 214 167 90
Novembro 269 302 351 216 143 86
Dezembro 271 360 284 160 114 50
Total 4.222 4.223 3.645 2.994 2.082 934

112 unidade 9
Falências Decretadas – Histórico
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001
Janeiro 114 356 317 325 284 284 262
Fevereiro 92 206 293 295 341 341 378
Março 172 368 470 531 597 597 346
Abril 169 350 451 434 586 586 538
Maio 203 386 474 503 678 678 691
Junho 191 333 487 619 617 617 410
Julho 183 490 582 544 544 544 383
Agosto 211 437 381 444 531 531 599
Setembro 237 626 485 597 571 571 440
Outubro 273 661 476 646 495 495 373
Novembro 276 493 439 583 486 486 420
Dezembro 355 466 448 573 470 470 322
Total 2.476 5.172 5.303 6.094 6.200 6.200 5.162
Fonte: Equifax

Por fim, não se pode perder de vista que a recuperação empresarial


pode se dar por duas maneiras distintas: a recuperação judicial ou a
recuperação extrajudicial.
Segundo leciona Waldo Fazzio Junior, a diferença entre as duas
espécies recuperatórias

reside na deflagração do plano de recuperação. Na


recuperação judicial, o devedor dirige-se ao juiz, que
concita os credores a se manifestarem sobre o pedido/
proposta. Na recuperação extrajudicial, estando de acordo Para saber mais
o devedor e seus credores, o Judiciário é requerido para sobre a recuperação
homologar e manter o controle da legalidade da operação. empresarial,
acesse o plano
de recuperação
empresarial judicial
QUEM PODE REQUERER RECUPERAÇÃO EMPRESARIAL da Varig, no seguinte
link: http://www.
acvar.com.br/arqs/
Poderá requerer recuperação judicial o devedor (empresário
PRJ.pdf
individual ou sociedade empresária) que, no momento do pedido, exerça
regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos
seguintes requisitos, cumulativamente:

• não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença

Da Recuperação Empresarial 113


transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;
• não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de
recuperação judicial;
• não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de
recuperação judicial com base no plano especial de que trata a
Seção V do Capítulo III da Lei n. 11.101/2005;
• não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio
controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos
na Lei n. 11.101/2005.

Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na


data do pedido, ainda que não vencidos.
As obrigações anteriores à recuperação judicial observarão as
condições originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz
respeito aos encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no plano
de recuperação judicial.

MEIOS DE RECUPERAÇÃO

Constituem meios de recuperação judicial, de acordo com o disposto


no artigo 50 da Lei n. 11.101, de 2005, observada a legislação pertinente a
cada caso, dentre outros:

• concessão de prazos e condições especiais para pagamento das


obrigações vencidas ou vincendas;
• cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade,
constituição de subsidiária integral, ou cessão de cotas ou ações,
respeitados os direitos dos sócios, nos termos da legislação
vigente;
• alteração do controle societário;
• substituição total ou parcial dos administradores do devedor ou
modificação de seus órgãos administrativos;
• concessão aos credores de direito de eleição em separado de
administradores e de poder de veto em relação às matérias que
o plano especificar;
• aumento de capital social;

114 unidade 9
• respasse ou arrendamento de estabelecimento, inclusive à
sociedade constituída pelos próprios empregados;
• redução salarial, compensação de horários e redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva;
• dação em pagamento ou novação de dívidas do passivo, com ou
sem constituição de garantia própria ou de terceiro;
• constituição de sociedade de credores;
• venda parcial dos bens;
• equalização de encargos financeiros relativos a débitos de
qualquer natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição
do pedido de recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos
contratos de crédito rural, sem prejuízo do disposto em legislação
específica;
• usufruto da empresa;
• administração compartilhada;
• emissão de valores mobiliários;
• constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar,
• em pagamento dos créditos, os ativos do devedor.

DOS DOCUMENTOS QUE DEVEM ACOMPANHAR O PEDIDO DE


RECUPERAÇÃO

O pedido de recuperação judicial deverá ser acompanhado dos


seguintes documentos:

• exposição das causas concretas da situação patrimonial do


devedor e das razões da crise econômico-financeira;
• demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios
sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido,
confeccionadas com estrita observância da legislação societária
aplicável e compostas obrigatoriamente de:
a) balanço patrimonial;
b) demonstração de resultados acumulados;
c) demonstração do resultado desde o último exercício social;
d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;
• relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por

Da Recuperação Empresarial 115


obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de
cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do
crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos
vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada
transação pendente;
• relação integral dos empregados, em que constem as respectivas
funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito,
com o correspondente mês de competência, e a discriminação
dos valores pendentes de pagamento;
• certidão de regularidade do devedor no Registro Público de
Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação
dos atuais administradores;
• relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos
administradores do devedor;
• extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de
suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade,
inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores,
emitidos pelas respectivas instituições financeiras;
• certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do
domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;
• relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em
que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista,
com a estimativa dos respectivos valores demandados.

CONVOLAÇÃO DA RECUPERAÇÃO EMPRESARIAL EM FALÊNCIA

Caso o plano de recuperação empresarial venha a fracassar, ocorrerá


a convolação da recuperação em falência, na forma do disposto no artigo 73
da Lei n. 11.101, de 2005:

Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de


recuperação judicial:
I – por deliberação da assembléia-geral de credores, na
forma do art. 42 desta Lei;
II – pela não apresentação, pelo devedor, do plano de
recuperação no prazo do art. 53 desta Lei;
III – quando houver sido rejeitado o plano de recuperação,
nos termos do § 4o do art. 56 desta Lei;

116 unidade 9
IV – por descumprimento de qualquer obrigação assumida
no plano de recuperação, na forma do § 1o do art. 61
desta Lei.

PANORAMA ESQUEMÁTICO DO PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO


EMPRESARIAL JUDICIAL

Da Recuperação Empresarial 117


EXERCÍCIO

1) Qual a importância da recuperação empresarial?

2) Indique três meios de recuperação empresarial.

3) Quais créditos estão sujeitos à recuperação empresarial?

4) Em que circunstâncias ocorre a transformação da recuperação empresarial


em falência?

118 unidade 9
UNIDADE 10
Da Falência

Resumindo
Na presente unidade será feito um estudo sobre a falência, abrangendo o conceito, importância,
princípios, hipóteses legais de decretação, classificação dos créditos, crimes falimentares.
DA RECUPERAÇÃO
EMPRESARIAL

NOÇÃO E IMPORTÂNCIA

A falência é um processo judicial de execução patrimonial coletiva


requerida pelos credores, em que todos os bens do falido são arrecadados
para uma venda judicial forçada, com a distribuição proporcional do produto da
venda entre todos os credores, em obediência à ordem legalmente prevista.
Sobre as raízes históricas da responsabilidade do devedor pelas
dívidas contraídas, André Luiz Santa Cruz Ramos lembra que:

Na Roma Antiga, houve período em que o devedor


respondia por suas obrigações com a própria liberdade e
às vezes até mesmo com a própria vida. A garantia do
credor era, pois, a pessoa do devedor. Assim, um devedor
poderia, por exemplo, tornar-se escravo do credor por
certo tempo, bem como entregar-lhe em pagamento da
divida uma parte do seu corpo.

A responsabilização pessoal do devedor não era privativa do direito


romano, sendo certo que vários outros povos a adotavam.
Neste sentido, é bastante elucidativa a seguinte passagem do Código
de Hamurábi:

117. Se alguém não cumprir a demanda por um débito,


e tiver de se vender, ou à sua esposa, seu filho e filha
por dinheiro ou tiver de dá-los para trabalhos forçados:
eles deverão trabalhar por três anos na casa de quem os
comprou, ou na casa do proprietário, mas no quarto ano
eles deverão ser libertados.

