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TÉCNICAS ARGUMENTATIVAS

• Nas últimas décadas, especialmente a partir do que


foi desenvolvido do segundo pós-guerra, os estudos e
os debates sobre a argumentação jurídica acirraram-
se, ou melhor dizendo, encontraram seu lugar sob os
holofotes acadêmicos.
• Habermas entende por argumentação “o tipo de discurso em que os
participantes tematizam pretensões de validade controversas e procuram
resolvê-las ou criticá-las com argumentos”, e os argumentos como “meios
com os quais é possível obter o reconhecimento intersubjetivo de uma
pretensão de validade levantada pelo proponente de forma hipotética”,
contendo “razões que se ligam sistematicamente à pretensão de validade
de uma exteriorização problemática”, e sua “força” mede-se,
contextualizando-a, pela acuidade das razões, que se revela, por exemplo,
da efetividade no convencimento dos participantes de um discurso,
motivando-os a assentir à respectiva pretensão de validade. A
racionalidade dos participantes, então, nos proporcionaria outra análise: a
capacidade de fundamentar exteriorizações racionais por parte das
pessoas que se portam racionalmente.
• Habermas, racional será aquela pessoa que no campo cognitivo-instrumental (ou
prático-moral) “age de maneira eficiente e exterioriza opiniões fundamentadas”,
sendo, pois, “uma disposição de sujeitos capazes de falar e agir”. As
exteriorizações racionais, a partir de sua capacidade de fundamentação que
reflete a possibilidade de sofrerem críticas, são passíveis de correção, a um
julgamento objetivo: “o que vale para todas as exteriorizações simbólicas que
estejam ligadas ao menos implicitamente a pretensões de validade (ou a
pretensões que mantenham uma relação interna com uma pretensão de validade
passível de crítica)”. Especificamente quanto ao cenário prático-moral
(semelhante ao discurso teórico), a racionalidade surge a partir da possibilidade
de justificação das ações diante de um contexto normativo existente,
denominando-se discurso prático, “ou melhor, a forma de argumentação que
permite tematizar pretensões à correção normativa, constitui o medium que
permite examinar hipoteticamente se determinada norma de ação, reconhecida
faticamente ou não, pode ser justificada de modo imparcial”.
• Entende-se por técnica argumentativa a produção de
argumentos que tomam como orientação não o que é
pertinente ao fato em avaliação, mas, relações
lógicas, circunstâncias e situações de outras esferas
das atividades humanas e que, por pressuposição,
têm condições para exercer força de convencimento:
•é como se as técnicas argumentativas fosse
o meio, o recurso
•que empresta prestígio e valores duma
determinada prática
•para transformá-los em argumentos — no
caso do Direito — jurídicos.
considera-se como verdadeiro, dentro
da lógica, que, se: a = b

também é verdade que b = a

se a = b e b = c, então, a = c.

