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HERMENÊUTICA JURÍDICA APLICADA

PROF. MA. ANDRESSA BACELLAR


ARGUMENTO DA INCLUSÃO DA
PARTE NO TODO
ARGUMENTO DA INCLUSÃO DA PARTE NO TODO

 A técnica exige, pois, além da orientação da estrutura “se...


então”, uma intensa atividade de produção de sentidos (ou
controle de sentidos) para a sustentação do “se” porque é
preciso conseguir a adesão à idéia de que a inclusão da parte
num todo em que as partes mantêm um determinado tipo de
relações faz com que cada uma se submeta ao que vale para o
todo.
ARGUMENTO DA DIVISÃO DO TODO
EM PARTES
ARGUMENTO DA DIVISÃO DO TODO EM PARTES

 O recurso da definição e da delimitação conceitual ocupa-se,


em primeiro lugar, da parte, para, num segundo momento,
baseado no resultado da atividade inicial, ocupar-se do todo
como, por exemplo, ocorre na relação entre gênero e espécie
em que, segundo Perelman (1996), “Para poder afirmar algo
do gênero, cumpre que esse algo se confirme numa das
espécies: o que não faz parte de nenhuma espécie não faz
parte do gênero.”
ARGUMENTO DA DIVISÃO DO TODO EM PARTES

 É evidente que, neste tipo de técnica, o argumentador tende a


valer-se especialmente do tratamento estatístico e da
formulação de tabelas, o que significa, novamente, que, após a
atividade que produz e fixa sentidos, atua-se sobre uma
pressuposição, ou seja, a de que a soma, o tratamento
estatístico e as tabelas — pelo prestígio de que desfrutam —
podem dar à versão a imagem da verdade.
ARGUMENTO AD IGNORANTIUM
ARGUMENTO AD IGNORANTIUM

 O argumentador pode, numa situação em que as condições para uma


ampla e demorada discussão estejam prejudicadas, valer-se da técnica
que consiste em formular os argumentos convenientes à tese, ao mesmo
tempo em que desafia — devido ou à exigüidade de tempo ou a
dificuldades momentâneas — o auditório a apresentar os que se possam
contrapor a eles.
 "Ninguém mais é acusado de corrupção, logo não existe mais corrupção
no Brasil."
OS ARGUMENTOS A PARI E A CONTRARIO
OS ARGUMENTOS A PARI E A CONTRARIO

 A concepção de relações ou de inclusão ou de exclusão orienta


essa técnica argumentativa: parte-se, mais uma vez, de uma
característica das ciências lógico-formais onde um elemento
pode, a depender de suas características, ser ou não incluído
num conjunto mais amplo, do que se retira a pressuposição de
que essa inclusão (ou exclusão) que permite hierarquizações e
classificações contribui para uma aproximação do que é do nível
do verdadeiro.
OS ARGUMENTOS A PARI E A CONTRARIO

 Pelo argumento a contrario, porém, pode-se contestar uma


inclusão ou igualdade, a depender da interpretação da lei, e que
permitirá, então, construir uma relação de exclusão.
 Novamente, nos dois tipos de argumentos, a atividade
lingüística é fundamental: a sustentação de uma relação de
inclusão ou de exclusão só pode ser feita uma vez determinado
um campo semântico onde se cotejam dois (ou mais)
conceitos.
O ARGUMENTO DA FIXAÇÃO DE ORDEM E
GRAU
O ARGUMENTO DA FIXAÇÃO DE ORDEM

 As diferenças de ordem são as que se utilizam de hierarquias


qualitativas, e elas partem do pressuposto de que os dois (ou
mais) itens em comparação possuem naturezas distintas, são
elementos distantes entre si. (PERELMAN)
 Ao dizer que os seres humanos são mais altos que as formigas, o
orador iguala os seres humanos de um lado (ainda que haja
discrepâncias de altura dentro dessa categoria) e os separa das
formigas, as quais ficam igualadas entre si do outro lado (ainda que
haja muitas diferenças entre estas).
O ARGUMENTO DA FIXAÇÃO DE GRAU