Da Falência 121
Ainda de acordo com o referido autor, somente a partir da confecção
da Lex Poetelia no ano 428 a.C. é que o direito romano passou a prever
normas que responsabilizavam patrimonialmente o devedor, ficando proibido
o encarceramento e a morte do devedor.

PRINCÍPIOS QUE REGEM O DIREITO FALIMENTAR

Como já mencionado quando tratamos sobre os títulos de crédito, as


vigas mestras sob as quais se estrutura toda a organização do direito que
cuida da crise empresarial são representadas pelos princípios, normas que
mostram a essência do sistema, conferindo-lhe identidade.
Os princípios são normas de caráter fundamental que orientam a
elaboração, a interpretação e a aplicação das leis aos casos concretos.
O primeiro princípio a ser destacado é o princípio da preservação
do crédito público. Segundo Paulo Penalva Santos:

É inquestionável que o crédito pode ser comparado ao


oxigênio para dar vida a qualquer sistema econômico, pois
o mecanismo da circulação das riquezas tem nele um dos
elementos essenciais de propulsão. Sem operações de
créditos, as atividades econômicas encontrariam limites
muito estreitos para se reproduzirem, ainda maiores
para se expandirem. A manutenção da credibilidade no
sistema financeiro é um elemento básico na organização
econômica.

De acordo com o que destaca Carlos Alberto Farracha de Castro,


aquele que é detentor de crédito, inquestionavelmente, possui prazo para
pagar o valor devido, e se titulariza prazo é em razão da confiança de que
é merecedor. Logo, eventual quebra da confiança, sem uma pronta solução
jurídica, provoca séria insegurança nas relações negociais em geral.
Outro princípio a ser destacado é o princípio da igualdade entre os
credores, também conhecido pela expressão latina par conditio creditorum.
Nas palavras de Paulo Roberto Colombo Arnoldi2, a própria essência da
falência retrata a paridade de tratamento que deve ser dispensada aos
credores:

122 unidade 10
A falência é um sistema de liquidação do patrimônio
do devedor qualificado com o fim de dividi-lo em partes
iguais por todos aqueles que tenham direito (par conditio
creditorum). Tal princípio (igualdade de condições dos
credores) significa dizer que, ressalvadas as preferências
impostas por lei, todos os credores têm direitos iguais e,
mesmo entre aqueles, tal acontece internamente.

Mencione-se que as preferências citadas pelo autor serão objeto de


nossa atenção em tópico posterior, e elas em nada desnaturam o princípio
em apreço, ao contrario, apenas o confirmam, notadamente em razão das
particularidades dos credores dotados da preferência.
Para arrematar, traz-se a lição de Fabio Ulhoa Coelho, que com a
habitual propriedade, proclama:

Para se evitar essa injustiça, conferindo as mesmas


chances de realização do crédito a todos os credores
de uma mesma categoria, o direito afasta a regra da
individualidade da execução e prevê, na hipótese,
a obrigatoriedade da execução concursal, isto é, do
concurso de credores (antigamente denominada execução
“coletiva”). Se o devedor possui em seu patrimônio menos
bens que os necessários ao integral cumprimento de suas
obrigações, a execução destes não poderá ser feita de
forma individual, mas coletivamente. Ou seja, abrangendo
a totalidade de seus credores e a totalidade de seus bens,
todo o passivo e todo o ativo do devedor.

O terceiro princípio ao qual nos reportamos é o princípio da


vedação do enriquecimento ilícito. Sobre o assunto o clássico J. X.
Carvalho de Mendonça pontifica que:

Na falência não se procura ganhar; cogita-se de


perder o menos possível, ne jus adveniant. Não seria
admissível interpretar as disposições da lei permitindo o
enriquecimento dos credores em manifesto prejuízo do
devedor ou de terceiro. A falência não é uma expropriação
violenta, é meio de execução e remédio preventivo de
prejuízos. Também seria condenável se o devedor achasse
na falência os meios de enriquecer, empobrecendo os
credores.

Da Falência 123
Não custa lembrar ainda que a vigente Lei de Falencias e
Recuperacao Empresarial lista, mais exatamente no seu artigo 168, entre
as condutas passivas de enquadramento como crime, a prática, antes ou
depois da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial
ou homologar a recuperação extrajudicial, ato fraudulento de que resulte
ou possa resultar prejuízo aos credores, com o fim de obter ou assegurar
vantagem indevida para si ou para outrem.
Por fim, mas não menos importante, merece destaque o principio da
preservação da empresa.
O estudo do direito falimentar deve ter por objetivo primordial a
preservação da empresa, considerada, como exposto anteriormente, não
como um fim em si mesma, mas como fundamental vetor de desenvolvimento
e superação de desigualdades.
Sobre o princípio em comento, lembra Alfredo de Assis Gonçalves
Neto que, diante de um caso concreto em que se vislumbre o confronto
entre normas que traduzem comandos antagônicos – uma conduzindo à
paralisação da empresa, e outra que possa solucionar o problema sem a
cessação da atividade empresarial, deve ser aplicada a última.
Ainda segundo o professor paranaense, a solução escolhida dá
cumprimento ao princípio da busca do pleno emprego, previsto no artigo 170,
VIII, da Constituição Federal de 1988.

O CARÁTER MENOS SEVERO DO REGIME FALIMENTAR

Segundo Fábio Ulhoa Coelho, o regime jurídico de sujeição à falência


(incidente exclusivamente sobre empresários individuais e sociedades
empresárias) revela-se menos severo se comparado com o regime jurídico
da insolvência civil (aplicável ao restante dos devedores).
Para comprovar o que afirma, destaca duas diferenças fundamentais
entre os dois regimes jurídicos, as quais, por sua relevância, são a seguir
expostas nas didáticas palavras do professor paulista:

a) Recuperação da empresa — faculdade aberta pela


lei exclusivamente aos devedores que se enquadram
no conceito de empresário ou sociedade empresária,
em razão da qual podem reorganizar suas empresas,
com maior ou menor sacrifício dos credores, de acordo
com plano aprovado ou homologado judicialmente. Por
meio do plano de recuperação da empresa, o devedor

124 unidade 10
pode postergar o vencimento de obrigações, reduzir seu
valor ou beneficiar-se de outros meios aptos a impedir
a instauração da execução concursal. O devedor civil
não tem uma faculdade desta extensão. Na melhor das
hipóteses, a lei prevê a possibilidade de suspensão da
execução concursal se o devedor obtiver a anuência de
todos os credores (CPC, art. 783).
b) Extinção das obrigações — o devedor empresário, em
regime de execução concursal, tem as suas obrigações
julgadas extintas, com o rateio de mais de 50% após a
realização de todo o ativo (LF, art. 158, II), ao passo que
as obrigações do devedor civil, em regime de execução
concursal, somente se extinguem com o pagamento
integral de seu valor (CPC, art. 774). Um empresário que
entra em falência com um patrimônio de valor superior
a 50% de seu passivo poderá obter a de claração de
extinção das obrigações logo após a realização de seu
ativo e rateio do produto apurado. Se, em seguida,
reconstituir o seu patrimônio, os credores existentes
ao tempo da falência não poderão comprometê-lo; já
o devedor civil na mesmíssima situação poderia ter o
seu patrimônio reconstituído executado até o integral
pagamento do passivo, salvo o decurso do prazo de 5
anos do encerramento do processo de insolvência (CPC,
art. 778).

QUEM É O DEVEDOR SUJEITO À FALÊNCIA?

Apenas os empresários individuais e as sociedades empresárias


estão sujeitos a ter sua falência decretada.
Assim preceitua o artigo 1º da Lei n. 11.101 de 2005 ao determinar
que “esta Lei disciplina a recuperação judicial, a recuperação extrajudicial
e a falência do empresário e da sociedade empresária, doravante referidos
simplesmente como devedor”.
Logo em seguida, no artigo 2º, a mesma lei determina que suas
normas não são aplicáveis aos seguintes agentes:
• empresa pública e sociedade de economia mista;
• instituição financeira pública ou privada, cooperativa de crédito,
consórcio, entidade de previdência complementar, sociedade
operadora de plano de assistência à saúde, sociedade seguradora,
sociedade de capitalização e outras entidades legalmente
equiparadas às anteriores.