a construção de uma versão que interesse à sustentação da


tese requer a substituição das incógnitas a, b e c por valores
que serão trabalhados como se pudessem estabelecer as
mesmas relações lógicas
• considera-se como verdadeiro, dentro da lógica,
que, se a = b, então também é verdade que b =
a; ou, então, se a = b e b = c, então, a = c. Os
efeitos que produzem os dois tipos de relações
lógicas (reciprocidade e transitividade) serão
aproveitados, devido ao prestígio que tem o
saber lógico, pela argumentação jurídica,
especialmente no caso de fragilidade de provas e
indícios:
• a construção de uma versão que interesse à
sustentação da tese requer a substituição das
incógnitas a, b e c por valores que serão
trabalhados como se pudessem estabelecer as
mesmas relações lógicas.
• Mais: as inferências e as deduções que resultam das
propriedades que têm as relações lógicas serão
utilizadas e aplicadas aos valores sociais e aceitas
como argumentos importantes no julgamento
jurídico.
• Outras técnicas para produzir argumentos,
• e que podem servir de exemplo ilustrativo para
explicar o processo,
• são as que buscam apoio, quer seja no pressuposto de
que o ponto de vista da pessoa de prestígio social é
importante,
• quer seja na concepção
• na comparação de fatos
• Pode ajudar a interpretar, a julgar melhor,
• na definição da importância da história, da educação e
das emoções na conduta dos indivíduos etc.
• As técnicas podem, pois, ser consideradas recursos
que se justificam a partir de PRESSUPOSIÇÕES que
devem ter aceitação acadêmica e/ou social, o que, no
Direito, se torna por demais importante e sublinha o
cuidado que o argumentador deve ter na escolha da
técnica e das estratégias interativas que visam a
estabelecer um acordo acerca das pressuposições
subentendidas nos argumentos produzidos e
utilizados.
recursos que
se justificam a o cuidado que o
Visa a estabelecer
partir de um acordo acerca
argumentador deve
das pressuposições
Técnicas pressuposições ter na escolha da
subentendidas nos
Argumentativas devem ter técnica e das
argumentos
estratégias
aceitação interativas
produzidos e
acadêmica utilizados
e/ou social
• Em outras palavras, a construção da versão de
um fato jurídico pode, quando apoiada em
provas e indícios frágeis, valerse de técnicas
argumentativas, o que, na verdade, não envolve,
• num primeiro plano,
• o que está sendo julgado e permite dizer que provas e
indícios são argumentos produzidos através da
pesquisa e da interpretação do fato,
• ao contrário dos argumentos que são resultado das
técnicas argumentativas
• e que apenas são aceitos como tais devido à
pressuposição de que os “empréstimos” são possíveis
e úteis.
• A argumentação jurídica, embora difira dos conteúdos dos raciocínios
formais, busca pois, aproximar-se ou orientar-se por eles porque se
pressupõe que a coerência, a coesão e a congruência possam
contribuir com o poder de convencimento, de forma que, por
exemplo, na argumentação jurídica:“Quem critica um argumento
tenderá a pretender que o que tem à sua frente depende da lógica; a
acusação de cometer uma falta de lógica é, em geral, por sua vez,
uma argumentação quase-lógica. A pessoa se prevalece, com essa
acusação, do prestígio do raciocínio rigoroso”. (PERELMAN, 1996 a, p.
220)
• A distinção entre argumentos lógicos e quase-lógicos que faz
Perelman não receberá, porém, considerações mais demoradas,
porquanto se entende que, na prática jurídica, especialmente quando
se trata de valores, isso se torna bastante complexo, precisamente
porque a argumentação jurídica, onde o objetivo não é nem
demonstrar, nem descobrir verdades ou testar hipóteses, mas
justificar teses, pode ser caracterizada, em grandes traços, sempre
como quase-lógica.
• O que importa, todavia, é observar que um
raciocínio jurídico,
• para poder usufruir do prestígio do rigor lógico,
precisa adotar procedimentos que deverão dar
consistência e credibilidade à prática, e que
podem ser de diferentes níveis:
PROCEDIMENTOS