 As diferenças de grau são as que utilizam hierarquias


quantitativas, e pressupõe que os itens em comparação
possuem uma mesma natureza, e o que os distingue é apenas a
intensidade ou quantidade dessa característica.
 Pode-se fazer um gráfico contendo a altura de diversas espécies
de formigas e de diversos seres humanos, sem separar a priori
humanos e formigas
ARGUMENTO DA RELAÇÃO DE MEIOS E FINS
ARGUMENTO DA RELAÇÃO DE MEIOS E FINS

 Essa técnica pode ser considerada como um processo que, de


certo modo, também utiliza a comparação, pois realiza o cotejo
entre duas realidades, não visando, porém, a estabelecer
semelhanças ou, a hierarquizar qualidades, mas, a avaliar os
sacrifícios ou meios que a obtenção de um resultado estaria
exigindo.
ARGUMENTO DA RELAÇÃO DE MEIOS E FINS

 Na argumentação jurídica, a invocação de meios necessários pode tanto servir à


acusação como, à defesa, e produz efeitos importantes como, por exemplo, ocorre
com frases como só acredito em quem sabe respeitar as leis, só acredito em
quem sabe perdoar, só acredito em justiça quando houver rigor na aplicação
da lei, só acredito em diminuição da violência com a implantação da pena de
morte, o que quer dizer que, para conseguir credibilidade, os meios necessários são
saber respeitar as leis, saber perdoar, ser rigoroso na aplicação lei ou implantar
a pena de morte: o argumentador toma como referência um fim — credibilidade,
por exemplo — que mereça a aprovação do auditório e que, por isso, deve dar
condições a que os meios propostos também sejam aprovados.
ARGUMENTO DA PROBABILIDADE
ARGUMENTO DA PROBABILIDADE

 Uma técnica de argumentação muito usada, mesmo (ou


especialmente) para realidades não-quantificáveis, é a que busca
o modelo lógico-formal para valer-se das estatísticas e do
cálculo de probabilidades que, se nas ciências matemáticas e
naturais, têm sua importância, no Direito, só devem a sua
utilização ao status do procedimento, pois a realidade a ser
abordada dificilmente permite quantificações e cálculos
probabilísticos.
ARGUMENTO DA PROBABILIDADE

 Qualquer fato — jurídico ou não — pode ser abordado a partir de diferentes


variáveis ou conceitos operacionais, ou seja, os números e as estatísticas vão dar
“credibilidade” àquilo a que o argumentador quiser dar, mas não são capazes de
produzir, no Direito, as “verdades” que aparentam produzir, ou seja, a realidade
analisada nos tratamentos estatísticos nunca é uma totalidade, mas um recorte
produzido pela intervenção do analista ao se valer de categorias operacionais
escolhidas por ele: conceitos e sentidos adotados e produzidos podem e devem, pois,
no caso de um debate — especialmente no Direito — ser relativizados, embora
sejam eficientes como argumentos, desde que a pressuposição de que a técnica seja
válida tenha acolhida pelo auditório.
ARGUMENTO DO VÍNCULO CAUSAL
ARGUMENTO DO VÍNCULO CAUSAL

 Uma argumentação pode escolher por estabelecer um vínculo causal


entre:
a) dois acontecimentos sucessivos;
b) um acontecimento e uma causa determinante;
c) um acontecimento e seus efeitos prováveis;
dois acontecimentos um acontecimento e uma um acontecimento e seus
sucessivos causa determinante efeitos prováveis

Um fato ocorrido não tem O argumentador construir


necessariamente a sua uma relação causal entre o
origem num outro fato ocorrido e uma situação
imediatamente anterior, mas futura.
num ponto qualquer que
A argumentação visará à depende da escolha do
sustentação da tese de que argumentador. Por isso,
um acontecimento que determinar uma causa de
sucede imediatamente a um ato permite que o
outro tem com este um argumentador, valendo-se da
vínculo causal, ou seja, é riqueza de seu sistema de
conseqüência: se não referência, construa
houvesse o primeiro, não argumentos extremamente
haveria o segundo. fortes como, por exemplo,
no Direito, o da necessidade
ou inexigibilidade de
conduta diferente.
ARGUMENTO PRAGMÁTICO
ARGUMENTO PRAGMÁTICO