Da Falência 125
QUEM PODE REQUERER A DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA?

De acordo com o disposto no artigo 97 da Lei n. 11.101 de 2005,


os legitimados para requerer a decretação da falência do devedor são os
seguintes:

• o próprio devedor, na forma do disposto nos arts. 105 a 107 desta


Lei;
• o cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o
inventariante;
• o cotista ou o acionista do devedor na forma da lei ou do ato
constitutivo da sociedade;
• qualquer credor.

Saliente-se ainda que se o requerente for empresário ou sociedade


empresária, deverá comprovar, mediante exibição de certidão do Registro
Público de Empresas, a regularidade de suas atividades.

HIPÓTESES LEGAIS DE DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA

De acordo com o artigo 94 da Lei n. 11.101/2005, será decretada a


falência do devedor que:

• sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento,


obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos
protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta)
salários-mínimos na data do pedido de falência;
• executado por qualquer quantia líquida, não paga, não deposita
e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal;
• pratica qualquer dos seguintes atos, exceto se fizer parte de plano
de recuperação judicial:
a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de
meio ruinoso ou fraudulento para realizar pagamentos;
b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de
retardar pagamentos ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de
parte ou da totalidade de seu ativo a terceiro, credor ou não;
c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o

126 unidade 10
consentimento de todos os credores e sem ficar com bens suficientes para
solver seu passivo;
d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o
objetivo de burlar a legislação ou a fiscalização ou para prejudicar credor;
e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente
sem ficar com bens livres e desembaraçados suficientes para saldar seu
passivo;
f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos
suficientes para pagar os credores; abandona estabelecimento ou tenta
ocultar-se de seu domicílio, do local de sua sede ou de seu principal
estabelecimento;
g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no
plano de recuperação judicial.

DA CLASSIFICAÇÃO DOS CRÉDITOS NA FALÊNCIA

Conforme já mencionado, com a decretação da falência do devedor,


seus credores deverão ser hierarquizados, ordenados de acordo com o
crédito que possuem.
A classificação dos créditos, segundo o artigo 83 da Lei n. 11.101/2005,
obedece à seguinte ordem:
• os créditos derivados da legislação do trabalho, limitados a 150
(cento e cinquenta) salários-mínimos por credor, e os decorrentes
de acidentes de trabalho;
• créditos com garantia real até o limite do valor do bem gravado;
• créditos tributários, independentemente da sua natureza e tempo
de constituição, excetuadas as multas tributárias;

Em relação aos créditos tributários, cabe lembrar o disposto no artigo


187, parágrafo único, do Código Tributário Nacional que diz que entre pessoas
jurídicas de direito público verifica-se uma ordem de preferência na seguinte
forma: 1 - União; 2 - Estados, Distrito Federal e Territórios, conjuntamente e
pró rata; 3 - Municípios, conjuntamente e pró rata.
• créditos com privilégio especial, a saber:
a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo
disposição contrária desta Lei;

Da Falência 127
c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de retenção sobre a
coisa dada em garantia;

• créditos com privilégio geral, a saber:


a) os previstos no art. 965 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002;
b) os previstos no parágrafo único do art. 67 desta Lei;
c) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo
disposição contrária desta Lei;

• créditos quirografários, a saber:


a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos
bens vinculados ao seu pagamento;
c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que
excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;
• as multas contratuais e as penas pecuniárias por infração das leis
penais ou administrativas, inclusive as multas tributárias;

• créditos subordinados, a saber:


a) os assim previstos em lei ou em contrato;
b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo
empregatício.

Serão considerados créditos extraconcursais e serão pagos com


precedência sobre os mencionados no art. 83 desta Lei, na ordem a seguir,
os relativos a:
• remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares,
e créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes
de acidentes de trabalho relativos a serviços prestados após a
decretação da falência;
• quantias fornecidas à massa pelos credores;
• despesas com arrecadação, administração, realização do ativo
e distribuição do seu produto, bem como custas do processo de
falência;
• custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa
falida tenha sido vencida;
• obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados

128 unidade 10
durante a recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei,
ou após a decretação da falência, e tributos relativos a fatos
geradores ocorridos após a decretação da falência, respeitada a
ordem estabelecida no art. 83 desta Lei.
Não se pode esquecer, de acordo com o que determina o artigo 150
da lei, que as despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à
administração da falência, inclusive na hipótese de continuação provisória
das atividades previstas no inciso XI do caput do art. 99 da lei, serão pagas
pelo administrador judicial com os recursos disponíveis em caixa.
Imprescindível lembrar também que, em conformidade com o disposto
no artigo 151 da lei, os créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial
vencidos nos 3 (três) meses anteriores à decretação da falência, até o limite
de 5 (cinco) salários-mínimos por trabalhador, serão pagos tão logo haja
disponibilidade em caixa.
Pagos todos os credores, o saldo, se houver, será entregue ao falido.

SENTENÇA DECLARATÓRIA DA FALÊNCIA

De acordo com o artigo 99 da Lei n. 11.101, de 2005, a sentença que


decretar a falência do devedor, dentre outras determinações:
• conterá a síntese do pedido, a identificação do falido e os nomes
dos que forem a esse tempo seus administradores;
• ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5
(cinco) dias, relação nominal dos credores, indicando endereço,
importância, natureza e classificação dos respectivos créditos, se
esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência;
• explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o
disposto no § 1º do art. 7º desta Lei;
• ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o
falido, ressalvadas as hipóteses previstas nos §§ 1º e 2º do art.
6º desta Lei;
• proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de
bens do falido, submetendo-os preliminarmente à autorização
judicial e do Comitê, se houver, ressalvados os bens cuja venda
faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a
continuação provisória nos termos do inciso XI do caput deste
artigo;

Da Falência 129
• ordenará ao Registro Público de Empresas que proceda à anotação
da falência no registro do devedor, para que conste a expressão
“Falido”, a data da decretação da falência e a inabilitação de que
trata o art. 102 desta Lei;
• nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas
funções na forma do inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem
prejuízo do disposto na alínea “a” do inciso II do caput do art. 35
desta Lei;
• determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições
públicas e outras entidades para que informem a existência de
bens e direitos do falido;
• pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das
atividades do falido com o administrador judicial ou da lacração
dos estabelecimentos, observado o disposto no art. 109 desta
Lei;
• ordenará a intimação do Ministério Público e a comunicação
por carta às Fazendas Públicas Federal e de todos os Estados
e Municípios em que o devedor tiver estabelecimento, para que
tomem conhecimento da falência.

Ainda no que diz respeito à sentença, mais exatamente no que


pertença a sua necessária divulgação, o juiz ordenará a publicação de edital
contendo na íntegra a decisão que decreta a falência e a relação de credores.