1. realizar interpretações que sejam aceitáveis e defensáveis, o que
exige do argumentador um sistema de referência competente e
abrangente;
2. procurar controlar a heterogeneidade linguística, o que exige, por
sua vez, habilidades do argumentador para definições e delimitações
dos sentidos das palavras;
3. adotar um modelo lógico como orientação
• O estudo, pois, de diferentes técnicas argumentativas que
• podem ser úteis à prática jurídica enfatizará sempre os aspectos
• relacionados à atividade lingüística e à orientação lógica, e destaca
• os seguintes:
• o argumento da coerência; o argumento da reciprocidade; o
argumento da transitividade; o argumento da comparação; o
argumento da inclusão da parte no todo; o argumento da divisão
do todo em partes; o argumento ad ignorantium; os argumentos
a pari ea contrario; o argumento da analogia; o argumento da
fixação de um grau; o argumento da relação de meios e fins; o
argumento da probabilidade; o argumento do vínculo causal; o
argumento pragmático; o argumento do; desperdício; o
argumento da direção; o argumento que ; relaciona ato e pessoa;
o argumento da autoridade; o argumento da relação entre ato e
essência; o argumento do exemplo; o argumento da ilustração.
O ARGUMENTO DA COERÊNCIA
• Esse primeiro tipo de técnica vale-se do prestígio do
rigor
• lógico e requer, por isso, uma atividade intensa com e
sobre a
• linguagem — mais precisamente, de controle e de
delimitação dos
• sentidos — para, assim, utilizar a coerência como
argumento.
• A coerência — como já se enfatizou — é uma
qualidade considerada imprescindível a qualquer
argumentação,
• pois não se aceita a contradição dentro de um
raciocínio,
• ou seja, não se deve afirmar algo e depois assumir
uma outra idéia que negue a primeira afirmação.
• Para manter a coerência e utilizá-la como
argumento,
• é preciso que se assuma um comprometimento
com uma referência socialmente aceita e tomá-
la como orientação rigorosa para a produção de
sentidos que não apresentem contradições.
• E isso tem seus motivos:
• O prestígio do rigor lógico leva a que a contradição possa ser
interpretada, uma vez, como falta de convicções claras e incapacidade
para escolher com segurança a referência que orienta a atividade, e,
por outro lado, como um desrespeito com o auditório em termos de
não lhe facilitar a compreensão dos objetivos da argumentação,
precisamente por não haver uma organização lógica correta e
rigorosa das relações entre referência e sentidos verbalizados.
• Entende-se, por isso, que a falta de coerência, uma vez
denunciada, expõe o argumentador à condenação e ao
insucesso:
• a frouxidão referencial e a contradição denunciam a
incapacidade de produzir boas interpretações dos fatos,
• vale dizer, de construir boas teses.
• Perde, pois, o argumentador uma das qualidades —
• se não a mais importante —
• que a interação cobra dos participantes, ou seja, a da
credibilidade.
• Ser coerente diz,
• respeito à competência tanto para escolher os
conceitos que serão referência para o raciocínio,
• como para organizar os argumentos sem que
haja contradição com a referência escolhida.
• Na argumentação jurídica, a referência quase
obrigatória é a lei.
• Pode, porém, também ser uma jurisprudência ou um
conceito que tenha aceitação social ou uma
presunção jurídica
• — desde, porém, que se enquadre nos limites dos
modais MORAIS
• PRINCIPALMENTE OS DEVERES PROPRIOS DE CADA
PROFISSÃO
• De qualquer modo, o importante é considerar que a
coerência só poderá ser invocada como argumento
quando determinada referência tem
• — ou poderá vir a ter — prestígio junto ao auditório,
• ou seja, ao invocar a coerência como argumento, o
argumentador se vê diante de duas importantes
tarefas:
fazer com que a referência escolhida seja
aceita pelo auditório, o que implica saber
fazer avaliações preliminares corretas
quanto ao universo referencial aceito pela
sociedade e determinar com competência
o sentido desta referência, tendo em vista
o que interessa à argumentação