 O argumento pragmático aprecia um acontecimento pelas conseqüências


favoráveis ou desfavoráveis que poderá provocar nos acontecimentos e
na vida prática.
 Na verdade, “Esse argumento desempenha um papel a tal ponto essencial na
argumentação que certos autores quiseram ver nele o esquema único da
lógica dos juízos de valor”. (PERELMAN, 1996a, p. 303)
ARGUMENTO PRAGMÁTICO

 A técnica, pois, através da qual se tomam elementos do nível pragmático


como argumentos é valorizada sobremodo na prática jurídica porque as
atividades referem-se a questões que dizem respeito quase sempre a
problemas das relações sociais e que envolvem valores.
ARGUMENTO DO DESPERDÍCIO
ARGUMENTO DO DESPERDÍCIO

 A técnica em dizer que uma vez que já se começou a fazer algo (obra
etc.) seria um desperdício não continuá-la, na prática jurídica, pode
significar, por exemplo, que não se deve perder uma oportunidade de
condenar ou de absolver alguém porque já existem meios para atender
os efeitos da decisão/sentença.
A REGRA DE JUSTIÇA
A REGRA DE JUSTIÇA

 A regra de justiça determina que, a situações idênticas, sejam aplicadas as mesmas regras e
princípios.
 É ela quem fundamenta a aplicação de precedentes (e, até mesmo, a existência da lei como
padrão universal, impessoal e genérico de condutas).
 Requer a categorização dos seres e eventos e seu enquadramento em alguma das categorias
estabelecidas.
 A adaptação desta regra lógica ao plano da realidade necessita que se demonstre a
identidade entre as situações apreciadas, e tal demonstração é problemática porque nunca,
no mundo fático, dois eventos serão realmente iguais, apenas semelhantes (PERELMAN).
 Para o adversário, a rejeição da regra de justiça passa por expor que os eventos não
possuem identidade entre si, acarretando a inaplicabilidade da regra entre eles.
CASOS SIMPLES E CASOS COMPLEXOS
CASOS SIMPLES E CASOS COMPLEXOS

 A doutrina jurídica endossa amplamente essa discussão quando distingue os casos


concretos entre difíceis e simples.
 A relação é bastante clara: quando se enfrenta um caso concreto simples a melhor
argumentação para ele será a simples; quando se enfrenta um caso difícil a
fundamentação será complexa.
 Casos simples são aqueles em que o argumentador já possui estruturado no
ordenamento jurídico todo o repertório a que necessitará recorrer na
fundamentação: a legislação rege de maneira clara e a doutrina e jurisprudência
mostram-se uniformes quanto à solução mais adequada acerca do assunto.
CASOS SIMPLES E CASOS COMPLEXOS

 Argumenta Atienza:
 Nos casos simples, pode-se considerar que o respaldo consistiria
simplesmente na enunciação da proposição normativa correspondente.
Mas, nos casos difíceis, isso não basta; é preciso também apresentar uma
combinação de enunciados descritivos, normativos e avaliativos.
CASOS SIMPLES E CASOS COMPLEXOS

 Aulis Aarnio, professor emérito da University os Tampere na Finlândia, toma em conta a


distinção entre casos fáceis e difíceis. Nos primeiros, a decisão é de tranquila
formulação, sendo evidente o lastreamento legal e jurídico. Já nos casos difíceis, o
julgador cai em um dilema de complexa solução já que sua decisão deve atender a
expectativa de certeza jurídica, tanto em sua feição mais superficial quanto em sua
concepção mais profunda, é dizer, deve atender a expectativa de que todo cidadão
tem o direito de proteção jurídica, bem como a de que esta proteção não seja
arbitrária e que a decisão que a manifesta seja substancialmente correta (Aarnio,
1991, p. 27), isto é, que tenha assento jurídico e extrajurídico (moral, social, etc.),
permitindo assim que os cidadãos estejam habilitados a planejar suas vidas com bases
racionais. Para Aarnio (1991, p. 60), tem-se certeza jurídica quando as decisões
judiciais demonstram satisfatoriamente a aceitabilidade racional das interpretações.
CASO CONCRETO: A AÇÃO CAUTELAR Nº 4039/DF
CASO CONCRETO: A AÇÃO CAUTELAR Nº 4039/DF