EFEITOS DA DECRETAÇÃO DA FALÊNCIA

Ao falido, seus bens e negócios, a sentença que decreta a falência


impõe sérias consequências. No presente tópico serão listadas, à luz dos
dispositivos da Lei n. 11.101, de 2005, algumas das principais:
O artigo 102 estabelece que o falido fica inabilitado para exercer
qualquer atividade empresarial a partir da decretação da falência e até a
sentença que extingue suas obrigações, respeitado o disposto no § 1o do
art. 181.
O artigo 103 determina que desde a decretação da falência, o devedor
perde o direito de administrar os seus bens ou deles dispor.
O artigo 104 fixa para o falido os seguintes deveres:
• assinar nos autos, desde que intimado da decisão, termo de

130 unidade 10
comparecimento, com a indicação do nome, nacionalidade, estado
civil, endereço completo do domicílio, devendo ainda declarar, para
constar do dito termo: a) as causas determinantes da sua falência,
quando requerida pelos credores; b) tratando-se de sociedade, os
nomes e endereços de todos os sócios, acionistas controladores,
diretores ou administradores, apresentando o contrato ou
estatuto social e a prova do respectivo registro, bem como suas
alterações; c) o nome do contador encarregado da escrituração
dos livros obrigatórios; d) os mandatos que porventura tenha
outorgado, indicando seu objeto, nome e endereço do mandatário;
e) seus bens imóveis e os móveis que não se encontram no
estabelecimento; f) se faz parte de outras sociedades, exibindo
respectivo contrato; g) suas contas bancárias, aplicações, títulos
em cobrança e processos em andamento em que for autor ou réu;
• depositar em cartório, no ato de assinatura do termo de
comparecimento, os seus livros obrigatórios, a fim de serem
entregues ao administrador judicial, depois de encerrados por
termos assinados pelo juiz;
• não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem motivo
justo e comunicação expressa ao juiz, e sem deixar procurador
bastante, sob as penas cominadas na lei;
• comparecer a todos os atos da falência, podendo ser representado
por procurador, quando não for indispensável sua presença;
• entregar, sem demora, todos os bens, livros, papéis e documentos
ao administrador judicial, indicando-lhe, para serem arrecadados,
os bens que porventura tenha em poder de terceiros;
• prestar as informações reclamadas pelo juiz, administrador
judicial, credor ou Ministério Público sobre circunstâncias e fatos
que interessem à falência;
• auxiliar o administrador judicial com zelo e presteza;
• examinar as habilitações de crédito apresentadas;
• assistir ao levantamento, à verificação do balanço e ao exame
dos livros;
• manifestar-se sempre que for determinado pelo juiz;
• apresentar, no prazo fixado pelo juiz, a relação de seus credores;
• examinar e dar parecer sobre as contas do administrador judicial.

Da Falência 131
O mesmo artigo determina ainda que se o falido descumprir quaisquer
dos deveres previstos, após intimado pelo juiz a fazê-lo, responderá por crime
de desobediência.
No que diz respeito aos negócios jurídicos praticados pelo falido
antes da decretação da falência, o artigo 129 preceitua que são ineficazes em
relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado
de crise econômico-financeira do devedor, seja ou não intenção deste fraudar
credores:
• o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor
dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo do direito de
crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;
• o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro
do termo legal, por qualquer forma que não seja a prevista pelo
contrato;
• a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção,
dentro do termo legal, tratando-se de dívida contraída
anteriormente; se os bens dados em hipoteca forem objeto de
outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia
caber ao credor da hipoteca revogada;
• a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da
decretação da falência;
• a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da
decretação da falência;
• a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o
consentimento expresso ou o pagamento de todos os credores,
a esse tempo existentes, não tendo restado ao devedor bens
suficientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30
(trinta) dias, não houver oposição dos credores, após serem
devidamente notificados, judicialmente ou pelo oficial do registro
de títulos e documentos;
• os registros de direitos reais e de transferência de propriedade
entre vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa
a imóveis realizados após a decretação da falência, salvo se tiver
havido prenotação anterior.

O artigo 130 enuncia que são revogáveis todos os atos praticados


com a intenção de prejudicar credores, provando-se o conluio fraudulento

132 unidade 10
entre o devedor e o terceiro que com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido
pela massa falida. Enquanto as hipóteses listadas no artigo 129 são objetivas,
independem de comprovação de má-fé, o artigo 130 contempla situações
subjetivas, incidindo apenas se ficar comprovada a má-fé.

CRIMES FALIMENTARES

Certas condutas do falido caracterizam a prática de crimes. A Lei n.


11.101 de 2005 se encarrega de listá-los entre o artigo 168 e o artigo 178.
Para facilitar a visualização e o entendimento, organizou-se a seguinte
tabela:

PREVISÃO
DESCRIÇÃO PENA
LEGAL
Praticar, antes ou depois da sentença que reclusão, de
decretar a falência, conceder a recuperação 3 (três) a 6
judicial ou homologar a recuperação (seis) anos, e
Artigo 168 extrajudicial, ato fraudulento de que resulte ou multa.
possa resultar prejuízo aos credores, com o
fim de obter ou assegurar vantagem indevida
para si ou para outrem.
Violar, explorar ou divulgar, sem justa causa, reclusão, de
sigilo empresarial ou dados confidenciais 2 (dois) a 4
Artigo 169 sobre operações ou serviços, contribuindo (quatro) anos,
para a condução do devedor a estado de e multa.
inviabilidade econômica ou financeira:
Divulgar ou propalar, por qualquer meio, reclusão, de
informação falsa sobre devedor em 2 (dois) a 4
Artigo 170
recuperação judicial, com o fim de levá-lo à (quatro) anos,
falência ou de obter vantagem e multa.
Sonegar ou omitir informações ou prestar reclusão, de
informações falsas no processo de falência, 2 (dois) a 4
de recuperação judicial ou de recuperação (quatro) anos,
Artigo 171 extrajudicial, com o fim de induzir a erro e multa.
o juiz, o Ministério Público, os credores, a
assembleia-geral de credores, o Comitê ou o
administrador judicial

Da Falência 133
Praticar, antes ou depois da sentença que reclusão, de
decretar a falência, conceder a recuperação 2 (dois) a 5
judicial ou homologar plano de recuperação (cinco) anos,
Artigo 172 extrajudicial, ato de disposição ou oneração e multa.
patrimonial ou gerador de obrigação,
destinado a favorecer um ou mais credores
em prejuízo dos demais
Apropriar-se, desviar ou ocultar bens reclusão, de
pertencentes ao devedor sob recuperação 2 (dois) a 4
Artigo 173
judicial ou à massa falida, inclusive por meio (quatro) anos,
da aquisição por interposta pessoa e multa.
Adquirir, receber, usar, ilicitamente, bem que reclusão, de
sabe pertencer à massa falida ou influir para 2 (dois) a 4
Artigo 174
que terceiro, de boa-fé, o adquira, receba ou (quatro) anos,
use: e multa.
Apresentar, em falência, recuperação reclusão, de
judicial ou recuperação extrajudicial, relação 2 (dois) a 4
Artigo 175 de créditos, habilitação de créditos ou (quatro) anos,
reclamação falsas, ou juntar a elas título falso e multa.
ou simulado:
Exercer atividade para a qual foi inabilitado ou reclusão, de
incapacitado por decisão judicial, nos termos 1 (um) a 4
Artigo 176
desta Lei: (quatro) anos,
e multa.
Adquirir o juiz, o representante do Ministério reclusão, de
Público, o administrador judicial, o gestor 2 (dois) a 4
judicial, o perito, o avaliador, o escrivão, o (quatro) anos,
oficial de justiça ou o leiloeiro, por si ou por e multa.
Artigo 177 interposta pessoa, bens de massa falida
ou de devedor em recuperação judicial,
ou, em relação a estes, entrar em alguma
especulação de lucro, quando tenham atuado
nos respectivos processos:

134 unidade 10
Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, detenção, de
antes ou depois da sentença que decretar 1 (um) a 2
a falência, conceder a recuperação judicial (dois) anos,
ou homologar o plano de recuperação e multa, se
Artigo 178
extrajudicial, os documentos de escrituração o fato não
contábil obrigatórios: constitui
crime mais
grave.

PANORAMA ESQUEMÁTICO DO PROCESSAMENTO DA RECUPERAÇÃO


EMPRESARIAL JUDICIAL

Da Falência 135
EXERCÍCIO

1) Em que consiste a falência?

2) Indique e explique dois princípios que regem a falência.

3) Quem está sujeito à falência?

4) Quem pode requerer a decretação da falência?