conduzir o raciocínio de modo a


que não haja contradições em
relação à referência, o que
representa dominar os
processos de manutenção da
coerência, da coesão e da
congruência
• Enfim, a técnica que produz o argumento da coerência
é essencialmente uma atividade lingüística que visa à
utilização do prestígio do rigor lógico
• , ou seja, um recurso em que o argumentador se
ocupa ou em observar o rigor da relação não
contraditória entre uma referência e as interpretações
e justificativas que por ela se orientam, ou em
denunciar a falta dessa condição na argumentação
adversária.
• Na produção das peças processuais, o prejuízo
pela falta de organização de um plano textual
talvez fique ainda mais evidente porque a
persuasão do magistrado e o consequente
sucesso na demanda são favorecidos pelo
encadeamento
• A coerência e a validade de determinados
institutos jurídicos dependem, não raro, da
ordem em que são apresentados.
• Exemplificando: imagine-se uma consumidora cujos
cabelos caíram quando da utilização de uma tintura
capilar.
• Pretende a parte lesada indenização por danos morais
em virtude do fato do produto.
• Como elaborar adequadamente a tese
argumentativa?
• É comum na prática forense iniciar-se teses
colacionando precedentes jurisprudenciais e lições
doutrinárias sobre o que são danos morais, sem,
contudo,
• expor com precisão qual foi o direito violado.
• Nesses casos, como poderia ser considerada
adequada a argumentação sobre os danos morais se
sequer o magistrado tomou conhecimento de qual
obrigação foi descumprida?
• Nesse passo, compreender a diferença entre
argumentação e demonstração
Diferença entre argumentação e
demonstração
• Argumentar e demonstrar não são exatamente
sinônimos.
• Enquanto a
• demonstração busca a verdade, a argumentação busca a adesão do
auditório,
• ou seja, a argumentação é uma atividade que tem por objeto o
estudo das técnicas que permitam provocar ou aumentar a adesão
dos espíritos às teses que se apresentam nas mais variadas atividades
humanas.
• A demonstração pode ser vista como um meio de prova, fundada na
proposta de uma racionalidade matemática que visa a delimitar os
passos a serem percorridos - isto é, método silogístico - para deduzir
premissas de outras já existentes. Deste modo, a demonstração
opera-se por premissas consideradas evidentes e que, por isso, não
precisam ser comprovadas, enquanto a argumentação recorre às
teses cuja aceitação dependerá da capacidade de persuasão do
argumentador.
• E o que isso representa?
• Bem, a demonstração possibilita que alguém
formalize um sistema cujas regras são previamente
delimitadas e controladas, não importando em que
contexto seja aplicado.
• O resultado almejado sempre será tido como verdade.
• De modo distinto, o argumentador não pode ignorar
fatores exteriores para alcançar a adesão de seu
auditório,
• pois o contexto em que atua é determinante de quais
valores prevalecem e de quais estratégias são
acatadas com mais facilidade para alcançar a
permeabilidade do ouvinte.
• o argumentador, para sustentar sua tese,
inúmeras vezes necessita de um conjunto de
informações prévias (base probatória mínima), a
partir do qual produzirá seus argumentos. Ou
seja, a demonstração poderá ser utilizada a
serviço da argumentação.
• A titulo de exemplo, suponha-se que o advogado necessite
comprovar o nexo de causalidade entre a conduta de uma
construtora - que é acusada de agir com negligência na
utilização de materiais considerados de baixa qualidade - e
o desabamento de um edifício, evento em que morreram
vários moradores.
• Não há dúvida de que o argumentador só conseguirá
convencer o julgador de que existe a responsabilidade civil
do construtor se recorrer, por exemplo, a laudos
produzidos por profissionais de áreas específicas da
construção civil.
• A argumentação usará os pareceres técnicos
que demonstrem, por exemplo, que o ferro utilizado
na sustentação das colunas não era adequado para
suportar o peso esperado.
• Este é o mérito da demonstração
• Mas nem sempre a mera demonstração é apta, por si
só,
• Para da sucesso quanto a reparação por dano moral,
• Principalmente quando se trata de quantificação
baseada na extensão do dano.
• No exemplo, o advogado deverá se valer de
informações externas ao evento, como o perfil
econômico das partes, o grau de culpa da construtora
e a repercussão causada à vítima.
• É um raciocínio persuasivo e essencialmente
argumentativo sem o qual as chances de persuasão do
auditório serão pequanas,
• sendo geralmente insuficiente à tal pretensão o mero
silogismo entre fato e norma.
Prestem atenção
• A demonstração não abre espaço à discussão, pois é
baseada na evidência,
• não exigindo maior esforço
• Em razão mostrar ao auditório o acolhimento de uma
conclusão, como ocorre, por exemplo, com o uso das
provas ou de um laudo pericial.
• Já a argumentação privilegia a discussão das ideias tendo
como objetivo a adesão do auditório às teses propostas,
valendo-se de técnicas fundamentais para o sucesso da
lide.
Não esquecam
• argumentação e demonstração não são sinônimos,
mas ferramentas que devem ser utilizadas em
conjunto para tornar uma tese vencedora à rival.
• E nesse ponto, a argumentação jurídica pode ser mais
bem compreendida à luz da Teoria Tridimensional do
Direito e seu objeto de estudo: fato, valor e norma.
ARGUMENTO DE RECIPROCIDADE
• Apóia-se também no prestígio do rigor lógico, especificamente na
propriedade das relações para construir uma aproximação ou simetria
entre dois fatos ou idéias (ou mesmo valores) de modo a que a
semelhança de características implique que se possa aplicar o mesmo
tratamento ou julgamento a ambos, mesmo se houver uma inversão
de situações ou de posições da simetria inicial.
• A atividade do argumentador, nessa técnica de
raciocínio,
• exige, principalmente, saber interpretar e construir o
contexto das situações,
• ou seja, é preciso que a aproximação de dois fatos
diferentes se faça pelo que se pode localizar de
semelhante neles e nos elementos
contextualizadores.
• Isso requer, sobremodo, saber produzir interpretações
apropriadas,
• o que, mais uma vez, enfatiza
• a importância de um sistema de referência produtivo
e competente, e, por isso, da linguagem:
para poder aproveitar uma correlação
lógica como se a = b