 Os fatos narrados pelo Ministério Público Federal (MPF), copiados na decisão


pelo julgador, relatam que Delcídio do Amaral prometera a Nestor Cerveró –
delator da Operação Lava-Jato – benefícios financeiros e uso de seu prestígio
político para convencer ministros do STF a concederem habeas corpus ao
delator; em troca, exigia que não celebrasse acordo de colaboração premiada
com o MPF; ou que Cerveró ocultasse a participação do senador no esquema
de corrupção delatado. Também prometera a Cerveró, concedido ou não o
habeas corpus, elaborar plano de fuga deste à Espanha, visto que Cerveró tem
nacionalidade espanhola e lá estaria a salvo da jurisdição penal brasileira.
CASO CONCRETO: A AÇÃO CAUTELAR Nº 4039/DF

 Partindo da procedência desses eventos e relatando-os como fatos, a


conduta do senador terminou por ser enquadrada pela acusação no Art.
2º, §1º e §4º, II, da Lei nº 12.850/12, tendo sido também requerida a sua
prisão cautelar, com fundamento nos arts. 312, caput, e 313, I, ambos do
Código de Processo Penal (CPC), sob a alegação de que esta seria a
única medida possível para impedir que Amaral continuasse a interferir
nas investigações do parquet.
CASO CONCRETO: A AÇÃO CAUTELAR Nº 4039/DF

 Partindo da procedência desses eventos e relatando-os como fatos, a


conduta do senador terminou por ser enquadrada pela acusação no Art.
2º, §1º e §4º, II, da Lei nº 12.850/12, tendo sido também requerida a sua
prisão cautelar, com fundamento nos arts. 312, caput, e 313, I, ambos do
Código de Processo Penal (CPC), sob a alegação de que esta seria a
única medida possível para impedir que Amaral continuasse a interferir
nas investigações do parquet.
O USO ESTRATÉGICO DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE E A
REGRA DE JUSTIÇA

ministro Teori Zavascki.


Emissor do discurso –
auditório imediato do
ministro eram os outros
membros da 2ª Turma do STF

interessados imediatos: o
Ministério Público Federal -
que pediu a prisão

interessados imediatos:
senador, enquanto réu
O USO ESTRATÉGICO DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE E A
REGRA DE JUSTIÇA

 Temos esse tipo de argumento quando:


1. ele discorre sobre a natureza e os requisitos da prisão preventiva,
referindo-se a dois Habeas Corpus julgados pela Segunda Turma em que ele
próprio fora o relator;
2. quando confirma a licitude das provas colhidas pelo MPF;
3. quando ressalta que os fatos narrados se enquadram nas hipóteses
de decretação de custódia cautelar – por representarem risco à
instrução criminal em razão da interferência no depoimento de testemunhas
e na produção de provas;
4. e porque as constantes tentativas de acobertar crimes constituem
atentados contra a ordem pública. (BRASIL. Supremo Tribunal Federal.
Ação Cautelar nº 4039, p. 26; 31-32.)
O USO ESTRATÉGICO DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE E A
REGRA DE JUSTIÇA

 Quando analisa a possibilidade de prisão preventiva especificamente


decretada contra Senador da República, ele propõe um argumento de
simetria (classificado como quase-lógico) junto ao argumento
de autoridade, ao evocar voto proferido pela ministra Cármen
Lúcia 53 no HC 89.417-8, julgado no STF, em que fora autorizada
a prisão preventiva de parlamentares do Estado de Rondônia.
O USO ESTRATÉGICO DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE E A
REGRA DE JUSTIÇA

 O primeiro objeto de que trata Zavascki em sua decisão é o instituto da


“prisão preventiva”.
 Para caracterizá-la, sua base de argumentos foi constituída mais uma vez
pela regra de justiça aplicada em conjunto com o argumento de
autoridade, a partir de precedentes do STF; e o método de
interpretação literal dos arts. 312, 319 e 282, § 6º, todos do Código de
Processo Penal.
O USO ESTRATÉGICO DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE E A
REGRA DE JUSTIÇA