136 unidade 10
ANEXOS

ANEXO A – REVISTA DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO 2 ED. – REVISTA


DO INSTITUTO DE PLANEJAMENTO ECONÔMICO APLICADO

Empresas

A dura vida do empreendedor

Estudos mostram que o Brasil lidera a lista dos países que criam
maiores dificuldades para abrir uma empresa. É um dos grandes obstáculos
para que pequenos negócios entrem na economia formal.

Por Clarissa Furtado, de Brasília

Abrir uma empresa, pequena, média ou


grande, no Brasil, é como participar de uma gincana.
É preciso ter disposição para cumprir cerca de 17
procedimentos, comparecer em até 15 órgãos do
governo, ter tempo e dinheiro de sobra. Para se ter uma
ideia da dimensão do problema da burocracia nesse
campo, um estudo realizado pelo Banco Mundial este
ano, denominado Doing Business (fazendo negócios),
indica que qualquer mortal interessado em abrir um
empreendimento no Brasil tem de desembolsar,
por baixo, 274 dólares em taxas e tributos, além de
esperar uma média de 155 dias para abrir as portas.
O levantamento aponta que o Brasil ocupa o sexto lugar, entre 133
países pesquisados, em matéria de demora para a abertura de uma empresa.
O tempo gasto nos trâmites burocráticos é o triplo da média mundial, que é de
49 dias. Na Austrália, por exemplo, em dois dias se abre um negócio, e nos
Estados Unidos são necessários cinco dias (veja tabela na página seguinte).
Para fechar uma empresa brasileira são necessários 10 anos. É o segundo
processo mais lento do mundo. Perde apenas para a Índia, com 11,3 anos.
O estudo do Banco Mundial leva em conta a realidade dos principais
centros financeiros de cada país. No caso do Brasil, o cenário foi a cidade
de São Paulo. A situação da capital paulista é emblemática e reflete muito do
que acontece ao longo do território, embora em algumas capitais o problema
esteja minimizado, como é o caso de São Luís, no Maranhão, onde é possível
abrir um empreendimento em seis dias.
O périplo é longo não apenas por envolver várias etapas a serem
cumpridas, mas também devido a inúmeros imprevistos que normalmente
acontecem no meio do caminho. Um processo em fase final de deferimento
pode retornar ao ponto inicial se uma assinatura tiver algum detalhe diferente
da que consta na carteira de identidade, por exemplo, ou ainda se houver
qualquer pequena rasura ou termo incorreto.
As dificuldades enfrentadas pelos empreendedores brasileiros não
ocupavam a agenda pública desde o final da década de 1980, quando foi
criado o Ministério da Desburocratização (leia o quadro na página ao lado).
Agora, um grupo de trabalho do governo federal, capitaneado pelo Ministério
do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), está incumbido
de realizar um diagnóstico dos principais entraves no registro empresarial,
e de implementar soluções que minimizem o martírio de potenciais
empreendedores. O primeiro passo foi a realização de um workshop em
maio, reunindo membros do governo federal e outros setores envolvidos no
processo em instâncias estaduais e municipais. No evento foram debatidas
experiências internacionais de desburocratização e iniciativas locais bem-
sucedidas. Também foram esboçadas sugestões de atuação em nível federal.
“As exigências são repetitivas e falta orientação para o empreendedor”,
afirma Carlos Gastaldoni, secretário de Desenvolvimento da Produção do
MDIC e coordenador do grupo de trabalho. Segundo ele, a legislação foi
feita com foco em cada um dos órgãos envolvidos, sem uma visão geral
do processo e sem pensar no cliente. Grande parte da demora deve-se ao
fato de que os órgãos responsáveis por autorizar o registro não conversam
entre si. Assim, o potencial empresário tem de fornecer os mesmos dados e
documentos a cada um deles. E precisa esperar que se cumpra cada etapa
para iniciar outra.
Burocracia - Os contadores são as figuras que mais conhecem o
duro dia-a-dia das filas da burocracia. “A sensação é de que a cada ano fica
mais difícil abrir um negócio. Em Brasília, costumamos gastar de 40 a 60
dias para cadastrar uma empresa e outros 3 a 4 meses para que ela possa
funcionar”, comenta o contador Leo Arksy, da empresa de contabilidade
Welmaso, de Brasília.
A questão é importante porque impacta a pauta de crescimento
sustentável do Brasil a longo prazo. A burocracia é um dos motivos da alta
taxa de informalidade dos negócios no país, hoje na casa dos 40% do Produto
Interno Bruto (PIB), de acordo com o Banco Mundial. Segundo um estudo do
Instituto Análise de Ribeirão Preto, realizado no final do ano passado a pedido
do Ministério da Fazenda, de um total de 640 empreendedores informais do
estado de São Paulo, 21,5% não pensavam em legalizar suas atividades por
causa das dificuldades burocráticas, 24,6% devido ao alto custo financeiro e
18,5% devido ao tempo gasto no processo.
O argumento explica a ênfase especial ao tema pedido pelo ministro
Luiz Fernando Furlan, do MDIC, ao grupo de trabalho interministerial, e
também a inclusão do tema na lista de medidas da nova Política Industrial.
“Mas não adianta esperar que o Estado sozinho conduza o processo de
mudanças. A pressão da sociedade é fundamental”, alerta o cientista político
Sérgio Abranches. (leia o quadro na página ao lado).
Entidades representativas do público empresarial já estão se
movimentando nesse sentido. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e
Pequenas Empresas (Sebrae), por exemplo, elaborou um anteprojeto de lei,
a ser apresentando ao Congresso ainda em 2004, redefinindo o Estatuto das
Micro e Pequenas Empresas e fazendo outras propostas. (Leia o quadro na
página 32). Interessados no assunto não faltam. O número de empreendedores
no país é crescente. O Brasil passou de sétimo colocado, em 2002, para o
6º lugar, em 2003, na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor, feita pela
London Business School, sobre o nível da atividade empreendedora em todos
os continentes. No ano passado, 12,9% da população estava envolvida em
alguma ação empreendedora, formal ou informalmente.
A criação de um cadastro único de empresas, reunindo informações
da Receita Federal e das secretarias de fazenda estaduais e municipais é o
desejo daqueles que defendem um processo menos complexo na constituição
de empresas no Brasil. O Sebrae, a Federação Nacional das Empresas de
Serviços Contábeis (Fenacon) e o Conselho Federal de Contabilidade (CFC)
já definiram essa demanda como a principal em sua pauta de reivindicações.
O conceito one stop shop (algo como loja de parada única) já funciona em
vários países desenvolvidos. A unificação das informações fiscais é, inclusive,
uma exigência da Emenda Constitucional 42, aprovada na Reforma Tributária
do ano passado.
A entrada única de dados cadastrais é a regra, por exemplo, no
Canadá, que também já admite o preenchimento de formulários pela internet.
Assim, em apenas dois dias, é possível obter o registro. O empreendedor se
compromete a enviar, por correio, um único documento: o contrato social da
empresa.
No Brasil, embora esteja previsto em lei, o cadastro único
ainda está longe de se tornar realidade. Ainda está apenas no plano da
discussão. Depois que a Receita Federal realizou, em julho, um encontro de
administradores tributários, foram assinados dois protocolos estabelecendo
metas e compromissos para viabilizar o projeto. Segundo o coordenador-
geral de fiscalização da Receita, Paulo Ricardo de Souza Cardoso, estados
e municípios terão até 30 de setembro para apresentar um diagnóstico da
situação e o que seria necessário para a unificação. “Temos disparidades
nas regras locais e também na estrutura tecnológica. Em São Paulo, por
exemplo, o registro de empresa é regulado por lei estadual e, por isso, terá
de ser aprovada uma nova lei que possibilite o cadastro único”, explica.
A adoção de um código único de classificação econômica de
empresas é outra medida fundamental para a viabilização do projeto. A
Classificação Nacional de Atividade Econômica (CNAE - Fiscal), criada em
1994 e atualizada em 2002, foi sendo paulatinamente usada pelos diversos
ministérios. Ela torna possível o uso de um mesmo código de atividade em
todo o país e viabiliza o cadastro único. A classificação segue o padrão da
Organização das Nações Unidas, o que facilita a comparação de informações
brasileiras com dados mundiais. Nem todas as cidades, porém, a utilizam e,
naquelas em que já é empregada, falta uniformidade. Algumas aplicam os
três primeiros algarismos da classificação, enquanto outras elencam até seis.
Na Receita Federal o padrão é o uso dos quatro primeiros números. Na esfera
federal, cogita-se que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
poderia coordenar uma central de codificação de atividades econômicas.
Unificação de códigos - O código da CNAE também poderia ser
usado para cruzamento com as atividades listadas nos planos diretores
das cidades. Isso facilitaria a concessão dos alvarás de funcionamento e
serviria para orientar a necessidade de fiscalizações e licenças específicas.
Na cidade de São Paulo está sendo elaborado um software que determinará,
por exemplo, a necessidade de uma vistoria ambiental com base no código.
Além do cadastro único existem outros problemas. Faltam
informações sistematizadas e de fácil compreensão sobre o procedimento
a ser adotado pelos interessados em abrir empresas, principalmente porque
as regras variam de cidade para cidade, de estado para estado. O Sebrae
tem desempenhado um papel importante nessa área. “É preciso unificar as
regras”, sugere o presidente do CFC, José Martonio Alves Coelho.
Como se não bastasse o tortuoso caminho até a obtenção do registro
da empresa, os futuros empresários precisam munir-se de persistência
para conseguir autorizações de funcionamento das instâncias locais, como
a prefeitura, o corpo de bombeiros e a vigilância sanitária. Dos 152 dias
registrados no estudo do Banco Mundial, 120 são gastos nos procedimentos
de fiscalização e vistoria pra a obtenção das licenças vinculadas ao alvará
de funcionamento. A falta de fiscais em muitas cidades adia a vistoria. Em
Brasília houve casos em que, para agilizar o processo, o empreendedor teve
de ir ao corpo de bombeiros com seu próprio carro para buscar o técnico, já
que faltam viaturas.
Fiscalização - Qual seria uma possível solução? Para André Spínola,
consultor de tributos e desburocratização do Sebrae, deveriam ser criadas
classificações mais precisas das atividades de acordo com o risco potencial
que elas oferecem para a sociedade. Assim, as fiscalizações se concentrariam
nos negócios em que há, de fato, perigo de acidentes. Outra hipótese seria
dar ciência ao empreendedor de todas as obrigações a cumprir em relação
à segurança da atividade. Ele assinaria um termo de responsabilidade
comprometendo-se a executá-las em determinado período de tempo. Dessa
forma, a firma poderia iniciar suas atividades mais rapidamente.
Não é apenas o nascimento de um empreendimento que envolve
tantos meandros. Os processos de fechamento ou alteração das condições
jurídicas são compostos por rituais ainda mais cansativos. O prazo de dez
anos citado pelo Banco Mundial para dar baixa de um estabelecimento é
consequência, em grande medida, da exigência de certidões negativas pelo
Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), da Procuradoria Geral da
Fazenda Nacional, da Receita Federal e do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço (FGTS). Uma alternativa para resolver o problema seria a eliminação
de todas essas certidões. O empresário daria baixa na Junta Comercial e
avisaria aos órgãos envolvido que cobrariam eventuais dívidas.
A redução do prazo de abertura e encerramento de empresas no
Brasil ainda vai demorar. Contando com aprovações de projetos de lei no
Congresso, investimentos em informatização e, sobretudo, uma cooperação
entre os governos, serão precisos pelo menos três ou quatro anos, se tudo
correr bem. Mas questões complexas muitas vezes são resolvidas com
soluções marcadas pela simplicidade, quase óbvias. Enquanto as mudanças
estruturais não aparecem, foram criadas em dez cidades, com o apoio do
Sebrae, as Centrais Fáceis, que reúnem escritórios dos órgãos envolvidos
no registro num único local.