então b = na argumentação jurídica, a 1º


atividade refere-se à delimitação conceitual

deverá dar condições para que o raciocínio se


beneficie da relação lógica.
• por exemplo, adotando essa técnica, o argumento
sustentará que, se cabe aos pais dar proteção e
abrigo aos filhos enquanto estes puderem ser
considerados dependentes, da mesma forma caberá
aos filhos a responsabilidade de prover as condições
de sobrevivência dos pais quando estes,
eventualmente, atravessarem uma situação em que
se puder considerá-los dependentes.
• O raciocínio precisa definir, obrigatoriamente, o
que se entende por dependência para que o
caráter de reciprocidade da relação entre pais e
filhos possa ser sustentado com apoio no
modelo lógico.
ARGUMENTO DA COMPARAÇÃO
• A técnica que faz da comparação um argumento tem o objetivo de
comparar enquadrando uma imagem (do réu ou da vítima, por
exemplo) ou a versão de um fato (um delito, por exemplo) dentro
duma seqüência hierarquizadora que inclui outras imagens ou
versões.
• Cabe ao argumentador a tarefa de fazer as escolhas
das imagens ou versões com as quais organizará a
seqüência escalar que servirá de parâmetro de
avaliação,
• SÃO AS EscolhaS QUE FARÁ PARA estruturar SEU
raciocínio.
• A comparação passa, portanto, a produzir
argumentos, quer seja a favor, quer seja contra o que
• está sendo julgado:
• se se quiser condenar,
• TEM AS TESES DAS DECISOES QUE SÃO
COLOCADAS EM PARALELO,
• ELE CONFRONTA E deve privilegiar aquelas
imagens (referências) que têm um conceito
elogiável no instituído social.
• E o inverso ocorrerá
• quando o objetivo for o de defender: o cotejo do
que está sendo
• julgado será feito com o que houver de
condenável no imaginário do auditório.
ARGUMENTO DA AUTORIDADE
• O argumento da autoridade parte, assim, do pressuposto de que a
citação de outrem possibilita usar o prestígio e a autoridade do
enunciante citado, valorizando o citado como argumento. Para
conseguir a adesão a uma tese, o argumentador busca, pois, dar à
própria fala o prestígio e a autoridade de outrem, citando o que
entende como conveniente à sustentação que está fazendo.
• O argumento de autoridade, como a própria
nomenclatura sugere, é aquele que invoca o prestigio
dos atos ou juízos de determinada pessoa ou grupo a
partir do qual a afirmação ganha relevância.
• Importante identificar quem são as pessoas ou os grupos
de onde provém a fala da autoridade.
• Não há dúvidas de que a lição de um profissional
conhecido e reconhecido em determinada disciplina - um
psicólogo para tratar de questões ligadas à personalidade;
um médico para opinar sobre uma patologia; um
historiador para avaliar as consequências de um dado
evento de grande relevância para a sociedade de uma
época, etc. - possui grande valor.
• Portanto, a doutrina, a opinião fundamentada de
especialistas em geral e a legislação podem ser
utilizadas como fundamentos relevantes na
redação de argumentos de autoridade.
• Ainda sobre a doutrina, seu papel é exatamente
o de trazer legitimidade ao que se está
defendendo.
• É uma maneira de se dizer que algum jurista,
cuja autoridade já foi reconhecida pela maioria,
pensa como você e que, por isso, sua tese deve
ser acolhida.
• É fundamental tomar cuidado, entretanto, com
uma postura cada vez mais comum na prática
forense:
• alguns operadores do Direito se iludem com a
ideia de que a simples referência a um
dispositivo legal já caracteriza a fundamentação
de uma tese pelo argumento de autoridade.
• Isso não é verdade.
• Não bastaria, portanto, em dada
fundamentação, dizer que “o que se verifica, no caso em
análise, é a verificação da carência de ação por parte do autor,
conforme dispõe o CPC”.
• O que se comprova, no caso em análise, é a verificação da carência de
ação (art. 330, inciso III do CPC) por parte do autor, em virtude da
ausência do chamado interesse de agir, condição indispensável para o
regular exercício do direito de ação, uma vez que o autor nunca teve a
posse efetiva da área, objeto do litígio. Isso impede que o seu pedido