 O relator define que a prisão preventiva, por atentar contra a presunção


de inocência e por se constituir na medida cautelar mais extrema, só é
legítima quando “for o único meio eficiente para preservar os valores jurídicos
que a lei penal visa proteger, segundo o art. 312 do Código de Processo
Penal”(BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Cautelar nº 4039, p. 15-
16.)
O USO ESTRATÉGICO DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE E A
REGRA DE JUSTIÇA

 Sua segunda premissa é que não basta apenas provar a existência do


delito e os indícios de autoria.
 É necessário que se demonstre a presença de um dos quatro requisitos
autorizadores previstos no artigo 312 do CPP:
a) a garantia da ordem pública;
b) a garantia da ordem econômica;
c) a conveniência da instrução criminal;
d) a segurança da aplicação da lei penal .
O USO ESTRATÉGICO DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE E A
REGRA DE JUSTIÇA

 O terceiro requisito para decretação da preventiva é que não haja outro meio
menos grave de preservar os bens jurídicos penais.
 Aqui o topos geral do mais e do menos, que são as diferenças de grau e
ordem catalogadas por Perelman, está presente no próprio texto normativo.
 A avaliação da gravidade parece ser passível de quantificação como se a
atribuição de pesos a cada uma das medidas cautelares fosse algo possível.
 É a típica transformação do qualitativo em quantitativo.
 Além disso, a ambiguidade da expressão “bem jurídico”, no âmbito do direito
penal, é um material rico para o desenvolvimento das mais diversas formas de
argumentação.
O USO ESTRATÉGICO DO ARGUMENTO DE AUTORIDADE E A
REGRA DE JUSTIÇA

 Para corroborar suas premissas, cita o relator que os três requisitos têm
sido reiteradamente afirmados na jurisprudência do Supremo, e
colaciona ementa do acórdão proferido no HC nº 95.290 – novamente
uso do argumento de autoridade juntamente com a regra de justiça.
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE
“JURIDIQUÊS” NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE “JURIDIQUÊS”
NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES

 Ex-advogado, o juiz Douglas Lavine, do Tribunal de Recursos de Connecticut (EUA), pediu


que advogados não façam o que ele fazia: falar e escrever muito. Em artigo publicado
pelo Jornal da ABA (American Bar Association), ele tenta entender a prolixidade dos
operadores de Direito, incluindo promotores e juízes.
 Com base em sua autocrítica e em conversas com colegas, o juiz formulou algumas hipóteses
para essa prática: “uma teoria é a de que os advogados pensam que devem formular
sentenças longas e complexas, recheadas de juridiquês, quando falam ou escrevem, para
soarem como advogados”.
 Outra teoria, afirma, “é a de que nós pensamos que somos mais eloquentes do que
realmente somos”. E há mais uma, provavelmente a mais generalizada: “Sentimos receio de
deixar alguma coisa de fora que poderia ser relevante. Mas, ao falar ou escrever muito,
corremos o risco de perder o argumento central no meio de tantos argumentos
periféricos”.
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE “JURIDIQUÊS”
NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES

 Autor dos livros Cardinal Rules of Advocacy e Questions From The Bench, ele
coletou algumas citações para “enriquecer” seu artigo:
1. “A concisão é a alma da sabedoria” – Hamlet;
2. “Seja sincero, breve e sente-se” – Franklin Roosevelt;
3. “O segredo de um bom sermão é um bom começo e um bom fim e ter
esses dois o mais perto possível um do outro” – George Burns.
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE “JURIDIQUÊS”
NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES

 Regina Toledo Damião assenta que alguns operadores exageram o uso


do “juridiquês” na formulação de suas peças e em seus atos.
 Porém, ressalva Damião (2009, p. 29) que “o mundo jurídico prestigia o
vocabulário especializado, para que o excesso de palavras
plurissignificativas não dificulte a representação simbólica da linguagem”.
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE “JURIDIQUÊS”
NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES

 Na mesma senda, Eduardo Sabbag analisa os vícios comuns da redação


jurídica cometidos pelos argumentadores. Sabbag afirma que “para levar
a cabo tal mister, não pode se valer da fala pedante, com dizeres
mirabolantes, na qual sobejam a terminologia excessiva e enrrolativa que
vem de encontro à precisão necessária à assimilação do argumento
aduzido” (2011, p. 28).
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE “JURIDIQUÊS”
NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES

 Na mesma senda, Eduardo Sabbag analisa os vícios comuns da redação


jurídica cometidos pelos argumentadores. Sabbag afirma que “para levar
a cabo tal mister, não pode se valer da fala pedante, com dizeres
mirabolantes, na qual sobejam a terminologia excessiva e enrrolativa que
vem de encontro à precisão necessária à assimilação do argumento
aduzido” (2011, p. 28).
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE “JURIDIQUÊS”
NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES

 Segundo Lavine, um dos fundamentos para uma redação persuasiva é selecionar dois
ou mais dos melhores argumentos e trabalhar arduamente neles.
 É difícil um caso em que são necessários mais de dois ou três argumentos
ganhadores.
 Escolher os argumentos com maior probabilidade de prevalecer e concentrar-se
neles.
 Argumentos fracos são contraproducentes, porque levam o argumentador a “perder
pontos” com quem vai decidir o caso, diminuem o impacto dos argumentos fortes e
reduzem sua credibilidade.
 Manter a simplicidade reduzindo o ponto principal em uma sentença ou duas.
 Mesmo o caso mais complexo tem um ponto central, que deve ser bem articulado.
EXEMPLO

 “Este processo levanta a questão sobre se, de acordo com o Artigo 6º da


Constituição do Estado e com a Quarta Emenda da Constituição dos
Estados Unidos, bem como com decisão precedente, a busca feita pela
polícia no carro de meu cliente, em 22 de novembro de 2016, se baseou
em causa provável ou se, conforme alegamos, o policial que conduziu a
busca se valeu inapropriadamente de sua intuição, para concluir que havia
contrabando no porta-malas”
EXEMPLO

 “Este processo se refere a uma busca ilegal no porta-malas do


carro de meu cliente”.
 “Este processo levanta a questão sobre se, de
acordo com o Artigo 6º da Constituição do
Estado e com a Quarta Emenda da
Constituição dos Estados Unidos, bem como
 “Este processo se refere a uma busca
com decisão precedente, a busca feita pela
polícia no carro de meu cliente, em 22 de ilegal no porta-malas do carro de meu
novembro de 2016, se baseou em causa cliente”.
provável ou se, conforme alegamos, o policial
que conduziu a busca se valeu
inapropriadamente de sua intuição, para
concluir que havia contrabando no porta-
malas”
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE “JURIDIQUÊS”
NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES

 Evitar longas citações também é fundamental. As facilidades do uso de


computador não significam que se deva copiar e colar longas citações na
peça processual. Isso é frequentemente desnecessário. Por exemplo, não
citar cinco precedentes na petição, se duas forem o suficiente.
 Além de um imperativo da atualidade, a objetividade e a brevidade
decorrem diretamente dos princípios processuais da razoabilidade,
eficiência, oralidade e celeridade.
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE “JURIDIQUÊS”
NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES

 Evitar o juridiquês é outro ponto importante. Muitos advogados pensam


que têm de falar e escrever de maneira intrincada, legalista, embebida em
jargões da área, porque isso é próprio da classe.
 A verdade é que a maioria dos advogados bem-sucedidos escreve de
uma forma clara e direta, usando sentenças curtas.
 Em algum momento, o uso de palavras ou frases em latim ou mesmo de
um conceito mais complexo será necessário. Mas essa será uma exceção
à regra.
EXEMPLO: PROCESSO 1084018-69.2016.8.26.0100 - 5ª VARA CÍVEL
DO FORO CENTRAL DA COMARCA DA CAPITAL - TJSP.