ANEXO B – REVISTA DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO 4 ED. –


REVISTA DO INSTITUTO DE PLANEJAMENTO ECONÔMICO APLICADO

Brasil dividido

Mais da metade dos trabalhadores brasileiros vive na informalidade.


Saiba por que isso é um problema e o que está sendo feito para resolvê-lo.

Por Ottoni Fernandes Jr*, de Brasília

Contraste: O comerciante informal em plena atividade em frente


à antiga sede do Ministério da Fazenda, no Rio de Janeiro.

Eles habitam um mundo de tons


cinzentos. Procuram sobreviver no improviso,
escapar das armadilhas da burocracia e
do pagamento de impostos. São camelôs,
barraqueiros, donos de fábricas de fundo de
quintal. Alguns resvalam para a ilegalidade,
vendem cigarros e remédios falsificados,
CDs piratas ou uma miríade de coloridos
badulaques que enfeitam as ruas de qualquer
cidade. São também os diplomados que dão
consultoria ou atuam como personal trainers. Tem de tudo no mundo da
informalidade. O Brasil é um dos campeões nesse território. Nada menos
do que 52,6% dos brasileiros que praticam alguma atividade remunerada
gravitam em ambientes informais. Em 2002, eram 36,3 milhões de pessoas,
entre 69,1 milhões de trabalhadores que recebiam algum tipo de pagamento.
Os dados estão em estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea) feitos com base em informações do Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE). O problema é crescente, especialmente nas regiões
metropolitanas, e dentro delas no setor de serviços.
As estimativas indicam que nesse ambiente circulem de 10% a 15%
do Produto Interno Bruto (PIB). Uma pesquisa feita pelo Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) em 1997 revelou a
existência de 9,5 milhões de empresas informais, ocupando 12,9 milhões
de pessoas: 86% pertenciam a trabalhadores autônomos e 14% tinham até
cinco empregados. Em dezembro, será divulgado um novo levantamento com
as mesmas características. Há grande curiosidade a respeito dos resultados:
será que o universo informal continua em expansão?
Segundo Lauro Ramos, pesquisador do Ipea e especialista em
mercado de trabalho, o crescimento da informalidade no Brasil resulta de
uma reacomodação da economia. Em 1991, a indústria respondia por 22,2%
das vagas de trabalho nas regiões metropolitanas (conforme a Pesquisa
Mensal de Emprego). Em 2002, a indústria era responsável por apenas
15,9% dos empregos do IBGE. Em contrapartida, o setor de serviços teve a
sua participação aumentada de 35,7% para 42,8% do total dos empregos em
2002. Isso ocorreu porque a indústria deu um salto de produtividade e passou
a produzir mais com menos gente. Ao mesmo tempo, terceirizou atividades,
muitas para empresas de serviços de limpeza, segurança ou alimentação.
Os dados de Ramos indicam que o setor industrial não apenas está
empregando menos, também é nele que se registra o maior crescimento da
informalidade. Em 1992, 33% da mão-de-obra industrial era composta por
trabalhadores sem carteira assinada ou por pessoas que trabalhavam por
conta própria. Em 2002, já eram 36% (veja tabela ao lado). Já no setor de
serviços houve uma pequena queda no grau de informalidade, que passou
de 53,5% em 1992 para 52,4% em 2002. O Sistema Simples, implantado
em 1996, que facilitou a abertura de empresas, já atraiu 2,8 milhões de
microempresas para a lado formal da economia.
Há mais. “Embora tenha ocorrido um significativo aumento da
informalidade ao longo da década de 1990, os diferenciais de salários
observados entre os trabalhadores formais e informais caíram de forma
expressiva”, diz Ramos. O aumento da escolaridade dos trabalhadores
sem carteira assinada pode ser uma explicação para a aproximação dos
rendimentos: em 1984, apenas 17% dos trabalhadores sem carteira tinham
mais de 11 anos de escolaridade e em 2000 essa proporção subiu para 26%.
Um estudo da consultoria McKinsey publicado em junho revela que
o maior grau de informalidade está no setor agropecuário. Ali, 90% da mão-
de-obra não têm vínculo empregatício. O menor nível de informalidade é o
do setor de veículos automotores, que ostenta um índice de apenas 9%.
O levantamento foi feito com base nos dados da Pesquisa Nacional por
Amostras de Domicílio (Pnad) de 2002.
A investigação dos números é reveladora. Mais instigante ainda é a
pesquisa dos casos concretos. Nela, descobre-se que há gente de todo o tipo
nesse lado pouco conhecido da economia brasileira. Que a riqueza é imensa.
E que pertencer ou não ao segmento informal não é necessariamente uma
opção. Leandro Dias de Oliveira é um estudante de 17 anos de idade. Cursa
o segundo ano do ensino médio e não pensa em fazer faculdade. Ajuda
o pai na loja de material de limpeza que a família tem numa garagem do
Jardim Nakamura, na zona sul da capital paulista. O negócio foi aberto há
oito anos, quando o pai perdeu o emprego. Leandro e seu pai manipulam
produtos químicos em galões sem qualquer segurança. Qual sua perspectiva
de futuro? Permanecer como estão. Cuidando da sobrevivência a cada dia.
Sem alternativa - Da mesma forma o vendedor de cocos que atua
bem em frente à antiga sede do Ministério do Trabalho, no centro do Rio de
Janeiro, pode não ter escolhido essa atividade, mas apenas ter conseguido
escapar, por essa via, de uma época de penúria depois de entrar para a
lista de cortes de uma indústria qualquer. A dona da pequena confecção em
Jaraguá, Goiás, (leia reportagem na página 32), não teve alternativa senão
ficar na informalidade por não conseguir cumprir as regras para a abertura de
uma empresa, arcar com os pesados encargos tributários ou desvendar uma
complexa legislação entronizada sobre a Consolidação das Leis Trabalhistas
- um cartapácio com 985 artigos que tem 61 anos de idade.
Pesquisa feita pelo Sebrae em fevereiro, junto a 1.049 empresas
informais, aponta que a principal causa para permanecerem nessa condição
é a elevada carga tributária (75,2% das respostas). Depois vêm as barreiras
burocráticas (15,6%) e a falta de acesso ao crédito (9,2%). Sobram razões
para a definição do inimigo principal, pois a carga tributária no Brasil passou
de 25% do PIB em 1992 para 34,6% em 2002, 36,11% em 2003 e, a se
confirmarem as projeções feitas pelo Instituto Brasileiro de Planejamento
Tributário (IBPT), fechará 2004 na marca dos 38% do PIB. Do lado dos
trabalhadores existe um descasamento entre as contribuições para a
Previdência e os benefícios potenciais que o sistema previdenciário oferece.
Menos oxigênio - A informalidade é um problema para o país por
várias razões. Primeiro porque quem trabalha sem registro vive sem qualquer
rede de proteção. Não tem direito a férias, décimo terceiro salário nem Fundo
de Garantia por Tempo de Serviço. Depois, porque uma empresa não investe
na capacitação de um trabalhador que não tem vínculo com seu negócio - o
que numa perspectiva mais larga prejudica a competitividade da economia do
país como um todo. Em terceiro lugar, porque empresas e pessoas que vivem
na informalidade não pagam impostos, o que prejudica as contas públicas e
dificulta investimentos necessários para o bem comum. E também porque
embora não contribuam, os trabalhadores informais têm direito a assistência
médica e a aposentadoria - uma despesa que está sendo coberta por um
número cada vez menor de trabalhadores e empresas formais. A perda de
arrecadação tributária e previdenciária é apenas uma das consequências
fiscais danosas da informalidade. Diante da evasão, o Estado tem de buscar
reforço de caixa. Uma das alternativas é cobrar mais do setor que já paga
impostos como manda o figurino - o que tira oxigênio da economia.
A busca de soluções para o problema é uma tarefa do governo e
da sociedade e o primeiro passo para cumpri-la é identificar suas causas.
“Existem duas visões sobre o setor informal. A primeira delas parece entendê-
lo como a utilização de recursos ilícitos. Para ganhar alguma vantagem
competitiva, perante uma legislação não muito boa, onde as regras mudam, a
sociedade não se sente suficientemente convencida de que deve enquadrar
o informal, o sujeito que emprega o dumping ou algum outro recurso ilícito”,
explica Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Ipea. Quem defende esta
visão, acredita que o problema se resolve arrumando as leis e combatendo
a burla à legislação. “A segunda visão identifica várias vantagens em uma
pessoa optar por ser informal. A ela faltaram oportunidades, como educação,
acesso ao crédito ou até mesmo herança familiar. Neste caso, a informalidade
tem raízes em coisas que o Estado deixou de fazer”, diz Barros.
De acordo com o relatório da McKinsey, a opção pela informalidade
está relacionada ao alto custo do cumprimento das leis, que estimula as
empresas menos produtivas a permanecer na informalidade. Também está
associada a empreendimentos ligados ao contrabando ou à falsificação.
Exigências de controle de qualidade ou padrões fitossanitários também são
um vigoroso incentivo para reforçar o terreno da informalidade. Finalmente, é
cada vez mais comum a opção pela informalidade para não cumprir exigências
trabalhistas, previdenciárias ou relacionadas à segurança do trabalho. “O