seja possessório.
• É perceptível que no parágrafo anterior, a
legislação reforça o que o argumentador
sustenta por meio dos fatos.
• É importante QUE VOCES SAIBAM QUE apesar de muito
persuasivo, o argumento de autoridade deve ser exposto
de maneira a que se comprove seu percurso lógico.
• Ele não vale apenas porque está amparado pela legislação
ou pela doutrina; espera-se que o ponto de vista
sustentado seja também coerente e razoável.
• Por isso não se deve fazer da argumentação um
amontoado de citações.
• A colação de argumentos de autoridade deve ser utilizada
adequadamente.
O ARGUMENTO DA
ANALOGIA
• Antes de explicitar como a analogia pode ser
utilizada como estratégia argumentativa e como
se caracteriza esse tipo de argumento, é
importante que se entenda o significado desse
termo e quais as implicações de sua utilização.
• Reale (2000, p. 17) leciona que “a analogia consiste, em sua essência,
no preenchimento da lacuna verificada na lei, graças a um raciocínio
fundado em razões de similitude, ou ainda, na correspondência entre
certas notas características do caso regulado e as daquele que não o
é”.
• Analogia, portanto, é o procedimento por meio
do qual se pode estabelecer uma relação de
semelhança entre coisas diversas. Recorrer à
analogia significa fazer uma espécie de
comparação entre os termos em questão.
• Por exemplo quando queremos sustentar que a
Constituição da República Federativa do Brasil
exerce sobre seus cidadãos poder soberano:
• A Constituição protege os direitos fundamentais dos
seus cidadãos e estabelece as normas de estruturação
e organização do Estado, assim como a Bíblia reúne as
orientações de Deus ao homem para que este viva em
paz e seja feliz junto a seus pares.
• Ora, se as orientações da Bíblia são soberanas em
decorrência de quem as inspirou, por analogia, essa
característica - soberania - passa a Constituição da
Republica, por consequência da aproximação sugerida
na argumentação
• Não é adequado, nesta hipótese, falar-se em
lacuna, mas ainda assim a analogia mostra-se
eficiente,
• pois é por meio dela que se podem transmitir
características conhecidas –
• garantidas pelo conhecimento prévio do
auditório - a situações novas, produzindo
conhecimento novo.
Outro exemplo
• o tema dos direitos civis dos homo afetivos
procedeu à argumentação por analogia para
alcançar a tutela desses direitos,
• tendo em vista a ausência de legislação que
tratava do assunto na época,
• apesar das inúmeras decisões favoráveis a essa
minoria, especialmente as recentes decisões do
Superior Tribunal Federal.
conclusao
• assim como a entidade familiar composta por
homem e mulher está amparada pela
Constituição da República, a união entre dois
homens ou duas mulheres - já que todos são
iguais perante a lei - deve ser também amparada
pelo Estado.
• Ninguém negou a importância da analogia na conduta da
inteligência. Todavia, reconhecida por todos como um fator essencial
de invenção, foi olhada com desconfiança assim que se queria
transformá-la num meio de prova. (...) Longe de nós a idéia de que
uma analogia não possa servir de ponto de partida para verificações
posteriores; mas nisso ela não se distingue de nenhum outro
raciocínio, pois as conclusões de todos eles sempre podem ser
submetidas a uma nova prova. (...) Todo estudo global da
argumentação deve, pois, incluí-la enquanto elemento de prova.
(PERELMAN, 1996a, p. 423-24)
Outro exemplo
• “Agredir a mulher é como agredir o membro central da
família e, por isso, a célula da sociedade”,
• estará construindo uma relação de semelhança que, ao fazer
a valorização do instituído social,
• cria condições de valorizar a família e a mulher,
• ao mesmo tempo que reforça a acusação contra um eventual
agressor.
• Ainda um outro aspecto da técnica diz respeito ao cuidado
na construção da analogia, pois
• A escolha dos termos de comparação adaptados ao auditório
pode ser um elemento essencial da eficácia de um
argumento, mesmo quando se trata da comparação
numericamente especificável: haverá vantagem, em certos