 Uma decisão proferida pelo juiz de Direito Gustavo Coube de Carvalho, da 5ª vara
do Foro Central Cível/SP ganhou destaque: ele criticou a inicial extensa e referências
em língua estrangeira. Trata-se de um processo de extravio de bagagem ajuizado por
seguradora contra uma companhia aérea alemã. A causa foi distribuída ao juízo em
agosto de 2016 e, em setembro, foi proferida a decisão.
 No despacho, o ilustre magistrado solicitou que a parte autora esclarecesse, de
forma resumida e em língua portuguesa, “qual a necessidade de petição inicial de
trinta e sete páginas e com referências à doutrina alemã para cobrança de
ressarcimento de R$ 1.386,70".
EXEMPLO: AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 2014.024576-2 - 2ª VARA
CÍVEL DA COMARCA DE JOAÇABA - TJSC.

 Em outro julgado, um desembargador alertou o advogado de que uma peça enxuta


tem mais chance de ser acatada.
 "Direito é bom senso. Há bom senso em peças gigantescas, em um momento em que o
Judiciário está assoberbado de processos e que tanto se reclama da demora nos
julgamentos? Evidente que não!"
 A afirmação é do desembargador Luiz Fernando Boller em decisão de sua relatoria
na 2ª câmara de Direito Comercial do TJ/SC.
 O colegiado manteve sentença que determinou a um advogado a emenda de petição
inicial vinculada a ação de revisão de contrato bancário, de forma a reduzir a peça de
40 para, no máximo, 10 laudas.
 O recorrente alegou que tal restrição desrespeita a liberdade profissional
do advogado.
A câmara entendeu por conhecer do recurso, mas negou-lhe
provimento.
 Para o desembargador, a redução da petição inicial, desde que mantido o
adequado entroncamento dos argumentos jurídicos voltados para a
concretização do pleito, não causa óbice ao exercício da jurisdição.

EXEMPLO: AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 2014.024576-2 - 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE


JOAÇABA - TJSC.
 Na mesma esteira dos exemplos anteriores, o magistrado alertou que uma peça enxuta
tem mais chance de ser acatada.
 Uma peça enxuta, clara e bem fundamentada é lida e tem chance de ser acatada. Já
outra, com 20, 35 ou 50 folhas, provavelmente não. (...) Em verdade, petições e
arrazoados começaram a se complicar com a introdução da informática no mundo
forense. O 'copia e cola' estimulou longas manifestações. Além disto, as discussões
abstratas dos cursos de mestrado trouxeram aos Tribunais pátrios o hábito de alongar-
se nas considerações.

EXEMPLO: AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 2014.024576-2 - 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE


JOAÇABA - TJSC.
 "Não há artigo explícito no CPC sobre a delimitação do tamanho.
E na ausência de norma, o juiz não está obrigado a receber uma
inicial com o tamanho de um livro, pois o julgador tem o dever
de velar pela rápida solução do litígio (CPC, artigo. 125, II)",
concluiu.

EXEMPLO: AGRAVO DE INSTRUMENTO N. 2014.024576-2 - 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE


JOAÇABA - TJSC.
O MAU DO PROLIXISMO E O EXCESSO DE “JURIDIQUÊS”
NA ELABORAÇÃO DAS PETIÇÕES
 A petição inicial do parquet era de 144 folhas, o que, no
entendimento do magistrado, constitui um "livro".
 Tudo que o autor disse cabe perfeitamente em um número muito
menor das páginas que escreveu.
 Classificando a petição de prolixa, o julgador diz que o tempo
que o juiz gasta lendo páginas desnecessárias é tirado da
tramitação de outros processos.

EXEMPLO: PROCESSO: 0001394-92.2012.8.16.0004 - TJ/PR


 O MP pediu a reconsideração ao magistrado, que negou. "Não vislumbro,
inclusive, que a devida exposição dos fatos e fundamentos jurídicos do
pedido, em laudas reduzidas, possa prejudicar a prestação jurisdicional, pelo
contrário também".
 O juiz concedeu prazo suplementar de mais cinco dias para a redução da
inicial.

EXEMPLO: PROCESSO: 0001394-92.2012.8.16.0004 - TJ/PR

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