pequeno empresário não paga os encargos trabalhistas porque eles pesam
relativamente mais em seu faturamento do que no de uma grande empresa”,
diz Ricardo Tortorella, economista e consultor da Unidade de Políticas
Públicas do Sebrae Nacional. O custo total da folha de pagamentos pode
chegar a 70% da receita bruta para uma pequena confecção formalizada
enquanto não passa de 3% na indústria automobilística. Da mesma forma,
o custo relativo da assistência à saúde e da segurança no trabalho é muito
mais pesado para as pequenas empresas.
Em conjunturas de retração da oferta de trabalho os próprios
funcionários se tornam cúmplices do processo. Aceitam vínculos sem carteira
assinada ou através de cooperativas. Segundo o economista José Márcio
Camargo, professor titular do Departamento de Economia da Pontifícia
Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro, o trabalhador não se
interessa pelo registro em carteira, especialmente se recebe salário perto
do mínimo, pois terá direito a receber uma aposentadoria correspondente ao
mínimo quando chegar aos 65 anos de idade quer tenha sido registrado em
carteira quer não. E de qualquer maneira tem acesso ao Sistema Único de
Saúde. Deixa de ter direito ao seguro desemprego, ao seguro acidente de
trabalho e ao seguro maternidade, mas não precisa abrir mão de uma parte
de sua receita em favor da Previdência Social.
Justiça - Do lado dos pequenos empresários, não pagar os direitos
trabalhistas e seus respectivos encargos sai mais barato, “até porque se o
empregado recorre à Justiça sempre é possível fazer um acordo e conseguir
um desconto”, lembra Armando Castelar, pesquisador do Ipea. A tendência à
informalidade é maior nas épocas de aperto, quando os empresários aceitam
correr maior risco porque não conseguem fazer face aos encargos formais.
“Nos momentos de recuperação econômica, evitam riscos como multas
trabalhistas ou sanitárias”, diz Ramos.
A face mais perversa, e por que não dizer perigosa, da situação é
o envolvimento com atividades ilegais ou semilegais. A venda de cigarros
falsificados ou contrabandeados, por exemplo, movimentou cerca de 1,9
bilhão de reais em 2001 (ou 25% do faturamento do setor formal) e o governo
deixou de arrecadar 1,3 bilhão de reais, segundo as contas dos fabricantes
legais. No segmento de vestuário, a atividade cinzenta fatura cerca de três
bilhões de reais ao ano, quase 8% do faturamento setorial, de acordo com a
Associação Brasileira da Indústria do Vestuário (Abravest). Nos cálculos do
setor farmacêutico, 20% dos medicamentos vendidos no país são falsificados
e podem colocar em risco a vida dos usuários - um negócio de cerca de três
bilhões de reais ao ano.
Um dos movimentos consistentes para enfrentar o problema foi o
lançamento do Simples, que teve sucesso justamente por sua descomplicação.
A tentativa de flexibilizar a legislação trabalhista com a Lei 9.601 de 1998,
que instituiu o banco de horas e contratos temporários já não foi tão bem
sucedida. “O banco de horas deu certo nas grandes empresas, onde foi usado
para evitar demissões nos períodos de recessão”, diz Ramos. Já os contratos
especiais, com menores encargos trabalhistas, podem ser considerados um
fracasso, como aponta o economista José Pastore. Isso porque dependem
de negociações das empresas com sindicatos, de acordos coletivos e da
apresentação de farta documentação para os fiscais do Ministério do Trabalho.
Especial - A rota da simplicidade foi escolhida pelo governo federal
ao propor ao Congresso um regime especial para empresas com faturamento
de até 36 mil reais por ano. Ao anunciar as medidas, no final de setembro, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu, que “fica mais barato correr
da polícia do que cumprir as exigências formais”, para abrir uma empresa.
A linha geral das mudanças foi anunciada num evento, mas até o final de
outubro nada tinha sido dito a respeito do detalhamento das medidas e nem
sobre o conteúdo do Projeto de Lei Complementar. Entretanto, só o fato
de o assunto estar sendo ventilado já é um avanço. E quando a proposta
governamental (leia o quadro na página 11) for debatida no Congresso, a
questão estará na ordem do dia. O resultado, por mais mudanças que haja no
projeto original, deverá incluir a redução de encargos tributários e facilitar os
trâmites burocráticos para empresas de menor porte. A questão, como lembra
Castelar, é que assim como o Simples, esta nova lei apresenta um problema
estrutural preocupante: condena as empresas a permanecerem pequenas,
funcionando como um inibidor do crescimento, na medida que estabelece um
teto de faturamento para os que pretendam gozar dos benefícios.
Na opinião de Camargo, o projeto anunciado em setembro é um
avanço na rota da formalização da economia, mas não é suficiente. Também é
preciso simplificar as leis trabalhistas e reduzir os impostos que pesam sobre
empreendimentos com outras dimensões. Ele acha que a flexibilização das
leis não deve diferenciar empresas pelo tamanho, mas definir um arcabouço
em que a livre negociação seja a pedra de toque. “Hoje, quem tem uma
empresa calcula de antemão o valor do descanso semanal remunerado, o
décimo terceiro salário, férias e possíveis custos indenizatórios. Só depois
estabelece o salário dos trabalhadores, de forma a compensar os gastos”. Um
processo de livre negociação entre sindicatos setoriais ou regionais fixaria
os salários, já incorporando todos os atributos atuais, sem a intervenção da
Justiça do Trabalho. O resultado seria “o fortalecimento dos sindicatos, que
passariam a negociar também com as pequenas e médias empresas”, diz.
Ao reduzir os encargos sobre as remunerações, outra consequência será
a simplificação do processamento da folha de pagamento, reduzindo seus
custos.
Reforma - Não houve consenso na negociação da reforma trabalhista
no Fórum Nacional do Trabalho, que reúne trabalhadores, empresários e
governo. As centrais sindicais até aceitam discutir, mas não abrem mão de
direitos como o abono sobre o valor das férias e o décimo terceiro salário.
A multa de 40% sobre o valor do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço
(FGTS) pode ser objeto de negociação. Segundo Paulo Pereira da Silva,
presidente da Força Sindical, a carga tributária, e não os direitos trabalhistas,
é a principal causa da informalidade. Para ele uma das saídas seria passar
a cobrar os encargos da Previdência Social sobre o faturamento e não sobre
os salários. Luiz Marinho, presidente da Central Única dos Trabalhadores
(CUT), também é irredutível quanto à flexibilização dos direitos adquiridos.
Tortorella, do Sebrae, é favorável a um regime trabalhista especial
para as empresas de menor porte. Exigências como a garantia de assistência
à saúde, ou regras de segurança de trabalho, poderiam ficar por conta de
associações, com uma substancial redução de custos para cada participante.
A luta contra a informalidade, diz, “também exige mudanças nas regras
para abertura e fechamento de empresas e a modernização dos controles
governamentais”. Além de criar um cadastro tributário único para unificar
as três esferas do poder, será necessário integrar as bases de dados da
Secretaria da Receita Federal, do Ministério do Trabalho e do Instituto
Nacional do Seguro Social (INSS).
Requisitos - Experiências de outros países mostram o impacto
positivo de programas consistentes de combate à informalidade. Segundo
o estudo da McKinsey, são quatro os requisitos para uma iniciativa desse
porte ser bem sucedida: “prioridade governamental; foco setorial; reformas
estruturais; e responsabilização, coordenação e transição”. Portugal elegeu
a luta contra a informalidade como o principal componente de sua agenda
de reformas para colocar o padrão nacional de produtividade na média dos
países da União Europeia. A Rússia escolheu como prioridade o combate à
sonegação e à corrupção. Ao definir que a “exclusão econômica da parcela
mais pobre da população” era devida à dificuldade para abrir empresas e à
intensa burocracia, que impediam a formalização, o Peru implementou um
programa que o destaca entre os países em desenvolvimento. O registro de
empresas foi unificado, o que viabilizou a abertura de um negócio em apenas
um dia (antes eram necessários 300), com redução do custo da operação de
1,2 mil dólares para 174 dólares. No Brasil, um empreendedor leva em média
155 dias para legalizar seu negócio (leia reportagem publicada na Desafios
do Desenvolvimento n.2). A Espanha optou por atacar a frente fiscal. Criou
uma poderosa base de dados unificada, simplificou a tributação para micro
e pequenos empreendimentos e criou um órgão central para combater a
evasão fiscal. Resumo da ópera: elevação de 75% da arrecadação junto às
empresas de micro e pequeno porte.
Como se vê, os resultados podem ser compensadores. Se o Brasil
conseguir atrair mais empresas para a formalidade, a tendência é de que elas
busquem aumentar a sua eficiência e produtividade. A economia brasileira
ganhará. A estimativa da McKinsey é de que o PIB brasileiro poderia crescer
dois pontos percentuais por ano se apenas 20% das empresas que atualmente
estão na informalidade fossem incorporadas à economia formal.