casos, em descrever um país como tendo nove vezes o
tamanho da França em vez de descrevê-lo como tendo a
metade do Brasil. (PERELMAN, 1996a, p. 278)
O ARGUMENTO DE
OPOSIÇÃO
• todo profissional do Direito, quando argumenta,
sabe que seu ponto de vista será contraposto
por outro profissional que atua no polo adverso.
• O contraditório é uma realidade a ser enfrentada
pelo argumentador na prática forense.
• Por isso que tentar prever alguns valores ou argumentos a
serem utilizados pela outra parte ao longo da busca da
solução jurisdicional para o conflito pode ser uma
estratégia discursiva bastante útil,
• pois ao mesmo tempo em que o advogado argumenta a
favor de sua tese, já conseguiria também mostrar que
outra possibilidade de compreender os fatos - a do seu
adversário –
• seria incompatível com a razoabilidade, como no exemplo
hipotético a seguir:
• No presente caso inexiste relação de consumo, ao contrário do que
alega a empresa Autora. Não se ignora que a lei consumerista
também respalda a Pessoa Jurídica como consumidora (art. 2º CDC),
mas preconiza como pressuposto que consumidor é todo aquele que
utiliza produto ou serviço como destinatário final, o que aqui não se
vislumbra.
• É justamente por essas razões que a oposição se mostra
um tipo de argumento eficiente para a redação de uma
boa fundamentação jurídica.
• Ao assinalar objeções à sua própria tese, dá-se uma
aparência de objetividade e imparcialidade.
• O indivíduo apresenta-se como sendo capaz de considerar
outros pontos de vista que não o seu; valoriza a opinião do
outro, e essa valorização parece um esforço de
clarividência, de honestidade e não de propósito.
ARGUMENTO AD HOMINEM
• Foi demonstrado que o argumento de autoridade
busca o prestígio de uma determinada pessoa ou
grupo pq sua afirmação ganha relevância. O
argumento ad hominem, é totalmente oposto
• Consiste no ataque a uma pessoa cujas ideias, argumentos ou depoimentos
pretende desqualificar.
• Ao invés de se enfrentar o argumento do adversário, ataca-se a pessoa do
adversário.
• Ataca-se o homem e não a ideia.
• Apesar de não possuir bases lógicas, este argumento constitui uma forte
arma retórica.
• O ataque à pessoa pode ocorrer por duas diferentes estratégias:
• a) ataque direto à pessoa (argumento ad hominem abusivo), quando
coloca seu caráter e seus valores morais em dúvida e, portanto, a validade
de sua argumentação, porque eivada de descredibilidade.
Exemplo
• O Ministro Joaquim Barbosa, em sessão no Supremo,
atacou o Ministro Gilmar Mendes quando disse que
ele não tem condições de lhe dar lições de moral,
• já que conquistou sua condição de prestígio usando
capangas cm sua cidade de origem e fazendo uso
político da mídia, o que estava destruindo a
credibilidade do STF.
• Fecha seu raciocínio recorrendo ao senso comum:
“Saia à rua, Ministro Gilmar, e constate o que as
pessoas dizem a vosso respeito”.
• b) ataque às circunstâncias em que o adversário realiza certa
afirmação (argumento ad hominem circunstancial), que ocorre
quando a pessoa, não por seu valores morais ou pessoais, mas pelo
contexto, mostra-se incapaz de fazer certas afirmações.
• É esse o caso da desqualificação da chamada
“testemunha ocular” pelas condições em que
assistiu aos fatos sobre os quais testemunha.
exemplo
• Imagine um caso de homicídio cometido por um policial,
• o defensor público questionava a única testemunha do crime,
uma senhora de 72 anos, o seguinte:
• como a senhora - que tem 6,5 graus de miopia - pode garantir
que foi o réu quem matou, se acabou de afirmar que levantou de
madrugada, com o barulho do tiro, e olhou pela janela?
• A senhora dorme de óculos, ou sua miopia não a impede de
reconhecer um rosto a noite a quase oitenta metros de
distancia?
Outro exemplo
• João disse: - Foi este o homem que vi roubando
aquele carro! Maria respondeu: - Como pode
afirmar isso, se você estava bêbado?
Percebam
• que o argumento ad hominem circunstancial
pode ser muito eficiente quando a instrução do
processo ainda está em curso,

• ou seja, quando a produção das provas depende


da maior ou menor credibilidade de quem a
oferece.
ARGUMENTO POR ABSURDO
• O argumento por absurdo é aquele que não apenas mostra que o
argumentador está certo, mas também que o advogado da parte
contrária está errado.
• Consiste, portanto, em demonstrar a não validade de uma tese. Para
isso, é necessário não apenas pressupor que ela seja verdadeira, mas
mostrar, dividindo sua explicação em pedaços, que sua aplicação leva
a resultados contraditórios e inadmissíveis, ou seja, absurdos.
• NESSE TIPO DE ARGUMENTO SE BUSCAR MOSTRAR a
falsidade de uma afirmação ou a invalidade de uma ideia
• evidenciando que seus efeitos ou desdobramentos
contradizem essa mesma ideia,
• ou conduzem ao impossível, ao inadmissível.
• ESSA ESTRATÉGIA A GENTE ACEITA PROVISORIAMENTE a
tese que se quer combater, e desenvolve-a até conseguir
demonstrar seus efeitos absurdos.
• No campo hermenêutico, usa-se o argumento por absurdo para
mostrar que a aceitação de uma interpretação da norma levaria a) a
contrariar o fim visado pela mesma norma; b) a contradizer norma
hierarquicamente superior; c) à antinomia entre a norma interpretada
e o sistema em que está inserida; ou d) a uma inconstitucionalidade.
JURISPRUDÊNCIA
• Victor Gabriel Rodríguez, por sua vez, destaca importante reflexão
quanto ao uso da jurisprudência como meio de persuasão:
• Dosar a citação na jurisprudência é mais um trabalho de coerência
argumentativa. Se muito curta, ela perde seu valor de analogia e não
persuade o interlocutor. Se muito longa, desestimula a leitura ou a
atenção do ouvinte e, por mais detalhada que seja, cairá no vazio
(muito provavelmente, no texto escrito, o leitor não terá o menor
escrúpulo de pulá-la, partindo para o próximo texto).
• Quando se trata da citação da jurisprudência como
auxílio à argumentação, é válida a exposição de
julgados de tribunais diversos, para demonstrar que
tal orientação tem apoio em autoridades diversas.
• Busca-se então a ideia de unanimidade do
posicionamento defendido, na mesma medida em que
se persuade o julgador, qualquer que seja, que decidir
de forma diversa seria ir contra uma maioria, o que
geralmente não é recomendável.
• ainda que se possa firmar o entendimento de
que é relevante encarar o uso da jurisprudência
como argumento de autoridade, o excesso de
julgados recortados em um discurso judiciário
raramente contribui para a persuasão.
• Sabe-se que o trabalho intenso do Poder
Judiciário produz decisões em grande número, e
então não é bem a quantidade, por si só, que
representa fato de convencimento.
• Quando à qualidade, a jurisprudência persuadirá
como argumento de autoridade desde que haja
proximidade e atualidade entre o tema discutido
no julgado e o caso concreto.
•Isto serve de alerta a muitos operadores do
direito que constroem discursos escritos
com recortes de ementas, que pouco
contribuem para a efetiva persuasão do
destinatário.
• Por outro lado, não há uma delimitação exata do
que se considera adequado em termos de
quantidade de excertos jurisprudenciais
colacionados numa petição. Aqui irá
preponderar o bom senso e a coerência do
operador do Direito em face de cada caso
concreto.
• Caso se esteja, por exemplo, diante de uma
cobrança indevida que deu azo à negativação do
nome da pessoa lesada, a jurisprudência é
uníssona e sedimentou o entendimento de que
o dano moral é presumido (in res ipsa).
• não se mostra necessário colacionar mais do que
dois precedentes análogos em função de se
tratar de um tema pacífico perante os Tribunais,
portanto, neste caso, juntar dez ementas se
mostra à evidência excessivo.
• Em suma, a qualidade deve ser compreendida
objetivamente: o grau de persuasão dependerá
da proximidade e atualidade entre o tema
discutido no julgado e o caso concreto.
• A quantidade, por sua vez, deve ser interpretada
subjetivamente: o uso menor ou maior de
julgados irá variar conforme as particularidades
de cada caso.

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