*Com Andrea Wollfenbuttel, de São Paulo, e Edmundo de Oliveira,


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Comércio. Nele o aluno pode encontrar instruções normativas e modelos de
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www.receita.fazenda.gov.br – site da Receita Federal. Nele o aluno pode


se manter atualizado sobre a atuação do órgão encarregado de cobrar e
fiscalizar os tributos federais.

www.jus.com.br – interessante site de informação jurídica. Nele o aluno


pode encontrar desde artigos sobre todo tipo de tema ligado ao Direito
(divididos por seções) até modelos de contratos, petições e recursos.

www.conjur.com.br – site de notícias jurídicas alimentado diariamente com


o que há de mais novo sobre as discussões nas mais variadas áreas do
Direito.

http://www.bovespa.com.br/pdf/guiaaber.pdf

http://www.sci.com.br/imp_est_che_ant.asp

http://www.sci.com.br/imp_est_fal_ant.asp

http://direito.newtonpaiva.br/revistadireito/docs/prof/13_prof_rodrigo2.pdf
MARCOS DANIEL DA SLVA ROCHA

Possui graduação em Direito pela Universidade Federal do Piauí


(1997); especialização em Educação e Direitos Humanos pela Universidade
Federal do Piauí (2001); especialização em Direito Civil pela Universidade
Federal do Piauí (2006) e mestrado em Políticas Públicas também pela
Universidade Federal do Piauí (2004) . Atualmente, é PROFESSOR
ASSISTENTE da Universidade Estadual do Piauí, Professor Assistente do
Instituto Camillo Filho é Professor Assistente da Faculdade Santo Agostinho.

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5027072400990573


158 unidade 1

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